18
A n a  L ú c i a  P e r e i r a  -  P s i c ó l o g a -  H o m e p a g e :  h t t p : / / w w w . a l p p s i c o l o g a . h p g . c o m . b r A t e n d i m e n t o  P s i c o l ó g i c o ,  O r i e n t a ç ã o  V o c a c i o n a l  e  P r o f i s s i o n a l R u a  M o a c i r  P i z a ,  6 7 .  C e r q u e i r a  C e s a r .  T e l e f o n e :  3 0 6 2 3 0 4 9 .  C E P :  0 1 4 2 1 0 3 0 E - m a i l :  a l p _ p s i c o l o g a @ y a h o o . c o m A DI MENS ÃO POLÍTIC A NA AT UAÇ ÃO PR OFISSIONAL EM PS IC OLOGIA 1 Os nom es são coisa m uit o sé ria. Nomeia-se par a cercar os terr enos da singularidade. Entr etanto os sentidos vazam e se esten dem n um a descuidad a indiferenciação do que foi f eito par a demarcar. É assim que o termo Psicologia Institucional fez sua trajetória no campo inter sticial de uma soc iologia política e de uma psicanálise. 2 Introduzida no Bra sil po r m ãos ar gentin as, no fina l da década d e 1960, a Psicol ogia Institucional chegou em boa hora, acenando com a possibilidade de retirar o pensamento e a prática psicológica da conotação cientificista e “aburguesada” que vi nham assumindo ao olhar das esquerda s naciona is. Mais que isto. propondo, de f at o, uma alternativa de atuação que não fossem os testes. as terapias individuais e as análises experimentais do comportamento. Ou seja. ampliando os modelos de compreensão teórica e âm bito de ação de nossa ins titu ão do c onheciment o. Mesmo que estivesse apoiada numa espécie de discurso moral que convocava os psicól ogos a encara r su a “função social” . sua responsabilidade de se conscient izar e conscientizar outros de sua inserção numa sociedade de classes e num modo de produção capitalista, a Psicologia Institucional. capitaneada pelos escritos e pela milincia político- intelectu al de Bleger. efetivamen te pr ovoca uma extens ão do campo e do obj et o da p sicologi a. Mesm o que com e p or tu do i sso. Passadas mais de duas décadas. no entant o, aquilo que pa recia tão def inido começa a esgarçar fronteiras e passa a nomear model os teóricos e pr átic os diferentes.  1 Este texto é de uma apresentação feita no II Congresso Interno do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, em novembro de 1993. Do mesmo modo que o capítulo 9, trata-se de uma inserção, no presente livro, de algo escrito antes dele e para outr as finalidades. Tem, assim, uma organização interna que, nesta nova posição, chega a repetira algumas discussões já feitas nas partes anteriores. A transcrição sem alterações, porém, fez-se necessária para garantir sua inteligibilidade. Presta-se o texto, neste ponto do livro, para identificar os movimentos do recorte teórico metodológico (Part e III) que configura o sujeito dos vínculos afetivos nas representações do discurso, possíveis nas e pelas práticas institucionais. 2 Guirado, M.. Instituições e Relações Afetivas. Op. Cit.

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A DIMENS ÃO POLÍTICA NA AT UA ÇÃ O

PR OFI SS IONAL EM PS ICOLOGIA1

Os nom es são coisa m uit o séria.

Nomeia-se par a cercar os terr enos da singularidade. Entr etan to os sentidos

e se esten dem num a descuidada indiferenciação do que foi feito par a dem ar car .

É assim que o termo Psicologia Institucional fez sua trajetória no c

inter sticial de um a sociologia política e de u ma psican álise.2

Int roduzida n o Bra sil por m ãos ar gentinas , no fina l da década de 1960, a P siInstitucional chegou em boa hora, acenando com a possibilidade de reti

pensamento e a prática psicológica da conotação cientificista e “aburguesada

vinha m assum indo

ao olhar das esquerda s n aciona is. Mais que isto. propondo, de fat o, uma alter

de atuação que não fossem os testes. as terapias individuais e as aná

experimentais do comportamento. Ou seja. ampliando os modelos de comprteórica e âm bito de ação de nossa ins titu ição do conheciment o.

Mesmo que estivesse apoiada numa espécie de discurso moral que convoca

psicólogos a encara r su a “função social”. sua r esponsabilidade de se conscien

conscientizar outros de sua inserção numa sociedade de classes e num mo

produção capitalista, a Psicologia Institucional. capitaneada pelos escritos e

militâ ncia político-intelectu al de Bleger. efetivamen te provoca um a extensão do

e do objeto da psicologia .Mesm o que com e por tu do isso.Pa ssada s m ais de du as década s. no enta nt o, aquilo que pa recia tã o definido c

a esgarçar fronteiras e passa a nomear modelos teóricos e pr át icos diferent es.

1 Este texto é de uma apresentação feita no II Congresso Interno do Instituto de Psicologia da Universidade de SãoPaulo, em novembro de 1993. Do mesmo modo que o capítulo 9, trata-se de uma inserção, no presente livro, de algoescrito antes dele e para outras finalidades. Tem, assim, uma organização interna que, nesta nova posição, chega arepetira algumas discussões já feitas nas partes anteriores. A transcrição sem alterações, porém, fez-se necessária paragarantir sua inteligibilidade. Presta-se o texto, neste ponto do livro, para identificar os movimentos do recorte teóricometodológico (Parte III) que configura o sujeito dos vínculos afetivos nas representações do discurso, possíveis nas epelas práticas institucionais.2 Guirado, M.. Instituições e Relações Afetivas. Op. Cit.

