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Dados vol.44 no.2 Rio de Janeiro 2001 http://dx.doi.org/10.1590/S0011-52582001000200003 A Conexão Presidencial: Facções Pró e Antigoverno e Disciplina Partidária no Brasil * Octavio Amorim Neto e Fabiano Santos INTRODUÇÃO Análises comparativas recentes sobre assembléias legislativas democráticas falam de uma relação em duas etapas entre estratégias eleitorais e comportamento do Legislativo (Ames, 1995; Cain et alii, 1987; Cox, 1987; Lancaster, 1986; Mainwaring, 1991; Morgenstern, 1996; Shugart e Carey, 1992). A primeira relaciona as instituições eleitorais ao tipo de voto que os candidatos procuram desenvolver. Há duas espécies de voto: o personalizado e o partidário. Acredita-se que instituições eleitorais, como as regras de escolha de candidatos, as fórmulas de distribuição de cadeiras e a magnitude do distrito eleitoral, têm um papel importantíssimo na determinação do tipo de voto que prevalece em determinado sistema político (Carey e Shugart, 1995). A segunda relaciona o tipo de voto com o comportamento dos parlamentares. Nesse caso, a principal hipótese é que quanto mais personalizado é o voto, mais individualista é a conduta dos políticos. Inversamente, quanto mais partidário é o voto, mais partidário é o comportamento dos legisladores. A maioria dos estudos que associam as estratégias dos candidatos com o comportamento do Legislativo aplica, implícita ou explicitamente, o conceito de conexão eleitoral, de Mayhew (1974), a outros países além dos Estados Unidos. Esse modelo generalizado de conexão eleitoral, para citarmos a expressão cunhada por Morgenstern (1996), é um bom instrumento para a formulação de hipóteses sobre a tendência central da disciplina partidária em qualquer sistema democrático. Certamente, não se deve esperar que o modelo geral explique possíveis variações entre partidos e dentro de cada partido nas taxas de disciplina em um mesmo país. A razão disso é simplesmente que os sistemas eleitorais são constantes nos vários países em qualquer período. No entanto, muitos estudos procuraram analisar esse problema no âmbito das democracias desenvolvidas 1 . Apesar de também haver pesquisas sobre o tema da disciplina partidária em alguns países latino-americanos 2 , elas cobrem somente um curto período de tempo. Não temos conhecimento de nenhum estudo quantitativo sobre a disciplina partidária na América Latina que abranja um período mais longo. A intenção deste artigo é preencher tal lacuna, analisando taxas de disciplina em todas as votações nominais relevantes realizadas na Câmara dos Deputados, no Brasil, durante a primeira experiência democrática do país, de 1946 a 1964. Embora esse regime esteja cada vez mais distante no tempo, ainda é um dos poucos casos de combinação de presidencialismo puro com representação proporcional de lista aberta (os outros são: Brasil, de 1958 a 1973; Chile, depois de 1990; Peru, após 1980). Portanto, o regime brasileiro de 1946 a 1964 é um excelente ponto de observação para testar hipóteses explicativas acerca da variação entre partidos e dentro de um partido nas taxas de disciplina partidária em uma estrutura institucional singular.

A Conexão Presidencial Facções Pró e Antigoverno e Disciplina

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A Conexão Presidencial Facções Pró e Antigoverno e Disciplina

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  • Dados vol.44 no.2 Rio de Janeiro 2001

    http://dx.doi.org/10.1590/S0011-52582001000200003

    A Conexo Presidencial: Faces Pr e Antigoverno e Disciplina Partidria no Brasil*

    Octavio Amorim Neto e Fabiano Santos

    INTRODUO

    Anlises comparativas recentes sobre assemblias legislativas democrticas falam de

    uma relao em duas etapas entre estratgias eleitorais e comportamento do

    Legislativo (Ames, 1995; Cain et alii, 1987; Cox, 1987; Lancaster, 1986; Mainwaring,

    1991; Morgenstern, 1996; Shugart e Carey, 1992). A primeira relaciona as

    instituies eleitorais ao tipo de voto que os candidatos procuram desenvolver. H

    duas espcies de voto: o personalizado e o partidrio. Acredita-se que instituies

    eleitorais, como as regras de escolha de candidatos, as frmulas de distribuio de

    cadeiras e a magnitude do distrito eleitoral, tm um papel importantssimo na

    determinao do tipo de voto que prevalece em determinado sistema poltico (Carey

    e Shugart, 1995). A segunda relaciona o tipo de voto com o comportamento dos

    parlamentares. Nesse caso, a principal hiptese que quanto mais personalizado

    o voto, mais individualista a conduta dos polticos. Inversamente, quanto mais partidrio o voto, mais partidrio o comportamento dos legisladores.

    A maioria dos estudos que associam as estratgias dos candidatos com o

    comportamento do Legislativo aplica, implcita ou explicitamente, o conceito de

    conexo eleitoral, de Mayhew (1974), a outros pases alm dos Estados Unidos. Esse

    modelo generalizado de conexo eleitoral, para citarmos a expresso cunhada por

    Morgenstern (1996), um bom instrumento para a formulao de hipteses sobre a

    tendncia central da disciplina partidria em qualquer sistema democrtico.

    Certamente, no se deve esperar que o modelo geral explique possveis variaes

    entre partidos e dentro de cada partido nas taxas de disciplina em um mesmo pas.

    A razo disso simplesmente que os sistemas eleitorais so constantes nos vrios

    pases em qualquer perodo.

    No entanto, muitos estudos procuraram analisar esse problema no mbito das

    democracias desenvolvidas1. Apesar de tambm haver pesquisas sobre o tema da

    disciplina partidria em alguns pases latino-americanos2, elas cobrem somente um

    curto perodo de tempo. No temos conhecimento de nenhum estudo quantitativo

    sobre a disciplina partidria na Amrica Latina que abranja um perodo mais longo.

    A inteno deste artigo preencher tal lacuna, analisando taxas de disciplina em

    todas as votaes nominais relevantes realizadas na Cmara dos Deputados, no

    Brasil, durante a primeira experincia democrtica do pas, de 1946 a 1964. Embora

    esse regime esteja cada vez mais distante no tempo, ainda um dos poucos casos

    de combinao de presidencialismo puro com representao proporcional de lista

    aberta (os outros so: Brasil, de 1958 a 1973; Chile, depois de 1990; Peru, aps

    1980). Portanto, o regime brasileiro de 1946 a 1964 um excelente ponto de

    observao para testar hipteses explicativas acerca da variao entre partidos e

    dentro de um partido nas taxas de disciplina partidria em uma estrutura institucional

    singular.

