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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO Área de Concentração: Gestão de Negócios A CULTURA ORGANIZACIONAL NOS PROCESSOS DE FUSÃO: O CASO DE UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA FABIANA REGINA VELOSO BÍSCOLI Londrina 2003

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁUNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃOÁrea de Concentração: Gestão de Negócios

A CULTURA ORGANIZACIONAL NOS PROCESSOS DEFUSÃO: O CASO DE UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA

FABIANA REGINA VELOSO BÍSCOLI

Londrina2003

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁUNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃOÁrea de Concentração: Gestão de Negócios

A CULTURA ORGANIZACIONAL NOS PROCESSOS DEFUSÃO: O CASO DE UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA

FABIANA REGINA VELOSO BÍSCOLI

Dissertação apresentada para a banca dequalificação como requisito para obtençãodo grau de Mestre no Programa de Pós-Graduação em Administração, daUniversidade Estadual de Londrina eUniversidade Estadual de Maringá.

Orientação: Prof. Dr. Paulo da Costa Lopes

Londrina2003

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FOLHA DE APROVAÇÃO

FABIANA REGINA VELOSO BÍSCOLI

A CULTURA ORGANIZACIONAL NOS PROCESSOS DEFUSÃO: O CASO DE UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA

Dissertação aprovada como requisito para obtenção do grau de Mestre noPrograma de Pós-Graduação em Administração, Universidade Estadual de

Londrina e Universidade Estadual de Maringá, pela seguinte bancaexaminadora:

_____________________________________Prof. Dr. Paulo da Costa Lopes (PPA-UEL)

Depto. de Administração – UEL

____________________________________Prof. Dr. José Augusto Guagliardi

Universidade de São PauloDepartamento de Administração – FEA-USP

___________________________________Prof. Dr. Luiz Antonio FelixDpto. de Economia – UEL

Londrina, 29 de julho de 2003.

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Dedico esta dissertação a uma pessoa especial que me mostrou através deatitudes o verdadeiro significado do casamento, cujos valores centram-se noamor, no respeito e na cumplicidade, meu esposo Roberto Bíscoli. A eleretorno as palavras que um dia me foram ditas:

“Tu te tornas eternamente responsável por aquele que cativas”.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a colaboração das pessoas mais próximas a mim, que pensaram

positivo e torceram pelo sucesso da minha qualificação: meus pais, Jacira e Roberto, e

alguns amigos.

De forma semelhante agradeço aos colegas da UNIOESTE que participaram

nas entrevistas e aos que responderam aos questionários, e também aos que me

auxiliaram no suporte técnico ao processo de mestrado como um todo.

Como lembrança póstuma, agradeço à Profª. Dra. Magali Cecili Jurjus Pereira,

minha primeira orientadora no curso de mestrado, cuja orientação esteve cercada de

energia positiva e incentivos extraordinários, esteja com Deus.

Finalmente agradeço à grande colaboração do meu orientador Prof. Dr. Paulo

da Costa Lopes, que aceitou o desafio de dar continuidade a um trabalho já em

andamento, o que representou uma sobrecarga no empenho de ambas as partes no

sentido de adequar e reestruturar a dissertação num tempo limitado. Obrigado pela

paciência, pela dedicação e pela orientação.

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SUMÁRIO

LISTA FIGURAS .................................................................................................. viii

LIST DE QUADROS ............................................................................................. viii

LISTA DE SIGLAS ............................................................................................... viii

RESUMO................................................................................................................. ix

ABSTRACT ............................................................................................................ xi

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 01

1.1 PROBLEMA E JUSTIFICATIVA..................................................................... 05

1.2 OBJETIVOS E PROPOSIÇÕES DO ESTUDO................................................ 09

1.3 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO ........................................................... 12

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................... 14

2.1 FUSÕES E CONSOLIDAÇÕES ENTRE AS NOVAS PERSPECTIVAS

NA ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS ....................................................... 15

2.1.1 Evidências das Perspectivas Atuais na Gestão de Empresa ............................ 16

2.1.2 Histórico das Consolidações e Acordos Organizacionais ............................... 18

2.1.3 O Cenário Brasileiro........................................................................................ 20

2.1.4 Tipos de Colaboração entre Organizações ...................................................... 23

2.1.5 Consolidação como Opção Estratégica ........................................................... 25

2.1.6 Consolidação e o Processo de Integração de Culturas .................................... 33

2.2 CULTURA ORGANIZACIONAL NOS PROCESSOS DECONSOLIDAÇÃO................................................................................................... 40

2.2.1 Contribuições das Ciências Sociais na Definição de Cultura Organizacional 41

2.2.1.1 Origem na antropologia e sociologia............................................................ 42

2.2.1.2 A socialização e integração na interpretação da cultura............................... 44

2.2.1.3 Influência externa ......................................................................................... 46

2.2.1.4 Aculturação e deculturação .......................................................................... 47

2.2.1.5 Comunicação no processo de consolidação da cultura ................................ 49

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2.2.1.6 Subculturas e identidade............................................................................... 51

2.2.1.7 Construção da cultura através de modelos mentais...................................... 53

2.2.1.8 Influência da cultura nacional ...................................................................... 56

2.2.2 Cultura de Empresa na Sociologia e Antropologia ......................................... 62

2.2.3 Cultura Organizacional para a Administração ................................................ 66

2.2.4 Tipologias para Diagnóstico da Cultura Organizacional ................................ 68

2.2.5 Cultura Organizacional como Metáfora ou como Variável Organizacional... 72

2.2.6 Relações de Poder e Política como Elementos da Cultura Organizacional .... 77

2.2.7 Reflexo dos Processos de Consolidação na Cultura Organizacional .............. 79

2.3 CONTEXTO DA PESQUISA: UNIVERSIDADES PÚBLICAS .................... 83

2.3.1 Universidade Pública, uma Organização Profissional .................................... 83

2.3.2 Diferença entre as Categorias Professor e Técnico-administrativo ................ 88

2.3.3 O Comprometimento ....................................................................................... 91

2.3.4 O Individual e o Coletivo ................................................................................ 93

2.3.5 Inovação e Flexibilidade.................................................................................. 94

2.3.6 Influências Internas e Externas........................................................................ 95

2.3.7 Jogos Políticos e de Poder ............................................................................... 96

3 METODOLOGIA.................................................................................................. 103

3.1 ESTUDO DE CASO .......................................................................................... 104

3.2 COLETA DE DADOS ....................................................................................... 106

3.2.1 Análise Documental ........................................................................................ 106

3.2.2 Entrevista ......................................................................................................... 107

3.2.3 Questionário .................................................................................................... 111

3.3 ANÁLISE DE DADOS...................................................................................... 113

4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ........................................................... 117

4.1 ANTECEDENTES DA FUSÃO ........................................................................ 118

4.1.1 A Cultura Organizacional da FACIMAR ....................................................... 127

4.1.2 A Cultura Organizacional da FACISA............................................................ 131

4.1.3 A Cultura Organizacional da FACITOL ......................................................... 136

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4.1.4 A Cultura Organizacional da FECIVEL ......................................................... 140

4.2 O PROCESSO DE CONSOLIDAÇÃO DA UNIOESTE.................................. 143

4.2.1 A luta pelo Caráter Público e pelo Status de Universidade ............................ 144

4.2.2 A força do Coletivo ......................................................................................... 145

4.2.3 Pressões Externas ............................................................................................ 147

4.2.4 Competição e Bairrismo .................................................................................. 151

4.2.5 Característica Multicampi ............................................................................... 153

4.2.6 A Integração de Culturas ................................................................................. 155

4.2.7 Traços da Cultura Organizacional da UNIOESTE.......................................... 158

4.2.8 Diferenças na Visão dos Membros da UNIOESTE Sobre a Organização...... 160

4.2.9 O Significado da Consolidação da UNIOESTE para os Entrevistados .......... 169

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 171

5.1 CONCLUSÕES SOBRE O ESTUDO DE CASO ............................................ 178

5.2 REFLEXOS DA FUSÃO NA REGIÃO OESTE DO PARANÁ ...................... 181

5.3 SUGESTÕES E RECOMENDAÇÕES ............................................................. 184

6 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 187

ANEXOS.................................................................................................................. 199

ANEXO 1 - DOCUMENTOS ANALISADOS ....................................................... 199

ANEXO 2 - RELAÇÃO DE ENTREVISTADOS.................................................. 200

ANEXO 3 - ROTEIRO DE ENTREVISTAS .......................................................... 202

ANEXO 4 - QUESTIONÁRIO............................................................................... 206

ANEXO 5 - CRESCIMENTO DA UNIOESTE EM NÚMERO DE CURSOS,

DOCENTES E FUNCIONÁRIOS ....................................................... 210

ANEXO 6 - CULTURA ORGANIZACIONAL DA UNIOESTE .......................... 211

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – VARIEDADES DE TAKEOVERS ......................................................... 25

FIGURA 2 - CULTURA NAS CORRENTES DA ANTROPOLOGIA ..................... 73

FIGURA 3 – ESTRUTURA DA ORGANIZAÇÃO PROFISSIONAL ...................... 86

FIGURA 4 –TOMADA DE DECISÃO NA ORGANIZAÇÃO PROFISSIONAL .... 87

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – CULTURA DE CLUBE (ZEUS)....................................................... 161

QUADRO 2 - QUADRO 2 – CULTURA DE FUNÇÃO (APOLO)......................... 162

QUADRO 3 – CULTURA DE TAREFA (ATENA)................................................. 163

QUADRO 4 – CULTURA EXISTENCIAL (DIONÍSIO)......................................... 164

QUADRO 5 – CULTURA ORGANIZACIONAL DA UNIOESTE,

CLASSIFICAÇÃO POR CAMPUS ..................................................... 165

QUADRO 6 – CULTURA DESEJADA PELOS MEMBROS DA UNIOESTE,

CLASSIFICAÇÃO POR CAMPUS ..................................................... 165

LISTA DE SIGLAS

FACIMAR - Faculdade de Ciências Humanas de Marechal Cândido Rondon

FACISA - Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Foz do Iguaçu

FACITOL - Faculdade de Ciências Humanas Arnaldo Busato de Toledo

FECIVEL - Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Cascavel

UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná

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RESUMO

Nesta pesquisa apresenta-se a criação de uma universidade estadual a partir da fusão de quatrofaculdades isoladas, cujo objetivo foi apresentar o impacto da fusão na cultura organizacionalda UNIOESTE e os procedimentos utilizados pela instituição na integração das culturas,caracterizando a pesquisa como descritiva explicativa. Como resultado do processo deconsolidação houve a construção natural e não planejada da cultura organizacional daUNIOESTE cujo destaque foi manter, sem regras ou normas formais, traços da cultura dasquatro organizações envolvidas. A análise dos dados baseou-se na triangulação de trêstécnicas de coleta de dados: análise documental, entrevistas e questionários. Foi possívelobservar que dois fatores facilitaram a adaptação dos membros organizacionais no processode integração de culturas, a união de culturas diferentes sem o domínio de uma das culturasanteriores e o fato de que os motivos políticos e sociais que permearam esta fusão foramdesejo da maioria dos membros das faculdades fusionadas. Mas a cultura organizacional daUNIOESTE também apresenta as características que decorrem da sua estrutura complexa, doseu caráter público e do seu contexto profissional, não sendo portanto reflexo apenas da fusão,mas de toda a sua história. De qualquer forma, é possível afirmar que a cultura organizacionalda UNIOESTE ainda está em construção, e representa os pressupostos básicos dos seusmembros, a maneira como os mesmos percebem, pensam e sentem suas vidas e a de seuambiente de convivência o que irá refletir na sua forma de interpretar e resolver conflitosinternos e externos.

Palavras-chaves: cultura organizacional, universidade pública, fusão

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ABSTRACT

This research presents the creation of a state university from the consolidation of fourseparate colleges, and its objective was to show the impact of this consolidation on theorganizational culture of UNIOESTE and the procedures the organization used tointegrate the cultures, characterizing the research as descriptive and explanatory.Resulting from the process of consolidation there was a natural and not plannedconstruction of the organizational culture of UNIOESTE, and its highlight was that itkept, without formal rules or laws, cultural traits of the four involved organizations.Data analysis was based on the triangulation of three data collection techniques:documental analysis, interviews and questionnaires. Two factors favored theadjustment of the members of the organization to the process of culture integration: thefusion of different cultures without the prevalence of one of the previous cultures andthe fact that political and social reasons which permeated this consolidation weredesired by most of the members of the consolidated colleges. But the organizationalculture of UNIOESTE is still under construction, and represents the basic purposes ofits members, the way its members perceive, think and feel their lives and theirenvironment, which will reflect on their way of interpreting and solving internal andexternal conflicts.

Keywords: organizational culture, public university, consolidation

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1 INTRODUÇÃO

Um dos assuntos que tem demandado a atenção de estudiosos atualmente é a

complexidade das mudanças na modernidade ou na pós-modernidade, como preferem

alguns autores1. Os enfoques que serão aqui destacados tratam da influência dessa

complexidade nas organizações e na cultura organizacional. E em resposta a esta

complexidade, pode-se destacar que as organizações têm buscado alternativas como a

fusão, consolidação, integração, complementaridade, descentralização, entre outras

apresentadas nas pesquisas da área de administração.

A relação entre fusões e cultura organizacional está cada vez mais evidente

nos indicadores de fracasso ou sucesso das relações entre organizações, ressaltando

com isso a importância dos fatores sociais sobre os econômicos. Várias são as

estatísticas que demonstram que o principal motivo de fracassos das fusões foi o

confronto de culturas diferentes que na maioria dos casos resultou em resistências,

falta de comprometimento e estresse nas pessoas que fazem parte da organização.

OLIVEIRA (2000, p. 102) ressalta que as “mais recentes pesquisas de fusões

de empresa têm demonstrado que a não-integração de culturas é um fator crítico de

sucesso organizacional e que alguns fracassos de fusões foram devido à não-integração

com as culturas de origem. Tensões e conflitos de poder têm sido a tônica dessas

junções”.

PIRES (2000) destaca a influência da cultura na organização e salienta nos

casos de fusão, a união de organizações de países diferentes, nos quais há um

problema ainda maior, a integração de culturas de países distintos, que têm em sua

cultura organizacional reflexos da cultura nacional. Este autor também menciona que o

fracasso das fusões consumadas nos anos 90 decorre principalmente do confronto de

1 Ver GIDDENS, 1991; HALL, 2000; FREITAS, 2000a, 2000b, ALCADIPANI e CRUBELLATE,2003.

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culturas conflitantes, o que gera insegurança, desconfiança, rejeição e conflitos em

busca de poder.

FLEURY (1987) afirma em seu estudo que a diversidade cultural e a crise de

identidades decorrentes da diversidade globalizante precisam ser administradas. A

autora sugere a gestão da diversidade através do estudo da cultura organizacional, que

recentemente vem sendo promovida nas empresas brasileiras, subsidiárias de empresas

norte-americanas, para evitar ou reduzir o nível de conflitos nas empresas

multinacionais.

Isso tem demonstrado a importância das discussões não somente da cultura

organizacional nas pesquisas recentemente publicadas na área de administração, mas

evidencia também a preocupação com o cenário que vem se formando na atualidade,

um cenário de mudanças e complexidade que envolve as organizações levando-as a

uma fase de adaptação, de mudanças internas e externas, que tem gerado novas formas

de relacionar-se com outras organizações.

Os reflexos desta complexidade nas organizações podem ser observadas nas

pesquisas publicadas nos periódicos mais conceituados do Brasil da área de

administração, as que, na análise de RODRIGUES e CARRIERI (2000a), são: RAC

(Revista de Administração Contemporânea), ligada à ANPAD; RAE (Revista de

Administração de Empresas), ligada à Fundação Getúlio Vargas em São Paulo; RAP

(Revista de Administração Pública), ligada à Escola de Administração Pública no Rio

de Janeiro; e a RAUSP (Revista de Administração), ligada à Faculdade de Economia,

Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.

Os autores destacam a mudança e inovações (com 37 publicações entre 1990 e

1999 nos ANAIS da ANPAD) e a cultura organizacional com maior número de

publicações e estudos na década de 90 (com 51 publicações no mesmo período neste

periódico).

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O tema mudança e inovações foi o terceiro em maior número de artigos encontrado naanálise. O tema cultura organizacional tem sido também um dos tópicos mais preferidos.Evidencia-se o ano de 1996 como um ano no qual o tema foi preferência para 11 artigos.Cultura organizacional é o segundo tema m número de artigos. (...) Nos últimos anos, novostemas ganharam relevância, tais como aprendizagem e conhecimento organizacional ecomprometimento organizacional (RODRIGUES e CARRIERI, 2000a, p. 33).

Sobre a mudança ou gestão de mudanças o que se tem apresentado é que seu

sucesso depende de uma série de fatores que desempenham um papel muito

importante, como os fatores ambientais que estimulam, impulsionam as organizações a

se adaptarem e inovarem, na busca da formação de sua identidade daquilo que vem a

ser o objetivo final de toda organização: sobreviver (MACEDO, 2002).

Para RAMBALDUCCI et al. (2002), a cultura organizacional existe e é um

poderoso instrumento para tentar explicar ou predizer o comportamento das

organizações e seus membros. E há consenso entre os autores por ele estudados de que

a cultura organizacional acaba funcionando como um mecanismo de controle

organizacional podendo ser a chave para o sucesso ou fracasso do empreendimento.

É interessante observar que as pesquisas mais recentes na área de

administração levantam a questão dos indivíduos e das relações humanas neste

processo de mudanças, destacando a participação e a influência das pessoas nos

momentos de mudanças. Grande parte das reflexões apresenta a dificuldade enfrentada

pelas organizações em acompanharem as mudanças em decorrência da resistência das

pessoas em participar do processo, havendo inclusive a possibilidade de uma rejeição

impedir que a mudança aconteça (WOOD JR., 2001; MOTA E CALDAS, 1997;

OLIVEIRA, 2000; ALBUQUERQUE, 2001).

Assim, acredita-se que a organização somente poderá efetivar a mudança e

obter resultados positivos se for dada a devida atenção às pessoas que farão parte do

processo. Pode-se destacar, portanto, a importância da cultura organizacional, que

marca a estrutura da organização em termos de valores, normas, comunicação e outros

elementos que fazem da cultura um instrumento tão importante capaz de orientar a

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formulação e implementação estratégica da organização (MINTZBERG et al. 2000;

MORGAN, 1986).

O estudo de caso apresentado nesta pesquisa aborda a fusão de quatro

faculdades isoladas que se uniram para constituir uma nova organização, a

UNIOESTE, com o objetivo de consolidar uma universidade pública na região Oeste

do Paraná, que não dispunha na época de nenhuma universidade deste porte.

Esse processo caracterizou-se como uma consolidação na visão de ROSS et al.

(1995) e GITMAN (1997) que definem consolidação como a união de empresas que

geram uma organização completamente nova. Este processo se deu com a união de

organizações que já tinham história e cultura organizacional próprias e distintas. Por

esta razão o enfoque da pesquisa passa a questionar o impacto da fusão na cultura

organizacional da UNIOESTE, pois uma das principais preocupações das fusões deve

voltar-se à integração de culturas (OLIVEIRA, 2000; NADLER e LIMPERT, 1993;

SHINYASHIKI, 1995).

No que se refere à metodologia utilizada para este estudo, ressalta-se a

utilização de várias técnicas de pesquisa, o que na concepção de Jick apud FLEURY et

al. (1997, p. 288) é o procedimento mais adequado na investigação da cultura

organizacional, ao que define como triangulação. Segundo o autor, “triangulação é

definida como combinação de metodologias no estudo de um mesmo fenômeno. (...) A

eficácia da triangulação fundamenta-se na premissa de que a fraqueza de um único

método será compensada pela força de outro”.

Como técnicas de pesquisa utilizaram-se entrevistas semi-estruturadas, análise

documental e questionários. A avaliação dos dados também foi definida a partir da

triangulação dos resultados obtidos. Para as entrevistas e para a análise documental foi

definido um roteiro de avaliação para facilitar a compilação dos dados conseguidos,

destacando-se os pontos convergentes e divergentes da cultura organizacional das

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faculdades no período anterior à consolidação, e também destacando-se as razões e os

procedimentos do processo de consolidação da UNIOESTE. Já o questionário,

adaptado de HANDY (1994), foi utilizado com o objetivo de identificar as diferenças

culturais na UNIOESTE, enfatizando-se as diferenças entre os campi para que no

confronto com as demais técnicas de investigação, fosse possível avaliar o quanto a

diversidade ou a homogeneidade foram importantes no processo de integração de

culturas nesta consolidação.

1.1 PROBLEMA E JUSTIFICATIVA

MINTZBERG e QUINN (2001) lançam a cultura organizacional como uma

força que funciona para promover pequenas mudanças incrementais no planejamento

estratégico. Os autores alertam para a utilização desta força em momentos cruciais da

mudança estratégica, sendo ela a responsável pelo equilíbrio e pelo poder dos grupos

dentro das organizações quando se tratar de pequenas mudanças. Os autores advertem

que, em mudanças drásticas como nos casos de fusões, a política seria uma força

oposta à ideologia cultural, e mais adequada nestes casos por possibilitar maiores

discussões e negociações, proporcionando a visão de vários pontos de vista em

situações de grandes rupturas. No entanto, acredita-se que após uma mudança drástica

a cultura organizacional novamente toma força, pois é através de valores fortemente

estabelecidos que a aceitação e a colaboração efetiva dos indivíduos torna-se possível

no desempenho organizacional (KOTTER e HESKET, 1994).

Nesta perspectiva, os valores e as crenças influenciam na delimitação do desenhoorganizacional e das estratégias de ação. (...) O entendimento da mudança ou da inércia emorganizações passa pela compreensão da capacidade de os indivíduos e de gruposexpressarem e imporem seus valores e crenças, à medida que a organização estabelece seusobjetivos (SILVA et al., 2000, p. 132-133).

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Através da compreensão dos processos de mudanças, da estruturação de

representações mentais, os indivíduos desenvolvem e assimilam novos valores e

conceitos e compartilham-nos com os grupos dos quais fazem parte (na organização ou

fora dela). Interessa para a organização fazer seu escopo apreender tais significações e

preparar os seus membros para a mudança. Esta visão é compartilhada por

RODRIGUES e CARRIERI (2000b, p. 351) que afirmam: “sem dúvida, o papel dos

gerentes continua a ser o que sempre foi – a criação e tradução de valores, de símbolos

para outros membros, sendo os principais agentes de criação de cultura e de

transformação organizacional”.

Se, por um lado, há dificuldades na aceitação de mudanças pelos membros

organizacionais, por outro lado, também parece ser inevitável para as organizações

fazer parte das mudanças que envolvem o ambiente externo. Recentemente tem-se

destacado que novas formas de estratégias estão sendo estimuladas tanto pelo mercado

como pelos governos. Como incentivos às organizações para que as mesmas tenham

mais tempo de vida, para que se desenvolvam com mais independência dos recursos

governamentais e se expandam para promover o progresso da indústria a qual

pertencem e também para o desenvolvimento do próprio governo em que se inserem

(PINHEIRO, 2002).

Uma das tendências destacadas por vários autores tem sido as fusões e

consolidações como alternativas estratégicas para alavancar as organizações rumo ao

desenvolvimento (ROCHA et al., 2002; MATIAS e PASIN, 2002; SUEN e KIMURA,

1997; MINTZBERG et al., 2000; RASMUSSEN, 1988; GITMAN, 1997). Com isso

novos valores são colocados em destaque e mais uma vez o papel da cultura

organizacional evidencia-se, seja como uma variável estratégica ou como uma

metáfora na análise organizacional (MINTZBERG et al., 2000; MINTZBERG e

QUINN, 2001; FREITAS, 1991, 2000a, 2001b; FLEURY e FICHER, 1996; CLEGG

et al., 1997; CRUBELATTE e MENDES, 2000; ALBUQUERQUE, 2001) .

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As fusões e consolidações podem significar o sucesso de muitas organizações,

mas também há uma grande preocupação com as suas conseqüências, principalmente a

curto prazo. Dados têm mostrado que nos primeiros anos seqüenciais às fusões de

empresas no Brasil, o desempenho e os lucros da organização caem, pois somente após

consolidada, a fusão poderá trazer os benefícios esperados (ROCHA et al., 2002;

MATIAS e PASIN, 2002).

De qualquer forma, o desafio que se faz com esta nova tendência é o de

colocar para atuar juntos grupos de pessoas com históricos de crenças muito

particulares e diferenciados, sem que este confronto represente um choque traumático

para a organização ou para as pessoas que dela fazem parte.

Imagina-se o choque cultural que essas organizações têm. Toda mudança na culturaorganizacional começa com a mudança de crenças implantadas a partir de momentossignificativos e se efetiva com a adoção de novas crenças. No caso dessas fusões e parcerias,faz-se necessário um trabalho forte no sentido de unir crenças diferentes. Como vimos, ascrenças de um grupo, se efetivam a partir de situações comuns ao grupo. Quando gruposdiferentes se unem, os laços afetivos devem ser trabalhados no sentido da descoberta dooutro e das contribuições mútuas que poderão se dar (ALBUQUERQUE, 2001).

O que se pretende com este estudo vem de encontro a esta perspectiva, com o

seguinte questionamento: Quais as conseqüências da fusão das quatro faculdades

isoladas que deram origem ao processo de consolidação da UNIOESTE, na cultura

organizacional da instituição formada, uma instituição pública estadual? Para isto, no

entanto, foi necessário considerar todo o processo da consolidação, levantando o

período pré-fusão, que constituiu-se da história das faculdades e sua cultura

organizacional, as relações entre as organizações e os motivos que levaram à fusão,

assim como os fatores que influenciaram na decisão para a fusão. Também foi

necessário investigar os procedimentos adotados para esta mudança, considerando o

planejamento e a condução da integração de culturas. Acredita-se que somente com

estas informações é possível considerar os reflexos da fusão na cultura organizacional

da UNIOESTE.

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Neste estudo de caso, ainda há outros fatores considerados importantes na

fusão das organizações, a sua característica enquanto universidade e enquanto órgão

público estadual trazem elementos distintos das organizações privadas, no que diz

respeito à cultura organizacional e à estratégia organizacional. As pressões externas

vindas da comunidade, dos órgãos representativos, da política local e estadual, dos

usuários e dos órgãos reguladores traçam as características da organização que precisa

contemplar as expectativas externas na sua rotina.

Como faculdades municipais isoladas as organizações envolvidas certamente

respondiam a tais pressões, cada qual na sua área de atuação e, após fusionadas,

tiveram que responder também a uma nova demanda. No entanto, o processo de

consolidação foi conquistado com o apoio da maioria dos membros das organizações

envolvidas o que representa um aspecto positivo na integração das culturas, embora

um dos objetivos que consta no Regimento da UNIOESTE seja o de manter as

características de cada organização, levantando novamente as diferenças entre as

mesmas. Pode-se perceber que este cenário se moldou de uma forma muito particular

no caso de fusões organizacionais, gerando questionamentos sobre o processo de

integração de culturas.

Este caso remete a uma situação singular na região Oeste do Paraná, a criação

de uma universidade estadual a partir da fusão de quatro faculdades isoladas, que já

estavam em atividade e consolidadas como instituições de ensino. Há singularidade

também frente aos casos de fusão porque, neste caso, houve muitas vantagens para as

faculdades envolvidas e seus membros, principalmente por terem se tornado uma

instituição pública estadual, o que trouxe status, vantagens políticas, além da

segurança profissional aos professores e funcionários que passaram para o regime de

trabalho estatutário. Além disso, o resultado da fusão também não foi o mais comum,

ou seja, houve um processo de consolidação, no qual nenhuma cultura se sobrepôs a

outra, não houve aquisição, mas a união de todas as faculdades que puderam construir

juntas uma nova organização.

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Todas essas características podem respaldar alguns questionamentos como os

já citados anteriormente, formatando uma pesquisa científica. Por esta razão, expõem-

se a seguir os objetivos pretendidos com a pesquisa e algumas proposições de estudo

que permeiam os apontamentos já mencionados até aqui.

1.2 OBJETIVOS E PROPOSIÇÕES DO ESTUDO

Para desenvolver este trabalho, foram estabelecidos, a partir do problema

levantado, alguns objetivos que conduziram à pergunta de pesquisa. O objetivo geral

da dissertação é compreender o processo de fusão das quatro faculdades isoladas na

consolidação da UNIOESTE e descrever as suas conseqüências na cultura

organizacional da instituição que se formou, uma instituição pública estadual.

Como objetivos específicos, ainda na visão de COOPER e SCHINDLER

(2000), há outras questões de investigação, que levam aos objetivos de pesquisa como:

a) descrever os procedimentos das organizações envolvidas no processo de

consolidação da UNIOESTE (planejamento, negociação e integração);

b) examinar a relevância com que foi tratada a integração das culturas no

processo de consolidação da UNIOESTE;

c) identificar e avaliar as diferenças entre as culturas organizacionais das

organizações no período anterior à consolidação, investigando seu grau de

contribuição para a integração ou para o choque de culturas na

UNIOESTE;

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d) identificar e avaliar os traços comuns e divergentes na cultura

organizacional da UNIOESTE, entre os campi que a originaram,

averiguando se a cultura da UNIOESTE representa uma cultura

homogênea ou mantém culturas diferentes em cada campus.

O objetivo subjacente a estes questionamentos é analisar o comportamento da

UNIOESTE frente ao confronto de culturas neste processo consolidação, identificando

suas razões, seus procedimentos e suas expectativas a esse respeito.

Esse objetivo destaca uma preocupação com as características da organização

pesquisada, que foi constituída a partir de quatro faculdades que se desenvolveram em

cidades muito distintas. Embora com objetivos educacionais semelhantes, cada

faculdade era formada por profissionais inseridos numa sociedade com características

regionais próprias. A FACISA, na cidade de Foz do Iguaçu era muito voltada ao

turismo por estar localizada em um ponto estratégico de fronteiras com o Paraguai e a

Argentina. Destacava-se como uma organização complexa, com membros de várias

regiões convivendo com pessoas de distintas nacionalidades, religiões, valores e

costumes; a FACIMAR, na cidade de Marechal Cândido Rondon, voltada à

agricultura, mas com traços muito fortes da cultura alemã, uma vez que 90% da

população local era descendente dessa cultura; a FACITOL, na cidade de Toledo,

também com características voltadas principalmente à agricultura, mas sem a

influência de uma cultura étnica específica, cujos membros dirigentes e docentes,

tinham influência religiosa dos padres e do bispo local que foram os idealizadores da

faculdade, consolidando uma cultura voltada aos valores familiares e religiosos; e a

FECIVEL, na cidade de Cascavel, tinha como maior destaque o comércio, sendo um

pólo de desenvolvimento nesta área e também representava a maior faculdade

envolvida no sentido de tamanho e número de funcionários. Por isto, caracterizava-se

como uma organização complexa, de ralações mais formais do que as outras

faculdades, e que tinha uma visão maior da conjuntura econômica e política, o que era

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incorporado à cultura da organização, levando os seus membros ao enfrentamento na

busca de desenvolvimento.

Com isso posto, apresentam-se como proposições aos questionamentos

levantados o seguinte:

a) os procedimentos adotados pela equipe idealizadora da consolidação da

UNIOESTE voltaram-se aos motivos políticos o que significou um grande

avanço para as instituições envolvidas, uma vez que passaram a fazer parte

de um órgão público estadual;

b) as culturas e as razões de cada faculdade participante do processo de

consolidação eram diferentes o suficiente para causar conflitos no processo

de integração;

c) o processo de consolidação não contemplou em seu planejamento a

integração de culturas diferentes, o que afetou a constituição de uma nova

cultura organizacional, desestimulando com isso uma homogeneidade de

valores, costumes e ritos;

d) houve a criação de uma nova cultura organizacional, a cultura da

UNIOESTE, não significando, portanto, a simples soma das culturas

organizacionais das faculdades que originaram a UNIOESTE, mas essa

cultura organizacional manteve-se heterogênea, com traços diferentes em

cada campus formado.

Acredita-se que a partir dessas proposições possa se desenvolver uma pesquisa

empírica que venha a comprovar outros estudos sobre o tema fusões e consolidações,

que consideram as perdas de desempenho e outras dificuldades de integração em

decorrência do confronto de culturas organizacionais diferentes. Também espera-se

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que seja possível, com o estudo de caso, levantar as contradições sobre o tema cultura

organizacional, destacando as linhas de pesquisa da cultura como metáfora para a

análise organizacional ou a outra linha de pesquisa mais voltada a encarar a cultura

como variável gerencial na adaptação da cultura à organização e às estratégias

organizacionais.

O presente estudo visa também refletir sobre as linhas teóricas da cultura

organizacional apontando com o estudo de caso uma possibilidade de reflexão. Para a

instituição pesquisada, espera-se poder encontrar caminhos para uma integração menos

impactante na cultura organizacional e indicá-los para outras organizações que possam

passar pelo mesmo tipo de processo. Também espera-se poder identificar as razões

determinantes dos elementos que constituem a cultura organizacional da UNIOESTE,

avaliando as suas origens prováveis, e assim compreendendo mais claramente a cultura

como resultado da história, da estrutura organizacional e do seu caráter público.

1.3 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO

Este trabalho está organizado, conforme sugerem COOPER e SCHINDLER

(2000), ou seja, como capítulo 1, a Introdução do trabalho com a enunciação do

problema, objetivos da pesquisa e contextualização preliminar do tema a ser abordado.

O capítulo 2, destinado à fundamentação teórica, trata na seção 2.1 do tema fusões e

consolidações com o objetivo de delinear os vários conceitos sobre esta prática de

relação interorganizacional, evidenciando as fases do processo e os problemas

envolvidos entre os quais a cultura organizacional, foco desta pesquisa.

A seguir a seção 2.2 ainda na fundamentação teórica, destaca a cultura

organizacional em suas várias abordagens, evidenciando as contribuições da sociologia

e da antropologia na definição das variáveis de análise da cultura e as duas principais

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linhas teóricas desenvolvidas a partir destas contribuições: uma linha enfatizando a

cultura organizacional como uma variável estratégica que pode representar o sucesso

ou fracasso organizacional, representando “algo que a organização possui”. Outra

linha teórica aborda a cultura organizacional como “algo que a organização é”, uma

construção histórica e social de relações e representações construídas pelos membros

da organização, sendo desta forma encarada como uma metáfora que pode ser utilizada

para compreender a organização sob os aspectos culturais.

Também no capítulo 2, a seção 2.3 apresenta o contexto da pesquisa

evidenciando a organização como universidade pública, pois ele interfere nas

características culturais das organizações universitárias, classificadas no tipo de

organização profissional, tipologia adotada por MINTZBERG (2001). Além disso,

esclarece ainda as razões de determinadas rotinas e do comportamento social e político

das universidades. Insere-se nesta seção, com a mesma abordagem, o caráter público

da organização. Essa característica também influencia na cultura organizacional, e

apresenta as particularidades no que diz respeito a influências externas não só na

cultura organizacional, como também nas decisões da organização.

No capítulo 3 apresenta-se mais detalhadamente a metodologia que foi

utilizada no desenvolvimento deste estudo, evidenciando os critérios para a seleção da

amostra para a entrevista e para os questionários, os procedimentos de coleta e análise

de dados além das limitações encontradas.

No capítulo 4 discutem-se as considerações sobre a pesquisa desenvolvida e os

resultados da análise do dados coletados em confronto com a fundamentação teórica

destacando os objetivos e hipóteses levantados ao início. Por fim, no capítulo 5, estão

as conclusões do trabalho e sugestões para trabalhos futuros que venham a explorar

objetivos não evidenciados nesta pesquisa.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Como fundamentação teórica serão abordados três temas que darão formato ao

caso estudado. Acredita-se que esses três temas sejam importantes na análise da

cultura organizacional da UNIOESTE, pois representam a história, a mudança, e o

formato de organização que se formou, elementos que alteram ou dão o formato à

cultura desta organização.

O primeiro tema, destacado na seção 2.1, aborda as fusões como perspectivas

atuais na administração de empresas, evidenciando esta prática de relações entre

organizações e caracterizando adequadamente o caso apresentado nesta pesquisa como

um processo de consolidação, resultado da fusão de quatro organizações. Também são

apresentadas nesta seção as etapas que envolvem os processos de fusão e consolidação

e os seus impactos na cultura organizacional.

Na seqüência, como seção 2.2, destaca-se a cultura e a cultura organizacional para se chegar a corretasdefinições de termos utilizados nos diagnósticos e tipologias de cultura organizacional já estudados.Com esta seção, espera-se apontar as contribuições de estudos já desenvolvidos na área de culturaorganizacional, evidenciando as linhas de pesquisa que cercam as discussões atuais sobre o tema,assim como são expostas as variáveis de análise utilizadas neste estudo.

Por fim, na seção 2.3, expõe-se o contexto da pesquisa, onde justificam-se

algumas prerrogativas sobre a estrutura organizacional das universidades, enquanto

organizações profissionais e seu caráter público. Essas prerrogativas são apontadas

como elementos que interferem na consolidação da cultura organizacional de

organizações como a descrita neste estudo de caso.

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2.1 FUSÕES E CONSOLIDAÇÕES ENTRE AS NOVAS PERSPECTIVAS NA

ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS

Entre as perspectivas atuais sobre a administração de empresas encontram-se

as fusões e consolidações realizadas normalmente em busca de alianças estratégicas

para determinados fins. Nestas práticas, as razões são variadas assim como a forma

que assumem as relações seja entre organizações ou governos. Por isso, neste capítulo

serão expostas inicialmente as perspectivas atuais sobre administração de empresas na

tentativa de elucidar alguns acontecimentos recentes que podem ser tanto a razão como

podem representar as conseqüências de fusões e alianças.

Da mesma forma, destaca-se a história das primeiras iniciativas de governos e

organizações em unir forças para alcançar seus objetivos. Isso talvez possa explicar ou

justificar as mudanças ocorridas no comportamento de organizações no sentido de

formarem fusões e consolidações. Assim como serão relatadas as definições de fusão e

consolidação, com o objetivo de caracterizar apropriadamente o estudo de caso que

estará exposto neste trabalho.

Por fim, será destacado o processo de integração das organizações,

considerando o choque de culturas provocado nos casos de consolidação, nos quais

ocorre a união de empresas diferentes que irão constituir uma organização

completamente nova, com estrutura e processos novos, e com uma nova cultura

organizacional (normas formais e informais, valores e comportamentos).

Para preparar o cenário de mudanças como fusões e consolidações, pode-se

dizer que é necessária a avaliação do comportamento das organizações de hoje, que

podem refletir práticas antigas seja tecnicamente, nas relações entre governos e

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empresas ou seja no seu comportamento cultural e político, que tanto pode ser efeito

como causa das mudanças atuais.

2.1.1 Evidências das Perspectivas Atuais na Gestão de Empresas

É importante destacar que cada vez mais a interdependência está presente não

somente entre as empresas, mas entre os mercados e os estados (RODRIGUES et al.,

2000). Esta interdependência levou gestores a mudar suas estratégias seja para

expandir produtos e serviços, seja para diversificação, para crescimento, ou mesmo

para sua sobrevivência no mundo globalizado. Merecem destaque algumas evidências

sobre este fenômeno atual, a globalização, no qual vem crescendo o índice de

mudanças estratégicas que visam à colaboração entre as organizações, mercados e

estados, assim como os valores e políticas que as acompanham.

Acredita-se que novos valores estejam vindo à tona com o fenômeno

globalização (BAUER, 1999; FREITAS 2000A; FREITAS, 1991; OLIVEIRA, 2000).

Também que a globalização (em seus diversos níveis e abordagens) pode estar

acentuando as práticas de alianças e inter-relações nas últimas décadas, principalmente

em função da liberalização dos mercados e dos avanços tecnológicos (SUEN e

KIMURA, 1997; LACERDA, 2001).

Este fenômeno se destaca por ser conseqüência das mudanças em nível

mundial, mas também por ser a causa de muitas mudanças no mesmo nível, ou seja,

se, por um lado, muitas organizações e governos se viram obrigados a estabelecer

alianças em decorrência dos acontecimentos mundiais para expandir mercados,

economias e políticas, o contrário também deve ser considerado, isto é, as alianças e

relações interorganizacionais podem ter sido as propulsoras de mudanças mundiais

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gerando maior concorrência, exigindo regulações econômicas, políticas e sociais como

o controle de monopólios, domínios econômicos e políticos, etc. (ARAÚJO, 2000).

As relações interorganizacionais, conforme ARAÚJO (2000), começaram a se

destacar nos estudos organizacionais na década de 70 com enfoque mais evidente no

setor público nos EUA. A premissa desses estudos era a de que em áreas complexas de

administração de serviços públicos, a provisão dos serviços somente poderia ser

assegurada a partir da cooperação e coordenação de diferentes agências públicas com

diferentes mandatos e missões. “Redes de relações inter-organizacionais poderiam

surgir como associações temporárias ou de longa duração, de agências especializadas

que cooperassem entre si na solução de problemas complexos envolvendo a

coordenação de várias especialidades” (ARAÚJO, 2000, P. 503).

Com o tempo, o destaque passou da esfera pública para a industrial e

comercial, envolvendo alianças entre organizações na busca de pesquisa e

desenvolvimento principalmente em decorrência dos avanços tecnológicos, na década

de 80. Outro fator que propiciou esta mudança de enfoque foi a invasão dos mercados

americanos e europeus por construtores japoneses (principalmente na indústria de

automóveis). Surgiram então novas formas de organizações e de relações inter-

organizacionais. ARAÚJO (2000) destaca que o enfoque na qualidade levou à redução

de fornecedores e a desintegração vertical das grandes indústrias, e os estudos sobre o

sistema japonês mostravam a importância da cooperação na coordenação econômica.

Surgem, então, organizações temporárias em determinados setores industriais, alguns

setores industriais se especializam formando cadeias cooperativas de bens e serviços, o

que pode ser observado em alguns estudos citados pelo autor, como decorrência da

aglomeração geográfica de setores industriais.

A questão levantada por ARAUJO (2000) agrega as razões que podem

justificar as relações inter-organizacionais.

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(...) quer a evidência histórica quer os estudos comparativos de sistemas capitalistas,apontam para as relações inter-organizacionais como uma forma de coordenaçãosocioeconômica que emerge em resposta a determinadas contingências históricas concretas,e como forma de solucionar determinados problemas práticos de coordenação (ARAÚJO,2000, p. 508).

Percebe-se, assim, que a complexidade dos acontecimentos que influenciam

nas decisões organizacionais levam a uma mudança de atitude dos gestores na

tentativa de sobreviver, sobretudo em condições de competitividade crescente. Os

efeitos da globalização da economia, o acirramento da competitividade e maior

exigência dos mercados têm levado as empresas a novos desafios e transformações que

muitas vezes não conseguem realizar individualmente (RODRIGUES et al., 2000;

SUEN e KIMURA, 1997).

Segundo LACERDA (2001), esse é um movimento que acontece em todos os

setores (industrial, comercial e de serviços) e em todo o mundo, atingindo o Brasil em

suas dificuldades econômicas para enfrentar a competitividade mundial. Essas

dificuldades econômicas limitam, desta forma, a capitalização das empresas brasileiras

e a sua expansão, apresentado como alternativa o processo de fusões e aquisições.

2.1.2 Histórico das Consolidações e Acordos Organizacionais

Embora a abordagem inicial discorra sobre os momentos atuais que estejam

acentuando a colaboração entre organizações, cabe resgatar um histórico sobre o

surgimento destes procedimentos no mundo que poderão explicar as variadas formas

em que se apresentam hoje.

SCHEIN (apud FERRARI, 1996) localizou em alguns documentos os

primeiros indicativos de colaboração durante a época do reinado de Alexandre Magno,

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Rei da Macedonia. Aproximadamente no ano 324 a.C., ao não encontrar resistência em

uma de suas tantas conquistas, Alexandre teria utilizado a cultura do povoado de Partia

(ao sudeste do Mar Caspio) ao aceitar seu compromisso com Roxana, a filha de um

dos líderes que governavam Partia. Da mesma forma, promoveu sua própria cultura

entre os persas para obter a confiança do povo. O seu objetivo principal nas duas

ocasiões era a conquista do povoado com uma fusão dos governos e culturas, fusão

conquistada de maneira lícita e honrada.

O mesmo autor afirma que no século XVI ocorreram vários casos de fusões

durante um tempo de constituição do Monte de Piedade em Nápolis, muito comuns

nesta época entre instituições bancárias.

Já o conceito de consolidação organizacional surgiu no Ocidente no início do

século XVII, na época de dominação colonial do império britânico para a exploração

das riquezas das colônias inglesas (RASMUSSEN,1988). A coroa inglesa teria

incentivado a formação de interesses econômicos consolidados em vários

empreendimentos (fatores financeiros, habilidade mercantil, transporte marítimo, etc.)

(FERRARI, 1996).

Surge então a primeira holding do ocidente em 1640, a East India Trading

Company, que se manteve operante até o começo do século XIX, dominando o

comércio entre as linhas britânicas e o subcontinente asiático (RASMUSSEN, 1988).

Antes disso, ou quase ao mesmo tempo, em 1623, no oriente, é criada a

holding ou zaibatsu mitsui, que foi considerada a maior holding do mundo na sua

época, que permaneceu com um forte controle econômico até 1945, quando o General

McArthur a desmantelou assim como a outros conglomerados de acordo com a lei

antitruste dos Estados Unidos.

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Nos Estados Unidos houve o surgimento e desenvolvimento de grandes

holdings, cuja importância se deu com a criação da lei antitruste.

Aliás, o Japão e os Estados Unidos foram os que mais utilizaram o modelo microeconômicoda holding para consolidar grupos econômicos e formar sofisticadas estruturas de mandopara viabilizar gigantescos conglomerados como a International Telegraph and TelephoneCompany (ITT), A General Eletric Holding (G.E.), a General Motors Holding (G.M.), aWestinghouse Holding e, naturalmente, os famosos mercados financeiros de Walt Street(RASMUSSEN, 1988, p. 51).

