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A DANÇA MACABRA COMO LINGUAGEM CORPORAL NA
EDUCAÇÃO FÍSICA
MACHADO, Simone Borges (SEED – PDE)
Introdução
As mudanças ocorridas na disciplina Educação Física, dentro do espaço escolar, nos
últimos anos, tanto no âmbito estadual, quanto no nacional vieram contribuir para a
diversificação na aplicabilidade de seus conteúdos. Estas mudanças levaram o professor da
disciplina a uma busca constante de novas possibilidades de ensino e assim, a estudos mais
aprofundados dos conceitos científicos que envolvem a Cultura Corporal. Esses estudos
voltam-se, desta forma, aos elementos presentes nas manifestações corporais de nossa cultura.
O homem, seu corpo e a forma como interage com os demais, são elementos a serem
estudados para uma melhor compreensão das relações humanas.
Desta forma, a Dança, inserida como conteúdo estruturante da disciplina Educação
Física no Estado do Paraná, conforme proposto pelas Diretrizes da Educação Física
(PARANÁ, 2008) contribui para essa compreensão, pois abrange um grande leque de
possibilidades no que se refere ao trabalho corporal. Por meio de sua efetiva prática
pedagógica, o professor com ela comprometido, se sente estimulado a buscar informações em
diferentes áreas do conhecimento humano.
Entre as diversas áreas do conhecimento humano, encontra-se a Cultura Corporal, que abrange o conhecimento produzido e acumulado em relação ao corpo, considerando-o enquanto unidade (MAYER, 2005, p.01).
O trabalho com o corpo, elemento de estudo da Educação Física, dentro desta
perspectiva, envolve conhecimento, contextualização e principalmente linguagem, já que é
um importante meio de comunicação entre os homens. Strazzacappa justifica a importância
desta afirmativa no parágrafo abaixo:
O indivíduo age no mundo através de seu corpo, mais especificamente através do movimento. É o movimento corporal que possibilita às pessoas se
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comunicarem, trabalharem, aprenderem, sentirem o mundo e serem sentidos (STRAZZACAPPA, 2001, p.01).
O professor de Educação Física, ao buscar conhecimentos relacionados ao corpo e ao
movimento corporal pode encontrar elementos importantes da História e da Arte para a
efetiva aplicabilidade deste conteúdo. Com isso, os educandos, cientes desses conceitos,
podem fazer uso dos conhecimentos contidos nessas áreas, que são importantes para a
formação do ser humano como integrante da sociedade.
Ao relacionar a História com a Dança, como conteúdo da Educação Física, o professor
leva seus alunos a apreender conhecimentos acerca de outras épocas, para com isso
conhecerem outras culturas, outros valores e costumes.
Ora, a obra de uma sociedade que remodela, segundo suas necessidades, o solo em que vive é, todos intuem isso, um fato eminentemente “histórico”. Assim como as vicissitudes de um poderoso núcleo de trocas. Através de um exemplo bem característico da topografia do saber, eis portanto, de um lado, um ponto de sobreposição onde a aliança de duas disciplinas revela-se indispensável a qualquer tentativa de explicação [...] (BLOCH, 2002, p.54).
A pintura e o teatro também são elementos artísticos que contribuem com essa
proposta educacional, quando expressam em suas obras, manifestações corporais.
Portanto, fazer relações de acontecimentos sociais entre uma época distante e a nossa,
por meio da História e da Dança, pode tornar-se um importante meio para a transmissão de
conhecimentos, quando trabalhado com propriedade científica.
O tema a ser abordado tem como objetivo evidenciar que a transmissão de mensagens
corporais influenciava no comportamento de pessoas integrantes da sociedade de uma época
remota. Essas pessoas tinham sentimentos que ainda estão presentes na população da
sociedade atual.
Nessa perspectiva, a Dança Macabra, manifestação corporal ocorrida no século XIV,
pode favorecer o enriquecimento cultural e corporal do educando, envolvendo elementos
educacionais relevantes, dentro do espaço escolar. Desta forma, possibilita mostrar à
população discente a capacidade que a Dança tem de comunicar.
