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Cultura Cultura Jornal Angolano de Artes e Letras ECO DE ANGOLA FORMAÇÃO DE PROFESSORES Não basta valorizar apenas o “saber” e o “saber-fazer” a partir do que se faz fora de Angola. É necessário promover-se a inovação científica, tecnológica e educacional no interior do nosso país, para que as gerações mais jovens possam ver o Mundo, África e Angola, através dos seus próprios olhos. PERFIL EXIGIDO PARA O PAPEL NECESSÁRIO HISTÓRIA Pág. 2 O DISCURSO PÓS-COLONIAL COM NOVO ENQUADRAMENTO HISTÓRICO-CULTURAL TRONCOS DA LITERATURA ANGOLANA Num momento muito particular de viragem na história politica e económica de Angola, acaba de ser lançado, dia 27 de Novembro, no Camões – Centro Cultural Português, em Luanda, o projecto editorial TRONCOS DA LITERATU- RA ANGOLANA, para colocar no mercado obras inéditas de autores angolanos que têm contribuído para a modernização do mosaico literário nacional. BARRA DO KWANZA Diz-se ainda hoje que os factos do Terrível Ano do Macaco Vermelho, ocorreram muitos anos depois daquele em que os mindele, tendo chegado ao reino, pouco depois haviam enfrentado o sacerdote da chuva. Pág. 3 CONTO DE ANTÓNIO FONSECA Pág. 7 LETRAS A coabitação linguística do Kimbundu com o Português nos serviços públicos poderá assumir-se como elemento de afirmação de identidade; a partir da criação da figura de um intérprete nos casos que se julgarem necessários. O USO DO KIMBUNDU NA AFIRMAÇÃO DA IDENTIDADE Pág. 7 2 Pág. FORMAÇÃ ÃO O PAPEL NECESSÁRIO PERFIL EXIGIDO PARA és dos seus pr v a tr ngola, a ica e A fr Á ior do nosso país er t no in omo io pr essár ngola. É nec A izar apenas o alor Não basta v DE PROFESSORES FORMAÇÃO O PAPEL NECESSÁRIO PERFIL EXIGIDO PARA . ios olhos ópr és dos seus pr ões mais jo a que as ger , par ior do nosso país ação cien v -se a ino er v omo -faz saber e o saber izar apenas o DE PROFESSORES FORMAÇÃO undo er o M ens possam v v ões mais jo ica e educacional ecnológ tífica, t ação cien or tir do que se faz f a par er -faz , undo ica e educacional a de or DA IDENTIDADE NA AFIRMA DO KI et pr ér t de um in mação de iden de afir os públic viç nos ser oabitação linguística do K A c DA IDENTIDADE ÇÃO NA AFIRMA UNDU IMB e nos casos que se julgar et tir da cr tidade; a par mação de iden -se c á assumir os poder os públic om o P imbundu c oabitação linguística do K . ios essár em nec e nos casos que se julgar a iação da figur tir da cr o t omo elemen -se c tuguês or om o P 5 a 18 de Dezembro de 2017 | Nº 149 | Ano VI Director: José Luís Mendonça Kz 50,00 UNIDOS POR UMA ANGOLA DEMOCRÁTICA, UNA E INDIVISÍVEL

O DISCURSO PÓS-COLONIAL COM NOVO … · 2017-12-05 · A coabitação linguística do Kimbundu com o Português ... das mudanças No século passado, ... na viragem do século XIX

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CulturaCulturaJornal Angolano de Artes e Letras

ECO DE ANGOLA

FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Não basta valorizar apenas o “saber” e o “saber-fazer” a partir do que se faz fora de Angola. É necessário promover-se a inovação cientí�ca, tecnológica e educacional no interior do nosso país, para que as gerações mais jovens possam ver o Mundo, África e Angola, através dos seus próprios olhos.

PERFIL EXIGIDO PARA O PAPEL NECESSÁRIO

HISTÓRIA Pág.2

O DISCURSO PÓS-COLONIAL COM NOVO ENQUADRAMENTO

HISTÓRICO-CULTURAL

TRONCOS DA LITERATURA ANGOLANA

Num momento muito particular de viragem na história politica e económica de Angola, acaba de ser lançado, dia 27 de Novembro, no Camões – Centro Cultural Português, em Luanda, o projecto editorial TRONCOS DA LITERATU-RA ANGOLANA, para colocar no mercado obras inéditas de autores angolanos que têm contribuído para a modernização do mosaico literário nacional.

BARRA DO KWANZA

Diz-se ainda hoje que os factos do Terrível Ano do Macaco Vermelho, ocorreram muitos anos depois

daquele em que os mindele, tendo chegado ao reino, pouco depois haviam enfrentado o sacerdote da chuva.

Pág.3

CONTO DE ANTÓNIO FONSECA

Pág.7 LETRAS

A coabitação linguística do Kimbundu com o Português nos serviços públicos poderá assumir-se como elemento de a�rmação de identidade; a partir da criação da �gura de um intérprete nos casos que se julgarem necessários.

O USO DO KIMBUNDU NA AFIRMAÇÃO DA IDENTIDADE

Pág.7

2Pág.

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5 a 18 de Dezembro de 2017 | Nº 149 | Ano VI • Director: José Luís Mendonça • Kz 50,00UNIDOS POR UMA

ANGOLA DEMOCRÁTICA,UNA E INDIVISÍVEL

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2 | ARTE POÉTICA 5 a 18 de Dezembro de 2017 | Cultura

Propriedade

Sede: Rua Rainha Ginga, 12-26 | Caixa Postal 1312 - Luanda Redacção 222 02 01 74 |Telefone geral (PBX): 222 333 344Fax: 222 336 073 | Telegramas: ProangolaE-mail: [email protected]

Normas editoriais

O jornal Cultura aceita para publicação artigos literário-científicos e re-censões bibliográficas. Os manuscritos apresentados devem ser originais.Todos os autores que apresentarem os seus artigos para publicação aojornal Cultura assumem o compromisso de não apresentar esses mesmosartigos a outros órgãos. Após análise do Conselho Editorial, as contribui-ções serão avaliadas e, em caso de não publicação, os pareceres serãocomunicados aos autores.

Os conteúdos publicados, bem como a referência a figuras ou gráficos jápublicados, são da exclusiva responsabilidade dos seus autores.

Os textos devem ser formatados em fonte Times New Roman, corpo 12,e margens não inferiores a 3 cm. Os quadros, gráficos e figuras devem,ainda, ser enviados no formato em que foram elaborados e também numficheiro separado.

Conselho de Administração

Victor Silva (presidente)

Administradores Executivos

Caetano Pedro da Conceição Júnior

José Alberto Domingos

Carlos Alberto da Costa Faro Molares D’Abril

Mateus Francisco João dos Santos Júnior

Administradores Não Executivos

Olímpio de Sousa e Silva

Catarina Vieira Dias da Cunha

Ser tigreO tigre ignora a liberdade do saltoé como se uma mola o compelisse a pular.Entre o cio e a cópulao tigre não ama.Ele busca a fêmeacomo quem procura comida.Sem tempo na alma,é no presente que o tigre existe.Nenhuma voz lhe fala da morte.O tigre, já velho, dorme e passa.Ele é esquivo,não há mãos que o tomem.Não soa,porque não respira.É menos que embriãoabaixo do ovo,infra-sémen.Não tem forma,é quase nada, parece morto.Porém existe,por isso espera.Epopeia, canção de amor,epigrama, ode moderna, epitáfio,Ele seráquando for tempo disso. (Cabo Verde, 1999)

CulturaJornal Angolano de Artes e Letras

Nº 149/Ano VI/ 5 a 18 de Dezembro de 2017E-mail: [email protected]: www.jornalcultura.sapo.aoTelefone e Fax: 222 01 82 84

CONSELHO EDITORIAL

Director e Editor-chefe:José Luís MendonçaEditor:Adriano de MeloSecretária:Ilda RosaFotografia:Paulino Damião (Cinquenta)Arte e Paginação: Jorge de Sousa,Alberto Bumba, Sócrates SimónsEdição online: Adão de Sousa

Colaboram neste número:

Angola: António Fonseca, António Januário BaptistaPedro, Filipe Zau, Mário Pereira, Rúbio Praia, Sobe-rano Canhanga

Cabo Verde: Arménio Vieira

Portugal: Ana T. Rocha, Manuel Vaz

FONTES DE INFORMAÇÃO GLOBAL:

AFREAKAAFRICULTURES, Portal e revista de referênciaAGULHACORREIO DA UNESCOMODO DE USAR & CO. OBVIOUS MAGAZINE

POESIA DE CABO-VERDE

Arménio Vieira

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FORMAÇÃO DE PROFESSORESPERFIL EXIGIDO PARA O PAPEL NECESSÁRIO

(Uma visão prospectiva)

O mundovem mudan-do de formacada vezmais ace-lerada, de-vido àocorrên-cia simultânea de três processos inseridos na actualplanetização da economia: “a grande expansão dosfluxos internacionais de bens, serviços e capitais; acompetitividade e concorrência nos mercados in-ternacionais; a maior integração dos sistemas eco-nómicos.”(1) 1. Novas exigências educativas face à aceleraçãodas mudanças No século passado, um conjunto de factos históri-cos marcantes ocorreu entre o final dos anos 80 e oinício da década de 90, que, segundo o investigadorDomingos Caeiro, surpreenderam os mais atentosanalistas e cientistas políticos internacionais: - A queda do Muro de Berlim, em 1989 e, conse-quentemente, o fim do socialismo real e da “Guerra-Fria”, acompanhados da desintegração da União So-viética, em Dezembro de 1991 e o seu desdobra-mento em novos Estados soberanos, tais como aUcrânia, a Rússia e a Lituânia…;- A exacerbação em vários lugares de movimentosnacionalistas, alguns acompanhados de guerra civil,como foram os casos da ex-Jugoslávia, Geórgia eChechénia;- O grande crescimento económico do Japão e dosprimeiros quatro “tigres do asiático” (China, Tai-wan, Hong-Kong e Singapura), levando a crer quepoderão constituir-se na região mais rica do séculoXXI;- A formação de blocos económicos regionais, taiscomo, o MERCOSUL – Mercado Comum do Sul(1991), o NAFTA – Acordo de Livre Comércio daAmérica do Norte (1992), a União Europeia(1993)...(2)- O grande desenvolvimento da ciência e de novastecnologias de informação e comunicação, abrindoespaço para a actual “Era do Conhecimento” e tor-nando o mundo numa verdadeira “aldeia global”. Em África houve o fim do “apartheid” e a eleiçãode Nelson Mandela para presidente da República daÁfrica do Sul. Contudo, outras relevantes mutaçõesocorreram no continente berço, que acabaram poralterar significativamente a realidade objectiva afri-cana. Foram os casos resultantes das anterioresguerras de autonomização política, da maior ou me-nor abertura a processos de democratização in-cluindo políticas do género, dos programas de de-senvolvimento económico e social, das migrações,dos processos de urbanização, dos programas deajustamento estrutural... Como afirmou o já falecidosociólogo, antropólogo e teólogo camaronês Jean-Marc Ela, “os sobressaltos de um mundo durante

muito tempo chama-do ‘primitivo’ obrigama rever os métodos deabordagem nas socie-dades onde o apelodos longínquos e oexotismo da desco-berta, a sedução do es-tranho ou o fascíniodo ‘selvagem’ mobili-zavam o etnólogo”.(3) As sociedades tra-dicionais, durantemuito tempo domina-das pela oralidade,são hoje afectadas pe-la economia de merca-do e, face a um acessocrescente aos audiovi-suais, são influencia-das pelas elites no po-der para a construçãode um sentido de pá-tria ideológica (4) nospaíses a que perten-cem, tendo inclusiveacesso à publicidadede toda a espécie emprogramas televisivose radiofónicos. Parautilizar a expressão deJean-Marc Ela, há um“escândalo” que deveser assumido: “As so-ciedades ditas tradi-cionais estão em cri-se”.(5) Na realidade,como refere no seutexto “Os etnólogoschegam à cidade” o francês Nicolas Journet, “a tradição já não designa apenas costumes anti-gos, mas processos de comunicação através dosquais os objectos e as práticas estão encarregadosde manifestar uma identidade colectiva. As práticasno terreno mudaram também: já não basta apenas apalavra do informador. Hoje as fontes de informa-ção são múltiplas e contraditórias. Se a etnologiaexótica sofre a concorrência da etnologia do próxi-mo, é também devido à intervenção de uma série defactores conjunturais: o desaparecimento dos im-périos coloniais, o fim do isolamento das sociedadesrurais e a difusão mundial da cultura escrita fazemcom que a prática em terreno longínquo seja maisdifícil e o próprio exotismo perca a sua consistên-cia.”(6)Estas mudanças, próprias do carácter dinâmicodos grupos societais, acarretam hoje novas exigên-cias ao perfil profissional dos formadores, visando ocumprimento do papel necessário ao progressoeconómico e social dos países africanos, através deuma maior eficácia (7) e eficiência (8) dos sistemaseducativos instituídos. 2. Vertentes Epistemológica, Pragmática e

