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709 A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO CONTEXTO DA AVALIAÇÃO INCLUSIVA - UMA POSSIBILIDADE ATRAVÉS DA AVALIAÇÃO FORMATIVA. Maria do Socorro Batista Silva Maciel - UEMA/UESPI. 117 Eixo Temático: Formação de professores e processos de inclusão/exclusão em educação Categoria: Comunicação Oral [email protected] INTRODUÇÃO A educação inclusiva segundo Rodrigues (2008) é um modelo de educação para todos os alunos, independente das capacidades e condição socioeconômica. Segundo este autor, o objetivo da educação inclusiva é alterar as práticas tradicionais de modo que se valorizem as diferenças existentes entre os alunos e se removam as barreiras que interferem na aprendizagem. No Brasil, o processo de inclusão dos alunos com Necessidades Educacionais Especiais (NEE) vem ocorrendo gradativamente em nosso por meio de políticas públicas que visam à transformação do sistema educacional, como aponta Mendes (2006) [...] as propostas variam desde a ideia da inclusão total – posição que defende que todos os alunos devem ser educados apenas e só na classe da escola regular – até a ideia de que a diversidade de características implica a existência e manutenção de um contínuo de serviços e de uma diversidade de opções (MENDES, 2006, p.396). As pessoas com Necessidades Educacionais Especiais – NEE, são aquelas que têm elevada capacidade para aprender ou que apresentam dificuldades de aprendizagem, independente de deficiências, podendo essas necessidades decorrerem também de condições individuais, econômicas ou socioculturais dos alunos (BRASIL, 2006). O aluno com NEE é aquele que “apresenta necessidades próprias e diferentes dos demais alunos no domínio das aprendizagens curriculares correspondente a sua idade, requer recursos pedagógicos e metodologias educacionais específicas” (BRASIL, 2006, p.43). 117 Mestra em Educação INSPET – CUBA REVALIDAÇÃO / UFPI. Professora Assistente UEMA/UESPI

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A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO CONTEXTO DA AVALIAÇÃO INCLUSIVA - UMA POSSIBILIDADE ATRAVÉS DA AVALIAÇÃO

FORMATIVA.

Maria do Socorro Batista Silva Maciel - UEMA/UESPI.117 Eixo Temático: Formação de professores e processos de inclusão/exclusão em educação

Categoria: Comunicação Oral [email protected]

INTRODUÇÃO

A educação inclusiva segundo Rodrigues (2008) é um modelo de educação para todos os

alunos, independente das capacidades e condição socioeconômica. Segundo este autor, o

objetivo da educação inclusiva é alterar as práticas tradicionais de modo que se valorizem

as diferenças existentes entre os alunos e se removam as barreiras que interferem na

aprendizagem.

No Brasil, o processo de inclusão dos alunos com Necessidades Educacionais Especiais

(NEE) vem ocorrendo gradativamente em nosso por meio de políticas públicas que visam à

transformação do sistema educacional, como aponta Mendes (2006)

[...] as propostas variam desde a ideia da inclusão total – posição que defende que todos os alunos devem ser educados apenas e só na classe da escola regular – até a ideia de que a diversidade de características implica a existência e manutenção de um contínuo de serviços e de uma diversidade de opções (MENDES, 2006, p.396).

As pessoas com Necessidades Educacionais Especiais – NEE, são aquelas que têm elevada

capacidade para aprender ou que apresentam dificuldades de aprendizagem, independente

de deficiências, podendo essas necessidades decorrerem também de condições individuais,

econômicas ou socioculturais dos alunos (BRASIL, 2006).

O aluno com NEE é aquele que “apresenta necessidades próprias e diferentes dos demais

alunos no domínio das aprendizagens curriculares correspondente a sua idade, requer

recursos pedagógicos e metodologias educacionais específicas” (BRASIL, 2006, p.43). 117 Mestra em Educação INSPET – CUBA REVALIDAÇÃO / UFPI. Professora Assistente UEMA/UESPI

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Pires (2000) considera como alunos com NEE desde aqueles denominados “alunos

problema”, por não se dedicarem à tarefa escolar e serem impertinentes, desobedientes, até

aqueles alunos com síndromes ou outros comprometimentos orgânicos ou neurológicos

que afetam áreas como: percepção sensorial; capacidade de pensar; capacidade de

relacionar-se com outros ou com o ensino; alunos com deficiência física, além de tantos

outros.

