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O COMBATE AO TRABALHO ANÁLOGO À DE ESCRAVO: UMA LEITURA NOS DADOS DO MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO NO PERÍODO DE 1995 A 2012. THE FIGHT TO WORK SIMILAR TO THE SLAVE: READING THE DATA OF THE MINISTRY OF LABOR THE PERIOD 1995 TO 2012. Rúbia Silene Alegre Ferreira 1 Marklea da Cunha Ferst 2 Resumo Este estudo objetivou fazer uma leitura dos índices de operação de fiscalização do Ministério Público do Trabalho no que tange ao “trabalho análogo ao de escravo”. Para responder a tal proposta utilizou-se dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), no período de 1995 a 2012. Os resultados apontam que à medida com que as autuações e fiscalizações se intensificam no período, ocorreu uma redução de número de trabalhadores em condições de trabalho análogo ao de escravo no Brasil, mas que ainda se faz necessário um posicionamento sistemático no sentido de minimizar ou ainda erradicar essa anomalia dentro do contexto de trabalho no Brasil. Palavras-chave: Trabalho análogo ao de escravo, fiscalização, Brasil. Summary This study aimed to take a reading of the index operation supervision of the Ministry of Labour regarding the "labor analogous to slavery." To respond to such a proposal, we used data from the Ministry of Labour and Employment (MTE) in the period 1995-2012. The results indicate that the extent to which the assessments and inspections have intensified in the period, there was a reduction in the number of workers working conditions analogous to slavery in Brazil, but that still does need a systematic placement to minimize or eradicate this anomaly within the context of work in Brazil. Keywords: labor analogous to slavery, surveillance, Brazil. 1. INTRODUÇÃO O trabalho é uma palavra que tem origem no grego (tripallium) e seu significado é castigo. Castigo porque para o cidadão da antiguidade não seria de bom tom ocupar-se de uma atividade na qual fosse necessário empreender esforços físicos. Portanto, o “trabalho” era 1 Mestre em Desenvolvimento Regional – Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e Docente nos Cursos Ciências Econômicas e Direito no Centro Universitário do Norte – UNINORTE. 2 Mestre em Direito – Universidade Federal do Paraná (UFPR). Coordenadora do Curso de Direito no Centro Universitário do Norte – UNINORTE.

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TRABALHO ESCRAVO

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O COMBATE AO TRABALHO ANLOGO DE ESCRAVO: UMA LEITURA NOS DADOS DO MINISTRIO DO TRABALHO E EMPREGO NO PERODO DE 1995 A 2012. THE FIGHT TO WORK SIMILAR TO THE SLAVE: READING THE DATA OF THE MINISTRY OF LABOR THE PERIOD 1995 TO 2012. Rbia Silene Alegre Ferreira1 Marklea da Cunha Ferst2 Resumo EsteestudoobjetivoufazerumaleituradosndicesdeoperaodefiscalizaodoMinistrioPblicodo Trabalho no quetangeaotrabalho anlogo ao deescravo. Pararesponder atal propostautilizou-sedadosdo Ministrio do Trabalho e Emprego (MTE), no perodo de 1995 a 2012. Os resultados apontam que medida com que as autuaes e fiscalizaes se intensificam no perodo, ocorreu uma reduo de nmero de trabalhadores em condiesdetrabalhoanlogoaodeescravonoBrasil,masqueaindasefaznecessrioumposicionamento sistemtico no sentido de minimizar ou ainda erradicar essa anomalia dentro do contexto de trabalho no Brasil. Palavras-chave: Trabalho anlogo ao de escravo, fiscalizao, Brasil. Summary ThisstudyaimedtotakeareadingoftheindexoperationsupervisionoftheMinistryofLabour regardingthe"laboranalogoustoslavery."Torespondtosuchaproposal,weuseddatafromthe MinistryofLabourandEmployment(MTE)intheperiod1995-2012.Theresultsindicatethatthe extent to which the assessments and inspections have intensified in the period, there was a reduction in thenumberofworkersworkingconditionsanalogoustoslaveryinBrazil,butthatstilldoesneeda systematic placement to minimize or eradicate this anomaly within the context of work in Brazil. Keywords: labor analogous to slavery, surveillance, Brazil. 