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Anais do IV Simpósio sobre Formação de Professores – SIMFOP Universidade do Sul de Santa Catarina, Campus de Tubarão Tubarão, de 7 a 11 de maio de 2012 1 A ÁFRICA ESTÁ EM NÓS: CONHECENDO NOSSAS RAÍZES Ademir Jacinto Jacques Amanda Matias de Souza Andréa Aparecida Santos Bach Daíse Silva da Motta Eduardo dos Santos Henrique Fabiana Maiato Pessoa da Silva Jaíne Mota Mendes José Couto Rocha Neto Lauro Tonhon Neto Maiara Souza da Silveira Maria Angélica Corrêa Olívia Rochadel Sheila Teresinha Viana Bardini Tamara da Silva Tamara Flor Silverio Resumo: Tendo em vista as Lei n° 11.645, de 10/03/2008 que determina que as escolas brasileiras devam ensinar e discutir as culturas africanas, em diferentes áreas do conhecimento bem como a formação da sociedade nacional, neste ano, foram planejadas pelos supervisores e bolsistas do Programa de Incentivo e Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) na Escola de Ensino Fundamental Professor Fernando Valter (Tubarão, SC) atividades relacionadas a cultura africana. Assim, buscou-se trazer elementos da cultura africana para a sala de aula a fim de que os alunos reconhecessem suas contribuições para o nosso país, como influências na culinária, na língua, nas músicas, nas danças e nas brincadeiras. A matemática pode ser inserida neste contexto através da música, com letras que apresentam operações e propriedades matemáticas e com os instrumentos musicais, enfocando a geometria e as medidas nas receitas de alimentos afro-brasileiros. Já a Língua Portuguesa enriqueceu-se com expressões e nomenclaturas africanas e com os contos, mitos e religiões. Assim, através da leitura, quis-se que os alunos conhecessem e se encantassem com os contos africanos e se enriquecessem de sua cultura. Com o conhecimento adquirido sobre a culinária afro-brasileira, trabalhou-se a importância nutricional dos diversos pratos consumidos na comunidade escolar, bem como as variantes de sua nomenclatura nas regiões brasileiras. Palavras-chave: África; Cultura; Dança; Linguagem; Brincadeira; Culinária. Como a áfrica chegou até nós? Moro no Brasil Não sei se moro muito bem ou muito mal Só sei que agora faço parte do país Inteligência é fundamental. (Seu Jorge / Gabriel Moura / Jovi / Wallace Jeferson) Quando se fala sobre o “descobrimento do Brasil”, nota-se que muitos livros didáticos e pessoas apregoam esse feito à figura do navegador português Pedro Álvares Cabral, no ano de 1500. Contudo, sabe-se que os primeiros descobridores do nosso território foram as antigas comunidades que chegaram à América no período pré-histórico e, com o passar do tempo, formaram diversas civilizações. Tais comunidades só foram chamadas de “indígenas” e os seus integrantes de “índios” com a chegada dos europeus. Esse nome foi dado porque, quando

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Tubarão, de 7 a 11 de maio de 2012