No século XVII com a corrida da conquista do Leste americano, inicia-se a

formação dos trusts ferroviários, que davam estrutura logística aos transportes dos

produtos agrícolas para processamento alimentício de Chicago e Detroit. Esses trusts

ferroviários representavam uma força econômica muito poderosa e foi considerada,

por muito tempo, “sem escrúpulos e sem ética”.

Emerge um grande poder contido nos trusts americanos, o que forçou o

próprio governo norte-americano a obedecer ao lobby intensivo destes conglomerados

e a fazer concessões e favores a esses grupos. Como conseqüência, surge, em 1939, a

lei antitrust, responsável por evitar monopólios e controlar o domínio dos grandes

conglomerados que dominaram o mercado por muito tempo fazendo acordos de preços

e de divisão de segmentos mercadológicos, impedindo o desenvolvimento de pequenos

e médios empreendimentos.

A importância da regulação internacional sobre os monopólios pode ser vista

em outro autor,

(...) Além dos aspectos microeconômicos da questão, esse é um movimento que representa,para a economia mundial e os estados nacionais, um enorme desafio no tocante àcoordenação das políticas econômicas e a defesa da concorrência, o que tornaimportantíssimo o papel regulatório do Estado, de forma a articular as estratégias dedesenvolvimento, assim como preservar as condições de competitividade no mercado eevitar as distorções potenciais do processo (LACERDA, 2001).

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2.1.3 O Cenário Brasileiro

No Brasil, com a vinda de multinacionais nos anos 60, iniciou-se a formação

de holdings embora o interesse pelo governo brasileiro e pelas empresas privadas

somente tenha se acentuado recentemente, principalmente no âmbito econômico

(RASMUSSEN, 1988).

Segundo RASMUSSEN (1988), o desenvolvimento do conceito de grupos

econômicos no Brasil se deu com as imigrações portuguesa, italiana, espanhola e do

Oriente Médio no século XVIII. Este movimento imigratório, segundo o autor, se deu

pouco antes e imediatamente após a Segunda Guerra Mundial e trouxe talentos

técnicos e acadêmicos muito bem preparados que fugiram das pressões políticas e

religiosas da pré-guerra e da crise econômica da pós-guerra para o Brasil.

FERRARI (1996) observou em seu estudo que o contexto mundial era

diferente do que teria ocorrido no Brasil. Segundo o autor, algumas razões levaram

outros países (normalmnte os mais desenvolvidos) a optarem pelas fusões, aquisições e

incorporações. As características destes procedimentos, segundo ele eram:

a) a globalização da economia levou ao enfraquecimento das fronteiras físicas

e alfandegárias entre os países;

b) a desregulamentação e redução dos monopólios estatais nos países

emergentes e nos países de primeiro mundo;

c) a crescente valorização da qualidade e da tecnologia como essenciais para

o desenvolvimento e sobrevivência das organizações;

d) a tendência à terceirização de setores que não continham conteúdo

tecnológico estratégico.

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A diferença, segundo o autor, é que no Brasil o Plano de Estabilização da

economia brasileira não havido convencido até 1995 o empresariado e a classe

acadêmica. No entanto, no Brasil, o desenvolvimento de fusões, aquisições ou

incorporações, a exemplo do que acontece no exterior, têm se mostrado, na visão de

FERRARI (1996), a alternativa mais viável de crescimento, o que é confirmado pelo

grande número de transações nos anos de 1993 a 1995. O autor destaca alguns

exemplos de união de empresas no Brasil, ressaltando as privatizações das grandes

empresas do setor siderúrgico, químico e petroquímico, nas quais os principais

investidores têm sido bancos de investimento e os fundos de pensão, entidades cujo

interesse se alterna entre o retorno sobre o investimento puro e simples e uma

liderança efetiva da gestão da empresa, de um negócio ou de um segmento específico

de atividades.

O autor destaca as instituições como o Bradesco e o Itaú com objetivos de

retorno sobre investimentos e, por outro lado, as organizações que parecem se

preocupar mais com o resultado e não com uma linha tecnológica ou mercadológica

como as da Companhia Siderúrgica Nacional, da Companhia Siderúrgica de Tubarão e

da COPISA, todas com a participação do Banco Bozano Simonsen, que também

participou da privatização da EMBRAER.

Outros exemplos são as aquisições de empresas domésticas por grupos

multinacionais, cujo interesse básico visualiza, na opinião de FERRARI (1996), a

penetração no mercado brasileiro e no Mercosul.

Estão incluídas a aquisição da Elebra Telecomunicações pelo grupo

ALCATEL, que manteve acesso ao mercado das empresas do grupo TELEBRÁS, bem

como a associação entre o grupo francês GEC-ALSTHOM e a empresa brasileira

CMW, com o objetivo de acesso ao mercado brasileiro e sul americano no setor de

transportes metro-ferroviários (FERRARI, 1996, p. 19).

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A KPMG também apresenta trimestralmente o crescimento do número de

fusões no Brasil. Trata-se de uma empresa internacional de análise de fusões, com

representação no Brasil, e no período de 1994-1999 a KPMG vem conquistando o

primeiro lugar no ranking da Securities Data Company como líder mundial em

assessoria a fusões e aquisições pelo critério de número de transações. Essa empresa

apresenta dados atualizados periodicamente sobre as fusões e aquisições do mundo

todo e com uma página na internet reservada para os processos ocorridos no Brasil.

Pode-se observar, a partir desses relatórios, a evolução dos processos de

fusões e aquisições no Brasil desde 1980, que se mantém elevada, mostrando que,

mesmo com as dificuldades de integração e com o insucesso de muitos casos, as

fusões e aquisições ainda podem ser consideradas como uma estratégia que vem sendo

buscada por grande número de empresas brasileiras ou que desejam investir no Brasil.

Da mesma forma, observa-se a preocupação dos governos em criar regulamentações

nacionais e internacionais para controle dos processos desta natureza.

Existem órgãos do governo brasileiro responsáveis pela avaliação e

autorização da formação de fusões. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica

(CADE) é um órgão do Ministério da Justiça, cujos conselheiros têm como função

autorizar ou não as fusões. Uma das atividades do CADE envolve exames de atos de

concentração econômica tais como fusões, aquisições, joint ventures ou incorporações.

Esse controle no Brasil foi instituído pela Lei federal 8.884 de junho de 1994, a lei de

Defesa da Concorrência (FERRARI, 1996).

2.1.4 Tipos de Colaboração entre Organizações

Até o momento, foram empregados muitos termos para designar as várias

práticas de colaboração entre organizações. Muitos autores se utilizam de suas

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experiências, conhecimentos e critérios para falar dessas práticas. Assim surgem várias

terminologias e conjugações de termos como fusão, consolidação, aquisição, fusão-

aquisição, fusão-consolidação, muitas vezes tratados como sinônimos. Sem

desmerecer os critérios e conhecimentos de cada autor, é fundamental distinguir um

termo do outro, pois não são sinônimos e portanto devem ser tratados com cautela.

Segundo GUERRA (2002), fusão em sua expressão mais simples, a exemplo

da área das ciências exatas, significa a união de dois ou mais elementos que

constituirão um novo elemento diferente dos anteriores. Na área de administração,

significa a união de duas ou mais organizações que constituirão um terceira diferente

das anteriores. Diferente de consolidação que significa, para a mesma autora, a união

de empresas que através da fusão ou acordo, buscam ser mais sólidas, seguras e

procuram evitar o fracasso e a concorrência.

Aquisição significa a obtenção ou compra de outra organização, que também

pode ser adquirida por doação ou sucessão. Aliança representa um pacto ou acordo,

tendo como característica a realização de contratos que são firmados para que ambas

organizações envolvidas funcionem de forma total ou parcial.

O estudo de caso apresentado nesta pesquisa, aborda a fusão de quatro

faculdades isoladas que se uniram para constituir uma nova organização, a

UNIOESTE, com o objetivo de consolidar uma universidade pública na região oeste

do Paraná.

Esse processo caracterizou-se como uma consolidação, na visão de GITMAN

(1997, p. 734), que define consolidação como a união de empresas que geram uma

organização completamente nova. Estas definições atualizadas são corroboradas por

ROSS et al. (1995) que, em sua classificação, incluem as fusões como um tipo de

aquisição.

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No entanto, para ROSS et al. (1995, P. 589), a primeira classificação para

união de empresas é o takeovers, por se tratar de uma “definição genérica e imprecisa

que se refere à transferência do controle de uma empresa de um grupo de acionistas a

outro”. Consolidação, para esses autores, está inserida na denominação de fusão, na

qual se forma uma organização inteiramente nova com identidade também nova. Na

consolidação, segundo os autores, “tanto a empresa adquirente quanto à adquirida

deixam de existir legalmente e passam a fazer parte da nova entidade” (ROSS et al.,

1995, p. 588).

FIGURA 1 – VARIEDADES DE TAKEOVERSFusão ou consolidação

Aquisição Aquisição de ações

Takeovers Disputa por procurações Aquisição de ativos

Fechamento de capital

Fonte: ROSS, S.; WESTERFIELD, R. W.; JAFFE, J., 1995, p. 589.

Após definir fusão e consolidação, destacando sua relevância histórica e sua

aplicação atual, é preciso relatar, a partir deste momento, outros aspectos: o desenrolar

dos processos de fusão, aquisição e consolidação. Pode-se dizer que esses processos

fazem parte de estratégias organizacionais que precisam ser planejadas e conduzidas

de forma adequada para alcançarem seus objetivos.

2.1.5 Consolidação como Opção Estratégica

Empresas unem-se estrategicamente para “juntar forças”, ampliar a oferta de

produtos ou serviços, expandir o mercado, otimizar recursos entre outros vários

objetivos relacionados principalmente à sua sobrevivência e à competitividade. Muitos

estudos foram realizados em casos de fusões, ou seja, na união de empresas onde

permaneceu a cultura organizacional da empresa adquirente. Como, nesta seção, o

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tema de destaque é estratégia envolvendo união de empresas, serão apresentados os

exemplos de fusões e consolidações como semelhantes no tocante ao envolvimento de

empresas.

ROSS et al. (2002) alerta para as controvérsias sobre as abordagens neste

tema. O autor acredita que há contradições entre autores no tocante aos resultados e às

intenções das fusões. Scherer apud ROCHA et al. (2002) encontrou em suas pesquisas

evidências que sinalizaram para algumas empresas fusionadas que tiveram resultados

acima da média antes da fusão e apresentaram queda de lucratividade após a fusão.

Isso pode demonstrar que nem sempre as empresas, ao planejarem a fusão,

têm as mesmas intenções, e nem sempre visam aumentar os lucros. Da mesma forma,

os resultados nem sempre são positivos com a fusão, ao menos nos primeiros anos

após o processo. Acredita-se que pesquisas como estas se tornam importantes por três

razões: (a) para demonstrar que os objetivos que levam as organizações a optarem por

fusões nem sempre estão voltados para o lucro imediato; (b) para desmistificar a idéia

de alguns autores de que a fusão é a saída para problemas financeiros; (c) as fusões

podem ser estudadas sob vários outros ângulos de análise que não seja considerar

ganhos financeiros. E são esses os aspectos que se pretende evidenciar neste estudo de

caso que evidencia o reflexo das fusões na cultura organizacional, estudando o caso da

universidade pública da esfera estadual.

MATIAS e PASIN (2002) realizaram uma pesquisa cujo objetivo era observar

os resultados das fusões das maiores empresas brasileiras que passaram por este

processo entre 1995 e 2000. A curiosidade dos autores estava nos anúncios quase

sempre positivos dos autores da área que vinham incentivando esta prática. Como

resultado puderam, observar que a realidade brasileira não reflete o que esperam as

teorias estudadas, pelo menos nos dois primeiros anos após as fusões. Pelo contrário, e

ao que parece aos pesquisadores, os resultados são estáveis e até negativos nestes dois

primeiros anos. Isso leva a questionar se as razões que não envolvem retornos

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financeiros não estariam muito à margem desses processos, que consideram muito

mais os retornos financeiros das fusões e consolidações, e é isto que se pretende

avaliar neste estudo de caso, principalmente por se tratar de uma instituição pública,

que teoricamente volta-se mais aos objetivos sociais do que aos objetivos econômicos.

MATIAS e PASIN (2002) julgam que isso talvez se deva em decorrência do

período de adaptação ou de integração, que demora a gerar sinergias entre as empresas

que se fundiram.

Os ganhos sinergéticos podem demorar para aparecer se a reestruturação das empresasdemorar para ser concluída ou podem nem ocorrer se não for feita para reduzir a estruturadas empresas, para integrar os departamentos, para eliminar as tarefas redundantes e pessoalem excesso. Se a reestruturação não for feita de forma rápida e eficiente, além das sinergiasnão aparecerem, as empresas arcarão com custos adicionais da integração ineficiente, ouseja, da administração de duas estruturas separadas e conflitantes, o que aumentará os custosadministrativos resultando em índices de rentabilidade baixos ou prejuízos (KEY apudMATIAS e PASSIN, 2002, p. 19).

As fusões, consolidações e outras formas de colaboração representam, para

uma grande quantidade de empresários, a solução para seus problemas e suas

aspirações. Estes processos podem representar a expansão em nichos de mercado,

adaptação ou expansão de sua tecnologia, reconhecimento em outros mercados, ou

podem implementar as estratégias organizacionais.

Pode-se observar, por outro lado que algumas organizações somente buscam a

colaboração quando encontram dificuldades ou problemas que precisam ser sanados.

Mas esta certamente não representa a melhor estratégia, pelo contrário pode ser um

caminho turbulento rumo ao fracasso. Segundo MATIAS E PASSIN (2002), a

integração entre as organizações que participam do processo de fusão é o principal

fator para determinar o sucesso ou fracasso da organização e, quanto mais rápida for a

integração, mais rápido aparecerão as sinergias.

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Outra razão bastante evidenciada na prática de fusões é a competitividade. As

estratégias competitivas das organizações têm se alterado frente às novas demandas e

às características dos mercados que estão cada vez mais integrados e globalizados.

Surgem novas opções de associações entre empresas, na busca de competir, obter

melhor desempenho ou de sobreviver.

Algumas organizações optam por expandir suas próprias atividades através de

aquisições, fusões ou consolidações. As estratégias organizacionais, segundo

RASMUSSEN (1988), correspondem aos macroobjetivos que levam às fusões ou

colaboração entre organizações e assim determinam que tipo de processo será o mais

adequado a cada situação. Neste sentido GITMAN (1997), aponta dois tipos de fusão,

a fusão estratégica cujo objetivo é atingir economias em escala e a fusão financeira

empreendida cujo objetivo é reestruturar a companhia adquirida, para melhorar seu

fluxo de caixa e revelar seu valor oculto. O autor esclarece que, na década de 80 a

fusão financeira tenha sido incentivada, mas, por depender de dívidas, muitas fusões

glamourosas pediram falência e a fusão estratégica vem predominando desde então.

SUEN e KIMURA (1997) também abordam as razões estratégicas e

financeiras que levam aos processos de fusão e consolidação e destacam como

principais objetivos: a sinergia, o crescimento e diversificação e o aumento de

capacidades. Estes objetivos são também apontados por GITMAN (1997) com

classificação diferente mas complementar. Assim, pode-se destacar enquanto objetivo

das fusões para esses autores:

a) crescimento e diversificação: o crescimento rápido, quer em tamanho ou

na participação de mercado, ou mesmo na diversificação do âmbito dos

produtos da empresa;

b) sinergia: as sinergias são caracterizadas pelas economias de escala

resultantes da redução de custos indiretos das empresas fusionadas.

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GITMAN (1997) acrescenta que as economias de escala reduzem o custo

indireto combinado nas fusões, elevando assim seu lucro a um nível

superior à soma dos seus lucros como empresas independentes, ou seja,

nestes casos a soma da fusão é mais do que a soma das empresas isoladas;

c) aumento de capacidades: muitas vezes, empresas combinam-se para

aumentar sua capacidade administrativa, financeira e tecnológica. Neste

sentido GITMAN (1997) destaca em sua classificação a capacidade de

levantamento de fundos tanto para a expansão interna quanto para a

expansão externa e inclui de forma distinta a capacidade administrativa ou

da tecnologia para mostrar que um objetivo bem particular que leva à fusão

pode ser a busca para suprir a ineficiência ou deficiência administrativa ou

tecnológica; e

d) considerações tributárias: em casos de conglomerados, as considerações

fiscais são os motivos-chave para as fusões, pois geralmente o benefício

fiscal “advém do fato de que uma das empresas tem uma compensação de

prejuízo fiscal com períodos-bases subseqüentes. (...) Neste caso, a

empresa adquirente pode aumentar seus lucros após o imposto de renda da

combinação, pela redução dos lucros tributáveis da empresa adquirida”

(GITMAN, 1997, p. 737).

Pode-se ainda destacar a pesquisa de LAMMING apud PINHEIRO (2002),

que ilustra as expectativas mais freqüentemente mencionadas pelas empresas que

buscaram na constituição de alianças a superação dos problemas que enfrentavam:

a) redução de risco: obtido mediante diversificação do mix de produtos,

diluição e/ou redução dos custos fixos, do capital inicial (individualmente)

necessário para o investimento, bem como do payback mais acelerado;

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b) obtenção de economias de escala e/ou racionalização: seja pelo aumento

dos volumes (reduzindo os custos médios unitários), seja pelo

compartilhamento das vantagens comparativas individuais - marketing,

produção, projetos, etc. A racionalização pode ainda ser obtida como

resultado de uma estrutura mais verticalizada a partir da união dos recursos

individuais: matéria-prima, canais de distribuição, tecnologia, mão-de-

obra, logística, etc.;

c) obtenção de complementaridade tecnológica: considerada tanto do ponto

de vista operacional (aplicada a produtos-processos), quanto territorial, se

protegida por direito de patente;

d) reduzir a ameaça competitiva: uma joint venture defensiva afasta o risco da

concorrência imediata; enquanto que uma ofensiva, tem por objetivo criar

barreiras a um terceiro concorrente;

e) superar as barreiras de ingresso: sejam as impostas pelos governos (aos

investidores externos) ou devido às condições locais de funcionamento dos

mercados. Associações com parceiros locais possibilitam melhor

atendimento às especificidades dos clientes, bem como torna o entrante

externo equivalente, perante a legislação, às organizações locais;

f) beneficiar-se do conhecimento do associado: numa estratégia

expansionista, a associação com um parceiro externo pode abreviar o

tempo necessário para conhecer as particularidades do mercado local,

reduzindo, também, o risco.

FERRARI (1996, p. 10) também menciona as mesmas intenções nos processos

de fusão e consolidação:

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A aquisição, fusão ou incorporação de outras empresas tem entre suas principais finalidades,resolver deficiências ou carências, tanto em termos mercadológicos, de inovação tecnológicaou de talentos para a gestão do empreendimento; trata-se de uma alternativa muitointeressante para viabilizar o crescimento intensivo da empresa, eliminando os riscosinerentes ao desenvolvimento interno de novos projetos ou produtos ou à montagem deestabelecimentos próprios em novos segmentos mercadológicos.

RASMUSSEN (1988, p. 20) apresenta alguns motivos que têm levado

organizações brasileiras às consolidações, holdings, fusões, resultado de seu

diagnóstico como consultor de empresas: descentralização de megagrupos;

estruturação de sucessão turbulenta, normalmente na terceira geração; conseqüência da

implantação de planejamentos estratégicos onde são válidas considerações como

integração e diversificação (horizontal ou vertical); descentralização para identificar a

viabilidade econômica de empresas de médio porte; reestruturações para facilitar as

ferramentas estratégicas (como joint ventures, consolidações, fusões, aquisições, etc.).

GUERRA (2002) traz um breve histórico das fusões e colaboração entre

organizações evidenciando os motivos que têm levado as empresas, países e governos

à prática de fusões. Segundo a autora, durante as décadas de 60 e 70, as fusões

normalmente eram realizadas para resolver problemas de empresas que se

encontravam em alguma situação complicada, principalmente no Japão. Mas, na

Alemanha e na França, as fusões passaram a acontecer entre empresas que não tinham

nenhum tipo de problema, pelo contrário, eram rentáveis, o que era difícil de

compreender para alguns países como o Japão.

Nos anos 80, o Japão fez parte de um processo de liberalização que acontecia

no mundo todo e, assim como muitos outros países, adaptou seu sistema de

flexibilização que lhe permitia operar os mercados de bens e capitais utilizando o

processo de organização industrial horizontal através da subcontratação. Com isso

obteve um crescimento competitivo avançado comparando-se com outros países.

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Com isso, pode-se dizer que um objetivo muito importante para a realização

de fusões na época foi a eliminação da concorrência. E esta, a concorrência, ainda hoje

faz parte dos principais objetivos das fusões. Mas não tem sido fácil enfrentar a

concorrência em países como o Japão, principalmente quando se trata de inserir

empresas nesse país, já que um forte aliado das empresas de lá é a forte cultura do país

que pode inclusive levar a população a preferir os produtos japoneses aos estrangeiros.

E também, na opinião de GUERRA (2002), a tecnologia, que vem sendo

buscada em nível mundial representa uma necessidade das organizações de vários

países tanto para pequenas como para grandes organizações.

A mesma autora acrescenta outro motivo que leva empresas, países e governos

a investirem em fusões atualmente, a regionalização. Esperar que as organizações

conquistem novos mercados ou conquistem espaço em seu próprio país ou região, ou

mesmo em outros países. Mas, como já mencionado existem muitos aspectos que

dificultam o alcance deste objetivo como a cultura, a religião, a política, a economia

ou os trâmites, os canais de distribuição, as preferências regionais, os estilos de vida

entre muitos outros.

Neste sentido FERRARI (1996) contribui lembrando de outros elementos

importantes na escolha estratégica, os critérios para a tomada de decisão que visam ao

desenvolvimento organizacional. Segundo esse autor, é imprescindível o planejamento

estratégico de fusões e aquisições. No planejamento estratégico, são projetados os

macroobjetivos ou metas da organização, com uma visão de longo prazo (5 a 10 anos).

Neste caso, o autor apresenta dois elementos que irão influenciar na análise e formação

da estratégia que são a estrutura organizacional e a forma de desenvolvimento

adotadas pela organização (crescimento interno, integração vertical entre outros).

Estas preocupações são pertinentes pois dela partem a implementação das

estratégias e a efetivação das alianças. Neste sentido, BLEEKE e ERNEST (2001)

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afirmam que as empresas aprenderam que é preciso colaborar para competir e que isso

requer medidas cautelosas no acordo como a responsabilidade e o compromisso entre

as organizações; o respeito mútuo e a confiança; o ganho para ambos os lados deve

existir; o reconhecimento das vantagens e das limitações dos parceiros; as expectativas

das organizações envolvidas; e o reconhecimento de que culturas, tanto geográficas

quanto empresariais são diferentes.

Quando se trata de interesses entre organizações, alianças estratégicas, a busca

pelo poder acontece inevitavelmente e, por isso planejar parece ser parte fundamental

dos processos de fusão e consolidação (FERRARI, 1996). Este planejamento deve

conter, além das formalidades habituais, as preocupações com as relações de poder que

serão mantidas e também com a cultura organizacional das organizações que

participaram do processo. Sendo este o foco de investigação que se propõe ao início

desta pesquisa, destaca-se, na seção seguinte, a integração de culturas nos processos de

consolidação.

2.1.6 Consolidação e o Processo de Integração de Culturas

OLIVEIRA (2000) destaca alguns estudos sobre os índices de fracasso ou

queda no desempenho de empresas fusionadas em decorrência da falta de atenção à

cultura das organizações envolvidas em processos dessa natureza. Já é evidente que

este elemento, a cultura, é responsável pelo comportamento das pessoas que atuam

dentro das organizações. E, por esta razão, é que se destaca a relevância do

planejamento da integração das culturas nos processos de fusão e consolidação, pois

um contato repentino de culturas diferentes atuando juntas nem sempre produz bons

resultados, principalmente nos primeiros momentos de contato, nos quais há

sentimentos de perda, de frustração, de ansiedade e de medo frente ao inesperado e ao

diferente.

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Como parte do planejamento de integração, NADLER e LIMPERT (1993)

apresentam a história e o contexto das organizações envolvidas como fundamentais.

a) Período anterior à fusão.

Pode-se sugerir que essa etapa, considerando o contexto e a história das

organizações, refere-se ao período anterior à decisão pela fusão. Aqui estão incluídas a

história de cada organização, a relação entre as organizações no período pré-fusão, a

cultura das organizações envolvidas, os motivos que levaram à fusão, as perspectivas

das organizações sobre as fusões e os fatores que motivaram ou nos quais se

inspiraram as organizações a optarem por este tipo de aliança.

Também deve ser considerada a situação geral das organizações envolvidas:

saúde financeira, posição de caixa, recursos da profundidade de administração e estilo

administrativo. Dentro do contexto ainda é fundamental a análise do grau de diferença

e as semelhanças entre as organizações envolvidas, incluindo aqui a cultura

organizacional, os sistemas operativos, as habilitações e orientações de cada

organização, pois essas diferenças poderão gerar conflitos se estiverem relacionadas a

valores ou pressupostos básicos.

E, ainda, acrescenta-se ao contexto a influência de terceiros que têm interesse

no resultado da fusão, ou seja, de investidores, clientes, regulamentadores,

competidores, empregados, sindicatos e outros órgãos que possam pressionar as

organizações a tomar a decisão pela fusão. Neste sentido, também é preciso avaliar

qual o interesse desses terceiros e qual seu poder de influência durante o período de

integração, pois sua influência pode gerar conflitos como também ajudar na

integração.

b) O contexto da integração.

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Após avaliar o período anterior à fusão, pode-se sugerir como etapa distinta o

processo da fusão ou consolidação. O contexto da integração também é importante,

pois representa a forma pela qual a fusão se desenvolveu. A fusão ou consolidação

pode representar uma salvação, uma colaboração, uma disputa ou um ataque hostil. E,

em cada caso, o roteiro da integração se configura com percepções, fantasias e

bagagem psicológica diferentes, que são transferidas para o período de integração.

c) O período após a decisão pela fusão ou consolidação.

Após a decisão pelo processo de fusão ou consolidação, a condução do

processo deve conter, ainda como parte da estratégia de integração, preocupações com

relação ao grau e o ritmo de integração necessários para a efetivação da fusão ou

consolidação. Existem vários graus de integração segundo NADLER e LIMPERT

(1993), e, de acordo com os objetivos da fusão, é necessário atingir uma grau maior de

integração ou, em outros casos, um grau menor de integração é suficiente para atender

às expectativas do processo. Com isso, é possível dizer que cada caso é diferente dos

outros, o que serve para um caso não serve para outro. Da mesma forma, o ritmo com

que se busca um grau ou outro de integração será diferente em cada caso.

Em geral, as atividades que são estrategicamente importantes e fáceis de integrar devem serconsolidadas; as que são de integração difícil e menos importantes devem ser deixadas emseparado. As atividades restantes devem ser ajustadas com graus variados de intensidade,segundo a necessidade. (...) O risco de andar depressa e integrar completamente é o custopotencial de fazer as coisas erradas e destruir parte do valor dos bens adquiridos. Por outrolado, o risco de andar devagar demais é o da falta de ação (NADLER e LIMPERT, 1993., p.61-62).

Os autores incluíram, portanto, critérios para avaliar a necessidade de

integração segundo as atividades que devem estar integradas e o ritmo da integração,

considerando os riscos dos ajustes que se deve fazer em cada caso.

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d) Outras considerações.

FERRARI (1996) acredita que o processo de integração deve contemplar todas

as atividades da nova organização _ aspectos econômicos, jurídicos ou legais,

financeiros, de processos, estruturas e também culturais. O planejamento, para esse

autor, deve contemplar: 1) a formulação de estratégia de integração; 2) a definição da

política de gestão da nova empresa – centralizada ou descentralizada; 3) definição dos

objetivos operacionais de curto prazo e formação dos macro objetivos de longo prazo;

4)consolidação das atividades da nova organização; 5) definição dos sistemas de

comunicação na nova organização; e 6) dos sistemas de controle e auditoria interna; 7)

implantação dos conceitos culturais e estratégicos na empresa.

OLIVEIRA (2000) destaca que imprevistos podem interferir na integração e

que os principais riscos surgem através de aspectos psicológicos e comportamentais de

funcionários que se sentem inseguros, devido à falta de informações e de metas, o que

resultaria em funcionários improdutivos, com queda no desempenho individual nas

atividades.

Neste sentido, NADLER e LAMPERT (1993) apontam a busca pelo poder,

um dos problemas que normalmente ocorre em mudanças organizacionais, que é

provocado pelo choque de culturas e estilos operacionais das organizações envolvidas,

além da ansiedade e estresse gerados nos membros das organizações decorrentes da

perspectiva de uma mudança desse nível. A expectativa dos membros sobre o que

poderá ocorrer com sua carreira profissional, com sua rotina de trabalho, enfim o que

afetará sua vida pessoal e profissional causa uma sobrecarga psicológica nas pessoas

que pode se manifestar com aceitação ou negação, com resistência e improdutividade,

enfim, pode alterar a postura das pessoas e sua predisposição a enfrentar a nova

realidade.

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Por esta razão, OLIVEIRA (2000) sugere que sejam previstas as demissões e

as ansiedades, entre outras questões, que possam desenvolver sentimentos e

comportamentos inesperados para a organização e para as pessoas das organizações

envolvidas. Esse autor acredita que muitas preocupações podem ser minimizadas

quando no planejamento de fusões e consolidações, os dirigentes fazem os seguintes

questionamentos: qual o impacto que o processo de fusão (ou consolidação) estará

causando na cultura. Deve-se manter a cultura de uma das empresas envolvidas ou

estimular a convivência de culturas diferentes? Como negociar uma cultura diferente?

É possível integrar as culturas, criando uma cultura nova? Quais os valores básicos de

ambas as culturas envolvidas que devam ser mantidos?

Acredita-se, a partir do exposto, que os aspectos culturais devam fazer parte

das principais preocupações da equipe de integração. O choque das culturas será

inevitável e a integração deverá ser planejada com cautela, principalmente se uma das

organizações possuir uma cultura forte, o que certamente levará a uma resistência

também muito forte (MINTZBERG e QUINN, 2001).

Os principais elementos culturais que deverão ser considerados para a

integração neste caso incluem questões referentes ao pessoal, pois muitas pessoas

poderão ser removidas de seus postos de trabalho ou receberão influência nos

processos de trabalho, ou ainda poderão ter que respeitar novas normas ou novas

rotinas de trabalho e de relações. Assim a divisão das tarefas deverá receber atenção

especial do planejamento, pois envolve questões de habilidade técnica, repetição ou

ausência de tarefas, novos processos de trabalho, enfim, envolve pessoas que

precisarão se situar novamente na organização.

O desempenho das pessoas que passarão a fazer parte de uma nova

organização também poderá não ser o mesmo o que certamente levará à

incompatibilidade e à geração de conflitos tanto de cunho operacional e técnico como

comportamental e emocional pois as normas de comportamento (estímulo e punição,

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resolução de conflitos,...) também serão diferentes entre as equipes que se uniram

(ALBUQUERQUE, 2001).

As expectativas das equipes também poderão significar incompatibilidade

tanto por parte das equipes de trabalho como por parte dos dirigentes das equipes.

Assim, ALBUQUERQUE (2001) acredita que a estrutura organizacional deva ser a

preocupação inicial da equipe de planejamento pois dela surgirão novos elementos,

como postos de trabalho, processos, normas, regulamentos e vários elementos que

farão parte da nova cultura organizacional.

Parte-se do pressuposto de que uma nova cultura surgirá ajustando identidades

diferentes, costumes, rituais, normas de comportamento e resolução de conflitos,

valores diferentes, portanto esta nova cultura deverá fazer parte do planejamento da

integração na organização consolidada. No entanto, para chegar a consolidar uma nova

cultura organizacional, é preciso destacar alguns conceitos e variáveis de análise,

aspectos que serão trabalhados em detalhe na próxima seção.

OLIVEIRA (2000) destaca, em seu estudo, outros autores que relacionam o

processo de integração com o casamento, observando alguns passos que são

fundamentais na integração de culturas: o estabelecimento das primeiras negociações,

fase que se relaciona como a parte do namoro; a elaboração dos projetos, representado

pelo autor como o noivado; a implantação dos projetos, ou seja, o casamento; e a

instalação de uma nova rotina (a manutenção).

Neste sentido, NADLER e LIMPERT (1993) destacam três fases distintas no

processo de integração, o qual relacionam com os demais processos de mudança, que

começam com a decisão pela fusão, e se estendem até o ponto em que se realizam o

processo futuro (desejado, a consolidação estável). E, entre essas etapas, está o estágio

de transição.

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OLIVEIRA (2000) conclui essa abordagem da integração de culturas

destacando sua preocupação com o descaso de muitas organizações (e seus dirigentes)

com relação à cultura organizacional, que, apesar de muito evidenciada atualmente nas

pesquisas da área de administração, ainda não tem saído do papel em muitos casos de

mudança organizacional.

Ao longo deste trabalho, tenho insistido na complexidade do comportamento humano e nosseus diferentes aspectos: as emoções, as relações afetivas e a linguagem. Quando se procuraintegrar culturas diferentes, os aspectos emocionais e afetivos são absolutamentefundamentais, e fico espantado com a insensibilidade dos dirigentes para com esses aspectos(ibid., p. 105).

Pode-se observar o quão importante tem sido antecipar as dificuldades na

integração de culturas organizacionais nas consolidações. Mas, para tratar

corretamente do tema cultura organizacional, se faz necessário um estudo mais

profundo do tema pois, mesmo na academia, há controvérsias e muitas dúvidas sobre

como abordar a cultura nas organizações, o que será apresentado a seguir.

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2.2 CULTURA ORGANIZACIONAL NOS PROCESSOS DE CONSOLIDAÇÃO

Os processos de consolidação de empresas tratam da união de duas ou mais

organizações, cada qual originalmente com suas identidades e culturas próprias que

deverão, a partir da consolidação, atuar juntas. Isso torna a cultura organizacional um

elemento importante no alcance dos objetivos da organização, para os quais as

pessoas, que terão passado por uma mudança drástica, deverão desempenhar suas

funções em um novo ambiente, convivendo com pessoas e costumes diferentes.

LEWI-STRAUS (1970) já considerava importante a compreensão de que cada

cultura interpreta e busca soluções diferentes para resolver os problemas internos e de

adaptação externa, ressaltando ainda que cada cultura é diferente de outras, e o

aprendizado cultural ou a evolução cultural leva à evolução humana e tem como

conseqüência o acúmulo de conhecimento. Percebe-se, com isso, a importância de se

observar as diferenças culturais não somente, mas, principalmente, nos casos de fusão,

nos quais o choque de culturas diferentes pode trazer prejuízos imediatos para os

indivíduos e organizações, mas que, num olhar mais profundo, pode significar um

aprendizado para ambos, representando a evolução das pessoas envolvidas à medida

em que as mesmas se adaptam e constróem uma nova cultura.

A diversidade cultural existe mesmo internamente nas organizações, embora,

neste caso, haja elementos culturais comuns que fazem de uma organização uma

unidade. Diferente, no entanto, da diversidade enfrentada nos processos de fusões ou

consolidações, nos quais a diversidade pode ser motivo de conflitos e rejeição a

mudanças, pois trata-se, neste caso, de junção de organizações que não tiveram

história comum, são duas empresas completamente distintas, com culturas distintas.

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Há muito tem-se estudado formas de administrar ou de lidar com a diversidade

e uma contribuição para o âmbito organizacional vem da Antropologia, que estuda as

culturas num sentido diferente do termo cultura organizacional utilizado na

administração, mas que trouxe contribuições valiosas para a compreensão das duas

principais linhas teóricas que se têm na administração hoje sobre este tema: a cultura

organizacional tida como variável ou como metáfora.

Neste sentido, apresenta-se este capítulo com três seções principais. A

primeira (3.2.1) discute as contribuições das ciências sociais para a definição de

cultura organizacional, evidenciando cada etapa dos estudos da cultura e as definições

de elementos que hoje são destaque nas pesquisas e diagnósticos de cultura

organizacional. Em seguida, como segunda seção (3.2.2), analisam-se as abordagens

sobre o tema cultura organizacional nos estudos em administração de empresas,

destacando os enfoques de maior relevância já aprofundados nas pesquisas da área. E,

por fim, na terceira seção (3.2.3), relaciona-se a cultura organizacional com os

processos de consolidação apontando os impactos que a cultura organizacional pode

sofrer frente a grandes mudanças.

2.2.1 Contribuições das Ciências Sociais na Definição de Cultura Organizacional

A cultura vem sendo estudada por várias áreas do conhecimento, com

destaque nas Ciências Sociais, em que recentemente aborda-se o tema também nos

estudos organizacionais como um elemento que influencia a gestão de empresas

facilitando ou dificultando as mudanças cada vez mais constantes na vida das

empresas. No entanto, o estudo da cultura organizacional provém de conceitos mais

detalhados e profundos já desenvolvidos há muito tempo na sociologia e antropologia.

Esses estudos ajudam a compreender a forma com que a cultura se constitui e como se

transforma nos grupos sociais e também nas organizações.

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E é com base nestes conceitos que os pesquisadores organizacionais têm se

apoiado para efetuar diagnósticos da cultura organizacional, e, a partir disso, interferir

na conservação, modificação ou simplesmente no apoio ao desenvolvimento das

culturas organizacionais, evitando que conflitos possam ser prejudiciais às

organizações e também aos indivíduos que a constituem. Não se trata de dominar

grupos ou impor regras, mas de conhecer este elemento e reconhecer sua importância

no âmbito organizacional, admitindo que a cultura organizacional pode influenciar de

forma positiva ou negativa a gestão de empresas.

2.2.1.1 Origem na antropologia e sociologia

Os primeiros estudos sobre cultura tiveram origem na Antropologia e

abordavam o tema de uma forma bastante distinta da utilizada nos estudos

organizacionais. A abordagem antropológica da cultura é bem mais voltada à

interpretação do fenômeno cultural existente nas sociedades, sem pretensão por parte

dos pesquisadores de intervir na dinâmica cultural, mas simplesmente compreendê-la e

traduzi-la.

Já a abordagem de Administração à cultura organizacional é bastante

instrumental. Os autores buscam criar tipologias (culturas fortes e fracas, boas e más),

e definem formas de intervir na cultura para melhorar o desempenho organizacional

com propostas de mudança cultural na busca do controle da cultura dentro da

organização contemplando objetivos estratégicos, ou seja, tentando ajustar a cultura

organizacional dentro de modelos administrativos.

A abordagem antropológica não é intervencionista nem instrumental, mas

busca a compreensão do fenômeno cultura, procurando descrever e interpretar o

processo histórico que constitui as relações sociais que dão formato à cultura

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organizacional. O conceito de cultura, na Antropologia pode ser representado por

GEERTZ (1989, p. 15), “acreditando, como Max Weber, que o homem é um animal

amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo

estas teias e sua análise, portanto, não como uma ciência experimental em busca de

leis, mas como uma ciência interpretativa à procura do significado”. Segundo esse

autor, a cultura é o elemento que orienta a evolução do ser humano, pois através das

interações e relações sociais, são criados símbolos que dão sentido ao indivíduo e à

comunidade a qual pertence.

MASCARENHAS (2002) afirma que a Antropologia pode representar grandes

contribuições ao estudo da cultura nas organizações, principalmente no que diz

respeito à metodologia utilizada na investigação da cultura, e é este o principal motivo

que levou a área de Administração a aproximar-se da Antropologia.

A autora observa que para a antropologia interpretativa a cultura não é

considerada um sistema formal, fechado e coerente, ou seja, não representa um padrão

para um grupo e, por isso, só pode ser estudada como o todo das relações e não por

partes isoladas. Já para os estudos organizacionais, a maior parte dos trabalhos tem

sido realizados no sentido oposto, ou seja, a cultura tem sido vista como algo que a

organização possui, que tem elementos que são estudados de forma fragmentada. A

cultura, neste caso, é vista como algo que faz parte da organização e pode ser utilizada

como ferramenta estratégica.

CUCHE (1999) resgata o sentido etnológico de cultura, apresentando a

primeira definição de cultura já localizada. “Cultura e civilização, tomadas em seu

sentido etnológico mais vasto, são um conjunto complexo que inclui o conhecimento,

as crenças, a arte, a moral, o direito, os costumes e as outras capacidades ou hábitos

adquiridos pelo homem enquanto membro da sociedade” (TYLOR apud CUCHE,

1999, p. 35).

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Pode-se observar que a idéia central da Antropologia é o estudo das culturas

de povos, civilizações, tribos, grupos sociais. Por esta razão, os autores desta área

criticam a visão simplista muito utilizada na Administração para o conceito cultura

organizacional. Ao observar as definições antropológicas e sociológicas, pode-se

perceber esta diferença, mas também é possível observar que, em uma análise mais

profunda da realidade organizacional, muitos conceitos podem ser transferidos à área

de Administração, mas com o devido cuidado para não se tirar conclusões precipitadas

como acontecem em alguns estudos.

CUCHE (1999) apresenta a noção de cultura nas Ciências Sociais. Segundo

ele a idéia inicial antropológica, desenvolvida em 1917 sobre cultura, se baseava em

Kroeber que considerava a cultura como autônoma, que obedecia suas próprias leis,

independente da ação e controle dos indivíduos. Em seguida, surge a abordagem

relativista que considera a pluralidade de culturas, contribuindo para distinguir aquilo

que se refere à cultura e aquilo que se refere à natureza humana. Neste sentido, foi

possível observar que mesmo as funções vitais dos homens são “informadas” ou

moldadas pela cultura, e diferem de uma cultura a outra. Com isso, a cultura passou a

ser vista como um conjunto de elementos interdependentes, ou seja, sua organização

passou a ser tão importante quanto seu conteúdo.

2.2.1.2 A socialização e integração na interpretação da cultura

SHINYASHIKI (1995) discute as diversas concepções sobre socialização nos

estudos da cultura, destacando que este termo é utilizado para descrever o processo

pelo qual as pessoas aprendem valores, habilidades, normas, comportamentos e demais

elementos culturais de uma organização ou sociedade da qual irão fazer parte.

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O conceito de socialização, desenvolvida nos estudos sociológicos, tem o

objetivo de descrever o “processo de integração de um indivíduo a uma dada

sociedade ou a um grupo particular pela interiorização dos modos de pensar, sentir ou

agir, ou seja pelos modelos culturais próprios de a esta sociedade ou grupo” (CUCHE,

1999, p. 102).

Ainda em CUCHE (1999), pode-se observar outra contribuição ao estudo da

cultura nos processos de integração, que interessam a este estudo. Segundo esse autor,

houve o surgimento do conceito de socialização antecipadora desenvolvido por Merton

em 1950 para esclarecer que o indivíduo, antecipadamente, se apropria e interioriza as

normas e os valores de um grupo de referência ao qual ele não pertence ainda mas ao

qual deseja integrar.

FLEURY (1996) destaca que principalmente os autores que abordam a cultura

como uma construção de modelos mentais atribuem à socialização de novos membros

o papel de transmitir e reproduzir os elementos simbólicos que constituem uma

cultura. Para esses autores, é através da integração que os valores e comportamentos

vão sendo transmitidos e incorporados pelos novos membros. Segundo FLEURY

(1996), também é papel da socialização, além da inclusão de novos membros,

delimitar a exclusão dos membros já pertencentes a uma cultura. Nesta mesma

abordagem, muitos autores da área de Administração associam a socialização aos

rituais de inclusão e exclusão de novos membros a um grupo (SHINYASHIKI, 1995;

CARVALHO e TONETT, 1994; PETTIGREW, 1996).

No entanto, a integração de culturas envolve questões maiores do que os

rituais citados acima. Nos casos de fusão, nos quais culturas diferentes são colocadas

para atuar juntas, há a criação de uma cultura nova, como propõe CUCHE (1999). A

integração, nestes casos, deve prever comportamentos das culturas envolvidas e as

formas de construção da cultura nova, ou a forma como irá evoluir a cultura do novo

grupo que se formou. Em se tratando de fusão de organizações, o planejamento, como

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destacado ao final do capítulo anterior, é uma etapa fundamental para promover a

integração das culturas organizacionais. Com isto, não se quer dizer que deva haver

um controle das ações que se darão, a partir da fusão, mas um levantamento das

diferenças culturais, em termos de normas formais e informais de comportamento,

rituais e rotinas de grupo, valores assimilados em cada cultura, para então preparar o

caminho para que os grupos diferentes possam enfrentar uma nova realidade.

2.2.1.3 Influência externa

Para muitos autores, a influência do ambiente externo provoca mudanças no

contexto interno da organização e também na cultura desta organização. CUCHE

(1999) destaca este processo enfatizando os primeiros estudos da cultura de empresa

que somente pesquisavam os grupos internos enquanto profissões, etnias, classes

sociais, etc. Esses estudos abordavam os grupos internos em relação às suas categorias

externas não acreditando que internamente a empresa pudesse desenvolver uma cultura

autônoma e independente.

A empresa não constitui um universo fechado que poderia produzir uma culturaperfeitamente autônoma. Ao contrário, a empresa moderna é muito dependente de seuambiente, tanto no plano econômico quanto no plano social e cultural. Atualmente, umaanálise sociológica da empresa não pode mais abstrair o contexto (ibid., p. 219).

Além dessas afirmativas de CUCHE (1999), tem-se uma gama muito grande

de trabalhos que enfatizam a influência da cultura nacional no âmbito interno das

organizações, o que será apresentado em tópico separado por representar um enfoque

muito diferenciado nos estudos de cultura. Mas importa ainda destacar que a relação

da empresa com o ambiente externo, mais próximo a ela, desempenha um papel

importante no desenvolvimento de uma cultura organizacional, uma vez que parte das

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atividades da empresa dependerão destas relações, sejam elas econômicas, sociais,

políticas ou culturais (PETTIGREW, 1996).

Há também que se considerar a sociedade como fator externo na definição dos

elementos da cultura organizacional, pois a organização está inserida num contexto

maior, numa sociedade (dentro da realidade local, regional ou nacional) formada por

pessoas, inclusive pelos próprios membros organizacionais que assumem papéis

diferentes dentro e fora da organização, e que, por esta razão, assumem posturas

diferentes, mas com os mesmos pressupostos básicos de valores.

