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A AÇÃO COMO ELEMENTO CENTRAL DO SABER SER PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA RELATÓRIO DE ESTÁGIO PROFISSIONAL Relatório de Estágio Profissional apresentado à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto com vista à obtenção do 2º Ciclo de estudos conducente ao grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário conforme o Decreto-lei nº 74/2006 de 24 de Março e o Decreto-lei 43/2007 de 22 de Fevereiro. Orientador: Dr. Tiago Manuel Tavares de Sousa JOAQUIM RICARDO COSTA MONTEIRO Porto, setembro de 2014

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A AÇÃO COMO ELEMENTO CENTRAL DO SABER SER PROFESSOR DE

EDUCAÇÃO FÍSICA

RELATÓRIO DE ESTÁGIO PROFISSIONAL

Relatório de Estágio Profissional apresentado à Faculdade de

Desporto da Universidade do Porto com vista à obtenção do 2º

Ciclo de estudos conducente ao grau de Mestre em Ensino de

Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário conforme o

Decreto-lei nº 74/2006 de 24 de Março e o Decreto-lei 43/2007

de 22 de Fevereiro.

Orientador: Dr. Tiago Manuel Tavares de Sousa

JOAQUIM RICARDO COSTA MONTEIRO

Porto, setembro de 2014

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FICHA DE CATALOGAÇÃO

Monteiro, J.R.C. (2014) A Ação como Elemento Central do Saber Ser Professor

de Educação Física. Relatório de Estágio Profissional, Porto: R. Monteiro.

Relatório de Estágio Profissionalizante para a obtenção do grau de Mestre em

Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário, apresentado à

Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.

Palavras-chave: EDUCAÇÃO FÍSICA, ESTAGIÁRIO PROFISSIONAL,

ESTÁGIO PROFISSIONAL, TUTORIA, COMUNIDADE EDUCATIVA

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III

AGRADECIMENTOS

À minha Mãe, Maria da Conceição, e a minha avó Maria de Fátima, as

mulheres da minha vida, devo-lhes tudo.

À minha namorada, pelo apoio incondicional.

Aos meus grandes amigos Luís Moreira e Tiago Nunes.

Ao professor cooperante de estágio, professor Fernando Vaz, um obrigado por

tudo, agradeço-lhe alguma parte adulta que me incutiu, hoje sei como dar valor

á vida.

Ao orientador Tiago Sousa! Encarar os desafios, entregar-nos aos

compromissos, lutar para conseguir, fazer para crer, confronto e

honestidade...Um obrigado, pelas dicas, pelos caminhos a seguir e a forma

simples como me ensinou. Admiro a sua entrega ao seu trabalho, um

profissional.

À Direção da Escola Básica 2,3 de Sobreira.

Ao meu colega, companheiro, motivador e amigo Paulo Sousa que me

acompanhou desde o início até ao fim deste estágio, aprendi muitas coisas

contigo.

A todos os meus amigos que me apoiam.

O meu muito sincero e sentido Obrigado.

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ÍNDICE GERAL

AGRADECIMENTOS ........................................................................................ III

ÍNDICE GERAL ................................................................................................. IV

ÍNDICE DE ANEXOS ........................................................................................ VI

ÍNDICE DE FIGURAS ...................................................................................... VII

RESUMO......................................................................................................... VIII

ABSTRACT ........................................................................................................ X

ABREVIATURAS ............................................................................................... XI

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 1

2. ENQUADRAMENTO PESSOAL .................................................................... 5

2.1. O meu trajeto ........................................................................................... 7

2.2 Oportunidades e Expetativas em relação ao Estágio Profissional .......... 10

3. ENQUADRAMENTO DA PRÁTICA PROFISSIONAL .................................. 13

3.1 A Enquadramento Legal e Institucional ................................................... 15

3.2 Enquadramento funcional ....................................................................... 16

3.2.1 A Escola Básica 2,3 de Sobreira ...................................................... 16

3.2.2 O Grupo de Educação Física e Diversos Intervenientes .................. 18

3.2.3 A minha turma .................................................................................. 22

4. REALIZAÇÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL ............................................. 25

4.1. Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem .......................... 27

4.1.1 O professor de Educação Física em Estágio Profissional ................ 27

4.1.2. Planeamento em 3 escalas .............................................................. 29

4.1.3 Realização ........................................................................................ 34

4.1.3.1 Evolução do processo pedagógico ................................................ 35

4.1.3.2 Técnicas e estilos de ensino .......................................................... 36

4.1.3.4 Desenvolvimento de Capacidade Físicas – o Fitnessgram® ......... 42

4.1.4. Comunicação em contexto escolar ..................................................... 44

4.1.5. Diferenciação pedagógica ................................................................... 48

4.1.6. A tutoria na aula de Educação Física na intervenção sobre

comportamentos de um aluno com Necessidades Educativas Especiais: um

estudo de caso. ............................................................................................. 52

4.1.7. Avaliação e Controlo ........................................................................... 75

4.1.7.1 Avaliar na Escola EB 2,3 de Sobreira ............................................ 76

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V

4.2. Participação na Escola e Relações com a Comunidade ........................ 77

4.2.1 Atividades Desenvolvidas ................................................................. 78

4.2.1.1 Desporto Escolar ........................................................................ 79

4.2.1.2 Feira de São Martinho e Trikes .................................................. 82

4.2.1.3 Atividades do Atletismo .............................................................. 84

4.2.1.4. Atividades de final de período ................................................... 88

4.2.1.4.1. 1º Período ........................................................................... 88

4.2.1.4.2. 2º Período ........................................................................... 90

4.2.1.4.3. 3º Período ........................................................................... 92

4.2.1.5.Construção, reparação e aperfeiçoamento de material desportivo 92

4.2.1.6. Hóquei em Campo ........................................................................ 94

4.3 Desenvolvimento Profissional ................................................................. 99

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 105

6. REFERÊNCIAS .......................................................................................... 109

ANEXOS ......................................................................................................... XIII

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VI

ÍNDICE DE ANEXOS

Anexo 1 – Plano de Aula ............................................................... XV

Anexo 2 – Folheto informativo ....................................................... XVI

Anexo 3 – Grelha valorativa .......................................................... XVII

Anexo 4 – Flyer Torneio Wii® Games, Matraquilhos e Ténis de

Mesa ..............................................................................................

XVIII

Anexo 5 – Rede de voleibol .......................................................... XIX

Anexo 6 – Execução da modalidade Hóquei em Campo .............. XX

Anexo 7 – Sticks de Hóquei .......................................................... XXI

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VII

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 – Matérias de ensino abordadas ao longo do ano letivo, por

períodos .................................................................................................... 30

Figura 2 –Estilos de ensino ...................................................................... 37

Figura 3 Exemplo de Trike ...................................................................... 81

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VIII

RESUMO

O Estágio Profissional representa para o futuro professor um momento de

especial importância no seu processo de formação. É neste momento que

desenvolve o verdadeiro sentimento de pertença profissional, desenvolvendo

competências apenas possíveis de serem alcançadas em contextos reais de

prática. De referir que as vivências apresentadas neste documento são fruto da

prática de ensino supervisionada na Escola Básica 2\3 de Sobreira situada na

freguesia de Sobreira, concelho de Paredes e teve como plano central uma

turma do 9°ano. Decorreu sob a orientação e cooperação distribuídas por dois

professores, no período compreendido entre 17 de Setembro de 2013 e 5 de

junho de 201, numa articulação entre a Faculdade de Desporto e a escola

cooperante. Sendo este um relatório que aborda temáticas subordinadas à

prática profissional que proporciona ao estudante-estagiário a possibilidade de

ampliar o seu campo de experiências e conhecimentos, articulando os

conhecimentos teóricos à prática e estimulando a sua emancipação e

autonomia, bem como a possibilidade de desenvolver um leque variado de

competências profissionais inerentes à prática de um ensino de qualidade, o

presente relatório abrangerá todas as temáticas inerentes à explicitação

teórico-prática do estágio profissional por 3 áreas de abrangência: área 1 –

“Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem”, área 2 – “Participação

na Escola” e “Relações com a Comunidade” e área 3 – “Desenvolvimento

Profissional”. Após uma abordagem ao meu percurso e à contextualização do

cenário da prática, abordar-se-ão pontos relativos às vivências neste estágio

profissional. É igualmente apresentado o estudo de caso de intervenção com

um aluno com necessidades educativas especiais. Por fim, concluir-se-á o

relatório tecendo considerações sobre os assuntos abordados ao longo do

mesmo, destacando ainda opiniões, características, competências e valências

desenvolvidas ao longo do estágio profissional. O presente documento

pretende ser, assim, uma exposição escrita, minuciosa e circunstanciada da

prática do estágio curricular acima referida.

Palavras-chave: EDUCAÇÃO FÍSICA, ESTAGIÁRIO PROFISSIONAL,

ESTÁGIO PROFISSIONAL, TUTORIA, COMUNIDADE EDUCATIVA

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X

ABSTRACT

Practicum training is, for the future teacher, a moment of particular importance

in his learning process. It is in this moment that he develops the true feeling of

belonging, developing skills only able to be achieved in real contexts of practice.

It is to be noted that the experiences discriminated in this document are the

result of supervised teaching practice and took place at Escola Básica 2/3 of

Sobreira, located in Sobreira, a parish belonging to the city of Paredes, in a

liaison between FADEUP and the cooperative school. Since this is a report that

addresses themes subordinated to professional practice that provides the pre-

service teacher the possibility to expand his field of experience and expertise,

combining the theoretical knowledge in practice and stimulating his

emancipation and autonomy issues, as well as the possibility of developing a

varied range of professional skills necessary to the practice of quality education,

this report will cover all issues related to the theoretical and practical

explanation of internship in three areas of coverage: area 1, organization and

management of teaching and learning; area 2, participation in school and

relations with the educational community and area 3, professional development.

After an approach to my course and contextualizing the practice scenario,

points addressing to this practicum experience will be approached too. It also

presented a case study developed with a student with special educational

needs. Finally, the report will be concluded with considerations on the topics

discussed along the same, highlighting opinions, characteristics, skills and

valences developed over this practicum training.

Thus, the present document seeks to be a written, detailed and thorough

exposition of the professional practice

.Keywords: PHYSICAL EDUCATION, PRE-SERVICE TEACHER,

PRACTICUM TRAINING, TUTORING, EDUCATIONAL COMMUNITY

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XI

ABREVIATURAS

EF Educação Física

EP Estágio Profissional

FADEUP Faculdade de Desporto da Universidade do Porto

PC Professor Cooperante

PE Professor Estagiário

PO Professor Orientador

MEC Modelo de Estrutura de Conhecimento

UD Unidade Didática

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1. INTRODUÇÃO

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Ao iniciar este relatório, é certo e sabido que a minha prática letiva já

terminou, pelo que pude vivenciar experiências e adquirir conhecimentos que

considero úteis para o meu futuro profissional. De facto, a obtenção de

conhecimentos teóricos no âmbito da disciplina de Educação Física é tida

como necessária e útil para o desenvolvimento profissional do professor, mas

tal como veremos adiante, o conhecimento dirige a prática; no entanto, a

prática aumenta o conhecimento.

O estágio profissional (EP) revela-se uma prática elementar para que o

estagiário possa desenvolver competências a todos os níveis em contexto real

de trabalho. Durante a frequência do EP muita coisa mudou: também eu, aluno,

professor, homem e filho, mudei. Mas foi a nível profissional que expus os

meus anseios, ideias, e conhecimentos e que permitiu a maior evolução. Foi no

decorrer desta prática que me superei, enfrentando medos e barreiras,

atingindo as metas a que me predispus mas que tantas vezes duvidei e outras

tantas quase desisti de alcançar. Foi, de facto, um esforço diário, contínuo e de

entrega total, ser professor. O processo de ensino aprendizagem chegou, por

vezes, a ser desgastante, no entanto, a missão de ensinar fez renovar a

energia a cada acordar.

No final tudo valeu tamanha dedicação.

Diariamente foram alguns os estudantes a que tentei proporcionar novas

aprendizagens. Aprendizagens essas que pretendi que fossem sólidas, tal

como a que levo em troca, para a vida. Melhor do que este sentimento de

dever cumprido, não há, certamente.

O certo é que continuarei a desenvolver competências e a absorver

conhecimentos, com vista a um ensino qualitativo e de referência, promovendo

práticas de cidadania e integração. Mas por agora abordarei as valências

absorvidas em contexto de EP.

Sendo assim, é relevante informar que este relatório é um documento

estruturado em que, inicialmente há uma apresentação minha e a expressão de

expectativas e preocupações, dos intervenientes e da escola em que fui

inserido e a sua ligação com a faculdade, sintetizadas no enquadramento

pessoal e da prática profissional. Depois, apresenta-se a realização da prática,

tema dividido em três áreas. Na primeira, “Organização e gestão do ensino

aprendizagem”, onde se abordam assuntos relativos ao ensino e

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aprendizagem, desde as conceções até à avaliação, passando pelo

planeamento e pela ação. Apresentarei ainda o estudo de caso sobre um aluno

com Necessidade Educativas Especiais (NEE), numa tentativa de substanciar

os programas de tutoria como elemento pedagógico de grande relevância. Na

segunda área encontrar-se-ão os temas que dizem respeito á participação na

escola e relações com a comunidade, como por exemplo, atividades

desportivas desenvolvidas pelo núcleo de estágio e pelo grupo de Educação

Física, ou a construção de material para a prática desportiva e as ações de

formação desenvolvidas.

Por último na terceira parte deste capítulo estarão os dados relativos ao

desenvolvimento profissional, focando todos os aspetos que contribuíram para

o meu desenvolvimento enquanto futuro professor de Educação Física.

Finalmente, a conclusão do relatório com considerações sobre temas e

assuntos abordados, opiniões, competências e valências desenvolvidas ao

longo do mesmo culminarão esta viagem retrospetiva sobre o EP.

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2. ENQUADRAMENTO PESSOAL

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2.1. O meu trajeto

Ao 4º mês do ano 1988, na freguesia de Castelões de Cepeda, atual

freguesia e Concelho de Paredes, a família Costa Monteiro tinha razões para

sorrir: Nascia o seu mais novo membro, a quem foi dado o nome de Joaquim

Ricardo.

Foi desde cedo que o pequenote iniciou as suas experiências pela

natureza e ruralidade, partindo à descoberta do seu próprio mundo por entre

campos e riachos, sempre sob o comando atento dos avós maternos, que o

criaram desde sempre na aldeia de Bustelo, concelho de Penafiel. Aqui, apesar

da escassez de recursos, Ricardo era feliz: embora proveniente de uma família

pobre, vivia envolto de afeto, num ambiente natural, onde qualquer motivo era

desculpa para fugir de casa e vivenciar pequenas aventuras de criança: muitas

vezes foi marinheiro, saltando de rocha em rocha e nadando rio acima; outras

vezes era trapezista e equilibrista e debruçava-se nos carvalhos gigantes onde

quase tocava o céu, que ambicionava também percorrer, e sonhava muito:

todos os dias era ciclista, jogador de futebol ou nadador, piloto, paraquedista,

atleta.

E um dia, fez-se luz: o ricardo começa a ficar com os pais na cidade e

passa a fazer parte de uma realidade muito diferente da que estava habituado:

de repente estava ali, com muitas possibilidades diante dos seus olhos, apesar

da dificuldade em adaptar-se a uma realidade que nunca tinha sido a sua. Mas

agora tinha tudo que sempre ouvira falar e nunca pôde usufruir: pavilhão

gimnodesportivo, campo de futebol, piscina, imensas atividades e recursos. E

quis ficar ali para sempre.

Foi neste período transitório que ricardo viveu e sentiu maiores

mudanças pessoais: a iniciar-se na adolescência, cedo reparou que afinal a

cidade também tinha coisas más: habituado a viver livre, rodeado de amigos e

atividades que mesmo rurais lhe ocupavam tempo e o faziam feliz, começa a

sentir-se sozinho, irritado e perturbado pela prisão que era viver na cidade,

“muito perigosa para crianças andarem por aí a vaguear”, como lhe dizia a avó.

E foi quando os pais tomaram a decisão de colocar o Ricardo em diversas

atividades.

Na Associação Cultural Desportiva e Recreativa Olá Mouriz a liberdade

era a palavra de ordem: ali podia-se jogar futebol no ringue, pegar numa bola

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de basquetebol, experimentar atividades diferentes. Até poder usufruir de um

balneário era considerado especial! Com a crescente aderência de miúdos na

associação criou-se uma nova modalidade, o Hóquei em patins, atividade que

o Ricardo abraçou desde logo e que surtiu um grande impacto na sua vida.

Aprendeu, cresceu, caiu muitas vezes mas levantou-se sempre. E depois da

passagem dos patins de fivela para os de bota respirou o ar do pavilhão

durante dezasseis anos, praticando afincadamente a modalidade.

Se o gosto pelo desporto já era notório, a entrega e dedicação ao

Hóquei foi incansável e transformou-se numa verdadeira paixão que nutriu

muitos efeitos na sua vida. Ricardo chegou inclusivamente a deixar os amigos

da escola primária e frequentar outra escola básica para ficar mais perto do

local de treinos e foi esta atividade que lhe deu forças para enfrentar os

desafios que a mudança campo-cidade lhe trouxe.

Desde o 1º ciclo do Ensino básico passado na Escola Básica 2,3 de

Paredes até ao término do ensino secundário na Escola Secundária da mesma

localidade, Ricardo esteve sempre ligado ao desporto, nomeadamente ao

hóquei, onde fez amigos para toda a vida. O seu percurso desportivo levou-o a

federar-se na modalidade, tendo ganho um campeonato distrital em juvenis e

um torneio de encerramento em juniores, as melhores épocas do hóquei no Olá

Mouriz. Ao longo de 16 anos, Ricardo pôde conhecer muitas cidades, vivenciar

experiências desportivas carregadas de adrenalina e ampliar o leque de

conhecimentos nesta área, quer a nível de contactos, quer através na absorção

de técnicas e métodos desportivos, facilitados através de estágios com os

melhores hoquistas de Portugal e de conversas com treinadores e dirigentes

que seguiam de perto o sonho de um dia o Ricardo poder dar ainda mais cartas

no meio desportivo.

E se no início foi um sonho, rapidamente se tornou realidade: Tendo

escolhido a área científico-natural para poder mais facilmente ingressar numa

universidade que tivesse desporto como área, três anos passaram a voar e em

2007 entra para o Instituto Superior de Ciências da Saúde – Norte, no curso de

Educação Física, Saúde e Desporto que frequentou apenas durante três

semestres devido a problemas familiares. Mas o sonho não terminou aqui e

algum tempo depois ingressa no Instituto Superior da Maia onde conclui a

licenciatura em Educação Física e Desporto num ano letivo e um semestre,

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semestre esse em que aproveitou para prestar o seu contributo à comunidade

e dar continuidade à aprendizagem, através do Banco Local de Voluntariado da

Câmara Municipal de Paredes que o colocou no infantário da Estrebuela, uma

experiência que se revelou única e enriquecedora, principalmente pela

aquisição de conhecimentos que adquiriu sobre psicomotricidade.

Sabendo e sentindo que a vida é feita de altos e baixos, Ricardo não

baixou a cabeça quando dois quistos o impediram de voltar a competir no

hóquei. O sabor do desporto era-lhe já intrínseco e a direção do clube sabia-o

tão bem que lhe concedeu a possibilidade de treinar as equipas de bambis,

bejamins e infantis, ato que se transformou numa satisfação imensa e a

constatação de que era aquilo que queria fazer para o resto da vida.

26 Anos se passaram desde aquele dia, em que a família Costa

Monteiro sorriu ao olhar para o seu mais pequeno rebento. Olho hoje para trás

e felicito-me por ser esta criança descrita nos parágrafos acima, estar hoje a

um passo de terminar um grande capitulo da minha vida, que é a conclusão do

mestrado em Ensino da Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário, na

FADEUP e perceber que, afinal, todo o meu percurso estava já como que

traçado: Desde a ruralidade dos campos que me trouxeram a apetência para a

orientação e desporto em geral, passando pelas dificuldades de adaptação à

cidade que recordo hoje nas aulas que leciono, procurando ajudar os alunos

neste âmbito, desde o amor ao hóquei à ambição de um dia ser um excelente

professor, como os que tive a honra de conhecer e conversar pelo país fora,

nada aconteceu por acaso.

Hoje sou Professor, Treinador de hóquei das camadas jovens e Personal

Trainer, formação que executei no CEFAD- Formação Profissional Lda.

(entidade acreditada pela DGERT - Direção Geral do Emprego e Relações de

Trabalho e autorizado pelo Ministério da Educação e Ministério da

Administração Interna), que se revelou uma experiência muito marcante na

minha vida, tendo-me permitido passar de um desporto com competição para

outro que pretende melhorias de performance e cuidados para a saúde, e reter

outros conhecimentos técnicos e organizativos.

Hoje, continuo a não poder passar sem jogar hóquei. Posso não fazer

jogos, nem jogar com tanta consistência ou garra como outrora, mas sempre

que posso treino com a equipa de seniores do clube para matar saudades e

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não esquecer este desporto que me dá muita satisfação No entanto, a

possibilidade de poder gerir o treino dos mais jovens e assistir à sua evolução e

crescimento é algo muito gratificante e não menos motivador, que espero fazer

durante muitos anos.

Hoje, sou treinador e professor e faço-o com gosto, garra e sorriso no

rosto. Gosto que os alunos consigam os seus objetivos e alcancem as suas

etapas, e todos os dias, ao olhá-los, lembro-me sempre por aquilo que passei,

o quanto cresci e o tanto que aprendi. Não há, de facto, nada melhor do que

fazermos o que realmente gostamos e sentirmo-nos parte integrante de algo,

que se intensifica com uma boa dose de motivação e espírito de equipa,

práticas que sempre incutirei aos meus alunos.

2.2 Oportunidades e Expetativas em relação ao Estágio Profissional

O EP é uma oportunidade de aprender com a experiência, com as

decisões perante problemas que surgem diariamente, uma conveniência que

resulta na aquisição de variadíssimos conhecimentos que serão retidos ao

longo da vida. Esta, sem dúvida, uma fase marcante, dado que é o primeiro

ano que lido com a profissão de forma totalitária. Um ano que testa os meus

conhecimentos mais do que qualquer prova até hoje realizada, uma vez que se

resume ao desenvolvimento de valências que venho exercitando e

consequente aquisição de conhecimentos e competências por mim aprendidos

e apreendidos até aos dias de hoje.

O EP na área de Educação Física (EF) permite a conjugação de

diferentes áreas do conhecimento, disciplinas como a anatomia e a fisiologia,

cadeiras mais direcionadas ao saber, com a área desportiva direcionada aos

mais pequenos, permitindo desta forma a adaptação da teoria à prática no

contexto escolar, tendo em conta a realidade da instituição.

Outro dos principais benefícios da execução de um EP vem com o facto

de proporcionar ao estagiário a possibilidade de observação de diferentes

métodos de ensino por parte dos professores da escola, bem como o confronto

de ideias, métodos e estratégias de ensino entre os colegas estagiários.

Apesar de esta ser uma aprendizagem controlada, possibilita ao estagiário a

tomada de decisões e reflexões moderadas pelo professor cooperante (PC),

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pelo professor orientador (PO) bem como pelo grupo de EF do estabelecimento

de ensino, Escola EB 2/3 da Sobreira.

No início do EP supracitado, o primeiro grande desafio por mim

percecionado residia no facto de me ter sido atribuída uma turma do 9º ano,

cujas idades variam entre os 13 e os 16 anos. Dado que nestas idades os

alunos estão em plena fase de adolescência, questionava-me se os alunos me

iriam respeitar, se iria ter problemas de controlo da turma, se eles iriam confiar

nos meus conhecimentos e competências. Um ano em que senti uma mudança

de postura, passando a entregar-me totalmente a uma comunidade no sentido

de promover melhorias a todos os níveis, transmitindo ideias e ideais e

corrigindo comportamentos em prol da comunidade educativa, facto que me

agradou desde sempre pois é assim que me vejo e me assumo na sociedade,

a trabalhar em prol de todos.

