A Ciência Política Vai a Escola

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  • 7/25/2019 A Cincia Poltica Vai a Escola

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    8 Encontro da ABCP

    01 a 04 de Agosto Gramado, RS

    rea Temtica 04 Ensino e Pesquisa em Cincia Polti ca e Relaes

    Internacionais

    A Cincia Poltica Vai a Escola

    Autor: Henrique Augusto Torres Simplcio - Universidade Federal de

    Viosa (UFV)

    Co-autor: Ana Paula Guedes Henrique Universidade Federal de Viosa

    (UFV)

    Orientador: Diogo Torino de Sousa Universidade Federal de Viosa

    Resumo

    A reintroduo da Sociologia como disciplina obrigatria no ensino

    mdio, trouxe consigo a discusso sobre o ensino de Cincias Sociais,

    envolvendo os seus campos de conhecimento e dilogos possveis. Dessa

    forma, a Cincia Poltica passou a constituir matria presente no ambiente

    escolar, conforme expresso nos documentos oficiais (PCN; OCN). Com intuito

    de fornecer material didtico apropriado para ensino da disciplina, assim como

    subsidiar os professores no que se refere ao contedo dado em sala de aula, o

    Ministrio da Educao lanou o Programa Nacional do Livro Didtico

    (PNLD/2012). O presente trabalho pretende analisar o trato dado aoscontedos, metodologia, atividades e dinmicas especficas da Cincia Poltica

    nos livros selecionados pelo programa, discutindo como esse campo do

    conhecimento tem sido lecionado na escola bsica e sua possvel conexo

    com a pesquisa acadmica.

    Tal empreendimento s foi possvel pelo apoio da Fundao do Amparo

    a Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e pela Coordenao de

    Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES).

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    Introduo

    O debate envolvendo a reintroduo da Sociologia enquanto disciplina

    obrigatria no Ensino Mdio sobrevm no Brasil desde os anos 70, at os dias

    atuais. Nesse cenrio, a intermitncia da disciplina no currculo da educao bsica

    sempre foi uma realidade do ensino das Cincias Sociais. No ano de 2008 o

    Senado aprovou a resoluo que inclua a Sociologia enquanto disciplina

    obrigatria no Ensino Mdio. Esse momento foi considerado, por boa parte dos

    profissionais das Cincias Sociais, uma conquista, uma vez que, este campo

    poderia emergir no contexto escolar a partir da Sociologia atuando enquanto uma

    disciplina capaz de conectar os mais diversos campos de conhecimento, bem como

    guiar os estudantes para o desenvolvimento de uma imaginao sociolgica, tal

    como elaborada por Charles Wright Mills. Segundo o autor, a imaginao

    sociolgica consistiria no reconhecimento da biografia do indivduo atrelada aos

    processos sociais histricos no qual sua vida est relacionada. Outra contribuio

    da Sociologia seria estimular a desnaturalizao, o que permitiria ao indivduo

    relacionar os processos sociais enquanto construdos socialmente, ou seja, o

    entendimento de que concepes de uma sociedade, seu modo de organizao e a

    forma que ela prpria se observa no seriam inatas, mas sim vinculadas a

    inmeros processos que a compe.

    Posterior aprovao da lei, alguns obstculos surgiram durante o processo

    de solidificao da Sociologia no contexto escolar, uma vez que esta, por vezes,

    no compartilhava entre o ambiente escolar o ttulo de disciplina cientfica to

    relevante quanto s outras j consolidadas. Corroborando esses argumentos pode-

    se citar a baixa oferta de profissionais licenciados, bem como a falta de materialdidtico especfico, como agravantes da situao na qual se instaurava as Cincias

    Sociais voltada para Educao Bsica.

    Diante disso, deu-se logo no incio um processo de coordenao e

    amadurecimento da produo intelectual voltada para o ensino de Sociologia. No

    qual o governo expediu documentos dando certo direcionamento aos professores e

    professoras da rea, como os Parmetros Curriculares Nacionais (PCN),

    documento que articula temas e metodologias com o contexto social, poltico eeconmico do Brasil e dos estudantes. O referido documento exalta a importncia

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    da Sociologia enquanto elemento capital para o processo de compreenso das

    relaes sociais, assim como no desenvolvimento da cidadania. Ao falar de

    cidadania ele perpassa diversos temas como Estado, Direitos do sujeito inserido

    em sociedade, sistema poltico, ou seja, temas comuns Cincia Poltica.

    Demonstrando, assim, que a interlocuo das trs reas que compe as Cincias

    Sociais est entre uma das premissas na constituio da disciplina.

    Ainda no que diz respeito aos documentos oficiais que oferecem

    embasamento disciplina, tem-se o Programa Nacional do Livro Didtico (PNLD),

    este se classifica como um edital onde so elencados critrios de avaliao das

    obras didticas, assegurando a qualidade e competncia destas obras,

    qualificando, assim, sua aprovao ou no, enquanto livro didtico de referncia na

    educao pblica. A escolha pelo PNLD como objeto de estudo desse artigo se

    deve, ento, ao fato desse documento oficial, expedido pelo Governo Federal se

    constituir como principal fermenta de guia para a seleo dos livros didticos.

    Estes, por sua vez, se efetivaro, se aprovados, como parte do cotidiano do aluno

    que entrar em contato com as Cincias Sociais, e em consequncia disso com a

    Cincia Poltica, no decorrer de sua formao escolar.

    Nesse sentido, o presente artigo tem por proposta a tentativa de promover

    uma anlise dos contedos de Cincia Poltica contidos nos livros de Sociologia

    aprovados pelo Programa Nacional do Livro Didtico (PNLD) do ano de 2012. O

    documento analisado seleciona trs dimenses nas quais o livro didtico atuar no

    contexto da Educao Bsica pblica, a saber, a didtico-pedaggica, a poltica e a

    social. A didtico-pedaggica se caracteriza pela tentativa de promover nos alunos

    uma viso desnaturalizada acerca da sociedade na qual esto inseridos, bem como

    a de se desenvolver a imaginao sociolgica, atravs dos levantamentos e

    questes trabalhadas no livro e transpostas para a realidade docente. A dimensosocial reside no fato do livro didtico ser um bem cultural disponvel todos

    estudantes da rede pblica. J no plano poltico, o livro didtico se insere como

    uma tentativa de se elevar a qualidade de ensino das escolas pblicas.

