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A CONSTRUÇÃO DE SIGNIFICADOS NA LEITURA DE EDITORIAL DE JORNAL: Uma visão crítica dos fatos

Rosa Maria Martins Garcia¹[email protected]

Paulo de Tarso Galembeck²[email protected]

RESUMOEsta pesquisa analisa as dificuldades de leitura de textos argumentativos pelos alunos do Ensino Médio. Adotou-se neste trabalho a concepção teórico-metodológica sugerida nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná. De acordo com essa perspectiva, considera-se a leitura um ato dialógico. Também fundamentaram este trabalho os gêneros textuais concebidos por Bakhtin que apresentam a diversidade dos gêneros do discurso que circulam nas diversas esferas de atividade humana. Para desenvolver a pesquisa utilizou-se textos do gênero notícia, reportagem, crônica, carta do leitor e editorial da Folha de Londrina e do Jornal de Londrina, todos relacionados a um mesmo tema. Deu-se ênfase a leitura do editorial pela sua estrutura dissertativa e seus elementos linguísticos que contribuem para a formação de leitores críticos capazes de compreender a realidade social na qual estão inseridos. O trabalho foi realizado com alunos do 2.º Ano do Ensino Médio, do Colégio Estadual Benedita Rosa Rezende, na cidade de Londrina. Conclui-se que apesar das dificuldades de leitura que o gênero editorial apresenta, é possível desenvolver a competência de leitura deste gênero textual.

PALAVRAS-CHAVE: Ensino de leitura; gêneros textuais; editorial de jornal.

ABSTRACT

This research examines the difficulties of reading argumentative texts for high school students. It was adopted in this paper the theoretical and methodological conception suggested in the Basic Education Curriculum Guidelines of Paraná. From this perspective, it is considered an act of dialogic reading. Also substantiate this work, the text genres by Bakhtin designed to show the diversity of speech genres that circulate in the various spheres of human activity. To develop the research used texts like that news report, chronic reader's letter and editorial in the Folha de Londrina and the Journal of Londrina, all related to a theme. Emphasis was placed on reading the newspaper editorial by its structure and its linguistic elements that contribute to the formation of critical readers can understand the social reality in which they live. The study was conducted with students of the second stage of the high school, of the College Benedita Rosa Rezende in the city of Londrina. We conclude that despite the difficulties it is possible to develop the reading skill of the editorial. Keywords: Teaching reading, text genres, newspaper editorial.

¹ Professora PDE 2010 atua no Colégio Estadual Benedita Rosa Rezende em Londrina² Paulo de Tarso Galembeck orientador e professor do Departamento de Letras da UEL

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1 INTRODUÇÃO

As dificuldades enfrentadas em relação à leitura e suas implicações no

processo ensino-aprendizagem têm mobilizado a atenção de especialistas e de

todos aqueles que estão envolvidos no processo educacional. No entanto são

sensíveis aos fracassos verificados na aquisição de novos conhecimentos, os quais

deveriam possibilitar sucesso na vida escolar e social.

Os problemas com a prática de leitura surgem nas primeiras séries do Ensino

Fundamental e acentuam-se no Ensino Médio. Os alunos desse ciclo, na maioria

das vezes, mostram-se desinteressados pelas atividades de leitura, tão essencial ao

processo ensino-aprendizagem, seja pela falta do hábito de ler ou, ainda pela

dificuldade na compreensão de diferentes gêneros textuais. Dessa forma não

consideram a leitura uma atividade dialógica, na qual ele é o sujeito ativo que atribui

significados naquilo que lê ativando seus conhecimentos prévios de mundo.

No convívio escolar diário, verificamos ainda, que os alunos do Ensino Médio

não buscam respostas para as questões propostas pelos professores durante as

aulas, a partir dos textos indicados pelos mesmos. Provavelmente, essa atitude

denuncia inicialmente, as dificuldades dos alunos em extrair significados nos textos

lidos; além disso, ela indica que essa forma de leitura tornou-se um hábito, e faz

com que os mesmos se acomodem à situação mais confortável. Logo, é mais fácil

para eles dar respostas evasivas, quase sempre sem nenhuma conexão com o que

foi proposto. O encaminhamento do professor nem sempre é observado e atendido,

pois os alunos supõem que buscar respostas de acordo com que o texto permite e

adicionar a essas informações seus conhecimentos de mundo é uma tarefa difícil.

Por isso, eles não elaboram respostas coerentes com que o texto indica, pois a

leitura para eles é uma atividade penosa diante da qual não possuem estratégias, e

consequentemente evitam essa prática por não conseguirem extrair significados na

mesma.