À medida que o ano letivo ia progredindo senti-me mais confiante ao ver

que as minhas questões/preocupações iam sendo clarificadas. De início foi

difícil controlar bem a turma e fazer com que todos os alunos me respeitassem.

Também não esperava que isso acontecesse logo no primeiro momento e de

forma quase gratuita. Sendo assim, com observação e trabalho, adaptei o meu

comportamento e foi conquistando o respeito dos alunos, o que esteve

diretamente ligado com o controlo da turma e a capacidade desta confiar nas

minhas competências. A respeito de uma mudança de postura e á minha

integração nesta comunidade com o intuito de transmitir saberes, contribuindo

positivamente para a sociedade educativa, está claro que é algo inevitável,

visto que, isto constitui um objetivo importante neste ano de grandes

aprendizagens.

Em suma o desafio inicial manteve-se o mesmo: conquistar e manter o

respeito da comunidade educativa, nomeadamente da turma a lecionar bem

como o seu controlo e credibilidade. Como nova expetativa, desejava aprender

com a experiência do PC, assim como com os outros professores, com as

minhas vivências e com as vivências dos meus colegas de estágio. Este foi,

sem sombra de dúvidas, um ano rico em aprendizagens.

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3. ENQUADRAMENTO DA PRÁTICA PROFISSIONAL

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3.1 A Enquadramento Legal e Institucional

No caso do EP realizado, deve referir-se que o mesmo proporcionou-se

no âmbito da prática profissional do segundo ciclo de estudos conducente ao

grau de Mestre em Ensino de EF da Faculdade de Desporto da Universidade

do Porto (FADEUP) que tem a duração de quatro semestres (primeiro e

segundo semestres direcionados para o sistema de ensino em contexto escolar

e terceiro e quatro semestres relativos à prática de ensino supervisionada) e

correspondente a cento e vinte ECTS (European Credit Transfer and

Accumulation System) sendo composto pela Prática de Ensino

Profissionalizada (PES) e consequente relatório de estágio (RE). Todo este

processo è regido pelas normas da instituição universitária e pela legislação

específica acerca da habilitação profissional para a docência.

A estrutura e funcionamento do EP considera os princípios decorrentes das

orientações legais nomeadamente as constantes do Decreto-lei nº 74/2006 de

24 de março e o Decreto-lei nº 43/2007 de 22 de fevereiro e têm em conta o

Regulamento Geral dos segundos Ciclos da UP, o Regulamento geral dos

segundos ciclos da FADEUP e o Regulamento do Curso de Mestrado em

Ensino de EF.

O EP permite ao estagiário atuar num ambiente autêntico apenas

possível devido aos protocolos de cooperação com estabelecimentos de

educação, nomeadamente de ensino básico e secundário, conforme referido no

artigo 18º do Decreto-Lei nº43/2007 de 22 de Fevereiro.

Segundo Piéron (1996, p. 37), o estágio profissional “ (...) assume

particular interesse na formação dos professores por ser uma etapa de

confrontação entre os saberes teóricos da formação inicial e os saberes

práticos da experiência profissional e da realidade social do ensino”. Assim,

poder-se-á referir que este é um projeto de formação que tem como objetivo o

desenvolvimento de competências do professor enquanto profissional, com

vista à melhoria do ensino, que alia o conhecimento teórico à componente

prática, contextualizada com o espaço escolar.

O EP permite ao estagiário a prática do ensino em contexto real de

forma progressiva e orientada sob a supervisão de professores que deverão ter

em conta variadas competências profissionais do estagiário, com vista ao

ensino da EF de melhor qualidade que serão analisadas em contexto escolar

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sob forma avaliativa. Estas competências organizam-se em 3 grandes áreas de

desempenho, nomeadamente “Organização e Gestão do Ensino e da

Aprendizagem”, “Participação na Escola e Relações com a Comunidade” e

“Desenvolvimento Profissional”, respetivamente.

Assim, neste primeiro contacto com a realidade complexa em que se

desenvolvem as atividades educativas, o professor estagiário (PE) assume as

responsabilidades de um profissional, numa situação pouco familiar e insegura,

tendo oportunidade de aceder a um conjunto de saberes e experiências

facilitados pelos supervisores, a quem cabe o papel de selecionar meios e

estratégias de ensino/aprendizagem tendo em conta o nível de

desenvolvimento e expetativas do candidato. Desta forma, os supervisores

deverão reconhecer e analisar as perceções e dificuldades do PE assim como

assegurar todo o apoio, aconselhamento e orientações necessárias ao

entendimento e solução de problemas que o mesmo possa ter.

Em suma, e de acordo com Metzlder (1990), esta supervisão deve

proporcionar aos professores estagiários ajuda de modo a que se tornem cada

vez mais independentes na tentativa de melhorar as suas competências

profissionais.

3.2 Enquadramento funcional

3.2.1 A Escola Básica 2,3 de Sobreira

Após termos tido um primeiro contacto com todo o processo pelo qual o

nosso Estágio passaria e como seria orientado, uma das primeiras ações

realizadas foi procurar conhecer a escola em que iriamos desempenhar a

nossa função, de forma a saber a realidade com que nos iriamos deparar, em

relação aos diferentes recursos disponíveis, grupo de professores de EF a que

passaríamos a pertencer e as atividades a desenvolver ao longo do ano letivo.

Para a elaboração da caracterização da escola, foram utilizados os

vários documentos á existentes, nomeadamente, o Projeto Curricular de

agrupamento, o Projeto Educativo de Escola e outros documentos que

contribuíram, de uma forma ou outra, para a recolha das informações que

consideramos de maior relevância. O site da Escola também foi um

instrumento útil para a recolha de informação.

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A escola que nos acolheu para a realização do estágio pedagógico foi a

Escola Básica 2,3 de Sobreira, que está situada no lugar da estação, freguesia

de Sobreira, concelho de Paredes. Esta escola acolhe alunos com diferentes

características e diferentes necessidades educativas, tendo, na estruturação da

sua organização curricular, um conjunto de componentes de formação bem

como uma oferta formativa diversificadas, o que permite dar resposta a essas

necessidades, tendo sempre em vista o desenvolvimento multilateral do aluno.

De realçar que estas turmas, pelas suas características e especificidades,

representaram um desafio um pouco diferente daquele que habitualmente os

estagiários encontram na sua prática de estágio, mas a nossa escolha desta

escola em particular, teve em conta este fator, sendo que considerámos que o

leccionamento a este tipo de turmas conduziria grandes vantagens para a

nossa futura atuação como docentes de EF, através das competências que

iriamos adquirir com as experiências que a ser vivenciadas.

Sendo esta uma escola de referência para alunos com Necessidades

Educativas Especiais, nomeadamente deficiência motora e perturbações

mentais, pudemos aferir que a mesma procura garantir as condições

necessárias para que estes possam ter uma educação e formação adequadas

às suas condições físicas, que carecem de aprendizagens e de

desenvolvimento de competências diferentes. Estes alunos estão integrados no

curr culo normal, apesar de possu rem necessidades educativas, o ue implica

ue a organização das aulas se a adaptada s suas caracter sticas, para ue

se a poss vel a sua inclusão. Esta inclusão tamb m garantida através da

existência de um quadro de recursos humanos específico para estes alunos,

havendo um acompanhamento específico feito por auxiliares educativos e

professores do ensino especial.

A escola acolhe, para além de alunos com perturbações mentais

nomeadamente da personalidade, dois alunos com deficiência motora, para os

quais foram efetuadas adaptações na estrutura física e nos recursos humanos

que a escola possui, para garantir que os mesmos tenham um

desenvolvimento educativo adequado.

No que diz respeito ao meio envolvente, a escola de Sobreira recebe

alunos provenientes, maioritariamente, das freguesias de Parada e Recarei,

zonas essas que se encontram mais próximas da instalação escolar. No

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entanto também a frequentam alunos de outras freguesias, tais como da Santa

Comba e Trancoso.

Deve ser referido que os encarregados de educação trabalham, na sua

maioria, na indústria e nos serviços pouco qualificados, dificultando a sua

participação no acompanhamento da vida escolar dos seus educandos. Estão

associadas a estes dados dificuldades socioeconómicas e a um ambiente

familiar instável, fatores que podem ser nocivos para o sucesso escolar.

Relativamente às condições materiais e espaciais disponíveis para a

disciplina de EF, a escola dispõe de um pavilhão gimnodesportivo, onde estão

reconhecidas as marcações de linhas de vários jogos desportivos de carácter

coletivo, de um ginásio, utilizado principalmente para a modalidade de

ginástica, de um espaço desportivo exterior dividido em dois campos (com

marcações de campos de Futebol, Andebol e Basquetebol), com uma pista de

atletismo e uma caixa de areia, possuindo também um gabinete pertencente ao

grupo de EF. Para abordagem da modalidade de Natação a escola utiliza a

piscina Municipal Rota dos Móveis do Município de Paredes, existente nas

imediações da escola.

Estas condições, apesar de não serem as ideais, não foram impeditivas

de realizar um trabalho com qualidade, e foram potenciadas em prol do

desenvolvimento dos alunos, o que exigiu uma grande capacidade de

adaptação dos materiais existentes, e at a construção de novos materiais da

nossa parte, podendo este fator ser visto como algo positivo, visto que nos

levou a procurar criar as condições necessárias para que os alunos tivessem o

maior número de experiências possíveis, de forma a atingir os objetivos que

pretendíamos.

A Escola Básica 2,3 de Sobreira, apesar de ser uma escola

relativamente recente apresenta já um Projeto Educativo bem definido,

oferecendo um leque de atividades bastante abrangente, o que permite incluir

alunos com diferentes interesses em projetos que lhes despertem curiosidade,

adquirindo ao mesmo tempo conhecimentos que sejam úteis para o futuro.

3.2.2 O Grupo de Educação Física e Diversos Intervenientes

O primeiro contato com o grupo de EF ocorreu na primeira reunião do

ano letivo. Este grupo, constituído por 5 elementos é coordenado pelo PC

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sendo que todos os seus elementos detêm formação na área da EF. A grande

maioria dos elementos constituintes deste grupo possui já bastante experiência

e formação na área e lecionam neste estabelecimento de ensino há mais de 9

anos, pelo que possuem já um conhecimento aprimorado da comunidade

educativa daquela localidade, facto que resulta numa mais-valia para mim, que

detenho num núcleo duro como este, todas as informações necessárias para a

devida interação com o contexto escolar.

No decurso do primeiro contacto com os elementos do grupo acima

referido, houve um manifesto de boas-vindas ao Núcleo de Estagiários, facto

que contribuiu para a nossa integração no estabelecimento de ensino, criando

desde logo boas relações criadas com todos os elementos do grupo, não só ao

nível da nossa inclusão nas reuniões e outras tarefas ligadas à disciplina de

Educação Física, mas também através de atividades de convívio que saiam do

contexto formal da escola. Desta forma a inclusão escolar tentou potenciar da

melhor forma essa adaptação, fazendo-nos sentir parte integrante desse grupo.

O trabalho executado junto do PC e do PO considerou-se fulcral para o

melhor desempenho das tarefas propostas e melhoria da qualidade de ensino.

Ao longo de todo o ano, o PC deteve um papel primordial junto do

núcleo de estagiários. De forma diária prestou-me todo o apoio necessário face

a questões e decisões por mim consideradas mais difíceis de abordar,

promovendo a reflexão e colocando-me desafios diários, que vejo agora como

uma das principais fontes de motivação retidas.

Sendo também responsável pelo Grupo de Educação Física da Escola EB 2/3

de Sobreira, a interação com o PC resultou numa melhoria comunicativa quer

entre os estagiários quer entre os restantes membros do grupo, promovendo a

comunicação e realização de atividades extracurriculares entre todos (como é o

caso de almoços e momentos de lazer) que proporcionaram um contacto mais

pessoal entre os membros do grupo, promovendo desta forma um maior à-

vontade entre todos.

Em suma, e de uma forma mais pessoal, enalteço o papel do PC que

durante o ano me mostrou como um grande homem pensa e trabalha em todos

os sentidos, companheiro que me surpreendeu e um exemplo a seguir. Todas

as diretrizes, chamadas de atenção, conselhos contribuíram em massa para o

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meu percurso neste estágio, se sou mais autónomo, adulto e responsável

agradeço com todas as palavras ao PC.

O PO teve também um papel importante para a melhoria da frequência

do EP.

Através de reuniões presenciais periódicas no contexto escolar, bem

como através de reuniões gerais com todos os estagiários ao seu encargo, o

PO efetuou as suas funções de forma excelente, orientando os estagiários

segundo uma perspetiva de colaboração. Esta perspetiva, conforme refere

Wallace (cit. por Vieira, 1993), é denominada de "colaborativa" já que o

supervisor surge como um colega, que com mais experiência, ajuda os colegas

(i.e., estagiários) a organizarem matrizes e provas. Como orientador, o

Professor supervisionou o trabalho dos estagiários no 1º,2º e 3º período da

prática profissional, tendo em conta os objetivos de um professor supervisor,

alavancados por Alarcão e Tavares (1987, p. 34), ue afirmam ue “"ensinar os

professores a ensinar deve ser o objetivo principal de toda a supervisão

pedagógica".

Assim, foi preocupação do PO promover a reflexão entre e aos

estagiários, proporcionando feedbacks sem nunca referir diretamente o

caminho a seguir, facto que se mostrou bastante pertinente, uma vez que, a

título pessoal, me ajudou a refletir de forma profunda e particular sobre

decisões a tomar.

Pelas abordagens presenciais acima referidas, o PO no 1º período

curricular abordou o controlo da turma, no 2º período debruçou o seu interesse

sobre a gestão e organização das aulas (ressalvando aspetos como o tempo

de instrução), sendo que no 3º período teve principal interesse na área da

comunicação dos estagiários com a turma, como o volume da mensagem e

métodos a aplicar para atrair o interesse dos alunos.

Em cada um dos períodos curriculares o PE acompanhou uma aula de

cada estagiário, sendo que no meu caso, no 1º período observou uma aula de

basquetebol, no 2º período este presente numa aula de natação e no 3º

período acompanhou uma aula de voleibol. Este acompanhamento foi bastante

enriquecedor, uma vez que permitiu uma melhor abordagem na aquisição de

novas estratégias a tomar e o fornecimento de opiniões pertinentes no que

refere a diferentes métodos de ensino.

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Desta forma, dizer que tanto o PO como o PC procuraram

constantemente potenciar a nossa evolução como professores, através de

troca de ideias e debate foram sempre ocorrendo ao longo do ano letivo, não

só nas reuniões tomadas a cabo como outras formas de contato indireto.

Quanto ao núcleo de estágio, o mesmo foi constituído por três

estagiários que nunca tinham tido uma experiência de trabalho conjunta a nível

académico, o que logo à partida se apresentou como um desafio, pelo

desconhecimento das qualidades e fraquezas que cada um possuía. Contudo,

este núcleo foi demonstrando ao longo do ano letivo uma grande relação de

amizade e dedicação, sem nunca descurar a qualidade do trabalho que

realizou, tentando sempre procurar potenciar o melhor de cada um dos

elementos com o intuito de desenvolver um trabalho sério e competente.

Ao longo deste processo, houve sempre compreensão entre os

estagiários mesmo quando ocorriam divergências de opiniões. Pois, estávamos

conscientes que esta será a realidade da nossa vida profissional, procurámos

então, encontrar um meio de entendimentos, de modo que os objetivos dos

projetos/atividades fossem ajustados e superados.

Em relação aos colegas de estágio, desde o primeiro dia que foi uma

surpresa agradável, companheirismo partilha de informação, dicas e resolução

de problemas era notório a proximidade e entre ajuda dentro do seio do núcleo,

o facto de vivermos perto uns dos outros ajudou a que o companheirismo fosse

igual durante todo o ano, muito útil em todos os sentidos, troca de ideias

constante onde teríamos de adaptar a informação á realidade de cada turma,

portanto é de salientar o auxilio e apoio entre PC e Estagiários, mais um ponto

positivo neste bom ano.

A total disponibilidade e recetividade demonstradas pela direção

executiva, não só da parte do diretor mas também de todos os seus membros,

no apoio a todas as tarefas e atividades que realizámos no âmbito escolar,

contribuíram de igual modo para um inclusão rápida e positiva na instituição,

sendo que nunca nos sentimos constrangidos em solicitar auxilio a esse órgão

diretivo. Para além disso, deve ser aqui referido o apoio e recetividade

constantes que os restantes elementos da comunidade educativa

demonstraram, nomeadamente os auxiliares educativos e docentes.

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Em suma, toda a comunidade escolar potenciou a melhoria das

capacidades profissionais de todos os estagiários, fomentando a integração

dos mesmos na comunidade educativa. A título pessoal, devo referir o

sentimento de pertença àquela comunidade, apenas possível através do

excelente trabalho cooperativo da instituição pública.

3.2.3 A minha turma

Após um processo de seleção constituído por um sorteio de três das

cinco turmas lecionadas pelo PC a distribuir pelos três professores estagiários,

coube-me a tutoria de uma turma do 9º ano da escola supracitada. Esta turma

é constituída por 20 alunos, 10 raparigas e 10 rapazes, sendo que um deles

com necessidades educativas especiais uma vez que possui um transtorno de

personalidade antissocial (sociopatia).

De acordo com o PC, esta é uma turma de classificações medianas que

não detém qualquer característica particular que a distinga de outras turmas do

mesmo nível de ensino.

Faladores, sociáveis e por vezes problemáticos, esta turma em tudo

representava as características dos adolescentes da atualidade, com grande

apetência para as redes sociais e subdividida em grupos evidentemente

distribuídos por interesses comuns e género (raparigas/rapazes).

Tendo em conta que o melhor e maior conhecimento dos alunos é

determinante para um melhor e maior desenvolvimento do processo de ensino

e aprendizagem, tive de imediato a preocupação em gerir a minha

comunicação verbal e não-verbal em função das necessidades e

características dos alunos, que foram desde a primeira hora bastante recetivos

e relativamente bem comportados, embora em caso de comportamentos

abusivos as raparigas fossem as protagonistas, facto que me deixou de certa

forma surpreendido.

O meu relacionamento com a turma foi um dos fatores mais

significativos de todo o estágio. De referir que no início houve algumas falhas

que tive dificuldade em gerir, nomeadamente por conversas paralelas, barulho

e consecutivas interrupções, mas no decorrer do processo os alunos

compensaram com empenho e motivação na execução das tarefas propostas e

evoluíram para níveis razoáveis de consideração pelo trabalho feito, dado que

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valorizaram a abordagem de várias modalidades e reconheceram a riqueza a

nível motor das experiências proporcionadas.

No dia-a-dia, os alunos demonstraram interesse e desenvolveram

capacidades que nunca tinham experimentado, como o Hóquei em Campo,

aumentando desta forma a nossa união e dinâmica de grupo. Durante o

processo de ensino/aprendizagem no decurso do EP, devo realçar momentos

muito positivos, nos quais houve interação quer entre a turma quer entre a

comunidade escolar, como o caso do conv vio proporcionado na Atividade de

Integração no Meio (Feira do São Martinho, Raid BTT, Dia da Dança e Wii®

Games).

Assim, ao longo do Ano Letivo foram desenvolvidos climas de

afetividade, interajuda e amizade entre todos os alunos e entre estes e o

respetivo docente.

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4. REALIZAÇÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL

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4.1. Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem

4.1.1 O professor de Educação Física em Estágio Profissional

Não existirá, certamente, melhor forma de iniciar este capítulo como com

uma citação que tão bem explica o papel do professor na atualidade. De facto,

a “maneira significante” de ensino anexa esp cie humana deverá ser levada

em conta de uma forma também ela significante por todos aqueles que

exercem a prática educativa.

Um professor não se deve, portanto, cingir à debitação de conteúdos,

mas deverá, de forma sistemática, estimular a capacidade critica e autonómica

dos seus educandos, utilizando o conhecimento como um instrumento e não

como uma finalidade, conforme revelam Almada et al. (2008). O professor

deverá ainda ser um espelho de formação de carácter dos seus educandos,

conforme refere Torres et al. (2007, p. 1047), realçando que a postura do

professor serve de espelho para a postura e comportamento dos alunos.

Desta forma, o docente de Educação Física deve assumir essa

preocupação nas suas aulas: para além de ensinar, deverá educar, construir

conhecimento, gostar do que faz. Tudo isto mesclado com a preocupação de

que, de facto, será um espelho para os alunos, detento no seu imo um amplo

objetivo - transformar a sociedade.

Na área da EF, o professor deverá reter todas as valências referidas

acima, mas terá também muitas mais exigências. Para além de possuir

competências a nível técnico, deverá ser criativo, imaginativo e saber inovar,

uma vez que, conforme revela Seiça (2003), esta é uma profissão que possui

uma relevância social e ética crescente devido à complexidade dos problemas

sociais e interculturais que caracterizam o quotidiano escolar.

Posto isto, deve referir-se que o professor de educação física deverá,

portanto, formar os alunos não apenas ao nível técnico das modalidades

desportivas como também ao nível de desenvolvimento integral dos alunos.

Mas nem tudo é tarefa fácil. Se o facto de ensinar é por si só, uma tarefa

que requer uma boa dose de vocação, motivação e paciência, aliar as

componentes sociais, éticas e de integração é um trabalho ainda mais

consistente, difícil e trabalhoso, apenas possível através da prática e aquisição

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de experiência em campo, potenciada na maioria das vezes primariamente

através da frequência de um EP.

Assim, no decurso do segundo ciclo de estudos conducente ao grau de

Mestre em Ensino de Educação Física da Faculdade de Desporto da

Universidade do Porto (FADEUP), foi-me proporcionada uma prática

profissional com a duração de quatro semestres na Escola E.B. 2/3 da

Sobreira.

9 de setembro de 2013: o início da prática profissional

Com data agendada para 2 de setembro como o início formal do EP, foi

dada a possibilidade aos três estagiários de EF de se integrarem uma semana

antes no grupo docente da escola, nomeadamente pela participação na 1ª

reunião geral de professores e na 1ª reunião do Grupo de Educação Física.

Nesta data, surgiu ainda a possibilidade dos estagiários ficarem a conhecer as

instalações escolares através de uma visita encabeçada pelo PC dos mesmos,

que apresentou igualmente o corpo estagiário ao núcleo diretivo da escola.

Nesta primeira abordagem escolar, surgiu de imediato o sentimento

gradual de integração no meio envolvente, proporcionado através do

conhecimento interpessoal do grupo docente e diretivo, que desde logo

ofereceu a sua disponibilidade para o auxílio nas mais diversas situações a

ocorrer, bem como através do conhecimento do meio físico, que se considerou

essencial para iniciar um consequente sentimento de pertença àquela

comunidade educativa.

A 1ª reunião com o grupo de educação física da escola considerou-se

fulcral para a melhor perceção das diretrizes de regência da disciplina de

educação física no contexto daquela escola em particular, bem como para a

obtenção de valiosas informações quanto à turma a lecionar, escolhida tendo

como base a seleção por sorteio das três das cinco turmas lecionadas pelo PC

(conforme referido no ponto 3.3. deste relatório), sorteio esse que me atribuiu o

leccionamento de uma turma do 9º ano (também descrita no ponto 3.3.) da

escola EB 2/3 da Sobreira.

A reunião do grupo de EF permitiu também perceber em que moldes é

efetuada a avaliação da turma a lecionar: regida por dois grandes domínios de

aprendizagem, o domínio socioafetivo e o domínio psicomotor, a aula de

educação física deteria um horário semanal limitado a 135 minutos. Estes

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factos contribuíram desde a primeira hora para a imediata consideração sobre

os aspetos ligados à forma como iria conduzir o processo de lecionação bem

aprendizagem apresentados.

