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A educação ambiental como instrumento de ação preventiva na

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A Educação Ambiental como o Instrumento deAção Preventiva na Proteção do

Meio Ambiente

Jack HolmerBatalhão da Polícia Florestal

1. Introdução

o grande número de atos lesivos ao meio ambiente, nos obriga arepensar uma nova abordagem e acrescentar, quem sabe, um novocomportamento na atividade preventiva. O que apresento para auxiliarnesse processo é "informar para dissuadir".

2. O infrator paranaense

No período compreendido entre fevereiro e abril de 1993, realizou-seuma busca de dados, no Estado do Paraná, sobre o lesionador do meioambiente.

Idealizou-se um formulário com alguns quesitos a serem respondidos,de forma voluntária, pelos indivíduos flagrados em infrações ambientais,por policiais florestais do Batalhão Florestal da Polícia Militar do Estadodo Paraná. Procurou-se saber da profissão, escolaridade, situaçãosócio-econômica, causa da infração e a percepção da consciência dodano ambiental cometido pelo infrator.

Por se tratar de uma atividade voluntária do infrator responder aosquestionamentos, num momento onde ele se encontra como alvo deuma ação repressiva por força do ato lesivo praticado por ele, dificultoua obtenção das respostas. Neste curto período de três meses obtiveram-se sessenta entrevistas. Número esse considerado insuficiente paraajuizar, pois não se trata de uma amostragem segura da realidade.Mesmo assim, tiveram-se alguns indícios sobre as características desseinfrator ou desse lesionador do meio ambiente, que, na seqüência,descrevemos: nas entrevistas, encontraram-se as mais variadas "profis-sões": agricultor, escriturário, mestre-de-obras, comerciante, bóia-fria,pedreiro, trabalhador braçal, madeireiro, eletricitário, bancário, carteiro,mecãnico, autônomo, pescador profissional, funcionário público, estu-dante, industrial, aposentado, pecuarista, motorista, trabalhador rural e,até mesmo desempregado.

A "escolaridade" é apresentada na Figura 1. Observa-se que o nívelmaior de escolaridade atingido pela amostragem, encontra-se no 111

Grau, num total de 63,3 %.

A "classe sócio-econômica" é apresentada na Figura 2. A classe médiaapresenta-se com 31 ,7 %, e a classe menos favorecida com 68,3 %.

A "causa da infração" é apresentada na Figura 3 e distribui-se entre odesconhecimento da lei, causa cultural, econômica e esportiva. O altoíndice do ''fator desconhecimento da lei", possivelmente, tem como fatorgerador o próprio nível de escolaridade, o qual se apresentou com 5 %de não escolarizados e 68,3 % com nível de 111 Grau completo eincompleto.

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Já o fator de causa "esportivo" remete às classes sócio-econômicas quepara lazer se utilizam da pesca. As classes menos favorecidas nãodispõem de recursos para a atividade de recreação e se utilizam dos rios,lagos e reservatórios próximos para tal. A própria pesquisa talvez possadar esse indicativo quando observamos que, dos 60 entrevistados,68,3 % fazem parte da classe baixa, 31 ,7% fazem parte da classe médiae da alta não amostrou.

Figura 1Grau de instrução

45

40

35

3" GRAU

Figura 2Classe sócio-econômica

Baixa68'1.

M6dla32'''

Figura 3Causa da infração

Esportivo(35-J.)

Desc. da lei(38%)

Econômico(18%)

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A "consciência do dano ambiental" é apresentada na Figura 4. Verifica-se que 35,0 % não têm consciência do dano ambiental, 11,7 % sãoindiferentes e 53,3 % afirmam que têm consciência. A rigor, observa-sena entrevista que mesmo os que declararam ter mensuração do dano,não o têm. Enxergam apenas o evidente, como: o peixe vai acabar nesserio. Não têm consciência do que representa a extinção total da espéciee suas conseqüências para o próprio rio e muito menos a interdependênciada flora e da fauna aquática.

A "relação entre ocorrências atendidas / infratores voluntários" é apre-sentada na Figura 5. Dessas 60 ocorrências, onde o infrator se voluntarioua responder a pesquisa, observamos que 71,7 % foram referentes àpesca; 21,7 % referentes à fauna e 6,7 % referentes à flora.