Dessa forma, o objetivo dessa pesquisa é desenvolver no aluno/leitor uma

atitude positiva em relação à prática de uma leitura dialógica, para isso o aluno deve

ser levado a dialogar com o texto, reconhecer as diferentes vozes presentes no

mesmo. No entanto, para que o dialogismo se efetue, há fatores que devem ser

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considerados: o contexto de produção do texto, os conhecimentos prévios do aluno

e o contexto social do aluno. O leitor é único, singular e para entender como alguém

lê, é necessário saber como são seus olhos e qual sua visão de mundo. Portanto

este trabalho propõe assumir a prática de uma leitura dialógica na perspectiva

interacionista sugeridas nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná,

que orienta:

A leitura é vista como um ato dialógico, interlocutivo. O leitor, nesse contexto, tem um papel ativo no processo da leitura, e para se efetivar como co-produtor, procura pistas formais , formula e reformula hipóteses, aceita ou rejeita conclusões, usa estratégias baseadas no seu conhecimento linguístico, nas suas experiências e na sua vivência sócio-cultural (2008, p.71)

Nessa perspectiva, considera-se a leitura um ato dialógico, “todo enunciado é

sempre um enunciado de alguém para alguém” (Marcuschi, 2008, p.20). Neste

contexto, o aluno/leitor assume uma atitude ativa e responsiva na construção de

sentido na leitura, concordando ou discordando do texto acionando seus

conhecimentos prévios para completar a interação leitor/texto. Também

fundamentarão este trabalho os gêneros textuais concebidos por Bakhtin,

apresentando a diversidade dos gêneros do discurso, enunciados relativamente

estáveis, que circulam nas diversas áreas de atividade humana.

1.1Concepções de leitura

O ato de ler é um processo complexo que não pode ser caracterizado de uma

única forma, Silva (2005, p.45) explica que “ler, em última instância, não só é uma

ponte para a tomada de consciência, mas também um modo de existir no qual o

indivíduo compreende e interpreta a expressão registrada pela escrita e passa a

compreender-se no mundo.” Das palavras de Silva, é possível entender que a leitura

em um processo interativo, onde o o leitor é o sujeito ativo, toma consciência de sua

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existência e possibilita compreender-se no mundo.

Comentando ainda as concepções de leitura, Magda Soares afirma que,

leitura não é um ato solitário; é interação verbal entre indivíduos, e indivíduos socialmente determinados: o leitor, seu universo, seu lugar na estrutura social, suas relações com o mundo e com os outros; o autor, seu universo, seu lugar na estrutura social, suas relações com o mundo e os outros. (Soares, 2005, p.18)

Como vemos, pesquisadores concebem a leitura como um processo interativo

entre o leitor e o autor e suas relações com o mundo. Nessa interação, o leitor toma

conhecimento do universo do autor e interage atribuindo significados ao que lê,

concordando ou discordando com o conteúdo escrito de acordo com o seu universo

social e seus conhecimentos prévios de mundo, pois a compreensão de um texto é

um processo que utiliza o conhecimento prévio.

Refletindo a respeito dessas concepções, concluímos que todas elas colocam

em relevância os seguintes pontos: o leitor encontra no texto marcas que o orientam

a uma leitura significativa, que se entrecruza com conhecimento do autor, de outros

textos, sua história de leituras e de suas experiências de vida. Essa interação entre

leitor e autor favorece o processo dialógico entre ambos e a construção de um novo

conhecimento fundamentado em um saber anterior. Orientado pelo respaldo dessas

concepções, o ato de ler deve sempre atribuir significados a um texto. Essa

atribuição depende do conhecimento anterior do leitor para que se efetue o

dialogismo. A prática de leitura, assim concebida, é um processo em que o leitor

busca significados e ativa conhecimentos prévios para construir representações e

concordar com o texto ou dele discordar.

1.2 A leitura na escola

O ensino da leitura está historicamente vinculado à escola. Portanto, o papel

da escola é promover a vivência do aprendiz com a leitura, e possibilitar, assim, o

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acesso a novos conhecimentos, ampliando os limites dos saberes adquiridos. “No

contexto de um projeto de educação democrático vem à frente a habilidade de

leitura, essencial para quem participa da sociedade moderna, que fez da escrita seu

código oficial” (Lajolo, 2006, p.106). A escola é o espaço onde os alunos devem

tomar contato com os diferentes gêneros textuais e, nessa prática, certamente o

aluno-leitor se integra no mundo que o cerca entendendo seu papel nesse universo

e consequentemente a si mesmo, pois:

Compreendida de modo amplo, a ação de ler caracteriza toda a relação racional entre o indivíduo e o mundo que o cerca. Pois, se este lhe parece, num primeiro momento como desordenado e caótico, a tentativa de impor a ele uma hierarquia qualquer de significados representa de antemão, uma leitura, porque imprime um ritmo e um conteúdo aos seres circundantes. Nesta medida, o real torna-se um código, com suas leis, e a revelação destas, ainda que de forma primitiva e incipiente, traduz uma modalidade de leitura que assegura a primazia de um sujeito, e de sua capacidade de racionalização, sobre o todo que rodeia. (Zilbermam, 1996, p.17)

O ato de ler que permite ao ser humano uma relação privilegiada com o real,

estabelecida com o mundo e tudo que nele existe. Também um convívio com a

linguagem depositada no texto escrito.