Metacognitiva da Formação DocenteAntónio Nóvoa, doutorado em Ciências da Educa-ção e ex-reitor da Universidade Clássica de Lisboa,informa-nos que, nos dias de hoje, “não há ensino dequalidade, nem reforma educativa, nem inovaçãopedagógica, sem uma adequada formação de pro-fessores”.(9) Porém, só a partir do início do séculoXX, a temática “formação de professores” começoupor despertar algum interesse à investigação, apósalgumas reflexões de professores aparecerem dis-persas em “revistas ligadas à escola, em actas decongressos, num ou noutro opúsculo e artigo de jor-nal”.(10) Após a década de 60 e, particularmente, na déca-da de 80, foi quando os artigos sobre formação deprofessores começaram a surgir de forma mais sis-tematizada, questionando a natureza e objectivosdesta mesma formação.(11) 2.1 O “saber” e o “saber-fazer” O conhecimento “pode ser filosófico (subjectivo,especulativo), experimental (do senso comum) oucientífico (objectivo, nomotético)”.(12) O conheci-mento do professor deverá ser entendido como umsaber (ou conjunto de saberes) contextualizado porum sistema concreto de práticas escolares e acadé-micas, que correspondem ao conceito aristotélico

ECO DE ANGOLA |3Cultura | 5 a 18 de Dezembro de 2017

FILIPE ZAU

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de sabedoria.(13) Segundo Boaventura Sousa San-tos; “trata-se portanto, de um saber ou de uma multi-plicidade de saberes com regras e princípios práti-cos, expressos nas linhas de acção docente. É, cumu-lativamente um conhecimento objectivo, subjectivoe ligado às experiências pessoais, mais concreta-mente ao ‘senso comum’, às opiniões, ao pragmatis-mo da acção, enfim, às trajectórias e experiências devida de um dado grupo social. ”(14)O conhecimento do senso comum “caracteriza-sepelo seu aspecto prático, pragmático, superficial,conservador, fixista e pela sua reprodução espontâ-nea nos acontecimentos quotidianos da vida”. Pode,no entanto, esse mesmo senso comum “ter uma po-sitividade a partir do contributo significativo naconstrução do conhecimento científico.”(15) António Nóvoa, por seu turno, apresenta-nos pis-tas para a identificação dos “saberes” necessários àdocência, ao caracterizar as instituições de forma-ção de professores, na viragem do século XIX para oséculo XX. Pela sua descrição, podemos constatarque a preocupação do Estado em relação aos dife-rentes domínios do saber, por parte dos professo-res, já se fazia sentir naquela época: “As escolas normais são instituições criadas peloEstado para controlar um corpo profissional, queconquista uma importância acrescida no quadrodos projectos de escolarização de massas; mas sãotambém um espaço de afirmação profissional ondeemerge um espírito de corpo solidário. As escolasnormais legitimam um saber produzido no exteriorda profissão docente, que veicula uma concepção deprofessores centrada na difusão e na transmissãode conhecimentos; mas são também um lugar de re-flexão sobre as práticas, o que permite vislumbraruma perspectiva de professores como profissionaisprodutores de saber e de saber-fazer.”(16) Assim se reconhecia o professor como um profis-sional capacitado por um conjunto de conhecimen-tos teóricos e metodológicos adquiridos numa insti-tuição de formação e que só a aquisição dos mesmoslegitimava o exercício da sua função. Porém, o domí-nio teórico do “saber” epistemológico não é o quan-to basta para a resolução de situações reais do dia-a-dia sem que, complementarmente, se associe umaactividade prática. É, por conseguinte, após o esta-belecimento da relação indissociável entre a teoria ea prática, que o professor passa a entrar no domíniodo “saber-fazer”. Na prática, a docência é caracterizada por aquiloque os professores pensam, fazem, escrevem, ver-balizam, com base em dois tipos de conhecimentos: - O que resulta de um processo aquisitivo; e - O que resulta de um conhecimento que assentanum discurso sobre a prática ou modo de acção.(17)2.2. O “saber situar-se”

Para além da dimensão epistemológica e pragmá-tica, o sociólogo Hermano Carmo refere-se a uma di-mensão metacognitiva,(18) que consiste na neces-sidade do professor, enquanto interventor social,“saber situar-se”.(19) “O interesse emancipatório implica uma auto-re-flexão, uma atitude reflexiva, orientada para a res-ponsabilidade e autonomia, que supõe a superaçãodos significados estritamente subjectivos e que sesitua ao nível do desejo de independência, de con-quista de liberdade individual e social.”(20) É nocontexto do conceito de interesse emancipatório,que poderemos enquadrar o “saber situar-se”. Este “saber situar-se” aproxima-se também doconceito de “reflexão-na-prática” do pedagogo esta-dunidense Donald Schön e que se reveste do seguin-te: “É através da reflexão delimitada pela acção pre-sente, e variando conforme as situações, que o pro-fissional explicita as compressões tácitas e revê assituações singulares e incertas, utilizando-a comofeedback ou como correctivo de toda a aprendiza-gem.”(21) Nesta óptica, emerge uma racionalidadecrítica direccionada para uma consciencialização daacção a partir da qual o sujeito, inserido numa co-munidade de profissionais reflexivos, intervém. Porfim, o “saber situar-se” aparece-nos ainda próximodo conceito de “reflexão-na-prática” utilizada porpedagogo espanhol Angel Pérez Gomez, quando usaa expressão “conhecimento de terceira ordem”; ouseja, aquele “saber” ou “conhecimento” que resultade uma reflexão sobre a representação ou a poste-riori da própria acção.(22) 2.2.1. O assimilacionismo em jogoAinda no contexto do “saber-situar-se”, Jean-Marc Ela, de que falámos antes a propósito da “crisedas sociedades tradicionais”, atesta que “o discurso acerca do Outro, cuja diferença criaproblema, torna-se o discurso sobre a civilização dohomem pelo homem que enaltece a assimilação dosselvagens. Discurso marcado pelo etnocentrismo, omedo e o desprezo do Outro, a paz branca e a con-versão do Outro a si.”(23) Daí que se entenda melhor a postura académicado ex-embaixador português Luís Gaspar da Silva,que, em vida, foi docente na Universidade de Minhoe que no seu livro de política de cooperação, intitula-do “Utopia seis destinos”, teceu o seguinte comentá-rio: “(…) Outra acção sempre pensada e projectadaem comum, seria no domínio da Sociologia, fazerdesaparecer definitivamente a ideia reaccionária deque o africano não é completamente normal, maspode ser ‘assimilado’.”(24) Mas também o académico estadunidense JosephStiglitz, ex-vice-presidente do Banco Mundial, galar-doado com o Prémio Nobel de Economia em 2001,refere que “(…) no pós-guerra houve um declínio deinfluência das antigas potências coloniais, mas a

mentalidade colonialista ficou – a certeza de sabe-rem o que é melhor para os países em desenvolvi-mento.”(25) Na realidade, como confere no seu livro “O que é aEducação”, o sociólogo brasileiro Carlos RodriguesBrandão, “não há apenas ideias opostas ou ideias di-ferentes a respeito da Educação, a sua essência eseus fins. Há interesses económicos, políticos que seprojectam também sobre a Educação” e que, eviden-temente, influenciam e determinam o seu paradig-ma conceptual e de desenvolvimento.(26) 2.2.2. O sentido endógeno e axiológico do conhe-cimento As ciências sociais não se regem por determinis-mos rígidos e numa África traumatizada pela vio-lência colonial, onde há um tipo de conhecimentoadquirido por herança, que nos conduz à interiori-zação de um baixo sentido de auto-estima, numaÁfrica transformada pelas mutações actuais e pelochoque das ingerências, apela-se, evidentemente, auma reposição histórica das realidades africanas. É preciso ajudar a construir “uma nova grelha (deleitura) teórica para a explicação dos factos e pro-cessos sociais angolanos que assenta numa sociolo-gia (e epistemológica) do saber endógeno”, afirmou,em 1999, o nosso confrade Prof. Victor Kajibanga,no âmbito de uma Conferência realizada em Lisboae intitulada, “O lusotropicalismo revisitado”.(27) Desde o “Plano de Acção de Lagos”, aprovado pe-los chefes de Estado da ex-OUA, em 1980, que a no-ção de “desenvolvimento global endógeno” passou aconstituir uma preocupação dos meios intelectuaise políticos africanos para a renovação de África. Es-se Plano tinha como alvo a obtenção de um desen-volvimento endógeno; ou seja, um tipo de desenvol-vimento que permita alcançar uma autonomia eco-nómica, intelectual, técnica e cultural e procuravainverter, até ao ano 2000, a delicada situação social eeconómica que ainda hoje prevalece no continenteafricano. Para tal, deveriam ser utilizadas estratégias, quese afastassem dos modelos de desenvolvimento co-lonial, favorecessem uma integração regional, paraalém de um desenvolvimento integrado e auto-sus-tentado ao nível africano. Contudo, os resultadosapresentados no ano de 2000, pouco ou nada avan-çaram no sentido da obtenção de uma autonomiaafricana resultante da criação de um processo dedesenvolvimento centrado e auto-sustentado. O “Plano de Acção de Lagos” foi também visto co-mo um instrumento que permitia consolidar a inde-pendência política e chegar ao progresso e à unida-de a que as sociedades africanas aspiram. Na pro-blemática do desenvolvimento em África, o factorhumano passou a constituir um elemento primor-dial. Daí que, os chefes de Estado e de Governo da ac-tual Unidade Africana tivessem consagrado a essePlano de Acção um lugar importante, para tudo oque diz respeito ao desenvolvimento dos recursoshumanos, logo a partir da eliminação do próprioanalfabetismo. Também Louis Emmerij, ex-presidente do Centrode Desenvolvimento da OCDE (Organização de Coo-peração e Desenvolvimento Económico), em Paris,no período entre 1986 e 1992, foi peremptório naafirmação de que “a maior parte dos capitais sus-ceptíveis de alimentar o desenvolvimento deve virdo interior. É essa naturalmente a garantia de auto-nomia. É esse sobretudo o único meio de garantirum processo de transformação em coerência com ahistória, a tradição e a cultura nacionais (…) a ideiade que o desenvolvimento está antes demais nasmãos dos Africanos ganha terreno (…)”.(28) É certo que o conceito de endogeneidade nos re-mete para as fontes das chamadas tradições africa-nas, mas, evidentemente, sem que se perca de vistao imperioso desejo de progresso e de modernizaçãoabertos à comunidade, afirmou, por seu turno, omaliano Baba Akhib Haidara, ex-Director da UNES-

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ECO DE ANGOLA | 5Cultura | 5 a 18 de Dezembro de 2017CO, do Bureau Regional para o Desenvolvimiento daEducação em África (BREDA), em Dakar (Sene-gal).(29)Mas ainda a propósito de endogeneidade, Valen-tin Mudimbe, da República Democrática do Congo,refere no seu livro “A Invenção de África – Gnose, Fi-losofia e a ordem do conhecimento”, que antropólo-gos ocidentais e missionários tenham criado distor-ções, não só em relação aos que vieram de fora, mastambém em relação aos próprios africanos, ao pro-curarem compreendê-los.(30) Gnose significa pro-curar para conhecer, inquirir, métodos de conheci-mento, investigação e chegar ao conhecimento comalguém. Gnose é diferente de doxa ou opinião, peloque gnose não se deve confundir com episteme, en-tendida, quer como ciência, quer como uma configu-ração intelectual geral. “Identidade e alteridade sãosempre dadas a outros, assumidas por um Eu ouNós-sujeito, estruturadas em diferentes opiniões eexpressas ou silenciadas de acordo com desejospessoais face a uma episteme”.(31)

3. A terminarDepois de identificados os “saberes” necessáriosà docência e no âmbito da aspiração a um maior sen-tido de autonomização política, económica, social,cultural e educacional, torna-se necessário que osfuturos professores – a partir de um perfil adequadode saída a ser exigido em cursos de formação e capa-citação profissional a serem construídos em novosmoldes – aprendam a “saber situar-se”, medianteexercícios de metacognição. Não basta valorizarapenas o “saber” e o “saber-fazer” a partir do que sefaz fora de Angola. É necessário promover-se a ino-vação científica, tecnológica e educacional no inte-rior do nosso país, para que as gerações mais jovenspossam ver o Mundo, África e Angola, através dosseus próprios olhos. Para tal, há que contar com a contribuição destanossa Academia Angolana de Letras, de que hoje meorgulho de ter si eleito como membro efectivo. A to-dos os confrades que para tal contribuíram, desde jáos meus sinceros agradecimentos pela confiançadepositada. * Ph. D em Ciências da Educação; Mestre em Rela-ções Interculturais;e Membro Efectivo da AcademiaAngolana de Letras (AAL).________NOTAS: CAEIRO, Domingos (2001), Globalização Económica; In,CARMO, Hermano – coord. (2001), Problemas Sociais Contem-porâneos, Universidade Aberta, Lisboa, p.217Ibidem. Em relação ao NAFTA, colocam-se hoje maiores difi-culdades de circulação entre os EUA e o México face ao desejo,amplamente noticiado, do presidente estadunidense, DonaldTrump, em erguer um muro a separar os dois países. Em relaçãoà União Europeia, o Reino Unido abandonou recentemente este

bloco regional.ELA, Jean-Marc (2013), Restituir a História às SociedadesAfricanas. Promover as Ciências Sociais na África Negra, Edi-ções Mulemba da Faculdade de Ciências Sociais da Universida-de Agostinho Neto e Edições Pedago Lda, Luanda e Mangualde,p.30O polaco Stanislaw Ossowski apresenta um duplo sentidopara o conceito de patriotismo: “o privado, de caracter local,“que tem a ver com a relação pessoal do indivíduo com o meio eassenta na convicção do indivíduo em relação ao seu sentido depertença a uma determinada comunidade e ao facto dessa mes-ma comunidade estar associada a uma certa área geográfica; e oideológico, mais amplo, já que não se circunscreve à vivênciadeste ou daquele indivíduo e aos costumes adquiridos em fun-ção dessa mesma vivência, mas sim às experiências vividas pelogrupo latu sensu. É algo que é adorado por todos, independen-temente de haver uma relação mais próxima e especial paracom um círculo mais restrito, mais local, mais privado”. OS-SOWSKI, Stanislaw (1983) O Ossobliwosciach Nauk Spolecz-nych, PWN, Varsóvia, pp.63-66; Em inglês estes termos apare-cem como: national feeling e home feeling e em alemão: vater-land e heimat. Nota e cit. in, CARVALHO, Paulo de (2002), Ango-la, quanto tempo falta para o amanhã?: Reflexões sobre as crisespolítica, económica e social, Celta Editora, Oeiras, pp.5-6. Tam-bém em ZAU, Filipe (2009), Educação em Angola; Novos Trilhospara o Desenvolvimento, Movilivros, Luanda, p.176ELA, Jean-Marc, op. cit., p.30Journet, Nicolas (2005), Os etnólogos chegam à cidade, In,DORTIER, Jean-François-Dir. (2005), Uma História das Ciências