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Educação Física e História: Diferentes ciências para um estudo sobre a Dança
Por meio da história o homem consegue adquirir conhecimentos acerca de fatos e
acontecimentos passados que podem ser relacionados com o presente. Independente da época
em que ocorreu, um acontecimento passado pode exercer influência sobre a humanidade atual.
Caracteriza-se como um movimento dialético em que o passado e o presente se relacionam.
O historiador Le Goff, no livro “O ofício do Historiador”, explica esta relação:
O presente bem referenciado e definido dá início ao processo fundamental do ofício do historiador: “compreender o presente pelo passado” e, correlativamente, “compreender o passado pelo presente” (LE GOFF in BLOCH, 2002, p. 25).
Por meio de buscas históricas, a Dança na escola, como meio de expressividade e
linguagem corporal pode estabelecer relações com o passado, como também se tornar um
instrumento de transmissão do conhecimento.
Dentro deste princípio, a história contribui para o desenvolvimento do homem,
principalmente do educador. Mas, o processo de aprendizagem deve estar voltado para a
realidade, contextualizado de forma que o educando consiga apreender o conhecimento
histórico e relacioná-lo com acontecimentos do presente. Cardoso & Vainfas (1997)
esclarecem esta capacidade de estabelecer relações, quando afirmam que a teoria marxista
envolve uma relação epistemológica dialética entre presente e passado, ou seja, um olhar
crítico quanto aos acontecimentos passados e presentes e como os mesmos se relacionam.
É de grande importância esse processo dialético no meio educacional, já que a escola é,
neste contexto, um ambiente adequado à transmissão dos conhecimentos que os homens
construíram na história. Essa importância é reforçada por estes autores, quando afirmam:
Vivemos com um pé num mundo ainda presente mas em vias de superação (o das primeiras revoluções industriais, com suas concentrações fabris e urbanas, com sua ênfase na palavra escrita, com suas lutas sociais específicas e conhecidas) e outro pé num mundo que ainda está nascendo ( no qual o computador, ao generalizar-se em conjunto com elementos tecnológicos de informação e a robótica, poderá perfeitamente tornar anacrônicas as concentrações fabris e urbanas; em que a primazia da palavra escrita vê-se contestada; em que as lutas sociais mudam de forma e de objetivos) ( CARDOSO & VAINFAS, 1997, p. 13).
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Portanto, o mundo atual está sujeitoàs inúmeras transformações e necessita de suportes
históricos bem pautados para que os sujeitos que nele estão inseridos, não se tornem
anacrônicos. Considerando as afirmações de Cardoso e Vainfas, quanto ao uso do computador
e o avanço da tecnologia de informação, esse fator contribui de forma importante com as
buscas históricas, possibilitando pesquisas com informações precisas e maior rapidez. Porém,
esses avanços não tornam anacrônicos certos valores indispensáveis na formação da
sociedade.
Cada sociedade tem sua característica peculiar formada por meio dos acontecimentos
nela ocorridos. E com isso, resulta-se a heterogeneidade nas relações, derivadas de diferentes
objetivos de vida. Da mesma forma, a escola se instaura como um ambiente em que alunos,
oriundos de diferentes meios se encontram e interagem. E nela, necessitam expressar-se como
forma de comunicação de seus sentimentos como emoções, prazeres e anseios.
A Dança Macabra como manifestação da linguagem corporal
Conforme Portinari (1989) o período chamado Idade Média, que se estendeu desde os
anos de 476 até 1453, foi marcado por guerras, invasões e outros acontecimentos que
prejudicaram as relações humanas.
Coube aos humanistas do Renascimento descrever esses dez séculos como uma idade de trevas, contrastando com o florescimento intelectual e artístico que se seguiu. Na verdade, as trevas predominaram nos primeiros séculos, durante os quais a pax romana ruiu sob o impacto de invasões e guerras contínuas. As cidades se despovoaram, o medo e a ignorância reinaram, e o legado greco-romano tornou-se privilégio de uns poucos letrados que o reinterpretaram segundo o código cristão (PORTINARI, 1989, p. 51).