As instituições [empresas de serviço público] (...) são organizações que incorporam normas e valoresconsiderados valiosos para os seus membros e para a sociedade. São organismos vivos, produtos denecessidades e pressões sociais valorizadas pelos seus membros e pelo ambiente, portadores deidentidade própria, preocupados com a sua sobrevivência e perenidade (PEREIRA e FONSECA, 1997,p. 120).

Da mesma forma, há outros elementos do contexto externo que poderão

interferir na cultura organizacional como a cultura nacional que constitui uma nação.

São elementos históricos que fizeram parte da colonização, das relações econômicas,

comerciais, industriais, e políticas, a partir das quais consolidaram-se valores na

sociedade. A influência da cultura nacional representa um forte referencial na

definição de uma das linhas de pesquisa no estudo da cultura e da cultura

organizacional, e por esta razão será destacada mais adiante com o destaque

necessário.

2.2.1.4 Aculturação e deculturação

Outra contribuição importante das Ciências Sociais na definição de cultura,

segundo CUCHE (1999), foi a definição de aculturação e deculturação. Aculturação

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significa o “conjunto de fenômenos que resultam de um contato contínuo e direto entre

grupos de indivíduos de culturas diferentes e que provocam mudanças nos modelos

(patterns) culturais inciais de um ou dos dois grupos” (ibid., 115). A definição de

aculturação teve sua maior contribuição vinda de BASTIDE apud CUCHE (1999), que

esclareceu a necessidade de estabelecer a relação entre o cultural e o social nos casos

de confronto de duas culturas, e estas relações podem favorecer relações de integração,

competição, conflito, etc.

Já o conceito de deculturação representa uma fase de decomposição da cultura,

quando há o confronto de culturas diferentes. Isso ocorre quando traços da cultura de

origem permanecem impedindo qualquer reestruturação cultural. Isso provoca uma

desorientação cultural nos indivíduos, embora esta seja apenas a primeira fase da

reestruturação cultural. Ou seja, qualquer reestruturação cultural passa por esta fase,

então dois caminhos podem ser seguidos: a) a criação de uma nova cultura; b) busca

forte pela cultura de origem, que também irá gerar uma nova cultura, pois os

elementos que compõem a cultura sempre provêm de fontes diversas no espaço e no

tempo, ou seja, mesmo que haja o resgate de traços da cultura de origem, os fatores

tempo e espaço serão diferentes gerando uma cultura nova.

GEERTZ (1989) também fala dos processos de união de culturas. Segundo

esse autor, esta união é possível a partir de duas possibilidades: uma, é de considerar

todas as culturas envolvidas, o que leva ao sucesso da nova cultura; outra, é descartar

uma ou mais culturas em prol de uma única que normalmente é imposta, isso leva à

degradação. Pode-se voltar a esses conceitos para interpretar a integração de culturas

nos processos de fusão e consolidação, nos quais o confronto de culturas

organizacionais tem se destacado como fator relevante para o sucesso da efetivação

das fusões.

Assim, pode-se dizer que, para o sucesso das fusões, é necessário o

planejamento da construção de uma nova cultura, seja na visão de GEERTZ (1989) ou

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na visão de CUCHE (1999), a partir da qual mesmo que uma cultura seja maior que

outra e imponha maior parte de seus costumes e valores, mesmo assim haverá a

construção de uma cultura nova, híbrida, que se constitui através do contato entre

culturas diferentes.

2.2.1.5 Comunicação no processo de consolidação da cultura

CUCHE (1999) relata que a Escola Cultura e Personalidade desenvolvida por

volta de 1890 por alguns autores antropólogos, destaca a comunicação entre os

membros de uma cultura, ou como eles denominam a “educação” que refletia a forma

como os membros antigos transmitiam ao mais novos os costumes e valores daquela

cultura.

Os autores revelavam a forma como os membros antigos educavam os novos

membros, influenciando assim na formação da sua personalidade, que deveria ser

equivalente à personalidade básica dos membros pertencentes àquela cultura. Isso

constituía um argumento nesta escola, afirmando que o que diferenciava uma cultura

da outra era a predominância de um tipo de personalidade “ótimo normal”,

reconhecido socialmente como normal.

Neste sentido, FLEURY (1996) também menciona que a comunicação tem o

importante papel cultural na transmissão e cristalização do universo simbólico de uma

organização, envolvendo não somente os meios de comunicação, mas os instrumentos,

os veículos, e a relação entre os membros que se comunicam.

Entre os meios de comunicação, é preciso identificar tanto os meios formais

orais (contatos diretos, reuniões, telefonemas) e escritos (jornais, circulares, memos)

como os meios informais, como por exemplo a chamada “rádio peão”. O mapeamento

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dos meios possibilita o desvendar das relações entre categorias, grupos e áreas da

organização (FLEURY, 1996, p. 24).

Nesta linha, pode-se incluir ainda os ritos, que são destacados atualmente nos

estudos da área de Administração como uma categoria de análise da cultura

organizacional. Alguns autores, comparando os relatos antropológicos dos ritos das

sociedades tribais com a vida das organizações modernas, destacam os ritos como

reflexos da cultura, através dos quais torna-se possível identificar costumes, valores e

normas de comportamento de determinadas culturas organizacionais.

BEYER e TRICE apud FLEURY e FISCHER (1996) destacam seis tipos de

ritos que demonstram, através da comunicação formal e informal, o comportamento e

a rotina dos grupos. Entre eles, destacam-se ritos de passagem (introdução e

treinamento de novos membros), de degradação (ato de despedir ou expulsar um

membro), de confirmação (reforçar a identidade social e seu poder de coesão), de

resolução de conflitos e de integração (como festas e eventos). Também CARVALHO

e TONET (1994) deixam claro que a análise dos ritos da organização podem

desvendar traços da cultura organizacional.

A linguagem é também abordada em alguns estudos sobre cultura, destacando

que a construção do comportamento dos indivíduos está relacionada com a linguagem

utilizada pelos mesmos para se expressarem a respeito de si e dos demais membros

daquela cultura (GIDDENS, 1991; TONELLI e ALCADIPANI, 2001; FREITAS,

2000b; HANDY, 1994).

Autores revelam uma contribuição muito grande da comunicação para o

desenvolvimento da cultura, afirmando que é através da comunicação que a cultura

evolui. Segundo CARVALHO (1997), os indivíduos, mesmo estando imersos numa

cultura com regras, normas de comportamento e valores enraizados, são os agentes

transformadores daquela cultura, pois cada indivíduo interage com outros dentro ou

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fora de sua cultura, e nem sempre age de acordo com o que está previsto na sua

cultura. Desta forma, a comunicação existente entre culturas diferentes tem um papel

importante na evolução das culturas.

Ressalta-se, portanto, as duas principais funções da comunicação no

desenvolvimento da cultura, uma diz respeito à manutenção da cultura, enquanto

veículo de socialização, e a outra, permitindo que a cultura evolua a partir do contato

com o diferente.

2.2.1.6 Subculturas e identidade

Uma contribuição importante na definição de culturas e subculturas partiu da

escola de Chicago também citada por CUCHE (1999). Segundo esse autor, foi a partir

do estudo das relações interétnicas que surgiu o conceito de subcultura que

representava não uma cultura inferior, mas uma derivação da cultura de origem nos

grupos sociais que se formavam na sociedade, principalmente nos casos em que a

imigração se tornava evidente. Assim, os sociólogos distinguem subculturas entre as

classes sociais e também segundo grupos étnicos.

Há algumas discussões sobre esse termo, porque os autores também acreditam

que mesmo, neste caso, o que aqui foi destacado como subcultura não deixa de ser

uma cultura própria, com algumas derivações da cultura de origem, com elementos

novos dentro de novos contextos, mas se tornou sólida constituindo uma cultura.

No que diz respeito às organizações, também se discute o surgimento de

subculturas que refere a grupos existentes dentro de uma organização. SAINSAULIEU

apud CUCHE (1999, p. 214) afirma que culturas coexistem e se cruzam dentro das

empresas, e neste sentido aponta quatro tipos de comportamento destacados pelo autor

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como modelos culturais de empresa: a) cultura marcada pelo caráter funcional das

relações, na qual o coletivo é valorizado enquanto refúgio e proteção contra divisões;

b) cultura marcada pela aceitação das diferenças e voltada à negociação; c) outra que

corresponde a situação de mobilidade profissional prolongada. O modo de

funcionamento relacional é o das afinidades seletivas e da desconfiança em relação aos

grupos constituídos na empresa; d ) outra caracteriza-se pela dependência e pelo

retraimento; a empresa é vista como um meio para um fim posterior.

Nesta mesma abordagem, destacam-se muitos autores da administração de

empresas que admitem a relevância da análise da cultura organizacional também pelas

subculturas, a partir das quais muitos destes criaram tipologias para investigar os tipos

de cultura e subcultura possíveis dentro de uma organização (MITZBERG e QUINN,

2001; MINTZBERG et al., 2000; TAVARES, 1996; FREITAS, 1991, 2000B;

FLEURY e FISCHER, 1991; HANDY, 1987; WOOD JR, 2001; MORGAN, 1996).

Segundo MORGAN (1996, p. 125) “a influência da cultura hospedeira

raramente é uniforme. Assim como os indivíduos numa cultura têm diferentes

personalidades enquanto compartilham coisas comuns, isto também acontece cm

grupos e organizações”. Ou seja, esse autor acredita que, embora as organizações

tenham normalmente um padrão de valores e comportamentos, há culturas

fragmentadas, nas quais há aquilo que se diz e aquilo que se faz, o que nem sempre são

a mesma coisa, o que fragmenta os membros em grupos diferenciados dentro de uma

mesma organização.

Outro conceito desenvolvido, a partir dos estudos da cultura, é o da identidade,

que na visão de HALL (2000) pode variar de acordo com o momento e a situação

vivida pelos indivíduos, ou seja, de acordo com os contextos em que o indivíduo se vê

inserido, principalmente no cenário da modernidade tardia (referindo-se à sociedade

do século XX), onde a complexidade e diversidade traduzem contextos variados.

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Vários autores têm se dedicado ao estudo da identificação do indivíduo na sua

cultura, o que representa a forma como o indivíduo se vê e vê aos demais membros da

sua cultura. GIDDENS (1991) acredita que os indivíduos estão constantemente

reconstruindo a sua identidade, através da reflexão sobre seu papel naquela cultura,

contribuindo assim para o desenvolvimento da mesma.

Esse pode ser considerado um elemento importante na definição das linhas de

pesquisa sobre cultura organizacional: uma, destacando a cultura organizacional

através da construção de modelos mentais, nos quais os indivíduos se identificam com

sua cultura e esta passa a ser vista como uma construção social no tempo e na história;

e a outra linha de pesquisa que destaca a influência da cultura nacional sobre a cultura

organizacional enfatizando que a identificação dos indivíduos está mais relacionada

com a cultura nacional, assunto que será abordado a seguir.

2.2.1.7 Construção da cultura através de modelos mentais

Vários outros estudos tentam conciliar Antropologia e Administração (ou

estudos organizacionais) e entre o autores mais citados nas pesquisa sobre cultura

organizacional, está a definição de Edgar Schein. O autor é citado em quase todos os

estudos por ter sido o que mais enfatizou o tema neste período de ressurgimento da

cultura na literatura acadêmica.

As referências a Schein e Hofstede nos estudos de cultura são justificados por

representarem duas interpretações diferentes sobre o tema que foram publicadas em

tempos simultâneos. De acordo com BARBOSA (1996), Schein enfatiza a idéia de que

a cultura organizacional de uma empresa difere da cultura organizacional de outra,

pois tem características singulares que levam os membros da organização a se

identificarem com seus heróis, com sua história, seus fundadores entre outros

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elementos que dão particularidade a cada cultura organizacional. Já Rofstede não

acredita que essas particularidades sejam importantes na interpretação da cultura

organizacional, mas que a influência da cultura nacional é muito mais representativa

no que diz respeito à definição de comportamentos, crenças e valores.

Schein acredita que todos os significados apenas refletem a cultura de uma

organização, mas nenhum deles representa a essência dessa cultura. Para esse autor, a

investigação da Cultura Organizacional deve ser especificamente reservada para o

nível mais profundo das “premissas básicas e crenças” que são compartilhadas pelos

membros da organização, que operam inconscientemente, e é definida como uma

maneira básica de “tomar por certo” atitudes e comportamentos, garantindo pontos de

vista da própria organização e de seu ambiente. Essas premissas e crenças são

respostas a certos problemas relativos à sobrevivência da organização em relação ao

seu ambiente externo e aos problemas de integração interna (FREITAS, 1991).

ALBUQUERQUE (2001) segue a mesma forma de pensar de Schein e

desenvolve um trabalho no sentido de esclarecer que a cultura gera modelos mentais

que moldam comportamentos, definindo regras, limites, costumes e valores. Para esse

autor, numa sociedade, são muitas as crenças aprendidas. E elas têm sentido. Elas dão

identidade a seu povo. Elas levam a Modelos Mentais que vão gerar os

comportamentos. Esses modelos mentais funcionam como um mapa que vai dar para o

indivíduo certas direções. Proporciona a ele um sentido do que é certo e do que é

errado, além de direcionamentos de como conseguir felicidade e evitar sofrimentos.

Os modelos mentais, muitas vezes, geram comportamentos involuntários, que

são automáticos e nem sempre conscientes, o que torna importante a compreensão do

fenômeno “cultura”, pois a partir dessa compreensão é que algo poderá ser feito para

evitar conflitos e conquistar o alcance dos objetivos organizacionais.

ALBUQUERQUE (2001) também acredita que os modelos mentais diferem de um

país para outro e também de uma região para outra e até mesmo de um grupo para

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outro. Assim, a compreensão dos mecanismos de formação dos modelos mentais

facilita na busca de atingimento dos objetivos organizacionais. Pode-se observar que o

autor, a partir da visão de Schein utiliza o conceito de cultura como geradora de

modelos mentais, dando um caráter singular à cultura organizacional e também

compartilha a visão de Rofstede sobre a influência da cultura nacional, e talvez neste

estudo de caso, também regional, sobre a cultura da organização.

Esta abordagem que trata dos modelos mentais pode lembrar o que os

antropólogos e sociólogos já evidenciavam em seus estudos quando afirmavam que os

indivíduos tinham certa autonomia no desenrolar da sua cultura. Isso porque cada

indivíduo, através de suas experiências, tinha o poder de compreender e interpretar sua

cultura e a soma das reinterpretações de todos os membros daquela cultura permitia a

evolução da mesma.

MASCARENHAS (2002) lembra que com a evolução dos estudos sobre

cultura organizacional, percebeu-se que os trabalhadores não são meros espectadores,

membros passivos da cultura das organizações, mas são agentes que participam

ativamente do processo de transformação constante da cultura organizacional.

MORGAN (1996) acredita que a cultura organizacional seja resultado de um

processo contínuo que não deve ser apreendido em fragmentos, mas numa totalidade,

pois esta está em constante transformação, onde as pessoas criam e recriam os mundos

dentro dos quais vivem.

Para SROUR (2000) a cultura nas organizações está presente em todas as

práticas organizacionais e constitui um conjunto muito definido de saberes, ou seja um

conjunto preciso de representações mentais cujas manifestações assumem formas

variadas, através de “princípios, valores e códigos; conhecimentos, técnicas e

expressões estéticas; tabus, crenças e pré-noções; estilos, juízos e normas morais;

tradições, usos e costumes; convenções sociais, protocolos e regras de etiqueta;

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estereótipos, clichês e motes; preconceitos, dogmas e axiomas; imagens, mitos e

lendas; dogmas, superstições e fetiches” (ibid., p. 168).

Também nesta linha de pesquisa pode-se destacar o que alguns autoreschamam de construção do “self”, ou seja, a utilização da linguagem pelos indivíduospara refletir aquilo que pensam, sentem e interpretam a respeito de si e da suarealidade, representando, portanto, a sua visão de vida e a sua cultura. Essa culturapode ser moldada de acordo com o que o indivíduo passa a acreditar, seja dentro deuma organização ou de uma sociedade. Conforme TONELLI e ALCADIPANI (2001)o “self” já foi abordado por muitos autores para explicar como os indivíduos explicama sua realidade envolvendo características do próprio indivíduo e dos demais à suavolta. A maioria dos autores concorda que a subjetividade (do discurso, do “self”) éconstruída socialmente a partir das experiências, num contexto histórico, portantodeve-se considerar o tempo, o espaço e a história na qual se insere o narrador, pois issoestará refletido no seu discurso subjetivo que irá demonstrar a sua cultura.

Um destaque pode ser dado a GIDDENS (1994) que aborda o “self” comoresultado de uma construção reflexiva diante do cenário pós-moderno oucontemporâneo, ou seja, o indivíduo diante de constantes dúvidas e incertezasresultantes da diversidade atual cria imagens de si e da sua realidade e reconstróiconstantemente suas narrativas a partir da reflexão e da contribuição que do indivíduopara esta realidade. Já BAUDRILLARD apud TONELLI e ACADIPANI (2001)acredita que o homem moderno não tem mais tempo para construir uma imagem doself, o que o leva a assumir uma identidade de momento que reflete apenas a aparênciasem profundidade.

2.2.1.8 Influência da cultura nacional

Sobre a influência da cultura nacional na cultura das organizações,BARBOSA (1996) cita Hofstede para destacar a importância em analisar a culturaorganizacional a partir do significado simbólico da empresa no imaginário dassociedades. Por exemplo, os valores que a empresa e o emprego tem para os norte-

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americanos é bem diferente do valor que esta instituição tem para os brasileiros.Segundo a autora o contexto de constituição da nação brasileira é muito diferente doque ocorreu nos Estados Unidos. Assim, quando autores americanos enfatizam a figurado herói ou do fundador como fortes influências no comportamento dos membros daorganização americana, isso não pode ser comparado à influência que tais elementospossam fazer sobre o comportamento dos membros de uma organização brasileira.

A explicação é simples, devido ao significado simbólico da empresa e da

vitória individual nos EUA, naquela cultura as vitórias pessoais servem de exemplo e

exaltação de sucesso. Já no Brasil, os valores são outros, a empresa é vista como um

local de trabalho e não como identidade da forma como é tida a empresa nos EUA. A

construção de identidade dos brasileiros é baseada em outras instituições como a

família a religião e outros grupos sociais. “Trabalho e ocupação podem também

desempenhar este papel, mas o fazem vinculados a categorias gerais do tipo professor

universitário, antropólogo, advogado, empresário, etc. e quase nunca a uma

organização. Esta é sempre um segundo marcador social” (BARBOSA, 1996, p. 12).

Nas pesquisas da área de Administração, autores, como BETHLEN (1999),

WOOD JR (2001), WOOD JR. e CALDAS (2000); MOTTA (1997), SROUR (1999),

FREITAS (1997), PRATES e BARROS (1997), destacam a influência da cultura

brasileira na cultura organizacional de forma contundente. Os traços da cultura

brasileira para a maioria dos autores se faz presente no cotidiano das pessoas, o que se

reflete no seu comportamento valores que são levados também para dentro da

organização.

Tais valores segundo os autores são reflexo da formação da sociedade

brasileira na época da colonização, na constituição da família patriarca e escravocrata

que trouxe dois lados de uma relação não só familiar mas também hierárquica baseada

no modelo patrão e escravo, cuja estrutura era marcada por um distanciamento

hierarquizado e ao mesmo tempo com traços de proximidade afetiva (PRATES e

BARROS, 1997).

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A base de referências para destacar as características da colonização do Brasil

está nos clássicos das Ciências Sociais, como HOLANDA (1995), FREYRE (1998) e

RIBEIRO (1995). Esses autores retratam o cenário da colonização brasileira, cada qual

com suas convicções e teorias sobre a formação da cultura nacional. HOLANDA

(1995) evidencia o contato entre as raças como fundamental na formação da cultura

brasileira, em que misturaram-se comportamentos e costumes como a cordialidade, no

sentido de estabelecer relações de intimidade com aquele que é desconhecido; ou o

individualismo frente ao coletivo. FREYRE (1998) contesta esta visão porque acredita

que a cultura e não a raça é o que vai formatar a identidade brasileira, e esta sim, a

cultura, provém da mistura de raças em todas as suas possibilidades. RIBEIRO (1995)

destaca as relações afetuosas entre os membros da família, traços que pertenciam aos

índios e negros e que foram incorporados às famílias portuguesas.

FREYRE (1998) aborda a distância social existente no binômio casa grande e

senzala, na época da colonização, na qual o patrão, senhor do engenho (os domínios do

senhor patriarcal) era dono absoluto de tudo e de todos, dos escravos, dos feitores, da

família e de todos que habitavam o engenho, por isso o binômio, casa grande (poder) e

senzala (escravos, dominados). A família era a base de todas as relações sociais

naquele período. Não era o indivíduo, nem o Estado, nem as companhias de comércio

que se sobrepunham sobre as decisões, sobre o capital, sobre a unidade produtiva,

enfim, a família é quem dominava e quem decidia.

FREITAS (1997) destaca a partir da análise na cultura brasileira, os traços

brasileiros para uma análise organizacional da seguinte forma:

a) hierarquia cujas características são a tendência à centralização do poder; o

distanciamento entre os diferentes; e a passividade e aceitação, por parte

dos grupos inferiores;

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b) personalismo, ressaltando a base nas relações pessoais; a busca de

proximidade e afeto; e o paternalismo moral e econômico;

c) malandragem, destacando a flexibilidade e adaptabilidade como meio de

navegação social; e o jeitinho;

d) o sensualismo que se traduz no gosto pelo sensual e pelo exótico nas

relações sociais;

e) o traço de aventureiro ressalta a característica de ser mais sonhador do que

disciplinado; e a tendência à aversão ao trabalho manual e metódico.

Da mesma forma, com base nas obras sobre a formação do Brasil e a formação

da identidade brasileira, surgem as principais características que constituem as

relações sociais e políticas brasileiras e que são refletidas em última análise na cultura

das organizações. Entre elas, estão a lealdade pessoal para com o grupo frente a uma

necessidade social maior; a impunidade que faz com que a lei seja aplicada somente

aos indiferentes e leigos; o formalismo que leva os subordinados a aceitarem normas

sem questionar, embora a prática de execução seja contorcida; e o jeitinho brasileiro de

buscar soluções criativas e dinâmicas, mas muitas vezes ultrapassando as regras para

os problemas (WOODR JR., 2001; MOTTA, 1997; FLEURY, 1997; PRATES e

BARROS, 1997).

Muito dessas características são contestadas por autores da Sociologia e

Antropologia, mostrando a preocupação com a descrição da identidade brasileira. È

importante destacar o contexto em que os autores citados como clássicos desta área se

encontravam quando escreveram suas obras. Tratava-se das primeiras buscas pela

identidade brasileira, alguns resquícios de racismo podem ser observados, por

exemplo, na visão de HOLANDA (1995), um certo conformismo no que diz respeito à

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divisão social, na visão de FREYRE (1998), que, para alguns críticos, representava

não a exaltação ao negro, mas um apego como se tem a um animal de estimação.

Essas observações podem ser vistas nas obras recentes que voltam a

questionar a identidade brasileira, como destaca RAMOS (2000) que cita entre os

autores contemporâneos José Murilo de Carvalho, Roberto Da Matta, Renato Ortiz e

Maria Isaura Pereira de Queiroz. Acrescente-se aos contemporâneos SANTOS, B. S.

(1994) que, na perspectiva da globalização, aborda a formação da identidade

portuguesa, considerada desde o início periférica tanto econômica como culturalmente

em comparação aos demais países da Europa (como França, Inglaterra e Espanha), e a

influência negativa dessa característica na formação da identidade brasileira.

SANTOS, B. S. (1994) questiona a construção da cultura nacional nos países

de fronteira, lembrando que os limites de uma cultura não se limitam às fronteiras de

um Estado, embora nenhuma cultura seja indiscriminadamente aberta, e que a cultura é

sempre um processo em construção, portanto para sua compreensão é sempre

necessária a análise da trajetória histórica e da posição desse grupo no sistema

mundial. Neste sentido, o autor analisa o contexto da construção cultural no Brasil.

No caso do Brasil, a independência ocorre no seguimento da revolução liberal em Portugal.Em parte pelo radicalismo desta e em parte pela pretenção dos liberais de reconquistarem ahegemonia na colônia por via de uma colonização efetiva, contrária as interesses daInglaterra, a independência do Brasil fez-se no seguimento do liberalismo mas, de algummodo, contra ele. Não pôde assim beneficiar-se dos ventos progressistas que neste sopravame, por isso, acabou por acomodar num projeto ambíguo e contraditório (SANTOS, B. S.,1994, p. 44-45).

Para SANTOS, B. S. (1994) a cultura brasileira assumiu características de uma

cultura de fronteira que era própria de Portugal, uma cultura sem conteúdo, apenas

com forma (a fronteira), que, após colonizar o Brasil e a África, não desempenhou o

papel que o Estado tem em relação à cultura nacional: diferenciar a cultura do

território nacional face ao exterior, e promover a homogeneidade no interior do

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território nacional. Por esta razão, o autor acredita que internamente a cultura nacional

brasileira é fortemente heterogênea e tem uma dificuldade em se diferenciar das outras

culturas nacionais.

Em se tratando de influência na cultura organizacional, BARBOSA (1996),

citando Hofstede, destaca as características principais da cultura administrativa do

Brasil.

Nossa cultura administrativa caracteriza-se por práticas e valores que parecem privilegiarmais um bom relacionamento no trabalho, uma permanência longa em um mesmo emprego,uma preferência por grandes organizações como empregadoras, por uma rígida estruturahierárquica, por uma visão negativa da competição individual por um apelo constante aoconsenso, por uma valorização de liderança consultiva e pouca ambição de avanço individualetc (BARBOSA, 1996, p. 12).

PRATES e BARROS (1997) desenvolveram uma pesquisa em organizações

de grande e médio porte nas regiões sul e sudeste brasileiro para investigar a influência

de 10 características que consideraram pertencer à cultura brasileira na cultura das

organizações. São elas: a concentração do poder, a flexibilidade, o paternalismo, a

dependência, a lealdade às pessoas, o personalismo, a impunidade, a tendência a evitar

conflitos, a postura de espectador e o formalismo.

A conclusão dos autores é que estão presentes nas organizações as

características da cultura brasileira representando traços complexos e muitas vezes

paradoxais, que os autores traduzem da seguinte forma:

A capacidade de flutuar nos espaços dos líderes e dos liderados, do institucional e dopessoal, ligando-os por meio do paternalismo e da flexibilidade, do formalismo e da lealdadepessoal, explica alguns dos paradoxos de nossa sociedade. Uma sociedade alegre eharmônica, mas pobre; criativa, mas com baixo nível de crítica. A forma de operar essesaparentes paradoxos, como explicado neste capítulo, é que faz típica nossa cultura, deixandoos observadores externos admirados com nosso jeito de ser (PRATES e BARROS, 1997, p.68-69).

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ALCADIPANI e CRUBELATTE (2003) ressaltam que, apesar das váriasabordagens da influência da cultura brasileira na cultura organizacional, os autorescontemporâneos trazem questionamentos sobre a veracidade dessa influência frente aocenário atual, em que se prega a quebra de fronteiras, o convívio com nacionalidadesdiferentes. E ainda questionam-se se as características como o jeitinho brasileiro, opersonalismo e tantas outras, não teriam evoluído ou se modificado com o decorrer dahistória brasileira, que passou vários contextos diferentes, sofrendo influências devários tipos desde a colonização.

Mostra-se, com isso, a preocupação no diagnóstico da cultura organizacionalsob a ótica da influência da cultura nacional. Acredita-se, portanto, que ascaracterísticas de colonização de um país ou mesmo de uma região podem terinfluência sobre a cultura de uma organização, desde que analisadas coerentemente,observando o contexto da organização dentro da região ou do país. Se a complexidadeestá presente na cultura de uma organização, acentua-se quando há a união de duas oumais organizações, principalmente em se tratando de organizações provenientes depaíses diferentes. O que pode ser observado também no caso de organizações querefletem influências regionais distintas, como apresta este estudo de caso.

No estudo de caso apresentado ao final desta pesquisa, a fusão que consolidoua UNIOESTE não envolveu organizações de países diferentes, mas de cidades cujacolonização se deu de forma distinta o que gerou culturas organizacionais tambémdiferentes. E o que será observado com a pesquisa é o confronto dessas culturas naorganização que foi consolidada, conforme será destacado na caracterização dapesquisa no capítulo 5.

2.2.2 Cultura de Empresa na Sociologia e Antropologia

CUCHE(1999) também trata da definição de cultura organizacional e, como

outros antropólogos e sociólogos acredita que esta apropriação do termo cultura não

foi corretamente utilizado nesse novo contexto. “A noção de “cultura de empresa” não

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é criação das ciências sociais” (ibid., p. 209). “A concepção gerencial da cultura

adotou do conceito antropológico de cultura apenas o que podia servir a seus objetivos,

isto é, uma interpretação culturalista muito empobrecida segundo a qual a cultura

domina (em todos os sentidos do termo) o indivíduo” (ibid., p. 212).

O mesmo autor continua:

Para os sociólogos, a noção de cultura de empresa é usada para designar o resultado dasconfrontações culturais entre os diferentes grupos sociais que compõem a empresa. A culturade empresa não existe fora dos indivíduos que pertencem à empresa; ela não pode preexistira eles, ela é construída nas suas interações (CUCHE, 1999, p. 213).

Cuche (1999) é enfático ao dizer que a idéia que muitos autores utilizam para

dizer que a organização tem uma cultura própria e diferente das demais organizações é

errada. Embora o autor concorde com estudos que tratam da influência da cultura

nacional nas organizações, ele acredita que elas não determinam de maneira absoluta a

cultura das empresas. E destaca ainda que a cultura de empresa corresponde somente à

soma das culturas dos indivíduos que nela estão inseridos. Segundo esse autor, os

estudos sociológicos sobre cultura de empresa estão relacionados às culturas de classe,

de etnia e de profissões que interferem no comportamento do grupo de membros da

organização.

Esse autor continua sua argumentação destacando que nas pesquisas

sociológicas e etnológicas, cultura de empresa é,

Ao mesmo tempo, o reflexo da cultura ambiente é uma produção nova elaborada no interiorda empresa através de uma série de interações existentes em todos os níveis entre os quepertencem à mesma organização. O interesse em falar de cultura de empresa, no sentidoantropológico do termo “cultura”, está na designação da resultante complexa em um dadomomento, de um processo de construção cultural que nunca está acabado. Este processocoloca em jogo grupos de atores e de fatores muito diversos sem que nenhum grupo possaser considerado como único dono do jogo (CUCHE, 1999, p. 220-221).

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Também Geertz (1989, p. 56) acredita que a cultura possa ser considerada um

instrumento de controle organizacional “que elabora e reelabora conceitos, padrões e

regras que regem a vida social dos indivíduos inseridos na sociedade”, mas num

sentido mais amplo, pois o autor se refere a organizações no geral, não somente a

empresas, mas qualquer organização que agrupa indivíduos (grupos sociais, grupos

étnicos, grupos profissionais, grupos de bairros, comunidades) está de certa forma

controlando-os dentro dos símbolos que são criados e recriados naquela organização.

Isso mostra que o controle social faz parte de qualquer sociedade para regular

comportamentos, e nem por isso o significado de controle é levado para o lado

maquiavélico de dominação e uso desse instrumento para subjugar indivíduos, como

ainda contestam alguns estudos.

Já BARBOSA (1996) apresenta outra visão sobre cultura de empresa, essa

autora acredita que cultura não seja algo que se construa ou se tenha dentro de uma

organização, mas sim,

(...) um sistema de símbolos e significados de domínio público, no contexto do qual astarefas e práticas administrativas podem ser descritas de forma inteligível para as pessoasque delas participam ou não. Do ponto de vista mais pragmático pode ser entendida comoregras de interpretação da realidade, que necessariamente não são interpretadasunivocamente por todos, de forma a permanentemente estarem associados seja ahomogeneidade ou ao consenso (BARBOSA, 1996, p. 16).

No entanto, após longo discurso, essa autora acaba por definir cultura

administrativa,

Poderíamos então definir cultura administrativa como o conjunto de lógicas e valorescontextualizados de forma recorrente na maneira de administrar de diferentes sociedades.Esses valores (...) são as mesmas regras de interpretação da realidade que instruem a vidasocial como um todo, apenas hierarquizadas e relacionadas, em alguns casos, de maneiradistinta ou não, no interior das instituições encarregadas de gerir (ibid., p. 19).

Assim conclui-se, que talvez na sugestão de BARBOSA (1996) a maior

contribuição antropológica na definição e no estudo da cultura organizacional esteja no

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contexto de análise. Essa autora acredita que a organização, que prefere chamar

simplesmente de empresa, não pode ser o foco da análise da cultura, mas apenas uma

das várias dimensões que constituem o significado dos valores, costumes e

comportamentos, que constituem uma cultura administrativa.

Schein tem sua definição citada em quase todos os trabalhos já publicados no

Brasil sobre cultura organizacional, qual seja:

(...) cultura é o conjunto de pressupostos básicos (basic assumptions) que um grupo inventou,descobriu ou desenvolveu ao aprender como lidar com os problemas de adaptação externaintegração interna e que funcionaram bem o suficiente para serem considerados válidos eensinados aos novos membros como a forma correta de perceber, pensar e sentir, em relaçãoa esses problemas (SCHEIN apud FLEURY e FISCHER, 1996, p. 20).

Já SMIRCICH apud FLEURY (1987) propõe a distinção das abordagens mais

desenvolvidas na literatura especializada, referentes ao fenômeno simbólico-cultural

nas organizações modernas. A partir dessa publicação, os autores que entendiam o

fenômeno cultural como passível de gerenciamento, a partir do paradigma

funcionalista de análise organizacional, passaram a ser questionados por outros autores

que, com preocupações mais vinculadas a um paradigma interpretativo do fenômeno

cultural nas organizações, o entendiam como uma metáfora para a apreensão das

organizações enquanto resultado da construção social da realidade por parte dos

indivíduos, como originalmente a área de antropologia estudava.

Embora a administração tenha uma tendência a interpretar a cultura

organizacional como um todo inter-relacionado, a busca por compreender e analisar a

cultura dentro da perspectiva antropológica tem-se evidenciado em alguns estudos.

MASCARENHAS (2002) cita Wright que apontou três períodos nos quais a

antropologia contribuiu significativamente para os estudos da cultura nas

organizações:

a) nos anos 20, com estudos sobre as Relações Humanas nas organizaçõesforam realizadas as primeiras pesquisas na área de administração com a

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utilização de metodologias antropológicas para verificar o comportamentodos grupos de trabalho, que passaram a ser vistos pelos dirigentes epesquisadores como pequenas sociedades, sem a observação participante,técnica utilizada pela antropologia na qual o pesquisador tem um papelsocial na cultura estudada;

b) nas décadas de 50 e 60, já com a observação participante, pesquisadoresbuscavam analisar em profundidade situações sociais dentro do chão defábrica, para a compreensão e teorização de aspectos mais amplos daorganização social;

c) atualmente, diversos pesquisadores no campo dos estudos organizacionaisdestacam as vantagens da utilização dos referenciais teórico metodológicosusados pela Antropologia para pesquisar a cultura organizacional. Comoexemplos, podem ser citados os estudos de CHANLAT (1994) que estudasua principal premissa de que “há um mundo próprio do homem nasorganizações” e, para este estudo a melhor metodologia vem daantropologia; SCHEIN apud FLEURY (1996) que sugere a mesmametodologia para estudos da cultura em suas várias dimensões que vãoalém das superficiais ou visíveis.

Segundo MASCARENHAS (2002), a principal contribuição da Antropologiapara os estudo organizacionais foi o fato de que os pesquisadores e administradorespassaram a interpretar a cultura organizacional de uma forma mais aproximada aoconceito antropológico, ou seja, perceberam que os trabalhadores não são sujeitospassivos da cultura das organizações, mas sim agentes que participam ativamente doprocesso de criação e transformação constante da cultura dominante.

2.2.3 Cultura Organizacional para a Administração

SHINYACHIKI (1995) revela a grande quantidade de assuntos já estudadosna cultura organizacional nos últimos tempos, evidenciando com isto não só avariedade, mas o crescimento dos estudos sobre cultura organizacional na área de

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estudos organizacionais ou administração. Na década de 80, dois trabalhosdestacaram-se nos estudos sobre cultura organizacional, Peters e Watermanescreveram “In the search of excellence” e Ouchi “Teory Z”, ambos destacando acultura organizacional como fator importante para a produtividade e adaptabilidadedas organizações. Também há indícios de que nos anos 30, a partir de Hawthorne,sistematizou-se estudos sobre a cultura nas organizações, aqui destacados a partir de(SHINYASHIKI, 1995, p. 6):

Os estudos e artigos sobre cultura proliferaram durante a década passada, identificando a influência dacultura no desempenho da organização; Lorsch (1986) analisa o impacto da cultura na mudança deestratégia na organização; Davis (1984) examina como a cultura serve de base para a formulação deestratégias e afeta sua implantação; DeLisi (1990) relaciona a introdução de tecnologia de informaçãoe cultura organizacional e Thévenet (1989) afirma que a cultura modela os comportamentos e estilosde gestão. A relação da cultura com o sistema de gestão de Recursos Humanos é estudada por váriosautores: Thévenet, 1989; Wilkins, 1984; Kirkibride, 1989. A importância da cultura como vantagemcompetitiva é motivo de um artigo de Barney (1986) e a relação entre cultura e perfromanceeconômica é enfatizada por Calori e Sarnin (1991) e Wilkins e Ouchi (1983).

TEIXEIRA FILHO (2003) faz uma tradução resumida do livro Cultura

organizacional e liderança de Edgar Schein, publicada originalmente em 1985.

Segundo o autor, nessa obra também são mencionadas as principais pesquisas já

desenvolvidas na área de administração na definição de cultura organizacional: (1)

regularidades observadas no comportamento (Goffman, Van Maanen); (2) normas

envolvendo grupos de trabalho (Homans); (3) valores dominantes numa organização

(Deal e Kennedy); (4) filosofia que guia as políticas da organização (Ochi, Pascale e

Athos); (5) as regras do jogo que o novato deve aprender para fazer parte do grupo

(Schein, Van Mananen, Ritti e Funkhouser); e (6) o clima e o sentimento de uma

organização no trato com os de fora (Tagiuri e Litwin).

É a partir desse levantamento que SCHEIN segundo TEIXEIRA FILHO

(2003), define cultura organizacional como um conjunto de pressupostos inventados,

descobertos ou desenvolvidos por um grupo, a medida em que este aprende a lidar

com os problemas de adaptação externa e integração interna, que funcionou o

suficientemente bem para ser considerado válido e ser ensinado aos novos membros,

como uma forma correta de perceber, pensar e sentir e relação aos problemas.

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SCHEIN apud TEIXEIRA FILHO (2003) também faz uma distinção em três

níveis de cultura: (1) artefatos e criações, relativos ao ambiente físico e social, em

geral visíveis mas não facilmente decifráveis; (2) valores, em um nível mais alto de

consciência; e (3) pressupostos básicos, que são pré-concebidos, invisíveis e tidos

como certo. Pela definição de Edgar Schein percebe-se que seu trabalho foi um dos

mais profundos e por isso continua a ser um dos mais citados nas pesquisas sobre

cultura organizacional, pois aborda várias questões que muitas vezes são ignoradas em

outros estudos.

2.2.4 Tipologias para Diagnóstico da Cultura Organizacional

Com a amplitude de variáveis que podem ser utilizadas para diagnosticar a

cultura das organizações, expressando valores, ritos, costumes, comunicação, entre

outros aspectos importantes para a gestão de empresas, surgem as tipologias utilizadas

por alguns autores, tanto para localizar elementos de uma cultura organizacional como

para detectar diferenças culturais existentes entre organizações e dentro de uma mesma

organização, nas subculturas ou culturas de grupo.

SANTOS, N. F. (1994) descreve algumas tipologias já utilizadas para o

diagnóstico da cultura organizacional, que representam as formas pelas quais alguns

autores conseguem decifrar valores, costumes, normas entre vários outros elementos

que constituem a cultura organizacional. Entre essas tipologias estão:

a) Charles Handy / Roger Harrison, consideram a distribuição de poder

dentro das organizações como: cultura de poder (normalmente associada a

pequenas empresas, com a centralização do poder no núcleo diretivo);

cultura de papéis (organizações excessivamente burocratizadas, com

descrição de tarefas e autoridade, são culturas lentas tanto em perceber a

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mudança quanto em efetuá-las); cultura de tarefas ( ênfase na competência

e perícia, trabalho em equipe é estimulado, projetos são feitos para cada

situação) e cultura de pessoa (centrada nos indivíduos, são exemplos

empresas de consultoria como arquitetos, advogados).

Mais tarde HANDY (1994) associa essa tipologia a deuses gregos e as

descreve da seguinte maneira: cultura de “clube”, associada a Zeus, que representa a

centralização do poder, o que leva à rapidez de decisão, pois não há muitos centros de

poder. Outras características emergem desta configuração, como a forte influência da

empatia que o autor coloca como um tipo de comunicação que pode facilitar ou

dificultar as relações, assim como tornam-se importantes a afinidade e a confiança.

A cultura de “função” associada a Apolo, deus da ordem e das regras. Esta

cultura se baseia em torno da definição da função ou da tarefa a ser feita e não em

torno das personalidades como a cultura-de-clube. Segundo Handy (1994) nesta

cultura, a organização é vista como um quadro de tarefas a serem cumpridas que estão

unidas num fluxograma com funções prescritas e que são integradas por um conjunto

de normas e procedimentos. Essas características são uma formatação perfeita para as

organizações que mantém padrões de ação, ou seja, que não enfrentam muitas

mudanças, por esta razão associam-se à burocracia, cujas características marcantes são

a estabilidade e a previsibilidade. Neste cenário, o autor exemplifica com as intituições

públicas, as empresas tradicionais e os monopólios.

A cultura de “tarefa”, associada a Atena, deusa guerreira. Nessa cultura, a

preocupação básica está em solucionar os problemas que aparecem. O autor sintetiza

as organizações incluídas nesse tipo de cultura da seguinte forma:

Esta cultura assume uma abordagem muito diferente da administração. A administração évista como basicamente preocupada com a solução contínua e bem sucedida de problemas.Primeiro, definir o problema, depois distribuir os recursos adequados à sua solução, dar osinal verde, máquinas e dinheiro ao grupo de homens resultante, e aguardar a solução. Julgaro desempenho em termos de resultados, problemas resolvidos. (...) A cultura reconhece

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apenas a perícia como base para o poder ou a influência. A idade não impressiona, nem otempo de serviço, nem o parentesco próximo com o proprietário. Para contribuir com o seugrupo, o que é preciso é talento e criatividade, uma nova abordagem e novas intuições(HANDY, 1994, p. 26).

A variedade e não a previsibilidade é a característica que se destaca nesse tipo

de cultura.

A cultura “existencial” associada a Dionísio, deus do vinho e das canções,

representa a organização cuja existência tem um único objetivo, ajudar o indivíduo a

atingir seu propósito, são os casos de organizações profissionais, como clínicas

médicas, empresas de arquitetos, advogados, universidades, etc. As estrelas são

mutuamente interdependentes. Esta cultura é importante onde o recurso crucial da

organização é talento, ou a habilidade do indivíduo. Nessa cultura os indivíduos

podem preservar sua individualidade, sua liberdade e sua própria identidade.

b) Deal e Kennedy avaliam a relação risco do investimento e a velocidade do

feed-back do mercado em: cultura macho (alto risco/rápido feed-back,

exemplos nos departamentos de polícia, construção civil, cirugiões, onde o

resultado às ações são imediatos, o que importa é a velocidade da decisão);

cultura trabalho duro/diverte muito (baixo risco/rápido feed-back,

organizações de venda tipo Avon, a qualidade do serviço assume grande

importância, o sucesso vem com a persistência); cultura apostar sua

companhia (alto risco/lento feed-back, as pessoas respeitam a autoridade, a

competência técnica e compartilham o conhecimento, justamente por

envolver muito investimento cujo retorno é lento); cultura processo (baixo

risco/lento feed-back, o impacto de fazer ou deixar de fazer é quase

nenhum, os eventos triviais podem assumir grande importância, os valores

são fundados na perfeição técnica. As pessoas aprendem a dar atenção a

detalhes, são ordenados, os rituais privilegiam padrões e procedimentos).

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c) Sethia e Von Glinow, enfatizam a preocupação por pessoas, ou seja,

representa o comprometimento da organização com os seus membros, ou

por performance (inspirados no Grid gerencial, no sentido de que seus

membros darão o melhor de si no trabalho e que farão uso de seus talentos),

manejando o sistema de recompensas em : cultura apática (nem pessoas,

nem performance), cultura cuidadosa (pessoas), cultura exigente

(performance), cultura integrativa (pessoas e performance).

d) O´Donnely observa a relação com o uso do planejamento em : cultura

excelente (usa planejamento e a comunicação flui com habilidade para que

os membros saibam o que fazem e por que fazem, sentem-se parte da

equipe. O planejamento é voltado para os procedimentos e padrões de

operação e desempenho); cultura fuzzy, ou seja vaga, indistinta, na qual a

mudança é constante (descontinuidade negativa, pode-se perceber nas

empresas maduras e naquelas onde os dirigentes estão prestes a se

aposentar, onde não há inovação); cultura awful, que significa horrível, é

caracterizada por crises constantes, as pessoas trabalham para atender

emergências.

e) Quinn visa organizar os diferentes padrões de comportamento, valores e

crenças compartilhadas que definem a cultura de uma empresa. Da

justaposição de suas duas principais dimensões, emergem quatro tipos

culturais que enfatizam: a) o sentido micro e macro da empresa, ou seja, a

ênfase pode refletir tanto o ambiente interno como o externo; b) relacionada

à estrutura organizacional e aborda o controle, a estabilidade, bem como a

flexibilidade e a mudança.