1. INTRODUO Otrabalhoumapalavraquetemorigemnogrego(tripallium)eseusignificado castigo. Castigo porque para o cidado da antiguidade no seria de bom tom ocupar-se de uma atividadenaqualfossenecessrioempreenderesforosfsicos.Portanto,otrabalhoera

1 Mestre em Desenvolvimento Regional Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e Docente nos Cursos Cincias Econmicas e Direito no Centro Universitrio do Norte UNINORTE. 2 Mestre em Direito Universidade Federal do Paran (UFPR). Coordenadora do Curso de Direito no Centro Universitrio do Norte UNINORTE.umaatividadeondeapenasoescravodeveriafazer,possibilitandoaosenhoraocupao mais digna no dia-a-dia, como por exemplo, o cio. Daaassociaodotrabalhoaoescravonofoidifcildeserconcebida.Otrabalho escravonaverdaderepresentouemgrandepartedosPasescondioda baseeconmica,ou seja,boapartedariquezageradanestesfoiresultadodaforadetrabalhoescravooude trabalho forado.Esteestudoobjetivoufazerumaleituradosndicesdeoperaodefiscalizaodo Ministrio Pblico do Trabalho na tentativa de combater o que se denomina trabalho anlogo ao de escravo. Para responder a tal proposta utilizaram-se dados do Ministrio do Trabalho e Emprego (MTE), no perodo de 1995 a 2012. Desta forma, na segunda sesso faz-se uma ligeira leitura a respeito do que vem a ser o trabalhoforadoedaconceituaodotrabalhoanlogodeescravo.Naterceiraparte verifica-seaevoluodosdadosdasoperaesdefiscalizaodoMinistriodoTrabalhoe Emprego, e por fim tm-se a concluso. 2. O TRABALHO FORADO A necessidade de mobilizar a fora de trabalho para a realizao de tarefas superiores capacidade de um indivduo ou de uma famlia, de acordo com Silva, (2010), remonta Pr-histria,ocorrendosemprequeseatingiuumgraudeacumulaoderecursosepoderem determinadaspessoasouentidades.Eamodeobranecessriaparasupriressacarnciafoi obtida, inicialmente, graas fora das armas, da lei e do costume, ou de ambos. A escravido quasetoantigaquantoohomem.Emboratenhaapresentadosignificados,formase objetivos diferentes ao longo da histria, a escravido sempre foi marcada pela dominao de uns pelos outros. Otrabalhoforado,porassimdizer,apresentasemelhanadiretaaoqueseviveuno Brasil no perodo de 1550 a 1856, uma vez que a escravido uma forma de trabalho forado. Nesse sentido, Alencastro, (2010), discute quenenhum pas americano praticou a escravido em to larga escala como o Brasil. Do total de cerca de 11 milhes de africanos deportados e chegadosvivosnasAmricas,44%(pertode5milhes)vieramparaoterritriobrasileiro num perodo de trs sculos. De acordo com OIT, (2005), em suas diferentes formas, pode ocorrer trabalho forado emtodasassociedades,tantoempasesemdesenvolvimentocomoindustrializadosede nenhum modo est reduzido a alguns bolses pelo mundo. Apesar disso, o prprio conceito de trabalhoforado,conformedefinidonasnormasdaOITsobreamatria,nofoiaindabem assimilado.Emmuitoslugares,aexpressocontinuasendoassociadaprincipalmentea prticas de trabalho forado em regimes totalitrios, como os flagrantes abusos da Alemanha deHitler,daUnioSoviticadeStlinoudoCambodjadePolPot.Naoutrapontado espectro,expressescomoescravidomoderna,prticasanlogasescravidoe trabalho forado podem ser usadas sem muita preciso para se referir a condies precrias einsalubresdetrabalho,inclusivedesalriosmuitobaixos.AOrganizaoodefinecomo todo trabalho ou servio