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1 A ESCOLA COMO ESPAÇO DE CIDADANIA: ENTRE O DISCURSO E A PRÁTICA 1 SCHOOL AS A SPACE FOR CITIZENSHIP: BETWEEN DISCOURSE AND PRAXIS Mariana Aparecida Domingues de Macedo 2 Resumo: Este artigo tem como objetivo, a explicitação do projeto de implementação escolar, elaborado para conclusão do PDE- Plano de Desenvolvimento Educacional, de 2007/2008, promovido pelo Governo do Estado do Paraná. Faz-se uma reflexão sobre o sentido de uma educação cidadã, tão apregoada nos discursos e discussões sobre educação. Problematizando o senso comum da palavra cidadania. Enfatiza a necessidade do exercício da cidadania em todos os espaços da vida social para que se torne um hábito. Ressalta que o exercício da cidadania deve começar na sala de aula, até ocupar todos os espaços da escola e da sociedade, para que o educando tenha um comprometimento com o coletivo. Mostra a importância das concepções de alteridade e cidadania que devem estar associadas. Nesse contexto a educação cidadã, se torna possível aceitando as diferenças e respeitando o outro. Palavras-chave: Cidadania - Escola - Educação Cidadã - Alteridade Abstract: This article aims at expliciting the school implementation project, elaborated for the conclusion of “PDE – Plano de Desenvolvimento Educacional”, 2007/ 2008, promoted by the government of the State of Paraná. It also reflects on the meaning of education for citizenship, constantly emphasized on speeches and discussions about education. Problematizing the common sense of the word citizenship, it emphasizes the necessity of the exercise of citizenship in all the spaces of social life so that it becomes a habit. It highlights that the exercise of citizenship should start in the classroom, until it occupies all the spaces of school and society, and as a result the student becomes committed to the collective. It shows the importance of the conceptions of alterity and citizenship, and the fact that they must be associated. In this context, education for citizenship is made possible, as we accept differences and respect the other. Keywords: Citizenship – School – Education for Citizenship – Alterity 1-Artigo produzido a partir da PRODUÇÃO DIDÁTICO-PDE-2007/2008, sob orientação da Professora Ms. Regina Aparecida Messias Guilherme do Departamento da Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa. 2 - Graduada em Sociologia pela PUC-Pr. Especialização em História antiga e Medieval pela UEPG e em Metodologia de Ensino de 1º e 2º grau pela UNIBEM. Professora de Sociologia do Colégio Estadual Antonio e Marcos Cavanis do Município de Castro.

A ESCOLA COMO ESPAÇO DE CIDADANIA: ENTRE O … · transformação e não de alienação. Levar à discussão, a escola como um ... de ética, e de relações queremos desenvolver

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A ESCOLA COMO ESPAÇO DE CIDADANIA: ENTRE O DISCURSO E A PRÁTICA1

SCHOOL AS A SPACE FOR CITIZENSHIP: BETWEEN DISCOURSE AND PRAXIS

Mariana Aparecida Domingues de Macedo2

Resumo: Este artigo tem como objetivo, a explicitação do projeto de implementação escolar, elaborado para conclusão do PDE- Plano de Desenvolvimento Educacional, de 2007/2008, promovido pelo Governo do Estado do Paraná. Faz-se uma reflexão sobre o sentido de uma educação cidadã, tão apregoada nos discursos e discussões sobre educação. Problematizando o senso comum da palavra cidadania. Enfatiza a necessidade do exercício da cidadania em todos os espaços da vida social para que se torne um hábito. Ressalta que o exercício da cidadania deve começar na sala de aula, até ocupar todos os espaços da escola e da sociedade, para que o educando tenha um comprometimento com o coletivo. Mostra a importância das concepções de alteridade e cidadania que devem estar associadas. Nesse contexto a educação cidadã, se torna possível aceitando as diferenças e respeitando o outro.