Humanas, Edições Texto &Gráfica Lda, Lisboa, p.258A eficácia remete-nos para o planeamento, que terá que sercuidadosamente preparado, de modo a tornar possível a identi-ficação dos alvos a atingir e a congregação de esforços para arealização de acções comuns. O sociólogo Hermano Carmo refe-re que “para que uma acção seja eficaz é necessário que os resul-tados obtidos correspondam aos previstos”. Todavia, dever-se-á evitar cair no chamado sindroma de paralisia por análise, ca-racterizado pelo excesso de perfeccionismo tecnicista, onde “osistema interventor gasta a maior parte dos seus recursos aanalisar a situação, desviando-se da finalidade essencial, que éproduzir efeitos de aperfeiçoamento na situação-problema. In,CARMO, Hermano (2000), Hipóteses sobre o contributo dosportugueses no processo de reabilitação pós-guerra, Universi-dade Aberta, Lisboa. Intervenção no âmbito do 1º Congresso In-ternacional promovido pela Universidade Aberta, sobre a Guer-ra Colonial: realidade e ficção, Lisboa, p.5Ainda de acordo com Hermano Carmo, “a eficiência deveprocurar optimizar os resultados em relação aos recursos dis-poníveis”. A eficiência põe a descoberto duas questões, que es-tão intrinsecamente ligadas: A identificação dos recursos e asua hierarquização.In, CARMO, Hermano (2000), op. cit., p.6NÓVOA, António (1992), Os professores e a sua formação,Nota de Apresentação, Publicações D. Quixote Lda, Lisboa, p.9PACHECO, José Augusto; FLORES, Maria Assunção (1999),Formação e Avaliação de Professores, Porto Editora Lda, Porto,p.10A título de exemplo destacamos as seguintes: Teaching andTeacher Education; Journal of Teacher Education; EuropeanJournal of Teacher Education; Journal of Education for Tea-ching; Journal of Staff Development; European Journal of Edu-cation; Teachers and Teaching; Theory into Pratice. In, CAL-DERHEAD, James; SHORROCK, S.B. (1997), Understanding tea-cher education. Case studies in the professional development ofbeginning teachers, The Falmer Press, London, s/p; também emZEICHNER, Kenneth (1998), The new scholarship in teachereducation, Conferência apresentada no Encontro Anual daAmerican Educational Research Association, San Diego, s/p; cit.in, PACHECO, José Augusto; FLORES, Maria Assunção, op. cit.,p.10“As ciências nomotéticas, caso da sociologia, da antropologiacultural, da psicologia, etc., buscam nas actividades do homemleis entendidas como ‘relações susceptíveis de verdade ou defalsidade quanto à sua adequação ao real’. As observações siste-máticas ou as experimentações, que constituem os seus méto-dos exprimem-se em termos estatísticos. A dificuldade em dis-sociar as diferentes variáveis em jogo, limitando a alcance dosseus propósitos, não impede, todavia, os seus investigadores deverem nos métodos das ciências da natureza um ideal que estásempre presente.” Cf., CARVALHO, Adalberto Dias de (1996),Epistemologia das Ciências da Educação, Edições Afrontamen-to, Porto, p.79“Aristóteles aplica o termo sabedoria ao campo das artes,principalmente àquelas que alcançam a mais acrisolada mes-tria na sua arte, tal com Fídias na escultura. A sabedoria é ciên-cia e entendimento intuitivo do que é, por natureza, o mais pre-cioso.” Cf. Ética Nicomaquea, livro VI, cap.7, cit. in, PACHECO, Jo-sé Augusto; FLORES, Maria Assunção, op. cit., p.16. SANTOS, Boaventura (1987), Um discurso sobre as ciências,Edições Afrontamento, Lisboa, pp.56 e segs; cit. in, PACHECO,José Augusto; FLORES, Maria Assunção, op. cit., p.16De acordo com o sociólogo Boaventura Sousa Santos, a posi-tividade do conhecimento do senso comum ocorre desde que severifique a “dupla ruptura epistemológica: uma vez feita a rup-tura epistemológica com o senso comum, o acto epistemológicomais importante é a ruptura com a ruptura epistemológica (...) adupla ruptura epistemológica procede a um trabalho de trans-formação tanto do senso comum como da ciência. Enquanto aprimeira ruptura é imprescindível para constituir a ciência, masdeixa o senso comum tal como estava antes dela, a segunda rup-tura transforma o senso comum com base na ciência constituí-da e no mesmo processo transforma a ciência. Com esta duplatransformação pretende-se um senso comum esclarecido euma ciência prudente, ou melhor, uma nova configuração do sa-ber que se aproxima da phronesis aristotélica, ou seja, um saberou conhecimento prático que dá sentido e orientação à existên-cia e cria o hábito de decidir bem.” Cf. SANTOS, Boaventura(1989), Introdução a uma ciência pós-moderna, Edições Afron-tamento, Lisboa, p.45; cit. in, PACHECO, José Augusto; FLORES,

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Maria Assunção, op. cit., p.16. Segundo Aristóteles, a phronesisé a sabedoria prática. Um esforço de reflexão, uma ciência quenão se limita ao conhecimento, dado que pretende melhorar aacção do homem. Tem como objectivo descrever claramente osfenómenos da acção humana, principalmente pelo exame dia-léctico das opiniões dos homens sobre esses fenómenos e nãoapenas descobrir os princípios imutáveis da acção humana e ascausas. Isto é, considera que, a partir da opinião (doxa) é possí-vel atingir o conhecimento (episteme). In,http://www.iscsp.ulisboa.pt/~cepp/lexico_grecoromano/phronesis.htm, em 09/08/17NÓVOA, António, op. cit., p.16 PACHECO, José Augusto; FLORES, Maria Assunção, op. cit.,p.15“A metacognição foi definida por John Flavell (Stanford Uni-versity) nos anos 1970 como o conhecimento que as pessoastêm sobre seus próprios processos cognitivos e a habilidade decontrolar esses processos, monitorando, organizando, e modifi-cando-os para realizar objetivos concretos. Em outras palavrasa metacognição se refere à habilidade de refletir sobre uma de-terminada tarefa (ler, calcular, pensar, tomar uma decisão) e so-zinho selecionar e usar o melhor método para resolver essa ta-refa” In, http://www.psicologiaexplica.com.br/o-que-e-meta-cognicao/, em 10/08/17“No domínio do saber, que aprenda a integrar a teoria e a me-todologia do trabalho com comunidades na resolução de situa-ções-problema reais; no domínio do saber-fazer que aprenda aaperfeiçoar as suas competências comunicacionais, através dotreino da leitura, da escrita, da fala e da escuta; no domínio dosaber situar-se, que aprenda a questionar-se como pessoa parapoder assumir-se como profissional de intervenção social.” Cf.,CARMO, Hermano (1999), Desenvolvimento Comunitário; Uni-versidade Aberta, Lisboa, p.23.“Marguerite Altet, partindo da distinção proposta por Le-groux entre informação, saber e conhecimento, argumenta quea informação é exterior ao sujeito e é de origem social; o conhe-cimento está integrado no sujeito e é de origem pessoal (...) o sa-ber constrói-se na interacção entre o conhecimento e a informa-ção, entre o sujeito e o meio ambiente na e pela meditação”. Cf.ALTET, Marguerite (1996), Les competénces de l’enseignementprofissionnnel: entre savoir, schèmes d’action et adptation, lesavoir anlyser; In, PAQUAY, L.; ALTER, M.; CHARLIER, E.; PERRE-NOUD P.; eds. (1996), Former des enseignants profissionnels:quelles stratégies? Quelles compétences?; De Boeck, Bruxelles,p. 33; cit. in, PACHECO, José Augusto; FLORES, Maria Assunção,op. cit., p.18 SCHÖN, Donald (1983), The effective practionner: how pro-fessionals think in action, Temple Smith, London, s/p; cit. in, PA-CHECO, José Augusto; FLORES, Maria Assunção, op. cit., p.18 PÉREZ GÓMEZ; Angel (1988), El pensamento prático delprofessor: a formação do professor como professional reflexi-vo; In, VILLA A., ed. (1988), Perspectivas y problemas de la fun-ción docente, Narcea, Madrid, s/p; cit. in., PACHECO, José Augus-to; FLORES, Maria Assunção, op. cit., p.18 ELA, Jean-Marc, op. cit., p.50SILVA, Gaspar (1997) Utopia – Seis Destinos, Política de Coo-peração, Quatro Margens Editora, Lisboa, p.38 “(…) as mentalidades não mudam num dia: É a verdade tantopara os países ricos como para os países em desenvolvimento.Conceder a independência às colónias (…) não mudou a atitudedos antigos colonizadores: Eles ainda se sentem como ‘aquelesque sabem’. Eles nunca deixaram de afirmar que os novos paísesindependentes podiam, deviam confiar e aplicar as suas reco-mendações. Depois de tantas promessas não cumpridas, era deesperar que as coisas mudassem. Mas, na verdade, esses novospaíses continuaram a seguir os conselhos que lhes são dados,por causa do dinheiro que entra e não porque confiam nas recei-tas. No pós-guerra houve um declínio de influência das antigaspotências coloniais, mas a mentalidade colonialista ficou – acerteza de saberem o que é melhor para os países em desenvol-vimento”. Cf., STIGLITZ, Joseph E. (2002), La Grande Désillusion,Fayard, Paris ; cit. in., STIGLITZ, Joseph E., (Abril de 2002), AMundialização em Acção, Le Monde Diplomatique nº 577-49ºannée, Paris, p.11BRANDÃO, Carlos Rodrigues (1986), O que é a Educação,Editora Brasiliense, São Paulo, p.60KAJIBANGA, Victor (1999), Crise da Racionalidade Lusotro-picalista e do “Paradigma” da Crioulidade. O Caso da antropos-sociologia de Angola; Comunicação apresentada ao Colóquio “O

Luso-tropicalismo Revisitado” realizado em Lisboa, na Socieda-de de Geografia de Lisboa, de 11 a 12 de Fevereiro de 1999Cf., EMMERIJ, Louis (1993), Norte-Sul: A granada descavi-lhada, Bertrand Editora, Lisboa, pp.116-117HAIDARA, Baba Akhib, (1989/1990), Desenvolvimento eEducação em África, In, MATOS, Artur Teodoro; MEDEIROS,Carlos Laranjo – Dir. (1989/990), Povos e Culturas, Educaçãoem África, Centro de Estudos dos Povos e Culturas de ExpressãoPortuguesa, Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, p.36.JEWSIEWICKI, Bogumil (1988); In, MUNDIMBE, V.Y. (1988),The Invention of Africa – Gnosis, Philosophy, and the Order ofKnowledge, Indiana University Press – Blooming and Indiana-polis; James Currey, London, contra-capa. MUNDIMBE, V.Y., op. cit., Introduction, p.ix_______________________________BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

- BRANDÃO, Carlos Rodrigues (1986), O que é a Educação, Edi-tora Brasiliense, São Paulo;

- CAEIRO, Domingos (2001), Globalização Económica; In, CAR-MO, Hermano – coord. (2001), Problemas Sociais Contemporâ-neos, Universidade Aberta, Lisboa;

- CARMO, Hermano (1999), Desenvolvimento Comunitário;Universidade Aberta, Lisboa;

- CARMO, Hermano (2000), Hipóteses sobre o contributo dosportugueses no processo de reabilitação pós-guerra, Universida-de Aberta, Lisboa. Intervenção no âmbito do 1º Congresso Inter-nacional promovido pela Universidade Aberta, sobre a GuerraColonial: realidade e ficção, Lisboa;

- CARVALHO, Adalberto Dias de (1996), Epistemologia dasCiências da Educação, Edições Afrontamento, Porto;

- CARVALHO, Paulo de (2002), Angola, quanto tempo falta pa-ra o amanhã?: Reflexões sobre as crises política, económica e so-cial, Celta Editora, Oeiras;

- ELA, Jean-Marc (2013), Restituir a História às SociedadesAfricanas. Promover as Ciências Sociais na África Negra, EdiçõesMulemba da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agos-tinho Neto e Edições Pedago Lda, Luanda e Mangualde;

- EMMERIJ, Louis (1993), Norte-Sul: A granada descavilhada,Bertrand Editora, Lisboa;

- HAIDARA, Baba Akhib, (1989/1990), Desenvolvimento eEducação em África, In, MATOS, Artur Teodoro; MEDEIROS, Car-los Laranjo – Dir. (1989/990), Povos e Culturas, Educação emÁfrica, Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Por-tuguesa, Universidade Católica Portuguesa, Lisboa;

- KAJIBANGA, Victor (1999), Crise da Racionalidade Lusotro-picalista e do “Paradigma” da Crioulidade. O Caso da antroposso-ciologia de Angola; Comunicação apresentada ao Colóquio “O Lu-so-tropicalismo Revisitado” realizado em Lisboa, na Sociedade deGeografia de Lisboa, de 11 a 12 de Fevereiro de 1999;

- MUNDIMBE, V.Y. (1988), The Invention of Africa – Gnosis, Phi-losophy, and the Order of Knowledge, Indiana University Press –Blooming and Indianapolis; James Currey, London;

- NÓVOA, António (1992), Os professores e a sua formação, No-ta de Apresentação, Publicações D. Quixote Lda, Lisboa;

- PACHECO, José Augusto; FLORES, Maria Assunção (1999),Formação e Avaliação de Professores, Porto Editora Lda, Porto;

- STIGLITZ, Joseph E., (Abril de 2002), A Mundialização em Ac-ção, Le Monde Diplomatique nº 577-49º année, Paris ;

- ZAU, Filipe (2009), Educação em Angola; Novos Trilhos parao Desenvolvimento, Movilivros, Luanda.