  • Este artigo se desenvolver da seguinte forma: a segunda seo apresenta os dados

    sobre disciplina dos principais partidos brasileiros no perodo 1946-1964 e sustenta

    que, embora uma disciplina partidria relativamente fraca seja a tendncia central

    no Brasil, conforme supe o modelo generalizado de conexo eleitoral, a variao

    dessas taxas no pas requer uma explicao que no est disponvel na maior parte

    das teorias comparativas. A seo seguinte identifica dois enigmas: (a) uma notvel

    variao nas taxas de disciplina ao longo do tempo e, (b) taxas mais altas de

    disciplina nos partidos grandes. A quarta seo prope a hiptese de que a disciplina

    partidria no Brasil deve ser explicada, principalmente, pelas estratgias dos

    presidentes para a formao de coalizes parlamentares por meio da distribuio aos

    partidos de recursos de patronagem, o que denominamos de conexo presidencial.

    Em seguida, submetemos a hiptese a um teste economtrico mediante a anlise de

    dados em painel. A ltima seo apresenta algumas concluses.

    DISCIPLINA PARTIDRIA NO BRASIL NO PERODO 1946-1964

    Carey e Shugart afirmam que trs caractersticas do sistema eleitoral brasileiro no

    perodo de 1946 a 1964 so essenciais para compreender o tipo de voto cultivado

    pelos polticos: a frmula de lista aberta, a formao aberta das chapas partidrias e o voto nico. Na opinio desses autores, no Brasil,

    "[...] uma vez eleito por uma legenda, no se pode negar a um poltico acesso lista

    do partido em eleies subseqentes. [...] Por essa regra, o nico fator a contribuir

    para a importncia do partido o fato de que os votos recebidos em todas as suas

    listas ou por todos os seus candidatos se somam em um fundo comum. Contudo, as

    lideranas no dispem de meios formais para incentivar a cooperao e a

    manuteno das reputaes partidrias. Em conseqncia, o valor da reputao pessoal do candidato alto" (Carey e Shugart, 1995:428).

    Ou seja, apesar de adotar o sistema de representao proporcional, vigora no Brasil

    o tipo de voto encontrado nos sistemas majoritrios uninominais o voto personalizado. Morgenstern vai mais longe e relaciona os incentivos gerados por um

    voto personalizado e pela formao aberta das chapas partidrias com os padres de comportamento do Legislativo. Citando suas palavras,

    "[...] nos pases em que os lderes so pouco mais do que lideranas de opinio [...],

    o custo da dissenso pode ser baixo. Mas quando os lderes tm mais poder do que

    isso, como acontece quando controlam o acesso a objetivos muito perseguidos, o

    custo de dissentir sobe vertiginosamente. [...] a falta desses poderes que explica

    o carter instvel dos blocos parlamentares no Congresso brasileiro e no colombiano" (1996, cap. 3).

    Portanto, o modelo geral de conexo eleitoral prev uma taxa relativamente baixa

    de disciplina partidria no Brasil no perodo 1946-1964. Vejamos se nossos dados corroboram essa previso.

    Ao adotar a definio de Tsebelis (1995), entendemos por disciplina partidria neste

    artigo o grau de unidade do partido nas decises legislativas tomadas em votaes

    nominais. Usamos como indicador operacional o ndice convencional de Rice, cuja

    frmula :

    Ri,x = |% de votos sim - % de votos no |

  • Isto , subtramos a porcentagem dos membros do partido i que, na votao

    nominal x, se opuseram deciso da porcentagem dos que votaram a favor, e

    tomamos o valor absoluto da subtrao. Por exemplo, se um partido obtm um

    escore de 70% no ndice de Rice, entende-se que uma maioria de 85% dos seus

    deputados votou contra uma minoria de 15% numa votao nominal. No caso de um

    partido rachar no meio, seu escore no ndice de Rice cai para 0%. No entanto,

    conforme ressaltado por muitos autores (Bond e Fleisher, 1990; Carey, 1999;

    Limongi e Figueiredo, 1995; Mainwaring e Prez-Lin, 1998; Riker, 1959), nem

    todas as votaes nominais so significativas no que concerne ao conflito partidrio.

    Por isso, definimos como critrio de relevncia de uma votao nominal um ponto de

    corte de 10% de conflito partidrio isto , somente inclumos na amostra as votaes em que pelo menos 10% dos deputados votaram contra a maioria3.

    Encontramos no Dirio do Congresso Nacional o registro de 1.328 votaes nominais

    realizadas no Plenrio da Cmara dos Deputados entre 1946 e 1964. Essas votaes

    se distribuam em cinco legislaturas (1946-1950; 1951-19541; 1955-1958; 1959-

    1962 e 1963-1964)4. Adotando um ponto de corte de 10%, nossa amostra diminuiu

    para 982 votaes significativas. Somente calculamos o ndice de Rice para os

    partidos maiores e mais importantes do perodo 1946-1964, a saber, PSD, UDN, PTB,

    PR e PSP5. Juntos, estes partidos controlavam cerca de 90% das vagas na Cmara dos Deputados no perodo (ver Tabela 1).

  • Antecedentes do Sistema Partidrio

    O PSD, a UDN e o PTB eram os principais partidos entre 1946 e 1964. Juntos, eles

    comandavam cerca de 80% das cadeiras da Cmara dos Deputados. O PSD era o

    maior e o mais importante partido do sistema poltico. Apesar de seu nome, era um partido de centro-direita com bases sociais nas elites agrrias.

    A UDN, de direita, foi o segundo maior partido durante quase todo o perodo, salvo

    na ltima legislatura (1963-1964). Era o principal partido de oposio, exceto

    durante os seis meses do governo Jnio Quadros. Suas bases sociais incluam setores

    das elites agrrias e importantes grupos das classes mdias urbanas. O PTB,

    esquerdista e populista, foi o terceiro maior partido de 1946 a 1962, passando a

    segundo maior em 1963.

    Entre os pequenos partidos, o PSP, populista, baseava-se fortemente no carisma de

    seu fundador e principal lder, Ademar de Barros, e era o quarto maior partido. O PR,

    o quinto entre os principais partidos, era uma agremiao de direita dominada por sua seo mineira.

    Em termos de conduta e estrutura organizacional, a literatura secundria afirma que

    os partidos brasileiros eram pouco mais do que coligaes de organizaes locais6.

    De acordo com esses estudos, a origem desse tipo de padro organizacional se

    encontrava no sistema de representao proporcional de lista aberta adotado em

    distritos eleitorais que coincidiam geograficamente com os estados da federao. A

    poltica estadual constitua o pano de fundo para a eleio dos membros da Cmara

    dos Deputados (Lima Junior, 1983), os quais, por esse motivo, eram muito

    influenciados pelos interesses das clientelas eleitorais locais (Ames, 1987:103-139;

    Lamounier e Meneguelo, 1986:59-62). Essa concluso fundamentalmente correta

    no que diz respeito arena eleitoral, mas do ponto de vista da arena parlamentar,

    outros fatores contriburam para modelar o comportamento dos polticos. Na quarta

    seo, sustentaremos que as iniciativas do presidente tambm tinham uma

    importante influncia na vida dos partidos.

