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2 MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL EXCELENTisSIMO SENHOR MINISTRO PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL Supremo Tribunal Federal AD! 0004901 - 1810112013 17:55 9929962-98.2013.1.00.0000 I111111111 1 A PROCURADORA-GERAL DA REPÚBLICA em exercício!, com fundamento nos artigos 102, I, "a" e "p" e 103, VI, da Constituição Federal, e nos dispositivos da Lei 9.868/99, vem ajuizar AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE, com pedido de MEDIDA CAUTELAR, para que esse e. Supremo Tribunal Federal declare a inconstitucionalidade de dispositivos normativos da Lei nO 12.651/12 que contrariam o disposto nos artigos 186, I e 11, e 225, todos da Constituição Federal de 1988, conforme as razões de fato e de direito a seguir expostas. I - DOS DISPOSITIVOS LEGAIS IMPUGNADOS. 1. A presente ação direta de inconstitucionalidade tem por objetivo a declaração de inconstitucionalidade de dispositivos da Lei nO 12.651 de 25 de maio de 2012, bem como das alterações nela promovidas pela Lei 12.727 de 17 de outubro de 2012 2 2. A Lei nO 12.651/12 dispõe sobre a proteção da vegetação nativa e revogou, entre outros diplomas normativos, a Lei nO 4.771/65, que instituía o Código Florestal Brasileiro. 1 Nos termos da Portaria PGR n" 430 de 15 de agosto de 20lL 2 A Lei 12.727/l2 é resultante da conversão da Medida Provisória n" 571i2012.

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL - MPFmpf.mp.br/atuacao-tematica/ccr4/dados-da-atuacao/documentos/adis... · 23.79~ Proteção aos animais (Decreto 24.645/1934). 5 SOUZA FILHO. Carlos

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    MINISTRIO PBLICO FEDERAL

    EXCELENTisSIMO SENHOR MINISTRO PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

    Supremo Tribunal Federal AD! 0004901 - 1810112013 17:55

    9929962-98.2013.1.00.0000

    I1111111111

    A PROCURADORA-GERAL DA REPBLICA em

    exerccio!, com fundamento nos artigos 102, I, "a" e "p" e 103, VI, da

    Constituio Federal, e nos dispositivos da Lei 9.868/99, vem ajuizar AO

    DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE, com pedido de MEDIDA

    CAUTELAR, para que esse e. Supremo Tribunal Federal declare a

    inconstitucionalidade de dispositivos normativos da Lei nO 12.651/12 que

    contrariam o disposto nos artigos 186, I e 11, e 225, todos da Constituio Federal

    de 1988, conforme as razes de fato e de direito a seguir expostas.

    I - DOS DISPOSITIVOS LEGAIS IMPUGNADOS.

    1. A presente ao direta de inconstitucionalidade tem por objetivo

    a declarao de inconstitucionalidade de dispositivos da Lei nO 12.651 de 25 de

    maio de 2012, bem como das alteraes nela promovidas pela Lei n 12.727 de

    17 de outubro de 20122

    2. A Lei nO 12.651/12 dispe sobre a proteo da vegetao nativa

    e revogou, entre outros diplomas normativos, a Lei nO 4.771/65, que institua o

    Cdigo Florestal Brasileiro.

    1 Nos termos da Portaria PGR n" 430 de 15 de agosto de 20lL 2 A Lei 12.727/l2 resultante da converso da Medida Provisria n" 571i2012.

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    3 3. Os dispositivos legais ora impugnados so os seguintes: art. 12,

    4, 5, 6, '?e 8"; art. 13, 1; ar!. 15; art. 48, 2; art. 66, 3 0, 5,

    lI, III e IV e 6 e 68, todos da Lei 12.651/12. Ademais, requer-se a interpretao

    conforme a constituio ao art. 28 da Lei 12.651/12, nos termos do pedido ao

    final formulado.

    11 -DOS FATOS.

    4. As razes da legislao protetiva das florestas no Brasil so

    muito anteriores ecloso do chamado ambientalismo, cujo marco inicial

    considerado a realizao da C'Jnferncia de Estocolmo, em 1972.

    5. Portanto, ao contrrio do que muitos supem, a legislao

    ambiental brasileira no fruto de adaptaes de modelos aplicados em outros

    pases, nem mesmo da influncia de interesses internacionais, frequentemente

    classificados como escusos por aqueles que defendem a flexibilizao das

    normas de proteo ambiental. A legislao ambiental brasileira, ao revs,

    fruto da dinmica sociopoltica nacional, da evoluo do conhecimento

    cientfico sobre os ecossistemas que compem o nosso territrio, tendo sido

    identificada e reivindicada pelos movimentos sociais que, no perodo recente,

    lutaram por justia social e pela democratizao do pas'.

    6. De fato, o Brasil dispe de uma legislao protetora das

    florestas, de carter nacional, desde 1934, quando foi editado o Decreto nO

    23.793, conhecido como "primeiro Cdigo Florestal brasileiro", A Constituio

    Republicana de 1934 tambm foi a primeira a considerar a proteo da natureza

    como um princpio fundamental, tendo sido por ela atribuda Unio e aos

    Estados, a competncia para, de forma concorrente, "proteger belezas naturais e

    monumentos de valor histrico e artstico''''.

    3 Historiadores como Jos Augusto Pdua, apontam que a preocupao com a conservao das florestas esteve no centro do pensamento poltico nacional ernandpador desde o perodo colonial, a exemplo das obras de Jos Bonifcio. Joaquim Nabuco, Baltasar a Silva Lisboa e Francisco Freire Alemo. - "-":

    4 Merece registro o fato de que na dcada de 1930, alm restal, outros instrumentos relacionados proteo ambiental foram criados, como o Odigo de guas

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    7. o primeiro Cdigo Florestal brasileiro estabeleceu os fundamentos para a proteo territorial dos principais ecossistemas florestais. e

    teve corno objetivo principal regulamentar a explorao madeireira no pas. Um

    de seus mritos foi, sem dvida, definir categorias de reas a serem

    especialmente protegidas, por meio da classificao das florestas em quatro

    tipologias: florestas protetoras, florestas remanescentes, florestas de rendimento

    e florestas modelo.

    8. J durante o regime autoritrio, urna nova legislao foi

    debatida pelo Poder Legislativo e sancionada pela Presidncia da Repblica:

    tratava-se da Lei nO 4.771 de 15/091965, que institua o "novo" Cdigo

    Florestal. Tal lei extinguiu as lipologias definidas pelo Cdigo de 1934,

    substituindo-as por quatro outras: parque nacional, floresta nacional, reas de

    preservao permanente (APP) e reserva legal, estas duas ltimas, criadas com o

    objetivo de conter a devastao florestal.

    9. Dessa forma, quando a denominada "questo ambiental"

    eclodiu nos anos 1970 e foram configurados a problemtica e os conflitos

    inerentes aos princpios do denominado "desenvolvimento sustentvel", a

    legislao brasileira j contava com urna norma de proteo s florestas.

    10. Esse brevssimo histrico demonstra, tambm, que a proteo

    ambiental das florestas no Brasil, desde sua gnese e nos mais diferentes

    contextos sociopolticos, teve corno principal estratgia a instituio de espaos

    territoriais especialmente protegidos pblicos e privados.

    11. H de ser notada, todavia, uma evoluo no alcance da proteo

    Conforme aponta Carlos Frederico Mars Souza Filho, "em 30 as florestas

    deveriam proteger alguma coisa; em 60 elas mesmas eram o bem protegido. em

    80 a proteo voltada para o ecossistema";, 'c~,c

    (Decreto 24,643/34), o Cdigo de Caa e Pesca (Decreto 23.79~ Proteo aos animais (Decreto 24.645/1934).

    5 SOUZA FILHO. Carlos Frederico Mars. Espaos Ambientais Protegidos e Unidades de Conservao, p. 20. Curitiha: Editora Universitria Champagnat, 1993.

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    12. E a proteo do ecossistema a tnica da proteo ao meio

    ambiente na Constituio Federal de 1988, conforme se depreende do art. 225,

    que consagra o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente

    equilibrado e faz referncias explcitas necessidade de preservao e

    restaurao dos processos ecolgicos essenciais (arl. 225, 10, 1), bem como

    proteo da funo ecolgica da fauna e da flora (art. 225, VI).

    13. Ao longo de sua vigncia, a Lei nO 4.771/65 passou por

    significativas alteraes. Algumas delas foram fruto da evoluo, acima

    mencionada, do alcance da proteo ambiental. o caso, por exemplo, das

    alteraes promovidas pela Lei nO 7.511/86, que aumentou as faixas de APPs

    situadas ao longo de cursos d'gua e pela Lei nO 7.783/89, que instituiu novas

    tipologias de APPs e inseriu na lei a definio de reserva legal.

    14. A partir da dcada de 1990, as alteraes legislativas

    promovidas na Lei n 4.771/65 foram decorrentes, principalmente, da sucessiva

    divulgao de dados obtidos por imagens de satlite, demonstrando o aumento

    exponencial do desmatamento no Brasil, notadamente na Amaznia.

    15. A srie de mudanas na legislao teve incio com a

    promulgao da Medida Provisria nO 1.511/96 que introduziu no Cdigo

    Florestal trs alteraes principais: ampliao da vedao de corte raso,

    limitao de novas converses de florestas para pecuria e agricultura e

    imposio do manejo florestal sustentvel de uso mltiplo. Com a publicao da

    mencionada MP, pretendia o Poder Executivo responder s crticas nacionais e

    internacionais voltadas poltica ambiental brasileira, incapaz de conter a perda

    de biodiversidade. No ambiente poltico da poca, o desejo do Brasil de assumir

    um papel de liderana internacional na questo ambiental contrastava com a

    incapacidade interna de enfrentar problemas ambientais como o desmatamento.

    16. As iniciativas do Poder Executivo geraram imediata reao dos

    grandes proprietrios rurais. O aumento do desmatamento correspondia, no

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    plano econmico, ao avano da fronteira agrcola, das monoculturas e da

    pecuria extensiva. Como resultado, os limites de proteo previstos no Cdigo

    Florestal - que poca de sua edio pareciam distantes - passaram a ser

    contestados. Novas medidas provisrias foram editadas pelo Poder Executivo,

    desta vez, flexibilizando o contedo das medidas de proteo previstas".

    17. Por fim, em 2001, foi editada a MP 2.166, que modificou a

    definio de reas de preservao permanente e reserva legal; definiu as

    possibilidades de interveno em APPs por razes de utilidade pblica e

    interesse social e regulamentou as possibilidades de compensao da reserva

    legal. Referida medida provisria, reeditada 67 vezes, permaneceu em vigor at

    2012, quando foi revogada a Lei 4.771/65.

    18. Todavia, as presses para alterao do Cdigo Florestal e

    flexibilizao de seus principais instrumentos de proteo ganhariam impulso

    novamente aps a adoo de duas importantes medidas pelo Governo Federal: a

    edio da Resoluo n 3.545, pelo Banco Central, que passou a condicionar a

    liberao de crdito agropecurio regularizao ambiental das propriedades

    rurais e a publicao do Decreto 6.514/2008, que definiu multas e penalidades

    para propriedades que no tivessem sua reserva legal averbada no respectivo

    registro do imvel.