    Nesta conjuntura o PNLD elege enquanto premissas fundamentais para que

    o livro possa ser distribudo nas escolas da educao bsica os seguintes pontos:

    1 .Assegurar a presena das contribuies das trs reas que compem asCincias Sociais: Antropologia; Cincia Poltica e Sociologia;

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    2. Garantir que as Cincias Sociais se apresentem nas pginas do livro como

    um campo cientfico rigoroso, composto por estudos clssicos e recentes e por

    diferenas tericas, metodolgicas e temticas.

    3. Permitir, por meio de mediao didtica exitosa, que o aluno desenvolva

    uma perspectiva analtica acerca do mundo social.4. Servir como uma ferramenta de auxlio ao trabalho docente, preservando-

    lhe a autonomia. (PNLD,2011 p.8)

    Aps seleo e anlise segundo seus critrios, o Programa Nacional do

    Livro Didtico aprovou os seguintes livros para circulao:A Sociologia para o

    Ensino Mdio, do autor Nelson Dcio Tomazi, publicado pela editoraSaraiva;

    e o livro Tempos Modernos Tempos de Sociologia, escrito pelas autoras

    Helena Bomeny, Bianca Freyre-Medeiros, Raquel Balmant Emerique e Julia

    ODonnell, publicado pela Editora do Brasil.

    Segundo o PNLD, um dos fatores que seriam necessrios para seleo

    dos livros didticos seria a presena da Cincia Poltica observando a

    constncia, contemporaneidade e rigor terico destinado aos seus temas

    especficos. Com intuito de analisar como tal rea estaria sendo abordada no

    Ensino Mdio, a partir da anlise dos livros didticos autorizados pelo

    Ministrio da Educao e levando-se em conta o contedo, o presente artigotem por objetivo analisar tais livros descrevendo sua abordagem, apresentando

    sugestes e, por fim, tecendo uma anlise tendo por enfoque uma possvel

    conexo com a pesquisa acadmica.

    Tal empreendimento foi dado como necessrio considerando que tais

    livros sero adotados em diversas escolas pblicas e particulares, atuando

    como o instrumento capaz de desenvolver certa percepo nos estudantes

    quanto a diferentes temas, introduzindo conceitos e colaborando para aformao de opinio de diversos estudantes do pas, frente temas que esto

    intimamente ligados sua vida em sociedade e constituio da mesma.

    Anlise dos Livros Didticos

    Tempos Modernos, Tempos de Sociologia

    Descrio Geral do Livro

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    Escrito pelas autorasHelena Bomeny, Bianca Freyre-Medeiros, Raquel

    Balmant Emerique e Julia ODonnell, o livro Tempos Modernos, Tempos de

    Sociologia dividido em trs partes contendo, ao longo de toda obra, vinte

    captulos. O livro possui 280 pginas incluindo uma parte com verbetes

    explicativos de conceitos, referncias bibliogrficas e fotos ilustrativas. Ao

    longo da obra possvel notar uma linguagem bastante fluida e contnua,

    utilizando freqentemente o encadeamento de ideias, temas e conceitos.

    Fazendo uso de exemplos com situaes cotidianas e contextos histricos e

    associando-os uns com os outros, permitindo, assim, uma compreenso mais

    facilitada dos diferentes temas expostos ao longo do livro. Um exemplo

    patente, que pode ser citado, concerne ao filme Tempos Modernos (Modern

    Times), dirigido e protagonizado pelo ator e diretor Charlis Chaplin em 1936. O

    filme aparece ao longo de todo o livro, servindo em alguns captulos como

    ponto de partida para a explicao dos conceitos apresentados. Ao final de

    cada captulo, destinada uma parte contendo um resumo geral do que foi

    abordado e uma outra destinada a exerccios para verificao do conhecimento

    dos estudantes. Os exerccios apresentam-se em forma de questes

    discursivas e de mltipla escolha, sendo elaborados pelos prprios autores do

    livro ou retirados das provas do Exame Nacional do Ensino Mdio (ENEM).

    O contedo de Cincia Poltica no tratado em uma rea parte do

    livro, ou seja, uma rea especfica em que se apresenta todo contedo que se

    refere ao campo, embora seja possvel notar o tratamento de alguns captulos

    com maior abordagem no que concernem as temticas mais especficas

    Cincia Poltica. O seu contedo dissecado ao longo dos captulos podendo-

    se verificar que, embora o autor elabore diferentes temticas nos captulos,cada um destes tem por ventura algum ponto que se possa aludir como

    concernente Cincia Poltica. Neste artigo sero focados os captulos que

    tratam com preponderncia os temas da Cincia Poltica. Nestes termos, sero

    analisados neste livro os seguintes captulos: 6 Trabalhador uniu-vos! 7 -

    Liberdade ou Segurana, 8 As muitas faces do poder, 17 Participao

    Poltica, Direitos e Democracia, 18 Violncia Crime e Justia no Brasil e 20

    Interpretando o Brasil. A escolha destes captulos foi pautada por estes

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    apresentaram maior aproximao e dilogo patentes com a Cincia Poltica,

    seja atravs de exemplos, analogias, conceitos e exerccios.

    Ao longo do captulo 6 as autoras fazem uma anlise da sociedade

    atravs do pensamento do filsofo alemo Karl Marx. Nesta parte, o livro,

    baseando-se no autor, ressalta uma estrutura em que a histria se apresentaria

    por uma histria de luta de classes, observando noes de prtica e ao

    poltica quanto organizao do proletariado enquanto agentes que

    permitiriam mudanas na sociedade atravs da revoluo. So apresentados

    alguns conceitos ao longo do livro como comunismo, ideologia, socialismo,

    proletariado e burguesia.

