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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL LUCIANE FERREIRA COSME A CONTRIBUIÇÃO DA ONG MOVIMENTO DE SAÚDE MENTAL E COMUNITÁRIA DO BOM JARDIM NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA DE JOVENS DA PERIFERIA. FORTALEZA 2013

A CONTRIBUIÇÃO DA ONG MOVIMENTO DE SAÚDE ...ww2.faculdadescearenses.edu.br/biblioteca/TCC/CSS/A...Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274 C834c Cosme, Luciane Ferreira

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

LUCIANE FERREIRA COSME

A CONTRIBUIÇÃO DA ONG MOVIMENTO DE SAÚDE MENTAL E

COMUNITÁRIA DO BOM JARDIM NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA

DE JOVENS DA PERIFERIA.

FORTALEZA

2013

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Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274

C834c Cosme, Luciane Ferreira

A contribuição da ONG Movimento de Saúde Mental e

Comunitária do Bom Jardim na construção da cidadania de

jovens da periferia / Luciane Ferreira Cosme. Fortaleza - 2013

65f. Il. Orientador: Profº. Ms. Denilson Albano Portacio.

Trabalho de Conclusão de curso (graduação) – Faculdade

Cearense, Curso de Serviço Social, 2013.

1. Terceiro setor. 2. Juventude. 3. Cidadania. I. Portacio,

Denilson Albano. II. Título

CDU 364

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LUCIANE FERREIRA COSME

A CONTRIBUIÇÃO DA ONG MOVIMENTO DE SAÚDE MENTAL E COMUNITÁRIA

DO BOM JARDIM NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA DE JOVENS DA

PERIFERIA.

Monografia apresentada ao curso de Serviço Social da Faculdade Cearense (FAC), como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Serviço Social.

Orientador: Profº Ms. Denilson Albano Portacio

FORTALEZA

2013

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LUCIANE FERREIRA COSME

A CONTRIBUIÇÃO DA ONG MOVIMENTO DE SAÚDE MENTAL E COMUNITÁRIA

DO BOM JARDIM NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA DE JOVENS DA

PERIFERIA.

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do titulo de bacharel em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FAC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores. Data de Aprovação:___/___/___

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________

Professor Ms. Denilson Albano Portacio

____________________________________________________ Professora Ms. Lenha Aparecida Silva Diógenes.

____________________________________________________ Professora Esp. Maria Elaene Rodrigues Alves

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pois sem ele nada seria possível.

Aos meus pais que sempre me incentivaram e me proporcionaram um

momento tão especial como este.

Aos meus familiares que estiveram presente em todo meu percurso

acadêmico e que, de alguma maneira, contribuíram para minha formação.

A todas as minhas colegas e amigas do curso, que compartilharam comigo

dos momentos de alegrias, angústias e tristezas.

As amigas Jessica Feitosa, Claudiana Lima, Paola Abreu, Leidyane Ferreira,

Lygia Negreiros e Morgana Chaves que sempre fizeram parte e contribuíram nos

trabalhos em grupo e que estiveram comigo durante toda essa caminhada.

Ao querido Alfredo Monteiro que sempre me ajudou durante toda a minha

trajetória acadêmica.

À amiga Juliana Abreu que iniciou essa caminhada junto comigo, e que, para

mim, é um exemplo claro de perseverança e superação.

À minha supervisora de campo, Danielly Bezerra, que reacendeu em mim o

desejo de seguir na profissão com seu exemplo de profissionalismo, carinho e

dedicação.

Em especial, à minha queridíssima amiga Lorena Maria que esteve ao meu

lado desde o início do curso, que dividiu comigo todas as alegrias, anseios, tristezas,

angústias e que mesmo diante das dificuldades sempre me incentivou a continuar.

E agradeço particularmente a algumas pessoas pela contribuição direta na

construção desse trabalho:

Ao meu orientador Denilson Albano por toda confiança, atenção e paciência

na orientação, o que tornou possível a conclusão desta monografia.

Ao amigo Antônio Filho por todo carinho, sugestões, empréstimos e inúmeras

indicações bibliográficas.

À amiga Sumara Frota por toda ajuda, paciência e apoio: nas leituras, revisão

e discussão dos textos produzidos.

A todos do Movimento de Saúde Mental e Comunitária do Bom Jardim que

colaboraram para que a pesquisa fosse realizada.

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“O conhecimento exige uma presença curiosa

do sujeito em face do mundo. Requer uma

ação transformadora sobre a realidade.

Demanda uma busca constante. Implica em

invenção e em reinvenção".

(Paulo Freire)

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RESUMO

O presente trabalho pesquisa o exercício da cidadania através da ONG Movimento

de Saúde Mental do Bom Jardim – MSMBCJ, situada no grande Bom Jardim, nela

levantam-se aspectos relacionados à cidadania com foco na construção de uma

cidadania plena através dos jovens atendidos na instituição. A metodologia utilizada

foi a abordagem qualitativa e exploratória onde a coordenadora, um monitor e alguns

jovens, que fazem parte de um dos cursos da instituição, foram convidados a

participar de uma entrevista semiestruturada que foi gravada e posteriormente

transcrita. Os dados foram observados com base na análise de conteúdo e os

resultados apontam que o atual trabalho realizado pela ONG no bairro com esses

jovens tem mostrado um exercício pleno de cidadania em todos os aspectos, tendo

um nível geral de satisfação por parte dos jovens participantes, dos monitores e da

própria coordenadoria. Todos eles relataram gostar do que fazem e são bastante

atuantes. De todos os quesitos da categoria, foi considerado insatisfatório somente a

questão do atendimento ser reduzido, isso se deve a precariedade de recursos

suficientes para realizar muito mais do que necessitam, mas, ainda assim a

instituição tem colaborado bastante nas práticas cidadãs da comunidade. Os pontos

fortes são as oportunidades de cursos de qualificação, ajudando a acabar com

senso de pessoas que vivem à margem da precarização dos estudos e de trabalho.

Palavras – chaves: Terceiro Setor, Juventude e Cidadania.

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ABSTRACT

This present work is to study citizenship through ONGs MSMBCJ - Movement for

Mental Health Good Garden located in Grand Good Garden, it -ups aspects related

to citizenship and focus of the construction of a full citizenship through youth

attended the institution . The methodology was qualitative and exploratory approach

where a monitor coordinator and youth who are part of one of the courses of the

institution were invited to participate in a semi - structured interview that was

recorded and transcribed. Data were analyzed by content analysis and the results

indicate that the current work that the ONG has been carrying out in the

neighborhood with these young people has shown a full exercise of citizenship in all

aspects, the work has a general level of satisfaction of all young who participates and

monitors as the coordinating body itself, reported enjoying what they do and

participate. In all aspects of the category were considered satisfactory, only the issue

of care reduced due to insecurity of not having enough resources to accomplish

much more than they need, but it has worked well in the civic community practices.

The strong points are the opportunities for training courses helping to end sense of

people who live outside the precariousness of work and studies.

Key – words: Third Sector, Youth and Citizenship.

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – BAIRROS QUE COMPÕEM O GRANDE BOM JARDIM ---------------39

QUADRO 2 – MAPA DO GRANDE BOM JARDIM ------------------------------------------39

QUADRO 3 – PROJETOS DA INSTITUIÇÃO E O PERFIL DOS JOVENS

ATENDIDOS. ------------------------------------------------------------------------------------------46

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LISTA DE SIGLAS

ANEPS – Articulação Nacional de Educação Popular em Saúde.

CAPS – Centro de Atenção Psicossocial.

CEB – Comunidades Eclesiais de Base.

LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação.

MSMCBJ – Movimento de Saúde Mental Comunitária do Bom Jardim.

ONG – Organização não Governamental.

ONU – Organização das Nações Unidas.

UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a

Cultura.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 12

1. CIDADANIA ................................................................................................. 14

1.1– Conceito de Cidadania. ......................................................................... 14

1.2– Cidadania X Capitalismo. ...................................................................... 16

1.3 A educação como uma das formas de desenvolver a cidadania. ....... 20

2. TERCEIRO SETOR ..................................................................................... 28

2.1. Surgimento do terceiro setor .................................................................. 28

2.2 O papel das ONGs na sociedade............................................................ 34

2.3 Histórico do MSMCBJ “Uma ONG com perfil cidadã” ............................. 38

3. PERCURSO DA PESQUISA E ANÁLISE DE DADOS. ............................ 45

3.1 Percurso da Pesquisa. ............................................................................ 45

3.2 Apresentação e discussão dos resultados das análises dos dados........ 49

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 57

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 59

APÊNDICES .................................................................................................... 63

ANEXO ............................................................................................................ 70

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INTRODUÇÃO

Esta pesquisa aborda o trabalho desenvolvido pela ONG Movimento de

Saúde Mental e Comunitária do Bom Jardim (ONG MSMCBJ) com o intuito de

auxiliar na construção da cidadania de jovens que fazem parte do projeto Clube da

Oportunidade. O objetivo geral é compreender o papel desenvolvido por essa ONG

na construção da cidadania de Jovens da periferia, destacando como objetivos

específicos: entender o papel da instituição no bairro e como a mesma atua na

construção da cidadania de jovens, analisar o perfil dos jovens atendidos por ela e

verificar os benefícios ou mudanças ocorridos na vida dos jovens que fazem parte

dessa instituição.

O Terceiro Setor resume-se a iniciativa de cidadãos que, participando de

modo organizado e espontâneo, realizam um número de atividades visando um

interesse coletivo, conforme afirma Filho (2006). Dessa forma, as organizações não

Governamentais (ONGs) sem fins lucrativos são atuantes no terceiro setor cujos

recursos são repassados as ONG por meio de convênios e complementam as

iniciativas do Estado que, por falta de condições técnicas e operacionais, não

desempenham de modo eficiente seu papel no âmbito social.

Cada ONG tem sua própria cultura e na ONG MSMCBJ não seria diferente.

Partindo de uma pesquisa, o presente trabalho dispõe-se a relatar e discutir a

questão do exercício de cidadania dentro das ONG, principalmente na ONG

escolhida para análise situada no Grande Bom Jardim. A escolha se deu pela

aproximação da pesquisadora com a ONG, já que reside no bairro no qual a ONG

atua, bem como pelo interesse em conhecer o papel que a ONG desempenha no

bairro, uma vez que já participou de cursos dentro da instituição.

Dessa maneira, a presente pesquisa visa compreender como a ONG promove

a cidadania através de seus cursos, pondo seu foco na juventude que participa da

instituição. Para tanto, fez-se necessário a divisão desse trabalho em três capítulos.

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O primeiro capítulo diz respeito à cidadania, de onde surgiu o termo e o que ela

representa na vida de cada cidadão, ressaltando a importância da educação no

desenvolvimento da cidadania e como ela é introduzida dentro das ONGs. O

segundo capítulo trata do surgimento do terceiro setor no Brasil, fazendo um resgate

de como surgiu no mundo. Dentro desse capítulo fazemos um recorte do surgimento

das ONG e a história da ONG MSMCBJ na qual realizamos a pesquisa. O terceiro

capítulo trata do percurso da pesquisa com a análise dos dados colhidos dentro da

instituição, a visão da coordenadora, do monitor e dos jovens atendidos pela ONG

em relação à cidadania e demais assuntos que englobam os objetivos desta

pesquisa.

Quando partimos de uma análise que coloca nossas relações sociais como

frutos de relações materiais, podemos compreender a influência de certas formações

políticas, econômicas e culturais. Desse modo, podemos perceber que o Estado

incentiva essas ONG a realizar aquilo que eles se privam de fazer, e entendemos

que não é somente ajudando essas ONG que irão resolver todos os problemas das

pessoas que necessitam desse tipo de instituição. Na verdade, o que se espera é

que o Estado cubra essa carência negligenciada por que ele mesmo diante dos

projetos mal elaborados que não suprem a necessidade da população.

Assim, constatou-se que os resultados da pesquisa foram em todos os

quesitos satisfatórios, atingindo os objetivos da mesma, e percebendo que a ONG

desenvolve ao longo da sua existência o seu papel de cidadã e transmite essa

categoria de cidadania aos jovens da comunidade atendida.

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1. CIDADANIA

1.1– Conceito de Cidadania.

Sociedade só se constrói com cidadania. (Jone Iglesias)

O conceito de cidadania teve origem nas antigas religiões, na Grécia Antiga

e no Império Romano. Na Grécia, cidadania designava os direitos daqueles que

viviam na cidade e que participavam da administração, dos negócios e das decisões

políticas. Esses eram direitos que apenas uma minoria usufruía. Citamos como

exemplo, a cidade de Atenas. Nela só os homens livres eram cidadãos, ficando as

mulheres, os escravos e os estrangeiros excluídos dessa condição. (ABREU, 2009).

A cidadania na Grécia Antiga está ligada à noção de Cidade-estado. O

Estado contemporâneo, para Guarinello (2003) como é entendido hoje, não se

confunde com a experiência antiga, assim como não se pode mensurar um liame

evolutivo que unisse os dois mundos. A compreensão da participação social e o

entendimento dos direitos inerentes ao cidadão têm, em ambos os casos,

perspectivas distintas.

Na Roma Antiga, a cidadania era primeiramente atribuída aos indivíduos mais

importantes do império, mas tempos depois foi estendida aos demais habitantes.