exigido de uma pessoa sob a ameaa de sano e para o qual ela no tiver se oferecido espontaneamente3. Segundo Silva, (2010), embora pretendam retratar o mesmo fenmeno jurdico, social eeconmico,asvriasdenominaesutilizadasparaexpressaroproblemapesquisado demonstram que os critrios de classificao esto sob intenso debate, tanto no que concerne ao plano poltico-ideolgico quanto no que tangeao seu enquadramento nas leis de proteo ao trabalho e nos estatutos de defesa dos direitos humanos. Fonte: OIT, 2005 Em termos mundiais, de acordo com a OIT, (2005),s 20 por cento de todo trabalho forado so impostos diretamente pelo Estado ou pelas foras armadas. O restante imposto poragentesprivadosqueseaproveitamdepessoasvulnerveis.Aexploraosexual comercial forada representa 11 por cento de todos os casos, e a esmagadora maioria 64 por

3 Conveno sobre Trabalho Forado, 1930 (n 29), (artigo 2). cento imposta por agentes privados para fins de explorao econmica. Cerca de cinco por cento so tipos de trabalho forado que no podem ser claramente identificadas. Para Gomes, (2012), o trabalho forado est relacionado a pessoas deslocadas de suas regiesdeorigem,combaixaounenhumaqualificaoouinstruo,vivendoemcondies miserveis e, por isso, dispostas a se aventurar em busca de uma oportunidade de trabalho, considerada inexistente onde se encontram.Porcontadisso,aOIT,(2005),sinalizaqueassituaesdetrabalhoforadopodem estargeneralizadasemalgumasatividadeseconmicasouindustriaisqueseprestama prticasabusivasdecontrataoeemprego.Umasituao,porm,detrabalhoforado determinada pela natureza da relao entre uma pessoa e um empregador e no pelo tipo da atividade desenvolvida, por mais duras ou perigosas que possam ser as condies de trabalho. Nemalegalidadeouilegalidadedaatividade,segundoleisnacionais,quedeterminaseo trabalhoounoforado.Umamulherforadaprostituioestemsituaodetrabalho forado,tendoemvistaanaturezainvoluntriadotrabalhoeaameaasobaqualtrabalha independentementedalegalidadeouilegalidadedaatividade.Domesmomodo,uma atividadenoprecisaseroficialmentereconhecidacomoatividadeeconmicaparaser eventualmenteconsideradacomotrabalhoforado.Porexemplo,umacrianaouadulto que, sob coao, exerce a mendicncia ser considerado como executor de trabalho forado. Nosistemadetrabalhoforado,segundoFigueira,(2000),otrabalhadortorna-se vtimaporquejvtimanasituaoeconmicaesocial.Sovtimaspordesconhecerema lei,pelobaixonveldeescolaridade;pornosaberemdosriscosdeseremsubmetidosao trabalho forado. Identificao de Trabalho Forado na Prtica Falta de consentimento (natureza involuntria do trabalho)(itinerrio do trabalho forado) Ameaa de punio(meios de manter algum em regime de trabalho forado) Escravido por nascimento ou por descendncia de escravo / servido por dvida Violncia fsica contra o trabalhador ou sua famlia ou pessoas prximas Rapto ou sequestroViolncia sexual Venda de pessoa a outra(Ameaa de) represlias sobrenaturais Confinamento no local de trabalho em prisoPriso ou confinamento ou em crcere privado Coao psicolgica, isto , ordem para trabalhar, apoiada em ameaa real de punio por desobedincia Punies financeiras Dvida induzida (por falsificao de contas, preos inflacionados, reduo do valor de bens ou servios produzidos, taxas de juros exorbitantes, etc.) Denncia a autoridades (polcia, autoridades de imigrao, etc.) e deportao Engano ou falsas promessas sobre tipos e condies de trabalho Demisso do emprego atual Reteno ou no pagamento de salriosExcluso de empregos futuros Reteno de documentos de identidade ou de pertences pessoais de valor Mudana para condies de trabalho ainda piores Fonte: OIT, 2005 Ocombateaotrabalhoescravocontemporneo,deacordocomGomes,(2012),um indicador