    A contextualizao histrica para explicao do pensamento do autor

    bastante utilizada ressaltando com enorme constncia as condies da

    Revoluo Industrial no Sculo XVIII e governos que segundo o apresentado,

    poderiam se caracterizar enquanto governos comunistas. Ao longo do captulo

    tambm possvel notar que algumas noes apresentadas no seguem

    unicamente o pensamento do autor para explicao dos conceitos. Como, por

    exemplo, pode-se citar as noes de Socialismo e Comunismo, ambas

    alocadas em trechos a parte:

    O Socialismo um sistema poltico econmico que foi idealizado no sculo XIX em

    contraposio ao liberalismo e ao capitalismo. Concebido em reao s condies

    dos trabalhadores salrios baixos jornadas de trabalho abusivas etc. esse

    modelo de organizao social veio propor a extino da propriedade privada dos

    meios de produo, a tomada do poder por parte do proletariado, o controle do

    Estado e a diviso igualitria de renda....p.63

    O Primeiro pas a implantar o socialismo foi a Rssia, quando a Revoluo de 1917deps o governo monarquista. Aps a Segunda Guerra Mundial, o regime socialista

    foi introduzido em pases do Leste Europeu, e a partir de ento foi adotado por

    outras naes em diferentes lugares do mundo, como China, Cuba, alguns pases

    africanos e outros do Sudeste Asitico. Embora o socialismo hoje em dia exista em

    poucos pases como Cuba, China, Vietn Lbia, Coria do Norte e Laos alguns

    governos se declararam socialistas por aderirem a determinadas posies em

    termos de poltica econmica e social o caso dos governos de Hugo Chavez na

    Venezuela e Evo Morales na Bolvia. (GARCHET, MEDEIROS, 2010:64)

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    Como apresentado logo acima possvel perceber que a autora no se

    prende somente conjuntura da anlise de Marx, transpondo o conceito de

    socialismo para interpretao de outros autores como a relao da doutrina

    socialista aos governos da Rssia, Cuba dentre outros.

    Em linhas gerais, este captulo ressalta predominantemente a

    necessidade da ao poltica pela classe proletria enquanto ferramenta de

    supresso das desigualdades, segundo pensamento de Marx. Assim,

    possvel afirmar que a idia de ao poltica, organizao e mobilizao poltica

    esto presentes neste captulo. Tal pressuposto adequa-se segundo as

    diretrizes e os pr-requisitos de determinados Estados como o CBC de ensino

    e aprendizagem do Estado de Minas Gerais.

    O captulo 7 (Liberdade ou segurana?) tem por ponto central as

    anlises de democracia e liberdade do pensador francs Alexis de Tocqueville.

    Nessa parte, o livro apresenta o contexto da revoluo Francesa e suas

    implicaes levando-se em conta o denominado Perodo do Terror sob

    comando de Robespierre. Neste contexto, so colocadas as tenses entre

    democracia e liberdade apresentando os conflitos entre ambas segundo o

    pensamento do autor.

    O que mais impressionou Tocqueville em relao Revoluo

    Francesa foi a violncia em que ela se deu. Por que uma

    revoluo que defendia a liberdade, a igualdade e a fraternidade

    levou ao Terror?. Lutar pelo ideal de igualdade pode levar

    violncia? O desejo de Liberdade pode resultar no seu contrrio?

    Em que condies a luta pela liberdade e a igualdade leva a sua

    violncia e sua tirania?... (GARCHET, MEDEIROS, 2010:73)

    Ao expor o dilema tocquevilliano o livro apresenta situaes

    interpretando como a democracia e liberdade podem ser antagnicas. Assim,

    apresenta que a existncia de uma pode minar a atuao da outra levantando

    questes como at que ponto a democracia que por vezes associada

    neste captulo a igualdade ou em nome dela, pode-se desencadear

    transformaes que minem a liberdade, e qual o alcance mximo da liberdade

    desencadeando medidas antidemocrticas. A partir da anlise, possvel

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    afirmar que neste captulo o tema central exposto pelo livre o dilogo entre

    liberdade e igualdade.

    O captulo 8 As muitas faces do poder, apresenta uma investigao

    sobre os processos de dominao e disciplina que visam controle da

    sociedade. Como principal autor para anlise foi utilizado pelo livro o pensador

    francs Michel Foucault. Neste captulo so apresentados processos de

    dominao nas sociedades pautados no modo de como essas prprias

    sociedades concebiam suas instituies, leis e o prprio saber cientfico. A

    idia de normalidade e anormalidade situada enquanto um mtodo que

    exercia influncia quanto o que vinha a ser tratado como certo e errado,

    exercendo influncia tal como poder sobre os indivduos. Dessa forma, feita

    uma anlise de como os princpios da medicina, educao e das instituies

    em geral foram alteradas ao longo dos tempos. Neste Captulo possvel notar

    como ponto de forte recorrncia em torno da anlise a noo de poder inserido

    nas diferentes esferas.

    O Captulo 17 possui por ttulo a Participao poltica direitos e

    democracia, neste trecho so apresentados diversos pontos que permeiam o

    campo da Cincia Poltica. So abordadas as concepes de cidadania,

    direitos, deveres, liberdade de voto, formao de novas formas de socializao

    em locais em que o Estado no possui atuao de maneira efetiva e um

    aparato histrico apresentando as diferentes constituies no Brasil e os

    processos de mudanas que estas passaram.

    O livro trata a concepo de cidadania e democracia como pontos no

    inatos na sociedade, que dependeram de processos histricos ligados ao

    dos indivduos. Ao citar Elisa Reis, por exemplo, o livro traz a cidadania

    enquanto a iniciativa para participao nos bens que a sociedade produziu. ainda apresentado que tal a noo foi reforada a partir da concepo de

    cidade. Nestes termos a atuao na esfera poltica no poderia ser algo inato

    ou inerente vida em sociedade, mas algo que depende do modo de atuao

    dos atores sua organizao, e a prpria maneira que estes se concebem.