Palavras-chave: Cidadania - Escola - Educação Cidadã - Alteridade

Abstract: This article aims at expliciting the school implementation project, elaborated for the conclusion of “PDE – Plano de Desenvolvimento Educacional”, 2007/ 2008, promoted by the government of the State of Paraná. It also reflects on the meaning of education for citizenship, constantly emphasized on speeches and discussions about education. Problematizing the common sense of the word citizenship, it emphasizes the necessity of the exercise of citizenship in all the spaces of social life so that it becomes a habit. It highlights that the exercise of citizenship should start in the classroom, until it occupies all the spaces of school and society, and as a result the student becomes committed to the collective. It shows the importance of the conceptions of alterity and citizenship, and the fact that they must be associated. In this context, education for citizenship is made possible, as we accept differences and respect the other.

Keywords: Citizenship – School – Education for Citizenship – Alterity

1-Artigo produzido a partir da PRODUÇÃO DIDÁTICO-PDE-2007/2008, sob orientação da Professora Ms. Regina Aparecida Messias Guilherme do Departamento da Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa.2 - Graduada em Sociologia pela PUC-Pr. Especialização em História antiga e Medieval pela UEPG e em Metodologia de Ensino de 1º e 2º grau pela UNIBEM. Professora de Sociologia do Colégio Estadual Antonio e Marcos Cavanis do Município de Castro.

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Introdução

Nos últimos anos ouvimos muito que uma das funções da escola é

contribuir para a formação de cidadãos críticos e atuantes, que vivam

coletivamente com ética. A Escola tornou-se a “salvadora da

humanidade”, como se pudesse sozinha resolver todos os problemas da

sociedade e não fosse ela fruto dessa sociedade. Trata-se de uma tarefa

difícil, onde é preciso repensar a prática escolar e envolver os jovens não

apenas em discussões, mas também em ações concretas.

Para PERRENOUD (2004), "a reflexão sobre cidadania e sua

aprendizagem não pode ser fruto do pensamento mágico, mas é preciso

admitir as contradições de nossas sociedades e não esperar que a escola

as assuma sozinha".

Cada escola está inserida em um contexto social, político e

econômico. Por isso é preciso que ao planejar suas atividades de

aprendizagem, os professores dêem importância a formação ética e

política no processo de conscientização das novas gerações com relação

aos problemas a serem enfrentados.

Muitas das dificuldades que surgem em sala de aula e na escola

como: desinteresse dos alunos, indisciplina, falta de estudos, estão muitas

vezes ligados a própria idéia de que temos sobre a escola pública. Mas, a

partir do momento em que o educando tem a oportunidade de opinar,

debater, construir sua autonomia e seu comprometimento com o social,

surge a possibilidade de uma escola pública de qualidade, onde a

cidadania deixa de ser apenas um discurso.

Para Bourdieu (1998, p.53)

Se considerarmos seriamente as desigualdades socialmente condicionadas diante da escola e da cultura, somos obrigados a concluir que a eqüidade formal à qual obedece todo o sistema escolar é injusta de fato, e que, em toda sociedade onde se proclamam ideais democráticos, ela protege melhor os privilégios do que a transmissão aberta dos privilégios.

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A escola é o local próprio para a sociedade se interrogar, refletir a

respeito de si mesma, onde deve haver debate e também uma constante

busca. Pela educação deve-se ter coragem de arriscar na busca do novo,

conhecer o passado para construir no presente e planejar para o futuro

sempre algo novo.

O processo educativo não se esgota na sala de aula, mas deve ser

vivido por todos, em todos os lugares e em todas as horas.

De acordo com Arroyo (1987, p.19)

"A escola acontece muito mais nos pátios, nas brigas, nas horas da entrada e da saída, na decisão de estudar ou gazetear a aula, na organização de tempo e espaços, na própria organização dos processos de transmissão, na lógica que passa pela ciência ensinada, enfim, nas relações sociais em que se dá o processo de trabalho escolar".

Portanto, é preciso pensar a escola como um espaço de

transformação e não de alienação. Levar à discussão, a escola como um

todo e suas relações com a sociedade. Perceber o que considera

fundamental e trabalhar para despertar em seus educandos, a curiosidade

e o prazer de aprender, exercendo a prática da discussão e da

participação, fazendo da escola um espaço de cidadania.

