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A Ciência em Kardec Nubor Orlando Facure Na segunda metade do Século XIX, quando Allan Kardec codificou a Doutrina Espírita, a Ciência humana, recebia o trabalho gigantesco de sábios ilustres, Espíritos de elevada estatura que vieram até nós para modificar nossa compreensão sobre importantes fenômenos da natureza. O método científico já estava discutido e divulgado por filósofos da estatura de Descartes e Bacon. Agora, a experimentação iria se estabelecer como a melhor forma de produzir conhecimento. Vale a pena fazermos uma revisão histórica desse momento vivido por Kardec e, pinçarmos nos seus textos, a contribuição que a Doutrina Espírita estava trazendo para a Ciência naquela época. Com o que conhecemos hoje, temos certeza de que o cientista daquele século não tinha informações

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Estudo do momento que vivia a Ciência no final do Século XIX apontando as grandes descobertas da épocaA seguir um destaque a Obra de Allan Kardec enquanto Ciência Espiritual

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A Cincia em Kardec Nubor Orlando Facure

Na segunda metade do Sculo XIX, quando Allan Kardec codificou a Doutrina Esprita, a Cincia humana, recebia o trabalho gigantesco de sbios ilustres, Espritos de elevada estatura que vieram at ns para modificar nossa compreenso sobre importantes fenmenos da natureza. O mtodo cientfico j estava discutido e divulgado por filsofos da estatura de Descartes e Bacon. Agora, a experimentao iria se estabelecer como a melhor forma de produzir conhecimento.Vale a pena fazermos uma reviso histrica desse momento vivido por Kardec e, pinarmos nos seus textos, a contribuio que a Doutrina Esprita estava trazendo para a Cincia naquela poca. Com o que conhecemos hoje, temos certeza de que o cientista daquele sculo no tinha informaes suficientes para compreender tudo que estava sendo revelado mediunicamente para Allan Kardec. Fica, tambm, a certeza de que at aos dias de hoje, ainda no temos alcance para abrangermos cientificamente toda a obra da codificao. H nela informaes que a Cincia humana levar tempo para confirmar e compreender.

O Obscurantismo medieval O Sculo de Kardec estava saindo definitivamente do rano obscurantista que dominava a Cincia da poca. At ao final da Idade Mdia acreditava-se que a idade da Terra no passava de 4600 anos; que os fsseis no tinham qualquer ligao com o nosso passado; que o homem fora criado num paraso que ele desrespeitou comendo o fruto proibido e, mesmo assim, ainda ocupava um lugar privilegiado entre todos os seres criados por Deus; que a vida podia nascer na gua empoada ou no meio de roupas velhas; que a madeira se queimava pela presena nela de um flogstico; que a eletricidade era tida como um fluido que podia se deslocar obedecendo a foras de atrao e repulso assim como a gua se desloca dos lugares mais altos para os mais baixos; que a luz se deslocava pelo ter; que a matria era formada por substncias, umas elementares outras complexas, que se misturavam obedecendo a leis de afinidade ainda desconhecidas; que algumas substncias, chamadas de orgnicas s poderiam ser produzidas pelos organismos vivos; que os corpos pesados caiam em decorrncia da sua tendncia de ficar na Terra. Inicio das descobertas Na poca de Kardec a Cincia ainda no produzira seus grandes avanos tecnolgicos. At 1834 uma das maiores descobertas feita por um cientista tinha sido o pra-raios desenvolvido por Benjamim Franklin. Entretanto, as Leis fundamentais que permitiriam nascimento da Cincia moderna j tinham sido descobertas:Galileu conseguiu comprovar a teoria heliocntrica de Coprnico e enunciava as primeiras Leis do movimento. Newton descobrira a matemtica da gravidade, explicou o vai-vem das mars, a oscilao do pndulo, a queda dos corpos, a rbita dos astros e fragmentou a luz sugerindo sua propagao por partculas. Lavoisier comeava a esclarecer a qumica da respirao e estabelecia leis de conservao da matria. Charles Lyell iniciou o estudo da estratificao de reas geolgicas expandindo a idade da Terra alguns milhares de anos Cuvier inaugurava os estudos da paleontologia. Na filosofia Ren Descartes introduziu a reflexo, analisou a convenincia da dvida, destacou a importncia do pensamento racional e separou o estudo do corpo e da alma. Vesslius revolucionou a anatomia do corpo humano que ele dissecava como uma mquina cujas peas podiam ser desmontadas semelhana dos relgios e dos moinhos. Mesmer defendeu a existncia do magnetismo animal e fez surgir o sonambulismo provocado. Galvani se encantara com a eletricidade nas patas de uma r e Volta descobriu a qumica que produziria a eletricidade numa pilha rudimentar. Na Inglaterra, o filsofo Francis Bacon, ensinara como observar e experimentar com a natureza reunindo os fatos, organizando as ideias e produzindo leis gerais a partir do raciocnio indutivo.