    Ao tentar demonstrar a ao enquanto pertencente ao sistema

    democrtico, o livro apresenta uma pesquisa realizada por Jos Murilo de

    Carvalho na regio metropolitana do Rio de Janeiro e discute a desconfianadas pessoas quanto ao modo de determinadas instituies como, por exemplo,

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    a justia ou a efetividade da atuao da polcia. Desta forma, as concepes

    ajudariam a explicar o modo de atuao da sociedade enquanto sua

    concepo de cidadania.

    No captulo 18 tratado o tema da Violncia, crime e justia no Brasil.

    O captulo trata a concepo do Estado para Weber enquanto a instituio que

    tem o monoplio do uso da fora assim como da violncia. Tal monoplio

    apresentado como coerente considerando a crena na validade das leis tal

    como das instituies que provm de um Estado democrtico de direito. Nesta

    parte so ainda levantados fatores que poderiam desencadear a violncia,

    resultando a ineficcia do Estado na resoluo dos mesmos, o que pode abrir

    precedentes para a formao de uma sociabilidade pautada na violncia, tal

    como o aparecimento de poderes paralelos como as milcias.

    O captulo apresenta a definio de Constituio enquanto uma norma

    que atua enquanto um guia daquilo que ou no permitido realizar dentro de

    um pas, demonstrando como aos indivduos poderiam agir coletivamente,

    como se organizaria um Estado, e o que uma nao:

    A Constituio a Carta Magna de um Pas. Esto ali descritos todos os

    procedimentos, regras normas, autorizaes e proibies pelos quais seguiam o Estado e sua populao:como se organiza o governo, como os

    governantes so eleitos, como deve funcionar o sistema educacional, de

    que maneira o grupos e associaes podem se expressar coletivamente,

    como trabalho deve ser remunerado, que direitos e deveres os indivduos

    tm enfim, em cada um de seus captulos, encontramos um mapa que nos

    orienta sobre o que podemos e o que devemos fazer, ou o que no

    podemos ou no devemos fazer (GARCHET, MEDEIROS, 2010:206)

    Desta forma, apresentada uma ideia de constituio enquanto um

    campo que expe todo o modo de funcionamento de uma sociedade

    apresentando tudo aquilo que ou no permitido. Segundo elaborado pelas

    autoras, a constituio variaria de pas para pas sendo fruto dos diferentes

    contextos.

    O Captulo 20 com o ttulo Interpretando o Brasil, apresenta o modo

    como foi pensado o pas por diferentes autores como Roberto Da Matta, Srgio

    Buarque de Holanda e Oliveira Vianna. Tal reflexo relacionada perspectiva

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    de como funciona opera a sociedade no pas a partir dos costumes e hbitos

    da populao, e a dicotomia entre a esfera pblica e privada, alm do seu

    impacto nas diferentes instituies.

    Sociologia para o Ensino Mdio Nelson Dacio Tomazi

    O livro de Nelson Tomazi tambm foi um dos dois livros que obtiveram a

    aprovao do PNLD, atendendo, assim, segundo o prprio PNLD, as

    premissas elencadas no documento citadas anteriormente. A obra possui 256

    pginas, dividida em sete unidades:

    A Unidade 1, intitulada A sociedade dos indivduos, compreende trs captulos dedicados

    anlise da relao entre indivduo e sociedade. A Unidade 2, intitulada Trabalho e

    sociedade, composta tambm por trs captulos que discutem as formas

    de organizao do trabalho em diferentes pocas e sociedades, dando obviamente

    especial acento ao fenmeno na sociedade capitalista. A unidade 3 denominada

    Estrutura social e desigualdades dedica-se discusso sobre modalidades de

    estratificao e desigualdade social e subdivide-se em trs captulos. A Unidade 4 intitulada

    Poder, poltica e estado, a mais extensa, dividida em quatro captulos. A Unidade 5

    intitula-se Direitos, cidadania e movimentos sociais. Divide-se em quatro captulosque, em certa medida, do prosseguimento discusso da unidade anterior. A

    Unidade 6 volta-se para o tema Cultura e ideologia, dedicando-se reflexo sobre

    esses termo e o fenmeno da indstria cultural. Divide-se em trs captulos. A unidade7,

    Mudana e transformao social, divide-se em trs captulos e aborda a contribuio dos

    clssicos e contemporneos para a compreenso da mudana social. (PNLD, p.22, 2011)

    possvel ressaltar que na composio do livro as unidades 4 e 5

    contemplam temas especficos da Cincia Poltica, tratando de assuntos como

    direito, cidadania e participao poltica, temas estes apontados pelo

    documento Parmetros Curriculares Nacionais (PCN) como essenciais para o

    ensino de Sociologia, contribuindo para a formao do cidado crtico e

    consciente do seu papel na vida social. Essa caracterstica do livro de Tomazzi

    ultrapassa alguns limites presentes no livro Tempos Modernos, Tempos de

    Sociologia, uma vez que, na obra de Bomeny e Freyre-Medeiros, os objetos

    caractersticos da Cincia Poltica ficam condensados em alguns captulos, no

    em Unidades, como o caso da obra de Tomazi. Nesse sentido, as autoras do

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    livroTempos Modernos...tratam, na maioria das vezes, a Cincia Poltica no

    decorrer da obra, sendo que a tais abordagens ficam implcitas em captulos

    diversos, proporcionando, por vezes, uma apresentao pouco aprofundada

    dos temas especficos da rea.

    Destrinchando o Livro de Tomazi, no que diz respeitos s unidades onde

    os objetos de anlise tpicos da Cincia Poltica esto mais presentes, tal artigo

    se encarregar de examinar cada captulo dessas unidades.

