A Atuação da Justiça do Trabalho nas Ações Relativas à Redução de Trabalhadores à Condição Análoga à de Escravo

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  • 8/9/2019 A Atuao da Justia do Trabalho nas Aes Relativas Reduo de Trabalhadores Condio Anloga de Escravo

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    "A atuao da Justia do Trabalho nas aes relativas reduo de trabalhadores condio anloga de escravo"

    Embora a reduo de trabalhadores a condio anloga de escravo seja umtormento contemporneo, no podemos afirmar que se trate propriamente de um

    problema novo. Para comprovarmos tal assertiva, basta ver que desde o longnquo anode 1971 o Bispo de So Flix do Araguaia, Dom Pedro Casaldliga, vem denunciando aocorrncia desta odiosa prtica no pas. Infelizmente, entretanto, o Poder Pblicodemorou muito para dar a devida ateno ao fato, ignorando-o ao longo de anos, sejapor indiferena ou por convenincia, at que tomasse a proporo assustadora dos diasatuais.

    Atento a esta realidade, e comprometido com o combate dessa mcula social, oTRT da 23 Regio instalou em maio de 2005 as Varas do Trabalho de So Flix doAraguaia e de Juna MT. A primeira com jurisdio estendida a todo o nordeste deMato Grosso, cobrindo grande parte das suas divisas com o Par e o Tocantins. A

    segunda com jurisdio no noroeste de Mato Grosso, cobrindo parte das suas divisascom Rondnia e Amazonas. Quis o destino que eu viesse a ser juiz nessas duasunidades, que possuem importncia estratgica para o enfrentamento do problema. Naverdade, ainda hoje sou o titular da Vara de Juna.

    Durante vrios anos o Poder Pblico no se fez presente, na necessriaintensidade, nessas localidades. Para se ter idia a regio da Vara de So Flix era (e...) conhecida por Vale dos Esquecidos, tamanho era o descaso do Estado para olocal, sendo esse, sem dvida, um dos motivos que contribuiu para o alastramento daservido contempornea nessas regies. Como se no bastasse, as mencionadasregies so geograficamente enormes, e no contam com infra-estrutura adequada.

    Para dar uma noo do que falo, devo pontuar, por exemplo, que a Vara deJuna possui jurisdio sobre 153.724 Km2, ou seja, sobre um territrio maior quemuitos estados brasileiros, como, por exemplo, Cear, Acre, Amap, Esprito Santo,Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Sergipe, Santa Catarina ePernambuco. Demais disso, essas duas regies, praticamente no servidas porasfalto. Abro aqui um pequeno parntese, para ilustrar o que falo, por via defotografias...

    Pois bem. Esse gigantismo territorial, associado ausncia estatal, possibilitouque a atividade econmica dessas localidades, predominantemente composta porfazendas que se dedicam pecuria e extrao de madeira, se valesse de mo-de-obra escrava com vistas ao alcance de seu intento acumulatrio, sem maiorcomprometimento com a funo social a que a propriedade privada estconstitucionalmente adstrita.

    Mas a Justia do Trabalho se deslocou at essas regies para contribuir natransformao dessa realidade. Para meu conforto, depois de um pouco mais de trsanos respondendo primeiramente pela titularidade da Vara de So Flix e agora pelatitularidade da Vara de Juna, posso traar um balano positivo da nossa atuao, que

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    vem se pautando em trs eixos fundamentais, consistentes na aproximao entre oJudicirio Laboral e a sociedade civil, na pactuao de acordos capazes de garantirinvestimentos sociais nas regies e na condenao judicial firme daqueles que utilizamo trabalho escravo. sobre esta experincia que doravante discorreremos.

    2 APROXIMANDO A JUSTIA DO TRABALHO DA SOCIEDADE CIVILLogo que chegamos a So Flix do Araguaia, percebemos que a sociedade civil

    ainda no havia apreendido com exatido o significado da vinda da Justia do Trabalho.Decidimos, ento, que seria nossa tarefa dialogar francamente com a populao, bemcomo desenvolver projetos sociais na localidade, que fossem capazes de evidenciar averdadeira face do Judicirio Trabalhista, no s comprometida com julgamentosformais e estatsticas, mas empenhada, sobretudo, na materializao da promessaconstitucional de construo de uma sociedade livre, justa e solidria, capaz deerradicar a pobreza, a misria e a marginalizao.