Porém, na Idade Média, a cidadania sofreu um retrocesso. Essa foi a época da

sociedade dos senhores e dos servos, onde os privilégios eram para poucos,

somente para os que tinham recursos, os demais escravos e aqueles que não

possuíam bens não participavam das decisões que interessavam à comunidade.

(ABREU, 2009).

No entanto, foi na Idade Moderna que o conceito de cidadania reapareceu e

continua até os dias atuais. Bonavides (2003) passa a se questionar sobre as

contradições e as distorções que sustentavam os privilégios que a nobreza e o clero

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insistiam em manter, pois a burguesia, ainda inserida na ideia de uma classe

amalgamada ao povo, aspirava horizontes menos restritivos. Houve, por isto,

fortalecimento de uma cidadania essencialmente mais próxima da experiência

clássica, uma vez que a igualdade e a liberdade tornaram-se seus princípios

basilares. É preciso atentar que cidadania não possui um significado único para

todos.

É muito diferente ser cidadão na Alemanha, nos Estados Unidos ou no Brasil (...) não apenas pelas regras que define quem é ou não titular da cidadania, mas também pelos direitos e deveres distintos que caracterizam o cidadão em cada um dos Estados- nacionais contemporâneos”. (PINSKY, 2008 p.09).

Com isso, é possível perceber que a cidadania se desdobra de formas

diferentes, variando de lugar para lugar. Pinsky (2008) expõe que a cidadania não é

uma definição fechada, mas parte de uma concepção histórica, o que significa dizer

que seu sentido varia no tempo e espaço. Tradicionalmente entende–se por

cidadania como um conjunto de direitos e deveres que um indivíduo possui para com

a sociedade ou comunidade da qual participa.

Entretanto, Covre (1991) afirma que a cidadania está associada ao início da

vida na cidade, à capacidade dos homens exercerem seus direitos e deveres

enquanto cidadãos. Percebe-se então que, na atuação de cada pessoa existe uma

esfera privada e uma esfera pública.

Já Carvalho (2002) diz que a cidadania inclui várias dimensões e que

algumas podem estar presentes sem as outras. Uma cidadania que combine

liberdade, participação e igualdade para todos, é um ideal desenvolvido no Ocidente.

Observa-se, contudo, que ao longo do tempo tornou-se um hábito dizer que

cidadania se resume em direitos civis, políticos e sociais. Seria considerado cidadão

pleno aquele que fosse possuidor dos três direitos.

“Os que fossem possuidores de apenas alguns desses direitos seriam considerados cidadãos incompletos e aqueles que não se beneficiassem de

nenhum dos direitos seriam considerados não-cidadãos.” (CARVALHO,

2002; p. 07).

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É válido destacar aqui o que diz respeito a cada um desses direitos. Covre

tem uma definição resumida e objetiva para cada direito do cidadão, ele afirma que:

Os direitos civis dizem respeito basicamente ao direito de nos dispormos do próprio corpo, segurança, locomoção etc.[...] Já os direitos sociais se referem ao atendimento das necessidades humanas básicas [...], os direitos políticos que dizem respeito à autonomia do indivíduo sobre sua vida, ser livre para pensar, se expressar e tomar decisões esses três conjuntos de direitos que comporiam os direitos do cidadão, não podem ser desvinculados, pois sua efetiva realização depende de sua relação recíproca. (COVRE, 1991; pp 11,14,15).

Quando falamos de cidadania além dos direitos do cidadão, é necessário

salientar aqui que existem também os deveres e destacar alguns deles. Abreu

(2009) corrobora que o cidadão tem o dever de ser solidário, participar da vida

coletiva das diversas instâncias, sejam elas de nível municipal, estadual ou nacional,

além de respeitar as leis, de pagar os impostos, dar sua contribuição para o

progresso da cidade, etc.

Assim, como afirma Duarte (2010), a cidadania é um conceito passível de

muitas definições, nem sempre compatíveis entre si. É uma representação

idealizada que não tem força para superar a alienação das relações sociais e que

têm o dinheiro como mediação universal em nossa sociedade.

Contudo, destaca-se que o estudo panorâmico da cidadania, nos mais

diversos momentos históricos, viabilizou a sua compreensão como um aspecto

mutante e suscetível ao processo de evolução. Tal realidade diverge de

posicionamentos doutrinários equivocados que tendem a limitar a dimensão da

cidadania a um valor estático, permanente e objetivo. Logo, à luz da

contemporaneidade, devemos exemplificar adiante o conceito de cidadania em seus

variados aspectos.

1.2– Cidadania X Capitalismo.

Dentro do sistema capitalista a cidadania tenta alienar o cidadão e suas

relações sociais interferindo nos seus direitos de viver de forma harmoniosa em

sociedade.

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O capitalismo1 é uma forma histórica que organiza toda a vida social em

torno do mercado. Marx provou que a mercadoria se constitui por seu valor de uso e

de troca e ressalta que para um objeto converter-se em mercadoria é necessário que

o mesmo seja útil e que ajude a satisfazer as necessidades humanas. Marx também

mostrou que o dinheiro é uma mercadoria, e que no capitalismo o dinheiro acaba por

tornar-se riqueza que é o real objetivo da produção, o meio universal entre os

indivíduos. (DEVILLE, 2012).

Constatamos segundo Deville (2012) que tudo no capitalismo se transforma

em mercadoria, inclusive o trabalho humano. O trabalhador só é trabalhador por não

ser dono dos meios de produção, ele dispõe apenas da sua força de trabalho2 e a

vende por uma determinada quantia de dinheiro. De acordo com Marx:

A força de trabalho é, na sociedade capitalista dos nossos dias, uma mercadoria como qualquer outra, mas, certamente, uma mercadoria muito especial. Com efeito, ela tem a propriedade especial de ser uma força criadora de valor, uma fonte de valor e, principalmente com um tratamento adequado, uma fonte de mais valor do que ela própria possui. (Marx, 2006 p. 27).

Para Marx, segundo Duarte (2010) a sociedade civil era o campo da prática

social governado pelos interesses privados e pela luta de todos contra todos. O

indivíduo está dividido: de um lado, o cidadão que deve agir visando à

universalidade do bem comum; de outro, o indivíduo privado (o homem burguês) que

age com a única finalidade de satisfazer seus interesses e suas necessidades

pessoais.

Marshall (1949) diz que o elemento civil é composto dos direitos necessários

à liberdade individual, liberdade de ir e vir, liberdade de imprensa, pensamento e fé,

o direito à propriedade de concluir contratos válidos e o direito à justiça.

É notório destacar aqui que para o capital também é importante que exista o

desemprego para que o trabalhador se sujeite a qualquer tipo de trabalho. Segundo

1 “capitalismo significa não apenas um sistema de produção de mercadorias, como também um

determinado sistema no qual a força de trabalho se transforma em mercadoria e se coloca no mercado como qualquer objeto de troca”.(Catani,1980 p.9) 2 “Por força de trabalho ou capacidade de trabalho compreendemos o conjunto das faculdades

físicas e mentais existentes no corpo e na personalidade viva de um ser humano, as quais ele põe em ação toda vez que ele produz valores-de-uso de qualquer espécie”. (Deville, 2012 p.197)

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18

Singer (2008) “Na sociedade capitalista, o normal é que a cada momento uma

parcela dos trabalhadores careça de recursos para a sobrevivência por falta de

trabalho”. O trabalhador não enxerga essa realidade porque o mesmo está

alienado.3

Por essa razão, jamais a sociedade burguesa superará a oposição entre o

indivíduo real e o cidadão idealizado:

Por fim, o homem como membro da sociedade civil é identificado como o homem autêntico, o homem como distinto do citoyen, porque é o homem na sua existência sensível, individual e imediata, ao passo que o homem político é unicamente o homem abstrato, artificial, o homem como pessoa alegórica, moral. Deste modo, o homem, tal como é na realidade, reconhece-se apenas na forma do homem egoísta, e o homem verdadeiro, unicamente na forma do citoyen abstrato (DUARTE, 2010 Apud MARX, 1989, p. 29-30).

Neste sentido, dentre os tão graves problemas que a sociedade passa no

sistema capitalista em relação ao seu exercício da prática cidadã, a produção

capitalista é um deles que continua com o seu caráter infinito gerando

incessantemente novos produtos e novas necessidades, limita o poder da cidadania

como também a conquista de novos direitos universais como instrumento para a

satisfação de interesses materiais em processo de permanente redefinição e uma

construção nacional de cidadania em relação ao seu direito de liberdade de ir-e-vir

dentro desse sistema que oprime o cidadão coibindo suas formas de exercício de

cidadania concreta.

Diante do que já foi abordado acima é possível perceber que a sociedade

capitalista é movida pela intensa contradição entre capital e trabalho e que da

mesma forma funciona a nossa realidade social. Na afirmação de Duarte é possível

perceber isto.

A realidade social é contraditória, e a vida dos indivíduos também é movida por forças contraditórias. Se a sociedade capitalista é movida pela contradição entre capital e trabalho, essa contradição multiplica-se e desdobra-se em todos os campos da atividade social e da vida humana. (DUARTE, 2010 p.80).

3Ver O Capital Karl Marx

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Como já citado anteriormente, seria considerado cidadão pleno aquele que

fosse possuidor dos direitos civis, políticos e sociais. Faremos agora uma relação

entre cada um desses direitos e o capitalismo predominante na contemporaneidade.

Comecemos pelos direitos políticos que, segundo Saes (2012), não se configuram

como o único mecanismo possível de legitimação da ordem social capitalista,

portanto, não são fundamentais à reprodução do capitalismo.

A legitimação da ordem social do capitalismo da vigência geral de liberdades civis, assim como da base nacional e da aparência universalista do Estado. “ela decorre da configuração geral da estrutura jurídico-política capitalista, estrutura essa que não implica necessariamente a existência de um Estado democrático”. (SAES,2012 p.17).

Já a expansão dos direitos civis, eficazmente implantado no pólo econômico

predominante de uma sociedade, para outros setores da vida econômico-social

acaba por ser um processo lento, longo e difícil. Como o capitalismo tende a

desenvolver-se de modo desigual no campo e na cidade em praticamente todas as

sociedades (lembrando que essa desigualdade tem maior profundidade na periferia

do capitalismo) o resultado é uma desigualdade bastante duradoura, inclusive no

que diz respeito à vigência efetiva de direitos civis na cidade e no campo. (SAES,

2012).

Com relação aos direitos sociais, esses são instrumentos através dos quais

as classes trabalhadoras buscam reproduzir sua capacidade de trabalho em um grau

compatível com o estágio alcançado pelo capitalismo. Ainda de acordo com Saes:

É possível, porém, imaginar períodos de desqualificação relativa de grande parte das classes trabalhadoras e de consequente regressão nas suas condições de vida; ou, então, situações em que segmentos trabalhadores específicos obtêm vantagens privadas específicas através do confronto com empresas específicas. As sociedades capitalistas podem, portanto, passar por períodos ou situações onde os direitos sociais estejam declinantes ou mesmo ausentes.( SAES,2012 p.17)

De acordo com o artigo 6º da Constituição de 1988 – são direitos sociais a

educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção

à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados na forma desta

Constituição.

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20

No entanto, a educação para o capitalista é vista de outra forma do tipo que

Kuenzer descreve:

O objetivo fundamental da educação do trabalhador no processo capitalista é (...) a formação de um trabalhador que "combine um conjunto de habilidades técnicas necessárias e não mais do que isto — a um conjunto de condutas convenientes". Essa educação, no entanto, por ocorrer em meio a relações de exploração do trabalho sob o capital dá-se de maneira contraditória: ao mesmo tempo em que o capital educa o trabalhador para ser artífice de sua própria exploração, ele o educa para reagir às formas de disciplinamento. Ou seja, "através das formas de enfrentamento que desenvolve, o trabalhador ensina ao capital novas estratégias de dominação." (KUENZER, 1985; p.43).

Porém, a Lei de Diretrizes de Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996

contempla alguns elementos, que merecem ser ressaltados em relação à educação

nessa sociedade:

Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

É possível perceber que a educação é de suma importância para que o

indivíduo possa praticar o exercício da cidadania, tendo a mesma como um ponto de

partida para seu pleno desenvolvimento. Diante disso, iremos enfatizar a relevância

da educação para o desdobramento da cidadania na contemporaneidade.

1.3 A educação como uma das formas de desenvolver a cidadania.

Para que se possa discorrer sobre a importância da educação no

desenvolvimento da cidadania faz-se necessário antes situar o leitor sobre o

processo histórico da mesma.

Convém aqui destacar que a educação no Brasil sofreu transformações ao

longo do tempo. Desde o período colonial com o auxílio dos jesuítas na tentativa de

educar os índios, que segundo Piletti (2008) “por trás do objetivo aparente de

ensinar as primeiras letras e as humanidades, buscava-se na verdade a submissão

à fé católica e aos costumes europeus”.

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Essas transformações da educação passaram também pela monarquia com

o estabelecimento do ensino primário a partir da Constituição de 1824 que garantia a

gratuidade da instrução primária para todos os cidadãos até o período republicano

que teve como característica as modificações das leis no intuito de resolver os

problemas da educação brasileira, mas que na verdade ainda de acordo com Piletti

(2008) “mudava-se a lei, mas não a realidade”.