Tendo em vista os conceitos aqui indicados sobre a caracterização das pessoas com NEE,

percebemos que este grupo apresenta diferenças singulares que requerem atenção especial

nas ações pedagógicas e na utilização de recursos que possibilitem a aprendizagem no

ensino comum podendo assim receberem apoio especializado como complemento ao seu

desenvolvimento, uma vez que a inclusão se traduz pela capacidade da escola em dar

respostas eficazes às diferenças de aprendizagem dos alunos, considerando o

desenvolvimento dos mesmos como prioritário.

A prática da inclusão implica no reconhecimento das diferenças dos alunos e na concepção

de que a aprendizagem é construída em cooperação a partir da atividade do sujeito diante

das solicitações do meio. O professor pode ampliar as possibilidades de aprendizagem do

aluno a partir de diferentes propostas didáticas as quais ele pode organizar no

desenvolvimento das práticas pedagógicas. Para isso é importante refletir sobre os desafios

do cotidiano escolar. Este novo olhar e esta nova forma de atuar ampliam as possibilidades

de desenvolvimento profissional e pessoal do professor.

Dessa forma, as práticas educativas nas classes comuns e, especiais devem ser revistas para

possibilitar um atendimento adequado às necessidades especiais das crianças, sem que isto

interfira de modo negativo no processo educacional das crianças comuns.

Anache (2007), em seu ensaio sobre os desafios advindos da inclusão, acrescenta que, para

que haja uma educação voltada para o diferente é necessário um amplo processo de

construção e reconstrução do conhecimento em uma sociedade democrática. Incluem-se

aqui os valores, ideias, percepções, interesses, capacidades, estilos cognitivos e

aprendizagens vivenciados pelas pessoas em interação. São nesses momentos de interações

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que se evidenciam, também, o preconceito e a discriminação, mais especificamente no

ambiente escolar. A escola que entendeu o princípio da inclusão, sabe que precisa rever

práticas pedagógicas, não porque agora tem a presença de um aluno com necessidades

educacionais especiais na sala de aula, mas porque compreendeu que não deve ignorar as

diferenças de seus alunos. Isso exige do professor uma mudança de postura além da

redefinição de papeis que possa assim favorecer o processo de inclusão. Focar na formação

profissional do professor, é necessário e relevante para aprofundar as discussões teóricas -

práticas, proporcionando subsídios com vistas à melhoria do processo ensino-

aprendizagem.

É somente a partir desse olhar focando nos reais significados do pensar de toda a

instituição escolar sobre a inclusão, que outras mudanças se farão reconhecidamente da

escola, entre outras, mas principalmente de adaptações curriculares que façam cumprir as

proposições contidas nas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação

Básica.

Neste sentido, sabe-se que um dos principais componentes do currículo escolar é a

avaliação da aprendizagem. Segundo Ferreira (2009), por ser uma prática complexa,

caracteriza-se como um dos momentos mais difíceis do trabalho docente ao envolver

procedimentos que requerem uma ação conjunta de todos que, direta ou indiretamente, a

ela estão ligados. A avaliação através da fase diagnóstica deve indicar ao professor os

caminhos a percorrer para a melhoria do processo ensino-aprendizagem.

Implementar uma proposta de inclusão educacional, devido a sua complexidade, torna-se

um desafio, no que se refere ao saber e o fazer docente nos diferentes pontos ressaltando-se

a avaliação, que tradicionalmente tem sido utilizada para medição e classificação dos

estudantes, e vem sendo questionada diante desta nova configuração da educação

inclusiva. Tal modelo tradicional de avaliação tem seus tentáculos baseada na pedagogia

jesuítica do exame que faz um monitoramento do que é e como é ensinado, concorrendo

assim para a exclusão escolar. Se o modelo de avaliação analisada contribui para a

exclusão de alunos regulares, a situação é ainda ampliada para os alunos que apresentam

dificuldades de aprendizagem, pois se percebe que a avaliação da aprendizagem possui

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padrões de referencias que por natureza apresentam distancia ainda maior para o aluno

com dificuldades de aprendizagem. A atitude e representações sociais dos professores

mostram sua concepção de avaliação tradicional materializada através de provas,

classificando os alunos em aprovados e reprovados, aptos e não aptos, configurando-se na

avaliação somativa. Perrenoud (2000) contempla essa visão quando analisa que na escola,

a avaliação é nutrida pela hierarquia da excelência, cujos valores são estipulados pelos

professores e a escola. Os alunos são classificados de acordo com o padrão de excelência,

tornando assim a avaliação a serviço da seleção e exclusão, aumentando assim a fileira dos

alunos que fracassam na escola e na vida social.

