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A abordagem do tema Inspeção Predial à nível de graduação nas Instituições de Ensino Superior do Estado do Paraná Julho/2019 ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 10, Edição nº 17 Vol. 01 Julho/2019 A abordagem do tema Inspeção Predial à nível de graduação nas Instituições de Ensino Superior do Estado do Paraná Guilherme Bastos Balbinot [email protected] Auditoria, Avaliações & Perícias de Engenharia Instituto de Pós-Graduação - IPOG Londrina/PR, 26/11/2018 Resumo A Inspeção Predial, definida sucintamente como uma avaliação técnica da edificação baseada no tripé “aspectos construtivos, aspectos de manutenção e aspectos de uso”, com propósito de definir o estado de conformidades da mesma, vem ganhando relevância no meio profissional no últimos anos, retornando aos holofotes, infelizmente, sempre que ocorrem sinistros em obras públicas e/ou privadas. Apesar da recente atenção dada a temática, o seu estudo parece estar se desenvolvendo prioritariamente fora dos cursos de graduação de Engenharia Civil, sendo abordado com profundidade quase que exclusivamente no âmbito dos cursos de pós- graduação, especilizações e cursos de extensões nas áreas de Perícias e Auditorias de Engenharia. Com o objetivo de verificar a realidade da abordagem do assunto no meio acadêmico, em especial nos cursos de graduação de Engenharia Civil, buscou-se através de pesquisa exploratória analisar a grade (ou matriz) curricular dos setenta e oito (80) cursos de Engenharia Civil, nas modalidade presencial ou à distância, ofertados por Instituições de Ensino Superior (IES) no Estado do Paraná, com a finalidade de verificar, quantitativa e qualitativamente, a relevância e aprofundamento da abordagem do tema “Inspeção Predial” aos futuros profissionais da área de engenharia civil, que ao egressarem estarão aptos a projetar e executar edificações, as quais devem atender às normas técnicas vigentes, não apresentarem anomalias e falhas sérias e serem manuteníveis, justamente o objetivo das verificações realizadas através da técnica de Inspeção Predial. Conclui-se que é necessário uma abordagem mais efetiva do tema em nível de graduação, com apresentação da técnica em seu completo escopo, preparando os futuros engenheiros civis para a realização de obras cada vez mais seguras e duradouras. Palavras-chave: Inspeção predial. Engenharia Civil. Graduação. Engenharia Diagnóstica. Manutenção. 1. Introdução Sinistros e acidentes de grande porte em edifícios, ocasionados por anomalias no processo construtivo ou falhas de manutenção, tais como desabamentos, quedas de marquises, incêndios, rupturas de muros de arrimo, quedas de revestimentos de fachadas, infiltrações, etc., os quais levam a grandes prejuízos (materiais e humanos), podem ser evitados com medidas preventivas simples, de longo prazo, através de um planejamento que se inicia com a

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A abordagem do tema Inspeção Predial à nível de graduação nas

Instituições de Ensino Superior do Estado do Paraná

Guilherme Bastos Balbinot – [email protected]

Auditoria, Avaliações & Perícias de Engenharia

Instituto de Pós-Graduação - IPOG

Londrina/PR, 26/11/2018

Resumo

A Inspeção Predial, definida sucintamente como uma avaliação técnica da edificação baseada

no tripé “aspectos construtivos, aspectos de manutenção e aspectos de uso”, com propósito de

definir o estado de conformidades da mesma, vem ganhando relevância no meio profissional

no últimos anos, retornando aos holofotes, infelizmente, sempre que ocorrem sinistros em

obras públicas e/ou privadas. Apesar da recente atenção dada a temática, o seu estudo parece

estar se desenvolvendo prioritariamente fora dos cursos de graduação de Engenharia Civil,

sendo abordado com profundidade quase que exclusivamente no âmbito dos cursos de pós-

graduação, especilizações e cursos de extensões nas áreas de Perícias e Auditorias de

Engenharia. Com o objetivo de verificar a realidade da abordagem do assunto no meio

acadêmico, em especial nos cursos de graduação de Engenharia Civil, buscou-se através de

pesquisa exploratória analisar a grade (ou matriz) curricular dos setenta e oito (80) cursos de

Engenharia Civil, nas modalidade presencial ou à distância, ofertados por Instituições de

Ensino Superior (IES) no Estado do Paraná, com a finalidade de verificar, quantitativa e

qualitativamente, a relevância e aprofundamento da abordagem do tema “Inspeção Predial”

aos futuros profissionais da área de engenharia civil, que ao egressarem estarão aptos a

projetar e executar edificações, as quais devem atender às normas técnicas vigentes, não

apresentarem anomalias e falhas sérias e serem manuteníveis, justamente o objetivo das

verificações realizadas através da técnica de Inspeção Predial. Conclui-se que é necessário

uma abordagem mais efetiva do tema em nível de graduação, com apresentação da técnica em

seu completo escopo, preparando os futuros engenheiros civis para a realização de obras cada

vez mais seguras e duradouras.

Palavras-chave: Inspeção predial. Engenharia Civil. Graduação. Engenharia Diagnóstica.

Manutenção.