    19. Em 2009, a Cmara dos Deputados aprovou a criao de uma

    Comisso Especial para analisar os projetos de lei em trmite naquela Casa

    Legislativa. A Comisso Especial apresentou seu relatrio em 2010 e o mesmo

    foi aprovado pela Cmara dos Deputados em maio de 2011. O Senado aprovou o

    projeto, com diversas modificaes, em 07/12/12 e, na Cmara dos Deputados,

    diversos aspectos da redao sugerida pela Comisso Especial foram retomados.

    (i Para histrico das alteraes na Lei nO 4.771/65 na dcada de 1990. cf. BENJAMIN, Antonio Herman V. A proteo das florestas brasileiras: ascenso e queda do cdigo florestal. Revista de Direito Ambiental, So Paulo: Revista dos Tribunais, 0.18, p. 22-23, abr.ljuo. 2000.

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    20. Ignorando a clara diretriz constitucional sobre o tema da

    proteo ambiental, bem como os explcitos mandamentos da Carta da

    Repblica a respeito da garantia do direito fundamental ao meio ambiente

    ecologicamente equilibmdo, o processo legislativo foi dominado por propostas

    que tinham como pano de fundo um nico objetivo: desonerar os proprietrios

    rurais dos deveres referentes proteo das florestas e, ainda, "anistiar"

    legalidades antes cometidas.

    21. Por fim, encaminhada a proposta legislativa sano

    presidencial, a Lei 12.651/12 foi publicada com 12 vetos. Aps, o Poder

    Executivo editou uma Medida Provisria (j convertida em lei), fazendo 32

    modificaes no projeto aprovado pelo legislativo.

    22. Como ser demonstrado a seguir, a Lei aprovada, em diversos

    dispositivos, ao diminuir o padro de proteo ambiental ou mesmo extinguir

    espaos territoriais especialmente protegidos, ofende mandamentos

    com;titucionais explcitos, justificando-se, por esse motivo, a abertura da via do

    controle abstrato de constitucionalidade.

    III - DO DIREITO

    23. A Lei 12.65li12 manteve no ordenamento jurdico nacional as

    reservas florestais legais, espaos territoriais especialmente protegidos definidos

    como "reas localizadas no interior de uma propriedade ou posse rural, com a

    funo de assegurar o uso econmico de modo sustentvel dos recursos naturais

    do imvel rural, auxiliar a conservao e a reabilitao dos processos ecolgicos

    e promover a conservao da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteo de

    fauna silvestre e da flora nativa",

    24, Os percentuais destinados reserva legal variam conforme a

    localizao do imvel, correspondendo, na Amaznia Legal a 80%, no imvel

    localizado em rea de floresta, 35% no situado em rea de cerrado e 20% no

    situado em rea de campos gerais. Em todas as demais regies do pas, o

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    percentual destinado reserva florestal legal deve corresponder a 20% do

    imvel.

    25. A legislao brasileira j preceituava, desde a publicao do

    Cdigo Florestal de 1934, que "nenhum proprietrio de terras cobertas de matas

    poder abater mais de trs quartas partes da vegetao existente, salvo o disposto

    nos artigos 24, 31 e 52 ".

    26. o Cdigo Florestal de 1965 regulamentou a reserva legal inicialmente em seu art. 44, segundo o qual: "na regio Norte e na parte Norte

    da regio Centro-Oeste enquanto no for estabelecido o decreto de que trata o

    artigo 15, a explorao s permissvel desde que permanea com cobertura

    arbrea, pelo menos 50% da propriedade".

    27. A estrutura normativa do Cdigo Florestal influenciou

    fortemente a Constituio Federal de 1988. Alm de fazer constar do prprio

    conceito de funo social da propriedade a proteo do meio ambiente, o

    estabelecimento de espaos territoriais especialmente protegidos foi erigido

    categoria de dever fundamental do poder pblico para garantia do direito ao

    meio ambiente ecologicamente equilbrado.

    28. A Constituio tambm atribuiu coletividade o dever de

    defender o meio ambiente, estatuindo, ainda, na observncia desse dever, a

    solidariedade entre as presentes e futuras geraes.

    29. Em tal contexto, inegvel que a Constituio Federal

    recepcionou a instituio das reas de reserva legal como forma de garantir a

    execuo dos objetivos constitucionais de proteo do meio ambiente.

    30. De fato, os prprios conceitos de reserva legal e de rea de

    preservao permanente, deixam evidente o papel de tais instrumentos de

    proteo ambiental na efetivao dos desgnios constitucionais contidos no art.

    225 da Carta da Repblica.

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    31. Os estudos tcnicos anexados presente ao, especialmente

    aquele produzido pelas duas maiores organizaes cientficas nacionais (a

    Academia Brasileira de Cincias e a Sociedade Brasileira para o Progresso da

    Cincia) demonstram, de forma inconteste, a importncia das reservas legais

    para o cumprimento dos deveres fundamentais do poder pblico quanto

    proteo ambiental (doc. 02). Segundo excertos do citado documento (fIA3 ):

    "H consenso entre os pesquisadores de que a garantia de manuteno das reas de Preservao Permanente (APP) ao longo das margens de rio e corpos d'gua, de topos de morros e de encostas com declividade superior a 30 graus, bem como a conservao das reas de Reserva Legal (RL) nos diferentes biomas sD de fundamental importncia para a conservao da biodversidade brasileira."

    32. A constitucionalizao dos espaos territoriais especialmente

    protegidos trouxe consequncias vinculantes ao sistema jurdico corno um todo,

    inclusive com restries explicitamente dirigidas ao legislador.

    33. De incio, a criao de espaos territoriais especialmente

    protegidos prevista no texto constitucional corno um dos deveres do poder

    pblico para assegurar a efetividade do direito fundamental ao meo ambiente

    ecologicamente equilibrado, articulando-se tal dever aos demais deveres

    fundamentais atribudos ao Estado Brasileiro no art. 225, 1 , verbis:

    Ar!. 225. Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo e preserv- lo para as presentes c futuras geraes.

    }O _ Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Pblico:

    I - preservar e restaurar os processos ecolgicos essenciais e prover o manejo ecolgico das espcies e ecossistemas;

    fI - preservar a diversidade e a integridade do patrimnio gentico do Pais e fiscalizar as entidades dedicadas pesquisa e manipulao de material gentico;

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    III - definir, em todas as unidades da Federao, espaos territoriais e seus componentes a serem especialmente 1 O protegidos, sendo a alterao e a supresso permitidas somente atravs de lei, vedada qualquer utilizao que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteo;

    IV - exigir, na forma da lei, para instalao de obra ou atividade potencialmente causadora de signifieativa degradao do meio ambiente, estudo prvio de impacto ambiental, a que se dar publicidade;

    V - controlar a produo, a comercializao e o emprego de tcnicas, mtodos e substncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e O meio ambiente;

    VI - promover a educao ambiental em todos os nveis de ensino e a conscientizao pblica para a preservao do meio ambiente;

    VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as prticas que coloquem em risco sua funo ecolgica, provoquem a extino de espcies ou submetam os animais a crueldade,

    34. Conforme concluso compartilhada pela unanimidade da

    doutrina constitucional, a Constituio Federal de 1988 consagrou um "dever

    constitucional geral de no degradao". Segundo explica o Ministro do

    Superior Tribunal de Justia, Antnio Herman Benjamin,

    "Trata-se de dever constitucional autossuficiente e com fora vinculante plena, dispensando, na sua aplicao genrica, a atuao do legislador ordinrio. , por outro lado, dever inafastvel, tanto pela vontade dos sujeitos privados envolvidos, como a pretexto de exerccio da discricionaredade administrativa, Vale dizer: dever que, na estrutuTa do edifcio jurdko, no se insere na esfera de livre opo dos indivduos, pblicos ou no,'"

    35. Quanto ao poder pblico, alm do dever geral de no

    degradao ambiental, foram estabelecidos tambm deveres fundamentais

    especficos, explicitamente mencionados no lOdo art. 225, Da anlise dos

    deveres fundamentais atribudos ao Estado para assegurar a efetividade do '--::..~ ~

    7 BENJAMIN,~Antnio Herman V. Direito Constitucional Ambient~ln: CANOTlLHO, J.J Gomes e LEITE, Jos Rubens Morato (Org.). Direito Constitucional Ambiental Brasileiro. 4' ed. So Paulo: Saraiva, 2011.

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    direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, pode ser inferida a

    existncia de um verdadeiro regime jurdico-constitucional dos espaos 11 territoriais especialmente protegidos, contendo mandamentos explcitos e

    vinculantes ao poder pblico em todas as suas esferas.

    36. Nesse sentido, tem-se que a criao de espaos territoriais

    especialmente protegidos decorre do dever de preservar e restaurar os processos

    ecolgicos essenciais, de forma que essa deve ser uma das finalidades da

    instituio desses espaos. Segundo explica Heline Silvini Ferreira,

    "quando se referiu a processos ecolgicos essenciais, quis o constituinte garantir a proteo dos processos vitais que tornam possveis as inter-relaes entre os seres vivos e o meio ambiente. ( ...) Nessa perspectiva, portanto, dever do Poder Pblico preservar e restaurar as condies indispensveis existncia, sobrevivncia digna e ao desenvolvimento dos seres vivos"~.

    37. A criao dos espaos territoriais especialmente protegidos

    articula-se, por fim, com os deveres fundamentais de preservao da diversidade

    e integridade do patrimnio gentico do Pas, bem como da proteo da fauna e

    da flora.

    38. o texto constitucional prev ainda, vedaes explcitas no que se refere aos espaos territoriais especialmente protegidos. De incio, no prprio

    dispositivo normativo que prev o dever fundamental de instituir tais espaos, a

    Constituio preceitua que sua alterao e supresso somente sero permitidas

    atravs de lei (art. 225, 1, I1I).

    39. No mesmo dispositivo normativo, a Carta da Repblica

    estabelece ser vedada qualquer utilizao dos espaos territoriais especialmente

    protegidos que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem a sua

    proteo.

    8 FERREIRA, Heline Sivini. Poltica Ambiental Constitucional, p. 256. In: CANOTlLHO, 1.1 Gomes e LEITE, los Rubens Morato (Org.). Direito Constitucional Ambiental Brasileiro. 4' ed. So Paulo: Saraiva, 2011.

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    40. o texto constitucional, uma vez mais, de clareza solar: institudo um espao territorial especialmente protegido, sua utilizao no

    poder comprometer a integridade dos atributos que justificaram sua a proteo,

    ou seja, a sua funo ecolgiea.

    41. Tal mandamento constitucional vincula o poder pblico em

    todas as esferas: o Poder Executivo dever observ-lo em seus atos

    administrativos e, especificamente, no licenciamento ambiental; o Poder

    Judicirio no poder chancelar a utilizao predatria dos espaos protegidos,

    devendo zelar pelo cumprimento de sua funo ambiental; e, ao Poder

    Legislativo, incumbir observar o preceito na elaborao da legislao

    infraconstilucionaJ.

    42. As inconstitucionalidades suscitadas na presente ao decorrem

    da afronta, consubstanciada em diversos dispositivos legais referentes s

    reservas legais, ao regime constitucional dos espaos territoriais especialmente

    protegidos, notadamente, aos deveres fundamentais que impem ao poder

    pblico: () a vedao de que espaos territoriais especialmente protegidos sejam

    utilizados de forma que comprometa os atributos que justificam sua proteo;

    (ii) o dever de preservar e restaurar os processos ecolgicos essenciais; (iii) o

    dever de proteger a diversidade e a integridade do patrimnio gentico e (iv) o

    dever de proteger a fauna e a tlora, com a proibio de prticas que coloquem

    em risco sua funo ecolgica.