    A unidade 4, intitulada Poder, Poltica e Estado, aborda em seu

    primeiro captulo, cujo o ttulo j diz Como surgiu o Estado Moderno. Nesse

    momento so trabalhadas as formas de Estado que emergiram desde o Estado

    Absolutista at o Estado Neoliberal. Ao falar de Estado Absolutista ele aborda o

    seu surgimento vinculado s transformaes sociais e polticas que se davam

    na Europa a partir do sculo XIV. Perpassando pela constituio do Liberalismo

    Clssico, este, por sua vez, se revelava contrrio aos preceitos fundamentais

    do absolutismo, j que visava a no interveno do estado nas atividades de

    mercado e a separao entre pblico e privado. Enquanto direitos individuais, o

    livro ressalta a liberdade e individualidade pregadas pelo Liberalismo. A obra

    de Tomazi parte do crescimento acelerado da economia europeia e a busca

    por novos mercados entre os pases Europeus como consequncia da primeira

    Guerra Mundial, e com destruio deflagrada com o conflito. Ao final da Guerra

    o Liberalismo ruiu, dando espao para o surgimento dos estados Nacionais - o

    Estado Sovitico e os Estados pautados pelo fascismo e o Estado de Bem-

    estar-social. Explicitando, ao final, como se deu a runa tanto do Estado Facista

    quanto do Sovitico.

    No que concerne ao surgimento do Estado de Bem - Estar Social, o

    texto o caracteriza por um estado tpico de pases capitalistas, no qual h umatentativa de se constituir um modelo de organizao poltica que responde s

    demandas da burguesia, bem como s necessidades da populao. Este

    poltica estatal esteve presente nos EUA e em grande parte da Europa at a

    dcada de 70. No entanto, aps a crise do petrleo houve uma necessidade de

    transformao dos preceitos do regime capitalista frente aos novos desafios

    instaurados. Nesse contexto, o liberalismo reaparece, com uma nova

    roupagem, mas baseado nos mesmos preceitos: mnima interveno do Estadotanto no mercado, quanto na concesso de servios pblicos. Este modelo

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    ficou conhecido como Estado mnimo. Nesse contexto, o livro elucida as

    privatizaes e a interveno cada vez mais crescente das grandes

    corporaes no governo como exemplo.

    Tecendo uma anlise mais profunda acerca dos temas levantados nesse

    captulo, que trata das formas de organizao do poder pblico, notvel a

    capacidade do autor de relacionar fatos histricos com transformaes sociais

    e polticas, utilizando uma linguagem acessvel, mas nem por isso simplificada.

    No entanto, para o presente artigo, h algumas lacunas no seu vis de

    pensamento. O texto, por exemplo, no elucida as bases da construo do

    Estado, ou de qualquer organizao poltica, bem como da sociedade civil.

    Deixando de lado, assim, elementos relacionados necessidade de se

    constituir um poder que garanta a vida em coletividade e, portanto, abordando

    o Estado como uma algo natural, que precede o homem, no o contrrio. Na

    concepo deste artigo, poderia se suprir essa lacuna, valendo-se do Contrato

    Social de Rousseau. No obstante, ao trabalhar a noo de Estado Mnimo

    nos anos 70 ele no traz a discusso para os dias atuais, quando governos

    tidos como de esquerda assumem o poder em pases da Amrica Latina.

    Governos esses que levantam uma bandeira contrria ideia de Estado

    Mnimo, em oposio aos ideais neoliberais onde o governo se isenta do papel

    de garantidor de direitos.

    No captulo 11 dessa mesma unidade, intitulado O poder e o Estado, o

    autor aborda as teorias Sociolgicas clssicas sobre o Estado, focando em

    Marx, Durkheim e Weber. Ao fazer isso, o autor no s aborda as reflexes

    desses clssicos das Cincias Sociais, como tambm ambientaliza o leitor no

    que diz respeito ao contexto que as questes levantadas sobre o Estado foram

    elaboradas. No entanto, o Tomazi deixa de trabalhar temas, talvez por suacomplexidade, que para o presente artigo poderia elucidar com mais rigor as

    partes constituintes do poder Estatal. Como a noo de Aparelho Ideolgico de

    Estado, objeto de estudo de autores reconhecidos nas Cincias Sociais, como

    Antnio Gramsci e Louis Althusser. No decorrer do texto possvel notar a

    prevalncia da noo de Estad,o corroborado pelo uso da fora, deixando de

    lado, na maior parte das vezes, a represso simblica disseminada no seio da

    sociedade.

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    Ainda nesse captulo, o autor trata de Democracia, representaes e

    partidos polticos, dissertando inicialmente sobre as bases nas quais a

    democracia representativa se consolidou. Nesse sentido, o autor aborda o

    surgimento dos partidos polticos enquanto uma demanda da sociedade que

    no detinha participao poltica no Parlamento, e em consequncia disso se

    organizou em grupos polticos que comearam a lutar por suas demandas.

    Corroborando seu argumento, o Nelson Tomazi apresenta ao leitor Claude

    Lefort, autor de A inveno democrtica (1983), obra na qual Lefort insurge

    com o argumento de que a democracia, tal como se concebe na atualidade,

    no uma criao da burguesia, uma vez que esta sempre procurou limitar a

    concesso de direitos, bem como impedir o sufrgio universal. Com isso, o

    autor conclui que a democracia representativa se sucedeu a partir de

    demandas por participao poltica das classes at ento, segregadas poltica

    e socialmente. Embora o autor se refira democracia enquanto um regime

    poltico legtimo, ao final Tomazzi aborda uma srie de riscos que

    comprometem a eficcia do regime democrtico, assim como a sua

    credibilidade entre a populao, como a corrupo, a desigualdade e a

    demagogia existente nos programas dos partidos polticos que, por vezes, no

    so consolidados quando estes alcanam o poder. Ao final deste captulo,

    Tomazi trabalha outras noes de controle sobre os indivduos que vo para

    alm do poder emanado pelo Estado, como a sociedade disciplinar,

    destacando Michel Foucault enquanto principal pensador dessa vertente.