Somente a partir da revolução de 30 é que podemos perceber mudanças

realmente significativas com relação ao processo educacional dos cidadãos. Nesse

período foi criado também o Ministério da Educação junto ao da saúde, como um

ministério só, ministério da educação e saúde, pois se consentia que quem tinha

educação poderia ter uma boa saúde. Houve também a inclusão de um capítulo

especial sobre a educação na Constituição de 1934, que teve como alguns dos

pontos principais: a educação como direito de todos, a gratuidade do ensino

primário, a assistência aos estudantes necessitados, etc.

Dos anos 50 até o começo da década de 60, a educação passa a ser

considerada, acima de tudo, um instrumento de mobilidade social, “a educação

representava, para o indivíduo, a possibilidade de ascensão na hierarquia de

prestígio que caracterizava a estrutura piramidal da sociedade...”(SOBRAL, 2000;

p.03). Desta forma, percebemos que nesse período a educação passa a ser

compreendida como uma possibilidade de evolução pessoal e social na qual o

sujeito passa a obter um reconhecimento no meio em que vive.

Entretanto, alguns estudiosos percebem que nessa mesma década a

educação estava voltada para a simples transferência de conhecimento do professor

para o aluno sem que houvesse um diálogo sequer entre ambas as partes, fato é

que estavam formando sujeitos sem a menor capacidade crítica de analisar o mundo

e a sociedade a qual pertence.

A educação não pode ser algo que simplesmente coloca alguns conteúdos que devem ser transmitidos de forma sistêmica. Faz-se necessário rever se a educação está sendo realmente democrática ou simplesmente uma transferência de valores ideológicos que têm como fim a formação de indivíduos apáticos, sem poder de crítica e de questionamento. (BORGES, 2012 p.03).

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Em relação a essa educação bancária (método de transferência do professor

para o aluno sem um dialogo existente entre ambos) podemos citar as experiências

de Paulo Freire com seus métodos que trouxeram maneiras de revolucionar esse

tipo de educação, educação essa chamada de popular, em todos os seus recortes.

Netto (2003) diz que Paulo Freire passou a delimitar a sua perspectiva educacional

definindo um tipo de educação como de comunidade, e de uma consciência onde os

interesses das pessoas estão definidos pelas exigências de sobrevivência e que por

meio das ações educativas eleva-se um patamar de uma consciência critica e

reflexiva. Assim, estabelece-se o diálogo na socialização dos bens culturais, fazendo

uma intercomunicação entre o homem comum e o intelectual simpatizado em torno

do objeto que é uma democratização da cultura existente.

A década de 60 foi o auge para a educação popular que teve como

precursor Paulo Freire. A educação popular é um movimento teórico e prático em

educação, que está presente nos processos de estruturação das classes

trabalhadoras, ou seja, uma educação voltada para fazer com que o indivíduo saia

da sua condição passiva para a proativa no que se referem à nossa luta pelos

direitos na sociedade, de tal maneira que passamos a ser sujeitos da nossa própria

história. (SILVA, 2006).

A Educação Popular, na versão em que a conhecemos no Brasil e na América Latina, ao longo dos últimos cinquenta anos, inspirada, originalmente, na obra e na prática política de Paulo Freire, vem passando por marcantes transformações. Seu caráter militante e engajado, seus fortes vínculos inicias com Movimento de Cultura Popular (MCP) e o Movimento de Educação de Base (MEB) da Igreja Católica, entre outros que emergiam na década de sessenta, vão sendo nuançados por outras aproximações políticas – como, por exemplo, do Movimento dos Sem Terra (MST) – misturando-se aos matizes dos mais diversificados movimentos sociais populares deste final de milênio. Com manifestações em vários continentes, a Educação Popular continua se caracterizando por suas vinculações com grupos populares, entendidos, estes, como segmentos populacionais marcados por discriminações, por diferentes formas de exclusão e marginalidade social. Trata-se, assim, da educação que tem se ocupado dos “pobres” e, como diria Freire, dos oprimidos. (SILVA, 2006 Apud COSTA, 1998, p.9-10).

Vale ressaltar que há muito tempo pensadores brasileiros ligados à

educação que se identificam com a classe trabalhadora se esforçam por pensar em

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uma educação que colabore para uma mudança revolucionária dessa sociedade.

Tonet (2000) diz que o conceito de revolução era um dos elementos significativos

para esta reflexão, isso pelo fato de ser a revolução considerada como uma súbita

mudança que constituiria uma espécie de marco zero ou início de uma nova

sociedade.

Em meados da década de 80, muitos desses pensadores passaram a

substituir a articulação entre educação e revolução, no sentido citado acima, por

educação e cidadania. Desde então, a educação para a cidadania se tornou algo

comum levando em conta que a noção de cidadania seria vista como sinônimo de

liberdade, onde o indivíduo teria plena consciência do seu papel enquanto cidadão.

O cidadão que é capaz de participar, de forma responsável, da vida social é aquele que entende os problemas que ocorrem na sociedade, que é capaz de compreender as diferentes perspectivas e os interesses dos diferentes grupos, de oferecer soluções viáveis para os problemas comuns e de participar delas. Esse cidadão deve estar apto a cooperar e também a competir com os outros, mas sempre por meios racionais e pacíficos. Deve, ainda, habituar-se a analisar as situações, a avaliá-las e a tomar decisões. (DELVAL, 2006 p.13).

Percebemos, no entanto, que é realmente importante ser difundida as

noções de cidadania no âmbito educacional, pois estamos formandos sujeitos que

possuem a capacidade de enxergar o seu papel enquanto cidadãos. É necessário

sim que possamos ter a plena consciência do que é viver em sociedade, sabendo

das nossas responsabilidades, dos nossos direitos e deveres além de contribuir para

o real exercício da cidadania. Assim como corrobora Monroe

[...] a função da educação era desenvolver a habilidade, melhorar os hábitos, formar o caráter do indivíduo, de forma que pudesse prosperar nas atividades de sua vida e conformar-se a certos padrões sociais de conduta. A ideia acentuada na concepção de cidadania é que o bem-estar individual e social, a felicidade e a retidão dependem, mais largamente do que nunca, das relações existentes entre pessoas e classes na vida institucional. De forma que a educação tem uma nova missão, a de esclarecer os princípios básicos desta afinidade e de dar informação a respeito das muito complexas relações da sociedade e dar um novo fim determinado pela ação social. (MONROE, 1979 p.341).

A educação para a cidadania objetiva fazer com que cada pessoa vire um

agente transformador. Para isso, é necessária uma reflexão que permita

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compreender as bases históricas da condição de miséria e exclusão em que boa

parte da população vive e, para que a educação seja uma forma de consciência

cidadã, é necessária uma transformação da sociedade e dos opressores, como fala

Paulo Freire que a educação a ser praticada pela liderança revolucionária se faz

com intencionalidade, a presença dos oprimidos na busca de sua libertação, é mais

do que sua pseudoparticipação, é o engajamento que deve ser. Pois, o que

pretendem os opressores é transformar a mentalidade dos oprimidos e não a sua

situação que os oprime, e isto é melhor adaptando-os a situação de uma educação

bancária na qual “A narração, de que o educador é o sujeito, conduz os educandos à

memorização mecânica do conteúdo narrado”. (Freire, 2011). Em lugar de

comunicar-se com o aluno o educador trás comunicados já prontos fazendo da

mente do educando um depósito onde eles recebem o conteúdo, memorizam e

repetem.

É por isso que não podemos deixar de ressaltar o papel importante da

escola e dos atores que nela executam seu exercício na construção da cidadania

pela educação, pois “Para o educador humanista ou o revolucionário autêntico, a

incidência da ação é a realidade a ser transformada por eles com os outros homens

e não estes”. (Freire, 2011). Porém, não é somente a escola conhecida por nós a

única responsável por trabalhar essa temática, é preciso que fique claro o quanto

essa instituição é importante. Mas, mesmo com todos os esforços, vemos que a

escola em si ainda não é capaz de atingir completamente o objetivo a que se propõe

e, em virtude disso, a própria população passa a não ter confiança suficiente nas

suas propostas devido as falhas no processo de educar. Isso fica evidente nas

palavras de Gadotti

Em geral, temos a tendência de desvalorizar o que fazemos na escola e de buscar receitas fora dela quando é ela mesma que deveria governar-se. É dever de ela ser cidadã e desenvolver na sociedade a capacidade de governar e controlar o desenvolvimento econômico e o mercado. A cidadania precisa controlar o Estado e o mercado, verdadeiros alternativos ao capitalismo neoliberal e ao socialismo burocrático e autoritário. A escola precisa dar o exemplo, ousar construir o futuro. Inovar é mais importante do que reproduzir com qualidade o que existe. A matéria-prima da escola é sua visão do futuro. (GADOTTI, 2000 p.09).

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No setor de Educação, a UNESCO tem como prioridade a defesa de uma

educação de qualidade para todos e a promoção do desenvolvimento humano e

social. Em parceria com o governo e a sociedade civil na tentativa de qualificar com

uma educação de qualidade o cidadão, a principal diretriz da UNESCO4 é auxiliar os

países membros a atingir as metas de Educação para todos, promovendo o acesso

e a qualidade da educação em todos os níveis e modalidades, incluindo a educação

de jovens e adultos. Para isso, a organização desenvolve ações direcionadas ao

fortalecimento das capacidades nacionais, além de prover acompanhamento técnico

e apoio à implementação de políticas nacionais de educação, tendo sempre como

foco a relevância da educação como valor estratégico para o desenvolvimento social

e econômico dos países.

Ainda diante do que já foi abordado é importante destacar o papel que as

escolas vêm exercendo na contemporaneidade para a formação do sujeito, uma

educação de baixíssima qualidade. O governo, no entanto, ao invés de investir mais

nessa educação, incentiva a criação de universidades particulares estimulando o

ensino privado, impulsionando o ensino a distância não se responsabilizando pela

qualificação desse aluno, deixando isso para o mercado competitivo.

Porém, é verificável que as escolas de ensino público e particular ainda não

conseguem dar conta do preparo dessas pessoas para uma formação como nos

países de primeiro mundo, mesmo que existam escolas que incentivam a prática de

cursos técnicos qualificando o jovem para o mercado, ainda assim constitui-se uma

minoria. (BOSCHETTI, 2007).

A busca por uma qualificação profissional, como a participação em um curso

técnico, é um direito do cidadão por uma educação mais abrangente, percebendo

que é somente através da educação que o ser faz uma critica de sua realidade e

muda o seu comportamento e o do mundo, como Freire questiona em seu livro a

Pedagogia do Oprimido, nos levando a ter uma conscientização crítica da realidade

vivida por classes oprimidas que necessitam de uma educação humanizadora, que

possam construir sua visão crítica de mundo e dos homens, aceitando uma ação de

4 Disponível em: http://www.onu.org.br/onu-no-brasil/unesco/ acesso em 24.10.2013 às 22:28.

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transformação da estrutura, que supere as contradições antagônicas e que atinjam o

seu poder de decisão como pessoa no decorrer de suas lutas para prescrever sua

finalidade às massas dominantes. (FREIRE, 2011).

No entanto, a sociedade civil tenta suprir através de ONG a falta de

preparação do ser em conhecimento e em educação profissionalizante oferecendo

ao cidadão qualificação técnica, fazendo o papel do Estado. Quando focamos na

educação oferecida pelas instituições que fazem parte do chamado terceiro setor,

Zenaide afirma que:

“[...] é a existência de uma grande demanda de formação que está em constante crescimento e que envolve vários setores da sociedade. As organizações da sociedade civil, do mundo vário e plural das ONGs ou do chamado “terceiro setor” precisam de uma formação profissional mais adequada às mudanças que estão ocorrendo na sociedade e às necessidades crescentes da população.” (ZENAIDE, 200 p.20).

A sociedade civil que faz parte do Terceiro setor como ONG, associações,

sindicatos, igrejas, etc. estão se fortalecendo não apenas como espaço de trabalho,

em muitos casos, voluntário, mas também como espaço de difusão de

conhecimentos e de formação continuada. É um espaço potencializado pelas novas

tecnologias, inovando constantemente nas metodologias. (GADOTTI, 2000).

Novas oportunidades se abrem para os educadores e para jovens dentro

desses espaços. Esses espaços de formação têm tudo para permitir maior

democratização da informação e do conhecimento, portanto, menos distorção e

menos manipulação, menos controle e mais liberdade. É uma questão de tempo, de

políticas públicas adequadas e de iniciativa da sociedade. O acesso à informação

não é apenas um direito. É um direito fundamental, um direito primário, o primeiro de

todos os direitos, pois sem ele não se tem acesso aos outros direitos. Essas

oportunidades de educação oferecidas pelo Terceiro Setor faz parte do pensamento

de uma educação popular de Paulo Freire, onde ela é abrangente, mantêm um

contato direto e qualifica a todos sem exceção.

O papel das organizações não governamentais, que proliferaram nas últimas

décadas, e a prática de parcerias, embora haja controvérsias sobre a função que as

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organizações não governamentais desempenham na atual conjuntura política,

parece haver um consenso de que passaram de um papel contestatório a um papel

de colaboração, impulsionando a participação em escala local, mas sem intervir nas

políticas macroeconômicas. Essa adaptação ao sistema está vinculada, sobretudo,

ao surgimento de organizações não governamentais de segundo grau, ou seja,

aquelas destinadas a canalizar a ajuda ao desenvolvimento. (STRECK, 2010).

