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3 Uma Abordagem à Gramática do Kimbundu

livro kimbundu

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Uma Abordagemà Gramática do Kimbundu

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Uma Abordagemà Gramática do Kimbundu

Fernando Cerqueira

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Resumo ................................................................................................... 9As línguas bantas .................................................................................. 11As línguas bantas em Angola ............................................................ 21Primeiras publicações em línguas bantas .......................................... 25O kimbundu .......................................................................................... 27As classes no kimbundu ..................................................................... 33

Classes I e II ..................................................................................... 34Classes III e IV .................................................................................. 35Classes V e VI ................................................................................... 36Classes VII e VIII ............................................................................... 37Classes IX e X ................................................................................... 38Classe XI ............................................................................................ 40Classe XII ........................................................................................... 41Classe XIII .......................................................................................... 42Classe XIV .......................................................................................... 43Classe XV ........................................................................................... 45

Quadros comparativos das gramáticas de Heli Chatelain, Gram-matica Elementar do Kimbundu, de José Luiz Quintão, Gramáticade Kimbundo, dos Missionários do Vicariato Geral de Malange,Elementos da Gramática de Quimbundo e do padre António daSilva Maia, Gramática de Kimbundo ................................................ 48

Índice

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O alfabeto ............................................................................................... 61A constituição silábica do kimbundu ................................................ 65O tom ..................................................................................................... 69Comentário ............................................................................................. 73Bibliografia .............................................................................................. 77

ANEXOS

Concordâncias ......................................................................................... 81Misoso (contos) ..................................................................................... 83Jisabu (provérbios) ................................................................................ 87

FIGURAS

Figura 1 Famílias linguísticas existentes em África e os dois sub-ramos da Níger-Cordofânia ................................................ 12

Figura 2 Origem e difusão das línguas bantas. Proposta deHeine, Bloff e Vossen (1977) ............................................ 13

Figura 3 Classificação proposta por Guthrie ................................... 15Figura 4 Classificação das línguas bantas com a inclusão da zona J 16Figura 5 As línguas bantas em Angola ........................................... 22Figura 6 Capa de Arte da Lingua de Angola ..................................... 26Figura 7 Capa de Diccionario da lingua bunda, ou angolense explicada

na portugueza, e latina e, em 1805, Collecção de observaçõesgrammaticaes sobre a lingua bunda, ou angolense ................... 26

Figura 8 Heli Chatelain ........................................................................ 28Figura 9 Distribuição geográfica do kimbundo .............................. 31

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R E S U M O

Pretendemos com este estudo fazer uma descri-ção das classes e seus prefixos, do alfabeto, dotom e das várias ocorrências silábicas emkimbundu tendo como base as gramáticas de HeliChatelain, Grammatica Elementar do Kimbundu, deJosé Luiz Quintão, Gramática de Kimbundo, dosMissionários do Vicariato Geral de Malange, Ele-mentos da Gramática de Quimbundo e do padre Antó-nio da Silva Maia, Gramática de Kimbundo,apoiando-nos no Ensaio de Diccionario Kimbúndu-Portuguez de J. D. Cordeiro da Matta.Não deixaremos antes de fazer uma breve rese-nha histórica tanto das línguas bantas como dopróprio kimbundu.Procuramos ao longo do estudo mostrar as dis-crepâncias existentes entre os autores. No finalapresentamos em anexo quadros comparativosdos prefixos de concordância segundo os auto-res e dois pequenos contos e alguns provérbiosda tradição oral do kimbundu.

PALAVRAS-CHAVE: bantu(a), kimbundu, classes, pre-fixos.

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11

Para o continente africano Greenberg propõe em1963, na sua obra The Languages of Africa, uma classifi-cação em quatro grandes famílias de línguas africanas:Afro-Asiática, Nilo-Sahariana, Níger-Cordofânia e Khoi-san. As três últimas famílias são faladas exclusivamenteem África, sendo que a primeira, a Afro-Asiática estárepresentada também no Médio-Oriente. Duas outrasfamílias também podemos encontrar representadas emÁfrica: a Indo-Europeia através do africânder e aAustronésia pelas línguas de Madagáscar (v. fig. 1). Afamília Niger-Cordofânia é composta por dois grandesramos — o Cordofânio e o Níger-Congo, incluindo esteúltimo numerosos grupos para sul do Sahara — os Bantu.A palavra «bantu» significa «pessoas» e é formada a par-tir de *-ntu, o radical do bantu comum (e proto-bantu,a proto-linguagem, o ponto de início das línguas bantas)para «pessoa», temos muntu = pessoa e bantu = pessoas,em que mu- é prefixo de singular e ba- prefixo de plural.O termo bantu foi proposto por W. H. Bleek em 1860.

As línguas bantas

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Figura 1Famílias linguísticas existentes em África

e os dois sub-ramos da Níger-Cordofânia

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O proto-bantu é a língua ancestral de 500-600 línguasbantas na África sub-equatorial Oeste, Central, Este eSudeste. Há aproximadamente 6800 línguas faladas nomundo, a banta ocupa aproximadamente 10%. Para amaioria dos autores, o bantu era falado há 5000-4000anos atrás, na fronteira da Nigéria com os Camarões (no

Indo-Europeu

Níger-Cordofânia

Afro-AsiáticaNilo-SaharianaCordofâniaNíger-CongoKhoisanAustronésia

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vale central Benue, a Leste da Nigéria) e os seus descen-dentes espalharam-se por toda a África sub-equatorial (v.fig. 2).

É uma família de centenas de línguas cujo número defalantes se aproxima dos 220 milhões. O país com maiornúmero de falantes é o Congo-Kinshasa e a língua bantacom mais locutores é o Suaíli. As línguas bantas formamuma família no sentido em que partilham traços comuns,sendo a distribuição por classes um dos mais marcantes.O povo bantu pertence a este grupo linguístico, nãoconstituindo um grupo isolado mas sim uma união de

Figura 2Origem e difusão das línguas bantas.

Proposta de Heine, Bloff e Vossen (1977)

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07:

23

14

vários povos ao qual pertencem, segundo uma classifica-ção feita pela semelhança da linguagem. Portanto nãodevemos falar em língua banta e sim em línguas bantas,ou civilizações bantas, porque inúmeras são as línguas eas civilizações ou povos que estão enquadrados nestegrupo, tendo em comum o elo do parentesco da lingua-gem que sugere, pela grande semelhança, um troncocomum de origem, mas que apresentam no entantodiversidades sociais, culturais e políticas, mudançasessas ocorridas provavelmente ao longo do tempo. Estasemelhança da linguagem faz supor evidentemente umalíngua (proto-bantu) e até mesmo um lugar comum deorigem desses povos, que acabou por dar, devido a cir-cunstâncias históricas, os diversos grupos com a suacultura e língua diferentes (embora identifiquemos oparentesco linguístico).

Desde o início do século xx os linguistas têm vindo aclassificar as línguas bantas. Em 1971, Guthrie apresen-tou uma proposta (v. fig. 3) de classificação e codifica-ção, baseada sobretudo em critérios geográficos e deparentesco, que mais tarde é revista por Tervuren e SIL,acrescentando-lhe a zona J. (v. fig. 4)

Zona A: Sul dos Camarões e Norte do GabãoZona B: Sul do Gabão e Oeste do CongoZona C: Noroeste, Norte e Centro do CongoZona D: Nordeste, Este da República Democrática doCongo, Ruanda e BurundiZona E: Sul do Uganda, Sudoeste do Quénia e Noroesteda Tanzânia

15

Zona F: Norte e Oeste da TanzâniaZona G: Centro e Este da Tanzânia e costa suaíliZona H: Sudoeste do Congo e Norte de AngolaZona K: Este de Angola e Oeste da ZâmbiaZona L: Sul da República Democrática do Congo e Oestee Centro da ZâmbiaZona M: Este e Centro da Zâmbia, Sudoeste da Tanzânia

e Sudeste da República Democrática do CongoZona N: Malaui, Centro de Moçambique e Sudeste daZâmbiaZona P: Sul da Tanzania e Norte de MoçambiqueZona R: Sudoeste de Angola e Noroeste da NamíbiaZona S: Zimbabué, Sul de Moçambique e Este da Áfricado Sul.

Figura 3Classificação proposta por Guthrie

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16

Figura 4Classificação das línguas bantas com a inclusão da zona J

17

A estrutura silábica das línguas bantas baseia-se emCV, VCV, CVCV, VCVCV. Muitas línguas bantas têm emposição inicial NC, podendo a N ser silábica ou não.

a)

Ataque Rima

Núcleo

m b a

b)

Ataque Rima Ataque Rima

Núcleo Núcleo

Ø m j i

A hipótese a) refere-se a mba.ka que em kimbundusignifica multidão e mostra a consoante /b/ pré-nasali-zada com a respectiva nasal homorgânica, enquanto quena hipótese b) observamos o prefixo da classe 3, (m-) dosuaíli, a formar uma nasal silábica na palavra m.ji (cidade).

18

A principal característica das línguas bantas é o usogeneralizado de prefixos. Cada substantivo pertence auma classe e cada língua pode ter um total de dezanoveclasses. A classe a que corresponde é indicada pelo pre-fixo do substantivo. Os adjectivos e os verbos concor-dam com aquele, apresentando um prefixo concordante.O plural é indicado pela mudança de prefixo.

Na página seguinte apresentamos a lista de classessegundo Guthrie e a sua caracterização semântica.