    Foi ento que com o decisivo apoio da Presidente do TRT da 23 Regio,Desembargadora Maria Berenice Carvalho Castro Souza, tivemos a oportunidade deinstalar no municpio um projeto denominado de Vara da Cidadania, por via do qualpassamos a promover a incluso digital de crianas e de adolescentes, que aindarecebem noes de democracia, repassadas a partir do cultivo dos valores culturaisprprios da regio.

    .A Vara da Cidadania funda-se numa parceria estabelecida entre o Governo

    Federal e o TRT da 23 Regio, que permite a este ltimo estabelecer convnios communicpios, por via dos quais so criados espaos onde os alunos carentes da redeescolar pblica so iniciados nas ferramentas essenciais da informtica, as quais lhesgarantiro futuramente a insero digna no mercado de trabalho, de modo a escaparemdo crculo vicioso de alienao e opresso que propicia, dentre outras violncias, aperpetuao do trabalho escravo. Atualmente a Vara da Cidadania de So Flixfunciona na prpria sede da Vara, contanto com computadores, impressoras emobilirio cedidos pelo TRT, que ainda treinou o professor indicado pelo municpio paraatender as turmas que vm sendo formadas. Do mesmo modo, em Juna estamos jem via de instalar, em moldes iguais, a Vara da Cidadania.

    Ao lado dessa atividade, pensamos ainda que deveramos informar ostrabalhadores sobre os seus direitos civis e trabalhistas bsicos, j que somente ainformao de qualidade seria capaz de alert-los contra as promessas deempregabilidade fcil, que, via de regra, abrem caminho s prticas escravagistas.

    Imbudos desse propsito, contatamos a ANAMATRA e a AMATRA XXIII comvistas implantao do projeto Trabalho, Justia e Cidadania na regio, no que fomosprontamente atendidos, inclusive com o imediato envio das cartilhas que do suporteaos estudos desenvolvidos. Ato subseqente, buscamos o auxlio do Ministrio Pblicodo Trabalho - que criou um ofcio na cidade na esteira da implantao da VaraTrabalhista - e do Setor de Direitos Humanos da Prelazia de So Flix, entidades estasque abraaram o projeto como parceiros entusiasmados e imprescindveis.

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    A partir da formamos a primeira turma de monitores do projeto, compostamajoritariamente por lideranas sindicais, membros da Comisso Pastoral da Terra edo Conselho Indigenista Missionrio, militantes dos Direitos Humanos e professores darede pblica de seis municpios da regio. Como fruto dessa primeira etapa, os

    monitores ligados ao Sindicato dos Rurcolas de So Flix promoveram um recenteencontro com aproximadamente cem trabalhadores rurais, no qual os seus direitoslaborais foram debatidos exausto. Quanto ao aludido evento, de se destacar queministramos sua palestra de abertura, fazendo-o no quintal de cho batido do sindicato,debaixo de rvores de floresta nativa, onde falamos aos presentes sobre o que aJustia do Trabalho e como, por via dela, podem defender os seus interesses.

    Hoje, por igual, o projeto Trabalho, Justia e Cidadania est em vias deimplantao em Aripuan, municpio situado a 200 Km de Juna (200km de terra, diga-se de passagem...), onde deveremos desenvolv-lo em parceria com a SecretariaMunicipal de Sade.

    Em So Flix, por fim, criamos, contanto com o auxlio do Ministrio Pblico doTrabalho e do Ministrio Pblico Estadual, a Escola da Cidadania, na qual as lideranascomunitrias mais destacadas receberiam aulas bsicas sobre direito (direitosfundamentais, direitos sociais, defesa da mulher, defesa dos portadores denecessidades especiais, etc...), para ao depois interagirem de forma mais qualificadacom a sociedade em que vivem, sempre na perspectiva da soluo extrajudicial dosconflitos de interesse. Infelizmente no cheguei a ver os resultados prticos destaexperincia, j que fui removido de SFA para Juna antes da efetiva implantao daEscola.

    Com essas atividades e mais outras que certamente viro, temos a convico deque estamos aproximando decisivamente o Judicirio Trabalhista da sociedade civillocal. Essa convivncia fraterna e intensa possui um componente dialtico muitoestimulante, permitindo-nos ensinar, aprender, e, sobretudo, conhecer melhor ascarncias do povo oprimido, a fim de direcionarmos nossa atividade jurisdicional aoencontro dos seus anseios.