    Dados agregados sobre disciplina partidria

    A Tabela 2 mostra as taxas mdias de disciplina partidria por legislatura no Brasil

    entre 1946 e 19637. primeira vista, os dados parecem confirmar a previso de uma

    tendncia para taxas de disciplina relativamente baixas. Por exemplo, a mdia do

    PSD durante todo o perodo de apenas 58,9%. Embora as comparaes entre pases

    muitas vezes produzam resultados duvidosos8, porque os pesquisadores empregam

    critrios diversos para construir amostras de votaes nominais, pode-se dizer que,

    exceo dos partidos americanos, os partidos brasileiros mostraram, em mdia,

    taxas de disciplina mais baixas do que seus equivalentes europeus e latino-

    americanos (conforme indica a literatura mencionada na Introduo).

    Uma observao mais atenta revelar, porm, que h uma significativa variao na

    taxa de disciplina dos partidos. Vejamos, por exemplo, os valores obtidos pelos trs

    maiores partidos. Durante a primeira legislatura (1946-1950), o PSD foi o segundo

    partido mais disciplinado, ficando atrs apenas do minsculo PR. Sua pontuao

    mdia no ndice de Rice declinou na segunda legislatura, estabilizou-se na terceira,

    subiu na quarta e, por fim, caiu ao ponto mais baixo durante a ltima legislatura, de

    modo que o PSD acabou sendo o partido menos disciplinado entre as grandes

    organizaes partidrias. No caso da UDN, suas taxas de disciplina permaneceram

    basicamente estveis durante as quatro primeiras legislaturas, mas se elevaram no

  • ltimo perodo legislativo. As taxas do PTB foram estveis durante as trs primeiras

    legislaturas, subiram na quarta e atingiram seu ponto mximo no ltimo perodo. Esses resultados provocam uma pergunta: o que explica tais variaes?

    OS ENIGMAS DA DISCIPLINA PARTIDRIA

    Antes de ensaiar uma explicao, desagregamos os dados de disciplina partidria por

    ano (ver Grficos 1 e 2). interessante notar que as variaes encontradas entre os

    partidos e no mesmo partido so ainda mais flagrantes do que aquelas que

    apontamos na Tabela 2. O PSD, por exemplo, obteve um escore de 85,2% em 1947,

    valor bem prximo do alcanado pelos partidos europeus. Surpreendentemente,

    porm, esse partido chegou ao fim da primeira legislatura com um ndice de apenas

    48,5%. O PTB e a UDN tambm passaram por grandes oscilaes em suas taxas de

    disciplina numa mesma legislatura. Em 1951, primeiro ano da segunda legislatura, a

    taxa de disciplina do PTB foi de 74,8%, mas caiu para 44,2% em 1953. Em 1959,

    primeiro ano da quarta legislatura, a UDN marcou 64,7% no ndice de Rice, a segunda

    taxa mais alta do partido em todo o perodo estudado. Entretanto, sua taxa de disciplina em 1962 foi incrivelmente baixa: 38,2%.

  • Essas variaes revelam um primeiro enigma da disciplina partidria no Brasil. J

    dissemos que o modelo geral de conexo eleitoral parece explicar razoavelmente

    bem por que a disciplina partidria baixa no Brasil em comparao com outros

    pases. Mas ainda falta uma explicao para as variaes longitudinais e entre

    partidos.

    aceitvel partir do exame do impacto do tamanho do partido na sua disciplina. A

    lgica da ao coletiva (Olson, 1965) nos ensina que o tamanho de um grupo um

    importante fator na sua capacidade de controlar e punir com eficcia os desertores.

    Pode-se dizer, ento, que quanto maior for a bancada parlamentar de um partido,

    menor ser sua disciplina. H uma razo para estender essa concluso aos partidos

    brasileiros, pois seus lderes no tinham poder algum para impor disciplina partidria.

    O que os dados nos permitem dizer a esse respeito? Nossas anlises no confirmam

    tal hiptese; pelo contrrio, verificamos que o PSD, o maior partido poltico do

    perodo em exame, votava em mdia de modo mais disciplinado do que a UDN, e at

    mesmo do que o minsculo PR, e em muitos anos obteve ndices mais altos do que

    o PTB. Esse o nosso segundo enigma. Na prxima seo, sugerimos algumas

    hipteses na esperana de desvendar esses problemas.

    A CONEXO PRESIDENCIAL

    Na tentativa de entender tais enigmas, partimos de uma reflexo sobre as relaes

    entre Executivo e Legislativo no Brasil durante a vigncia da Constituio de 1946.

    Suponhamos um regime presidencialista em que o Poder Legislativo fragmentado

    e os partidos so pouco disciplinados. Quais os efeitos desses fatores para a

    articulao de coalizes parlamentares? H duas conseqncias correlacionadas: (a)

    a fraca disciplina leva ao que Riker (1962:77-101) denomina de efeito-informao,

    que ocorre toda vez que os polticos que esto montando uma coalizo no dispem

    de informaes completas sobre a fora relativa dos parceiros, desconhecem seu

    grau de lealdade e no tm informaes perfeitas sobre os passos anteriormente

  • dados pelos parceiros na coalizo; (b) em conseqncia do efeito-informao, o

    somatrio da fora parlamentar dos partidos que formalmente pertencem coalizo

    governista um nmero que no corresponde s posies polticas desses partidos no Congresso.

    Em resumo, quanto mais fraca a disciplina partidria, maior o efeito-informao,

    e quanto maior este efeito, mais fortes so os incentivos para formar coalizes

    sobredimensionadas para diminuir tal efeito (Lijphart, 1984:54). Alm disso, quanto

    mais fragmentado o Legislativo, mais espao existe para a manipulao da agenda

    poltica e para a adoo de comportamentos estratgicos por parte da liderana do

    partido e dos seus demais integrantes (Riker, 1982). Altas taxas de desero e

    freqente recomposio de coalizes deveriam ser a norma nesse ambiente

    legislativo. O resultado disso que as coalizes tm de ser formadas caso a caso,

    conforme a questo em jogo, e para cada uma haver uma composio diferente de

    parceiros. Surge ento uma outra pergunta: como possvel garantir alguma estabilidade em tal tipo de legislatura?

    Para comeo de conversa, precisamos identificar o ator poltico mais interessado em

    garantir essa estabilidade no perodo 1946-1964: o presidente da Repblica. Por qu?