Fazemos desde já notar que as classes 20-23 sãoraras, sendo que a classe 20 na maior parte dos casos éaumentativa, embora, possa ser diminutiva em algumaslínguas. A classe 21 designa aumentativo e pejorativo. Aclasse 22 só se encontra em ganda, e é o plural da classe20 e de alguns nomes da classe 5. A classe 23 é umlocativo. (Andrade, 2007: 31)

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CLA

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20

21

As línguas bantas de Angola (v. fig. 5) pertencem àszonas H, K e R tal como propostas em 1971 por Guthriee nelas podemos observar, como características gerais demaior relevância, segundo Fernandes (2002: 68-69) oseguinte:

• Os nomes são caracterizados por prefixosque indicam o singular e o plural. O númerode classes, segundo estudos actuais sobrealgumas línguas de cada uma das três zonaslinguísticas, é de 18. No entanto, a classe 15é verbo-nominal, reunindo nela, portanto,nomes e verbos. As classes 16, 17 e 18 sãoclasses locativas e indicam a superfície,direcção e a interioridade, respectivamente.Nestas classes não existe a oposição singu-lar, plural;

• os substantivos são classificados em funçãodos seus prefixos do singular e do plural;

As línguas bantas em Angola

22

Figura 5As línguas bantas em Angola

23

• a maior parte das línguas é tonal, isto é, paraalém do acento, existe um determinado tom;

• não há diferença entre masculino e feminino;• o sistema vocálico é simétrico, quer dizer

que este sistema comporta uma vogal central(a) e um número idêntico (2) de vogais ante-riores (i, e) e de vogais posteriores (u, o);

• algumas consoantes orais não aparecem deforma isolada por serem sempre pré-nasa-lizadas, quer dizer, precedidas de consoantesnasais;

• não existem artigos.

24

25

No ano de 1624, a 4 de Março, a Cartilha da DoutrinaCristã, do padre jesuíta Mateus Cardoso, acaba de serimpressa e é este o livro que primeiro se editou numalíngua africana falada no hemisfério Sul. Estava escritoem português e em quicongo. Anos mais tarde, em 1642,na cidade de Lisboa, é impresso o primeiro catecismo emkimbundu. Havia sido organizado pelo padre FranciscoPacconio e tinha o título de Gentio de Angola sufficientementeinstruido nos mysterios da nossa santa fé.

Em 1659, o missionário capuchinho italiano, padreJacinto Brusciotto Vetralla, escreve uma gramática, comvocabulário da língua quicongo, editada em Roma. Nofrontispício da obra, em latim, pode ler-se Regulaequaedam pro difficillimi congensium idiomatis faciliori captu adGrammaticae normam redactae.

Mais tarde, ainda no século XVII, em 1697, o padrejesuíta Pedro Dias publica em português a primeira des-crição gramatical da língua africana kimbundu Arte daLingua de Angola (fig. 6), «advertencias de como se ha de

Primeiras publicações em línguas bantas

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ler, & escrever esta Lingua» afirma o jesuíta nas primei-ras linhas da sua obra. O livro era dedicado à Virgem doRosário, «Mãy, e Senhora dos mesmos Pretos».

Em 1804, o monge capuchinho Bernardo Maria deCannecattim publica, em Lisboa, o Diccionario da lingua bun-da, ou angolense explicada na portugueza, e latina e, em 1805,Collecção de observações grammaticaes sobre a lingua bunda, ouangolense (fig. 7) com uma segunda edição em 1859.

«No anno 1864 foi publicado um trabalhogrammatical por Francina, sob o titulo: ‘Elementosgrammaticaes da lingua bunda.’ Infelizmente este livroabortou como os precedentes, não conseguindo fran-quear ao publico o conhecimento d’esta lingua, [...]nunca nos foi possivel obter ou mesmo ver um unicoexemplar.» (Chatelain, 1889: XVII-XVIII)

Figura 6 Figura 7

27

A descrição pioneira de Pedro Dias para as classesnominais do kimbundu é importante para a abordagem dasintaxe da língua. «Tem doze particulas para adjectivar osubstantivo com os adjectivos. Oito saõ para o singular.v. g. Ri, v, i, qui, ca, cu, lu, tu. Para o plural saõ asseguintes: A, i, gi, tu.» (Dias, 1697: 2) [...] «Os linguasperitos trocaõ hu)as particulas naõ mudaõ o sentido daoraçaõ; porèm nunca ja mais poem as particulas doplurar no singular, quando querem significar qualquercousa singular.» (Dias, 1697: 36)

A Cannecattim também não escapou a existência de«letras, ou syllabas iniciaes» para o singular e o plural edá-nos conta disto mesmo na sua Collecção de observaçõesgrammaticaes sobre a lingua bunda, ou angolense onde escre-via:

«He notavel na lingua Bunda, que aquillo, que namaior parte dos Idiomas se distingue pelas termina-ções, ella o da a conhecer, não por estas, mas sim

O kimbundu

28

pelas letras, ou syllabas iniciaes, como succede nosingular, e plural dos nomes, e nas differentes vozes,e inflexões dos verbos.» (Cannecattim, 1804: XVIII)

Quanto à origem da língua e a sua relação com asoutras línguas africanas só, mais tarde, em 1888-1889,através do suiço Heli Chatelain (Fig. 8), benemérito, filó-logo e folclorista, podemos encontrar a palavra kim-bundu definida correcta e historicamente como língua eé então estabelecida a sua distinção em relação às lín-guas quicongo e umbundo. Nessa gramática é tambémfeito um estudo empírico do folclore e são reunidas fá-bulas africanas e poesia tradicional.

«Na litteratura portugueza e estrangeira esta lin-gua era conhecida até hoje sob o nome de ‘lingua

Figura 8

29

bunda,’ ao passo que entre os brancos de Angola émais conhecida como ‘o ambundo’. Scientifica-mente, porém, nem uma nem outra d’estas denomi-nações é admissível: a primeira por ser quasi umtermo obsceno na lingua que pretende designar, asegunda porque significa ‘os pretos’ e não a sua lin-guagem, ambas por não serem usadas pelos indige-nas que fallam a lingua em questão. ‘Kimbundu’pelo contrario, é o termo vernaculo, dizendo os pre-tos d’Angola, os a-mbumdu: o kimbundu, em kim-bundu, fallar kimbundu, mas nunca: fallar ambundoou bundo ou bunda. Os vocábulos mu-mbundu, umpreto, ou uma preta, a-mbundu, pretos ou pretas eki-mbundu, linguagem de pretos constam como basecommum mbundu e dos prefixos mu-, a-, ki-, signi-ficando mu- pessoa, a- pessoas e ki- linguagem. Concor-da com isto com o que se nota nas linguas da familiabantu, á qual peretence também o nosso kimbundu,sendo o prefixo ki- o que mais s’emprega n’ellas paradesignar linguagem. Algumas tribus pronunciam-otxi- (tyi), xi-, si-, isi-, se-, outras preferem-lhe osprefixos u- ou lu-, outras, mais raras, contentam-secom a base sem acrescentamento de prefixo algum.Assim, sem sahirmos da Provincia de Angola, osConguezes ou Exi-Kongo chamam á sua linguaki-xikongo, os habitantes do Bailundo e do Bihe, osI-mbundu, á sua u-mbundu, ao passo que os Akua--Mbamba denominam o seu dialecto simplesmente‘mbamba’. É pois nossa opinião que, se quizermosfallar correctamente, devemos dizer ‘o kimbundu’,

30

‘o umbundu’, mas não ‘a língua ki-mbundu ouu-mbundu’, porque ki- e u- já significam língua. Nãorecommendamos tampouco o uso de ‘l inguambundu’ a não ser que se lhe junte: d’Angola ou deBenguella (=Bangela) para obviar á confusão que,de outra forma, seria inevitavel.» (Chatelain, 1889:XI-XII)

O kimbundu pertence pois ao grande tronco das lín-guas africanas designado por «bantu» e que, segundoRaymond Gordon, é a língua mbundu cujos nomes alter-nativos são: luanda, lunda, loande, loanda mbundu,kimbundu, kimbundo, north mbundu, nbundu, n’bundo,dongo, ndongo, kindongo cujos dialectos são: njinga(ginga, jinga), mbamba (kimbamba, bambeiro), mbaka(ambaquista), ngola. Pertence à família Níger-Congo,Mbundu (H.20).

Segundo a SIL o kimbundu tem o seguinte tronco:

• Niger-kongo• Atlântico-kongo

• Volta-kongo• Benué-kongo

• Bantóide• Bantóide meridional

• Bantu estreito• Bantu central

• H• Mbundo (H.20)

31

Figura 9

O grupo etnolinguístico Ambundu ocupa uma áreaque se estende desde o interior para o litoral e dominaas províncias do Bengo, Kuanza Norte, Norte da provín-cia do Kuanza Sul, Malanje e Luanda, tendo como lín-guas vizinhas o kikongo, a Norte, o kioco, a Este, e, aSul, o umbundo e o ganguela. Na fig. 9 podemos ver adistribuição geográfica do kimbundu e quais as provín-cias de Angola onde se fala esta língua.

GanguelaOvimbundo

Kioco

NÃO BANTUKhoisan

AmboHereroXindonga

Haneca-HumbeKongoKimbundu

Luanda

Novo Redondo

Benguela

Moçâmedes

Nova Lisboa

Luso

Vila Serpa Pinto

Malanje Henrique de Carvalho

Cabinda

1 24

3

7

86

5

1 Bengo2 Kuanza Norte3 Uíje4 Malanje

5 Kuanza Sul6 Viye7 Lunda Norte8 Lunda Sul

Ela

bora

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auto

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2002

: 57

32

33

É no século XIX, com a publicação por parte deChatelain da Grammatica Elementar do Kimbundu, que asclasses do kimbundu são pela primeira vez anotadas.Daí para a frente os autores abandonam a velha gramá-tica descritiva onde nominativo está para sujeito,acusativo para os complementos directos, ablativo paraindicações circunstanciais e dativo para os complemen-tos indirectos e que havia inspirado as anteriores.