A leitura na sala de aula deve ser permanente, pois o domínio da leitura é

fundamental para completar o letramento, apropriação da escrita e de suas práticas

sociais, concebido nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná. “O

professor precisa atuar como mediador, provocando os alunos a realizarem leituras

significativas. Assim, o professor deve dar condições para o aluno atribua sentido a

sua leitura, visando a um sujeito crítico e atuante nas práticas de letramento da

sociedade” (2008, p. 71). Consideramos também fundamental o trabalho do

professor em sintonia com a escola, priorizando as atividades de leitura, visto que

são inúmeras as queixas de professores, qualquer que seja a disciplina, com relação

a pouca ou quase nenhuma capacidade de leitura dos alunos.

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1.3 Gêneros Textuais – Artigo de opinião

Os gêneros textuais concebidos por Bakhtin são formas relativamente

estáveis e normativas de enunciados vinculados a vida cultural e social. Se

observarmos nossas esferas de atividades comunicativas (a doméstica, a escolar, a

profissional, as relações de amizade), observa-se que a linguagem realiza-se em

formas de enunciados orais e escritos que estão em constante transformação, de

acordo com as necessidades e contemporaneidade de nossas relações sociais.

Bakhtin define a enunciação como um produto da interação social e determinado

pelas condições específicas e pelas finalidades de cada esfera da atividade

humana. O enunciado seria o efeito da interação do locutor e do receptor em uma

determinada situação social , na qual os participantes constroem uma atividade

dialógica significativa. É a situação social e os participantes que determinam a forma

do enunciado.

A riqueza e a diversidade dos gêneros do discurso são infinitas porque são inesgotáveis as possibilidades da multiforme atividade humana e porque em cada campo dessa atividade é integral o repertório de gêneros do discurso, que cresce e se diferencia à medida que se desenvolve e se complexifica um determinado campo. (Bakhtin, 2003, p.262)

A concepção de Bakhtin quanto à diversidade dos gêneros discursivos e a

dificuldade de definir a natureza geral do enunciado, propôs uma divisão do gêneros

em primários (simples) estabelecidos nas relações cotidianas - conversa face a face,

a carta, o telefonema, a linguagem familiar -; os secundários (complexos) - o

discurso científico, os gêneros literários, relatórios oficiais -, formando infinitas

possibilidades nas atividades comunicativas. É importante observar que a

heterogeneidade dos gêneros discursivo é muito grande, portanto não é possível

estabelecer um plano único para seu estudo.

Considerando a afirmativa de Bakhtin, é necessário admitir que a língua se

realiza por meio de enunciados (orais e escritos). Dadas as diferentes situações de

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uso, os enunciados vão sendo organizados, agrupados em tipos, de acordo com a

finalidade e contexto social, ensinados de forma a levar o aprendiz a tomar

conhecimento dos diferentes tipos e usá-los conforme os objetivos que tem em

mente e a situação social comunicativa na qual está participando.

O gênero discursivo tem contribuído com a ordenação das atividades

comunicativas por ser, segundo Marcuschi:

uma entidade sócio discursiva incontornável em qualquer situação comunicativa, além de contribuir para a interpretação das ações humanas em qualquer âmbito discursivo, ou seja; o gênero se adapta a cada contexto situacional com um propósito específico e segue padrões linguísticos e culturais de uma comunidade discursiva.(Marcuschi, 2002, p.19)

Dentro desse contexto de gênero, é indispensável que o professor trabalhe os

gêneros discursivos, pois eles representam uma realidade social nas atividades

comunicativas, já que não são apenas enunciados da linguagem escrita. Quando

estamos falando ou escrevendo realizamos essa atividade utilizando os gêneros

discursivos. Assim, nesse contexto, é necessário desenvolver a competência

linguística do aluno por meio de práticas de leitura, a fim de que ele possa fazer uso

da língua em situações que sua vida social requer e ainda conhecer as vantagens

dessa prática no seu cotidiano social.

1.4 O artigo de opinião – Discurso argumentativo

Quanto às teorias referentes aos gêneros discursivos, o artigo de opinião é

classificado como pertencente à esfera argumentativa, pois discute problemas de

caráter sociais relacionados às questões polêmicas que geram posições

controvérsias, acerca de um mesmo tema. As posições divergentes exigem uma

tomada de posição, defesa do ponto de vista. Para sustentar esse ponto de vista, é

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necessário sustentação, refutação e negociação. O argumentador expõe sua opinião

e elabora razões, motivos (argumentos) em favor da posição assumida. O artigo de

opinião veicula-se a um meio de comunicação (jornal, revista, Internet, etc).

Podemos encontrar esse gênero textual em uma seção ou página determinadas

para a sua edição, refere-se aos mais diferentes assuntos.. (política, economia,

esporte, educação, saúde; religião, etc). É sempre atualizado e apresenta temas de

relevância e interesse de diferentes grupos sociais.

A estratégia argumentativa utilizada na redação do artigo de opinião seriam os

procedimentos e recursos verbais utilizados pelo argumentador para convencer

àqueles que estão em posição contrária, na tentativa de convencê-los para aderirem

à tese defendida. Como em qualquer área da atividade humana, uma boa estratégia

é fundamental para obter um resultado favorável. Como as questões envolvidas no

debate, na sua maioria, referem-se a fatos socialmente relevantes e demandam

soluções mais ou menos consensuais, rumos a serem seguidos, valores a serem

discutidos e certamente o resultado obtido em cada caso afetará a vida de muitas

pessoas, fechando ou abrindo possibilidades.