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O sen tido original do ter mo Psicologia In stit uciona l. com Bleger3, era o de uma

at ua ção no nível “da inst ituição como um todo.', com um enqu adr e derivado do m

clínico psicanalítico e com um entendimento de fundo kleineano dos processo

intervenção grupais (como, com certos arranjos, propõe Pichón-Rivière).

intervalo. com o advent o da orient ação fra ncesa em diversas ár eas do pensa mennossos meios. surge o movimento da Análise Institucional. de caráter imediata

político. calcado n o método au togestioná rio e lidera do sobretudo por G. Lapa ssa d4

A produção nacional, nestes momentos, entusiasma-se também cornos efei

ru ptu ra que represent a o traba lho intelectu al de M. Foucault, incorpora (ao qu

indica, indelevelmente) ao seu discurso os termos dessas idéias (tais

micropolítica, r elações poder/saber , dispositivos, est ra tégia disciplina r, ent re out r

E está assim lançada a pedra fundamental para o que hoje se faz e/ou se pensacom psicologia junto a instituições. Ganha-se em hibridismo discursivo, perde-

precisão conceitu al. De tal m an eira qu e, se alguém n os diz que t ra balha com Aou Psicologia Institucional, é difícil saber do que é que se está falando. E.

resultado, até certo ponto esperado, tendo em vista a valoração modal de certas

teóricas, cai em descrédito, na linguagem corrente. dizer que se faz... Psic

Institucional.

Dediquemos algumas linh as ma is a essa má gica do discur so.

P SICOLOGIA INSTITUCIONAL: A P OLÍTICA DA CRISE

Os an os de 1980 conheceram a prolifera ção de escritos e pr át icas sob a insíg

“trabalhos institucionais”. Auxiliados por discussões, seminários e até disciplin

Cursos de Psicologia. recém-egressos deles encontraram um mercado de tr

circunstancialmente ampliado, sobretudo no Estado de São Paulo. A Rede Públ

Saúde, Educação e Pr omoção Social abr ia concur sos e vagas e, com isso, espera numa atuação de vanguarda. Os desafios eram intensos e o reconhecimen

insu ficiência dos tempos de estudos forma is não ta rdou a s e mostra r n a pele dos

3 Bleger. J.. Psico-higiene e Psicologia Institucional. Porto Alegre. Artes Médicas. 1984.4 4. Lapassade G.. Grupos. organizações e instituições. Rio de Janeiro. Francisco Alves. 1971.

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lançar am , muita s vezes por declar ada opção política, a esse tipo de at ividade.

Tendo como ferramentas algumas certezas, como a superioridade das interve

grupais sobre as individuais e/ou das intervenções “no nível da instituição com

todo” sobre aquela s de psicodiagn óstico e psicoter ap ia com a clientela, ta is profis

debatiam-se em dúvidas e dificuldades a respeito de como vencer as “resistinstitucionais” à sua atuação. Supervisões de outros, reconhecidos como

experientes no lidar com entraves dessa natureza, eram demandadas. apesabaixos salários e da falta de apoio oficial à iniciativa. Conferências isola

congressos cont avam com sensível afluên cia de in ter essados.

Pode-se dizer, desse momento que, num a espécie de ban deiran tismo, conqu is

novos territórios para as práticas psicológicas. São esses “grupos de ponta” q

esteira de um legítimo querer/fazer política com a profissão, constituem umdesenho do exercício da psicologia. Mas, como nã o poderia deixar de ser , a am big

característica de qualquer movimento assim (também ele) institucional não tmostra r seu s sinais. Um certo modo de int erpret ar o que a cont ece com n osso tr

qua ndo este se dá fora do âmbito hist oricamen te r econh ecido como seu, os consu

acaba se tr an sform an do em ..teoria s.' com fort e poder de per suasã o sobre os ade

nova orientação. Isto é, as instituições passam a ser explicadas como uma espé

su jeito psicológico que r esiste, defende-se ou at aca o novo (repr esent ado pelo trdo psicólogo); um su jeito que se recusa a ser an alisado, a pen sa r su as r elações epor diante. E. com isso. imaginariamente, o poder desta entidade abstrata ch

instituição recai sobre a cabeça do psicólogo, esmagando-lhe a possibilidade d

artífice de uma boa consciência de processos desequilibrados no modo d

institucional.

Na verdade, o que se nota é que uma relação de exterioridade vai se const

entre o psicólogo e seu trabalho. Um quê de onipotência se anuncia nesta delim

do terr itório da in ter venção que pens a o todo e põe o todo a s e rever . E aí se r efuirônico considerar que são exatamente os que assim tratam a questão que

incorporaram o discurso da necessidade de romper com o discurso da compe

técnica como forma de domínio e de poder. É irônico porque, pelo avesso, a onipo

retorna.

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En quan to isso, na s h ostes intelectu ais e/ou de r enomada experiência, inicia-s

crítica à febre institucionalista. Condena-se que Psicologia Institucional tenha

moda e que dela todos falem. Os oráculos tingem seus discursos de novas co

quando se passa a afirmar a importância da Análise Institucional. T

provavelmente considerado mais nobre, de filiação mais reconhecida, passa a cos discursos de su pervisores e profissiona is da ação direta .

Tudo sugere, porém, que a dança das palavras não se faz acompanhareformulações efetivas nas produções teóricas e práticas. Os limites do objeto

pensar e fazer psicológico não par ecem ga nh ar visibilidade e consider ação.

