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A Cartografia da Violência no Campo no Centro-Oeste:
Uma análise sobre o Estado do Mato Grosso
José Victor Juliboni Cosandey (Universidade Federal Fluminense)
Mestrando em Geografia pela Universidade Federal Fluminense
ResumoA incorporação de áreas de cerrado ao complexo agroindustrial de carne e grãos
transformou a paisagem regional do Centro-Oeste brasileiro. Um dos Estados da federação em que os movimentos sociais campesinos e a violência se apresentam de modo expressivo é o Mato Grosso. No bojo desse processo, a violência se confirma como a face perversa do agronegócio. A fim de revelar tal situação, este artigo tem como objetivo apresentar uma cartografia da violência no campo em Estado do Mato Grosso. A ideia básica é associar a violência com as diversas atividades produtivas, de modo a ter um quadro menos reducionista da violência. Não há espaço neste texto para um aprofundamento de cada tipo de violência. O que interessa é sua cartografia. O que se verifica é que, a partir da ocupação de propriedades realizada pelos movimentos sociais, principalmente nas fazendas de cana, pecuária e soja, aparecem as mais diversas formas de violência no campo, como os despejos, prisões, expulsões e assassinatos. Todavia, há o trabalho escravo, pois de todas as violências no campo, este não decorre da ocupação, e sim do interesse dos latifundiários na exploração da mão de obra.
Palavras-chaveViolência, Cartografia, Agronegócio, Mato Grosso.
Introdução
Os conflitos sociais no campo aparecem, hoje em dia, num contexto de crise rural, tendo
em vista a concentração fundiária e o desemprego. Todavia, tais questões remontam ao passado
colonial brasileiro. Já os movimentos sociais de reivindicação da Reforma Agrária ganham mais
expressão no século XX. Dentre os principais estão as Ligas Camponesas e o Movimentos do
Sem-Terra. A ação desses movimentos se dá no embate com os atores do agronegócio ou
oligarquias agrárias tradicionais. O resultado é o conflito entre interesses assimétricos acerca do
modo de produzir no campo e da propriedade da terra. A partir do conflito, a violência no campo
mostra a face dolorosa do trato com os excluídos ou inseridos precariamente nos espaços
agrários do país. A violência é fruto da luta pela terra.
Vale aqui lembrar que conflito e violência são conceitos distintos. Girardi e Fernandes
(2008, pg. 339) afirmam que, o conflito no campo é uma reação às desigualdades impostas pelo
modo capitalista de produção. O conflito surge a partir de redes territoriais de resistência; logo, o
conflito é resultado e expressão da resistência ao poder dos atores do agronegócio. Por outro
lado, as alianças políticas entre o Estado e os atores capitalistas se utilizam da violência para
controlar o conflito. A violência emerge do conflito e caracteriza-se pelo ataque físico ou moral
sobre as pessoas que resistem às forças dominantes do capital. Além da violência privada,
também existe a violência praticada pelo Estado contra camponeses através de ações diretas e
indiretas, passivas ou ativas.
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A violência direta, como aborda Vigna (2001 apud GIRARDI, 2008, pg. 293), é a violência
que usa a força física contra o camponês, sendo utilizada pelo poder privado ou pelo Estado.
Destacam-se os assassinatos, os despejos e as expulsões da terra. Na violência direta e ativa, o
Estado se utiliza dos despejos judiciais, com o uso da força policial no cumprimento das ordens de
despejo e no controle dos manifestantes, o que pode provocar mortes. Já a forma passiva da
violência direta aparece na omissão do Estado em relação à violência direta praticada pelo poder
privado contra os trabalhadores rurais. Por fim, a violência indireta é uma prática concomitante do
Estado, com fazendeiros e empresários. A ação política é a principal forma de execução dessa
violência.
Em termos geográficos, “a violência permite mostrar outra dimensão da criminalidade, que
é a da territorialização da mesma: a formação dos territórios da violência e como a violência se
realimenta pela inércia espacial” (FERREIRA e PENNA, 2005, pg. 167). Sendo assim, é no
território que “a pobreza, a exclusão social, a omissão do estado, a violência e as carências
tornam-se mais visíveis, mais presentes e escapam das máscaras que as abordagens setoriais
lhes imprimem e minimizam” (Ibidem, pg. 157).
Como aborda Martuccelli (1999, pg.158), “o raciocínio foi, durante muito tempo, sempre o
mesmo: a violência "vinda de baixo" e uma resposta à violência "vinda de cima" e esta, por sua
vez, uma maneira de controlar ou de prevenir a violência que vem de baixo”.
Há duas razões principais para a ocorrência da violência no campo: a concentração de
terra e a impunidade. Segundo Caralo,
A concentração de terra está diretamente relacionada como a concentração do poder. Os poucos donos das terras, que sempre receberam privilégios e exerceram influência sobre as instâncias do Estado brasileiro, além de se sentirem donos da natureza e com isso explorá-la até à exaustão, também se comportam como se fossem donos das pessoas, especialmente as mais pobres. Em nome de seus interesses pessoais, financeiros e políticos, os latifundiários exploram, escravizam, ameaçam, torturam e matam aqueles e aquelas que ousam lutar contra seus privilégios. [...] A impunidade [...] é uma importante cúmplice da violência e traz para a cena, além da não penalização dos responsáveis pelos crimes, uma situação de atemorização da população e de impotência das autoridades (CARALO, 2005, não pág.).
A resistência do poder é realizada pelos atores sociais que estão presentes em condições
desvalorizadas pela lógica da dominação, erguendo, assim, “trincheiras de resistência com base
em princípios diferentes dos que permeiam as instituições da sociedade, ou mesmo oposta a
estes últimos” (CASTELLS, 1998, pg.24). O principal local onde ocorre a resistência, neste caso, é
o acampamento.