Nesse contexto de interesse público, esse gênero textual é gerado pelas

matérias jornalísticas publicados nos mais diferentes veículos (jornais, sites,

revistas, telejornais, programas televisivos, etc.). Expõe um ponto de vista sobre o

que acontece na esfera social à qual pertencemos, e nos leva a tomada de posição

em relação ao assunto provocado por um acontecimento, e isso afeta a vida de cada

indivíduo de acordo com seus horizontes de perspectivas.

O artigo de opinião é um gênero midiático bastante acessível e uma valiosa

ferramenta pedagógica no ensino da leitura, pois proporciona condições favoráveis

para a formação de sujeitos críticos capazes de sintonizar a realidade social na qual

estão inseridos. Aprender a ler esse gênero na escola favorece o desenvolvimento

da competência argumentativa, para que ele possa sustentar seu posicionamento

nas interações sociais. A escolha do gênero argumentativo possibilita à formação de

um leitor crítico e,além disso, a aprendizagem desse gênero facilita a compreensão

de outros gêneros textuais como: carta ao leitor, carta do leitor, resenhas, editoriais e

desenvolve também a habilidade de escrita dos mesmos.

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1.5Editorial de Jornal

As notícias chegam-nos por meio dos mais variados veículos de comunicação

(jornais, revistas, rádios, Internet, televisão) aparentemente neutras, imparciais, e

relata um fato, aparentemente, sem assumir um determinado ponto de vista. Mas

essa neutralidade é possível? Se observarmos, podemos perceber que jornais,

revistas, televisão, internet, rádios, etc., mostram diferentes perspectivas ao reportar

um acontecimento. Então concluímos que não existe neutralidade na informação,

pois, atrás do relato de um fato, está seu autor, ser humano despido de neutralidade.

Em cada um existe uma essência política, religiosa, cultural e isso possibilita uma

opinião diferente acerca dos mesmos acontecimentos. Portanto, não há neutralidade

possível perante os acontecimentos da vida, não há jornalismo neutro. Essa

condição manifesta-se nas opiniões diferentes diante do mesmo fato apresentado

sob a ótica de diferentes jornais. Além disso, o editorial é guiado pela ideologia do

grupo que administra o jornal. “O editorial é gênero jornalístico que expressa a

opinião oficial da empresa diante dos fatos de maior repercussão no momento”

(Perfeito, Ritter, p. 158). Percebe-se essa evidência ao conferirmos que a mesma

notícia que originou o editorial, apresenta interpretações e posicionamentos distintos

diante do mesmo fato, pois lemos a nossa realidade sob a ótica de nossa ideologia.

O jornalista responsável pela redação do editorial é denominado editorialista, e sua

função é posicionar-se a respeito de temas relevantes locais, estaduais, nacionais e

internacionais, e dirigir-se ao leitor com o objetivo de chamar a atenção, para

esclarecer, convencer, persuadir, acerca de questões polêmicas geradas por

acontecimentos e buscar junto ao leitor uma posição favorável à opinião do jornal

que representa.

Além dos relatos dos acontecimentos, os veículos de comunicação tecem

comentários acerca desses acontecimentos, avaliando os fatos que chegam ao

público e geram polêmicas, por apresentarem diferentes opiniões.

A opinião consiste em um ato de linguagem por meio do qual o ser humano se

posiciona em relação àquilo que o cerca. O ser humano é informado de fatos ou

situações conflitantes e exprime seu ponto de vista sobre o objeto do qual tenha

conhecimento. Cabe salientar que não será apenas pelo fato de ser questionável

que o torna objeto de opinião; é necessário que o grupo social o torne passível de

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controvérsia e reconheça nesse fato sua importância em um contexto social, no qual

ele está inserido. O exercício de opinar é de suma importância, seja como fenômeno

individual ou como fenômeno social. Nesse sentido, o jornalista é um profissional da

opinião, pois no exercício de sua função, consegue revelar ao leitor o lado menos

visível de fatos de relevância social, acerca do qual a sociedade exige uma

definição. Beltrão (1980, p.19) afirma que cabe ao jornalista a função de pregoeiro

da opinião, afim de que não fique ela restrita ao mundo privado das vivências de

cada um, mas ingresse no mundo de todos. Nessa perspectiva, o jornalismo

opinativo proporciona o entendimento de situações, de atitudes, de palavras, de

mudanças, de perigos, de crise, ou seja, de tudo acerca do qual a sociedade requer

mais esclarecimentos.