Os substantivos em kimbundu são divididos emquinze classes. Reconhecemos a qual classe pertencecada nome pelo seu prefixo, ou seja, a forma inicial dapalavra. Quanto ao género dos substantivos (masculinoe feminino), com exceção de poucos, os nomes emkimbundu são usados indiferentemente para ambos osgéneros. As classes em kimbundu tal como em todas aslínguas bantas são monoclasses. Existem no entantoexcepções das quais apresentamos de seguida algumas:

Riala (homem) Muhatab (mulher)

As classes no kimbundu

34

Mulume (marido) Mukaji (esposa)Tata (pai) Mama (mãe)Rikolombolo (galo) Sanji (galinha)Kisutu (bode) Hombo (cabra)

CLASSES I e II

Na classe I estão agrupadas todas as palavras com oprefixo mu- no singular e que designem seres racionais(pessoas). As palavras da classe I fazem o plural aomudar o prefixo mu- para a- e são da classe II.

SINGULAR

Mona1 = filho, criançaMudiakimi = velho sábioMuhatu = mulherMukongo = caçadorMuloji = feiticeiroMusuri = ferreiro, forjadorMutabi = carreteiro d’águaMutambi = pescador de an-

zolMutona = pescador de rede

PLURAL

Ana = filhos, criançasAdiakimi = velhos sábiosAhatu = mulheresAkongo = caçadoresAloji = feiticeirosAsuri = ferreiros, forjadoresAtabi = carreteiros d’águaAtambi = pescadores de an-

zolAtona = pescadores de

redes

1 Mona que tem o prefixo mo- tem como radical ana, ao juntar-se-lheo prefixo mu-, o encontro da vogal u + a origina a vogal o.

35

CLASSES III e IV

As palavras da classe III têm mu- como prefixo singu-lar. A esta classe pertencem os seres inanimados (irracio-nais, objectos). O plural faz-se na classe IV, substituindoo mu- por mi-.

SINGULAR

Muenge = canaMukete = cavaloMukila = rabo, caudaMulela ou Mulele = panoMulongi = conselho, exem-

plo, parecerMulundu = montanhaMunia = espinhoMutandala = quedaMutelendende = ribombo,

trovãoMutoto = barro, lodo, lama

Mutue = cabeçaMuvu = anoMuxima = coraçãoMuxitu = bosque, mata, flo-

resta

PLURAL

Mienge = canasMikete = cavalosMikila = rabos, caudasMilela ou Milele = panosMilongi = conselhos, exem-

plos, pareceresMilundu = montanhasMinia = espinhosMitandala = quedasMitelendende = ribombos,

trovõesMitoto = barros, lodos,

lamasMitue = cabeçasMivu = anosMixima = coraçõesMixitu = bosques, matas, flo-

restas

36

CLASSES V e VI

Na classe V estão agrupados os nomes que começampelo prefixo ri- (muitas vezes escrito di-) no singular eque fazem o plural na classe VI, substituindo o ri- porma-. Em alguns nomes o prefixo ri- não é substituído porma- ao formar o plural, mas é precedido por ele.

Ritari (pedra), pode ser escrito ditadi. Variedades di-alectais fazem o ri- soar como di-1.

SINGULAR PLURAL

Riala = homem Mala2 = homensRibengu = rato Mabengu = ratosRilonga = prato Malonga = pratosRilu (Riulu) = céu Maulu = céusRimi = língua, idioma Marimi = línguas, idiomasRitari = pedra Matari = pedrasRiunda = flecha Mariunda = flechas

1 A este propósito Cannecattim anotava a existência do prefixo ri- enão di-, considerando Riala e não Diala (Cannecattim, 1805: 8). Já antesescrevia: «Os Ambundos confundem no principio da palavra a letra r coma letra d, [...] umas vezes parece que pronunciam Riála, o homem; outraDiála, porém a verdadeira pronunciação he Riála, mas não se devecarregar muito a lingua sobre a letra r, ou a syllaba ri, como se faz noPortuguez, a pronuncia deve ser mais branda, o que se deve observar emtodas as palavras que principião com a syllaba ri, como são todos osnomes da quarta declinação na voz do singular.» [...] «Eu que varias vezesexaminei este particular, me tenho servido da mesma letra R porqueparece que a pronunciação se aproxima mais á letra R do que a D, sebem que não seja hum R aberto e claro, mas hum R sumido e brando,proferido com a ponta da lingua junta aos dentes no acto da pronun-ciação.» (Cannecattim, 1805: 2 e 152) «Por seu lado Quintão (1934: 12)

37

CLASSES VII e VIII

Na classe VII estão agrupados os nomes que são ini-ciados pelo prefixo ki- e fazem o plural na classe VIII,substituindo ki- por i-.

SINGULAR PLURAL

Kiala = unha Iala = unhasKimbanda = curandeiro Imbanda = curandeirosKimbungo = lobo Imbungo = lobosKinama = perna Inama = pernas

Dentro desta classe estão agrupados todos os nomesno aumentativo, porque o kimbundu forma o aumenta-tivo através do prefixo ki-.

Seguem alguns exemplos da formação dosaumentativos.

PORTUGUÊS KIMBUNDU AUMENTATIVO

Boi Ngombe KingombeMulher Muhatu Kihatu

escreve «r ou ri (nunca sem i) — equivale em Luanda a ri brando, comaproximação a di; no interior sôa como di, com aproximação a ri brando.»

Na verdade estes dois sons que têm o mesmo ponto de articulação[+ant] e [+cor] distinguem-se nos seus traços redundantes por o [R] ser[+son] e [+cont] contrariamente ao [d].

Ao longo deste trabalho adoptámos a formulação /ri/.2 Não se diz maala. Quando ocorrem duas vogais /a/ em simultâneo,

somente uma prevalece.

38

CLASSES IX e X

Na classe IX os nomes no singular não apresentamprefixo de classe e o plural faz-se na classe X, colocandoo prefixo ji- antes do nome. Reconhecemos um nomecomo pertencendo a esta classe por exclusão, ou seja,quando não reconhecemos os prefixos das outras classesna palavra do singular. Alguns nomes podem gerar con-fusão como é o caso de Tulu (peito), Tuku (cauda; plu-ma; pena), Tumba (naco), Tumbu (umbigo), Tunda (ser-tão; Oriente) que pertencem a esta classe e podem serconfundidos como pertencentes à classe XIII.

SINGULAR

Fundu = feira, mercado,praça

Imbia = panelaImbua = cãoInzo = casaIxi = terra, naturalidadeMama = mãeMvula = chuva, maréNdandu = parente, primo,

abraçoNdenge = pequeno, inferior,

criançaNgangula = ferreiroNgiji = rio, riacho, conhecido

Ngombe = boi

PLURAL

Jifundu = feiras, mercados,praças

Jimbia = panelasJimbua = cãesJinzo = casasJixi = terras, naturalidadesJimama = mãesJimvula = chuvas, marésJindandu = parentes, primos,

abraçosJindenge = pequenos, infe-

riores, criançasJingangula = ferreirosJingiji = rios, riachos, conhe-

cidosJingombe = bois

39

Obs.: Muitas palavras desta classe que começam por/i/, quando escritas numa frase, observamos que o /i/desaparece e é substituído por um apóstrofe.

Ex.: Inzo = ’nzo = casa; Imbua = ’mbua = cão; Ixi= ’xi = terra, naturalidade.

Jingombo = umbigos, adivi-nhos, fugitivos

Jinguzu = forçasJinhoka ou Jinioka = cobrasJinhoki ou Jiniiki = abelhasJinjila = caminhos, pássarosJipambu = atalhos, encruzi-

lhadas, fronteirasJipange = irmãosJipoko = facasJisanji = galinhasJitata = pais

Ngombo = umbigo, adivi-nho, fugitivo

Nguzu = força, vigorNhoka ou Nioka = cobraNhoki ou Niiki = abelhaNjila = caminho, pássaroPambu = atalho, encruzi-

lhada, fronteiraPange = irmãoPoko = facaSanji = galinhaTata = pai

40

CLASSE XI

Na classe XI estão incluídos os nomes cujo prefixo nosingular é lu- e que fazem o plural acrescentando aosingular o prefixo da classe VI, ma-.

SINGULAR PLURAL

Lubambu = corrente Malubambu = correntesLukuaku = mão Malukuaku = mãosLumbu = muro Malumbu = murosLumuenu = espelho Malumuenu = espelhos

Obs.: O termo Malukuako é pouco usado, sendo maisconhecido o termo Maku.

No interior ocorrem variantes em que muitos nomesque começam pelo prefixo lu-, fazem o plural como ossubstantivos da classe X. Estes nomes são os que deri-vam de um nome colectivo e o prefixo lu- passa a indicarum objecto único a partir deste nome.

Ex.: Ndemba = cabelo/Lundemba = cabelo (um)/Jindemba = cabelos.

41

CLASSE XII

Na classe XII o prefixo do singular é ka- e no plural étu-. O diminutivo em kimbundu é feito colocando-se oprefixo ka- a preceder o nome.

Ex.: Hoji = leão — Kahoji = leãozinho; Ritari =pedra — Karitari = pedrinha.

Muitas vezes na formação do diminutivo o prefixo daclasse que vai diminuir desaparece.