Os quatro tipos culturais são: 1) a cultura grupal, baseada em normas e valores

associados à afiliação; 2) a cultura inovativa, caracterizada por pressupostos de

mudança e flexibilidade onde os fatores chaves para a motivação são o crescimento, o

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estímulo, a diversificação e a criatividade na tarefa; 3) a cultura hierárquica que está

calcada nos valores e normas relacionados à burocracia, em que pressuposto básico é a

estabilidade e os indivíduos aceitam a autoridade emanada das regras e regulamentos

impostos; 4) a cultura racional é permeada por pressupostos de realização, baseada na

crença de que as recompensas estão relacionadas com os resultados, os fatores de

motivação derivam da competição e da obtenção de resultados pré-definidos.

Pode-se observar que a cada tipologia algumas características ressaltam a

cultura de um determinado grupo de membros, ou de organizações, admitindo-se as

culturas de grupos ou subculturas dentro das organizações. Neste estudo de caso,

optou-se por selecionar uma das tipologias acima na tentativa de localizar diferenças

entre os campi que compunham a UNIOESTE no período subseqüente à fusão que

consolidou a organização. Para isso, utilizou-se a tipologia de HANDY (1994) porque

esse autor apresenta um questionário já aplicado em organizações de forma a mostrar a

subjetividade dos valores que realmente representam o que pensam os membros da

organização. Esse questionário ao mesmo tempo que investiga o que o indivíduo pensa

sobre a organização em que atua e, por outro lado, investiga as intenções do indivíduo,

ou seja, em que tipo de organização ele gostaria de trabalhar.

2.2.5 Cultura Organizacional como Metáfora ou como Variável Organizacional

SMIRCICH apud FLEURY (1987) propõe duas linhas de pesquisa sobre

cultura organizacional. A primeira sugere a cultura como uma variável, algo que a

organização tem, ligada ao modelo sistêmico de organização e tem um objetivo

normativo, o de realizar diagnósticos com análises comparativas que subsidiem a

elaboração de estratégias de ação das empresas (envolve duas variáveis, uma interna e

outra externa como valores da sociedade que são trazidos para dentro da organização).

A segunda linha de pesquisa tem a cultura organizacional como raiz da própria

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organização, como algo que a organização é, essa visão é derivada das relações sociais

abordadas na Antropologia. Dentro dessa linha, a autora sugere três correntes:

a) cognitivista, na qual a cultura é definida como um sistema de

conhecimento e crenças compartilhados, certificando-se sobre as regras

existentes na cultura e a visão de mundo que os membros compartilham;

b) estruturalista, na qual a cultura é constituída de signos e símbolos. Neste

caso, a cultura é convencional, arbitrária e estruturada. É constitutiva da

ação social sendo, portanto, indissociável desta;

c) simbólica, define cultura como um sistema de símbolos e significados

compartilhados que necessita ser decifrado e interpretado. As pessoas

procuram decifrar a organização em termos de pautar e adequar o seu

próprio comportamento.

FIGURA 2 – CULTURA NAS CORRENTES DA ANTROPOLOGIA

Fonte: FREITAS, 1991, p. 1.

Outro autor que tem se destacado na área de administração é MORGAN

(1996) que utiliza metáforas para explicar o funcionamento das organizações. Uma das

metáforas que utiliza, é a da organização vista como sistema político evidencia a idéia

de que a organização é constituída por pessoas que têm necessidades diferentes, assim

ANTROPOLOGIACOGNITIVA

ANTROPOLOGIASIMBÓLICA

ANTROPOLOGIAESTRUTURAL

ConhecimentosCompartilhados

SignificadosCompartilhados

Processos PsicológicosInconscientes

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como qualquer organização social, e por isso são capazes de influenciar e ser

influenciadas, interferindo desta forma, na construção da cultura organizacional.

MORGAN (1996) também utiliza outra metáfora, vendo a organização

enquanto cultura, e defende a idéia de que a cultura deva ser utilizada como uma

metáfora para interpretar o fenômeno organizacional. Sendo assim, a cultura é vista

como um processo organizacional, como algo que a organização é.

Neste caso o autor sugere que a cultura deva ser analisada como um processo

carregado de história, que se transforma ao longo do tempo e que influencia a

organização e o ambiente, numa relação de interdependência. Assim enfatiza a

necessidade de que a organização conheça a si mesma, através da sua cultura, para

poder compreender o ambiente em que está inserida e então poder relacionar-se tanto

no seu ambiente interno quanto com o seu ambiente externo. Morgan (1996) acredita

que a compreensão do ambiente é uma projeção da própria organização.

Conforme apresentado anteriormente foi principalmente a partir da publicação

de Smircich, que surgiu um novo enfoque na abordagem da cultura organizacional que

contrapõe a perspectiva de análise funcionalista usual nos estudos organizacionais.

Passou-se a se preocupar mais com a interpretação da cultura existente nas

organizações a partir da utilização de uma metáfora para compreensão do fenômeno

“cultura organizacional” e menos com a visão de cultura como um instrumento ou

variável administrativa (CRUBELLATE e MENDES, 2000).

O autor Edgar Schein citado por muitos autores que estudam a cultura

organizacional também tende a esta corrente interpretativa de estudos, segundo a qual

a cultura faz parte da organização e não pode ser utilizada como um instrumento de

controle, pois a cultura organizacional é desenvolvida pelos membros que fazem parte

da organização e não pode ser imposta por uma equipe de dirigentes. Nessa proposta,

os valores mais profundos que são compartilhados entre as pessoas surgem

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naturalmente, assim como as regras de socialização, a forma de sentir, interpretar e

resolver os problemas internos. Se forem impostos, tais valores não serão incorporados

pelos membros, e assim também não será possível percebê-los nas ações e

comportamentos dos membros.

A cultura interpretada como um fenômeno complexo é destacada por

MORGAN (1996, p. 135):

Ao reconhecer que atingimos ou representamos a realidade do mundo diário, tem-se umaforma poderosa de pensar sobre cultura. Por meio disto é que se deve tentar compreendercultura como um processo contínuo, proativo da construção da realidade, e que dá vida aofenômeno da cultura em sua totalidade. Quando compreendida desta forma, a cultura nãopode mais ser vista como uma simples variável que as sociedades ou as organizaçõespossuem. Em lugar disto, ela deve ser compreendida como um fenômeno ativo, vivo, atravésdo qual as pessoas criam e recriam os mundo dentro dos quais vivem.

Mas como destacam outros autores como PETTIGREW (1996), FLEURY e

FICHER (1996), RAMBALDUCCI et al. (2002), a cultura pode ser administrada,

embora reconheçam a complexidade que cerca a cultura organizacional, os autores

geralmente associam a administração da cultura organizacional aos processos de

mudança organizacional.

Pode-se dizer, portanto, que há um consenso sobre a influência da cultura na

administração de empresas, independente do nível de influência.

A contribuição dessa linha de pesquisa para a Teoria das Organizações é hoje principalmentedeterminada pela possibilidade de entendimento, a partir do estudo das organizações enquantoculturas, de categorias analíticas intervenientes nos processos administrativos que influenciam na suaação, permitindo-se reconhecer que tais processos são tanto encaminhados por questões técnicas eracionalmente determinadas, quanto por considerações subjetivas, ideológicas ou "ideacionais"(CRUBELLATE e MENDES, 2000, p. 40).

A diferença talvez esteja na perspectiva de análise da cultura organizacional e

considera-se primordial o surgimento das duas linhas de pesquisa porque

provavelmente essas discussões estejam servindo de freio à utilização do termo cultura

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organizacional como algo que possa maquiavelicamente controlar comportamentos e

servir como um instrumento de poder. Neste sentido, pode-se dizer que a interpretação

da cultura organizacional, na forma como sugere a Antropologia e alguns autores da

Administração, permite à administração de empresas prever em suas estratégias

algumas reações que possam emergir em decorrência da cultura que existe na

organização. Já na avaliação sugerida na maior parte dos estudos organizacionais, há

uma contribuição mais instrumental que permite níveis de análise mais visíveis que

complementem a análise sugerida anteriormente.

MINTZBERG et al. (2000) e MINTZBERG e QUINN (2001) levantam a

questão da cultura como uma variável estratégica que pode ser utilizada para que o

sucesso na implementação e aceitação de pequenas mudanças ocorram com o

consentimento do grupo. Caso a organização tenha uma cultura forte e já estabelecida,

o grupo tende a se unir em prol daquilo que o conjunto de membros decide defender.

Assim, as lideranças administram a mudança convencendo o grupo da necessidade

destas pequenas mudanças e conquistando o apoio coletivo.

Na opinião desses autores, a cultura pode ser uma poderosa ferramentaestratégica, pois na medida em que a organização é composta por um grupo forte eunido, pode vencer barreiras de formas que outras organizações não poderiam. Opoder da força coletiva torna-se uma verdadeira arma contra obstáculos. No entanto, acultura organizacional também pode representar um entrave no caso de mudançasdrásticas uma vez que o grupo seja coeso, não aceita grandes mudanças e o poder queo coletivo possui funciona contra a organização ou contra qualquer interferência quetente grandes mudanças.

2.2.6 Relações de Poder e Política como Elementos da Cultura Organizacional

MINTZBERG et al. (2000) acreditam que a cultura organizacional, quando é

fortemente estabelecida entre os membros, dificulta a implementação de mudanças

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drásticas, e sugerem outro elemento que pode favorecer grandes mudanças, a política,

que, entre outras forças positivas, possibilita a discussão e negociação a partir da

abertura aos vários pontos de vista existentes na discussão ou no conflito, o que facilita

a aceitação da mudança. Nesse sentido, outra perspectiva de estudos sobre a cultura

organizacional surge nos debates científicos, a força e a busca pelo poder expressa nas

relações organizacionais, e que portanto, fazem parte da cultura.

FLEURY (1991) insere na sua definição de cultura a dimensão política,

ressaltando que a cultura tanto serve para dar uma ordem social aos membros como

serve para dominar e controlar comportamentos, o que sugere duas faces da relação de

trabalho, uma visível que se refere à solidariedade, à cooperação; e outra, invisível,

que se refere à dominação e à submissão.

Essa dimensão pode ser observada em algumas tipologias já mencionadas que

incluem no diagnóstico da cultura organizacional, os rituais de punição e recompensa,

como elementos pertencentes à cultura organizacional, admitindo que estes elementos

fazem parte do cotidiano de relações entre os membros (PETTIGREW, 1996;

HANDY, 1994; WOOD JR., 2001; DEAL e KENEDY apud FLEURY e FICHER,

1996).

Como se pode observar em autores que já estudaram e desenvolveram

pesquisas empíricas sobre cultura organizacional, são inúmeras as variáveis que

podem refletir traços da cultura de um organização. Dependendo dos objetivos que se

tem com a pesquisa pode-se utilizar algumas das variáveis. Acredita-se que o que mais

interessa no diagnóstico da cultura organizacional é compreender que existem várias

visões sobre a cultura e que se deve ter o cuidado para não simplificar demasiadamente

o conceito e as suas variáveis para não pôr em risco os resultados da pesquisa.

Este trabalho trata de um estudo de caso, na realidade, ao estudar a

UNIOESTE, que é composta por vários campi, resultado da consolidação de quatro

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faculdades já existentes e totalmente distintas. E para diagnosticar a cultura

organizacional, neste caso específico, acredita-se que seja fundamental considerar o

contexto histórico que originou a cultura e a organização, assim como considerar a

cultura local de cada organização que participou do processo de consolidação. A

exemplo da influência da cultura nacional, também a cultura regional que cerca cada

organização envolvida pode ser importante para compreender as manifestações da

cultura na UNIOESTE e compreender as diferenças existentes entre os campi.

O que se pretende, com este estudo, é identificar semelhanças e diferenças na

cultura organizacional que se formou na UNIOESTE, a partir do processo de

consolidação, mostrando que o grupo constituiu uma homogeneidade dentro do

contexto histórico de relações entre as culturas diferentes de cada faculdade que

participou da consolidação, mas mostrar também que esse grupo também manteve suas

características individuais em cada campus.

Com isso, acredita-se ser possível evidenciar que a homogeneidade sugerida

pelos estudos organizacionais é tão importante no alcance dos objetivos

organizacionais como as diferenças, principalmente no caso de uma universidade

pública, que tem características muito particulares como organização profissional e

como instituição pública. Nesse contexto, a diversidade e ambigüidade existentes na

cultura organizacional podem representar também uma variável positiva no alcance

dos objetivos estratégicos da instituição.

2.2.7 Reflexo dos Processos de Consolidação na Cultura Organizacional

As decisões estratégicas estão passando pela análise da cultura organizacional,

pois muitos estudos têm comprovado que a cultura influencia o desempenho das

organizações. Embora alguns estudos coloquem em dúvida a utilização da cultura

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como variável, acreditando que a cultura não possa ser controlada ou dominada, outros

enfatizam os reflexos da cultura nos processos e decisões estratégicas, acreditando que

seja possível, embora difícil, mudar a cultura quando necessário para adaptá-la ao

contexto em que a organização está inserida.

Para muitos autores, a cultura pode ser administrável, sim, embora

reconheçam a dificuldade por tratar de elementos que estejam tão profundamente

enraizados nas pessoas (PETTIGREW, 1996; FLEURY e FICHER, 1996;

MINTZBERG et al., 2000; MINTZBERG e QUINN, 2001; O´REILLY, 1989). Para

esses autores, a influência do ambiente que cada vez mais provoca mudanças no

contexto externo (mercado, estado, indústrias) tem levado a alterações internas e isso

certamente influenciará na estrutura, nos sistemas internos, nas estratégias e também

na cultura das organizações. O que conseqüentemente leva os gestores a se

preocuparem cada vez mais em ajustar estratégia e cultura organizacional, para que

possam compreender o comportamento dos membros de sua organização e da própria

organização.

CUCHE (1999) afirma que as discussões sobre cultura no âmbito

organizacional se evidenciaram em decorrência das mudanças no ambiente de

empresas, entre elas, o aumento dos processos de fusões. A globalização, a

concorrência, as novas formas de emprego e trabalho, as novas relações inter-

organizacionais, as alianças entre governos e mercados, tudo isso tem forçado as

organizações a se adaptarem.

Essa adaptação leva a interpretar a administração da cultura como uma

simples variável de controle estratégico para muitas organizações. Muitos dos autores

ainda afirmam que através da cultura organizacional é possível obter maior

comprometimento dos membros da organização, através de inserções de valores e

normas que são incorporados ao grupo por meio de seus líderes (O´REILLY, 1989;

MINTZBERG e QUINN, 2001).

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No entanto, é possível admitir que a história da organização, entre outros

elementos, pode favorecer a interpretação da cultura organizacional como um processo

construído e consolidado pelos membros da organização e não necessariamente como

um instrumento dominado pela direção da empresa. Nessa perspectiva, tem-se outro

grupo de autores que se dedica a utilizar a cultura como metáfora na compreensão da

organização enquanto cultura que é construída e reconstruída pelos seus membros ao

longo da sua história (MORGAN, 1996; SCHEIN apud FLEURY e FICHER, 1996;

FREITAS, 1991; FREITAS, 2000B).

Nos casos de fusão, que representam um fenômeno recente, a cultura

organizacional tem se destacado como fundamental para o alcance do sucesso, pois o

confronto de culturas diferentes tem representado o principal entrave para a efetivação

das fusões (OLIVEIRA, 2000, IBORRA, 2002, ALBUQUERQUE, 2002,

SHINYASHIKI, 1995; KOTTER e HESKETT, 1994). Segundo SCHEIN (2002), o

maior problema nos processos de aquisição, em se tratando de cultura organizacional,

é que não há história compartilhada nas organizações envolvidas, cada qual teve sua

própria história, com seus líderes, fundadores, mitos e costumes. Isso leva a ambas

organizações a ficarem apreensivas umas com as outras, ficam na defensiva e

hostilizam a cultura diferente. O problema para o autor é que a organização não dá

atenção à sua cultura, nem à cultura da outra organização com quem se fusionou, e por

conseqüência não faz uma história conjunta, ou, pelo menos, demora para se dar conta

de que, querendo ou não, passarão a ter uma história a partir da consolidação.

ALBUQUERQUE (2001) recorda que tem havido uma tendência de fusões e

parcerias entre as empresas. O novo desafio que se faz é o de juntar grupos de pessoas

com histórico de crenças muito particular e diferenciado e fazê-las produzir bem.

Imagina-se o choque cultural que essas organizações têm.

Toda mudança na cultura organizacional começa com a mudança de crenças

implantadas a partir de momentos significativos e se efetiva com a adoção de novas

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crenças. No caso das fusões e parcerias, faz-se necessário um trabalho forte no sentido

de unir crenças diferentes. Como vimos, as crenças de um grupo, se efetivam a partir

de situações comuns ao grupo. Quando grupos diferentes se unem, os laços afetivos

devem ser trabalhados no sentido da descoberta do outro e das contribuições mútuas

que poderão se dar.

Muitas organizações começam a perceber uma grave conseqüência dessas

mudanças que é a perda da identidade da empresa. Os empregados que ficaram,

perderam a referência de quais crenças devem ser mais valorizadas. Ficou a impressão

que acreditar em determinados valores é algo que depende da conveniência do

momento. A dedicação do empregado começou a perder a importância uma vez que

ele vê que esse valor só é importante quando interessa ao ganho da empresa.

BARBOSA (1996, p. 16) não acredita numa cultura organizacional mas numa

cultura influenciada pela cultura nacional, pelo contexto social, político e econômico

nacionais, pois as empresas estão dentro desse contexto maior, portanto condicionadas

a esta cultura. A Administração segundo essa autora, “está sujeita aos valores,

princípios e tradições de uma determinada sociedade que são atualizados, também, em

suas práticas e políticas administrativas”.

Assim pode-se dizer, a partir da interpretação dessa autora que em casos de

fusões e consolidações a influência da sociedade na cultura organizacional da empresa

que se forma será o elemento fundamental e irá determinar os valores e crenças que se

constituem no comportamento dos membros da organização. E em se tratando de

consolidações ou fusões de empresas de cidades diferentes, embora no mesmo país,

mas com diferenças culturais destacadas, poderá ocorrer a constituição de uma cultura

heterogênea. No caso da UNIOESTE talvez isso possa ser confirmado, pois a

formação tanto étnica, como política e econômica podem ser diferentes nas cidades

onde foram fundadas as organizações que vieram mais tarde a constituir essa

instituição.

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Na seção 2.3, serão destacadas as características da UNIOESTE, como

organização pública e como organização profissional, na visão de MINZTBERG

(2001), entre outros autores, para esclarecer a natureza das características culturais

provenientes do tipo de organização e o que representa os reflexos da fusão das quatro

faculdades levaram à consolidação da UNIOESTE, considerando-se algumas

observações conclusivas para este estudo de caso. Antes porém, expõe-se, no capítulo

que segue, a metodologia utilizada nesta pesquisa, justificando a escolha do estudo de

caso como estratégia de pesquisa, assim como alertando para as ressalvas sobre as

técnicas de coleta e análise de dados.

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2.3 CONTEXTO DA PESQUISA: UNIVERSIDADES PÚBLICAS

Embora as abordagens da cultura organizacional se refiram normalmente a

todos os tipos de organização, é válido destacar o contexto em que está inserida a

UNIOESTE, pois esse contexto traz características da cultura do serviço público e de

universidade o que, na classificação de MINTZBERG (2001), é um organização do

tipo profissional. Assim, ao apresentar o contexto da UNIOESTE como universidade

pública, será possível observar algumas características culturais que são reflexo do seu

contexto, e que, portanto, não poderiam ser diferentes, mesmo considerando o impacto

de uma mudança drástica como foi a fusão.

2.3.1 Universidade Pública, uma Organização Profissional

As universidades segundo DRUCKER (1987), fazem parte de um tipo de

organização que se assemelha muito a algumas instituições de serviço e, por isso,

mantém algumas semelhanças com relação às demais organizações, principalmente no

que diz respeito à administração, o que as leva a se comportar de maneira também

semelhante. Esse autor acredita que as instituições de serviço público, embora nem

sempre objetivem o lucro, também sofrem pressões seja da comunidade ou do governo

e, por essa razão, devem investir e empreender em estratégias alternativas para que

sobrevivam e não fracassem. Assim, os elementos que formatarão a cultura de

universidade como instituição pública são semelhantes em alguns aspectos aos de uma

organização privada como a normatização e as relações hierárquicas, e muito distintos

em outros aspectos como o tipo de influência externa e as relações internas de busca

pelo poder.

MOTTA (1990) acredita que há fatores que interferem no comportamento da

organização pública, que está inserida num ambiente competitivo e precisa promover seu

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crescimento e desenvolvimento organizacional. Entretanto, relata esse autor, esse tipo de

organização não se baseia na competição, mas sim na concretização de objetivos sociais que

justificam sua existência no ambiente em que opera. Os fins da organização pública

apresentam um diferencial importante na consolidação da cultura organizacional desse tipo de

organização, o fato de não se basear na competição externa.

CHAUÍ (1999) descreve a universidade como um reflexo da Reforma do

Estado, que visava, através de várias reformas do ensino, adequar a universidade

brasileira ao mercado, lembrando que originalmente as universidades eram instituições

sociais, com um papel importante na sociedade.

Ora, desde seu surgimento (no século XIII europeu), a universidade sempre foi umainstituição social, isto é, uma ação social fundada no reconhecimento público de sualegitimidade e de suas atribuições, num princípio de diferenciação, que lhe confereautonomia perante outras instituições sociais, e estruturada por ordenamentos, regras, normase valores de reconhecimento e legitimidade internos a ela (CHAUÍ, 1999, p. 217).

No entanto, a mesma autora relata que as universidades passaram com o

tempo a serem tratadas como organizações administradas, passando a se preocupar

muito com o cumprimento das normas burocráticas e perdendo a sua autonomia

enquanto instituição social.

(...) a idéia de autonomia (...) buscava não só garantir que a universidade pública fosse regidapor suas próprias normas, democraticamente instituídas por seus órgãos representativos, masvisava ainda, assegurar critérios acadêmicos para a vida acadêmica e independência paradefinir a relação com a sociedade e com o Estado. (...) Ao ser, porém, transformada numaorganização administrada, a universidade pública perde a idéia e a prática da autonomia, poisesta, agora, se reduz à gestão de receitas e despesas, de acordo com o contrato de gestão peloqual o Estado estabelece metas e indicadores de desempenho, que determinam a renovaçãoou não do novo contrato (CHAUÍ, 1999, p. 216).

Sobre as influências externas, MORGAN (1996) destaca as organizações

políticas, nas quais incluem-se as universidades, em decorrência da pressão externa e

interna, são cercadas de conflitos. Esse autor acredita que algumas características que

são freqüentes nas organizações podem se tornar parte da sua cultura organizacional.

Nesse caso, os conflitos que decorrem da interdependência entre os setores.

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Também TRIGUEIRO (1999) apresenta a influência dos fatores externos na

gestão das universidades, alertando que muitas vezes esses fatores influenciam nos

fatores internos da organização que transmite influências externas em sua rotina, sua

estrutura e comportamento. Assim como MINTZBERG (2001) destaca que as pressões

internas e externas são peculiaridades das organizações profissionais, entre as quais as

universidades, que formatam a sua estrutura e o seu comportamento.

As organizações profissionais também podem ser compreendidas como

organizações de consentimento, porque nesse tipo de organização, o contrato

psicológico entre o indivíduo e a organização é implícito e leva em consideração que a

pessoa,

(...) vê a si mesma como uma pessoa de valor, que a organização deve tratar com carinho,não apenas um recurso do qual dispor. Ela é um indivíduo, com personalidade, com desejose direitos individuais que a organização precisa respeitar. O contrato também inclui algumascrenças profundas sobre a maneira como as pessoas devem se relacionar umas com as outras.A hierarquia é ruim. A discussão é boa (HANDY, 1994, p. 205).

Observa-se que todos os autores mencionados acima destacam algumas

características da universidade pública como fundamentais para explicar o seu

comportamento, como sua estrutura, sua finalidade como órgão público, o tipo de

pressão externa, o envolvimento político, a autonomia profissional interna, a

burocracia do serviço público, e as expectativas da comunidade. Todos esses

elementos irão definir a cultura da organização universitária.

MINTZBERG (2001, p. 271) também realça muitas dessas características

quando retrata as universidades como organizações profissionais, e, nesse sentido esse

autor complementa as possibilidades de análise já mencionadas até aqui. Ao classificar

as universidades como organizações profissionais, o autor se refere a organizações que

se valem de especialistas para realizar o trabalho, nesse caso, os professores.

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FIGURA 3 – ESTRUTURA DA ORGANIZAÇÃO PROFISSIONAL

Fonte: MINTZBERG, H., 2001, p. 153.

Portanto, na estrutura desse tipo de organização, o poder de decisões

operacionais e estratégicas “flui hierarquia abaixo”, uma vez que os trabalhadores

atuam de forma independente, o que leva a unidades de tamanho grande assim como

staffs de suporte também grandes para oferecer apoio a essas unidades.

A figura 3 representa uma forma burocrática de funcionamento no que diz

respeito à padronização de habilidades dos profissionais e não dos processos de

trabalho. Assim, no ápice da figura, está a “atração para a liderança” que é pequena,

com pequena “atração para seccionar” e muita “atração para profissionalizar”, como

mostra a base da figura. A forma da figura que representa a “atração para racionalizar”

também é pequena enquanto que a “atração para colaborar” se evidencia. Sendo assim

o principal mecanismo de coordenação desse tipo de organização, que inclui as

universidades, é a padronização de habilidades profissionais tornando a essência

profissional a parte-chave da organização. Outra característica marcante nas

organizações profissionais é a descentralização horizontal, ou seja, os profissionais

atuam com muita liberdade de ação.

As universidades, como é possível observar nas várias caracterizações, têm

certas particularidades estruturais e por isso também têm as suas decisões e o

comportamento de seus membros influenciados pela estrutura. A esse respeito,

MINTZBERG (2001), destaca três níveis de tomada de decisão na organização

liderar

seccionar

profissionalizar

colaborarracionalizar

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profissional (Figura 4), que são as decisões tomadas pelo julgamento profissional

(baseadas nas necessidades dos usuários, das afiliações profissionais e agências

subsidiárias), as decisões tomadas por ordem administrativa (influenciadas pelo

governo, pelas afiliações políticas, necessidades do ramo de negócios, pelo público

alvo e pelo investimento de doadores) e as decisões tomadas por escolha coletiva (com

forte influência dos clientes e das necessidades sócio-econômicas que funcionam como

moderadores dos interesses coletivos e individuais.

FIGURA 4 –TOMADA DE DECISÃO NA ORGANIZAÇÃO PROFISSIONAL

Fonte: MINTZBERG, H., 2001, p. 278.

MINTZBERG (2001) acredita que a característica mais evidente nas

organizações profissionais é a padronização das decisões e estratégias que se

constituem ao longo do tempo. Essa padronização se dá em decorrência dos vários

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níveis de decisão citados acima. Individualmente, os profissionais influenciam,

chegando a controlar a elaboração da missão básica da organização.

Outras áreas importantes da estratégia são controladas pelas outras esferas,

coletiva e administrativa, entre elas incluem os inputs ao sistema (escolha de

profissionais, determinação de clientes, levantamento de fundos externos), os meios

para desempenhar a missão (a construção de prédios e instalações, a compra de

pesquisa, de equipamentos), a estrutura e as formas de governança (design do sistema,

hierarquias) e os vários meios de apoio à missão. Apesar da abordagem desse autor

voltar-se à formação de estratégias, pode-se observar no comportamento dos membros

desse tipo organização, a influência que determinados grupos exercem sobre a

universidade, sobre as decisões que serão tomadas.

2.3.2 Diferença entre as Categorias Professor e Técnico-administrativo

A figura 4 mostra que muitas das decisões estratégicas se dão nos três níveis.

Individualmente, por exemplo, os profissionais de uma universidade (os docentes)

decidem ou detém certo controle sobre o que é ensinado e como ensinar, assim como o

que é pesquisado e como pesquisar. Assim, a estratégia geral da universidade deve ser

vista como o complexo do ensino individual e as posturas de todo seu pessoal. Mas

essas decisões estão sob controle individual, em decorrência da especialização

profissional que assegura e respalda tais decisões, que normalmente são aceitas no

meio profissional. Portanto, o termo julgamento profissional é usado por

MINTZBERG (2001) como uma forma de escolha baseada em julgamentos

informados e, “enormemente”, influenciados por treinamento ou especialização

profissional e afiliação.

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Já as decisões de ordem administrativa correspondem a uma certa burocracia

convencional, através da supervisão direta e da designação de padrões internos (regras,

descrições de cargo, políticas). Muitos serviços de suporte também tornam-se de

responsabilidade administrativa por serem impostos de cima para baixo, como

assessorias, secretarias, etc. E, ainda como atribuição administrativa, poderá estar a

determinação dos procedimentos pelos quais o processo coletivo funciona, quais

comissões existem, quem é nomeado para elas, etc. Além disso, em tempos de crise, os

administradores poderão adquirir poderes mais extensos à medida em que os

profissionais se tornarem mais inclinados a transferir à liderança a solução das

questões .

As decisões de escolha coletiva são tomadas através de processos interativos

que combinam profissionais com administradores de uma série de níveis e unidades.

Podem fazer parte desse nível as decisões que dizem respeito aos serviços de suporte

mais críticos como biblioteca ou computadores nas universidades. Mas, segundo

MINTZBERG (2001, p. 278), “entre as decisões mais importantes deste nível parecem

estar aquelas relacionadas à definição, à criação, ao design e à descontinuação de

casulos, isto é, programas de departamentos de vários tipos”. Isso mostra a contradição

entre o individualismo e o coletivo, característica da cultura brasileira destacada por

FREITAS (1997) e MOTTA (1997) como uma forte influência nas culturas de

organizações brasileiras.

Fechando o círculo dos três níveis de decisões, MINTZBERG (2001) sintetiza

da seguinte forma: a tomada de decisões envolve três fases, a identificação da

necessidade de decisão, o que geralmente ocorre no nível individual, o

desenvolvimento de soluções que envolve muitas vezes o mesmo indivíduo mas

também esforços coletivos, e a seleção de uma das decisões que tende a ser um

processo inteiramente coletivo. E é “nesta fase que se torna possível verificar o

impacto da complexidade de ajuste mútuo na administração das organizações

profissionais” (MINTZBERG, 2001, p. 279).

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BALDRIDGE apud SACHUK (1991) descreve as organizações universitárias

como organizações que geralmente têm metas vagas e ambíguas em decorrência do

alto grau de incerteza e conflito gerado pela diferença que normalmente ocorre entre

interesses individuais e coletivos. Estas características são também descritas por

MINTZBERG (2001) que as relaciona com a estrutura e a forma de tomada de decisão

das organizações profissionais.

BALDRIDGE apud SACHUK (1991) acredita que as universidades se

caracterizam pelo alto grau de profissionalismo dos funcionários e professores que

contrapõem a burocracia e alto grau de vulnerabilidade ao ambiente, o que poderá se

refletir no comportamento organizacional, tanto como na gestão organizacional como

no relacionamento de seus membros, interferindo nas normas, costumes, valores que

representam a base da cultura de uma organização. Esse autor ressalta ainda que a

estrutura social da organização acadêmica é fragmentada em grupo de interesses

distintos, tornando o conflito algo normal.

Pode-se dizer, portanto, que o conflito entre categorias de servidores técnico-

administrativos e docentes decorre da diferença de interesses, e das diferenças de

atuação dentro da organização. Os funcionários estão subordinados a uma hierarquia

mais evidente, seguindo normas e procedimentos burocráticos, enquanto que os

docentes estão no nível de perícia profissional, com maior liberdade de ação

individual. Considerando-se também a diferença de interesses entre as categorias, uns

com plano de carreira definido, assumindo cargos técnicos em determinados

momentos, e outros com interesses voltados ao crescimento intelectual, formação

acadêmica, aquisição de status individual como docentes e pesquisadores

(TRIGUEIRO, 1999).

HANDY (1994) também menciona que, nas organizações profissionais as

partes burocráticas e administrativas, ficam culturalmente subordinadas às partes

profissionais. Essa divisão surge da necessidade que os profissionais têm de que outras

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pessoas façam a parte burocrática do trabalho. Isso poderia explicar o rompimento

entre categorias técnico-administrativos e docentes nas universidades.

2.3.3 O Comprometimento

Já nas escolhas coletivas, há vários outros elementos que descrevem as

universidades: primeiro, há de se considerar que, no modelo colegiado, os interesses

comuns predominam no comportamento e atitude dos participantes quando tomam as

decisões, e, no modelo político, há a predominância do auto-interesse (do indivíduo ou

da sua unidade) que conduz à tomada de decisões, embora nem um nem outro

prevaleça o tempo todo. Em segundo lugar, há duas forças que pressionam as decisões:

uma é o processo de Lata de Lixo, que sugere um tipo de desinteresse na tomada de

decisões, ou seja, os indivíduos participam das escolhas coletivas por estarem no grupo

mas sem interesse, e muitas vezes nem mesmo compreendem as escolhas que estão

fazendo ou negando. Outra força que influencia na tomada de decisões nas

universidades é o Processo de Análise através de cálculos para selecionar e avaliar as

decisões diferentes, o que pode representar um avanço para que as escolhas sejam um

pouco mais racionalizadas, servindo “como se fosse uma tampa em cima da lata de

lixo, por assim dizer”.

A respeito do comprometimento e da integração entre as unidades

organizacionais, MORGAN (1996) descreve as razões porque surgem os conflitos nas

organizações vistas como sistemas políticos, como é o caso das universidades.

(...) as tensões desintegradoras que brotam dos diversos conjuntos de interesses sobre osquais a organização se estrutura. Por causa dessas tensões, a viabilidade de um alto grau deintegração e compromisso com a sobrevivência do todo é altamente problemática, em funçãodo grau de dependência recíproca entre as pessoas e unidades que formam a organização.Muitas organizações têm características menos rígidos, em que partes semi-autônomas lutampara manter o grau de independência, embora trabalhem sob a égide e a estrutura oferecidapela organização. Universidades, com os seus vários departamentos ligados todos eles por

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objetivos gerais relacionados com educação e pesquisa, são bons exemplos (MORGAN,1996, p. 201).

Assim, pode-se afirmar que a estrutura das organizações universitárias, pela

sua complexidade e pelo seu caráter profissional, influenciam no grau de

comprometimento e de integração dos seus membros, características que são

incorporadas na cultura organizacional.

SACHUK (1991) destaca como característica das universidades o formalismo

que irá interferir no comportamento dos indivíduos e no seu comprometimento com a

organização. Segundo essa autora, o formalismo decorre do dualismo existente nas

universidades e apresenta duas características principais:

a) a heterogeneidade, que seria o dualismo entre o novo e o velho, o bom e o

ruim, que se confirma numa mistura de atitudes, práticas e situações; no

caso de universidades, essa autora exemplifica a utilização de métodos de

ensino, equipamentos e materiais didáticos ultrapassados para formar

profissionais dirigidos a um mercado de trabalho cuja expectativa é

igualar-se aos mercados avançados em termos de qualidade tecnológica;

b) a superposição que consiste no exercício cumulativo de funções diferentes

por uma mesma unidade social e a forma mais comum de superposição é o

nepotismo. Nas universidades, as trocas de gestão são freqüentes e a cada

mudança, grupos de interesse são instalados na universidade e a lealdade

passa a ser mais importante do que a competência profissional. Daí

decorrem também o jeitinho brasileiro, o nepotismo, o populismo, a troca

de favores já mencionados como características da cultura brasileira.

Também MINTZBERG (1995) apresenta algumas características da cultura

organizacional das universidades, confrontando os profissionais e os administradores,

que exercem as funções administrativas:

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Ironicamente, o profissional torna-se dependente do administrador eficaz. O profissionalenfrenta um dilema fundamental. Freqüentemente, ele abomina a administração, desejandoser deixado só a fim de exercer sua profissão. (...) Seja o caso do professor universitáriovoltado para a pesquisa. Com o fim de conseguir o máximo de apoio para a pesquisa em seudepartamento, ele deveria se envolver em comissões onde são decididas questões tais comodirecionamento para o ensino versus para a pesquisa. (...) O que adianta gastar horas e horasdefendendo aquilo que não se tem tempo para fazer? Assim o professor é tentado a deixar aadministração para o administrador tempo integral, para aqueles que têm mostrado falta deinteresse pela pesquisa em virtude de terem procurado o ofício administrativo. (...) O podernestas estruturas flui para aqueles profissionais que cuidam do devotado esforço deadministrar em lugar do trabalho profissional, especialmente para aqueles que o executambem. Isso, porém, deve ser estressante, pois não é um poder laissez faire. O administradorprofissional conserva seu poder somente até quando os profissionais o percebem comoservindo eficazmente a seus interesses (Mintzberg, 1995, p. 198).

2.3.4 O Individual e o Coletivo

Outro aspecto que merece destaque nas universidades como organizações

profissionais é que várias pessoas tomam decisões e fazem parte da formação de

estratégias, as quais muitas vezes são fragmentadas, pois cada indivíduo ou grupo

persegue suas próprias estratégias. Mas há também uma tendência à ideologia, que

sustenta uma cultura forte justamente pela dinâmica coletiva e isso estimula a coesão

tanto no grupo, como nos processos e nas estratégias.

É interessante avaliar o resultado dessas duas forças, pois nos níveis menores

(unidades ou individuais) as mudanças são propícias, uma vez que há uma liberdade

maior para inovar e mudar, mas nos níveis maiores há uma tendência a estabilidade em

decorrência da unidade coletiva.

HANDY (1994) afirma que nas organizações profissionais,

(...) o indivíduo acredita ter o seu próprio e valioso papel a representar e ninguém quer fazero papel de outra pessoa por ela. Mas as decisões importantes, o direito de instituirprocedimentos, começar coisas, parar coisas ou mudar coisas importantes deve estar expostoao possível desacordo antes da implementação. Os indivíduos podem não querer se envolver,mas eles querem ser consultados. Eles querem estar sem grilhões, mas não querem passar

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desapercebidos. O parecer da minoria pode jamais ser implantado, no entanto tem que serouvido (ibid., p. 205).

Essa constatação é abordada também por BALDRIDGE et al. apud SACHUK

(1991) quando destaca que somente um ou alguns grupos das organizações

profissionais participam na ação do processo decisório, mas nem todos os envolvidos

participam do processo, preferindo que os administradores desenvolvam a estruturação

das políticas da organização, o que provoca elitização das decisões.

2.3.5 Inovação e Flexibilidade versus Padronização

A conclusão de MINTZBERG (2001) sobre as estratégias nas universidades é de que

as estratégias tendem a seguir um padrão ao longo do tempo, mesmo envolvendo os três

níveis de tomada de decisões e, por isso, gera uma grande quantidade de estratégias. Esse

autor acredita que a padronização de habilidades (ensino, pesquisa, extensão, etc.) encoraja a

padronização estratégica. Os indivíduos e os grupos tendem a agir sempre dentro desse

círculo apresentado na figura 4 (página 88). E até mesmo a política que, no geral encoraja a

negociação e o conflito, conduz a uma resistência a mudanças drásticas, persistindo a idéia de

padronização.

Da mesma forma, MOTTA (1990) destaca que a eficácia das organizações

depende de sua capacidade de adaptação e de resposta rápida às novas demandas. Mas

as organizações públicas não são avaliadas pelos critérios de mercado e têm

dificuldades de justificar mudanças repentinas, devendo normalmente, deixar

transparecer continuidade, coerência e estabilidade.

Para HANDY (1994), as pessoas que atuam em organizações profissionais

preferem que seus contratos de trabalho sejam baseados no trabalho feito e não no

tempo gasto, o que permite ao indivíduo controlar seu próprio tempo e esforço dentro

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dos prazos gerais. Ao contrário dos contratos pelo tempo gasto, que será visto pelos

profissionais como prescrição, controle, manipulação.

Da mesma forma, os profissionais preferem executar boa parte do seu trabalho

no ambiente externo à organização, assim, nas universidades, os professores acham

mais fácil e produtivo fazer boa parte do seu trabalho em casa ou num local distante da

organização principal. Outra característica cultural desse tipo de organização é que os

profissionais têm a liberdade de trabalhar para mais de uma organização ao mesmo

tempo, caracterizando outro aspecto da flexibilidade.

2.3.6 Influências Internas e Externas

TRIGUEIRO (1999) considera as universidades como parte de um setor

privilegiado na sociedade, que envolve diversos interesses políticos municipais,

estaduais, federais, além dos interesses do comércio e economia locais, pois sua

atuação envolverá recursos que serão negociados e os seus resultados responderão a

um mercado local e regional, tanto no que diz respeito a retornos financeiros para o

local onde está instalada, quanto nos retornos sociais e políticos. Além da influência

que pode ter sobre o setor produtivo, apresentando possibilidades de articulação,

parcerias, que se abrem a partir dos novos conhecimentos advindos das universidades.

De acordo com TRIGUEIRO (1999), em termos esquemáticos, a estrutura

organizacional compreende uma formalização, uma centralização e uma

complexidade, além da complexidade de infra-estrutura, que inclui recursos humanos,

materiais, físicos e financeiros. A formalização refere-se a todo o sistema normativo

externo, aos regulamentos, às regras de promoção, aos planos de cargos e salários, às

definições das tarefas e aos limites do exercício da autoridade, em seus diferentes

níveis, bem como às sanções. A centralização de poder se refere à concentração do

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poder na estrutura hierárquica. A complexidade da infra-estrutura refere-se à

diferenciação interna da organização, compreendendo a: 1) diferenciação horizontal,

ou subdivisão de tarefas, desempenhadas pela organização, entre seus membros; 2)

diferenciação vertical ou hierárquica, que seria a medida da estratificação de uma

organização; e 3) dispersão espacial, ou forma de diferenciação horizontal ou vertical,

que designa o afastamento geográfico de tarefas, setores ou atividades dos centros de

tomada de decisão ou da realização das ações essenciais na organização.

As universidades são cercadas por pressões internas e externas como se

mostrou até aqui (TRIGUEIRO, 1999; MINTZBERG, 2001). Também ARGUIN apud

RIBANADI (2001) afirma que as forças externas podem, através de quatro elementos,

interferir na organização. No âmbito econômico, com questões ligadas ao emprego,

inflação, consumo entre outros; no sociológico, que reflete valores, novos estilos de

vida; no tecnológico, que diz respeito ao desenvolvimento tecnológico, automação,

telecomunicações; e, no âmbito político, com questões relacionadas à legislação,

regulamentações governamentais, grupos de pressão, entre outros.

2.3.7 Jogos Políticos e de Poder

Até o momento analisaram-se as universidades como organizações

profissionais, no entanto há outras formas de interpretar o comportamento das

organizações universitárias. Mintzberg et al. (2000) e Morgan (1996) abordam as

organizações políticas como aquelas compostas por conflitos internos e externos, que

geralmente ocorrem em busca de poder, por isso, é preciso compreender como se dão

os conflitos para administrá-los. Há muitas diferenças na forma de distribuição interna

do poder e dos processos decisórios, bem como na cultura interna, nos seus valores,

rituais, atitudes e expectativas de seus membros, o que leva a uma série de estruturas e

configurações universitárias que têm sido identificadas pelos estudiosos da área.

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CUNHA apud RINALDI (2001) a esse respeito, considera que as

organizações universitárias além de serem formadas por profissionais especializados

possuem alto grau de corporativismo, o que leva à formação de grupos e alianças

políticas que interferem nas decisões estratégicas, tornando incrementais as decisões

estratégicas porque normalmente ocorrem em resposta a crises.

E, por sua estrutura de decisões estar diretamente influenciada através dos

cargos de confiança, que mudam a cada período de gestão, estão presentes com muita

influência os jogos políticos, que podem ser encarados como positivos ou negativos.

MINTZBERG (2001) destaca as características positivas da política, relatando que é

através da política que surgem discussões e que os vários pontos de vista de uma

questão podem ser debatidos.

MORGAN (1996) apresenta, entre as várias imagens da organização, a organização

vista como sistemas políticos, busca definir o conceito de política a partir das suas raízes

filosóficas, mais especificamente em Aristóteles que propunha a política como um “meio de

reconciliar a necessidade de unidade da polis grega (cidade-estado), com o fato de que esta

polis era um agregado de muitos membros” (MORGAN, 1996, p. 146). Esse autor esclarece

que, na visão de Aristóteles, a política ofereceu meios para criar ordem na diversidade,

enquanto evitava formas totalitárias. A partir da ciência política, muitos sistemas de governo

defendiam que a política, o reconhecimento e o intercâmbio de interesses conflitantes

implícitos na política são todos meios de se criar uma forma de ordem social coercitiva.

A definição de política em MINTZBERG (2000) também atribui à ciência política as

raízes do conceito, embora deixe clara sua intenção com o uso do termo.

Usamos aqui a palavra poder para descrever o exercício de influência além da puramenteeconômica (a qual inclui poder econômico usado além da concorrência convencional nomercado). Isto aproxima-o da política, um termo que usamos de forma um tanto ampla nestecapítulo. (...), então o rótulo “político” pode ser usado para um comportamento que, dessamaneira, não é legítimo. Em outras palavras, ele é ilegítimo (isto é, não expressamentepolítico). Assim política torna-se sinônimo de exploração do poder de maneira que não sejapuramente econômica (MINTZBERG, 2000, p. 174).

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MINTZBERG (2000) deixa claro as duas orientações da sua abordagem: uma,

refere-se ao micropoder onde o desenvolvimento de estratégias no interior da

organização é visto como essencialmente político, um processo que envolve

negociação, persuasão e confronto entre as pessoas ou coalizões que partilham o

poder; e, outra, referindo-se ao macropoder que vê a organização, usando o seu poder

sobre os outros e entre os seus parceiros em alianças, joint-ventures e outras relações

de rede para negociar estratégias coletivas.