E, com o tempo, acontece uma espécie de êxodo dos profissionais

declaradamente, haviam optado pelos trabalhos institucionais, como uma forma

psicólogo sem repetir a cantilena das atuações no nível individual, bipeconsultorial. De forma velada começam, agora , a se dedicar a su pervisões de tr a

dos que iniciam avia crucis.

A sensa ção que se tem, portan to,. até a gora , é a de que m uita coisa ainda nã

esclarecida a respeito dos domínios de nosso trabalho junto a instituições, seu

político. suas interfaces com outras disciplinas do conhecimento e do exe

profissional, sua especificidade possível, as ocasiões de sua viabilidade; e as qu

que aqui se apontam são, sem dúvida, apenas algumas das que atravessamcam po, neste m oment o muito embora já se pr estem a aquecer a conversa ...

Pode estar parecendo estranho que, para tratar da dimensão política na at

profissional em psicologia, tenha eu entrado imediatamente, no tema Psico

Institucional. Acontece que esta é, com certeza, uma das modalidades de psic

ma is r econh ecidas como “de n at ur eza política”. Em que p esem as diferen ças , psic

inst ituição e política não são term os que se excluam. O t ítulo do capítulo é provid

portanto. E, como se constatará, é impossível falar do assunto sem trazer par

tema das instituições.

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A HOR A DO RE SGATE

No livroPsicologia In stitu ciona l 5 discut i a quest ão da

especificidade de a tu ação do psicólogo na s diferent es inst itu ições. A idéia era sonpossibilidades de, cuidadosamente, migrar um termo e um objeto de e

característicos da Sociologia e Política (as instituições sociais) enquanto áreconh eciment o, poro um a out ra (a Psicologia), não tão afeita a eles.

Foram necessárias algumas operações teórico-metodológicas bem como a

“recortes conceituais” para que m pudesse delimitarum a especificidade possível d

tr aba lho psicológico jun to a ins titu ições. Nesse camin ho, o que se a caba por deli

também,u m a compreen são da p rópria p sicologia en qua nt o inst ituição.Façamos resgates de aspectos do referido texto, importantes para o qu

exponho.

1

Para começar, foi preciso apresentar o que se estava considerando como obj

psicologia. Na multiplicidade de linhas e orientações teóricas que, sabemoscompõem o espectro de nossa ciência e profissão, escolhemos aproximá-

psicanálise e. com isso, dizer que o psicólogo trabalha com as relações tal represent ada s, ima gina das por aqueles que a fazem.6

2

Se a ssim defino o objeto e o âm bito de ação da psicologia,

recoloca-se a ques tã o da definição de su jeito ps icológico:“(...) sujeitos constituídos nas e constitutivos das relações institucionais. Es

concepção privilegia aposição do sujeito na estrutura institucional e não

5 Girado, M.. Psicologia..., op. cit.6 Guirado M. Psicologiacit.. p.71.

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cara cterísticas ou capacidades individuais e pessoais. Assim, os conflitos, os dist

Os desvios. as inadequações são considerados, sobretudo,com o expressão d esta

articulação de posições. e nã o como sintoma de um indivíduo queestá na ins titu ição.”7

Como se vê, estamos diante de contornos diferentes: trata-se agora de um su

efeito de relações sociais; de tal forma que a única maneira de se falar num spsíquico é consider á-lo enqu an to su jeito inst ituciona l.

3

Assim en ten dendo a psicologia e o su jeito psicológico, delineia -se o carát er a n

do trabalho do psicólogo nas instituições. Não muito diferente, por princíp

qualquer outra intervenção sob o mesmo qualificativo-analítica. Uma escutaocasião de desconst ru ção e recons tr ução do discur so em a ná lise. Uma escut

instaura “uma forma de intervenção que, descendo à especificidade do psicolóretomasse em sua dimensão instituciona l.”8

4

No cur so dos ar gument os an teriores, vamos tecendo as teias que su port am alar ticulações possíveis ent re psicologia, inst itu ição e política. Mu ito embora o leum a primeira vista , possa nã o reconh ecer o que de político tem n isso tu do, nã o t

a concorda r que qu alquer movimento nessa rede de r elações imaginada s e simbo

é, em algum nível, um movimento das relações de força e, portanto, de pod

entendo dessa forma as coisas, posso dizer que este é um trabalho, imediatam

psicológico e, media ta men te, político.

5

O que a té a qui se a present ou com a compr ometedora clareza linear das exp

7 Idem. ibdem. p.70.8 Idem. ibidem. p.84.

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de motivos, no entanto, não deveria nos conduzir a uma espécie de certeza onip

de que se descobriu a pedra de toque da psicologia política, da psicologia soc

psicologia...

De cert o modo, é verda de que pen sa r n o int erior de limites, oferecidos por r e

teór icos e metodológicos que nos impomos, é pensa r com ma is facilidade.Não sei onde li ou ouvi (e logo creditei) que os limites são condição de liberd

de fato confortável ter um princípio claro e circunstanciado de nossas leiturnossos modos de conhecer e entender. Em outras palavras, é confortável saber e

afirma r o “lugar de onde r alamos”, como se costu ma dizer “à fra ncesa” nos circu

vanguarda.

6

E, por falar em lugar é importante lembrar o quanto que a psicanálise devconsultórios. Aqui referidos, obviamente, como conjunto de práticas instituídas

como espaço físico.