Diante disso, traremos um breve contexto sobre o surgimento do terceiro

setor, avaliando seu desempenho na sociedade no incentivo a educação do cidadão.

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2. TERCEIRO SETOR

2.1. Surgimento do terceiro setor

Considero bastante importante as atividades do Terceiro Setor, sobretudo porque elas permitem hoje redesenhar as esferas de atuação do Estado, que se mostrou historicamente ineficaz no País. (Denis Rosenfield – Filósofo)

A expressão “terceiro setor” é uma tradução do termo inglês third sector que

nos Estados Unidos é usado junto com expressões como “organizações sem fins

lucrativos” (nonprofitorganizations) ou setor voluntário (voluntary sector). “terceiro

setor designa um conjunto de organizações e as ações que elas realizam cuja

definição é possível a partir de um posicionamento sobre o que esse conjunto

representa como fenômeno empírico” (Cunha, 2010; p.31).

As organizações do Terceiro Setor surgiram na Inglaterra em 1601, quando a

Rainha Elizabeth I instituiu uma legislação para disciplinar o combate à pobreza,

como uma nova filantropia que era feita com recursos oriundos dos impostos pagos

pelos estados. Uma nova onda associativa foi crescendo fora do âmbito do governo.

Porém, a filantropia, que esteve na origem da atuação do terceiro setor na Europa,

teve seu início no Brasil do século XVII com ações sociais pela Santa Casa de

Misericórdia atendendo a pessoas carentes. (ALVES JR, 2010).

O termo Terceiro Setor foi utilizado pela primeira vez por pesquisadores nos

Estados Unidos na década de 70 e a partir da década de 80 passou a ser usado

também pelos pesquisadores europeus (COELHO, 2002). Segundo Alves Jr. (2010)

uma vez que compreendida a existência do Terceiro Setor, faz-se oportuno conhecer

os principais tipos de entidades que o compõem: associação, organização

filantrópica beneficente ou de caridade, organização não governamental (ONG),

fundação privada, sindicato, cooperativa e igreja.

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As raízes do Terceiro Setor no Brasil estão nos movimentos sociais e políticos

de esquerda e o seu surgimento está relacionado com a queda de participação

estatal na área social que não tem feito o seu papel, incentivando e investindo mais.

Foi assim que surgiu uma esfera pública não estatal, porque não faz parte do

Estado, e sim de iniciativas privadas de sentido público, voltadas para o interesse

geral daqueles que precisam e para o bem comum dos que utilizam. O termo

Terceiro Setor ainda está se consolidando no Brasil, carecendo de uma melhor

definição de critérios para identificar os diferentes grupos de organizações que o

compõem, essas organizações são pautadas pelos valores da cidadania e tem como

público prioritário as populações em situação de vulnerabilidade social. (ALVES JR,

2010).

Segundo Falconer (1999) Terceiro Setor, entre todas as expressões em uso,

é o termo que vem encontrando maior aceitação para designar o conjunto de

iniciativas provenientes da sociedade, voltadas, à produção de bens públicos, como,

por exemplo, a conscientização para os direitos da cidadania, a prevenção de

doenças transmissíveis ou a organização de ligas esportivas. Apesar de prevalecer

no Brasil, a expressão divide o palco com uma dezena de outras: não

governamental, sociedade civil, sem fins lucrativos, filantrópicas, sociais, solidárias,

independentes, caridosas, de base, associativas, etc.

Albuquerque (2006) caracteriza alguns momentos da filantropia que gerou o

terceiro setor no Brasil:

A partir de 1910 houve uma intervenção do Estado na gestão administrativa e

financiamento das organizações assistenciais e filantrópicas passando a

exigir prestação de contas das organizações;

Já entre 1920 e 1930 com o início da fase de industrialização e com a

crescente urbanização ampliou-se a massa de operários e, como

consequência do crescimento das cidades, cresceram também os problemas

sociais;

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Entre 1930 e 1970 surgiram sindicatos e associações, que vinculavam o setor

privado às práticas de assistência e auxílio mútuo aos operários;

Na década de 70, fundações de inúmeras organizações de defesa dos

direitos políticos, civis e humanos se viram ameaçados pelos longos períodos

de ditadura, surgindo nesse momento o termo ONG, marcando uma postura

de distinção quanto às ações governamentais;

Na década de 80 temos a abertura política e econômica de países do Leste

Europeu e crises no continente africano, levando as fundações internacionais

e órgãos de cooperação a direcionar parte de seus recursos para

financiamentos naquela região, ficando assim escassos os recursos

governamentais;

Na década de 90 ocorreu uma conformação do terceiro setor no Brasil,

constituindo-se como um segmento com características e lógica diferentes,

marcando os rumos das organizações sem fins lucrativos no Brasil.

A representação da fase do terceiro setor como realidade é interessante por

seu caráter descritivo, informativo, muito pouco presente nas reflexões sobre o tema.

Quando se fala em terceiro setor, trabalhamos com a ideia de que é adicionado um

conjunto de termos e noções de modo a defini-lo. A repetição dos vínculos desses

termos e noções com o Terceiro Setor foi responsável por esse reconhecimento.

(CUNHA, 2010).

A ideia que resulta dessa identificação, é que está em formação uma nova

maneira de enfrentar os problemas que afligem a sociedade. Os problemas são dos

mais variados possíveis, a forma está na parceria entre Estado e organizações da

sociedade civil, que agora estão modernizadas e dotadas de criatividade,

conhecimento técnico, capacidade de gestão e planejamento de noções de

cidadania, quando comparado a um passado filantrópico – assistencialista, que se

caracterizava pelo atendimento amador e desorganizado, ao público a que se

destinava. (CUNHA, 2010).

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O que se observa na realidade brasileira é que as organizações do Terceiro

Setor, agem numa faixa difusa, afastada do público e do privado, ainda que

desempenhando atividades que poderiam estar relacionadas entre os deveres do

Estado como a educação, saúde pública e a assistência, concomitantemente a

função que deveriam ser de responsabilidade de agentes sociais e econômicos

específicos, como, por exemplo, geração de emprego e renda e formação e

desenvolvimento profissional. (ALVES JR, 2010).

Desta forma, atendendo as necessidades da sociedade para uma melhoria no

desenvolvimento social, “as organizações do Terceiro Setor são criadas com o

objetivo de lutar por uma sociedade mais igualitária e justa, ganhando importância

no desenvolvimento político, econômico e social do país.” (ALVES JR, 2010; p. 31).

A partir da década de 1990, dois fatores reforçaram e possibilitaram maior

visibilidade e fortalecimento do Terceiro Setor no Brasil: de um lado, disseminaram-

se a chamada responsabilidade social das empresas e os investimentos privados em

iniciativas da sociedade civil. Por outro lado, verificou-se por parte do governo

federal, um incentivo à criação de organizações sociais de serviços não exclusivos

do Estado. (ALVES JR, 2010 Apud IIKUZA e SANO 2004).

O Terceiro Setor pode ser definido como aquele em que as atividades não

seriam nem coercitivas e nem voltadas para o lucro. Segundo Coelho (2002) no

Brasil a influência do Terceiro Setor nas definições das políticas sociais ainda é

muito incipiente, mas já se faz notar. Embora o crescimento do aparelho do Estado

tenha gerado uma burocracia muitas vezes ineficaz e incompetente, não

necessariamente ela solapou a democracia política.

A emergência do Terceiro Setor representa, em tese, uma mudança de

orientação profunda e inédita no Brasil no que diz respeito ao papel do Estado e do

Mercado e, em particular, à forma de participação do cidadão na esfera pública. Isto

tem levado à aceitação crescente da ampliação do conceito de público como não

exclusivamente sinônimo de estatal: “público não-estatal”. (FALCONER, 1999). Para

Salamon (1998):

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O crescimento do Terceiro setor decorre de várias pressões, demandas e necessidades advindas das pessoas, como cidadãos, das instituições e até dos próprios governos. Ele reflete um conjunto nítido de mudanças sociais e tecnológicas, aliado a contínua crise de confiança na capacidade do Estado. Mudanças históricas de longo alcance abriram o caminho para que instituições alternativas possam atender melhor às necessidades humanas. (SALAMON, 1998, p.5).

Com sua pequena escala de flexibilidade e capacidade de canalizar a

participação popular, as organizações privadas sem fins lucrativos estão bem

capacitadas para preencher esse espaço, que é o de atender as necessidades

humanas da sociedade desfavorecida. Lopes (2004) nos afirma que a forma como

vem se configurando o “Terceiro Setor”, no Brasil, indica a presença de agentes

políticos, culturais, econômicos e sociais, com ações nem sempre convergentes para

a criação de modelos dinâmicos de organização. No campo das políticas sociais,

percebem-se lacunas entre o conjunto de carências e a emergência de novo papel

da sociedade civil. Vieira tem denominado Terceiro Setor como:

Ele é apenas terceiro setor do ponto de vista organizativo, ele não é uma propriedade. Por que não é uma propriedade? Porque os recursos públicos são recursos vindos de taxas e impostos, são recursos que vêm daquilo que chamamos de subsídios e, portanto, eles saem do tesouro e do orçamento da nação. (VIEIRA, 1999, p. 24).

Na emergência do Terceiro Setor há uma abertura dos canais de decisão à

participação da sociedade civil. A evidência de um novo florescimento de instituições

do Terceiro Setor de alcance mundial é incontestável como afirma Salamom (1998)

quando diz que nos países desenvolvidos, por exemplo, a ampliação do nível de

engajamento dos cidadãos é evidente há várias décadas.

O Terceiro Setor foi manifestado como uma alternativa aos problemas sociais

e, de forma progressiva, está ocupando alguns espaços que deviam ter sido

exclusivos do governo, em razão das suas visíveis limitações como supridor de

serviços e, dessa forma, o Estado vê-se na obrigação de delegar responsabilidades

para gerenciamento dos serviços. (PEREIRA, 2006).

Sobre, entretanto, Giddens (2001, p.?) fala que o Terceiro Setor “assume

tarefas que até então era do Estado, enquanto a participação significa

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responsabilização na execução das tarefas, dessa forma não dá para democratizar a

democracia que ele tanto afirma”. Assim, verifica-se uma separação entre o

econômico e o político, o esvaziamento da democracia como luta por direitos e das

políticas sociais como a materialização de direitos sociais.

O fortalecimento do Terceiro Setor, a partir da década de 70, é resultado das

prerrogativas do sistema neoliberal, que tende a retirada do Estado em vários

setores, tais como a economia e a política, só que, em outros setores, no caso, o

social, englobando a saúde, o sistema capitalista que defende e o estado mínimo.

Conforme Peroni (2009) ocorre que, tendo o mesmo diagnóstico de que a crise está

no Estado, nas duas teorias, este não é mais o responsável pela execução das

políticas sociais: o primeiro a repassa para o mercado e o segundo, para a chamada

sociedade civil sem fins lucrativos.

Estas estruturas, criadas com o objetivo de prover serviços sociais na área de

saúde, educação, proteção contra o crime, transporte público, enfim, de alívio à

pobreza, têm em comum o fato de serem não lucrativas e fazerem parte da

sociedade civil. Peroni (2009) afirma que esses organismos estão no modelo

gerencial, onde a sociedade civil é representada pelo público não estatal, pelo

chamado terceiro setor (organizações não governamentais [ONGs], instituições

filantrópicas e comunitárias e outras associações similares).

Fischer (2004) aponta que as Organizações do Terceiro Setor têm

consciência de que, é fundamental a profissionalização do pessoal para que um

serviço de qualidade tenha destaque pelo seu diferencial na sociedade.

Já Salamon (2005) afirma que as instituições integrantes do Terceiro Setor

enfrentam quatro desafios que são primordiais, o primeiro desafio é pela

legitimidade, ou seja, a formalização legal e a transparência no cômputo dos

resultados; o segundo é pela eficiência adquirida por meio da profissionalização das

instituições, o terceiro pela sustentabilidade tanto de ordem financeira, como de

capital humano e, por último, o desafio da colaboração, tanto com o Estado, quanto

com o setor empresarial. Pereira (2006) constata que:

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O Terceiro setor não é, publico e nem privado, ele congrega uma legião de entidades que desempenham papel complementar às ações do Estado na esfera social. O grande problema disso reside, na administração dessas organizações, já que, como elas não buscam lucros convencionais e dependem de doações, precisam determinar sua exata missão e atuação, de maneira a não despender esforços nem capital que não produzam o retorno correspondente. (PEREIRA, 2006; p. 44).

Mesmo não sendo uma instituição nem pública e nem privada, Alves Jr (2010)

comenta que o Terceiro Setor vem adquirindo crescente importância econômica,

devido a três fatores principais, o primeiro deles, a sua expansão, com geração de

novos empregos; o segundo, a sua importância política, diante da crise de

representatividade dos partidos políticos; e por último, principalmente, a ampliação

do seu papel social, assumindo crescentes responsabilidades no atendimento das

demandas por serviços públicos, notadamente nas áreas de educação, saúde e

meio ambiente.