Esse autor observa as duas formas possíveis de exercer influência: os tipos

legítimos de influência, isto é, legalmente aprovados (autoridade, ideologia, expertise-

perícia) e a forma alegítima de influência com o uso da política, uma forma de

influência que ocorre não por meios legais, mas por negociações. E nas universidades

podem ser vistas as duas formas de influência, a legítima constante em qualquer tipo

de organização por representar as formas legais de autoridade, e por ser possível

visualizar a perícia profissional do professor que por deter este conhecimento detém a

influência legal em alguns aspectos pedagógicos sobre os demais funcionários. Vê-se

também a influência alegítima, na forma de alianças internas na busca de poder e de

vantagens pessoais e profissionais, principalmente pela razão exposta anteriormente, a

constante troca de cargos administrativos e a indicação de pessoas para os cargos de

confiança.

MORGAN (1996) aborda as formas de poder nas organizações vistas como

sistemas políticos. Segundo este autor, são várias as fontes de poder entre as quais

estão o controle de recursos escassos, o uso da estrutura, de regras e normas, o controle

do processo de tomada de decisões, o controle dos limites da organização, a habilidade

de lidar com incertezas, o controle de tecnologias, as alianças interpessoais e redes de

controle informal, os simbolismos e administração do significado, o poder que já se

tem. Dessas fontes de poder surgem conflitos diversos dentro da organização na busca

de poder, ao que MINTZBERG (2000) chama de jogos de poder.

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MINTZBERG (2000, p. 176) destaca alguns exemplos de jogos políticos em

organizações, os quais podem geralmente ser encontrados em universidades públicas:

a) jogo da insurgência: resistir à autoridade;

b) jogo da contra-insurgência: reação daqueles que detêm a autoridade (talvez

de forma legítima);

c) jogo do patrocínio: ligação com autoridades, prometendo lealdade em troca

de poder;

d) jogo da formação de alianças: entre pares, buscam apoio mútuo para

construir bases de poder, visando avanços na organização;

e) jogo da construção de impérios: jogado entre gerentes com subordinados

para construir bases de poder;

f) jogo da orçamentação: jogado de forma aberta, com regras para construir

bases de poder, mas o prêmio é em recursos e não em posições;

g) jogo de perícia: uso não autorizado da perícia para construir base de poder,

ostentando-a ou ocultando-a;

h) jogo do domínio: uso do poder legítimo de forma alegítima sobre quem

tem menos poder para construir base de poder;

i) jogo de linha versus assessoria: rivalidade entre pares, para ampliar o poder

pessoal ou derrotar o rival;

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j) jogo de lados rivais: para derrotar o rival, ocorre tipicamente quando o

jogos de alianças ou de construção de impérios resultam em dois grandes

blocos de poder;

k) jogo de candidatos estratégicos: para efetuar mudanças em uma

organização, indivíduos ou grupos buscam promover, através de meios

políticos, as mudanças de natureza estratégica que preferem;

l) jogo de soprar o apito: normalmente breve e simples, um membro interno

(normalmente sem poder) utiliza informações privilegiadas para soprar o

apito para um elemento externo à organização e influente sobre

comportamento questionável ou ilegal por parte da organização;

m) jogo de fofoqueiros: quando um pequeno grupo de fofoqueiros, próximos

ao centro do poder, mas não pertencente a ele, procura reorientar a

estratégia básica da organização, deslocar uma parte importante do seu

conhecimento essencial, substituir sua cultura ou livrá-la da sua liderança.

Pode-se perceber que são várias as formas de influência nas universidades

públicas e, como relata MINTZBERG (2000), os jogos são encontrados em muitos

tipos de organização com maior ou menor freqüência. No caso das universidades

públicas, pode-se atribuir à presença da política o fato de que sofrem pressões externas

que precisam atender, mesmo que seja somente por razões políticas, para manter a

ordem interna. Também há o fato de que nas universidades púbicas, apesar de haver a

indicação através de eleições para os representantes dos cargos maiores como reitores

e diretores, o governo interfere podendo aceitar ou não as indicações dos membros da

universidade, por tratar-se de cargos de confiança do governo. Isso gera uma série de

conseqüências que passam pelos jogos citados acima e chegam a afetar a cultura da

universidade com valores de descrença na organização, falta de comprometimento e

dedicação, comodismo e subordinação.

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A esse respeito, MORGAN (1996, p. 163) afirma que “não raro muitos

conflitos organizacionais se tornam institucionalizados, configurando atitudes,

estereótipos, valores, crenças, rituais e outros aspectos da cultura organizacional”.

Entretanto há outras razões que explicam o porquê de as organizações

poderem ser consideradas políticas. Esse mesmo autor esclarece que nas organizações

há diferenças de interesses que geram conflitos. E estes normalmente precisam ser

resolvidos ou estimulados através da negociação. A política ou a atividade política é

geralmente conflitante e divisória, instigando indivíduos e grupos contra os sistemas

legítimos de influência ou, quando estes sistemas são fracos, uns contra os outros

segundo MINZTBERG (2001).

Mas a política pode ser positivamente utilizada na organização, e pode

representar um papel importante no ambiente organizacional. Muitos problemas

surgem a partir de jogos políticos, no entanto há momentos em que a política tem um

papel positivo: ao surgir para corrigir certas deficiências em outros sistemas legítimos

de poder ou de influência. Pode-se citar o papel positivo da política:

a) a política como sistema de influência pode agir para assegurar que os

membros fortes de uma organização assumam a liderança, tornando

possível uma participação mais ativa nas decisões do que se outros

membros que não tivessem força estivessem nestas posições;

b) a política pode assegurar que todos os lados de uma questão sejam

totalmente discutidos e debatidos;

c) o sistema de política é muitas vezes obrigado a estimular mudanças

necessárias bloqueadas pelos sistemas legítimos;

d) o sistema de política pode facilitar o caminho para a execução de decisões.

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102

102

E ainda acrescenta-se que a organização constantemente encontra-se em

conflitos e a política inevitavelmente é utilizada pelos vários lados do conflito

colocando a todos nesse contexto de negociação, tanto internamente como citado

acima quanto externamente quando a empresa se defronta com concorrentes, quando

pensa a estratégia, quando busca recursos, negocia com fornecedores ou com entidades

governamentais. É esse o contexto que se verifica nas universidades públicas

brasileiras, cercado por conflitos internos e externos, seja para propiciar negociações

ou para transpô-las.

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3 METODOLOGIA

Através deste estudo de caso objetivou-se descrever as conseqüências do

processo de fusão/consolidação de quatro faculdades na cultura organizacional da

UNIOESTE, instituição resultante desse processo. São várias as sugestões sobre quais

as metodologias e técnicas utilizar neste tipo de estudo. A pesquisa qualitativa, que

caracteriza este estudo, é a mais usual na investigação de questões que envolvem um

fenômeno abrangente, como fusões, e também para investigar questões subjetivas

contidas na análise de culturas organizacionais.

O conhecimento produzido na pesquisa qualitativa, segundo CASSEL e

SYMON (1994), é para ser considerado formalmente nem verdadeiro nem falso, pois

não pressupõe generalização dos resultados obtidos. Mas deve sim ser considerado

como significativo para seus usuários em seu contexto de uso, devido à profundidade

com que são tratados os fenômenos, assim como é possível apreender elementos

subjetivos nas explicações dos mesmos.

Outro destaque à pesquisa qualitativa que é fundamentada na fenomenologia é

apontado por ALVES (1994) que afirma estar no senso comum o início das

investigações fenomenológicas. Ou seja, o pesquisador busca no senso comum a

compreensão do fenômeno, a partir da interpretação dos atores. No entanto, não é

objetivo do pesquisador revelar os equívocos do senso comum, mas a partir dele ver o

fenômeno como este é visto pelos atores sociais. “A aprendizagem é um processo

progressivo do senso comum. Só podemos ensinar e aprender partindo do senso

comum” (ALVES, 1994, p. 12).

Também GIDDENS (1989, p. 284) menciona a importância do senso comum

na pesquisa em ciências sociais, pois “as convicções do senso comum são um produto

organizado dos atos humanos, são a própria base da constituição desse mundo”. Para a

fenomenologia, o pesquisador ao estudar a realidade social terá que captar as coisas do

cotidiano, coisas que estruturam a vida do ator social, o seu estoque de conhecimento a

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que SCHUTZ (1979) denomina de construtos de primeiro e segundo grau. O senso

comum é aquilo que dá ao pesquisador o construto de primeiro grau, os construtos de

segundo grau correspondem à teoria que é construída pelo pesquisador com base

nesse senso comum.

O pesquisador deverá entender o significado que os atores sociais dão às suas

ações (dos atores sociais) para poder entender o contexto do fenômeno. Essa

compreensão baseia-se na racionalidade, no conhecimento crítico, na reflexividade que

o ator social tem de si mesmo. É essa compreensão que vai levar o pesquisador a

entender os atores sociais e a produzir uma teoria sobre a realidade estudada, sobre o

fenômeno.

Todavia a pesquisa qualitativa abrange uma análise muito complexa, sendo

mais indicada ao estudo de fenômenos sociais amplos. Este tipo de pesquisa

fundamenta e serve de base para outras estratégias de pesquisa como o estudo de caso

(Yin, 2001). Portanto, o que melhor caracteriza este estudo é a estratégia do estudo de

caso, por apresentar procedimentos e técnicas apropriados ao estudo organizacional

conforme destaca-se a seguir.

3.1 ESTUDO DE CASO

Para realizar este trabalho optou-se pela estratégia do estudo de caso de caráter

analítico crítico, que permite a comparação de diferentes informações coletadas com as

referências conceituais contidas na fundamentação teórica. Segundo YIN (2001) o

estudo de caso é apropriado nos estudos que visam compreender fenômenos sociais

complexos, como a integração de culturas diferentes em conseqüência de uma

fusão/consolidação, objetivo deste estudo. O mesmo autor sugere que o estudo de caso

também é mais indicado nos estudos em que o pesquisador tem pouco ou nenhum

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controle sobre os eventos a serem estudados, neste caso, o estudo de um fenômeno que

já ocorreu, para investigar prováveis efeitos nas ações contemporâneas, os reflexos da

integração de culturas diferentes na consolidação da cultura organizacional da

UNIOESTE.

YIN (2001) também faz distinção entre o estudo de caso unitário, quando o

objeto de análise refere-se a uma única experiência, ou múltiplo quando o objeto de

análise se estende por duas ou mais experiências pretendendo comparação entre elas.

Por se tratar de uma única experiência, este estudo de caso é do tipo unitário, tendo

como objeto de análise a experiência da fusão/consolidação das quatro faculdades que

deram origem à UNIOESTE, focalizando o encontro de diferentes culturas na

constituição de uma nova organização.

De acordo com o mesmo autor há ainda duas possibilidades de análise no

estudo de caso, a análise de forma holística (global) e a análise inserida ou encrustada

(embedded), quando envolve várias unidades de análise. Este estudo envolve a cultura

das quatro faculdades que participaram do processo de fusão/consolidação. Cada

faculdade pode ser vista como uma unidade de análise dentro de um único fenômeno,

a fusão/consolidação, compondo portanto uma análise inserida de um estudo de caso

único.

Este estudo de caso tem caráter descritivo e explicativo conforme COOPER e

SCHINDLER (2000). Descritivo porque tem como objetivo descrever um fenômeno já

ocorrido. Os autores advertem que os estudos descritivos podem ou não possibilitar

inferências ou deduções sobre os fenômenos pesquisados, dependendo da qualidade

das informações obtidas e dos registros encontrados. Explicativo porque o pesquisador

se vale da fundamentação teórica para buscar uma explicação ao fenômeno

pesquisado. Neste caso a explicação aos reflexos dos processos de fusão/consolidação

na integração de culturas diferentes.

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106

3.2 COLETA DE DADOS

Segundo CASSEL e SYMON (1994) fontes primárias correspondem a

documentos oficiais que ainda não sofreram interpretação e ainda não foram

trabalhadas, como documentos que representem a visão oficial da organização

investigada (embora estas também possam ser consideradas secundárias por já estarem

interpretadas na forma de documentos). Já as fontes secundárias para o mesmo autor

correspondem a interpretações sobre as fontes originais ou primárias. Para este estudo

utilizou-se entrevistas consideradas fontes primárias e, como fonte secundária, a visão

da organização contida nos seus registros oficiais e também a interpretação de outros

pesquisadores que publicaram documentos que tratam da história da organização.

Por se tratar de um fenômeno oficialmente registrado, os documentos podem

revelar passo a passo o processo de fusão, e por se tratar de instituições que

desapareceram após a fusão, seus registros também tornam-se valiosas fontes de

informações sobre elementos constitutivos da cultura organizacional.

Por outro lado, a subjetividade, a interpretação dos atores deste processo

constantes em teses de doutorado e dissertações de mestrado entre outros documentos

complementam a análise do fenômeno estudado.

3.2.1 Análise Documental

Esta técnica de pesquisa é muito utilizada em algumas pesquisas para

descrever práticas organizacionais e histórico de organizações. Esta técnica foi

utilizada para analisar o conteúdo de documentos que possibilitassem explicar as

razões e os procedimentos adotados no processo de fusão/consolidação da

UNIOESTE.

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Conforme MERRIAN (1998), a análise dos documentos permite ao

investigador uma compreensão maior dos dados que são coletados por meio de

entrevistas. Assim, no intuito de dar consistência aos resultados selecionram-se para

esta análise documentos que permitissem confrontar o máximo de informações

possíveis com os dados coletados nas entrevistas e questionários, ambos organizados a

partir de temas extraídos da fundamentação teórica. Os documentos selecionados

(ANEXO 1) abordam: a) a história da consolidação da UNIOESTE; b) documentos já

publicados com informações sobre a cultura e a história das faculdades e da

UNIOESTE; e) dissertações elaboradas por docentes da organização.

Buscou-se através da análise de documentos identificar as seguintes variáveis:

a) histórico das faculdades que deram origem à UNIOESTE e suas

respectivas culturas organizacionais;

b) histórico da constituição da UNIOESTE e da sua cultura organizacional;

c) informações sobre os objetivos que levaram à consolidação da

UNIOESTE;

3.2.2 Entrevista

Segundo MERRIAN (1998), na pesquisa qualitativa adota-se principalmente a

técnica de entrevista. Para TRIVIÑOS (1987), a entrevista através de roteiros semi-

estruturados é aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias

que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de

interrogativas, frutos de novas sínteses que vão surgindo à medida que se recebem as

respostas do informante. Desta forma, o informante segue espontaneamente a linha de

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seu pensamento e de suas experiências, dentro do foco principal colocado pelo

investigador e começa a participar na elaboração do conteúdo da pesquisa.

Também SELLTIZ et al. (1987) menciona que a entrevista com roteiros semi-

estruturados é apropriada ao desenvolvimento de indagações sobre quais aspectos de

uma experiência específica trazem mudanças àqueles que foram expostos a ela.

Portanto, os sujeitos pesquisados, aqueles que vivenciaram uma determinada situação,

foco da investigação, terão melhores condições para responder às indagações se a

técnica utilizada for a da entrevista através de roteiro semi-estruturado.

Esta técnica é bastante utilizada quando se pretende apreender a visão dos

atores do fenômeno observado. A partir da observação participante percebeu-se que

alguns atores desempenharam papéis importantes durante ou após o processo de

fusão/consolidação da UNIOESTE. Estas foram selecionadas para responder à

entrevista porque considerou-se o grau de percepção que as mesmas poderiam ter tido

naquele momento, ou seja, são pessoas que estavam informadas: a) ou politicamente

dentro de interesses partidários; b) ou tecnicamente com acesso a informações técnicas

do processo de fusão/consolidação; c) ou culturalmente por perceberem o grau de

importância de um fenômeno como a fusão/consolidação de faculdades que se

tornaram Universidade Estadual.

Sendo assim, foram selecionados inicialmente para a entrevista 16

profissionais que fizeram parte do quadro efetivo das quatro faculdades que

originaram a UNIOESTE (FACIMAR, FACISA, FACITOL e FECIVEL) e, que

permaneceram na UNIOESTE após o processo de fusão/consolidação. Esta amostra

foi selecionada por conveniência sendo 04 entrevistados que atuaram em cada uma das

quatro faculdades que deram origem à UNIOESTE (FACIMAR, FACISA, FACITOL

e FECIVEL). A quantidade de entrevistas foi decidida com base em pesquisa

semelhante realizada por FERNANDES (1999) no curso de mestrado em

administração na PUC de São Paulo, que selecionou três entrevistados de cada

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empresa envolvida num caso de fusão, o que no julgamento daquela banca possibilitou

informações suficientes para alcançar os objetivos propostos.

Outro motivo da escolha foi a distância entre as cidades nas quais estavam

localizadas as faculdades (Marechal Cândido Rondon, Foz do Iguaçu, Toledo e

Cascavel). Em decorrência da distância selecionou-se uma equipe treinada com dois

profissionais que pudessem efetuar as quatro entrevistas de cada cidade. No entanto,

após iniciadas as entrevistas percebeu-se que a partir da segunda entrevista em Toledo

e na segunda em Marechal Cândido Rondon, as respostas começaram a se repetir,

embora se tenha persistido nas quatro entrevistas nestas duas cidades para testar a

validade deste diagnóstico, que se confirmou. Por isso, para as cidades de Cascavel e

Foz do Iguaçu realizou-se apenas três entrevistas com pessoas que faziam parte

respectivamente da FECIVEL e FACISA.

A seleção dos entrevistados obedeceu ao critério de diversidade para que fosse

possível confrontar a subjetividade das respostas obtidas e relacioná-las (buscando

justificar as semelhanças e/ou diferenças) com os critérios de diversidade: a)

professores e funcionários técnico-administrativos; b) ocupantes e não ocupantes de

cargos administrativos.

As entrevistas partiram de um roteiro semi-estruturado de temas e questões,

identificados decorrer do trabalho com o objetivo de localizar as diferenças e

semelhanças da cultura organizacional nas quatro faculdades e levantar a forma de

integração das culturas ocorrida no processo de consolidação da UNIOESTE. Também

buscou-se, com as entrevistas, informações sobre o processo de consolidação, na visão

subjetiva dos entrevistados, na perspectiva de localizar as dificuldades e acertos deste

processo que pudessem refletir efeitos na cultura organizacional da UNIOESTE. E

ainda investigaram-se traços da cultura organizacional da UNIOESTE para

diagnosticar vestígios das culturas anteriores das quatro faculdades. Assim, o roteiro

para as entrevistas constou dos seguintes tópicos:

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a) Informações sobre os entrevistados, a partir do qual avaliou-se o grau de

contribuição de cada entrevistado. Neste tópico foram evidenciados os

critérios da diversidade constantes na seleção dos entrevistados em que

ponderou-se o seguinte: diversidade de sexo, de formação, de local de

origem (faculdade), de função (técnico administrativo, docente), de cargo

que ocupou na época (alguns ocupantes de cargos administrativos na época

e outros não).

b) Características das faculdades antes do processo de consolidação:- histórico das faculdades (formação das faculdades e a influência dos

fundadores na cultura das faculdades);

- cultura das faculdades (valores, rituais, símbolos, comportamento,

liderança, comunicação).

c) Fatores antecedentes do processo de consolidação da UNIOESTE:- relacionamento das faculdades no período pré-fusão;

- aspectos que auxiliaram a junção das faculdades com diferentes

culturas;

- aspectos que dificultaram a junção das faculdades com diferentes

culturas;

- razões e objetivos que levaram à consolidação.

d) Processo de integração das faculdades após a consolidação

- como se deu o encontro de diferentes lógicas provenientes de diferentes

culturas;

- como se deu a formação da cultura organizacional da UNIOESTE;

- quais os resultados inesperados para a organização e para as pessoas

com o processo de consolidação.

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Como mencionou-se anteriormente, foi considerado o grau de envolvimento

formal no processo de consolidação, seja enquanto participantes de cargos

administrativos que vivenciaram as reações do processo, ou enquanto presidentes de

associações, ou mesmo através de participação nas reuniões de discussão durante o

processo. De qualquer forma, como ponto de partida buscaram-se informalmente

informações com o Diretor do campus de Toledo e alguns funcionários antigos do

mesmo campus, que indicaram alguns nomes, e a partir das primeiras entrevistas

conseguiu-se outras sugestões de pessoas, presentes no processo de consolidação da

UNIOESTE.

Após algumas consultas chegou-se ao quadro de entrevistados disposto

abaixo. Lembrando que para obter maior credibilidade nas informações e manter a

integridade profissional e pessoal dos entrevistados, optou-se por não utilizar os seus

nomes verdadeiros na análise dos resultados. Os mesmos serão identificados pelo

nome da cidade na qual atuavam no período pré-fusão e pelo número de ordem em que

foram entrevistados (ANEXO 2).

3.2.3 Questionário

Esta técnica foi utilizada neste estudo com o único objetivo de mostrar

quantitativamente a relevância das informações obtidas nas técnicas anteriores.

Aplicou-se o questionário a uma quantidade significativa de membros que pudessem

revelar alguns elementos comuns e/ou divergentes na cultura organizacional da

UNIOESTE.

A seleção da amostra foi aleatória sistemática, na concepção de COOPER e

SCHINDLER (2000), ou seja, selecionou-se inicialmente, a partir da população total,

alguns setores de cada campus da UNIOESTE (somente os quatro campus que

inicialmente deram origem à organização) que contemplassem funcionários e também

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professores. A partir dessa amostra tomou-se por base a quantidade de Centros de

Estudos (unidade de agregação dos docentes) de cada campus, constituindo uma

amostra de 10 respondentes para cada centro de estudos e 10 funcionários para cada

campus, totalizando o seguinte quadro de respondentes: campus de Cascavel: 50

questionários selecionados; campus de Foz do Iguaçu: 40; campus de Marechal

Cândido Rondon: 40; campus de Toledo: 40, totalizando 170 questionários

selecionados.

Estes foram contatados via e-mail por ser de um veículo de fácil acesso a

todos os respondentes selecionados, uma vez que a própria universidade dispõe

gratuitamente desta ferramenta como instrumento de trabalho para os mesmos, ou seja,

cada setor da universidade conta com terminais de acesso a intranet além dos

laboratórios de informática para uso dos funcionários e professores. Com isso

objetivou-se obter um número maior de retornos visto que a distância entre os campi

poderia representar perda na quantidade de respostas. Somente 71 questionários

retornaram, mas a quantidade foi suficiente para a análise proposta, uma vez que as

respostas repetiram-se de forma consistente entre as categorias docente e funcionário,

e entre os campi, possibilitando retirar as conclusões esperadas.

Ressalta-se que não foi objetivo deste estudo efetuar um diagnóstico detalhado

da cultura atual da UNIOESTE, mas levantar as implicações do processo de

consolidação na integração entre culturas diferentes. Portanto somente interessaram a

este estudo as características culturais que pudessem mostrar a unidade cultural da

UNIOESTE ou, pelo contrário, identificassem diferenças significativas entre os campi.

Após levantar a necessidade de uma unidade cultural ou da permanência das

diferenças culturais anteriores ao processo de fusão, o objetivo subjacente a este

levantamento foi questionar o comportamento da UNIOESTE frente ao confronto de

culturas neste processo fusão/consolidação, identificando suas razões, seus

procedimentos e suas expectativas a esse respeito.

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Para chegar a tais questionamentos utilizou-se um roteiro de questões já

empregadas em outras pesquisas, garantindo a qualidade de aplicabilidade deste

questionário, não sendo necessário, portanto, um pré-teste do mesmo. O roteiro

utilizado foi localizado na pesquisa de HANDY (1994), que estabelece diferenças

entre quatro tipos de culturas. O componente que teve relevância na seleção deste

modelo de questionário foi a facilidade de localizar diferenças significativas na cultura

dos grupos dentro da organização (na visão pessoal de cada respondente para o que

este percebe como visão da organização e para o que corresponde a suas próprias

concepções pessoais), embora os objetivos deste autor sejam distintos ao desta

pesquisa. No entanto, observou-se que a classificação de HANDY (1994) contemplou

os elementos mais comuns nas discussões sobre cultura organizacional, acreditou-se

que a partir do mesmo fosse possível atingir os objetivos que se buscou com esta

técnica de pesquisa.

3.3 ANÁLISE DE DADOS

Para dar mais consistência aos resultados obtidos, optou-se por selecionar três

técnicas de coleta de dados, por esta razão a sua análise partiu do pressuposto da

triangulação, uma técnica de análise sugerida por FLEURY et al. (1997) nos estudos

da cultura organizacional, para que se obtenha melhores resultados nas pesquisas, visto

que cada técnica de pesquisa, embora com muitos pontos fortes, também tem algumas

fraquezas.

A triangulação também é destacada por GIMENEZ (2001) como apropriada

quando se deseja confiabilidade nos resultados, uma vez que as fraquezas de uma

técnica são compensadas pelas forças de outra. “Um pressuposto básico da

triangulação baseia-se na premissa que as fraquezas de cada método isolado serão

compensadas pelas forças opostas de cada um” (ibid., p.4).

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Esta técnica tem por objetivo confrontar os dados coletados em várias técnicas

diferentes para que as informações que não pudessem ser obtidas com uma técnica

pudessem ser obtidas em outras. Assim, também, buscam-se as diferenças e

concordâncias sobre determinados temas pesquisados de formas diferentes,

averiguando a consistência das informações coletadas.

Com isso, optou-se por analisar os dados obtidos em cada técnica em separado

para posteriormente confrontá-los. A análise de conteúdo do material coletado através

das entrevistas foi realizada da seguinte maneira:

a) transcrição das entrevistas e revisão dos textos das respostas;

b) leitura dos textos das respostas, transcritos e revistos;

c) categorização por afinidade temática que permita a leitura seletiva dos

textos das entrevistas, para posterior confronto com a fundamentação

teórica;

d) elaboração do texto das análises;

e) conclusões do estudo, onde são propostas inferências e realizadas

interpretações previstas no quadro teórico.

Quanto à análise documental, o procedimento foi o seguinte: optou-se por um

roteiro temático construído a partir dos principais tópicos destacados na

fundamentação teórica e, em seguida analisou-se cada documento anteriormente

selecionado com a elaboração de um texto analítico crítico, e posteriormente partiu-se

para as conclusões obtidas.

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Já os questionários foram analisados perante a tabulação dos dados coletados

cujas observações fixaram-se nas maiores divergências de respostas e também nas

questões onde se obteve o maior número de convergências no tocante a cultura

organizacional da UNIOESTE. Em seguida elaborou-se um relatório com as

conclusões a que se chegou a partir dos questionários.

Após o desenvolvimento dessas fases, buscou-se confrontar os depoimentos

coletados nas entrevistas com os resultados obtidos nos questionários e com os

conteúdos dos documentos selecionados. Este confronto se deu com base em um

roteiro temático selecionado a partir da fundamentação teórica.

Destacaram-se então os dados que pudessem consolidar uma conclusão sobre

as conseqüências positivas e negativas de um processo de fusão/consolidação na

cultura organizacional, assim como buscou-se relacionar as diferenças e semelhanças

culturais da UNIOESTE com as culturas anteriores ao processo de fusão/consolidação,

ou seja, com a cultura das quatro faculdades que deram origem à UNIOESTE.

A seguir com base na fundamentação teórica, buscou-se desenvolver uma

análise explicativa deste estudo de caso confrontando os resultados com as

expectativas teóricas trabalhadas na pesquisa, de onde resultaram algumas conclusões

expostas ao final do trabalho adicionadas de algumas sugestões para pesquisas futuras.

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4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

A apresentação dos resultados está disposta da seguinte forma: inicialmente

estão os antecedentes do processo de fusão, entre os quais, a história do ensino

superior na região oeste do Paraná e a cultura de cada faculdade participante da

consolidação da UNIOESTE e a forma de relacionamento entre as quatro faculdades.

Os dados apresentados, nesta seção, demonstram que muitas características se

desenvolvem a partir do contexto de relações e de transformações que cercam as

organizações envolvidas.

Na seqüência, como segunda seção, destaca-se o processo de consolidação da

UNIOESTE, onde constam os procedimentos adotados pelas organizações para o

processo de fusão, o planejamento, as decisões e a integração das organizações durante

o processo. O que se pretende expor nesta seção é a influência das decisões, dos

objetivos e da estrutura da universidade no comportamento das organizações durante o

período de integração e que são posteriormente incorporados na cultura organizacional

da UNIOESTE.

Para melhor localização do processo de fusão, é pertinente mencionar algumas

datas:

- 1987, pela Lei nº 8.464 de 15 de janeiro e Decreto nº 399, de 27 de abril do

mesmo ano, o Estado instituiu a Fundação Federação Estadual de

Instituições de Ensino superior do Oeste do Paraná/UNIOESTE. Em

seguida pela Lei nº 8.680 de 30 de dezembro de 1987 e Decreto nº 2.352 de

27 de janeiro de 1988, instituiu a Fundação Universidade Estadual do Oeste

do Paraná/FUNIOESTE. Considera-se o ano de 1987 para referência nesta

pesquisa, como marco de efetivação da fusão, embora as organizações

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envolvidas tenham atuado isoladas, cada qual dentro de sua lógica

administrativa, até o reconhecimento da universidade em 1994;

- em 1991, pela Lei nº 9.663, a FUNIOESTE foi transformada em autarquia,

com personalidade jurídica de direito público, vinculada à Secretaria de

Estado da Indústria e do Comércio, Ensino Superior, Ciência e Tecnologia;

- em 23 de dezembro de 1994, pela Portaria Ministerial nº 1.784, houve o

reconhecimento da Universidade Estadual do Oeste do Paraná –

UNIOESTE, e somente a partir deste momento é que as organizações

envolvidas passaram a atuar dentro de um mesmo sistema administrativo.

4.1 ANTECEDENTES DA FUSÃO

Como antecedentes ao processo de consolidação, resgata-se a visão de

NADLER e LIMPERT (1993) que acreditam ser importante resgatar a história das

organizações a serem fusionadas para diagnosticar os fatores que podem influenciar na

tomada de decisão por uma fusão e na integração necessária após o processo. Também

ressalta-se a visão de vários outros autores que acreditam na influência da história da

organização e da influência nacional, neste caso regional, no desenvolvimento da sua

cultura organizacional (FLEURY, 1996; OLIVEIRA, 2000; FREITAS, 2000, 2001;

HANDY, 1994; KOTER e HESKETT, 1994; MORGAN, 1996).

A história das quatro organizações que optaram pela fusão é semelhante em

alguns aspectos e diverge em poucos elementos. Porém essas pequenas diferenças

marcam a cultura de cada uma das faculdades diferenciando-as, colocando em

destaque as razões que interferiram na integração das mesmas após a consolidação, de

forma positiva ou negativa.

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As primeiras instituições de ensino superior no Oeste do Paraná surgiram, na

visão de EMER (1999), em decorrência de muito esforço das comunidades locais, que

traziam como característica a busca pelo desenvolvimento através da luta de grupos,

da vontade das comunidades, sem contar com muito apoio do governo estadual ou

federal, podendo-se destacar, como característica da cultura organizacional das quatro

faculdades envolvidas, as relações com a comunidade. Esse autor relata a constituição

dessa região desde a sua colonização e aponta dados que podem representar as

características culturais diferenciadas em cada localidade onde se estabeleceram as

organizações fusionadas no processo de consolidação da UNIOESTE.

Segundo EMER (1999) mesmo que agentes educacionais regionais e as mais

legítimas representações civis tivessem tentado diferentes saídas na busca de oferecer

o ensino superior, ao Oeste do Paraná não sobrou outra alternativa senão a constituição

de Fundações Municipais para manutenção de seu ensino superior. Em última

instância, as comunidades locais criaram todas as condições, com participação e

doações, para manutenção do ensino superior no Oeste do Paraná, característica que se

verificou em todas as faculdades pesquisadas conforme entrevistados (TOLEDO-3;

FOZ-1 e FOZ-2; CASCAVEL-1 e CASCAVEL-3; RONDON-1 e RONDON-2). Da

mesma forma, quando as faculdades não podiam mais se desenvolver ou se manter

como Fundações municipais, a comunidade novamente teve um papel importante na

busca pela universidade pública.

Neste período (1980), agentes sociais, educacionais e formadores de opinião

perceberam que, mantidos por fundações municipais e mensalidades de alunos, as

faculdades não teriam como crescer e ampliar o leque de aspirações profissionais da

juventude regional. E as faculdades já começavam a entrar em débito com suas contas,

uma vez que a verba disponibilizada pelas prefeituras era pequena, assim como as

mensalidades cobradas dos alunos, o que não permitia sustentar as faculdades.

(...) as fundações municipais provavelmente teriam se esvaziado. Não havia perspectiva, nãohavia mais... durante uma fase, foram extremamente importantes, foram um instrumento para

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um ponto de partida, né. Se instalaram, evoluíram, mas chegou um momento em que elas porsi só não podiam mais conseguir, elas precisavam de uma injeção externa, seja pela junção,seja pelo reconhecimento de uma instância superior (TOLEDO-3).

(...) a tendência delas era ficar naquilo mesmo, e dali pra pior. Não havia possibilidade devocê criar um curso novo, era muito difícil. As quatro faculdades passavam um horror pracriar um curso, porque era um custo muito elevado, complicado, coisa e tal (FOZ-2).

Com relação a esse período (nos anos 80), o entrevistado CASCAVEL-1

declara que:

Cascavel começou a vivenciar uma crise, a FECIVEL, muito forte, financeira, política. Osestudantes não queriam pagar mensalidade, os professores queriam fazer greve porqueganhavam pouco. Os estudantes não queriam pagar então faziam greve. Os funcionáriosqueriam receber mais. Então juntou as três partes da faculdade pra fazer greve, isso em 81, 82(CASCAVEL-1).

(...) dos quatro, Cascavel estava numa situação de uma inadimplência violenta, já. Tinha umadívida que não conseguia pagar mesmo. Rondon tinha dívidas também, a FACIMAR e aFACITOL também. A única que não tinha dívida era a FACISA. A FACISA tinha uma dívidaadministrável, uma dívida pequena (FOZ-2).

No entanto, de acordo com os entrevistados, a comunidade representativa das

quatro localidades, mesmo diante desse quadro de não mais estar atendendo às

necessidades financeiras das faculdades, se empenhou na busca pela universidade

pública, pressionando o governo através de seus representantes legais e pressionando

também as faculdades isoladas a buscarem uma opção de ensino superior que

trouxesse benefícios para a comunidade, influenciando-a na decisão pela fusão.

Segundo alguns dos entrevistados, esta foi uma característica marcante agregada aos

valores de cooperação, interação, e amizade entre os membros que não faziam

distinção entre professores e funcionários, na cultura organizacional das faculdades e

nos primeiros anos após a fusão.

(...) políticos, associações comerciais e industriais, clubes de serviço e políticos teriam umgrande ganho pra eles na época com o desenvolvimento da região (...) a região ganhou comisso. (...) Os políticos ganhariam com isso, no caso votos, e os professores e funcionáriosganhariam porque estavam consolidando um sonho de uma universidade, de fato também oseu emprego (TOLEDO-1).

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(...) o papel importante típico da universidade, importante até pelas linhas ideológicas dauniversidade. Todos os partidos socialistas que estavam mais... eram o PTB, PC do B, aconvergência socialista, o PT depois quando foi criado. Então esses partidos assumiammesmo uma luta, um movimento para uma universidade pública e gratuita. (...) E a imprensatambém sempre jogou muito a favor. A imprensa podia não concordar comigo ou com ooutro, mas sempre jogou para o projeto da universidade. Isso foi muito importante, como amídia assumiu uma causa que era pública, era da região, enfim não foi em buscar interessesque eram particularizados, mas foi buscar interesses coletivos, eu acho que isso foiimportante. Depois a própria igreja, os bispos daqui e de Toledo, de Foz, sempre estiveramaliados. A Universidade Pública é a síntese das relações de poder que se estabelecem na suaregião. (...) precisa de todo mundo, precisa de bases, de vereadores, de prefeitos, depresidência de associações, empresários, todos. Agora, nas questões do destino dauniversidade, dentro da universidade, isso eu sempre defendi (CASCAVEL-1).

Pode-se perceber que as características culturais das faculdades isoladas eram

praticamente as mesmas no que diz respeito às iniciativas individuais e coletivas na

busca de um objetivo comum. O ensino superior gratuito era aspiração das quatro

cidades, para que os filhos da sociedade permanecessem nos municípios e fossem

atendidos pelo ensino superior, que consequentemente traria os benefícios sociais,

econômicos e políticos para os municípios.

No entanto, com a falta de recursos que se viu após a implantação dos

primeiros cursos, as crises de relacionamento começaram a se acentuar. As pressões

salientavam-se e as faculdades não viam alternativas para sua manutenção a não ser a

busca por outro mantenedor, o governo federal, como primeira investida, e

posteriormente o governo do Estado. Esta luta frente a dificuldade financeira parece

ter sido fundamental na mudança de cultura das faculdades, pois a partir daí grupos

passaram a concorrer, as faculdades isoladas tentaram individualmente conquistar o

status de universidade, o que não foi possível.

A estadualização vai ser feita: Rondon, Toledo e Cascavel. O governador da época estásaindo, porque o Richa tinha sido eleito Senador da República (...) Mas aí havia umaquestão, que é Foz do Iguaçu fora, né. E o governador, que era o Richa ainda, ele só assina odecreto de estadualização se Foz do Iguaçu estivesse dentro. Então o último ato do governodele, o último dia foi a assinatura de um decreto estadualizando as quatro faculdades (FOZ-2).

Na realidade o que foi buscado com essa união era um peso político pra manifestar umaforça regional que o oeste estava extremamente rejeitado perante a opinião política do

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pessoal do governo. O Paraná era o norte e Curitiba. Oeste e sudoeste não pesava. Entãoquando se trabalhou esse aspecto, pensando talvez em aumentar a credibilidade dauniversidade, é que se buscou essa união. Essa união se deu por razões políticas, totalmente.Mas no âmbito interno da faculdade, o nosso interesse era econômico. Nós achávamos queestadualizando nós tínhamos o ensino gratuito, que era uma das propostas da universidade,tá, nós teríamos melhores condições (TOLEDO-4).

Somente após frustradas as tentativas individuais é que se pensou na

possibilidade de fusão das faculdades com o propósito de unir forças para conquistar

reconhecimento da região oeste tanto no ensino como na política e economia, e, a

partir deste objetivo, vieram outros pensados no decorrer do processo de planejamento

e negociação da fusão. Entre as razões que levaram as faculdades a optar pela fusão

destacam-se:

a) aumentar ganhos, ou investimentos no ensino superior, uma vez que auniversidade seria pública e não visaria lucros, mas buscava ampliar seuleque de cursos atendendo com isso quase a totalidade das necessidades dosfilhos da comunidade local e regional, o que para os entrevistados pode servisto diante das permanência dos “filhos daqui” que se formaram naUNIOESTE ou em outras instituições que vieram depois para a região, masque investiram e permaneceram nas suas cidades e na região oeste doParaná;

b) desenvolvimento econômico e político no âmbito regional. Nas falas dosentrevistados pode-se observar que subjacente ao objetivo de atender ademanda social, à necessidade de que os estudantes da regiãopermanecessem na região, verifica-se que também havia a preocupação como desenvolvimento econômico e político desta região, pois os estudantes,após formados, ficariam na região e trariam o desenvolvimento, da mesmaforma que as localidades estariam se preparando para receber estudantes deoutras regiões que movimentariam a economia local e regional. Considera-se ainda que politicamente os representantes de toda a região estiverampresentes em todo o processo pois conseguiriam mais força política junto aogoverno estadual no desenvolvimento de projetos na região. CASCAVEL-1afirma que havia “interesses regionais, né. Não era só no mercado, quando

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se fala em mercado se restringe, né. Os interesses sindicatos, trabalhadoresrurais, e todos estavam interessados na universidade, não era só o interessede formar profissionais e botá-los nos mercado pra qualificar as empresas,não. Nós tínhamos uma visão ampla já, tá”.

c) expansão de mercado no sentido de atender regiões maiores com a expansãodos cursos, o que foi conquistado na opinião dos entrevistados queressaltaram a origem de muitos dos candidatos ao vestibular da UNIOESTEatualmente, mais uma vez destacando o desenvolvimento local e regionalpara atender às necessidades desta nova organização. Outro fator que reforçaeste objetivo se visualizou com a incorporação posterior de um novo campusem Francisco Beltrão em 1997, e a criação das extensões da UNIOESTE emMedianeira, Palotina e Santa Helena;

TOLEDO-1 destaca: “quando eu vejo uma universidade, eu vejo a mesma

coisa que uma empresa, apesar de ela ser pública. A partir que ela se funde, ela cria

uma força maior, de poder e de barganha diante do governo do Estado (...) Estamos na

busca de expansão e ampliação”.

FOZ-3 menciona a preocupação dos membros das faculdades com o

desenvolvimento regional, o que teria mobilizado as mesmas a optarem pela fusão.

Nós podemos não ter tido ainda todo o explendor pra isso, mas na época se discutia e seacreditava nisso, e eu acho que a universidade continua acreditando, na maioria, que auniversidade é uma das peças propulsoras do desenvolvimento regional. (...) é na pesquisa, éna extensão, o auxílio, né, de fazer com que a própria região conheça seus problemas esolucione seus problemas, é ..., cresça.

Como objetivos específicos almejados com a fusão das quatro faculdades, destacam-

se:

a) flexibilidade e inovação no atendimento, através do investimento emlaboratórios, qualificação dos docentes, maiores opções de cursos, o que nãose conseguiria se as faculdades permanecessem isoladas;

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b) aumentar o tamanho da organização2, o que representaria mais força e maiorinfluência frente às demais universidades do Paraná, e também representariamais força frente ao governo do Estado na busca por recursos; “vantagens daUNIOESTE: expandiu cursos, construção de prédios (...)” (FOZ-2).

c) não perder espaço no que diz respeito ao ensino superior, o que certamenteocorreria se as faculdades se mantivessem isoladas;

d) ganhar mais força política junto ao governo (fosse federal ou estadual), naconquista de verbas para manutenção da universidade, o que não aconteceriase as faculdades permanecessem isoladas mesmo como universidadesisoladas.

Esses fatores certamente influenciaram na integração das faculdades e na

cultura da UNIOESTE. Após as tentativas individuais para conquistar uma

universidade local, começou a rivalidade entre as faculdades ao mesmo tempo em que

as pessoas passaram a incorporar um espírito de luta para sua manutenção profissional

e pessoal enquanto servidores públicos. É certo que ao mesmo tempo a união que

caracterizou os primeiros anos da luta pela universidade também gerou expectativas.

Pode-se observar, a partir dos argumentos dos entrevistados, que havia a

preocupação em não conseguir a manutenção das instituições, tanto que aceitaram a

pressão do governo do Estado em somente viabilizar a criação da universidade por

meio de uma fusão. Ou seja, a união se efetivou através da força coercitiva, e não

somente do governo. Para a entrevistada TOLEDO-4, o grupo que estava na direção

das faculdades e os membros que participavam dos conselhos das mesmas, decidiram

como se daria o processo, agiram conforme seus interesses e transmitiram as

informações aos demais membros, sem discutir com todos os demais sobre as

possibilidades. Já TOLEDO-1 afirma que eram feitas reuniões com as associações

sobre o que acontecia nas reuniões superiores. 2 Com a consolidação da UNIOESTE observou-se o desenvolvimento da organização, com o aumento donúmero de cursos, funcionários técnico-administrativos e professores (Anexo 5).

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Mas há o outro lado da pressão, o objetivo que era comum, a criação da

universidade, permeou toda a negociação e também facilitou os acordos internos no

período da integração das organizações e das suas culturas.

Nos relatos dos entrevistados, é possível perceber opiniões divergentes sobre o

que tenha facilitado e dificultado a integração das faculdades. Para alguns a fusão foi

permeada de boas intenções e acordos satisfatórios e, para outros, foi conturbada,

gerando conflitos entre os campi o que muitos chamam de bairrismos, que se

prolongam até os dias de hoje. Acredita-se que essas diferentes visões decorrem do

âmbito de atuação e participação dos entrevistados no processo de consolidação da

UNIOESTE, e os diretores da época da fusão, por estarem mais envolvidos com o

papel de fazer dar certo o processo no qual investiram uma luta prolongada,

acreditavam que os acordos aconteciam com certa naturalidade.

“Houveram conflitos, mas os acordos foram aproximando as pessoas”

(TOLEDO-1).

Esse fato de pensar diferente é até interessante né, porque se todo mundo pensasse igual, nãoseria nem universidade. As idéias estão aí para ver se chega a uma decisão, e depois aí simchegar num fator comum. Os conflitos são normais né, necessários. Eu acho que se estamosdiscutindo vamos chegar a uma ponderação, que é pra aplicar depois, né mas eu acho que asidéias surgiram assim (TOLEDO-2).

Apesar do objetivo comum, logicamente havia polêmicas, havia opiniões diversas (...) haviaposicionamentos diferenciados, havia discussões, havia polêmicas. E eu diria que se assimnão fosse, também não seria saudável. (...) havia conflito, mas sempre com resultado muitopositivo, né, sempre com vistas a uma evolução, que realmente acabou ocorrendo, né(TOLEDO-3).

A única coisa que dificultou um pouco, na minha visão, é essa questão do bairrismo. Ficarmuito preso à sua realidadezinha, à sua cidade, é, não ver o todo. Mas as crises foram de talmaneira que depois você tem que negociar (...) e aí começa uma certa aproximação, umacerta integração. Mas ainda é difícil, porque ainda é muito a cultura local. Agora, o que vainos ajudar certamente é as faculdades particulares, que aí vai consolidar melhor essa visão daUNIOESTE como uma faculdade regional (FOZ-2).

Eram aquelas discussões todas, não se chegava a acordo nenhum, cada um voltava, fazendodo jeito que achava que tinha que fazer. (...) É como todo e qualquer processo de integraçãoné, às vezes, é, cheio de avanços e recuos. Situações às vezes de conflito mesmo... (FOZ-3).

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No começo do confronto havia muita desconfiança né, que um campus digamos, umafaculdade, quisesse vantagens sobre outra. E essas diferenças demoraram praticamente umano, um ano e meio pra serem sanadas. Aos poucos, é, a comunidade de cada cidade viu quese não mudasse o pensamento a universidade não sairia (RONDON-4).