Tais pr át icas , com efeito, são o berço das psicotera pias e, porta nt o, uma das f

de constituição da psicologia. Seu campo rei, se pensarmos em termos de interv

Aí está u m a ssen ta do exercício em que teorias, técnicas e r elações concret as par earticular, legando ao profissional um fazer razoavelmente definido, justificra tificado. Muito embora o jogo de forças e t ensões se r eeditem a cada m omen to

processo terapêutico bem como a diversidade de vertentes, linhas ou tendênc

anunciem a cada discussão de especialistas, este é, sem dúvida. um terreno q

apr esent a ma is livre dos conflitos r elativos à definição de “identida de pr ofissiona

sina lizador disso: é men os freqüen te ouvir psicólogos dizerem que n ão sabem qu a

“papel” enquanto psicoterapeutas. Compare-se ao que acontece quando o traba

desenvolve em inst ituições de outra ordem . E, por tu do que já se escreveu at é aqé difícil ima ginar as

razões para t ant o.

De qualquer form a, a história de n ossa disciplina. isto é, a h istória da const

de seu objeto formal e institucional nos leva, indubitavelmente, à necessida

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ressituar o que e como pode ser nosso trabalho, caso este aconteça fora dos mu

consultório ou dos laboratórios de pesquisa. Muitos cuidados são exigidos qua

tr an spõem conceitos e r ecur sos da técnica no exercício da ps icologia e da psican á

instituições outras, como as de promoção social e educação, para citar dois exe

significativos.Falo, nesse momento, tanto das atuações em equipes multidisciplinares q

daquelas imediatamente terapêuticas em instituições. Disso tratei, por extencapítulo anterior,T ransferências e T ransferências.

É muito provável que no traçado da extensão do âmbito de ação da psico

revele-se um desenh o dup lo: de um 1ado, a r eplicação cega de seus cân ones e de

a recusa generalizada (port an to, ar riscada ment e ta mbém cega) dos m esmos, con

aponta mos a nt es. Nest e ú ltimo caso, o tem or pr oceden te de fazer “psicologismoter lançado ao desuso deter mina dos recur sos técnico teóricos, sem ten ta r rea prop

por outr os usos e sen tidos. Nisso, esquece-se que o fazer bem pode su por, por exa utilização de entrevistas tão características de nossomodus operandi. numa

estratégia tal que não se busquem revelar aspectos intrapsíquicos, ou fantas

destruição ou voracidade do entrevistado, mas sim, configurar o complexo imag

que reinventa, ao seu modo, lugares e assentos nas relações de poder/saber q

discurso em curso, recria-se. Estamos, assim, às voltas com a questão do competente.

COMPE TÊNCIA TÉCNICA É SE MPR E ABUSO DE P ODER /SABER?

Num importante livro sobre produção científica,9 Marilena Chauí discute

maneira como o domínio de um determinado discurso teórico e técnico é ocas

exercício de poder pelo saber .

Como fogo na pa lha , uma espécie de crítica condena tória, ou melhor, de julgamoral alastrou-se, a partir de sua leitura, entre nós. Novamente, aavant-garde

psicológica nacional parece encontrar argumentos para negar os usos e estud

certos temas de nossa já desfalcada e certamente restrita psicologia. Em sua p

9 Chauí M.. Cultura e Democracia . São Paulo, Moderna, 1981.

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mais radical, as advertências recaíam, outra vez, na quase anulação da possibi

de a psicologia ser pensada em uma dimensão política, no mínimo, decente. Fa

inconsciente, interpretar, fazer psicodiagnóstico, dinâmica de grupo ou a

experimental de comportamento, corrompidos que estavam por suas origen

conseguiriam ser s enã o um indiscrimina do exercício de poder au tocrá tico.Apesar da autoridade e da competência de Chauí para tratar do tem

complexidade com que o fez, os r um os assu midos por su a an álise, por cert o. fogcont roles de sua escritur a e vemo-nos no limite de impedir nossa s própria s an ális

seja, acabamos por nos impedir de pensar o paradoxo que repetimos: qualquer d

se pr oduz no jogo de t ensões e equ ilíbrios de poder, incluindo o da crít ica; ou nã

(os) efeitos (a que se propõe). Isto posto, impedimo-nos ainda de pensar em

circunstâncias a competência técnica e conceitual é condição da democratizaçdiscurso.

É a esclarecer est e pont o que n os dedicar emos a pa rt ir de agora, no present e

CLÓVIS, A TITULO DE EXEMP LO

Passo a relatar uma situação de supervisão institucional no Serviço Pú

Municipal de Saúde. Com isso. pretendo elucidar isto que chamo de dimensão pda psicologia. Ou melhor, explicitar com a ajuda de uma intervenção concrma neir a como, ao se fazer psicologia, pode-se m over relações de poder, pode-se m

imaginá rio de nossa pr ofissã o. Isto, tra ta ndo de lidar com compet ência, com os re

nascidos dela. Em outras palavras, trata-se de fazer política quando se recoloc

possibilidades de fazer psicologia. De dent ro pr a fora, port an to, e não o cont rá rio

muitas vezes acontece com o julgamento de nossas práticas como sem recupe

politicam ente incorr eta s.

DEMARCANDO LUGARE S

Num convênio da USP com a pr efeitura de São Pa ulo, gestão Luiza E ru n

alguns professores do Instituto de Psicologia foram contratados para dar super

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como parte de um Projeto de Saúde Mental, em 1992. Nessa qualidade assu

tr aba lhos n um a das Regiona is de periferia da cidade. Esta va, entã o, em condiçõ

ma is privilegiadas de at ua ção em Psicologia Inst ituciona l, um a vez que não fazia

do organ ogram a de qu alquer um dos equipamen tos em questã o. Apesar das lim

que o projeto como um todo pudesse ter, a elas não se somava a de minha implcomo “funcioná r ia da casa ”.