A escola pública ainda tem um papel fundamental na vida de nossos

educandos e descobrir o verdadeiro papel da escola pública é mudar o

conceito de que ela não tem qualidade, é coisa de pobre.

A escola como espaço de formação dos sujeitos que não apenas

serão inseridos na sociedade, mas precisa estar preparada para oferecer

aos alunos uma formação que lhes permita transitar nesse mundo de

forma crítica. Nesse sentido, é preciso definirmos que tipo de sociedade,

de ética, e de relações queremos desenvolver e construir com os sujeitos

do processo educativo.

A gestão democrática tem papel reflexivo quando reconstrói as

relações sociais de autonomia e pertencimento de alunos, professores,

pais, enfim, de toda a comunidade escolar.

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Quanto à participação efetiva dos pais na escola, é muito comum

reclamações sobre a falta de interesse dos responsáveis pelos educandos,

é pequeno o número de pais nas reuniões, e até, em atividades recreativas

promovida pela escola. O que vemos nas nossas escolas, são adultos mais

preocupados com a rotina do cotidiano, faltando tempo e disposição para

cuidar dos assuntos relacionados a seus filhos, principalmente quando

esses filhos, não conseguem ter bom aproveitamento na escola.

Muitas vezes se torna penosa a tarefa de ensinar, pois muitos

educadores esperam que as famílias tomem atitudes para ajudar o aluno e

isso não acontece. Por isso é importante que tenhamos claro, que o nosso

papel de professor é na transmissão de conhecimentos e na formação do

cidadão,

Em educação, nós trabalhamos com a possibilidade de um futuro. Devemos pensar o tempo todo no aluno, e lembrar que a escola é o lugar da diversidade. Sempre haverá pais que participam mais e outros, menos. A escola tem a obrigação de trabalhar o coletivo, sem ressaltar as diferenças ajudar os alunos a aprender que é preciso respeitar o grupo.(SAYÃO,2002)

Pensar na gestão escolar é pensar em conflitos, na superação das

diferenças, das desigualdades sociais e na construção de novos valores

que levem o homem para um mundo que pratique a tolerância e a

alteridade.

O Projeto Político Pedagógico da escola é um importante

instrumento para conhecer a realidade da comunidade e da escola, das

condições de aprendizagem dos alunos, e das opções metodológicas

adotadas, das finalidades da escola, dos recursos disponíveis e da

participação coletiva que deve acontecer desde a concepção até a

execução de todo o projeto. Neste sentido, a gestão democrática exerce

um papel fundamental no envolvendo de todos na busca da concretização

dos anseios coletivos.

Cidadania: entre o discurso e a prática

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A palavra cidadania tomou conta do nosso cotidiano. Está presente

nos discursos dos políticos, dos educadores, das ONGs, bem como dos

jornais, rádio e televisão. Em cada momento na história da humanidade, há

sempre um "modismo" na utilização de certas palavras.

Fala-se tanto em igualdade para todos, mas o que vemos é

privilégios para alguns, a corrupção e a exclusão dos mais pobres, negros,

homossexuais, etc. O que esgota o significado da palavra cidadania é a

contradição entre o discurso e a prática.

Cidadania não pode ser confundida com “assistencialismo”, pois

nesse caso não há vontade de superar as desigualdades sociais, mas

apenas remediá-las. Ela deve estar comprometida com a superação das

desigualdades sociais, com a prática dos deveres e a garantia dos direitos.

Como afirma Covre (2001,p.10)

As pessoas tendem a pensar a cidadania apenas em termos dos direitos a receber, negligenciando o fato de que elas próprias podem ser o agente da existência desses direitos. Acabam por relevar os deveres que lhes cabem, omitindo-se no sentido de serem também, de alguma forma, parte do governo, ou seja, é preciso trabalhar para conquistar esses direitos. Em vez de meros receptores, são acima de tudo sujeitos daquilo que podem conquistar.