    43. Os prejuzos ambientais decorrentes das modifieaes

    legislativas ora propostas e a importncia de que fossem mantidos, ao menos, os

    padres de proteo existentes foram comunieados ao Congresso Nacional pela

    comunidade cientfica. No j citado documento produzido pela Academia

    Brasileira de Cincia e pela Sociedade Brasileira para o Progresso Cientfico, os

    parlamentares foram alertados de que (tl. 43): ~c -~

    "Entre os impados negativos da reduo de APPs e de RL esto a extino de espcies de muitos grupos de plantas e

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    animais (vertebrados e invertebrados); o aumento de emisso de C02; a reduo de servios ecossistmicos, tais como o controle de pragas, a pOlinizao de plantas 13 cultivadas ou selvagens e a proteo de recursos hdricos; a propagao de doenas (hantavrus e outras transmitidas por animais silvestres, como no caso do carrapato associado capivara); intensificao de outras perturba1es (inc~ndios, caa, extrativismo predatrio, impacto de ces e gatos domsticos e ferais, efeitos de agroqumicos); o assoreamento de rios, reservatrios e portos, com claras implicaes no abastecimento de gua, energia e escoamento de produo em todo o pas."

    44. E, ao fragilizar o regime de proteo das reas de preservao

    permanente e das reservas legais, e em alguns casos, extingui-Ias, o legislador

    infraconstilucional violou integralmente os mandamentos constitucionais acima

    mencionados. Se, na lio de Konrad Hesse, "direitos fundamentais no podem

    existir sem deveres", foroso reconhecer que o legislador infraconstluconal

    atingiu o ncleo fundamental do direto ao meio ambiente ecologicamente

    equilibrado, negando-lhe vigncia e retirando sua fora normativa".

    45. Alm de afrontar os deveres fundamentais. as normas

    impugnadas violam o princpio da vedao de retrocesso social, pois, de forma

    geral, estabelecem um padro de proteo ambiental manifestamente inferior ao

    anteriormente existente,

    46. Alm da diminuio direta dos padres de proteo, decorrente

    da diminuio dos espaos efetivamente protegidos e dos prejuzos s funes

    ecolgicas das reservas legais, merece especial ateno dessa Corte

    Constitucional a sem precedentes fragilizao dos instrumentos de proteo

    ambiental e a autorizao para consolidao dos danos ambientais j

    perpetrados, ainda que praticados com afronta legislao anteriormente

    vigente.

    9 HESSE, Konrad, A fora normativa da Constituio. Porto Alegre: Fabris, 1991, p. 21,

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    47. De fato, conforme ser exposto, diversos dispositivos legais, em

    franca contrariedade ao dever geral de no degradao e ao dever de restaurar os 14 processos ecolgicos essenciais, admitem a consolidao de danos ambientais

    praticados at 22 de julho de 2008 10 Em tal contexto, a definio "rea rural

    consolidada" utilizada pela Lei 12.651/12 em diversos dispositivos,

    objetivando, em sntese, isentar os causadores de danos ambientais da obrigao

    de reparar o dano, sem exigir qualquer circunstncia razovel para a dispensa

    desta reparao.

    48. As previses normalivac

  • 15

    14

    decorrente da proteo insuficiente do direito fundamental ao meio ambiente

    ecologicamente equilibrado.

    52. Em tal contexto, vlido citar os ensinamentos de Ingo Sarlet e

    Tiago Fensterseifer, acerca do necessrio controle judicial da legislao

    infraconstitucional, luz dos deveres fundamentais estatudos pela Constituio

    Federal quanto proteo do meio ambiente:

    "Diante da insuficincia manifesta da proteo, h violao do dever de tutela estatal, e portanto, est caracterizada a inconstitucionalidade da medida, tenha ela natureza omissiva ou comissiva, sendo possvel seu controle judicial, de tal sorte que. nesse contexto, ganha destaque a prpria vinculao do Poder Judicirio (no sentido de um poder-dever) aos deveres de proteo, de modo que se lhe impe o dever de rechao da legislao e dos atos administrativos inconstitucionais, ou, a depender das circunstncias, o dever de correo de tais atos mediante uma interpretao conforme a Constituio e de acordo com as exigncias dos deveres de proteo e proporcionalidade. A vinculao do Poder Judicirio aos direitos fundamentais, e portanto, aos deveres de proteo, guarda importncia singular para a garantia de proteo do retrocesso, posto que, tambm no que diz respeito a atos do poder pblico que tenham por escopo a supresso ou reduo dos nveis de proteo social (cujo controle igualmente implica considerao dos critrios da proporcionalidade na sua dupla perspectiva) caber aos rgos jurisdicionais a tarefa de identificar a ocorrncia de prtica inconstitucional e, quando for o caso, afast-la ou corrigi-la." 11

    53. precisamente isso que o Ministrio Pblico espera com a

    presente ao direta de inconstitucionalidade: que esse e. Supremo Tribunal

    Federal afaste e corrija as inconstitucionalidades materiais presentes na Lei

    12.651/12, as quais sero a seguir elencadas luz do que at aqui exposto.

    "Das inconstitucionalidades materiais da Lei 12.651/12.

    1I SARIET, logo Wolfgang; FENSTERSEIFER, T. Direito Constitucional Ambiental. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 201 L p. 190/191.

  • 16

    15

    a) Inconstitucionalidade da reduo da reserva legal em virtude da

    existncia de terras indgenas e unidades de conservao no territrio

    municipal (art. 12, 4 e 5).

    54. o art. 12 da Lei 12.651/12. em seus 4 e 5, prev uma possibilidade de diminuio da rea de reserva legal, na nos seguintes termos:

    Art. 12. Todo imvel rural deve manter rea com cobertura de vegetao nativa, a ttulo de Reserva Legal, sem prejuzo da aplicao das normas sobre as reas de Preservao Permanente, observados os seguintes percentuais mnimos em relao rea do imvel, excetuados os casos previstos no art. 68 desta Lei:

    I - localizado na Amaznia Legal:

    a) 80% (oitenta por cento), no imvel situado em rea de florestas

    4 Nos casos da alnea a do inciso I, o poder pblico poder reduzir a Reserva Legal para at 50% (cinquenta por cento), para fins de recomposio, quando O Municpio tiver mais de 50% (cinq uenta por cento) da rea ocupada por unidades de conservao da natureza de domnio pblico e por terras indgenas homologadas.

    5 Nos casos da alnea a do inciso I, o poder pblico estadual, ouvido o Conselho Estadual de Meio Ambiente, poder reduzir a Reserva Legal para at 50% (cinquenta por cento), quando o Estado tiver Zoneamento Ecolgico Econmico aprovado e mais de 65% (sessenta e cinco por cento) do seu territrio ocupado por unidades de conservao da natureza de domnio pblico, devidamente regularizadas, e por terras indgenas homologadas.

    55. A reduo das reas de reserva legal, prevista no dispositivo

    normativo acima transcrito, constitui retrocesso ambiental. Isso porque, as

    finalidades ecolgicas das unidades de oonservao e das reas de reserva legal

    so substancialmente distintas, de forma que tais instrumentos de proteo

    ambiental no podem ser equiparados e nem substitudos.

  • 17

    16

    56. Quanto s terras indgenas, embora a realidade demonstre que

    normalmente so mais preservadas do que reas em seu entorno, a finalidade de

    sua instituio no , ao menos de forma primria, a proteo ambiental, mas

    sim, o reconhecimento de direitos territoriais dos povos indgenas.

    57. A modificao legislativa ora impugnada afronta o dever geral de

    no degradao e, ainda, o dever fundamental do Poder Pblico de promover a

    restaurao dos ecossistemas e dos servios ecolgicos essenciais. Por essa razo

    devem ser declarados inconstitucionais os 4 e 5 do art. 12 da Lei 12.651/12.

    b) Inconstitucionalidade da dispensa de constituio de reserva legal por

    empreendimentos de abastecimento pblico de gua e tratamento de esgoto,

    bem como por detentores de concesso, permisso 011 autorizao para

    explorar energia eltrica e nas reas adquiridas ou desapropriadas para

    implantao e ampliao da capacidade de ferrovias e rodovias (art. 12, 6,

    7"eS").

    58. o ar!. 12 da Lei 12.651/12 traz, em seus 6, JO e go hipteses de dispensa de constituio de reserva legal, nos seguintes termos:

    art. 12. Todo imvel rural deve manter rea com cobertura de vegetao nativa, a ttulo de Reserva Legal, sem prejuzo da aplicao das normas sobre as reas de Preservao Permanente, observados os seguintes percentuais mnimos em relao rea do imvel, excetuados os casos previstos no art. 68 desta Lei:

    6" Os empreendimentos de abastecimento pblico de gua e tratamento de esgoto no esto sujeitos constituio de Reserva Legal.

    li 7" No ser exigido Reserva Legal relativa s reas adquiridas ou desapropriadas por detentor de concesso, permisso ou autorizao para explorao de potencial de energia hidrulica, nas quais funcionem empreendimentos de gerao de energia eltrica, subestaes ou sejam instaladas linhas de transmisso e de distribuio de energia eltrica,

    8 No ser exigido Reserva Legal relativa s reas adquiridas ou desapropriadas com o objetivo de implantao e ampliao de capacidade de rodovias e ferrovias.

    ~

  • 18

    17

    59. A dispensa de constituio de reserva legal na forma prevista

    nos dispositivos normativos acima transcritos constitui reduo indevida e

    injustificada do padro de proteo ambiental. Isso porque o que justifica a

    existnca da reserva legal a localizao do imvel em zona rural,

    independentemente da atividade a ser exercda.

    60. Ademais, se a eventual implantao dos empreendimentos de

    que trata a norma provoca reduo das reas com vegetao nativa que seriam

    mantidas como reserva legal, deve ser exigida, no processo de licencamento

    ambiental, a devida compensao, mediante a preservao de rea equivalente,

    ainda que isso demande a aquisio de outras reas. A dispensa trazida pelo art.

    12, 6, 7 e 8 diminuir as funes ecossistmicas das propriedades

    afetadas e prejudicar a conservao de biomas em extensas reas.

    61. A previso de dispensa de constituio de reserva legal viola,

    portanto, a exigncia constitucional de reparao dos danos causados, o dever

    geral de proteo ambiental previsto no art. 225 da Constituio da Repblica, a

    exigncia constituconal de que a propriedade atenda sua funo social, alm do

    princpio da vedao do retrocesso em matria socioambiental.

    62. Por essa razo devem ser declarados inconstitucionais o 6, o

    7 e 8 do art. 12 da Lei 12.651/12.

    c) Inconstitucionalidade da permisso de instituio de servido ambiental,

    na forma preyista no art. 13, 10 da Lei na 12.651112.