O grupo que participou das supervisões era multidisciplinar. Psicólogos, mépsiquiat ra s, assistent es sociais e tera peuta s ocupa ciona is, todos a tu an do em Un

Básicas de Saúde, Hospital-Dia, Centro de Convivência ou Pronto Socorro de H

Geral. Equipe de Saúde Menta l, port an to.

Como se poderá notar no que se segue, com base numa situação concre

atendimento de um rapaz deu-se atenção a alguns aspectos significativos do spresta do pela Rede Pú blica de Saú de. Dent re eles:

a) consideramos a maneira como cada um dos profissionais a quem esse procur ava r epetia, sem se dar cont a, as m ar cas e sen tidos at é entã o organ izado

estr at égias de sua profissão (aplicar test e, receitar medicação, fazer en tr evista s)

já devidamente articuladas às estratégias características dos atendim

dispensados pelo Estado; ou seja, pusemos em questão os métodos e técnicas de

as inst itu ições aí em jogo;b) discutimos as formas possíveis de inserção dos profissionais envolv

contribuindo para a compreensão e tratamento do “caso”, a partir das especific

de seus conh eciment os e prá ticas;

c) demos foco ao cliente e sua deman da par a que se elucidassem as alianças

as instituições profissionais, a organização em particular (a Unidade Básica de

no caso) e a in st itu ição Ser viço Público.

A CONF IGUR AÇÃO DA DEMANDA

Num a da s ma nh ãs de sexta-feira , dia de supervisão, naqu ele clima ha bitu al

que falam os hoje”, uma psicó1oga do grupo su gere qu e se d iscut a “o que fazer c

psicótico numa UBS” (Unidade Básica de Saúde). Por sugestão, agora m

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circun sta nciou m elhor su a pr oposta . Esta va pensa ndo num “ra paz que o Posto

at ende”; “um ra paz que, já n a port a, tinha um jeitinh o de psicótico”. Ele ia t odos

à Un idade, pegava guias de at endiment os diversos, inter pelava n o corredor os té

por quem já havia “passado”, solicitando consultas imediatas. Enfim, alguém

parecia sentir-se em casa, enquanto desalojava os profissionais de seu fazer cotNão tardou para que outros. participantes do grupo o identificassem: tratava

Clóvis, que já h avia pass ado pelo PS do Hospita l Gera l, sendo estabelecido um vigualmen te class ificado como pegajoso pela psicóloga de lá , e a ssim por diant e.

Poliqueixoso, Clóvis apresenta-se, ao que se tem notícia. pela primeira ve

serviço de saúde da região (PS do Hospital), como precisando de aten diment o de

Como parecia ansioso demais aos olhos de quem o recebeu, foi encaminhado

méd ico clínico de plan tã o e par a a psicóloga, que por su a vez. depois de ouvi-lo “encaminhou-o para a UBS. Agradecido. dirigiu-se ao destino com uma cartinh

constava o diagnóstico de “pânico”. Com este recurso, acrescido da frase de vi“Hoje eu não tô bom do nervoso.', agendou lá uma série de consultas. Isto. nã

par alelamen te, cont inua r visitando a “moça loira” (psicóloga) do PS.

Pa recia, a todos, que ir at é o hospita 1 ou ao am bulatório passou a fazer p a

rotina desse ra paz de 23 an os.

Daí a té o títu lo de psicótico que r ecebera com a aqu iescência dos que o aten dpassagem não ficou esclarecida, nessa supervisão. Apontei ao grupo, de um ldiscrepância entre o rótulo e os comportamentos que, com certo mal-esta

descreviam, uma vez que, visivelmen te, sent iam-se encurr alados por Clóvis, ten

encontrar horários para atendê-lo; de outro, apontei que dele se “sabia” apen

“era psicótico”. E ist o era mu ito pouco.

Com boa vontade, os quatro técnicos que ali se encontravam (todos já ti

falado com Clóvis) ten ta ra m da r ma is inform ações sobre o “caso”.

Ao chegar ao Posto, há ma is de mês, foi avaliado por um psiquiatra que n ão que participava da supervisão. Mas, dessa avaliação nada se sabia, a não ser q

fora indicada medicação.

A psicóloga, tendo-o atendido, fez-lhe a recomendação de quesó voltasse a m ar car

com ela depois de t er t oma do os r emédios. Observe-se que seu rela to nã o diz de

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e sim, dos procedimentos institucionais e de suas conseqüências para o já

“paciente do Posto”, mesmo desconhecendo o que se passara na consulta psiqu

Ilustrando com clareza o funcionamento do serviço, o próprio cliente é o porta-

diagnósticos e encaminhamentos. Até aí, nada mau, não fossem os sentid

desarticulação, fragmentação, desinteresse e descaso visivelmente veiculados ppráticas.