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A ÁFRICA ESTÁ EM NÓS: CONHECENDO NOSSAS RAÍZES

Ademir Jacinto Jacques Amanda Matias de Souza

Andréa Aparecida Santos Bach Daíse Silva da Motta

Eduardo dos Santos Henrique Fabiana Maiato Pessoa da Silva

Jaíne Mota Mendes José Couto Rocha Neto

Lauro Tonhon Neto Maiara Souza da Silveira

Maria Angélica Corrêa Olívia Rochadel

Sheila Teresinha Viana Bardini Tamara da Silva

Tamara Flor Silverio Resumo: Tendo em vista as Lei n° 11.645, de 10/03/2008 que determina que as escolas brasileiras devam ensinar e discutir as culturas africanas, em diferentes áreas do conhecimento bem como a formação da sociedade nacional, neste ano, foram planejadas pelos supervisores e bolsistas do Programa de Incentivo e Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) na Escola de Ensino Fundamental Professor Fernando Valter (Tubarão, SC) atividades relacionadas a cultura africana. Assim, buscou-se trazer elementos da cultura africana para a sala de aula a fim de que os alunos reconhecessem suas contribuições para o nosso país, como influências na culinária, na língua, nas músicas, nas danças e nas brincadeiras. A matemática pode ser inserida neste contexto através da música, com letras que apresentam operações e propriedades matemáticas e com os instrumentos musicais, enfocando a geometria e as medidas nas receitas de alimentos afro-brasileiros. Já a Língua Portuguesa enriqueceu-se com expressões e nomenclaturas africanas e com os contos, mitos e religiões. Assim, através da leitura, quis-se que os alunos conhecessem e se encantassem com os contos africanos e se enriquecessem de sua cultura. Com o conhecimento adquirido sobre a culinária afro-brasileira, trabalhou-se a importância nutricional dos diversos pratos consumidos na comunidade escolar, bem como as variantes de sua nomenclatura nas regiões brasileiras. Palavras-chave: África; Cultura; Dança; Linguagem; Brincadeira; Culinária. Como a áfrica chegou até nós?

Moro no Brasil Não sei se moro muito bem ou muito mal Só sei que agora faço parte do país Inteligência é fundamental. (Seu Jorge / Gabriel Moura / Jovi / Wallace Jeferson)

Quando se fala sobre o “descobrimento do Brasil”, nota-se que muitos livros didáticos e pessoas apregoam esse feito à figura do navegador português Pedro Álvares Cabral, no ano de 1500. Contudo, sabe-se que os primeiros descobridores do nosso território foram as antigas comunidades que chegaram à América no período pré-histórico e, com o passar do tempo, formaram diversas civilizações. Tais comunidades só foram chamadas de “indígenas” e os seus integrantes de “índios” com a chegada dos europeus. Esse nome foi dado porque, quando

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chegaram ao Brasil pela primeira vez, os europeus acreditavam que tinham alcançado a Índia. De tal forma, percebemos que o termo foi resultado do contato entre os brancos e os nativos.

Com a colonização das terras meridionais recém descobertas, o homem branco europeu que se assentou no Brasil inferiorizou os povos que esta terra já habitavam: eram diferentes e muitas as nações indígenas. A partir de 1570, os intentos de submeter-se à escravidão os povos aborígines fracassaram devido a fatores, citados por Araújo (1994, p. 35), como a resistência que eles opuseram, as epidemias que os golpeavam duramente (e essas populações nunca foram muito densas), a legislação contra a escravidão indígena, a terrível mortalidade dos índios nos engenhos e fazendas e a baixa produção de seu trabalho. Restou, então, recorrer à importação de africanos, que procediam do Senegal a Angola, na costa ocidental do continente africano, das regiões centrais, como o Congo e o Zaire, e de Moçambique, na costa oriental, sendo provável que vários fossem originários de Madagascar e África do Norte. Os cativos provinham de diferentes grupos étnicos e de várias regiões, às vezes totalmente afastadas umas das outras, e eram embarcados em portos da costa. Os nomes que trouxeram para o Novo Mundo eram muitas vezes os destes portos de embarque, gerando, portanto, informações falsas ou imprecisas.

O Brasil já possuía, portanto, o que Eiró (1862 apud SÁ, p.6) chamou de “as três raças humanas que crescem no mesmo solo, simultaneamente, e quase sem se confundirem, são três colunas simbólicas que hão de reunir-se, formando a pirâmide eterna”. A nação brasileira é, desde sua gênese, heterogênea. No entanto, apenas uma dessas “colunas simbólicas” prevaleceu sobre as outras, dominando-as, tentando, por vezes, exterminá-las, ao passo que delas também necessitava, e, como já dito, inferiorizando-as.

Segundo Araújo (1994, p.35):

Três fases marcam a trajetória da escravidão africana no Brasil. A primeira delas estende-se do início da colonização até meados do século XVII, período em que se estruturava no país a plantation açucareira, apoiada no trabalho escravo. Após 1620, os africanos superaram numericamente os escravos índios. Uma segunda etapa, que vai de meados do século XVII até 1791, caracteriza-se pelo surto da exploração das minas de ouro e diamantes e pela expansão da economia de plantation, onde, ao lado do açúcar, passam a ser cultivados outros produtos: tabaco, anil, cacau e algodão. Em decorrência desses fatos, no século XVIII, o tráfico de escravos africanos para o Brasil atingiu seu ponto máximo: dois milhões de indivíduos. O último período (final do século XVIII – de 1791 até 1888), foi marcado pela expansão da economia cafeeira, pelos processos graduais de abolição do tráfico escravo e, finalmente, pela abolição da escravidão (Brasil e Cuba foram os últimos países das Américas a manter essa instituição).