1. Introdução

Sinistros e acidentes de grande porte em edifícios, ocasionados por anomalias no processo

construtivo ou falhas de manutenção, tais como desabamentos, quedas de marquises,

incêndios, rupturas de muros de arrimo, quedas de revestimentos de fachadas, infiltrações,

etc., os quais levam a grandes prejuízos (materiais e humanos), podem ser evitados com

medidas preventivas simples, de longo prazo, através de um planejamento que se inicia com a

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Inspeção Predial, para a posterior implantação do plano de manutenção (NEVES e BRANCO,

2009).

Previamente a apresentação da pesquisa e resultados obtidos, é imprescindível que alguma

conceituação seja apresentada. Isto se deve a necessidade inerente de transmitir ao leitor os

conceitos centrais de Inspeção Predial, para que se possa entender sua definição, a

importância da ferramenta, sua metodologia e processos, como se desenvolve, quais suas

etapas e procedimentos, quais são os produtos que dela se devem extrair, quem deve

desenvolver e como deve ser apresentada ao consumidor/cliente final.

Esta definição é fundamental para que se possa verificar como a mesma é abordada (ou não) a

nível de graduação, vez se tratar de atividade técnica que possui norma e método próprios

(IBAPE-SP, 2015).

Outras definições serão apresentadas ao longo deste trabalho, buscando conceituar o leitor e

fornecer o arcabouço teórico necessário ao pleno entendimento dos propósitos e resultados

obtidos com esta pesquisa. Serão também apresentados, além dos conceitos de Inspeção

Predial, os conceitos de Engenharia Diagnóstica, Manutenção Predial, componente curricular

e grade curricular.

A Engenharia Diagnóstica, definida pelo Instituto de Engenharia (2016) como sendo a arte de

criar ações proativas, através de diagnósticos, prognósticos e prescrições técnicas, constitui-se

de investigações científicas das patologias prediais, através de metodologia que possibilita

obter dados técnicos para caracterização, análise, atestamento, apuração de causa,

prognósticos e prescrição do reparo da manifestação patológica predial em estudo.

Conforme explicitado por Apolonio et al. (2017), a Engenharia Diagnóstica visa à qualidade

total da edificação, objetivando, através dos preceitos acima indicados, mitigar as

manifestações patológicas nas edificações.

A metodologia da Engenharia Diagnóstica consiste em estudos lógicos sequenciais, através da

utilização das ferramentas diagnósticas (INSTITUTO DE ENGENHARIA, 2016). Estas

ferramentas são, de acordo com a sequência de sua aplicação na metodologia diagnóstica, a

vistoria, a inspeção predial, a auditoria, a perícia e a consultoria.

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Figura 1 – Sequência de utilização das ferramentas diagnósticas

Fonte: Instituto de Engenharia (2016)

Uma das principais causas de eventos patológicos e acidentes em edificações é justamente a

falta de cuidados técnicos, tanto na hora da execução das obras quanto no pós-ocupação

(manutenção, uso e operação da edificação). A Inspeção Predial, ferramenta da Engenharia

Diagnóstica, se apresentam justamente para este fim, qual seja de reduzir os riscos e mitigar

patologias, garantindo maior segurança e durabilidade ao edifício (INSTITUTO DE

ENGENHARIA, 2016).

Considerando-se que a segurança, qualidade, sustentabilidade e valorização das edificações

dependem da manutenção predial, de muita importância se mostra a criação, publicação e

aplicação das normas técnicas de manutenção e desempenho das edificações (NBR 5674 e

NBR 15575), recentemente revisadas e publicadas. Atualmente em processo de normatização

pela ABNT (através do projeto de norma ABNT NBR 16747), a Inspeção Predial tem suas

definições e conceitos apresentados, em especial, pelas publicações e normas do IBAPE

Nacional e IBAPE-SP. No entanto, como colocado pelo Instituto de Engenharia (2016), tais

diplomas técnicos só se viabilizam com base em diagnósticos seguros, realizados por

profissionais habilitados e especializados, mediante utilização de metodologias e critérios

técnicos de aplicação prática. A esta metodologia se dá o nome de Inspeção Predial,

ferramenta diagnóstica fundamental no enfoque da qualidade das edificações.

Segundo IBAPE-SP (2015), a Inspeção Predial é uma atividade que possui norma e método

próprios. Classifica as deficiências constatadas na edificação com visão sistêmica e gera lista

de prioridades técnicas com orientações ou recomendações para a sua correção.

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Por possuir metodologia para sua aplicação, o que possibilita sua replicação por qualquer

interessado, a Inspeção Predial pode ser considerada um procedimento cientifico, e como tal,

na prática, é uma avaliação com o objetivo de identificar o estado geral da edificação e se seus

sistemas construtivos, observados os aspectos de desempenho, funcionalidade, vida útil,

segurança, estado de conservação, manutenção, utilização e operação, considerando as

expectativas dos usuários (IBAPE-SP, 2012). A inspeção predial requer um conhecimento

técnico específico, e um domínio de distintas áreas do conhecimento (BIGOLIN et al, 2014).

Ainda de acordo com Bigolin et al (2014), no cerne dos procedimentos de conservação,

durabilidade e vida útil das edificações, a Inspeção Predial busca a qualidade e desempenho

satisfatório das edificações através de vistorias - realizadas por profissionais formados em

Engenharia Civil ou Arquitetura e habilitados por seus respectivos conselhos de classe -, onde

são identificadas eventuais anomalias ou falhas (identificadas, normalmente, através de

manifestações patológicas).