Portanto, entende-se que o pressuposto básico levantado por Alves Jr (2010)

para uma ação empreendedora social é que as pessoas que trabalham no terceiro

setor possam incentivar as pessoas da comunidade a participar das atividades

sociais, políticas, econômicas que afetam o seu desenvolvimento e sua qualidade de

vida, assim como o fortalecimento institucional da comunidade, no entanto, para dar

contribuição a um campo de conhecimento do Terceiro Setor, especificamente nos

empreendimentos sociais, diversas organizações nasceram do compromisso

assumido por lideranças engajadas nas comunidades chamada de uma fase de

iniciativa, caracterizada por uma clareza da sua missão, visão e valores da

organização, assim denominam-se as ONGs – Organização não Governamental de

diversos fins.

As ONGs são elementos centrais do Terceiro Setor, caracterizando-se

pelos mesmos traços que constroem sua definição mais usual: a utilização de

recursos privados para fins públicos.

2.2 O papel das ONGs na sociedade.

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As Organizações Não Governamentais (ONGs) foram definidas pela

Organização das Nações Unidas (ONU) em 1946, para designar entidades não

oficiais que recebiam ajuda financeira de órgãos públicos para executar projetos de

interesse social voltados ao desenvolvimento da comunidade.

Entretanto, buscando um histórico do significado do papel e a ação que

exerce essas organizações, Prado (2007) ressalta a função das ONGs na

sociedade, fazendo uma reflexão sobre as mesmas e sobre sua atuação o que nos

leva a retomar, embora em seus aspectos gerais, a história da assistência social. No

Brasil, situando o início da assistência no período colonial, dentro das características

dessa fase da história, a assistência tinha como principais agentes, entidades e

pessoas mobilizadas por princípios religiosos que, de alguma forma, escamoteavam

interesses econômicos, sociais, políticos e ideológicos.

A assistência no Brasil na prática era exercida como um monopólio de

paróquias e irmandades ou confrarias, cujos membros eram cristãos generosos

orientados por uma espiritualidade que tinha como eixo condutor o exercício da

caridade cristã. Com o apoio da igreja e dos monarcas, as confrarias se ampliavam

na atuação no cuidado de asilos, albergues e etc. até o emergir do sistema

capitalista, somente se aceitavam explicações de fundo religioso para as questões

sociais. (PRADO, 2007).

Nessa linha de pensar e de viver, uma lógica de desigualdade social permeia

a realidade brasileira desde a colonização, e deixa marcas nas formas de ser, sentir,

pensar e agir do povo brasileiro, decorrente daí uma cultura de favores que

considera o pobre como impotente e incapaz, à medida que interpreta a pobreza

como natural e não histórica. A revolução de 1930 deu origem a um processo

político, cujo líder, Getúlio Vargas, procurou manipular as massas e criou bases de

legislação trabalhista, vendo a pobreza como questão social e apresentando o

Estado como pai dos pobres. (PRADO, 2007).

Trabalhos filantrópicos heterogêneos, desenvolvidos por entidades privadas,

começaram a ser normatizadas pelo Estado, numa linha de regulamentação da

relação entre capital e trabalho. Atualmente, a desigualdade permanece

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acompanhada da corrupção, em muitos aspectos a filantropia mostra ainda uma

fisionomia fetichizada de bondade aparente. Orientações religiosas de diferentes

conteúdos doutrinários têm servido de base para a fundação de ONGs. (PRADO,

2007).

As ONGs são um novo mecanismo para estabelecer a relação entre sociedade, Estado e mercado. Elas não são novas, mas no contexto brasileiro e latino-americano de democratização, elas reaparecem com um novo vigor, não só na área do atendimento, mas também pela perspectiva de defesa e conquista de direitos. No inicio dos anos 90, acreditava-se que as ONGs tinham mais agilidade e legitimidade do que o Governo para atender a demanda da população em situação de vulnerabilidade e até mesmo as questões ecológicas. (PRADO, 2007; p. 36).

A relação entre o Estado e as ONGs, no plano da administração pública,

remete necessariamente ao princípio, ao planejamento e à execução da gestão das

políticas sociais públicas, refere-se, aqui, ao campo específico das ações das “ONGs

cidadãs”, não das ONGs assistencialistas ou desenvolvimentistas. Um elemento

característico das esferas públicas instituintes tem sido identificado nas ONGs.

(LOPES, 2004).

Assim, as atividades e a população direcionada das ONGs são referidas por

Lopes (2004) dessa maneira:

As ONGs realizam atividades mínimas de manutenção, recorrentes a um modelo de atuação com a pobreza reproduzido desde os programas estatais. Assim, mais de 50% dos usuários atendidos nas ONGs estão na faixa de renda familiar de menos de um salário mínimo, enquanto os demais recebem de 1 a 6 salários mínimos. Aqui, surge uma hipótese interessante: a proximidade das faixas de renda dos usuários atendidos, abaixo e acima de um salário mínimo, pode significar que as organizações direcionam suas atividades predominantemente para os sujeitos que estão abaixo da linha da pobreza, mas também para aqueles que vivenciam o processo de empobrecimento ou precarização das condições de via. (LOPES, 2004; p.61).

Sobre os critérios de atendimento ele ainda completa:

Os critérios para separar tais usuários por classes distintas estão sendo definidos pelos serviços ou atendimentos prestados aos mesmos pelas ONGs. Se a hipótese for verdadeira, os tipos de serviços ou atendimentos devem ser semelhantes, conforme as classes de renda se aproximem, frente a essa linha de corte (os extremos das faixas de renda atendidas). Caso se confirme tal hipótese, pode-se supor que as organizações estão se

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tornando a porta de entrada dos sujeitos que empobrecem aos serviços e bens públicos de manutenção de suas necessidades básicas, o que abre oportunidade para uma série de questionamentos derivados. (LOPES, 2004; p. 62)

As atividades das ONGs cidadãs também se direcionam para a estruturação

de práticas de sociabilidade, mas com uma dimensão ideológica, ética e política

distinta. Já as ONGs assistencialistas e desenvolvimentistas

[...] realizam uma variedade de ações profissionalizantes tradicionais e artesanais ou manuais, mas poucas delas proporcionam geração de recursos financeiros aos usuários; regularmente, estes não participam da gestão das ONGs ou, quando o fazem, estão limitados a um dos procedimentos, como planejamento, execução, acompanhamento ou avaliação de atividades; os trabalhos geralmente reproduzem estruturas diferenciadoras das relações sociais de gênero; a divulgação das ações das ONGs é realizada de forma restrita, direcionada a seus próprios usuários e participantes; a maioria das ONGs avalia seus trabalhos com reuniões; nenhuma organização pretende manter a sociedade do jeito que está, propondo idealizações de melhoria, porém justificadas pelas restrições que as próprias enfrentam na efetivação de suas atividades. (LOPES, 2004; p. 61).

Tenório (1997) nos diz que essas organizações compõem-se de pessoas que

estimulam a rediscussão do papel do Estado, numa perspectiva que inclua a

participação cidadã no processo de democratização, direcionando o foco do

desenvolvimento centrado no Estado e no mercado, são protagonistas que tem

clareza de seu papel dentro da organização e na sociedade e de sua

responsabilidade social.

Não ressaltamos aqui que as ONGs ocupem um espaço para justificar a

omissão do Estado, mas que sejam instrumentos de fortalecimento da democracia.

Landim (1993) estuda sobre o papel das ONGs e retrata que elas surgiram com os

movimentos sociais, mas retoma também outro caminho que é afirmar que as ONGs

existem desde que existem instituições de assistência, sugerindo que a história e a

formação desse campo das ONGs reúne atores, instituições e trajetórias individuais

bastante diversos e reforçando a ideia de que, dependendo do recorte adotado, os

resultados produzidos são distintos.

Gonh (1995) estabelece tipologias das categorias dessas associações e

entidades filantrópicas

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ONGs caritativas: aquelas voltadas para a assistência às áreas

específicas, como menor, mulher e idosos.

ONGs desenvolvimentistas: aquelas que surgiram e cresceram a partir

de propostas de intervenção no meio ambiente.

ONGs cidadãs: aquelas voltadas para reivindicação dos direitos da

cidadania, que atuam tanto espaço urbano, quanto no campo popular e

que constroem rede de solidariedade.

ONGs ambientalistas: são as chamadas ONGs ecológicas, que

possuem mais visibilidade junto à opinião pública.

Dentre esses perfis de ONGs, iremos destacar uma ONG com o perfil cidadã

que atua no grande Bom Jardim, chamada Movimento de Saúde Mental Comunitária

do Bom Jardim.

2.3 Histórico do MSMCBJ5 “Uma ONG com perfil cidadã”

Em 1996 foi fundado o Movimento de Saúde Mental e Comunitária do Bom

Jardim, como parte da caminhada dos missionários combonianos que, em conjunto

com religiosos e leigos, assumiram os trabalhos da Igreja Católica na região, com

um estilo de presença e prática libertadoras, a fim de favorecer a organização dos

pobres, vistos como verdadeiros sujeitos da evangelização e da história. Nasceu

assim a Área Pastoral do Bom Jardim, um conjunto de Comunidades Eclesiais de

Base (CEBs) interligadas em uma caminhada comum.

Bom Jardim é uma região de Fortaleza localizada na área da Secretaria

Executiva Regional V, onde, segundo estimativas, moram cerca de mais de 200 mil

habitantes.

QUADRO 1 – BAIRROS QUE COMPÕEM O GRANDE BOM JARDIM

Bairros

Área

População

5 Disponível em: http://www.msmcbj.org.br/ Acesso dia 09/11/2013 as 08:00.

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BOM JARDIM

2,53km²

37.758 habitantes

CANINDEZINHO

3,38km²

41.202 habitantes

GRANJA LISBOA

6, 19 Km²

52.042 habitantes

GRANJA PORTUGUAL

3,62km²

39.651 habitantes

SIQUEIRA

2,98km²

33.628 habitantes

FONTE: http://www.fortaleza.ce.gov.br/regionais/regional-V

QUADRO 2: MAPA DO GRANDE BOM JARDIM

RANDE BOM JARDIM

FONTE : http://www.ipece.ce.gov.br/publicacoes

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No imaginário de muitos, o grande Bom Jardim é apenas mais um bairro da

periferia da cidade, cheio de miséria, desemprego, marginalização e violência.

Poucos têm conhecimento do nível de organização social existente na região que

reúne mais de uma dezena de comunidades e bairros, campo fértil de associações

comunitárias e organizações não governamentais.

Na época do surgimento da pastoral iniciou-se um trabalho para criação de

espaços de escuta e de acompanhamento terapêutico para famílias em situação de

risco, as quais viviam em estado de extrema pobreza. Marcadas pela marginalização

social, conviviam com a falta de recursos básicos, com um baixo desenvolvimento

escolar, desemprego, falta de perspectivas e baixa estima. No geral, as pessoas não

se sentiam motivadas para a solução de seus problemas. Esta foi à base sobre a

qual se organizou um grupo de voluntários, composto por lideranças das

Comunidades Eclesiais de Base (CEBs).

O primeiro passo foi preparar profissionais para o atendimento à comunidade

e, em parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC), o objetivo da ONG era

de então favorecer o desenvolvimento, o aumento da consciência de si, o

reconhecimento das potencialidades e da dignidade de cada um (a), tornando-os

capazes de enfrentar as problemáticas advindas da situação de exclusão em que

viviam. Assim, acreditava-se que aconteceriam mudanças positivas para todos, de

maneira que cada um se tornasse agente de transformação das causas que

produzem a miséria.

A missão do Movimento de Saúde Mental Comunitária do Bom Jardim é de

acolher o ser humano, respeitando suas dimensões bio-pisco-sócio-espiritual,

promovendo o desenvolvimento dos seus potenciais, através do resgate dos valores

humanos e culturais, no sentido de favorecer a qualidade das relações pessoais,

interpessoais e comunitária para a promoção do dom da vida.

Passados mais de quinze anos, desde a sua fundação muitas são as

atividades desenvolvidas pelo Movimento no campo terapêutico: grupos de Terapia

Comunitária; grupos de autoajuda para o resgate da Autoestima; atendimentos de

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Massoterapia; atendimentos psicológicos individuais; acompanhamento de crianças

e adolescentes através dos projetos Sim à Vida; resgate da cultura indígena através

da realização das diversas ações do Movimento na Aldeia Pitaguary com o

projeto ÎandéMeméMaranongara; cursos de formação profissional na Casa de

Aprendizagem Ezequiel Ramin; oficinas da arte-terapia no ponto de Cultura Casa

AME (Arte, Música e Espetáculo) Dom Franco Masserdotti; ponto de leitura com a

Biblioteca Comunitária; trabalho terapêutico e protagonista com as artes cênicas do

Grupo Semearte; formação no Centro de Aprendizagem do Bom Jardim (CABJ);

resgate da relação do ser humano com a natureza, através da Horta Comunitária e

da construção de fornos solares.