Vultos iluminadosCuriosamente, no mesmo momento em que a espiritualidade inspirava Kardec na produo do seu grande trabalho espiritual, a humanidade recebia pela mo de cientistas excepcionais um volume considervel de descobertas no campo das Cincias da matria. Charles Darwin e Alfred Wallace divulgaram seus trabalhos sobre a origem e a evoluo das espcies. Richard Virchow, patologista alemo, afirmava que toda clula viva provm de outra clula. Na Inglaterra, Faraday ampliou nossos conhecimentos sobre a eletricidade e Maxwell reuniu em suas leis, a eletricidade e o magnetismo conseguindo incluir a luz entre os fenmenos eletromagnticos. No laboratrio de fisiologia, na Frana, Claude Bernard descobriu a importncia da estabilidade dos elementos qumicos do sangue e Louiz Pasteur iniciou suas pesquisas com a fermentao, invalidou a gerao espontnea e, mais tarde inaugurou a vacinao contra a raiva. Em 1804, Franz Gall, revolucionou a interpretao do crebro criando a frenologia (citada em Kardec - Revue Spirite, julho de 1860 pg 198 Frenologia e fisiognomia) e em 1864 Paul Broca descobriu a rea do crebro relacionada com a fala.

Tpicos de Cincia em Kardec

Vamos fazer agora uma coleta de informaes cientficas em duas obras da codificao O Livro dos Espritos (1857) e A Gnese (1868). A Cincia de hoje est a um sculo e meio distante dessas obras e, s agora, comeamos a atinar com a importncia dos seus textos. Vamos abordar apenas alguns poucos tpicos que nos pareceram instrutivos.

A origem do Universo Na poca de Kardec a Cincia no tinha qualquer proposta para a origem do Universo. Foi s em 1927 que a teoria da grande exploso o Big Bang - comeou a ser enunciada. Uma grande concentrao de energia, surgida do nada, teria provocado ha 13 ou 15 bilhes de anos atrs, a exploso que produziu toda matria contida no Universo. Um efeito popular dessa teoria que ela sugere um incio ao mundo em que vivemos e satisfaz a viso teolgica dos que admitem o momento bblico da criao quando Deus fez a luz. Mais recentemente, a fsica quntica introduziu o conceito de antimatria e, levantou a possibilidade de existir outros Universos alm da realidade fsica que transitamos. Nas lies que os Espritos nos deixaram a criao eterna, se renova permanentemente e nossa inteligncia no est em condies de apreender qualquer incio para o Universo no desapareceu essa substncia donde provm as esferas siderais; no morreu essa potncia, pois que ainda, incessantemente, d luz novas criaes e incessantemente recebe, reconstrudos, os princpios dos mundos que se apagam do livro eterno (A Gnese cap VI item 17). Elementos do Universo A Cincia de hoje vive alguns dilemas contraditrios. S admite a existncia da matria, enquanto, suas mais recentes teorias, propem que o que existe energia e a matria uma de suas transformaes. No aceita a existncia de um mundo imaterial, mas, reconhece a necessidade da mente para a percepo da realidade fsica. E, no sabe de onde se origina essa energia nem consegue ter certeza do que a mente. Na Filosofia, as substncias do Universo foram sempre uma preocupao importante. Tales de Mileto considerava que tudo procede da gua. Empdocles adotou os quatro elementos que passaram a fazer parte do conhecimento ocidental por dois milnios a terra , a gua, o ar e o fogo. Thomaz de Aquino acrescentou uma substncia espiritual. Ren Descartes considerava dois elementos o res cogitans (o sujeito pensante) e o res extensa (o objeto, a matria). Espinosa falava em apenas uma substncia e Leibniz criou a ideia de infinitas mnadas, sendo a Alma a maior dessas mnadas. Para a Doutrina Esprita existem dois elementos, ou, se quiserem, duas foras regem o Universo: o elemento espiritual e o elemento material. Da ao simultnea desses dois princpios nascem fenmenos especiais...(A Gnese introduo). Acrescenta , ainda, que no h, em todo o Universo, seno uma nica substncia primitiva o fluido csmico universal.

