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A Crioulização no Golfo da Guiné: relações genéticas e tipológicas Tjerk Hagemeijer Centro de Linguística da Universidade de Lisboa [email protected]

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A Crioulização no Golfo da Guiné: relações genéticas e tipológicas

Tjerk Hagemeijer

Centro de Linguística da Universidade de Lisboa

[email protected]

Organização da apresentação e objectivos

• Objectivos:

– Mostrar que os 4 crioulos do Golfo da Guiné (CGG) derivam de uma proto-língua;

– Mostrar que este proto-crioulo do Golfo da Guiné (PCGG) segue especialmente a

tipologia das línguas do delta do Níger (Nigéria), em detrimento do Bantu ocidental;

• Organização:

– Breve história do Golfo da Guiné

– Linguística

• Léxico

• Fonologia

• Sintaxe

– Genética

– Conclusões

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Santome

Lung’Ie

Ngola

Fa d’Ambô

Golfo da Guiné

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As Ilhas do Golfo da Guiné

• Povoamento– Povoamento de São Tomé: 1485 >

– Povoamento do Príncipe: <1500 (a partir de S. Tomé)

– Povoamento definitivo de Annobón: entre 1543 e 1565 (a partir de S.

Tomé)

• Periodização– Fase de habitação (société d‟habitation): 1493-1515 (aprox.)

– Fase de plantação (société de plantation): 1515-1600 (aprox.)

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Engenhos de açúcar em S. Tomé – Séc. XVI

Ano 1517 1522 1550 1567 1580

Número 2/3 6 60 120 70

Fonte: Garfield 1992

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A fase de habitação (1485-1515)

• Delta do Níger como principal área de resgate de escravos (e.g. Almeida Mendes 2008; Ryder 1969; Teixeira da Mota 1976; Thornton 1992)

– 1486: Embaixada de João Afonso d‟Aveiro ao Reino de Benim (Nigéria)

– 1486-1507: Entreposto comercial em Ughoton (Gwato), Rio Formoso (Rio Benim)

– 1499: 920/30 escravos tinham sido trazidos para S. Tomé, dos quais a maioria era reexportada para S. Jorge da Mina (Gana)

– 1506: O cronista real Duarte Pacheco Pereira refere na sua obra Esmeralda de Situ Orbis que o tráfico de escravos se concentra sobretudo no Reino de Benim e refere também o Rio Real como local donde “(…) trazem muitos escravos (…)”

O testamento de Álvaro de Caminha (1499)

Refere duas áreas de resgate no delta do Níger:

• Reino de Benim

– “Todos os outros escravos de Benim que se achar que eu comprei e sobejarem das

despesas que mando fazer se repartam pelos ditos moços e moças nesta maneira

(...)”

– Mando que dêem a Pêro de Manicongo uma escrava que el-rei de Benim deu a D.

Francisco, seu senhor (...)”

• Rio Real

– “Deixo a Isabel (...) um escravinho do rio Real.”

– “E destes escravos que tenho do resgate novo e rio Real, não me lembra que tenha

mais em minha casa que uns que andam no barco velho do rio Real (...)”

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Delta do Níger

9

Edoid

Ijoid oriental

Rio Níger

10

O Reino do Congo e Angola

• 1493: D. João II, rei de Portugal, autoriza o tráfico de escravos entre o Rio Real (Bonny) e o Congo (“Manicongo”)

• 1506: O cronista real Duarte Pacheco Pereira que no Congo “se resgatam alguns escravos em pouca quantidade;”

• > 1510: primeiras referências a resgates no Congo. No entanto, todos os estudos indicam que o tráfico proveniente dessa área é ainda incipiente

• > 1520: o Congo e Angola tornam-se rapidamente áreas de resgatedominantes no tráfico de escravos para as ilhas

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Sumário

1. A fase de habitação (1493-1515) coincide com a

predominância do tráfico de escravos da actual Nigéria

• Reino de Benim: área de resgate primária

• Rio Real (Bonny): área de resgate secundária

2. A fase de plantação (1515-1600) coincide com a

predominância das áreas de resgate Bantu (Congo e

Angola)