    3 A JUSTIA DO TRABALHO E O DESENVOLVIMENTO SOCIAL DASREGIES AFETADAS PELO TRABALHO ESCRAVO

    Como fcil intuir, no so poucas as aes civis pblicas, civis coletivas e deexecuo de termo de ajuste de conduta em curso nas Varas de So Flix e Juna, nasquais se discute o tema do trabalho escravo. Nessas aes, alm de pleitosmandamentais de adequao ambiental, so postulados, dentre outros, pedidos deindenizao por dano moral coletivo.

    A rigor da literalidade do artigo 13 da Lei de Ao Civil Pblica, os montantesadvindos das condenaes em danos morais coletivos deveriam ser revertidos a fundospblicos, que no caso trabalhista especfico seria o Fundo de Amparo ao Trabalhador,na falta de outro mais adequado. Partimos do pressuposto, todavia, de que a lei

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    apenas um referencial. Um referencial muito importante; mas no mais do que umreferencial. Assim que que temos trabalhado, nos processos que se encontram sobnossa reitoria, para que os montantes indenizatrios sejam revertidos s comunidadesdiretamente lesadas, por via da realizao de benfeitorias sociais, tais como aconstruo de escolas, postos de sade e reas de lazer.

    Felizmente estamos obtendo xito no nosso intento. J no so poucos osprocessos em que temos entabulado avenas em que os rus tm se comprometido arealizar, nas suas propriedades ou nas cidades situadas no entorno delas, obras deincomensurvel alcance social, todas em benefcio direto ou indireto dos trabalhadoreslesados e seus familiares. Pensamos que assim a Justia do Trabalho estcolaborando, com criatividade jamais antes vista, para a construo de um verdadeiroEstado Democrtico de Direito. A bem da verdade, sem ferir o princpio constitucionalda separao e harmonia dos poderes, estamos a auxiliar concretamente o PoderExecutivo na implementao de polticas pblicas de incluso dos que esto margem,e assim construindo uma experincia sem paradigmas no Poder Judicirio.

    Vrios so os exemplos que podemos destacar nessa atuao. No primeirodeles, homologamos um acordo por via do qual o requerido se comprometeu a adquiriruma casa e equip-la com todo o mobilirio necessrio ao funcionamento de um postoda Delegacia Regional do Trabalho em So Flix. Vale frisar que em ulterior avena,entabulada recentemente, um outro ru se comprometeu a doar uma caminhonete zeroquilmetro Unio Federal, veculo este que ficar disposio da DRT, sendo usadoem atividades fiscalizatrias. Esses dois pactos, cujo cumprimento j vem sendoobservado, garantiro, num futuro prximo, que alm da Justia do Trabalho e doMinistrio Pblico do Trabalho, a Delegacia Regional do Trabalho venha somaresforos na afirmao dos direitos laborais na regio.

    J em outro processo, tivemos a oportunidade de mediar um acordo entre aspartes, por via do qual foram comprados equipamentos mdico-hospitalares, tais comoaparelho de anestesia completo, foco cirrgico de teto e monitor cirrgico comdesfibrilador, que foram doados ao Consrcio Intermunicipal de Sade do Araguaia,para atender especificamente ao Hospital Regional de So Flix.

    Em assentada subseqente, homologamos uma avena que destinou numerriopara a concluso da sede prpria da Associao dos Pais e Amigos dos Excepcionais(APAE) na cidade, alm de investimentos necessrios ao bom funcionamento dosistema educacional municipal, hoje gerido pelo Fundo de Gesto ntegra e Cooperadada Educao. Nesse mesmo feito, foi ainda garantida a compra de um aparelho fac-smile e de um armrio de ao com prateleiras, em prol do Balco de Direitos Humanosda Prelazia So Felissense.

    Como fruto dessa nova mentalidade de prestao jurisdicional, ainda de sedizer que em funo de outro pacto que chancelamos, um fazendeiro vem realizandoem sua propriedade uma srie de benefcios destinados aos seus trabalhadores efamiliares. Destacam-se dentre as obrigaes assumidas, os seguintes itens: a) ainstalao e manuteno de um posto mdico e odontolgico, de acordo com as

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    normas estabelecidas pelo Ministrio da Sade, assegurado o atendimento em clnicageral emergencial; b) a construo de uma escola de informtica e de uma biblioteca; c)a compra de um veculo modelo Van, com no mnimo oito lugares, para transportar ascrianas da fazenda escola; d) a construo de um campo de futebol e de um parqueinfantil para o lazer dos trabalhadores e seus filhos.