Cidadania pressupõe comprometimento coletivo. Se existe um

problema, não se pode esperar a solução de braços cruzados, é preciso

reivindicarmos, buscarmos soluções, pressionarmos os órgãos

governamentais, e sermos responsáveis pelo rumo de nossa comunidade.

Indivíduos que conhecem seus direitos e deveres, não são

manipulados ou dominados, mas ajudam a definir as regras da sociedade,

lutam para que elas sejam cumpridas e aperfeiçoadas. Possuem "qualidade

política" que de acordo com Demo (2006, p.31)

O contrário de pobreza política é “qualidade política”, designando especialmente a dinâmica da cidadania individual e, sobretudo coletiva. Implica a capacidade de construir consciência crítica histórica, organizar-se

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politicamente para emergir sujeito capaz de história própria, e arquitetar e impor projeto alternativo de sociedade.

A construção de uma sociedade verdadeiramente democrática inclui

as dimensões política (que diz respeito à participação nas decisões) e a

sócio-econômica (que diz respeito à participação na riqueza gerada pelo

trabalho de todos).

Escola e Cidadania

Quando observamos os jovens em grupos, percebemos que eles

falam e

discutem intensamente os temas que lhes interessa. Por que isto não

acontece na maioria das nossas salas de aula?

Alguns professores ministram aulas para alunos imaginários que só

existem em suas cabeças. Nas reuniões da escola, a grande preocupação é

falar dos erros dos educandos.

Muitos professores concordam que a escola deva proporcionar aos

alunos uma educação democrática, desde que ela não tire um minuto

sequer de sua disciplina e não interrompa de modo algum o trabalho.

A Escola é um espaço de convivência onde devem construir uma

relação com a diversidade, por isso todos devem ter o direito de falar,

opinar e participar nos processos decisórios. Na medida em que os alunos

são despertados para uma participação com autonomia e respeito às

diferenças, então começa a existir a possibilidade de uma formação

cidadã. E não é só na sala de aula que deve acontecer o exercício da

cidadania, mas em todas as instâncias da escola e fora dela, no nosso dia-

a-dia, no trabalho, na nossa casa. Nesta direção afirma Libânio (2005.

p.95)

...é na família que se aprende as primeiras normas de comportamento que permitem a inserção da criança na sociedade. Se esta é desestruturada e não possibilita tal aprendizado, a criança se torna a-social e inepta

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para a vida de convívio humano na sociedade.

A educação para a cidadania só terá chance de produzir efeitos se

for um problema de todos e contemplar todos os momentos da vida

escolar. Ir além dos discursos. É levar o aluno a reconhecer o seu papel no

mundo como sujeito histórico.

Para que haja uma educação de cidadãos, é preciso que acima de

tudo, os indivíduos vistos como iguais, tenham a oportunidade de

dialogar, expor suas opiniões. Assim nos lembra Freire (1983, p. 71)

Não é possível respeito aos educandos, à sua dignidade, a seu ser formando-se, à sua identidade fazendo-se, se não se levam em consideração as condições em que eles vêm existindo, se não se reconhece a importância dos conhecimentos de experiência feitos com que chegam à escola. O respeito devido à dignidade do educando não me permite subestimar, pior ainda, zombar do saber que ele traz consigo para a escola.

De nada serve, falar em educação cidadã se os alunos não são

ouvidos e não podem dialogar. Não basta cumprir o que está estabelecido,

é preciso agir democraticamente para elaborar novas normas de

convivência. Como, então, fazer da escola um espaço de exercício da

cidadania?

Aprendemos cidadania, quando nos formamos praticando cidadania.

Na medida em que as pessoas são despertadas para uma participação,

com autonomia e respeito às diferenças, então as possibilidades de uma

formação cidadã começam a se concretizar.