Figura 4Consciência do dano ambiental

Tem Indiferente Não tem

Figura 5Relação entre ocorrências atendidas einfratores voluntários

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Para que se tenha uma idéia, o Batalhão da Polícia Florestal registrou noperíodo de fevereiro a abril, um total de 1.198 ocorrências de infraçõesambientais, entre contravenções e crimes. Destas, 299 referentes àflora, 293 referentes à fauna e 606 referentes à pesca.

o item fauna quase inexiste, possivelmente, por se tratar de crimeinafiançável apurado em processo sumário, aplicando-se, no que cou-ber, as normas do Código de Processo Penal.

Na infração ambiental cabe: a "ação administrativa", ou seja, decorre dasrelações administrativas públicas com os particulares, regula a organi-zação dos serviços públicos e manifesta-se através das autorizações,licenças, permissões e concessões; e "ação penal" que enquadra o danoambiental como infração penal (crime ou contravenção penal), aplicandopenas e medidas de segurança aos seus autores.

Em se tratando de "ação administrativa" ela sujeitará o transgressor auma sanção administrativa que poderá ser multa, caducidade de auto-rização, apreensão, interdição, retenção, embargo, demolição, cassa-ção de matrícula, suspensão de atividade, entre outras. A "ação penal",poderá levar ao infrator a penas restritivas da liberdade e multa.

Independente da sanção administrativa e penal, o lesionador estaráobrigado de recuperar e/ou indenizar os danos causados ao meioambiente, conforme citação abaixo. Historicamente, a preocupação coma vítima lesada determinava a obrigação de restituição e de reparaçãodo dano causado pelo o que hoje ainda permanece, a dita restituição nãodispensa "o pecador" ou transgressor, da pena que positivamentedissuadiria não reincidir e a se emendar.

3. Reparação dos danos ambientais

Verifica-se na Constituição Federal, no capítulo IV, Do Meio Ambiente,artigo 225:

Parágrafo 32• As condutas consideradas lesivas ao meio ambientesujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, às sanções penaise administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danoscausados.

Também, a Constituição do Estado do Paraná, enfoca a obrigação dareparação dos danos ambientais, como pode se observar no artigo 207da Carta Estadual:

Parágrafo 22. As condutas e atividades poluidoras ou consideradaslesivas ao meio ambiente, na forma da lei, sujeitarão os infratores,pessoas físicas ou jurídicas:

1- à obrigação de, além de sanções cabíveis, reparar os danos causados.

Além das Constituições Federal e Estadual, tem-se na Lei nll 6.938 deagosto de 1981, que dispõe sobre a Política nacional do Meio Ambiente,seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, a previsão derecuperação dos danos aos recursos ambientais, conforme estipula oseu artigo 4:

VII - A imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recupera-ção e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pelautilização de recursos ambientais com fins econômicos.

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Como se vê, a legislação é pródiga quanto a obrigação de reparação dedano ambiental causado por atividades lesivas ao meio ambiente.

Não obstante a obrigação de reparação do dano causado, no campoadministrativo, o Decreto n2 99.274, de 06 de junho de 1990, que regulaa Lei n2 6.938 de agosto de 1981, vista acima, dita:

Artigo 42 - As multas poderão ter sua exigibilidade suspensa quando oinfrator, por termo de compromisso aprovado pela autoridade ambientalque aplicou a penalidade, se obrigar à adoção de medidas específicaspara cessar ou corrigir a degradação ambiental.

Parágrafo Único - Cumpridas as obrigações assumidas pelo infrator, amulta será reduzida em até noventa por cento.

A ação administrativa e penal independe da obrigação em reparar osdanos ambientais causados pelo infrator.

4. Análise e proposta

4.1. Análise

A pesquisa, embora não conclusiva, nos permitiu observar as tendênciasgerais em relação a que o infrator não tem consciência plena do danoambiental causado por ele, apesar de que ele imagina ter. O infrator nascondições observadas visualiza apenas a conseqüência direta de seuato lesivo.

Se exemplificarmos, com a morte e extinção da gralha azul, ave símbolodo Paraná, os infratores que imaginam ter consciência visualizarão nomáximo que a ave não plantará mais as araucárias, sem irem além destepensamento. Não compreendem os problemas derivados do ciclo com-pleto de extinção da ave, também o modo como isso Ihes afeta, pelaprópria extinção da árvore, se exagerarmos, e esta com as conseqüên-cias sobre o homem através, por exemplo: a escassez da madeira paramoradias, móveis e como fator econômico; fora as conseqüências sobreo ecossistema como um todo, do qual a gralha azul faz parte. Portanto,o infrator não tem consciência da abrangência do dano ambiental;quando muito, sabe que está fazendo algo ilegal, pelo qual pode-seconcluir que carece de informação suficiente.