    Mais recentemente, por fim, foram moldados trs outros acordos similares. Noprimeiro deles, uma usina assumiu a responsabilidade de doar 36 lotes ao municpio deConfresa MT, nos quais construir duas escolas para atender a municipalidade. Nosegundo, um seringal se obrigou construo de duas creches, uma para atender osseus trabalhadores e outra para as famlias carentes do municpio de Santa Terezinha MT. Nos dois ltimos, dois executados destinaram, respectivamente, R$80.000,0 eR$23.000,00, devidos em uma ao civil pblica e uma ao de execuo de ttuloextrajudicial (TAC), realizao de benefcios sociais diversos na regio. No caso, onumerrio ser gerido pelo Ministrio Pblico do Trabalho, que lhe imprimir destinaoadequada, com posterior prestao de contas ao juzo.

    4 CONDENAOES JUDICIAIS

    Lamentavelmente, nem sempre a via da conciliao, necessria gerao deinvestimentos sociais na regio, se mostra vivel. Em circunstncias tais, no temosexitado em golpear duramente os infratores com a lmina da justia, de modo a impedirque a sociedade brasileira conviva com um inaceitvel sentimento de dficitdemocrtico. Trs exemplos sobre o afirmado so emblemticos.

    No primeiro deles nos deparamos com a instaurao de verdadeiro estado debarbrie em uma fazenda. Nesse caso especfico pensamos que no local havia algoalm do que a inaceitvel reduo de trabalhadores a condio anloga de escravo.Na realidade a escravido imposta era muito prxima daquela anterior ao advento daLei urea. Limitando-nos ao pequeno espao reservado para o presente articulado,podemos pontuar, guisa de exemplificao, que um dos trabalhadores que tentoufugir do local apanhou de correntes, sendo ao depois amarrado junto a um caminho,tendo seus dedos finalmente apertados com um alicate. Comprovando o narrado, haviaencartado nos autos um exame pericial produzido por mdico-legista, onde este afirmouque as leses encontradas foram causadas por instrumentos contundentes e que aagresso foi contnua e cruel.

    Nesse processo confrontamo-nos com uma situao de enorme dificuldade deenfrentamento. Ocorre que o Ministrio Pblico, em virtude de uma conjuntura judicialcompreensvel para a poca da propositura da demanda, acabou por postular umaindenizao limitada a dezesseis mil reais em prol da sociedade. No obstante, para ospadres da poca do julgamento, tal montante se mostrava absolutamenteinexpressivo.

    Ficamos, com efeito, diante de um dilema, j que ou nos curvvamos ao dogmada adstrio da sentena ao pedido, ou adotvamos uma postura libertadora everdadeiramente comprometida com os fundamentos republicanos da dignidade da

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    pessoa humana e dos valores sociais do trabalho. Sem titubear optamos pela segundaalternativa e fixamos a indenizao pelos danos morais coletivos em um milho dereais, fazendo-o com base em fundamentos jurdicos que agora no possumos espaopara detalhar. Demais disso, determinamos a inscrio do empregador na chamadalista suja do trabalho escravo, de modo a impedi-lo de receber financiamento pblico

    para a sua ilcita atividade produtiva privada, alm de anteciparmos tutela na qualimpusemos ao infrator o cumprimento imediato de uma srie de obrigaes de fazer deadequao ambiental trabalhista. Vale destacar que a aludida sentena foi confirmada unanimidade pela 2 Turma do e. TRT da 23 Regio.

    Em vertente posterior, sentenciamos um outro processo em que os trabalhadoresforam submetidos s mais degradantes situaes ambientais de trabalho, nas quaisficavam expostos, dentre outras situaes humilhantes, a alojamentos ftidos, situadosprximos ao estoque dos agrotxicos usados no combate das pragas da lavoura eservidos por instalaes eltricas absolutamente improvisadas, que a qualquermomento poderiam provocar um incndio de grandes propores no local.

    Nele tambm antecipamos a tutela relativa s obrigaes de fazer necessrias adequao dos alojamentos s normas de sade, higiene e segurana no trabalho,alm de condenar o requerido no pagamento de indenizao fixada em quinhentos milreais, a ttulo de dano moral coletivo de natureza ambiental.