Um ponto de partida para que a cidadania aconteça na Escola é

aceitarmos que os agentes que interagem no espaço escolar, têm visões

de mundo e culturas diferentes. E segundo Ianni (1999, p.11)

O que devemos considerar como significativos são as diferenças e não as semelhanças, os elementos de descontinuidade e não os elementos de continuidade. Se não mantivermos nossos olhos alterados para o que é novo e diferente, todos perderemos, com a maior facilidade, o que é essencial, a saber, o sentimento de viver em um novo período.

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Daí a necessidade de que todos tenham seus interesses

contemplados no espaço público da escola. É participando que se aprende

a participar.

Projeto Consciência: A Escola como espaço para a prática da

cidadania

Considerando o cenário educacional brasileiro, no qual as temáticas

relacionadas às questões de discriminação social e racial, violência nas

escolas, relacionamento interpessoal, bem como as temáticas do contexto

pós-moderno que, de uma forma ou outra trazem “novos olhares” para as

questões sociais, a partir da escola.

Nós, educadores, temos que fazer da escola um espaço de

discussões sobre temas que estão muito próximos e que não damos a

devida importância. É função da escola promover a cultura da não-

violência e ensinar princípios de tolerância e respeito às diferenças.

Com a Sociologia, a discussão é a principal ferramenta de trabalho,

talvez por isso perceba melhor as dificuldades dos alunos, seus anseios e

dúvidas, mas isso fica fechado no contexto da sala de aula, pois os

professores não viam o resultado dos trabalhos dos alunos. Por isso

resolvemos apresentar para toda a escola que os alunos com opiniões e

idéias, continuam sendo jovens que querem um mundo diferente, com

mais consciência ambiental e política.

Esta abordagem promove a reflexão a partir das aulas de Sociologia,

tendo como perspectiva a possibilidade de inserir o debate coletivo para

“além dos muros da Escola”. As reflexões que ocorrem nas aulas junto ao

estudo da Sociologia, para além da sala de aula, envolvendo toda a escola,

valorizando os trabalhos e as experiências dos alunos com os quais se

poderá construir uma postura reflexiva e crítica diante da complexidade

do mundo moderno, ao compreender melhor a dinâmica do meio em que

se vive.

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Para tanto, esta abordagem foi desenvolvida no Colégio Estadual

Antonio e Marcos Cavanis, que conta com oitocentos e cinqüenta alunos e,

assim, se desenvolveu a partir das intervenções pedagógicas

desencadeadas por meio do PDE - Programa de Desenvolvimento

Educacional do Estado do Paraná, na disciplina de Sociologia prevista nas

segundas e terceiras séries do Ensino Médio.

A articulação pedagógica aconteceu com os sujeitos sociais que

constituem o universo escolar com os quais propomos fazer da escola um

espaço de prática da cidadania.

A implementação pedagógica foi estruturada por meio da reflexão e

análise permanentes e em torno do “real” significado do que representa

cidadania no universo cultural dos alunos do Ensino Médio.

As condições teóricas e práticas que alicerçam o contexto educativo

do Ensino Médio estão articuladas à luz dos conteúdos estruturantes da

disciplina de Sociologia e para além destes, pois estaremos delineando o

exercício da reflexão como caminho para a compreensão e prática da

cidadania.

O ponto central deste projeto está representado a partir das aulas de

Sociologia das terceiras séries do Ensino Médio, para viabilizar nas práticas

educativas uma reflexão e prática de cidadania, recorrentes da valorização

e compreensão que ocorrem dentro das reflexões sociológicas.

Iniciando com as atividades produzidas pelos alunos nas aulas de

Sociologia, levamos o debate para toda a escola, instaurando um processo

de formação de prática da cidadania, através do Projeto Consciência: A

Escola como espaço para a prática da cidadania, que envolveu práticas

educativas que ficaram sendo denominados como painel "Fala Aí" e o

Seminário: Bullying, brincadeiras que machucam a alma.

No decorrer do ano letivo, o painel "Fala Aí" foi organizado a partir

das discussões e reflexões expressas pelos educandos dos 3º anos. O

presente trabalho teve por objetivo desenvolver o senso crítico dos

educandos e valorizar as suas opiniões.