precioso de como os direitos do trabalho podem funcionar como ponta de lana para a defesa dos direitos da pessoa humana numa sociedade que se quer democrtica. O trabalho forado abrange as diversas formas de motivaes econmicas. A partir da figura 1, percebe-se que as meninas correspondem parte mais vulnervel (56%) no contexto deexploraoeconmicaforadaporsexonomundo.Noentanto,verifica-sequeparaos meninosessaproporonotopequena(54%).Nafigura2,quemensuraaspropores mundiais para a explorao sexual comercial forada, os dados so ainda mais tristes: 98% do total correspondem s meninas. Figura 1: Explorao Econmica Forada Figura 2: Explorao Sexual Comercial forada Fonte: OIT, 2005. Fonte: OIT, 2005. De acordo com Nils Kastberg, Diretor Regional do UNICEF para a Amrica Latina e oCaribeesteproblemacomplexo,determinadopordesigualdadessocioeconmicas,de gnero,deraaeetnia.Apesardosavanosregistradosaolongodosltimosanospor governos,ONGsesociedadecivil,asevidnciasindicamqueessecrimeestsealastrando por todo o mundo. Empasesemdesenvolvimento,agrandemaioriadasvtimasdetrabalhoforado pobre.Emmuitoscasos,aimposiodetrabalhoforadopodeestarligadaaumaformade discriminao.ApobrezaeadiscriminaosegundoaOIT(2005)constituem,por conseguinte,excelentepontodepartidaparaexaminarasformasatuaisdetrabalhoforado, assim como medidas e programas polticos adotados por pases individuais para resolver esses problemas. 2.1 Trabalho anlogo de escravo e a dignidade da pessoa humana De acordo com Gomes, (2008), no Brasil o conceito de trabalho anlogo a de escravo uma ferramenta til para a delimitao de um fenmeno muito difcil de isolar, sendo, em decorrncia,umaestratgiaparaestabelecerpolticaspblicasparaseucombate.Um fenmeno,defato,muitodifcildeenfrentar,umavezqueganhaespecificidadenosvrios contextosnacionais,noseresolvendoapenascomaindicaodecritriosmaisgeraise amplos, embora eles possam ser teis. A OIT, ao aceitar o conceito de trabalho anlogo a de escravo para o caso do Brasil, reconhece sua capacidade de gerar avanos, inclusive por ter sidoumademandadosprpriosatoresenvolvidosemseucombate.Acategoriatrabalho forado, de longa tradio na OIT, no abandonada, mas funciona como um grande guarda-chuva,quepermiteadequaesarealidadesespecficasnotempoenoespao.Trabalho anlogo a de escravo seria uma dessas adequaes para o caso brasileiro. Otrabalhoanlogodeescravonopropriamenteumtipoprticainerenterea rural, percebido ainda no contexto urbano. Na rea rural, segundo Lenzi, (2012), O ciclo da "escravidorural"normalmenteteminciocomorecrutamentodostrabalhadoresemlocais distantesdeondeotrabalhoserefetivamenteprestado,noobstanteocorratambm recrutamentodemodeobralocal.Ostrabalhadoresdeixamseuslaresembuscadeuma melhorremuneraoemuitasvezesacabamiludidoscompromessasdeboascondiesde empregoesalrio.Esserecrutamentoemoutrascidadescostumaserpropositaleprejudica consideravelmenteosobreiros,jquerealizadocombaixoscustosaoempregador, deixando-os subordinados a prticas coercitivas.Na rea urbana, por suavez, trata-se de um trabalho lcito, porm, realizado em condies degradantes ou sob jornada exaustiva, de difcil reconhecimentoporaquelesqueaindarelacionamotrabalhoescravocontemporneo exclusivamente com o trabalho escravo histrico. A dificuldade de expressar o conceito de dignidade da pessoa humana, nas palavras de Silva,(2010),noentanto,nosignificaqueadignidadenosejaalgoreal,poisnodifcil verificar, na prtica, situaes em que ela vilipendiada, vale dizer, muitas vezes mais fcil identificar o que afronta a dignidade do que identificar a dignidade em si mesma, sendo certo, todavia,queaapreensodoverdadeirosentidodedignidadedapessoahumanapassa, necessariamente,pelaevoluohistricaefilosficadaeminenteposioocupadapelo