A reação de Clóvis mostra-se, por certo, tão complementar que, a cada sidescaso, não por acaso, apega-se. Entre um ponto e outro dos encaminhamentos

pelos profissionais, literalmente, perambula pelos corredores cercando uns e o

solicitando ser

atendido ali mesmo pela psicóloga, pelo psiquiatra de plantão, pela assistente

ainda que não discrimine a especialidade técnica em questão. Afinal, por aquiseguem os supervisionandos relatando, continuava indo diariamente ao Posto

mais ora menos intensa e expressamente, dizia não conseguir esperar o efeitremédios para depois ser atendido pela psicóloga. Como por questão de espaço

não se lhes escapavam seus “salvadores”, ora trocavam algumas palavras com e

repetiam-lhe a máxima “não posso atendê-lo no momento; volte quando acabar

remédios”. Mas como ninguém é de ferro, quando se dizia “mal dos nervos” e

aplicada um a injeção.Eu , enqua nt o supervisora , faço nova intervenção, aponta ndo par a o fat o de

falarem de Clóvis por m eio desse qu ase jogo de “cerca Lour enço” do pessoal de p

O que demandaria ele com isso? Na verdade, a minha preocupação com esse “

era a de pr ovocar um certo desvio do olhar desses aten dentes pa ra aquilo que at e

enqua nt o pareciam querer livrar -se. Ainda, julgava eu, no momento, que este ho

sua demanda permaneciam apenas espiados em seus movimentos/comportam

para ser evitado. A resposta: quer aposentadoria, quer CIC, quer perder o me

dentista (sempre se a ltera a o tocar no assun to ),quer deixar de ser peso mort o da família, quer se sentir livre, quer passe de ônibus; “quer tudo ao mesmo te

enfim.

Relata m t ambém, em m eio a toda essa indiscriminação, que o manda ra m

neurologista, tendo até então como retomo, pelo próprio rapaz, que sua consulta

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sido ma rcada par a mês e t an to depois. En quan to isso, segun do eles, nã o se pode

um “diagnóstico fecha do”, um a vez que h avia suspeita de “qua dro orgâ nico”.

Note o leitor que um diagnóstico já havia si do feito pelo “olhar clínico”, d

recepção psicótico. E, muito provavelmente, esse era um fortíssimo diagnóstic

seja, tinh a ele uma eficácia imaginár ia ta l que a medicação era o term o de condas investidas de Clóvis na rotina da casa (“volte depois de ter tomado o remé

bem como o fechá-lo” parecia sinônimo de confirma-lo para que assim, com juinst ituciona is (cum prin do quesitos t écnico-profissiona is e bur ocrát icos), acabasse

possível encaminhá-lo para fora do ,Posto, pressionando o Hospital-Dia da re

aceitá-lo (na supervisão e, talvez, pelos caminhos regimentais da Rede de S

Pú blico da Pr efeitur a).10

Disso falei, na ocasião, acrescentando outros aspectos à discussão que se fazer naquele âmbito. Apontei-lhes que a relação entre eles e Clóvis reproduz

serviço que “at ende sem at ender”, em que o cliente qu e insiste assina la a s renmarcas da instituição saúde de um modo geral e, sobretudo, da saúde públic

rea lidade, todo esse processo se nu cleava em torn o da seguin te imagem: “Clóvi

ilustre desconhecido”. Ilustre sim, importante sim. Porque, afinal, todos sabi

quem falávam os. Ganh ou um a visibilidade, no ent an to, que lhe impedia ser visto

além de sua s queixas, em su a dem an da. Uma deman da, é claro, que só se configa um olhar técnico e institucional, inelutavelmente. Mas que esse olhar pudemover em outras direções, partilhando outros ângulos, organizando-os e, em es

utilizando, numa perspectiva institucional, os recursos técnicos de que dispu

Agora, instrumentando “pontos-cegos” e, no mínimo (ou máximo), colocand

movimento o que pa recia, at é entã o em su as falas, esta ncado.

É aqu i que, penso, a competên cia t écnica, mesm o que se dan do sempre n o dia

10 Julgo ser importantes esclarecer – sem, no entanto, entrar em detalhes no âmbito deste texto – que atravessou todo oprocesso de supervisão a discussão a respeito dos Hospitais-Dia. Um importante serviço de saúde pública incentivadopelo projeto na área, na gestão de Luiza Erundina, mas que por mecanismos institucionais característicos desse tipo deequipamento, por sua novidade, e pelo jogo de reconhecimento/desconhecimento de seu lugar na rede de atendimento,acabou se desenvolvendo, a meu ver, de forma menos satisfatória do que deveria, no que diz respeito à sua capacidadede atenção primária à saúde da população, até dezembro de 1992. De lá para cá, ao que tenho notícia, deixando de serum atendimento destacado, pela absoluta falta de projetos e coerências para o setor, na gestão Paulo Maluf (transcorridojá meio ano de seu início), o HD tende a se colocar em posição ainda mais delicada. O que é, sem dúvida, um prejuízopara a qualidade de um serviço que já começa a dar sinais visíveis de colapso. Parece , entretanto, que se exasperam, com

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de relações de poder, acaba sendo ocasião de saber a serviço de quem a dem

Coloca-se dentro de limites de conhecimento e tenta se articular a o

conhecimentos, inclusive os que de si informa o cliente. Quanto mais abusivo

tr avestir de diagnóstico “o olhar clínico inst ituciona lment e a ssent ado”...

Assim considerando a importância de olhar para Clóvis por novas lindicamos, no final desse dia de supervisão, que a “equipe” que o atendia proc

reu nir o que se h avia r egistr ado nos diferent es par eceres já form ulados a r espeitque conversassem com o “psiquiatra da tarde” (o que lhe havia indicado a medi

cuja ingest ão se toma ra exigência bá sica pa ra que os demais pr ofissiona is não tiv

que recebê-lo); que discutissem outras formas de saber de Clóvis, além da de

cert eza de ps icose...