Luiz Ivens Ferraz (1974, 1975, 1979, 1984, 1987)

• Kongo e Edo (Bini) foram os principais estratos africanos que(simultaneamente) influenciaram a criação do Santome

“(…) Kongo and Bini [Edo] should appear to have been the mainland African languages to have influenced the creation of ST [Santome] (…)” (Ferraz 1979:90)

• Não existe uma relação genética entre os quatro crioulos do Golfo da Guiné

“To take the GG [Gulf of Guinea] case, it would not be plausible to assume that the contact language which developed in the town of São Tomé and the surrounding areas was the same as that which gave rise to Ang[olar], Pr[incipense], and Pag[alu]. There are enough differences between each of these languages to rule out such a possibility. It would be closer to the truth to say that the four contact languages show many resemblances because, to a large extent, they grew up together, with slaves and settlers introduced through the central administration in São Tomé. (...). Hence different languages developed in the archipelago rather than dialects of one contact language. (Ferraz 1987:348)

Hipótese alternativa

• Existe uma relação genética entre os quatro crioulos do Golfo da

Guiné na forma de um Proto-Crioulo do Golfo da Guiné (PCGG).

Este surgiu na ilha de S. Tomé e ramificou-se no tempo e no espaço

para dar origem a uma nova família linguística constituída por quatro

línguas

– Esta hipótese é (tacitamente) assumida pela maioria dos autores, por ex.

Hagemeijer 1999; Lorenzino 1998; Matos 1842; Maurer 1995, 1999;

Schang 2000

• Com base na reconstrução das propriedades léxico-gramaticais do

PCGG, conclui-se que apenas o substrato do delta do Níger foi

decisivo na formação do PCGG.

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Árvore genealógica dos CGG

PCGG (>1485)

Lung’Ie

Ngola

Fa d’Ambô

Santome

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Léxico partilhado com o Santome*

Lung‟Ie Fa d‟Ambô Angolar

94% 86% 73%

*Com base na elaboração de uma lista de léxico fundamental (Swadesh 1955) para os quatro crioulos. Em Ferraz

(1979:9), estas percentagens são ligeiramente inferiores.

Exemplos de cognatos básicos de origem portuguesa

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ST LU FA NG Português

lixi irixi lix lisi~risi~disi nariz

ua ua wan(?) ua uma

ngê ningê ngê ngê~ningê pessoa (de „ninguém‟)

tason tusan tusan tatho sentar (lit. estar chão)

lungwa lunge lunge lunga língua

po upa opa po árvore, pau (de „pau‟)

landa landa ? landa nadar

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Léxico de origem africana (<20% do total)

Nigeriano (Edo) Bantu ocidental

Lung’ie* 93% 7%

Santome** 56% 44%

Fa d’Ambô*** 44% 56%

Angolar**** 9% 91%

*Com base em Maurer (2009)

** Com base em Hagemeijer (2008)

*** Com base em De Granda (1986)

**** Com base em Lorenzino (1998)

Itens africanos no léxico fundamental (100 itens)

ST LU FA NG

delta do Níger 6 9 6 5

Bantu ocidental 0 0 (1) 19*

desconhecido 4 2 3 4

total 10 11 10 28

* Do Kimbundu

Cognatos básicos africanos

ST LU ANG FA etimologia PTG

budu ubudu buru budu Emai údò, úkpúdò, óíúdò

(Ijoid ikputu,

ekpudu)

pedra

idu idu iru idu Edo iru piolho

igligu igigu iligô~irigô~

idigô

igôgu Edo ì fumo

mundja mundya n’dja midja Edo mu-dia parar

O léxico africano em Santome por categoria de palavra

(217 itens lexicais)

Nome

Verbo

Ideofone

Adjectivo

Advérbio

marca TAM

partículas

pronomes

Delta do Níger Bantu ocidental

Sumário

• O léxico derivado do Português é, em grande parte, partilhado pelos quatro

CGG

• O léxico fundamental africano partilhado pelos CGG é tipicamente derivado

do Edo, representando, por isso, uma camada lexical antiga

• O lexico derivado do Kikongo no ST e no FA não é básico e resulta,

provavelmente, de contacto secundário.