A importância da Inspeção Predial, objetivando maior segurança e durabilidade das

edificações, muito bem abordada por Parissenti (2016), fica clara com base nos inúmeros

casos de sinistros prediais ocorridos nos últimos anos em nosso país, amplamente noticiados

nas mídis impressas e digitais nacionais, podendo-se exemplificar com a queda do Edifico

Palace II (Rio de Janeiro - RJ), do Edifício Liberdade (Rio de Janeiro - RJ), queda da

cobertura da Igreja Universal do Reino de Deus (Osasco – SP), ruptura de arquibancada do

antigo estádio da Fonte Nova (Salvador – BA), desabamento do teto de um templo da igreja

evangélica Renascer em Cristo (São Paulo – SP), desabamento do Edifício Real Classic

(Belém – PA), e mais recentemente os casos de desabamento de parte de um viaduto no Eixo

Sul (Brasília – DF), e mais recentemente com o colapso parcial de viaduto na Marginal

Pinheiros (São Paulo – SP) e desabamento do Prédio Wilson Paes de Almeida (São Paulo –

SP).

A Inspeção Predial deve ser entendida como uma avaliação técnica do “estado de

conformidades de uma edificação”, com base nos aspectos de desempenho, vida útil,

segurança, estado de conservação, manutenção, utilização, operação, observado sempre o

atendimento às expectativas dos usuários (IBAPE-SP, 2012). Trata-se, segundo o Instituto de

Engenharia (2016), portanto, de uma avaliação tridimensional baseada nos aspectos

construtivos (técnica), de manutenção e de uso e ocupação da edificação.

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Figura 2 – Esquema da visão Sistêmica Tridimensional da Inspeção Predial

Fonte: GOMIDE; PUJADAS; FAGUNDES NETO (2006) apud NEVES e BRANCO (2009)

Segundo IBAPE-SP (2012), Inspeção Predial baseia-se, sucintamente, na determinação das

anomalias (defeitos e patologias ligadas ao processo construtivo) e falhas (defeitos e

patologias ligadas ao processo de manutenção) de uma edificação e seus sistemas.

Por ser uma ferramenta/técnica com procedimentos e metodologia específica, é redundante

afirmar que o seu desenvolvimento se dá por etapas muito bem definidas. Estas etapas estão

muito bem abordadas nos trabalhos do IBAPE-SP (2012) e (2015), e também no texto de

Neves e Branco (2009).

A ideia da Inspeção Predial remonta no Brasil a década de 1960 quando já se pensava em

como melhorar o desempenho das edificações (CREA-PR, 2016). O aprofundamento no

assunto, na década de 1970, também se deve pela edição e publicação da primeira versão da

norma de manutenção predial, a NBR 5674 no ano de 1977, que apesar de não ser intitulada

como uma norma de inspeção predial teve grande vinculação com a temática central neste

trabalho.

Em 1997, o CREA/SP em parceria com o IBAPE/SP, publicaram o livro “Saúde dos

Edifícios”, onde o tema Inspeção Predial passa a ser abordado em material impresso

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divulgado ao meio técnico. No entanto, o real desenvolvimento desta temática, em ambiente

científico, iniciou-se com o trabalho “A Inspeção Predial Periódica deve ser obrigatória?”,

apresentado no X COBREAP (Congresso Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia,

realizado me Porto Alegre no ano de 1999.

Na esteira deste trabalho, o IBAPE-SP editou e publicou, em 2001, a primeira norma técnica,

daquele instituto, sobre o tema Inspeção Predial. Constantemente esta norma técnica tem

passado por revisões, sendo a última datada de 2011.

Na vanguarda de desenvolvimento dos conceitos de Inspeção Predial, o IBAPE-SP publicou,

ainda em 2015, Cartilhas de Inspeção Predial abordando tópicos específicos desta disciplina,

tais como: mecanização, acessibilidade, sistemas de prevenção e combate a incêndio, sistemas

e elementos complementares e equipamentos e espaços de lazer.

No Estado do Paraná a tratativa deste assunto iniciou-se no final do ano de 1998, quando o

tema passa a ser discutido pelos peritos do INAPAR (hoje IBAPE PR), de maneira ampla,

tendo como motivação as diversas demandas judiciais entre Condomínios e Construtoras,

entre Condôminos e Condomínios e entre Condôminos. De uma maneira generalizada

observaram os peritos naquela época que essas demandas aconteciam principalmente por falta

de manutenção nas edificações principalmente em edifícios residenciais (CREA-PR, 2016).

A utilidade da Inspeção Predial, ainda que as definições acima pareçam indicar ser

unicamente a realização de uma vistoria para levantamento de anormalidades e

desconformidades em uma edificação, é também a de incutir responsabilidades nos gestores e

proprietários das edificações, através de levantamento e compilação de dados a respeito dos

sistemas construtivos do imóvel e instalações, permitindo que aqueles promovam a

elaboração ou revisão do Plano de Manutenção, Uso e Ocupação da obra vistoriada (CREA-

PR, 2016)

As informações apuradas durante a Inspeção Predial são compiladas em um documento

(produto) chamado Laudo de Inspeção Predial, o qual deve ser entregue aos proprietários,

gestores e/ou síndicos, bem como eventualmente para as prefeituras que o exigem para

cumprimento à legislação local.

O Laudo de Inspeção Predial, documento elaborado por profissional da área da Engenharia ou

Arquitetura responsável técnico pela vistoria, corresponde a etapa final do processo executivo

da Inspeção Predial, e segue diretrizes mínimas, em observância à Norma Técnica ABNT

NBR 13752 e à Norma Específica do IBAPE/SP.