É observada então, na Idade Média, principalmente nos primeiros séculos, uma grande
instabilidade que causou mudanças significativas em toda a sociedade. Aconteceram grandes
transformações, inclusive a mudança de poder, que então passou a ser da Igreja.
Nesse clima de instabilidade, a autoridade civil foi substituída pela eclesiástica. Todos os setores da vida pública conheceram a interferência do cristianismo triunfante (PORTINARI, 1989, p. 51).
Esse período foi marcado por muito sofrimento provocado pelas guerras, pela peste e
pela fome. Havia segundo Huizinga (1978) um clima de tensão e violência.
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O autor descreve claramente este período:
Mau governo, extorsões, cobiça e violência dos grandes, guerras, assaltos, escassez, miséria e peste – a isto se reduz, quase, a história da época aos olhos do povo. O sentimento geral de insegurança causado pelas guerras, pela ameaça das campanhas dos malfeitores, pela falta de confiança na justiça, era ainda por cima agravado pela obsessão da proximidade do fim do mundo, pelo medo do inferno, das bruxas e dos demônios. O pano de fundo de todos os modos de vida parecia negro. Por toda a parte as chamas do ódio se alteiam e a injustiça reina. Satã cobre com as suas asas sombrias a Terra triste. Em vão a Igreja militante combate e os pregadores fazem sermões; o mundo permanece inconvertido (HUIZINGA, 1978, p. 30).
Por meio desta afirmativa, é possível perceber no povo medieval, o sentimento de
medo, muito marcado principalmente no século XIV. Ele foi representado por meio da arte,
sob forma de imagens e pelo teatro religioso, presente naquele período.
Francastel (1982) define o poder que a arte exerce sobre o homem da seguinte forma:
A arte é um instrumento de propaganda tanto nas mãos dos fracos como dos poderosos [...] O artista dá forma aos objetos e às idéias. Ele cria os mitos ou, mais exatamente, é ele que lhes dá uma figura de carne. Ora, não creio, de minha parte, na existência das idéias, independentemente de toda forma. A idéia não existe a não ser quando se exprime; escrita, palavra, imagem. A linguagem figurativa tem um papel incalculável na manifestação das mentalidades coletivas (FRANCASTEL, 1982, p.29).
Na sociedade da Idade Média, a arte exercia sua função de forma bem definida, como
afirma Huizinga (1978): “Naqueles tempos, a arte revestia-se de vida. A sua função era a de
encher de beleza as formas que a vida tomava. [...] A tarefa da arte era adornar todos estes
conceitos de encanto e colorido; [...] para embelezar a vida.” (p. 222).
A arte também foi uma forma de expressão dos sentimentos, inclusive por meio da
dança, que apesar das proibições impostas pelo clero, não deixou de existir.
Em meio às crises de ordem econômica, militar, e eclesiástica, a Guerra dos Cem anos,
para Boucier (1987), foi cenário dessas manifestações, a partir de 1337 até 1453. Em 1346 a
epidemia da peste negra estoura e dizima um terço da população, aumentando com isso a
violência das guerras. Surge então, uma forma diferente de expressar a arte.
Neste contexto, não é surpreendente que os intelectuais e artistas atinjam os extremos: pesquisa de uma beleza puramente formal – os grandes retóricos em literatura, o estilo gótico na arquitetura -; gosto pelo paroxismo de trágico – os chorosos de Borgonha, as estátuas-cadáveres de Ligier Richier.A música
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completa sua revolução técnica decisiva; torna-se uma arte inteiramente independente.A dança não é uma exceção nas grandes tendências da época: extremo refinamento da forma, sentido da morte em sua realidade mais brutal (BOURCIER, p. 56).
A população se expressava por meio da Dança Macabra, que revelava seus temores
em relação à morte. Ela era manifestada não pela sua beleza e plasticidade, mas pelo seu real
significado.
O sentimento negativo em relação à morte durante os últimos séculos da Idade Média é
definido segundo Huizinga (1978) como Macabro, algo horrível e funesto que tem a sua
origem na estratificação psicológica do medo e que foi induzida pela Igreja, ou seja, pelo
pensamento religioso, como um caminho para a exortação moral.