Acampamentos e assentamentos são novas formas de luta de quem já lutou ou de quem resolveu lutar pelo direito à terra livre e ao trabalho liberto. A terra que vai permitir aos trabalhadores – donos do tempo que o capital roubou e construtores do território comunitário e/ou coletivo que o espaço do capital não conseguiu reter à bala ou por pressão – reporem-se/reproduzirem-se no seio do território da reprodução geral capitalista. Nos acampamentos, camponeses, peões e boias-frias encontram na necessidade e na luta, a soldagem política de uma aliança histórica. Mais do que isso, a transformação da ação organizada das novas lideranças abre novas perspectivas para os trabalhadores. Greves rurais na
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cidade para buscar conquistas sociais no campo são componentes ainda localizados no campo brasileiro, sinal inequívoco de que estes trabalhadores, apesar de tudo, ainda lutam. (OLIVEIRA, 2001, pg. 194).
Ao observarmos esta citação do professor Ariovaldo, percebe-se que a resistência e a luta
são a razão da constituição das redes políticas campesinas. A articulação de interesses coletivos
entre peões, camponeses, boias-frias, sem-teto nas cidades, igreja (Comissão Pastoral da Terra),
professores, partidos políticos, estudantes, ONGs etc. anunciam formas de ação política com
estratégias definidas para a realização dos objetivos pretendidos.
Os acampamentos/assentamentos são os locais onde a resistência camponesa é
organizada na forma de rede política. Conforme Brenneisen,
A história está repleta de acontecimentos que têm demonstrado que os camponeses, longe da passividade a eles atribuída, têm resistido a toda sorte de dominação que lhes tem sido imposta. Esta resistência tem se dado seja de maneira localizada, espontânea, em pequena escala, na vida cotidiana, ou através da resistência em larga escala. A própria organização dos sem-terra constitui-se numa resistência em larga escala, que tem imposto mudanças na configuração da propriedade da terra no Brasil e nas próprias relações sociais no campo (BRENNEISEN, 2002, pg. 244).
No geral, o conflito entre os jagunços/pistoleiros e os posseiros começa na tentativa destes
últimos de garantirem um pedaço de terra para trabalhar, o que grandes proprietários não têm
permitido. Conforme Oliveira (1994, pg. 69), “as lutas proliferam e os movimentos sociais, em
diferentes lugares, vão surgindo, unificando lutas aparentemente específicas: luta por terra; luta
por preços mais justos; e luta contra a política agrícola discriminatória”.
Dilemas sociais do agronegócio no Mato Grosso
O Estado do Mato Grosso possui como grande destaque de sua economia o agronegócio
(ou agrobusiness, em inglês), numa nítida constituição de um meio técnico-científico-
informacional, conforme assinala Santos (1996). O espaço agrário e agrícola é marcado por
latifúndios pecuaristas ou de lavouras temporárias de grãos e cana. A monocultura de alto
conteúdo tecnológico incorpora pouca mão de obra. Grande parte da produção é voltada para o
mercado externo, tendo como principais produtos a soja, o algodão, o milho, a pecuária e a cana.
Segundo a estatística de produção agrícola realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), em 2010, o Estado do Mato Grosso é o segundo maior produtor de grãos do
país. Destaca-se como o segundo maior produtor de milho, o maior produtor de soja e algodão,
além de ter mais 27 milhões cabeças de gado, o maior rebanho e produção de carne do Brasil.
O agronegócio veicula princípios da modernidade, representações simbólicas da
modernização, da industrialização, da globalização, do desenvolvimento do campo e da cidade.
Se discurso é uma forma de poder, o discurso do agronegócio alterou padrões identitários da vida,
desterritorializando diversos grupos sociais. Logo, há uma problemática a ser discutida. A
grilagem de terras, por exemplo, é reconhecida como um dos vilões da violência no campo em
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Mato Grosso, já que terras do Estado ficam em mãos de um pequeno grupo em vez de ser
destinada para a Reforma Agrária.
Além disso, a violência no campo vem obtendo números expressivos. Em uma rápida
análise dos últimos dados de cada tipo de violência no campo, percebe-se que o número de
trabalhadores escravos libertados em Mato Grosso foi de 308 em 2009, um pouco mais de 7% do
total no Brasil. No entanto, segundo a CPT, entre os anos de 1995-2002 e 2003-2009, o estado do
Mato Grosso apareceu em segundo lugar entre os números de trabalhadores escravos, perdendo
apenas para o estado do Pará.
Nos assassinatos, 16% dos casos, no Brasil, aconteceram em MT em 2009. Em 2006, o
número de famílias despejadas no Brasil foi de 17.443, sendo que em Mato Grosso foram 525
famílias, ou seja, 3% do total em todo o país. Nas expulsões, em 2005, foram 4.366 famílias
expulsas pelo poder privado e, em Mato Grosso, foram 448 registrados, ou seja, 10,26%. O único
índice que apareceu com um valor bem abaixo do normal foram as prisões no meio rural. No
Brasil, havia um número de 917 presos em 2006, porém em Mato Grosso ocorreu apenas uma
prisão.
Tais números revelam que o atual celeiro agrícola brasileiro é também um dos campeões
da violência no campo. O avanço da fronteira agrícola em direção à faixa de tensão ecológica
tende a ampliar tais números. Isso comprova que o agronegócio tem uma de suas bases de
reprodução à violência aos que resistem aos atores dominantes da agricultura capitalizada. A
estratégia da violência é uma forma de eliminar os obstáculos sociais para a reprodução exclusiva
do agronegócio no cerrado.
Uma visão da violência do campo em Mato Grosso
A partir de dados coletados no site e em revistas da Comissão Pastoral da Terra (CPT),
foram elaborados mapas, tabelas e gráficos com os índices de Assassinato, Prisão, Despejo,
Expulsão e Trabalho Escravo. Em alguns dados não estavam disponíveis as atividades
agropecuárias realizadas nas fazendas, glebas, assentamentos1. Logo, aproximadamente 4% das
ocorrências da violência no campo não apareceram.
O estudo em tela analisa as diversas formas de violência praticadas contra os
trabalhadores rurais, tais como assassinatos e prisões, que possuem uma expressiva ocorrência e
números mais concretos dos que os de tentativas de assassinato e ameaças de morte, também
presentes nas pesquisas da CPT. Despejo e expulsões foram escolhidos para perceber qual é o
principal poder (público ou privado) que retira os camponeses das terras por estes ocupadas. Por
fim, a análise do trabalho escravo se dá pelo fato de ser a forma de violência no campo com maior
destaque em Mato Grosso, perante o cenário nacional. Por mais que esses dados fornecidos pela
1Alguns dados da CPT não foram considerados por não haver informações suficientes do local onde ocorreu a ação ou o número preciso de pessoas que sofreram a ação.