Para além das considerações a reter sobre as turmas a lecionar, os três

estagiários deveriam ter em conta que, com uma frequência quinzenal, teriam

ainda de lecionar uma aula turmas pertencentes aos Cursos de Educação e

Formação (CEF) e a turmas do Plano Integrado de Educação e Formação

(PIEF).

Quanto a este assunto, importa referir desde já que, no entanto, ao

longo deste relatório a minha principal abordagem far-se-á abrangendo de

forma particular a turma que mais frequentemente lecionei.

O Programa Nacional de Educação Física foi um dos documentos mais

importantes adotados como instrumento-guia para a execução da prática

pedagógica, uma vez que permitiu a facilitação da definição de objetivos a

atingir ao longo do ano letivo, bem como nos procedimentos metodológicos a

ter em conta, embora de uma forma modelada e flexível, sendo adaptado ao

longo da prática pedagógica no sentido de atingir da forma mais eficaz os

objetivos definidos, tanto a curto como a médio e longo prazo.

Também os estilos de ensino a utilizar foram igualmente adaptados e

ajustados à medida da turma a lecionar de forma frequente, nomeadamente

devido ao facto desta turma possuir um elemento com necessidades

educativas especiais. Esta adaptação foi encarada como um tremendo desafio

visto depender de inúmeras variáveis que tinham influência no seu

funcionamento, analisado e explicado adiante, no ponto 4.1.5. do presente

relatório.

4.1.2. Planeamento em 3 escalas

Planeamento anual

Depois de um conhecimento primário da turma a lecionar, considerou-se

pertinente definir e planear um conjunto de fatores, de modo a organizar as

nossas ações durante o ano letivo, denominado como planeamento anual que,

segundo Faria (1972), passa pela “ (...) previsão de todas as etapas do trabalho

escolar (...) bem como pela (...) programação de todas as atividades de forma

que o ensino se torne eficaz, seguro e económico (...) ”, facto que, segundo

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Januário (1984), possibilita a viabilidades do planeamento de acordo com a

realidade presente.

A importância da execução de um planeamento anual é ainda referida

por Bento (1998, p.8) uma vez ue traz ao docente “ (...) uma reflexão

pormenorizada acerca da duração e do controlo do processo de ensino numa

determinada disciplina (...) ”, facto considerado de extrema importância no

âmbito de disciplinas como a educação física devido às inúmeras variáveis que

podem ocorrer nas aulas, por ser esta uma área de ensino bastante

característica.

Assim, as matérias de ensino foram selecionadas tendo em conta o

Programa Nacional de Educação Física e distribuídas de acordo com as

condições espaciais disponíveis. Desta forma, o estagiário pôde selecionar 7

das 10 matérias de ensino triadas pelo grupo de EF, dirigido pelo PC, tendo em

conta os parâmetros e variáveis apresentadas acima, apresentadas

seguidamente:

Figura 1- Matérias de ensino abordadas ao longo do ano letivo, por períodos

Nesta perspetiva, foi definido que no espaço polidesportivo exterior

seriam abordadas as matérias de ensino como o futebol, o basquetebol e o

voleibol. No ginásio interior, lecionar-se-ia ginástica, badminton e hóquei em

campo, sendo que esta atividade não integrou desde logo o plano anual de

atividades, conforme será referido e explicado mais adiante. Por fim, de referir

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que as aulas de natação realizar-se-iam na Piscina Municipal Rota dos Móveis,

localizada na Sobreira.

Importa mencionar que a ocupação dos espaços disponíveis foi

distribuída de forma racional pelas várias turmas existentes na escola.

Unidade Didática

Após o planeamento anual das matérias de ensino e atividades,

importou organizar os diferentes conteúdos de acordo com os objetivos a

atingir. Desta forma, referir que a organização dos conteúdos foi realizada

através de unidades didáticas, documentos de apoio de coerência estrutural

que se centram nos conteúdos e nos objetivos previstos. Este planeamento faz

parte do Modelo de Estrutura do Conhecimento (Vickers, 1990), modelo esse

que se revelou fundamental para a delineação do processo de ensino e

aprendizagem.

O Modelo de Estrutura de Conhecimento (MEC), com os seus oito

módulos, demonstra como se pode criar um corpo de conhecimento

estruturado e interdisciplinar para um desporto específico e depois usá-lo como

uma base para estruturar um modelo de ensino (Vickers, 1990).

Os MEC´s funcionaram como uma linha orientadora para a lecionação

de cada modalidade, e com a preparação de cada um fui desenvolvendo e

consolidando as bases essenciais para uma lecionação fundamentada e

específica.

Ao longo do EP foram vários os aspetos que tive a necessidade de

reformular e melhorar. Um desses aspetos esteve relacionado com as

progressões pedagógicas dos conteúdos de ensino, já que as mesmas devem

ser criadas, sempre, em função dos nossos alunos, onde sublinho a

importância da Unidade Didática (UD), pois pretendia-se que as mesmas

apresentassem etapas claras e bem distintas de ensino e aprendizagem.

Deve ser salientado que a construção de UD com várias matérias de

ensino, apesar de à posteriori demonstrar trazer grandes benefícios no que

concerne ao processo de ensino-aprendizagem dos alunos, é um processo

moroso e que nos trouxe algumas dificuldades. Não obstante, consideramos

que, apesar de a construção de UD com várias matérias de ensino ser um

processo mais complexo e por conseguinte suscitar mais dúvidas ao longo da

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sua construção, as mesmas trazem imensos benefícios na potenciação do

sucesso dos alunos nas aulas, tornando-se desta forma um meio motivacional

bastante útil.

As UD passaram a ter uma nova estruturação, contendo os conteúdos a

ensinar em cada aula e a forma como os pretendia abordar, o que se revelou

fundamental para o terceiro nível de planeamento (aula).

Nesse sentido, após nos consciencializarmos de todos os pressupostos

afetos ao planeamento dos exercícios, temos que o saber interligar da melhor

forma com as partes que compõem um objetivo de aprendizagem

(comportamento esperado, situação, e critério de êxito) e ter a capacidade de

saber distinguir os objetivos a que nos propomos, nós enquanto professores,

dos objetivos a atingir pelos alunos.

Podemos então afirmar que as tarefas motoras realizadas pelos alunos

ao longo das aulas não serviram como um fim em si mesmas, mas sim como

um meio para alcançar uma finalidade, ou seja, para atingir os objetivos

definidos na UD.

A presença de um aluno com necessidades educativas especiais,

nomeadamente ao nível da sociopatia, levou igualmente a que fosse dada

importância a valores como a igualdade e integração, a cooperação, empatia e

o espírito de equipa, fatores decisivos para a promoção de relações de

amizade e respeito entre todos bem como para a melhoria do transtorno de

personalidade apresentado pelo aluno.

Para finalizar, apesar da intencionalidade na construção das UD ser a de

criar um documento operacional, cuja aplicabilidade passava por facilitar o

processo de planeamento e organização da disciplina, através das orientações

metodológicas que compunham a sua estrutura. Dessa forma, as UD

propriamente ditas passam a ser constituídas apenas pelos objetivos e

competências a desenvolver nos alunos, os conteúdos e sua estruturação nas

aulas e justificação dessa estruturação, criando-se assim documentos mais

operacionais para consulta.

Em suma, importa referir que os objetivos inerentes às unidades

didáticas foram o motivo para que as tarefas realizadas ao longo do ano letivo

pelos alunos não fossem por si só como uma finalidade, mas sim como um

meio para atingir os ideais propostos.

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33

Planos de aula

A criação de planos de aula é um dos pontos primários e também mais

importantes, para que o professor possa ter uma melhor organização e gestão

das aulas. Este foi usado desde o início do ano letivo, uma vez que contém

informações relevantes que auxiliam o professor na melhor operacionalidade

das aulas, servindo de guião da aula a lecionar.

Embora o seu design e gestão de conteúdos possa ser organizado de

diferente forma dependendo do professor que o cria, segundo Aranha (2004) a

elaboração dos planos de aula deverá conter o nome da escola de lecionação

bem como o nome do professor responsável e data, hora e local da aula,

identificando também o ano e a turma a lecionar, o número da aula em questão

de acordo com a respetiva unidade didática (UD), devendo conter também os

objetivos específicos a atingir na aula e a sua função didática. O plano de aula

deverá conter ainda a explanação dos conteúdos a lecionar bem como os

objetivos operacionais e o material necessário para a execução das práticas

letivas a executar.

Num contexto particular, todas as informações acima referidas foram

contidas nos planos de aula, sendo que às informações citadas foram

adicionadas muitas outras, que se consideraram úteis para uma melhor gestão

e organização das aulas.

Assim, foram adicionados diversos conteúdos, tais como a

representação gráfica dos exercícios e os critérios de êxito bem como o tempo

útil de cada exercício e respetivas estratégias bem como a criação de um

espaço para observações consideradas pertinentes (Ver Anexo 1).

Ainda quanto aos planos de aula, importa referir que os mesmos foram

formatados tendo em conta o modelo tripartido que prevê a abordagem da fase

inicial, que corresponde à revisão dos conteúdos lecionados na aula anterior

apresentando também os conteúdos a abordar na aula a lecionar definindo

ainda a interligação estratégica daquela aula com as aulas anteriores e/ou

futuras, da fase fundamental, que corresponde à explicação das tarefas

motoras e consequentes objetivos a realizar e atingir bem como a indicação de

instrumentos necessários para o seu alcance e da fase final, onde se

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desenvolve um balanço final da aula bem como dos alunos.

Importa referir também, que a elaboração dos planos de aula tornou-se

desde a primeira hora uma tarefa simples de executar, uma vez que os

mesmos estavam já referenciados e organizados pelo grupo de educação física

que, dada a experiência dos professores do grupo, detinham já uma

organização do plano de aula de forma por mim percecionada como correta e

explicíta, uma vez que julgo conter todos os dados pertinentes para a melhoria

organizativa da aula e consequente alcance dos objetivos propostos para as

aulas.

Os planos de aula foram, no entanto, variadas vezes reajustados às

situações ocorrentes nas aulas, uma vez que, e como já fora referido, o ensino

da disciplina de educação física depende de várias variáveis que devem ser

tidas em conta, nomeadamente o facto do espaço de aula ser um sistema

aberto, suscetível à ocorrência de inúmeros fatores que influenciam o seu

funcionamento, pelo que muitas vezes existe a necessidade de adaptação do

professor às situações que não podem ser previstas, devendo assim haver um

equilíbrio entre a utilização dos planos de aula e a capacidade de nos

adaptarmos aos vários contextos.

4.1.3 Realização

Na área de Educação Física, ensinar revela-se um processo pedagógico

complexo, uma vez que existem inúmeras variáveis que poderão alterar o

processo das aulas. O planeamento surge como o grande mecanismo para

uma melhor intervenção contudo, existem outras preocupações a ter em

consideração: controlo de turma, clima de aula, gestão e instrução.

Por isso, mesmo sabendo que apenas na prática letiva se poderá

verificar o sucesso pedagógico do planeamento, deverá ter-se em conta que o

mesmo tenderá a sofrer algumas alterações ao longo do ano, dado que, e tal

como refere Carreiro da Costa et al. (1996) o sucesso do processo pedagógico

na disciplina de Educação Física só é possível se o professor se incumbir e

tiver a preocupação de interligar as suas capacidades de diagnóstico à correta

transmissão de instruções aos alunos, juntamente com a preocupação de uma

boa gestão a aula e constante correção de comportamentos, (re)adaptando o

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seu estilo de ensino aos diferentes contextos e necessidades formativas dos

alunos, de modo a possibilitar a melhoria do processo de ensino-

aprendizagem.

Assim, serão apresentadas no presente, as várias contextualizações do

planeamento e sua consequente readaptação/evolução levadas a cabo ao

longo do ano letivo, sempre tendo em vista um ensino de maior e melhor

qualidade, tal como objetivei desde o primeiro momento em que decidi seguir

esta carreira profissional.

4.1.3.1 Evolução do processo pedagógico

Para a evolução pedagógica quer da turma, quer do professor, surge a

necessidade de refletir e avaliar, no final de cada aula, os diferentes aspetos e

ocorrências das aulas que mais se verificaram, pelo seu sucesso ou insucesso.

Esta análise tem como objetivo principal a melhoria da intervenção pedagógica,

através das elações retiradas ao longo das aulas que serviram de base para a

melhoria das aulas futuras.

Assim, o balanço das aulas foi executado tendo em conta a sua

subdivisão em duas grandes áreas: os aspetos relacionados com as aulas,

que integram o cumprimento ou incumprimentos dos objetivos definidos para

as mesmas, bem como a eficácia dos exercícios e a motivação dos alunos e

respetivos comportamentos assumidos por eles fora das tarefas realizadas

bem como razões que levaram a determinado comportamento; E os aspetos

relacionados com a atuação do professor nas aulas, que se prendem com a

análise de questões relacionadas com a transmissão do feedback pedagógico,

gestão de espaços e relação do mesmo com os alunos, bem como com o

controlo da turma e capacidade de adaptação a diversas circunstâncias.

Esta avaliação revelou-se de absoluta pertinência desde o início do ano

letivo, pois permitiu desde logo assumir a necessidade da implementação de

diversos estilos de ensino a utilizar.

Esta necessidade prendeu-se com o facto de ter presente na turma um

aluno com necessidades educativas especiais bem como os níveis de

motivação da turma, que variavam conforme o gosto já estabelecido pelas

diferentes desportos lecionados modalidades desportivas lecionadas e os

comportamentos desviantes que os alunos por vezes adotavam aquando da

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realização das tarefas.

4.1.3.2 Técnicas e estilos de ensino

Segundo Mosston e Ashworth (cit. por Sena Lino,1994), os estilos de

ensino estão associados às relações entre o professor e os seus alunos, às

tarefas solicitadas nas aulas, e as suas consequências no desenvolvimento dos

alunos.

Neste sentido, e dado que no início do ano a relação do professor com

os alunos é ainda curta e pouco desenvolvida, tive de imediato em conta que

teria certamente dificuldades no domínio da turma. Devido a este facto estipulei

previamente que a técnica de ensino primariamente utilizada seria a que

promoveria um maior poder de comando da minha parte.

Assim, optei, desde a primeira abordagem com os alunos, por adotar o

estilo de ensino por comando, que pode ser associado ao modelo de instrução

direta revisto por Mesquita e Graça (2006).Este estilo de ensino permite, para

além de uma maior subordinação dos alunos, uma melhor gestão e orientação

da aula, assim como uma resposta mais eficaz por parte destes.

Recorrendo a um estímulo sonoro simulado através de um apito,

instrumento frequentemente utilizado neste estilo de ensino, rapidamente se

observou que os alunos prestavam uma resposta imediata ao pedido solicitado

pelo professor, permitindo também controlar de uma forma mais eficaz o ritmo

das tarefas, facto evidenciado, por exemplo, nas aulas de natação.

Contudo, e conforme relatado já neste relatório, o professor de

educação física deverá utilizar técnicas que o auxiliem no sentido de melhoria

do ensino, apelando à criatividade para desenvolver os níveis motivacionais da

turma e alcançar com maior eficácia os objetivos propostos. Posto isto, não me

bastou, portanto, assumir um comando eficaz da turma, mas também encontrar

estilos de ensino mais ligados à importância avaliativa que retêm os domínios

socioafetivo nos alunos e que, ao mesmo tempo, possibilitassem uma maior

autonomia, permitindo aos alunos assumir determinadas decisões dentro de

cada uma das situações de aprendizagem. Em atenção tive também o facto de

perceber que poderia, assumindo outros estilos de ensino, concentrar a minha

atenção em diferentes aspetos, como a transmissão de feedbacks

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pedagógicos, que começaram a traduzir-se de forma mais constante e eficaz, e

preocupar-me com uma melhor gestão do espaço, facto que inicialmente tive

certas dificuldades em manobrar.

Figura 2- Estilos de Ensino

Os estilos de ensino (figura 2), que foram analisados aquando da escolha de

estilos de ensino a utilizar e que pudessem ser úteis para cumprir os objetivos

propostos e também que se revelam mais frequentemente selecionados pelos

professores do núcleo de educação física do local de estágio. Estes estilos de

ensino são provenientes do espectro de estilos de ensino de Mosston (1966) e

permite uma escolha menos tendenciosa, uma vez que não tende a definir um

estilo como melhor ou pior que outro.

Os estilos de ensino de Mosston (1966) são classificados em seis tipos,

tendo a estes seis sido agregados mais quatro. No entanto, o foco vai para os

três estilos referidos acima, uma vez que foram, portanto, os mais utilizados na

frequência letiva.

O estilo de ensino por tarefa, o qual podemos associar ao modelo

desenvolvimental, revisto por Mesquita e Graça (2006) foi, por isso, utilizado

Estilos de ensino

Inclusivo

- Permite adequar tarefas às capacidades individuais do aluno

- Promove a inclusão

- Permite uma maior individualização do ensino

Comando

-tem como principal caracteristica a interação estimulo-resposta

- o professor assume um papel central

- ao aluno cabe seguir realizar e obedecer

Tarefa

- Permite realizar tarefas com mais sucesso;

- Permite facilitação de feedbacks individuais;

- trabalho mais individual com o aluno

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em algumas aulas, nomeadamente na natação, dado que a própria modalidade

já requer, por si só, uma apetência mais individual para o cumprimento dos

objetivos estipulados. No entanto este estilo de ensino foi também utilizado em

desportos coletivos, como o futebol e o voleibol.

Este facto deveu-se à minha perceção avaliativa destes desportos, que a

meu ver não devem ser avaliados como um todo, mas sim tendo em conta as

janelas de oportunidade do aluno, que nem sempre poderá conseguir cumprir

com os objetivos atribuídos àquela modalidade, em contexto de grupo, pois

poderá não ter tido oportunidade para o fazer. Assim, muitas vezes optei pela

técnica de ensino por tarefas nos desportos coletivos, para uma melhor e mais

diferenciada avaliação.

Outro dos ensinos utilizados com extrema frequência nas aulas foi o

estilo recíproco. Este estilo, por mim utilizado em modalidades como o

badminton e a ginástica, funcionou muito bem ao nível da turma pois permitiu

que se criassem laços mais fortes entre os alunos ao nível da cooperação e

entreajuda, factos explícitos nomeadamente na ginástica. Aqui, os alunos

tendiam a ajudar-se e cooperar no sentido do melhor cumprimento das tarefas.

Ainda relativamente à ginástica, sendo o estilo recíproco um estilo de

ensino que permite a gestão de turmas em pares ou grupos, visualizou-se que

o mesmo promoveu nos alunos um maior sentimento de pertença a um grupo

na modalidade, o que lhes conferiu uma maior motivação desportiva e escolar.

No que diz respeito ao estilo de ensino inclusivo, devo referir que este

estilo foi tido em atenção na maior parte das aulas muito devido ao facto de,

conforme referido já diversas vezes, existir na turma um aluno com

necessidades educativas especiais ao nível da sociopatia.

Uma vez que este problema se define num transtorno de personalidade

dissocial que se traduz num comportamento impulsivo do indivíduo, que

frequentemente despreza as normas sociais e se mostra indiferente aos

direitos e sentimentos dos outros, o estilo de ensino inclusivo, também

denominado de ensino de programação individualizada, permite dar mais

atenção aos trabalhos de forma individual e acompanhar a aprendizagem dos

alunos desenvolvendo um maior sentido de responsabilidade e iniciativa e de

auto-avaliação. Este estilo de ensino possibilita, portanto, prestar uma maior

atenção aos alunos que necessitam de cuidados especiais uma vez que a

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avaliação de aprendizagem é realizada pelo professor, de acordo com o

desempenho individual do aluno.

A adoção deste estilo nas aulas foi também promovida em situações de

jogo reduzido e condicionado nos jogos respeitantes a modalidades

desportivas coletivas, em que as regras dos jogos eram adaptadas às

necessidades e dificuldades dos alunos, potenciando assim o seu sucesso e

promovendo, mais uma vez, a sua motivação.

A título de exemplo, poderá ser referida a situação de jogo reduzido 3x3

no Voleibol, modalidade lecionada no 3º período, em que os alunos menos

proficientes eram autorizados a dar dois toques consecutivos na bola. Com as

alterações das regras do jogo, os alunos com menores capacidades eram

capazes de se incluir na tarefa, e de ter sucesso na mesma, potenciando a sua

motivação na execução de tarefas seguintes.

Em suma, é importante ressalvar que, embora nenhum estilo de ensino

possa ser aqui descrito como melhor ou pior do que outro, eles podem coexistir

e serem aplicados num mesmo contexto de aula.

No entanto, é certo que as características dos alunos condicionam os estilos de

ensino utilizados ao longo das aulas, ou seja, dependendo da turma a lecionar

diferentes estilos de ensino deverão ser aplicados, mas sempre com vista à

produção totalmente autónoma de conhecimento.

Também aqui o balanço das aulas abordado no ponto anterior se

revelou extremamente útil para a melhor escolha das técnicas de ensino a

eleger nas aulas seguintes, assim como nas reuniões com os orientadores, as

presenças avaliativas que o PO foi realizando ao longo do ano, bem como os

feedbacks dos professores pertencentes ao grupo e restantes estagiários.

Assim, apesar de ao longo do processo de evolução na prática letiva ter

sentido algumas dificuldades, nomeadamente ao nível do controlo do efeito que

tinham os feedbacks transmitidos e da gestão e controlo da turma, todas as

dificuldades sentidas foram ultrapassadas conseguimos ultrapassar essas

dificuldades, através da identificação dos erros cometidos nas reuniões que

tínhamos com os orientadores, ou mesmo com as conversas que tínhamos

dentro do próprio núcleo de estágio.

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4.1.3.3 Gestão da aula

“Professores eficazes são, em primeiro lugar, bons gestores da

aula.”

Siedentop e Tannehill (2000, p. 60)

A frase supracitada compreende um dos meus principais objetivos

enquanto professor: ser eficaz. Para isso não bastou procurar ser pró-ativo e

dinâmico, mas saber gerir bem uma aula, pelo menos tão bem quanto a

pretensão de ser eficaz, uma vez que esta relação se revela vinculativa.

Assim sendo, para ser um bom gestor da aula, é importante dominar

vários fatores envolventes da aula. Quanto maior for esse domínio, maior será,

certamente, a capacidade de gestão da mesma e maior será também a

facilidade de encontrar respostas para possíveis imprevistos.

Poder-se-á dizer, então, que gerir uma aula é uma tarefa bastante

complexa, uma vez que a aula integra vários fatores que importa articular.

Segundo Hastie & Siedentop (1999) uma aula funciona com base em

três sistemas inter-relacionados, denominados de sistema de gestão, sistema

de instrução e sistema social do aluno, sendo que a mudança em apenas um

dos sistemas se irá repercutir no desenvolvimento dos outros sistemas, para

atingir os objetivos propostos (ser um bom gestor de aula para ser um

professor mais eficaz) é fundamental articular todos os sistemas.

Assim, a atenção neste capítulo volta-se, portanto, para os aspetos

relacionados com a gestão das aulas, mais concretamente para a abordagem

de assuntos relativos à organização de espaço e material, condições de

segurança e à organização dos alunos.

Instalações e condições materiais

O conhecimento dos espaços e materiais deve ser uma tarefa a realizar

pelo estagiário mesmo antes do início da prática letiva, tal como aconteceu

comigo. Tudo porque permite considerar desde logo as opções a ter em conta

quanto às modalidades desportivas que podem ser levadas a cabo e as formas

como as mesmas poderão ser executadas. Considera-se aqui um elevado

índice de proatividade e previsão de acontecimentos, portanto. Esta

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procedência é essencial para que aquando do planeamento, melhor se definam

estratégias que permitam aos alunos a exercitação das suas práticas

desportivas nas melhores condições possíveis.