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Esse processo de aprendizagem resultou em várias produções

expostas no pátio da escola promovendo dessa maneira o exercício da

discussão envolvendo todo o coletivo escolar, dentre as inúmeras

manifestações selecionamos. Ei-las:

Conteúdo estruturante: Direitos, Cidadania e Movimentos Sociais

Painel 1: Em sua opinião, o analfabeto pode votar com consciência?

• Sim, pois é um direito de cada cidadão sendo analfabeto ou

alfabetizado. Mesmo não sabendo ler nem escrever o analfabeto pode

ser informado através da televisão e até mesmo por outras pessoas.

Acreditamos que a questão de ser alfabetizado ou não é algo relevante

para o voto consciente, ha vários casos de pessoas alfabetizadas que

votam sem consciência, em corruptos. Não é porque a pessoa não teve

oportunidade de estudar que tem que ser punida, não podendo exercer

seu direito como cidadão.

(Ana Paula Rausis, Jessyka B. Barth, Tatiane dos Santos/ 3º A- 2008)

• O analfabeto pode votar com consciência sim, pode entender e

participar do mundo político. Sabendo analisar as propostas dos

candidatos e ver o que realmente é bom para o seu povo. Mesmo não

sabendo ler e escrever ele pode ter influencia da televisão, do rádio e

das pessoas ao seu redor. Mas isso não quer dizer que o analfabeto

seja comprado e manipulado. Muitas vezes, ele entende de direitos

básicos apenas por sofrer e sentir na pele a falta deles. Por viver em

situações precárias, procura meios para melhorar sua vida e a de seu

povo.

(Leticia Rentz Goltz , Elisiane Suzana Condas e Dieimilene gomes

Carneiro/3ºB-20

Painel 2: O analfabeto político (charges)

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Fonte: Produção dos alunos: Alvaro Machado da Silva Neto, Marlos Junior Iank, Reverson Rogoski e Elton Francisco Kremer- 3ª A/2008

Fonte: Produção das alunas Angela Rasmussem de Almeida e Anne do Col. Est. Antonio e Marcos Cavanis-3ªC/2008

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Painel 3: Por que existe tanta injustiça social, se ouvimos falar em direitos

humanos quase que diariamente?

• A injustiça social ocorre porque poucos têm muito e muitos têm pouco.

Essa desigualdade acaba fazendo com que as pessoas menos

favorecidas entrem na vida do crime, da prostituição, das drogas,

violando os direitos humanos, não porque querem, mas pela

necessidade de alimentação. E com a falta de escolaridade não

conseguem entrar no mercado de trabalho. Por outro lado, existem

pessoas que não respeitam os direitos humanos, prejudicando assim as

outras pessoas e a si próprios. As pessoas não têm alimentação,

moradia, educação, saúde e isso são faltas de direitos humanos. Os

direitos existem, mas quase nunca acontecem no nosso dia-a-dia,

devido ao preconceito, a falta de informações e a discriminação.

(Camila Bona Bueno da Silva, Ewerton de Mattos, Jéssica A. Godoi de Mattos, Ruhann Colect Salum- 3º B/2008)

• Porque para algumas pessoas é sensato criticar, exigir, mas não

conseguem olhar para si mesmo e perceber que ela mesma não cumpre

com esses direitos, por exemplo, sendo preconceituosa com deficientes

físicos. Se existe direitos humanos, são para serem cumpridos por

todos, desde os políticos até toda a população. Existem vários um deles

que é muito mencionado pelos meios de comunicação é o direito da

criança estar na escola, ter seu momento para a diversão, para esse

direito há dois motivos para que ele não ocorra: o primeiro ocorre

quando os pais colocam seus filhos para trabalhar enquanto eles ficam

em casa, geralmente sem fazer nada, sendo os mesmos que deveriam

estar à procura de um emprego podendo assim sustentar sua família.

Por outro lado há a questão da falta de escolas ou ainda que elas

estejam muito longe de sua casa.