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CPT possam não ser a totalidade2, mostram o quanto a violência no campo é um problema sério
no Brasil. Mais do que números, são vidas, são informações sobre a situação dos trabalhadores
do campo e revelam a luta dos camponeses. As tabelas, os gráficos e os mapas apresentados
codificam os problemas e a violência a que estão submetidos diversos grupos sociais no campo.
No levantamento dos dados, foi considerada a principal atividade de cada fazenda, já que
há fazendas que apresentam mais de uma atividade, seja na agricultura, na pecuária, no
extrativismo. Em todos os casos, com exceção do trabalho escravo, os conflitos que ocorrem nas
fazendas são entre os acampados/assentados e fazendeiros. Outro dado importante a ser
apresentado é a presença de pequenos produtores rurais, que, na verdade, são os assentados
com a emissão de posse da terra, constituindo-se em cooperativa de produtores com produção
diversificada de alimentos para subsistência do grupo e venda dos excedentes.
Vejamos, a seguir, a distribuição geográfica dos tipos de violência em Mato Grosso, entre
1990 e 2009, por tipo de atividade produtiva.
Assassinato
Os homicídios no meio rural em Mato Grosso são frequentes todos os anos. Foram 35
assassinatos no período de 1994 – 2009, relacionados à pecuária, responsável por 14 mortes, à
soja com uma morte e 20 mortes nas pequenas propriedades rurais. Os municípios com maiores
índices neste quesito foram Colniza, Rosário Oeste e Peixoto de Azevedo, apresentando cada um
cinco mortes.
As razões para os assassinatos estão relacionadas à reintegração de posse por parte do
MST. O conflito direto se dá entre o MST e os grileiros, que, normalmente, contratam pistoleiros
para matar os trabalhadores rurais. Outra razão do assassinato é o bloqueio de estradas por parte
de integrantes do MST e os conflitos com caminhoneiros. As mesorregiões que apresentaram
homicídio no campo são o Centro-Sul, Nordeste e Norte mato-grossense (Mapa1).
Segundo o "Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros" realizado pela OEI
(Organização dos Estados Ibero-Americanos), no ano de 2004, a cidade mais violenta do Brasil, e
com apenas 12 anos de existência (pertencia ao município de Aripuanã) é Colniza, localizada no
noroeste do Estado, fronteira com o Estado do Amazonas e com Rondônia. Durante muitos anos
sem sede do Poder Judiciário e com um policiamento ineficiente, o município sofreu e ainda sofre
com a impunidade.
Não faltam terras griladas por pessoas com poderes políticos e econômicos na cidade que
vendem “suas terras” para empresas madeireiras. O desmatamento ilegal faz com que a cidade
esteja entre os municípios que mais desmatam no Brasil, segundo o Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE).
2 Os dados fornecidos pela CPT são dinâmicos, podendo ser atualizados. Algumas informações tendem a ser corrigidas e/ou acrescentadas, mesmo após a publicação dos dados. Por isso, os dados trabalhados e publicados neste artigo podem ser diferentes dos apresentados em outras publicações.
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Os pequenos produtores rurais, ou seja, os assentados são os que mais sofrem com esta
ação (Gráfico1), correspondendo a um pouco mais de 57% dos casos. Os camponeses também
são a maioria dos assassinados na pecuária e na soja, devido às ameaças e aos homicídios
provocados pelos pistoleiros.
O número é expressivo nas pequenas produções rurais, pois é a partir do
assentamento/acampamento que os camponeses podem conseguir a terra improdutiva da qual
eles invadiram. Porém, os fazendeiros não querem perder a terra que lhes pertencem. O problema
não são as pequenas propriedades rurais, e sim a intimidação que os fazendeiros fazem perante
os camponeses. As pequenas produções rurais são o único jeito que os camponeses acharam
para conseguir terras para sua subsistência.
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Diversos casos não chegam às autoridades, e ocorrem no meio rural, distante da área
central do município. O mais assustador é que as pessoas encaram os assassinatos como algo
natural, até porque não há repressão e punição que condizem com a violência. Como informa o
relatório “Mapa da Falência”, realizado em 2010 pelo Sindicato dos Investigadores da Polícia Civil
de Mato Grosso, presente no site 24HorasNews3, não há, em diversos municípios de Mato
Grosso, policiais suficientes, ou há municípios sem policiais, como é o caso de Planalto da Serra.
Falta fiscalização principalmente para combater a chegada dos grileiros.
Embora os casos de assassinatos apareçam com certa frequência em Mato Grosso, há
uma vantagem maior em impor o medo do que matar, pois o terror psicológico sobre os
trabalhadores sem-terra faz com que haja uma saída deles da região, sem que exista a
necessidade das mortes e, consequentemente, aparecimento da mídia e da policia.
Prisão
As prisões são efetuadas principalmente contra os acampados. Dentre as atividades que
apresentam este tipo de violência estão: algodão (oito presos), cana (cinco presos), madeireira
(um preso), mandioca (quatro presos), pecuária (26 presos), pequenos produtores rurais (35
presos), quilombola (dois presos) soja (28 presos). Há um total de 109 prisões, entre os anos de
1990 - 2006 (Tabela I).
Tabela I: Prisões no campo em Mato Grosso
Fonte: Comissão Pastoral da Terra (1990 – 2006), adaptado pelo autor.