homem no mundo. O respeito dignidadeda pessoa humana definida como um conjunto de direitos queasseguraaoserhumano,condiesexistentesmnimasparaatuarsobresuavidaeade suacomunidade-precisariaestarsendogarantido.Oentendimentodeque,noapenasa liberdade(ainexistnciadeconstrangimentosfsicose/ousimblicos),masigualmentea vigncia de condies de vida e de trabalho,que distinguem o homem de outros seres vivos, precisa estar assegurada, orienta a nova conceituao do que trabalho anlogo a de escravo.A noo do valor intrnseco da pessoa humana tem razes no pensamento clssico e no ideal de vida cristo, de acordo com Silva, (2010). A Bblia, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, declara queo ser humano foi criado imagem e semelhanade Deus, premissa da qual o cristianismo retirou a ilao de que o ser humano possui um valor prprio, que lhe inerente,nopodendo,portanto,serreduzidocondiodesimplesobjetoouinstrumento. Deuscriouoserhumanosuaimagemesemelhana,outorgando-lhepoderparadominar sobre as obras dacriao, como osanimais, as plantas ea prpria terra, revelando que o ser humanomereceuumlugardedestaquenaobradacriaodeDeus,incumbindo-lhe, inclusive, a tarefa de dar nomes aos animais. O Cdigo Penal determina que: Art. 149. Reduzir algum a condio anloga de escravo, assim entendido o estadodapessoasobreaqualseexercem,totalouparcialmente, subordinaoindignaouatributosinerentesaodireitodepropriedade, notadamente:I - a submisso a trabalhos forados ou a jornada exaustiva;II - a submisso a condies degradantes de trabalho, como a inexistncia de acomodaes indevassveis para homens, mulheres e crianas, a inexistncia deinstalaessanitriasadequadas,comprecriascondiesdesadee higiene,afalta de guapotvel,aalimentao parca,a ausnciade equipamentosdeproteoindividualoucoletivaeomeioambientede trabalho nocivo ou agressivo;III-arestrio,porqualquermeio,dalocomooemrazodedvida contrada com o empregador, o tomador de servios ou seus prepostos;IV - ocerceamentodousodequalquermeiode transporteporpartedo trabalhador, com o fim de ret-lo no local de trabalho;V-avigilnciaostensivanolocaldetrabalhooupossededocumentosou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de ret-lo no local de trabalho;VI-ainadimplnciacontumazdesalriosassociadafaltaderegistroem CarteiradeTrabalhoePrevidnciaSocialeatodaformadecoao fsica ou moral;VIIoaliciamentoparaotrabalhoassociadolocomoodeumalocalidade paraoutradoterritrionacional,ouparaoexterior,oudoexteriorparaoterritrio nacional;VIII - o cerceamento da liberdade ambulatria;IX-qualqueroutromodoviolento,degradanteoufraudulentode sujeio pessoal na forma do caput.Pena - recluso, de trs a quinze anos, e multa, alm da pena correspondente violncia.Pargrafo nico. A pena aumentada de metade, se o crime cometido:I - contra criana ou adolescente;II - contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos;III - por motivo de preconceito de raa, cor, etnia, religio ou origem. AanlisedoArtigo149,naspalavrasdeGomes(2003),apontaquenoBrasil,no pode haver esse tipo de desrespeitos aos respeitos humanos, no sendo, portanto admissvel a existnciadecondiesdetrabalhoquehumilhemsereshumanos,pordefinio reconhecveisporsuadignidade,sendoaliberdadeapenasumelementocomponentedessa dignidade. Anoodedignidade,paraocristianismo,decorredofatodeoserhumanotersido criadoimagemesemelhanadeDeus,razopelaqual,paraareligiocristadignidade igual para todos os seres humanos, segundo Silva, (2010).Paraoautor,torna-seinaceitvelaideiadeumindivduopossuirumgraumaiorou menor de dignidade que os demais. Este fato conflita com a concepo poltica e filosfica da antiguidadeclssica,naqualadignidadedapessoarelacionava-se,emtermosgerais,coma