Mas até que se chegasse a 13 de maio de 1888, a escravidão dessocializou,

despersonalizou e destruiu identidades, visto que, para evitar qualquer coesão grupal, indivíduos das mais variadas procedências africanas foram misturados. Evitando, assim, insubordinação e revolta. O branco, que ainda conservava o status de europeu, sobretudo português, impunha sua língua e religião àquele que chegava em precárias condições de navios negreiros, desrespeitando, ao passo que tentava dissolver, marcas sociais, profissionais, religiosas e, até mesmo, corporais através de agressões e maus-tratos. No entanto, a força africana mostrou-se capaz de burlar tais imposições. O negro forjava crer no que cria o branco e a total obediência e subordinação só não conseguiu transpor o aspecto profissional, já que ao escravo cabiam as piores e mais árduas tarefas. Este processo vexaminoso gerou conflitos e barreiras, sobretudo de ordens psicológicas e sociais, que para muitos parecem intransponíveis até hoje.

Sabe-se que, após a abolição da escravatura, gradualmente voduns, eguns e orixás, juntamente com práticas religiosas, artísticas e sociais foram-se incorporando livremente ao

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que já era mestiço. Transformando e (re)criando a arte, a língua, a religião e o hábito de um povo que aprendeu desde cedo a ser intolerante a sua mestiçagem. Mas que, diante de políticas públicas e ações educacionais e conscientizadoras, como a Lei nº 11.645, que altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei nº 10.693, de 9 de janeiro de 2003, e estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.

Embasando-se na Lei e na importância substancial que a conscientização quanto a mestiçagem populacional brasileira assume papel preponderante nas salas de aula, elaborou-se e aplicou-se, na Escola de Ensino Fundamental Professor Fernando Valter, o projeto A África está em nós: conhecendo nossas raízes, que objetivou contemplar, no conteúdo curricular, diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, ressaltando a perspectiva africana e afro-brasileira, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura africana e o africano e suas contribuições na formação da sociedade nacional.

Problematização e interdisciplinaridade

A música dos brancos é negra Os dentes dos negros são brancos A pele dos negros é negra Lanço o meu olhar sobre o Brasil e não entendo nada. (Adriana Calcanhoto)

Colocando-se, educadores e educandos, como sujeitos de um processo histórico-social

de miscigenação que provocou a ampla mestiçagem da nação em que vivem e carecendo-se do saber a respeito de suas próprias raízes para que possam se ver como elementos mestiços desta nação, supervisores e bolsistas das áreas de Letras, Matemática, Pedagogia e Ciências Biológicas, do Programa de Incentivo e Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID, procuraram e proporcionaram, na Escola de Ensino Fundamental Professor Fernando Valter (Tubarão - SC), maneiras de aprender para ensinar, a partir daquilo que também o aluno sabe, sobre as raízes africanas das quais ambos são frutos.

Se problematização é a ação de refletir continuamente, buscando o porquê e o para quê das coisas; problematizar é propor a situação como problema. A problematização deve nascer da consciência que os homens, sabendo pouco a seu próprio respeito, adquirem de si mesmos. Esse pouco saber faz com que os homens se transformem e se ponham a si mesmos como problemas. O educador já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa. Ambos, assim, se tornam sujeitos do processo em que crescem juntos e em que os argumentos de autoridade já não valem. (FREIRE apud PANDINI, 2008, p.171).

A interdisciplinaridade é característica marcante do trabalho realizado pelos integrantes do PIBID. Sendo as raízes africanas o objeto a ser levado à sala de aula, buscou-se maneiras de trabalho integrador entre as áreas do conhecimento e disciplinas relacionadas tanto, e principalmente, as com enfoque direto do PIBID (Língua Portuguesa, Matemática, Ciências e Pedagogia dos anos iniciais) quanto as demais áreas e disciplinas do currículo escolar que demonstrassem afinidades com o objeto de estudo (História, Geografia, Artes, Ensino Religioso). Então, procurou-se realizar o trabalho através de cooperação e diálogo entre as disciplinas do conhecimento, por meio de ações coordenadas.