Ex.: Muhatu = mulher/Kahatu = mulherzinha; Kima= objecto, coisa/Kama = coisinha.

SINGULAR PLURAL

Kakuria = bocado de comida Tumakuria = bocados decomida

Kamona = filhinho Tuana = filhinhosKa’nzo = casinha Tu’nzo = casinhasKauta = arma pequena Tumauta = armas pequenas

42

CLASSE XIII

A classe XIII tem no singular o prefixo tu- e faz oplural acrescentando ao singular o prefixo da classe VI,ma-. São raríssimos os nomes em kimbundu pertencen-tes a esta classe (encontrámos quatro, sendo que doissão empréstimos). Muitos nomes que começam por tu-na realidade pertencem à classe IX, onde tu- não é pre-fixo de classe, mas pertence ao radical da palavra Tulu(peito), Tuku (cauda; pluma; pena), Tumba (fatacaz;naco), Tumbu (umbigo), Tunda (sertão; Oriente).

SINGULAR PLURAL

Tubia = fogo, lume Matubia = fogosTuji = excremento Matuji = excrementosTujola = tesoura Matujola = tesourasTuxinha = toucinho Matuxinha = toucinhos

43

CLASSE XIV

Na classe XIV estão incluídos os nomes que começampelo prefixo u- no singular e fazem o plural acrescen-tando ao singular o prefixo da classe VI, ma-.

SINGULAR PLURAL

Uanda = rede, tipóia Mauanda = redes, tipóiasUanza = esperma Mauanza= espermasUenji = negócio Mauenji = negóciosUhaxi = doença Mauhaxi = doençasUina = toca, buraco Mauina = tocas, buracosUlungu = canoa Maulungu = canoasUsuku = noite, escuridão Mausuku = noites, escuridõesUta = espingarda, arma Mauta = espingardas, armasUtokua = cinza, cisco Mautokua = cinzas, ciscos

Muitas vezes o prefixo mau- pode ser encontradocomo mo-, ou ma-. Poderemos então ver escrito Mauta,Mota ou Mata com o mesmo significado, espingardas;Mausuku ou Mosuku = noites.

Na classe XIV estão incluídos os nomes abstractos etambém as profissões. Esses nomes derivam de nomesconcretos.

A respeito dos termos abstractos os Missionários doVicariato Geral de Malange escreviam «As línguas africa-nas são muito pobres em termos abstractos.

Encontramos, todavia, um certo número de termosabstractos, cuja característica é o prefixo u.

Ex.: umonha — a preguiça; ukumbu — a soberba;

44

unjinji — a avareza; ufusa — a ingratidão; unzambi —a divindade; ungana — a realeza; undenge — a infân-cia.» (1944: 12)

NOMES ABSTRACTOS

E PROFISSÕES

Ukulu = antiguidade

Utona = profissão de pesca-dor

Unzangala = juventude,mocidade, rapaziada

Umvama = riquezaUngamba = profissão de

carregadorUngana = senhoriaUnguma = inimizade, rivali-

dadeUnzambi = divindadeUpange = fraternidadeUkamba = amizade, camara-

dagemUkota = maioridade, supe-

rioridade

NOMES CONCRECTOS

E PROFISSÕES

Mukulu = velho, maior, ante-passado

Mutona = pescador

Muzangala = rapaz, jovem

Mvama = ricoNgamba = carregador

Ngana = senhor, senhoraNguma = inimigo, rival

Nzambi = DeusPange = irmãoRikamba = amigo, camarada

Rikota = mais velho, superior

45

CLASSE XV

A classe XV engloba os nomes que têm no singular oprefixo ku- e fazem o plural acrescentando ao singular oprefixo da classe VI, ma-. Quase todos esses nomes sãoinfinitivos verbais que muitas vezes em kimbundupodem também ter o sentido de substantivo. Assim, porexemplo, Kuria pode significar tanto o verbo comerquanto pode ter o significado de o comer, isto é, comida.

SINGULAR PLURAL

Kufua = morte Makufua = mortesKuinhi = dezena Makuinhi = dezenasKunua = bebida Makunua = bebidasKuria = comida Makuria = comidasKutunga = costura Makutunda = costuras

46

Ao quadro apresentado e retirado de Angola: Povos eLínguas (Fernandes, 2002: 72) os autores apresentam maistrês classes — as locativas —, sendo a 16, a 17, e a 18,bhu, ku e mu, respectivamente.

As gramáticas de kimbundu existentes até à dataconsideram dez classes, cada uma delas com singular eplural. Esta não compreensão das classes em que sedividem as línguas bantas originalmente e a falta de estu-dos globais acerca destas levou os gramáticos da épocaa apresentar vários erros que podemos facilmente cons-tatar.

Chatelain e Quintão estão de acordo no fundamen-tal, sendo a gramática de Quintão, no essencial, igual àde Chatelain. Logo na primeira página do Prólogo,Quintão escreve «Confesso que nesta tarefa, fui muitoauxiliado pela gramática de Heli Chatelain e pelo dicio-nário de J. D. Cordeiro da Matta; ambos estes livros,

CLASSE PREFIXOS

SINGULAR PLURAL SINGULAR PLURAL

1 2 mu a3 4 mu mi5 6 di ma7 8 ki i14 6 (+ 14) u ma+u11 6 (+ 11) lu ma+lu13 6 (+ 13) tu ma+tu15 6 (+ 15) ku ma+ku9 10 Ø – i ji12 13 ka tu

47

especialmente o primeiro, tive de, frequentemente, con-sultar e compulsar para uma coordenação mais ade-quada e atingir o fim a que me propuz.» (1934: 1) Naverdade as divergências de Quintão com Chatelainresumem-se ao uso dos prefixos ri- ou di- na classe IV

e ao prefixo i- na classe IX. Entre os Missionários eChatelain não há qualquer divergência, entre o padreMaia e os restantes autores os contrastes são maiores.

Nas páginas seguintes apresentamos um quadro com-parativo das quatro gramáticas estudadas, relativo aosprefixos de cada uma delas e à divisão em classes.

CLASSE CHATELAIN QUINTÃO MISSIONÁRIOS MAIA

11.a mu – a mu – a mu – a mu/u – ma/a12.a mu – mi mu – mi mu – mi mu/u – i13.a ki – i ki – i ki – i ki/e – î14.a ri – ma di – ma ri – ma o/i/e – ma15.a u – mau u – mau u – mau u – mau16.a lu – malu lu – malu lu – malu m/n/o – o la1

17.a tu – matu tu – matu tu – matu lu – malu18.a ku – maku ku – maku ku – maku ku – maku19.a Ø – ji i; Ø – ji Ø – ji ka – aka/maka10.a ka – tu ka – tu ka – tu ka – u

1 Hoje há uma grande tendência para mudar o prefixo do plural o la (6.a classe)em a; ex.: angombe, os bois — por o langombe. (Maia, 1957: 14)

48

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)

CLASSE I

49

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CLASSE II

50

PAD

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1957

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. 10

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CLASSE III

51

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15)

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(p.

10)

CLASSE IV

52

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conc

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ex.:

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eus,

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. 16

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gu-

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prin

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or u

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todo

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c-to

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. 11

)

CLASSE V

53

PAD

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A M

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1957

Sing

ular

m-/

n-/o

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. (p

. 13

)

HE

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IN

1888

-188

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I te

m n

o sin

g. o

pre

f.lu

-, qu

e no

pl.

se m

uda

emm

alu-

. E

x.:

lum

bu

pl.

mal

umbu

.N

o se

rtão

mui

tos

nom

es q

ueco

meç

am p

or l

u- n

ão f

or-

mam

o p

l. co

mo

esta

cl.,

mas

sim c

omo

a cl

. IX

: sã

o os

que

se

deri

vam

de

um

no

me

colle

ctiv

o e

indi

cam

um

obje

cto

unic

o, d

esta

cado

da

colle

ctiv

idad

e. E

x.:

lund

emba

= u

m c

abell

o, p

l. jin

dem

ba.

(p.

5)

JOSÉ

LU

IZ Q

UIN

TÃO

1934

A e

sta

cl.

pert

ence

m t

odos

os n

omes

, cu

jos

pref

ixos

do

sing.

e p

l. sã

o: l

u-;

mal

u-.

No

Sert

ão,

mui

tos

nom

esqu

e co

meç

am p

or l

u-,

não

form

am o

pl.

com

o es

ta c

l.,m

as s

im c

omo

a cl.

IX; s

ão o

squ

e se

der

ivam

de

um n

ome

cole

ctiv

o e

indi

cam

um

obje

cto

únic

o, s

epar

ado

daco

lect

ivid

ade,

ex.:

lunde

mba

=um

ca

belo

, pl

. jin

dem

ba;

lüng

uba,

um

am

endo

im,

pl.

jingu

ba;

lumb

ozo,

uma

bata

ta,

pl.

jimbo

zo.

(p.

16)

MIS

SIO

NÁR

IOS

DO

VIC

ARIA

TO

GE

RAL

DE M

ALAN

GE

1943

O p

refi

xo d

o si

ngul

arda

6.a

clas

se é

lu-

e o

dopl

ural

mal

u-.

Para

a f

orm

ação

do

plu-

ral

bast

a su

bstit

uir

opr

efix

o do

sin

gula

r pe

lodo

plu

ral.

Pert

ence

m a

est

a cl

asse

os n

omes

que

, no

sin

gu-

lar,

prin

cipi

am p

or l

u-.

São

mui

to

pouc

os

ossu

bsta

ntiv

os q

ue p

erte

n-ce

m a

est

a cl

asse

. (p.