    J nos mais recentes julgamentos que proferimos, passamos por umaexperincia no mnimo interessante. Ocorre que um conjunto de dez trabalhadoresconseguiu fugir de uma fazenda na qual estavam submetidos a condio anloga ede escravo e vieram eles prprios a juzo para postularem os seus direitos individuais,sem passarem pelo atendimento do Ministrio Pblico.

    At onde sabemos, tal fato indito no pas, j que no temos outras notcias deque trabalhadores, individualmente considerados, tenham vindo Justia do Trabalhopara pleitear que o Judicirio reconhea a condio de escravos a que foram reduzidos.Creditamos esse fato alvissareiro ao dilogo franco que temos mantido com asociedade local, o qual tem contribudo decisivamente para que a informao sobre osdireitos trabalhistas bsicos seja disseminada entre os trabalhadores da regio. Valeressaltar, que no julgamento das mencionadas aes, condenamos o infrator aopagamento de verbas rescisrias, horas extras e indenizao por danos moraisindividuais, e, alm disso, determinamos a sua inscrio na lista suja mantida peloMinistrio do Trabalho e oficiamos o Ministrio Pblico do Trabalho para a propositurada correlata ao civil pblica, na qual sero discutidos os possveis danosexperimentados pela sociedade difusamente considerada.

    Com tais atitudes, cremos que estamos construindo uma nova cultura na regio,

    arrimada na centralidade do mundo do trabalho e permeada pelo absoluto respeito aosdireitos sociais fundamentais.

    5 CONCLUSO

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    Como j assentado no ttulo do presente artigo, temos a firme convico de queo trabalho escravo um velho problema, que deve ser resolvido luz de uma nova

    justia. Precisamos, urgentemente, sem perder a essncia daquilo que nos conduziuat aqui, construir uma Justia do Trabalho ainda mais gil e despida de dogmas, naqual a responsabilidade para com a construo da sociedade livre, justa e solidria

    delineada na Constituio seja um compromisso inarredvel. Em sntese, temos emmos o desafio de trabalhar pela definitiva abolio do trabalho escravo,lamentavelmente renitente em nosso pas, em pleno sculo XXI.

    Para tanto carecemos de magistrados combativos e criativos, suficientementergidos para aplicar as sanes necessrias com vigor, mas ao mesmo tempo dotadosda necessria maleabilidade para no se deixarem levar por legalismos tolos e estreis,que no raro se prestam deturpao do princpio da legalidade, como se o juiz nadamais fosse do que a mera boca da lei, mito que h tempos embala a convenincia deliberais e neoliberais.

    Necessitamos, em suma, de agentes verdadeiramente dispostos a seaproximarem dos setores oprimidos da sociedade, de modo a conhecerem de perto assuas angstias e necessidades. Alm da prestao jurisdicional clere, justa e eficaz, apopulao clama por travar um dilogo profundo e verdadeiro com o Poder Judicirio.Estamos convencidos de que alm de julgar, possumos uma tarefa pedaggica eparticipativa para desenvolver junto ao povo, na qual possamos ensinar, aprender econstruir.

    Ao lado de tudo isso, imprescindvel que o nosso movimento associativocontinue a trabalhar pela afirmao da competncia penal da Justia do Trabalho, jque no faz nenhum sentido que aqueles que se valem de mo-de-obra escrava sejampor ns processados nos mbitos do direito do trabalho (reconhecimento de vnculo,verbas rescisrias, salrios, horas extras, seguro-desemprego...), do direito civil (danosmateriais, danos morais individuais, danos morais coletivos...) e do direito administrativo(penalidades administrativas impostas pelos rgos estatais da fiscalizao trabalhista)1

    e por outro ramo do Poder Judicirio na esfera do direito criminal. Alis, cumpreindagar: a quem interessa essa dicotomia?

    Nosso intento colaborar para a transformao do Vale dos Esquecidos noVale da Cidadania. Almejamos que a experincia da Vara de So Flix do Araguaiano combate ao trabalho escravo possa ser um dos tubos de ensaio do novo tempo daJustia do Trabalho. Afinal, se muito vale o que j foi feito, mais vale o que ainda vir.

    1Para que o microssoistema trabalhista fique todo a cargo da JT, falta o reconhecimento da competncia

    penal. Hoje a JT no especializada; na verdade ela subespecializada.

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