A Vida Dois momentos do Sculo passado marcaram definitivamente nossa compreenso sobre a vida. A conferncia sobre O que vida ? que Erwin Schroedinger proferiu em fevereiro de 1943 em Dublin e a publicao de Francis Crick e James Watson sobre a descoberta do DNA em 25 de abril de 1953 o oitavo dia da criao. O genial fsico Erwin Schroedinger props que a hereditariedade seria transmitida por um cristal aperidico, o que permitiria seu estudo com mtodos radiolgicos. A partir da, Crick e Watson descobriram a qumica da dupla hlice que contem nossos genes. Schroedinger sugeriu, tambm, que a vida exige um aporte externo de energia para conservar sua baixa entropia o que corresponde a uma alta organizao. A termodinmica dos seres vivos pressupe a ordem a partir da desordem. O espiritismo ensina que a matria orgnica assume propriedades especiais quando nela atua o princpio vital. no fluido csmico universal que reside o princpio vital que tem a capacidade de dar origem vida dos seres e a perpetua em cada globo (A Gnese cap. VI item 18). nessa matria vitalizada pelo princpio vital que ir se desenvolver o princpio inteligente.

A origem do Homem O Homem atual classificado como uma espcie nica denominada Homo sapiens. Ele habita a Terra h cerca de 200 mil anos e procedente da evoluo de homindeos e outras espcies do gnero Homo cujos achados fsseis j se contam s dezenas. H duas correntes que tentam explicar a presena da nossa espcie em lugares to variados da Terra. Para alguns ns tivemos uma origem nica em territrio africano e para outros possvel que tenhamos tido origem em diversos pontos do globo. Kardec, aborda a origem do Homem no captulo XI de A Gnese, sugere que o corpo humano teria tido origem em diversos pontos da Terra e o Esprito humano se desenvolveu tanto no planeta como migrou de outros mundos do nosso Universo. A origem e evoluo das espcies. Charles Darwin publicou A origem das espcies dois anos aps a primeira edio do Livro dos Espritos. Darwin sugere a evoluo biolgica para explicar a variedade das espcies, enquanto Kardec apresenta a evoluo espiritual como princpio fundamental para justificar os propsitos da vida. Darwin comprovava que todas as espcies vivas tm uma origem comum. O Homem deixa de ser criatura que j nasce pronta nos jardins do den, para percorrer junto com todas as outras espcies, a mesma rvore da vida, obedecendo no percurso de milnios as transformaes adaptativas. J ensinam, claramente, os Espritos superiores que orientavam Kardec, que o Esprito no chega a receber a iluminao divina que lhe d, simultaneamente com o livre-arbtrio e a conscincia, a noo de seus altos destinos, sem haver passado pela srie fatal dos seres inferiores, entre os quais se elabora lentamente a obra da sua individualizao(A Gnese capVI-19). Ideias inatas Essa discusso esteve provocando os filsofos durante milnios. Plato considerava que a Alma ao nascer j traz conhecimentos que adquiriu no mundo das ideias. No mito da caverna ele sugere que nossa vida material apenas o reflexo de um mundo verdadeiro pr-existente, e fonte de todo conhecimento. Seu discpulo, Aristteles, atribua o aprendizado experincia e acreditava que todo conhecimento provm dos sentidos. John Locke, tambm via a mente como uma tabula rasa. Ren Descartes, pelo contrrio defendia a existncia de ideias que nos so inatas como a noo de Deus, as ideias matemticas e as verdades eternas. Atualmente essa polmica envolve, principalmente, a biologia e a neuropsicologia. A descobertas dos genes nos permitiu conhecer mais profundamente a extenso das nossas heranas e a discusso se estabeleceu em torno do quanto nosso conhecimento aprendido, atravs da experincia e, o quanto os genes programam nossos comportamentos. O dilema ganhou fama dividindo