A defesa de Perrenoud (2000) na luta contra a avaliação somativa é vislumbrar para uma

avaliação formativa dos alunos, cujo foco esteja centrado legitimamente na aprendizagem,

onde durante o percurso, se faça uma intervenção com vistas à regulação do processo

ensino aprendizagem.

Nas palavras de Luckesi (1998), o professor avalia o produto em detrimento do processo,

melhor esclarecendo, quando se avalia o produto, o resultado final, não há espaço para uma

intervenção na aprendizagem dando chance ao aluno de restabelecer a aprendizagem.

Transpondo essa discussão para o principio da inclusão as pessoas com necessidades

educativas especiais não podem ser descritas em termos de melhor e/ou pior, bem ou mal,

superior ou inferior, maioria ou minoria, dentre outras considerações.

O fato de assinalar algumas necessidades educativas especiais como sendo diferenças volta

a posicionar essas marcas, essas identidades como sendo opostas à ideia de normal, do

anormal e, então, daquilo que é pensado e fabricado como o correto, o positivo, o melhor.

(RODRIGUES, 2006).

Baseadas nessas discussões, pesquisas apontam a discussão da avaliação no contexto da

educação inclusiva como uma temática cada vez mais abordada, em especial, por está

associada ao processo de ensino-aprendizagem, bem como suas consequências, que podem

subsidiar planejamentos pedagógicos que respondam às necessidades específicas dos

alunos de forma terapêutica, ou seja, para cada dificuldade de aprendizagem diagnosticada

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pelo professor em um aluno ou em um grupo de alunos seja apresentada uma proposta de

aprendizagem específica que caracterize a concepção de que o importante é a busca pela

aprendizagem do aluno. Não há um modelo único para a educação, assim como cada ser

humano é diferente do outro. Uma visão homogênea de educação, na qual todas as crianças

aprendem do mesmo modo e no mesmo ritmo não é uma realidade. Nesse contexto afirma

Morin (2000).

Para as escolas, essas afirmativas devem conduzir ao reconhecimento e à legitimação de novas práticas, reconhecendo e respondendo às necessidades diversificadas dos alunos, acomodando os diferentes estilos e ritmos de aprendizagem, assegurando uma educação de qualidade para todos e um processo de avaliação pertinente. Morin (2000).

Neste sentido, todo processo avaliativo tem por intenção observar o aprendiz, analisar e

compreender suas estratégias de aprendizagens e tomar decisões pedagógicas favoráveis à

continuidade do processo (HOFFMANN, 2007). A referida autora, que já defende o uso de

procedimentos em avaliação mais abrangentes, também nos coloca que o processo

avaliativo é de caráter singular aos estudantes e é preciso refletir sobre esses

procedimentos, pois suas práticas excludentes ou afetarão seriamente esses sujeitos.

Segundo BOLSANELLO (2005) para que a avaliação alcance suas finalidades, é

necessário que se tenha conhecimento do potencial de aprendizagem do aluno e dos

avanços que ele alcança com relação ao seu próprio desempenho, sem comparar com o

desempenho dos outros. Ainda de acordo com o autor o aluno necessita de uma atenção

diferenciada, de acordo com suas características especificas de aprendizagem e não por

possuir estrutura mental com déficit de aprendizagem em relação aos outros alunos.

Nesse contexto, é pertinente questionar como ocorre dentro do contexto inclusivo a

avaliação dos alunos com necessidades educacionais especiais? Quais os desdobramentos

da avaliação realizada? É necessária uma avaliação com vistas à identificação das

necessidades educacionais especiais dos alunos para a tomada de decisões pedagógicas no

planejamento do ensino regular? Existe uma avaliação diferenciada que leva em conta a

diversidade em uma escola para todos? Existe uma avaliação diagnóstica que identifique as

habilidades individuais, o ritmo da aprendizagem considerando limites das deficiências

físicas e intelectuais? Enfim, como ocorre, dentro de uma perspectiva inclusiva, a

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avaliação dos alunos com necessidades educacionais? Para visualizar com profundidade

essas questões o objetivo deste artigo é investigar como se processa a avaliação dos alunos

com dificuldades de aprendizagem, utilizando a avaliação formativa com vistas à ação

modificadora do processo de avaliação na escola regular no sentido de favorecer a

preparação dos professores que atuam com crianças com dificuldades de aprendizagem.