11)

CLASSE VI

54

HE

LI C

HAT

ELA

IN

1888

-188

9

A c

l. V

II t

em n

o sin

g. o

pre

f.tu

-,

e no

pl

. m

atu-

. Sã

ora

riss

imos

os

nom

e d’

esta

clas

se.

Em

m

uito

s no

mes

qu

eco

meç

am p

or t

u-,

esta

syl

laba

faz

part

e do

rad

ical

, e

este

sno

mes

per

tenc

em à

cl.

IX. E

x.:

tulu

, pe

ito,

pl.

jitul

u. (

p. 6

)

MIS

SIO

NÁR

IOS

DO

VIC

ARIA

TO

GE

RAL

DE M

ALAN

GE

1943

O p

refi

xo d

o si

ngul

arda

7.a

clas

se é

tu-

e o

do

plur

al é

mat

u.Pa

ra a

for

maç

ão d

o pl

u-ra

l ba

sta

subs

titui

r o

pref

ixo

do s

ingu

lar

pelo

do p

lura

l.Pe

rten

ce a

est

a cl

asse

um o

u ou

tro n

ome

que,

no

sing

ular

pr

inci

pia

por

tu-.

A e

sta

clas

se d

evem

per

-te

ncer

ape

nas

umas

trê

spa

lavr

as.

As

pala

vras

tuku

, ca

uda;

tul

u, p

eito

;tu

mba

, na

co;

tum

bu,

umbi

go p

erte

ncem

à 9

.a

clas

se.

(p.

11)

PAD

RE A

NT

ÓN

IO

DA

SILV

A M

AIA

1957

Sing

ular

lu-

, pl

ural

mal

u-.

(p.

13)

CLASSE VIIJO

SÉ L

UIZ

QU

INT

ÃO

1934 —

55

HE

LI C

HAT

ELA

IN

1888

-188

9

A c

l. V

III

tem

no

sing.

o p

ref.

ku-

e no

pl.

mak

u-.

Qua

sito

dos

os n

omes

d’es

ta c

l. sã

oin

finiti

vos,

nom

es v

erba

es.

Sóad

mitt

em o

plu

r., q

uand

o o

uso

lhes

uma

signi

ficaç

ãoco

ncre

ta.

As

cl. IV

, V, V

I, V

II, V

III,

têem

om

esm

o pr

ef.

pl.

ma-

; po

rém

na c

l. IV

est

e pr

ef.

pl.

subs

titue

o pr

ef.

sing

., en

quan

to q

uena

s cl

. V,

VI,

VII

, V

III

lhe

fica

antep

osto.

(p.

6)

JOSÉ

LU

IZ Q

UIN

TÃO

1934

A e

sta

cl.

pert

ence

m t

odos

os n

omes

, cu

jos

pref

ixos

do

sing.

e p

l. sã

o: k

u-;

mak

u-.

Todo

s os

nom

es d

esta

cl.

são

infin

itivo

s, (s

ubst

antiv

osve

rbai

s. Só

adm

item

o p

lur.,

quan

do o

uso

lhe

s dá

um

asi

gnif

icaç

ão c

oncr

eta.

(pp

.16

-17)

MIS

SIO

NÁR

IOS

DO

VIC

ARIA

TO

GE

RAL

DE M

ALAN

GE

1943

O p

refix

o do

sin

gula

r é

ku-

e o

do

plur

al

ém

aku-

.Pa

ra a

for

maç

ão d

o pl

u-ra

l ba

sta

subs

titui

r o

pref

ixo

do s

ingu

lar

pelo

do p

lura

l.Pe

rten

cem

a e

sta

clas

seos

nom

es ver

bais.

(p.

11)

PAD

RE A

NT

ÓN

IO

DA

SILV

A M

AIA

1957

Perte

ncem

à O

itava

Clas

se os

nom

es g

eral

men

te v

erba

is.

Sing

ular

ku-

, pl

ural

mak

u-.

(pp.

13-

14)

CLASSE VIII

56

CLASSE IXH

ELI

CH

ATE

LAIN

1888

-188

9

A c

l. IX

car

ece

de p

refix

o no

sing.

, e

form

a o

plur

., an

te-

pond

o ji-

no

sing

. E

x.:

hoji

pl.

jihoj

i.R

econ

hece

m-s

e os

no

mes

d’es

ta c

l. pe

la au

sencia

de

qual-

quer

dos

pref

. da

s ou

tras

classe

s.O

s no

mes

da

cl. I

X p

odem

ter

por

inic

ial q

ualq

uer

das

letra

sse

guin

tes: h

-, p-

, j-,

x-, s

-, f-,

n-,

a-,

e-,

i-, o

-, m

-. (E

xc.:

sing.

mu-

e p

l. m

i-),

t- (E

xc.:

sing.

tu-

cl.

VII

e p

l. tu

- cl

. X

), k-

(Exc

.: ki-

, ka-

, ku-

), l-

(Exc

.: lu

-).Po

de h

aver

alg

uma

duvi

da s

óqu

ando

um

no

me

com

eça

por

tu-,

ku-,

lu-.

N’e

sse

caso

bast

a pe

rgun

tar

a um

ind

i-ge

na o

pl.

do n

ome.

JOSÉ

LU

IZ Q

UIN

TÃO

1934

Est

a cl

. ca

rece

de

pref

ixo

desin

g.; o

u se

o t

em, d

eve

esta

rre

pres

enta

do n

as n

asais

n o

um.

A l

etra

i,

inic

ial d

e alg

uns

nom

es é

euf

ónic

a e

pref

ixa-

se a

os n

omes

, qu

e do

utra

form

a, s

eria

m m

onos

sílab

os,

ex.:

inzo

, in

ji, i

ngo,

imbu

a. Ê

ste

i, ca

i ig

ualm

ente

qua

ndo

ono

me

é pr

eced

ido

de v

ogal

,co

mo,

o’n

zo.

Rec

onhe

cem

-se

os

nom

esde

sta

cl.

pela

aus

ênci

a de

qualq

uer

dos

pref

. da

s ou

tras

cl.

Ant

igam

ente

era

est

a, a

clas

sedo

s an

imai

s, h

oje

cont

émta

mbé

m p

ara

pess

oas

e co

i-sa

s.

MIS

SIO

NÁR

IOS

DO

VIC

ARIA

TO

GE

RAL

DE M

ALAN

GE

1943

O p

refix

o do

plu

ral

da9.

a clas

se é

ji-.

O p

refix

odo

sin

gula

r nã

o ex

iste.

Para

a f

orm

ação

do

plu-

ral

bast

a ac

resc

enta

r o

pref

ixo

do

plur

al

aono

me.

Pert

ence

m a

est

a cl

asse

os n

omes

que

pri

nci-

piam

por

m-

ou n

- e

umou

out

ro q

ue c

omeç

apo

r tu

-, be

m c

omo

osno

mes

de

or

igem

estr

ange

ira.

Not

a: O

s su

bsta

ntiv

osco

m o

pre

fixo

próp

rio

dest

a cl

asse

pod

em f

icar

sem

pre

no

sing

ular

,qu

ando

tiv

erem

alg

uma

PAD

RE A

NT

ÓN

IO

DA

SILV

A M

AIA

1957

Sing

ular

ka

-,

plur

al

aka-

.(p

. 13

)

57

Todo

s os

que

têe

m j

i- no

pl.

pert

ence

m á

cl.

IX.

Ant

igam

ente

era

est

a a

cl.

dos

anim

aes;

hoje

usa

-se

tam

bem

para

pes

soas

e c

oisa

s.Q

uasi

toda

s as

pala

vras

estr

an-

geira

s, se

m e

mba

rgo

da s

uafo

rma

inic

ial,

form

am o

pl.

com

o es

ta c

l. E

x.:

kaba

lu,

cava

llo p

l. jik

abal

u.Q

uand

o um

nom

e te

m p

orle

tra

inic

ial

um i

- el

ide-

sees

te i

- no

pl.

Ex.

: in

zo,

casa

,pl

. jin

zo (

i+i=

i). (

p. 7

)

Quá

si

toda

s as

pa

lavr

ases

tran

geir

as,

sem

em

barg

oda

sua

for

maç

ão i

nici

al,

for-

mam

o p

l. co

mo

esta

cl.,

ex.

kaba

lu,

cava

lo,

pl.

jikab

alu.

Qua

ndo

um n

ome

tem

por

i- ili

de-s

e ês

te i

- no

pl.,

ex.

inzo

, pl

. jin

zo (

i+i=

i).N

o pl

. os

nom

es d

esta

cl.

pode

m o

miti

r o

pref

ixo

ji,qu

ando

são

seg

uido

s de

ja

(gen

itiv

o),

ex.:

ndan

du

jamu

ndele

= j

inda

ndu

ja mu

ndele

.(p

. 17

)

pala

vra

com

que

con

-co

rdem

, ex

cept

o se

fôr

um

pron

ome.

E

x.:

ngom

be j

iiari,

doi

s bo

is;

jingo

mbe

j’a

mi,

os m

eus

bois

. (p

p.

11-1

2)

CLASSE IX (cont.)

58

CLASSE XH

ELI

CH

ATE

LAIN

1888

-188

9

A c

l. X

tem

no

sing.

o p

ref.

ka-

e no

pl

. o

pref

. tu

-.C

ompe

hend

e es

ta c

l. to

dos

os n

omes

dimin

utivo

s. E

stes

for

-m

am-s

e, p

refi

xand

o ka

- ao

nom

e qu

e se

que

r di

min

uir.