______________________________________BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA

- SANTOS, Boaventura (1987), Um discurso sobre as ciências,Edições Afrontamento, Lisboa;

- SANTOS, Boaventura (1989), Introdução a uma ciência pós-moderna, Edições Afrontamento, Lisboa;

- STIGLITZ, Joseph E. (2002), La Grande Désillusion, Fayard,Paris.

SUPORTES DA INTERNET-

http://www.iscsp.ulisboa.pt/~cepp/lexico_grecoromano/phro-nesis.htm, em 09/08/17;

- http://www.psicologiaexplica.com.br/o-que-e-metacogni-cao/, em 10/08/17;

6 | ECO DE ANGOLA 5 a 18 de Dezembro de 2017 | Cultura

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Num momento muito particular de viragem nahistória politica e económica de Angola, acaba deser lançado, dia 27 de Novembro, no Camões – Cen-tro Cultural Português, em Luanda, o projecto edito-rial TRONCOS DA LITERATURA ANGOLANA, paracolocar no mercado obras inéditas de autores ango-lanos que têm contribuído para a modernização domosaico literário nacional.Os TRONCOS DA LITERATURA ANGOLANA, re-sultantes de uma parceria entre a Editora Acácias,o Movimento Lev’Arte e o Camões, surgem no pa-norama da Literatura angolana pós-colonial comoo discurso de uma nova era, saída das eleições deAgosto de 2017, perante uma há muito esperadaabertura democrática.A obra inaugural do projecto intitula-se ANGO-LA, ME DIZ AINDA, do poeta José Luís Mendonça.Trata-se de um discurso poético, composto numalinguagem muito particular da Angolanidade, quevaloriza o português de Angola e alguma expressi-vidade do quimbundo, dentro daquela concepçãodo discurso que o ensaísta Mário António chamou,em 1958, de Poesia Negra de Expressão Portugue-sacomosendo “a afirmação de uma posição em facede um problema”.Esta classificação metodológica, segundo JoséMendonça, continua válida para os dias de hoje. Noseu vector ideológico, a poesia de Agostinho Neto époesia Negra de expressão portuguesa dada a suaafirmação de uma posição (de rejeição e condena-ção) em face de um problema (de opressão colonialdo homem negro). No seu vector estético-formalaclassificação de poesia Negra é aferida do carácteridentitário da obra de Agostinho Neto, sobretudo osrecursos estético-formais e o hibridismo linguísticoinaugurado pelo Poeta. Que relação existirá entre a Sagrada Esperança, deAgostinho Neto, e Angola me Diz Ainda, que inaugu-rou a colecção Troncos da Literatura Angolana?A primeira similitude é o diferimento da sua pu-blicação. Tal como a Sagrada Esperança, emboracontenha versos já editados na Itália, no tempo daluta armada, apenas saiu quinze anos depois emLuanda, também a poesia de Angola, me Diz Aindaesteve guardada na gaveta desde os anos 80. A segunda nota de entrosamento com a poesia deAgostinho Neto é que,tal como a poesia de Neto, An-gola, me Diz Ainda é uma epopeia do percurso histó-rico do povo angolano, desde a independência atéaos dias de hoje.“As palavras têm ouvidos”, explicou o autor, “elasvão por esse mundo escutando vozes, escutandocoisas que nós não ouvimos de ouvir claro. Por isso,no fundo, no fundo, não fui eu quem escreveu este li-vro. Apenas me submeti às falas de todo um conjun-to muito vasto de pessoas que não vivenciou o que éuma verdadeira independência, tirando a bandeirae o bilhete de identidade, que muitos até nem pos-suem”, rematou Mendonça.Esta iniciativa visa valorizar o trabalho dos escri-tores angolanos e proporcionar um encontro inte-lectual entre os “troncos da literatura angolana” e anova geração de escritores e leitores, bem comopromover uma maior competência linguística doportuguês no seio da camada juvenil.Seguindo o critério da qualidade intelectual e es-tética das suas obras inéditas, depois de Mendonça,seguir-se-ão Luís Kandjimbo, António Gonçalves eCristóvão Neto. Público presente no acto de lançamento realizado no Camões - centro Cultural Português

TRONCOS DA LITERATURA ANGOLANAO DISCURSO PÓS-COLONIAL COM NOVO

ENQUADRAMENTO HISTÓRICO-CULTURAL

Marimbeiros marcaram receberam os convidados logo a entrada

Autor do livro (ao centro) ladeado da directora do Camões (à esquerda) e de Kiocamba Kassua do Lev’Arte (à direita)

LETRAS | 7Cultura | 5 a 18 de Dezembro de 2017

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O USO DO KIMBUNDU COMO ELEMENTO DE AFIRMAÇÃO DE IDENTIDADE

Introdução A língua é um factor de unidade, meio pela qual osseres humanos exteriorizam os seus afectos, medos,emoções. Em Angola, a língua oficial é portuguêsusada nos serviços administrativos e na diplomaciade acordo com o artigo 19 da Constituição da Repú-blica de Angola no seu nº 1. Após a proclamação daindependência nacional, em 11 de Novembro de1975, o governo adoptou o Português como línguaoficial, convergindo os angolanos de Cabinda ao Cu-nene; não obstante valorizar e promover o estudo,ensino e a utilização das demais línguas de Angola. Constitui motivação para a feitura deste traba-lho o interesse pela inserção do Kimbundu nos ser-viços públicos. Nesta ordem de ideia, questiona-mos sobre O uso do Kimbundu como elemento deafirmação de identidade. Objectivamos contribuir para inserção das Lín-guas Nacionais nos serviços públicos e propor a coa-bitação linguística da mesma com o Português nosserviços públicos porque entendemos que, deste mo-do, ela poderá assumir-se como elemento de afirma-ção de identidade; a partir da criação da figura de umintérprete nos casos que se julgarem necessário. A escolha do tema resulta da necessidade de ver in-serida nos serviços públicos a Língua Kimbundu fun-cionar tal como o português. Por outro lado, algumaspessoas podem sentir-se realizadas exteriorizandoos seus pensamentos na língua nativa. Para exempli-ficar atentemos na descrição que Canhanga faz do so-nho de Kaúia quando precisava de beber água: - A Ku-ku, nguibane hanji menha (CANHANGA, 2010: 34).Estes pressupostos constituem as motivações para oestudo em questão, tal como atesta o artigo nº 41 daDeclaração Universal dos Direitos Linguísticos(DUDL) “Constitui um direito a comunidade linguís-tica usar a sua língua, mantê-la e promovê-la em to-das as suas formas de expressão cultural”. A problemática Toda e qualquer língua apresenta diversidade emarcas próprias, seja com o estatuto de língua na-cional ou oficial. Da necessidade de comunicação, osfalantes introduzem palavras novas enriquecendoassim o léxico. A Língua Portuguesa é a língua oficialde Angola, tal como atesta a CRA no artigo 19º nº1. A criação de condições que permitam uma coabi-tação linguística justa do português com as demaislínguas nacionais afigura-se de todo importante, namedida em que, facilitaria a promoção, emancipaçãoe a dignidade de que estas línguas merecem, confor-me o já citado artigo no seu nº2 “O Estado valoriza epromove o estudo, o ensino e a utilização das demaislínguas de Angola, bem como das principais línguasde comunicação internacional”. Posto isto, debatemo-nos com uma questão a qualtentaremos dar resposta:

- Pode o uso do Kimbundu assumir-se comoelemento de afirmação de identidade nos servi-ços públicos? As questões relacionadas a preservação, promo-ção e estudo das línguas não é um assunto recente,pois vários autores já se debruçaram a seu respeito,entre eles citamos: Mingas (2000) “Interferência doKimbundu no Português falado em Lwanda”; Fer-nandes e Ntondo (2002) “Angola: Povos e Línguas”;Miguel (2014) “Dinâmica da pronominalização noPortuguês falado em Luanda”. Fernandes e Ntondo (2002) na sua obra fazem umlevantamento das línguas e povos existentes em Ango-la e as razoes da sua existência. Por outro lado, refe-rem-se sobre estatuto da Língua Portuguesa em rela-ção às nacionais. Tal é o caso da Maria Miguel (2014) aludindo aodiscurso do Primeiro Presidente de Angola, AntónioAgostinho Neto, escreve: “O uso exclusivo da línguaportuguesa como língua oficial, veicular e utilizávelna nossa literatura, não resolve os nossos proble-mas. Tanto no ensino primário, como, provavelmen-te, no médio, será preciso utilizar as nossas línguas”.Por outro lado, a mesma autora acrescenta: assiste-se, portanto, ȧ revalorização das línguas africanaselas passam a ser considerados sistemas linguísti-cos de direito, dando-se início ao seu estudo para afixação dos alfabetos, elaboração de dicionários egramáticas, com vista ȧ sua utilização. Principais conceitos

Afirmação A afirmação, affirmation para francês, consiste natomada de posição ou conduta deliberada manifes-tada por um sujeito que deseja apresentar uma ima-gem de referência específica relativamente às repre-sentações que supõe que os outros lhe atribuem (…).A afirmação exprime uma relação dialéctica entre asnecessidades de expressão, de autonomia e reco-nhecimento social (DORON e PAROT, 2001:336). Dito doutro modo, percebe-se que, afirmação sig-nifica destacar-se em relação ao ofício, a carreira ououtro elemento ligado a incessante luta de protago-nismo numa colectividade. Para o estudo em causa,a afirmação para língua Kimbundu passa pelo estu-do, valorização de modo a conferir o lugar de desta-que na administração. Identidade Do latim, identitas, a identidade é um conjuntodas características e dos traços próprios de umindivíduo ou de uma comunidade. Esses traçoscaracterizam o sujeito ou a colectividade peranteos demais. Para melhor percebermos o conceito de identi-dade, Doron e Parot (2001) definem como sendoo carácter do que é mesmo ou único, embora po-dendo ser percebido, representado ou denomina-do de diferentes maneiras (…), por exemplo, aidentidade social resulta de um processo de atri-buição, de intervenção e posicionamento, meioambiente; exprime-se através da participação emgrupo ou em Instituições. Para que se destaque uma língua é necessárioque tenha em primeira instância uma característi-ca ou traço que lhe difere com as demais. Importasalientar que, a língua constitui uma das formas demanifestar a cultura de um povo. Esta interacçãopovo, língua e cultura constitui a base para se for-mar uma identidade.

Geolinguística do Kimbundu A língua Kimbundu, língua falada pela etnia Am-bundu, constitui-se numa das línguas mais faladasem Angola (MINGAS, 2000: 35). Por outro lado, fazparte do grande grupo de línguas africanas que oscolonizadores europeus nos séculos passados con-vencionaram chamar de línguas bantu 3. Malcolm Guthrie apud Chicuna (2015:38) classi-ficou as línguas bantu em grupos geográficos a quechamou de zonas. Atribui letras as diferentes zonas,dando um número a cada língua. Para o Kimbundu omesmo autor enquadra na zona H. Geograficamente, o kimbundu é uma língua afri-cana tipicamente falada nalgumas regiões de Ango-la mais precisamente na capital, Lwanda, nas pro-víncias de Malanje, Kwanza Norte, Bengu, nas zonasfronteiriças ao Sul das províncias de Wije e do Zaire,assim como ao Norte da província do Kwanza Sul(MINGAS, idem). É uma língua que tem como variantes: holo, ndon-go, kambondo, kissama, mbangala, mbolo, minungu,ndembu, ngola ou jinga, ngoya, nkari, ntemo, puna,Songo e xinji (GOMES, 2014:33); embora Lusakalalu(2005:46) discorde desta perspectiva por conside-rar que a língua kimbundu pertence à unidade glos-sonímica da categoria 2, isto é, quem fala kimbundufala o kimbundu desta ou daquela área; ou seja, repe-tindo o nome da língua ao lado do topónimo referen-te à área onde a variante é falada. Vale considerar que a importância que o kimbun-du ostenta reside no facto de ser a língua tradicionalfalada na capital, Luanda, onde é considerada línguaprimeira para uns e segunda para muitos. Porém, noquadro das línguas com maior número de falantesem Angola ocupa o quarto lugar 4. Língua e cultura Os termos língua e cultura, embora sejam dife-rentes podem partilhar o mesmo tecto se admitir-mos que não existe língua sem cultura. Antes deestabelecer esta relação importa estudá-los demodo separado.A língua Desde os tempos remotos o homem utilizou, paraa exteriorização do pensamento, emoções, desejos eafectos, um conjunto de mecanismos adequando asvárias situações; usando gestos, sinais, o tocar deum tambor, a fumigação e outros com intuito únicode se manter próximo dos seus semelhantes. Valeressaltar que esta capacidade de que nos referimosé exclusiva ao homem. Posto isto, importa agora responder a seguintequestão: O que é a língua? Para Saussure apud Borregana (2003:7), a línguaé um sistema organizado de sons de que nos servi-mos para expressar ideia e comunicar com os falan-tes conhecedores do mesmo código. Para Cunha e Cintra (2008:1) a língua é um siste-ma gramatical pertencente a um grupo de indiví-duos. Expressão da consciência de uma colectivida-de, a Língua é o meio por que ela concebe o mundoque a cerca e sobre ele age (…). Martinet (2014:45) afirma que uma língua é uminstrumento de comunicação segundo o qual a ex-periência humana se analisa, diferentemente em ca-