3 Informações no site: http://www.24horasnews.com.br/index.php?tipo=ler&mat=353154, acessado em 20/02/2011.
UF Ano Municípios Número de Vítimas AtividadesMT 1990-2006 Cuiabá 7 AlgodãoMT 1990-2006 Pedra Preta 1 AlgodãoMT 1990-2006 São Pedro da Cipa 5 CanaMT 1990-2006 Luciara 1 MadeireiraMT 1990-2006 Terra Nova do Norte 4 MandiocaMT 1990-2006 Cáceres 1 Pecuária bovinaMT 1990-2006 Marcelândia 4 Pecuária bovinaMT 1990-2006 Mirassol D'Oeste 8 Pecuária bovinaMT 1990-2006 Nobres 1 Pecuária bovinaMT 1990-2006 Peixoto de Azevedo 7 Pecuária bovinaMT 1990-2006 Rosário Oeste 1 Pecuária bovinaMT 1990-2006 Confresa 4 Pecuária bovinaMT 1990-2006 Alta Floresta 1 Peq. Prod. RuraisMT 1990-2006 Canabrava do Norte 4 Peq. Prod. RuraisMT 1990-2006 Chapada dos Guimarães 1 Peq. Prod. RuraisMT 1990-2006 Confresa 6 Peq. Prod. RuraisMT 1990-2006 Guarantã do Norte 12 Peq. Prod. RuraisMT 1990-2006 Luciara 2 Peq. Prod. RuraisMT 1990-2006 Novo São Joaquim 3 Peq. Prod. RuraisMT 1990-2006 Rosário Oeste 1 Peq. Prod. RuraisMT 1990-2006 Sinop 4 Peq. Prod. RuraisMT 1990-2006 Terra Nova do Norte 1 Peq. Prod. RuraisMT 1990-2006 Nossa Senhora do Livramento 2 QuilombolaMT 1990-2006 Novo São Joaquim 1 SojaMT 1990-2006 Sinop 27 Soja
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As prisões ocorreram devido à posse ilegal de armas, confronto de manifestantes contra a
polícia, despejos efetuados em algumas fazendas, tentativas de assassinato, acusação de roubo,
desacato à autoridade e formação de quadrilha. As prisões ocorrem em todas as mesorregiões de
Mato Grosso (Mapa 2).
São raros os casos em que os fazendeiros e seus comparsas são presos. Isso só acontece
caso haja uma fiscalização da polícia para verificar a existência de posse ilegal de armas e/ou
formação de quadrilha, devido a esquemas relacionados à extração ilegal de madeira.
De acordo com o gráfico 2, as atividades que apresentam um maior destaque são os
pequenos produtores rurais (32,1%), soja (25,7%) e pecuária (23,8%). Nas pequenas produções
rurais, as prisões ocorrem por ações de despejo provocado por forças policiais. A partir do
momento em que há a reintegração da posse de terra que estava na mão dos camponeses e
retorna ao fazendeiro, há conflitos de interesses. A partir daí qualquer manifestação contrária ao
despejo gera violência e prisões.
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Mesmo em terras cedidas pelo INCRA há conflitos. O quilombo Mata Cavalo, em Nossa
Senhora do Livramento, foi criado em 1999, já que esta área foi reconhecida pelo INCRA como
território de remanescente de quilombos. O problema é que esta terra hoje está em mãos de
fazendeiros, que lutam para expulsá-los. Numa das ações de despejo, feitas pela policia, ocorreu
a prisão de três representantes do quilombo.
Expulsão
A expulsão ocorre quando o poder privado impõe o medo e a expulsão (a partir dos
pistoleiros, jagunços) das famílias nos assentamentos/acampamentos. Foram 1679 pessoas
expulsas, sendo 570 na pecuária, 553 nos pequenos produtores rurais e 556 na soja (Tabela II).
Infelizmente, muitas famílias expulsas não avisam aos órgãos competentes sobre as ações
irregulares que são cometidas pelos contratados dos fazendeiros. O medo de retaliação desloca a
família para outra área de acampamento.
Tabela II: Expulsão no campo em Mato Grosso
Fonte: Comissão Pastoral da Terra (1990 – 2005), adaptado pelo autor
A expulsão ocorre principalmente a partir do conflito direto entre fazendeiros e posseiros.
Os primeiros detêm armas e intimidam, e, caso necessário, assassinam quem “invade” seu
território. Localizam-se na mesorregião Centro-sul, Norte, Nordeste e Sudeste do Estado do Mato
Grosso (Mapa 3).
A resistência à ação de expulsão provoca conflito e, consequentemente, pode provocar
mortes. Em 2005, ocorreu uma morte na fazenda Serra Verde, em Santo Antônio do Leverger,
uma morte na Gleba Conselvam, em Aripuanã e três mortes na Gleba do Gama, em Peixoto de
Azevedo. Alguns fazendeiros podem até não confirmar a presença de pistoleiros, mas todo
proprietário tem o direito de defender a sua propriedade e usam ameaças e homens armados para
fazer isso. Muitas das famílias expulsas já tinham plantações, mas, mesmo assim, acabaram
sendo expulsas
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As únicas atividades (pecuária, soja e pequenos produtores rurais) que apresentaram
expulsões no campo tiveram praticamente o mesmo número de famílias expulsas. No geral, os
pistoleiros intimidam os moradores, os agridem fisicamente ou assassinam. Os pistoleiros também
atiram próximo ao acampamento para amedrontar os acampados.
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Despejo
O despejo ocorre quando o poder público expulsa as famílias dos sem terra de uma
determinada fazenda com a ação policial. O número de despejo é expressivo, pois entre o período
de 1990 – 2006 ocorreu o despejo de 17366 famílias, uma média superior a 1000 famílias
despejadas por ano. As atividades rurais que estão envolvidas com despejo são, a saber: algodão
(1346), banana (75), cana (991), pecuária (6263), pequenos produtores rurais (6801), piscicultura
(500), quilombo (70) e soja (1340), conforme Tabela III.