A população manifestava seu temor provocado pela representação que ainda para o
mesmo autor, significava o ponto central de concepções associadas, onde a arte se apoderava
desse sugestivo tema. Na literatura histórica, foram encontradas várias representações da
Dança Macabra. Na representação encontrada na literatura francesa do século XIII em diante,
três jovens vivos se deparam subitamente com três mortos que os avisam de seu fim próximo.
Segundo Elmerich (1987), a Igreja passava a mensagem de que a morte era inevitável.
Assim, as Danças Macabras, realizadas nos cemitérios obedeciam a um cortejo representado
por: Adão e Eva, o anjo que os expulsou do paraíso, um esqueleto representado pela morte
empunhando uma enorme foice, um cardeal, um rei ou um imperador, um burguês, um
mendigo, um judeu e um pagão.
Boucier (1987) ainda acrescenta que a Dança Macabra era a representação da Carola,
dança de origem camponesa, que era executada para festejar colheitas. Tomada de um novo
sentido, não significava mais uma manifestação de alegria. Representava então a morte, como
um meio para se preservar os preceitos cristãos.
Portinari (1989) afirma que a Dança Macabra foi representa pelo teatro religioso
medieval, no intuito de submeter o homem aos desígnios divinos, por meio de mistérios, autos
e milagres:
Levadas em praças públicas ou em recintos pertencentes às igrejas, as peças misturavam passado e presente com objetivo de transmitir mensagem moralista. Assim a dança macabra teve o seu lugar nesse tipo de teatro. Simbolizava a insanidade causada pelo pecado, o flagelo da peste enviado por Deus para que os homens se arrependessem. Por vezes integrando o enredo e freqüentemente como um interlúdio, a dança era executada diante da boca do inferno que constituía o elemento mais engenhoso e realista do
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cenário. Enquanto as labaredas crepitavam, um ator com máscara de caveira dançava de foice em punho, assustando a platéia (PORTINARI, 1989, p. 53).
A descrição da Dança Macabra feita por Huizinga (1978), é de uma personagem
dançante que volta quarenta vezes para conduzir os vivos, ou seja, um homem representando a
morte. E que de acordo com as investigações do monsenhor Gédéon Huet, as pessoas mortas
vindas do túmulo, tomavam o seu lugar na dança que assumia o formato de uma roda. Esse
exemplo é representado no Totentanz retomado por Huet, onde o dançarino é o homem vivo
em sua forma futura que caracteriza um duplo horrendo de sua pessoa. Por volta do fim do
século XIV, a figura do dançarino passa a ser um esqueleto, na pintura de Holbein.
Esta manifestação representou também uma forma de nivelar as várias profissões e
categorias sociais. Nas figuras representadas pela Dança Macabra é bem evidente a diferença
social dos elementos presentes nas pinturas ilustradas com figuras de ricos e pobres, reis,
mendigos, mulheres, enfim, todos eram levados pela morte.
Enquanto lembra aos espectadores a fragilidade e a vaidade das coisas terrenas, a dança da morte ao mesmo tempo prega a igualdade social tal como era compreendida na Idade Média, a morte nivelando as várias categorias sociais e profissões (HUIZINGA, 1978, p. 135).
Mesmo a muitos séculos de distância, a arte da dança conseguiu transmitir uma
mensagem de medo e, segundo Huizinga (1978), também de igualdade social para a população
daquela época. A Dança assim atuou como linguagem, comunicando mensagens que foram
traduzidas para a sociedade do século XIV. Hoje, a Dança, como elemento educativo na
escola, estabelece sua função por meio da expressão corporal como linguagem. Favorece o
educando na sua interação com a sociedade. Promove valores relevantes para a formação do
homem ou para um repensar de suas ações em relação à convivência com o próximo.
Assim, de uma forma bastante clara, a retomada histórica da Dança Macabra se
apresenta no cenário educacional como elemento importante da linguagem corporal, que foi
uma manifestação presente na realidade humana.