A f

orm

ação

do

pl.

dos

dim

i-nu

tivo

s ap

rese

nta

algu

ma

diff

icul

dade

, po

rque

de

ixa

subs

istir

em

mui

tos

caso

s o

pref.

plu

r. da

cla

sse

do n

ome

dim

inui

do,

com

o se

nos

exem

plos

. N

ote-

se:

1) q

ue n

acl

. IX se

mpre

se om

itte o

seu

pre

f.pl

., 2)

que

nas

cl.

I e

III

o se

upr

ef.

sing

. e

pl.

se e

limin

aalg

umas

vez

es ao

pas

so q

ue n

asou

tras

cl. s

empr

e se

conser

va.

JOSÉ

LU

IZ Q

UIN

TÃO

1934

A e

sta

cl.

pert

ence

m t

odos

os n

omes

, cu

jos

pref

ixos

do

sing.

e p

l. sã

o: k

a-;

tu-.

Com

pree

nde

todo

s os

dim

i-nu

tivos

e

form

am-s

e,pe

rfix

ando

ka

ao n

ome

que

se q

uer

dim

inui

r (n

o sin

g.).

A f

orm

ação

do

pl.

dos

dim

i-nu

tivo

s, a

pres

enta

alg

uma

dific

ulda

de,

porq

ue e

m m

ui-

tos

caso

s, o

pre

f. pl

ur.

dacl

asse

do

nom

e di

min

uido

,su

bsis

te,

com

o se

nos

exem

plos

.N

ote-

se q

ue n

a cl

. IX, s

empr

ese

om

ite o

seu

pre

f. pl

., e

que

nas

cl. I

e I

II, o

seu

pre

f.sin

g. e

pl.

se i

limin

a alg

umas

MIS

SIO

NÁR

IOS

DO

VIC

ARIA

TO

GE

RAL

DE M

ALAN

GE

1943

O p

refi

xo d

o si

ngul

arda

10.

a cl

asse

é k

a- e

odo

plu

ral

é ti-

.Pa

ra a

for

maç

ão d

o pl

u-ra

l ba

sta

subs

titui

r o

pref

ixo

do s

ingu

lar

pelo

do p

lura

l.Pe

rten

cem

a e

sta

clas

se,

sobr

etud

o, o

s di

min

uti-

vos.

O

s no

mes

qu

epr

inci

piam

por

ka-

são

mui

to p

ouco

s. (p

. 12

)

PAD

RE A

NT

ÓN

IO

DA

SILV

A M

AIA

1957

Pert

ence

m à

Déc

ima

Cla

sse

espe

cial

men

te o

s di

min

uti-

vos.

Sing

ular

ka-

, pl

ural

u-.

(pp.

13-1

4)

59

Not

a: A

s de

scriç

ões

apre

sent

adas

nas

pp.

48-

59 e

stão

gra

fada

s co

nfor

me

as e

diçõ

es c

onsu

ltada

s.CH

ATE

LAIN

, H

eli

(188

9).

Gra

mmat

ica E

lemen

tar

do K

imbu

ndu,

2.a

ed.,

1964

, N

ew J

erse

y: T

he G

regg

Pre

ss I

ncor

pora

ted.

QU

INTÃ

O,

José

Lui

z (1

934)

. G

ramá

tica

de K

imbu

ndo,

Lisb

oa:

Des

cobr

imen

to.

MIS

SIO

RIO

S D

O V

ICA

RIA

TO G

ERA

L D

E M

ALA

NG

E (

1944

). E

lemen

tos d

a G

ramá

tica

de Q

uimb

undo

, Mala

nge.

MA

IA,

padr

e A

ntón

io d

a Si

lva

(195

7).

Gra

mátic

a de

Kim

bund

o, 2.

a ed

., 19

64,

Cucu

jães

.

Cada

vez

por

ém,

que

o pr

ef.

da c

lass

e de

sapp

arec

e na

for

-m

ação

do

dim

inut

ivo

sing

.ta

mbe

m n

ão a

ppar

ece

no p

l.E

x.:

kaha

tu p

l. tu

hatu

(de

kam

uhat

u).

Kau

lung

u po

deco

ntra

hir-

se

em

kolu

ngu

(a+

u=o)

.

veze

s,

ao

pass

o qu

e na

sou

tras

cl

asse

s se

mpr

e se

cons

erva

.Q

uand

o o

pref

ixo

da

cl.

desa

ppar

ece,

na

form

ação

do d

imin

utiv

o sin

g. t

ambé

mnã

o ap

arec

e no

pl.,

ex.:

kaha

tupl

. tu

hatu

(d

e ka

muh

atu)

.Ka

ulun

gu p

ode

cont

rahi

r-se

em k

olung

u (a

+u=

o).

CLASSE X (cont.)

60

61

Segundo os vários autores o alfabeto do kimbundu éconstituído pelas vogais /a/, /e/, /i/, /o/, /u/ e pelasconsoantes /b/, /d/, /f/, /g/, /h/, /j/, /k/, /l/,/m/, /n/, /p/, /r/, /s/, /t/, /v/, /x/ e /z/. Note-seque /c/, /q/, /w/, /y/ não existem.

Quanto à pronúncia Chatelain (1889: XXII) escreve:

«Vogaes: a, e, i, o, u, como em portuguez (valoralphabetico).

Obs.: 1) Na pronuncia rapida e ante vogal = i v. g.pange ami = pangiami.

2) i e u ante vogal = semi-vogaes v. g. iiii, uiua. Cf.portuguez: aia, agua. As excepções são marcadascom accento agudo v. g. kizúa, ngejía.

3) au, ai, eu, ou: Sendo finaes teem o acento tonicona 1.a vogal v. g. rikau, pron. rikáu; sai, pr. sái;sendo seguidos de consoante teem o accento naultima vogal v. g. sai-ku, pron. saí-ku; kubauka, pr.kubaúka.

O alfabeto

62

Consoantes: b, d. f, j, k, l, m, n, p, t, v, z, como emportuguez.

Obs.: m e n não nazalizam a vogal antecedente, massim a consoante immediata. Ambos representam o nasal:

m ante as labiaes b, v, no sertão tambem ante p e f(mb, mv, mp, mf).

n ante as dentaes brandas d, z, j, e a guttural brandag (nd, nz, nj, ng).

g é sempre duro e nasal = ng; nge e ngi = ngue e nguiem portuguez.

h é sempre aspirado, nunca mudo.r ou ri (nunca sem i) equivale em Loanda a ri bran-

do, com approximação a di, no interior sôa comodi, com approximação a ri brando.

s é sempre = ç, nunca = z.x é sempre = x e ch em xaque, cheque.

Syllabização: 1) Todas as syllabas devem acabar emvogal.

2) m e n precedendo consoante sempre se devemescrever e pronunciar juntamente com a consoantev. g. ambula = a-mbu-la imvo = i-mvo, ndongo =ndo-ngo, ngenji = nge-nji.

3) au, ai, eu, ou finaes contam por duas syllabas (a-u, a-i, e-u, o-u), mas na pronuncia rapida sôamcomo diphtongos.»

Ainda relativamente às vogais escrevem os Missioná-rios do Vicariato Geral de Malange (1944: 4) que o /e/«pode ter dois sons: aberto como o e de fé; fechado,

63

como o e de medo, quando seguidos das consoantes n oum, contanto que não sejam puras. Ex.: — menha água;henda amor.»

No que diz respeito às consoantes /m/ e /n/ cabeacrescentar que são nasais homorgânicas que se arti-culam no início da sílaba com outras consoantes. Aque-las não possuem o valor real de consoante, mas servemcomo sinais gráficos (como se fossem um til), e represen-tam o som nasal, isto é, as consoantes que são por elasprecedidas têm o som nasalado e são proferidas numa sóemissão de voz. O /m/ ante as labiais /b/ e /v/ «nosertão tambem ante p e f» Chatelain (1889: XXIII)(Mbengu [m ÉbeN Égu], Imvo [im Évo]) e o /n/ antes de/d/, /g/, /j/ ou /z/ (Ndombe [n Édom Ébe], Nganga[NÉgaNÉga], Njibiri [nÉZibiri], Nzumbi [n ÉzumÉbi].

Constata-se também a existência de variedades dia-lectais em que as consoantes são trocadas — /r/ por /d/ (kitari ou kitadi — dinheiro).

Na sua gramática, Chatelain (1889: XXIII) deixa claroque a sílaba tónica recai como regra geral na penúltimasílaba, sendo esta sílaba, portanto, a que tem maior forçana pronúncia. Alguns autores, como é o caso de Cor-deiro da Matta, destacam a sílaba tónica com o uso doacento gráfico, sendo que Chatelain dispensa o uso domesmo; uma vez que considera que já está implícito queesta sílaba é a que tem maior intensidade na pronúncia.Para Chatelain e outros autores, os acentos servemsomente para as excepções à regra geral.

Segundo Mingas (2000: 36) «o quimbundo tem cincovogais (duas anteriores, duas posteriores e uma central),

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com quatro graus de abertura. Esta língua não apresentanenhuma vogal nasal. Interessa, entretanto, sublinharque as vogais que seguem uma consoante pré-nasal rea-lizam-se nasalizadas, quando pronunciadas por locutoresda variante.

As consoantes comportam sete séries, nomeada-mente: labial, dental, pré-palatal, palatal, apical, velar eglotal.»