• O léxico fundamental Kimbundu é uma particularidade exclusiva do Angolar,

representando, por isso, uma clara inovação em relação ao PCGG.

Áreas tipológicas

• O delta do Níger e o Bantu ocidental pertencem a duas

macro-áreas linguísticas distintas

– Macro-Sudão (Macro-Sudan belt)

– Bantu (Bantu spread zone)

• Metodologia:

– Reconstruir, por comparação, traços linguísticos africanos do

PCGG

– Analisar se as propriedades reconstruídas (ou actualmente

existentes) se enquadram numa determinada área tipológica no

continente africano

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Macro-áreas linguísticas em África

23

Macro-Sudão

Bantu

Fonte: Gueldemann, no prelo

Fonologia

“(...) an overriding aspect of ST phonology is that it is African-

based rather than Portuguese-based.” (Ferraz 1979:54)

• Casos práticos

– Segmentos

• Velares labiais /gb/ e /kp/

• Vogais nasais

• Implosivas // e //

• Líquidas

– Processos

• Harmonia vocálica ATR (Advanced Tongue Root)

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Lábio-velares (labial velars)

LU ST ANG Étimo Português

ugba ubwa ubwa Èdó ogba cerca

ugbami ubwami ? Èdó agbanmwen bochecha

ukpaku kwaku ? Èdó ukpak escova de dentes

tradicional

ikpe ukwê ikwe~inkwe Èdó ikpe grão, semente

Velares labiais em África

26 (Fonte: Maddieson 2005)

Vogais nasais

• Os 4 CGG apresentam vogais nasais

• Edoid (Elugbe 1989) e Português apresentam vogais nasais

• Bantu ocidental (excepto Umbundu) e Ijoid não apresentam

vogais nasais (fonémicos)

27

Vogais nasais nas línguas do mundo (WALS)

28

Implosivas

• Os CGG apresentam implosivas (// e //) (Ferraz 1979; Maurer

2005, 2009) (sem informação clara para FA)

• Implosivas são tipologicamente marcadas (10% das línguas do

mundo)

• Nos estratos africanos relevantes:

– Bantu ocidental (zona H): não apresenta implosivas (Maddieson 2003)

– Edoid: apenas línguas Delta-Edoid apresentam implosivas. Não há

qualquer evidência que estas línguas, com poucos falantes (aprox. 10.000

cada), estiveram na formação do PCGG

– Ijoid: implosivas ocorrem no Ijoid oriental (incl. “Rio Real”)

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Implosivas em África

30 Fonte: Clements & Rialland 2008

Líquidas

• O Lung‟Ie é o único dos CGG que apresenta uma vibrante

fonémica, /r/ (porém, v. variação em Angolar)

• Bantu ocidental: Kikongo (Bentley 1887) e Kimbundu

(Chatelain 1888-9) não apresentam esta vibrante.

• /r/ é tipicamente fonémico nas línguas do delta do Níger,

nomeadamente em Edoid e Ijoid (e em português)

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LU ST NG FA Ptg.

riku liku liku liku rico

kura kula kula kula curar

arê alê alê alê rei

ranha lenha lenha lanha rainha

Líquidas

Harmonia vocálica ATR

• Os CGG apresentam duas séries de vogais médias em

regime de harmonia ATR em palavras dissilábicas

(Hagemeijer 2009).

+ATR: e, o (ex. ST. [mole] „morrer‟, [ome] „meio‟)

- ATR: E, O (ex. ST. [lɔvɛ] „orvalho‟, [ɔmɛ] „homem‟)

• Sistemas deste tipo são característicos das famílias

linguísticas nigerianas (e.g. Edoid e Ijoid) e atípicos no Bantu

(e.g. Clements & Rialland 2008).