    63. o ar!. 13, 1 da l.ei 12.651/12 permite que seja instituda servido ambiental e cota de reserva ambiental sobre a rea excedente decorrente

    da reduo prevista no inciso I do mesmo dispositivo legal, nos seguintes termos:

    Art. 13. Quando indicado pelo Zoneamento EcolgicoEconmico - ZEE estadual, realizado segundo metodologia unificada, o poder pblico federal poder:

  • 18

    I - reduzir, exclusivamente para fins de regularizao, mediante recomposio, regenerao ou compensao da Reserva Legal 19 de imveis com rea rural consolidada, situados em rea de t10resta localizada na Amaznia Legal, para at 50% (cinquenta por cento) da propriedade, excludas as reas priori trias para conservao da biodivcrsidade e dos recursos hdricos e os corredores ecolgicos;

    I" No caso previsto no inciso I do caput, o proprietrio ou possuidor de imvel rural que mantiver Reserva Legal conservada e averbada em rea superior aos percentuais exigidos no referido inciso poder instituir servido ambiental sobre a rea excedente, nos termos da Lei nO 6.938, de 31 de lmsto de 1981, e Cota de Reserva Ambiental

    64. Ocorre que a previso contida no ar!. 13, I, abrange apenas a

    reduo para fins de recomposio, de forma que no h fundamento para a

    instituio de servido ambiental e cota de Reserva Ambiental sobre rea mantida

    com vegetao nativa a ttulo de reserva legal. Isso porque, fatalmente, tal rea

    ser utilizada como compensao da reserva legal de outra propriedade, que

    deixar de cumprir o percentual de reserva legal. Em tal contexto, haver, de

    forma inequvoca, uma reduo das reas de reserva legal.

    65. Assim, deve ser declarada a inconstitucionalidade do art. 13,

    1, da Lei 12.651/2012, ante a violao da exigncia constitucional de reparao

    dos danos causados, o dever geral de proteo ambiental previsto no art. 225 da

    Constituio da Repblica, a exigncia constitucional de que a propriedade

    atenda sua funo social, alm do princpio da vedao do retrocesso em matria

    socioambientaI.

    d) Inconstitucionalidade da autorizao para cmputo de reas de

    preservao permanente no percentual de reserva legal (art. 15 da Lei

    12.651/12).

    66. o art. 15 da Lei 12.651/12 prev hiptese de autorizao para o cmputo de reas de preservao permanente no percentual de reserva legal, nos

    seguintes termos:

  • 19

    Ar!. 15. Ser admitido o cmputo das reas de Preservao Permanente no clculo do percentual da Reserva Legal do imvel, desde que: 20

    I - o benefcio previsto neste artigo no implique a converso de novas reas para o uso alternativo do solo;

    11 - a rea a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperao, conforme comprovao do proprietrio ao rgo estadual integrante do Sisnama; e

    III - o proprietrio ou possuidor tenha requerido incluso do imvel no Cadastro Ambiental Rural - CAR, nos termos desta Lei.

    1 O regime de proteo da rea de Preservao Permanente no se altera na hiptese prevista neste artigo.

    2 O proprietrio ou possuidor de imvel com Reserva Legal conservada e inscrita no Cadastro Ambiental Rural - CAR de que trata o art. 29, cuja rea ultrapasse o mnimo exigido por esta Lei. poder utilizar a rea excedente para fins de constituio de servido ambiental, Cota de Reserva Ambiental e outros instrumentos congneres previstos nesta Lei.

    3" O cmputo de que traIa o caput aplica-se a todas as modalidades de cumprimento da Reserva Legal, abrangendo a regenerao, a recomposio c a compensao.

    4 dispensada a aplicao do inciso I do caput deste artigo, quando as reas de Preservao Permanente conservadas ou em processo de recuperao, somadas s demais florestas e outras formas de vegetao nativa existentes em imvel, ultrapassarem:

    I - 80% (oitenta por cento) do imvel rural localizado em reas de floresta na Amaznia Legal; e

    67. A previso normativa, portanto, admite o cmputo das reas de

    Preservao Permanente no clculo do percentual de Reserva Legal, em imveis

    de qualquer tamanho, reduzindo o nmero de reas protegidas. Como cedio,

    reas de Preservao Permanente e reas de Reserva Legal desempenham

    funes ecoSsislmicas diversas, porm complementares. Juntas, compem o

    mosaico de reas protegidas mnimas para conferir sustentabiJidade s

    propriedades rurais.

  • 20

    68. o tema dos efeitos prejudiciais do mecanismo foi objeto de anlise da comunidade cientfica e assim analisado no estudo publicado pela 21 Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia e pela Academia Brasileira de

    Cincias anexado presente ao (doc. 02):

    Uma das atuais propostas de alterao do Cdigo Florestal expande as possibilidades de incorpoidr a APP no cmputo da RL de todas as propriedades. O maior objetivo dessa alterao a reduo do passivo ambiental, uma vez que esse mecanismo no dever ser autorizado caso implique na supresso de novas reas de vegetao nativa. Com essa alterao, uma propriedade (com mais de quatro mdulos fiscais) que incluir 10% de APP s precisar manter mais 10% adicionais como RL; aquela que tiver mais de 20% de APP no ter de manter qualquer RL Haveria assim uma substituio de RL por APP. Esse clculo combinado no faz sentido em termos biolgicos. reas de APP e RL possuem funes e caractersticas distintas, conservando diferentes espcies e servios ecossistmicos. reas de APP riprias diferem das reas entre rios mantidas como RL; analogamente, APPs em encostas ngremes no equivalem a reas prximas em solos planos que ainda mantm vegetao nativa, conservadas como RL. As APPs protegem reas mais frgeis ou estratgicas, como aquelas com maior risco de eroso de solo ou que servem para recarga de aqufero, seja qual for a vegetao que as recobre, alm de terem papel importante de conservao da biodiversidade. Por se localizarem fora das reas frgeis que caracterizam as APPs, as RL

  • 21

    espcies brasileiras vulnerveis e ameaadas de extino nas lstas atualizadas periodicamente pelas sociedades 22 cientficas e adotadas pelos rgos e instituies da rea ambientaL Na re~ii\o amaznica. a reduo das RLs diminuiria o patamar de cobertura florestal a D1VeIS que comprometeriam a continuidade fisica da floresta. aumentando significativamente o risco de extino de espeCles, comprometendo sua efetividade como ecossistemas funcjonais e seus servios ecossistmicos. (p.48)

    69. Portanto, o mecanismo previsto no art. 15 acaba por

    descaracterizar o regime de proteo das reservas legais e, assim, viola o dever

    geral de proteo ambiental previsto no art. 22.'5 da Constituio da Repblica, as

    exigncias constitucionais de reparao dos danos ambientais causados (arl. 225,

    3) e de restaurao de processos ecolgicos essenciais (art. 225, 1a, I), a

    vedao de utilizao de espao especialmente protegido de modo a comprometer

    os atributos que justificam sua proteo (art. 225, 1, I1I) e o comando

    constitucional de que a propriedade atenda sua funo social (art. 186). Por

    conseguinte, deve ser declarado inconstitucional o art. 15 da Lei 12.651/12.

    d) Necessidade de conferir interpretao conforme a Constituio ao art. 28

    da Lei 12.65lf12.

    70. Segundo o art. 28 da Lei 12.651/12 "No pennitida a

    converso de vegetao nativa para uso alternativo do solo no imvel rural que

    possuir rea abandonada".

    71. Disposio semelhante j era prevista no art. 37-A da Lei n

    4.771/65, que proibia a converso de floresta para uso alternativo na propriedade

    rural que possusse rea desmatada, quando fosse verificado que esta encontrava

    se abandonada, subutilizada ou utilizada de forma inadequada. A regra enunciada

    em tal dispositivo normativo da legislao revogada tinha grande importncia,

    pois visava coibir o desmatamento realizado com objetivo de utilizao do

  • 22

    materallenhoso para produo de carvo, sem destinao adequada do solo para

    aproveitamento futuro. 23

    72. Na legislao em vigor, o art. 28 substituiu a regulamentao

    acima descrita pela proibio de converso de vegetao nativa para uso

    alternativo do solo que possuir "rea abandonada". Ocorre que, na tramitao da

    Medida Provisria n 571/2012, a definio de "rea abandonada" foi suprimida

    do texto, de forma que foi retirada a previso explcita de vedao de

    desmatamentos em reas subutilizadas ou utilizadas de forma inadequada.

    73. Tal omisso viola dever geral de proteo ambiental previsto no

    art. 225 da Constituio da Repblica, a exigncia constitucional de que a

    propriedade atenda sua funo social, alm do princpio da vedao do retrocesso

    em matria socioambiental.

    74. Por conseguinte, deve ser dada interpretao conforme a

    Constituio ao art. 28 da Lei 12.651/12, para que seja interpretado para abranger

    todas as formas de subutilizao ou m utilizao da propriedade, ou seja, rea

    abandonada, subutilizada ou utilzada de forma inadequada, nos termos dos 3

    e 4 da Lei nO 8.629/1993.

    Das inconstitucionalidades nos dispositivos que versam sobre regularizao

    da Reserva Florestal.

    - Inconstitucionalidade da permisso do plantio de espcies exticas para

    recomposio da reserva legal (art. 66, 3")

    75. O arl. 66, 3 da Lei 12.651/12, ao contrrio da revogada Lei

    4.771/65 (art. 44, inciso I do caput), permite o plantio intercalado de espcies

    nativas e exticas ( 3) de forma permanente, com o intuito de permitir a

    explorao econmica da reserva legal ( 4):

  • 23

    Ar!. 66. O proprietrio ou possuidor de imvel rural que detinha, em 22 de julho de 2008, rea de Reserva Legal em extenso inferior ao estabelecido no art. 12, poder regularizar sua situao, independentemente da adeso ao PRA, adotando 24 as seguintes alternativas, isolada ou conjuntamente:

    (...)

    3 A recompnsio de que trata o inciso I do caput poder ser realizada mediante o plantio intercalado de espcies nativas e exticas, em sistema agroflorestal, observados os seguintes parmetros:

    I - O plantio de espcies exticas dever Ser combinado com as espcies nativas de ocorrncia regional;

    II - a rea recompnsta com espcies exticas no poder exceder a 50% (cinquenta pnr cento) da rea total a ser recuperada.

    76. A autorizao para recomposio da reserva florestal com

    espcies exticas contraria o dever de vedar a utilizao de espaos territoriais

    especialmente protegidos de forma que comprometa os atributos que justificam a

    sua proteo (ar!. 225, 1, III da Constituio Federal). Isso porque a principal

    finalidade da reserva legal justamente a de possibilitar a conservao e

    reabilitao dos biomas e da vegetao caracterstica de cada ecossistema,

    protegendo a flora e a fauna nativas.

    77. Os prejuzos decorrentes da autorizao para recomposio da

    reserva legal por espcies exticas foram apontados pela comunidade cientfica,

    no estudo j citado. Vlido transcrever o seguinte excerto de tal documento:

    A restaurao das reas de RL, vivel graas ao avano do conhecimento cientifico e tecnolgico, deve ser feita preferencialmente com espcies nath'8S, pois o uso de espcies exticas compromete sua fundia de conservao da biodversidade e no asseiura a restauraco de suas funes ecol2ica. e dos servios ecossistmicos. O uso de espcies exticas pode ser admitido, mas na coodico.J!L.l!iooeiras, conforme a loei.laelio vigente. (p. 13)

    d "" ~/'" '- d78. O I tp an 10 e especles exollcas na recomposlao manutenao a

    RL era permitido pela Lei 4.771/65 (ar!. 16, 3), mas para pequenas

  • 24

    propriedades ou posses familiares, e desde que fossem rvores frutferas

    ornamentais ou industriais. Era, portanto uma exceo pontual e socialmente 25relevante, no uma regra para desnaturao do instituto.