O movimento tem em sua raiz alguns valores e crenças que serão aqui

citados:

Acolhem e aceitam as pessoas independentes de sua condição social, raça,

religião, sexo e idade;

Estimulam a qualidade das relações pessoais, grupais, comunitárias, sociais e

ecológicas;

Acreditam na diversidade das raízes culturais como princípio de fortalecimento da

identidade para libertação e desenvolvimento do ser;

Participam do processo de desenvolvimento dos potenciais humanos numa visão

de autonomia e corresponsabilidade para construção do projeto de vida;

Valorizam e reconhecem os talentos, estimulando as relações com transparência

e afetividade como oportunidade de crescimento pessoal e profissional;

Acreditam numa relação de trabalho que estimule a superação dos conflitos,

como uma forma de amadurecimento e crescimento;

A ONG possui alguns reconhecimentos importantes em sua caminhada. O

Movimento de Saúde Mental Comunitária do Bom Jardim (MSMCBJ) recebeu no dia

17 de dezembro de 2009 o Prêmio Gentileza Urbana 2009, concedido pelo Instituto

de Arquitetos do Brasil (IAB) – Departamento do Ceará, a solenidade de premiação

aconteceu nos jardins do Passeio Público no Centro da cidade.O projeto

homenageado foi o “Cante, Dance, Pinte o Sete” realizado pelo MSMCBJ sempre no

mês de setembro, nas comemorações da Semana da Pátria. O prêmio reconhece

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ações de moradores da cidade, instituições sociais e empresas que contribuem para

a melhoria da qualidade de vida em nosso Estado.

O Movimento foi também um dos finalistas do “Prêmio da Fundação Banco

do Brasil de Tecnologia Social” Edição 2009 com a “Abordagem Sistêmica

Comunitária” e recebeu em Brasília o certificado de Tecnologia Social onde consta:

Certificamos que Abordagem Sistêmica Comunitária, implementado pelo

Movimento de Saúde Mental Comunitária do Bom Jardim, é uma Tecnologia Social

efetiva: soluciona o problema a que se propôs resolver, tem resultados comprovados

e é reaplicável. Essa tecnologia passa a fazer parte do Banco de Tecnologias

Sociais, localizado no site “www.fundacaobancodobrasil.org.br”

No dia 18 de maio de 2010, o presidente do MSMCBJ, padre Rino Bonvini,

recebeu a medalha “Boticário Ferreira”. A honraria é concedida pela Câmara

Municipal de Fortaleza a personalidades públicas que prestaram serviços relevantes

e que se destacam pelo trabalho social em prol do coletivo da capital cearense. Já

no mês de julho, o referido presidente foi homenageado com a “Comenda Benfeitor

da Criança da Cidade”. A comenda é um reconhecimento da Prefeitura de Fortaleza

ao esforço de personalidades na busca por melhorias na política voltada para as

crianças e adolescentes da capital. O prêmio foi formalizado em 11 de 1994, através

da lei municipal nº. 7627.

A ONG tem participação em fóruns e redes como a articulação Nacional de

Educação Popular em Saúde que tem como referência a educação popular, no

sentido de problematizar as práticas educativas no campo da saúde, incorporando o

jeito popular de educar através da capacidade de escuta, diálogo, humanização e

construção coletiva do conhecimento. No Ceará, mais de 100 entidades,

movimentos, grupos e práticas integram a ANEPS. Em Fortaleza, o MSMCBJ integra

a Articulação, juntamente com outras associações.

O MSMCBJ participa do núcleo de abordagem de rua, colaborando nas

discussões e implementação das ações, possibilitando as crianças e adolescentes

em situação de rua, (re)construir seu projeto de vida. Participa do fórum no eixo de

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prevenção, colaborando com as discussões e elaboração de políticas. Além do

Movimento, o Fórum é composto pelas seguintes entidades: Fundo das Nações

Unidas para a Infância (UNICEF/CE), Sociedade da Redenção, Secretaria de

Turismo de Fortaleza (SETFOR), Projeto Sentinela Quixadá, Projeto Sentinela de

Horizonte, Projeto Convivendo e Aprendendo, Pastoral do Menor da Arquidiocese de

Fortaleza/Regional, Okara (Maranguape), Núcleo de Enfrentamento à Violência

contra Crianças e Adolescentes, Núcleo Cearense de Estudos e Pesquisas sobre a

Criança (NUCEPEC/UFC) e etc., e estabelece também algumas parcerias com

outras instituições, tais como, o Espaço Renascer, o Colégio Santa Cecília e o

Fórum Clóvis Beviláqua e com a Prefeitura de Fortaleza através do CAPS do Bom

Jardim onde o movimento coordena o trabalho do centro em regime de cogestão.

O Movimento também contribui com

Curso de Verão Terra do Sol: um curso de formação para lideranças

das Comunidades Eclesiais de Base do Nordeste. Nele, colabora

prestando assessoria, cedendo monitores/as para oficina de

autoestima e pessoal para equipes de apoio.

Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST): Movimento

nacional de luta pela Reforma Agrária e garantia da permanência das

famílias de pequenos agricultores no campo, organizado em todo o

país. O MSMCBJ colabora com assessoria na área de cuidar do/a

cuidador/a e no acompanhamento psiquiátrico para militantes.

Universidade sem Fronteiras: A universidade tem o objetivo de

colaborar no desenvolvimento de políticas públicas para os idosos e

realiza diversos cursos para pessoas da terceira idade.

Além dos citados, contribui com muitos outros cursos e projetos que

beneficiam a comunidade no seu crescimento profissional, educacional e cidadão.

Conforme Landim (1993) ser ONG, em um contexto de fronteiras ambíguas, define

inclusão e exclusões, e as possibilidades a que essa categoria se presta, e quanto a

sua identidade de grupos envolvidos, entende-se aqui como um momento propenso

a observação e análise de cada projeto participante. Dessa forma, ao analisar cada

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projeto dentro da ONG MSMCBJ, foi decidido focar essa pesquisa em um dos

cursos profissionalizantes oferecidos aos jovens pelo movimento na construção de

uma cidadania plena através da educação e incentivo desses cursos aos jovens da

periferia do grande Bom Jardim.

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3. PERCURSO DA PESQUISA E ANÁLISE DE DADOS.

Antes de focar na análise de dados da pesquisa iremos aqui ressaltar o

percurso dela em todos os seus aspectos.

3.1 Percurso da Pesquisa.

As ONGs complementam as iniciativas do Estado, que por falta de condições

técnicas e operacionais não desempenham de modo eficiente seu papel no âmbito

social. Como toda organização, tem sua cultura própria que a diferencia das demais

organizações. A ONG onde foi realizada a pesquisa é uma associação de

assistência social, com utilidade pública municipal sem fins econômicos e lucrativos

chamada, Movimento de Saúde Mental Comunitária do Grande Bom Jardim.

A presente pesquisa visou compreender a percepção dos jovens atendidos na

instituição sobre o conceito de cidadania e o exercício da mesma pela organização.

A pesquisa realizada foi de abordagem qualitativa e exploratória. Segundo Minayo

(1994) a pesquisa qualitativa trabalha com universo de significados, aspirações,

atitudes, crenças, motivos, valores, o que corresponde a um espaço mais profundo

das relações, dos processos e dos fenômenos que não se reduzem à

operacionalização de variáveis. Para Gil (2002) a pesquisa exploratória objetiva o

aprimoramento de ideias ou descoberta de intuições, é de planejamento flexível,

pois considera os variados aspectos relativos ao fato estudado.

Foram entrevistados, além dos jovens selecionados, a Coordenadora da ONG

e um monitor do projeto. Inicialmente foram apresentados os objetivos da pesquisa e

foi assegurado aos mesmos que as informações seriam utilizadas com objetivos

acadêmicos. Explicou-se aos mesmos que o anonimato será mantido, e que não

haverá ocorrência de danos ou prejuízos com a participação da pesquisa. A ONG

receberá a devolutiva dos resultados por meio da entrega de uma cópia da

monografia.

Foi aplicado um roteiro de entrevista semi-estruturada, segundo os objetivos

do trabalho realizado na própria instituição. A entrevista semi-estrutural, conforme

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Triviños (1987), contém perguntas básicas, baseadas em teorias e hipóteses

relacionadas à pesquisa, o que fornece uma ampla interrogativa, que surgem devido

às respostas do colaborador que, dessa forma tendo experiência dentro do foco da

pesquisa, começa a participar da elaboração do conteúdo.

Com a autorização do responsável pela ONG, as entrevistas foram marcadas

antecipadamente, conforme disponibilidade de cada um, sendo realizadas nos

meses de Novembro e Dezembro de 2013 na própria organização. Primeiro foi

elaborado um questionário de perguntas fechadas para os entrevistados

responderem, logo após foram realizadas entrevistas individuais orais com duração

de 20 minutos cada, gravada com autorização das mesmas e posteriormente

transcritas. Os dados foram verificados pela análise do conteúdo de fala, seguindo

etapa de pré-análise, categorização, agrupamento e classificação e análise

inferencial. (MINAYO, 2004).

Segundo afirma Minayo (2004) no seu estudo sobre as fases da pesquisa, a

pré-análise é a fase em que se escolhe o material, ou, documentos que serão

analisados, momento no qual se retomam as hipóteses e os objetivos, modificando-

os de acordo com o material coletado, essa fase decompõem-se em leitura flutuante.

A segunda fase afirma ser a exploração de material, que consiste na codificação do

material, trabalha-se com o conteúdo que foi estabelecido na pré-análise. A última

fase é o tratamento dos resultados obtidos e interpretação onde os resultados são

processados por meio de análise inferencial. As categorias são as relativas às

variáveis estudadas que foram definidas a priori como: Terceiro Setor, Juventude e

Cidadania.

O perfil dos jovens e crianças atendidos pela instituição tem uma variação

conforme cada projeto.

QUADRO 3 – PROJETOS DA INSTITUIÇÃO E O PERFIL DOS JOVENS

ATENDIDOS.

Projeto Sim à Vida, Não

às Drogas. Projeto Jovem Aprendiz

Projeto Clube da

Oportunidade

100 Crianças

Adolescentes de 7 a 14

35 Jovens de 16 a 18

anos de idade

36 Jovens entre 18 e 21

anos de idade.

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anos

O ponto de partida para a realização desse tópico foi a definição de alguns

princípios básicos e o foco que norteou o rumo das estratégias adotadas para as

entrevistas com os jovens da ONG e para a análise realizada de alguns

questionamentos sobre cidadania.

No entanto, nosso foco de pesquisa centraliza-se nos jovens atendidos pelo

projeto Clube de Oportunidades que estão em busca do mercado de trabalho e

exercendo seus princípios de cidadania na comunidade. O objetivo principal desse

projeto é promover o desenvolvimento social e econômico das comunidades

atendidas, reduzindo a exclusão social e digital, criando oportunidades aos

cidadãos. Os jovens são estimulados a desenvolver seu protagonismo de forma que

possam atuar de modo cooperativo para transformação da comunidade onde estão

inseridos e para atuação profissional futura. Durante os cursos de profissionalização,

eles/as discutem os problemas sociais que vivenciam em suas comunidades, de

forma criativa e crítica. O objetivo é a participação de forma livre e responsável.

Para ser feita a inserção no projeto é elaborado um diagnóstico para obter

informações sobre o jovem interessado e sua família. Através de um formulário de

inscrição é feita a entrevista para coleta de dados. Neste formulário estão contidas

informações com dados pessoais do jovem e da família. Quando o jovem procura a

entidade para fazer parte do grupo, no primeiro momento é realizado um

acolhimento do jovem e a da sua família ou responsável. O jovem passa a conhecer

sua equipe e atividade a ser realizada.

Antes de focar na análise dos dados obtidos é importante falar um pouco

sobre o que é ser jovem na contemporaneidade, qual o sentido da Juventude hoje.

O conceito de juventude não é algo que já está definido, mas passível de

vários conceitos, frutos de uma representação histórica e específica dessa

população. Diferentemente do significado de adolescência, que tem sido delimitada

pela faixa etária de acordo como o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Lei

nº8069/90) como o período compreendido de 12 a 18 anos incompletos, no caso da

juventude ela refere-se a um período que não é necessariamente delimitado

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somente pela idade, mas também por outros fatores que estão relacionados às

intensas transformações psicológicas, biológicas, culturais e sociais que variam de

acordo as diversas classes sociais, culturas, épocas, etnias, gênero, dentre outros

fatores (UNESCO, 2004).

Segundo Quiroga (2005), a juventude trata de uma complexa condição social,

que influencia e é influenciada por diferentes culturas, que possui uma condição

dinâmica e mutável ao longo do tempo, variando de acordo com as transformações

da sociedade, Não podemos, portanto, falar de uma juventude universal, pois a

mesma não consiste em um fenômeno que está posto em qualquer lugar e tempo.

É valido salientar aqui que a juventude traz consigo diversas preocupações e

responsabilidades, pois é quando se faz a transição para a vida adulta onde

entramos na questão da independência pessoal e financeira, na busca incessante

desses jovens de terem uma determinada autonomia. Daí surge a busca pelo

ingresso no mercado de trabalho que na contemporaneidade continua com as

mesmas dificuldades, quando nos referimos a oportunidade de garantir o primeiro

emprego desses jovens. Porém Souza afirma que:

O ingresso no mercado de trabalho não necessariamente se constitui como único fator implicado na transição da juventude para a vida adulta. Este processo de transição consiste em fenômeno complexo e multicausal que se dinamiza a cada sociedade e a cada contexto histórico. No contexto atual, com a consolidação do modo de produção capitalista, um dos principais elementos – ou o principal – dessa complexidade é a classe social na qual o jovem está inserido. Seja considerando os aspectos de construção de um novo núcleo familiar ou de limites e possibilidades de inserção tardia na lógica de mercado, a desigualdade na distribuição dos recursos apresenta-se como fator determinante para as diferentes experiências de moratória social vivida pelos jovens. (SOUZA & PAIVA, 2012).