    Os presidentes procuravam assegurar esse tipo de estabilidade porque eram os

    nicos polticos eleitos por uma votao de mbito nacional e que, por isso mesmo,

    tinham motivos para patrocinar polticas pblicas de abrangncia nacional. Estas

    polticas feriam interesses variados e heterogneos representados no Congresso e,

    portanto, exigiam que os presidentes procurassem harmoniz-los. Para implementar

    suas polticas, os presidentes contavam com os seguintes poderes garantidos pela

    Constituio de 1946: (a) o de encaminhar projetos de lei; (b) o de formular a

    proposta oramentria; (c) o de vetar parcial ou integralmente projetos de lei

    aprovados pelo Legislativo (e seu veto poderia ser derrubado por uma maioria de

    dois teros em sesso conjunta do Congresso Nacional); (d) de propor projetos que

    impliquem aumentos salariais para o funcionalismo pblico, de criar novos cargos

    nos rgos pblicos existentes e de mudar a lei que determina o tamanho das Foras

    Armadas. Conseqentemente, por fora dos incentivos eleitorais e respaldado em

    seus poderes constitucionais, os presidentes tornaram-se agentes relevantes na definio da agenda legislativa durante o regime de 1946-1964.

    De que recursos os presidentes dispunham para levar adiante no Legislativo sua

    agenda de polticas pblicas? Identificamos um recurso essencial: a patronagem, a

    moeda bsica nas transaes polticas de um sistema eleitoral localista em um pas

    de grande populao rural pobre. Cabe notar, ademais, que a centralizao

    administrativa no Executivo federal tambm contribua para a importncia da

    patronagem. A partir da dcada de 1930, desenvolveu-se com grande fora no Brasil

    um processo de centralizao administrativa pelo qual uma enorme gama de poderes

    se concentrou nas mos do Executivo federal em detrimento da autonomia poltica e

    administrativa dos estados. A Constituio de 1946 aboliu as prticas ditatoriais do

    Estado Novo, mas no revogou seu carter centralizador. A queda do Estado Novo,

    em 1945, foi amortecida pela manuteno de uma estrutura burocrtica que reduziu

    a autonomia dos estados da federao (Nunes, 1997; Souza, 1976), isto , a

    federao entrou e saiu enfraquecida da Constituio de 1946.

    A combinao de um Executivo centralizador com uma estrutura federativa e um

    sistema de representao proporcional de lista aberta, em que as unidades da

    federao funcionavam como distritos eleitorais, fez da Cmara dos Deputados uma

    espcie de esturio quase natural para os interesses regionais represados. E visto

    que os recursos para atender s demandas regionais estavam depositados nas mos

    do Executivo, os deputados de cada estado passaram a assumir, por razes prticas,

    o papel de lobistas, representando suas prprias unidades de origem perante o

    governo federal. Foi um impulso distributivo que mobilizou os interesses desses

  • parlamentares em dar apoio ao Executivo na implementao e no somente na formulao de polticas pblicas (Souza, 1976:52-56). O controle de cargos na esfera executiva tornou-se, ento, uma condio sine qua non para que os polticos pudessem acumular influncia e poder.

    Mas, se os polticos brasileiros estavam to preocupados com a patronagem, o que

    os impedia de apoiar qualquer administrao para obt-la? Em outras palavras, quais

    as razes da oposio aos presidentes no poder? Como a Presidncia da Repblica

    no Brasil enfeixava tamanha soma de recursos, ela converteu-se no mais alto prmio

    poltico e, evidentemente, todos os partidos e lderes polticos de relevo tinham como

    meta mxima conquistar a chefia do Executivo. Da que os aspirantes sucesso

    presidencial tivessem um bvio interesse em derrotar a agenda poltica dos

    presidentes no governo, na inteno de maximizar suas chances de vitria na

    prxima eleio presidencial. Dessa forma, os candidatos Presidncia utilizavam-

    se de todo o seu prestgio e poder para criar situaes polticas desfavorveis ao presidente da Repblica9.

    Portanto, a oposio aos presidentes era em larga medida mobilizada pelos

    presidenciveis. Alm disso, embora os presidentes estivessem formalmente fora da

    arena eleitoral (pois no podiam reeleger-se), precisavam cortejar os eleitores para

    aumentar a sua popularidade, j que, para um presidente, a popularidade

    representava, por assim dizer, um equivalente da arena eleitoral. A oposio

    conduzida pelos candidatos Presidncia visava atingir a popularidade dos

    presidentes no governo, de modo a prejudicar a eficincia da gesto do governo. Com isso, os presidenciveis aumentavam suas prprias chances eleitorais.

    Mas por que os presidenciveis se preocupavam tanto com o chefe do Executivo se

    ele estava impedido de se reeleger? Em primeiro lugar, alguns presidentes tentaram

    encenar pelo menos um retorno ao poder aps o trmino do seu mandato. Vargas

    voltou em 1950; Kubitschek planejava voltar Presidncia em 1965; Jnio Quadros,

    depois de sua renncia em 1961, tentou voltar ao governo do Estado de So Paulo,

    mas foi derrotado. Quer dizer, alguns presidentes fizeram uso dos recursos de

    patronagem disposio do seu cargo ou para suprir suas mquinas polticas, ou

    para criar uma nova, no caso de presidentes que careciam de slido apoio partidrio

    (Geddes, 1994). Em segundo lugar, muitos presidentes tentaram fazer sua prpria

    sucesso, patrocinando a candidatura de um herdeiro poltico (Kubitschek foi a nica

    exceo). Se os presidentes se saam bem em seu governo, esse sucesso servia para

    melhorar as chances eleitorais do seu herdeiro, o que, por sua vez, diminua as

    chances dos outros pretendentes. Note-se, alis, que fazendo seu sucessor, os

    presidentes asseguravam um alto grau de continuidade das suas polticas e evitavam

    que seus governos fossem submetidos a futuras investigaes. Levando-se em conta

    o grau de corrupo na poltica brasileira, este ltimo aspecto no de somenos importncia.

    Em suma, os planos dos presidenciveis podiam ser seriamente prejudicados pelo

    xito do titular da Presidncia, e isto explica a virulenta oposio deles agenda

    poltica do governo. Carlos Lacerda, o mais famoso lder udenista, com sua oposio

    ressentida a Vargas, Kubitschek e Joo Goulart, um exemplo extremo dessa

    atitude. Mas, em vez de optar por esse confronto aniquilador com os presidentes, por

    que os presidenciveis no procuravam mostrar ao eleitorado que tinham condies

    de fazer um governo melhor do que o do atual presidente? De acordo com Mayhew

    (1991), isto que os candidatos Presidncia procuram fazer nos Estados Unidos.

    Patrocinando importantes projetos de lei, os candidatos Presidncia buscam realar

    sua folha de servios polticos e alcanar prestgio nacional com vistas a fortalecer

    suas chances na disputa presidencial. O fato que, tentando legislar melhor do que

    o atual presidente, os candidatos acabam aprimorando o desempenho legislativo do

    governo. Para Mayhew, esta uma das principais razes pelas quais no existe

  • diferena muito acentuada na produo legislativa (medida pela taxa de aprovao

    de leis relevantes) de um governo unificado em comparao com um governo dividido.