A opinião do jornalista é manifestada de acordo com sua formação filosófica e

experiências profissionais. Ele identifica os problemas em foco e os informa e

comenta. No entanto, a opinião do jornalista é orientada pela do editor, pois ele

trabalha em um jornal cujos princípios e orientações predominam sobre os seus. Ele

é um porta-voz do jornal e representa a diversas vozes que emanam do texto

jornalístico, caracteriza-se então, neste contexto o fenômeno da polifonia. “A noção

de polifonia, pode ser definida como a incorporação que o locutor faz ao seu

discurso de asserções atribuídas a outros enunciadores ou personagens discursivos,

a terceiros ou a opinião pública em geral” (Koch, 2000, p. 142). As diversas

perspectivas, os diferentes pontos de vista contidos nos enunciados do editorial

representam a polifonia. E por representar diferentes vozes, a marca da

impessoalidade dos editoriais está no fato de não ser assinado. Esse texto deve ser

a palavra, o pensamento, a filosofia do jornal, de maneira que o leitor possa ligá-lo à

personalidade do jornal.

A opinião do leitor, conhecida pelas entrevistas concedidas aos jornais, em

pronunciamentos oficiais de grupos, em cartas que escrevem à redação do jornal e

nas próprias atitudes que são objetos de notícia. A opinião do leitor manifesta-se

também ao aceitar ou rejeitar o ponto de vista do jornal. A função de opinar consiste

em uma necessidade social, junto a um acontecimento se levanta uma tomada de

posição como uma alavanca motora da ação individual e coletiva. O editorial do

jornal é o espaço importante dentro de um jornal para responder às necessidades

individuais e coletivas em relação ao fato que suscitou a preocupação, é a voz que

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representa o conhecimento do fato, sua relevância social, portanto procura

esclarecer através de argumentos pessoais ou grupais um possível caminho para o

assunto polêmico em questão.

A estrutura do editorial consiste em: título, introdução, discussão e conclusão.

O título tem como objetivo atrair o leitor, a introdução visa despertar o interesse do

leitor para prosseguir a leitura. A discussão expõe argumentos e objetiva

interpretação dos fatos e a conclusão pretende levar o leitor a aceitar a ideia

exposta.

A situação, o fato que provoca o editorial e a tese a ser defendida determinam

o título, que deve ser curto e incisivo; expressando a linha ideológica do jornal. A

introdução consiste na formulação da notícia ou ideia que deu origem a matéria. Na

discussão, o editorialista expões argumentos, visando a convencer o leitor e

antecipando as críticas e anulando previamente as posições contrária acerca do

ponto de vista expresso. E, finalmente, a conclusão, na qual ele assume uma

posição em relação ao tema discutido com um aviso, apelo, palavra de ordem ou

uma constatação.

Dessa forma, concluímos, segundo Beltrão que:

o editorial é a voz do jornal, que é o catalisador de opiniões, um agente da consciência pública. Não é o que eu penso, o que exprimo no editorial, mas o somatório do que pensa uma parcela da opinião, representada pelo grupo que orienta e mantém o jornal. (Beltrão, 1980, p. 52)

Acrescentando ao acima exposto, diríamos ainda que o editorialista exprime não só a opinião formada, mas também a opinião que está se formando. Ele funciona como uma antena sempre alerta nas direções dos acontecimentos que, muitas vezes, suscitam confusão na multidão e o autor do editorial tem que ser seu interprete. A realidade humana fala por meio de acontecimentos, que são as fontes para a produção do editorial, e o editorialista se incumbe de traduzir essa linguagem dos fatos na forma da compreensão geral. A notícia relata o que aconteceu, está acontecendo ou vai acontecer, já o editorial apresenta outra dimensão mais profunda e compreensível quando revela ao leitor o lado menos visível dos fatos. Dessa

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forma, o editorial pode nascer da notícia, como pode transcendê-la ou adiantar-se sobre ela.

2 LEITURA EM AÇÃO – A IMPLEMENTAÇÃO

2.1As Turmas

As turmas escolhidas para o desenvolvimento deste trabalho foram o 2.º A e 2.º B do Ensino Médio, turno matutino do Colégio Estadual Benedita Rosa Rezende. A escolha de turmas desse ciclo deu-se pelo fato de que nesse período tornam-se mais contundentes as dificuldades na leitura de textos argumentativos. O período de realização da implementação foi o segundo semestre do ano letivo de 2011.

Nessas turmas estavam reunidos alunos com idades que variavam entre 15 a 22 anos. Quanto ao perfil desses alunos, observou-se que existiam algumas diferenças, tais como: alunos assíduos, outros faltosos. Essas faltas resultavam em dificuldades acerca de sua participação nas atividades iniciadas. Percebeu-se pelo comportamento de alguns alunos, um certo grau de imaturidade refletido no pouco interesse nos eventos que estão diretamente relacionados a sua realidade estudantil. Considerando de uma forma mais abrangente, a maioria do alunos realizam as atividades superficialmente, tinham dificuldades a se envolverem com seriedade nas discussões. Como justificativa para esse comportamento alegavam que não existem soluções para os problemas apresentados, culpavam o governo pela situação social, educacional e econômica do país. Também encontravam dificuldades em dar continuidade a uma questão discutida baseada em pesquisa, segundo alguns alunos, já conheciam o assunto, mas ao ser questionados a respeito do mesmo não respondiam. Observou-se também que os alunos entre 18 e 20 anos, participavam mais ativamente e seriamente das discussões, interagindo aos questionamentos de uma forma mais crítica. Quanto à leitura de textos midiáticos, que o foco deste trabalho, representou uma prática difícil, pois liam o texto parcialmente, consequentemente sua compreensão é parcial. Percebeu-se então a importância de desenvolver o projeto para promover mudança de atitude em relação à leitura.