    79. Alm disso, era autorizada a plantao de espcies exticas

    como pioneiras para a recomposio da RL, ou seja, de forma transitria (ar!. 44,

    2").

    80. o Parecer Tcnico 138/2011, produzido por analistas periciais do Ministrio Pblico Federal, com muita propriedade destaca que o regime de

    utilizao previsto na Lei 12.65112012 acaba por descaracterizar a funo das

    reas de RL:

    "considerando que O Projeto de Lei tambm admite a explorao econmica da Reserva Legal recomposta, sem contudo especificar que essa deve ocorrer de modo sustentado (Art. 38, 4) e equipara a silvkultura pratkada em reas aptas ao uso alternativo do solo atividade agrcola (Art. 66), as Reservas Legais recompostas com o uso de espcies exticas sero, na realidade, reas agrcolas".

    81. o 3 do art. 66 da Lei 12.651/12 deve ser declarado inconstitucional pois viola o dever geral de proteo ambiental previsto no ar!.

    225, caput, da Constituio da Repblica; as exigncias constitucionais de

    reparao dos danos ambientais causados (arl. 225, 3) e de restaurao de

    processos ecolgicos essenciais (ar\. 225, 1Q, I); a vedao de utilizao de

    espao especialmente protegido de modo a comprometer os atributos que

    justificam sua proteo (art 225, 1, III); a exigncia constitucional de que a

    propriedade atenda sua funo social, bem como o princpio da vedao do

    retrocesso em matria socioambiental. ..... . :< .

    ...:--~ - Da Inconstitucionalidade da compensao da reserva legal sem que haja

    identidade ecolgica entre as reas, e da compensao por arrendamento ou

    pela doao de rea localizada no interior de unidade de conservao a

    rgo do poder pblico (art. 48, 2 e art. 66, S", lI,m e IV e 6).

  • 25

    82. Uma das alternativas oferecidas pela legislao quele que 26 suprimi u ilegalmente a reserva legal utilizar o mecanismo da compensao, o

    qual permite que o proprietrio rural, mantenha rea de reserva legaI em imvel

    distinto daquele ilegalmente degradado.

    83. No h dvidas de que essa hiptese de regularizao ambiental

    deve ser vista com reservas e utilizada apenas quando restar claro o beneffcio

    ambiental comparado quele obtido com a recomposio ou restaurao da

    reserva legal.

    84. Por outro lado, alguns dos mecanismos de compensao

    previstos na Lei 12.651/12 so claramente inconstitucionais. Mais

    especificamente, trata-se dos mecanismos previstos no art. 48, 20 e no art. 66,

    5 e 6 o, segundos os quais:

    Ar!. 48. A CRA pode ser transferida, onerosa ou gratuitamente, a pessoa fsica ou a pessoa jurdica de direito pblico ou privado, mediante termo assinado pelo titular da CRA e pelo adquirente.

    (...)

    2' A eRA s pode ser utilizada para compensar Reserva Legal de imvel rural situado no mesmo bioma da rea 11 qual o ttulo est vinculado.

    Art. 66. O proprielrio ou possuidor de imvel rural que detinha, em 22 de julho de 2008, rea de Reserva Legal em extenso inferior ao estabelecido no art. 12, poder regularizar sua situao, independentemente da adeso ao PRA, adotando as seguintes allernativas, isolada ou conjuntamente:

    (...) 1II - compensar a Reserva Legal

    (... ) 5 A compensao de que trata o inciso lI! do capu! dever ser precedida pela inscrio da propriedade no CAR e poder ser feita mediante:

    I - aquisio de Cota de Reserva Ambiental - CRA;

  • 26

    11 - arrendamento de rea sob regime de servido ambiental ou Reserva Legal;

    III - doao ao poder pblico de rea localizada no interior de Unidade de Conservao de domoio pblico pendente 27 de regularizao fundiria;

    IV. cadastramento de outra rea equivalente e excedente Reserva Legal, em imvel de mesma titularidade ou adquirida em imvel de terceiro, com vegetao nativa estabelecida, em regenerao ou recomposio, desde que localizada no mesmo bioma.

    6 As reas a serem utilizadas para compensao na forma do 5 devero:

    I - ser equivalentes em extenso rea da Reserva Legal a ser compensada;

    II - estar localizadas no mesmo bioma da rea de Reserva Legal a ser compensada;

    III - se fora do Estado, estar localizadas em reas identificadas como prioritrias pela Unio ou pelos Estados.

    85. A impropriedade tcnica desses dispositivos e os prejuzos

    ambientais deles decorrentes foram salientados pela comunidade cientfica,

    conforme estudo da Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia e da

    Academia Brasileira de Cincias, anexado aos autos (doc. 02). Vlido

    transcrever, por elucidativo, o seguinte excerto do referido documento:

    Nos bomas com ndices maiores de antropizao, como o Cerrado, a Caatinga e algumas reas altamente fragmentadas como a Mata Atlntica e panes da Amaznia, os remanescentes de vegetao nativa, mesmo que pequenos, tm importante papel na conservao da bodiversidade c na diminuio do isolamento dos poucos fragmentos da paisagem.

    Tais remanescentes funcionam como trampolins ecolgicos no deslocamento e na disperso das espcies pela paisa/,>em.

    Essas caractersticas exigem que eventuais compensaes sejam feitas na prpria microbacia ou na bacia hidrogrfica. As caractersticas fitoecolgicas da rea a ser compensada - e no o bioma como um todo, devido alta heterogeneidade de formaes vegetais dentro de cada bioma - devem ser a referncia para a compensao. (p. 13) _~

    ~

  • 27

    (. .. )

    Conforme a proposta apresentada no substitutivo, um proprietrio do interior de So Paulo que deveria conservar 28 uma RL de floresta Estacionai Semidecdua pode compensar a destruio irregular desta RL comprando uma rea de floresta Ombrfila Densa da Serra do Mar, ou mesmo de uma rea de floresta em Pernambuco.

    Nos dois exemplos, as florestas no so equivalentes, pois esto situadas em condies ambientais e climticas muito distintas, com vegetaes e ecossistemas bastante diferentes e que no se equivalem.

    Esse novo dispositivo legal ignora que as florestas e demais formaes vegetadonais brasileiras so heterogneas, resultado de complexos processos biogeogrficos, sendo esta, justamente, a razo para que essas reas sejam reconhecidas internacionalmente pela sua alta biodiversidade.

    A maioria das espcies tem distribuio geogrfica limitada dentro de cada bioma, seja em centros de enuemismos ou zonas biogeogrficas, seja em diferentes fisionomias. reas de compensao no adjacentes ou em diferentes regies fitoecolgicas no se prestam a conservar espcies da regio perdida.

    Alm disso, a possibilidade de compensao de RL mediante doao ao poder pblico de rea localizada dentro de uma Unidade de Conservao desvirtua a funo da RL e transfere para o proprietrio uma responsabilidade do Estado: a manuteno da biodiversidade em UC sob sua responsabilidade.

    As compensaes deveriam ser realizadas somente em reas ecclogicamente equivalentes, considerandu nu apenas as regies de endemismo, mas tambm as diferenas de composio de espcies e estrutura dus ecossistemas que ocorrem dentro das subdivises de cada grande bioma brasileiro.

    Mesmo assim, importante notar que qualquer compensao de perda da RL em uma regio realizada em outra rea no repe os servios ecossistmicos que a RL perdida prestava na sua rea original, nem impede a degradao ambiental progressiva que tal perda provoca. (p. 85)

  • 28

    86. Do acima transcrito, resta claro que a aquisio de uma rea no

    mesmo bioma insuficiente como mecanismo de compensao. Ao prever tal

    possibilidade, a Lei 12.651/12 afronta o dever fundamental de preservar e

    restaurar os processos ecolgicos essenciais. Alm disso, permite a completa

    descaracterizao do instituto da reserva legal.

    87. Tambm padecem de inconstitucionalidade as formas de

    compensao da reserva legal previstas nos incisos II e III do 5, acima

    transcrito. A possibilidade de que a reserva legal seja compensada mediante

    arrendamento sequer satisfaz de forma plena a ideia de "compensao" j que

    no haveria segurana jurdica quanto perpetuidade da proteo.

    88. Como bem salientado no estudo acima citado, a hiptese de

    "compensao" por rea localizada no interior de unidade de conservao

    grave em termos de desvirtuamento das funes ecolgicas da reserva legal. Na

    linha do que esta Procuradoria-Geral j salientou na ADI 4367, tal mecanismo

    no gera qualquer benefcio ambiental. Trata-se de possibilidade criada to

    somente para tentar contornar a inadmissvel incapacidade administrativa de

    realizar a regularizao fundiria de unidades de conservao.

    89. A consequncia direta do mecanismo a diminuio das reas

    legalmente protegidas: retira-se a obrigatoriedade do proprietrio ou possuidor

    do imvel rural de recompor a reserva legal, para que esse adquira uma rea j

    protegida.

    90. Ao permitir a desonerao do dever de recompor ou restaurar as

    reservas de vegetao nativa no interior de cada propriedade, o legislador, mais

    uma vez, contraria a determinao constitucional de "restaurar os processos

    ecolgicos essenciais e prover o manejo ecolgico das espcies e ecossistemas". ~

    91. Por todos esses motivos, os artigos 48, ~i':~;' 6, devem ser declarados inconstitucionais. Requer-se, ainda, que a expresso

    "localizada no mesmo bioma" que consta do inciso IV do 5 do arL 66 da Lei

  • 29

    .- 29

    12.651/12. seja interpretada confonne a Constituio Federal, autorizando-se

    apenas a compensao entre reas com identidade ecolgica.

    - Da Inconstitucionalidade dos artigos 12 e 68, caput, da Lei 12.651/12.

    92. o art. 68 prev, em suma, a consolidao das reas que foram desmatadas antes das modificaes dos percentuais de Reserva Legal,

    principalmente aquelas ocorridas a partir de 1996, por meio de medidas

    provisrias. A redao do citado dispositivo legal a seguinte:

    Art. 68. Os proprietrios ou possuidores de imveis rurais que realizaram supresso de vegetao nativa respeitando os percentuais de Reserva Legal previstos pela legislao em vigor poca em que ocorreu a supresso so dispensados de promover a recomposio, compensao ou regenerao para os percentuais exigidos nesta Lei.

    P Os proprietrios ou possuidores de imveis rurais podero provar essas situaes consolidadas por documentos tais como a descrio de falos histricos de ocupao da regio, registros de comercializao, dados agropecurios da atividade, contratos e documentos bancrios relativos produo, c por todos os outros meios de prova em direito admitidos.

    2" Os proprietrios ou possuidores de lmoveis rurais, na Amaznia Legal, e seus herdeiros necessrios que possuam ndke de Reserva Legal maior que 50% (cinqucnta por cento) de cobertura florestal e no realizaram a supresso da vegetao nos percentuais previstos pela legislao em vigor poca podero utilizar a rea excedente de Reserva Legal tambm para fins de constituio de servido ambiental, Cota de Reserva Ambiental - CRA e outros instrumentos congneres previstos nesta Lei.

    93. o art. 12 da Lei 12.651!l2, por sua vez, estabelece que:

    /" --.".---=,

  • 30

    : 30

    relao rea do imvel, excetuados os casos previstos no art. 68 desta Lei: (Redao dada peJa Lei n 12.727, de 2(12).