A mesma autora apresenta-nos para as vogais (Min-gas, 2000: 36):

ANTERIOR CENTRAL POSTERIOR

1.o grau [i] [u]2.o grau [e] [o]3.o grau [E] [ç]4.o grau [a]

Para as consoantes (Mingas, 2000: 38):

Orais Fortes (surdas) [p] [f] [t] [s] [S] [k] [h]Fracas (sonoras) [b/B] [v] [d] [z] [Z]

Nasais Fortes (nasais) [m] [n] [¯]Fracas (pré-nasais) [mb] [Mv] [nd] [nz] [nZ] [¯g]

Contínuas [l] [y] [w]

BILA

BIA

L

LABI

OD

ENTA

L

APIC

AL

PRÉ-PA

LATA

L

PALA

TAL

VEL

AR

GLO

TAL

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O kimbundu segue a regra de constituição silábicamais comum à maioria das línguas do mundo, CVCV.

Apresentamos de seguida as várias ocorrências e asua descrição no esqueleto.

V imbanda = i.mba.nda (curandeiros)CV mutue = mu.tue (cabeça)CGV munia = mu.nia (cachorrinho)NCV mbulu = mbu.lu (fim)NCGV imbia = i.mbia (casa)

A constituição silábica do kimbundu

66

a) observamos sílabas de Ataque vazio como emi.mba.nda;

Ataque Rima

Núcleo

Ø i

b) observamos sílabas de Ataque não ramificado sim-ples como em mu.tue;

Ataque Rima

Núcleo

m u

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c) observamos sílabas de Ataque ramificado comoem mbu.lu

Ataque Rima

Núcleo

m b u

d) observamos sílabas de núcleo ramificado como emmu.nia

Ataque Rima

Núcleo

n i a

68

O kimbundu apresenta três tipos de Ataque: ramifica-do quando domina duas posições do esqueleto que cor-respondem a duas concoantes; não ramificado simplesquando domina uma posição no esqueleto que corres-ponde a uma consoante ou nenhuma (vazio):

simplesnão ramificado

vazioAtaque

ramificado

Em kimbundu a Rima é sempre não ramificadapodendo ter um núcleo ramificado ou não:

não ramificado(Vogal)

Rima não ramificada = Núcleoramificado(Vogal e Glide)

Em kimbundu as sílabas acabam em vogal não exis-tindo sílabas de rima ramificada (ver exemplos acima);

As ocorrências /au/, /ai/, /eu/, /ou/ em final depalavra equivalem a duas sílabas, embora numa veloci-dade de elocução elevada possam parecer ditongos, porex.: [Rikáw] no lugar de [Rikáu] sendo <ri.ka.u>; passa-se o mesmo que em latim vulgar em que a passagem doritmo tonal ao intensivo motiva o desaparecimento daqualidade da vogal com traço fónico diferente.

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Algumas línguas bantas, entre elas o kimbundu,fazem-se valer da intensidade com um valor fonéticoque recai preferencialmente sobre a penúltima sílaba dapalavra.

O facto de o kimbundu ter sido estudado principal-mente por missionários e funcionários administrativos preo-cupados com objectivos imediatos e em acomodar os tonsescutados à sua estrutura linguística, de lembrar que oportuguês não é uma língua tonal, leva a que as gramáticase dicionários da época, por si só, não nos ofereçam meiospara uma marcação dos tons na escrita. Em 1891, no seutrabalho As Linguas de Angola, Ladislau Batalha (professor)tinha como objectivo «o de mostrar e conseguir que secomprehenda a organisação e meios de que se serve a lin-guagem agglutinativa para verter os pensamentos e as idéiasem phrases sonoras, cadenciadas e harmonicas.» (Batalha,1891: 8) As «phrases sonoras, cadenciadas e harmonicas»haviam sido vertidas para a escrita com os sons que quemos registava podia reproduzir com o seu código de escrita.

O tom

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Mesmo hoje uma pesquisa in loco seria dificultada pelaassimilação de outras línguas, o português e vizinhas,por parte dos falantes. A língua portuguesa, à época dasdescrições existentes do kimbundu, devia ser «faladacorrectamente por quem desejar candidatar-se à cidada-nia portuguêsa», assim estava escrito nos Estatutos dosIndígenas da Guiné, Angola e Moçambique.

«A forma mais usual de indicar os tons mais comunsconsiste em sobrepor à vogal os símbolos: ´ (tom alto),` (tom baixo), ‡ (tom ascendente) e fl (tom descendente).Na grande maioria das línguas tonais são os núcleos silá-bicos as unidades portadoras de tom.» (Andrade, 2007:93)

Em Quintão os acentos «Servem para indicar as excep-ções à regra geral e para distinguir um vocábulo de outroseu parónimo. [...] na penúltima: entoação particular deparónimo.» (Quintão, 1934: 13) Para Maia «As sílabas (sonspronunciados com uma só emissão de voz) das palavras doQuimbundo são pronunciadas todas com tal clareza que àprimeira vista parece nenhuma estar acentuada.

Há, porém, sílabas acentuadas dentro das palavras —o que só se aprende a fazer e a distinguir com o uso ea prática da Língua.» (Maia, 1964: 6)

As línguas tonais valem-se da duração, ou seja, daoposição entre vogais longas e vogais breves. Normal-mente as vogais longas ocorrem de uma elisão. Se ostons são iguais, permanecem e inversamente combinam-se em ascendente-descendente, descendente-ascendente,etc. Certos pares de palavras, caso dos parónimos, só sedistinguem pelos tons: ex.: kubanga (fazer), e kubánga

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(pelejar); hama (cama) e háma (cem); kuloua (enfeitiçar)e kulóua (pescar); njila (caminho) e njíla (pássaro), etc.o que mostra que fonemas aparentemente iguais, masdiferentes em tons são também eles diferentes nos seussignificados independentemente do contexto em que seencontram.

O acento agudo com que está marcada a sílaba tónica«não é tonico, não existe na pronuncia de uma lettraparticular, mas na entoação de toda a palavra. [...] demodo que a antepenultima e a ultima ou esta só soammais claras e que na emissão da ultima a expiração vogalfica como que suspendida.» (Chatelain, 1899: 153)

72

73

Ao longo da História o continente africano foi sendousado pela Europa como depósito de degredados earmazém de escravos. O kimbundu, língua em que apalavra cadeia não existia, necessitou de um emprés-timo do português para a incorporar. Por exemplo, aconhecida canção do movimento de libertação MPLA:«Doutor Netoé mu caleia, ngongoé» (O Doutor Netoestá na cadeia, que sofrimento). Sabemos também queo árabe, o francês, o inglês, o português e o africânderao longo de vários séculos deixaram uma quantidadeconsiderável do seu vocabulário em muitas línguas afri-canas.

O kimbundu, à semelhança das outras línguas bantas,não tem tradição escrita. Os primeiros a escrevê-la e aestudar-lhe as regras gramaticais foram os missionárioscapuchinhos e jesuítas de Ambaka. Fizeram-no com ofim de ensinar a língua portuguesa e o catecismo aosafricanos. Foram eles que introduziram os princípios or-tográficos ainda hoje vigentes.

Comentário

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Nos séculos XIX e XX surgem estudiosos do kimbundu,de onde destacamos Héli Chatelain. A este sucedeu-lheJosé Luiz Quintão cujas diferenças com Chatelain sãoanotar o prefixo di- em lugar de ri- no singular da classe4, a organização da obra por ter agrupado todos os exer-cícios no final e finalmente ter acrescentado uma parte devocabulário. É ainda de salientar o anotar das «Diferençasprincipais entre o dialecto do Sertão e o de Luanda»(Quintão, 1934: 200) que se apresentam de seguida e quejá estavam expostas em Chatelain (1889: 150):

— Em logar de ng de Loanda, encontra-se, às vezes,no Sertão l, ex: ngoji, corda, ngatu, colhér; loji, lutu.

— Em Loanda é facultativo dizer: lumata ou numata,bokola ou bokona, no Sertão prefere-se o n.

— No Sertão o p e o f são geralmente precedidos danazal m, ex: mpexi em vez de pexi, cachimbo.

— O ri que em Loanda sôa quási como em português,e que eu nêste compêndio substituo por di, sôa noSertão como di (em umbundu: li).

— Ao ui final de Loanda, corresponde no Sertão ue,ex: ditui, dizui = ditue, dizue, orelha, voz.

— O x de muitas palavras, pronuncia-se no Sertãocom tx (umbundu: c), ex: muxi, muxima = matxi,mutxima, pau, coração.

— Ao som de tx, corresponde o som de ch, usado noNorte de Portugal.

— No Sertão preferem as formas completas às abre-viadas, ex: kiabu em vez de kiá, ngoho em vez dengó, já e só.

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— Em muitas palavras há uma pequena diferênça, ex:L. mungaa, sal, S. mongua; L. nhiki, ou nhoki, S.nhuki, abelha; L. kindala, agora, S. kindaula; L.diju, S. dizu, dente: etc.

— Em vários pontos do Sertão conta-se assim: moxi,kadi, tatu, uana, tana, samanu, sambuadi, dinake,divua, dikumi (de 1 a 10); makumi a ladi, (20)makumi a tatu (30), etc.»

Das outras duas gramáticas, a dos Missionários doVicariato Geral de Malange reproduz em versão abre-viada o que as anteriores já tinham estudado, enquantoque a do padre Maia está em flagrante contradição comtodas as outras nomeadamente quanto aos vários prefi-xos do kimbundu.

Parece-nos que o autor de qualquer uma destas gra-máticas pretendia frutos de entendimento mínimos erápidos. A sua preocupação não era o estudo da língua,mas sim fazer uma ferramenta, ainda que rudimentar.Para dar ordens era necessário ser entendido, sendo omesmo também válido para as almas.