2.2 Procedimentos

Antes de iniciar a pesquisa, houve uma reunião, na qual foi apresentada à direção, equipe pedagógica e professores do colégio, o Projeto de Intervenção com o objetivo de esclarecer o propósito da pesquisa e possibilitar a interação com demais professores da área e também das outras disciplinas, já que as dificuldades com a prática de leitura é um fato que monopoliza a atenção de todos envolvidos no processo. Portanto o envolvimento e interesse no Projeto e ainda a expectativa de sucesso conferiram a esse trabalho sua relevância na escola.

A próxima etapa, muito importante para o sucesso da implementação, ocorreu quando a proposta foi apresentada para as duas turmas do 2.º ano. A preparação das turmas deu-se através da dinâmica de uma conversa sobre os assuntos que

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polemizavam a comunidade escolar. Os alunos participaram ativamente, nesse momento observou-se as dificuldades para estabelecer os turnos de fala, “... existem regras sociais que definem o comportamento adequado do ouvinte, frente ao outro ou aos outros que falam” (Antunes, 2003 p.112). Este aspecto recebeu atenção especial no desenvolvimento das atividades para garantir a interação. Encerrada a discussão, foi solicitado aos alunos que acompanhassem os noticiários apresentados em diferentes jornais, com o objetivo de que os mesmos se familiarizassem com os gêneros midiáticos, pois é fato que apesar de estarem informados sobre alguns eventos, não estão acostumados a ler jornais. As informações chegam até eles, na maioria das vezes, transmitidas oralmente ou pela Internet. O propósito dessa atividade foi além da busca de informações, pois esta prática promoveu subsídios para a discussão. A interação no desenvolvimento da pesquisa era fundamental, portanto o passo seguinte foi a exposição oral dos conteúdos que seriam trabalhados nessa etapa. Foram feitos questionamentos sobre a pesquisa solicitada na aula anterior. Perguntas tais como: O que pensam sobre os assuntos lidos? Quem é a favor disso? Quem é contra? Essas perguntas facilitaram o debate. Percebeu-se mais uma vez, as dificuldades para estabelecer os turnos de fala. Todos queriam falar ao mesmo tempo, não permitiam que o colega concluísse sua ideia; faziam críticas sem fundamentação, ou expressavam opiniões alheias a respeito do assunto sem nenhuma reflexão. Mediante às atitudes dos alunos constatou-se a necessidade de desenvolver nos alunos a competência de ouvir que o outro tem a dizer. Embora houvesse um certo tumulto, aproveitou o momento para mostrar que quando se discute um tema, começamos a tomar posicionamento, defendendo nosso ponto de vista.

O resultado da pesquisa, as informações coletadas pelos alunos, suas impressões expostas, prepararam a prática seguinte, quando receberam jornais para leitura e identificação dos gêneros textuais que nele circulam. Esta atividade demorou mais do que o previsto, pois os alunos liam os assuntos do seu interesse, e em seguida faziam comentários a respeito. O objetivo da atividade não foi alcançado conforme a expectativa, pois a atenção dos alunos concentrou-se nos eventos do seu gosto pessoal. Então optou-se pela dinâmica de grupos e assim a professora auxiliou-os no reconhecimento dos gêneros textuais lidos e indicava suas características confrontadas com outros do mesmo gênero. Seguiu-se intervindo até que os mesmos pudessem desenvolver a tarefa de organizar os textos em gêneros e separar aqueles que expressam opiniões e os temas que suscitavam opiniões divergentes.

A organização dos textos opinativos e os fatores que geravam polêmicas proporcionou uma discussão proveitosa. Constatou-se nesse debate que as opiniões divergiam-se, embora os alunos não apresentassem argumentos consistentes para defendê-las. A professora alertou-os quanto a importância do conhecimento, da investigação para o fortalecimento de um ponto de vista e assumir uma posição coerente, evitando expressões como esta: “É o que eu acho”, “eu penso assim e pronto”.

A leitura, a seleção de textos e o debate prosseguiram com bom desempenho, pois os alunos não apresentaram dificuldades para identificar a ideia que estava sendo defendida e os motivos para a defesa da mesma, mas em contrapartida percebeu-se a dificuldade para organizar os debates em uma turma numerosa e nesse ponto do percusso constatou-se também a pouca percepção para a intencionalidade do texto.

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Como os caminhos a serem trilhados partiam do fato para o comentário, retornamos a análise da notícia, pois persistiam ainda, as dificuldades em entender o gênero notícia. Acredita-se que os alunos costumam ouvir os noticiários televisivos, nos quais alguns apresentadores fazem comentários sobre os fatos apresentados. Dessa forma eles ainda confundem o relato do fato em si e a opinião. Além disso, existe o fator da objetividade humana. Percebeu-se essa evidência ao conferirmos que uma mesma notícia apresentava exposições distintas. Conclui-se então, que lemos a nossa realidade sob a ótica de nossa ideologia.