A função primordial deste trabalho desenvolvido na escola centra-se em incitar a comunidade escolar a (re)descobrir suas origens na cidadania brasileira, e portanto mestiça,

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para, a partir disto, e, espera-se, liberta de preconceitos, investigar, aprender e desvendar aspectos do cotidiano, do folclore e da gente afro-brasileira que estão intrincados em nosso ser.

Relatos das interações pedagógicas

Tudo chegou sobrevivente num navio Quem descobriu o Brasil? Foi o negro que viu a crueldade bem de frente E ainda produziu milagres de fé no extremo ocidente. (Caetano Veloso)

Nesta seção, apresentam-se metodologias, práxis pedagógica, observações, atividades,

aplicações, conexões, construções, argumentações e reflexões desenvolvidas durante a aplicação de A África está em nós: conhecendo nossas raízes.

ANOS INICIAIS – 1º AO 5º ANO As aulas interdisciplinares iniciaram com resgate histórico, conversando com os

alunos sobre a África, os africanos e a vinda para o Brasil, evidenciando que a cultura brasileira tem características próprias resultantes da mistura de diferentes povos, dentre estes o povo africano. No decorrer deste processo inicial, mostrou-se aos alunos a localização da África no mapa mundi, bem como a do Brasil, juntamente com imagens de africanos em seus países de origem, para que os alunos percebessem os modos de se vestir e a cor da pele. Neste ponto, promoveu-se uma conversa que objetivava induzir as crianças ao respeito e à valorização da cultura e do país. Então, assistiu-se a um vídeo que relatava a chegada dos africanos para cá e ainda suas marcas na cultura do povo brasileiro.

Fotografia 1 – Contextualização sobre a África para o 4º ano. Fonte: Elaboração dos autores, 2012. Após a problematização e contextualização das raízes africanas, houve, também,

espaço para o estudo interdisciplinar de conteúdos específicos, como danças, culinária e brincadeiras de origem africana.

Danças Apresentaram-se aos alunos alguns tipos de danças africanas por meio de resgaste

histórico para que tivessem um conhecimento prévio, lembrando a eles que muitas estão

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presentes em nosso país. Mostraram-se vídeos com essas danças acontecendo na áfrica e aqui no Brasil. Produziram-se textos, que foram colados nos cadernos, com explicação sobre os ritmos africanos e relatos dos tipos de danças.

Atividade prática 1: dividir a sala em grupos de 4 alunos. Cada grupo recebeu um pedaço de papel pardo e a tarefa consistiu-se em representar com imagens e palavras uma das danças ou dos ritmos aprendidos. As professoras fizeram, em cartolina, o título: A África está em nós! Danças africanas presentes em nosso país... Este material foi exposto no pátio interno da escola.

Fotografia 2 – Representação das danças de origem africana através de desenhos. Fonte: Elaboração dos autores, 2012. Atividade prática 2: confeccionar/criar um instrumento musical de origem africana. Também foram promovidos momentos com brincadeiras e atividades que

envolvessem as danças para que pudessem, além de conhecer, dançar os ritmos. Culinária As crianças tiveram a oportunidade de participar de dinâmicas, produzir cartazes,

pesquisas, textos e desenhos sobre a culinária afro-brasileira. Uma feira gastronômica foi organizada para degustação de pratos típicos da culinária afro-brasileira. Tais como: canjica, cuscuz, entre outros.

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Fotografia 3 – Dinâmica envolvendo a culinária de origem africana, com o 1º ano. Fonte: Elaboração dos autores, 2012.

Fotografia 4 – Demonstração de receita afro-brasileira. Fonte: Elaboração dos autores, 2012. Brincadeiras Contextualizou-se a influência africana nas brincadeiras das crianças brasileiras,

fazendo-se um paralelo entre as brincadeiras na África e no Brasil atualmente. Por meio de vídeos, fotos e outras imagens, mostrou-se às crianças as brincadeiras africanas. Fez-se uma lista das brincadeiras afro-brasileiras que podem ser realizadas na escola.