posiosocialporelaocupadaepelonveldereconhecimentodoindivduopelosdemais membros da sociedade, noo que admitia, portanto, a existncia de pessoas mais dignas que outras. OcombateaotrabalhoemcondiesanlogassdeescravorealizadonoBrasil implementado pelo Ministrio Pblico do Trabalhado, que de acordo com Gomes (2008), seus auditores fiscais atuam como ponta de lana na represso a esse tipo de prtica o que costuma ser feito com a participao da PolciaFederal e tambm da Polcia Rodoviria. CabeaoEstado,nestesentido,noapenasconferiraohomemaoportunidadede acessoaotrabalho,mastambmcuidarparaqueotrabalhosejaexecutadoemcondies decentes, de forma a garantir efetivamente a dignidade da pessoa humana, uma vez que dentre as atividades humanas fundamentais, o trabalho ocupa posio de destaque, pois se relaciona comaprpriavida,assegurandoasobrevivnciadoindivduoeavidadaespciehumana, garantindo, portanto, a prpria dignidade, conforme Silva, (2010). 3. OPERAO DE FISCALIZAO NO BRASILEsta seo ocupa-se de verificar a evoluo dos dados de fiscalizao do Ministrio do TrabalhoeEmprego,pormeiodaDivisodeFiscalizaoparaErradicaodoTrabalho Escravo. Verifica-se que no perodo 1995 a 2000, conforme a figura 1, no ano 1996 ocorre o maiorndicedeoperaes(26);apartirde2001,asfiscalizaeselevam-sede29em2001, para 85 em 2005. Da para frente fecha-se 2011 com 170 operaes, sofrendo ligeira reduo no ano seguinte (141). Figura 1 Operao de fiscalizao Operaes e Estabelecimentos Inspecionados Fonte: Ministrio do Trabalho e Emprego, 2013. Fenmenosemelhantepercebidoparaoquantitativodeestabelecimentos inspecionados,comdestaqueparaobinio2003-2004.Noprimeiroperodoocorreram188 fiscalizaescontra276nosegundo,fatoquepossivelmentepossaterrelaocomaes intensivas dos atores governamentais, bem como de um avano do nmero de denncias. Figura 2 Operao de fiscalizao Trabalhadores Resgatados e Autos Lavrados Fonte: Ministrio do Trabalho e Emprego, 2013. Pormeiodasfiscalizaesostrabalhadores,(figura2),encontradosemcondio anlogaadeescravosoresgatados,comodecorrnciadeinclusoemumadashipteses (trabalhoforado,servidopordvida,jornadaexaustivae/outrabalhodegradante) estabelecidasnoartigo149doCdigoPenal.Onmerodetrabalhadoresresgatadosno contexto das fiscalizaes em maior quantitativo percebido em escalas elevadas a partir de 2001 (1.305 contra 516 no ano 2000). De 2004 para a frente h uma sequencia de reduoe elevao que em 2007 quase 6.000 trabalhadores so resgatados. Verifica-sequenosobeedescedosnmerosdetrabalhadoresresgatadososautos deinfraolavradosdesenvolvemcrescimentosistemtico,alcanandoem2008omaior quantitativo(4.892autos).Decertaforma,asinfraescomearamapesarnobolso, resultandotantononmerodeautuaeslavradas,quantononmerodetrabalhadores resgatados. Aparentemente, o peso legislativo atuou no sentido de minimizar a partir de ento as condies precrias e desumanas destes trabalhadores. 3.1 Operao de Fiscalizao nas Unidade de Federao do Pas As verificaes da operao de fiscalizao para as unidades de Federao (figura 3), em 2008 apontam que as maiores incidncias concentravam-se no Par, Mato Grosso, Minas Gerais, Santa Catarina, e Mato Grosso do Sul. Figura 3 Operao de fiscalizao nas Unidades de Federao (Oper. e Estab. Inspecionados) Fonte: Ministrio do Trabalho e Emprego, 2013. Em2012,osdestaquescorrespondiamaoPar,Gois,MatoGrosso,MinasGeraise Paran. Destaque importante que embora a primeira posio neste ranking pertena ao Par, tanto o nmero de operaes quanto o de estabelecimentos inspecionados reduziu-se. Figura 4 Operao de fiscalizao nas Unidades de Federao (Trab. Resgatados e Autos Lavrados) Fonte: Ministrio do Trabalho e Emprego, 2013. Oresgatedetrabalhadoreseautosdeinfraeslavrados,(figura4),eram