    Nesse momento ele polariza as discusses, afirmando ser esta outra forma de

    analisar as questes de poder, destacando, assim, questes que envolvem

    relaes de poder presentes no cotidiano, atravs das instituies e prticas

    sociais convencionais.O terceiro captulo dessa unidade traz a questo das relaes de poder

    para o contexto brasileiro. Poder, poltica e Estado, captulo 12, faz um

    apanhado geral das formas de organizao poltica perpassando os tempos de

    Colonialismo, quando era Portugal o soberano nas decises aqui tomadas,

    chegando at a era Collor, onde se instaurava no pas o modelo de estado

    liberal democrtico. Entre esses dois momentos histricos, o texto disserta

    sobre os avanos e retrocessos do Brasil, at alcanar um modelo de governorelativamente democrtico. possvel concluir que este captulo se atenta aos

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    fatos histricos para alcanar a complexidade das transformaes polticas, o

    que no visto como um aspecto negativo por esse artigo, uma vez que, ao

    lanar mo de mtodos historiogrficos, o texto facilita a compreenso do leitor.

    No entanto, em alguns momentos de transio entre perodos de capital

    importncia para o entendimento das relaes de poder existentes no Brasil

    dos dias de hoje, a anlise poltica dos fatos preterida frente aos dados

    histricos. Algumas anlises, um tanto mais aprofundadas a respeito da

    consolidao da democracia no Brasil, so deixadas de lado. Corroborando

    essa ideia pode-se citar o perodo que marcou o governo Joo Gourlart e o

    Golpe de 64. O livro de Tomazi explica os referidos momentos como uma

    consequncia da ambio dos militares e cita a verso dos prprios, a qual

    justificava o golpe pela ameaa comunista. Para o presente artigo, alguns

    posicionamentos no que se refere s questes polticas que favoreceram a

    deflagrao do golpe de 64 poderiam ser explicitados no livro. Wanderley

    Guilherme dos Santos, em O Clculo do Conflito, interpreta o cenrio poltico

    da poca como de grande instabilidade e imobilismo poltico, no qual os

    partidos vigentes no conseguiam transformar as suas preferncias polticas

    em projetos de fato. No obstante, ainda h um cenrio econmico em crise,

    alta da inflao. Mas justificar o golpe em cima disso, para o presente artigo,

    suprime suas causas polticas, de cunho interno que aconteciam no seio do

    poder estatal.

    No geral, esse captulo aborda as diversas feies polticas j

    vivenciadas no Brasil, tratando das suas especificidades e dos seus contextos.

    Trabalhando a questo da escravido enquanto uma contradio de uma

    monarquia liberal, chegando a um governo ditatorial pautado pela supresso de

    direitos. O desfecho do captulo se d com a Constituio de 1988, na qual seinstaura um governo neoliberal no pas, que para Nelson Tomazi s trouxe

    prejuzos, sem nunca chegar a ser um estado de bem-estar social.

    Fechando essa quarta unidade, tem-se o ltimo captulo cujo ttulo A

    democracia no Brasil, fazendo um apanhado geral sobre o desenvolvimento

    da democracia no pas. Nesse captulo o autor trabalha a descrena do povo

    na poltica, descrena essa pautada pelos constantes escndalos envolvendo

    corrupo. Citando o socilogo Rud Ricci, Tomazzi afirma que os partidosatualmente se transformaram em grandes mquinas empresariais, envoltos em

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    estratgias de marketing extremamente avanadas. Para ele os partidos

    perderam sua capacidade de polarizar a sociedade, no deixando claro as

    suas diferenas em seus discursos. Nessa direo, o que se v na poltica hoje

    so grupos de interesses (ruralistas, evanglicos, nordestinos, etc). E nesse

    contexto as instituies polticas locais, como a cmara de vereadores, ainda

    so alvo de pouca credibilidade. Portanto, para ele a democracia representativa

    no Brasil ainda vista como sinnimo de corrupo, clientelismo e conchavos.

    Dessa forma, pode-se perceber como o texto relaciona o poder pblico na

    concesso de direitos privados.

    Nesse captulo possvel notar, na concepo desse artigo, a supresso

    de um fato histrico emblemtico para o Brasil: o Impeachment de Collor,

    marco para a democracia Brasileira. Pode-se afirmar que este fato seja um

    marco para a democracia brasileira uma vez que diz respeito a uma enorme

    manifestao popular de uma sociedade que passou anos calada pela

    ditadura. Ou ainda pode-se afirma-lo pautado na ideia de garantia de

    funcionamento do legislativo equilibrando o forte poder do Executivo, uma vez

    que uma deciso tomada no Senado colaborou fortemente para a derrubada do

    ento presidente Collor.

    Pautar a democracia brasileira por um sistema de defesa de interesses

    privados, como apresentado diversas vezes na obra de Tomazi, pode ser um

    equvoco, j que, por vezes, a concesso de direitos a uma classe dirigente a

    responsvel por garantir o funcionamento da democracia, evitando cenrios

    paralisia decisria, tal como apontado por Wanderley Guilherme dos Santos.

    Para ilustrar essa forma de funcionamento da democracia Brasileira, o cientista

    poltico Srgio Abranches, em 1988, cunhou a expresso presidencialismo de

    coalizo. Conceito recorrente nas discusses acadmica, e que para esteartigo poderia estar presente nos livros de Ensino Mdio de Sociologia. Uma

    vez que explana a realidade em que est inserida a Democracia no Brasil,

    caracterizada por um Executivo forte que para exercer seu poder tem que

    conquistar uma base aliada no senado e congresso:

    Ao tomar posse o presidente forma- se o governo maneira de um

    primeiro-ministro, isto , distribui ministrios pasta para partidos

    dispostos a apoi-lo e assegura assim a formao de uma maioria

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    parlamentar. Formando o governo, portanto, benefcios polticos das mais

    diversas ordens- influncia sobre poltica, cargos, nomeaes de parentes,

    sinecuras, prestgio etc. so distribudos aos membros da coalizo

    partidria que participa do governo. Em troca, o executivo espera os votos

    que necessita no Parlamento, ameaando e, se necessrio, punindo com aperda de benefcios recebidos aqueles que no apoiarem a coalizo

    (LIMOLIMONGI; FIGUEREDO,1998: 98)

    Para o presente artigo tal idia poderia ser elucidada nos livros didticos,

    a fim de ambientalizar os alunos e alunas do Ensino Mdio no que diz respeito

    s formas de organizao da poltica no Brasil, ultrapassando s ideias do

    senso-comum, que explica a concesso de benefcios e postos no governo, na

    maioria das vezes pautados pela corrupo, clientelismo e m ndole. Valeressaltar que este artigo no tem a inteno de desculpar atos de corrupo,

    mas, sim, acredita que se faz necessrio mostrar aos alunos e futuros eleitores

    como realmente funciona a democracia no Brasil.