    H um fator que explica por que, no Brasil, os polticos que aspiravam Presidncia

    da Repblica no podiam promover leis melhores do que o titular da Presidncia a fragmentao do Legislativo. Uma condio indispensvel para que um partido de

    oposio pudesse implementar uma agenda alternativa do governo era ser o partido

    majoritrio, e isso nunca aconteceu no perodo de 1946 a 1964. Dessa maneira, uma

    oposio "construtiva" era invivel, e essa impotncia legislativa explica por que os

    presidenciveis adotavam estratgias turbulentas de oposio ao presidente da Repblica.

    Uma outra explanao para o comportamento da oposio estava, por ironia, no

    prprio uso da patronagem. Recorrendo patronagem para obter a cooperao dos

    deputados, os presidentes tambm criavam uma oposio, porque as verbas e cargos

    disponveis so limitados. Se os recursos de patronagem fossem ilimitados, a

    estabilidade do processo legislativo no seria problemtica, j que os presidentes

    poderiam simplesmente comprar a maioria dos votos que precisassem. Mas em

    virtude de restries oramentrias, a patronagem ao mesmo tempo exclua e inclua

    polticos na base parlamentar do presidente. De um lado, inclua os que tinham sido

    nomeados pelo presidente para cargos executivos e/ou os que se haviam beneficiado

    de verbas pblicas e, de outro, exclua todos os demais, impelindo-os para o campo

    da oposio. Observe-se, ainda, que o valor da patronagem variava com o tempo.

    Com o decorrer do mandato presidencial, a importncia da patronagem diminua aos

    olhos dos polticos que passavam a se preocupar mais com a sua sobrevivncia

    poltica do que com as vantagens dos cargos no Executivo; isto , perto do fim de

    um governo, a capacidade do presidente para angariar apoio poltico reduzia-se muito.

    Em suma, o problema dos presidentes brasileiros era formar maiorias em um

    Legislativo fragmentado, com partidos indisciplinados e dotados de uma alta taxa de

    desconto, somado oposio radical dos aspirantes sucesso presidencial. Como

    poderiam os governantes fazer o melhor uso possvel de recursos limitados de patronagem para governar?

    preciso chamar a ateno, em primeiro lugar, para as condies sob as quais os

    candidatos a presidente disputavam os votos do eleitorado. Eles tinham de conseguir

    a maioria de votos de um eleitorado composto por milhes de cidados espalhados

    por um pas de dimenses continentais. E no podiam contar apenas com a estrutura

    organizacional dos seus partidos ou dos partidos que endossavam suas candidaturas.

    Haviam que construir, estado por estado, uma coligao capaz de lev-los vitria.

    Para isso, precisavam aliar-se s foras partidrias locais a fim de maximizar suas

    condies de atrair votos. O resultado era que, ao organizar seu primeiro ministrio,

    os presidentes tinham de recompensar seus principais aliados de campanha eleitoral,

    oferecendo-lhes cargos no Executivo. Portanto, era na arena eleitoral e durante os

    perodos de transio presidencial que as foras locais exerciam influncia sem-par na poltica nacional.

    No entanto, como a baixa disciplina partidria priva de apoio estvel at mesmo os

    governos nominalmente majoritrios, no transcorrer dos seus mandatos os

    presidentes tinham de recorrer aos partidos de oposio para compor maiorias e sair

    da linha de tiro dos pretendentes sua sucesso. Assim, de um lado, ficava o

    presidente, precisando de apoio no Congresso; de outro, a Cmara dos Deputados,

    reclamando recursos clientelsticos. Era essa a matria-prima a partir da qual se

    construam as maiorias no Congresso. Nessa linha de raciocnio, o comportamento

  • do Legislativo no Brasil de 1946 a 1964 pode ser interpretado como o resultado do

    efeito combinado da ao das foras polticas locais e das iniciativas do presidente, e

    no como uma funo apenas dos interesses regionais, como afirmam os estudos comparativos e secundrios. Como assim?

    Acreditamos que o melhor uso que os presidentes podiam dar aos seus limitados

    recursos de patronagem era aumentar ao mximo seu grupo de aliados fiis em todos

    os partidos relevantes. No caso dos partidos governistas, a patronagem presidencial

    visava fortalecer a coeso pr-governo e armar um escudo de proteo contra o

    efeito-informao. No caso dos partidos de oposio, a patronagem era empregada

    para cooptar seus integrantes de modo a enfraquecer a coeso antigoverno e atingir a capacidade dos candidatos presidenciveis de mobilizar oposio parlamentar.

    Uma conseqncia importante desse formato de articulao de coalizes foi a criao

    de duas faces opostas dentro de cada partido: uma pr-governo e a outra

    antigoverno. As faces pr-governo incluam: (a) deputados que tinham apoiado o

    candidato vencedor durante a campanha eleitoral e que haviam recebido benefcios

    clientelistas durante seu governo; (b) deputados que apoiaram os candidatos

    derrotados, mas que foram posteriormente beneficiados com verbas ou cargos no

    Executivo. As faces de oposio ao governo eram formadas por: (c) deputados

    ligados aos candidatos presidenciveis derrotados e pelos (d) membros dos partidos

    que haviam apoiado o candidato vencedor durante sua campanha eleitoral, mas que, por algum motivo posterior, tinham sido excludos da distribuio de verbas e cargos.

    A existncia de faces que se definiam pelo apoio ou oposio ao presidente da

    Repblica corroborada por vrios estudos sobre os partidos brasileiros. Por

    exemplo, na UDN, o grupo intitulado de Chapa Branca (por causa da cor das placas

    dos carros oficiais naquela poca) destacou-se pelas prticas clientelsticas e pelo

    apoio a quase todos os presidentes, de 1946 a 1964 (Benevides, 1981), ao passo

    que a faco apelidada de Banda de Msica (porque fazia muito "barulho") cuidava

    da pureza ideolgica do partido e permaneceu na oposio a todos os presidentes,

    exceto a Jnio Quadros. O PTB dividia-se entre grupos classistas e grupos

    peleguistas, e enquanto os primeiros freqentemente assumiram posies radicais

    em face dos presidentes, os segundos ficaram famosos por sua avidez pelo controle

    da direo e de cargos administrativos do Ministrio do Trabalho (D'Arajo, 1996).

    Polticos ligados ao PSD ocuparam pastas ministeriais em todos os governos do

    perodo estudado. Porm, sempre havia sees estaduais do partido fazendo oposio ao presidente da Repblica (Hippolito, 1985).

    A questo, ento, saber de que modo as estratgias de formao de coalizes

    influem na disciplina partidria? A exposio sobre a poltica brasileira que acabamos de fazer nos permite avanar duas hipteses:

    H1: quanto maior a soma de recursos de patronagem que um partido recebe, maior

    sua faco pr-governo e, em decorrncia, mais alta a disciplina partidria.