    94. A previso normativa contida nos dispositivos impugnados

    representa flagrante retrocesso na legislao ambiental, excluindo a proteo de

    um nmero incalculvel de espaos territoriais especialmente protegidos. A

    norma ignora, ademais, que os percentuais de reserva legal foram aumentados

    como medida necessria para conter o desmatamento e assim, cumprir os

    mandamentos constitucionais de proteo ambiental.

    95. H, portanto, clara violao do dever geral de no degradar o

    melO ambiente, bem como ao dever fundamental de preservar e restaurar os

    processos ecolgicos essenciais, bem como ao princpio da vedao do retrocesso

    em matria socioambiental.

    IV - DO PEDIDO CAUTELAR

    96. Esto presentes os pressupostos para concesso de medida

    cautelar.

    97. A argumentao deduzida acima demonstra a plausibilidade das

    inconstitucional idades suscitadas. O periculum in mora decorre do carter

    irreparvel ou de difcil reparao dos efeitos dos dispositivos legais

    questionados, j que as leses ambientais so, com grande frequncia, de carter

    irreparvel l2

    98. Requer-se, portanto, a concesso de medida cautelar, para O

    efeito de se obter, at o julgamento final da ao, a suspenso da eficcia dos

    dispositivos da Lei 12.651/12 acima impugnados.

    12 Por ocasio do julgamento da ADI 73, o Relator, Ministro Moreira Alves, deferiu a liminar, sob o argumento de que "a possibilidade de danos ecolgicos de difcil reparao, e, por vezes, de reparao impossivel ", A deciso foi unnime.

  • 31

    : 31

    v - DO PEDIDO.

    Por todo o exposto, requer:

    a) a aplicao do rito abreviado previsto no art. 12 da Lei 9.868/99, em face da

    relevncia da matria e de seu especial significado para a ordem social e a

    segurana jurdica;

    b) sejam colhidas as informaes da Presidncia da Repblica e do Congresso

    Nacional, no prazo de 10 dias, e, em seguida, a manifestao do Advogado-Geral

    da Unio, no prazo de 05 dias, tudo nos termos do art. 12 da Lei 9.868/99;

    d) a concesso de medida cautelar, nos termos do art. 10 da Lei 9.868/99, para

    suspenso da eficcia dos dispositivo ora impugnados, conforme especificado nos

    pedidos a seguir formulados;

    e) a realizao de diligncias instrutrias, nos termos do art. 9, 1 e 2 da Lei

    9868/99;

    f) sejam declarados inconstitucionais os pargrafos 4 e 5 do art. 12 da Lei

    12651/2012;

    g) sejam declarados inconstitucionais os pargrafos 6, 7 e 8 do art. 12 da Lei

    12.651/12;

    i) seja declarado inconstitucional o art. 13, 1 da Lei 12.651/12;

    j) seja declarado inconstitucional o art. 15 da Lei 12.651/12;

    I) seja dada interpretao conforme a Constituio ao art. 28 da Lei 12.651/12

    para que seja interpretado para abranger todas as formas de subutilizao ou m

    utilizao da propriedade, ou seja, rea abandonada, subutilizada ou utilizada de

    forma inadequada, nos termos dos 3 e 4 do art. 6 da Lei 8.629/93;

    q) seja declarado inconstitucional o 3 do art. 66 da Lei 12.651/2012;

  • r) seja declarada a inconstitucionalidade dos artigos 48, 2 e 66, 5, I1, III e

    6, conferindo-se, ainda, interpretao conforme a Constituio ao inciso IV do

    5 do art. 66, para que a expresso "localizada no mesmo bioma" que consta da 32 parte final do referido dispositivo legal, seja interpretada de forma a autorizar-se

    apenas a compensao entre reas com identidade ecolgica.

    t) seja declarada a inconstitucionalidade do art. 67 da Lei 12.651/12;

    u) seja declarada a inconstitucionalidade do art. 68 e da expresso" excetuados os

    casos previstos no art. 68 desta Lei" contida no art. J2, caput. todos da Lei

    12.651/12.

    Braslia, 18 de janeiro de 2013.

    SANDRA CUREAU Procuradora-Geral da Repblica em exerccio

  • 33

    JUSTIFICATIVA PARA PROTOCOLO DA PETIO INICIAL EM MEIO FSICO (ART. 8 DA RESOLUO 427/2010)

    Em virtude de impossibilidade tcnica decorrente da expirao da assinatura

    eletrnica da Procuradora-Geral da Repblica em exerccio, a presente petio inicial

    de ao direta de inconstitucionalidade, remetida a esse e. Supremo Tribunal Federal

    por meio fisco, nos termos do art. 8 da Resoluo 427/2010.

    ..... Por oportuno, esclarece a Procuradora-Geral da Repblica em exerccio que no b

    bice para que os documentos sejam desde j digitalizados por esse e. Supremo

    Tribunal Federal, na forma prevista no art. 29 da Resoluo 42712010.

    Braslia, 18 de janeiro de 2013.

    ,=~,~;~. ~~;n~;a.;;;;rea:-~~ Procuradora -Geral da Repblica em exerccio

  • Doc. OL hitp://www.planallo.gov.br/ccivl_03/j.t020ll 20141201 2/Lei/LI 265 J .. L1265lcomplado

    Presidncia da Repblica Casa Civil 34

    Subchefia para Assuntos Jurdicos

    LEI N 12.651. DE 25 DE MAIO DE 2012.

    Dispe sobre a proteao da vegetao nativa; attera as leis

    n~ 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393. de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de dezembro de 2006: Mensagem de v!llil revoga as leis n~ 4.771, de 15 de selembro de 1965, e 7754, de 14 de abril de 1989. e a Medida ProVIsria n~ 2.16667. de 24 de agosto de 2001; e d outras providncias.

    A PRESIDENTA DA REPBLICA Fao saber que o Congresso Nacional decrela e eu sanciono a seguinte lei:

    CAPTULO I

    DISPOSiES GERAIS

    Art. 1~ (VETADO).

    Arl. 1~A. Esta lei estabelece normas gerais sobre a proteo da vegetao, reas de Preservao Permanente e as reas de Reserva legal: a explorao florestal. O suprimento de matria-prima florestal, O controle da origem dos produtos florestais e o controle e preveno dos incndios florestais, e prev instrumentos econmicos e

    ........inanceiros para o alcance de seus objetivos. IIncluido pela lei nO 12.727. q~.2U.111

    Pargrafo nico. Tende como objetivo o desenvolvimento sustentvel, esta lei atender aos seguintes princpios; (lncludQQela Lei n' 12.727, (le 2Q1

  • http://www.planalto.gov.br/ccivil_03LAto201 1-20 I 412012/LeilLl 265 I ...LI 265 Icompilado

    Ar!. 2' AJil floreslas existentes no territrio nacional e as demais formas de vegetao nativa, reconhecidas de utilidade s terras que revestem, so bens de interesse comum a todos os haMantes do Pais, exercendo-se os dirertos de propriedade com as limitaes que a legislao em geral e especialmente esta Lei estabelecem. 35

    1~ Na utilizao e explorao da vegetao, as aes ou omisses contrrias s disposies desta Lei so consideradas uso Irregular da propriedade, aplicando-se o procedimento sumrio previsto no inciso 11 do art 275 da Lei nO 5.869. ele 1~.eiro de 1973 - Cdigo de Processo Civil, sem prejulzo da responsabilidade civil, nos termos do

    1 do art.i~.no 6.938, de 31.de agosto deJJlli, e das sanes administrativas, civis e penais.

    2~ As obrigaes previstas nesta Lei tm natureza real e so transmitidas ao sucessor, de qualquer natureza, no caso de transferncia de domlnio ou posse do imvel rural.

    Art. 3~ Para os efeitos desta Lei, entende-se por:

    I . Amaznia Legal: os Estados do Acre, Par, Amazonas, Roraima, Rondnia, Amap e Mala Grosso e as regies situadas ao norte do paralelo 13' S, dos Eslados de Tocantins e Gois, e ao oeste do meridiano de 44' W, do Estado do Maranho;

    II . rea de Preservao Permanente - APP: rea protegida, coberta ou no por vegetao nativa, com a funo ambiental de preservar os recursos hdricos, a paisagem, a estabilidade geolgica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gnico de fauna e flora. proteger o solo e assegurar o bem-estar das populaes humanas;

    III - Reserva Legal: rea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada nos termos do art 12, com a funo de assegurar o uso econmico de modo sustentvel dos recursos naturais do imvel rural. auxiliar a conservao e a reabilitao dos processos ecolgicos e promover a conservao da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteo de fauna silvestre e da flora nativa;

    IV - rea rural consolidada: rea de imvel rural com ocupao antrpica preexistente a 22 de julho de 2008, com ...... dificaes, benfeilorias ou atividades agrossilvipastoris, admilida, neste himo caso, a adoo do regime de pousio;

    V - pequena propriedade ou posse rural familiar: aquela explorada mediante o trabalho pessoal do agricu~or familiar e empreendedor familiar rural, incluindo os assentamentos e projetos de reforma agrria, e que atenda ao

    disposto no art 3 da Lei nO ill2~.IL~J.t~.MbUl~2QJlQ;

    VI uso afiernativo do solo: substituio de vegetao nativa e formaes sucessoras por outras coberturas do solo, como atividades agropecurias, induslriais, de gerao e transmisso de energia, de minerao e de transporte, assentamentos urbanos ou outras formas de ocupao humana;

    VII manejo sustentvel: administrao da vegetao natural para a obteno de benefcios econmicos, sociais e ambientais, respeitando-se os mecanismos de sustentao do ecossistema objeto do manejo e considerando-se, cumulativa ou afiernativamente, a utilizao de mltiplas espcies madeireiras ou no, de mltiplos produtos e subprodutos da flora, bem como a utilizao de outros bens e servios;

    VIII - utilidade pblica:

    a) as atividades de segurana nacional e proteo sanitria;

    b) as obras de infraestrutura destinadas s concesses e aos servios pblicos de transporte, sistema virio, inclusive aquele necessrio aos parcelamentos de solo urbano aprovados pelos Municpios, saneamento, gesto de resduos, energia, telecomunicaes, radiodifuso, instalaes necessrias realizao de competies esportivas "staduais, nacionais ou internacionais, bem como minerao, excelo, neste ltimo caso, a extrao de areia, argila,

    ,-"libro e cascalho;

    c) atividades e obras de defesa civil;

    d) atividades que comprovadamente proporcionem melhorias na proteo das funes ambientais referidas no iociso 11 deste artigo;

    e) outras atividedes similares devidamente caracterizadas e molivadas em procedimento administralivo prprio, quando inexistir alternativa tcnica e IocacJonal ao empreendimento proposto, definidas em ato do Chefe do Poder Executivo federal;

    2 de 33 t8/0112013 14:59

    http:art.i~.nohttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03LAto201
  • 36

    L126S Icompilado http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_AI02011-20 14/20 I 2!Lei/L1 265 I ...