representativosem2008.NasunidadesdeFederaomostramqueosnmerosde trabalhadoresresgatadoseramelevados:656emAlagoas,578noMatoGrosso;309em Pernambuco, e assim por diante. Paraoanode2012,tantooresgatedostrabalhadoresquantoosdemaisndices investigados apontam queda sistemtica em relao no ano de 2008. CONCLUSO O trabalho anlogo ao de escravo se constitui em uma das anomalias que ocorrem no contexto do trabalho em diversos lugares do mundo. Tem sido fortemente utilizado no sistema produtivo tanto em rea rural quanto na urbana. Milhares de trabalhadores que, na tentativa de buscar melhores condies de vida, acabaram reduzidos a condio anloga de escravo. Os dados investigados no estudo demonstraram que a atuao dos fiscais do Ministrio doTrabalhoeEmpregoemconjuntocomosdemaissetoresquecooperamtmsido significativo no sentido de resultar na reduo dos nveis do quantitativo de trabalhadores que seencontravamenvolvidasnestaformadetrabalho.Essareduonoobstante,demonstra que a prtica do trabalho anlogo ao de escravo ainda deve ser veemente combatida. Afiscalizaoiniciadaem1995seintensificaapartirde2003elevando-se significativamente tantoem operaes quanto em nmerodeestabelecimento inspecionados. Dadorelevantequeresultadesteprocessoserefereaonmerodetrabalhadoresresgatados que no perodo em estudo reduziu-se sistematicamente. A partir de 2008 o nmero representa significativamente queda. Embora havendo nmero maior de autos de infrao lavrados, sabe-se que as maiores vantagens econmicas consistem em dar garantias trabalhistase no apenas o contentamento de que elevados valores monetrios tm sido recolhidos aos cofres pblicos. A utilizao das garantiasconstitucionaisrepresentaganhosparaalmdosfinanceirosparaotrabalhadorno mercado de trabalho: os ganhos implicam na dignidade da pessoa humana. A OITemseusdiversosestudosapontaqueemtodosospaseseregies, trabalhadores migrantes, principalmente migrantes em situao irregular, esto especialmente expostosaoriscodeprticascoercitivasdecontrataoeemprego.Combateraimpunidade, com uma slida estrutura legal e a vigorosa aplicao da lei, sempre fundamental para uma aoeficazcontraotrabalhoforadooumesmoemcondiesanlogasdeescravo.A dignificaoobtidapormeiodotrabalhodeveserasseguradaepercebidanadignidadeda pessoa humana, conforme premissa da Legislao Brasileira. REFERENCIAS ANDERSON, Perry. Passagens da antigidade ao feudalismo. Traduo de Beatriz Sidou. 5. ed. So Paulo: Brasiliense, 1994.ALECASTRO,LuizFelipede.ParecersobreaArguiodeDescumprimentodePreceito Fundamental, ADPF/186, apresentada ao Supremo Tribunal Federal. Maro de 2010. GOMES, ngela Castro. Represso e mudanasno trabalhoanlogo a de escravo noBrasil: tempopresenteeusosdopassado.RevistaBrasileiradeHistria.SoPaulo,v.32,n.64, p.167-184, 2012. GOMES, ngela Castro. Trabalho anlogo a de escravo: Construindo um problema. Histria Oral,v.11,n1-2,p.11-41, dez, 2008. LENZI,Rafaela.AspectosdotrabalhoemcondiesanlogassdeescravonoBrasil contemporneo. Universidade Federal do Paran(monografia)- Curitiba,2012. FIGUEIRA, Ricardo R. Por que trabalho escravo? Estudos Avanados, v. 14, n.38, p. 31-50, 2000. OITUmaalianaglobalcontraotrabalhoforado:Relatrioglobaldoseguimentoda declarao da OIT sobre Princpios e Direitos Fundamentais no Trabalho, 2005. SILVA,MarcelloRibeiro.TrabalhoanlogoaodeescravoruralnoBrasildosculoXXI: novos contornos de um antigo problema. Dissertao de Mestrado- Universidade Federal de Gois UFG, 2010. ANDERSON, Perry. Passagens da antigidade ao feudalismo. Traduo de Beatriz Sidou. 5. ed. So Paulo: Brasiliense, 1994. p. 21. APNDICES Fonte: Ministrio do Trabalho e Emprego, 2013. Fonte: Ministrio do Trabalho e Emprego, 2013.