    A Unidade 5 Direitos, cidadania e movimentos sociais aborda a

    questo da cidadania enquanto um processo pautado nas aes dos indivduos

    lutando por seus direitos, atravs de movimentos sociais demandando do

    aparato pblico seus interesses. Para tanto, Tomazzi, no primeiro captulo daunidade intitulado Direitos e Cidadania, traz a tona um histrico de leis, que

    vo desde a Idade Antiga, visando garantir direitos, at a discusso atual que

    aborda a conquista de direitos humanos, legitimados por normas

    institucionalizadas. No decorrer do captulo, a questo dos direitos que

    envolvem a cidadania recorrente, designando as conquistas obtidas pelos

    movimentos sociais no sculo XVIII como fundamentais para a constituio da

    cidadania tal qual se percebe hoje. Dessa forma, ele elenca os direitos bsicos

    do cidado, como o direito vida, o direito de ir e vir entre outros. Nesse

    momento, o autor insurge com a questo dos direitos bsicos ainda no

    constitudos em boa parte da humanidade. O autor de a Sociologia no Ensino

    Mdio responde a esse questionamento afirmando que a luta por direitos

    nunca deve ser esttica, mas deve haver uma luta constante por sua

    manuteno e vigncia, cotidianamente. perceptvel notar a aproximao

    deste captulo com temas elencados nos Parmetros Curriculares Nacionais -

    PCN, documento que trata a Sociologia como uma disciplina capaz de

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    desenvolver um olhar crtico nos estudantes, bem como contribuir para a

    formao de um sujeito cidado.

    O captulo posterior a esse trabalha a questo dos movimentos sociais

    enquanto aes coletivas, ambicionado algum tipo de transformao. Para ele

    os esses movimentos so sempre confrontos polticos, uma vez que, na

    maioria das vezes estabelece relaes com o Estado, ou contra, ou em

    parceria a este. Mesmo que algum movimento no exera uma ao

    diretamente voltada para o poder pblico, ele visa alguma transformao no

    que se refere ao reconhecimento da diferena, ambicionando uma mudana

    nos padres morais vigentes. A partir disso o texto segue abordando diversos

    movimentos sociais contemporneos, que vo desde movimentos grevistas at

    movimentos em prol do respeito diversidade sexual.

    Ao final da Unidade, Nelson Tomazi aborda a questo da cidadania e os

    movimentos sociais no Brasil. Nesse momento ele levanta uma questo

    comumente vista em trabalhos de Cincia Poltica acadmicos, como o

    conceito de cidadania regulada. Nesse sentido, ele aborda a superviso do

    Estado nos sindicatos, comum na Era Vargas, quando esses movimentos s

    recebiam algum tipo de proteo do Estado se estivessem reconhecidos pelo

    Ministrio do Trabalho e colaborassem com o Estado, perdendo assim sua

    liberdade de ao. O texto tambm trata das formas de opresso cidadania

    no regime militar, quando os direitos civis bsicos foram sumariamente violados

    pelo poder pblico. No que concerne cidadania hoje, o captulo em questo

    estabelece a Constituio de 1988 como marco para a constituio dos direitos

    no Brasil. Nesse momento, as propostas de direitos civis, sociais, polticos e

    humanos foram garantidas por lei. No entanto, Tomazi afirma que ainda h um

    longo caminho a percorrer para que esses direitos sejam alcanados de fatopela populao brasileira.

    No que diz respeito aos exerccios presentes no livro, estes esto

    presentes ao final de cada unidade. Pode-se perceber que o autor prepara

    atividades que alcanam temas recorrentes em todos os captulos anteriores.

    No entanto, ao traar uma comparao com o livro Tempos Modernos, Tempos

    de Sociologia, possvel notar que o segundo traz um maior nmero de

    exerccios, pois ao final de cada captulo h uma lista de atividades, e no nofim de cada Unidade como no livro de Tomazi. No obstante, as autoras

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    tambm apresentam exerccios mais diversos, no s com questes

    discursivas, como na obra de Nelson Tomazi, mas tambm objetivas, trazendo

    tambm questes do ENEM, processo seletivo hoje que est presente em

    grande parte das Universidades Federais do pas. Tambm possvel notar

    grau de aprofundamento nos exerccios do livro Tempos Modernos. O que foi

    curioso, uma vez que, a partir de uma anlise minuciosa dos livros,

    perceptvel a maior ateno destinada a assuntos da Cincia Poltica no livro

    de Nelson Dacio Tomazi. No entanto, seus exerccios se mostraram um tanto

    superficiais.

    Concluso

    A partir da anlise empreendida foi possvel notar que os livros

    aprovados pelo PNLD, Tempos Modernos, Tempos de Sociologia e Sociologia

    para o Ensino Mdio, abordam como temas principais: as Formas de

    organizao do Estado, Cidadania, Poder e Participao Poltica, Liberdade e

    Democracia.

    Segundo o PNLD, os contedos de Cincia Poltica so indispensveis

    na constituio do livro didtico de Sociologia. Entretanto, segundo o prprio

    programa, o espao destinado temas especficos da rea ainda se apresenta

    relativamente limitado. Aps minuciosa anlise dos livros aprovados pelo Guia

    Didtico, percebeu-se que por mais que os assuntos relacionados Cincia

    Poltica sejam dissecados em diferentes partes no decorrer do livro, a

    constncia e aprofundamento das abordagens se mostraram um tanto restritas.