A AVALIAÇÃO FORMATIVA E O PROCESSO DE INCLUSÃO ESCOLAR

Uma escola para todos. Este direito democrático de ensino que historicamente se traduziu

em um princípio foi objeto de luta iniciada pelos Pioneiros da Educação conforme mostra a

História Memória da Educação Brasileira. Desta forma, o processo de democratização do

ensino através do direito à escola, tem sido um campo fértil para debates que comprovam a

necessidade de mudanças significativas na prática pedagógica. Isto porque mais importante

do que o aluno entrar na escola é garantir a sua permanência superando os obstáculos

encontrados na mesma após a sua acessibilidade. Na verdade, embora os sistemas de

ensino universalizem os acessos, continuam, todavia, marginalizando aqueles considerados

fora dos padrões homogeneizantes da escola.

A preocupação com a educação básica para todos, principalmente nos países menos

desenvolvido foi acordado em junho de 1994, com a Declaração da Salamanca - Espanha,

realizado pela UNESCO na Conferência Mundial Sobre Necessidades Educativas

Especiais: Acesso e Qualidade, assinado por 92 países, que tem como princípio

fundamental: “todos os alunos devem aprender juntos, sempre que possível independente

das dificuldades” O documento afirma que:

As necessidades básicas de aprendizagem das pessoas portadoras de deficiências requerem atenção especial. É preciso tomar medidas que garantam a igualdade de acesso à educação aos portadores de todo e qualquer tipo de deficiência, como parte integrante do sistema educativo. (DECLARAÇÃO DE JOMTIEN, 1990, p.04).

No Brasil, o debate sobre a Declaração de Salamanca é traduzido nos documentos oficiais

nacionais como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), e em diversos

pareceres e resoluções do Conselho Nacional Educação e mesmo nos Parâmetros

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Curriculares Nacionais (PCN), os quais podemos considerar como a referência curricular

que pretende direcionar a ação educativa a nível nacional, despertando a questão da

avaliação como um ponto básico e essencial para balizar a prática pedagógica, colocando

em destaque o desempenho escolar desses alunos e a proposição de adaptações

curriculares.

Com a Resolução nº 2/2001- MEC que instituiu as Diretrizes Nacionais para a Educação

Especial na Educação Básica, houve um avanço na perspectiva da universalização e

atenção à diversidade, na educação brasileira, com a seguinte recomendação: Os sistemas

de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizar-se para o

atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais, assegurando as

condições necessárias para a educação de qualidade para todos. No entanto, a realidade

desse processo é bem diferente do que se propõe na legislação e requer muitas discussões

relativas ao tema.

Neste sentido, o princípio de inclusão deve fundamentar a prática pedagógica, resgatando

possibilidade de determinados educandos que independentemente de suas condições, têm

direito às mesmas oportunidades de realização de seu potencial psicossocial. No entanto, é

preciso discutir as condições institucionais, administrativas e pedagógicas que poderão ou

não concretizar esse princípio no cotidiano das escolas. É nesse sentido que a avaliação da

aprendizagem é o elemento do processo ensino- aprendizagem que se constitui em um dos

grandes obstáculos na consolidação de uma proposta de escola inclusiva. Tal afirmação se

verifica devido a concepção de avaliação baseada na pedagogia jesuítica do exame. Os

exames escolares que praticamos hoje foram sistematizados no século XVI pelas

pedagogias Jesuítas e Comenianas. Somos herdeiros desses modelos pedagógicos, quase de

forma linear que se reduz a um controle normalizante, uma vigilância que permite

qualificar, classificar e punir. Estabelece sobre os indivíduos uma visibilidade através da

qual eles são diferenciados e sancionados, Foucault (2009, p.177). Isto posto, mostra a

necessidade de reestruturação do processo de avaliação baseado com o desenvolvimento de

uma prática pedagógica comprometida com a inclusão, com a pluralidade, com o respeito

às diferenças, e com a construção coletiva. Um movimento direcionado pela concepção de

escola como território múltiplo, marcado pela diversidade de cultura e vozes.