Tabela III: Famílias despejadas do campo em Mato Grosso
UF Período Municípios Famílias Despejadas AtividadesMT 1990-2006 Campo Verde 440 AlgodãoMT 1990-2006 Cuiabá 286 AlgodãoMT 1990-2006 Jaciara 120 AlgodãoMT 1990-2006 Pedra Preta 200 AlgodãoMT 1990-2006 Rondonópolis 300 AlgodãoMT 1990-2006 Ribeirão Cascalheira 75 BananaMT 1990-2006 Confresa 9 CanaMT 1990-2006 Cuiabá 282 CanaMT 1990-2006 Jaciara 700 CanaMT 1990-2006 Alto Boa Vista 114 Pecuária bovinaMT 1990-2006 Araputanga 1070 Pecuária bovinaMT 1990-2006 Cáceres 4096 Pecuária bovinaMT 1990-2006 Canabrava do Norte 318 Pecuária bovina
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Fonte: Comissão Pastoral da Terra (1990 – 2006), adaptado pelo autor
As ordens de despejo ocorrem principalmente na pecuária e nas pequenas produções
rurais (Gráfico 3). Essas duas atividades representam 75% das ordens de despejos. Os
produtores despejados buscam a terra improdutiva e grilada. O problema para os camponeses é
que a justiça, em vários casos, dá parecer favorável para os grandes proprietários de terra.
MT 1990-2006 Confresa 80 Pecuária bovinaMT 1990-2006 Guarantã do Norte 35 Pecuária bovinaMT 1990-2006 Jauru 100 Pecuária bovinaMT 1990-2006 Marcelânida 50 Pecuária bovinaMT 1990-2006 Nova Olímpia 400 Pecuária bovinaMT 1990-2006 Acorizal 305 Peq. Prod. RuraisMT 1990-2006 Aripuanã 1400 Peq. Prod. RuraisMT 1990-2006 Canabrava do Norte 84 Peq. Prod. RuraisMT 1990-2006 Chapada dos Guimarães 581 Peq. Prod. RuraisMT 1990-2006 Confresa 665 Peq. Prod. RuraisMT 1990-2006 Cuiabá 83 Peq. Prod. RuraisMT 1990-2006 Diamantino 500 Peq. Prod. RuraisMT 1990-2006 Guiratinga 30 Peq. Prod. RuraisMT 1990-2006 Itiquira 380 Peq. Prod. RuraisMT 1990-2006 Novo Mundo 100 Peq. Prod. RuraisMT 1990-2006 Nova Mutum 100 Peq. Prod. RuraisMT 1990-2006 Novo São Joaquim 6 Peq. Prod. RuraisMT 1990-2006 Nova Xavantina 139 Peq. Prod. RuraisMT 1990-2006 Peixoto de Azevedo 100 Peq. Prod. RuraisMT 1990-2006 Porto Alegre do Norte 12 Peq. Prod. RuraisMT 1990-2006 Querência 47 Peq. Prod. RuraisMT 1990-2006 Rondonópolis 250 Peq. Prod. RuraisMT 1990-2006 Rosário Oeste 350 Peq. Prod. RuraisMT 1990-2006 Santo Antônio do Leverger 260 Peq. Prod. RuraisMT 1990-2006 Sinop 1400 Peq. Prod. RuraisMT 1990-2006 Sorriso 9 Peq. Prod. RuraisMT 1990-2006 Jangada 500 PsiculturaMT 1990-2006 Nossa Senhora do Livramento 70 QuilomboMT 1990-2006 Campo Verde 400 SojaMT 1990-2006 Comodoro 700 SojaMT 1990-2006 Sinop 240 Soja
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Os conflitos entre fazendeiros/assentados são o principal motivo da ordem de despejo. Por
mais que o INCRA ceda terras consideradas do Estado para famílias em regime de comodato,
essas terras são usadas por fazendeiros há anos. A outra situação é quando diversas fazendas
com terras improdutivas chamam a atenção e o interesse das famílias ligadas ao MST para o uso
próprio. O problema é que os proprietários das fazendas possuem dinheiro para contratar bons
advogados, dificultando a posse definitiva dessas terras aos sem-terra.
Em Mato Grosso, os despejos ocorreram em todo o Estado, como ilustrado no Mapa 4. Em
uma das fazendas, localizada entre os municípios de Várzea Grande e Jangada, predomina a
piscicultura, atividade que não utiliza toda a fazenda, deixando espaços improdutivos. Sendo
assim, 500 famílias sem-terra acamparam, mas acabaram sendo despejadas.
Os trabalhadores, quando sofrem as ações de despejo ou expulsão, acabam tendo os
seus pertences destruídos ou deixados para trás. Os animais criados, as plantações, os barracos
e, em alguns casos, a própria vida. Depois, acabam indo para outros assentamentos ou acampam
na beira da estrada, criando conflitos com os caminhoneiros.
Nas terras griladas, o Estado, quando pressionado, move uma ação judicial para recuperar
esta terra. Os produtores rurais sem-terra chegam à propriedade e acampam, pedindo a posse da
terra ao INCRA. Só que o fazendeiro ou a empresa pede a reintegração de posse por considerar
os acampados invasores. Dá-se início a uma “guerra” judicial, que pode durar anos.
Trabalho escravo: as formas de combate do Governo Brasileiro
Segundo a Convenção nº 29 da OIT (Organização do Internacional do Trabalho), de 1930,
a expressão "trabalho forçado ou obrigatório" compreende a “todo trabalho ou serviço exigido de
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uma pessoa sob a ameaça de sanção e para o qual não se tenha oferecido espontaneamente”
(art. 2°). A escravidão é uma forma de trabalho forçado, que faz com que uma pessoa tenha total
controle sobre uma ou um grupo de pessoas, que estão vivendo em situação, em geral,
degradante, somada à impossibilidade de deslocamento devido ao isolamento geográfico ou
coerção física, até pagarem suas “dívidas” com o patrão.
A forma mais comum, no Brasil, de trabalho forçado é a servidão por dívida, que vem
quase sempre associada com as outras três formas de cercear a liberdade já citadas. A servidão
por dívida é caracterizada quando o dono da fazenda ou de qualquer empreendimento rural
proporciona um empréstimo aos trabalhadores, contratados pelo “gato” (contratador da mão de
obra), sob a forma de adiantamento de dinheiro. Em seguida os trabalhadores têm seus direitos
confiscados.
A partir de 1995, quando o governo reconheceu a necessidade de combater o trabalho
escravo, foram criados o Grupo Especial de Fiscalização Móvel (GEFM) e o Grupo Executivo de
Repressão ao Trabalho Escravo (GERTRAF). O Grupo de Fiscalização Móvel tem como objetivo,
como informa o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), a erradicação do trabalho escravo, por
meio de ações fiscais nos focos previamente mapeados.