    Ocorrncia agravante dessa situao reside no fato da disciplina de Sociologia

    contar com uma carga-horria reduzida comparada a outras disciplinas. O quenecessariamente faz com que seu contedo tenha que ser adaptado para uma

    menor quantidade de aulas. Em Minas Gerais, por exemplo, grande parte das

    escolas possuem a carga horria semanal da disciplina de uma hora aula por

    semana, o que pode inviabilizar o aumento do tempo designado a tratar de

    assuntos tpicos da Cincia Poltica.

    Outro fator que deve ser colocado em questo, consiste no fato de que,

    ao se fazer uma breve anlise dos temas estudados ao longo do campoacadmico, possvel notar alguma distncia da produo dentro dos limites

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    da universidade com o enfoque abordado nos livros de Ensino Mdio,

    aprovados pelo PNLD, mais especificamente, os captulos relacionados

    Cincia Poltica. Por mais que exista semelhana quanto aos temas que a rea

    trabalhe com boa parte nos livros didticos, a forma de abordagem da cincia

    poltica na universidade ainda diverge muito quanto aos conceitos trabalhados,

    o contexto, e principalmente quanto ao recorte da configurao dos atores que

    envolvam a esfera pblica, a concepo horizontal de poltica permitindo

    criao de novos mundos e as relaes de poder.

    vlido ressaltar que se deve ter de uma diferena de aprofundamento

    entre Ensino Bsico e a Academia, adequado tambm lembrar que parte dos

    documentos que norteiam a Sociologia no Ensino Mdio como a Lei de

    Diretrizes e Bases e o PNLD exigem, ainda, apenas panorama geral do

    contedo de poltica, dada a conjuntura da disciplina de Sociologia. Entretanto,

    preciso ressaltar que, caso se conceba o conhecimento da Cincia Poltica

    como um meio importante para anlise da sociedade, vindo a contribuir para a

    formao dos indivduos, enquanto um campo de saber que pode exercer um

    papel benfico na educao Bsica, vlido o argumento de que a

    aproximao entre os temas da Educao Bsica com a Academia, assim

    como dos temas tratados no campo acadmico com o ensino dado na escola

    pelo Ensino Mdio, soam necessrias.

    Tendo por modelo de anlise os temas das Mesas Redondas e das

    reas temticas que sero realizadas no oitavo encontro da Associao

    Brasileira de Cincia Poltica (ABCP), em 2012, possvel notar que a maioria

    destas apresenta uma constncia de temas bastante distintos das que so

    apresentadas pelos livros do Programa Nacional do Livro Didtico. Ao Analisar

    os temas recorrentes na ABCP possvel notar assuntos praticamente isentosde meno no Ensino Bsico como o das relaes Internacionais, Teoria

    Elitista, e uma anlise de poltica comparada. Exemplificando essa situao, o

    presente artigo valer-se- da programao das mesas-redondas da ABCP,

    maior congresso de Cincia Poltica nacional:

    A China: Grande potncia do Sc. XXI?

    A Cincia Poltica e as Relaes Internacionais em revista: um debatesobre publicao e peridicos cientficos;

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    Eleies nos EUA

    Robert Michels: 100 anos da lei de ferro da oligarquia;

    Elites, Processos de politizao e redefinies de fronteiras da poltica

    Internet e Poder Local Balano da pesquisa em poltica comparada na Amrica Latina

    Um dilogo entre continentes: democracias distintas e desafios

    comuns?

    Embora seja vlido ressaltar que, enquanto presente no Ensino Mdio, a

    disciplina de Cincia Poltica faz parte da disciplina de Sociologia, estando a

    pouco inserida no contexto escolar como disciplina obrigatria. Por meio da

    anlise dos livros didticos, da vivncia acadmica e dos temas abordados na

    ABCP, perceptvel notar uma lacuna separando a Academia e a Educao

    Bsica. Os trabalhos referentes Cincia Poltica correspondem aos mais

    diversos assuntos, dialogando diretamente com as transformaes polticas e

    sociais equacionadas na sociedade civil e no poder pblico. Entretanto, para o

    presente artigo extremamente proveitoso que a Educao Bsica estabelea

    um dilogo direto com as produes intelectuais mais recentes. Sendo essa

    apropriao da pesquisa acadmica para os livros didticos construda com

    rigor terico e atento as demandas e especificidades dos estudantes do Ensino

    Mdio. Dessa forma no se perderia a qualidade acadmica e se alcanaria um

    aprofundamento da disciplina em sala de aula e no cotidiano escolar.

    Referncias Bibliogrficas:

    ALTHUSSER, L. P. Aparelhos Ideolgicos de Estado. 7 ed. Rio de Janeiro:

    Graal, 1998

    LIMONGI, Fernando; FIGUEREDO, Argelina, Bases Institucionais do

    presidencialismo de coalizo, - Lua Nova, 1998 - SciELO Brasil.

    GARCHET, Helena Maria Bomeny; MEDEIROS Bianca Stella Pinheiro deFreire, Tempos Modernos, Tempos de Sociologia. 1ed. Editora do Brasil, 2010.

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    TOMAZI, Nelson Dacio, Sociologia para o ensino mdio. 1.ed. So Paulo:

    Atual,2007.

    ROSSEAU, Jean-Jecques, Do contrato Social. Ed. Ridento Castigat Mores.

    SANTOS, Wanderley Guilherme dos, O clculo do conflito. Ed. UFMG, 2003

    Guia de livros didticos : PNLD 2012 : Sociologia. Braslia : Ministrio da

    Educao, Secretariade Educao Bsica, 2011

    Sociologia: ensino mdio / Coordenao Amaury Csar Moraes. Braslia:

    Ministrio da Educao, Secretaria de Educao Bsica, 2010. 304 p.: il.

    (Coleo Explorando o Ensino; v. 15)

    Parmetros Curriculares Nacionais PCN- Ensino Mdio; Ministrio da

    Educao, Braslia 2002

    Orientaes Curriculares para o Ensino Mdio: Cincias Humanas e suas

    Tecnologias; Ministrio da Educao, Braslia, 2006

    Currculos Bsicos Comum CBC Sociologia, Secretaria do Estado de Minas

    gerais, 2006