Abordando portanto as condições materiais, refiro o meu exemplo: cedo

reparei em algumas deficiências que a escola detinha em relação à falta e

deterioração de material. Assim, considerei necessário melhorar as suas

condições através do auxílio e tomada de iniciativa no arranjo e construção de

material essencial para a prática das modalidades que me propus a lecionar,

nomeadamente o hóquei em campo, conforme referido mais adiante,

nomeadamente, na área n.º2 deste relatório.

No que concerne a questões relacionadas com as instalações

desportivas, cedo considerei que na Escola básica 2/3 da Sobreira duas

grandes falhas notórias prendiam-se ao ensino de basquetebol e voleibol,

devido à degradação dos materiais inerentes à sua prática. Mas mais adiante

abordar-se-á esse tema.

Ainda sobre as instalações desportivas, importa referir que, embora não

sendo o meu caso, por já existir na escola uma boa gestão horária do

leccionamento da disciplina de educação física às várias turmas, é o desafio

inerente à gestão de espaço, pois normalmente as escolas tendem a possuir

muitos alunos ao mesmo tempo a praticar a disciplina que, por vezes, é

necessário apelar à criatividade para essa gestão.

Espaço e segurança

A segurança dos participantes está intrinsecamente ligada ao espaço em

de atuação. Portanto, é importante que exista uma boa organização espacial

para que se melhor assegure a segurança dos intervenientes na prática.

Nesta abordagem, deverá referir-se a ginástica, na qual cada tarefa a

executar deverá ser bem pensada e bem comunicada aos participantes dado o

perigo de execução de determinados movimentos.

Organização dos alunos

Para uma boa gestão da aula deverá ser necessário prestar uma

atenção especial ao conhecimento que o professor tem dos alunos. Tudo isto

porque, e conforme refere Graça (1991), a diferente capacidade confirmada a

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nível inicial dos alunos relativamente a diferentes níveis capacitários e

motivacionais, “implica grandes dificuldades de preparação e condução do

processo de ensino e aprendizagem” (p.9). Isto poderá causar dificuldades e

mesmo problemas, nomeadamente ao nível de segurança dos alunos, bem

como a nível de controlo da turma.

Assim, deverá ser utilizada primariamente, conforme referido

anteriormente, a técnica de ensino por comando até que o professor depreenda

que detém já um maior conhecimento dos alunos a nível de grupo e individual.

Isto ajuda também a que o professor possa gerir da melhor forma o grupo de

trabalho, tendo em conta os diferentes níveis de aprendizagem e progressão

do aluno.

Em suma, embora Rink (1993, p.131) afirme ue “a gestão nunca

alcançada”, acredito ue se cada professor levar em consideração o facto de

ue “cada aluno tem o seu ritmo de aprendizagem e para ue todos consigam

aprender fundamental respeitar esses ritmos” (Graça, 1991), a gestão ficará

muito próxima de ser alcançada na totalidade, embora existam sempre fatores

externos que podem permitir o insucesso de determinadas tarefas.

Esta “gestão” é, então, um processo onde a experiência, o conhecimento

e a reflexão detêm um papel primordial na eficácia do processo de ensino

aprendizagem.

4.1.3.4 Desenvolvimento de Capacidade Físicas – o Fitnessgram®

Durante o processo de planeamento das unidades didáticas surgiu na

disciplina de educação física o acordo mútuo (i.e. de todos os membros do

grupo) quanto à necessidade da realização de um trabalho ligado às

capacidades físicas dos alunos de forma individual.

Assim, e tendo em conta a temática da evolução pedagógica segundo o

Programa Nacional de Educação Física definido para os cursos referidos

explicito na página 4 do mesmo Programa, uma das finalidades da Educação

Física passa por melhorar a aptidão física, elevando as capacidades físicas de

modo harmonioso e adequado às necessidades de desenvolvimento do aluno,

devendo de igual forma promover a aprendizagem de conhecimentos relativos

aos processos de elevação e manutenção das capacidades físicas, optou-se

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por dedicar uma aula à execução do Fitnessgram, enquanto bateria de testes

da avaliação da aptidão física.

O Fitnessgram caracteriza-se por um plano de Educação de Aptidão

Física para a saúde direcionado a crianças e jovens e resume-se na aplicação

de testes de aptidão física (Aptidão Aeróbia, Teste Vaivém, Teste Corrida e

Teste Marcha, este ultimo apenas adaptado ao ensino secundário) adaptados

ao público-alvo, avaliando o desempenho de acordo com 3 zonas distintas:

“Necessita Melhorar”, “Zona Saudável” e “Acima da zona saudável”.

Depois da avaliação individual dos alunos, o Fitnessgram gera relatórios

com a respetiva avaliação, dando-se início a um acompanhamento evolutivo e

personalizado do aluno, o que permite ao professor deter nesta ferramenta um

auxílio na avaliação e educação da aptidão e atividade física de crianças e

adolescentes.

Assim, surgiu então a implementação da aplicação da bateria de testes

do Fitnessgram na primeira aula do primeiro período, facto que permitiu a

avaliação do nível de condição física dos alunos no início do ano letivo. Sobre

este assunto importa referir que os mesmos se encontravam entre o nível fraco

e saudável.

Embora a necessidade de um acompanhamento evolutivo das

capacidades dos alunos de forma condicionada se evidencie como necessário,

o curto horário dedicado à prática da disciplina, faria com que os testes apenas

servissem para estudar as capacidades condicionais dos alunos, mas numa

perspetiva de alertar os mesmos para a importância do exercício físico e da

saúde de forma regular, facto também facultado através da entrega de

documentos de apoio em forma de flyers que descreviam processos e

ferramentas-chave que permitiam ao aluno guiar o seu processo de

desenvolvimento da condição física de uma forma autónoma e, claro está,

saudável (Ver Anexo 2).

“ Na primeira aula do ano utilizei o finessgram com os alunos para avaliar a sua condição

física. A aula correu bem e os alunos estavam interessados em saber as suas avaliações.”

(Reflexão da aula nrº 3- diário de bordo, 19 de Setembro de 2013)

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4.1.4. Comunicação em contexto escolar

Tendo em conta que, segundo Lyons (cit. por Rodrigues, 2010), a

comunicação a “ (...) transmissão de um sinal (que tem uma forma e passa

um significado) de um emissor para um recetor através de um canal de

comunicação”, deve referir-se que a mesma pode ocorrer de forma verbal ou

não-verbal, ou seja, de forma linguística (comunicação verbal) ou “(...) não

discursiva, suportando-se no corpo e nos objetos a ele associados (...)”

(Mesquita, 2007) (comunicação não verbal). Sendo a disciplina de Educação

Física uma área que atribui um papel preponderante ao movimento corporal,

poder-se-á referir que a comunicação não-verbal “assume um papel tão

importante quanto a verbal para um bom relacionamento entre professor e

alunos”, conforme confirma Richmond (cit. por Rodrigues, 2010).

De uma forma verbal ou não verbal, a comunicação exerce, de facto, um

papel imprescindível em todos os âmbitos e a nível escolar não é exceção.

Assim sendo, deve referir-se ue “ (...) a capacidade de comunicar constitui um

dos fatores que determinam a eficácia pedagógica (...) ” (Rosado e Mes uita,

2009, p.70), facto que contribui para a necessidade de dedicar alguma atenção

às estratégias utilizadas para comunicar com os alunos. Desta forma e uma

vez que o EP se revelou a primeira experiência formal na área do ensino,

surgiram de facto algumas dificuldades comunicacionais que foram melhoradas

tendo em conta vários aspetos, nomeadamente, o local e a organização, o tipo

de informação a transmitir e o volume da mensagem.

Organização e local influenciam a comunicação

O local onde nos encontramos é preponderante para avaliar de que

forma a mensagem a transmitir deverá ser passada. No caso de querermos

transmitir a mensagem a um grupo, o que acontece na maior parte das vezes a

um professor de educação física, é fundamental orientá-lo para que sejamos o

seu foco principal, tarefa possível através da organização do grupo.

Assim sendo, para a correta transmissão da mensagem sem obstáculos

comunicacionais, todos os elementos do grupo deverão estar sobre o campo

de visão do professor e o professor deverá estar também sobre o campo de

visão dos alunos. Desta forma, a informação que emitimos terá maior

probabilidade de ser recebida.

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Nesse sentido, a organização do grupo em forma de “U” a estrat gia

mais usualmente utilizada para comunicar com toda a turma em simultâneo e a

que utilizei também, para uma melhor gestão comunicacional em recintos

amplos, onde as distrações são mais constantes. Esta organização permite ao

orador (professor), cativar os elementos da plateia (alunos), mobilizando o

grupo em sua função e permitindo o diálogo entre todos os intervenientes.

“No início da aula pedia aos alunos que se colocassem em “u” para ue pudesse vê-los e ouvi-

los melhor, tal como eles a mim (...)”

(Reflexão da aula nrº 6- diário de bordo, 26 de Setembro de 2013)

Primeiro informar, depois organizar.

Segundo Sarmento (1993, p.15) “os aspetos da instrução estão

estreitamente ligados às questões de organização”. E assim o é na área

escolar, mas produzida errada e comummente pelos Professores Estagiários

que organizam a turma antes de concluir a informação. Esta atitude leva a que

a comunicação seja bastante dificultada, uma vez que causa a distração dos

alunos e quebra a continuidade da comunicação.

Assim, o professor deverá possuir a capacidade de saber gerir a relação

entre a informação e a organização, de forma a que a mensagem possa ser

transmitida de forma correta e sem entraves.

“Ho e senti ue as aulas melhor controladas são a uelas em ue “dou seca” aos alunos

no início, para lhes contextualizar a aula. Sinto que embora eles fiquem mais entediados,

captam melhor a informação e seguem melhor as minhas indicações.”

(Reflexão da aula nrº 6- diário de bordo, 26 de Setembro de 2013)

Volume da mensagem

Tendo em conta que a atividade desenvolvida durante a frequência do

estágio detém no ensino a área de desenvolvimento dos trabalhos e nos

adolescentes (alunos) os principais recetores das mensagens a transmitir, deve

ter-se em conta que estes recetores são vulgarmente suscetiveis á criação de

conversas paralelas, sendo que qualquer informação externa pode ser motivo

de distração. Assim, a comunicação do professor deverá ser cuidada, de

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46

acordo com o local e organização da comunicação (factos já abordados no

ponto anterior), bem como com o volume da mensagem a transmitir.

Na área do ensino, e segundo Siedentop e Tannehill (2000, p.265),

“muitas vezes os professores fornecem mais informação do que aquela que os

alunos podem usar quando começam a praticar a tarefa". Assim, e para

contrariar a permanência desta situação, a transmissão da mensagem deverá

ser executada de forma prática, objetiva e essencial, ou seja, quanto mais

concisa for, maior será a probabilidade de o recetor a adquirir com êxito.

A mesma mensagem deverá também prender a atenção dos alunos

sendo que, no caso de ser extensa deverá ser repartida, conforme afirmam

Siedentop e Tannehill (2000, p. 265): “os detalhes do desenvolvimento da

tarefa são dominados por uma série de tarefas de refinamento, e não através

da inclusão de todos eles na tarefa de informação”.

Desta forma, para além de utilizarmos uma comunicação simples,

concisa e direta, o professor deverá ainda ter em conta o tamanho da

mensagem a transmitir para que, desta forma, divida a informação por fases,

intercalando a comunicação com a demonstração para uma maior captação da

atenção dos alunos.

Demonstração

Conforme referido no ponto anterior, a demonstração é também uma

boa forma de fazer com que a mensagem a transmitir seja recebida pelos

recetores, sem canais de distração.

Este facto é explicado pela forma como são absorvidas as mensagens

por parte do cérebro humano, tal como refere Albert Mehrabian (1972) nas

suas publicações sobre mensagens verbais e não-verbais, nos quais refere que

durante a comunicação, 7% da informação é absorvida pelas palavras e 38%

da informação é adquirida através da atenção dada ao tom de voz sendo que a

sua grande maioria, 55%, é absorvida pela linguagem não-verbal.

Assim, a demonstração em parceria com a explicação, conforme

revelam Rink (1994) e Darden (1997) citados por Graça e Mesquita (2006,

p.212) “(...) assume no âmbito das atividades desportivas um papel

fundamental, na medida em que possibilita a visualização por parte do

praticante do(s) movimento(s) a efetuar”, tendo sido por isso utilizada durante

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47

as aulas (no local de realização da tarefa do comportamento requerido), uma

vez que a disciplina de educação física requer, na maior parte das vezes,

tarefas de componente técnica.

“(...) expliquei-lhes (aos alunos) como fazer manchete, mas notei logo que a informação

não tinha sido bem recebida, pois começaram todos a fazer mal o exercício. Então demonstrei-

lhes como fazer e começaram a melhorar”

(Diário de bordo, 29 de Abril de 2014)

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Qual a forma mais correta de comunicar?

Esta será, certamente, uma questão que a maioria dos professores

estagiários colocará. Este assunto, abordado no 3º período do ano letivo pelo

PO conforme esclarecido no ponto 3.2., nutriu especial importância durante a

visita do mesmo ao local de estágio, uma vez que por vezes o estagiário, e

abordo este assunto também por experiência própria, tem tendência a

comunicar com os alunos sem ter em conta as diversas variáveis a somar às já

referidas (local, organização, tipo e volume da mensagem).

Assim, não bastará ao professor saber identificar os momentos certos

para efetuar as suas intervenções. O Professor deverá também saber analisar

o comportamento dos alunos e questionar-se quanto ao motivo de

determinados comportamentos, extraindo o que existe de positivo em cada um

deles, quer sejam respostas expectáveis e favoráveis à transmissão de

conteúdos, quer sejam comportamentos que não promovam a resposta

desejada mas que poderão servir de base para futuros diagnósticos. Só desta

forma o professor poderá ajudar o aluno a seguir o caminho que o professor

pretende, tendo em conta os objetivos (pré) estabelecidos. Esta não é, no

entanto, uma tarefa simples de concretizar.

Requer muitas experiências, muitas vivências com os alunos, e dado

que sou ainda estagiário, esta foi consideravelmente uma tarefa que por vezes

me foi difícil pôr em prática. Reconheço, no entanto, o meu esforço quanto à

prática de uma comunicação mais direta e harmoniosa, capaz de favorecer a

evolução dos alunos e a sua melhoria inter-relacional, quer entre eles, quer

entre mim e eles.

“Nesse dia os alunos estavam muito barulhentos. Como estava a falar e não estava a ser

ouvido, calei-me e fiquei a olha-los. Aos pouquinhos toda a turma ficou em silêncio, a olhar-

me.”

(Diário de bordo, 13 de Março de 2014)

4.1.5. Diferenciação pedagógica

Tal como referido no ponto n.º 1 do presente relatório, as atividades

inseridas em contexto letivo foram exercitadas tendo em conta as

necessidades dos alunos bem como as suas capacidades, avaliadas

primariamente, conforme referido ao longo do ponto 4.1.2 do presente relatório.

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Considero, portanto, que em contexto da realidade escolar em geral, a

diferenciação pedagógica deverá ser de imponência imperativa pois a escola

não , e como referem Hargreavs & Finks (2003), “(...) um serviço de pronto a

comer em que se come geralmente sozinho, a comida vem empacotada, feita à

distância e sem sabor”.

Sendo que a integração é um dos pontos fortes tidos em contexto

escolar, na diferenciação pedagógica esse facto também deve refletir-se, no

sentido de que esta tarefa não deverá ser apenas abordada em contexto

individual, através do trabalho entre professor e aluno, mas tenderá a ser um

trabalho da própria escola, como órgão institucional que promove a equidade e

o direito de aprendizagem a todos.

Fazer um ensino dirigido a todos é também procurar ajustar as práticas

de ensino aos alunos da turma tendo em conta as suas características

pessoais e coletivas bem como as suas valências e dificuldades.

Fazer um ensino dirigido a todos não é baixar o nível de exigência, mas

sim fazer uma gestão curricular que tenha em conta o facto que os alunos não

aprendem todos da mesma forma e que as suas dificuldades poderão ser,

também a níveis diferentes.

Este facto requer, como tal, um conhecimento aprofundado do professor

sobre os alunos, assim como um amplo conhecimento de métodos e técnicas

de ensino, o que leva a que a diferenciação pedagógica deva ser tomada,

desde logo, como um trabalho contínuo que requer dedicação, paciência,

conhecimentos e muita motivação.

Assim, importa referir que ao longo do estágio tive em conta o facto de

ter presente na turma diferentes alunos, que embora com níveis regulares em

termos avaliativos, são diferentes no modo de aprendizagem e nas suas

dificuldades.

Além do mais, na turma que lecionei, tive que ter em conta um fator

referência na abordagem pedagógica, uma vez que possuía na turma um aluno

com necessidades educativas especiais, nomeadamente ao nível de um

transtorno antissocial associado à sociopatia.

Dado que a criação de atividades que estimulem a integração escolar e

promovam a evolução de todos os intervenientes a vários níveis é um fator a

ter em conta, também o exercício físico como fator motivacional nos alunos

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com necessidades educativas especiais poderá ser considerado como um fator

positivo de mudança.

Nos próximos capítulos abordar-se-ão então as temáticas inerentes ao

item “Estudo: A tutoria na aula de Educação Física na intervenção sobre

comportamentos de um aluno com Necessidades Educativas Especiais: um

estudo de caso.”.

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4.1.6. A tutoria na aula de Educação Física na intervenção sobre

comportamentos de um aluno com Necessidades Educativas Especiais:

um estudo de caso.

Joaquim Ricardo da Costa Monteiro

Faculdade de Desporto – Universidade do Porto

Resumo

O presente estudo tem como principal objetivo elaborar um programa de tutoria no

âmbito da disciplina de Educação Física, realizado pelo professor e um aluno com

Necessidades Educativas Especiais. O intuito é criar e analisar um processo de

intervenção estratégica, com a finalidade de promover comportamentos de respeito

pelos outros e consequente diminuição de atitudes reativas agressivas perante

situações de oposição, interpretando o efeito de estratégias promotoras de

desenvolvimento de responsabilidade e autonomia do aluno. Este estudo foi elaborado

com um aluno que apresentava problemas intelectuais, diagnosticadas clinicamente.

Demonstrava um elevado défice de atenção e concentração interferindo na sua

conduta comportamental. Para a recolha de dados necessários a este estudo

procedeu-se á observação direta e participante, durante um ano letivo. Para o

tratamento de dados consideraram-se três fases: a descrição, a análise e

interpretação dos mesmos, com base nas notas de campo produzidas. Quanto á

responsabilidade observou-se que o aluno obteve melhorias, sobretudo quando

avaliado individualmente, sendo que quando acompanhado pelos seus colegas por

vezes mostra intermitências na forma como é capaz de dar cumprimento ao que foi

acordado. Em relação á autonomia o aluno mostrou melhorias significativas apenas

quando envolvido em atividades por ele identificadas como “preferidas”. No que se

refere ao respeito o aluno registou uma evolução mas foi revelador que necessita de

um acompanhamento acentuado e constante para que continue a obter melhorias.

Finalmente, no que diz respeito a capacidade de autocontrolo em relação a

comportamentos relativos a situações de oposição registou-se uma melhoria gradual,

sendo que no início do programa o aluno apresentava reações agressivas neste tipo

de situações, mas depois da intervenção foi visível uma mudança positiva na

diminuição destas reações.

Palavras-chave: NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS; PROGRAMA DE

TUTORIA; EDUCAÇÃO FÍSICA; INTERVENÇÃO.

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Introdução

Educação Especial: Uma perspetiva histórica

Ao longo da história, a humanidade não tem equacionado sempre da

mesma forma a problemática da deficiência. Do pensamento mágico-religioso

dos tempos remotos à divinização no Egipto, da eliminação na sociedade

Greco-romana ao abandono na Idade Média, a história da Humanidade mostra-

nos que as sociedades têm experimentado grandes dificuldades em lidar com a

diferença.

Vários autores propõem diversas divisões históricas na evolução da

educação especial como Lowenfeld (1977) ou Baptista (1993). No entanto, no

que respeita à evolução da educação especial em Portugal, seria mais prático

seguir a divisão proposta por peritos da OCDE (1984), que dividem em três

fases a organização de recursos para crianças e jovens com deficiência em

Portugal. A primeira cobre a segunda metade do séc. XIX, e corresponde a

fase de cariz asilar, sobretudo fomentada de iniciativa privada. A segunda fase

encontra-se já nos anos 60 e já é caracterizada pela forte intervenção pública e

corresponde a fase de preocupação educativa. A terceira fase, com início nos

anos 70, abre caminho para a integração escolar.

Depois da marginalização e reclusão em condições bastantes negativas,

dos “diferentes” na idade m dia, ao longo do s culo XIX e da primeira metade

do século XX, os deficientes foram sendo inseridos em instituições de cariz

marcadamente assistencialista. O clima social era propício à criação de

instituições cada vez maiores, construídas longe das povoações, onde as

pessoas deficientes permaneciam incomunicáveis e privadas de liberdade.

(García, 1989, citado por Jiménez, 1997), mas dava-se inicio à fase de

institucionalização.

As transformações sociais começaram a verificar-se e mais tarde, na

primeira metade do séc. XX, reconhecia-se o direito à educação especializada

e à reabilitação, notando-se o crescente interesse pela educação destes

alunos. No entanto, o processo de colocar alunos em escolas de ensino

especial continuava a ser um processo segregativo.

Em Portugal, correspondendo a esta fase, surgem também instituições

como por exemplo, em 1916, em Lisboa, o Instituto Médico-Pedagógico da

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Casa Pia. Estas iniciativas continuaram e foi na década de 60 que a

institucionalização começou a ser questionada. As transformações sociais do

pós-guerra, a Declaração dos Direitos da Criança e dos Direitos do Homem e

uma mudança no pensar relativamente à educação especial contribuíram para

uma consciencialização, por parte da sociedade, da forma como os deficientes

eram tratados e permitiu perspetivar, do ponto de vista educativo e social, a

integração das crianças e dos jovens com deficiência, fundamentada no direito

à educação, à igualdade de oportunidades e a participação na comunidade.

À integração subsistiu o princípio da normalização que correspondia à

possibilidade de que o deficiente mental desenvolvesse um tipo de vida tão

normal quanto possível. A integração escolar decorreu da aplicação deste

princípio e, nesse sentido, a educação das crianças e dos alunos com

deficiência deveria ser feita no ensino regular. Esta integração começou então

a ser uma prática corrente na Europa do Norte nos anos 60, e, nos anos 70,

surge a lei americana 94-142 de 1975, que veiculava direitos iguais para todos

em termos de educação, nomeadamente educação pública e gratuita para

todos os alunos com deficiência, a colocação dos alunos num meio o menos

restritivo possível, a elaboração de planos educativos individualizados, entre

outras medidas.

Porém, uma das maiores contribuições à integração adveio do Warnock

Report, que surge no Reino Unido em 1978, com um racional semelhante, mas

com a introdução do conceito de Necessidades Educativas Especiais (NEE).

“Um aluno tem necessidades educativas especiais uando, comparativamente

com os alunos da sua idade, apresenta dificuldades significativamente maiores

para aprender ou tem algum problema de ordem física, sensorial, intelectual,

emocional ou social, ou uma combinação destas problemáticas, a que os meios

educativos geralmente existentes nas escolas não conseguem responder,

sendo necessário recorrer a currículos especiais ou a condições de

aprendizagem adaptadas” (Brennan, 1990).

A integração escolar das crianças e jovens com NEE pode ser vista

tendo em conta dois momentos: a intervenção centrada no aluno e a

intervenção centrada na escola. As primeiras experiências de integração

destes alunos em classes regulares corresponderam à intervenção centrada no

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aluno. O apoio decorria em salas próprias para o efeito, após um diagnóstico

do foro médico ou psicológico.

Na década de 80 do século XX, com os trabalhos desenvolvidos no

âmbito do “Ano Internacional do Deficiente” (1981) reconheceu-se o direito à

igualdade de oportunidades, o direito integração e o direito “normalização”

das crianças e jovens deficientes, isto é, a sua plena participação numa

sociedade para todos, o que correspondeu à intervenção centrada na escola.