ANTÓNIO JANUÁRIO BAPTISTA PEDRO

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da comunidade, em unidades doptadas de um con-teúdo semântico e de expressão fónica (…). Pelo que ficou demonstrado nos conceitos acimareferenciados percebe-se que o fim último da línguaé a comunicação, isto é, é necessário que haja com-preensão daquilo que se fala. Portanto, a língua é umproduto social e os membros adoptam um sistemaque lhe possibilita a compreensão do código usadopela comunidade linguística através de um pacto. A cultura De uma maneira geral, entende-se a cultura comosendo um conjunto de valores, hábitos, vivências eexperiências passadas de geração a geração que sepode manifestar através da dança, arte, música, lín-gua, ciência, crenças. Ralf Linton (1962) considerou que a cultura dequalquer sociedade consiste na soma total de ideias,reacções emocionais convencionadas aos padrõesde comportamento habitual que os seus membrosadquirem por meio da interacção ou de imitações,em que todos, em maior ou menor grau, participam. Franz Boas apud Sousa (2012:23) define a cultu-ra como a totalidade das reacções e actividadesmentais e físicas que caracterizam o comportamen-to dos indivíduos que compõem um grupo social. Com efeito, podemos entender que a existênciade uma cultura pressupõe de igual modo a existên-cia de uma língua. Pois, a língua e a cultura como foiafirmado anteriormente apesar de serem termos di-ferentes partilham o mesmo tecto. Política linguística em Angola Calvet (2007) define a política linguística comotoda a acção de um Estado que designa escolhas,orientações e objetivos deste Estado em relação àgestão das línguas quer em situações de plurilin-guismo quer em situações de unilinguismo. Estasintervenções, às vezes, são inscritas na própriaConstituição, outras vezes suscitadas por uma si-tuação intra ou intercomunitária preocupante emmatéria linguística. E para que elas possam, real-mente, deixar de ser meras declarações é precisoque sejam executadas. A esta fase Calvet chamoude intervenção: trata-se de planificação ou nor-malização linguística. A questão linguística é consequência do processode colonização que introduziu e impôs no continen-te africano uma colonização linguística. Na verdade,esse era o elemento fundamental para que se efecti-vasse a colonização. Os momentos marcantes da política linguísticaem Angola são: a adopção do português como línguaoficial, a criação do Instituto Nacional de Línguas(INL) e a sua transformação em Instituto de LínguasNacionais (ILN), a aprovação dos alfabetos provisó-rios de seis línguas angolanas de origem africana e ainserção das línguas nacionais no sistema de ensino. Os portugueses chegam a Angola em 1482 e opercurso da colonização termina em 1974, conta-ram com apoio da Igreja para os auxiliar no bom re-lacionamento com os nativos. Embora os portugue-ses estivessem presentes ao longo de cinco séculos eduas décadas (SOUSA, 2012:74), somente puderamalcançar o domínio completo do país em 1926. As relações, inicialmente pacíficas com os dife-rentes chefes indígenas não prevaleceram saudá-veis (…). Urgiu, assim, a necessidade, por partes des-tes, de desencadear as chamadas “guerras de ocupa-ção” (ADRIANO, 2015:34). O mesmo autor acres-centa que, entre 1764 e 1772, D. Francisco Inocên-cio de Sousa Coutinho, governador português emAngola, determinou que os brancos ensinassem aosseus filhos a Língua Portuguesa e a ensinassem tam-bém aos negros, como se fazia no Brasil. A minorização das línguas nativas e a hegemonia

do português, como língua da civilização, consti-tuíam umas das marcas da política colonial portu-guesa. Para os portugueses, estudar uma língua na-tiva angolana era uma aberração do espírito, comotestemunha o historiador norte-americano Sa-muels (2011): “Os portugueses chamavam frequen-temente ao kimbundu uma língua de cães ou de ma-cacos e alegavam que estudá-la era uma aberraçãodo espírito”. Esta maneira de encarar a língua de umpovo demonstra a falta de consideração pelos seusfalantes e explicita a ideia que o colonizador tinhado colonizado: “cão” ou “macaco”. Esta redução dahumanidade negra a uma animalidade, por parte docolonizador português, explicita uma prática racistaque implica a supremacia total de um segmento hu-mano que se auto define como raça sobre outro seg-mento humano percebido como outra raça. A admi-nistração colonial em Angola tinha bases raciais, emque o negro não usufruía dos mesmos direitos polí-ticos que a população branca tinha. Para demonstrar o que era dito em relação àslínguas, era atribuído ao negro uma carteira deidentidade em que vinha desenhado um macaco.Na óptica de humanização do negro, foi atribuídoao português o poder de tornar civilizado o indíge-na, isto é, o domínio do português, no plano oral eda escrita, era um dos requisitos para que alguémdeixasse de ser considerado indígena e passasse àcategoria de assimilado. O que se pode concluir com isso é que não haviainteresse por parte do poder colonial em promoveras línguas africanas. Se existisse este interesse, o go-verno colonial podia tê-lo feito, porque existiam ba-ses para que, pelo menos, uma das línguas faladas,na capital, o Kimbundu, se tornasse uma língua deescolaridade, nem que fosse apenas para alfabetiza-ção. Segundo Samuel (2011), em 1892, foi editada,

em Lisboa, a “Cartilha racional para se aprender aler Kimbundu (ou língua angolense)”, escrita peloangolano autodidacta, J. D. Cordeiro da Matta e dedi-cada a Héli Chatelain. Mesmo com este corpus linguístico do Kimbun-du, nunca foi criada uma política linguística a favorda sua promoção na alfabetização. Esta atitude hos-til diante das línguas de origem africana não contri-buiu para a criação de status condigno das línguasfaladas pelos autóctones angolanos (GOMES,2014:55). Assim, tão logo se declarou a independência na-cional (1975) o governo angolano viu a necessidadede definir uma língua que pudesse congregar os an-golanos, concentrados em vários grupos étnicos deCabinda ao Cunene, o Português. Entretanto, Angola é um país caracterizado porum mosaico cultural diversificado o que faz dele umpaís multicultural e plurilingue pelo facto de cadagrupo étnico possuir uma língua específica. Assim, éplurilingue a nível social e essencialmente bilinguea nível individual. Olhando para aquilo que foi referenciado acima,indagamos o seguinte: 1. Por que é que a Língua Portuguesa foi escolhidacomo língua oficial? 2. Perante esse quadro multicultural e plurilinguede Angola que política linguística se deve adoptar? Eis as respostas: 1. De acordo com Panzo (2013:96), a justificaçãoa esta pergunta decorre do estatuto da língua oficiallogo após a independência. Segundo sustenta-seque pesou para esta tomada de decisão a inexistên-cia de um instrumento de comunicação válido paratodos os povos de Angola.

Natureza angolana recriada através das belas artes

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Associado a este factor de instrumento de comu-nicação poder unir os angolanos, mas também deuma língua usada na diplomacia. Entende-se porlíngua oficial a língua utilizada no quadro das diver-sas actividades oficiais: legislativas, executivas e ju-diciais de um Estado soberano. 2. Um país plurilingue como Angola necessitapolítica linguística clara que tenha em conta a suarealidade sociolinguística e ponha termo ao dese-quilíbrio linguístico. A solução mais lógica e coe-rente é tender-se para um equilíbrio “equilinguis-mo”, ou seja, um equilíbrio linguístico. Assim sen-do, o Estado deve elaborar estratégias de utiliza-ção das línguas nacionais em articulação com aLíngua Portuguesa (…). Uma política linguísticarealista e eficaz deve ser formulada numa perspec-tiva de justiça e de paz a fim de engajar todos osgrupos socioculturais numa política de desenvol-vimento durável (PEDRO, 2014:83). Em nossa opinião, para traçar políticas linguís-ticas de um país deveria fazer-se antes de maisuma planificação linguística, isto é, reunindo to-das as línguas a fim de estabelecer uma políticalinguística nacional. Uma planificação linguísticaque se paute por um trabalho inclusivo. Por outrolado, tal como sucede com a definição, por exem-plo, duma variante modelo das línguas oficiais, po-dia-se proceder do mesmo modo para as línguasnacionais no sentido de encontrar uma que fun-cionaria ao lado do Português sem desprimor aslínguas consideradas minoritárias. No quadro das políticas de desenvolvimento, va-lorização e promoção das línguas nacionais assis-tiu-se dentre outras iniciativas, por exemplo, acriação do Instituto das Línguas Nacionais, Facul-dade de Letras onde se ministram ao nível da gra-duação e pós-graduação os cursos de Línguas An-golanas, ainda inseriu no sistema de ensino (IS-CED, ESPB, EFP – Kimamuenho).Considerações sobre a Língua NacionalA temática sobre as línguas na realidade angolanatem sido objecto de discussão para vários intelec-tuais. Assim, importa situar nesta abordagem oscontextos históricos que marcaram o percurso deAngola. Estamos a referir-nos dos períodos pré-co-lonial, colonial e pós-independência. No primeiro momento, cada povo comunicava-se a sua maneira mediamente necessidades espe-ciais do momento. Na fase seguinte, que remontao ano de 1482 até um pouco antes de 1975 foramperíodos de desequilíbrios ou conturbados para asituação linguística em Angola, pois que o coloni-zador impôs aos colonizados a sua língua, sendoque de outra forma não conseguiria atingir os seusobjectivos por conseguinte não haveria comunica-ção entre eles. Se na fase anterior os angolanos eram reféns aosinteresses mercantilistas do colonizador, o alcanceda independência, em 1975, abriu caminhos para adefinição de outras políticas linguísticas, ou seja,concedeu aos angolanos a autonomia linguística co-mo, por exemplo, a oficialização do Português, a va-lorização e estudo das demais línguas de Angola. Podemos depreender que antes da colonização aslínguas nacionais ou línguas bantu de Angola ti-nham um carácter puramente materno. As línguas originalmente faladas em Angola são asdos povos Bantu e não Bantu residentes na região. Aimplantação geográfica destes povos, hoje designa-dos como etnias, no fim da era colonial, apesar dasvicissitudes das décadas pós-coloniais, esta distri-buição espacial continua no essencial inalterada.Convém reter que, em termos globais, a esmagadoramaioria dos angolanos é de origem bantu. Num país que a valorização e preservação são bempatente a manifestação de autonomia linguística é

um ponto de partida e a posterior de saída. Queremoscom isto dizer que um povo é caracterizado pela lín-gua que o específica, uma vez que as línguas de ori-gem podem servir de modelo em alguns casos, quepodem ser simplificados na situação de comunicaçãoquando procuramos ser nós mesmos com a intençãode salvaguardar o património nacional. No nosso país, Angola, as línguas nacionais repre-sentam um papel marcante, visto que estampa a cul-tura e a história do povo angolano mesmo não ha-vendo um estatuto visível na implementação e nofuncionamento do sistema de ensino, ainda assimcontinua a ser a língua que caracteriza os autócto-nes. Como afirma Pedro (2014) “(…) nenhum paísdesenvolve sem a participação das suas própriaslínguas”.Considerações finais e sugestõesOs dados apresentados neste estudo demonstra-ram, como é óbvio, que o Português é a língua oficialde Angola como atestado no artigo 19 nº 1 da Cons-tituição da República de Angola; ainda assim o legis-lador abre, no nº2 a possibilidade de estudo, ensinoe promoção das demais línguas de Angola. Assimsendo, ao português, por consequência dos eventoshistóricos (a colonização) e políticos, foi lhe conce-dido o estatuto de língua oficial, gozando de triplafunção: • A de língua de unidade nacional; • De comunicação oficial; • De língua de ensino. Em relação às línguas nacionais foram criadasinstituições que visam a sua preservação e pro-moção, tais como: Faculdade de Letras, InstitutoNacional de Línguas, Instituto Superior de Ciên-cias de Educação e a sua consequente inserção nosistema educativo, não obstante reconhecer-seque ainda há muito que se fazer neste sentido,pois, no que o espaço de utilização diz respeito háum claro desequilíbrio.

Ficou claro que a língua portuguesa é a línguamais falada em Angola com 71% de falantes, segui-da pela língua umbundu 23%, kikongo 8,24%, kim-bundu 7,72%, conforme os dados definitivos docenso de 2014. Em nossa opinião, por conta de algumas reflexõese análises críticas sobre a problemática da definiçãodo espaço público e privado das línguas nacionais,julgamos que as políticas de desenvolvimento e usodessas línguas ainda não atingiram uma expressãode realce, principalmente na educação. Com este es-tudo acreditamos poder abrir espaço para alarga-mento do debate sociolinguístico. Sugestões

Cabe-nos, neste particular, tecer algumas su-gestões que julgamos serem necessárias: • Que se criem condições para uma efectiva e cla-ra política de desenvolvimento e uso das LínguasNacionais, sobretudo na área do ensino; • Que haja formação de quadros na área; • Promoção e valorização das línguas nacionais.