A referida peça técnica, segundo IBAPE-SP (2015), deve ser composta minimamente dos

seguintes tópicos:

1. Identificação do solicitante;

2. Classificação do objeto da inspeção;

3. Localização;

4. Datas das vistorias e equipe;

5. Descrição técnica do objeto:

Tipologia e Padrão Construtivo;

Utilização e Ocupação;

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Idade da Edificação;

6. Nível utilizado de inspeção;

7. Documentação analisada;

8. Critério e metodologia da inspeção;

9. Das informações:

Lista de verificação dos elementos construtivos e equipamentos vistoriados

com a descrição e localização das respectivas anomalias e falhas;

Classificação e análise das anomalias e falhas quanto ao grau de prioridade;

10. Lista de prioridades;

11. Classificação da qualidade de manutenção;

11. Lista de recomendações técnicas;

12. Lista de recomendações gerais e sustentabilidade;

13. Relatório fotográfico (este pode ser anexo ao Laudo ou, ainda, junto de cada

problema constatado e descrito no item 9);

14. Recomendação do prazo para nova Inspeção Predial;

15. Data do laudo;

O Laudo de Inspeção Predial apesar de ser uma peça técnica muito ilustrativa e gráfica, do

que se extrai a importância do profissional responsável pela vistoria dispor de boa técnica de

fotografia, conforme relatado por FIKER (2011), não é um simples check-list com fotos,

devendo caracterizar-se por ser um documento completo que permita uma visão holística e

detalhada das condições físicas da edificação (ao menos dos sistemas e instalações

vistoriados), contendo todas as etapas descritas para a realização do trabalho (IBAPE-SP,

2015).

A legislação a respeito da obrigatoriedade da Inspeção Predial, em obras públicas ou privadas,

apesar da evolução dos últimos anos em nível nacional, conforme abordagem apresentada por

Neves e Branco (2009), Neto (2015) e Oliveira e Filho (2008), ainda se mostra incipiente e é

inexistente atualmente nos 399 municípios paranaenses, vide não haver leis municipais ou

estaduais específicas para o tema (CREA-PR, 2016).

Em suma, a importância primordial da Inspeção Predial reside na diferenciação entre as

deficiências constadas na edificação, as quais permitiram a apresentação de um plano de

reparo ou de manutenção (IBAPE-SP, 2012). Trata-se de uma ferramenta técnica, que possui

métodos e procedimento específicos, deve ser executada por profissional(is) habilitado(s)

(pode ser multidisciplinar), onde além da caracterização das anomalias e falhas do imóvel, se

estabelecem avaliações sobre seu estado de manutenção e sua condição de uso, constituindo

assim uma peça técnica (O Laudo de Inspeção Predial) ao gestor/proprietário, responsável

pela qualidade, durabilidade e segurança da edificação, para tomada de decisão acerca de

procedimentos de manutenção, reparação, reforma ou até demolição (parcial ou total) do bem

imóvel.

Não é possível precisar, vez não haver estudos que apresentem tal informação, quando e onde

ocorreu o primeiro curso específicos sobre Inspeção Predial. Acredita-se que tenham surgido

a partir das publicações e estudos do IBAPE-SP (a mais de uma década), tendo ocorrido em

nível de especialização ou cursos de extensão, ofertados pelo IBAPE Nacional e o IBAPE-SP.

Igualmente não é possível determinar qual a primeira vez que este tema passou a ser abordado

em nível de graduação no Brasil e com qual profundidade. Salienta-se porém não ser este o

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foco deste trabalho, mas sim a verificação da abordagem do tema a nível de graduação nos

cursos de Engenharia Civil no Estado do Paraná.

Verifica-se, com rápida pesquisa pela world wide web, que há uma série de instituições que

ministram cursos de Inspeção Predial, no entanto todos em nível de especialização, pós

graduação ou cursos de extensão. Não se evidencia, em pesquisa online superficial, cursos de

graduação de Engenharia Civil que possuam o assunto “ Inspeção Predial” como componente

(disciplina) de sua grade (matriz) curricular.

O Conselho Nacional de Educação – órgão associado ao MEC e que tem como missão

auxiliar o Ministério da Educação na formulação e avaliação das políticas nacionais de

educação, com foco no cumprimento da legislação e na qualidade -, por meio da sua Câmara

de Educação Superior, instituiu através da Resolução CNE/CES 11 (de 11 de Março de 2002)

as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Engenharia.

Referido documento estabelece, em suma, de acordo com seu art. 2º:

“(...) os princípios, fundamentos, condições e procedimentos da formação de

engenheiros, estabelecidas pela Câmara de Educação Superior do Conselho

Nacional de Educação, para aplicação em âmbito nacional na organização,

desenvolvimento e avaliação dos projetos pedagógicos dos Cursos de Graduação em

Engenharia das Instituições do Sistema de Ensino Superior” (CNE/CES, 2002).

No artigo 4º da referida Resolução ficam estabelecidas as competências e habilidade do qual o

graduando deve ser dotado através do curso de Engenharia Civil, destacando-se em especial

os tópicos VI, VII e VIII, que versam:

“(...)

VI - supervisionar a operação e a manutenção de sistemas;

VII - avaliar criticamente a operação e a manutenção de sistemas;

VIII - comunicar-se eficientemente nas formas escrita, oral e gráfica;

(...)”