As causas dos problemas educativos começaram a ser perspetivadas de forma

diferente. O esforço de mudança passou a centrar-se na problemática mais

alargada do ensino e da aprendizagem. Pedia-se à escola que respondesse à

individualidade de cada aluno e às necessidades educativas especiais de cada

um e o encaminhamento para uma instituição de educação especial só deveria

ser feito em último recurso. A integração pressupunha assim a proximidade

física, a interação, a assimilação e a aceitação.

Em Portugal, foi o DL 319/91, de 23 de Agosto, regulamentado,

posteriormente, pelo Despacho 173/ME/91, de 23 de Outubro o documento

mais importante. À semelhança do Warnok Report introduziu o conceito NEE,

permanentes ou temporárias e definiu, pela primeira vez, um conjunto de

medidas a aplicar aos alunos com necessidades educativas especiais, as quais

deveriam ser expressas num Plano Educativo Individual que, nas situações

mais complexas, remetia para a medida “ensino especial” e para um Programa

Educativo.

As questões relativas à deficiência saíram, assim, da esfera da religião e

do misticismo para a ciência, passando a ser perspetivadas não como um

atributo divino mas como um desvio biológico e, nesse sentido, o seu

tratamento implicava a reabilitação e a educação.

Apesar dos progressos em relação às práticas de segregação antigas,

as formas de participação social e educativa só responderam em parte aos

direitos destas pessoas, na medida em que exigem pouco da sociedade, e

segundo Bairrão (2004), os modelos ecológico-sistémicos e transacionais

vieram revelar que o desenvolvimento humano só se entende e evolui de forma

contextualizada, o que sustenta a fundamentação do modelo inclusivo de

educação.

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Da integração à inclusão

O percurso até à inclusão passou por um conjunto de decisões e

medidas tomadas no seio de organizações e agências internacionais, como as

Nações Unidas e a Unesco. De referir, neste sentido, e em particular, a

Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais: Acesso e

Qualidade, em 1994, que decorreu em Salamanca e a Declaração de Lisboa,

em 2007, mais recente, desenvolvida para o Desenvolvimento em

Necessidades Especiais de Educação. A Declaração defendia ue “a escola

regular deve ajustar-se a todas as crianças independentemente das suas

condições físicas, sociais, linguísticas ou outras, isto é, crianças com

deficiência ou sobredotadas, crianças de rua ou crianças que trabalham,

crianças de populações imigradas ou nómadas, crianças pertencentes a

minorias linguísticas, étnicas ou culturais e crianças de áreas ou grupos

desfavorecidos ou marginais” (UNESCO, 1994, p.6).

Desta forma, apesar do conceito NEE ter sido conhecido através do

Warnock Report, que perspetivava inclusive, que 20% das crianças

apresentava NEE’s em algum momento do seu percurso escolar, este só foi

adotado e redefinido a partir da Declaração de Salamanca , passando a

abranger todas as crianças e jovens cujas necessidades

envolvam deficiências ou dificuldades de aprendizagem.

Sendo assim, neste contexto a expressão necessidades educativas

especiais refere-se “a todas as crianças e ovens cu as carências se relacionam

com deficiências ou dificuldades escolares. Muitas crianças apresentam

dificuldades escolares e, consequentemente, têm necessidades educativas

especiais, em determinado momento da sua escolaridade. As escolas terão de

encontrar formas de educar com sucesso estas crianças, incluindo aquelas que

apresentam incapacidades graves. Existe o consenso crescente de que as

crianças e jovens com necessidades educativas especiais devem ser incluídos

nas estruturas educativas destinadas à maioria das crianças, o que conduziu

ao conceito da escola inclusiva” (Unesco, 1994, p.6).

Estaríamos então perante um novo conceito, o das escolas inclusivas

cu o princ pio fundamental “consiste em todos os alunos aprenderem juntos,

sempre que possível, independentemente das dificuldades e das diferenças

que apresentem. Estas escolas devem reconhecer e satisfazer as

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necessidades dos seus alunos, adaptando-se aos vários estilos e ritmos de

aprendizagem, de modo a garantir um bom nível de educação para todos,

através de currículos adequados, de uma boa organização escolar, de

estratégias pedagógicas, de utilização de recursos e de uma cooperação com

as respetivas comunidades. É preciso, portanto, um conjunto de apoios e de

serviços para satisfazer o conjunto de necessidades especiais dentro da

escola” (Unesco,1994,p.11).

Após a Declaração de Salamanca (1994) esta noção de escola tem

vindo a afirmar -se e Portugal não foi exceção, o que se pode verificar no

decreto de lei nº3 de 2008 que veio substituir o decreto nº319 de 1991 e onde

está implícita a preocupação de criar uma escola democrática e inclusiva

centrada no sucesso educativo de crianças e jovens apesar de qualquer

diversidade, sendo que a nova legislação pressupõe, à semelhança dos outros

países, ainda a ativação de apoios especializados e individualizados em caso

de necessidades de contornos específicos.

Contudo, podemos ter chegado a um paradigma, no sentido em que, a

intervenção, em nome da inclusão, pode tender a centrar-se no aluno, tal como

o modelo de integração preconizava, mantendo-se, deste modo, práticas que

podem ser excludentes.

“ (...) estar inclu do muito mais do ue uma presença f sica: um sentimento

e uma prática mútua de pertença entre a escola e a criança, isto é, o jovem

sentir ue pertence escola e a escola sentir ue responsável por ele ”

(Rodrigues, 2003, p. 95).

Desta forma, surge uma diferença entre o conceito de inclusão educativa

e educação inclusiva.

A educação inclusiva parte do pressuposto de que todos os alunos

devem participar e interagir uns com os outros, independentemente das

dificuldades mais ou menos complexas que alguns possam evidenciar e às

quais cabe à escola adaptar-se, nomeadamente porque esta atitude constitui

um desafio ue cria novas situações de aprendizagem. Nesse sentido, “a

diferença um valor” (Ainscow,1998) e a escola um lugar que proporciona

interação de aprendizagens significativas a todos os seus alunos, baseadas na

cooperação e na diferenciação inclusiva.

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Ao celebrar a diferença, a educação inclusiva preocupa-se com a

singularidade de cada ser e torna-se mais abrangente, tornando objetivo mais

atual da Educação Especial acabar com a dicotomia educação regular e

educação especial.

O caminho em Portugal e no resto do Mundo tem sido longo no que

respeita à completa e adequada inclusão da criança com NEE. Apesar dos

inúmeros avanços, nomeadamente as legislações, as dificuldades e limitações

ainda existem, até porque as sociais são instrumentos imprescindíveis mas de

difícil mudança, sendo neste sentido que a disciplina de Educação Física pode

ser benéfica.

A Educação Física e as Crianças NEE

A escola, para além de espaço de transmissão de saberes teóricos,

deve também privilegiar a partilha de vivências e experiências. A Educação

Física assume um papel preponderante nesta interação ao oferecer um espaço

físico e emocional que facilita a integração e aprendizagem do aluno.

Esta disciplina assume ainda maior relevância em crianças com NEE, ao

facilitar primariamente a sua inclusão no seio da turma. A inclusão facilitada

através de atividades desportivas reflete-se na promoção de atitudes de

entreajuda nas restantes disciplinas, culminando numa aprendizagem mais

facilitada também. Para além disto, o desenvolvimento de competências

importantes, nomeadamente de cidadania e respeito mútuo, são mais

facilmente alcançadas e desenvolvidas através de atividades realizadas nas

aulas de Educação Física. Isto até porque, dada a importância que o desporto

e consequentemente, a Educação Física têm vindo a receber na sociedade

atual, a sua contribuição tornou-se determinante em áreas chave, como a

Educação, tendo um impacto positivo nesta e no desenvolvimento de

habilidades de aprendizagem.

Desta forma, as aulas de Educação Física contribuem até mais do que

outras disciplinas, para a inclusão de alunos com NEE na comunidade escolar,

já que contribuem para o desenvolvimento dos domínios fundamentais do

comportamento (cognitivo, afetivo e psicomotor).

Por outro lado, visto que a inclusão pressupõe um ajustamento de

conteúdos dos currículos de forma a considerar a diversidade dos alunos, a

Educação Física torna-se uma área curricular mais facilmente inclusiva devido

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à flexibilidade inerente aos seus conteúdos. O professor tem mais facilidade em

alterar os programas para ir de encontro as necessidades de alunos especiais.

Do ponto de vista dos alunos, as aulas de educação física podem ser

mais inclusivas devido a possibilidade de participação de todos os alunos,

mesmo que uns evidenciem mais dificuldades do que outros, abrindo caminho

para a cooperação e interação. Para os alunos com NEE, um programa

adequado às suas diferenças vai ajudá-los a identificarem mais facilmente as

suas limitações e capacidades e, desta forma, trabalhá-las, com vista ao

sucesso.

A Educação Física vai ajudar ainda o aluno com NEE a elevar o nível

funcional das suas capacidades como a resistência, a flexibilidade, velocidade,

equilíbrio, ritmo e agilidade bem como o desenvolvimento da autonomia, o

respeito, controlo responsabilidade e valores como a cooperação, a

compreensão e a solidariedade entre todos os alunos definindo-se como um

auxílio crucial no caminho para a integração na comunidade escolar e

consequentemente na sociedade.

Tutoria

Face à implementação de modelos de apoio diversificados surgiram os

sistemas de tutoria, que tomam como referência experiências bem-sucedidas,

quer na própria escola quer baseadas em outros sistemas educativos.

Para Azevedo & Nascimento (2007), o conceito de tutoria “inclui uma

dimensão de processo, cuidado e de comprometimento com o outro, para que

este se assuma como principal construtor do seu sentido de vida”.

Este engloba um conjunto de processos acionados para

elaborar/construir uma proposta curricular sendo as atividades desencadeadas

para o concretizar e atualizar nas situações de ensino e aprendizagem (Roldão,

2007, p.7)

Para Baudritt (2003), um sistema de tutoria vai de encontro às novas

conceções de aprendizagem, que ao contrário de se centrarem no professor,

se centram no aluno, na medida em que individualiza mais o ensino-

aprendizagem, facilita o trabalho do aluno e tem em conta as dificuldades de

uns e de outros. Alem disso, vários autores consideram que a aprendizagem é

notavelmente beneficiada quando existe um feedback constante. Para além de

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60

que neste sistema há uma necessidade de reconhecer capacidades e

limitações e objetivar o sucesso.

Para terminar, e numa tentativa de síntese, podemos afirmar que com os

programas de tutoria se pretende elevar a qualidade do processo educativo

através da atenção personalizada aos problemas que influem no desempenho

e rendimento escolar do estudante, com a finalidade de melhorar as condições

de aprendizagem e desenvolvimento de valores, atitudes e hábitos que

contribuam para a integridade da sua formação pessoal, social e humana.

Objetivos

Sendo o sujeito deste estudo um aluno identificado com NEE,

problemático e com comportamentos antecedentes, pretende-se que no final

do estudo, o mesmo consiga consciencializar-se do seu comportamento e

atitudes em grupo, através de um programa de tutoria levado a cabo por em

professor de educação física (estagiário).

De uma forma mais específica, pretende-se criar e analisar um processo

de intervenção com o aluno NEE para promover comportamentos de respeito

pelos outros e consequente diminuição de atitudes agressivas perante

situações de interação/oposição. Adicionalmente, é intenção interpretar o efeito

de estratégias promotoras do desenvolvimento de responsabilidade do aluno

NEE e fomentar a sua autonomia nas rotinas escolares.

Metodologia

Método de investigação

Para a realização deste estudo procedeu-se a um estudo de caso, que

se trata de uma abordagem metodológica de investigação adequada sobretudo

quando procuramos estudar acontecimentos em situações naturais ou

contextos complexos onde vários fatores estão envolvidos, ou seja, procurou-

se estudar o sujeito observando o seu comportamento do cotidiano e em

situações ambientais como o de uma aula de educação física.

Um estudo de caso portanto “uma investigação ue se assume como

particularística, isto é, que se debruça deliberadamente sobre uma situação

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especifica que se supõe ser única ou especial, pelo menos em certos aspetos,

procurando descobrir o que há nela de mais essencial e característico e desse

modo, contribuir para a compreensão global de um certo fenómeno de

interesse” (Ponte, 2006, p.2).

O facto de o investigador estar pessoalmente implicado na investigação

confere aos planos qualitativos um forte cariz descritivo daí este método ser

mais utilizado. (Coutinho & Chaves, 2002).

O objetivo de um estudo de caso, prende-se, de acordo com a literatura

de vários autores que se complementam, sintetizada por Gomez, Flores &

Gimenez, sobretudo com explorar, descrever, explicar e avaliar, a fim de

“compreender o evento em estudo e ao mesmo tempo desenvolver teorias

mais genéricas a respeito do fenómeno observado” (Fidel, 1992).

Apesar de ser mais difícil alcançar uma garantia de fiabilidade, neste tipo

de método (qualitativo), esta constitui uma estratégia de investigação muito

utilizada nas ciências sociais. O facto da escolha prende-se com o forte cariz

descritivo do estudo.

Aluno: caracterização

Como estagiário na Escola Básica 2,3 de Sobreira deparou-se com um

aluno que fazia parte da turma que lhe foi designada durante este ano letivo

com NEE, sobre o qual se decidiu aplicar o estudo, através de um programa de

tutoria, como forma de continuar o trabalho com este já feito num programa

semelhante feito por um colega e comprovar os benefícios do exercício físico

sobre o comportamento do aluno, definido como problemático.

O aluno em questão, foi adotado pelos seus pais quando tinha 4 anos de

idade, sendo seu agregado familiar constituído por estes e por ele. A sua

situação socioeconómica parece ser estável.

Em relação ao seu histórico, o aluno desde logo se mostrou uma criança

diferente das outras da sua faixa etária, demonstrando ser bastante agressivo.

Clinicamente, por volta dos 6 anos de idade, quando ingressou a escola

primária apresentava já um certo desfasamento entre o seu desenvolvimento

psicomotor e o que seria de esperar para a sua idade e uma perturbação

específica da linguagem.

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62

Ao longo do seu crescimento o seu estado clinico foi-se alterando e,

atualmente apresenta ainda esse desfasamento de capacidades em relação á

sua idade (17 anos), com limitações das funções intelectuais e um défice

acentuado de atenção/concentração. Um descontrolo emocional e

comportamental significativo impõe dificuldades na sua forma de se relacionar

com os outros e, consequentemente na sua aprendizagem. Em termos de

desenvolvimento da linguagem apresenta também algumas limitações, sendo o

seu discurso oral pouco fluente e inconsistente ou incoerente.

O aluno revela-se relativamente autónomo em relação á sua

alimentação, higiene ou vestuário, mas é de notar que pode chegar a tornar-se

perigoso para si ou para terceiros na medida em que tem tendência para

manuseio de objetos ou produtos potencialmente perigosos e para o

envolvimento em situações igualmente perigosas.

Como já referido as dificuldades na interação com outros são evidentes,

marcadas pela dificuldade em exprimir o que pensa e em compreender

emoções, pensamentos e sentimentos das outras pessoas. De certa forma na

relação com figuras de autoridade ou outros adultos parece lidar de forma

menos desajustada tentando agradar. Porém em situações de oposição as

suas atitudes são de distanciamento, pouca disposição para redefinir os seus

comportamentos no sentido de melhorar a interação sem qualquer sentimento

de arrependimento, pois parece não sentir a necessidade de recompor as

coisas, o que acontece também na relação com os colegas, tendo sérias

dificuldades em manter relações pessoais. Esta questão é acentuada pelo facto

do aluno não agir normalmente de acordo com simples normas sociais. Em

situações de maior perturbação a sua resposta de comportamento pode tornar-

se em agressão, verbal e até mesmo física.

Como se trata de um aluno com estas limitações a nível social e

funcional não aceita facilmente relações de ajuda, o que se torna um obstáculo.

Em relação ao ano anterior o aluno toma medicação regulada, é

acompanhado por uma equipa médica regular e é bastante apoiado pelos seus

encarregados de educação

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Investigador/Professor

A fiabilidade e a validade de um estudo de caso dependem muito da

forma como o investigador (ou e uipa de investigação) se implica no estudo.

Este o principal meio de recolha e análise dos dados, sendo um elemento

fulcral no desenlace do estudo.

O facto de haver uma grande proximidade na relação entre o

investigador (professor) e os participantes no estudo (alunos) pode ser

considerado como uma vantagem, no sentido de existir um maior e

diversificado conhecimento mútuo dos intervenientes, além deste não ser

considerado um elemento perturbador ou estranho no ambiente. Estamos pois

de acordo com Bogdan e Biklen (1994) quando afirmam que a investigação em

educação pode tirar partido da relação de proximidade existente entre o

investigador e o objeto de estudo.

Programa Tutorial

O facto do aluno, apesar das limitações acima referidas, demonstrar

maior interesse pelas aulas de educação física foi propício a implementação de

um programa tutorial, nomeadamente na modalidade da natação. Este

programa teve então como objetivo consciencializar o aluno do seu

comportamento problemático, e utilizar estratégias que mostrassem e

promovessem comportamentos adequados socialmente na sua idade e fazer

com que estes fossem implementados no seu cotidiano.

O programa tomou início no segundo período e foi possível trabalhar

variáveis como a autonomia, responsabilidade, respeito e auto controlo. As

sessões tomaram lugar na piscina municipal da Sobreira e também na escola

no decorrer de outras atividades quando necessário e nas aulas de educação

física. A duração das sessões e respetiva recolha de dados teve uma duração

de cerca de 3 meses (30 de janeiro a 31 de março), com as sessões individuais

de decorrer uma vez por semana.

Em relação às variáveis trabalhadas, numa primeira fase incidiu-se mais

em termos da responsabilidade e autonomia, numa segunda fase no respeito e

por fim, sendo a mais problemática, no autocontrolo, nomeadamente em

situações de oposição.

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Instrumento e procedimento de recolha dos dados

Como já referido, o processo de recolha de dados num estudo de caso

qualitativo inclui técnicas próprias, sendo o principal instrumento deste estudo

as notas de campo. Foram utilizadas também gravações em vídeo das

sessões.

A recolha de dados foi exclusivamente feita pelo investigador/professor,

através portanto, da interação e observação direta do aluno, registando vários

momentos que permitiram então identificar os comportamentos e atitudes do

aluno, descritos detalhadamente a partir dos instrumentos utilizados, tornando-

se informação para mais tarde ser tratada.

Tratamento dos dados

O processo de tratamento de dados abrangeu 3 fases.

Depois da primeira fase, denominada de identificação que consiste no

registo durante ou imediatamente após a recolha de dados, vem então a

segunda fase, a respetiva transcrição, de caráter mais demorado, dada

necessidade de transcrever informação registada nas notas de campo e em

vídeo para formato eletrónico (Microsoft word), tendo em vista a sua

exploração. Esta fase é complementada pela organização dos dados que

evolui para a terceira fase, a análise. É nesta que se identifica e estrutura a

informação mais importante, de forma cuidadosa. Segundo Merriam (1998),

este método permite construir categorias que funcionam como elemento

conceptual básico a partir do qual se procede á interpretação dos dados, última

fase. A apresentação dos resultados foi baseada na devida categorização e

estruturação do resumo das notas de campo.

Apresentação dos Resultados

Responsabilidade e autonomia do aluno.

A aula do dia 30 de Janeiro de 2014, para além da observação prévia do

aluno durante todo o primeiro período letivo, serviu de preparação para o início

do programa tutorial. Nesta aula, sintetizei as dificuldades a tratar durante este

programa, a nível de autonomia e responsabilidade do aluno, respeito e

autocontrolo. Contei com a ajuda de um professor de educação especial, que

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tomou iniciativa na aula, para ue eu pudesse obter uma perspetiva “de fora” e

tivesse oportunidade de dedicar mais tempo a descrever os comportamentos,

reações e atitudes a trabalhar.

No final foi explicado ao aluno que, na aula seguinte iria ser iniciado o

programa e que eu iria trabalhar com ele durante algum tempo. O aluno

mostrou-se entusiasmado, o que foi um início positivo.

Durante essa semana, procedi à estruturação do programa e decidi

centrar-me então, inicialmente nas variáveis da autonomia e responsabilidade

do aluno e mais tarde focar-me mais no respeito e autocontrolo. Como o aluno

tem tendência a reagir mal em situações mais exigentes ou de oposição, ficou

decidido que as estratégias de intervenção seriam a colocação de desafios de

diferentes graus de exigência, de forma gradual, no sentido de alterar os seus

comportamentos agressivos para comportamentos mais corretos e de certa

forma mais assertivos, a fim de este poder vir a conseguir expressar melhor as

suas dificuldades e necessidades aos outros.

No dia 11 de Fevereiro, aproveitei para colocar alguns desafios ao aluno

em ambiente coletivo. A fim de trabalhar a sua autonomia e responsabilidade,

foi encarregue de ir buscar o material e distribuir as placas pela turma. O aluno

demostrou dificuldades e alguma oposição em ir buscar o material mas acabou

por distribuí-lo facilmente. A aula decorreu sem grandes incidentes, mas no fim,

quando lhe foi pedido para arrumar o material, ele recusou a tarefa e saiu para

tomar banho.

No dia 13 de Fevereiro de 2014, dei início ao programa de tutoria, na

Piscina Municipal. Encontrei-me com o aluno e expliquei-lhe as principais

regras, que constituíam alguns desafios para ele. O aluno deveria ser pontual e

esperar junto ao portão da escola por mim, as 9h10 da manha, para seguirmos

a pé para a piscina. Este deveria equipar-se, pegar no material solicitado para

cada aula, passar pelo duche e entrar na piscina.

Lembro-me que o aluno pediu em retorno, que quando chegássemos à

piscina, eu verificasse se alguém estaria no balneário antes de ele entrar.

Desta vez, o aluno não se opôs a ir buscar o material e cumpriu as regras, por

sua vez, a meio da aula, já cansado, começou a queixar-se de uma perna e

resolveu baldar-se a aula, acabando por não arrumar o material.

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Nesta aula, observei que o aluno só tomava iniciativa quando lhe mandava

fazer exercícios de que gostava, sendo preciso alguma insistência e apoio para

os restantes.

“Quando pedi ao aluno para fazer um exerc cio de bruços ele recusou e disse

ue só gostava de crol ou costas...”

(Nota de campo de 13 de Fevereiro de 2014)

Na seguinte aula, na quinta-feira de dia 18 de Fevereiro, cheguei á

escola às 8h30 da manhã e encontrei o aluno. Decidi ter uma conversa com ele

sobre como um aluno da sua idade deveria interagir com os outros na escola

ou fora dela. No decorrer da conversa expliquei ao aluno as suas capacidades

e como poderia melhorar. Como este se apresentava, no fim da conversa,

bastante calmo, a aula acabou por correr dentro da normalidade, tendo este

feito um esforço no sentido de realizar bem as atividades propostas, afirmando

no fim que:

“Professor, esta aula valeu, estou todo roto!”

(Nota de campo de 18 de Fevereiro de 2014)

Nesta aula, foi possível perceber que o aluno se torna bastante mais

acessível quando motivado e o seu comportamento muda nas atividades que

considera gostar, sendo muito mais fácil dar a aula e obter progressos. Outra

observação retirada foi que, o aluno não apresentou qualquer oposição quando

lhe foi pedido para escolher o material com que preferia trabalhar, mostrando

ser autónomo, ao ir busca-lo e responsável depois ao guardá-lo.

No dia 27 de Fevereiro de 2014, decidi observar o aluno em situações

de oposição, avaliando o seu autocontrolo

“Quando cheguei a piscina com o aluno encontramos o Filipe, aluno de um colega ue faltou e

aproveitei para convidá-lo a participar na sessão, podendo trabalhar assim o respeito,

constituindo isto um desafio para o meu aluno pois este já tinha sido desrespeitoso com o

aluno noutra ocasião”

(Nota de campo de 27 de Fevereiro de 2014)

Foi-lhes proposto uma s rie de exerc cios como “estafeta de 50metros,

baliza a baliza no tan ue pe ueno e bas uetebol”, permitiriam ao aluno lidar

com situação de vitória ou derrota.