    H2: medida que vai se esgotando o mandato do presidente da Repblica, vai

    diminuindo a importncia da patronagem que ele aloca entre os partidos e,

    conseqentemente, as faces governistas internas encolhem; em decorrncia, as taxas de disciplina partidria caem.

    O crescimento da faco governista interna fortalece a coeso pr-governo e

    incrementa as taxas de disciplina do partido10. medida que se esgota o mandato

    presidencial, diminui o valor do apoio ao presidente, o que se reflete no

    enfraquecimento da unio pr-governo, e isto, por sua vez, reduz as taxas de disciplina.

  • Pode-se alegar que a ltima afirmao no tem sentido algum para um partido de

    oposio (isto , um partido que no endossou a candidatura do presidente eleito).

    Se a coeso pr-governista da faco do partido que apia o presidente diminui, a

    disciplina geral do partido deveria aumentar, pois, nessa situao, o partido se torna

    homogeneamente de oposio. Mas isso no verdade, porque supe que no perodo

    de 1946 a 1964 existiram partidos homogneos no Brasil. Nossos dados mostram,

    porm, que os partidos brasileiros sempre foram heterogneos em virtude dos

    incentivos eleitorais. O que os tornava mais homogneos era justamente a criao

    de uma faco pr-governo. No entanto, na medida em que dar apoio ao presidente

    perdia valor, com a aproximao do fim do mandato presidencial, o tamanho das

    faces que apoiavam o governo dentro dos partidos de oposio encolhia, fazendo com que eles voltassem condio anterior de elevada heterogeneidade.

    Medidas e Testes

    A fim de testar nossas hipteses, submetemos os dados em painel ao teste dos

    Mnimos Quadrados Ordinrios. A varivel dependente disciplina partidria (indicada

    pela sigla DISCIPLINA) foi operacionalizada como a mdia anual do ndice de Rice.

    Calculamos para cada partido a mdia anual de disciplina no perodo de 1946 a 1963.

    Os resultados para todos os partidos foram, ento, reunidos em uma mesma

    amostra. Decidimos agregar as taxas de disciplina em uma base anual, em vez de

    analis-las para cada votao nominal em separado, porque as votaes poderiam

    no ser independentes e, assim, nossos clculos poderiam aumentar, artificialmente,

    o nmero de observaes e tornar os erros-padro menores do que realmente so.

    Desenvolvemos, ainda, duas medidas para medir a conexo presidencial dos

    partidos. Como um indicador dos recursos de patronagem, usamos uma medida

    de verbas oramentrias alocadas aos partidos (ORAMENTO) pelos presidentes.

    Contamos o nmero de dias que um determinado partido comandava um ministrio

    em um dado ano. Depois, dividimos esse nmero por 365 e multiplicamos o resultado

    pela parcela do oramento civil gasto por esse ministrio naquele ano. Repetimos

    esse clculo para todos os ministrios sob controle de um partido em um mesmo

    ano, e somamos todos os valores. Exemplificando, suponha-se que o partido P

    controlava o ministrio A durante trs quartos do ano Y, e o ministrio B durante

    metade do ano Y. O ministrio A recebeu 20% do oramento federal no ano Y, e o

    ministrio B, 10%. Portanto, o partido P ficou com 20%x3/4 + 10%x1/2 = 20% do

    oramento civil durante o ano Y11. Esperamos que essa varivel tenha um efeito positivo em DISCIPLINA.

    A Tabela 3 exibe os dados de filiao partidria dos integrantes de todos os gabinetes

    ministeriais de 1946 a 1964. Observa-se que mudanas ministeriais eram freqentes

    durante os vrios governos e, tambm, que pelo menos dois dos trs grandes

    partidos (PSD, UDN e PTB) participaram de todos os gabinetes, salvo o curto segundo ministrio de Dutra, do qual fizeram parte apenas o PSD e o diminuto PR.

  • Para explicar a perda de importncia da patronagem ao longo do tempo, usamos o

    prazo decorrido do mandato presidencial (DECURSO). Para um determinado ano,

    calculamos a porcentagem restante do mandato presidencial no fim desse ano. Como

    os mandatos presidenciais eram de cinco anos no Brasil, atribumos um prazo

    restante de 80% para o primeiro ano, 60% para o segundo, 40% para o terceiro,

    20% para o quarto e 0% para o quinto. Nossa expectativa a de que essa varivel

    ter um sinal positivo.

    Por ltimo, criamos uma medida para calcular o impacto dos incentivos eleitorais na

    disciplina partidria. Para medir esses incentivos no sistema eleitoral localista

    brasileiro, propomos um indicador de heterogeneidade eleitoral(HETELE). Este

    indicador se baseia no ndice de desproporcionalidade, criado por Rose (1984) para

    medir o montante do desvio da proporcionalidade entre cadeiras e votos gerado por uma determinada eleio. A frmula desse ndice :

  • onde, Si o percentual de cadeiras da Cmara dos Deputados que o partido obteve

    no ensimo estado; e

    Di o percentual de cadeiras da Cmara dos Deputados que o ensimo estado comanda na Cmara.

    Para chegar medida de heterogeneidade eleitoral de um partido, adicionamos os

    valores de |Si-Di| para todos os partidos representados no Congresso, tenham eles

    ou no conquistado cadeiras em todos os estados, e depois dividimos por dois.

    Subtraindo o resultado de 1, obtemos, enfim, a heterogeneidade eleitoral. HETELE

    varia entre 0 e 1. O valor 1 define um limite superior de correspondncia perfeita

    entre as cadeiras conquistadas por um partido e a magnitude dos distritos eleitorais.

    Qualquer afastamento dessa correspondncia perfeita detectvel. Por exemplo, um

    partido que obtm todas as suas cadeiras em um distrito pequeno ter um nvel

    muito baixo de heterogeneidade eleitoral, porque representa um espectro muito

    estreito de interesses. Quanto mais heterogneo for o partido eleitoralmente, menor

    ser sua disciplina. Isto , supomos que a heterogeneidade eleitoral esteja

    relacionada negativamente com a disciplina partidria. A Tabela 4 mostra os

    resultados do ndice de heterogeneidade eleitoral aplicado aos cinco partidos e s cinco eleies que so objeto desta pesquisa.

    A regresso resultante tem a seguinte forma:

    DISCIPLINA = 0 + 1ORAMENTO + 2DECURSO + 3 HETELE +

    A Tabela 5 mostra os resultados da anlise dos dados em painel. ORAMENTO e

    DECURSO foram significantes ao nvel de 0,01. HETELE saiu com o sinal certo, mas

    seu efeito sobre DISCIPLINA no foi distinguvel de zero. Inclumos nesse modelo

    quatro variveis dicotmicas para controlar os efeitos fixos dos partidos, tomando

    por base o PSP. O PTB teve um impacto positivo na varivel DISCIPLINA,

    provavelmente porque era o mais centralizado dos grandes partidos (D'Arajo, 1996).