Harmonia vocálica ATR

34(Em: Gueldemann, no prelo)

Sumário

• Os CGG partilham (historicamente) um conjunto de traços

fonológicos que mostram o impacto da área do Macro-

Sudão em geral e as línguas do delta do Níger em particular

• O Lung‟Ie destaca-se dos demais CGG pelo facto de

apresentar um maior número de traços fonológicos

nigerianos, o que é consistente com a elevada percentagem

de léxico Edo neste crioulo.

Sintaxe

• A sintaxe dos CGG é bastante uniforme e enquadra-se

melhor, em geral, na tipologia das línguas do delta do Níger

• Casos práticos

– Reflexivização

– Wh-in-situ

– Serialização verbal

Reflexivização

ST LU NG FA Étimo Ptg.

ubwê igbê, ibê ongê ogê Èdó egbé corpo

(1) Ê kôndê igbê sê (Lung‟ie)

3SG esconder corpo POS

„Ele escondeu-se

(2) Ê mat’ubwê dê buta (Santome)

3SG matar-corpo dele PART

„Ele suicidou-se.‟

(3) O gbe-egbe ere rua (Edo)

3SG matar-corpo dele PART

„Ele suicidou-se.‟

Wh-in-situ (para SNs)

Santome Lung’ie FA Ngola Étimo Ptg.

bô ba bô bô~ô Edo òó onde

está/estão

(1) Inen bô? (Santome)

Eles INT

„Onde é que eles estão?‟

(2) Lêlu ô bô? (Angolar)

dinheiro POS INT

„Onde está o teu dinheiro?‟

(3) Iran vbo? (Edo)

Eles onde

„Onde é que eles estão?‟

Serialização verbal

• Os 4 CGG apresentam um grande leque de construções de verbos seriais

(Hagemeijer 2000, 2001; Maurer 1995, 1999, 2009; Post 1992)

• Serialização verbal ocorre numa subárea do Macro-Sudão: na família Kwa e

em diversas famílias do Benue-Congo (e.g. Edoid, Defoid, Ijoid)

• Serialização verbal não ocorre em Bantu

• A tipologia das construções de verbos seriais nos CGG coincide amplamente

com o substrato Edo (Hagemeijer & Ogie, no prelo)

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Serialização verbal em África

40 Fonte: Dimmendaal 2006: serialização verbal em Níger-Congo

Serialização direccional

(1) Ê nda be nda bi (ST)

Ó khián yó khián rré (Edo)

3SG andar ir andar vir

„Ele/a anda para cá e para lá.‟

(2) Inen kôlê lentla ke (ST)

Íran rhùlé làá òwá (Edo)

3PL correr entrar casa

„Ele correram para dentro de casa.‟

(3) Ê fe ubwa loja ke dê (ST)

Ò gbá ógbá lègàá òwá ré (Edo)

3SG fazer cerca rodear casa POS

„Ele/a construiu uma cerca à volta da sua casa.‟

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Serialização verbal comitativa

(1) Iney zunta kumu. (FA, Armando Zamora [c.p.])

3PL juntar comer

„Comeram juntos.‟

(2) Inen zunta we posan. (LU, Maurer 2009:118)

3PL juntar ir cidade.

„Eles foram à cidade juntos.‟

(3) Nen zunta kume lôsô. (ST)

3PL juntar comer arroz

„They ate rice together.‟

(4) Íràn kùgbé-rè rrí izè. (Edo, Ogie 2004:10)

3PL juntar.PST-rV comer arroz

„Eles comeram arroz juntos.‟

(cont.)

(1) Zon na lêlê Maya xê fa. (ST)

Zon NEG acompanhar Maya sair NEG

„Zon não saiu na companhia de Maya.‟

(2) Ìvié má lèlé Òdúwà kpàá. (Edo, Omoruyi 1989:139)

Ìvié NEG acompanhar Òdúwà sair

„Ivie não saiu na companhia de Oduwa.‟

(3) Zon tom’e bi (ST)

Zon tomar-3SG vir

„Zon trouxe-o/a.‟

(4) Òzó rhié èré rré. (Edo, Ota Ogie [c.p]

Ozo tomar 3SG bi

‘Ozo trouxe-o/a.’