A Resolução ainda apresenta os requisitos mínimos para a grade curricular do curso de

Engenharia Civil, vez que em seu artigo 6º determina que todo o curso de Engenharia,

independentemente de sua modalidade, deve possuir em seu currículo um núcleo de

conteúdos básicos, um núcleo de conteúdos profissionalizantes e um núcleo de conteúdos

específicos que caracterizem a modalidade (CNE/CES, 2002).

No texto “Currículo, conhecimento e cultura”, Moreira e Candau (2006) definem currículo

como: conjunto de práticas que proporcionam a produção, a circulação e o consumo de

significados no espaço social e que contribuem, intensamente, para a construção de

identidades sociais e culturais. O currículo é, por consequência, um dispositivo de grande

efeito no processo de construção da identidade do estudante. Currículo refere-se, portanto, a

criação, recriação, contestação e transgressão (Moreira e Silva, 1994).

Segundo se extrai da Wikipédia, “componente curricular” é definido como a disciplina

acadêmica que compõe a grade curricular de um determinado curso de um determinado nível

de ensino. É obrigatória sua inclusão e ministração com a carga horária mínima determinada

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na grade, a fim de que o curso tenha eficiência e validade. No Brasil o componente curricular

pode ser denominado de matéria, disciplina ou cadeira.

Com base nas constatações acima, e dada a importância que o tema “Inspeção Predial” tem

atualmente no meio profissional, conforme se extrai dos inúmeros incidentes com edifícios

por todo o país, reforçada pelos trabalhos de Parissenti (2016) e Rocha (2007), pretende-se

com este trabalho abordar a temática do ensino de Inspeção Predial em nível de graduação de

Engenharia Civil, em especial junto as instituições de ensino superior (IES) que oferecem o

curso (na modalidade presencial ou EAD) no Estado do Paraná, por ser o assunto de elevada

relevância na preparação dos futuros profissionais da área.

Utilizando-se de uma pesquisa exploratória, buscou-se relacionar as IES, que possuem o curso

de Engenharia Civil, e que em sua grade/matriz curricular ofertam a disciplina de Inspeção

Predial, ou matérias afetas a este tema (tais como Perícias, Manutenção, Auditoria,

Patologias, etc.), segregando esta amostra entre as que ofertam a disciplina de forma

exclusiva, as que ofertam de forma parcial (como assunto dentro de outra disciplina) e as que

não ofertam a matéria aos graduandos. Obtido estes dados, será possível tecer algumas

conclusões sobre o status quo, buscando elencar possíveis hipóteses para a situação aferida e

sugerindo procedimentos de aprimoramento.

2. Metodologia

Segundo definição dada por Robson (2002), este trabalho apresenta a característica de ser um

projeto flexível, uma vez que o planejamento inicial se limita ao foco da pesquisa e a definir

alguns aspectos gerais sobre esta. Os detalhes da pesquisa mudam dependendo de descobertas

feitas. Na maioria das vezes apresentam a característica de serem pesquisas com coleta de

grande quantidade de dados qualitativos (embora também sejam gerados dados quantitativos).

A estratégia de pesquisa adotada para este artigo pode ser entendida como exploratória, a qual

por definição de Robson (2002) é motivada a entender o comportamento observado em

situações particulares, obter novas observações sobre o tópico e colocar novas perguntas

sobre o tema e gerar novas oportunidades de pesquisas sobre o assunto, ou seja, abrir o leque

de pesquisa.

A pesquisa será desenvolvida com base em revisão da bibliografia (pesquisa bibliográfica) e

pesquisa documental.

A revisão bibliográfica, base de todo trabalho cientifico, busca apresentar o que já foi

desenvolvido por outros pesquisadores sobre o tema em estudo. Assim, o estudo da literatura,

contribui em muitos sentidos: definição dos objetivos do trabalho, construções teóricas,

planejamento da pesquisa, comparações e validação da pesquisa (RIBEIRO, 2007). Para este

artigo a revisão bibliográfica foi centrada nos temas: Inspeção Predial, Engenharia

Diagnóstica, Manutenção Predial e matriz curricular.

Por sua vez, a pesquisa documental se baseia em materiais que não receberam tratamento

analítico ou que podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa

(GERHARDT; SILVEIRA, 2009). Segundo os meus autores citados, esta tipologia de

pesquisa se baseia em documentos de dois tipos principais: fontes de primeira mão e fontes de

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segunda mão. Gil (2008) define os documentos de primeira mão como os que não receberam

qualquer tratamento analítico, como: documentos oficiais, reportagens de jornal, cartas,

contratos, diários, filmes, fotografias, gravações etc. Os documentos de segunda mão são os

que, de alguma forma, já foram analisados, tais como: relatórios de pesquisa, relatórios de

empresas, tabelas estatísticas, entre outros.

Para o presente artigo, a pesquisa documental se desenvolveu com levantamento de dados e

análise de relatórios (portanto materiais de fontes de segunda mão, cfe. definição de Gil

[2008]) , durante os meses de setembro a outubro de 2018, obtidos junto ao portal do

Ministério da Educação – MEC, através do sítio eletrônico http://emec.mec.gov.br/. As

informações obtidas, referentes as Instituições de Ensino Superior que disponibilizam o curso

de Engenharia Civil, foram utilizadas para acessar a matriz curricular dos cursos ofertados e

levantar dados a respeito da oferta de disciplinas de Inspeção Predial ou correlatas,

possibilitando análise posterior da abrangência do tema à nível de graduação no Estado do

Paraná.

