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A. A Filosofia e a linguagem O conhecimento filosófico (e boa parte do científico) realiza-se através da linguagem comum. É através dessa linguagem que o homem comunica entre si e pensa toda a realidade. Por outras palavras: o trabalho filosófico é discursivo , apoia- se em juízos e raciocínios, que assumem a forma de argumentos (discursos) que se exprimem através da nossa linguagem. Utilizar a linguagem humana não é, simplesmente, utilizar palavras. Utilizar a linguagem é, também, usar uma complicada aparelhagem pois existem instrumentos e operações lógicas por detrás do uso da língua. Pensar filosoficamente é, antes de mais nada, usar a linguagem. É construir enunciados, argumentos, definir conceitos, relacionar juízos, ... Neste sentido, a actividade filosófica faz-se por intermédio da linguagem. No caso particular da Filosofia, em que os problemas de que trata são em grande medida conceptuais e as suas respostas implicam, sempre, a argumentação, é necessário procurar formular discursos claros e rigorosos. B. A distinção entre frases e proposições Uma proposição é o pensamento que uma frase declarativa expressa literalmente. Só as frases declarativas podem expressar proposições pois só elas são verdadeiras ou falsas. E nesse sentido só as proposições podem fazer parte de uma argumentação. C. Ambiguidade e vagueza e metáforas Uma frase ambígua é uma frase que expressa mais de uma proposição. Por exemplo, “A Joana viu o Miguel com os binóculos”. Uma frase ambígua é uma frase que pode ser entendida de mais do que um modo, e que pode levar nesse sentido à confusão. Uma frase vaga é uma frase que expressa uma ideia de forma pouco concreta. Se eu disser “muitas pessoas são a favor da eutanásia”, esta é uma frase vaga. ESCOLA SECUNDÁRIA JÁCOME RATTON – TOMAR FILOSOFIA – 10.º ANO A DIMENSÃO DISCURSIVA DO TRABALHO FILOSÓFICO

A DIMENSÃO DISCURSIVA DO TRABALHO FILOSÓFICO

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A. A Filosofia e a linguagem

O conhecimento filosófico (e boa parte do científico) realiza-se através da linguagem comum. É através dessa linguagem que o homem comunica entre si e pensa toda a realidade. Por outras palavras: o trabalho filosófico é discursivo, apoia-se em juízos e raciocínios, que assumem a forma de argumentos (discursos) que se exprimem através da nossa linguagem.

Utilizar a linguagem humana não é, simplesmente, utilizar palavras. Utilizar a linguagem é, também, usar uma complicada aparelhagem pois existem instrumentos e operações lógicas por detrás do uso da língua.

Pensar filosoficamente é, antes de mais nada, usar a linguagem. É construir enunciados, argumentos, definir conceitos, relacionar juízos, ... Neste sentido, a actividade filosófica faz-se por intermédio da linguagem. No caso particular da Filosofia, em que os problemas de que trata são em grande medida conceptuais e as suas respostas implicam, sempre, a argumentação, é necessário procurar formular discursos claros e rigorosos.

B. A distinção entre frases e proposições

Uma proposição é o pensamento que uma frase declarativa expressa literalmente. Só as frases declarativas podem expressar proposições pois só elas são verdadeiras ou falsas. E nesse sentido só as proposições podem fazer parte de uma argumentação.

C. Ambiguidade e vagueza e metáforas

Uma frase ambígua é uma frase que expressa mais de uma proposição. Por exemplo, “A Joana viu o Miguel com os binóculos”. Uma frase ambígua é uma frase que pode ser entendida de mais do que um modo, e que pode levar nesse sentido à confusão.

Uma frase vaga é uma frase que expressa uma ideia de forma pouco concreta. Se eu disser “muitas pessoas são a favor da eutanásia”, esta é uma frase vaga. Quantos são muitos? Dez? Cem? Dez mil? Um milhão? Para se poder e compreender as ideias em Filosofia convém ser o mais preciso possível e evitar as ideias demasiado vagas.

As metáforas, úteis na literatura, devem ser bem compreendidas em Filosofia. Quando deparamos com uma metáfora temos que procurar saber o que o autor quer realmente dizer, pois só se soubermos isso poderemos compreender e discutir a sua ideia.

D. Refutação e contra-exemplos

Na argumentação é muitas vezes necessário refutar as ideias contrárias ou apresentar exemplos que contradigam os exemplos apresentados. Uma forma de refutar é demonstrar que a negação de uma ideia pode ser verdadeira. Assim, se alguém disser que “as verdades são relativas”, basta-me mostrar que existem certas verdades que não são relativas.

Por outro lado, se alguém disser que “todos os árabes são terroristas”, basta-me apresentar o exemplo de um árabe que não o seja e refuto essa afirmação com um contra-exemplo.

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E. Contradição e inconsistência

Duas proposições são inconsistentes quando não podem ambas verdadeiras. Por exemplo, dizer que “a vida tem sentido” e que a “vida não tem sentido” são frases inconsistentes.

Duas proposições são contraditórias quando se negam mutuamente, isto é, não podem ser ambas verdadeiras nem ambas falsas.

Na Filosofia é importante que a argumentação seja consistente ou coerente. Tal não significa que ela seja verdadeira mas pelo menos, se uma teoria ou argumentação for incoerente e contraditória, sabemos que não lhe podemos dar crédito.

Se uma teoria for consistente será necessário discuti-la para perceber se concordamos ou não com a sua argumentação.

F. Argumentos

Perante um texto que defende ideias deve fazer-se o seguinte:

1. Descobrir o que o autor quer defender. Isto é, a conclusão.2. Descobrir que razões ele dá para defender essa conclusão. Essas razões são as premissas.3. Se o autor omitiu premissas, acrescentá-las.4. Formular o argumento de forma completa e explícita.

EXERC Í CIOS:

a. Assinala as frases que se podem considerar proposições

a) “A” é uma letra do alfabeto português.b) Prometo que te trago os apontamentos.c) O céu é verde.d) Será que há vida em Marte?e) Fecha a porta.f) Este país não tem remédio!g) Os estudantes da ESJR frequentam o ensino secundário.

b. Dá um exemplo de uma frase ambígua e outro de uma frase vaga.

c. Considera a seguinte proposição: “Todos os artistas são doidos”. É possível refutá-la? Justifica.

d. Porque é importante a consistência ao nível da Filosofia?

e. Descobre as premissas ocultas nos seguintes argumentos:

e.1. A droga devia ser proibida porque provoca a morte e.2. Dado que os portugueses têm um baixo nível de qualificação, é difícil inovar em Portugal.

f. Indica a conclusão dos seguintes argumentos:

f.1. Não pode haver observação directa da dor porque ela é um estado de espírito.f.2. Basta observar o comportamento das pessoas para sabermos que agem sempre condicionadas pelos seus interesses. Se não fosse esse o caso, só a estupidez explicaria que agíssemos contra os nossos interesses. Ora, as pessoas não são estúpidas.

Um argumento é um conjunto de proposições em que se pretende que uma delas (a conclusão) seja apoiada pelas outras (premissas)

Uma premissa é uma proposição usada num argumento para defender uma conclusão Uma conclusão é a proposição que se defende, num argumento, recorrendo a premissas

ATENÇÃO: - Para um conjunto de proposições ser um argumento necessita de uma estrutura

f.3. Querem saber porque sei que os animais têm alma? Porque, em geral, o mais inferior dos animais é muito mais simpático e afectuoso do que muitos dos seres humanos.