Implementação
A aplicação do conteúdo Dança Macabra foi ministrado no decorrer das aulas de
Educação Física, voltadas ao público Jovem e Adulto, do Ensino Médio. As aulas foram
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organizadas com a transmissão de conteúdos práticos e teóricos, já que a escola é responsável
pela apropriação de saberes científicos. Relacionados com conteúdos da disciplina Educação
Física, esses conteúdos mesclaram-se entre atividades que envolvem movimentações
corporais, pesquisas acerca da Dança e abordagens históricas voltadas à Dança Macabra.
Assim, as aulas aconteceram na escola e foram abertas a participações, inclusive de
outros professores, pois ao possuírem conhecimentos oriundos de áreas diferentes puderam
enriquecer o trabalho. Essa proposta teve como princípio construir outro olhar para a
disciplina Educação Física, tecendo relações necessárias à transmissão do conhecimento
universal.
Na apresentação da proposta aos alunos, foi disponibilizado um Pôster com imagens e
informações a respeito da Dança Macabra. Desta forma, eles puderam visualizar o tema e
também serem estimulados para futuros estudos. Por se tratar de um tema diferente, os alunos
se interessaram em conhecer a história expressa na Dança.
No decorrer das aulas, foram levantadas questões reflexivas a respeito da capacidade
de comunicação exercida pela Dança, tanto na Idade Média, como nos dias atuais, com o feito
de conseguirem reportar o conteúdo histórico à realidade que os cercam. As indagações foram
realizadas da seguinte forma:
- A Dança transmite sentimentos a quem assiste?
- Quando vocês assistem a uma Dança percebem a expressão de alegria ou de tristeza em
quem a executa?
- O que é expressão corporal? De que forma ela se apresenta na Dança?
Ao serem questionados, os alunos sentiram a necessidade de responder e,
conseqüentemente se interessaram por conhecer o assunto. Nas aulas ocorreram debates,
conversas e exposições de experiências com a Dança, se já assistiram alguma apresentação e
até mesmo se quando dançaram foram tomados de sentimentos e os transmitiram
corporalmente.
A partir desse recurso pedagógico foram apresentadas atividades de leitura e
discussões de textos a respeito da Dança Macabra, com referenciais teóricos oriundos de
historiadores e pesquisadores da Dança, como Maribel Portinari e Jaques Le Goff. Esse
momento pedagógico foi importante para vincular a ação às interpretações históricas já postas
e consagradas sobre os fatos. Em seguida, os alunos participaram de dinâmicas corporais.
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Primeiramente num processo de desinibição, pois não é comum à realidade deles a exposição
de movimentos corporais.
Para o trabalho da prática corporal, inicialmente foi solicitado que os alunos
prestassem atenção aos sons de diferentes ritmos musicais. Em seguida, eles deveriam dizer
qual o sentimento transmitido pela música apresentada. Posteriormente, eles se submeteram a
movimentações corporais, pelas quais a transmissão dos sentimentos remetidos pela música
deveria estar expressa.
A ação foi executada com sucesso, apesar da inibição inicial. Todos participaram e
conseguiram sentir, ao expressarem-se corporalmente, as diferentes sensações transmitidas
pela música. Logo após a dinâmica, foi necessário um comentário a respeito da atividade
executada e sua relação com o tema da proposta pedagógica. Desta forma, foi esclarecido que
por meio da expressão corporal a comunicação entre as pessoas é exercida e a Dança
Macabra - manifestação corporal exercida no século XIV - marcou a história justamente por
sua capacidade de comunicação e expressão corporal.
As atividades voltadas ao desenvolvimento da expressão corporal são, a nosso ver,
importantes para que os alunos conheçam e sintam como ela se processa corporalmente e qual
a sua capacidade de comunicação. Portanto, diferentes formas de abordagens com relação a
expressão corporal foram aplicadas ao grupo e sempre, ao final das atividades, acompanhadas
de comparações com a Dança Macabra.
Ao iniciar cada aula, foi feita uma retomada do conteúdo anterior, para que os alunos
se inteirassem a respeito da continuidade da proposta. Então questionamentos como: “Por que
a Dança Macabra marcou fortemente a população do século XIV?” foram relevantes no
andamento do trabalho, pois é necessário ressaltar que a Dança, mesmo em um período
remoto, teve a capacidade de comunicação e influenciou a população daquele tempo histórico.