2. Desenvolvimento, análise e discussão

Conforme já delineado anteriormente, o objetivo principal desta pesquisa é a verificação da

abordagem da temática Inspeção Predial, a nível de graduação nos cursos de Engenharia

Civil1 (Presencial ou EAD) ofertados em IES no Estado do Paraná, com propósito de

correlacionar esta abordagem com a importância do tema em nível profissional no cenário

nacional.

Cabe esclarecer que a pesquisa se limitou ao curso de Engenharia Civil, a despeito do fato de

a ferramenta Inspeção Predial poder ser aplicada por profissionais da área de Arquitetura,

Engenharia Mecânica ou Elétrica, por exemplo, por ser muito mais difundida (em nível de

pós-graduação e extensão) para esta classe de profissionais. Ademais como a Inspeção Predial

envolve vistoria técnica em diversos sistemas e instalações das edificações, entende-se que o

curso de graduação que mais abrange o projeto e execução da maior parte dos sistemas

prediais, e possibilita entender quais condições representam desconformidades em tais

sistemas, é a Engenharia Civil.

A pesquisa se limitou ao Estado do Paraná por mera opção do autor deste trabalho, que

buscou regionalizar sua pesquisa facilitando suas conclusões e aproximando de sua realidade

profissional.

Através de consultas online, realizadas entre os meses de setembro e outubro de 2018, ao

portal eletrônico do e-MEC (http://emec.mec.gov.br/), definido pelo MEC (Ministério da

Educação) como base de dados oficial e única de informações relativas às Instituições de

Educação Superior – IES e cursos de graduação do Sistema Federal de Ensino, buscou-se

obter relação das IES no Estado do Paraná que ofertam, em sua relação de cursos da

graduação, o curso de Engenharia Civil.

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Figura 3 – Tela principal da busca interativa no portal e-MEC

Fonte: Autor (adaptado de www.emec.gov.br)

Nestas consultas, realizadas através do menu “Consulta Interativa” do referido portal,

selecionando-se o estado do Paraná (cfe. indicado na Figura 3), se acessa uma dashboard

divida em três campos: Cursos, Munícipio e Instituições. Esta tela inicial expõe alguns dados

interessantes, tais como: o número de cursos ofertados em IES situadas no Estado do Paraná

(total de 435) e a distribuição destas instituições no Estado (as IES estão situadas em 210

municípios paranaenses).

Com a escolha do curso Engenharia Civil, no campo “Cursos” da referida dashboard, o

campo “Instituições” passa a apresentar o número total de IES que, no Estado do Paraná,

ofertam o curso de Engenharia Civil, o qual é de 79 Instituições de Ensino Superior.

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Figura 4 – Dashboard da consulta interativa do portal e-MEC

Fonte: Autor (adaptado de www.emec.gov.br)

No entanto, a pesquisa para este artigo abrangeu um universo de 80 instituições (vide Anexo

I), já que por opção e análise do pesquisador, por haver semelhança considerável da grade

curricular entre os cursos, foi considerada também uma IES que oferta o curso de Engenharia

Civil de Infraestrutura.

No Anexo I é possível ver a relação da IES, bem como sua localidade, modalidade de oferta

do curso de Engenharia Civil, endereço de sítio eletrônico, link para acessar grade curricular

de engenharia civil (quando disponível no portal da IES) ou e-mail/telefone do contato que

dispõe da grade curricular do curso atualizada.

Com base na relação de instituições, após os filtros de cursos aplicados, tabulou-se as mesmas

e buscou-se obter as grades/matrizes curriculares do curso de Engenharia Civil (ou

Engenharia Civil e Infraestrutura, no caso de uma das instituições pesquisadas).

Com acesso as grades curriculares, foi possível verificar as disciplinas ofertadas e ter acesso

pontual às ementas de algumas disciplinas onde a temática tivesse relação com o estudo deste

artigo.

A coleta destes dados (componentes da matriz curricular) foi pautada na análise de disciplinas

intituladas ou que possuíssem como termo, em sua denominação, as seguintes palavras

chaves: “Inspeção Predial”, “Perícias”, “Patologias”, “Recuperação”, “Manutenção”,

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“Desempenho”, “Avaliação”, Pós-Ocupação”, “Auditoria”, “Normatização”, Engenharia

Diagnóstica” e “Laudos”.

Evidentemente buscou-se segregar os cursos de Engenharia Civil pesquisados naqueles que o

tema “Inspeção Predial” é abordado de forma plena e em disciplina exclusiva e dedicada ao

assunto, onde seus conceitos, conteúdo métodos, procedimentos e resultados são apresentados

ao graduando com base nas publicações técnicas (normas, artigos, orientações, etc.) sobre o

assunto, ou seja, o grupo de IES que atendem plenamente o escopo da ferramenta diagnóstica

estudada. Foram agrupadas as IES onde o assunto é debatido parcialmente, ou seja, por meio

de outras disciplinas que não focadas exclusivamente em apresentar os conceitos e conteúdos

pertinentes à Inspeção Predial. Foi ainda criado um terceiro grupo de IES, as quais o tema

não é debatido nem superficialmente dentro de outra matéria ou de forma dedicada, ou seja,

a temática não é discutida em nível nenhum dentro da graduação de Engenharia Civil. Com

isto criou-se três grupos de instituições de ensino distintos, àqueles onde o tema é abordado

plenamente, outro onde o tema é abordado parcialmente (vinculado a outro componente

curricular) e àquele onde o tema não é abordado em nível de graduação (Anexo I).