  • Dada a estrutura de dados em painel de nossa amostra, verificamos a possibilidade

    de haver autocorrelao, rodando a regresso dos resduos no padronizados para

    suas variveis defasadas (lags) e para todas as variveis explicativas. Os resultados

    provam que realmente havia uma autocorrelao positiva de primeira ordem em

    nossos dados, indicando, portanto, que nossos erros-padro estavam incorretos.

    Para corrigir esse problema, inclumos a defasagem de primeira ordem da varivel

    dependente no lado direito da equao de regresso. ORAMENTO e DECURSO

    revelaram-se significantes, embora a um nvel inferior (0,05) ao obtido no primeiro

    modelo. A varivel DISCIPLINA, incluindo a sua defasagem, foi significante ao nvel

    de 0,05. O efeito de HETELE no foi novamente significante. Alm disso, seu

    resultado saiu com o sinal errado. Por ltimo, nenhum partido introduzido como

    varivel dicotmica influenciou de maneira significante a varivel dependente12.

    Os resultados indicam que nossa pesquisa tomou uma direo bastante promissora.

    As variveis ORAMENTO e DECURSO tm significativa capacidade de explicar a

    disciplina partidria. Mas por que HETELE no conseguiu ter um efeito em

    DISCIPLINA? Provavelmente porque uma medida demasiadamente crua, de modo

    que somente quando for disponvel um ndice mais refinado para detectar os efeitos

    dos incentivos eleitorais ser possvel testar convenientemente a varivel heterogeneidade eleitoral.

    Estamos agora em condies de propor uma soluo plausvel para os dois enigmas.

    A variao nas taxas de disciplina entre partidos pode ser explicada pelas mudanas

    na relao entre os partidos e os presidentes. Para cada novo presidente e nova

  • legislatura, formavam-se, nos partidos, faces que se definiam em relao ao apoio

    ou oposio ao presidente. O tamanho dessas faces era uma funo do montante

    da patronagem que o Executivo lhes concedia. E a cada novo titular do Executivo, as

    mudanas ocorridas no controle partidrio das pastas ministeriais influenciavam o

    montante da patronagem que estava disponvel para as faces pr-governo, influenciando o tamanho destas.

    A variao das taxas de disciplina ao longo do tempo devia-se ao decurso do mandato

    presidencial. Como no podiam reeleger-se, a capacidade dos presidentes para

    manter a lealdade das faces governistas diminua medida que seu mandato se

    esgotava. Em conseqncia disso, as faces que lhe davam apoio se reduziam, o mesmo sucedendo com as taxas de disciplina partidria.

    O fato de encontrarmos taxas mais altas de disciplina nos partidos grandes pode ser

    explicado pelo fato de que eles eram os de maior relevo, e para eles flua o grosso

    dos limitados recursos de patronagem disponveis para os presidentes. Por isso, os

    partidos grandes tinham faces governistas maiores do que os partidos pequenos.

    CONCLUSO

    Os resultados mostrados neste artigo tm duas implicaes. A primeira que os

    estudiosos do comportamento do Legislativo nos sistemas presidencialistas latino-

    americanos devem prestar ateno no s ao impacto das foras eleitorais locais,

    mas tambm s conseqncias das aes dos presidentes. Em termos mais gerais,

    pode-se dizer que o comportamento do Legislativo tambm o produto do nvel de

    centralizao de recursos e de autoridade constitucional do Executivo federal.

    Observando a Cmara dos Deputados no Brasil pelo ngulo das estratgias

    presidenciais de formao de coalizes a conexo presidencial , conseguimos

    resolver algumas questes que o modelo de conexo eleitoral no responde, ou seja, a variao nas taxas de disciplina entre partidos e dentro do mesmo partido.

    A segunda que razovel alegar que o agente legislativo efetivo na Cmara dos

    Deputados no Brasil, no perodo estudado, no foram nem os deputados nem os

    partidos, mas as faces que se definiam em funo do apoio ou oposio ao

    presidente. Essas faces so diferentes das que existem na Itlia ou no Uruguai.

    Nestes pases, elas baseiam-se ou em ideologias, como na Itlia, ou em chapas

    eleitorais partidrias, como no Uruguai. De qualquer maneira, as faces em ambos

    tm identidades independentes aos olhos dos eleitores. Porm, as faces que se

    definem pelo apoio ou oposio ao presidente no so politicamente autnomas. Elas

    formam-se em relao ao emprego da patronagem por parte do chefe do Executivo

    e aos candidatos presidenciveis que renem sua volta os grupos excludos do

    contingente parlamentar do presidente. As faces pr e antigoverno so coalizes

    fluidas que tornam o cenrio legislativo em que atuam to voltil quanto elas mesmas

    so. Em certo sentido, as faces pr e antigoverno no Brasil lembram as faces

    japonesas, porque em ambos os casos elas dependem da distribuio de patronagem

    pelo chefe do Executivo e de fortes lderes individuais (McCubbins e Thies, 1998).

    Mas as faces japonesas tm uma certa autonomia diante do governo porque os

    eleitores sabem que elas existem. Resta ver se as faces brasileiras prestam algum tipo de informao aos eleitores.

    Finalmente, o papel dos candidatos Presidncia exige mais estudos. Neste artigo,

    argumentamos que eles so atores importantssimos na mobilizao da oposio aos

    presidentes e tm incentivos para desafiar estes ltimos de maneira radical. Isto, por

    sua vez, induz os presidentes a recorrer isca da patronagem para cooptar os

  • partidos de oposio. Precisamos compreender melhor quais so os recursos usados

    pelos presidenciveis para lutar contra os titulares da Presidncia e lograrem sair vitoriosos em sistemas baseados em patronagem.

    (Recebido para publicao em julho de 2001)

    NOTAS

    * Este artigo, aqui publicado com autorizao da Sage Publications Ltd., a verso

    modificada de um trabalho apresentado durante a reunio da Latin American Studies

    Association LASA, em Guadalajara, Mxico, 1997, e foi publicado na Party Politics

    (vol. 7, n 2, pp. 213-234, 2001) sob o ttulo "The Executive Connection:

    Presidentially Defined Factions and Party Discipline in Brazil". Os autores agradecem

    a Jorge Buenida, Todd Eisenstadt, Gary Cox, Daniel Kaufman, Olavo Brasil de Lima

    Junior, Mona Lyne, Antnio Ortiz-Mena, Alain de Remes e a dois pareceristas

    annimos da Party Politics por seus valiosos comentrios sobre verses anteriores.

    Um agradecimento especial a Ana Caillaux por seu inestimvel auxlio como

    assistente de pesquisa. Octavio Amorim Neto contou com bolsas de estudos

    proporcionadas pela Coordenao de Aperfeioamento do Pessoal de Nvel

    Superior CAPES, pelo Center for Iberian and Latin American Studies CILAS, pelo

    Instituto de Estudos Sociais e Polticos de So Paulo IDESP e pelo IUPERJ. O

    trabalho de Fabiano Santos foi apoiado pela Mellow Foundation.