Havia entendimento, mesmo com as divergências existentes nas reuniões entre

os diretores dos quatro campus. Nestas reuniões, segundo os entrevistados

CASCAVEL-1 e RONDON-1, havia espaço aberto para que todos colocassem seus

pontos de vista, que eram, na sua maioria, divergentes, levando a exaltações,

discussões agressivas até certo ponto. No entanto, relata RONDON-1, sempre era

possível se chegar a um acordo, e após uma reunião desgastante, criava-se um clima de

amizade e cumplicidade dentro daquele pequeno grupo.

Percebe-se com isso que as rivalidades existiram em todo o processo (desde o

planejamento, na tomada de decisão pela fusão e na integração das organizações), mas

que, para a sobrevivência das faculdades, foram superadas em vista de um objetivo

comum.

Como a proposta inicial desta pesquisa é destacar as diferenças entre as

faculdades no período anterior a fusão, expõe-se, a partir deste ponto, a cultura de cada

faculdade isolada para resgatar-se posteriormente a constituição da cultura

organizacional da UNIOESTE, onde serão resgatados novamente os vestígios da

história e da fusão nos traços da cultura atual da organização.

4.1.1 A Cultura Organizacional da FACIMAR

O ensino superior de Marechal Cândido Rondon, além das características

gerais da região Oeste do Paraná, tem alguns aspectos que lhe são específicos, em

decorrência de acentuadas marcas culturais dos tipos humanos e culturais que

realizaram a colonização daquela parte da região. Segundo Emer (1999), os

colonizadores de Marechal Cândido Rondon tinham um grande apreço pela

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escolarização de seus filhos, tanto que uma das três primeiras edificações da atual área

urbana foi uma escola. Um outro aspecto a ser considerado na visão deste autor, é o

sistema fundiário existente naquela parte da região: predominância de minifúndios,

com aplicação de tecnologia e produção diversificada.

a) valorização do ensino

OBERG (1968) afirma que os colonizadores de Marechal Cândido Rondon

trouxeram da sua origem alemã o apreço pelo ensino. Segundo este autor, os

“interesses comunais” dos descendentes étnicos de alemães estão “na seguinte ordem:

primeiro, a escola, segundo o hospital, e terceiro, a igreja” (ibid., p. 52).

EMER (1999) acredita que a consideração desses fatores como cenário,

facilita a compreensão do interesse daquela sociedade em ter escolarização de nível

superior e os tipos de cursos implantados estarem voltados à formação dos professores.

Entre os primeiros cursos da Faculdade de Ciências de Marechal Cândido Rondon -

FACIMAR, apenas um não foi para a formação de professores e há indícios que essa

característica seja mantida, criando as condições locais para uma excelente

escolarização, como sempre foi o desejo daquela população.

O entrevistado RONDON-1 descreve a valorização do ensino como uma

característica da cultura da FACIMAR, pois, de acordo com o entrevistado, todos os

funcionários e professores gostavam de trabalhar na faculdade por perceberem a

importância do papel da instituição de ensino; isso gerava um sentimento de orgulho

nos membros da organização por estarem fazendo parte do processo de educação.

O quadro docente de um modo geral, ele foi preparado para iniciar as aulas (...) a maioriadeles fizeram um curso de especialização, na época, metodologia do ensino superior (...) essepessoal foi preparado (...) desde o início havia aquelas relações interdisciplinares que tantose prega hoje, em decorrência do curso de especialização que era o que tinha de maismoderno na época (RONDON-4).

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b) características germânicas (cooperação e formalidade)

A colonização de Marechal C. Rondon iniciou-se por imigrantes

principalmente do rio Grande do Sul e Santa Catarina, 95% da população inicial era

descendente de alemães, 3% de italianos e 2% de poloneses, o que demonstra a forte

influência dos costumes alemães na região, principalmente no tocante à religião, e a

religião mais praticada a Evangélica, havendo também a presença das religiões Batista

e Católica (MARECHAL CÂNDIDO RONDON, 2003).

Para OBERG (1968, p. 52), “os alemães, mais que os italianos, tratam de

preservar a consciência de seu grupo étnico. Os alemães dizem que, se perdessem sua

linhagem, religião e laços familiares, perderiam sua moral, misturar-se-iam com os

fazendeiros pobres locais e se transformariam em caboclos”. Isso pode demonstrar a

permanência forte das características da cultura alemã na FACIMAR.

As características germânicas eram visíveis na faculdade e, de acordo com o

entrevistados RONDON-1 e RONDON-3, ainda estão presente no campus hoje. As de

maior destaque são o zelo pela padronização, pelo cumprimento das funções, pela

limpeza e higiene. O trabalho é encarado pelos membros da organização como

realização pessoal, gerando um clima de formalidade no ambiente de trabalho, no

entanto havia ao mesmo tempo colaboração na execução das tarefas. De acordo com a

entrevistada RONDON-2, quando algum setor estava com acúmulo de serviços, outros

setores ajudavam cedendo membros para auxiliar na execução das tarefas.

O pessoal aqui sempre costuma ter um discurso do tipo assim, é, quer dizer uma marca, “nãoé o maior, então tem que ser o melhor”. Coisas desse tipo. Então sempre se primou por tertudo bem organizadinho, tudo limpinho, né. As coisas funcionando, não faltando os aspectosessenciais no que tange às questões administrativas, né (RONDON-1).

O pessoal aqui, não que não tenha problemas entende, mas sempre, desde o início, o pessoalassim, bastante unido e que veste a camisa, que luta, que se ajuda (...) Esse espírito reinoumuito desde o início, de cooperação. (...) a gente convivia muito junto assim, era uma família

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praticamente. Então a gente sentia muito isso, o pessoal gostava, né, dessa convivência(RONDON-2).

Por ser pequena, né, tudo funcionava com espírito fraterno (...) todos colaboravam entre si.(...) houve uma integração muito grande entre o quadro docente. E com o pessoal técnico-administrativo. Quer dizer o técnico ensinava o docente e o docente ensinava o técnico.Havia essa permuta, que foi muito interessante. As relações humanas eram mais fraternas,erma mais seguras inclusive. (...) Marechal, digamos, trouxe para dentro da faculdade acultura alemã, por ter sido, na época, digamos, uma cidade em que 90% da população falavaa língua alemã (RONDON-4).

É possível associar essas características com a origem germânica. OBERG

(1968, p. 51) ressalta que, na época de colonização (décadas de 50 e 60), essas

características eram vistas não somente pelos descendentes de alemães, os italianos

quando solicitados a caracterizar os alemães também mencionavam “que os alemães

eram caprichosos, querendo dizer com isso que se esforçavam para fazer as coisas

corretamente, produzindo artigo com habilidade e orgulho da manufatura”.

c) influência externa

A influência política do governo do Estado era visível, pois era o governo do

Estado quem indicava, através de uma lista tríplice, o prefeito do município, porque

Marechal C. Rondon era uma cidade de fronteira, assim como Toledo e Foz do Iguaçu,

o que dava esse direito ao governo do Estado, pelos interesses de fronteira. Da mesma

forma, na faculdade, havia a indicação do diretor feita pelo prefeito do município por

se tratar de uma Fundação Municipal, assim como as decisões internas eram tomadas

pelo conselho formado por membros da faculdade e da comunidade, caracterizando

muitas vezes a vontade externa. Na FACIMAR,

O município convivia mais junto da universidade, quando havia necessidade (...) o pessoallutava muito mais, né. Porque a gente cresceu, lutou muito pelo campus de Marechal, pelaprópria formação e criação. A gente sempre batalhou pra melhor, da universidade e tínhamosum grupo bem coeso. (...) Teve batalhadores na época, pra própria criação da faculdade.Pessoas bem influentes do município que interferiram muito politicamente na época pracriação da faculdade. (...) pela própria situação da estabilidade do município né, da própriaformação (educação) do povo da região também, e dos costumes né, e da própria situação

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geográfica, e da posição da agricultura interferiu muito na criação da faculdade, na época(RONDON-3).

A visão que a UNIOESTE manifesta, atualmente, a respeito do Campus e dacidade de Marechal Cândido Rondon, ressalta as características germânicasmencionadas pelos entrevistados, como afeição ao trabalho e esforço de descendentesde alemães que fizeram de lá um lugar para trabalhar e viver. O destaque, no siteoficial da universidade, aponta a economia local cuja base é a produção de alimentosjustificando, com isso, as opções dos cursos (zootecnia e agronomia) criados parafomentar e valorizar a atividade agrícola, assim como o núcleo de pesquisas com áreasde experimentação agrícola, criação animal e pesquisa biológica. Ressaltando aindaque a cidade possui uma das menores taxas de desemprego do país e é a 3ª do Paranáem qualidade de vida, o que novamente demonstra a cultura colaborativa afeita aotrabalho, no cumprimento dos deveres e das funções na organização.

4.1.2 A Cultura Organizacional da FACISA

O cenário local, descrito por EMER (1999), demonstra a expectativa localsobre a criação da faculdade em Foz do Iguaçu, representando a influência doambiente externo na construção e nas características da Faculdade de Ciências SociaisAplicadas de Foz do Iguaçu - FACISA. Segundo o autor, no final da década de 1970,em razão da construção de Itaipu, da intensa urbanização que o fato gerou, associada àurbanização desencadeada pela modernização da agricultura e da economia urbana,gerada pela expansão do turismo, Foz do Iguaçu teve um excepcional crescimentopopulacional, que apresentava expectativas no que diz respeito à educação superior.

a) pressão externa

Da mesma forma como ocorria em Marechal C. Rondon, o governador doEstado indicava o prefeito da cidade através de uma lista tríplice por ser uma cidade defronteira. E, pela mesma razão, o exército nacional se instalava na cidade gerandooutras perspectivas sobre o a influência do Estado e da Federação sobre o local, o que

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poderia causar uma sensação de ameaça ou de segurança nos moradores da cidade(FOZ-3).

b) colaboração e dedicação

Uma característica que marca a cultura das quatro faculdades é o espíritocolaborativo decorrente da forma como foram criadas e mantidas as faculdades, cominvestidas da comunidade, e com pouca verba, levando os professores e funcionários ase dedicarem e investirem com recursos próprios muitas vezes, no ensino superior,uma vez que esta era a aspiração de todo o grupo na época da criação das faculdades,levando os professores e funcionários a se orgulharem de fazer parte do quadro deservidores das faculdades.

Nós tínhamos muito pouca gente, era uma Fundação Municipal, a mensalidade do aluno erabaixa (...) mas o pessoal gostava muito. Tinha um certo orgulho, né, no bom sentido, deestarmos colaborando com uma coisa inédita na cidade de Foz do Iguaçu, que era manter umcurso superior. Quer dizer, a FACISA foi carregada pelos professores que estavam naquelaépoca aqui, né. Pra você ter uma idéia nós mudamos umas quatro, cinco ou seis vezes deprédio. (...) E então era uma coisa muito agradável. E havia festas de confraternização.... Erauma posição agradável, porque às vezes o salário muito ruim, mas a posição era agradável.(...) Era a questão de ter um ambiente agradável, amizade, crescimento, e tem muito essaquestão de brio, né. Vir pra faculdade, nós vamos manter isso aqui de qualquer maneira(FOZ-2).

Naquela época era muito restrito o número de pessoas. Havia uma união muito grande eexistia aquela harmonia, demais, dentro da faculdade. (...) a tua atividade era tudo o que eranecessário, e as pessoas se empenhavam, as pessoas faziam, elas, não tinham horário, nãotinham dia. Um evento na faculdade, Sábado, Domingo, feriado, estava todo mundo lá(FOZ-3).

c) flexibilidade frente à diversidade cultural

A Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Foz do Iguaçu – FACISA,

incorporou na opinião dos entrevistados FOZ-1 e FOZ-2, os valores da cultura local,

que se caracterizavam pela aceitação da diversidade e pela falta de compromisso e

articulação na busca de interesses locais.

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Pessoas que têm envolvimento com a cidade, vem aqui, moram determinado tempo, daí, derepente, já vira político, já vira prefeito, vira dono da cidade. (...) não há umcomprometimento com esse lugar. Eu acho que isso é uma coisa que atrapalha muito acidade. (...) as outras cidades que têm uma população mais radicada, mais típica, ela temmais representatividade porque tem pessoas que nascem, crescem e morrem naquela cidade.Aqui você tem uma reunião, por exemplo, aí quando chega a hora das apresentações, aspessoas se apresentam, daí um é de São Paulo, outro é de Santa Catarina, outro é não sei deonde, aí eu levanto e digo que sou de Foz do Iguaçu, todo mundo me olha como se eu fosseum bicho raro, é estranho isso (FOZ-1).

Foz do Iguaçu tinha poucos profissionais com formação pra dar aula na própria faculdade.Então vinham muitos profissionais de fora. E era que eles vinham dar aula e iam embora.Então um ano, um ano e meio, é, o corpo docente não foi, assim, formado por docentes deFoz do Iguaçu. Então o comprometimento era menor (FOZ-3).

“Foz do Iguaçu é um dos maiores centros turísticos do mundo, com pessoas de

todo o planeta chegando diariamente para apreciar as suas belezas naturais” (FOZ DO

IGUAÇU, 2003). Nessas circunstâncias muitas pessoas se instalam na cidade na

tentativa de se estabelecer, mas muitas retornam ao seu local e origem não se

comprometendo com afinco à cidade, e às suas necessidades, o que foi destacado por

alguns entrevistados como fator marcante na cultura da cidade, que se refletia também

na cultura organizacional da FACISA.

A minha cidade é completamente diferente do que você por aí (as sedes das outrasfaculdades). (...) Eu acho que a gente leva muito assim, a característica da cidade, né. É umacoisa assim bem diferente, né. Foz do Iguaçu é uma cidade atípica né, você tem marca detudo né, que é a marca dela, né. É exatamente ser essa mistura de coisas, de raça, depensamento, de gente, de cabeça, de formação, de tudo né, e isso acaba se refletindo nainstituição, né. Eu acho que o preconceito fica neutralizado, exatamente por causa da..... demuita raça, dessa convivência com as fronteiras, né, essa ingerência de culturas estrangeiras,árabes, chineses, italianos, alemães, paraguaios. (...) Você cria uma tolerância de convíviotranqüila. (...)

Nós temos brasileiros, com paraguaios e argentinos aqui, não na universidade, nauniversidade é muito pouco. Então você tem toda uma cultura na cidade, que é uma culturamuito miscigenada. (...) Depois nós temos árabes, chineses, (...) você tem grupos islâmicosaqui na cidade com mesquita (...) você observa na cidade pessoas vestidas com.... oriental, eem sala de aula também. Isso no começo todo mundo estranha, é natural. Mas depois ficamais ... (...) Além do que o pessoal aqui fala muito o portunhol, é uma mistura de língua, demoeda (...) no feriado prolongado a Itaipu teve 20 mil visitantes, o Parque Nacional teve 20mil visitantes (...) Hoje por exemplo tá tendo um Congresso Nacional de Cardiologia, issoaqui vira uma coisa quase rotineira. É uma cultura muito atípica, porque tem de tudo (...) Euestive em sala de aula com 7 nacionalidades diferentes, por exemplo, no segundo grau. E nóstemos na universidade gente desse tipo, é, várias nacionalidades, ou de vários estados. Quer

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dizer, nós estamos atraindo gente, talvez por causa da fronteira também, de outros estados. Enós temos uma outra particularidade, temos muito funcionários público federal, todos nauniversidade (estudando). Então a nossa situação é bem diferente (FOZ-2).

Em contrapartida, devido ao convívio com culturas diferentes, em decorrência

da proximidade com as fronteiras do Paraguai e Argentina, estabeleceram-se, desde a

colonização, grupos étnicos diferentes naquela região, com religiões diferentes, raças

distintas, cada qual com seus costumes e valores. De certa forma esse

multiculturalismo proporcionou uma aceitação natural das diferenças e um certo

comodismo também.

Ainda sobre a flexibilidade na administração, FOZ-3 relata que “o horário era

assim, não era um horário fixo (...) era dentro da disponibilidade do professor” que

vinha de fora, principalmente no início da FACISA.

(...) talvez o foco, um pouco diferente. Vamos dizer assim, umas com mais apoio, natentativa maior que tiveram, crescimento mais rápido do que as outras. (...) Uns são maisempreendedores, vamos dizer assim, e se lançam mais na aventura, entre aspas. E outros não,são, né, mais analistas, né, só com a certeza absoluta, e daí vai mais devagar (FOZ-3).

Nós aqui tivemos muita falta de sorte pra muita coisa. Eu acho que nós tivemos uma faseruim, na FACISA mesmo, né, com diretores, muito, assim, parados, sem aquela coisa. Euacho que você tem que meter a cara e ir lá brigar pelas coisas, né. (...) A falta derepresentação política, isso é péssimo (FOZ-1).

A respeito dessa flexibilidade pode-se reportar à herança da cultura

portuguesa, citada por SANTOS, B. S. (1994), que fala da ausência de Portugal

quando na colonização brasileira não cumpriu o seu papel de Estado na formação da

cultura nacional, permitindo que a cultura nacional brasileira, assim como a de

Portugal, mantivesse uma heterogeneidade interna, e uma dificuldade em se

diferenciar das demais culturas nacionais.

Em Foz do Iguaçu, percebe-se essa flexibilidade em conviver com culturas

diferentes, em que as pessoas ou grupos não conseguem se identificar como cultura.

Talvez essa seja a razão da falta de compromisso com o que é local (do grupo, da

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cultura, o que seria com o que é nacional na visão desse autor, que somente aborda a

cultura nacional).

d) transitoriedade

Percebe-se, pela fala de alguns dos entrevistados, que, embora houvesse um

desinteresse dos grupos transitórios (aqueles que não permaneciam na cidade), os

cidadãos de Foz do Iguaçu demoraram a “vestir a camisa” pela universidade pública

que buscavam. Muitos inclusive percebiam o avanço das demais faculdades

(FACIMAR, FACITOL E FECIVEL), e percebiam os arranjos políticos que aquelas

organizações buscavam na defesa do objetivo que pretendiam alcançar, mas mesmo

assim os membros da FACISA demoraram na busca pela universidade.

É aquela correria. As pessoas estão aqui com a síndrome do ir embora. Foz do Iguaçu é bom,mas eu prefiro ir pra outro lugar. É um negócio assim, um ponto de passagem. (...) Foz doIguaçu é uma cidade cara. Tem todos os problemas de uma cidade grande, e tem vantagensde cidade grande, tem um aeroporto internacional, lazer, tem várias faculdades (FOZ-1).

De acordo com os entrevistados da FACISA, faltavam políticos locais que os

respaldassem e faltava integração dentro da própria organização em se mobilizar, tanto

que um fato, comentado com pouca abertura pelos entrevistados, é que a FACISA foi a

última organização a se unir ao processo de fusão. E somente resolveu fazer parte do

processo por imposição do governo estadual, que somente permitiria a consolidação da

universidade se todas as requerentes se unissem.

O Prefeito de Foz do Iguaçu, Dobrandino Gustavo da Silva, do PMDB (...) nada fez, aceitoupassivamente que a cidade de Foz do Iguaçu tivesse prejuízo. A cidade de acabava de perdera prioridade para a instalação ao curso de ciência da computação. Dobrandino não impediuque situações já definidas no âmbito interno da UNIOESTE, fossem desfeitas ao nívelpolítico regional (BEHR, 1996, p. 55).

Na opinião do entrevistado FOZ-2, isto pode ter gerado inquietações na época,

mas com o decorrer da história da universidade, o campus de Foz do Iguaçu provou ser

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uma potência na área de informática após conseguir implantar e consolidar o curso de

Ciência da Computação.

Essa estratégia de pressão do governo é compreensível pois todas as

faculdades tinham interesse em se transformar, sozinhas, em universidade e, se uma

das organizações permanecesse fora do processo, certamente requereriam, cedo ou

tarde, recursos do governo para a sua estadualização. Também pode-se perceber que

para o governo é menos oneroso dispor de recursos para uma única organização do que

atender a duas ou mais universidades.

4.1.3 A Cultura Organizacional da FACITOL

O ensino superior em Toledo foi implantado em 1980 com a Faculdade de

Ciências de Toledo – FACITOL e foi marcado pelas características da época, isto é, na

região já eram perceptíveis os primeiros sinais da crise gerada pela cobrança da dívida

externa, a permanente redução dos recursos para o financiamento da produção agrícola

(EMER, 1999). A entrevistada TOLEDO-4 menciona a articulação entre a comunidade

e a faculdade na busca por cursos de nível superior para atender as expectativas locais.

Segundo esta entrevistada, a Sadia, maior Indústria de Alimentos da região, que se

instalou em Toledo deu forte apoio na criação da universidade, assim como se

destacou a participação dos sindicatos e principalmente do clero, com a indicação do

bispo local para o cargo de primeiro diretor da faculdade.

a) descendência italiana e alemã

Os primeiros colonos de origem italiana e alemã chegados a Toledo,

procedentes do Sul, espalharam-se pelo Norte do Município. Com referência às

comunidades indígenas, os colonos conviveram, nos primeiros anos, com algumas

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famílias indígenas que moravam na região, que aos poucos foram encaminhando-se

para outros espaços geográficos do Estado (TOLEDO, 2003).

No que se relaciona aos costumes, desde o início da colonização começou a

predominar a maneira de viver dos pequenos fazendeiros ou proprietários rurais, de

origem italiana e alemã, conservados das tradições de trabalho, da frugalidade e da

agricultura como meio de vida. Os fins de semana eram dedicados, à missa, ao culto

evangélico, ao churrasco, ao chimarrão, ao bolão, à bocha, à canastra e, quando

existiam mata e rio, às caçadas e pescarias (TOLEDO, 2003).

OBERG (1968) menciona que a colonização de Toledo concentrava maior

número de italianos do qualquer outra descendência étnica. E, como características

italianas, esse autor destaca a afeição ao trabalho, embora com um destaque na fala dos

alemães sobre o trabalho dos italianos, “os alemães dizem que os italianos são bons

trabalhadores, mas negligenciam a qualidade em favor da quantidade e falam demais”

(ibid., p. 51). Outra característica marcante na opinião desse autor é que os italianos se

preocupavam muito em manter reservas financeiras, tanto que pouco investiam na

moradia ou nas vestimentas.

b) influência religiosa

OBERG (1968) apresenta como valor fundamental dos italianos, a

religiosidade, pois seus valores comunais destacavam que “entre os italianos a igreja

vem em primeiro lugar, depois a escola e, finalmente, o hospital. Esta valorização pela

igreja se verifica muito acentuada ainda hoje nas comunidades italianas, valores que

puderam ser vistos na constituição da faculdade de Toledo.

A entrevistada TOLEDO-4 atribui ao esforço do clero e suas articulações com

a comunidade local o fato de ter sido possível criar a FACITOL, assim como aos

valores que se desenvolveram no interior da faculdade.

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Dom Geraldo que foi um dos inspiradores dessa universidade (FACITOL) através do clero,buscou o apoio das empresas, e da sociedade. E essa integração se dava, assim, pelo conceitoque ele tinha dentro da comunidade. Ele foi um dos responsáveis dessa integração. Então foibuscando esse interesse que a gente conseguiu a participação por exemplo, a participação dacomunidade toda, com doações tá, foi em material, foi em dinheiro, foi em trabalho. A Sadia,a Prefeitura, a ACIT, tá, todos eles faziam parte dessa congregação. Então eles puxavam. Opeso maior se deu com as empresas e com a igreja católica. E era interesse porque elescentralizaram a formação dos sacerdotes de todos os seminários regionais aqui de Toledo.Então a igreja investiu muito nessa área, porque era interesse deles (TOLEDO-4).

Também de acordo com a entrevistada TOLEDO-3, como característica da

FACITOL destaca-se a forte influência da religião católica da cidade, que se

manifestou visivelmente na criação do curso de filosofia, que junto com ciências

econômicas formou a primeira turma de ensino superior na FACITOL. Segundo esta

entrevistada, a postura serena, séria e dedicada dos primeiros docentes e funcionários

da FACITOL serviram de exemplo para os membros da organização, que no dia a dia

incorporaram esta postura nas rotinas de trabalho.

Como pessoas importantes na constituição da cultura organizacional daFACITOL, TOLEDO-3 menciona que na época o bispo local, Dom Geraldo, atuoucomo primeiro diretor da faculdade, junto com outros membros, como os padres queministravam aulas no curso de filosofia, outros professores que já tinham experiênciana docência em nível de primeiro e segundo grau que atuaram na faculdade tanto comodocentes como assumindo cargos administrativos, entre outros profissionais técnico-administrativos vindos da prefeitura, onde teriam desenvolvido papéis importantes,eram pessoas com respaldo profissional e de relações também.

c) colaboração e cooperação

Observa-se na fala dos entrevistados de Toledo, que o espírito colaborativo

fazia parte da cultura da faculdade, funcionários e professores se ajudavam

mutuamente sem a distinção de classe profissional, havia respeito e cooperação na

execução de tarefas.

O espírito de colaboração, dedicação, cumplicidade da equipe, do setor, era total. (...) Euvejo que o que se destacava na época era o grau de responsabilidade e de participação. (...)

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Os diretores se faziam presentes nos horários das aulas, circulavam nos corredores 5 minutosantes das 23 horas para acompanhar se realmente os docentes todos estavam em sala.Quando havia uma reunião de professores, havia lista de presença, e a presença era maciça.Ausência somente em caso de doença. Da mesma forma a questão dos funcionários, se haviaum evento, ou uma palestra, de autorização, de reconhecimento de um curso, a presença eramaciça, uma colação de grau, absolutamente todos os componentes compareciam, todos osfuncionários. Aquele era um momento de festa, todos os funcionários, todos os professores,tinham orgulho, aquilo era um compromisso e ao mesmo tempo era um prazer muito grande.Isso tudo mudou, hoje as pessoas estão indo na medida do seu compromisso (TOLEDO-3).

TOLEDO-4 destaca que a característica mais evidente na FACITOL era a

integração entre a comunidade e a faculdade, resultado das iniciativas dos padres e de

Dom Geraldo, que transmitiram isso para os membros da faculdade como valor

fundamental a ser preservado, ressaltando também os valores de apego à religião, à

família, que se viram refletidos nas relações internas, entre os membros da FACITOL,

que tinham o local de trabalho com um lar, onde “todos dependiam de todos”.

A unidade e a integração com a comunidade teve grande influência de Dom Geraldo, quemincentivou a criação da FACITOL por necessidade do Clero em criar um curso de filosofia.(...)Era uma coisa integrada, todo mundo precisava de todo mundo, desde um diretor até umaservente (TOLEDO-4).

Também nas cerimônias podia se perceber a cooperação e a participação

conjunta de todos os membros da faculdade (alunos, professores, funcionários) e

também da comunidade que prestigiava as comemorações da instituição (TOLEDO-2).

As confraternizações aproximavam as pessoas, afastando a possibilidade de barreiras

entre as classes. E isso tudo, na visão dos entrevistados, se devia em parte ao tamanho

da organização que era pequena o que possibilitava a proximidade de contatos, de

comunicação; e, em parte, às aspirações da comunidade e dos membros da FACITOL

em fazer dar certo a idéia de ensino superior na cidade.

d) organização e comunidade

Como visto anteriormente, a integração com a comunidade foi estimulada

pelas iniciativas do clero em buscar apoio da comunidade para construir algo que a

igreja aspirava, um curso superior para atender aos seus internos. Assim, a

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comunidade investiu na criação e manutenção da faculdade, como nas outras

localidades. O que se repetiu na busca pela universidade. Essa característica decorre da

forma como as faculdades se constituíram, como Fundações Municipais, cujas

decisões são tomadas por um conselho formado por membros da comunidade, fazendo

com a comunidade estivesse sempre presente, no interior delas.

Hoje a UNIOESTE ressalta no seu site oficial, que Toledo chama atenção por

sua moderna e altamente produtiva agricultura e grande rebanho suíno, um dos

maiores do Brasil. A cidade é sede de empresas de ponta no setor da indústria

alimentícia. Com população de origem predominantemente italiana, Toledo é exemplo

de povo afeito ao trabalho. E a universidade aborda o campus de Toledo como um

exemplo da sintonia entre o trabalho acadêmico da UNIOESTE e as expectativas da

comunidade, demonstrando a relação entre a comunidade e a organização.

Percebe-se nesse discurso, as características também destacadas nas outras

localidades, pessoas afeitas ao trabalho, com preocupações com as aspirações da

comunidade, pessoas com as características marcantes dos colonizadores italianos,

assim como os alemães em Marechal C. Rondon, o que foi confirmado pelos

entrevistados que discursaram com certo saudosismo sobre as relações afetuosas entre

os funcionários e professores e sobre a dedicação de todos com o trabalho e com o

compromisso para com a comunidade, que caracterizavam a FACITOL.

4.1.4 A Cultura Organizacional da FECIVEL

EMER (1999) resgata a formação do ensino superior em Cascavel, mostrando

as características históricas e culturais que, de certa forma, se tornaram visíveis na

cultura da Faculdade de Ciências e Letras de Cascavel - FECIVEL, e depois

mantiveram-se no campus de Cascavel da UNIOESTE.

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a) enfrentamento nas relações

De acordo com o entrevistado CASCAVEL-1, os membros da FECIVEL

sempre enfrentaram, com as armas que possuíam, os desafios na busca do

desenvolvimento local. Os membros envolvidos com a comunidade que já se via num

pólo de desenvolvimento, desde o início do ensino superior se defrontaram com a idéia

de universidade, e naquele momento perceberam as dificuldades e a necessidade de

alianças para buscar o que desejavam. Por isso, desde o início, os membros da

FECIVEL envolviam-se em confrontos para alcançar seus objetivos.

A implantação do ensino superior em Cascavel teve como fundamento diversos fatores.Entre eles: já existia um considerável número de jovens que tinham concluído aescolarização média, portanto, candidatos em potencial do ensino superior. O segmentosocial de maior poder aquisitivo encaminhava seus filhos para os centros urbanos quetivessem ensino superior. Muitos dos estudantes da região, depois de formados,conquistavam bons espaços sociais de trabalho em outros centros urbanos e não retornavamà região. O considerável desenvolvimento urbano de Cascavel e, consequentemente, oaumento e complexificação das relações sociais, justificavam a criação do ensino superior. Osegmento social intermediário, com dificuldade para manter seus filhos em outras cidades,percebia que eles não teriam outras possibilidades de conquista de espaço social de trabalhosem escolarização de nível superior. Esse segmento social incentivou e deu respaldo políticona mobilização para busca de alternativas locais de ensino superior (EMER, 1999, p.5).

Conforme relata esse autor, em Cascavel, as primeiras iniciativas de oferta do

ensino superior foram através do governo federal e estadual. Como não houve êxito

nessas tentativas, a comunidade e o governo local optaram pela Fundação Municipal,

que constituiu a FECIVEL (CASCAVEL-1).

Outra característica destacada por CASCAVEL-1 é a forma como os membros

da FECIVEL percebiam a manutenção da faculdade. Segundo o entrevistado, nas

demais faculdades havia, a participação da comunidade, dos sindicatos, das entidades

representativas e dos membros das faculdades em manter a instituição, mas na

FECIVEL era diferente,

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Aqui a obrigação pública, prefeitura, Estado, prefeitura tem que cumprir, e não cabe à....pegar esmola com empresários, com não sei o que lá, com a igreja, não. Então tem umadiferença muito clara. A parte dos estudantes levaram os diretores e docentes a concordaremcom isso. Mas sempre havia polêmica forte e confronto entre o movimento estudantil, osprofessores à vezes, com a direção. Se fazia muito mais o jogo de interesses políticomunicipal, e estudantes fazendo o poder político da universidade. (...) sempre contestando asquestões da prefeitura, sempre. Sempre houve uma disputa (...) Cascavel sempre secaraterizou pela mobilização (CASCAVEL-1).

b) colaboração e cooperação

Apesar do enfrentamento representar a característica mais marcante da

FECIVEL, havia momentos em que os membros cooperavam entre si. De acordo com

os entrevistados CASCAVEL-2 e CASCAVEL-3, as relações entre os membros da

FECIVEL eram mais próximas, as pessoas se ajudavam e tinham espírito colaborativo,

também investiam na faculdade, muitas vezes com recursos próprios na tentativa de

realizar os objetivos e atender as expectativas dos membros da faculdade e da

comunidade, e acreditavam que a idéia do ensino superior na cidade de Cascavel era

promissora e todos queriam que desse certo (CASCAVEL-3, CASCAVEL-2).

c) interesse pelo desenvolvimento econômico

Os entrevistados CASCAVEL-1 e CASCAVEL-3 mencionam que, desde o

início, as preocupações locais, através das entidades representativas da cidade

apoiaram as decisões da FECIVEL por estarem preocupados com o desenvolvimento

econômico, o que levou os membros da organização a defenderem sempre o

desenvolvimento da universidade. Característica que se mostra ainda hoje com o

quadro que a UNIOESTE configura sobre Cascavel, no site oficial da universidade, e

que aponta a mesma como cidade-pólo do Oeste do Paraná, citando a moderna

agricultura, um setor diversificado de serviços, um comércio atrativo. Também consta

no site a informação de que “está em curso um processo de agroindustrialização

baseado na mais alta tecnologia mundial, que atrai e surpreende. A cidade apresenta

elevados níveis de qualidade de vida”.

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Também TOLEDO-4 manifesta sua admiração aos esforços da comunidade de

Cascavel e dos membros da FECIVEL no interesse pelas coisas da faculdade. O apoio

da comunidade era grande, chegando ser encarado como pressão da comunidade para

que a faculdade investisse nos interesses locais, alertando para o seu desenvolvimento,

forçando, de certa forma, aos membros da faculdade em buscar o melhor para a

cidade.

E tinha o poder né. Na verdade quem manipulou muita coisa foi Cascavel, pela pressãopolítica que Cascavel tinha, da comunidade, do comércio, das associações, sindicatos. Nesseponto eu valorizo Cascavel. Cascavel, eles podem brigar o quanto puderem, mas na hora dedefender a comunidade, eles estão lá, firmes. Em Toledo isso não acontece (TOLEDO-4).

Outro destaque dado atualmente para Cascavel é que esta é centro geográfico

do Mercosul e sede da Reitoria, o que possibilita à UNIOESTE catalisar os esforços

por avanço dos indicadores sociais, econômicos e culturais. “A instituição é hoje um

grande atrativo para jovens de todo o Brasil”.

Esse destaque foi mencionado na entrevista de CASCAVEL-1, que evidenciou

a característica progressista dos habitantes da cidade e também dos membros da

FECIVEL. Para este entrevistado, a FECIVEL sempre se destacou por buscar, por

meio de luta, de agitação suas aspirações, que eram voltadas para a expansão

geográfica, para atração de estudantes de outras localidades, e não somente para

atender aos jovens da comunidade.

4.2 O PROCESSO DE CONSOLIDAÇÃO DA UNIOESTE

Muitos autores afirmam que a cultura é um fenômeno em constante

transformação (MASCARENHAS, 2002; BARBOSA, 1996; CARVALHO, 1997), e é

neste pressuposto que esta seção está baseada, demonstrando que algumas

características como o formalismo, a burocracia, a dualidade de valores e

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procedimentos são próprias desse tipo de organização, universidades públicas

(TRIGUEIRO, 1999; MINTZBERG, 2001, MOTTA, 1990), mas que em decorrência

da sua história e das mudanças sociais e políticas, a cultura organizacional se

transforma.

A UNIOESTE foi criada a partir da fusão de quatro faculdades isoladas que

tiveram a iniciativa de unir forças para criar uma Universidade no Oeste do Paraná. A

busca por esse objetivo nem sempre partiu de investidas conjuntas, mas de iniciativas

isoladas principalmente da então FECIVEL, faculdade de Cascavel. Isso também foi

desejo de outras faculdades isoladas; no entanto, com a prerrogativa do governo

federal e também estadual não haveria a possibilidade de atender a todas as investidas

criando várias universidades no Oeste do Paraná. Foi assim que percebeu-se a sugestão

que estava por trás do discurso do governo, juntar forças e criar uma única

universidade.

No entanto, a efetivação desta iniciativa foi um tanto conturbada em

decorrência da amplitude do compromisso que seria assumido pelo governo do Estado.

Houveram pressões dos órgãos representativos, dos deputados, dos dirigentes, alunos,

funcionários e professores das faculdades isoladas das quatro cidades para que a

consolidação da UNIOESTE ocorresse antes do término do mandato do governo do

Estado (CASCAVEL-1).

4.2.1 A Luta pelo Caráter Público e pelo Status de Universidade

Há relatos de que algumas tentativas junto ao governo federal (década de 80)

estimularam o atendimento universitário ao interior dos Estados (TOLEDO-1). No

entanto, a viabilização desta meta não fora atendida por meio da esfera federal. Desta

forma, o governo estadual foi inserido nas discussões. No período de eleições para

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troca de governos estaduais aconteceram discussões através das quais se buscou o

comprometimento dos políticos, entre eles do próprio governo estadual em viabilizar a

criação da universidade estadual até o final do mandato, no qual o Sr. José Richa

ocupava o cargo de governador (TOLEDO-1, RONDON-1 e CASCAVEL-1).

EMER (1999) também retrata esta idéia afirmando que o “governo do Estado

que, por questões de justiça e tratamento igual às demais regiões, sentiu-se na

obrigação moral de atender”. No entanto, o governo estadual fazia a exigência de que

todas as faculdades isoladas se unissem para formar somente uma universidade, o que

foi viabilizado somente ao final do mandato.

A partir daí se começou então discutir um projeto de universidade. Primeiro foi Cascavelsozinho que teve seu projeto aprovado no conselho no final do mandato do Nei Braga, mascom a troca de mandato não foi tramitado. Aí que veio então a idéia, então porque sóCascavel? Vamos discutir uma universidade Regional. (...) Primeiro foi se consultar o novogovernador Richa, que afirmava que se fosse criar uma universidade seria uma só, porque secriar para Cascavel, vai vir Foz do Iguaçu, vai vir Toledo, (...) e eu já tenho trêsuniversidades. (...) Tem que ser uma só ou nenhuma (CASCAVEL-1).

4.2.2 A Força do Coletivo

É possível observar algumas características que passariam a fazer parte da

cultura da UNIOESTE. Entre elas, EMER (1999, p. 8) destaca a união de forças na

busca de resultados.

Neste contexto é que foram buscadas novas alternativas e possibilidades. Um

aspecto típico da cultura, do comportamento da população regional, é a busca de

“saídas” de forma associativa, como já tinham feito os colonos na busca de soluções

para resolver problemas de produção, estocagem e comercialização de excedentes

agrícolas, com a falta de estradas, de escolas e hospitais.

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Segundo EMER (1999) essa era uma característica comum aos quatro campus

que deram origem à UNIOESTE, que embora apresentassem diferenças na sua

colonização, sofreram dificuldades semelhantes na época da colonização e recorreram

às mesmas práticas para se manter e se desenvolver no interior do Estado, a união de

forças da comunidade local, e no caso da universidade, a união de forças no interior do

Oeste do Paraná.

De acordo com EMER (1999) e com o destaque de todos os entrevistados, em

1986, uma expressiva caravana, constituída por representações de diversos segmentos

da sociedade do Oeste do Paraná, dirigiu-se a Brasília para pleitear a manutenção

federal da Universidade do Oeste. Os entrevistados ressaltam esse fato como

expressivo porque se mostrou forte não só o apoio mas a pressão da comunidade

representativa das localidades (Marechal C. Rondon, Cascavel, Foz do Iguaçu e

Toledo) em busca de um objetivo comum. Tanto que o próximo destaque dado pelos

entrevistados é a conquista, não federal, mas estadual da universidade do Oeste.

Ressaltam que mesmo com a negativa do governo federal, a vitória foi alcançada com

a estadualização, graças à pressão da comunidade organizada e das faculdades.

A união de forças pode parecer, a partir do relato dos entrevistados, uma

característica que fazia parte da cultura de cada município e de cada faculdade, que já

vinham internamente se articulando para realizar a idéia de efetividade do ensino

superior na região. Essa característica pode ter sido transferida aos membros da

UNIOESTE à medida que se fez necessária para concretizar mais uma aspiração das

faculdades, a universidade pública, e por trás disso a garantia estabilidade profissional

dos seus membros. Isso não representa, no entanto, o espírito de cooperação

mencionado em algumas entrevistas, mas, sim, a única alternativa para chegar ao

resultado esperado, como acontece em muitas organizações da iniciativa privada.

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TOLEDO-3 ressalta que, como conseqüência da história da consolidação, do

aumento de tamanho da organização e da própria estrutura formada, o comportamento

dos membros mudou.

O quadro funcional mudou tanto de funcionários como de docentes e, logicamente, o espíritoda instituição mudou e o grupo, pode-se dizer, dispersou-se. A questão do controle fugiu àsmão, também, então infelizmente por parte de alguns integrantes a questão da dedicaçãodiminuiu, alguns que já estavam, apresentaram uma diminuição na produtividade e, dentre osque foram entrando, entraram profissionais com características diversas, alguns com espíritode luta, de garra, muito grande, e alguns, infelizmente com o objetivo de usufruir dauniversidade.

4.2.3 Pressões Externas

Observou-se que o ambiente externo interfere na cultura organizacional. No

caso da universidade pública órgãos do governo pressionam a organização quando

estabelecem critérios para a atuação da universidade, assim também a mídia, até certo

ponto, atua como instrumento de regulação e a comunidade que está interessada nos

serviços públicos da universidade, o que certamente afetará o comportamento da

universidade em atender às expectativas desses setores.

E o governador, que era o Richa ainda, ele só assina o decreto de estadualização se Foz doIguaçu estivesse dentro. (...) Claro né, o governo do Estado vai mudar algumas questões, agente não sabe ainda o que vai mudar (...) mas uma coisa ele não pode mudar, que é ter umnúcleo de alta tecnologia que a UNIOESTE atualmente tem, isso tá consolidado. (...) Ainterferência do governo (...) na época a gente dizia é ditadura, é coerção. Mas a gente vendohoje um pouco diferente, não deixa de ser uma forma positiva, coercitiva, mas é benéfica. Nofundo ela não foi maléfica, porque se não fosse assim, hoje não teria UNIOESTE (...) masagora a gente vê a coisa consolidada (FOZ-2).

As associações comerciais, os sindicatos rurais, .... tentaram pressionar. Isso é outra coisapositiva, isso foi uma coisa boa. (...) Se tivermos uma boa universidade aqui, qualificada, émelhor. E os nossos filhos, esse era o grande... mote da questão (...) porque os filhos daclasse social média alta nesta região, obrigatoriamente se deslocavam pra Curitiba (paraestudar) (FOZ-2).

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TRIGUEIRO (1999) destaca como fontes de pressão externa à universidade

pública o papel do MEC (Ministério da Educação), de outras organizações

universitárias e o jogo de competição e alianças estabelecidas entre elas, dos partidos e

movimentos políticos, da grande mídia, do setor produtivo e de organizações não-

governamentais que movem o comportamento da universidade. O MEC, como

instância reguladora de ensino superior no País, tem a função de supervisão, o

acompanhamento e a formulação de políticas e da legislação para a área. Todas as

medidas recentemente tomadas pelo MEC fazem parte da lógica estipulada a partir da

Lei de Diretrizes e Bases, (Lei nº 9394, de 1996) e visam a introduzir grandes

mudanças no padrão de atuação e estruturação das universidades brasileiras. As

instituições de serviço público,

(...) são organizações que incorporam normas e valores considerados valiosos para os seusmembros e para a sociedade. São organismos vivos, produtos de necessidades e pressõessociais valorizadas pelos seus membros e pelo ambiente, portadores de identidade própria,preocupados com a sua sobrevivência e perenidade. A instituição é guiada por um claro sensode missão (PEREIRA e FONSECA, 1997, p. 120).

No caso da UNIOESTE, FOZ-2 relata que,

(...) ela (a UNIOESTE) inovou, criou um modus vivendi próprio, não é?! E cria uma mudançanas empresas locais, não é?! Eu estou numa reunião, outro dia, que me convidaram e tinhadois secretários municipais (...) e esses caras foram todos meus alunos na universidade. Se nãoé a UNIOESTE, ninguém estava ali. Quer dizer, não é o fato de você mudar uma pessoa, masé o fato de você começar a mudar a mentalidade (FOZ-2).

Em decorrência do caráter social que as instituições públicas têm, a mídia se

destaca como um fator externo de influência no desenvolvimento interno das

universidades. “A mídia é acionada pela população; o político, por suas bases; o

governo federal, pela sociedade civil e o contexto internacional; e o resultado é a

imensa quantidade de novas demandas projetadas sobre as universidades”

(TRIGUEIRO, 1999, p.155).

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A comunidade ainda age de outra forma sobre a organização. Os seus

membros desempenham papéis na sociedade, nos grupos de bairro, na família, nos

grupos religiosos, enfim, fazem parte de outras atividades e, com isso, interagem com

outras culturas. Assim, alguns de seus pressupostos básicos de formação e de vida são

constantemente moldados, e também na organização se fazem presentes. Se cada

indivíduo tem seus pressupostos individuais, quando estão dentro da organização

contribuem para a evolução da cultura organizacional. (LEWI-STRAUS, 1970;

GEERTZ, 1989; CARVALHO, 1997; MASCARENHAS, 2002).

(...) a observação dos papéis profissionais, as normas e expectativas de comportamentocoletivo nas diferentes empresas, assim como os diversos tipos de papéis dentro de umamesma organização. (...) A empresa (...) é vista no que diz respeito às estruturas e àsproblemáticas da sociedade como um todo, uma vez que trabalhadores, empregados,empresários, não exercem apenas funções dentro da empresa, mas ocupam posições noconjunto da sociedade (LAKATOS, 1997, p. 16 e 17).

De acordo com TOLEDO-4, membros de fora que foram absorvidos pela nova

estrutura mudaram o comportamento da universidade.