Discutiu-se também o gênero reportagem, confrontando esse gênero com o gênero notícia. Percebeu-se que os alunos ficaram mais seguros em relação aos dois gêneros citados. Quanto a participação dos alunos nas atividades propostas, notou-se que o horário das aulas influenciavam no desempenho deles. Até o terceiro horário a participação acontecia com mais intensidade. Acredita-se que os alunos descansados recebiam positivamente a proposta da professora.

Durante as leituras dos textos selecionados deparamos com o fenômeno do “bullying”. O termo “bullying” era bastante conhecido dos alunos, portanto o tema gerou um debate acirrado, onde todos queriam relatar suas experiências. Novamente foi necessário a intervenção da professora para garantir que todos expressassem seu ponto de vista. O momento oportunizou direcionar a atenção dos alunos em relação ao assunto que tem sido a causa sérios problemas na comunidade escolar. A maioria dos alunos manifestou-se quando ao fato de já terem sido vítimas de “bullying” na escola. O assunto suscitou tantas manifestações e interesses que com base na leitura da crônica jornalística “Meu bulling”, foi proposto aos alunos a produção de uma crônica, na qual eles escrevessem relatando alguma experiência vivida em situação de “bullying”, na sua trajetória escolar, concluindo com a resolução da situação (se resolveu) e qual a lição que tirou de tudo isso.

Algumas crônicas foram lidas pelos seus autores, houve comentários dos colegas: “Se fosse comigo eu faria diferente”, “O meu caso foi pior do que o seu”, Notou-se que o tema tinha grande importância para todos, pois cooperaram durante a leitura, permaneceram concentrados durante todo o tempo. Acompanhando as manifestações e as respostas aos questionamentos, percebeu-se uma grande diversidade de opiniões e compreensão que provavelmente revele suas experiências pessoais, “A amplitude do significado do vocabulário de um escritor/leitor depende da natureza e qualidade de suas experiências prévias.” (Silva, 2005, p. 18). Após a leitura dos textos produzidos, propôs-se que apontassem algumas soluções para o enfrentamento do “bullying” na escola. Registrou-se àquela que a maioria indicou: “Ignorar as provocações dos colegas e aprender a conviver com as diferenças.” Concluindo que tudo isso é uma fase e não vale a pena brigar.

A etapa seguinte foi a apresentação de uma reportagem: Além da indisciplina - “Pais pensam que a escola resolve tudo.” O propósito dessa leitura, além do estudo do gênero, foi para uma possível discussão e conscientização dos alunos em relação a violência na escola, tema em estudo durante a implementação. O estudo motivou-se pelas respostas dadas pelos alunos, quanto as causas e soluções do problema, que segundo a maioria cabe a escola.

Para entender melhor o assunto em questão, os alunos foram ao laboratório de informática para pesquisarem notícias, reportagens, artigos, filmes sobre o tema violência na escola. O interesse no assunto pesquisado foi grande, as falhas na interação ocorreram porque alguns alunos não tinham senha de acesso ao

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computar. A atividade encerrou-se com a apresentação do assunto pesquisado pelos grupos. A caracterização do texto, o fato nele apresentado e a opinião do grupo sobre o mesmo estendeu-se por mais duas aulas. Houve tempo para que os grupos que apresentavam debater com outros grupos cujas opiniões divergiam. Ao final dos trabalho, percebeu-se um certo cuidado ao apontar as causas e soluções para cada situação de violência na escola. Observou-se que as manifestações, agora eram mais conscientes, reflexivas e a análise de cada caso com mais responsabilidade, indicando as diversas prováveis causas e as possíveis soluções, onde todos tinham sua parcela de responsabilidade.

Após ter trilhados por todos esses caminhos, deu-se a apresentação de dois editoriais (Folha de Londrina e Jornal de Londrina). O tema em questão era o mesmo: violência na escola. Retomou-se a discussão a respeito das características desse gênero textual, ressaltou-se a importância da argumentação consistente. A leitura e as respostas às questões elaboradas, revelaram as dificuldades dos alunos em analisar esse gênero. As explicações sobre a estrutura, os recursos linguísticos, a intencionalidade, o contexto de produção do editorial foram retomadas porque percebeu-se que até a compreensão do texto como um todo parecia difícil para eles, pois ouviu-se comentários após a leitura como este: “Não entendi nada”. A atividade estava organizada para ser realizada em duas aulas, mas não foi possível, havia muitos itens a serem esclarecidos.

A dificuldade de realizar uma leitura crítica ainda é um desafio, mas segundo Faria (1996) o jornal fornece instrumentos eficazes para tornar os alunos leitores críticos, não só de textos, mas do mundo que os rodeia. Assim respaldados, partiu-se para um estudo mais detalhado, começando com o estudo do vocabulário, pois os alunos não conheciam os diferentes termos utilizados por um dos editoriais ao comentarem o fato. Com a consulta no dicionário de algumas palavras empregadas no editorial da Folha de Londrina e a proposta de uma nova leitura, aliada a intervenção da professora a cada parágrafo, observando, questionando, assim então os alunos começaram a manisfestarem-se a cada nova descoberta. Somente assim, foi possível a interação com os possíveis propósitos do editorialista na produção do mesmo. Depois dos esclarecimentos e explicações das dúvidas que surgiram deu-se então a compreensão dos alunos em relação ao texto lido. Outro aspecto que foi analisado foi a forma como cada um dos editoriais foi iniciado.