[email protected] Círculo de EstudosLiterários e Linguísticos Litteragris

1 Artigo apresentado a União dos Escritores Ango-lanos na Maka à Quarta-feira de 1/11/2017

2 Licenciado em Ensino da Língua Portuguesa pelaEscola Superior Pedagógica do Bengo.

3 O termo “bantu” aplica-se a uma civilização queconserva a sua unidade e foi desenvolvida por povos deraça negra. O radical “ntu”, comum a muitas línguas ban-tu, significa “homem, pessoas humanas”. O prefixo “ba”forma o plural da palavra “Muntu” (pessoa). Portanto,“Bantu” significa “seres humanos, pessoas, homens po-vo”. Cfr. ALTUNA, Pe. Raul Ruiz de Asúa, Cultura tradicio-nal bantu, 2 ª Ed., Paulinas Editora, Luanda, 2014: 23.

4 A Língua Kimbundu é a quarta língua mais fala-da em Angola com 7,82% de falantes de acordo comos dados do Censo de 2014.

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CONFERÊNCIA NA UCCLA SOBRE A POESIA CONTEMPORÂNEA DA CPLPA Missão do Brasil junto à CPLP organizou aconferência “Poéticas da Terra: a poesia contem-porânea da CPLP", no dia 22 de Novembro, no au-ditório da UCCLA.A abertura do evento contou com a participa-ção do Secretário-Geral da UCCLA, Vitor Ramalho,e do Embaixador do Brasil junto da CPLP, GonçaloMourão. Para Vitor Ramalho a “influência, muitosignificativa, do encontro de culturas dos nossospovos e países foi tão marcante, em todos os do-mínios, na gastronomia, na música e em todas asactividades culturais, particularmente, na poesiaporque o Brasil de facto é uma referência absolu-tamente inultrapassável na poesia”.Esta palestra “centra-se, sobretudo, numa ex-periência de pesquisa pessoal, do Professor Mau-rício de Vasconcelos, que fez um estudo sobre apoética contemporânea da língua portuguesa, daslínguas portuguesas, no fundo é uma língua plu-ral, são várias dentro da mesma língua e é isso quedá força a ela e que nos une a nós todos, na comu-nidade dos países de língua portuguesa” refere oEmbaixador Gonçalo Mourão. A conferência foiapresentada por Mauricio Salles Vasconcelos, daUniversidade de São Paulo, com moderação deAna Paula Tavares, da Universidade de Lisboa, ecom a participação do poeta Mariano Marovatto.Para Ana Paula Tavares esta conferência repre-senta o “ato de ir ao encontro das poesias que sefazem nas nossas línguas portuguesas e, feliz-mente, que há uma poesia viva, brilhante e que serenova em todos os sítios, em todos os lugares on-de se fala a língua portuguesa”.

Maurício Salles é “Professor da Universidade deSão Paulo e, nessa universidade ensina, investiga, di-vulga aquilo que se faz e que se fez em literatura emostra aos seus alunos, e ao mundo, questões relacio-nadas com Timor, com a Guiné, com São Tomé, comAngola, e quando ele faz escolhas, quando ele investe,quando ele traça as linhas de todo a sua pesquisa nósvemos uma atenção particular a olhar o passado, masa ter muito em conta aquilo que se faz nos nossos dias”refere a angolana Ana Paula Fernandes.“É um trabalho que faço com paixão e acho damaior importância a gente perceber como a lite-

ratura, no caso a poesia, possibilita essa realidadeda língua, de culturas, numa vertente sempre ac-tualizadora das questões mais vivas hoje” refereMaurício Vasconcelos, acrescentando que o seutexto “Poéticas da Terra” é o “espaço da poesiacontemporânea em língua portuguesa, envolven-do alguns dos nove países integrantes de uma co-munidade compreendida na sua diversificaçãocultural e criativa, que aponta para dimensõesplurais de leitura, adversas a qualquer enquadra-mento, cria uma viva contra corrente das formu-lações sistémicas fechadas”.

O tempo histórico é incógnito. Apenas os dize-res que viajam de geração em geração dão ideiade que não terá sido na antiguidade clássica. Econta-se que num plateau, também esquecidodessa imensa Angola, vivia uma enorme comu-nidade. Homens novos e homens velhos se des-tacavam nos trabalhos que consistiam em agri-cultura, pesca, caça e recolecção.Inicialmente, os mais novos, dada a sua robus-tez física, executavam as mais penosas tarefas,enquanto aos idosos recaia a tarefa de ensinar ecoordenar todas as actividades socio-culturais eculturais.A investigação e a implementação de novastecnologias era também tarefas confiadas aosmais novos, chegando, muitos deles, a envaide-cer-se e desrespeitar os seus pais e avós a quemtratavam por "caducos".Certo dia, um grupo de jovens petulantes che-gou a propor a separação da aldeia, construindo,num campo que distava dois quilómetros, a al-deia dos jovens que procuravam "libertar-se" da"escuridão" a que diziam estar os velhos vota-dos. Na verdade, a intenção maior era ver a al-deia de Kitumbulu "uma lar de idosos carentes epedintes".A nova aldeia, designada Light Youth City foierguida em tempo recorde. Entre os jovensabundavam arquitectos, engenheiros civis, tec-nólogos, informáticos, autómatos, entre outrasciências modernas daquele tempo.

Erguida em zona plana de uma montanha, ailuminação fotovoltaica fazia dela um esplendor.Uns tratavam-na de "cidade celestial", pois ha-via quase tudo e consumiu apenas meio ano.Chegou o kasimbu, tempo seco e de caça. Osarmazéns de víveres estavam vazios e era preci-so pescar e caçar. As mulheres, belas e modernasjá não se contentavam apenas com a cidade. Al-gumas furavam o combinado que era "não sedeslocar á aldeia de Kitumbulu onde ficaram osvelhos até que se rendessem e se mostrassemabertos ás estravagâncias juvenis". Porém, sau-dade e fome quando se casam, a lei evapora. Sor-rateiramente, uma e outra iam visitar os pais epedir o que comer.Lá, em Kitumbulu, mesmo com suas forças di-minutas e seus meios artesanais e rudimenta-res, a pesca e a caça nunca foi problema. A fartu-ra apossou-se das casas e os velhos e velhas dou-tro tempo pareciam mais jovens que seus filhosdesertores que padeciam de fome e má nutrição.Aflitos, os habitantes da Light Youth City tive-ram de reunir-se e nomear uma embaixada quefoi se desculpar aos idosos e solicitar que os en-sinassem a pescar em lagoas e pântanos e a ca-çar com artefactos rudimentares entre o capin-zal ribeirinho.Valeu-lhes o facto de "o amor paternal serimensurável e inesgotável". Foram tolerados einstruídos. Mas, em contrapartida, cada filho te-ve de levar os seus pais para a nova cidade.

A ALDEIA DA JUVENTUDE

SOBERANO CANHANGA

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- Sim, aceito, meu Yuri. És muito especial na minhavida! Foi assim que Geovania respondeu o seu namora-do que, diante de mais de 130 pessoas, ajoelhou-se epediu a jovem em casamento, no dia 29 de Novembrode 2017. Para o casal, uma data memorável por “éne”motivos. O palco em que o moço declarou o seu senti-mento era o do auditório Pepetela, no Camões, CentroCultural Português, em Luanda, onde minutos antes ohumorista Richa, a solo, terminara o seu espectáculode estreia intitulado “E vivemos felizes para sempre”.No dia 7 de Dezembro, data da última actividade doGoz’Aqui, realiza-se também no Instituto Camões, às19 horas, um evento de stand up comedy com humo-ristas conhecidos da nossa praça, e no final haverá oGOZAtv com Daniel Nascimento, uma rubrica de en-trevistas a figuras públicas angolanas que nasceu den-tro da plataforma Goz’Aqui, aliás, Tiago Costa anunciouque os ingressos para o Goz’Aqui de 2018 todo já estãoà venda. O espectáculo propriamente ditoCorrupção, infidelidade no lar, gravidezes indeseja-das, cábulas, halitose, as brincadeiras e privações porque o povo angolano passou em meados dos anos 80 enos primórdios dos anos 90 serviram de argumentospara as paródias feitas por Richa Gago, que no enten-der do humorista e actor Orlando Capata “é neste mo-mento, o melhor humorista de improv do país”.- Por que razão as pessoas que têm mau hálito têmsempre assuntos? Esta questão levantou um sorrisomoderado no público. – E querem sempre falar cara acara, o pior é quando elas deitam “paraquedas” (perdi-gotos) para os lábios dos outros. E o auditório respon-deu com risos intensos.Sobre a corrupção Richa disse: “Agora a mixa aca-bou, os polícias gostavam, João Lourenço acabou comisso”. Mas também alegou, mudando de assunto, “nósnunca tivemos boa relação com a Língua Portuguesa” elançou uma nova piada inspirada numa aula. “Um Hiace cheio de passageiros capotou. Onde estáo sujeito?” indagou o professor. O aluno retrucou “nãoentendi professor” (risos). O educador colocou a mes-ma pergunta e a resposta do estudante foi a seguinte:“Se o sujeito não está no Américo Boavida, então mor-reu” e aconteceu outra gargalhada hilária entre osamantes de humor de reflexão.“A educação, referindo-se às cábulas do passado,era diferente de agora. Antes amarrávamos capim paraos professores (de matemática) não aparecerem. Éra-mos felizes e não sabíamos. Quem comia o chouriço opai dele era boss, trabalhava no banco ou na sonda. Na

TV de madeira só víamos o relógio”, recordou-se dotempo da Televisão Popular de Angola e dos televiso-res a preto e branco. “As mães antigamente faziam arroz com açúcarsem leite e quando chorássemos pelo leite em pó queera escasso, elas nos mandavam pôr uma colher demargarina na tigela do arroz que ficava todo amare-lo”, e irrompeu uma nova onda de gargalhadas.Richa que foi chamado ao palco pelo seu amigoMaestro que fez o warm up do espectáculo do primei-ro, abordou o comportamento dos indivíduos queconsomem bebidas alcoólicas excessivamente, ospais que não aconselham as filhas menores sobre co-mo evitar as gravidezes indesejadas ou rapazes queconsomem drogas, auto-ridicularizou-se como seriaexpectável de um humorista, referiu-se ao ex-Presi-dente José Eduardo Santos, Akwá, Love Cabungula eAry Papel, com as tiradas de humor que tem habitua-do o público que assistiu as suas últimas actuações,enfim, foram cerca de duas horas de bom humor.Na sequência dos espectáculos alusivos aos 5 anosdo Goz’Aqui, com realce para o II Festival Nacional deHumor, no CCBA, a estreia de Dange a solo e pela per-formance de Richa no dia 29, dada a adesão com salasabarrotadas e ingressos esgotados, tudo indica quehá muita procura neste segmento artístico. “O humorangolano está a evoluir”, como disse ao “Cultura”, Tia-go Costa, CEO do Goza’Aqui e “recomenda-se” comosublinhou o público.

RICHA REMEMORA OS ANOS 80 E 90 RÚBIO PRAIA

Richa só de o ver já nasce o riso

E fomos felizes para sempre

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ADRIANO DE MELOUm convite à reflexão, através da expressão femi-nina sobre o que é o mundo hoje e qual papel deve tera mulher em todo este processo. Se deve, como suge-re o próprio título da mostra, Ser Ela “Being Her”, ouEstar Aqui “Being Here”. O debate, que analisa tam-bém questões do fórum cultural, procura propor, ar-gumentar e apresentar novas ideias sobre o que é seruma mulher africana num continente em mudança.Para quem for visitar a exposição é também umaoportunidade de conhecer um pouco mais a realida-de de vários países africanos, a partir da visão dasmulheres africanas, uma das classes que apesar dosavanços, em muitos sectores, ainda continua a sermarginalizada e vista “de uma forma mais corpórea”em muitas sociedades.Entre a luta contra a marginalização e a estigmati-zação, assim como com uma redefinição do conceitode que ser mulher não se prende apenas ao belo e aocorpo feminino, a exposição rebate algumas ideiaspré-concebidas sobre a feminilidade.A mostra colectiva, de carácter itinerante, que foiaberta, em Luanda, no passado dia 23 de Novembro,na Galeria do Banco Económico, onde fica até 31 deJaneiro do próximo ano, é um novo conceito de arte,proposto por 14 mulheres, sobre a curadoria dePaula Nascimento e Violet Nantume.As nacionalidades das artistas - oriundas de An-gola, África do Sul, Moçambique, Etiópia, Uganda,Quénia, Gana e Portugal - mostram a diversidade te-mática dos quadros expostos e que o objectivo não ésó mostrar a realidade das mulheres em África, masna diáspora, uma vez que as mudanças e as formasde ver estas tendem a variar em cada sociedade.Temas como a mulher e a interioridade femininasão pontos recorrentes e muito assentes na maioriadas criações expostas, que vão desde instalações, oufotografias até quadros. O corpo, como fica claro emtodos os trabalhos apresentados, é apenas o pontode partida para um desafio maior, onde cada reali-dade é vista sobre uma perspectiva diferente.Ao longo da exposição, os visitantes podem ter anoção da presença feminina e o impacto que estastêm na vida de cada um e até mesmo na própria di-nâmica social. Género, subjectividade, memória,pertença, sexualidade e identidade também sãopartes fundamentais da mensagem transmitidapelas artistas.Porém, o diálogo criado pela exposição tende a irmais além, das imagens e da reflexão sobre a visão so-cial das mulheres. O foco está também nas questõesculturais e na própria identidade destas. A mistura decores e a perspectiva estética de cada uma das artis-tas ajuda muito a dar uma outra ideia aos visitantes.Proveniente da África do Sul, onde foi inaugurada epermaneceu por meses, “Being Her (e) é a sequênciade um “diálogo” que começou em 2015 e 2016 com amostra “Being and Becoming, Complexities of theafrican identity”, cujo foco era as diversas camadas daidentidade africana e sobre a urgência de forjar for-mas novas e pouco ortodoxas de ver e de ser africano.As artistasSob curadoria da arquitecta Paula Nascimento eda artista Violet Nantume, “Being Her (e) tornou-seuma realidade. Primeiro na África do Sul e agora emAngola. O objectivo é levar a exposição por váriospaíses, assim como divulgar as artistas convidadas,