Foi realizada uma visita ao Laboratório de Informática da escola, como uma das
estratégias utilizadas para a efetivação do trabalho. Assim, os mesmos foram encaminhados
para navegações em sites relacionados ao tema. Por meio desse recurso tecnológico, eles
puderam ler informações a respeito da manifestação em questão, visualizar imagens da Dança
Macabra, bem como se apropriarem de comentários oferecidos on line por pesquisadores do
tema e também se familiarizarem com uma ferramenta tecnológica oferecida pela escola.
O deslocamento do ambiente comum às aulas, bem como a utilização de
computadores são recursos interessantes para os alunos, pois além da obtenção de novas
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fontes informativas a respeito do tema de trabalho, podem socializar, entre os colegas do
grupo, os endereços de ambientes on line, que tratam do assunto. Com isso, a resposta dos
alunos foi positiva com relação ao enriquecimento pedagógico e a variação na mediação do
conteúdo. Essa iniciativa foi importante, pois os próprios alunos perceberam que ao manterem
contato com essa nova ferramenta, o rol de conhecimentos acerca do tema proposto
aumentou, bem como a curiosidade pela manifestação corporal estudada. Além disso, o grupo
sentiu-se valorizado por ser capaz de pesquisar um conteúdo histórico e com grande
relevância para seu aprimoramento educacional.
Por meio da Televisão Multimídia, os alunos tiveram a oportunidade de assistir uma
apresentação da música Dança Macabra Opus 40 que diferente da manifestação da Dança
Macabra, ocorrida no século XIV, foi composta já no século XIX e é muito utilizada em
trilhas sonoras para o cinema. Foi observado pelos alunos que a música transmite o mesmo
sentimento proposto pela manifestação da Dança. Assim, após a apresentação executaram
movimentações corporais ao som da música, com o intuito de expressarem o sentimento que a
composição Dança Macabra opus 40 remeteu a eles.
Ainda com a utilização do mesmo recurso, foi apresentada uma contextualização do
período que se remete ao final do século XIV, sob forma de Power Point e ainda Imagens da
Dança Macabra que, com o auxílio da professora da disciplina Arte, foi realizada a análise e
leitura das imagens apresentadas. Essa abordagem é muito importante para a compreensão do
significado da Dança Macabra, pois toda manifestação artística e corporal acontece como
reflexo da sociedade em que a mesma está inserida. Desta forma, o conhecimento do período
é relevante.
Os alunos assistiram ao filme O Sétimo Selo, do diretor Ingmar Bergman. Por meio
dele é possível uma visualização, mesmo que na visão do autor, do ambiente que permeava o
século XIV e como as pessoas, daquele período, pensavam, principalmente, em relação ao
medo da morte. Por meio de algumas passagens do filme, é possível observar um pintor
trabalhando algumas imagens relacionadas à Dança Macabra, o modo de vida do homem
medieval e ao final, nas últimas cenas, uma representação dela.
Antes de iniciar a exibição, foi informado aos alunos que por se tratar de um filme
clássico e antigo, não apresenta certos efeitos cinematográficos observados em filmes
recentes. É justamente isso que transmite uma idéia mais realista do ambiente. O grupo achou
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interessante poder visualizar o período e assim concretizar as informações a respeito do século
XIV, mesmo não sendo um filme com ricos recursos tecnológicos.
Ainda no decorrer das aulas, foi apresentado, por meio da Televisão Multimídia, um
videoclipe do cantor e compositor “Gabriel O Pensador”, com a música “Palavras Repetidas”.
Neste vídeo foi possível a visualização da expressividade do artista, que, de forma muito
evidente, transmitiu corporalmente a mensagem contida na música. Alguns alunos do grupo,
os mais desinibidos, após a apresentação, a dramatizaram, utilizando-se de toda
expressividade corporal de que foram capazes naquele momento. Essa dinâmica foi muito
importante para evidenciar o conhecimento das capacidades corporais, presente e peculiar em
cada indivíduo. Ao final da dinâmica, foi observada a importância de nos expressarmos e de
nos comunicarmos imbuídos de conhecimentos para, conseqüentemente, vivermos e nos
relacionarmos melhor na sociedade.