Quando se estadualizou a universidade, veio muita gente de fora, de Minas, São Paulo,Curitiba, Londrina... utilizaram a universidade pra fazer seus mestrados, seus doutorados.Entraram com objetivo de tirar proveito da universidade, na hora que tinha seus títulos iamembora, partiam. E os nosso elemento que permanecia na região não tinha vez. Essamentalidade de agora começar a investir na nossa gente é recente. Antes quem vinha defora, ia pra mestrado, ia pra doutorado, tudo por conta da universidade, só que depois faziaum concurso numa federal pra ganhar mais e ia embora. Nós tivemos dezenas de casos.Utilizavam nossa universidade como trampolim para o crescimento profissional deles, e nãodavam o retorno que era exigido por lei, hein. Você ficou três anos, quatro anos fora, vocêtinha que ficar na volta três anos, quatro anos. E por quê? Porque os diretores amoleciam ecediam. Muita coisa se perdeu. Gente de fora que não tinha tradição nenhuma, vinhadesqualificar a nossa comunidade, por isso que ela se enquistou... porque eram gente que nãotinha uma cultura regional, chegaram de fora achando que eram donos de verdade.

Tiveram muitos colegas que vieram de outras regiões, que vieram de Minas, de São Paulo, eeu acho que isso trouxe contribuições, né, contribuições positivas, né, mas não tenho porque,sem denominar, né, trouxe algumas...., vieram manhas junto, né. E essas manhas, a gentetem que também aprender a conviver. São sinal dos tempos, dessas mudanças aí. Eu achoque no balanço foi muito mais positivo (RONDON-1).

Outra entrevistada menciona a influência de novos membros na cultura da

UNIOESTE, mas encara como natural essa questão, “(...) pessoas novas chegando e os

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grupos iniciais se desfazendo, por uma questão natural da história (...) entraram

profissionais com caraterísticas diversas, alguns com espírito de luta, de garra, muito

grande, e alguns infelizmente com objetivo de usufruir da universidade” (TOLEDO-3).

Um aspecto relevante nas discussões sobre universidade pública é a

articulação com o nível político-partidário, não apenas na formulação de projetos de

lei ou dispositivos legais que atendam o meio universitário, mas também na formação

de grupos de defesa das universidades reunindo diversos parlamentares e partidos

políticos, no jogo sucessório e na competição entre as universidades (RINALDI,

2001). Esse aspecto é fundamental para explicar algumas características tanto

estruturais quanto culturais da universidade pública.

A articulação entre os campi na busca de poder também foi observada:

A gente ia pra Cascavel, e era discutido, quem tivesse maioria, vencia. Bem democrático,mas sempre tinha que ter maioria. Basta dizer que a gente se juntava sempre com o pessoalde Rondon e de Foz pra derrubar, articulando. Em qualquer área, tanto fazia se decisõesdefinitivas pra universidade, como departamentais. Até escolha, quando chegava na época devotação, a gente já se manipulava de um lado e de outro pra não deixar fulano ganhar.Integrava as outras que se achavam prejudicadas e divida a parte que se achava valorizada(TOLEDO-4).

Nós de Foz do Iguaçu perdemos muito. (...) Eu acho que outros grupos de outros campi sãomuito mais politizados. Entende? Eles conseguem se organizar melhor politicamente, econseguir por exemplo, vitórias que eles não eram pra ter levado e levaram porque seorganizam politicamente melhor, sabe, fazem a coisa melhor politicamente, eu acho, essa éuma visão minha. (...)Acho que nós perdemos muita coisa porque as pessoas não temhabilidade pra discutir determinadas coisas, sabe. Então faltou, eu acho profundidade,argumento, habilidade política, eu não sei o quê que faltou, mas eu acho que algumasdiscussões passaram por essas questões, sabe. (...) Eles conseguem armar as coisas. (...) Opovo daqui não sei, eles não se organizam de forma a conseguir fazer essa leitura, não sabemcom quem ele está lidando, não sabe como é que esse sujeito vai se preparar lá, e tal. Euacho que ele tem que começar a olhar...essas coisas. As pessoas não tem planejamento (...).Eu não acho que seja culpa deles, eu acho que é incompetência de quem estava lá brigandocom eles (FOZ-1).

Na perspectiva de MINTZBERG (2001), as universidades caracterizam-se

como uma organização profissional, nas quais predominam a contradição entre o

coletivo e o individual, a política está presente proporcionando espaços amplos para

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discussão e liberdade de expressão, e, ao mesmo tempo, forma uma cultura

padronizada e fortemente unificada. Isso se deve, como destacado na seção anterior, às

características próprias desse tipo de organização, aos jogos políticos internos e

externos decorrentes da sua função social, do seu papel de espaço público para

discussões universais, onde se espera que todos os membros da comunidade possam se

expressar por si mesmos ou por meio de seus representantes sociais.

4.2.4 Competição e Bairrismo

SACHUK (1991) aponta a competitividade entre as unidades internas da

UNIOESTE como conseqüência das características da organização, conforme também

mencionam MINTZBERG (2001) e CHAUÍ (1999). De acordo com essess autores, os

indivíduos precisavam ser informados sobre o que acontecia na organização, embora

nem sempre estivessem dispostos a participar das decisões. Isso podia demonstrar, em

determinados momentos, necessidade de controle e ser encarado pelos membros como

perseguição, gerando conflitos e competitividade entre as unidades.

RINALDI (2001) expõe as forças externas que interferiram na gestão da

universidade. Com isso, percebe-se também que as forças externas podem ser a origem

provável do bairrismo, da rivalidade uma das características culturais da UNIOESTE.

Então, o bairrismo que sempre existiu entre as cidades e não entre os campi, no momento emque ele deixa de lado a estrutura interna e os fóruns internos de discussão e vai discutir coma Associação Comercial e Industrial de Cascavel – ACIC, vai discutir na Prefeitura deCascavel e seus partidos, a estrutura da universidade, o que acontece; o poder e as brigas dascidades tornam-se internos da universidade, e a universidade perde com isso a autonomia, oque houve então, na realidade, foi uma ingerência de poder externo (Entrevistado “E” apudRINALDI, 2001, p. 101).

É uma universidade que tem vocação regional, né, que deveria manter suas característicasmas ficou uma coisa, o que é que tem por baixo de tudo isso, ficou um bairrismo muito forte(FOZ-2).

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O que dificultou foram algumas coisas muito, né, particulares, políticas, daí seja talvez até degrupos, de pessoas, políticos (...) eu acho que é um lado negativo, é, logo na discussão,assim, que na época foi Cascavel tentando ser a....., dizer, né, que eu é que comando (...)porque ela era a mais forte, era a maior, era a mais antiga, sabe (...) mas não houve, como éque eu vou dizer, habilidade talvez nesse trato, porque ela era a mais forte. Mas acho quehabilidade nesse trato que faltou talvez no momento. É, de alguns momentos (...) quedificultou. E que demorou muito tempo depois de estar junto, demorou muito pra serapagado. E que tem resquícios até hoje (...) mas acho que também houve o grande ladopositivo, tanto é que aconteceu. Era o desejo de Ter essa integração mais regional. E que seiniciou (...) e que se estendeu com o ensino superior (...) apesar das rusgas internas, até talvezpela busca do poder (...) até pela sede da UNIOESTE, da reitoria (FOZ-3).

Da mesma forma BEHR (1996), destaca a influência das pressões externas no

surgimento do bairrismo e na quebra da unidade prescrita pelos diretores da época da

fusão para a UNIOESTE enquanto universidade multicampi.

(...) Inescrupulosamente como convém a regimes autoritários, abandonou-se o processo emcurso, marcado por decisões coletivas, substituindo-se por outro gestado sabe-se lá em quegabinete. Outorgou-se um novo projeto a UNIOESTE, que multiplicou conflitos regionaisem torno à Universidade pública, causando quase o rompimento definitivo da unidade atéentão conseguida entre os campi ... (ROSSETO apud BEHR, 1996, p.88).

Pode-se perceber que a iniciativa da universidade era manter o caráter

multicampi com uma unidade de gestão e com autonomia para cada campus no que diz

respeito à “vocação” para os cursos, e para questões pedagógicas. Isso demonstra uma

mais uma vez o caráter contraditório da cultura organizacional da UNIOESTE pois a

unidade e a diferenciação (autonomia de cada campus) estavam previstas ao mesmo

tempo. A idéia é positiva a medida que se previa um bom relacionamento entre os

campi, mas é possível perceber que a autonomia pode causar maiores rivalidades e

concorrência entre os campus.

Eu acho que o que dificulta até hoje é o individualismo, de cada município. Eles nãoconseguiram trabalhar como um todo. Tá tudo muito individualizado. Não se pensa emuniversidade... Quer dizer Toledo é uma, Cascavel é outra. Os conflitos entre os grupos émuito grande. Um querendo tirar proveito sobre o outro, há um egoísmo, sabe, muito grande,entre os campi. E quando a gente ia falar assim: nós temos que pensar grande, em região. Aíeles vinha e diziam assim: Não porque você tem que pensar em Toledo. E Cascavel pensavaem Cascavel, e Foz também...Essa cultura vem desde antes da faculdade, de individualidade.Se Toledo faz isso, Cascavel não faz. É herança da sociedade, da comunidade. E daí ficava abriga Rondon/Toledo, Toledo/Cascavel, Cascavel/Foz, essa foi a briga (TOLEDO-4).

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No entanto a mesma entrevistada lembra que, após a consolidação, as relações

melhoraram, e que, embora continuem as rivalidades, também há união em busca de

interesses comuns, e que as relações internas nos campi não dependem da estrutura

mas de uma política administrativa.

Eu acho que entre os campi até melhorou a qualidade, porque antes a gente era muito maisindependente, muito mais alheio, Cascavel que faça o dele que nós vamos fazer o nosso,Cascavel também pensava da mesma maneira. Hoje não. Hoje a gente se une pra buscarinteresses comuns. Agora aqui dentro da nossa universidade (antiga FACITOL), eu acho queisso é uma política que a parte administrativa tem que buscar esse interesse de todo mundovestir a camisa (TOLEDO-4).

4.2.5 Característica Multicampi

Hoje, tem-se na UNIOESTE a característica multicampi, que resultou da única

alternativa que restou às IES envolvidas para conseguir uma universidade no Oeste do

Paraná. As iniciativas isoladas existiram antes da opção de fusão, mas o destaque que

se observa na história verbal e escrita e que representa a memória que se tenta manter

na organização, prescreve a união, o esforço coletivo em busca de algo que traria um

retorno social às comunidades locais, e talvez isso demonstre as diferenças entre o

discurso e a prática na organização, destacado nas entrevistas e questionários

aplicados. Ou seja, no discurso se busca a coletividade e na prática o que se vê são os

bairrismos.

No entanto, efetivou-se a idéia multicampi, decorrente da imposição do

governo como única forma de viabilizar a criação da universidade do oeste. A partir

disso houve a preocupação em buscar informações sobre a efetivação desta nova

realidade. De acordo com relatos dos entrevistados se buscou informações em outras

universidades com esta característica (entre essas a UNIJUÍ). Posteriormente, com o

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auxílio de consultores externos, providenciou-se visitas de representantes daquelas

universidades para esclarecimentos da prática multicampi.

Da mesma forma, a universidade, através de seus representantes, optou na

época por manter as características de cada campus. O que, na época, chamava-se

vocação de cada localidade, representou uma certa autonomia na busca de novos

cursos, no desenvolvimento das rotinas de trabalho e nos relacionamentos e formas de

resolver os conflitos internos. Essa característica pode ser comparada ao chamado

jeitinho brasileiro, uma característica da cultura brasileira, destacada por FLEURY e

FISCHER (1996), WOOD JR (1999), MOTTA e CALDAS (1997) entre vários outros

autores que tratam da cultura organizacional. Na universidade, é comum acomodar a

situação para não gerar conflitos muito extensos, como ocorreu quando se decidiu

manter os cursos em cada cidade, ao invés de cortar custos e oferecer cursos

diferentes, mantendo-se cada curso somente em uma cidade.

TRIGUEIRO (1999) levanta a questão dos mandos e desmandos, do

comodismo e do jeitinho que ocorrem com freqüência nas universidades públicas,

atribuindo isso à centralização de poder, diluído nos vários níveis hierárquicos desse

tipo de organização, sendo, portanto, a estrutura organizacional da universidade

parcialmente responsável pela cultura organizacional da mesma.

Na visão do entrevistado CASCAVEL-3, o funcionamento, na forma

multicampi, foi importante no desenvolvimento da criatividade dos membros, que teria

sido estimulada pela concorrência gerada dentro da universidade, entre os campi, a

partir de uma busca em melhorar ou criar novidades antes dos outros campi

(CASCAVEL-3).

A idéia de universidade se concretizou, e hoje a UNIOESTE, além dos quatro

campi, incorporou outro campus, em Francisco Beltrão além das extensões que foram

criadas para atendimento em outras localidades (Palotina, Medianeira e que puderam

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oferecer suporte adequado. Nesse caso, o impacto na cultura organizacional deve ser

encarado de forma diferente, a começar pela necessidade de concurso público para

efetivar o quadro de docentes e funcionários das novas organizações, o que gerou

desligamentos como demissões e afastamento de pessoas que ocupavam cargos de

confiança.

4.2.6 A Integração de Culturas

A consolidação da UNIOESTE foi conduzida de forma a promover a unidade

organizacional a partir de decisões democráticas entre os quatro campi, conforme

afirma BEHR (1996):

As diferenças regionais estavam sendo diluídas, porque o projeto político-organizacionalprivilegiava a descentralização das decisões administrativas e o entendimento para a tomadadas decisões estratégicas se davam num clima de discussão acadêmica, de forma que assoluções, se não agradavam, pelo menos eram aceitas pelos campi, pois o processo erademocrático e as regras eram aceitas por todos (BEHR, 1996, p.80).

Embora o processo tenha sido rompido, BEHR (1996) destaca algumas

dificuldades no processo de consolidação da UNIOESTE que podem refletir as

divergências na integração de culturas. O autor expôs as perseguições e as relações de

poder que se estabeleceram no decorrer da negociação pela universidade o que não foi

mencionado pelos entrevistados (exceto o entrevistado CASCAVEL-1 que mencionou

as perseguições e exonerações).

Para o quadro de funcionários docentes e técnico-administrativos os resultados

foram positivos, uma vez que passaram a pertencer à mantenedora do Governo do

Estado, ou seja, todos os membros passaram imediatamente a fazer parte do quadro

efetivo do Estado, passaram a ser estatutários, o gerou maior estabilidade profissional,

característica muito valorizada na época (RONDON-1, TOLEDO-2, FOZ-2,

CASCAVEL-1). Todos os entrevistados mencionaram que tiveram ganhos com a

consolidação da UNIOESTE, e destacaram como maior ganho a melhoria do contrato

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de trabalho, pois todos os membros da organização foram absorvidos automaticamente

pelo Estado, como funcionários públicos.

Sem maiores problemas burocráticos, de acordo com os entrevistados,

considerou-se este processo como uma conquista para os membros da organização.

Esse fator representou uma reação positiva frente ao confronto de culturas nesta fusão,

pois as vantagens profissionais superariam outros problemas de integração.

Embora muitos dos entrevistados acreditassem que a integração não fora

prejudicada, e que não houve perdas de pessoal, pode-se observar, na pesquisa de

BEHR (1999), que alguns membros da organização que faziam oposição ao governo

foram perseguidos e demitidos. Também CASCAVEL-1 mencionou a exoneração de

dois membros da organização, embora não tenha abordado a questão com maior

profundidade. “Exoneraram o Ricardo Behr, de Foz e exoneraram também o Ames, de

Toledo (...) proibida mobilização, botava ..., perseguia, eu mesmo tive cinco processos

na justiça comum e eu fui me defender, ganhei todos eles (...)”.

Também TOLEDO-4 ressalta que alguns membros tiveram perdas na

implementação de cargos e salários, principalmente os docentes de Toledo e Marechal

Cândido Rondon, e o trato com esses membros foi autocrático, “o trato com os que

perderam era totalmente autocrático. Determinamos e fim de papo” (TOLEDO-4).

BEHR (1996) cita a fala de um de seus entrevistados, um professor que

participou do processo de fusão que declarou na época o seguinte: “Os que persistiram

em manter a resistência, foram demitidos e submetidos a duvidosos inquéritos

administrativos, como foi o caso dos diretores José Luiz Ames (Toledo), Eurides

Rosseto (Cascavel) e Ricardo Roberto Behr (Foz do Iguaçu)”. (SCHERER apud

BEHR, 1996, p. 49) .

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O autor ainda esclarece, através de documentos, que os inquéritos

administrativos foram favoráveis aos diretores envolvidos, demonstrando lisura e ética

na sua administração.

Os diretores das faculdades e a direção central trabalhavam com a maior lisura possível,como recomendam os princípios da administração pública, probidade, impessoalidade, etc.Todos os diretores, José kuiava, Eurides Rossetto, Ricardo Roberto Behr, José Ames eTarcísio Vanderline, tiveram suas contas aprovadas com certidões expedidas pelo Tribunalde Contas (BEHR, 1996, p. 53).

Isso se deu após haver a primeira eleição para reitor na UNIOESTE, na qual

um diretor foi eleito pela comunidade acadêmica, mas outro concorrente assumiu o

cargo por indicação do governador Roberto Requião. O candidato vencedor das

eleições não pertencia ao partido do governador, o cargo prescrevia alguém que fosse

de confiança do governador, por isso, acredita-se que o candidato eleito não atendesse

a essa prerrogativa, ou então, porque o candidato não era da cidade de Cascavel, o que

na época configurava um cenário de constantes rivalidades entre Cascavel e as demais

cidades, em termos de alianças político-partidárias entre o governo e as entidades

representativas da cidade de Cascavel.

Entre os entrevistados de BEHR (1996) estão três pessoas que também foram

entrevistadas nesta pesquisa. Observou-se que a pesquisa de Behr foi realizada no

momento em que as dificuldades de integração estavam ocorrendo, ao menos é o que

revelam suas abordagens e relatos coletados na época.

Neste momento, porém, com o processo já tendo percorrido vários anos após a

consolidação da UNIOESTE, os mesmos entrevistados que outrora corroboraram com

as abordagens de BEHR (1996), olhando para o passado recente desse processo de

consolidação, consideraram que apesar de “algumas dificuldades, normais para um

processo como esse”, o resultado foi extremamente positivo, a conquista da

universidade pública era uma aspiração de todos.

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Alguns consideraram que somente se desligaram da universidade aqueles que

não desejavam mais permanecer na instituição por razões particulares ou preferências

pessoais. O entrevistado CASCAVEL-1 acredita que em se tratando de perdas na

organização, a universidade perdeu força enquanto movimento, enquanto espaço para

discussões abertas e lutas pelo papel da universidade, “perdeu sua alma”, ao não

discutir mais o grande destino da universidade. Segundo este entrevistado, a

universidade hoje somente cumpre o trivial, o burocrático, e ressalta que esta é uma

visão pessoal que talvez não se estenda a outros membros da UNIOESTE.

Os entrevistados destacaram que enquanto resultados inesperados nas pessoas

das organizações envolvidas, percebeu-se sentimentos de ansiedade frente à mudança,

mas prevaleceram os sentimentos de satisfação pela conquista que haviam conseguido

com a fusão e principalmente com a estadualização da universidade. Mas também

percebeu-se que a dedicação e o comprometimento de alguns membros para com a

universidade diminuíram após a fusão.

Eu acho que houve de tudo, houve euforia, houve satisfação, houve medo, insegurança,ansiedade (...) você não sabia no que ia dar (...) mas também a confiança de que ia dar certo(...) sentimentos contraditórios. (...) resistência (...) em determinadas situações havia, onde,vinha do diretor de centro, né, que não era reitor, (...) algumas discussões e quando ia pradiscussão no campus se dizia assim, não mas nós não concordamos com isso, nós não vamosfazer (...) cada um queria crescer por si só (FOZ-3).

A partir do processo de integração pode-se destacar o surgimento de

características na cultura organizacional da UNIOESTE que se desenvolveram e foram

reforçadas pela história da consolidação desta organização, que serão apresentadas a

seguir.

4.2.7 Traços da Cultura Organizacional da UNIOESTE

Observa-se que todo o processo de desenvolvimento e consolidação da

UNIOESTE caracterizou a cultura organizacional que se tem hoje, composta por

relações que aproximam determinados grupos, normalmente por categoria ou

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especialização ou ainda por preferências ideológicas ou partidárias, e que também

geram certo individualismo em outros momentos.

Os grupos eram fortes e foram impondo situações. E a cultura foi sendo criada nessadiversidade toda que existe até hoje. Grupos totalmente antagônicos que em determinadosmomentos são tão unidos por determinadas causas e tão distantes, e lutando entre si emoutras situações. Eu acho que isso é riqueza dentro da universidade (FOZ-3).

Isso decorre de vários fatores, entre eles, de o tamanho da organização

contemplar uma burocratização dos serviços, que se faz necessária para atender à

estrutura, mas estabelece diferentes tipos de comportamento _ a sistematização

facilitadora de processos, até o entrave de procedimentos causado muitas vezes por

falta de qualidade no atendimento, falta de compreensão dos procedimentos e

processos administrativos.

O que a gente sente é que houve retenção da informação. Muita gente, tendo o conhecimentoacha que quando tem conhecimento de alguma coisa é melhor guardar pra si, pra não abrir,por causa da concorrência (FOZ-3).

Eu acho que existe hoje um controle muito bom. Porque esse negócio da prestação de contas,destinação de verbas, antigamente não tinha muito esse controle. Nessa parte eu soufavorável à burocracia. Eu não sou favorável aquele monte de papel que eu acho umdesperdício, faz o mesmo papel vinte vezes... A parte burocrática tá desorganizada e tem quemelhorar (TOLEDO-4).

Também pode-se destacar que a estrutura universitária brasileira afeta o

comportamento e as relações organizacionais a medida que favorece a criação de

cargos remunerados para algumas funções, gerando conflitos internos.

A implantação dessa estrutura da forma como foi, é..., e eu nem digo com relação à estruturaem si, eu digo com relação ao aspecto financeiro, foi a grande causa das dificuldades derelacionamento que hoje existem na UNIOESTE, no quadro funcional (TOLEDO-3).

E novamente acentuam-se as características destacadas anteriormente por

TRIGUEIRO (1999) e por MINTZBERG (2001), que configuram a cultura

organizacional da universidade pela quebra da burocracia para favorecer interesses.

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No entanto a necessidade da burocracia é tida como fundamental na

manutenção de organizações com estruturas complexas como a universidade, para que

se tenha o mínimo de acompanhamento das atividades da organização, no sentido de

controle de verbas, materiais, recursos humanos, e também para facilitar a

comunicação dentro da organização sobre o que acontece, favorecendo a integração,

cada vez mais difícil diante da estrutura posta. No entanto, há de se concordar com o

entrevistado CASCAVEL-1 que mencionou o fato de a universidade se preocupar

excessivamente com o burocrático e não mais proporcionar discussões sobre o seu

destino e o seu papel na sociedade.

Observa-se que muitos elementos se destacaram na configuração da cultura

organizacional da UNIOESTE, a qual se assemelha às demais universidades públicas

relatadas por HANDY (1994), por MINTZBERG (2001) e por TRIGUEIRO (1999). A

partir desses autores torna-se possível atribuir maior parte das características culturais

da universidade à sua estrutura hierárquica, cuja distribuição de poder é centralizadora

e mutante.

Nessa estrutura, incluem-se também as formas de decisão coletivas para

questões administrativas e individuais para profissionais (principalmente relativos aos

docentes), gerando um conflito de interesses que se associam na visão dos três autores,

às influências externas presentes na universidade.

4.2.8 Diferenças na Visão dos Membros da UNIOESTE Sobre a Organização

A partir do questionário enviado a uma amostra de 170 membros da

UNIOESTE, dos quais retornaram 71 questionários, conseguiu-se visualizar as

opiniões das categorias dos docentes e funcionários, sobre a visão que os mesmos

demonstraram ter a respeito da sua organização.

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Este questionário foi elaborado com base na tipologia utilizada por HANDY(1994) para classificar as culturas organizacionais. De acordo com esse autor, existemquatro tipos de cultura organizacional com características diferenciadas, a cultura declube, associada a Zeus, um deus grego, cuja característica mais marcante é acentralização do poder; a cultura de função, associada ao deus Apolo, representadapela ordem e pelas normas; a cultura de tarefa, associada à deusa Atena, umaguerreira, com destaque para a resolução de problemas a medida que os mesmossurgem; e, a cultura existencial, associada ao deus Dionísio, representa a liberdadeindividual nas organizações.

No questionário enviado aos membros da UNIOESTE, as características decada tipo de cultura estavam fora de ordem para que os mesmos não pudessemrelacioná-las entre as questões. No entanto, a seguir, para caracterizar cada tipo decultura agruparam-se as características dentro de cada tipo de cultura.

a) Cultura de clube, associada a Zeus, deus grego que representa o podermaior, centralizador. De acordo com a maioria dos pesquisados, esta é a culturapredominante na UNIOESTE (55% dos pesquisados: 19 docentes e 20 funcionários):

QUADRO 1 – CULTURA DE CLUBE (ZEUS)CRITÉRIO CARACTERÍSTICA

Um bom chefe é forte, decidido e firme, mas amável. É protetor, generoso eindulgente com os seus subordinados leais.

Um bom subordinado trabalha duro, é leal aos interesses de seu superior, édesembaraçado e digno de confiança.

Um bom membro da organização dáprioridade

a exigências pessoais do chefe.

Pessoas que fazem bem à organizaçãosão

politicamente informadas, gostam de assumir riscos e atuam à suamaneira.

A organização trata o indivíduo como um agente de confiança, cujo tempo e energia estão àdisposição daqueles que movimentam a organização.

As pessoas são controladas einfluenciadas

pelo exercício pessoal de gratificações, punições ou carisma.

É válido uma pessoa controlar asatividades de outra se

a que controla tiver mais poder de influência dentro daorganização.

As bases para a atribuição de tarefas as necessidades pessoais e o julgamento daqueles que chefiam aárea.

Competição serve para obter vantagens e poder pessoal.

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b) Cultura de função, associada ao deus Apolo. Embora a maioria dosmembros acredite que a organização está melhor representada pela cultura de clube,este índice é representado pela categoria dos funcionários. Já 59% dos pesquisados dacategoria docente vêem na sua organização a cultura de função.

Estes dados demonstram a diferença entre as categorias docente e funcionário,já explicitada por Handy (1994), uma vez que os docentes tem necessidades diferentesdos funcionários. Os docentes, peritos ou os profissionais na classificação deMintzberg (2001), precisam de autonomia para atuar, não estão dispostos a seguirnormas muito rígidas e gostam de liberdade para preparar suas aulas em outro locaisque não sejam a organização onde atuam, podendo inclusive atuar em mais de umaorganização ao mesmo tempo. Os funcionários estão mais ligados à estrutura denormas e por esta razão sua forma de perceber a organização é diferente.

QUADRO 2 – CULTURA DE FUNÇÃO (APOLO)CRITÉRIO CARACTERÍSTICA

Um bom chefe É impessoal e correto, evitando tirar vantagem de sua autoridade. Exigede seus subordinados apenas o que é exigido pelo sistema formal.

Um bom subordinado É responsável e confiável, cumprindo os deveres e responsabilidades deseu alto posto e evitando ações que surpreendem ou embarcam seusuperior.

Um bom membro daorganização dá prioridade

Aos deveres, responsabilidades e exigências de sua própria função e aospadrões costumeiros de comportamento pessoal.

Pessoas que fazem bem àorganização são

São conscienciosos e responsáveis, com forte senso de lealdade para coma organização.

A organização trata o indivíduo Como tendo direitos e responsabilidades de ambos os lados, apesar de seutempo e energia estarem acessíveis por um contrato.

As pessoas são controladas einfluenciadas

Exercício impessoal de poder econômico e político para forçarprocedimentos e padrões de desempenho.

É válido uma pessoa controlaras atividades de outra se

Se sua função prescreve que tenha responsabilidade de dirigir outraspessoas.

As bases para a atribuição detarefas são

Divisões formais de função e responsabilidade no sistema.

Competição serve para Para obter uma posição de status elevado no sistema formal.

c) Cultura de tarefa, associada à deusa Atena. A maioria dos membros da

UNIOESTE têm como preferência pessoal este tipo de cultura, como ideal para

trabalhar (51% dos pesquisados: 17 docentes e 19 funcionários).

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Esta cultura representa a preferência da maioria dos membros da UNIOESTE,

uma cultura associada a Atena, deusa guerreira. Nessa cultura a preocupação básica

está em solucionar os problemas a medida que aparecem, o que exige dos seus

membros espaço para criatividade e inovação. Quem pode exercer influência e poder

está nos profissionais que realmente detêm o conhecimento e que são criativos.

Nessa cultura, não cabe a empatia e os apadrinhamentos expressos na cultura

de clube, a qual representa a UNIOESTE para 55% dos membros pesquisados.

QUADRO 3 – CULTURA DE TAREFA (ATENA)CRITÉRIO CARACTERÍSTICA

Um bom chefe É igualitário e influenciável em assuntos relativos à tarefa. Usa suaautoridade para obter os recursos necessários ao prosseguimento dotrabalho.

Um bom subordinado É automotivado a dar o melhor de si ao trabalho e aberto a idéias esugestões. Contudo, deseja ceder o mando a outros, quando estesmostram uma capacidade ou especialização maior.

Um bom membro daorganização dá prioridade

Requisitos de habilidade, capacidade, energia e recursos materiais para aexecução da tarefa.

Pessoas que fazem bem àorganização são

São tecnicamente competentes e eficientes, com um forte compromissopara a realização do trabalho.

A organização trata o indivíduo Como colaboradores, que empenham suas capacidades e habilitações parauma causa comum.

As pessoas são controladas einfluenciadas

Comunicação e discussão dos requisitos da tarefa, orientando para a açãoapropriada, motivada pelo compromisso pessoal de atingir a meta.

É válido uma pessoa controlaras atividades de outra se

Se tiver mais conhecimento relativo à tarefa executada.

As bases para a atribuição detarefas são

Habilidade e especialização no trabalho.

Competição serve para Para elevar a contribuição à tarefa.

d) Cultura existencial, associada ao deus Dionísio. Embora a maioria dos

pesquisados tenha optado pela cultura de tarefa, a maioria dos docentes optou pela

cultura existencial (59% dos docentes pesquisados).

Percebe-se que grande parte dos docentes entrevistados tem preferência por

organizações com a cultura existencial, salientando a diferença com as preferências

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dos funcionários (cultura de tarefa). Nessa cultura a organização tem um único

objetivo, ajudar o indivíduo a atingir seu propósito. Os indivíduos, profissionais com

habilidade profissional, podem preservar sua individualidade, sua liberdade e sua

própria identidade.

QUADRO 4 – CULTURA EXISTENCIAL (DIONÍSIO)CRITÉRIO CARACTERÍSTICA

Um bom chefe Preocupa-se e é suscetível às necessidades pessoais e valores dos outros.Usa sua posição para satisfazer e estimular oportunidades de crescimentopara seus subordinados.

Um bom subordinado Está vitalmente interessado no desenvolvimento de suas própriaspotencialidades e aberto à aprendizagem ou recebimento de auxílio.Respeita também as necessidades e valores dos outros, desejando ajudá-los e contribuir para o seu desenvolvimento.

Um bom membro daorganização dá prioridade

Necessidades pessoais dos indivíduos envolvidos.

Pessoas que fazem bem àorganização são

São eficientes e competentes em relações pessoais, com um fortecompromisso em relação ao crescimento e desenvolvimento de talentosindividuais.

A organização trata o indivíduo Como uma pessoa interessante e talentosa, com seus próprios direitos.

As pessoas são controladas einfluenciadas

Interesse extrínseco e prazer em realizar e/ou preocupação e cuidado emrelação às necessidades das outras pessoas envolvidas.

É válido uma pessoa controlaras atividades de outra se

Se for aceito por aqueles a quem controla.

As bases para a atribuição detarefas são

Desejos e necessidades pessoais de aprender a crescer por parte dos

membros da organização.

Competição serve para Para chamar a atenção de alguém sobre as próprias necessidades pessoais.

Percebe-se que no geral a cultura da UNIOESTE tende a ser representada por

características da cultura de clube (Zeus), com 59% dos pesquisados. A maioria dos

membros, também no percentual de 59%, têm preferência pela cultura de tarefa

(Atena), embora se perceba a divisão entre os docentes, que optaram por classificações

diferentes em um nível de 50%, ou seja, metade concorda com os funcionários e outra

metade discorda.

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No entanto, não foi objetivo desta pesquisa aprofundar-se no diagnóstico da

cultura organizacional da UNIOESTE, mas localizar diferenças entre os campi na

visão que os mesmos demonstram sobre a organização. Por esta razão elaborou-se, a

partir dos dados coletados o quadro seguinte para demonstrar as opções de cada

campus.

QUADRO 5– CULTURA ORGANIZACIONAL DA UNIOESTE CLASSIFICAÇÃOPOR CAMPUS:

OrganizaçãoCultura de Clube Cultura de Função Cultura de Tarefa Cultura

ExistencialToledo 15 9 0 3Cascavel 10 3 0 2Rondon 6 6 0 0Foz 8 7 2 0

A maioria dos membros dos campi de Toledo e Cascavel optaram pela cultura

de clube, como sendo a caracterização mais apropriada para descrever a UNIOESTE.

Os membros dos campi de Marechal Cândido Rondon e de Foz do Iguaçu igualaram-

se na divisão das opiniões entre a cultura de clube e a cultura de função. Esse

diagnóstico aponta pequenas diferenças entre os campi, e demonstra que há uma certa

homogeneidade nas preferências e pressupostos entre os membros da UNIOESTE.

QUADRO 6 – CULTURA DESEJADA PELOS MEMBROS DA UNIOESTE,CLASSIFICAÇÃO POR CAMPUS:

Preferência Pessoal

Cultura de Clube Cultura de Função Cultura de Tarefa CulturaExistencial

Toledo 0 0 12 15Cascavel 0 6 9 3Rondon 0 3 4 2Foz 0 2 11 4

A maioria dos membros da UNIOESTE têm preferência pela cultura de tarefa

(59%), sendo que somente os membros do campus de Toledo tenham se dividido entre

a cultura de tarefa e a cultura existencial, configurando novamente uma certa

homogeneidade nas preferências dos membros da UNIOESTE. Sendo que as

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diferenças maiores podem ser observadas entre as categorias docentes e funcionários, e

não entre os campi (anexo 6).

Por fim, após observadas as respostas dos questionários e os relatos dos

entrevistados, pode-se dizer que entre as caraterísticas da cultura organizacional da

UNIOESTE, estão alguns antagonismos como:

a) relações coletivas com busca à cooperação no que diz respeito à

incorporação dos valores sociais do atendimento público, mas individuais

em outros momentos, deixando de lado a visão social da universidade;

b) empenho e comprometimento com os objetivos institucionais, em

contrapartida resistências às iniciativas da organização decorrentes das

constantes mudanças de gestão e interferências externas no contexto

interno da universidade;

c) bairrismos na busca de interesses de cada campus quando as discussões

envolvem recursos (financeiros, materiais ou humanos), e unidade quando

se trata de identificar-se com o que a universidade tem conquistado de

positivo como o status de 8ª melhor universidade do Brasil em 2000, e 13ª

melhor do Brasil em 2002. Ressalta-se que as diferenças entre os campi

não decorre das diferenças culturais das faculdades no período pré-fusão,

mas da história que cerca a constituição da universidade;

d) centralização do poder nos diversos níveis administrativos como

financeiro, recursos humanos, pesquisa e extensão, o que gera

burocratização de procedimentos, e autonomia descentralizada nos campi

na administração local dos cursos e centros e autonomia profissional do

professor em sua rotina de trabalho;

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e) diferenciação de classes docente e técnico-administrativo, o que na opinião

dos entrevistados TOLEDO-3 e CASCAVEL-3, foi iniciado pela divisão

das associações de funcionários e de docentes, sendo que antes da fusão

havia uma única associação dos servidores das faculdades;

f) cultura homogênea no que diz respeito as hábitos e posturas profissionais,

mas heterogênea nas relações setoriais e nos procedimentos locais, onde na

opinião do entrevistado RONDON-4, é possível perceber maior empenho e

organização técnica no despacho de procedimentos locais em Marechal

Cândido Rondon e Toledo. Uma morosidade maior decorrente muitas

vezes de insegurança quanto à responsabilidade das mesmas decisões, em

Foz do Iguaçu e, em Cascavel, pela proximidade com a Reitoria, sediada

na mesma cidade, há um comodismo em resolver tudo somente com o aval

da reitoria, mesmo nas questões que os campi tem autonomia para resolver.

Percebe-se que, num contexto geral, a cultura organizacional da UNIOESTE

deixou transparecer traços da cultura organizacional de cada organização envolvida no

processo de fusão. MASCARENHAS (2002) afirma que a cultura organizacional é um

fenômeno que está em constante transformação, pois os indivíduos afetam e são

afetados pela organização, são membros ativos na construção e reconstrução da cultura

organizacional, não sendo possível a interferência dominadora de gestores

administrativos. Essa opinião também pode ser vista na obra de TRIGUEIRO (1999),

quando esse afirma que os homens afetam a organização, tanto quanto a organização

afeta os homens, embora, para esse autor, seja importante aos gestores universitários

compreender a universidade para promover mudanças que são necessárias no contexto

brasileiro de universidades públicas.

Sobre a cultura ou a identidade da UNIOESTE uma conclusão mais

contundente foi observada por um dos entrevistados da seguinte forma:

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A universidade tem uma identidade, mas essa identidade ainda é um pouco frágil. Ela já éconhecida como UNIOESTE, como multicampi, que nasceu na luta, que nasceu nainsistência, na organização, na unidade dessa região, no envolvimento das suas políticasexternas na universidade, um forte movimento estudantil. E ela conseguiu essa identidade,esse processo todo e com qualidade (referindo-se à avaliação do MEC na qual a UNIOESTEesteve e está entre as melhores do Brasil, não em tamanho, mas em organização, de acordocom os critérios da avaliação). (...) Ela tem uma unidade, uma identidade, mas essaidentidade ainda não é muito consolidada. (...) Quando começa a dar muita ênfase no regular,controlar e punir, está inibindo a produção artística e (...) as normas são muito corporativas(CASCAVEL-1).

De acordo com o entrevistado CASCAVEL-1 a cultura da UNIOESTE,

herdou, no campo de movimentos, os traços da cultura de Cascavel que se destacaram

durante a fusão e permaneceram. Segundo esse entrevistado foi uma herança da

cultura da FECIVEL, o fato dos membros da UNIOESTE buscarem ainda hoje seus

objetivos com mais afinco, por meio de lutas, de greves, de movimentos envolvendo

órgãos representativos.

Esse entrevistado conclui seu depoimento mostrando-se preocupado com o

destino da universidade, principalmente por ser período de eleições na UNIOESTE

(2003) e “novamente não se tem demonstrado entre os prováveis candidatos a

preocupação com o papel da universidade”, o que demonstra o padrão de

comportamento no cumprimento apenas burocrático das funções.

Talvez a observação do entrevistado se deva pela sua formação na área de

educação. Acredita-se que o mesmo esteja refletindo as preocupações do momento na

sua área, o resgate do caráter institucional da universidade pública brasileira, que

também foi observado por Chauí (1999, p. 216):

(...) a universidade pública perde a idéia e a prática da autonomia, pois esta, agora, se reduz àgestão de receitas e despesas, de acordo com o contrato de gestão pelo qual o Estadoestabelece metas e indicadores de desempenho, que determinam a renovação ou não do novocontrato.

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4.2.9 O Significado da Consolidação da UNIOESTE para os Entrevistados

Embora apresentem muitas dúvidas com o futuro da instituição, os

entrevistados afirmaram o seguinte:

Essa foi a coisa mais bela que aconteceu no oeste do Paraná. (...)a coisa mais linda que aconteceudentro da universidade, o professor pode dar aula, o professor pode sua pesquisar, pode atender acomunidade (...) estou dizendo com toda sinceridade pra você, de quem viu e quem sentiu, é umsentimento de glória pra gente (TOLEDO-1).

Foi uma coisa tão grande, mas eu diria que foi importante. (...) Uma conquista boa que a gente tem.Hoje a UNIOESTE é reconhecida apesar de todas as dificuldades que tem né. Ainda tem uma boacolocação, tem respeito..... Eu sou UNIOESTENSE (TOLEDO-2).

Eu diria que foi uma idéia muito feliz. E uma demonstração de que quando se quer seconsegue. E uma demonstração de empenho muito grande de um grupo que estabeleceu umobjetivo, foi atrás e alcançou. A Universidade do Oeste do Paraná é a grande riqueza que nóstemos, é um ponto de referência em termos de educação no Oeste do Paraná, por mais queinstituições particulares se instalem, e eu as respeito. Mas o ponto de referência é aUNIOESTE pela sua qualidade, pela qualidade dos profissionais (TOLEDO-3).

Essa foi a coisa mais bela que aconteceu no oeste do Paraná (TOLEDO-4).

Acho que a melhor coisa que aconteceu, foi essa consolidação. Quer dizer consolidadatotalmente acho que não está, né. Está em processo de consolidação, e eu acho que a nossaUNIOESTE tem muito caminho pela frente ainda, ela é muito promissora. Eu acho que elavai se consolidar como uma das grandes universidades, eu acho que a gente já está lá nosmanuais como uma das universidades de referência (...) As pessoas estão aprendendo, todomundo está crescendo (...) boto fé nisso (FOZ-1).

Um avanço para a região Oeste do Paraná. E uma consolidação regional do centro detecnologia. E eu diria mais, é o maior avanço da região. Porque Itaipu é um avançotecnológico local, do governo Federal. Agora a região como um todo, ela agregou valores ,né, que estão sendo plantados agora, que aí vai um perfil todo da região Cone Sul (FOZ-2).

(...) muito difícil, mas muito rico do ponto de vista da criação da universidade, da UNIOESTE,multicampi e na forma como foi criada. Foi inédito e não podia ser diferente pra que a UNIOESTEfosse o que ela é hoje. Ela é hoje porque houve esse processo (CASCAVEL-1).

Eu vi isso aí como um prêmio, porque eu fui um dos professores (...) que juntamente com ogrupo teve a idéia de implantar uma faculdade municipal, (...) quando houve, então aimplantação da universidade pra mim foi o máximo, porque, é... eu fui organizador da antigaFECIVEL, fui aluno dela durante 8 anos, ingressei no magistério dela mesmo, e depois vertudo aquilo se transformar em universidade, pra mim foi um coroamento (CASCAVEL-3).

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Vale a pena, sempre lutar né. Lutar por alguma coisa, por um ideal, é a coisa mais certa(RONDON-2).

Foi uma grandeza muito grande pros municípios, todos né. (...) acho que ela gradativamenteestá interferindo muito no crescimento, no todo de cada município, da região (...) mudoumuito nossa região, não só pelas cidades, mas pela própria educação (RONDON-3).

A consolidação da UNIOESTE, para o oeste do Paraná, foi uma vitória. Expressa hoje aqualidade que aí está. É inegável, a UNIOESTE hoje é uma das principais universidadesbrasileiras, e diga-se de passagem, nós temos hoje (RONDON-4).

Todos os entrevistados demonstraram que as diferenças e os problemas

existentes na universidade e na sua formação refletiram-se no comportamento da

universidade, na cultura atual da organização. Entretanto, todos ressaltaram, ao final

da pesquisa, os benefícios da construção da universidade pública no oeste do Paraná,

cujo maior enfoque foi a realização de um plano, de um sonho, a construção de uma

idéia ou de um projeto idealizado, que passou por situações inesperadas, pela falta de

um planejamento mais detalhado sobre o confronto de culturas, mas que superou as

dificuldades, característica distinta dos processos de fusão de empresas privadas.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir deste estudo de caso, constatou-se que muitas das características da

cultura organizacional da UNIOESTE são próprias de uma universidade pública como

bem caracterizou MINTZBERG (2001) e HANDY (1994). No entanto, julgando o

impacto da fusão das quatro faculdades no processo de consolidação da UNIOESTE, é

possível rever alguns elementos da cultura organizacional como reflexo das etapas do

processo, ou seja: alguns foram resultado da influência dos objetivos que motivaram a

fusão; outros da forma como foi conduzida a integração das organizações envolvidas;

outros representaram a história da consolidação da UNIOESTE como um todo, que

ainda está em construção. Da mesma forma, pode-se relacionar algumas características

culturais com a influência da cultura organizacional de cada uma das faculdades, e

estas, relacionadas à influência cultural da sua região e da sua história.

(...) embora as organizações tenham impacto sobre os indivíduos, estes também interferem nascaracterísticas estruturais, reforçando-as ou pressionando-as para sua modificação. Nessainteração entre indivíduo e estrutura, a cultura organizacional assume papel fundamental,reproduzindo padrões correntes ou criando as condições sociais-históricas nas quaismudanças, tensões, conflitos e rupturas poderão ocorrer; isto é, as transformações processadasno âmbito interno das organizações não se dão em um vácuo histórico e social, mas, aocontrário, são plasmadas em um ambiente de valores, rituais, crenças, práticas, objetosmateriais, espaços e tempos sociais determinados, que dão sentido à estrutura organizacional eàs relações interpessoais (TRIGUEIRO, 1999, 32-33).

Esse autor refere-se às características das universidades em três elementos: a

formalização das relações e dos processos; a complexidade que cerca as decisões e

interfere na estrutura organizacional e vice-versa; e a centralização do poder, que

manifesta-se com muita ambigüidade nas universidades públicas brasileiras, onde a

distribuição do poder é ampla em decorrência da estrutura hierárquica sobre a qual se

pautam as decisões.

Para expor os resultados deste estudo, optou-se por seguir os principais

elementos necessários à integração de culturas citados por NADLER e LIMPERT

(1993) e, após, algumas considerações sobre a cultura organizacional da UNIOESTE,

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evidenciando os elementos que são resultado do processo de fusão, e outros que são

reflexo do contexto de uma universidade pública.

a) principais aspectos da cultura de cada organização participante da fusão

(referem-se ao período anterior à fusão):

FACIMAR (Faculdade de Ciências Humanas de Marechal Cândido Rondon) –

cursos voltados à formação docente, influência germânica (ordem, regulamentos,

eficácia, padronização, boa aparência, manutenção da tradição e dos valores étnicos).