    IX - interesse social:

    a) as atividades impreSCindveis proteo da integridade da vegetao nativa, tais como preveno, combate e controle do fogo, controle da eroso, erradicao de invasoras e proteo de plantios com espcies nativas;

    bl a explorao agroflorestal sustentvel praticada na pequena propriedade ou posse rural familiar ou por povos e comunidades tradicionais, desde que no descaracterize a cobertura vegetal existente e no prejudique a funo ambiental da rea;

    cl a implantao de infraestrutura pblica destinada a esportes, lazer e atividades educacionais e culturais ao ar livre em reas urbanas e rurais consolidadas, observadas as condies estabelecidas nesta Lei;

    d) a regularizao fundiria da assentamentos humancs ocupados predominantemente por populao de baixa

    renda em reas urbanas consolidadas, observadas as condies estabelecidas na bei n.iL977, !1ll.Ldtit;lho.ctL2009:

    e) implantao de instalaes necessrias captao e conduo de gua e de efluentes tratados para projetos cujos recursos hdricos so partes integrantes e essenciais da atividade;

    f) as atividades de pesquisa e extrao de areia, argila, saibro e cascalho, outorgadas pela auloridade competente;

    g) outras at"idades similares devidamente caracterizadas e motivadas em procedimento administrativo prprio, quando inexistir alternativa tcnica e Iocacional atividade proposta, definidas em ato do Chefe do POder Executivo federal:

    X atividades eventuais ou de baixo impacto ambiental;

    a) abertura de pequenas vias de acesso interno e suas pontes e pontilhes, quando necessrias travessia de um curso d'gua, ao acesso de pessoas e animais para a obteno de gua ou retirada de produtos oriundos das tividades de manejo agroflorestal sustentvel; .......

    b) implantao de instalaes necessrias captao e conduo de gua e efluentes tratados, desde que comprovada a outorga do direito de uso da gua, quando couber;

    c) implantao de trilhas para o desenvolvimento do ecoturismo;

    d) construo de rampa de lanamento de barcos e pequeno ancoradouro:

    e) construo de moradia de agricultores familiares, remanescentes de comunidades quilombolas e outras populaes extrativistas e tradicionais em reas rurais, onde o abastecimento de gua se d pelo esforo prprio dos moradores;

    f) construo e manuteno de cercas na propriedade;

    g) pesquisa cientfica relativa a recursos ambientais, respeftados outros requisitos previstos na legislao apticvel;

    h) coleta de produtos no madeireiros para fins de subsistncia e produo de mudas, como sementes, castanhas e frutos, respeitada a legislao especfica de acesso a recursos genticos;

    i) plantio de espcies nativas produtoras de frutos, sementes, castanhas e outros produtos vegetais, desde que no implique supresso da vegetao existente nem prejudique a funo ambiental da rea;

    "'- j) e>:plorao agroflorestal e manejo florestal sustentvel, comunftrio e famliar, incluindo a extrao de produtos "'"TTorestais no madeireiros, desde que no descaracterizem a cobertura vegetat nativa existente nem prejudiquem a

    funo ambientat da rea;

    k) outras aes ou atividades similares, reconhecidas como eventuais e de baixo impacto ambiental em ato do Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA ou dos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente;

    XI - (VETADO);

    XII vereda: titofisonomia de savana, encontrada em solos hidrom6rficos, usualmente com a palmeira arbrea

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    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_AI02011-20
  • Ll 265 Icompilado httl'://www.planallD.govbr/civiUl3/_Ato2011-20 14/20 I2/Lei/L12651 ...

    MaLR"nia f1exuosa buriti emergente, sem formar dossel, em meio a agrupamentos de espcies arbustivo-herbceas; (Redaco pela Lei n' 12.727. de 2012).

    XIII - manguezal: ecossistema litorneo que ocorre em terrenos baixos, sujeitos ao das mars, formado por 37 vasas lodosas recentes ou arenosas, s quais se associa, predominantemente, a vegetao natural conhecida como mangue, com influncia fluvomarinha, tpica de solos limosos de regies estuarinas e com disperso descontnua ao longo da costa brasileira, entre os Estados do Amap e de Santa Catarina;

    XIV - salgado ou marismas tropicais hipersalnos: reas s~uadas em regies com frequncias de inundaes intermedirias entre mars de sizlgias e de quadratura, com solos cuja salinidade varia entre 100 (cem) e 150 (cento e cinquenta) partes por 1.000 (mil), ame pode ocorrer a presena de vegetao herbcea especifica;

    XV apicum: reas de solos hipersalinos situadas nas regies entremars superiores, inumadas apenas pelas mars de sizgias, que apresentam salinidade superior a 150 (cento e cirquenta) partes por 1.000 (mil), desprovidas de vegetao vascular;

    XVI - restinga: depsito arenoso paralelo linha da costa, de forma geralmente alongada, produZido por processos de sedimentao, ame se encontram diferentes comunidades que recebem influncia marinha, com cobertura vegetal em mosaico, encontrada em praias, cordes arenosos, dunas e depresses, apresentando, de acordo com O estgio sucessional, estrato herbceo, arbustivo e arbreo, este ltimo mais interiorizado;

    XVII - nascente: afloramento natural do lenol fretico que apresenta perenidade e d inicio a um curso d'gua;

    XVIII - olho d'gua. afloramento natural do lenol fretico, mesmo que intermitente;

    XIX - leito regular: a calha por onde correm regularmente as guas do curso d'gua durante o ano;

    XX - rea verde urbana: espaos, pblicos ou privados, com predomnio de vegetao, preferencialmente nativa, natural ou recuperada, previstos no Plano Diretor, nas Leis de Zoneamento Urbano e Uso do Solo do Municlpio, ldisponveis para construo de moradias, destinados aos propsitos de recreao, lazer, melhoria da qualidade

    ~mbiental urbana, proteo dos racLR"SOS hdricos, manuteno ou melhoria paisagstica, proteo de bens e manifestaes CUlturais;

    XXI - vrzea de inundao ou plancie de inUndao: reas marginais a cursos d'gua sujeitas a enchentes e inumaes peridicas;

    XXII - faixa de passagem de inundao: rea de vrzea ou plancie de inundao adjacente a cursos d'gua que permite o escoamento da enchente:

    XXIII - relevo ondulado: expresso geomorfolgica usada para designar rea caracterizada por movimentaes do terreno que geram depresses, cuja intensidade permite sua classificao como relevo suave ondulado, omulado, fortemente omulado e montanhoso.

    XXIV - pousio: prtica de interrupo temporria de atividades ou usos agrcolas, pecurios ou silviculturais, por no mximo 5 (cinco) anos, para possibilitar a recuperao da capacidade de uso ou da estrutura fsica do solo; (lncluido Dela Lei n' 12.727, de 2012).

    XXV - reas midas: pantanais e superflcies terrestres caberias de larma peridica por guas, cobertas originalmente por tlorestas Ou outras formas de vegetao adaptadas inundao; (IncluldQ [l!1la Lei n' 12.7~ 2lllil

    XXVI - rea urbana consolidada: aquela de que trata o ineis" 11 do caput do ar!. 47 d.!l...lei nO 11.977. de~ ~hO de2l1~; e lJn;!!,J~a.1.ei nO 12.727, de 211121

    XXVII - crdito de carbono: titulo de direito sobre bem intangvel e incorpreo IransacionveL Lei n' 12.727, de 201.4

    Pargrafo nico. Para os fins desta Lei, estende-se o Iratamento dispensado aos imveis a que se refere o inciso V deste artigo s propriedades e posses rurais com at 4 (quatro) mdulos fiscais que desenvolvam atividades agrossilvipastorls, bem como s terras indigenas demarcadas e s demais reas tituladas de povos e comunidades tradicionais que faam uso coletivo do seu territrio.

    4 de 33 1810112013 14:59

    http:lJn;!!,J~a.1.ei
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    http://www.planallo.gov.brlcciviC031_Ato2011-20 14120 12/LeiILl2651 ... LI 265 IcompilMO

    CAPTULO 11

    DAS REAS DE PRESERVAO PERMANENTE

    Seo I

    Da Delimitao das reas de Preservao Permanente

    Ar!. 4~ Considera-se rea de Preservao Permanente, em zonas rurais ou urbanas, para os efeitos desta lei:

    I - as faixas marginais de qualquer curso d'gua natural perene e intermitente, excludos os efmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura minima de: {Includo pela lei n' 12.,727, de 2012.

    a) 30 (trinta) metros, para os cursos d'gua de menos de 10 (dez) metros de largura;

    b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d'gua que tenham de la (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura;

    c) 100 (cem) metros, para os cursos d'gua que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura;

    d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d'gua que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;

    e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d'gua que lenham largura superior a 600 (seiscentos) metros;

    11 - as reas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com targura mnima de:

    a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d'gua com at 20 (vinte) hectares de superfcie, cuja faixa marginal ser de 50 (cinquenta) metros;

    b) 30 (Irinta) metros, em zonas urbanas;

    III - as reas no entorno dos reservatrios d'gua artificiais, decorrentes de barramento ou represamento de cursos d'gua naturais, na faixa definida na licena ambiental do empreendimento; (Incl"do pela lei n' 12.727. de 20121.

    IV - as reas no entorno das nascentes e dos olhos d'gua perenes, qualquer que seja sua situao topogrfica, no raio mnimo de 50 (cinquenta) metros; [Redao dada pela lei n' 12.727, de 2012',.

    V - as encostas ou partes destas com declividade superior a 45, equivalente a 100% (cem por cento) na linha de maior declive;

    VI - as restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;

    VII - os manguezais, em loda a sua extenso;

    VIII - as bordas dos tabuleiros ou chapadas, at a linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projees horizontais;

    IX - no topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mnima de IDO (cem) metros e inclinao mdia maior que 25', as reas delimitadas a partir da curva de nvel correspondente a 213 (dois teros) da altura mnima da elevao sempre em relao base, sendo esta definida pelo plano horizontal determinado por plancie ou espelho d'gua adjacente ou, nos releves ondulados, pela cota do ponto de sela mais prximo da elevao;

    X - as reas em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a vegetao;

    XI - em veredas, a faixa marginal, em projeo horizontal, com largura mnima de 50 (cinquenta) metros, a partir do espao permanentemente brejoso e encharcado. IRedacQ dada pela lei n' 12.727 de.2012l.

    1~ No ser exigida rea de Preservao Permanente no entorno de reservatrios artificiais de gua que no decorram de barramento ou represamento de cursos d'gua naturais. (RedaQ..9i1Q-il!lla Lei n' .12.727, de 20l.?.1

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    http://www.planallo.gov.brlcciviC031_Ato2011-20
  • LI 265 tcompilado htlp:llwww.ptana)(D.gov.br/ccivit.03/~to20 112014120 12/LelL 12651 ...

    3~ (VETADO).

    4~ Nas acumulaes naturais ou artificiais de gua com superfcie inferior a 1 (um) hectare, fica dispensada a reserva da faixa de proteo prevista nos incisos 11 e III do capul. vedada nova supresso de reas de vegetao 39 naliva, salvo autorizao do rgo ambiental competente do Sistema Nacionat do Meio Ambiente Sisnama. (Redacp dada pela Lei n' 12.727, de 2012).

    5~ admitido, para a pequena propriedade ou posse rural familiar, de que trata o inciso V do art. 3~ desta Lei, o plantio de culturas temporrias e sazonais de vazante de ciclo curto na faixa de terra que fica exposla no perodo de vazante dos rios ou lagos, desde que no implique supresso de novas reas de vegetao nativa, seja conservada a qualidade da gua e do solo e seja protegida a fauna silvestre.

    6~ Nos imveis rurais com at 15 (quinze) mdulos fiscais, admitida, nas reas de que tratam os incisos I e " do caput deste artigo, a prtica da aquicultura e a infraestrutura fsica diretamente a ela associada, desde que:

    I - sejam adotadas prticas suslentveis de manejo de solo e gua e de reCursoS hdricos, garantindo sua quatidade e quantidade, de acordo com norma dos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente;

    11 esteja de acordo com os respectivos planos de bacia ou planos de gesto de recursos hdricos;

    111 - seja realizado o licenciamento pelo rgo ambiental competente;

    IV - o imvel esteja inscrito no Cadastro Ambiental Rural CAR.