Em 2003, o governo Lula prometeu a erradicação do trabalho escravo. O GERTRAF foi
substituído pela Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo (CONATRAE), que
elaborou o Plano Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo, hoje em sua segunda edição.
Além do CONATRAE, também existe nos Estados o COETRAE (Comissão Estadual de
Erradicação do Trabalho Escravo), que age nas ações de combate ao trabalho ilegal e desenvolve
ações preventivas, repressivas e de políticas públicas, buscando alternativas para que estes
trabalhadores não retornem ao trabalho escravo através da qualificação via cursos
profissionalizantes.
O Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo, como salienta o MTE:
...apresenta medidas a serem cumpridas pelos diversos órgãos dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, Ministério Público e entidades da sociedade civil brasileira. Atualização de propostas que já vinham sendo articuladas em anos anteriores, o documento considera as ações e conquistas realizadas pelos diferentes atores que têm enfrentado esse desafio ao longo dos últimos anos 4.
O MTE criou uma forma de tentar impedir o crescimento do trabalho escravo, a chamada
Lista Suja. Os fazendeiros que estão nesta lista ficam proibidos de receber empréstimos de
bancos estatais. A lista é disponibilizada para consulta pública no site do MTE, sendo usada,
principalmente, por empresas que querem evitar a compra de produtos que advém do trabalho
escravo, impondo o fim da comercialização desses produtos, pelo menos até a saída do nome do
fazendeiro da Lista Suja.
A atualização da Lista Suja é semestral. O cadastro, conforme o assessor da Secretaria
de Inspeção do Trabalho (SIT) do MTE, Marcelo Campos, consiste: 4 Extraído do Plano Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo. Disponível em: http://www.mte.gov.br/trab_escravo/7337.pdf, acessado em 20/01/2011
14
...na inclusão de empregadores cujos autos de infração estejam com decisão definitiva e não estejam mais sujeitos aos recursos na esfera administrativa, bem como, da exclusão daqueles que, ao longo de dois anos, contados da sua inclusão no Cadastro, lograram êxito em sanar irregularidades identificadas pela inspeção do trabalho e atenderam aos requisitos previstos na Portaria retro mencionada5.
Ainda segundo Marcelo Campos, o MTE,
...como subsídio para proceder às exclusões, adotou o seguinte procedimento: análise das informações obtidas por monitoramento direto e indireto nas propriedades rurais incluídas, por intermédio de verificação “in loco” e por meio das informações dos órgãos e das instituições governamentais e não governamentais, além das informações obtidas junto à Coordenação Geral de Recursos da Secretaria de Inspeção do Trabalho. Outro aspecto a ser esclarecido é aquele relativo aos empregadores que recorreram ao Poder Judiciário visando sua exclusão do Cadastro. Em cumprimento à decisão judicial (liminar), o nome é imediatamente excluído e assim permanece até eventual suspensão da medida liminar ou decisão de mérito. Havendo decisão judicial pelo retorno do nome ao Cadastro, este passa novamente a figurar entre os infratores e a contagem do prazo se reinicia computado o tempo anterior de permanência no Cadastro, até que se completem dois anos. A propriedade volta, então, a ser monitorada durante esse tempo restante, para efeito de futura exclusão por decurso de prazo e por cumprir as demais exigências previstas na aludida portaria6.
Além disso, um fator de grande importância é a necessidade de reinserção dos
trabalhadores resgatados. O governo os insere no programa Bolsa Família e no Programa
Nacional Resgatando a Cidadania, projeto piloto em Mato Grosso, para fazer intermediação de
mão de obra. Portanto, se alguma empresa estatal precisar de um trabalhador, procura os
trabalhadores cadastrados neste programa.
Trabalho esco52(a )cperíodo 2000–2009
No período de 2000–2009, foram 76 municípios com 7405 casos de trabalhadores
resgatados. O Estado do Mato Grosso possui 141 municípios, metade deles tem registro de
esco52idão. As principais atividades envolvidas com a esco52idão são: algodão (879
trabalhadores), cana (2066 trabalhadores), pecuária (2524 trabalhadores) e soja (1543
trabalhadores) (Tabela 6). As duas principais atividades agropecuárias do estado (soja e a criação
de gado) correspondem a 62% dos trabalhadores encontrados, conforme Tabela IV.