ambientalistas e geneticistas na expresso nature versus nurture (ambiente versus hereditariedade; aprendizado versus instinto). Nos dias de hoje, ningum mais duvida da participao tanto dos genes como da estimulao do ambiente na produo do conhecimento. Na questo 218 a, do Livro dos Espritos, Kardec, pergunta se a teoria das ideias inatas no seria apenas uma quimera. Os Espritos nos ensinaram que os conhecimentos adquiridos em cada existncia no mais se perdem. Liberto da matria, o Esprito sempre os tem presentes. Durante a encarnao, esquece-os em parte, momentaneamente; porm, a intuio que deles conserva lhe auxilia o progresso. Se no fosse assim, teria que recomear constantemente. Percepo da dor e viso Ns j sabemos desde o sculo passado quais so os neurnios envolvidos na percepo da dor e das imagens visuais. O neurologista conhece todo o trajeto percorrido pela sensao de uma espetada na pele e que provoca dor. A mesma coisa para os objetos registrados pela retina e que o crebro codifica em imagem. O que ns j sabemos tambm, que todo esse trajeto de vias nervosas representa apenas uma pequena porcentagem nos dois fenmenos, a percepo de dor e a viso dos objetos. Nos dois casos, o mais importante o processo mental que interpreta a dor e que d significado s imagens. Dizem os neurologistas que esse fenmeno mental depende de uma srie de fatores. A maneira como expressamos a nossa dor e damos significado ao que estamos vendo, est fortemente ligada nossa cultura, personalidade, s experincias anteriores, s memrias, ao ambiente. Na verdade, tanto a dor como a viso, so processos mentais interpretativos, ou como dizem neurologistas mais liberais, tudo no passa de uma opinio pessoal. surpreendente o que podemos aprender no Livro dos Espritos que nos ensina como esses dois fenmenos afetam o esprito: A lembrana que da dor a alma conserva pode ser muito penosa. A dor que sentem no pois, uma dor fsica propriamente dita: um vago sentimento ntimo...porque a dor no se acha localizada e porque no a produzem agentes exteriores(Livro dos Espritos pergunta 257). Quanto viso (perguntas 245,246 e 247) ela reside em todo ele. Veem por si mesmos, sem precisarem de luz exterior. Como o Esprito se transporta aonde queira, com a rapidez do pensamento, pode-se dizer que v em toda parte ao mesmo tempo. A Neurologia dever confirmar no futuro essas duas informaes que Kardec nos legou para estudo. Precisar, inicialmente, considerar a mente como sinnimo de alma.

O Tempo Na teoria mecanicista de Newton, o tempo era considerado uma grandeza absoluta, caso contrrio, os clculos que mediam as distncias entre os planetas dariam errados. Einstein, entretanto, perverteu essa relao, props a relatividade do tempo, aumentando a preciso dessas medidas.Independente das proposies cientficas, os filsofos sempre conjeturaram sobre a natureza do Tempo. Henri Brgson deu-nos a afirmao potica de que o Tempo da conscincia no o mesmo Tempo da Cincia. Para o senso comum, todos ns j constatamos que o passar do Tempo circunstancial. Basta esperar o ano para os alunos da escola, os meses para a mulher grvida, os dias para quem paga o aluguel, as horas para quem marcou um encontro, os minutos para o trem passar e os milsimos de segundos para a frmula um. A neurologia v a noo de tempo como uma experincia nitidamente mental, ocupando diversas reas do crebro ao mesmo tempo. Kardec, recebeu dos Espritos a informao de que o tempo apenas uma medida relativa da sucesso das coisas transitria; a eternidade no suscetvel de medida alguma, do ponto de vista da durao; para ela, no h comeo, nem fim: tudo presente (A Gnese cap.VI item 2) Precisamos destacar essa afirmao de consequncias e complexidade extraordinrias - para o Esprito tudo presente.