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A responsabilidade do fracasso escolar que por si favorece a exclusão escolar e social

sempre foi atribuída somente ao aluno. Poucas vezes, os professores tem se preocupado

com os alunos no sentido de atribuir se os erros apontados nas provas cometidos por seus

estudantes são equívocos de informação, incapacidade de interpretação dos enunciados, ou

pequenas falhas de cálculo. Todos esses questionamentos não se constituem tarefa do

professor, debitando assim no estudante toda a responsabilidade do seu fracasso e por fim

de sua exclusão da escola.

Investigar as concepções a respeito da avaliação do professor ajuda a compreender melhor

esse processo e encontrar formas de intervir, provocando mudanças necessárias no ato de

conceber o processo avaliativo, fazendo com que este perceba a avaliação como um

momento que implica em acompanhamento e reorientação permanente da aprendizagem

realizada com vistas a integrar o princípio inclusivo.

É nesse sentido que a avaliação da aprendizagem é o elemento do processo ensino

aprendizagem que se constitui em um dos grandes obstáculos na consolidação de uma

proposta de escola inclusiva.

Neste sentido, Luckesi (1999), define avaliação, como um ato rigoroso e diagnóstico da

aprendizagem, tendo em vista a obtenção dos melhores resultados possíveis frente aos

objetivos definidos. Para tanto, podemos nos servir de todas as modalidades e técnicas de

avaliação hoje disponíveis, contanto que a leitura e interpretação dos dados sejam feitas

sob a ótica da avaliação que diagnostica, pois dessa forma se torna construtiva e inclusiva.

Nesse contexto, é necessário que se faça dos resultados obtidos na avaliação um ponto de

partida tendo em vista uma tomada de decisão, com vistas ao aperfeiçoando de suas

práticas controlando o processo ensino aprendizagem. Para Vygotsky (1987) existe uma

interação entre o sujeito e o ambiente no processo de construção do conhecimento. Não se

apreende a realidade diretamente, mas por reconstrução. Avaliar é muito mais do

simplesmente medir e comparar: implica em integrar, promover ações interativas e

adaptativas a todas as crianças.

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Comungando com essa pratica progressista da avaliação alunos e professores da educação

professores e alunos serão atores numa relação horizontal através da avaliação dialógica

defendida por Hoffman (2001), onde encontrem durante o percurso o caminho para o

progresso.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A universalização do direito a educação está lançada através de um aparato de dispositivos

legais, no entanto, a política de inclusão de alunos que apresentam necessidades educativas

especiais baseia-se em fatores mais abrangentes do que somente os legislativos. Portanto,

ainda não está garantida a inclusão escolar, pois a escola está sob a égide de metodologias

tradicionais, principalmente no tocante a avaliação da aprendizagem que ainda contribui

para a exclusão doravante as formas e modelos padrões de avaliação que não se

enquadram na diversidade de formas de aprendizagem contribuindo assim para a

manutenção da fracasso escolar e para a exclusão.

A maneira como os professores avaliam a aprendizagem dos alunos condiciona

notavelmente a possibilidade de oferecer-lhes um ensino que não atenda às suas

diferenças. Dessa forma, certas maneiras de avaliar utilizando o uso de modalidades e

instrumentos de avaliação tradicionais podem ser potentes mecanismos de exclusão de

determinados alunos ou grupos de alunos.

Assim entendida, uma avaliação no contexto de educação inclusiva, se fará através da

avaliação formativa como reguladora do processo de ensino-aprendizagem, ampliando e

superando claramente o papel tradicional da avaliação somativa baseada no exame que

pontua, classifica e exclui.

Uma avaliação inclusiva tem um objetivo essencialmente formativo: facilitar, para o

professor, a adoção de decisões fundamentadas de adaptação do ensino, através de

planejamento adaptado às diferenças constatadas com vistas a aprendizagem do aluno e

garantir a sua permanência na escola.

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A educação inclusiva de qualidade, que vise realmente integrar diferenças não se constitui

uma tarefa fácil, mas é uma possibilidade que necessita do engajamento de todos na busca

por uma escola e sociedade democrática.

REFERENCIAS

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