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No primeiro jogo o aluno acabou por ganhar mostrando-se bastante

entusiasmado no fim e pouca consideração pelo novo colega:

“Professor, eu avisei, vou ganhar os jogos todos ao Filipe!

Ele não se mexe…”

(Nota de campo de 27 de Fevereiro de 2014)

Da segunda vez decidi escolher o jogo que o novo aluno referiu gostar

mais, “baliza a baliza”, na esperança de poder observar o comportamento do

meu aluno numa situação de derrota, o que acabou realmente por acontecer.

“Quando o aluno perdeu pareceu-me ter ficar incrédulo por momentos e depois extremamente

chateado, não mostrando respeito pelo seu adversário e fazendo uma esp cie de uma birra”

(Nota de campo de 27 de Fevereiro de 2014)

Nesta situação, foi possível ver a desmotivação do aluno que já não

queria continuar a aula. Em termos de respeito, ficou claro que esta era uma

das suas grandes dificuldades. Depois de os elogiar pelas suas vitórias e

capacidades demonstradas, decidi mudar as atividades de oposição para

atividades de cooperação, “surf nos colchões”. A ui fi uei surpreso com a

resposta do meu aluno que depois de amuado e chateado acabou por se

divertir e entrar no espirito de entreajuda ficando mais uma vez claro que

quando motivado ou em atividades de que gosta, os comportamentos alteram-

se para mais positivos.

“Relativamente a autonomia e responsabilidade, o aluno ofereceu-se para arrumar o material

de livre vontade mas exigiu a ajuda do seu colega nesta aula”

(Nota de campo de 27 de Fevereiro de 2014)

No dia 6 de Março de 2014, a fim de avaliar a sua autonomia deixei que

o aluno escolhe-se os exercícios e para avaliar o autocontrolo decidi ser o seu

adversário. As atividades escolhidas foram “ bola na trave, apanhar argolas do

fundo da piscina e bas uetebol”.

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Em todas as atividades fiz questão de alternar situações em que eu ia

ganhando e perdendo para observar as reações do aluno tendo em conta o

que aconteceu na última aula.

Quando ganhava o aluno mostrava-se bastante motivado, feliz e ativo,

mostrando até alguma compaixão por mim:

“Professor não se preocupe, para a próxima ganha! Você tamb m um bom ogador. ”

(Nota de campo de 6 de Março de 2014)

Por outro lado, ele não se mostrou tao agressivo desta vez, quando

sentia que estava a perder, mas tinha tendência a recorrer à batota para tentar

ganhar a todo custo, o que me fez concluir que era ainda necessário muito

trabalho.

Na sessão seguinte no dia 13 de Março de 2014, o aluno surpreendeu-

me pela positiva na questão da pontualidade e responsabilidade ao ir chamar-

me a sala de grupo, pois estava uns minutos atrasado.

Depois de verificar que o aluno tinha vindo a mostrar alguma autonomia

e responsabilidade, quer na pontualidade e no facto de não querer terminar as

aulas antes do tempo, o que era frequente no início, quer na sua disposição ao

escolher, ir buscar e arrumar material e ainda na escolha de atividades, sabia

que os pontos a trabalhar eram então o respeito e o autocontrolo.

Decidi chamar a atenção do aluno para situações mais sérias em que

ele teria de realizar tarefas mais analíticas. Foi necessário repreender o aluno

várias vezes pelo seu comportamento desadequado visto este estar aborrecido

por não poder “brincar” tanto.

Não gostando de ser repreendido, o aluno voltou ao seu registo

comportamental anterior e quis sair da aula mais cedo dizendo que estava

cansado e não quis arrumar o material.

No final, o aluno não esperou por mim na receção e saiu da piscina sem

aviso. Resolvi procurá-lo para advertê-lo para o facto de as coisas não serem

sempre como queremos e termos de saber adaptar o nosso comportamento a

isso, referindo sempre os objetivos que tinha atingido nas aulas anteriores

como forma de motivação e ainda para o facto de este seu comportamento

comportar riscos para si próprio. O aluno continuou a mostrar

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descontentamento e tentei explicar-lhe que quando o seu comportamento e

atitudes são adequados o aluno é recompensado nem que seja com

reconhecimento e quando os seus comportamentos e atitudes são incorretos

merecem uma penalização.

Neste sentido resolvi dar especial importância á próxima aula. Propus

vários exercícios em que pequenas equipas competiam entre estas. Como

forma de motivação e para testar a sua responsabilidade, nomeei o aluno como

capitão de uma equipa. Inicialmente o aluno mostrou-se responsável em

relação aos seus colegas e calmo, mas quando perdeu voltou a chatear-se. No

entanto depois da nossa conversa o aluno pareceu ter ficado mais

sensibilizado e não se tornou agressivo.

“Apesar do aluno se mostrar chateado e voltar a dizer ue estava cansado para ir embora

(como é já habitual nas situações de desconforto) decidi dizer-lhe que o facto de ele ter

respeitado os colegas, tanto de equipa, tanto os adversários, e não ter canalizado a sua raiva

para eles tinha sido bastante positivo.”

(Nota de campo de 18 de Março de 2014)

No dia 20 de Março de 2014, decidi voltar aos exercícios que punham o

aluno em situações vitória/derrota e tentar mostrar-lhe qual seria o

comportamento mais adequado nas situações em que ele se sentia mais

desconfortável.

Na primeira atividade deixei que o aluno saísse vencedor e quando este

expressava o seu entusiasmo felicitei-o e chamei-o à atenção pelo facto de

apesar de eu ter sido derrotado o meu comportamento não se alterar, dizendo

que apesar de me sentir derrotado isso não me dava o direito de amuar ou ser

mal-educado com outras pessoas e ainda para o facto de que na vida, em

várias situações podemos nem sempre sair vencedores e não podemos perder

tempo e energia a reagir inadequadamente a isso.

Depois disto, deixei que o aluno me vencesse mais algumas vezes em jogos de

futebol e por fim resolvi deixar o jogo num empate. Desta vez a reação do

aluno foi surpreendente.

“Boa professor, na próxima aula uero o desempate ”

(Nota de campo de 20 de Março de 2014)

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Ficou claro que o comportamento e atitudes do aluno melhoram

significativamente quando alguém é persistente e se preocupa em orientá-lo no

sentido de uma consciencialização do que é correto ou não.

No dia 27 de Março de 2014 o aluno demonstrou bastante entusiasmo

em voltar ao jogo que tinha ficado empatado na última sessão. Voltou a mostrar

um forte descontentamento quando perdeu, o que me fez perceber que ainda

existia uma certa dificuldade em enfrentar a derrota mas a sua reação foi muito

menos acentuada, não mostrando vontade de terminar a aula e ficando a

conversar, por iniciativa própria, mais tempo comigo no fim, o que evidenciou

os progressos.

No dia 3 de Abril de 2014, as sessões terminaram com uma aula coletiva

com vários jogos de equipas. Fiquei muito contente quando o aluno participante

neste estudo pediu à sua equipa para ser o capitão e estes concordaram. Não

houve incidentes durante estes jogos, apesar de a equipa do aluno ter perdido.

Este interagiu com os seus colegas de forma pacata e só demostrou o mesmo

nível de descontentamento face à derrota que os seus colegas. Decidi, ao

juntar a turma, felicitá-lo em frente a esta e ele mostrou-se contente:

“Professor não gosto uando me chama a atenção em frente aos outros mas gosto uando diz

essas coisas”

(Nota de campo, 3 de Abril de 2014)

Decidi depois organizar um jogo final e premiar os jogadores que tinham

jogado mais segundo as regras, mais assertivos e com mais espirito de equipa.

No final ao decidirmos quais teriam sido estes jogadores vi que a turma

apontava para o meu aluno, que se tinha empenhado bastante. Pude então

perceber que o aluno se mostrava calmo e feliz ao ver que os seus colegas

estavam a reconhece-lo em vez de o tratarem como diferente, o que vai de

encontro ao conceito da inclusão na educação que visa centrar-se mais nas

semelhanças destes alunos do que limitar-se às suas diferenças e com o qual

concordo agora plenamente.

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Conclusões

Concluído o programa de tutoria, o qual visava usar desporto como

forma de motivação para desenvolver atitudes e comportamentos mais

adequados no aluno NEE, reconheço que este obteve uma melhoria

significativa no que respeita à autonomia e responsabilidade e também respeito

pelos outros. No entanto, apesar dos progressos o seu comportamento e

postura ainda se mostram sensíveis e propensos a se alterarem,

nomeadamente em situações de oposição e não motivantes.

Sendo assim, foi possível concluir o seguinte:

Autonomia e responsabilidade

Relativamente ao domínio de autonomia, o aluno apresentou melhorias

depois de alguma persistência e revelou ser capaz de levar a cabo tarefas

simples como ir buscar e arrumar material e também escolher atividades e

saber qual o material adequado. Contudo, quando está mais perturbado

recusa-se a tal e tem tendência para escolher só as atividades de que gosta,

não sendo capaz de variar muito ou ser mais criativo.

Em relação à responsabilidade, o aluno revelou-se bastante pontual,

depois de este ter sido um tema bastante falado no início, o que surpreendeu,

visto que durante a primeira observação em aulas de Educação Física com a

turma isto constituía um problema constante. O aluno tende a ser mais

responsável noutras situações também, sobretudo quando sente que está a ser

observado, tanto nas sessões de tutoria como em situações em que é

responsado pelos seus colegas, como no caso de ser o capitão de uma equipa,

em que se sente motivado. Quando o seu empenho é reconhecido pelos

professores ou colegas, este comportamento tende a ser reforçado.

No entanto, por vezes põe em causa a sua segurança, ao sair sozinho

do recinto da escola ou piscina sem qualquer aviso e em brincadeiras em que

tende a ser impulsivo ou até mesmo agressivo, pondo em causa também a

segurança de colegas e mostrando pouca reflexão sobre as suas atitudes.

Apesar de ser necessária atenção e ainda muito trabalho no que

concerne à segurança, pode dizer-se que se registou então uma melhoria

progressiva na medida em que, ao longo do estudo, o aluno se foi

consciencializando dos seus comportamentos menos corretos e das

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consequências que podiam comportar e mostrou esforço em substitui-los por

outros mais adequados e assertivos.

Respeito e autocontrolo

Relativamente ao domínio do respeito, o aluno registou melhorias ao

longo do estudo, sobretudo em relação a figuras de autoridade, sendo que em

relação aos colegas, quando este está a ser observado tenta ser moderado,

mas quando sente que não está sob supervisão, quando está mais perturbado

ou em situações de oposição tende a ser impulsivo e mal-educado, não tendo

em consideração atitudes ou sentimentos do outro.

O autocontrolo foi o domínio mais trabalhado mas representa ainda o

que necessita de maior atenção. Quando confrontado com situações de

oposição ou em situações de derrota em jogos competitivos este tendia a ficar

perturbado, desmotivado e até agressivo, agindo por impulso, o que pode levar

a “birras”. Devido a desafios graduais postos ao longo do estudo, no final o

aluno começou a ser mais moderado nas suas reações e a lidar melhor com a

derrota, sobretudo no aspeto da verbalização ou culpabilização a causas

exteriores. Revelou também uma menor tendência para fazer batota.

Contudo e como referido, é nesta área que o aluno necessita de mais atenção

e trabalho pois apesar das melhorias ele continua a ser bastante impulsivo e

facilmente afetado por situações exteriores que podem acontecer no seu dia-a-

dia e influenciar o seu comportamento. Outro obstáculo é a sua própria

perturbação, por vezes pouco entendida por professores, funcionários ou

colegas e que provoca neste um certo descontrolo emocional.

Ao longo deste estudo, tive oportunidade de conhecer melhor o aluno e

a sua personalidade e de me relacionar com ele, o que se revelou desde já

uma experiencia enriquecedora. Sendo um aluno NEE, os obstáculos impostos

pela sua perturbação são visíveis mas, de acordo com o estudo, possíveis de

serem trabalhados. A meu ver, o maior de todos será a incompreensão por

parte dos outros. Se todos nos tratarem como diferente, poderemos começar a

acreditar nisso e esquecermo-nos das nossas semelhanças ou de diferenças

“positivas” ue fazem de nós o ue somos.

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4.1.7. Avaliação e Controlo

Na Escola EB 2/3 da Sobreira, onde executei o EP em questão ao longo

deste relatório, o grupo de educação física, nomeadamente o PC (PC),

considerou que, uma vez que a avaliação e o controlo nas aulas de Educação

Física são procedimentos inerentes à prática letiva, deveria ser delegada nos

estagiários a responsabilidade de orientar esse processo, para que os mesmos

pudessem compreender melhor a forma como estes procedimentos eram

realizados e a implicação que os mesmos detinham na sua realização

É certo e sabido que todo o processo avaliativo deverá ter como

principal objetivo a melhoria do desempenho, tal como diz Aranha (2005, p.44)

“ (...) a avaliação é um regulador por excelência de todo o processo ensino-

aprendizagem”. Sendo assim, poderemos tamb m assumir ue todo este

processo deverá ser contínuo e centrar-se nos alunos e no seu

desenvolvimento, mas revela-se também complexo, facto que levou a que

neste ponto houvesse um maior acompanhamento do orientador pedagógico.

Assim, para que um processo de avaliação seja eficaz e crie uma

apreciação sustentada do aluno, o professor deve, segundo Barlow (2006,

p.30) ter “uma ideia exata da uilo ue observa”, bem como “do modelo de

referência e dos critérios de avaliação pelas uais se deve reger”. Desta forma

é também evitado o extravio de informação pertinente para a melhoria do

desenvolvimento do aluno.

Depois de ter em conta a forma como deverá ser processada a

avaliação, tender-se-á a eleger a sua estruturação. A este nível, Januário

(1984) aponta três principais tipos de avaliação que se deve ter em conta

aquando da construção de uma UD. Estes tipos de avaliação são também eles

faseados e denominam-se de Avaliação Inicial, Avaliação de Processo, e

Avaliação Final, usual academicamente denominadas de Avaliação

Diagnóstica, Avaliação Formativa e Avaliação Sumativa, respetivamente.

Assim, para cada UD efetuaram-se os três tipos de avaliação,

explanadas em fichas de classificação.

Tendo em conta que avaliação deverá ser também analisada

evolutivamente, considerou-se ao longo de todo o ano o percurso dos alunos

nas aulas bem como a preocupação de executar uma avaliação formativa para

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perceber se os objetivos definidos tinham sido alcançados e uma avaliação

sumativa, elucidativa da sua evolução ou marasmo.

4.1.7.1 Avaliar na Escola EB 2,3 de Sobreira

Tal como já referido em vários pontos anteriores, a avaliação da

disciplina de Educação Física relativa à turma que lecionei considerava dois

principais domínios de aprendizagem, nomeadamente o domínio Psicomotor e

o domínio socioafetivo. O domínio cognitivo apresenta, nesta mesma tabela,

um valor consideravelmente mais baixo, de cerca de 10%.

Relativamente <o domínio psicomotor foi estabelecida uma percentagem de

60% do valor total (100%). Este dom nio, denominado tamb m de “saber

fazer”, implica fatores como conhecer os fundamentos das unidades didáticas

abordadas tais como regulamentos, regras e linguagem especifíca relativa a

cada área desportiva ou critério regularmente estabelecido.

Já o domínio socioafetivo, tamb m apelidado de “Saber ser” detêm 30%

da avaliação final. A percentagem anexa a este domínio está, no entanto,

subdividida, pelos indicadores da Assiduidade/Pontualidade (2,5% e 5%

respetivamente), Empenho/Interesse (5%), Participação (2,5%), Relação

socioafetiva (10%) e Responsabilidade (5%).

No que respeita ao domínio cognitivo pouco elevado no contexto

avaliativo, de referir que o mesmo requer o cumprimento de indicadores, como

conhecer e identificar os elementos técnico-táticos, conhecer o regulamento

das diversas modalidades, expondo estes conhecimentos de forma objetiva.

Estes domínios, e respetivos parâmetros encontram-se descriminados

numa Grelha Valorativa fornecida pelo PC que foi utilizada para guiar o

processo de avaliação dos alunos (Anexo 3).

No que respeita à avaliação das modalidades desportivas por mim

lecionadas no decurso do ano letivo, devo referir que foi executada uma

avaliação individual aos alunos nos desportos coletivos, uma vez que como

referido no ponto 4.1.3.2 e transcrito agora “a meu ver não devem (os

desportos coletivos) ser avaliados como um todo, mas sim tendo em conta as

janelas de oportunidade do aluno, que nem sempre poderá conseguir cumprir

com os objetivos atribuídos aquela modalidade em contexto de grupo, pois

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poderá não ter tido oportunidade para o fazer. Assim, muitas vezes optei pela

técnica de ensino por tarefas nos desportos coletivos, para uma melhor e mais

diferenciada avaliação”.

Já a aplicabilidade de testes cognitivos foi lançada no ensino da

modalidade de badminton, uma vez que a avaliação cognitiva do mesmo

revelou que os alunos apenas conheciam o desporto como um passatempo e

não como uma modalidade num todo, que requer o conhecimento de um

conjunto de regras bem como de ferramentas técnicas no que refere ao

manuseamento e movimentação dos instrumentos desportivos a utilizar.

No caso dos desportos individuais, como a ginástica e natação, foi já

considerada uma avaliação mais analítica, justificada pelas características das

matérias de ensino.

Desta forma assumo a consideração perante a imposição dos três tipos

de avaliação considerados acima, admitindo, porém, certas dificuldades na

execução do processo avaliativo, facto apenas ultrapassado e minimizado com

a ajuda orientadora do PC e do PO, acreditando porém que esta será uma

situação que a experiência e prática ajudarão a ultrapassar.

4.2. Participação na Escola e Relações com a Comunidade

A constante participação em atividades desenvolvidas na escola revela-

se uma mais-valia para o estabelecimento de uma maior e mais estreita

relação com a comunidade escolar.

Neste contexto, desde a primeira hora que assumi como objetivo

pessoal prestar o meu contributo à comunidade, desenvolvendo, organizando e

auxiliando um o maior número de atividades possível.

Uma vez que não tinha nenhum laço criado com aquela escola, tentei

integrar-me proativamente apresentando sugestões que contribuíssem para a

melhoria da qualidade da escola, como foi o caso da remodelação dos cestos

de basquetebol e mostrando iniciativas no desenvolvimento de ferramentas de

apoio ao fomento da prática do desporto de forma saudável, como aconteceu

através da entrega dos flyers durante a avaliação Fitnessgram.

Para além de aspetos mais relacionados com a comunidade escolar em

geral, surgem aspetos particulares que também deverão ser levados em conta,

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como é o caso das relações com a comunidade de professores,

nomeadamente dentro do grupo de educação física.

Neste ponto, refiro a forma sistemática em que expus questões e

dúvidas sobre variados aspetos profissionais que levaram a uma melhor

relação entre mim e os membros do grupo, favorecendo o processo de

aquisição e atualização de conhecimento profissional bem como a reflexão

consistente sobre as práticas lecionadas, sempre com vista á melhoria do meu

desempenho.

Em muitas situações senti também, nomeadamente com os meus

colegas de estágio, que estabeleci boas relações com eles, por estabelecer

sistematicamente um trabalho colaborativo e de entreajuda

Abordado o contexto socioafetivo, acima, partirei então, para a

explanação das atividades supre abordadas, que possibilitaram uma maior e

mais significativa integração na comunidade escolar, e que adotei como

contributivas para o meu desenvolvimento profissional e para uma maior

integração e relação com a comunidade escolar, extraindo vivências e

experiências que me marcaram e enriqueceram para o meu futuro.

De facto, estar do lado interno das atividades, tem verdadeiramente que

se lhe diga: por mais simples que possa parecer, qualquer que seja o evento

exige sempre bastante trabalho na sua definição e execução.

4.2.1 Atividades Desenvolvidas

Tal como referido no ponto anterior, foi meu objetivo pessoal participar

ativamente nas atividades escolares desde a primeira hora, criando laços e

relações com a comunidade, facto perspetivado através da colaboração,

criação e auxílio de atividades escolares.

Importa referir, contudo, que algumas das atividades seguidamente

abordadas eram assumidas já pela comunidade como regulares,

nomeadamente as atividades de final de período e de início de ano letivo.

Em todas elas, porém, tentei prestar o meu contributo com vista à

melhoria das atividades e, assumindo uma ação colaborativa e de integração

para com a comunidade.

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4.2.1.1 Desporto Escolar

Conforme referido no Artigo 5.º -“Definição”, Secção II – “Desporto

Escolar”, do Decreto-Lei n.º 95/91, de 26 de fevereiro, o Desporto Escolar é

“(…) o con unto de práticas lúdico-desportivas e de formação com objeto

desportivo, desenvolvidas como complemento curricular e de ocupação dos

tempos livres, num regime de liberdade de participação e de escolha,

integradas no plano de atividade da escola e coordenadas no âmbito do

sistema educativo”.

Enquadrado na legislação do Ministério da Educação e Ciência, este

conjunto de práticas de estrutura consolidada nos anos 90 tem como missão

proporcionar a todos os alunos o acesso à atividade física e desportiva, uma

vez que a mesma contribui para a formação integral dos jovens e

desenvolvimento desportivo Nacional, bem como contribuir para o combate ao

insucesso e abandono escolar. Outro dos objetivos do DE é promover a

inclusão, tal como contribuir para a aquisição de hábitos de vida saudável,

apelando ainda à formação integral dos jovens em idade escolar consolidada

através da prática de atividades físicas e desportivas.

No contexto escolar, é dado ao agrupamento de escolas (ou escola não

agrupada) o papel de coordenar a execução do programa do DE, sendo que

este pode operacionalizar-se através da dinamização das atividades

desportivas internas ou por grupos-equipa (organização de grupos de

competição interescolar por escalões).

Segundo o ponto n.º 6 (Seleção de modalidades) assente no

regulamento do Desporto Escolar 2013 2014 pela Direção Geral de Educação,

“A seleção das modalidades/disciplinas desportivas é da inteira

responsabilidade da Direção dos Clubes de Desporto Escolar”. O regulamento

avança ainda com a informação de ue “cada clube de Desporto Escolar deve

orientar o seu trabalho no sentido de se especializar numa ou duas

modalidades, ou disciplinas desportivas, objeto de planificação plurianual, no

sentido de garantir continuidade na formação e progressão desportivas,

independentemente da mobilidade docente“.

Tendo em conta este regulamento, na Escola básica 2/3 da Sobreira, o

Desporto Escolar respeitante ao ano letivo 2013 2014 compreende a execução

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das seguintes modalidades: orientação, caminhada, patinagem, badminton e

andebol.

Além do mais, importa referir que a realização das

atividades/modalidades inseridas no contexto do Desporto Escolar estavam

subdivididas pelos professores do grupo de EF conforme referido acima.

Tal como referido acima, encontrava-se definido desde o inicio do ano

letivo pelo grupo de EF que a modalidade de orientação, (cujo responsável era

o PC) seria abordada, a qual merecia ressalva, dado que existiam apenas e

cerca de 12 alunos e dado que esta seria uma prática que proporcionaria aos

alunos da comunidade um maior conhecimento do contexto escolar a todos os

níveis, permitindo-lhes igualmente abordar uma atividade individual de

exploração pela natureza, facto normalmente bem recebido pelo alunos.

O PC, que era o promotor da orientação na escola bem como o

responsável por todo o material e criação de pontos e mapas escolares, decidiu

atribuir-me as tarefas da execução da atividade, nomeadamente num contexto

organizativo, explicativo e demonstrativo do processo de uma prova de

orientação.