Foi então que pudemos discutir as contribuições de entrevistas com ele e família que, inclusive, haviam sido agendadas para o final daquele mês. Q

pergun tei o que pr eten diam com elas , disse-me a ps icóloga que iniciar ia a convera família com a seguinte asser tiva:

“Vocês sabem que t êm u ma pessoa doente em casa”.

Sua intenção, conforme explicou, era a de poder desmistificar “essa coisa do l

dando informações sobre o que é a loucura, de tal maneira a ter aliados, en

familiares em qualquer situação de encaminhamento que fosse decidida para desse rapaz. Sem dúvida, uma intenção nobre e justificada. No entanto, maiocasião que ra tifica o diagnóstico que colocávamos em qu est ão... Como se vê, há

renitentemente resistente nas nossas compreensões, neste caso, técnico-instituc

Mas, de que valeriam a s institu ições de super visão, senã o para, a cada investida

tipo, ser ocas ião de “cort es que façam pensa r?”11

Voltamos então à carga: apontamos a recidiva e discutimos que outros sentidos poderiam ser

atribuídos às entrevistas psicológicas bem como de que outras maneiras poderiam ser estruturadas.

Conclusão: optou-se por conduzi-la na direção de poder configurar os lugares imaginários que as

pessoas se viam ocupando e os que atribuíam aos demais enquanto falavam. Isto, sem dispensar os

lugares assumidos e atribuídos ao e pelo psicólogo. Um exercício de atenção que exigiria deste

isso, apenas os que de fato se interessam pelas políticas públicas... Deixo aqui registrada minha indignação com o quetem sido feito por que de dever nessa Administração.11 Guirado, M.. Psicologia Institucional. Op. cit.

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último um incessante deslocar-se de suas habituais formas de trabalho. Dificuldade que, se não fosse

negada, poderia abrir terrenos diferentes ao entendimento diagnóstico; poderia também reconhecer o

crivo institucional desse atendimento, tanto no que diz respeito aos vínculos familiares como no que

diz respeito aos vínculos, inevitavelmente estabelecidos por todos (clientes e profissionais) com o

serviço público.

ANTIGAS MÁQUINAS E NOVAS LENTES

A supervisão seguinte foi surpreendente. Haviam se passado quinze dia

expressão das pessoas era significativamente diferente. Com certo prazer, afirm

ter decidido o encam inh am ent o a s er feito no caso de Clóvis: Cent ro de Convivê12.

De sobreaviso que sempre fico em situações de mudanças aparentemente má

solicitei-lhes que relat as sem como tinh am chegado a essa conclusão.

O sentido primeiro desse início de reunião era o de que estava afasta

diagnóstico de psicose. Centro de Convivência não abarca tais casos. Como tedado a a ltera ção no enten diment o de psiquiat ra s, psicóloga e assist ent e social?

Ha viam sido feita s dua s entr evista s: um a com Clóvis a pena s, e out ra , com

sua m ãe. Fora m elas cont adas, extensamen te, pelos profissiona is envolvidos, com

a d eixar bem clar o que levara m a sério as recomenda ções e que h aviam se comp

com a cur iosidade caracter ística dos ins ta nt es de criação. O “ra paz com jeitin

psicótico” parecia ter se tomado um aliado na descoberta de quem era ele e

demandava.Era notório que algo se modificara na relação atendente/atendido. Algo da e

de um a convicção de que nem o primeiro nem o segun do deveriam t itubear dian

ocasiões e das previsões de contato. Algo que não está numa palavra de ordem

que a todos parece evidente que se deve cumprir. A exemplo, no dia marcado

entrevista com a família, ele se apresenta sozinho, logo às 7 horas da manhã

horas antes, portanto. A assistente social lhe diz: “Seria tão importante sua

12 Um dos equipamentos desenvolvidos naquela gestão da prefeitura que atendia, basicamente, as pessoas comdificuldades “na esfera de comportamento social”, segundo o Projeto de Saúde Mental em implantação. Ou seja, aquelesque não se encaixando nos rótulos de psicose ou neurose ( o que lhes valeria uma indicação para psicoterapia, Hospital-Dia ou internação em serviços de psiquiatria de Hospital Geral), podem usufruir de atividades de grupo, oficinas detrabalho, recreação e cuidado de si e do ambiente, pela programação cotidiana desses parques de convivência.

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vir...”.Ato con tin enti, voltou par a pegá-la!

A imediatez de resposta a uma afirmação expectante como essa sinaliz

rearranjo de sentidos que prossegue deixando suas marcas: a mãe, que não ce

“convocações” an ter iores, lá chegou, como se levada a laço, com pres sa , ma s a o qu

indicou, disposta a cont ribu ir, um a vez dian te da “moça do Posto”.E assim parece ter se reorganizado a relação cliente/profissional: uma re

expectativas, rede imaginária que é, passou a tecer sentidos para as “informaçõobtidas” naquela conversa. Quero dizer: desde perguntas sobre idade dela (a

nú mer o de filhos, procedência, como eram as “coisas” em su a casa, foi possível

no nível da análise que fizeram da entrevista (os técnicos), o que esperava

familiares) como conduta de um membro daquela família. Foi possível, tam

desenha r o perfil dos que se poderiam dizer pert encendo a ela, bem como aqu ilo Clóvis representava um desvio e o tipo de vínculo que lhe permitia, aind

considera do part e dela.Explicando melhor. Toda fala de dona Naci (a mãe) indicava duas vert

organ izadoras da ordem familiar : a r elação com a doença e a r elação com o tra bal

“O irmão dele é dono de car voaria .“

“É s ó ter boa vonta de e tr aba lhar que tu do vai ficar bom.”