algumas já com nome no mercado internacional.Entre os vários nomes convidados para esta exposi-ção há a destacar os das angolanas Keyezua e AnaSilva. A primeira, que trabalha, dentre outras, comfotografia e esculturas, se destaca por ser uma con-tadora de história, que usa a arte como sua ferra-menta. A segunda, com um vasto currículo de ou-tras mostras colectivas, tem o foco mais centradopara os temas pessoais.Com origens assentes em Angola, mas nascida emPortugal, Mónica de Miranda é outra das artistasconvidadas. Considerando a si mesma como uma ar-tista da diáspora, a pesquisadora apresenta um tra-balho mais baseado na arqueologia urbana. De Moçambique participa Euridice Getullo Kala,uma artista interessada nas metamorfoses e mani-pulações culturais. A sua intenção, como demons-tram os trabalhos expostos, é explorar, nesta era degrande internacionalização da História da Arte, afalta de ligações com o passado.O país do “Arco Íris”, onde começou todo esse pro-jecto, participa com três artistas. Lebohang Kganye,Nandipha Mntambo e Zanele Muholi. Dentre elas,Lebohang Kganye é quem traz um trabalho mais vi-rado para a fotografia. Com um trajecto muito vira-do neste estilo, a artista já participou em diversasmostras fotográficas internacionais. Mas não é aúnica. Zanele Muholi também explora a imagem fo-tográfica, porém o seu foco é a identidade e políticasdas várias comunidades negras sul-africanas. A be-leza e perspicácia dos projectos visuais do país anfi-trião encerram com Nandipha Mntambo, cuja car-reira tem tido grande projecção nos últimos anos.O Quénia é o outro país que participa nesta expo-sição com três artistas. As escolhidas foram MimiCherono Ng’ok, cujo trabalho é mais focado paraquestões como o domicílio, as perdas pessoais e a oresgate e valorização da identidade, Phoebe Bos-well, uma artista inovadora por combinar os seusdesenhos tradicionais feitos a mão com tecnologiadigital das quais resultam belas animações, e Jessi-ca Atleno Ounga, que explora a interacção humanaespecialmente em grupos minoritários, através dediversas técnicas e médias.

Com Stacey Gillian Abe e Immaculate Mali oUganda tem garantida a sua participação no pro-jecto de itinerante de arte africana contemporâ-nea !Kauru, criado pelo Departamento de Artes eCultura da África do Sul. Para esta exposição Sta-cey Gillian Abe propõe uma análise a fragilidadeda mente feminina, através de experiências dopassado e do presente, e critica os estereótiposem torno da mulher negra. Por sua vez, Immacu-late Mali examina as narrativas pessoais e a suarelação com a dinâmica do quotidiano, como umaforma de mostrar toda a resiliência humana.Com uma representante cada, a Etiópia e o Ga-na marcam presença com nomes emergentes, co-mo Alda Muluneh e Zohra Opoku, respectivamen-te. A primeira que muito tem se destacado nomundo da arte contemporânea tem uma forte ten-dência para a fotografia, enquanto a segunda éuma artista versátil, cujo trabalho enfatiza o pa-pel político e psicológico da moda e as dinâmicassocioculturais em relação a História africana e asidentidades individuais e colectivas.

BEING HER (E) EM LUANDAO SIGNIFICADO DO FEMININO EM MOSTRA

ARTES | 13Cultura | 5 a 18 de Dezembro de 2017

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Desde sempre se soube que aquela era umaterra onde, amiúde, ocorriam factos maravilho-sos, factos extraordinários e mesmo factos terrí-veis como aqueles que se viveram no ano que fi-cou a ser conhecido como “O Terrível Ano do Ma-caco Vermelho”. Era uma terra em que os homens e as divindadesviviam, conviviam e se cruzavam a cada momento ede que se sabia que, tendo Nzambi Mpungu criadoo mundo, competia à kianda, o império sobre osrios, lagos, lagoas, fontes, charcos, outeiros, bos-ques e sobre o mar. Também imperava sobre os ho-mens, sobre todos os animais e sobre a chuva e, àssuas leis, todos deviam obediência, sob o risco deenfrentarem a sua fúria. A sua influência estendia-se à peste, à fome, à guerra, à paz e a tudo mais. Porisso mesmo, na falta de chuva, de peixe ou de víve-res, os homens a ela recorriam com suas angústias.Então, com uma sineta dupla, pelo Boka eram to-dos convocados para num dia designado, na praiaou à beira-rio, receberem a sua visita. Homens, mu-lheres e crianças, todos os presentes, eram entãonaquele dia untados pelo kilamba, com uma mis-tura de água e barro, com que se purificavam parareceber e homenagear a divindade. Chamada pelo Kilamba Kya Ixi, vestido de umapele de animal sobre o pano, usando na cabeça asua kijinga, com unhas de aves de rapina, de leões,de tigres, dentes de jacaré e penas brancas e encar-nadas de diferentes aves ornamentada, à kianda,também chamada kiximbi ou kituta, eram ofereci-dos muitos kitutes e vinhos da terra e finos vinhos,azeites, doces e iguarias vindas das terras de além-mar, por todos trazidos, a que se seguia o sacrifíciode alguns animais. Com a sua dikua, sembele oumachadinha, o Kilamba fazia a kudinga. Eram por-cos, cabritos e galinhas que assim eram abatidosem homenagem à kianda, de quem se aguardavaclemência por qualquer desrespeito à sua lei e lhesfizesse vir a chuva ou acalmasse as calemas. Se nãofosse castigo seu e porventura a chuva tivesse sidoamarrada por algum feiticeiro, pedia-se à kiandaque ordenasse desamarrá-la e voltasse a chover. Nessa ocasião, o sacerdote derramava no lugar epor todos os cantos, gotas de cada líquido recebidodos presentes, dos vindos de além-mar ao vinho depalma, enquanto muita gente ao redor ia tocandochocalhos, batuques e cantando. Procurava-se acomunicação pacífica com a kianda, que não seapresentava em corpo, mas sim em espírito na ca-beça de um homem ou de uma mulher, por inter-médio de quem via, ouvia e falava.Sentado no seu mocho, entrava então o xinguila-dor em convulsões e da sua boca saíam palavras sópercebidas pelos “entendidos”. Considerava-senessa ocasião que um santo entrara na cabeça doxinguilador por quem a divindade se anunciava.Ora em voz alta, ora em sussurros, via-se então oKilamba implorando e rogando para que a kiandaacalmasse a sua fúria e lhes desse de volta a chuva,o sustento dos campos ou o peixe das águas. Daquelas paragensconsta que haviam passadosinúmeros anos, desde a altura em que ali se instala-ra a gente de Kimalauezu kya Tumba a Ndala. A es-te propósito conta-se que, tendo ficado grávidauma das esposas deste grande senhor, só lhe apete-cia comer peixe. Kimalauezu kya Tumba a Ndalamandou então um dos seus servos pescar ao rio.No primeiro dia, o servo pescou bastante peixe. Asenhora cozinhou-o e comeu-o todo. No dia se-guinte, o servo foi novamente à pesca. Pescou no-vamente uma grande quantidade de peixe. Nova-

mente a senhora cozinhou-os e comeu-os no mes-mo dia. No dia seguinte aconteceu a mesma coisa.Sempre que o servo fosse à pesca, trazia cada vezmaiores quantidades de peixe, mas a mulher de Ki-malauezu kya Tumba a Ndala acabava-os todos nomesmo dia. Isso prolongou-se durante muito tem-po. Certo dia, o servo chegou ao rio, atirou a redepara a água e esperou algum tempo. Puxou a rede econstatou que a mesma estava bem pesada. Puxou-a novamente, mas sem resultado. Gritou então:– Tu que estás a prender a rede, ainda que sejas odono do rio ou um crocodilo, larga a minha rede. Nãovim pescar por minha vontade, cumpro ordens.O servo voltou a puxar a rede e então foi bem su-cedido. Porém, quando olhou para a rede, viu algode espantoso e, cheio de medo, pôs-se a fugir. Nissoouviu uma voz que lhe dizia:– Pára, não corras mais!... O homem obedeceu e voltou ao mesmo lugar on-de estava antes e puxou a rede. O ser extraordiná-rio disse-lhe:– Eu sou o kiximbi deste rio. Vai para casa e voltacom aqueles que te obrigaram a pescar. O homemobedeceu e, tendo chegado a casa, explicou tudo oque o génio lhe havia dito. Kimalauezu kya Tumbaa Ndala e a sua mulher grávida, acompanhados dopescador, partiram e chegaram ao local. Ali estavao kiximbi do rio, que lhes disse: – Tu, Kimalauezu kya Tumba a Ndala, meu ami-go, quando vieste com a tua gente fixar-te nestasterras, pediste-me autorização. Entretanto, agoraque a tua mulher está grávida, já não come outracoisa a não ser peixe. Por consequência disso, todoo peixe acabou e o meu povo desapareceu. Por is-so, quando a criança nascer, se ela for rapariga se-rá minha mulher; se for rapaz, será meu amigo,

meu xará e ficará a viver comigo. Então, Kimalaue-zu kya Tumba a Ndala, perguntou:– O que desejas mais de mim?E, olhando para o local em que estivera a divin-dade, já não a viu mais.Sabia-se também por aquelas paragens queNzambi Mpungu, depois de ter criado a terra e osol, a água e o fogo, “deu forma ao homem e à mu-lher, utilizando estes dois elementos. Ao casal pri-mordial a transcendência divina atribuiu os nomesde Sàmbà e Máwezè. Estes tiveram uma grandeprogénie de ambos os sexos. Sendo irmãos, não po-diam casar-se nem fazer sexo. Isto fez com que, de-pois de acordado com os progenitores, Nzambi setenha decidido a purificá-los. Para tanto, os filhosdo casal deveriam na madrugada do dia seguinteatravessar o rio Kwanzà. Chegada a hora aprazada,apenas dois dos irmãos acordaram ao canto do ga-lo e cumpriram com o estipulado, isto é, atravessaro rio. Quando chegaram ao outro extremo, estavamcompletamente esbranquiçados e transformadosem “seres maravilhosos”; Nzàmbì atribuiu-lhes osnomes de Mpemba e Ndèlè. Decidiu ainda que, do-ravante, estes deveriam passar a viver nesse mun-do que alcançaram, isto é, o mundo harmoniosodas águas, da humidade, do brilho e da luminosida-de, da brancura e da felicidade absoluta. Os outrosirmãos, que não cumpriram com a ordem estipula-da, passaram a viver definitivamente na terra, comos seus problemas e angústias” (1). Por isso mes-mo, quando os naturais viram emergir das águasdo mar grandes barcos e homens de pele clara, en-traram em pânico, por crerem que se tratava dos fi-lhos de Ndele que, tendo saído das águas onde ha-bitavam, voltavam à terra. Deles fugiram e passa-ram a designá-los por mindele. Reconheceram-lhes autoridade e prestaram-lhes reverência, o quefacilitou a sua penetração e a ocupação do reino.Consta que, da primeira vez que os mindele esti-veram frente a frente com os autóctones, com pala-vras não entendidas, mas com largos gestos perce-bidos, ao perguntarem-lhes que terra era aquela,responderam-lhes: – Mwa Ne Soyo. – Diziam que aquelas eram asterras e as gentes do Ne Soyo.Anotou então o cronista dos mindele: “MuaniSoio”. E escreveu que aquela terra era governadapor um Governador designado Muani ou Mani. Ti-nha ocorrido um erro de comunicação fatal quetrouxe para a história um título que nunca existiunaquele reino ou naquela língua. Diz-se ainda hoje que os factos do Terrível Anodo Macaco Vermelho, ocorreram muitos anos de-pois daquele em que os mindele, tendo chegado aoreino, pouco depois haviam enfrentado o sacerdo-te da chuva e assim o relator tinha escrito ao seuRei: “achei aqui um grande feiticeiro, que andavaem trajes de mulher, e por mulher era tido sendohomem, a coisa mais feia e medonha que em minhavida vi: todos lhe tinham medo e ninguém lhe ousa-va falar, porque era tido por Deus da água e da saú-de. Mandei-o buscar e trouxeram-mo atado: quan-do vi, fiquei atónito e todos se pasmaram de veruma coisa tão disforme. Vinha vestido como sacer-dote da lei velha, com uma caraminhola feita dosseus próprios cabelos, com tantos e tão compridosmichembos, que parecia mesmo o diabo”(2) .