Tabela IV: Trabalhadores esco52(sa )ccampo em Mato Grosso (2000-2009)
5
15
MT Porto Estrela 2000 - 2009 12 AlgodãoMT Porto Espiridião 2000 - 2009 11 ArrozMT Lucas do Rio Verde 2000 - 2009 6 AviculturaMT Sorriso 2000 - 2009 9 AviculturaMT Campos de Júlio 2000 - 2009 249 CanaMT Confresa 2000 - 2009 1179 CanaMT Cuiabá 2000 - 2009 35 CanaMT Lambari d'Oeste 2000 - 2009 96 CanaMT Lucas do Rio Verde 2000 - 2009 40 CanaMT Nova Olímpia 2000 - 2009 67 CanaMT Poconé 2000 - 2009 400 CanaMT Feliz Natal 2000 - 2009 15 CarvoariaMT Marcelândia 2000 - 2009 5 CarvoariaMT Nova Ubiratã 2000 - 2009 12 CarvoariaMT Pontal do Araguaia 2000 - 2009 23 Extração de LátexMT Carlinda 2000 - 2009 13 Extrativismo MineralMT Nova Ubiratã 2000 - 2009 6 Extrativismo mineral (calcário)MT Nortelândia 2000 - 2009 58 Extrativismo mineral (pedra)MT Rosário Oeste 2000 - 2009 11 Extrativismo Vegetal (Pau-de-Balsa)MT Bom Jesus do Araguaia 2000 - 2009 26 MadeireiraMT Campo Novo do Parecis 2000 - 2009 14 MadeireiraMT Marcelândia 2000 - 2009 9 MadeireiraMT Nova Ubiratã 2000 - 2009 6 MadeireiraMT Tapurah 2000 - 2009 69 MilhoMT Alta Floresta 2000 - 2009 43 Pecuária bovinaMT Alto Boa Vista 2000 - 2009 65 Pecuária bovinaMT Araputanga 2000 - 2009 6 Pecuária bovinaMT Barra do Garças 2000 - 2009 17 Pecuária bovinaMT Brasnorte 2000 - 2009 61 Pecuária bovinaMT Cáceres 2000 - 2009 5 Pecuária bovinaMT Canabrava do Norte 2000 - 2009 11 Pecuária bovinaMT Cláudia 2000 - 2009 18 Pecuária bovinaMT Colniza 2000 - 2009 16 Pecuária bovinaMT Comodoro 2000 - 2009 6 Pecuária bovinaMT Confresa 2000 - 2009 98 Pecuária bovinaMT Diamantino 2000 - 2009 1 Pecuária bovinaMT Feliz Natal 2000 - 2009 20 Pecuária bovinaMT Guarantã do Norte 2000 - 2009 95 Pecuária bovinaMT Jauru 2000 - 2009 101 Pecuária bovinaMT Juara 2000 - 2009 106 Pecuária bovinaMT Nobres 2000 - 2009 100 Pecuária bovinaMT Nova Bandeirantes 2000 - 2009 66 Pecuária bovinaMT Nova Canaã do Norte 2000 - 2009 11 Pecuária bovinaMT Nova Guarita 2000 - 2009 9 Pecuária bovinaMT Nova Lacerda 2000 - 2009 3 Pecuária bovinaMT Nova Maringá 2000 - 2009 10 Pecuária bovinaMT Nova Monte Verde 2000 - 2009 49 Pecuária bovinaMT Novo Mundo 2000 - 2009 126 Pecuária bovinaMT Nova Mutum 2000 - 2009 33 Pecuária bovinaMT Nova Xavantina 2000 - 2009 17 Pecuária bovinaMT Paranaíta 2000 - 2009 19 Pecuária bovinaMT Peixoto de Azevedo 2000 - 2009 223 Pecuária bovinaMT Pontal do Araguaia 2000 - 2009 16 Pecuária bovinaMT Pontes e Lacerda 2000 - 2009 10 Pecuária bovinaMT Porto dos Gaúchos 2000 - 2009 14 Pecuária bovinaMT Querência 2000 - 2009 58 Pecuária bovinaMT Ribeirão Cascalheira 2000 - 2009 9 Pecuária bovinaMT Rondolândia 2000 - 2009 33 Pecuária bovinaMT Rosário Oeste 2000 - 2009 10 Pecuária bovinaMT Santa Rita do Trivelato 2000 - 2009 75 Pecuária bovina
16
Fonte: Comissão Pastoral da Terra (2000 – 2009), adaptado pelo autor.
As principais commodities em Mato Grosso são a carne, a soja, a cana, o milho e o
algodão. Consequentemente são influenciadas pelas cotações do mercado internacional. Há
produtores, como já sinalizado, que reduzem os custos trabalhistas e ignoram direitos humanos a
fim de obter posições de destaque no cenário de competitividade. Daí o destaque destas
atividades nos registros de trabalho escravo (Gráfico 4).
MT Santa Terezinha 2000 - 2009 136 Pecuária bovinaMT São Félix do Araguaia 2000 - 2009 165 Pecuária bovinaMT São José do Xingu 2000 - 2009 94 Pecuária bovinaMT Tabaporã 2000 - 2009 21 Pecuária bovinaMT Tapurah 2000 - 2009 106 Pecuária bovinaMT Vila Bela da SantíssimaTrindade 2000 - 2009 6 Pecuária bovinaMT Vila Rica 2000 - 2009 436 Pecuária bovinaMT Paranatinga 2000 - 2009 71 Produção de semente de capimMT União do Sul 2000 - 2009 29 Produção de semente de capimMT Alta Floresta 2000 - 2009 11 SojaMT Bom Jesus do Araguaia 2000 - 2009 7 SojaMT Brasnorte 2000 - 2009 24 SojaMT Campo Novo do Parecis 2000 - 2009 172 SojaMT Campo Verde 2000 - 2009 15 SojaMT Campos de Júlio 2000 - 2009 35 SojaMT Comodoro 2000 - 2009 100 SojaMT Gaúcha do Norte 2000 - 2009 9 SojaMT Ipiranga do Norte 2000 - 2009 6 SojaMT Lucas do Rio Verde 2000 - 2009 35 SojaMT Nova Canaã do Norte 2000 - 2009 11 SojaMT Nova Monte Verde 2000 - 2009 10 SojaMT Nova Ubiratã 2000 - 2009 377 SojaMT Novo São Joaquim 2000 - 2009 1 SojaMT Poxoréo 2000 - 2009 1 SojaMT Ribeirão Cascalheira 2000 - 2009 50 SojaMT Santo Antônio do Leste 2000 - 2009 71 SojaMT São José do Rio Claro 2000 - 2009 25 SojaMT Sapezal 2000 - 2009 245 SojaMT Sinop 2000 - 2009 118 SojaMT Sorriso 2000 - 2009 111 SojaMT Tangará da Serra 2000 - 2009 50 SojaMT Tapurah 2000 - 2009 59 Soja
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Há um total de 217 casos registrados como análogos a trabalho forçado neste mesmo
período. A pecuária aparece em 113 casos, 52% das fiscalizações e diversas fazendas
reincidentes. Conforme o Mapa 5, todas as mesorregiões registram este problema. O número de
ocorrência aumentou nos últimos anos porque a fiscalização melhorou.
A produção do etanol virou um dos grandes destaques da política ambiental brasileira. A
fim de reduzir o custo de produção, há a ocorrência de escravidão por dívida nos canaviais. Um
dos casos em Mato Grosso foi a Destilaria Araguaia (antiga Gameleira) que fica em Confresa. Em
2001, apresentou trabalho escravo, e o resgate de 105 pessoas. Em 2003, foram 13 libertados
trabalhadores. Em 2005, o número de trabalhadores submetidos à escravidão na usina subiu para
1.003 pessoas. Por fim, em 2009, foram 55 trabalhadores libertos, ou seja, chegando a um total
de 1176 trabalhadores em situações subumanas.