Durante consulta às IES, ocorreram de não se obter informações sobre as grades curriculares

de três (03) instituições, cfe. indicado no Anexo I.

3. Resultados

Tabulados os dados, cfe. apresentado no Anexo I, e com base em informações extraídas da

plataforma e-MEC do Ministério da Educação, é possível obter as seguintes informações e

resultados:

a) O Estado do Paraná concentra 42,32% das IES (total de 80), com oferta de curso de

Engenharia Civil (e similares), da região Sul do território brasileiro (189 IES somados os

três estados da região);

b) No Paraná se encontram 6,57% do total das IES, que ofertam cursos de Engenharia Civil

(e correlatos), do Brasil (1216 IES no total);

c) Duas (02) das Instituições de Ensino Superior pesquisadas não forneceram, e não possuem

em seu site/portal, a grade/matriz curricular do curso de Engenharia Civil ofertado,

portanto impossibilitando análise da abordagem da temática Inspeção Predial no curso

estudado;

d) Nenhuma das Instituições de Ensino Superior pesquisadas ofertam uma disciplina

(obrigatória ou eletiva) com abordagem exclusiva à temática “Inspeção Predial”, no curso

de Engenharia Civil (ou curso equivalente, como Engenharia Civil de Infraestrutura);

e) Quarenta e uma (41), das 80 IES pesquisadas, abordam parcialmente a temática, porém de

forma superficial e como parte do conteúdo programático de outras disciplinas do curso de

Engenharia Civil;

f) Trinta e sete (37), das 80 IES levantadas, não abordam a temética “Inspeção Predial”,

mesmo que superficialmente ou junto à outras disciplinas, em seus cursos de Engenharia

Civil;

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Figura 5 – Número e percentual de Instituições de Ensino Superior onde a temática “Inspeção Predial” é

abordada na graduação de Engenharia Civil – Resultados brutos

Fonte: Autor

Figura 6 – Número e percentual líquido de Instituições de Ensino Superior onde a temática “Inspeção Predial” é

abordada na graduação de Engenharia Civil (PR) – Resultados líquidos

Fonte: Autor

Os resultados acima demonstrados indicam que o Estado do Paraná é bastante representativo

na oferta de cursos de Engenharia Civil, à nível regional e nacional. Logo, é de se esperar que

a temática “Inspeção Predial”, se profunda e corretamente abordada à nível de graduação,

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teria alto potencial de permeabilidade no meio técnico (em especial com os novos

profissionais).

De forma geral, cerca de 97% das Instituições de Ensino Superior do Estado do Paraná,

possuem de forma acessível, ou ao menos com facilidade de obtenção, a grade/matriz

curricular dos cursos de Engenharia Civil.

Verifica-se que a abordagem da Inspeção Predial ainda é incipiente à nível de graduação no

Estado do Paraná, vez não haver nenhuma IES, e curso de Engenharia Civil (ou correlato),

pesquisada com disciplina dedicada exclusivamente ao assunto.

O debate do assunto, sua apresentação e prática didática, ainda não são devidamente

difundidos para os estudantes de Engenharia Civil, a despeito de sua importância e sua

corrente normatização, sendo abordado apenas em conjunto com assuntos de manutenção,

desempenho, patologias das construções ou outras ferramentas da Engenharia Diagnósticas

(como a Perícia).

Acredita-se que o tema, ainda quase exclusivamente debatido em cursos de pós-graduação e

extensão, poderá ser mais aprofundado com os estudantes a partir de sua normatização

(Projeto ABNT NBR 16747), contribuindo assim para as aplicações desta nova norma e de

complementando a aplicação de outras, tais como a NBR 5674:2012, NBR 15575:2013, NBR

14037:2014, NBR 16280:2015, etc.

Uma justificativa para a baixa discussão deste tema em nível de graduação pode ser atribuída

a suposta necessidade de experiência pelo profissional vistoriador, responsável pelo

desenvolvimento do Laudo de Inspeção Predial. Não se nega que a experiência do

profissional inspetor, especialmente para detecção das anomalias e falhas nas edificações

(relação causa x efeito), é primordial, tal como já colocado pelo IBAPE-SP (2012) e IBAPE-

SP (2015), mas só ela (a experiência) não permite por si só que o profissional responsável

técnico aplique a ferramenta diagnóstica em questão de forma plena.

É fundamental que o profissional, seja ele recém-formado ou a mais tempo no mercado de

trabalho, conheça a metodologia, os procedimentos e etapas, bem como a forma de

apresentação de um Laudo de Inspeção Predial, e este tópicos podem (e devem) ser abordados

à nível de graduação, capacitando os profissionais a aplicarem a Inspeção Predial de forma

multidisciplinar, não apenas em termos de saberem atuar com outros profissionais de outras

áreas, mas sabendo unir os componentes da sua própria grade curricular aos conceitos da

Inspeção Predial.

5. Conclusão e sugestões

Tendo em vista os aspectos apresentados na revisão bibliográfica e os resultados obtidos pela

pesquisa exploratória empreitada, conclui-se que a discussão sobre a Inspeção Predial ainda

ocorre de forma muito superficial nos cursos de graduação em Engenharia Civil no Estado do

Paraná, sendo que quando abordada aos estudantes, assim é feita como pequena parte do

conteúdo de outras disciplinas.