FACISA (Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Foz do Iguaçu) –

convívio com diferenças, interferência externa (na cidade e na organização) gerando

comodismo e aceitação, relacionamentos amigáveis.

FACITOL (Faculdade de Ciências Humanas Arnaldo Busato de Toledo) – por

influência da cultura italiana sobressaíram-se os valores relacionados à religião (a

iniciativa de criação da faculdade partiu do clero, da igreja), além dos valores

familiares, proximidade, respeito a hierarquias, não ostentação de valores, preservação

de reservas financeiras, afeição ao trabalho.

FECIVEL (Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Cascavel) – pressão

(comunidade e política), uso de luta e reivindicações, articulações nas relações tanto

internas como externas.

b) a relação entre as organizações no período pré-fusão era de concorrência,

embora a distância tenha marcado suas relações, pois cada qual lutava pelos seus

cursos e seu desenvolvimento isoladamente;

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c) os motivos que levaram à fusão, as perspectivas das organizações sobre a

fusão e os fatores que motivaram ou nos quais se inspiraram as organizações a optarem

por esse tipo de aliança. Todas as organizações envolvidas manifestaram objetivos

comuns:

- reconhecimento político do Oeste do Paraná;

- ensino público e gratuito;

- manter o estabelecimento de ensino (financeiro);

- desenvolver o estabelecimento de ensino (progresso);

- expandir a área de abrangência (regionalizar);

- desenvolvimento da economia local (nas quatro cidades) e regional;

- aumentar a força do ensino superior.

d) a situação geral das organizações envolvidas (saúde financeira, posição de

caixa, recursos da profundidade de administração e estilo administrativo):

- todas as organizações envolvidas começavam a apresentar dificuldades

financeiras, todas eram fundações municipais mantidas com verbas do

município e com mensalidades de alunos, mas não tinham como superar

essas dificuldades e também não havia perspectiva de desenvolvimento das

instituições de ensino;

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- havia diferenças no estilo de administrar (duas das organizações, pelas

influências germânica e italiana, procuravam manter-se, com estilo mais

rígido para fazer as coisas certas, vestiam a camisa, ambiente mais familiar,

relações estreitas de amizade e de trabalho; uma organização se destacava

das demais por ser de maior tamanho e mais antiga, com um estilo de

administração mais autoritário, na visão de uma entrevistada; e outra

apresentava um estilo mais maleável de administração, em decorrência da

diversidade cultural com que estava habituada a conviver, ressaltando a

aceitação do diferente).

e) grau de diferenças e as semelhanças entre as organizações envolvidas, no

período anterior à fusão (cultura organizacional, os sistemas operativos, as habilitações

e orientações de cada organização), pois essas diferenças poderão gerar conflitos se

estiverem relacionadas a valores ou pressupostos básicos:

- havia poucas diferenças (estilo de administrar e de conquistar os objetivos);

- havia semelhanças quanto à estrutura (todas eram fundações municipais),

aos objetivos das organizações e da fusão, à forma como viram a fusão, os

resultados esperados, as pressões que sofreram de órgãos externos.

f) a influência de terceiros que têm interesse no resultado da fusão, o interesse

desses terceiros e qual seu poder de influência durante o período de integração, pois

sua influência pode gerar conflitos como pode também ajudar na integração:

- a comunidade pressionava as faculdades para a fusão, desejando manter

seus filhos na região e sem condições de mantê-los em outra cidade para

que fizessem um curso superior;

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- os representantes políticos que perceberam o impacto da fusão no

reconhecimento político do Oeste do Paraná, pressionavam as organizações

envolvidas mas auxiliaram para que se efetivasse o processo de

consolidação de uma universidade pública regional;

- os representantes do comércio, da indústria, dos governos locais dos

municípios envolvidos, percebendo o impacto econômico nas cidades

também incentivaram e auxiliaram na busca pela estadualização (pois não

precisariam mais manter a instituição e teriam retornos com o

desenvolvimento regional);

- os funcionários e professores também pressionavam seus dirigentes pois

eram os maiores interessados na criação de uma universidade pública o que

implicaria: garantia de estabilidade profissional; um plano de carreira;

status por atuar numa universidade e não mais nas faculdades municipais;

ampliação das vagas de trabalho com o crescimento da organização);

g) relevância com que foi tratada a integração de culturas:

As organizações envolvidas não se preocuparam com todos os aspectos

pertinentes à integração das organizações e das culturas, pois não houve um

planejamento das políticas organizacionais com relação à cultura da organização

futura. No entanto, as organizações desejavam realizar seu projeto assim como todos

os membros das organizações envolvidas, por isso, superaram algumas diferenças. E a

saída que encontraram para tratar as diferenças iniciais e os conflitos gerados pelas

diferenças foi a democracia nas decisões formais, e a manutenção das “vocações”(para

implantação de cursos) de cada organização, com autonomia para que cada qual

conduzisse sua rotina a seu critério, sem muita interferência. Os procedimentos que

passariam a ser unificados eram discutidos em conjunto, com representantes de todas

as localidades, e a partir de votação, decidiam como procederiam.

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h) semelhanças e diferenças culturais, após consolidada a fusão, entre os

quatro campi da organização formada, a UNIOESTE:

- era objetivo da fusão manter a individualidade de cada campus,

embora as diferenças fossem pequenas (o estilo de trabalho, e

relações entre membros mantiveram-se diferentes após a fusão, no

entanto foi possível perceber, através de dados coletados pelo

questionário, que os pressupostos básicos de todos os membros da

UNIOESTE assemelham-se nos quatro campi, havendo pequenas

diferenças entre as categorias professores e funcionários);

- a forma como cada campus busca seus objetivos é diferente, em

decorrência das diferenças de formação histórica de cada

organização no período anterior à fusão. Em Cascavel, percebem-se

rivalidades entre os membros desse campus, lutas e pressões no

período anterior à fusão podem ter influenciado neste

comportamento; em Toledo, há uma tendência à busca pelo

consenso em nome das boas relações; da mesma forma em

Marechal Cândido Rondon, a tendência é a busca pelo consenso

sem enfrentamento, embora todos os entrevistados tenham

percebido uma diferença nas relações do período pré e pós-fusão em

decorrência do aumento do tamanho da organização e da

contratação de muitos membros novos, cuja maioria vinha de fora

da cidade e também de fora do Estado; em Foz do Iguaçu, as

relações não mudaram muito, na opinião dos entrevistados,

permaneceram a aceitação e o convívio tranqüilo, pois os membros

estavam habituados à diferença, embora tenham percebido um

amadurecimento político;

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i) origem das características culturais da UNIOESTE:

- a rivalidade entre os campi acentuou-se com a fusão por vários motivos:divisão hierárquica e de poder; conseqüente divisão de recursos; localizaçãodo centro de poder, a reitoria; busca pela inovação de idéias eprocedimentos com a intenção de destacar mais um campus frente aosdemais; há de se considerar que, em contrapartida à rivalidade, percebe-seunidade entre os campi no que diz respeito à busca pelas causas dauniversidade, como por exemplo, o desejo da alteração da estruturaorganizacional; as mobilizações reivindicatórias com as greves; oreconhecimento e orgulho da colocação da UNIOESTE entre as melhoresdo Brasil; o reconhecimento do crescimento regional oportunizado pelodesenvolvimento da universidade;

- cultura homogênea no que diz respeito as hábitos e posturas profissionais,mas heterogênea nas relações setoriais e nos procedimentos locais, em que,na opinião dos entrevistados, é possível perceber maior empenho eorganização técnica nas rotinas locais em Marechal Cândido Rondon eToledo. Uma morosidade maior em foz do Iguaçu decorrente, muitas vezes,de insegurança quanto à responsabilidade das mesmas decisões; e, emCascavel, pela proximidade com a Reitoria, sediada nesta cidade, há umcomodismo em resolver tudo somente com o aval da reitoria, mesmo nasquestões em que os campi têm autonomia;

- influência da fusão: o que mais influenciou na integração das organizaçõese que foi resultado da fusão, foi o objetivo comum, levando todos osmembros e todas as organizações a lutarem juntas e superarem diferenças(mesmo que aparentemente) para ver a idéia de universidade pública serrealizada; a história de cada cidade e de cada faculdade deixou transparecertraços na cultura dos campi;

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- a influência da história da UNIOESTE (a forma como foi conduzida afusão) também construiu relações e formas de gestão. No entanto, ao longoda história da UNIOESTE, a cultura foi sendo transformada, por diversosfatores: o tamanho da organização (sua estrutura de universidade pública), odesenvolvimento regional trouxe cursos diferentes que influenciaram nodesenvolvimento local e regional que, por sua vez, interferiram nodesenvolvimento das atividades da UNIOESTE, configurando as pressõesexternas; as influências internas e o amadurecimento da organização, que seconfiguraram acentuadamente na mobilização dos membros da organizaçãopara alterar a estrutura e o regimento da organização; as influênciasmacropolíticas que vêm levando a universidade a cumprir normasburocráticas e a perder sua autonomia como universidade, alterando, comisso, o papel social da universidade (frente ao que se objetivou ao início doprocesso); o caráter público influenciou no comportamento dos membros,embora, na opinião dos entrevistados, de formas diferentes para alguns(como acontece quando há muitos membros, uns se orgulham e outros seutilizam da instituição para benefício próprio); influência de novosmembros com culturas e valores diferentes; influência do caráterprofissional (docentes são profissionais com liberdade de atuação, nãogostam de burocracias, técnico-administrativos querem normas eprocedimentos, são acostumados com a rotina de trabalho); influência daorganização universitária (curtos períodos de gestão levam a trocasconstantes de cargos e gratificações, assim como mudam constantementeobjetivos estratégicos, estilos de administração e as relações internas eexternas).

5.1 CONCLUSÕES SOBRE O ESTUDO DE CASO

Os procedimentos adotados pela equipe idealizadora da consolidação da

UNIOESTE voltaram-se aos motivos políticos o que significou um grande avanço para

as instituições envolvidas, uma vez que passaram a fazer parte de um órgão público

estadual. Embora a cultura das organizações envolvidas apresentasse algumas

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diferenças, no geral eram semelhantes (todas instituições de ensino com participação

da comunidade nas suas decisões, mantidas por verbas do município, atendendo

demandas locais), assim como eram semelhantes os objetivos e as expectativas frente

ao processo de fusão, o que facilitou a integração de culturas.

Os conflitos, no processo de integração, não foram significativos pois

surgiram soluções entre os envolvidos, mas o processo foi marcado pela rivalidade

entre os campi, principalmente na busca pelo poder de decisão e pela distribuição de

recursos. No entanto a rivalidade existente entre os campi atualmente é uma herança

da história de relações das faculdades envolvidas, que lutavam e lutam pelo poder de

decisão e pelo controle da organização, salientando-se o campus de Cascavel frente

aos demais, o que, acredita-se tenha surgido em decorrência da história da organização

antes da fusão, cercada por pressões políticas exigindo dos seus membros um

amadurecimento maior com relação a reivindicações, luta por espaço político,

representatividade, desenvolvimento daquela cidade. Característica que foi transmitida

aos membros do campus de Cascavel e passou a ser vista nos outros campi, que

passaram a articular-se de formas variadas na busca dos seus objetivos (poder e

política). Ressalta-se que as articulações ocorrem entre grupos que se tornam aliados

em determinados momentos e rivais em outros, o que se deve à característica das

universidades brasileiras, nas quais a troca de gestão se dá a cada quatro anos, com

influências políticas e pressões externas, dando margem aos jogos políticos internos.

No processo de consolidação, não houve o planejamento da integração das

organizações assim como não houve o planejamento do confronto de culturas. No

entanto, no decorrer do processo, mencionou-se a necessidade de manter a

individualidade, a autonomia e os costumes de cada organização, estimulando as

diferenças. Assim como foi preocupação manter a democracia nas decisões. No

entanto, mostrou-se evidente a homogeneidade em alguns momentos, principalmente

no objetivo das organizações, a conquista por uma universidade pública e gratuita, e

ainda pôde-se perceber que, com o tempo, os membros buscaram se articular em força

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conjunta na busca por formas mais satisfatórias de decisão e controle da universidade,

discutindo a reformulação do regimento e da estrutura da UNIOESTE, demonstrando,

com isso, que a unidade e a democracia podem ressurgir nas grades decisões da

universidade.

Pode-se dizer, portanto, que houve a criação de uma nova cultura

organizacional, a cultura da UNIOESTE, não significando, porém, a simples soma das

culturas organizacionais das faculdades que originaram a UNIOESTE, mas essa

cultura organizacional manteve-se heterogênea, com traços diferentes em cada

campus, embora a unidade de comportamento se sobressaia nas decisões maiores da

universidade.

Como conclusão, acredita-se ter sido possível demonstrar, com este estudo de

caso, que a cultura não pode ser controlada por gestores, pelo contrário, a cultura

organizacional deve ser utilizada como uma metáfora para descrever a organização

enquanto cultura. Neste estudo de caso, percebeu-se a cultura organizacional formada

a partir de características advindas do seu contexto de órgão público e de universidade,

como também das resultantes da história das organizações e do processo de fusão.

Percebe-se que a cultura organizacional da UNIOESTE se formou e se alterou

ao longo da sua história e permanecerá neste processo de contínua transformação, o

que para MASCARENHAS (2002) caracteriza o fenômeno da cultura organizacional,

que está em constante transformação, uma vez que os indivíduos afetam e são afetados

pela organização. TRIGUEIRO (1999) também menciona que os homens afetam a

organização tanto quanto a organização afeta os homens. Pode-se dizer, portanto, que

a cultura dispõe de certa autonomia e é sempre modificada a partir da história e das

relações dos seus membros, não sendo possível o seu controle e domínio pelos

gestores administrativos.

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No entanto, ressalta-se que para obter êxito nas decisões é fundamental que se

observe a cultura e as subculturas da organização, pois isso ajudará não só a

compreender determinadas atitudes e comportamentos dos membros, grupos e da

própria organização, assim como ajudará a organização a enfrentar os conflitos e a

traçar direções para universidade brasileira. Na visão de CHAUÍ (1999), o verdadeiro

sentido da universidade brasileira se perdeu na atualidade, que hoje se limitam a

cumprir as rotinas burocráticas.

Desta forma, acredita-se que a universidade, como instituição social, somente

retomará seu papel a partir do momento em que seus membros e gestores passarem a

encarar a universidade como tal, dentro do seu contexto e com suas características

culturais. Não é preciso efetuar grandes mudanças na sociedade, no governo ou no que

está fora da organização, mas compreender o que está posto para estimular as

mudanças desejadas dentro da própria universidade.

5.2 REFLEXOS DA FUSÃO NA REGIÃO OESTE DO PARANÁ

Embora não houvesse uma questão específica sobre os reflexos da

UNIOESTE na região, destaca-se que a universidade trouxe várias possibilidades de

crescimento para a região. O primeiro elemento que se destaca evidentemente é ensino

superior. Com a universidade pública, buscou-se a viabilização de implantar novos

cursos, contratar novos professores e funcionários, construir novas instalações,

laboratórios, investir em biblioteca, enfim, conquistou-se qualidade e diversidade

dentro da UNIOESTE. Além disso, ressalta-se o interesse de outras instituições de

ensino superior que se instalaram na região, em decorrência da demanda que aumentou

consideravelmente nessa região.

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Além dos investimentos no ensino superior, que acabou recebendo apoio

político e financeiro na região, outros aspectos são citados pelos entrevistados como

conseqüência do crescimento da UNIOESTE. LIMA (2002) destaca que a história de

formação da região oeste é também responsável pelo seu desenvolvimento, e acredita-

se que a fusão que consolidou a UNIOESTE faça parte dessa história e tenha grandes

contribuições no cenário de desenvolvimento atual da região oeste do Paraná.

A forma como este colonos se organizaram para produzir, a estrutura de suas propriedades eas cidades que surgiram dos assentamentos, traçam o perfil do que é a Região Oeste naatualidade e seus municípios mais dinâmicos. Consequentemente, traça a situaçãogeoeconômica da Região em relação aos seus vizinhos e o seu perfil produtivo, que formouuma base de exportação assentada durante estes últimos anos na produção de trigo, milho,soja e na agroindustrialização de carnes, principalmente frangos e suínos (LIMA, 2002, p.157).

Alguns dos entrevistados destacaram sua percepção a respeito:

Eu acho que está se consolidando exatamente essa universidade com força, e tudo, até pelageo-política dela, né, a região, não tem nada próximo, quer dizer, num raio de 300 km, quase400 km, Guarapuava está a quase 400 km daqui. Então eu acho que essa, UNIOESTE, elaveio realmente num bom momento, numa boa hora, num bom local (FOZ-1).

Eu acho que uma das coisas importantes, que eu queria citar, a universidade colocou nomercado hoje, é..., a gente vê por exemplo, hoje na cidade, em todos os segmentos dasociedade, setores públicos e tudo mais, pessoas que estiveram, em algum momento, ligadasà universidade, que foram ex-alunos, e tudo mais. Então eu acho que isso é uma resposta, née tudo mais, é uma coisa boa que a instituição teve, né, atendendo até essas expectativas. Eacho que o mercado também fez isso. Os cursos, principalmente de administração, das áreasde licenciatura.... Esse aluno que tá trabalhando ali fora, ele é um peso positivo lá nainstituição dele, na empresa dele. A influência que esse sujeito pode exercer lá dentro... Osalunos dizem que agora a empresa tá deixando eles fazerem o que aprendem na universidade,tão acreditando neles, isso é bom, estão acreditando neles, e por extensão na universidade, noprofissional que a universidade está mandando (FOZ-1).

Você tem depois as primeiras avaliações do MEC, né, nós a primeira vez já ficamos comuma avaliação altíssima, 8ª universidade do país, e agora nós estamos em 13º, que é umnegócio espetacular. Você comparar, por exemplo, A UNICAMP, que tem muito maistradição, é muito mais verba (...) a posição nossa está muito boa, né, nós temos 12 cursos ...referência. Nós temos o segundo curso de Engenharia Elétrica do país, só perdemos pro ITA,Instituo Militar de Engenharia, (...) então conseguimos, eu acho, que fazer uma universidadeno Oeste do Paraná. Está faltando muita coisa, tá faltando, mas nós conseguimos montar umauniversidade que tem a tecnologia avançada, e que deve avançar muito mais. A reboque,todas as faculdades particulares, não tinha nenhuma, anos atrás só tinha as faculdades

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municipais, e mais nada. (...)Então montada, já consolidada a UNIOESTE, aí as particularesentram (...)Claro né, o governo do Estado vai mudar algumas questões, a gente não sabeainda o que vai mudar (...) mas uma coisa ele não pode mudar, que é ter um núcleo de altatecnologia que a UNIOESTE atualmente tem, isso tá consolidado. Eu acho que foi uma obraextremamente séria feita muito rápido, porque isso leva geralmente 40 , 50 anos né, nós em20 anos, estou contando desde as municipais, já conseguimos tudo isso, estou considerandoas municipais (FOZ-2).

Hoje muita gente de fora já entrou, por quê? Porque uma universidade qualificada, ela jáconseguiu dar um salto tecnológico muito bom, claro que falta um monte de coisa pra fazer,mas em vista do que tinha é um salto muito grande. E ela colabora, e acho que cada vez maisvai colaborar para o desenvolvimento regional, as pesquisas na área de agricultura, aeconomia local, os próprios cursos de administração, contábeis, isso já criou toda uma, umacultura, um modus vivendi, né, que as particulares não vão conseguir, porque isso já táconsolidado pela pública. (...) O Centro tecnológico, é da UNIOESTE com a Itaipu (...), todoo setor de psicultura da Itaipu é com a UNIOESTE, de Toledo, todo o setor de agricultura écom a UNIOESTE de Rondon... (FOZ-2).

Qual é a influência na cidade? A influência ainda é muito pequena, formamos muito poucagente, mas os nossos alunos formados estão entrado nas faculdades particulares comoprofessores, estão montando assessorias, estão montando consultorias na área de informática.(...) Eu acho que a UNIOESTE direciona e vai direcionar toda essa região. É... superando umpouco as questões não da regionalização, mas dos bairrismos, a situação vai avançar muito,né, porque isso realmente foi..., foram alguns impecílios na consolidação melhor daUNIOESTE. (...) Um avanço para a região Oeste do Paraná. E uma consolidação regional docentro de tecnologia. E eu diria mais, é o maior avanço da região. Porque Itaipu é um avançotecnológico local, do governo Federal. Agora a região como um todo, ela agregou valores ,né, que estão sendo plantados agora, que aí vai um perfil todo da região Cone Sul (FOZ-2).

A expansão, no sentido da formação dos profissionais da região, de vinda de empresas pracá, e exigências como da própria Itaipu, quando veio (...) os filhos dos diretores na época (...)então já queriam curso superior na época. (...) a sociedade como um todo já estava exigindo.(...) Os nossos pesquisadores buscaram trabalhar também a questão da região (...) foitrazendo já interesses de estudos sobre a região (FOZ-3).

CASCAVEL-1 e TOLEDO-4 mencionam ainda o crescimento da UNIOESTE

não só no fortalecimento do ensino superior na região oeste do Paraná, e no Brasil

como um todo, tendo em vista a classificação da universidade como 8ª melhor do país

e posteriormente como 13ª melhor do país, como também sugerem que houve um

crescimento político no oeste do Paraná em decorrência da consolidação da

UNIOESTE. Com o reconhecimento da importância política e econômica da região,

houve também o fortalecimento frente às políticas estaduais na distribuição de verbas

para investimentos, não só na universidade mas em todos os segmentos.

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Os entrevistados mencionam ainda a vinda de outras universidades

(particulares) para a região, o que demonstra o potencial das cidades e da região, e por

conseqüência deste investimento, aumentam também a concorrência, os investimentos

locais, os retornos econômicos, enfim todos os indicadores de desenvolvimento.

Outro aspecto mencionado pelo entrevistado FOZ-2, são os impactos dos

cursos criados na universidade, cada campus buscou atender às necessidades locais,

proporcionando o desenvolvimento dessa área nas pesquisas, na extensão, e nos

investimentos nas mais diversas áreas em toda a região. Assim, em Cascavel, por

exemplo, os investimentos acentuaram-se com destaque aos cursos das áreas médicas

tornando essa localidade um pólo de desenvolvimento na área médica; em Foz do

Iguaçu na Informática e no turismo; em Toledo, na agroindústria com os cursos de

Economia, Engenharia Química e de Pesca, que vêm crescendo e se impondo como

promissores; em Marechal Cândido Rondon, as ciências agrárias. Não se faz

necessário destacar todos os cursos de cada localidade, mas considera-se que a região

se transforma em decorrência do capital intelectual, e, por conseqüência cria novas

demandas para a universidade, que, ao atendê-las, está fazendo parte da história de

desenvolvimento da sua região. Considera-se que a UNIOESTE faça parte de um

contexto maior, de políticas governamentais (estadual, federal,

internacional_mercosul), no entanto esta seção foi exposta somente para mencionar

alguns destaques apresentados pelos entrevistados, por isso não serão explorados em

profundidade os impactos da consolidação da UNIOESTE da região.

5.3 SUGESTÕES E RECOMENDAÇÕES

As contribuições principalmente da Sociologia e da Antropologia, foram

muito eficientes no esclarecimento dos termos utilizados nos estudos organizacionais

sobre cultura organizacional. No entanto, observa-se que discussões sobre a cultura

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nacional ainda se defrontam entre os autores contemporâneos da Sociologia e

Antropologia. O que de certa forma, poderá alterar o rumo não só de algumas

prerrogativas dos estudos organizacionais, como também os elementos da cultura

nacional que influenciam nessas culturas organizacionais. Da mesma forma, observou-

se que a história, a geografia e as ciências econômicas também fornecem informações

significativas na observação de fenômenos como cultura, fusões e desenvolvimento

regional que estão interligados.

Os processos de identificação dos indivíduos com a organização são discutidos

na Administração mas poderiam conquistar mais crédito a partir da conciliação dos

estudos conjuntos com as Ciências Humanas, o que já se observa em instituições de

renome como FGV e USP.

Não se objetivou, com este trabalho, a análise mais profunda da cultura

organizacional da UNIOESTE, o que certamente poderia fazer parte de uma pesquisa

mais detalhada com resultados mais profundos sobre a cultura da organização como

um todo e a cultura de cada campus atualmente. Da mesma forma, há outros fatores

relevantes que devem ser considerados mais detalhadamente como a influência do

ingresso de muitos docentes e funcionários vindos de outras localidades (fora do

Paraná); as incorporações feitas posteriormente à UNIOESTE e as extensões criadas.

Como proposta de trabalhos futuros pode-se dizer que duas linhas se

destacam: as comparações entre fusões de outras organizações públicas para confirmar

suas diferenças frente as fusões de organizações privadas, e outra linha de pesquisa

poderia ser direcionada na busca de definir a cultura organizacional de universidades

públicas e posteriormente de outras organizações públicas, para diagnóstico que sirva

de suporte à gestão do serviço público brasileiro.

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Também seria possível explorar o impacto da consolidação da UNIOESTE no

desenvolvimento regional, pois este tema foi apresentado de forma superficial neste

trabalho.

Outro tema que chamou a atenção nas entrevistas e nos relatos de

TRIGUEIRO (1999) e CHAUÍ (1999) foi discutir os rumos da universidade brasileira,

que está se tornando cada vez mais burocrática, dando atenção excessiva aos

procedimentos, normas e regulamentos, cumprindo somente suas obrigações e

perdendo, com isso, seu caráter social que originalmente denominou essas instituições

como universidade. Para os estudiosos da administração, nem sempre essas discussões

são evidenciadas, talvez pela formação técnica e prática de gerir organizações. No

entanto, para os profissionais das organizações universitárias, os professores, estes

debates devem estar sempre presentes, e da administração pode vir a solução mais

viável para que a universidade possa voltar a atuar como uma instituição social, como

denomina CHAUÍ (1999).

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ANEXOS

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ANEXO 1 – DOCUMENTOS ANALISADOS

a) plano de ação e concepção da UNIOESTE 1991-1992 (relatório da

consolidação);

b) regimento da UNIOESTE;

c) manual de integração da Diretoria de Recursos Humanos de 1998;

d) síntese histórica da UNIOESTE, elaborada por docente da organização;

e) relatório da avaliação institucional da UNIOESTE com a síntese histórica

da organização;

f) livro publicado pelo diretor do campus de Marechal Cândido Rondon da

gestão 1992 a 1995, contendo os artigos por ele publicados na imprensa

durante este período;

g) plano de reformulação da estrutura organizacional da UNIOESTE,

documento não publicado, elaborado por docente da UNIOESTE com base

nas discussões sobre o tema no campus de Toledo;

h) três dissertações de mestrado, uma enfoca as relações de poder na

UNIOESTE no período de 1987 a 1995, outra aborda as funções formais e

reais da universidade no período anterior a 1991, e a terceira descreve as

estratégias desenvolvidas na UNIOESTE no período de 1988 a 1999.

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ANEXO 2 – RELAÇÃO DE ENTREVISTADOS

a) Toledo-1: professor da FACITOL, e assumiu a presidência da associação

dos professores, assumindo mais tarde cargos administrativos, chegando a

atuar como Diretor do Campus de Toledo;

b) Toledo-2: funcionária da FACITOL e atuava como auxiliar administrativo,

assumindo cargo administrativo (de confiança) na secretaria acadêmica;

c) Toledo-3: funcionária da FACITOL, no período pré-fusão ocupava um

cargo de confiança na secretaria acadêmica, passando a outros cargos de

confiança após a consolidação;

d) Toledo-4: professora da FACITOL, assumindo cargos administrativo-

pedagógicos, atuando politicamente nos períodos eleitorais da FACITOL e

da UNIOESTE, hoje esta entrevistada já está aposentada pela universidade

atuando em cargo gerencial em outra organização, embora não na área de

ensino;

e) Rondon-1: professor da FACIMAR, ocupou o cargo de Diretor no início

da fusão;

f) Rondon-2: funcionária da FACIMAR, atuava como auxiliar

administrativo, passando a exercer cargo de confiança após a fusão;

g) Rondon-3: funcionário da FACIMAR, e vem atuando em cargo de

confiança desde o período anterior à fusão;

h) Rondon-4: funcionário da FACIMAR, ocupava cargo de confiança no

período anterior à fusão, passando a ocupar cargos de confiança na

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Reitoria da UNIOESTE, este entrevistado também já está aposentado hoje

pela universidade atuando em cargo de chefia em outra instituição;

i) Foz-1: professora da FACISA, ocupou cargos de chefia de departamento e

coordenação de curso, antes e após a consolidação;

j) Foz-2: professor da FACISA, representante dos docentes nas discussões

sobre a fusão, ocupou cargos de coordenação de curso e chefia de

departamento;

k) Foz-3: professora da FACISA, participava ativamente das discussões sobre

a fusão, e ocupou cargos de confiança, chegando a Diretora do campus de

Foz do Iguaçu, e assumiu cargos de confiança na Reitoria após a

consolidação;

l) Cascavel-1: professor da FECIVEL, assumiu cargos de confiança no

período anterior e posterior à fusão, como Diretor do Campus de Cascavel,

e outros cargos na Reitoria, ocupou cargos importantes em outros

estabelecimentos que participaram das discussões sobre a fusão em Foz do

Iguaçu e em Cascavel;

m) Cascavel-2: funcionária da FECIVEL, assumiu cargos de confiança após a

fusão;

n) Cascavel-3: professor da FECIVEL, assumindo a função de coordenador

de curso.

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ANEXO 3 - ROTEIRO DE ENTREVISTAS

1) INFORMAÇÕES SOBRE OS ENTREVISTADOS

1. Nome completo: 2. Campus de origem: 3. Cargo ou função que ocupava: 4. Ano de admissão na faculdade: 5. Área de formação na época da consolidação: 6. Situação pessoal do entrevistado no processo de consolidação:( ) teve alguma responsabilidade no processo de consolidação( ) não teve nenhuma responsabilidade no processo de consolidação( ) não estava na faculdade no período da consolidação

7. Situação profissional do entrevistado:( ) teve alguma vantagem com a consolidação( ) perdeu profissionalmente em função da consolidação( ) não perdeu nem ganhou profissionalmente

8. Descreva resumidamente como ocorreu o processo de consolidação da UNIOESTE:o que aconteceu, com quem, porque, quando, como, de onde surgiu a idéia).

2) FACULDADES ANTES DA CONSOLIDAÇÃO (FACIMAR, FACISA,FACITOL, FECIVEL)

9. Houveram pessoas que participaram da história da faculdade e que influenciaram nacultura organizacional? Quem foram essas pessoas e de que forma elas se destacavamna faculdade?

10. Descreva alguns traços da cultura da faculdade (costumes, valores, história,cerimônias, comunicação, liderança). Como era transmitida a cultura aos funcionáriose professores?

10.1 Os funcionários gostavam de trabalhar na faculdade? E os professores? Por que?

11. Havia algo que diferenciasse esta faculdade das outras que participaram daconsolidação da UNIOESTE? O que e como?

3) ANTECEDENTES DA FUSÃO

12. Como era o relacionamento das faculdades antes da consolidação da UNIOESTE?

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13. Quais as razões que levaram à consolidação da UNIOESTE? Eu vou exporalgumas razões que podem levar organizações ao processo de consolidação. Gostariaque indicasse no caso da UNIOESTE, se concorda com alguma (s) das razões aquiexpostas ou sugere outras razões:

Concordo Neutro discordo

a) diminuir custos ou aumentar ganhos

b) reação ou antecipação aos concorrentes

c) abertura ou expansão de mercado (procura na região)

d) influência de consultores externos

e) exemplo de concorrentes

f) motivo políticos internos das faculdades (influência de gruposque se beneficiariam com a consolidação)

g) pressões coercitivas (do governo, dos clientes, de órgãos comoMEC, empresários ou políticos)

i) outros (especificar)

Comentários:

14. Da mesma forma gostaria que demonstrasse sua percepção sobre o que se esperavaespecificamente com a consolidação da UNIOESTE? Abaixo cito alguns dos motivosencontrados na literatura:

Concordo Neutro Discordo

a) flexibilidade e inovação que não se conseguiria nas faculdadesseparadas

b) aumentar o tamanho da “organização” e otimizar os serviços

c) reduzir custos operacionais

d) aumentar a influência no mercado o que não seria conseguidoindividualmente com cada faculdade

e) não perder espaço mantendo as faculdades separadas

f) outros (especificar)

Comentários:

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4) O PROCESSO DE INTEGRAÇÃO DAS FACULDADES

15. O que aconteceu que tenha facilitado ou dificultado o processo de integração entre asfaculdades na consolidação da UNIOESTE?

16. Quanto à eficácia do processo como um todo, qual das fases do processo de integração dasfaculdades e consolidação da UNIOESTE você julgaria mais eficazmente realizada?( ) planejamento e busca dos parceiros( ) negociação e decisão pela consolidação( ) integração das quatro faculdades

17. Quanto à condução do processo de integração das faculdades, você diria que:

grau de concordânciaa) foi conduzido de formacoercitiva, de cima para baixo.

1 2 3 Foi participativo envolvendoefetivamente os funcionários.

b) durante a integraçãocomunicação foi bem feita.

1 2 3 Durante a integração a comunicaçãointerna foi mal feita.

c) o processo de integração nãoenvolveu demissões ou forampoucas.

1 2 3 O processo de integração envolveumuitas demissões.

d) no trato com as pessoas quetiveram perdas ocorreu dignidade erespeito.

1 2 3 O trato não ocorreu com dignidade erespeito ou há controvérsias sobreisso.

Comentários:

18. Como se deu o encontro de diferentes lógicas provenientes de diferenças culturais entre osfuncionários, na sua rotina de trabalho? Houveram conflitos, acordos, desencontros?

19. Quanto aos resultados inesperados na ORGANIZAÇÃO, você diria que a UNIOESTEtambém sofreu ao menos no primeiro ano de integração:

Concordo Neutro discordo

a) perda de lideranças no sentido de dificuldade de reter talentos

b) perda de experiência ou memória organizacional

c) perda de familiaridade entre as unidades de trabalho porque arotina e as relações se ampliaram

d) aumento do nível de conflito, política e estresse

e) aumento da burocracia

f) redução da troca de informações, crises de comunicação

g) perda da visão estratégica

h) outros (especificar)

Comentários:

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20. Quanto aos resultados inesperados nas PESSOAS você diria que em geral sofreram, aomenos no primeiro ano da integração:

Concordo Neutro discordo

a) insegurança, medo, queda da auto-estima

c) trauma, instabilidade emocional (mal estar, culpa, frustração,ansiedade, etc..)

d) queda na dedicação, comprometimento, lealdade em relação àinstituição resultante do processo de consolidação.

e) aumento da resistência às iniciativas da empresa

f) aumento no formalismo e rigidez no trabalho

g) queda no desempenho e produtividade individual

h) sobrecarga de trabalho

i) perda de criatividade

Comentários:

21. Como se deu a formação da cultura da UNIOESTE (normas, valores, costumes, rituais,comunicação, estilo de liderança, comportamentos)? Houve um planejamento por parte daUNIOESTE ou a cultura se desenvolveu naturalmente a partir das relações dentro da novainstituição?

22.Quanto à cultura da UNIOESTE, após o processo de consolidação, você diria quepermaneceram traços da cultura de alguma(s) das faculdades que participaram doprocesso ou o resultado foi uma cultura híbrida equilibrando as culturas das quatrofaculdades?

23. Se você tivesse que expressar como viu o processo de consolidação da UNIOESTEem uma só palavra, qual usaria?

24. Por que? Expresse melhor como viu o processo?

25. Você tem outras observações, sugestões ou comentários a respeito da pesquisa?

Este roteiro de entrevistas foi desenvolvido com base na fundamentação teórica e também no roteiropesquisa aplicado no curso de Administração de empresas da FGV localizado em«www.gv.br/nova_intranet/Disciplinas/material/prof_alunos/Miguel/TO/roteiro/docs/RoteiroPesquisaFusoes.pdf » acessado em 30 set. 2002 .

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ANEXO 4 - QUESTIONÁRIO SOBRE A CULTURA ORGANIZACIONAL DA

UNIOESTE

Para responder ao questionário, proceda da seguinte maneira:

a) considere a organização em que trabalha no seu todo. Que conjunto de valores, que

crenças, que formas de comportamento poderia dizer que são típicas da mesma?

Leia as afirmativas sob cada um dos nove itens do questionário. Sob cada item dê

um valor para cada uma das quatro alternativas, começando com a que “melhor se

ajusta” à organização, como você a vê (isto é, 1 para aquela afirmativa de melhor

representa a organização, 2 para a Segunda melhor, e assim por diante). Coloque os

valores na coluna “Classificação da organização”.

b) Repita o processo, desta vez em relação a você, procurando refletir as suaspreferências e crenças. Evite olhar as respostas colocadas na coluna anterior.Coloque os valores na coluna marcada “classificação pessoal”.

Como na maioria dos questionários, você gostaria de acrescentar às suasrespostas um “tudo depende...”, achará difícil, algumas vezes, encontrar grandesdiferenças, em seu modo de ver, entre algumas afirmativas. Não deixe que isso odetenha. Os resultados o questionário não serão exatamente precisos, mas fornecerãoindicações úteis. Verá que, o melhor caminho a seguir, quando for responder a cadaconjunto de afirmativas, será confiar em suas quase intuitivas primeiras reações. Nãose demore muito em cada conjunto.

Campus a que pertence:( ) Cascavel( ) Foz do Iguaçu( ) Marechal Cândido Rondon( ) Toledo

Categoria de trabalho:( ) docente( ) técnico-administrativo

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Organi-zação

Classific.Pessoal

1 UM BOM CHEFEA É forte, decidido e firme, mas amável. É protetor, generoso e indulgente

com os seus subordinados leais.B É impessoal e correto, evitando tirar vantagem de sua autoridade. Exige

de seus subordinados apenas o que é exigido pelo sistema formal.C É igualitário e influenciável em assuntos relativos à tarefa. Usa sua

autoridade para obter os recursos necessários ao prosseguimento dotrabalho.

D Preocupa-se e é suscetível às necessidades pessoais e valores dos outros.Usa sua posição para satisfazer e estimular oportunidades de crescimentopara seus subordinados.

2 UM BOM SUBORDINADOA É responsável e confiável, cumprindo os deveres e responsabilidades de

seu alto posto e evitando ações que surpreendem ou embarcam seusuperior.

B É automotivado a dar o melhor de si ao trabalho e aberto a idéias esugestões. Contudo, deseja ceder o mando a outros, quando estesmostram uma capacidade ou especialização maior.

C Está vitalmente interessado no desenvolvimento de suas própriaspotencialidades e aberto à aprendizagem ou recebimento de auxílio.Respeita também as necessidades e valores dos outros, desejando ajudá-los e contribuir para o seu desenvolvimento.

D Trabalha duro, é leal aos interesses de seu superior, é desembaraçado edigno de confiança.

3 UM BOM MEMBRO DA ORGANIZAÇÃO DÁ PRIORIDADE AA Requisitos de habilidade, capacidade, energia e recursos materiais para a

execução da tarefa.B Necessidades pessoais dos indivíduos envolvidos.C Exigências pessoais do chefe.D Deveres, responsabilidades e exigências de sua própria função e aos

padrões costumeiros de comportamento pessoal.4 PESSOAS QUE FAZEM BEM À ORGANIZAÇÃOA São eficientes e competentes em relações pessoais, com um forte

compromisso em relação ao crescimento e desenvolvimento de talentosindividuais.

B São politicamente informados, gostam de assumir riscos e atuam à suamaneira.

C São conscienciosos e responsáveis, com forte senso de lealdade para coma organização.

D São tecnicamente competentes e eficientes, com um forte compromissopara a realização do trabalho.

5 A ORGANIZAÇÃO TRATA O INDIVÍDUOA Como um agente de confiança, cujo tempo e energia estão à disposição

daqueles que movimentam a organização.B Como tendo direitos e responsabilidades de ambos os lados, apesar de seu

tempo e energia estarem acessíveis por um contrato.C Como colaboradores, que empenham suas capacidades e habilitações para

uma causa comum.D Como uma pessoa interessante e talentosa, com seus próprios direitos.

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6 AS PESSOAS SÃO CONTROLADAS E INFLUENCIADAS PORA Exercício impessoal de poder econômico e político para forçar

procedimentos e padrões de desempenho.B Comunicação e discussão dos requisitos da tarefa, orientando para a ação

apropriada, motivada pelo compromisso pessoal de atingir a meta.C Interesse extrínseco e prazer em realizar e/ou preocupação e cuidado em

relação às necessidades das outras pessoas envolvidas.D O exercício pessoal de gratificações, punições ou carisma.7 É VÁLIDO UMA PESSOA CONTROLAR AS ATIVIDADES DE

OUTRAA Se tiver mais conhecimento relativo à tarefa executada.B Se for aceito por aqueles a quem controla.C Se a que controla tiver mais poder e influência dentro da organização.D Se sua função prescreve que tenha responsabilidade de dirigir outras

pessoas.8 AS BASES PARA A ATRIBUIÇÃO DE TAREFAS SÃOA Desejos e necessidades pessoais de aprender a crescer por parte dos

membros da organização.B As necessidades pessoais e o julgamento daqueles que chefiam a área.C Divisões formais de função e responsabilidade no sistema.D Habilidade e especialização no trabalho.9 COMPETIÇÃO SERVEA Para obter vantagens e poder pessoal.B Para obter uma posição de status elevado no sistema formal.C Para elevar a contribuição à tarefa.D Para chamar a atenção de alguém sobre as próprias necessidades pessoais.HANDY, Charles. Deuses da Administração: como enfrentar as constantes mudanças da culturaempresarial. 2. ed. São Paulo : Saraiva, Editora SENAC : São Paulo, 1994.

O objetivo do questionário é esclarecer que podem haver diferentes culturas

dentro das organizações, principalmente em casos de grandes mudanças como foi a

fusão das quatro faculdades na consolidação da UNIOESTE, e a não consideração

dessas diferenças por parte da organização pode ser uma das razões que dificultam as

relações de trabalho. Informamos que somente uma pequena amostra de pessoas estará

sendo convidada a participar da pesquisa.

Atenciosamente,

Prof. Fabiana Regina Veloso Bí[email protected]

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Gabarito para tabulação do questionário sobre culturas de organizações(NÃO FOI ENTREGUE AOS PARTICIPANTES)

Transfira os espaços correspondentes a pontuação dada a cada um dos itensconforme distribuição nas quatro colunas. (O) representa a classificação daorganização e (V) representa a classificação pessoal. Para cada uma dascolunas O e V, em cada uma das culturas, some o total de pontos obtidos. Omenor total corresponde à cultura enfatizada pela organização e pelosrespondentes.

Cultura de Clube(Zeus)

Cultura de Função(Apolo)

Cultura de Tarefa(Atenas)

Cultura Existencial(Dionísio)

Item O V Item O V Item O V Item O V1a 1b 1c 1d2d 2a 2b 2c3c 3d 3a 3b4b 4c 4d 4a5a 5b 5c 5d6d 6a 6b 6c7c 7d 7a 7b8b 8c 8d 8a9a 9b 9c 9d

Total Total Total Total

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ANEXO 5 – CRESCIMENTO DA UNIOESTE EM NÚMERO DE CURSOS,

DOCENTES E FUNCIONÁRIOS

CRESCIMENTO DOS CURSOS DE GRADUAÇÃO – COMPARATIVO 1994/2003Campus Ano

1994 2003

Número deTurmas

Cascavel 10 15 19Foz do Iguaçu 4 12 13Francisco Beltrão 6 8Marechal CândidoRondon

5 9 11

Toledo 4 8 10ExtensõesMedianeira 1 1Palotina 2 2Santa Helena 4 4Total 23 57 68

Fonte: Adaptado de UNIOESTE, 2003.

EVOLUÇÃO DA QUALIFICAÇÃO DOCENTE NO PERÍODO 95/99Qualificação 1995 1996 1997 1998 1999 2003Mestres 80 103 113 133 219 468Doutores 08 08 16 37 59 183*

* Acrescente-se ainda a quantidade de pós-doutores no ano 2003 é de 10 docentes.Fonte: Adaptado de UNIOESTE, 1999, p.39.

TOTAL DE DOCENTES E FUNCIONÁRIOS – COMPARATIVO 1994 E 2003DocentesTemporários Efetivos

Funcionários Total (professorese funcionários)

1994 84 338 213 6352003 104 965 1008 2077Fonte: UNIOESTE, 2003.

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ANEXO 6 - CULTURA ORGANIZACIONAL DA UNIOESTE

Tipologia de Charles Handy (1994)Tabulação dos dados - Questionários

Cult.Clube Cult. Função Cult. Tarefa Cult. ExistencialCampi Categoria Total Total (Zeus) (Apolo) (Atena) (Dionísio)

Respondido Enviado Como vêa Org.

PreferênciaPessoal

Como vêa Org.

PreferênciaPessoal

Como vêa Org.

PreferênciaPessoal

Como vêa Org.

PreferênciaPessoal

Toledo Doc. 18 30 9 9 6 12Func. 9 10 6 6 3 3Total 27 40 15 0 9 0 0 12 3 15

Cascavel Doc. 9 40 4 3 6 2 3Func. 9 10 6 3 6 3Total 18 50 10 0 6 6 0 9 2 3

Foz Doc. 5 30 2 3 3 2Func. 4 10 4 4Total 9 40 6 0 3 3 0 4 0 2

Rondon Doc. 7 30 4 3 5 2Func. 10 10 4 4 2 2 6 2Total 17 40 8 0 7 2 2 11 0 4

Total Doc. 39 130 19 0 18 3 0 17 2 19Total Func. 32 40 20 0 7 8 2 19 3 5

Total UNIOESTE 71 170 39 0 25 11 2 36 5 24