Umas das mais importantes ONGs brasileiras contra a violência no campo e,
principalmente, contra o trabalho escravo, a ONG Repórter Brasil, publicou, em 2009, o relatório
“O Brasil dos Agrocombustíveis - Impactos sobre a terra, o meio e a sociedade - Cana 2009”.
Consta no relatório que a Gameleira entrou para a lista suja do trabalho escravo, divulgada pelo
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), em novembro de 2003 e saiu em maio de 2008. Durante
esse período, ela chegou a ter seu nome retirado da lista oficial de empregadores escravagistas
por força de liminares, posteriormente derrubadas pela própria Justiça.
O mesmo relatório aponta que, em 2006,
A Gameleira passou a se chamar Destilaria Araguaia, uma tentativa de desvincular a imagem dos escândalos trabalhistas. [...] O MPT ofereceu à Destilaria Araguaia um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), por meio do qual a empresa se compromete a se adequar às normas de segurança e saúde no trabalho. Entre as medidas exigidas para que ela volte a funcionar está a construção de aterramentos para os geradores de energia elétrica, a instalação de dispositivos de abertura interna para câmaras frias e de sistemas de proteção
18
contra incêndios e explosões em áreas consideradas de risco. [...] A Destilaria Araguaia processa de 300 a 350 mil toneladas de cana por ano, produzindo cerca de 25 milhões de litros de etanol. [...] No período em que constava da lista suja do trabalho escravo, a então Gameleira não conseguia vender sua produção a grandes distribuidoras, comprometidas com o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo. Ao sair do cadastro oficial de escravagistas, porém, a agora Destilaria Araguaia voltou imediatamente a ser fornecedora da Petrobras. (REPÓRTER BRASIL, 2009, pg. 17-19)
Além da cana, a intensa mecanização no setor sojicultor promove algumas atividades
relacionadas à preparação do solo que envolve trabalho manual. O trabalho escravo na soja
ocorre porque os fazendeiros utilizam os trabalhadores tanto para limpar antigos pastos quanto
para derrubar mata nativa. São trabalhadores temporários, contratrados para serviços que
requerem baixa qualificação profissional e grande força física. Assim como a soja, a colheita do
algodão é praticamente toda mecanizada, mas existe a necessidade do serviço braçal de limpar a
terra, catando as raízes e preparando para um novo plantio. Essa é a brecha para a introdução do
trabalho escravo.
Considerações Finais
A violência no campo de Mato Grosso não é visível na paisagem. Em áreas extensas de
soja, cana e gado, quem olha não percebe que, atrás do uso produtivo da terra, há uma face
perversa, marcada pela concentração fundiária, assassinatos, despejos e trabalho escravo. É
nesse cenário de contradições inerentes ao agronegócio que práticas de resistências se afirmam
e anunciam conflitos fundiários. A luta é por direito à terra de trabalho em contraposição à terra de
negócio. Sendo assim, o agronegócio já carrega em si resistências a uma racionalidade que é
nociva à socio-biodiversidade.
A cartografia da violência no campo em Mato Grosso apresenta resultados em
consentâneo com o avanço da fronteira agrícola. O Mapa 6, da distribuição do trabalho escravo,
entre 2000 e 2009, revela uma concentração de ocorrência na faixa de tensão ecológica, onde os
problemas de desmatamento são mais relevantes, para fins de abertura da pecuária. É ai onde a
fronteira avança por conta da nova logística de transporte que se dirige para o Norte, sobretudo no
trecho da rodovia BR-163, em direção à Santarém (PA). O Nordeste de Mato Grosso é também
uma área de abertura de novos projetos do agronegócio. Querência é o município de destaque no
desmatamento para pecuária e lavoura de grãos. Já onde a fronteira já está consolidada, é a
agricultura capitalizada a principal responsável pelo trabalho escravo. As prisões e expulsão de
famílias se concentram também na faixa de tensão ecológica, em direção à floresta equatorial,
área de interesse do agronegócio brasileiro. Por fim, os assassinatos repetem o mesmo padrão
locacional devido as mesmas razões já assinaladas. Tal quadro sinaliza para o fato de a violência
do campo em Mato Grosso ser resultado das contradições socioespaciais do capitalismo e da
relação conflituosa entre as classes sociais.
De acordo com Alentejano (2008), o conflito no campo é a manifestação dos antagonismos
de classes sociais e da construção de identidades coletivas, motivadas por interesses coletivos
19
compartilhados e contrários à ordem capitalista. Para tanto, a luta exige formas de organização
dos movimentos sociais. É nesse ponto que a constituição de redes políticas de resistências ao
agronegócio se afirma na defesa de ideologias próprias e posição política de combate ao avanço
da fronteira agrícola capitalista. A violência no cerrado mato-grossense é fruto do recuo da socio-
biodiversidade em favor do agronegócio. De fato, os conflitos e a violência no campo são o meio
pelo qual as representações e discursos da modernidade avançam e constituem territórios
corporativos sob a égide do agronegócio internacional. O uso da força e do medo tem sido um dos
imperativos das redes políticas das corporações para atingir os objetivos e metas pretendidos. Daí
a importância da Reforma Agrária e da luta dos sem-terra por moradia, educação, alimentação,
saúde, respeito à socio-biodiversidade e à função social da terra. A luta por tais direitos se traduz
em conflito e violência. Logo, a violência no campo é um indicador de que os movimentos sociais
organizados no campo são uma realidade. Todavia, infelizmente, as questões fundiárias ainda
não são assumidas como um problema nacional, em face do peso da urbanização dominante do
país, cenário por excelência das ideias de modernidade e progresso. O rural ainda carrega o
estigma do atraso, do arcaico, do tradicional, do periférico e do vazio demográfico. Talvez o
debate em torno dessas representações simbólico-ideológicas nas universidades, escolas e
famílias contribuam para uma maior mobilização e militância na defesa dos sem-terra e de outra
racionalidade socio-produtiva.
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