ANTÓNIO FONSECA

14 | BARRA DO KWANZA 5 a 18 de Dezembro de 2017 | Cultura

O TERRÍVEL ANO DO MACACO VERMELHO (I)

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BARRA DO KWANZA | 15Cultura | 5 a 18 de Dezembro de 2017“Em chegando lhe perguntei se era homem oumulher, mas não quis responder a propósito; man-dei-lhe logo cortar os cabelos que faziam vulto deum novelo de lã, e tirar os panos com que estavavestido, até o deixar em trajes de homem. E paraque vissem que não era Deus da chuva, pois vinhacontra a sua vontade, ordenou Deus que estandonós nisto se deixou vir uma grande bátega de água,com que todos se alegraram porque a desejavammuito. Recolhemo-nos os que aí estávamos paradentro da igreja e a ele deixei-o ficar à chuva, atéque confessou que ele nascera homem, mas que odemónio dissera à sua mãe que o fizesse mulher,senão iria morrer e que até agora fora mulher, masque dali por diante, pois lhe dizia a verdade, queriaser homem: já era tão velho que tinha a barba todabranca, a qual trazia rapada” (3). Porém, acrescen-tavam os populares, mal a chuva parou, logo apare-ceu no posto administrativo um jacaré levando naboca um saco com moedas para pagar o seu impos-to e pôs em debandada toda a gente que lá estava.Avançou e ali ficou a dar voltas. E ninguém entrouenquanto lá esteve o jacaré; tudo fugia. Pouco de-pois, o sol tornou-se uma bola de fogo que secou avegetação e incendiou todo o burgo. Apenas restouum velho sobrado de dois andares, construído emmadeira, que resistira a todas as guerras, conheciatodas as histórias e de que se dizia ser habitado porum poderoso possuidor de maiombolas. Resistiraao tempo e ao incêndio que queimara tudo em re-dor. Não se sabia ao certo quem o mandara cons-truir, mas dizia-se que tinha sido por um igualmen-te poderoso possuidor de maiombolas e que naépoca o sobrado resistira ao fogo porque, enquan-to o fogo avançava, os maiombolas carregandoenormes selhas de água cartadas da cacimba noquintal foram molhando toda a vegetação em re-dor enquanto outros, como se faz nas queimadas,em torno do sobrado, iam derrubando o capinzal,deixando um círculo de terra batida de mais de cin-quenta metros de raio. Fora um trabalho rápido eeficaz, até porque eram milhares os maiombolas atrabalhar, que já ali permaneciam desde que o mes-mo fora construído. Morriam os homens, mas ali fi-cavam os maiombolas a que se vinham juntar ou-tros trazidos pelos novos inquilinos. Naquele ano,que ficou conhecido como o Ano Terrível do Maca-co Vermelho, por força das muitas emboscadas,das múltiplas capturas de soldados inimigos emarmadilhas de caça adaptadas à ocasião, o burgominguando de fome se viu obrigado a abrir os ca-naviais e aí plantar um pouco de tudo que desse pa-ra comer. Porém, pelas suas próprias característi-cas nutricionais, privilegiou-se o cultivo de milho. Lançou -se assim pela primeira vez o conceitodaquilo que muitos, muitos anos mesmo, maistarde, viria a chamar-se cintura verde das cida-des. Não se sabe pois, ao certo, o ano em que talaconteceu. Sabe-se apenas que, tendo o milho si-do lançado à terra, levantado as suas bandeiras,crescido e espigado, bandos de macacos invadi-ram os campos. Assim fizeram uma, duas vezes… mas uma ter-ceira vez já não podia ser; assim decidiu Sô Felicia-no que ficou conhecido na história como o estrate-ga da resistência contra a morte pela fome. Comefeito, numa dessas noites quase não dormidas detanto cogitar no assunto, tomou a decisão de aca-bar com os macacos que devoravam o milho comtanto risco e a tanto custo plantado. Mandou poisSô Feliciano capturar um macaco. Um macaco que,entre os poucos assimilados que habitavam o bur-go, silenciosamente passou a ser chamado “maca-co-cão”. Tratava-se de fazer chacota do terrivel-mente célebre chefe da polícia que comandava aspatrulhas e as rusgas nos bairros indígenas e queera conhecido por aquele nome: “macaco-cão”.Capturado o macaco, Sô Feliciano mandou-opintar, bem pintado, a vermelho. Pintado a tinta deóleo, é claro, não fosse a chuva tirar o vermelho ao

macaco e desfazer-se assim o seu plano. Foi o ma-caco pintado e repintado, com uma, duas, três demão como se pintam as casas. E o macaco, assim, devermelho reluzente pintado ficou. Ao sétimo dia,foi o macaco vermelho colocado no local onde ha-bitualmente os da sua família iam comer o milho.Desolado, lá estava ele com o olhar buscando napaisagem os seus. Quando estes chegaram, os ou-tros macacos portanto, iniciaram a sua tarefa deroubar o milho. Vendo-os, o macaco vermelhoexultou de alegria e correu em sua direcção para aeles se juntar, aos da sua família que havia perdido.Estes, ao verem correr para si o macaco vermelho,entenderam que um espírito maligno se apoderarado território e puseram-se em fuga. E então é quefoi bom de ver: o macaco vermelho correndo atrásdo bando para se juntar aos seus familiares e o ban-do fugindo do macaco vermelho porque tinham-nocomo um espírito maligno. A verdade é que, o ban-do de macacos nunca mais voltou ao milheiral e omacaco vermelho desapareceu. Muitos meses maistarde, muito longe, abandonado, foi encontrado ocadáver do macaco vermelho. Foi também nesse ano, no ano do macaco verme-lho portanto, que por aquelas paragens, andandona pesca com a sua tarrafa, graças à sua rede, umhomem travou um verdadeiro combate com um ja-caré e conseguiu salvar-se, enquanto uma mulherfoi devorada por um outro jacaré e uma outra quese encontrava grávida e andava de apetites de co-mer caranguejos da água doce, numa das suas idasao rio em busca de água e à procura dos ditos ca-ranguejos que viviam no lamaçal, um jacaré disfar-çado entre os caniços agarrou-a pelo peito, içou-ae, impotentes, todos a viram abraçada ao jacaré,

partir para o fundo das águas. Foi ainda nesse ano, em que a pele de jacaré valiacomo ouro, que se viu pelo fim da tarde, enquanto oseu marido com os demais, bebia uma cabaça demalavo, a mulher que fora ao rio lavar o peixe parao jantar, ser arrastada pelas pernas para dentro dorio. Consta também que nesse ano um homem quevivera refém no leito do rio mais de trinta anos foraresgatado e um outro, agarrado e carregado porum jacaré, ali viveu treze anos até ser libertado.Quando voltou, contou que ali, no fundo do rio, en-contrara um enorme número de pessoas que desdea sua captura e preparo para evitar a fuga, faziam ogarimpo de diamantes uns e se dedicavam à agri-cultura outros. Numa longa esteira, de joelhos, aofim do dia, uma velha mulher nua, do tamanho deum imbondeiro, servia-lhes numa das mãos um pe-daço de carne humana cozida, que tirava de umtambor de mais de duzentos litros e na outra mãoservia-lhes uma colher de pirão. Foi ainda nesseano e nas mesmas águas que, tendo igualmente si-do capturado por um jacaré, foi resgatado o grandee poderoso papá Kiame Kiame, É Meu, É Meu, deque se dizia ter uma jibóia que vomitava dinheiro eser o dono do maior séquito de maiombolas da re-gião. Diz-se que tal foi o resultado do seu encontrocom uma jovem que, tendo morrido na véspera enão tendo sido ainda vendida pelo seu algoz, pode-ria voltar à vida se, dentro dos dias imediatos, o seucorpo fosse submetido a um grande tratamento co-mo os do Mestre Terramoto e se ela, na sua condi-ção transitória de alma do outro mundo, pusesseno seu lugar uma outra pessoa de maior valor. (CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO)

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1.- Kubinjike kuzola kakwanda-le, nda utene mukwijiya mukwanyiukuzola. 1. – Não forces um amorque não te quer, para que possas co-nhecer quem te ama.2.- Kuxile kuzola kwangene, ki

ukale ni kikoto ku muxima.2.- Nãoforjes amor alheio, para que não te-nhas dor de alma. 3.- Musule usula mu sulu, uzula

yoso yazulu. 3.- Um forjador que for-ja ao meio-dia despe tudo o que estámolhado. 4.- Mbe bu kanga bwala ifumbe,

wilengesa ni kutanaka. 4.- Se lá forahá assaltantes, afugente-os com asboas vindas. (as palavras educadastambém afastam os amigos doalheio). 5.-Kingombo kya diyala ki kyene

kimoxi ni ngombo ya kudila. 5.- Umhomem foragido não é a mesma coisaque o quiabo para comer. (as palavraspodem ser iguais na sua forma, mastotalmente diferentes na sua signifi-cação). 6.-Kuhindila muthu mu mbila,

ujimbulwisa kufwa kwa ngongo.6.- Sepultar uma pessoa faz recordara morte do universo. 7.- Mbe mwamumona muthu

wolofwa ni nzala, ngambe mumu-bana kambolo.7.- Se virdes alguéma morrer de fome, ao menos dêem-lhe um pãozinho. 8.- Kutatese mukwenu ubinga

kamuswinyi ka mbolo. 8.- Não façasatormentar quem pede um pedaci-nho de pão. 9.- Muthu utatela mukwenu wa-

la hanji ni mwenyu usanga mwa-lunga kadya pemba kumukingila.9.- Quem atormenta outrem em vidaencontra, no Além, o demónio à suaespera. 10.-Sanzeka, eye wakambe kuxi-

la, nda akumone mu kifwa kyengi.10.- Seja assíduo, tu que não tens res-peito, para que te vejam de outro mo-do. 11.- Sanzeka kuxila akwenu, ki

akundonde mulembu. 11.- Conti-nua a respeitar os demais, para quenão te apontem o dedo. 12.- Tumana kwene kwala ujitu,

ki akubane dikunda. 12.- Permane-ce onde há o respeito, para que não tevoltem as costas. 13.- Kungangama kwa ngongo

usalukisa muthu wandala kulaye-la. 13.- A amargura do mundo faz en-louquecer quem quer viver. 14.- Muthu walendukila utam-

bula kitulu mwalunga. 14.- Umapessoa de bem recebe uma flôr naeternidade. 15.- Muthu udisongola ni muk-

wenu ukala ni ukatelu wa muxima.

15.- Quem se separa de outrem ficacom a alma dorida. 16.- Kudisenga ki kyene kimoxi

ni kudikongela.16.- Separar-se nãoé o mesmo que unir-se. 17.- Okusongela kwa muthu kif-

wa kisongelu kya ngongo.17.- A se-paração de uma pessoa é, possivel-mente, a separação do mundo. (aspessoas devem estar unidas). 18.- Kumwangana menya ni maji

ki kyene kimoxi ni kumalungisamu kididi kimoxi. 18.- Separar aágua e o azeite não é o mesmo quejuntá-los. 19.- Kusandule ngongo, ki ukale

mu ubeka. 19.- Não separes o mun-do, para que não fiques na solidão. 20.- Vulumuna o wadyama we, ni

uvudise o kuzediwa kwe. 20.- Dimi-nui a tua desgraça, para que aumen-tes a tua felicidade. 21.- Futumuna o kilunji kye kyo-

vunge ni malamba ma ukulu. 21.-Destapa a tua consciência encobertacom as desgraças do passado. (temosde saber superar os males do passa-do). 22.- Kudisoke ni ngandu ixana-

na mukuthu boxi, ki akale kukwi-bula u mukwanyi. 22.- Não te asse-melhes ao jacaré que rasteja o corpono chão, para que não te indaguemquem és tu. 23.-Odilamba dilembwa kulen-

ga, iyi dilamba dya kalunga. 23.- Adesgraça que não consegue fugir, estaé uma desgraça mortal. 24.- Mbe twila twakambe oso-

nyi, twejiya twatundu mwavundu.24.- Se somos de parecer que somosdesavergonhados, sabemos que saí-mos da escuridão. 25.- Mbe twila kuma ngwetu din-

gi, ki mwafwama kututumina.25.-Se somos de parecer que não quere-mos mais, não devereis obrigar-nos.(deve respeitar-se o interesse de ca-da um). 26.- Mbe mwila ngwenu kuya

dingi kwenyoko, muxala mwenemwala enu. 26.- Se sois de parecerque já lá não mais quereis ir, ficai on-de estais. 27.- Muthu wabele una udiswa-

ma. 27.- Uma pessoa culpada é aque-la que se esconde. 28.-Okubela kwa ngongo, okuxi-

kana athu kukala mukudibeta. 28.-A culpa do mundo é a aceitação deque as pessoas estejam a bater-se. 29.- Kudya kwangangama ki

muthu utena kuwudila. 29.- A comi-da azeda ninguém a pode comer. 30.- Okungangama kwa muthu

awumona mu polo ye yayiba.30.- Aaspereza de uma pessoa é vista noseu rosto.

31.-Kukale mukwa manyenge,ki akuluke mutangedi wa makutu.31.- Não seja curioso, para que não teapelidem de contador de mentiras. 32.- Omukwa manyenge awu-

mona dikanga dina. 32.- Um mete-diço é visto a longa distância.33.- Mukakedi, una ulengesa jin-

guma ni kutalela kwe kwayiba.33.-Um homem corajoso é aquele que fazfugir o inimigo com o seu mau-olha-do. 34.- Kukale muletuke nda utene

kwijiya difula dya uximba. 34.- Nãoseja curioso, para que possas conhe-cer o sabor da ignorância. 35.- Okuletuka kwa muthu um-

wijidisa kudilonga.35.- A curiosida-de de uma pessoa ensina-o a apren-der.

16 | NAVEGAÇÕES 21 de Novembro a 4 de Dezembro de 2017 | Cultura

MÁRIO PEREIRA

JISABU JA KAKALUNGA PROVÉRBIOS DE KAKALUNGA