Atividade prática 1: Para as brincadeiras Escravos de Jó e Três Marias é necessária a decoração de cinco pedrinhas (as crianças pegaram as pedrinhas no pátio da escola) que foi realizada com tinta guache na sala de aula.

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Fotografia 5 – Pedrinhas decoradas por um aluno do 5º ano. Fonte: Elaboração dos autores, 2012. Atividade prática 2: aprender as cantigas e as regras das brincadeiras. Atividade prática 3: Na quadra de esportes do colégio, as crianças brincaram de

escravos de Jó, Três Marias, pular corda, OieboEta e Tim do Lê Lê. Após a aplicação prática das brincadeiras, as crianças fizeram ilustrações para expor na escola.

Fotografia 6 – Alunos do 2º ano brincando de pular corda. Fonte: Elaboração dos autores, 2012.

Fotografia 7 – Alunos do 2º ano brincando de Escravos de Jó. Fonte: Elaboração dos autores, 2012. ANOS FINAIS – TURMA DE CORREÇÃO DE FLUXO

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Por apresentar características peculiares na aprendizagem, escolheu-se para a interação pedagógica, nos Anos Finais, a turma de Correção de Fluxo. Esta turma estuda os conteúdos básicos das disciplinas de Língua Portuguesa, Matemática, Artes e Educação Física do 6º ao 9º ano, em um único ano, a fim de que haja a correção da defasagem entre idade e série dos alunos. Pensou-se, portanto, em como o trabalho interdisciplinar envolvendo, ainda, Ciências Biológicas e Pedagogia, por integrarem o PIBID, poderia ampliar a visão de mundo destes alunos, além do que a função da aplicação do projeto A África está em nós: conhecendo nossas raízes propõe.

Fotografia 8 – Aula na sala informatizada. Fonte: Elaboração dos autores, 2012. Para tanto, fez-se indispensável uma contextualização problematizadora, através de

aula na sala informatizada e palestra, para que o aluno percebesse o processo histórico-social que fez chegar ao Brasil o africano e o porquê de, mesmo após a abolição da escravidão, este povo aqui permaneceu influenciando a cultura, a estética, as artes, a sociedade, a política, a língua, a religião e a própria história.

Capoeira Uma maneira de reconhecer a contribuição africana para o nosso país é, em sala de

aula, enfatizar elementos de sua cultura, como a capoeira, expressão cultural que mistura lutas marciais, esporte, cultura popular e música.

Realizou-se, então, leitura, análise e ensaio da seguinte música, fruto da composição popular:

Um, dois, três, quatro Capoeira é um barato Quatro, três, dois, um Pode jogar qualquer um Um mais um são dois Dois mais dois são quatro Capoeira joga em cima Capoeira joga em baixo Sete e sete são catorze Com mais sete é vinte e um

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Vou cantando e contando Jogando com um por um A capoeira eu vou somar Não posso diminuir Praticando todo dia Pra poder me divertir Eu canto, eu conto e eu somo Multiplico a capoeira Praticando sou feliz Nessa arte brasileira Através da música, a qual a letra apresenta operações e propriedades matemáticas,

além da sensibilização quanto a importância da influência africana no Brasil, os alunos puderam aprofundar o conhecimento em conceitos matemáticos envolvendo álgebra e estatística, relacionando-os com a cultura africana e estabelecer contato com traços desta cultura, reconhecendo-a na formação da identidade cultural brasileira.

Fotografia 9 – Operacionalização de conteúdos: álgebra e estatística, com a turma de Correção de

Fluxo. Fonte: Elaboração dos autores, 2012. Mitologia, contos e cultura Os africanos que para o Brasil vieram, trouxeram consigo suas crenças, valores e

histórias. O culto aos deuses data de períodos tão remotos que se confundem com a própria existência dos homens. No Brasil, durante a escravidão, os africanos tinham que forjar suas crenças, fazendo que seus senhores acreditassem que cultuavam santos da igreja, enquanto o que realmente faziam eram associações entre estes e seus orixás. Nascia o sincretismo religioso, presente até hoje na crença mestiça do povo brasileiro. Sobre o culto aos orixás, Prandi (2007, p.155), esclarece que:

No século XIX, em diferentes partes do Brasil, a religião dos orixás tomou uma forma específica e recebeu nomes particulares: candomblé, na Bahia, xangô em Pernambuco, tambor-de-mina nagô no Maranhão, batuque no Rio Grande do Sul. No início do século XX, no Rio de Janeiro, do encontro do candomblé com o espiritismo, originário da França, nasceu a religião denominada umbanda,

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rapidamente disseminada por todo o país. E a partir de 1960, o candomblé também se espalhou por todo o Brasil.