Diante disso, podemos perceber a grande importância que um curso

profissionalizante direcionado para a inserção desses jovens no mercado de trabalho

possui na vida deles, é possível perceber que os jovens participantes do projeto

Clube da Oportunidade reconhecem a importância do projeto e se sentem

gratificados por ter a oportunidade de receber essa qualificação gratuitamente, como

veremos mais adiante na análise dos dados

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3.2 Apresentação e discussão dos resultados das análises dos dados.

No presente ponto apresenta-se a caracterização dos participantes, o relato

dos mesmos em relação às categorias, assim como a discussão fundamentada nos

resultados apresentada a partir da análise das informações obtidas.

Os participantes tem faixa etária entre 16 aos 19 anos no total de 05 pessoas

escolhidas que serão tratadas por pseudônimos caracterizados por letras A, B, C, D,

E, um monitor do sexo masculino e a Coordenadora dos cursos oferecidos na

instituição.

Parte-se da premissa de que para apreender a juventude implica entender

que a vivência juvenil tem um sentido em si mesma, não sendo somente uma

passagem para a vida adulta, sendo preciso considerar o sentido da diversidade e

das múltiplas possibilidades de como esta condição é ou pode ser vivida.

Em uma primeira análise, os dados coletados a seguir são sobre a

importância que a ONG MSMCBJ trouxe para a vida desses jovens e o que ela

representa. Ela representa simplesmente novas oportunidades de crescimento para

minha vida profissional através da experiência e das aulas. (D, 19 anos). Participar

da ONG é muito bom, porque aqui aprendemos a ter a mente mais aberta para as

coisas boas que a vida tem a nos oferecer. (E, 18 anos).

Representa motivação, a ONG representa uma participação minha na

comunidade, é uma forma de mostrar que eu posso estar me ajudando,

ajudando a minha família e podendo também ajudar a ONG fazendo

trabalhos voluntários mudar a minha vida pessoal e minha vida profissional

também. (A, 19 anos).

Ahh... A ONG é muito importante pra mim, porque hoje eu sei de várias

coisas porque a ONG me proporcionou isso, por exemplo, agora eu me

sinto mais preparado para entrar no mercado de trabalho, essas coisas.

Eles aqui falam muito sobre drogas também pra prevenir e é isso. (B, 16

anos).

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A ONG representa uma oportunidade de conhecer coisas novas, o curso é

gratuito, né? Estar na ONG é importante porque aqui nós debatemos várias

ideias, quer dizer, assuntos diferentes inclusive com relação às drogas que

é muito prejudicial, também passamos a ter um pensamento ambiental que

é a questão da preservação no nosso meio ambiente. (C, 16 anos).

Oliveira (2009) ressalta que deparamo-nos, cada vez com maior frequência,

com o crescimento expressivo do capitalismo acentuando, ainda mais, o quadro da

desigualdade social, produzindo efeitos sociais perversos nos indivíduos,

estabelecendo a contradição entre as tendências da atualidade e a realidade da

população que, em sua maioria, não consegue acompanhar essas mudanças, as

quais têm reflexos diretos na concentração de renda, atingindo famílias e

principalmente a juventude que, são excluídas desse processo.

Nesse cenário, os projetos para a juventude dentro de ONGs que envolvem

trabalho, educação, saúde, cultura, lazer, esportes, direitos, participação, segurança,

etc., são perspectivas de vida para os jovens que, no dia a dia, estão excluídos

desses benefícios. Quando perguntamos o que eles esperavam ao término do

curso, nos deparamos com o quesito de alguns pontos destacados anteriormente.

Eu espero estar trabalhando e ajudando a minha família. (B, 16 anos). Espero ser

uma cidadã melhor, cuidando bem do local onde eu moro, sempre ajudando ao

próximo e claro com um emprego garantido que é o objetivo do curso. (C, 16 anos).

Eu espero claro ter uma qualificação profissional e poder levar todo o

aprendizado que eu tive pra minha vida profissional e pessoal e mostrar que

eu posso fazer a diferença seja no meu trabalho ou na minha vida. (A, 19

anos).

Sair uma pessoa melhor, mais humana e consciente do meu papel

enquanto cidadã na sociedade, tendo a certeza que tenho meus direitos,

mas também deveres para com o meu bairro e a minha cidade, e

principalmente de continuar no mercado de trabalho já que esse é o intuito

do curso, o de nos preparar para sermos cidadãos de bem e dando dicas de

como devemos nos comportar em uma entrevista e no ambiente de

trabalho. (D, 19 anos).

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Espero ter realmente a oportunidade de conseguir meu primeiro emprego,

até porque já vou sair daqui preparada para isso, nossas aulas são todas

voltadas para a capacitação profissional, e o aprendizado que tenho aqui é

algo que vou levar pra vida toda. (E, 18 anos).

Veremos a seguir na fala de um dos monitores do projeto MSMCBJ sobre

esse processo dentro da ONG para os jovens.

Nem todo curso profissionalizante vai ceder um espaço e oferecer um curso

gratuito, a oportunidade de disponibilizar os equipamentos e tudo como

dentro da ONG. Eu também comecei assim fiz um curso gratuito em uma

ONG. Aí é questão, assim, de cada um se interessar, né? Então eu me

interessei fiz outros cursos fora. O incentivo é esse, não é porque é de

graça que nós não vamos aproveitar não, temos que aproveitar as

oportunidades quem sabe se um dia eles não vão está aqui como

monitores? (Josué Barlow, Monitor).

Os projetos organizados e mantidos por essa entidade do Terceiro Setor que

funciona com subvenção governamental, municipal e do setor privado são

executados com a intenção de fomentar desenvolvimento pessoal e social dos

adolescentes e jovens que frequentam e participam das atividades.

O MSMCBJ trabalha a partir da Abordagem Sistêmica Comunitária (ASC),

uma tecnologia socioterapêutica de múltiplo impacto, é desenvolvida há 17

anos pelo Movimento de Saúde Mental Comunitária (MSMC), com raízes na

abordagem sistêmica familiar, aplicadas e adaptadas ao âmbito de um

conjunto de comunidades com o consequente fortalecimento de laços

afetivos e sociais, gerando um fenômeno de autopoiese comunitária capaz

de enfrentar várias situações problemáticas, oferecendo caminhos de cura e

facilitando a evolução de cada pessoa envolvida. Isso possibilita a

reintegração do indivíduo à comunidade, numa atitude de transformação e

crescimento. (Nádia Franco, Coordenadora dos cursos profissionalizantes

do MSMCBJ).

Ainda que os jovens de hoje tenham maiores e melhores oportunidades do

que as gerações passadas, Madden e Santos (2012) afirmam existir largas parcelas

de pessoas dessa faixa etária em diversas nações que passam fome, têm poucas

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oportunidades educacionais, pouco acesso aos serviços de saúde e apresentam

altas taxas de desemprego.

Torna-se, portanto, tarefa das mais difíceis estabelecer limites analíticos

claros e permanentes com respeito à juventude. Mais ainda, qualquer classificação

que se faça não é igualmente válida sequer para os diversos grupos sociais

presentes em cada país. Ou seja, não se pode tratar de juventude como um conceito

homogêneo.

Na vida da comunidade em geral eu acho que a questão da acessibilidade

em relação a cursos profissionalizantes é enorme, também pelo fato de ser

gratuito e de qualidade o jovem aprendiz é como exemplo para muitos, são

várias pessoas para tantas vagas diferentes, né? E vemos que eles

aproveitam porque sabem que é uma oportunidade única, nós queríamos

muito que todos os jovens da comunidade fizessem, mas por conta das

vagas a gente tem que fazer uma seleção e é tanto que os que não

passaram na seleção do jovem aprendiz, foram alocados para o clube da

oportunidade então nós criamos outras oportunidades para esses jovens

não percam a esperança. (Josué Barlow, Monitor).

Caro e Guzzo afirmam que:

Além de esse educador (monitor) possuir habilidade e competências [para trabalhar com jovens], é imprescindível permitir a sua atualização e integração com o aspecto social e político da atualidade, além de um conhecimento específico de seu educando e apego a uma pedagogia definida de atuação. É concebido como um agente de ação social, como um animador da coletividade, como um profissional que, por meio de sua ação, promove o desenvolvimento e a orientação da comunidade. (CARO, GUZZO; 2004 p.65).

Os monitores da ONG passam por processo de capacitação mensal oferecido

pela própria instituição. As capacitações são informações que ajudam a equipe nas

atividades com jovens como orientações e palestras, muitas vezes trazidas por

convidados de fora da entidade. Quando se busca uma capacitação constante de

educadores que trabalham com a educação e outras áreas afins com jovens, há

possibilidade de que as ações profissionais nos projetos sociais sejam mais

qualificadas e efetivas para atender os jovens e a comunidade.

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As capacitações são riquíssimas, dentro da ONG a questão de trabalhar

com a sinceridade e seriedade é nítida, tem também a questão do não ao

preconceito. Sim, começa de cima porque o meu chefe é padre e eu sou

evangélico e eu não enfrento barreira enquanto a nenhum tipo de

preconceito, chega uma pessoa que é da umbanda, católico, espírita, preto,

branco, pobre e eles também atendem então é possível perceber que aqui

não há essa questão de preconceito de religioso, nem étnico, então isso é

muito difícil de encontrar, isso é um diferencial que eu vejo na ONG e é

ensinado na capacitação. (Josué Barlow, Monitor).

Tudo isso contribui para que a ONG exerça seu papel de cidadã na

comunidade. Carvalho (2002, p.7) afirma que “A cidadania, literalmente, caiu na

boca do povo. Mais ainda, ela substituiu o próprio povo na retórica política. Não se

diz mais "o povo quer isto ou aquilo", diz-se "a cidadania quer". Cidadania virou

gente”.

E quando perguntamos aos entrevistados qual o significado de cidadania,

nos sobreveio algumas reflexões da parte deles em responder. Cidadania é o meu

comportamento, as minhas atitudes, uma forma de agir e pensar de cada cidadão

para contribuir com a melhoria do meu bairro e cidade. (C, 16 anos).

Cidadania é algo muito amplo, mas na minha concepção cidadania é uma

forma de participação perante a comunidade para ajudar a ONG, para

ajudar o bairro onde eu moro, a cidade em que eu vivo, é uma forma de

educação é dentro da minha casa e fora dela eu posso fazer trabalhos

voluntários que vai ser uma participação social, ou seja, vai ser um trabalho

de cidadania ajudar, é uma forma de educar a comunidade e uma forma de

mostrar que nós fazemos a diferença que nós podemos mudar que cada um

tem que ajudar o outro isso é uma parte de cidadania. (A, 19 anos).

Para mim cidadania é uma forma de interagir com as outras pessoas,

respeitando o modo de ser de cada um, também é uma forma minha de

colaborar com a minha comunidade tendo atitudes que não cause nenhum

mal-estar. (B, 16 anos).

Bom para mim cidadania é fazer tudo conforme a lei da sociedade em que

vivemos, colaborando para que possamos viver em harmonia, sabendo lidar

com as nossas diferenças sem perder o respeito pelo próximo, me tornando

assim uma cidadã de bem. (D, 19 anos).

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Eu acho que é saber lidar com as pessoas, praticar boas ações pensando

não somente em mim, mas em todos que estão ao meu redor, respeitando

as diferenças de todo mundo, porque nós não somos iguais e praticando

sempre o bem, trabalhando em prol do meu bairro, participando de ações

sociais essas coisas. (E, 18 anos).

Em relação à cidadania, Carvalho (2002) diz que foi ela que permitiu às

pessoas tomarem conhecimento de seus direitos e se organizarem para lutar por

eles. A ausência de uma população educada tem sido sempre um dos principais

obstáculos à construção da cidadania civil e política.

Pegamo-nos em outro questionamento sobre a ONG. Para alcançar nosso

objetivo principal foi introduzida a seguinte pergunta aos entrevistados: Como a

cidadania era exercida pela ONG? Aqui no movimento nós debatemos muitas

coisas, e os professores nos ajudam muito trazendo filmes que abordam a temática

de cada módulo, porque aqui nós estudamos por módulo e tudo isso é ligado à

cidadania. (c, 16 anos). Através dos nossos professores, durante as aulas. (B, 16

anos).

Durante as nossas aulas os professores também abordam essa questão da

cidadania no nosso dia-a-dia, eles nos motivam a participar das ações

desenvolvidas pelo movimento como, por exemplo, o pintando o sete e

falando também do projeto “diga sim à vida e não as drogas. (D, 19 anos).

Os nossos professores eles sempre falam sobre cidadania, o que devemos

fazer para ser um cidadão de bem, como é que devemos nos comportar

para dar nossa contribuição junto à sociedade, falam sobre a questão das

drogas que é um mal da sociedade, além de passar que temos que ter a

consciência também com relação ao voto, que o negócio de votar é um

direito e que todos juntos podemos fazer a diferença na política do nosso

país. (E, 18 anos).