Na aula seguinte a discussão fluiu mais consciente e participativa. Aconteceram mais questionamentos em relação as intenções e o ponto de vista de cada editorialista. Quanto a análise do título dos editoriais (Tragédia no Rio/De repente o Terror) levaram ao um debate acirrado, a começar pelas palavras escolhidas pelos editorialistas. O termo tragédia, suscitou determinadas interpretações: “acontecimento trágico, no qual morrem muitas pessoas, mortes por enchentes, desabamentos de casas e edifícios, acidente aéreo, etc. Estas foram algumas colocações feitas pelos alunos, enquanto o termo “terror” comentaram que sentiam sensação de “medo, pavor, insegurança, uma espécie de síndrome, como se o perigo rondasse em todo lugar e qualquer momento outras pessoas poderiam ser novas vítimas. Essa discussão levou o assunto em diferentes direções, relacionadas aos fatos antigos e recentes acontecidos no país e no mundo. Notou-se o interesse dos alunos pela questão, relembraram do “bullying” e a responsabilidade de cada um nas regras de conviver. Quanto as questões que mencionavam as semelhanças e diferenças resultaram em um debate, no qual os alunos percebiam os detalhes mais perceptíveis, começando pela escolha do título

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e refletiram sobre a intencionalidade na escolha de cada termo. Analisaram também o contexto de produção do editorial, a repercussão do fato comentado. Concluindo com a observação que o público-alvo de cada editorial era diferente. Ao final das atividades, os alunos confirmaram que a leitura de editorial é uma prática que eles não realizam. A professora comentou a importância desse gênero textual, recomendando sua leitura sempre que eventos relevantes são comentados.

A proposta da escrita de um editorial, comentando uma notícia recente (enquanto acontecia a implementação), nova tragédia marca a escola: “Aluno atira na professora e se mata”. Este acontecimento sensibilizou os alunos que comentavam: “Por ele fez isso?”, “o culpado foi o pai”, “isso deve ser influência do outro fato acontecido recentemente”, “ninguém está seguro na escola'. Nesse clima de indagações, reflexões, foi proposto um comentário escrito nos moldes de um editorial, onde eles poderiam expor de uma forma mais ordenada seu ponto de vista. Nesse ponto do percurso, aconteceu a Semana Cultural e Desportiva no colégio, provocando uma ruptura no processo. O retorno às atividades após o encerramento da Semana Cultural e Desportiva, com a da proposta da prática de escrita do editorial comentando a notícia: “Aluno atira em professora depois se mata”. Percebeu-se então, dificuldades na interação dos alunos com a professora, pois o clima de discussão tinha esfriado. As ideias surgidas durante a leitura, os debates pareciam tão distante. Portanto não foi como o mesmo entusiasmo e comoção percebidos anteriormente que o fato foi comentado. Promoveu-se nova discussão, retomou-se as questões mas a disposição dos alunos não era a mesma. Conclui-se que a produção escrita perdeu muito de sua qualidade argumentativa.

3 Considerações Finais

O trabalho com o gênero editorial, constitui-se em uma importante ferramenta para a formação de um leitor crítico, por levar o aluno a ler sua realidade social. Além disso, o fato do editorial de jornal comentar, defender e criticar privilegiou a formação de opiniões em relação a um sério problema que envolve o ambiente escolar, a violência. Este trabalho objetivou possibilitar ao aluno desenvolver sua capacidade de análise crítica das questões apresentadas e formular teses para dar consistência ao seu ponto de vista.

Outros critérios considerados, foram a compreensão do texto argumentativo, pois constatou-se as dificuldades de leitura que representa esse gênero textual e logrou instrumentalizar os alunos para desenvolver estratégias para superar estas dificuldades.

O estudo de editoriais de jornais diferentes (Folha de Londrina e Jornal de Londrina) desenvolveu uma perspectiva comparativa onde o mesmo fato é visto sob uma ótica diferente resultada de valores e interesses distintos., proporcionou aos alunos uma visão crítica na leitura desse gênero. Importante ressaltar a reflexão resultante do desenvolvimento deste trabalho, pois os alunos que quando iniciaram o projeto, colocavam-se isentos de responsabilidades nos acontecimentos críticos da escola, deixando toda a culpa nas autoridades escolares e órgãos competentes, mostravam-se mais conscientes das responsabilidades da família e a sua diante das questões polêmicas que surgem no ambiente escolar. Conclui-se que este trabalho precisa ter uma continuidade devido sua importância no processo ensino-

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aprendizagem, pois é responsabilidade da escola propiciar ferramentas eficazes para que os alunos se apropriem de estratégias a fim de tornarem leitores competentes.

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