Nota-se, contudo, que embora tenham recebido diferentes nomes, essas religiões estão

presentes em todo o território nacional. Em sala de aula, buscou-se trabalhar a leitura de contos que abordassem assuntos mitológicos de caráter africano.

Do livro O príncipe medroso e outros contos africanos, de Anna Soler-Pont, selecionou-se a leitura de A criação do universo (conto iorubá da Nigéria e de outros países da África ocidental), seguida por uma explicação sobre as personagens do conto – todas orixás. Também, teve-se a oportunidade de estabelecer paradoxos entre mito e ciência. A leitura da narrativa de aventura que leva o mesmo nome do livro também foi executada e aspectos culturais e da natureza africana foram ressaltados.

Com os contos do livro Nina África, de Lenice Gomes, Clayson Gomes e Arlene Holanda; os alunos, divididos em grupos, após a leitura e compreensão das histórias, prepararam-se para uma contação oral que aconteceu em sala de aula.

Fotografia 10 – Alunos da série de Correção de Fluxo estudando um dos contos do livro Nina África. Fonte: Elaboração dos autores, 2012. Os aspectos lingüísticos das narrativas de Nina África, somados a uma lista de

palavras pré-organizadas, levaram os alunos à pesquisa, na biblioteca da escola e sala informatizada, de seus significados e sinônimos. Preparou-se, assim, um painel sobre as contribuições africanas para a Língua Portuguesa, anexado no pátio da escola.

Considera-se que...

Tu és o mais belo dos belos Traz paz e riqueza Tens o brilho tão forte Por isso te chamo de Pérola Negra. (Miltão / René Veneno / Guiguio)

Mais do que buscar o (re)conhecimento da cultura africana e sua influência no Brasil,

pensou-se na importância de fazer com que todos os envolvidos neste projeto se reconhecesse em meio a esta cultura e sentisse orgulho de sua própria origem e formação.

A história e a cultura dos africanos são, evidentemente, parte da história do Brasil, tal como a história dos nossos indígenas e a dos colonizadores europeus, esta última sempre

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privilegiada pela escola brasileira e, durante a maior parte da história de nosso país, por praticamente todos os setores sociais, culturais, políticos, artísticos e religiosos.

Acreditamos no poder transformador e libertador atribuído à educação e que é possível mudar conceitos e paradigmas se mudarmos pessoas. Proporcionar ao aluno a oportunidade de conhecer suas origens sem imposições e sem ter do que se envergonhar é proporcionar autoestima, é proporcionar mudança.

Referências

ARAÚJO, Emanoel. Arte e religiosidade afro-brasileira. São Paulo: Câmara Brasileira do Livro, 1994. BENJAMIN, Roberto. A África está em nós: história e cultura afro-brasileira. Livro do professor. João Pessoa, PB: Editora Grafset, 2010. BRASIL. Lei nº 11.645, de 10 de março de 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 2008. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm>. Acesso em: 15 mar. 2012. ______________. Matemática na capoeira. 2009. Disponível em: < http://ssijciedropsy.blogspot.com.br/2009/12/matematica-na-capoeira.html> . Acesso em: 01 abr. 2012. PANDINI, Carmen Maria Cipriani. Didática I: livro didático. Palhoça: UnisulVirtual, 2008. PRANDI, Reginaldo. Contos e lendas afrobrasileiros: a criação do mundo.São Paulo: Companhia das letras, 2007. SÁ, Jussara Bittencourt de. Sangue limpo: amor e preconceito à dor da pele. Disponível em: <http://www.uff.br/feuffrevistaquerubim/images/arquivos/artigos/jussara_s_sangue_limpo.pdf>. Acesso em: 29 abr. 2012.