A título pessoal, esta atividade revelou-se muito motivadora e de

extrema integração, servindo assim de base para uma melhor relação com os

alunos. Confesso que por vezes senti necessidade de auxilio na execução de

algumas tarefas, nomeadamente no contexto organizativo, mas na parte

demonstrativa e explicativa consegui direcionar o meu discurso de maneira a

que as tarefas fossem corretamente percecionadas, exemplificando também as

tarefas de maneira organizada e contextualizada.

O sucesso da atividade confirmou-se e repercutiu-se. Prova disso foi o

significativo aumento de inscrições na atividade, que era distribuída por dois

blocos semanais, administrados pelo PC.

“ (...) participei na organização das jornadas de captação para o

desporto escolar e conseguimos angariar mais alunos para a modalidade de

orientação (...) os alunos disseram que gostaram muito da atividade (...) ”

(Reflexão nrº 7 e8 -Diário de bordo, 1 de Outubro de 2013)

As jornadas de Captação de Desporto Escolar, nomeadamente ao nível

da orientação não foram, no entanto, apenas uma atividade que dinamizei.

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Na verdade, a relação de proximidade com o PC, promotor da

modalidade, permitiu que desde cedo me envolve-se mais afincadamente na

mesma.

Abordando a Orientação, a verdade é que a minha presença passou a

ser obrigatória em todos os treinos, nos quais tentava auxiliar o PC e aprender

com o mesmo todas as técnicas e ferramentas afetas à modalidade, facto que

reconheço ter contribuido para a conciliação das bases essenciais para o

leccionamento da modalidade.

Este facto contribuiu para que com o passar do tempo me fosse

atribuída a responsabilidade de planeamento dos treinos, abordagem de

temáticas e preparação dos alunos para as provas.

Neste ultimo nível, percecionei dificuldades no sentido de encontrar

técnicas para que os alunos se adaptassem o melhor possível a um contexto

diferente dos vulgarmente exercitados naquela escola, o que

consequentemente evidenciou a capacidade individual de cada aluno na

interpretação do mapa e a transposição para o terreno.

No contexto do Desporto Escolar, os alunos inseridos na modalidade de

orientação participaram em várias provas ao longo do ano letivo, mas devido à

incompatibilidade de horários para com a minha situação pessoal, apenas pude

participar na prova a desenrolar na mata de Cabroelo – Penafiel.

Esta atividade foi a prova viva de que é realmente diferente a perceção

de um treinador da de um atleta. Além disso, é necessária uma elevada

capacidade organizativa, dado que tiveram de ser tidos em conta variadíssimos

aspetos, tais como a marcação de horários para o autocarro, as autorizações

dos encarregados de educação necessárias para a deslocação dos alunos e o

envio da ficha de inscrição com a identificação dos alunos por escalões para os

responsáveis pelo desporto escolar a nível nacional, bem como a organização

e pedido de bens alimentares para a refeição dos alunos e materiais, como o

respetivo equipamento (bússolas, por exemplo).

Assim, através do meu empenho na organização, gestão, planeamento e

treino da modalidade de Orientação, procurei sempre melhorar o desempenho

desportivo dos alunos, motivando-os e dando-lhes muitas vezes a conhecer a

modalidade. Estas tarefas refletiram-se no aumento do número de

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participantes, nomeadamente femininas na modalidade (como proposto pelo

programa do desporto escolar).

Em suma, deve referir-se que a minha passagem pelo desporto escolar

permitiu o meu enriquecimento a vários níveis, quer escolares quer externos,

profissional e pessoalmente.

Por fim, importa apenas referir que, e ainda relativamente à temática do

Desporto Escolar, julgo ser ainda necessário quebrar algumas barreiras

existentes que foram referidas ao longo desde ponto (nomeadamente quanto à

junção de alunos federados em contexto competitivo com não federados) no

sentido de proporcionar ao maior número possível de jovens a sua integração

de uma forma justa e igualitária.

4.2.1.2 Feira de São Martinho e Trikes

A Feira de S. Martinho é um evento que ocorre na Escola EB 2/3 da

Sobreira anualmente, pela altura do S. Martinho (novembro, 1º período), no

qual todos os docentes e discentes da escola são convidados a participar.

Neste evento, é comum que a nível organizativo as tarefas sejam

atribuídas aos diferentes elementos de acordo com a disponibilidade de cada

um.

Uma vez que fora explicado aos estagiários os moldes desta feira,

lembrei-me de que seria pertinente implementar uma atividade de trikes para

os alunos como forma de integração do desporto naquela atividade escolar,

ideia que foi muito bem recebida pelo PC bem como pelos restantes membros

do grupo de EF.

Assim, fiquei responsável pela organização da atividade enquanto os

restantes estagiários ficaram responsáveis pelo transporte e organização das

barracas.

“Hoje lembrei-me do trike que tinha lá em casa e achei boa ideia utilizá-lo na

descida da rampa da escola numa atividade com os alunos. Falei com o PC e

ele ficou agradado com a ideia.”

(Diário de bordo, 17 de Outubro de 2013)

Os trikes foram criados na Nova Zelândia e definem-se como uma

evolução híbrida dos carrinhos de rolimã misturados com as bicicletas

destinadas à prática de bmx que é composta por uma estrutura proveniente da

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bicicleta utilizada para a prática de bmx, mas cujo assento é um banco de

plástico com formato de concha.

Utilizados frequentemente na descida de ladeiras com curvas, cedo

considerei que os trikes seriam uma atividade que atrairia desde logo os

alunos, pela adrenalina que lhe é associada.

Assim, a organização desta atividade foi bastante simples, dado que

possuía já um trike e outro colega de estágio também trouxe um.

Assim que os alunos souberam da atividade, surgiu um interesse imenso

afeto a esta prática, facto que se repercutiu na elaboração de mais 2 trikes,

fabricados por isso, artesanalmente, pelos alunos.

Figura 3 – Exemplo de um Trike

Esta inserção dos alunos nas atividades a organizar e o seu

consequente interesse em ajudar no seu desempenho, nutriu em mim um

sentimento de bem-estar pelo que senti que o meu trabalho com os alunos ao

nível de competências socioafetivas estava a ser bem desempenhado: os

alunos apresentaram assim fortes índices de cooperação e entreajuda.

A atividade foi realizada numa descida da escola, sempre tendo em

conta que esta não seria, no entanto, uma descida com demasiado declive e

tão pouco com objetos afetos à passagem pelo local.

Mesmo assim, para garantir a segurança dos alunos, foram colocados

colchões no final e nas ladeiras da descida, evitando acidentes e aparando os

alunos nas suas possíveis quedas.

Também a deslocação do professor no contexto da atividade permitiu

melhorar a organização e segurança dos alunos, uma vez que tive o cuidado

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de apenas ser iniciada uma nova descida quando por mim permitido, sendo

que os alunos se organizavam em fila para lhes ser possibilitada a experiência.

A atividade decorreu ao longo do dia e considera-se que a mesma se

revelou um sucesso, dado o interesse revelado pelos alunos face às várias

barraquinhas existentes, permitindo também a convivência de alunos,

encarregados de educação, docentes e discentes.

Ao nível da atividade por mim desenvolvida, considero que a mesma se

revelou bastante interessante, dado que os alunos demonstraram níveis

motivacionais elevados e uma vez que o feedback obtido por parte da

comunidade escolar se revelou consideravelmente satisfatório.

4.2.1.3 Atividades do Atletismo

No que respeita a modalidades desportivas, pode dizer-se que o

atletismo é a forma organizada mais antiga de competição.

Compreendido atualmente pela sua dinâmica e abrangência, o atletismo

é um desporto que poderá ser dinamizado através de provas de pista, corridas

de rua, provas de cross country e marcha atlética.

Este desporto testa todas as características básicas do homem, não se

limitando este teste ao nível da resistência física, como também ao nível da

habilidade física.

Ao nível de competências o atletismo permite ao aluno adquirir competências

ao nível organizativo, ao nível das provas e competições, ao nível técnico,

permitindo um caráter evolutivo e de arte na sua interpretação bem como ao

nível ampliação de conhecimento de materiais.

A prática do atletismo reporta ainda a uma evolução no conhecimento

desportivo do aluno, dado que suporta áreas de conhecimento como a

psicologia e a anatomia, permitindo ainda uma evolução apoiada na

compreensão da sociedade, valorizada hoje em dia pela consequente

aderência ao atletismo como forma de dar visibilidade a causas sociais e

humanas.

Assim, e dadas todas as benesses inerentes a esta modalidade, importa

referir que foi competência da escola a participação em atividades inerentes a

esta prática, a saber nos parágrafos seguintes.

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Corta mato escolar

O primeiro passo dado para a concretização deste evento na escola de

estágio foi a necessidade de um recrutamento individualizado por parte de

todos os professores do grupo de EF dos melhores alunos nesta modalidade,

por escalão e género, para que os elementos selecionados pudessem

representar a turma à qual pertenciam. Este facto, a meu ver, embora essencial

para a rápida triagem dos elementos a participar no evento, considera-se um

tanto ao quanto discriminatório, uma vez que não permite a participação de

todos.

Estando a organização do corta mato escolar a cargo do agrupamento

de EF, tal como em anos idos, existiam já funções pré-estabelecidas e

previstas para cada professor, pelo que me foi atribuída a tarefa de contagem

das voltas de cada atleta, uma tarefa que requeria grande concentração e

organização, que me fez sentir parte de um todo, que, por isso, valorizei

consideravelmente.

Corta mato Concelhio (Lousada)

Para esta atividade, a primeira a ocorrer fora da escola no ano letivo,

todos os docentes de EF da escola foram destacados para estar presentes,

devido ao facto de ser necessário um melhor acompanhamento dos alunos que

iriam competir. Dada a boa organização do referido corta mato, essa tarefa

acabou por se revelar simples, uma vez que o núcleo de professores apenas

teve que ter em atenção os horários estabelecidos e encaminhar os alunos que

iriam competir para a zona de partida.

Não tendo nenhum ponto a referir quanto à organização do evento, que

se revelou bastante boa, apenas abordo o facto de considerar incongruente a

participação num mesmo escalão de alunos federados e não federados na

modalidade, facto a meu ver que se revela injusto. Assim, foi minha

preocupação tecer considerações acerca desta atividade, sempre com vista à

sua melhoria, prestando a opinião de que deveria existir na competição um

grupo de atletas que abrangesse apenas os alunos federados na modalidade.

Desta forma, os alunos federados iriam elevar os seus níveis de motivação, por

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estarem assim a competir numa vertente mais igualitária, permitindo, por outro

lado, que os alunos não federados pudessem obter melhores resultados

ficando também eles, mais motivados para o desempenho de provas futuras.

“ (.) o evento foi muito bem organizado mas foi evidente que as melhores

prestações foram as dos alunos que estão ligados ao atletismo em competição.

Estes alunos superiorizavam-se aos restantes e devia ter-se isso em conta.

Acho que devia criar-se um grupo apenas de atletas federados que pudessem

competir entre si (...)

(Diário de bordo, 4 de Fevereiro de 2014)

Meeting de atletismo escolar

O Meeting de atletismo escolar define-se num campeonato regional de

atletismo entre elementos participantes no Desporto Escolar que possui a

mesma organização do corta mato escolar. Esta atividade surge dividida em

três provas, tais como salto em comprimento, velocidade e resistência,

formalizadas por escalões e géneros.

Assim, para esta competição, surgiu a necessidade por parte dos professores

de EF de selecionar seis alunos da(s) turma(s) que lecionam – três rapazes e

três raparigas, para cada modalidade - para participar na atividade, sendo que

eu, também responsável por uma turma, tive também essa incumbência.

No que refere ao processo de seleção dos atletas na minha turma, devo

referir que o mesmo teve em conta o processo evolutivo dos alunos bem como

as suas avaliações nas áreas a considerar para o Meeting.

Depois de selecionados os alunos de cada turma, organizou-se um

campeonato interno para selecionar então, de entre os alunos já pré-

selecionados pelos professores, os que representariam a escola no

campeonato regional e nacional.

Este processo foi realizado de forma clara e natural, tendo ficado

marcado pela seleção adequada dos alunos, atribuindo mais uma vez

preferência pelos mais aptos, ficando os menos capazes impedidos de

vivenciar este tipo de eventos.

A este ponto, dever-se-á referir que os critérios inclusivos pelos quais se

rege o Desporto Escolar deveriam ser mais tidos em conta, surgindo a

preocupação de criar atividades em contexto regional e mesmo nacional que

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promovam também a participação dos alunos menos aptos, para que estes

possam também vivenciar atividades de uma maior abrangência territorial e

também, interagir, conhecer e experimentar novas vivências.

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4.2.1.4. Atividades de final de período

4.2.1.4.1. 1º Período

Wii® Games, torneio de matraquilhos e torneio de ténis de mesa

Neste evento, proporcionado no final do primeiro período do ano letivo, a

organização bem como o seu planeamento, estiveram a cabo do grupo de

estagiários, contando com a colaboração do PC. Dado que o mesmo se inseriu

em contexto do primeiro período letivo, este era um evento que me

proporcionaria um maior contacto com todos os alunos daquela comunidade

escolar e que me poria à prova como professor e líder e cujo sucesso

dependeria do núcleo de estagiários e da sua dedicação.

O evento que compôs as atividades supracitadas como título do

parágrafo foi organizado no pavilhão gimnodesportivo da escola EB 2/3 de

Sobreira através da divisão do pavilhão em três áreas distintas: A área de

videojogos, com uma consola Wii, um plasma e um retroprojetor, a área de

matraquilhos, com uma mesa para a prática desta atividade e a área de ténis

de mesa, também com uma mesa de jogo.

Assim, para a participação no evento, decidimos que os alunos poderiam

usufruir do mesmo gratuitamente, uma vez que desta forma estaríamos e

poderíamos conceder a participação de toda a comunidade. Prevíamos assim,

apelar a uma maior relação entre a comunidade escolar, contribuindo para que

os alunos com um nível socioeconómico mais baixo pudessem integrar-se e

participar nas atividades.

Um fator de extrema importância abordado aquando da reunião do

núcleo de estagiários para determinar o planeamento do evento foi a forma

como iria ser feita a divulgação do evento.

Para isso, elaboramos panfletos e cartazes (Anexo 4) de forma mais

apelativa e direta possível que foram distribuídos pela escola algumas

semanas antes do evento.

Assim, depois de recolhidas as inscrições e colocados em prática todos

os itens estipulados na estrutura organizativa, procedemos então à prática das

atividades.

A primeira a abordar foi a implementação no pavilhão de uma Wii com

um painel e um retroprojetor. As atividades poderiam ser desenvolvidas em

2X2 e 1X1.

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De referir que a Wii é uma consola de videojogos lançada pela Nintendo

em 2006 e que se destaca pelo facto de proporcionar ao jogador um controlo

remoto sem fios dotado de um acelerómetro capaz de detetar movimentos a

três dimensões.

A escolha desta consola não foi por acaso. O núcleo de estagiários teve

em conta as particularidades desta consola e o facto de permitir uma maior

interação aos seus praticantes, enquanto produz uma multiplicidade de

benefícios físicos para a saúde.

Para além de manter a mente ativa, a Nintendo Wii permite reduzir

calorias e melhorar a coordenação motora dos jogadores, pelo que existem já

técnicos de fisioterapia que aliam a prática desta atividade nas suas sessões.

A utilização da Wii proporcionou também aos alunos uma maior

interatividade corporal no jogo, permitindo assim uma vertente direta aliada à

disciplina de educação física.

Durante a execução organizativa do evento, lembramo-nos também de

solicitar a colaboração da turma de pastelaria do CEF, que confecionou e

vendeu pizzas no recinto escolar. Desta forma proporcionou-se aos alunos a

possibilidade de comer algo enquanto deambulavam pelas atividades e a

possibilitar também aos estudantes da turma referida a angariação de receitas

para a sua viagem de finalistas.

Para além do sucesso alcançado com a atividade da Wii, que obteve

centenas de inscrições para a sua competição, também os torneios de

matraquilhos e ténis de mesa ultrapassaram as expetativas. A título ilustrativo,

alcançou-se um total de 110 alunos no torneio de matraquilhos.

Este foi um evento que se revelou sem problemas na sua organização. A

comunidade escolar participou em peso no evento e o mesmo recebeu

bastantes elogios por parte da comunidade docente.

Também aqui, obtivemos uma excelente interação com os alunos, tendo

o corpo docente participado nas atividades proporcionadas pela Wii, facto que

agradou aos alunos, ue se divertiram a ver os professores a “fazer disparates”

e nos viram, assim, como membros da sua comunidade.

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“Os alunos adoraram quando eu, o pessoal e o professor Fernando participamos no

jogo de dança. Fartaram-se de rir e acho que sentiram como se nós fossemos um deles, o que

melhorou a nossa interação”

(Diário de bordo, 17 de Dezembro de 2013)

Aliou-se assim lazer e divertimento à vertente lúdica, desportiva,

recreativa e educacional, tendo-se conseguido passar a mensagem de que se

deve praticar desporto de forma regular e saudável, mesmo através da prática

de atividades em contexto doméstico.

4.2.1.4.2. 2º Período

Raid BTT

O raid BTT consistiu uma atividade realizada pelo núcleo de estágio de

EF com a aprovação e ajuda do PC.

Antes de abordar a atividade, importa referir que a mesma ocorreu no 1º

e 2º período do ano letivo, pelo que será explanada neste ponto, ao qual se

fará referência mais adiante.

Esta atividade consistia na concretização de um circuito de BTT pelos

caminhos da freguesia de Sobreira, num circuito de 15 km, executado em cerca

de 2 horas e meia.

Para esta atividade, destinada aos alunos de 2º e 3º ciclo, os

professores do grupo forneceram aos alunos capacetes e coletes refletores

para assegurar a segurança e visibilidade dos mesmos, sendo que os

estudantes trariam as suas bicicletas.

O percurso selecionado pelos professores teve em conta a sua

dimensão, bem como o bom estado dos terrenos e boa sinalização dos

caminhos, para que não surgissem situações de perigo.

Também para aumentar a segurança, foi transmitido antes do início do

raid aos alunos que não poderiam ultrapassar os colegas, garantido um

professor no início do percurso, outro a meio da fila de alunos e outro professor

no final, assegurando que ninguém se perderia ou ficaria para trás.

Esta foi uma atividade que nutriu nos alunos uma felicidade notória e um

divertimento garantido. Os alunos sentiram-se como que livres do contexto

escolar, tendo involuntariamente aprendido sobre ar livre e natureza.

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A capacidade que um professor tem de ensinar a brincar é notoriamente

bem recebida pelos alunos daqueles ciclos de ensino, mas requer uma grande

criatividade e dinamismo, que aumentam de necessidade quando a área

delimitativa de trabalho diminui.

Com esta atividade, foi possível promover a prática de desporto ao ar

livre e de natureza, ampliando o conhecimento cultural, patrimonial e

paisagístico dos alunos e também de alguns professores que, tal como eu,

passaram a conhecer melhor aquela localidade.

Para além destes fatores, a atividade promoveu também a comunicação

entre turmas e estreitou laços de cooperação e amizade.

Dia da dança

A atividade supracitada ocorreu sobre a organização e planeamento do

grupo de EF. O dia da dança traduz-se numa atividade que pretende conceder

aos alunos a apresentação de momentos artísticos de componente musical em

contexto individual ou em grupo, facto que suscitou de imediato a curiosidade

do público-alvo, nomeadamente o feminino, tendo existido para esta atividade

imensas inscrições.

Aqui, pude observar um empenho imenso por parte dos alunos inscritos

em desempenhar um bom papel perante o universo escolar e percecionar o

aumento da autoestima de determinados estudantes, bem como o

potenciamento da sua integração em contexto escolar.

“Nunca esperei ue a atividade de dança tivesse tantas inscrições!”

(Diário de bordo, 28 de Fevereiro de 2014)

Em suma, deve ser referida a opinião de que se deverão realizar mais

atividades deste género nas escolas, não apenas em contexto de final de um

ciclo letivo mas durante todo o ano, uma vez que se traduzem em atividades de

“ uebra-gelo” para os alunos, permitindo o rompimento da rotina diária dos

alunos, e o reforço de amizades, bem como o desenvolvimento de

competências socio-afetivas e psicomotoras.

.

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4.2.1.4.3. 3º Período

Torneio de escada em Ténis de Mesa

O torneio de escada foi um torneio realizado por um colega de estágio

que consistiu na prática de atividades de ténis de mesa em regime competitivo.

Este torneio foi realizado sob a forma de escada, que consiste numa prova com

uma classificação inicial pré-definida.

Neste torneio os participantes defrontam (desafiam) jogadores melhor

classificados com vista a melhorar o seu ranking.

Este tipo de torneio está bastante generalizado em muitos clubes e

associações de ténis, tendo ganho o estatuto de prova social.

Para a estruturação das classificações a atenção e foco na organização dos

resultados de jogo revelou-se imprescindível, tarefa que me foi pedida pelo

colega de estágio e que executei no dia do evento.

Uma vez que eram 32 alunos, a tarefa revelou-se ainda mais complicada

mas permitiu que desenvolve-se mais competências ao nível estratégico e

organizativo.

“ (...) mas as grelhas dos resultados no início eram um pouco difíceis de gerir. (...) conseguimos

lançar todos os resultados em tempo útil e sem erros.”

(Diário de bordo, 13 de Maio de 2014)

4.2.1.5.Construção, reparação e aperfeiçoamento de material desportivo

Apesar de desde o primeiro dia de aulas ter notado algumas deficiências

relativas a algum material desportivo, foi em contexto diário que me fui dando

conta de todas as falhas inerentes a esta temática.

Na minha opinião, a maior parte das escolas possui apenas o material

essencial para a prática das modalidades mais frequentemente lecionadas,

pelo que se torna uma tarefa desafiante para um professor encontrar meios

para que novas modalidades possam ser dadas a conhecer aos alunos. E refiro

este assunto por experiência própria, uma vez que senti neste ponto

dificuldades de gestão de atividades que, com recurso a devido material,

poderiam ser melhor abordadas.

Neste âmbito, cedo reparei que duas grandes falhas existentes na

Escola básica 2/3 de Sobreira prendiam-se com duas modalidades usualmente

lecionadas em EF: O basquetebol e o voleibol.

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“Nesta escola os cestos de basquete não estão em condições e devia

haver mais uma rede de voleibol (...) ”

(Diário de bordo, 26 de Novembro de 2013)

Na primeira modalidade, a falha das redes nos cestos de basquetebol

foram a mais rapidamente supervisionada, pelo que de imediato, e depois da

concordância do PC nesta minha iniciativa, prontifiquei-me a repará-la.

No basquetebol, e segundo as Regras Oficiais de Basquetebol 2010

(Federação Portuguesa de Basquetebol, 2010, p. 9, Art.º 3) aprovadas pela

FIBA Central Board, a prática da modalidade deverá compreender dois cestos:

“o cesto ue atacado por uma e uipa o cesto do adversário e o cesto ue

defendido por uma equipa é o seu próprio cesto”.

Estes cestos, situado cada um numa extremidade central do campo,

compreenderão os aros e as redes.

No que refere às redes, estas deverão ficar solidamente fixadas às

tabelas, num plano horizontal, na altura de 3,05m do piso e equidistante das

bordas verticais da tabela, sendo que o ponto mais próximo da borda interior

dos aros deverá estar a 15 cm da superfície da tabela.

Tendo em conta os fatores acima referidos, procedi ao reparo das redes

de basquetebol, promovendo assim a consequente melhoria do material da

escola e facilitando o ensino da atividade, agora proporcionado de uma forma

mais correta e num contexto mais adaptado à realidade da modalidade

desportiva.

Relativamente à modalidade de voleibol, a falha já não passaria por uma

deficiência material, mas sim organizativa. Quer isto dizer que para a prática da

modalidade na Escola EB 2/3 de Sobreira reparei que os alunos só poderiam

usufruir de um campo, ou seja de uma rede.

Assim, considerei pertinente construir uma rede de voleibol amovível

para que os alunos pudessem usufruir da mesma e esta fosse também

utilizada em contexto letivo pelos professores, facto que posteriormente

aconteceu e me fez sentir útil e agradado.