Cidadania está ligada a democracia e a participação social onde você tem

direitos e deveres que não é só uma obrigação, você tem que se sentir no

direito e no dever de agir como cidadão, então a cidadania fala muito sobre

isso, que ser cidadão não é só votar, porque hoje nós vemos uma eleição

como uma obrigação e não é só isso, porque nós fazemos a diferença e um

voto faz sim a diferença, então nós temos que pensar naquela pessoa que

vai governar por nós , que vai nos representar e a ONG mostra isso através

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de várias formas, da nossa participação social é onde por exemplo, tivemos

o Pintando o Sete, onde tivemos a oportunidade de “refazer” uma praça,

ajeitar ela, pintar, limpar , zelar por ela porque a praça não é só da ONG, ela

é da comunidade onde várias pessoas da comunidade que puderam

participar disso além de várias outras mobilizações , também através de

vídeos e filmes inclusive um filme muito bom que fala sobre a cidadania e

que pudemos assistir na ONG como o nome de lixo extraordinário que

define muito bem como se dá essa cidadania. (A, 19 anos).

Fizemos a mesma pergunta aos profissionais da ONG e obtivemos as

seguintes respostas na visão de cada um deles:

O Brasil é uma sociedade marcada pela dominação de classe e por

profunda desigualdade na distribuição da riqueza social, possibilitando a

violência estrutural que atinge grande parcela de crianças e adolescentes,

conduzindo-os a uma vida indigna em termos de alimentação, habitação e

escolarização. O grande Bom Jardim é um bairro estigmatizado pela

violência e pela falta de oportunidades. Os jovens moradores das periferias

são os mais atingidos pela violência e pela exclusão social. Podemos dizer

que o Movimento de Saúde Mental Comunitária através da Abordagem

Sistêmica Comunitária, traz a cidadania aos seus colaboradores e usuários

por meio da 'autopoiese comunitária', ou seja, quando a comunidade é

acolhida e escutada e são fornecidas as ferramentas e as oportunidades

necessárias, o tecido vivo da comunidade se autorregenera com uma nova

configuração existencial. Quando a pessoa é colocada como protagonista

do próprio desenvolvimento, encontra as respostas apropriadas às

demandas e necessidades que ela tem, orientada pelo princípio de auto

equilíbrio e de homeostase sistêmica. É uma questão de autoconfiança e de

autonomia que favorecem o desenvolvimento da autoestima e lançam o

sujeito para novas aventuras existenciais, a partir do autoconhecimento.

(Nádia Franco, Coordenadora) .

Envolvendo os jovens em atividades junto à comunidade, despertando neles

a consciência comunitária e corresponsabilidade social. Além da disciplina

de cidadania que também tem no curso Jovem Aprendiz, onde é discutido

de forma teórica a base do ser cidadão, além de atividades como o evento

Pinte o Sete, Bazar Solidário e participação no projeto Sim à Vida. (Josué

Barlow, Monitor)

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Ao analisarmos todas as falas e trazê-las para a realidade, observou-se que

a maioria das categorias investigadas pode contemplar a nossa pesquisa. Percebeu-

se como as práticas cidadãs dentro da ONG têm sido realmente incentivadas a

todos os jovens e aqueles que fazem parte da instituição a colocá-las em prática.

A cooperação entre os membros de ajuda mútua da instituição e dos jovens

tem sido apontada como aspecto que gera satisfação entre ambos. A pesquisa

reflete uma prática cidadã exercida pela ONG, no entanto seria importante fazer um

levantamento maior e uma pesquisa mais profunda com o objetivo de acompanhar

mais detalhadamente e comparar os resultados aqui pesquisados.

Para isso, Mota (2005) diz que é a formação para a cidadania que acaba

sendo baseada na condição de exercer os direitos e deveres, não focando na

participação política da realidade do país. Tudo isso é para que estes jovens passem

a ter esta postura mais crítica sobre os fatos ocorridos em seu cotidiano, fazendo-se

necessárias abordagens das temáticas em sala de aula sempre se aproximando da

realidade do aluno. Logo, pode-se concluir que estes devem ser considerados como

sujeitos sociais e políticos, que têm experiências para compartilhar, e

consequentemente um discurso próprio para ser debatido e analisado sobre a

cidadania.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa teve como objetivo compreender as práticas cidadãs

através da ONG MSMBCJ em suas ações cotidianas voltadas aos seus cursos

profissionalizantes para jovens do Grande Bom Jardim. Objetivou-se também a

identificação do grau de conhecimento dos jovens em relação à cidadania e a

investigação e análise dos fatores presentes dentro da instituição que colaboram

para o conhecimento dos jovens em relação ao tema pesquisado.

Os resultados da análise de dados apontam que a ONG tem demonstrado o

exercício pleno da cidadania no bairro com os jovens de forma bastante satisfatória.

Percebeu-se na entrevista que os jovens têm demonstrado satisfação em relação à

oportunidade que recebem da ONG com os cursos profissionalizantes para serem

inseridos no mercado de trabalho. Vale ressaltar que esses jovens vivem num bairro

de periferia e não têm muitas oportunidades de sair da margem da sociedade na

qual se encontram.

Nossa surpresa maior foi o fato de uma ONG de grande porte no bairro não

possuir uma Assistente Social no seu quadro de profissionais, pois sabe-se que esse

é um profissional propositivo e interventivo que tem como objeto a questão social

expressa de múltiplas formas e que o mesmo atua diretamente na efetivação dos

direitos sociais. Quando questionamos isso a coordenadora dos cursos

profissionalizantes nos informou que a ONG por ter parceria com o Centro de

Atenção Psicossocial (CAPS), quando necessário a intervenção de um Assistente

Social, encaminha os jovens ao CAPS para o devido atendimento. Observamos que

isso retrata a falta de recursos existentes, pois a maioria das instituições do Terceiro

Setor têm pouco incentivo do Estado e manter um profissional a mais acarreta

despesas. Por este motivo, utilizar o profissional de outra instituição foi a solução

encontrada para beneficiar os jovens e todos aqueles que necessitam na

comunidade.

A pesquisa reflete sobre a cidadania o papel que ela tem e a importância

dentro da ONG. Constatamos que todos trabalham para tornar jovens em cidadãos

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exemplares, mostrando os desafios e oportunidades, direitos e deveres de cada ser

humano na tentativa de exercer seu direito de cidadania plena.

Ousamos afirmar que a educação não pode ser algo que simplesmente

coloca alguns conteúdos que devem ser transmitidos de forma sistêmica e para isso

utilizamos Paulo Freire como exemplo de diálogo. Faz-se necessário rever uma

educação ligada à cidadania, se está sendo realmente democrática ou simplesmente

uma transferência de valores ideológicos que têm como fim a formação de

indivíduos apáticos, sem poder de crítica e de questionamento.

Dentro de toda esta problemática, nos perguntamos: qual o papel que a ONG

pode desenvolver no que diz respeito à formação dos jovens de forma crítica e

emancipatória através da cidadania? Assim, podemos afirmar que durante nosso

percurso da análise dos dados colhidos nos deparamos com respostas satisfatórias

que atingiram os objetivos de nossa pesquisa.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A

ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA

Prezado, Prezada: afirmo que as respostas dadas serão utilizadas

apenas para fins acadêmicos, sendo constituintes da monografia em

Serviço Social em processo. Garanto que sua identidade será preservada

por meio do anonimato, conforme os princípios éticos em pesquisa.

Entrevista para a Coordenação do MSMCBJ.

1- Quantas crianças e jovens participam do trabalho desenvolvido na ONG?

2- São quantos monitores? São trabalhos voluntários ou assalariados?

3- Qual o principal objetivo da ONG?

4- Quais são as atividades implementadas pela ONG?

5- Como vocês trabalham as práticas cidadãs na ONG?

6- Vocês trabalham essas questões com todos os envolvidos no projeto

(monitores, pais, adolescentes e crianças) ou apenas com os jovens?

7- Como é, para a ONG, trabalhar com esse público?

8- Que trabalho a ONG desenvolve no intuito de chamar os jovens à

participarem dos projetos ?

9- Existe ou existiu alguma situação em que algum jovem foi convidado a sair

do projeto?

10- Que tipo de ajuda a ONG recebe para a execução de suas atividades?

11- A ONG vem passando ou já passou por algum tipo de dificuldade? Qual?

12- De que forma você acredita que o Movimento de saúde mental colabora

para a construção cidadã dos indivíduos que fazem parte dela, diretamente e

indiretamente?

13- Você acredita que assuntos relacionados à cidadania são importantes de

serem discutidos em uma ONG como o Movimento de Saúde Mental? Por quê?

14 – A instituição possui Assistente Social? Por quê?

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APÊNDICE B

ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA

Prezado, Prezada: afirmo que as respostas dadas serão utilizadas

apenas para fins acadêmicos, sendo constituintes da monografia em

Serviço Social em processo. Garanto que sua identidade será preservada

por meio do anonimato, conforme os princípios éticos em pesquisa.

Entrevista para os monitores

1- Qual atividade você exerce aqui na ONG?

2- Você se considera um educador? Porque?

3- Com quantos jovens você atua?

4- O que levou você a participar da ONG?

5- Qual é o incentivo que você tem para realizar esse trabalho na ONG?

6- Você considera o trabalho do Movimento como importante?

7- Você já passou por algum tipo de problema com algum aluno atendido?

8- Você acredita que assuntos relacionados à cidadania são importantes de

serem discutidos em uma ONG como o MSMCBJ?

9- Qual a importância do Movimento na sua vida?

10- E na vida da comunidade de um modo geral?

11- Para você, a ONG é importante na construção da cidadania desses jovens

participantes?

12- Vocês tem alguma formação específica para ministrar aulas no movimento?

Possuem algum controle programático do curso?

13-Os professores possuem total autonomia diante do curso?

14- Possui alguma avaliação ao final, ou durante todo o curso?

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APÊNDICE C

ROTEIRO DO QUESTIONÁRIO

Prezado, Prezada: afirmo que as respostas dadas serão utilizadas

apenas para fins acadêmicos, sendo constituintes da monografia em

Serviço Social em processo. Garanto que sua identidade será preservada

por meio do anonimato, conforme os princípios éticos em pesquisa.

Questionário para os jovens do Movimento de Saúde Mental e

Comunitária do Bom Jardim.

1- Qual o seu nome?

___________________________________________________________

2- Qual a sua idade?

___________________________________________________________

3- Qual a faixa salarial de sua família?

( ) Menos de um salário mínimo

( ) Um salário mínimo

( ) Entre um e dois salários mínimos

( ) Mais de dois salários mínimos

4- Mora com pai e mãe?

( ) Sim

( ) Só com mãe ou só com pai

( ) Mora com avós

( ) Mora sozinho

( ) Mora com companheiro (a)

5- Em que bairro?

_____________________________________________________

6- Qual a profissão de sua mãe?

( ) Desempregada

( ) Dona de casa

( ) Serviços domésticos para fora (faxina)

( ) Servidora pública

( ) Trabalha no comércio 88

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( ) Trabalhadora informal

( ) Outros

7- Qual a profissão de seu pai?

( ) Desempregado

( ) Autônomo

( ) Assalariado

( ) Servidor público

( ) Trabalha no comércio

( ) Trabalhador informal

( ) Outros

8- Você estuda atualmente? Está em que série?

( ) Não

( ) Sim. Curso a _____ série do ___ Grau.

9- O que levou você a participar do Movimento? Como você entrou na

ONG?

( ) Indicação de amigos

( ) Indicação dos pais e/ou parentes

( ) Vontade de ocupar o tempo livre

( ) Aprender coisas novas

( ) Sair das ruas

( ) Fazer mais amigos

( ) Outras . Qual ? ________________________________

10- Quais as atividades que você faz no Movimento?

( ) Faz deveres

( ) Dança

( ) Música

( ) Leitura

( ) Produção de textos

( ) Outras. Quais? ____________________________________

11- O que, para você, é cidadania?

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

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12- Você acredita, então, que a ONG auxilia você a desenvolver sua

capacidade cidadã?

( ) Sim

( ) Não

Por quê?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

13- O que você já aprendeu relacionado à cidadania no Movimento de

saúde mental? Cite pelo menos duas.

1) __________________________________________________________________

2) __________________________________________________________________

3) __________________________________________________________________

14- De que forma você aprendeu isso?

( ) Lendo

( ) ouvindo dos professores

( ) conversando com colegas

( ) em debates na Ong

( ) Outros? Quais?

_____________________________________________________________________

_______________________________________________________________

15- O que você aprendeu relacionado à cidadania no seu grupo familiar

e/ou círculo de amigos? Cite pelo menos duas.

1)

______________________________________________________________

2)

_______________________________________________________________

3)

_______________________________________________________________

16- De que forma você aprendeu isso?

( ) Conversa com familiares

( ) conversa com amigos

( ) lendo

( ) Outros? Quais?

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APÊNDICE D

ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA

Prezado, Prezada: afirmo que as respostas dadas serão utilizadas

apenas para fins acadêmicos, sendo constituintes da monografia em

Serviço Social em processo. Garanto que sua identidade será preservada

por meio do anonimato, conforme os princípios éticos em pesquisa.

Entrevista com os jovens do Clube da Oportunidade

1- O que a ONG representa na sua vida?

2- O que você espera ao término do curso?

3- O que é cidadania para você?

4- Como a cidadania é transmitida pela ONG?

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ANEXO