Outros aspectos sintácticos

• Focalização de verbos delta do Níger

• 3PL como pluralizador delta do Níger

• Partículas TAM provavelmente Edo (ka, ká)

• Estratégia de focalização provavelmente delta do Níger

• Negação frásica discontínua/final Bantu (Gueldemann &

Hagemeijer 2006), porém, possível ligação ao Ijoid

44

Sumário

• Os quatro CGG

– Partilham grosso modo a mesma estrutura sintáctica

– Apresentam uma sintaxe tipologicamente mais próxima das línguasdo delta do Níger em geral e do Edo em particular

A contribuição da genética

• Para o caso do Golfo da Guiné, os dados demográficos da primeira fase estão mal

documentados e inventariados.

• O número de escravos Bantu terá largamente ultrapassado o número de escravos do

delta do Níger, mas o genotipo são-tomense não é mais Bantu (e.g. Coelho et al. 2008)

– Europeu: 10% (mediado por indivíduos de sexo masculino)

– Africano: 90% (equilibrado entre “Benim” e “Bantu”)

• Por comparação, o genotipo cabo-verdiano conta com uma contribuição europeia de

50%, com clara evidência para a presença do genotipo judaico (cristãos-novos) nas

linhagens masculinas (21% em Santiago, Jorge Rocha [c.p.])

• O caso dos órfãos judeus em S. Tomé

– Valentim Fernandes 2006: Álvaro de Caminha levou 2.000 órfãos judeus para S. Tomé em 1493, dos

quais 600 ainda estariam vivos em 1506 (cf. Seibert 2006)

– No entanto, não há vestígios do genotipo judaico no genotipo não africano dos são-tomenses

O genotipo africano na população de S. Tomé

47 Fonte: Coelho et al. 2008b: Comparação entre a distribuição de haplotipos de betaglobina S

Genética dos Angolares

• Análises aleatórias de estruturação genética mostram que em S. Tomé a

diferenciação linguística (Angolares / não Angolares) se sobrepõe ao factor

distância geográfica

• Os Angolares são geneticamente menos diversificados do que a restante

população de S. Tomé

• Cromossomas Y: elevados níveis de diferenciação da restante população,

com evidência para linhagens ancestrais Bantu e fluxo genético dos pigmeus

• ADN mitocondrial (herdado da mãe): na origem de um fluxo genético mais

diversificado (genotipo “Benim”)

48

Fonte: Coelho et al. 2008: Diferenciação genética em S.

Tomé com base numa análise aleatória

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Interpretação

• Com base em evidência linguística, conclui-se que os quatro CGGderivam de uma proto-língua (PCGG) que se formou na ilha de S.Tomé durante a fase de habitação

• O PCGG resulta essencialmente do contacto entre portugueses eescravos do delta do Níger, especialmente Edos do antigo Reinode Benim

• Este cenário fundador é sustentado por dados linguísticos,históricos e genéticos.

• Uma vez que a formação do PCGG é anterior à chegada maciça deBantus, a crioulização no Golfo da Guiné não se coaduna commodelos gradualistas (cf. volume de Arends 1993)

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• O impacto do Bantu ocidental está relacionado com o ciclo de plantação

• O impacto do Bantu é, por isso, secundário e mais evidente no domínio lexical e

fonológico do que no domínio sintáctico.

• O Lung’Ie melhor reteve determinadas propriedades das línguas do delta do

Níger que se perderam nos demais CGG devido ao impacto do Bantu na fase de

plantação:

– O povoamento do Príncipe decorreu numa fase inicial, anterior à chegada dos Bantus

– O ciclo de açúcar foi menos intenso na ilha do Príncipe

– A ilha do Príncipe teve sempre uma ligação mais estreita ao delta do Níger (ex. Contrato de

Carneiro 1514-1518)

• Annobón foi povoado a partir de S. Tomé em pleno ciclo de açúcar. Por isso, o

Fa d’Ambô apresenta uma tipologia menos nigeriana do que o Lung’Ie.

(cont.)