Ao nosso ver, essa necessidade de informação é objeto da EducaçãoAmbiental quando tentamos remover o infrator de reincidir, ou seja,dissuadí-Io de cometer novamente o ato lesivo.

Essa atitude de informar o infrator afim de instrumentalizá-Io, passa pelaação preventiva, na proteção do meio ambiente e se for exercida pelosórgãos que detêm o Poder de Polícia Administrativa da União ou dosEstados, será instrumento de ação de policiamento/fiscalização preven-tiva na proteção do meio ambiente.

O decreto n2 99.274, de 06 de junho de 1990, no seu artigo 42 e noparágrafo único do mesmo artigo, permitem que as multas sejamreduzidas em até noventa por cento, desde que o infrator adote medidasespecíficas para cessar e corrigir a degradação ambiental, como jávimos anteriormente. Essas medidas são obrigações do infrator, porforça de preceito constitucional.

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4.2. Proposta

Do que se pode perceber, os mecanismos já existentes estão sendoinsuficientes para defender, em sua plenitude, o meio ambiente. Face aessa visão, ousamos propor o acréscimo de mais uma condição para aobtenção do benefício do desconto, ou seja, utilizar o benefício dodesconto para que o infrator se apresente, voluntariamente, parareceber informações em módulos de Educação Ambiental , variáveis deacordo com o seu nível de escolaridade e a infração ambiental cometida.

À título de ilustração, suponhamos a seguinte situação: um determinadocidadão cortou árvores, em mata ciliar, sem autorização. De acordo coma legislação vigente, a multa corresponderá a uma UFIR, por árvorecortada.

Também será oferecido ao lesionador o benefício do desconto de até90% do valor da multa, desde que ele se proponha a recuperar o danoambiental causado. Na nossa proposta acrescenta-se a possibilidade daparticipação do infrator em módulo de Educação Ambiental como maisuma condição para que se efetive o desconto. Esse acordo será firmadomediante Termo de Compromisso, ou seja, o pagamento da multa estarásuspenso por determinado período, tempo que o infrator terá paracumprir as condições que o habilitem a receber o benefício; caso não secumpra, cobrar-se-à a multa integralmente.

Esse módulo de Educação Ambiental será correspondente ao tipo delesão praticada contra o meio ambiente, ou seja, de nada adianta falarsobre mineração se o dano cometido foi contra a flora.

Na ilustração citada anteriormente, até por exercício, podemos imaginaro conteúdo do módulo de Educação Ambiental.

Com o objetivo de mostrar ao homem o quanto é importante e quala relação de uma árvore na sua vida deverão ser abordados assuntosque relacionem a árvore com a qualidade de vida do homem, ou seja, asua função como: fixadora de carbono e o efeito estufa; aevapotranspiração e a chuva; na manutenção da umidade dos solos; nocontrole da erosão; na diminuição da velocidade dos ventos; comohospedeira de espécies da flora, microflora, fauna e microfauna; na suaimportância para a ictiofauna e flora aquática do curso de água quepassa próximo a ela e que serve de manancial ao homem. Enfim, todoo envolvimento da árvore com o entorno próximo e distante, o homemencontra e será afetado pelo seu próprio habitat contra o meio ambiente.

A proposta se ampara em "informar para dissuadir", ou seja, umaatividade preventiva de proteção ao meio ambiente.

o seu mecanismo é simples: para que o sujeito da infração tenha obenefício do desconto de até noventa por cento, terá que apresentarcertificado de participação em módulo de Educação Ambiental especí-fico, de acordo com o tipo de infração que tenha cometido e de acordocom a escolaridade do infrator.

o programa de instrução deverá ser estruturado pelos órgãos ambien-tais da União e dos Estados, com a participação imprescindível daUniversidade Brasileira, de acordo com as características regionais.

o órgão ambiental de policiamento I fiscalização, no momento daatuação, informará ao infrator a possibilidade do desconto, e ainda oprazo, local e módulo a participar.

É evidente que haverá necessidade da previsão legal para que essacondicionante do desconto se efetive.

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