    1. No caso da Finlndia ver, por exemplo, Pesonen (1972); Sankiaho (1970); sobre

    a Frana ver, entre outros, MacRae Jr. (1967); Wilson e Wiste (1976); sobre a

    Alemanha, Saalfeld (1990); sobre a Sucia, Stjernquist e Bjurulf (1970); sobre o

    Reino Unido ver, entre outros, Cox (1987); Rose (1983); sobre os Estados Unidos

    ver, por exemplo, Brady et alii (1987); Cox e McCubbins (1993); Crook e Hibbing

    (1985).

    2. Sobre a Argentina, ver Jones (1998); Smith (1974); sobre o caso brasileiro, ver

    Carvalho (1977); Limongi e Figueiredo (1995); Mainwaring e Prez-Lin (1998);

    Samuels (1996); Santos (1986); sobre o Chile, Carey (1999); Hughes e Mijeski (1973); sobre o Uruguai, Morgenstern (1996).

    3. Esse o mesmo ponto de corte usado por Limongi e Figueiredo (1995) em seu

    estudo pioneiro sobre a disciplina partidria no Brasil entre 1989 e 1994. Adotando

    o mesmo corte, poderemos comparar nossos resultados com os desses autores. O

    fato de que os dois regimes adotavam sistemas eleitorais com as mesmas

    caractersticas institucionais aumenta a possibilidade de comparar os perodos de

    1946-1964 e 1989-1994.

    4. Excepcionalmente, o mandato da primeira legislatura foi de cinco anos, porque o

    primeiro ano foi gasto na redao de uma nova Constituio. As outras legislaturas

    tiveram mandatos de quatro anos, iniciados em 31 de janeiro. O Congresso que

    tomou posse em 1963 sofreu a interrupo do golpe militar de 31 de maro de 1964.

    5. Somente temos taxas de disciplina partidria para o PSP a partir da segunda

    legislatura do perodo estudado, porque na primeira o partido era insignificante e detinha apenas 1% das cadeiras da Cmara dos Deputados.

    6. Sobre o PSD, ver Hippolito (1985); sobre a UDN, ver Benevides (1981); sobre o PTB, D'Arajo (1996).

  • 7. S houve uma votao nominal em 1964, antes do golpe de 31 de maro. Por isso,

    resolvemos eliminar esse ano de nossas tabelas e grficos.

    8. No entanto, importante acentuar que o reconhecimento da avidez dos partidos

    por cargos no nega o papel das ideologias na competio partidria. A poltica

    ideolgica e a poltica clientelista no se excluam completamente no Brasil da fase

    de 1946 a 1964. Polticos que seguiam objetivos ideolgicos recorriam tanto ao

    clientelismo quanto os polticos mais pragmticos (Nunes, 1997). A questo que

    era exatamente por intermdio dessas faces e lideranas clientelistas que os

    presidentes brasileiros encontravam maior facilidade para negociar quando

    precisavam de apoio poltico.

    9. Claro que outras estratgias de oposio eram possveis, tais como construir uma

    boa reputao de administrador no governo de um estado e na prefeitura de uma

    grande cidade. No entanto, estamos interessados apenas nas estratgias que

    repercutiam sobre a conduta parlamentar dos partidos, o que no se aplicava s

    estratgias adotadas pelos Executivos estaduais. Ademais, no perodo de 1946 a

    1964, estes ltimos no tinham tanta influncia quanto tm no Brasil contemporneo

    (Mainwaring, 1997; 1999; Samuels e Abrucio, 1997), porque naquela poca os recursos fiscais eram muito mais centralizados na esfera federal do que hoje.

    10. Reparem que no estamos supondo que todos os partidos tm uma faco pr-

    governo. Quer dizer, este no um pressuposto, mas uma hiptese de que todos os

    presidentes tentaram criar uma faco governista dentro dos principais partidos recorrendo patronagem.

    11. Os dados relativos s despesas oramentrias por ministrio foram obtidos em

    Brasil - IBGE (1990:623-625) e as informaes sobre nomeaes para os gabinetes

    por partido foram coletadas em Beloch e Abreu (1984) e Hippolito (1985:293-303).

    12. Reparem que H2 tambm pode sugerir uma interpretao interativa da relao

    entre ORAMENTO e DECURSO. Aplicamos testes incluindo ORAMENTOxDECURSO

    no lado direito da equao, mas nenhuma varivel independente se mostrou

    significante.

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  • GLOSSRIO

    MTR Movimento Trabalhista Renovador

    PCB Partido Comunista Brasileiro

    PDC Partido Democrata Cristo

    PL Partido Liberal

    PPS Partido Popular Socialista

    PR Partido Republicano

    PRP Partido Republicano Progressista

    PRT Partido Reformador Trabalhista

    PSB Partido Socialista Brasileiro

    PSD Partido Social Democrtico

    PSP Partido Social Progressista

    PST Partido Social Trabalhista

    PTB Partido Trabalhista Brasileiro

    PTN Partido Trabalhista Nacional

    UDN Unio Democrtica Nacional

    ABSTRACT

    The Executive Connection: Presidentially Defined Factions and Party

    Discipline in Brazil

    The article provides an explanation for the enormous variation in party discipline

    during the Brazilian democratic experience from 1946 to 1964. The argument is that

    party discipline is a function of the Presidents strategies in forging coalitions in

    Congress. One of the main consequences of such strategies was the creation of two

    factions within parties, one for and the other against the President. The premise is

    that the size of each faction affects its level of discipline. According to an econometric

    analysis of 982 roll-call votes, crucial determinants of discipline in the larger parties

    were the amount of budget resources allocated to them by the President and the time

    remaining in the President s term.

    Key words: Brazil; party discipline; patronage; factions as defined by position vis--vis the President; Presidents of the Republic

  • RSUM

    La Connexion Prsidentielle: Groupes pour et contre le Prsident de la

    Rpublique et discipline des partis politiques au Brsil

    Dans cet article, on propose une explication l norme variation observe dans les

    taux de discipline dans les partis politiques pendant l exprience dmocratique de

    1946 1964. On part de l affirmation que la discipline de parti dpend des stratgies

    du prsident dans la formation d alliances la Chambre lgislative. L une des

    principales consquences de ces stratgies a t la formation de deux groupes

    l intrieur des partis: l un favorable et l autre dfavorable au prsident. On a

    propos que la taille de chaque groupe influence le niveau de discipline. L analyse

    conomtrique de 982 votes nominaux montre que les dterminants principaux de

    la discipline dans les grands partis ont t l ampleur des moyens budgtaires que

    chaque prsident leur a accords et le temps qui lui restait la tte de la nation.

    Mots-cl: Brsil; discipline des partis politiques; patronage; groupes se dfinissant par leur position face au prsident; prsidents de la Rpublique