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A despeito da disseminada importância do tema ao meio profissional, e na sociedade como

um todo, vez que custos materiais e humanos com sinistros de obras parecem ser multiplicar

no cenário nacional nos últimos anos, a academia parece não dividir da mesma tendência.

A Inspeção Predial deve ser entendida, cfe. já abordado neste trabalho, como um check up da

edificação, aplicável à qualquer tipo de edificação, seja esta de uso residencial, comercial,

pública, industrial, estádios de futebol, arenas diversas, aeroportos, praças, parques, pontes,

viadutos, barragens, etc. Dada a profundidade de aplicação, sua discussão deve ser abordada

no meio acadêmico, de modo a permitir o egresso de profissionais preparados a performá-la.

A Inspeção Predial desponta como uma solução à minimização de custos, objetivando a

melhoria significativa da qualidade, durabilidade e a segurança de edificações e usuários

destas, impactando inclusive no meio ambiente, indicando assim sua importância em termos

econômicos, sociais, ambientais e incorporando em sua abrangência aspectos de

sustentabilidade, manutenabilidade, acessibilidade e funcionalidade.

A já difundida Lei de Sitter (ou Lei dos Cinco), cfe. apresentada em Sitter (1984, apud

CREA-PR, 2016), descreve a evolução dos gastos com manutenção no imóvel (custos com

manutenção preventiva são cinco vezes menores que gastos com manutenções corretivas), de

acordo com a etapa em que se encontra o imóvel, e denota a importância econômica e

financeira da Inspeção Predial como ferramenta diagnóstica que subsidia as ações e

intervenções de manutenção do empreendimento.

A importância da capacitação dos profissionais em Inspeção Predial, em especial desde o

nível da graduação, fica evidente na necessidade da difusão do tema no meio público e

privado, vez os eventos de sinistro de obras e edifícios ocorridos no Brasil nos últimos anos.

O egresso, logo que formado e habilitado, pode exercer as atividades de projeto e execução de

obras, e o deve fazer dentro das metodologias, definições e procedimentos normativos

pertinentes a cada área de atuação. Apto a planejar, projetar e a construir ele deve pensar na

durabilidade, vida útil, manutenabilidade, sustentabilidade e seguranças das obras as quais se

torna responsável, e a ferramenta da Inspeção Predial, quando abordada em nível de

graduação, irá permitir esta visão tridimensional do edifício: técnica, funcional e de uso

(manutenção).

Não abordar a temática na graduação parece ser caminho inverso à tendência do meio técnico,

que vem sendo a de se planejar, projetar e executar obras mais duráveis e com manutenção

mais facilitada, programada e preventiva. Com advento de importantes normas técnicas, tais

como ABNT NBT 5674, ABNT NBR 14037, ABNT NBR 15575 e ABNT NBR 16280,

verifica-se a necessidade dos profissionais, sejam estes recentemente egressos ou com maior

tempo de atuação (vez que as normas não fazem esta distinção a tempo de formado do

profissional), em projetar e executar obras duradouras e manuteníveis, reduzindo assim custos

do pós-ocupação e garantindo integridade das edificações e de seus usuários.

A mudança cultural, quanto aos aspectos da necessidade de manutenção das edificações, uma

das finalidades da Inspeção Predial, se mostra cada vez mais necessária em nossa sociedade.

Cabe ao MEC, as IES e, em especial, as coordenações dos cursos de Engenharia Civil (não só

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do Estado do Paraná, apesar deste trabalho ter esta limitação geográfica), serem agentes

atuantes neste processo, e a forma mais eficaz é a discussão da metodologia e aplicação da

Inspeção Predial ainda no nível de graduação.

De nada adiantará a discussão sobre a implementação de leis específicas, que tornem

obrigatório a realização periódica de vistorias de Inspeção Predial, se não for possível

preparar a “mão-de-obra” responsável pela aplicação desta ferramenta da Engenharia

Diagnóstica.

Dotar os futuros engenheiros deste conhecimento se mostra mais interessante e menos custoso

a sociedade como um todo, pois incorporará neste futuro profissional este conhecimento e a

preocupação de se pensar e planejar obras onde a vida útil de projeto seja maior e os

procedimentos de manutenção sejam melhor detalhados aos usuários, sua forma de realização

seja adequadamente explicitada no Plano de Manutenção ou Manual de Uso e Operação, e sua

periodicidade adequadamente atendida pelos gestores/proprietários/responsáveis pelas

edificações.

Por fim, deixa-se de sugestão, como continuidade deste trabalho, duas linhas de estudo para

novas pesquisas:

• Ampliação deste estudo às demais Unidades da Federação e Distrito Federal, de forma

a permitir analisar em nível nacional a abrangência do tema Inspeção Predial na

graduação dos cursos de Engenharia Civil; e

• A realização do mesmo estudo, a nível regional ou nacional, após decorrido tempo

determinado (de pelo menos 1 ano) da publicação da nova norma ABNT NBR 16747,

atualmente em fase de projeto e com previsão de publicação em 19/07/2019;

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Anexos

Anexo I - Quadro representativo das Instituições de Ensino Superior (IES) no Estado do

Paraná, com oferta de curso de Engenharia Civil