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Para a construção da rede de voleibol utilizei uma rede de pesca de 18

metros, 4 serra cabos e 20 metros de cabo de aço e conclui a tarefa com

facilidade que foi posteriormente utilizada em diversas ocasiões (anexo 5).

Esta minha iniciativa teve boas repercussões, traduzindo-se numa

melhoria significativa da prática da modalidade de voleibol na escola, pelo que

mais alunos puderam praticar voleibol ao mesmo tempo, promovendo a

integração e o divertimento.

“ (...) eles começaram logo a jogar, mal acabei de construir a rede. Ficaram todos

contentes e disseram que agora já podiam ogar voleibol mais vezes”

(Diário de bordo, 13 de Maio de 2014)

Também aqui, passei a visualizar professores a utilizar o material por

mim construído, facto que me deixou mais uma vez feliz, por ter podido

contribuir para a melhoria da escola, promovendo o gosto e vontade de praticar

as modalidades, facto que se traduziu também na maior dedicação e empenho

nas aulas.

4.2.1.6. Hóquei em Campo

A elaboração de atividades que abordassem a modalidade de hóquei em

campo surgiu devido às minhas competências profissionais inerentes à prática

de hóquei em patins, conforme abordado no ponto n.º 1 deste relatório.

Esta atividade realizou-se em contexto letivo, fora do planeamento anual, tendo

desenvolvido esta atividade em 5 aulas com a minha turma e em 3 aulas com

as turmas quinzenais do CEF e PIEF.

A mesma prática foi também abordada em contexto do Desporto

Escolar, nomeadamente como modalidade de substituição face à

impossibilidade de execução das pré-estabelecidas, como foi o caso da sua

lecionação quando as caminhadas não se podiam concretizar por motivos

atmosféricos.

“Ho e os alunos do CEF experimentaram o hóquei em Campo, a alegria e desempenho

demonstrado por eles nesta modalidade abriu uma alegria para mim, como um objetivo

conseguido (...) ”

(Diário de bordo, 23 de Abril de 2014)

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O Hóquei em campo é uma modalidade desportiva coletiva criada na

Pérsia há milhares de anos e reestruturada no século XIX em Inglaterra, cujas

equipas possuem 11 jogadores e que tem como objetivo tentar marcar o maior

número de golos possíveis na baliza adversária conduzindo a bola, num campo

devidamente sinalizado, com um stick.

O stick, ou taco, é geralmente feito de madeira ou fibra de carbono que

pode pesar até cerca de 7kg, variando de comprimento, tipo de construção e

curvatura de acordo com a preferência do jogador.

Apesar de manter algumas semelhanças com o Hóquei em Patins pelo facto de

ser jogado com um stick e uma bola, o Hóquei em Campo é uma modalidade

diferente, que se destaca sobretudo pela inutilização de patins na sua

execução, ao contrário do que acontece no primeiro.

O hóquei em campo é jogado com 11 jogadores em cada equipa num

campo com dimensões próximas das do Futebol (enquanto o hóquei em patins

se joga num ringue de patinagem com dimensões consideravelmente menores

e com 5 jogadores em cada equipa), sendo que o Hóquei em Campo possui

também uma variante indoor, jogada com equipas de 5 jogadores.

Assim, decidi elaborar atividades tendo em conta as regras de hóquei em

patins, mas jogado como o hóquei em campo, sem patins.

De ressalvar que durante a execução das aulas foram explicadas aos

alunos as diferenças existentes entre as duas modalidades, bem como regras,

manuseamento e condições espaciais requeridas em ambas.

A utilização da demonstração nesta atividade considerou-se essencial para a

boa compreensão e boa execução do manuseamento do material

Na abordagem da modalidade aos alunos foram executadas diversas

situações de jogo por equipas bem como a realização de jogos 5X5. Sobre este

aspeto importa referir a limitação na finalização das situações abordadas, uma

vez que a escola não possuía material necessário para a prática do mesmo,

nomeadamente ao nível das proteções de segurança para guarda-redes.

Assim, para a execução da atividade foram necessárias balizas, que

improvisei através da utilização das barreiras de atletismo existentes no recinto

e sticks de hóquei, que passei a construir.

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Construção de Sticks

Para a prática da modalidade abordada acima, procedi à construção de

24 sticks. Estes sticks foram construídos com base no modelo de stick que

possuía em casa, do qual tirei o molde tendo solicitado para a sua construção a

ajuda de uma fábrica de móveis. Para uma melhor perceção do resultado,

consultar foto em anexo (ver anexo 6 e 7).

De seguida, comprei bolas de ténis e procedi à explicação e

consequente experimentação desta modalidade nova naquela escola, cuja

participação motivou os alunos. Mesmo os alunos que não pertenciam às

turmas que lecionei abordavam-me em contexto escolar para saber mais

informações sobre a modalidade, demonstrando interesse e empenho no seu

conhecimento e experimentação.

Confesso que me senti realizado na concretização desta tarefa, tendo

sido inclusivamente felicitado pela modalidade implementada em contexto

escolar.

“Os sticks agora vão ficar na escola e já percebi que vão ser muito utilizados, tendo em conta o

número de miúdos que vieram falar comigo a querer aprender a modalidade. (...) os

professores também gostaram da ideia (...) ”

(Diário de bordo, 27 de Março de 2014)

Jogo da macaca e jogo barra forte

Com o decorrer do ano letivo, o núcleo de estagiários, no qual me incluo,

ficou com a incumbência de pensar e refletir sobre projetos a organizar em

contexto escolar bem como analisar problemas e possíveis soluções afetas a

mesma comunidade.

Desta tarefa, solicitada pelo PC, surgiu a ideia de construir/criar novos

jogos no recinto escolar como forma de possibilitar aos alunos a possibilidade

de novos desportos e servir como meio de ocupação de tempos livres na

escola.

Nesse sentido, criamos no recinto demarcações para o jogo da macaca

e para o jogo barra forte.

O primeiro jogo consiste em saltar sobre um desenho riscado

(normalmente a giz, mas neste caso pintados a spray) no chão, que pode ter

inúmeras variações. Usualmente, os participantes têm de pular só com um pé

ou executar movimentos, dependendo da casa em que calham, estruturadas de

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forma quadrada ou retangular e normalmente numeradas de 1 a 10 com uma

casa final, de forma oval.

O jogo barra forte é um jogo por equipas. Este jogo consiste em fazer

com que uma equipa, normalmente de três a cinco elementos, passe as barras

dos adversários visíveis pela estrutura desenhada no chão, e regresse à linha

de partida sem que a outra equipa toque em nenhum elemento da que procura

passar as barreiras, caso contrário perde-se o jogo.

A escolha deste jogos deveu-se ao facto de serem atividades de índole

popular, muito em voga no nosso tempo e dos nossos pais, que estão a deixar

de existir no contexto atual.

Fornecer a possibilidade de conhecimento e prática destes jogos torna-

se um fator primordial para que os mesmos não caiam no esquecimento e no

consequente desconhecimento por parte das gerações futuras.

Assim, e dada a energia e simplicidade dos jogos, os alunos poderiam

divertir-se de forma saudável e em contacto com a natureza, fomentando a

interação entre alunos e promovendo a melhoria da agilidade e coordenação

motora.

Ação de formação de natação

A ação de formação de natação foi outra ideia do núcleo de estagiários

que permitiu obter avanços e melhorias técnico-profissionais junto dos

restantes membros do grupo de EF.

Esta ação de formação surgiu devido à perceção do núcleo de

estagiários de que alguns professores do grupo desconheciam algumas regras

chave para a prática de algumas modalidades, nomeadamente natação.

Assim, foi preocupação do núcleo de estágio prestar apoio aos restantes

professores, nomeadamente ao nível da partilha de conhecimento,

proporcionando uma maior abrangência a vários níveis.

Desta forma, procedeu-se assim à implementação de uma ação de

formação para quatro professores do grupo, que teve lugar na escola e em

horário marcado pelo PC, em que foram abordados aspetos relativos à

modalidade de natação, nomeadamente técnicas, questões relacionadas com a

segurança, utilização de material e demonstração de movimentos.

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Por minha parte, e dado que o núcleo de estágio dividiu tarefas para

esta ação, fiquei encarregue de explanar ao corpo docente o AMA – Adaptação

ao meio aquático.

A adaptação ao meio aquático define-se pela primeira fase da formação

de um nadador, denominada igualmente de fase de aprendizagem e consiste

num conjunto de condutas motoras em resposta a questões variadas e

dominadas pela presença da água com vista à aquisição de habilidades

motoras aquáticas básicas.

Esta ação de formação permitiu o desenvolvimento do conhecimento

relativo à temática abordada do corpo docente presente na mesma, bem como

a interação entre professores num contexto diferente do habitual.

A título pessoal, senti-me útil à comunidade educativa uma vez que pude

prestar o meu contributo a nível de conhecimentos teórico-práticos de uma

modalidade.

4.3 Desenvolvimento Profissional

Na verdade, e segundo me venho a aperceber ao longo das práticas

(porque só neste contexto é possível compreender estas definições), o papel

de um professor passa por abraçar um sem número de competências a todos

os níveis que são estruturadas de acordo com o contexto escolar, uma vez

que, conforme refere Perrenoud (2000) "Não é possível formar professores

sem fazer escolhas ideológicas. Conforme o modelo de sociedade e de ser

humano que defendemos, não atribuiremos as mesmas finalidades à escola e,

portanto não definiremos da mesma maneira o papel dos professores”

Na Escola Básica 2/3 da Sobreira senti que estava num local onde as

minhas linhas ideológicas iam de encontro àquela realidade escolar. Senti,

acima de tudo, que ali pude desenvolver competências, tornar-me um

profissional melhor e também uma melhor pessoa.

Mas afinal o que e quais são estas competências, tão importantes para o

desenvolvimento profissional de, neste caso, um professor?

Assumindo desde já a complexidade do próprio conceito de competência

pode-se, no entanto, referir que as palavras mais frequentemente atribuídas à

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100

palavra são conhecimento, habilidade e situação, com o “conhecimento a

assumir o papel de maior destaque” (Batista et al., 2008, p. 321).

Atribuindo, de facto, um papel primordial do conhecimento num contexto

letivo, uma vez que, conforme refere Alonso (1995), “a essência duma

profissão possuir um corpo coerente e estruturado de conhecimentos”, esta

não é, conforme refere Perrenoud (cit. por Batista et al., 2008, p.384) “(...)

suficiente para se ser competente, pois é necessário saber utilizá-lo”.

Assim, e dada a complexidade e diversidade das situações de ensino,

estes conhecimentos necessitam de serem postos em prática de acordo com

as exigências do contexto educativo: quanto mais conhecimentos o professor

possuir sobre as condições em que o ensino se processa, mais possibilidades

terá de desenvolver experiências de aprendizagem de qualidade.

Conhecimento e prática são então duas características inerentes à

competência educacional. Mas, como o interesse em abordar o assunto surge

diretamente ligado à docência, existe um outro fator que faz com que, como

refere Batista (2008, p.321) o “ (...) desempenho profissional competente (...)”

não se a só ao “(...)n vel de competência ad uirido(...)” como tamb m ao n vel

da “autoavaliação ue cada um faz das suas competências”, uma vez que, e

segundo o mesmo autor, “um professor ue apresente valores elevados de

auto perceção da sua competência tende a estar mais motivado para as suas

tarefas e a desenvolver um esforço superior para cumprir os seus objetivos”.

Tendo por base o conhecimento, a prática e a autoavaliação, poder-se-á

dizer, então, que estão reunidas as linhas que compõem a competência no

contexto educacional. Somando-se a este apenas uma nuance, a da reflexão,

capacidade de resolução de problemas e gostar do que fazem. “Os professores

competentes(...) têm atitudes de reflexão e resolução de problemas e (...)

consideram o processo de aprender a ensinar um processo para toda a vida”

(Arends, 1995, p. 27).

Assim, cada professor deverá ter a capacidade de desenvolver o seu

próprio quadro interpretativo sobre o ato educativo. Para isso é necessária uma

reflexão sistemática que, segundo Oliveira e Serrazina (2002) “(...) permite ao

professor voltar atrás e rever acontecimentos e práticas, proporcionando uma

oportunidade para o seu desenvolvimento”.

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Neste contexto, e implementando desde já o meu exemplo na temática

do capítulo, sinto que o meu desenvolvimento profissional passou muito por

executar de forma sistemática e fundamentada esta prática.

Através do meu diário de bordo, cujas reflexões utilizo mesmo como

instrumento avaliativo do meu percurso curricular, desempenho grande parte

da análise das experiências vividas que me possibilitaram encontrar formas

mais adequadas de prática bem como alternativas didáticas para enfrentar as

situações e problemas.

Para além desta ferramenta de apoio, também as reflexões que

resultaram maioritariamente através de conversas informais com o universo de

professores e colegas que foram acompanhando o meu estágio se tornaram

um ato reflexivo importante que permitiu aprimorar a minha intervenção

pedagógica, partilhar ideias, abordar e minimizar medos, ansiedades e

problemas, clarificar conceitos, desenvolver projetos... Acima de tudo melhorar

enquanto pessoa e profissional.

Esta interação, maioritariamente reflexiva, surgiu em contexto escolar

(reuniões, conversas na sala de professores, assistência a aulas) e mesmo fora

daquela comunidade (almoços), uma vez que as convivências foram-se

moldando à amizade, que permitiu uma maior a abertura face à abordagem de

temas que, por determinados contexto e situações, se tornam complicados de

referir quando se trata de uma conjuntura mais formal.

O prazer no resultado e reconhecimento revela a importância que os

restantes membros da comunidade escolar detiveram na melhoria do meu

desenvolvimento profissional.

De facto, e de uma forma geral, enriqueci-me muito enquanto pessoa e

Professor, com a vivência com todas as pessoas constituintes da comunidade

escolar.

Com o pessoal não docente, aprendi a importância das conversas

informais, base do contato com os alunos. A este nível percebi que a

colaboração do pessoal não docente para o desenvolvimento profissional de

um professor revela-se uma mais-valia, uma vez que os alunos tendem a

revelar de uma forma mais abrangente os seus problemas, dúvidas e opiniões

a estes trabalhadores, por verem transporta a barreira formal. Esta colaboração

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estreita permite assim que o professor veja no pessoal não docente um eco

dos alunos.

Também aqui a prática na coordenação de turmas, materiais e

instalações que estes trabalhadores detêm foi um exemplo que tive em conta

na frequência do estágio. Foi interessante aperceber-me da capacidade que

estas pessoas têm de abordar os alunos, o respeito que estabelecem nestas

relações, a forma como se entregam às suas funções e obrigações, bem como

da pedagogia que fazem questão de ter na base da sua postura. Exemplos a

ter em conta e a recordar para o resto da vida.

No que respeita aos alunos, deverá dizer-se que esses revelaram-se o

pilar do meu desenvolvimento, não só profissional, mas também pessoal. Com

eles estabeleci uma relação baseada no respeito mútuo, na cooperação,

entreajuda, na justiça e no diálogo.

Apesar de por vezes difíceis de lidar, os meus alunos, e referi-os com

um pronome possessivo porque a afetividade é uma das competências

inevitáveis e que se vão desenvolvendo em contexto escolar, permitiram tornar-

me uma pessoa mais paciente e tolerante, comunicativa e analítica.

No que refere à vertente comunicativa, embora revelando ainda algumas

dificuldades inerentes que serão melhoradas apenas através da prática,

também aqui desenvolvi competências, tendo por vezes conseguido, e citando

Freire (1996, p. 96) “(...)trazer o aluno até à intimidade do movimento do seu

pensamento”.

Com eles aprendi também a (re) conhecer o excelente sentimento de

missão cumprida, sempre que alguma atividade era bem-sucedida ou

conseguia fazer com que os alunos revelassem índices de motivação mais

elevados, ou ainda quando atingiam objetivos acima do espectável. Um

exemplo disso foi aquando da implementação do hóquei em campo, atividade

em que senti um tremendo reconhecimento de gratidão, motivação e alegria

dos alunos.

Assim, e tendo como certo que a relação entre professor e aluno

depende, fundamentalmente, do clima estabelecido pelo professor e da

capacidade que tem em ouvir, refletir e discutir o nível de compreensão dos

alunos proporcionando a criação de pontes entre o seu conhecimento e o

deles, assumo que me revejo como um professor que está, de facto, no bom

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caminho para se tornar cada vez mais competente e profissional, visto que foi

meu interesse repetir os traços acima, bem como os de educar para as

mudanças, para a autonomia, para a liberdade, trabalhando o lado positivo dos

alunos no sentido de os tornar cidadãos conscientes e responsáveis, dotadores

de boas competências ao nível do domínio socioafetivo e, claro está,

psicomotor.

Tendo como objetivo ser melhor pessoa e profissional, tentei também

tomar como exemplo os comportamentos, atitudes e posturas dos docentes da

escola à parte dos do grupo de EF.

Dado que a disciplina de EF aborda variadas áreas de ensino nas suas

componentes, foi meu objetivo observar outros professores ao longo do ano em

contexto letivo e mesmo abordá-los e questioná-los quanto a variados

assuntos, como meio de melhorar a minha performance educativa.

No contexto do grupo, conforme referido acima, foi aqui que mais refleti

sobre os assuntos inerentes à prática da disciplina e me entreguei às opiniões

e reflexões dos meus colegas. No entanto terei de referir que, infelizmente,

também assisti à falta de entrega à profissão por parte de alguns elementos

deste grupo (regendo-se somente às tarefas que tinham a obrigatoriedade na

sua execução) e à falta de interesse de permanecer atualizados quanto a

novas modalidades, tendências e práticas, essenciais para a consequente

melhoria das aulas a lecionar.

Mas, como aprendi ao longo da minha prática profissional, a observação,

aquisição de conhecimentos, a preocupação em praticar e a reflexão, são

matérias a ter em conta. E em conta há que ter também a capacidade de

analisar e de me adaptar ao contexto escolar, sabendo extrair do mesmo

apenas o que considero útil para atingir os objetivos a que me propus: ser um

excelente professor.

Assistência a Aulas

A assistência a aulas revelou-se para mim uma tarefa sistemática, uma

vez que se encontrava definida nas linhas programáticas do processo

pedagógico.

Esta tarefa é, a meu ver, uma das tarefas que mais permite abordar,

avaliar e refletir sobre métodos, posturas e comportamento a ter em conta

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durante o exercício da prática profissional.

A par dos benefícios que se verificam para o observador, tais como a

analise do que devemos ou não ter em conta para a melhoria da nossa

abordagem em particular, a assistência à aulas permite também conceder ao

observado uma análise critica e avaliativa importante também para o

desenvolvimento profissional do mesmo.

Assim, durante todo o ano letivo assisti a todas as aulas no núcleo de

estágio bem como do professor cooperante, entregando também avaliações

sobre as aulas que os colegas estagiários lecionaram.

Estas avaliações, 10 para cada colega estagiário, constituíram um

processo eficaz de recolha de informações que permitiram tirar conclusões

sobre o desempenho, e estruturar (novas) metas de desenvolvimento, tendo

sido avaliadas com base em critérios como o comportamento do professor na

aula, a sua capacidade comunicativa, os estilos e técnicas de ensino utilizadas,

a organização e gestão de espaço, entre outras considerações que se

julgassem pertinentes.

Com este conjunto de avaliações realizadas ao longo de todo o ano

letivo, procurámos potenciar a qualidade da nossa prática pedagógica,

aplicando diferentes estratégias de intervenção, tendo sempre em vista o

aperfeiçoamento do nosso processo evolutivo enquanto professores.

A meu ver, tanto a assistência às aulas como a avaliação das mesmas

desempenharam um papel fundamental na melhoria da qualidade do meu

desempenho enquanto professor, potenciando a consequente melhoria da

aprendizagem. Isto traduziu-se como um certo fator de mudança na escola,

facto sentido e presenciado pelas atitudes e conversas de pais de alunos e

pessoal da comunidade, que muitas vezes revelaram sentir melhorias em

vários aspetos como a qualidade das atividades e melhoria de notas e

comportamentos de alunos, vivenciado por mim e catalisado como fonte de

motivação e inspiração para novas e melhores abordagens educativas.

Também sobre este ponto importa referir a importância que considero a

presença do PO em algumas aulas, que se traduziu no encorajamento e apoio

prestado em muitas situações bem como no aconselhamento com vista ao

desenvolvimento adequado das práticas e melhoria profissional.

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“Ho e o Prof. Orientador veio à escola e esteve a observar a aula de natação. (...) disse que eu

devia melhorar alguns pontos no meu discurso e na organização da aula(...)”

(Diário de bordo, 18 de Março de 2014)

A assistência às aulas permitiu-me perceber o quão importante é

observar, como refere Aranha (2005) “ (...) não só ao nível da análise da

prestação dos alunos, mas também da avaliação dentro da própria prática

docente.”. Esta tarefa permitiu-me analisar, avaliar e identificar erros,

permitindo melhorar a minha prestação profissional.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS5.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Que presente para o meu futuro?

É com a apresentação do presente relatório que finda mais uma etapa da

minha vida: mais um ciclo que se fecha e um novo que se inicia.

Mas que valias transporto eu, provenientes deste estágio? Que mudanças senti

como repercutoras de 5 anos académicos? Que presente terei para o meu

futuro?

Os anos de frequência de licenciatura e mestrado foram os que mais

contribuíram para a minha formação enquanto jovem assumidamente convicto

de que o ensino é a minha grande paixão e arte. Foi no seu decurso que

conheci pessoas, adquiri conhecimentos e vivenciei experiências

verdadeiramente fulcrais na aquisição das competências que hoje assumo

possuir. Um grande exemplo disso foi o estágio vivenciado no decurso deste

ano e que mais do que servir de base para a execução do presente relatório foi

o pilar do meu desenvolvimento profissional.

A este nível assumo e refiro que mais do que as competências adquiridas,

experiências vividas e amizades e relações estabelecidas; a maior alegria que

partilho foi a possibilidade de concretizar aquilo que há muitos anos ambicionei

que acontecesse: trabalhar em prol da comunidade educativa, ensinando e

aprendendo, sempre com vista à melhoria pessoal e profissional,

Constato agora a certeza de que não basta querer para ser; ter-se-á sempre de

se fazer por se ser. E se hoje sei que posso ser um excelente professor,

também sei que só a prática me vai ensinar como atingi-lo.

Apesar de saber e sentir que um ciclo termina aqui, não é certamente de

sorriso no rosto que encaro esta nova fase da minha vida.

O panorama atual no contexto educativo, a envolvência emigratória que me

abrange a nível familiar e amistoso e a realidade profissional de docentes da

minha área não permite grandes contentamentos em relação a prognósticos

futuros.

Sei, no entanto, que em contexto de campo que poderei fazer valer as

competências que um professor, para além do ensino, deverá possuir:

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ferramentas pessoais e profissionais autênticas e pensadas, que permitam

destacar-se dos demais da área. Mais do que um professor, não me limitarei a

passar informações que considero uteis, mas incumbir-me-ei também de

formar cidadãos capazes de fazer deste mundo um lugar melhor, mais

saudável, integrativo, e capaz, para que o seu futuro profissional não seja (tão)

questionável como meu.

Esta possibilidade que tenho de mudar a realidade do mundo em si, é o

meu presente para o futuro.

E que seja um futuro presente.

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6. REFERÊNCIAS

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111

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XIII

ANEXOS

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XIV

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XV

Anexo 1 – Plano de Aula

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XVI

Anexo 2 – Folheto Informativo

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XVII

Anexo 3 – Grelha Valorativa

Anexo 4 –

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XVIII

Anexo 4 - Flyer Torneio Wii® Games, Matraquilhos e Ténis de Mesa

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XIX

Anexo 5 – Rede de Voleibol

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XX

Anexo 6 – Execução da modalidade Hóquei em Campo

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XXI

Anexo 7 – Sticks de Hóquei