“O Clóvis nã o tra balha . ““Tive 7 filhos do segundo casamento; o primeiro morreu; seis vingaram; o Cl

o qua rt o. A men ina de 33 an os é babá e t em um men ino de 14 anos.”

“A casa está no meu nome e do meu filho que é deficiente físico, cobrad

ônibus.”

“O pr oblema do Clóvis é o nervoso. Ele é den goso dem ais .”

“'A irm ã de 33 cont rolou o ner voso; tr aba lhava e m elhorou.”

Como se pode notar , as referências às pessoas estão sempre seguidas de

termo no eixo saúde/doença, ou no eixo atividade profissional. Esta parece sefamília de trabalhadores em que Clóvis se destaca, como diz um irmão, pela pre

Um a desordem que o deixa em risco de exclusão. Mas, como diz D. Naci:

“En qua nt o eu viver ninguém põe a m ão no Clóvis.”

Por cert o, a proteção mat erna e uma espécie de atividade deoffice-boy da família

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gar an tem su a inclusão. Desta ú ltima , queixa-se por sen tir-se explora do: faz favo

irmãos, mas n ão é reconhecido.

Aliás, sente-se sobrecarregado com as cobranças que lhe fazem. Não pod

ma ndá -lo a t rês lugar es diferent es ao mesmo tempo.

Por aí afora, muitas outras falas foram destacadas pela escuta da psicólogassistente social nas entrevistas que conduziram, cada uma a seu tempo. Cre

entanto, que para os fins a que nos propomos no momento, estes extratosuficientes e n os r emetem à an álise que estam os pr ocedendo da dimensã o polít

exercício da psicologia.

Uma espécie de pas seio pelo jogo de imagens cru zadas ent re os personagens

const elação fam iliar produziu, n a equipe que o aten dia, uma sensa ção de descob

Clóvis par a a lém da s par edes de corr edores e sa las daqu ela U BS. E, t al vez poten ha se implodido o rótu lopsicótico. Diga-se de pa ssagem, não foi sequer men cion

por ocasião desta segunda supervisão. É como se tivesse ido para o espaço. Abrentão novas possibilidades de olhar para aquele insistente rapaz. Viam-se ta

novas possibilidades de reagir à sua insistência. Só para exemplificar, parecia

pulverizado o mito de que o remédio era sua salvação. É bom que se diga que

ajudou para que isso acontecesse: relatou numa das entrevistas que recente

sentira muita tristeza e, enquanto chorava, tomou trinta gotas da medicação qfora in dicada (Neoleptil); pas sa ra mu ito mal, foi levado ao Posto e lhe der amin jeçã o (Diazepa n); como conseqü ência, ficou com m uit o medo dos r emédios

quer ia ficar dr ogado.

A discussã o feita n o âmbito da super visão foi resga ta ndo, aqui e a li, os pont

configura vam um a mu dan ça na consideração que os profissiona is faziam ta nt o

cliente quan to d a própria t écnica de ent revista de qu e se u tilizavam par a conh

Pa recia qu e o at endimen to institu ciona l se movia...

O encaminh am ento par a o Cent ro de Convivência, com as fun ções que ele tRede de Serviço Público à saúde mental, sela o novo diagnóstico: desvian

condições básicas de per ten ça ao imaginá rio dessa fam ília, com 23 an os, sem pr

definida , vivendo em cond ições mater iais pouco favoráveis, Clóvisé um fort e can didato

a estar fora do mercado de trabalho e a preencher todos os desencontros de su

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com dores de den te, trem ores n os bra ços, nas pern as e com m edo de vender sorv

porta das escolas. A possibilidade de esta belecer a lgum convívio com out ra s pes

nele constituir algum grau de segurança em seus relacionamentos, talvez foss

saída. Pa ra ta nt o o at endimento público pôde

contribuir.Não se tr at a a qui, como poderíamos an siar, de qua lquer fina l

feliz mas é, sem dúvida, uma limpeza de t err eno, na medida em que se conssust ar um processo de notória estigmatização na doença men ta l. Mais concreta

susta-se um processo de cronificação da relação demanda/atendimento/equipam

hospitalares.

Cabe dizer que. sem o saber, este rapaz estava se expondo a uma secçã

procedimen tos ins titu ciona is: a tr iagem. É c1ar o que por t udo aqu ilo até a qui detanto ele já se sentia em tratamento quanto era, em tantas esquivas e aproxim

efetivamen te tr at ado por a queles que (nã o) o recebiam .Com as discussões feitas nas supervisões, mesmo no aguardo da consulta

neurologista, pôde-se fazer um relatório que fechava um diagnóstico. Caso, d

Clóvis demandasse cuidados específicos nesse aspecto poderia ser tam

especificam ente t ra ta do. Isto sem qu e a n évoa da loucura empa na sse o qua dro.

É isso. Diagnóstico é, acima de tudo, discriminação e diferenciação. Ao bquem deman da.

Até onde se foi neste tr abalho de triagem, as má quinas podem ser a s mesma s

instituição pública e seus rituais. a psicologia, a psiquiatria e o serviço social

entrevistas. O diferencial está na lente. Uma lente que, ao menos supomos

rem ontou uma ima gem de contornos ma is definidos.

Nessa remontagem, o jogo de força da produção de conhecimento: instit

ps icologia e política ...