A avaliação da proposta foi realizada ao final do cronograma de implementação. Foi
solicitado aos alunos que relatassem, por escrito e oralmente, o que acharam da proposta,
como meio de enriquecimento educacional, pois para a efetivação do trabalho proposto é
relevante que o aluno tenha consciência da abordagem da Dança na escola, da importância de
ter acesso a acontecimentos históricos e da função exercida pela expressão corporal, presente
nesse conteúdo.
Desta forma, ao relatar seus apontamentos acerca da implementação, os alunos
abordaram a importância de ter acesso a acontecimentos históricos. Muitos não conheciam a
manifestação corporal Dança Macabra e a função que exercia na sociedade da época. Por
meio da busca histórica foi possível aos alunos fazerem relações com manifestações artísticas
e corporais presentes em nosso meio.
Apontaram a diversidade de recursos pedagógicos apresentados no decorrer das aulas
e com isso, uma maior aproximação na apreensão dos conhecimentos. Para eles, essa
iniciativa os motiva a aprender, já que são propostas diferenciadas. Assim, as apresentações
na Televisão Multimídia, a visita ao Laboratório de Informática, a exibição do filme e as
dinâmicas em sala de aula tornaram as aulas atrativas. O grupo observou que a exibição do
filme O Sétimo Selo propiciou a visão do ambiente em que acontecia a Dança Macabra e de
como era o pensamento do homem da Idade Média.
Muitos se intimidaram para executar as dinâmicas corporais, porém essa dificuldade
foi superada, gradativamente, no decorrer do processo. Nos depoimentos e discussões, após as
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execuções das dinâmicas, foi observado o envolvimento e a descoberta de novas
possibilidades corporais, relacionadas às movimentações com ênfase na expressão corporal.
Nas observações apresentadas pelos alunos, a forma de abordagem do conteúdo Dança
Macabra na disciplina Educação Física foi inovadora. Para a maioria, a disciplina era vista
apenas sob o aspecto da esportivização e de conteúdos sem contextualizações históricas.
Assim, foi visível a valorização da disciplina, que também é construída por meio de
conhecimentos científicos e sociais.
Conclusão
Diante dos estudos realizados, acreditamos que a dança como arte, como expressão
corporal e constituindo-se como linguagem corporal na escola, pode contribuir na educação do
indivíduo. Isso porque ao dançar, o homem carrega não somente movimentos mecânicos nesse
ato, mas também sentimentos repletos de significados e mensagens que proporcionem o
estímulo de debates.
A dança, como outras formas de manifestações artísticas, possui significados sociais
presentes nas relações humanas. Desta forma, a disciplina Educação Física, ao enfocar o
conteúdo Dança pode pautar-se na história a fim de contextualizar acontecimentos marcantes da
humanidade.
Acreditamos que ao relacionar a Educação Física com a História, o aluno teve a
oportunidade de apreender saberes culturais e compreender a linguagem corporal como meio de
interação com a sociedade.
Referências
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FRANCASTEL, Pierre. A realidade figurativa: elementos estruturais de sociologia da arte. São Paulo: Ed. Perspectiva S.A, 1982. 444 p. HUIZINGA, Johan. O declínio da idade média. São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1978. 355 p. MAYER, Alice Maru Monteiro. Dança em transição e ferramenta educacional. Revista Virtú ICH – UFJF – ISSN – 1808 – 9011 – Rio de Janeiro. Segunda edição - Segundo Semestre de 2005. Disponível em:< http:// www.virtu.ufjf.br >. Acesso em: 23 julho 2009. PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação Física para os anos finais do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio. Curitiba: 2008. PORTINARI, Maribel. História da dança. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989. 304 p. STRAZZACAPPA, M. A educação e a fábrica de corpos: a dança na escola. Cad. CEDES. Campinas, São Paulo, n. 53, V.21, abr. 2001. Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php> . Acesso em 15 outubro 2008.