As propriedades da matria No Livro dos Espritos (perguntas 29 34) ficamos sabendo sobre a existncia de um s elemento primitivo que d origem a todas as propriedades da matria. Estando presos realidade material do nosso mundo, conseguimos identificar as propriedades qumicas e fsicas da matria grosseira que compe nossa dimenso fsica. Entretanto, o elemento primitivo (fluido csmico) que se expande por todo universo, tem propriedades especiais que ainda no conhecemos e que d matria a capacidade de experimentar todas as modificaes e adquirir todas as propriedades. Dizem ento os Espritos que tudo est em tudo. S assim poderemos entender as expresses extraordinrias dos fenmenos medinicos de efeitos fsicos quando as leis de ponderabilidade so pervertidas. Uma pedra, to slida como a conhecemos, pode atravessar um telhado e se acomodar dentro de um armrio fechado. So essas mudanas nas propriedades da matria que o fluido csmico realiza e que a Cincia ainda no conhece os princpios de sua atuao. Ainda no temos alcance, tambm, para compreendermos a extenso da ligao espiritual que esse fluido universal permite a matria submeter-se ao pensamento de Deus. Em A Gnese (captulo II) dizem os Espritos que cada tomo desse fluido, se assim nos podemos exprimir, possuindo o pensamento, isto , os atributos essenciais da divindade e estando o mesmo fluido em toda parte, tudo est submetido sua ao inteligente, sua previdncia, suas solicitude. A natureza inteira est mergulhada no fluido divino.

O pensamento criativo e as idias fixas O imaterialismo de Berkeley (Donald George Berkeley, filsofo irlands, 1685-1753) propunha que o existir no mais do que ser percebido. A matria s existe quando percebida. As percepes visuais no so de coisas externas, mas simplesmente ideias na mente. Scrates afirmava que as coisas existem em virtude de como as percebemos. No Livro dos Espritos (Pergunta 32) os Espritos ensinam que as qualidades dos corpos (os sabores, os odores, as cores, as qualidades venenosas ou salutares) s existem devido disposio dos rgos destinados a percebe-las. bem assim que a neurologia de hoje compreende a percepo que fazemos de um objeto que atinge nossos sentidos. Propostas da atualidade esto afirmando que a matria s se manifesta como interao mental. Entretanto, os neurologistas ainda no conseguem compreender a natureza da criao mental, a no ser quando um comportamento expressa uma resposta a um estmulo sensorial. O pensamento intuitivo ou o pensamento abstrato esto longe de qualquer experimento laboratorial Na doutrina esprita aprendemos que o pensamento procede do Esprito, fonte de energia criadora que usa o crebro como instrumentos de suas ideias. No campo do pensamento os Espritos acrescentaram conhecimento indito e to extraordinrio que at hoje a Cincia sequer tem instrumentos para estudo. Dizem os Espritos que o pensamento atua sobre o fluido universal criando nele imagens fludicas, o pensamento se reflete no nosso envoltrio perispirtico, como num espelho; ... e a de certo modo se fotografa. Esse fluido (perispirtico) no o pensamento do Esprito; , porm o agente e o intermedirio desse pensamento. Sendo quem o transmite, fica, de certo modo, impregnado do pensamento transmitido (A Gnese Captulo II item 23) Da a gravidade de nos escravizar a pensamentos persistentes que nos aprisionam; a desejos que nos perturbam; a vinganas que no se justificam; a dios que no se apagam; a paixes que nos desequilibram; a projetos que no temos alcance. So todas elas, idias fixas, que se materializam em nossa esfera mental, criando idias-formas, imagens fludicas, miasmas mentais que justificam as inmeras expresses de neuroses e psicoses comuns na psicopatologia humana.

Vitalismo Para Cludio Galeno, mdico do Sculo II, existiriam foras de atrao e repulso para manterem os rgos em funcionamento. Para ele, a vida seria mantida por um elemento imaterial denominado pneuma vital situado no corao, difundindo-se pelo sangue existente nas veias. No crebro, ele transformado em pneuma animal permitindo reagirmos aos estmulos dos sentidos e, no fgado, em pneuma natural com a propriedade de assimilar os alimentos. As teorias de Galeno foram aceitas por mais de 12 sculos. No incio do Sculo XVI Georg Stahl reviveu o vitalismo defendendo a existncia de uma alma sensitiva necessria para a manuteno da vida. Nessa ocasio Stahl sofreu uma ferrenha oposio a custas das teorias mecanicistas defendidas principalmente por Frederich Hoffman. Excluindo a existncia da alma, Hoffman via nos processos vitais apenas fenmenos de fermentao de substncias e combusto de gases, explicando, assim, a digesto e a respirao. A doutrina esprita revive com fora o vitalismo. Ensina que existe um elemento imaterial que mantm a vida na matria orgnica (Livro dos Espritos perguntas de 60 a 67) e, sem falar do princpio inteligente, que questo a parte, h na matria orgnica, um principio especial, inapreensvel e que ainda no pode ser definido: o princpio vital(A Gnese captulo X item 16).