    'L::. no implique novas supresses de vegetao nativa. !lnctudo pela Lei n' 12.727, de 2012).

    7~ (VETADO).

    8~ (VETADO).

    9~ (VETADO). (lQcludo pela Lei n' 12.727. de 2012\.

    Art,. 5 Na implantao de reservatrio d'gua art~icial destinado a gerao de energia ou abastecimento pblico, obrigatria a aquisio, desapropriao ou instituio de servido administrativa pelo empreendedor das reas de Preservao Permanente criadas em seu entorno, cen!orme estabelecido no licenciamento ambiental, observando-se a faixa minima de 30 (trinta) metros e mxima de 100 (cem) metros em rea rural, e a faixa mnima de 15 (quinze) metros e mxima de 30 (trinta) metros em rea urbana. (Redao dada pela L91-,\' 12.727, de 2012).

    1~ Na implantao de reservatrios d'gua artificiais de que trata o caput, o empreendedor, no mbito do licenciamento ambiental, elaborar Plano Ambiental de Conservao e Uso do Entorno do Reservatrio, em conformidade com termo de referncia expedido pelo rgo competente do Sistema Nacional do Meio Ambiente Sisnama, no pOdendO o uso exceder a 10% (dez por cento) do lotai da rea de Preservao Permanente. (BedacQ dada pela Lei n' 12.72Lde 20121.

    2~ O Plano Ambiental de Conservao e Uso do Entorno de Reservatrio Artificial, para os empreendimentos licitados a partir da vigncia desta Lei, dever ser apresentado ao rgo ambiental concomitantemente cem o Plano Bsico Ambiental e aprovado at o inicio da operao do empreendimento, no constituindo a sua ausncia impedimento para a expedio da tcena de instalao.

    3~ (VETADO).

    Art. 6~ Consideram-se, ainda, de preservao permanente, quando declaradas de interesse social por ato do Chefe do Poder Executivo, as reas cobertas com florestas ou outras lormas de vegetao destinadas a uma ou mais das seguintes finalidades:

    I - center a eroso do soto e mitigar riscos de enchentes e deslizamentos de terra e de rocha;

    1/ proteger as restingas ou veredas:

    111 proteger vrzeas;

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    IV - abrigar exemplares da fauna ou da flora ameaados de extino;

    V - proteger sitias de excepcional beleza ou de valor cientifico, cuhural Ou histrico;

    VI - formar faixas de proteo ao fongo de rodovias e ferrovias;

    VII - assegurar condies de bem-estar pblico;

    VIII - auxiliar a defesa do territrio nacional, a critrio das autoridades militares.

    !K..: proteger reas midas, especialmente as de importncia internacional. ilncluidQ..illtfa Lei n' 12.727. d,! 2012),

    Seo II

    Do Regime de Proteo das reas de Preservao Permanente

    Art 7~ A vegelao situada em rea de Preservao Permanenle dever ser mantida pelo proprietrio da rea, possudo r ou ocupante a qualquer ttulo, pessoa fsica ou jurldica, de direito pblico ou privado.

    1~ Tendo ocorrido supresso de vegetao situada em rea de Preservao Permanente, o proprietrio da rea, possuidor ou ocupante a qualquer titulo obrigado a promover a recomposio da vegetao, ressalvados os usos autorizados previstos nesta lei.

    2~ A obrigao prevista no 1~ tem natureza real e transmitida ao sucessor no caso de transferncia de domnio ou posse do imvel rural.

    3~ No caso de supresso no autorizada de vegetao realizada aps 22 de julho de 2008, vedada a concesso de novas autorizaes de supresso de vegetao enquanto no cumpridas as obrigaes previstas no 1~.

    Art, 8~ A interveno ou a supresso de vegetao nativa em rea de Preservao Permanente somente ocorrer nas hipteses de utilidade pblica, de interesse social ou de baixo impacto ambiental previstas nesta lei.

    1~ A supresso de vegetao nativa protetora de nascentes, dunas e restingas somente poder ser autorizada em caso de utilidade pblica.

    2~ A interveno ou a supresso de vegetao nativa em rea de Preservao Permanente de que tratam os incisos Vf e VII do capu! do art. 4~ poder ser autorizada, excepcionalmente, em locais onde a funo ecolgica do manguezal esteja comprometida. para execuo de obras habitacionais e de urbanizao, Inseridas em projetos de regutarizao fundiria de interesse social, em reas urbanas consolidadas ocupadas por populao de baixa renda.

    3~ dispensada a autorizao do rgo ambientai competente para a execuo, em carter de urgncia, de atividades de segurana nacional e obras de interesse da defesa civil destinadas preveno e mitlgao de acidentes em reas urbanas.

    4~ No haver. em qualquer hiptese, direito regularizao de futuras intervenes ou supresses de vegetao nativa, alm das previstas nesta Lei.

    Ar!. 9~ permitido o acesso de pessoas e animais s reas de Preservao Permanente para obteno de gua e para realizao de atiVidades de baixo Impacto ambienlal.

    CAPTULO 111

    DAS REAS DE USO RESTRITO

    Ar!. 10. Nos pantanais e plancies pantaneiras. permitida a explorao ecologicamente sustentvel, devendo-se considerar as recomendaes tcnicas dos rgos oficiais de pesquisa, ficando novas supresses de vegetao nativa para uso atternativo do solo condicionadas autorizao do rgo estadual do meio ambiente, com base nas recomendaes mencionadas neste artigo. LR.l!9ao dada Rala lei n' 12.727, de 2012).

    Art. 11. Em reas de inclinao entre 25 e 45. sero permitidos o manejo florestal sustentvel e o exerccio de

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    atividades agrossilvipastoris, bem como a manuteno da infraestrutura fi sica associada ao desenvolvimento das atividades, observadas boas prticas agronmicas, sendo vedada a converso de novas reas, excetuadas as hipteses de utilidade pblica e interesse social.

    CAPTULO IIIA Ilncl~ido pela Lei n' 12.727, de 2012) ..

    DO USO ECOLOGICAMENTE SUSTENTVEL

    DOS APICUNS E SALGADOS

    Ar!. 11-A. A Zona Costeira patrimnio nacional, nos termos do 4 do art. 225. da Constituio. Federal, devendo sua ocupao e explorao dar-se de modo ecologicamente sustentvel. Ilncluido pela lei n' 12.727. de 2012).

    1~ Os apieuns e salgados podem ser utilizados em atividades de carcinicuHura e salinas, desde que observados os seguintes requisitos: (Includo pgla lei n' 12,727. de 20121.

    I - rea total ocupada em cada Estado no superior a 10% (dez por cento) dessa modalidade de fitofisionomia no bioma amaznico e a 35% (Irinta e cinco por cento) no restante do Pais, excludas as ocupaes consolidadas que

    atendam ao disposto no 6~ deste artigo; (lncluldo pela Lei n' 12.727, de 2012\.

    1\ . salvaguarda da absoluta integridade dos manguezais arbustivos e dos processos ecolgicos essenciais a eles associados, bem como da sua produtividade biolgica e condio de berrio de recursos pesqueiros; !nluidQ p,~la Lei n' 12 727 de 2012),

    111 - licenciamento da atilAdade e das instalaes pejo rgo ambiental estadual, cientificado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis IBAMA e, no caso de uso de terrenos de marinha ou outros bens da Unio, realizada regularizao prvia da titulao perante a Unio; i,Lni!lidQ-la lei n' 12.727, de 2012).

    IV - recolhimento, tratamento e disposio adequados dos elluentes e residuos: (Includo Rela Lei n' 12,7.ll. de 2012)

    V - garantia da manuteno da qualidade da gua e do solo, respeitadas as reas de Preservao Permanente; e (lncluldo pela Lei nO 12.727 de 2012),

    VI - respeito s atividades tradicionais de sobrevivncia das comunidades locais. ~20la

    2~ A licena ambiental, na hiptese deste artigo, ser de 5 (cinco) anos, renovvel apenas se o empreendedor cumprir as exigncias da legiSlao ambiental e do prprio licenciamento. mediante comprovao anual. inclusive por mdia fotogrfica, i!nl!,lido P.llta lei n.'.12.72.7....9.e 201;11

    3~ So sujeitos apresentao de Estudo Prvio de Impacto Ambiental - EPIA e Relatrio de Impacto Ambiental - RIMA os novos empreendimentos: (Includo pela lei n' 12.727, de 20jgL

    I . com rea superior a 50 (cinquenta) heclares. vedada a fragmentao do projeto para ocuRar ou camuflar seu porte; (lncluido 1l&.rn..LeLrl'J!LZ27, d-.20121,

    II - com rea de at 50 (cinquenta) hectares, se potencialmente causadores de significativa degradao do meio ambiente; ou (lncludQ pela lei nO 12,727. de 2012),

    111 ' localizados em regio com adensamento de empreendimentos de carcinicullura ou salinas cujo impacto afete reas comuns, (lncluido pela Lei n' 1.';'727, Qj'!..20la

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    Ll2651compilado http://www.plan.ho.gov.brlcci vil~03/",Ato201 j -20 I 4/201 21Lei1L12651 , ..

    4~ O rgo licenciador competente, mediante deciso motivada, poder, sem pre)ulzo das sanes administrativas, civeis e penais cabveis, bem como do dever de recuperar os danos ambientais causados, aHerar as condicionantes e as medidas de controle e adequao, quando ocorrer: (Includo pela Lei n' 12,727 de 2012),

    I ' descumprimento ou cumprimento inadequado das condicionantes ou medidas de controle previstas no Ik:enciamento, ou desobedincia s normas aplicveis: (Includo pela Lei n" 12,727, de 2QI2),

    1/ - fornecimento de informao falsa, dbia ou enganosa, inclusive por omisso, em qualquer fase do licenciamento ou perodo de validade da licena; ou (Includo pela Lei n 12,727, de 2012),

    1/1 ' supervenincia de informaes sobre riscos aO meio ambiente ou sade pblica, (Includo pela L!"i n' 12,727, ,de 20121.

    5~ A ampliao da ocupao de apicuns e salgados respeitar o Zoneamento Ecolgico-Econmico da Zona Costeira - ZEEZOC, com a individuatizao das reas ainda passlveis de uso, em escala mnima de 1:10,000, que dever ser concludo por cada Estado no praza mximo de 1 (um) ano a partir da data da publicao desta Lei. (Includo pela Lei n" 12,727, de 2012),

    6~ assegurada a regularizao das atividades e empreendimentos de carcinicuHura e salinas cuja ocupao e implantao tenham ocorrido antes de 22 de julho de 2008, desde que o empreendedor, pessoa fsica ou juridica, comprove sua localizao em apicum ou salgado e se obrigue, por termo de compromisso, a proteger a integridade dos manguezais arbustivos adjacentes, iln~e!lLLei nO 12,727, de 201111

    7~ vedada a manutero, licenciamento ou regulanzao, em qualquer hiptese ou forma, de ocupao ou explorao irregular em apicum ou salgado, ressalvadas as excees pre1Astas neste artigo, (IncludO pela Lei n' '.2J1L..de 2012l.

    ....... CAP