A primazia da fala sobre a escrita é, ainda hoje emdia, uma realidade que se observa em sociedades onde orural se sobrepõe ao urbano, como acontece em África.É comummente aceite a importante presença da tradiçãooral ao longo da História de África. Os contos e osprovérbios têm lugar de destaque nas tradições bantas,pois são estes que vão transportar o passado até ao pre-sente.

76

77

ANDRADE, Ernesto d’ (2007). Línguas Africanas — BreveIntrodução à Fonologia e à Morfologia, Lisboa: A. Santos.

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ANEXOS

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A concordância faz-se, em kimbundu, através do pre-fixo do substantivo que inicia a frase e lhe serve desujeito. Apresentamos de seguida quadros dos prefixosnominais e concordantes descritos pelos autores por nósestudados e a sua aplicação prática. Exemplos em Baião,1946: 26.

PREFIXOS NOMINAIS

CLASSE CHATELAIN QUINTÃO MISSIONÁRIOS MAIA

11.a mu – a mu – a mu – a mu/u – ma/a12.a mu – mi mu – mi mu – mi mu/u – i13.a ki – i ki – i ki – i ki/e – î14.a ri – ma di – ma ri – ma o/i/e – ma15.a u – mau u – mau u – mau u – mau16.a lu – malu lu – malu lu – malu m/n/o – o la1

17.a tu – matu tu – matu tu – matu lu – malu18.a ku – maku ku – maku ku – maku ku – maku19.a Ø – ji i; Ø – ji Ø – ji ka – aka/maka10.a ka – tu ka – tu ka – tu ka – u2

Concordâncias

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PREFIXOS CONCORDANTES

CLASSE CHATELAIN QUINTÃO MISSIONÁRIOS MAIA

11.a ua – a ua – a ua – a ua – a12.a ua – ia ua – ia ua – ia ua – ia13.a kia – ia kia – ia kia – ia kia – ia14.a ria – ma dia – ma ria – ma/a lia – a15.a ua – ma ua – ma ua – ma/a ua – a16.a lua – ma lua – ma lua – ma/a ia – ia17.a tua – ma tua – ma tua – ma/a lua – a18.a kua – ma kua – ma kua – ma/a kua – a19.a ia – ji ia – ja ia – ja ka – a10.a ka – tu ka – tua ka – tua ka – ua

11.a Mubika uami uakala umoxi Abik’am iakala atatuO meu escravo era um Os meus escravos eram três

12.a Mukolo uami uakala umoxi Mikolo iami iakala itatuA minha corda era uma As minhas cordas eram três

13.a Kialu kiami kiakala kimoxi Ialu iami ikala itatuA minha cadeira era uma As minhas cadeiras eram três

14.a Rilonga riami riakala rimoxi Malonga mami makala matatuO meu prato era um Os meus pratos eram três

15.a Uta uami uakala umoxi Mauta mami makala matatuA minha arma era uma As minhas armas eram três

16.a Lumbu luam iluakala lumoxi Malumbu mami makala matatuO meu muro era um Os meus muros eram três

17.a Tubia tuam ituakala tumoxi Matubia mami makala matatuO meu fogo era um Os meus fogos eram três

18.a Kuria kuami kuakala kumoxi Makuria mami makala matatuA minha comida era uma As minhas comidas eram três

19.a Mbiji iami iakala imoxi Jimbiji jami jakala jitatuO meu peixe era um Os meus peixes eram três

10.a Kamona kami kakala kamoxi Tuana tuami tuakala tutatuA minha criança era uma As minhas crianças eram três

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MisomoContos

I

Eme ngateletele nganaKimalauezu kia TumbaNdala, uakexiriê ni mukajiê, ku rima ria kukala angaakalâ mukaji ê anga uizauimita. Muene kana kariêxitu, maji usema ngó mbiji.O riala, ki aia mu tamba,ubeka ndumba ria jimbiji.O jimbiji anga jilengela mungiji iengi. O riala angauambela o muhatu, uixi:«Ngi ririkile huta,» anga omuhatu uririka o huta, anga oriala riia bu ngiji, bu alengeleleo jimbiji anga ubanga-bu ofundu iê anga uria. Ki azubile,

Eu contava(do) senhorKiamaluezu de TumbaNdala que estava com mulherd’elle, atrás de ser e estavam,a mulher d’elle veiu (a) con-ceber. Ella não comiacarne, mas antojava só peixe.O homem, quando ia pescar,trazia quantidade de peixes.Os peixes pois refugiaram-separa rio outro. O homem poisdisse á mulher, disse:«Prepara-me comida,» e amulher preparou o comer, e ohomem foi para o rio, ondetinham fugido os peixes e fezlá o seu fundo e comeu. Tendo

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uixi: «Ngiia mu tamba,» angautakula o uanda. Luariangakakuateriê kima, lua kaiarikiomuene, o lua katatu angauivua uanene anga uivuamoxi a menia muixi:«Kinga, mbata mukuenumukua-mona.» Kia azubile okukinga anga uivua ringimuixi: «Sunga kiá!» Anga usungakimbiji kionene anga u ki tamuhamba anga umateka okuenda. Maji o jimbiji josojakexile mu kaiela o kimbiji eki,o riala anga rivua-jinga ngómu iangu: ualalá! ualalá! —Ki akexile kiá mu bixila kubata, o muhatu uendele ku mukauirila ni akua-riembu riê.Ki abixirile ku bata,o riala anga ribana o mbijipala ku i banga. O muhatu peanga anga uambela o riala, uixi:«Banga-iu!» O riala uixi:«Nguami.» O muhatu angaumateka o ku i banga. Maji ombiji iakexile mu kuimba,ixi: «Ki u ngi banga, ngibang’ami kiambote.» Ki azubileanga u i ta mu ’mbia,

acabado, disse: «Vou pescar,»e lançou a rede. A primeiravez não apanhou nada, asegunda o mesmo, a terceiravez então sente(a) pesada eouve dentro da agua dizendo:«Espera, porque o teu amigo épai de familia.» Tendo já espe-rado então ouve outra vez,dizendo: «Puxa já!» E puxouum peixão grande e pôl-o namuhamba e começou aandar. Porém os peixes todosestavam a seguir o peixão este,o homem e ouve continuam sóno capim: ualalá! ualalá! —Estando elle já para chegar emcasa, a mulher foi ao seuencontrocom os vizinhos d’ella.Tendo chegado em casa, ohomem então deu o peixepara ser feito. A mulherporém disse ao homem, disse:«Escama-o tu!» O homem disse:«Não quero.» A mulher poiscomeçou a escamal-o. Mas opeixe estava a cantar,dizendo: «Escamando-me tu,escama-me bem.» Tendo acabadoentão ella o pôz na panella,

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maji o mbiji iakexirilê hanjimu kuimba. O mbiji ki iabile,o muhatu anga uririkamalonga matanu angaukuvitala o riala ni akuariembu riâ; ene anga a ri tunâ.Muene anga uria k’ubeka uê.Ki azubile anga ukatula orixisa ni pexi iê anga u ri zalamu kanga, anga uivua murivumu uixi: «Ngitundilakué?» O muhatu uixi:«Tundila ku makanda me’nama.» O mbiji ia mukumbuile: «Ku inama ié, kuuenioriatela o matuji, kueneku ngitundila!» — O muhatuuixi: «Tundila mu kanu.» —«Mu kanu, mu ua ngi miniina,muene mu ngitundila?»O muhatu uixi: «Sota buosobu uandala. O mbiji ixi:«Eme ze ngitund’ ó!» anga omuhatu ubaza bu ’axaxi. Ombiji anga iiê.

mas o peixe estava ainda acantar. O peixe estavaprompto, a mulher entãoarranjou pratos cinco e convi-dou o marido e os vizinhosd’elles; elles porém recusaram.Ella pois comeu sósinha.Tendo acabado então tirou aesteira e o cachimbo seu eextendeu-a no chão, e ouviu nabarriga dizendo: «Sahirei poronde?» A mulher disse:«Sahe pelas plantas dospés.» O peixe lhe respondeu:«Pelos pés teus, com que costu-mas pizar as porcarias, por ahihei-de sahir!» — A mulherdisse: Sahe pela bocca.» —«Pela bocca, em que tu meenguliste, por ahi hei-de sahir?»A mulher disse: «Procura ondequer que desejes.» O peixe disse:«Eu pois saio lá!» e amulher rebentou no meio.O peixe porém foi-se embora.

(Chatelain, 1889: 147-149)

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II

Encontrámos formigas no caminho;o senhor veado as apanhou e aspôz na algibeira. Postas na algibeiraellas o mordem. O sr. leopardodisse: és sandeu.

Tuansange jinzeu mu njila;na ngulungu ua ji voto ió uaji te njibela. Uate mu njibela,ja mu numata. Ngama ’ngouambe: u kiouna.

(Chatelain, 1889: 149)

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1. Sasa o ingo, i ku tolole o xinguCria a onça, (que) ella te parta o pescoço

2. Xixikinia uatumine nzambaA formiga (já) mandou (ao) elephante

3. Muzueri uonene kalungêO fallador grande não tem razão

4. Tubia tua ri zemba ni fundangaO fogo odeia-se com a polvora (reciprocamente)

5. Ukembu ua petu, moxi isutaBelleza de almofada, dentro trapos

6. Hima katariê ku mukila uêO macaco não repara no rabo d’elle

7. Uene ou uenda ni muzumbu kajimbirilêQuem está ou anda com beiço não perde (o caminho)

8. Uabinga Nzambi, kasukê muximaQuem pede a Deus, não desespera

(Chatelain, 1889: 131-132)

JisabuProvérbios

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