O sonambulismo Na atualidade o sonambulismo j no desperta o mesmo interesse e prestgio que desfrutava no tempo de Kardec. Tratados com casustica volumosa foram escritos por Ambrose-August Libeaut, Abade Faria e Charles Richet. A escola de Charcot em Paris o acolhia como forma de terapia em suas pacientes histricas. Kardec d notcia de ter estudado o sonambulismo em todas as suas fases durante 35 anos (introduo do Livro dos Espritos). No Livro dos Espritos ele escreve vrias pginas fazendo um resumo terico do sonambulismo, do xtase e da dupla vista. Deixa claro que para o Espiritismo, o sonambulismo mais do que um fenmeno psicolgico, uma luz projetada sobre a psicologia. a que se pode estudar a alma, porque onde esta se mostra a descoberto. Nesse resumo Kardec discorre sobre o sonambulismo natural e o magntico e destaca a clarividncia como um atributo da alma, permitindo ao sonmbulo ver em todos os lugares aonde sua alma possa transportar-se. Nessa viso a distncia, o sonmbulo no v as coisas de onde est o seu corpo, como por meio de um telescpio. V-as presentes, como se achasse no lugar onde elas existem, porque sua alma, em realidade, l est (Livro dos Espritos 455).

O sono e os sonhos J conhecemos muito da fisiologia do sono. Ele ocorre em ritmos com determinados padres que so identificados pelo eletroencefalograma. A idade, o sexo, o ambiente, a alimentao, a profisso, so parte dos inmeros fatores que interferem na quantidade e na qualidade do sono. J sabemos o quanto ele nos faz falta mas, ainda no podemos dizer tudo sobre porque realmente precisamos dormir. Os sonhos esto nitidamente ligados s experincias vividas no decorrer do dia, tm relao ntima com a aquisio de memrias mas, tambm, desconhecemos o seu real significado. Freud afirmava ter percebido que seus pacientes lhe o procuravam no s para fazerem suas queixas mas, tambm, para lhes relatar seus sonhos. Isso lhe despertou a idia de que os sonhos teriam algum sentido oculto. Seu livro de 1900 A interpretao dos sonhos desencadeou a mais extraordinria revoluo sobre a mente humana. Os sonhos revelam um contedo insuspeitado, j que sinalizam desejos contidos no inconsciente. Plato em sua Repblica, antecipara-se Freud ao afirmar que no sono a Alma tenta retirar-se das influncias externas e internas e, que so expressos nos sonhos, desejos que geralmente no se expressam no estado de viglia. Kardec, no Livro dos Espritos inicia o Captulo sobre a Emancipao da Alma estudando o sono e os sonhos. Os Espritos esclarecem que durante o sono a alma se v liberta parcialmente do corpo e entra em relao mais direta com os Espritos . Nessas circunstncias pode a alma manter contato com Espritos familiares que o orientam e aconselham e tomam conhecimento do seu passado e algumas vezes do futuro. Esse um campo de futuras investigaes que precisam ser desenvolvidas e confirmadas no meio esprita.

Tributo necessrio Abordamos catorze tpicos de interesse cientfico relevante extrados de duas obras bsicas da codificao esprita. Aps um sculo e meio algumas das suas afirmaes aguardam aprovao da Cincia oficial enquanto outras esto se confirmando gradativamente. De algum tempo para c, o meio esprita vem de dedicando mais sistematicamente ao estudo do Espiritismo como cincia, aliado ao seu contedo filosfico e suas consequncias morais. S assim conseguiremos que a Cincia humana registre o nome de Allan Kardec como um de seus grandes vultos. um tributo que precisamos retribuir pelo legado cientfico que ele nos deixou.