(Jaqueline Machado Kluczkowski, Kátia Ianke de Castro - 3ºA/2008)

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• Há uma série de fatores que levam à existência da grande injustiça

social do mundo, como a má distribuição de renda, onde uma pequena

parte da população controla a maior parte do dinheiro, enquanto

muitas pessoas vivem na miséria absoluta. Outro fator importante é a

corrupção. o dinheiro é desviado e acaba não chegando aos hospitais,

escolas e órgãos públicos em geral, não havendo melhorias e, em

muitos casos, seque a manutenção dos prédios. Isso certamente piora a

situação das pessoas que necessitam desses serviços. Existe ainda,

outra situação que é muito comum e muito pouco comentada: a

comodidade das pessoas. Enquanto muitos trabalham e lutam para

melhorar sua vida, outros se acomodam nos benefícios do governo

(muitos dos quais nem precisam realmente desses benefícios),

esperando que tudo cairmos do céu, ou com pretextos como a "vontade

divina". Mas talvez um dos fatores mais importantes seja a falta de

informação. As pessoas não conhecem seus direitos, não podendo,

assim, reclamá-los.

(Jéssica Emanuelle de Souza Batista, Karen Cristine Gomes Zadhi, Pâmela Carneiro dos Passos e Raiane A. Mainardes Andrade - 3ºC/2008)

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Conteúdo Estruturante: Cultura e Indústria Cultural

Contracultura - Rap de protesto (composição dos alunos). Ei-los:

Corrupção

(autoria: Felipe Oliveira Ramos, Jonatan de Castro Rodrigues, Lucas Wyston Diniz, Luiz Henrique de Agostinho Priotto e Paulo Alexandre Michalski-2ªC/2008)

Já foram abordados os temas

como roubo e prostituição

mas nós resolvemos

falar da corrupção.

Um problema que está

cada vez mais comum

graças ao desinteresse de alguns.

As pessoas só pensam

em votar nos candidatos

que gosta sem parar e pensar na proposta

Por isso jovem

vamos votar porque

no futuro de amanhã

você também vai estar

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Eu sei que dá pra mudar

(autoria: Franciele Cordeiro-2ªB/2008)

Vou falar, vou dizer, vou mandar pra você.

A letra de rap de fazer tremer.

Não conto de fada, nem história de amor.

É o meu cotidiano, se liga aí Doutor.

Esse mundo anda violento demais.

Crianças assassinadas pelos pais.

O crack tomando conta da cidade.

Tudo pra aumentar a criminalidade.

Vamos mudar o mundo.

Vamos mudar essa situação

Com força e vontade.

Encontraremos a solução.

Vamos botar crianças na escola.

Esporte e educação.

Pra garantir desde agora.

O futuro de cada cidadão.

Já não agüento ver crianças nos faróis.

Temendo a polícia e achando bandidos heróis.

Só há drogas, violência e prostituição.

E muitos sonham em virar ladrão.

Vamos mudar o mundo.

Vamos mudar essa situação

Com força e vontade.Encontraremos a solução.

Vamos botar crianças na escola.

Esporte e educação.

Pra garantir desde agora.

O futuro de cada cidadão

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Os Seminários foram estruturados a partir da apresentação de

palestras dos alunos das terceiras séries do Ensino Médio, resultado das

reflexões e discussões sociológicas realizadas durante as aulas de

Sociologia. Com o tema "Bullying brincadeiras que machucam a alma", as

apresentações ocorreram durante o mês de junho em horário de aula

(contra-turno) para as turmas de Ensino Fundamental envolvendo treze

turmas. Objetivando promover a discussão sobre o tema que é um

problema muito comum no espaço escolar, mas é tratado normalmente

como "brincadeiras".

Para instaurar o Seminário intitulado "Bullying" brincadeiras que

machucam a alma, houve uma reflexão coletiva sobre a violência escolar,

tema que desperta maior atenção dos educadores, pois no mundo todo, as

escolas procuram formas de combater a violência explícita, com detector

de metais na entrada da escola, até mesmo câmeras de segurança, entre

outros meios e recursos.

Observamos que há outro tipo de violência que é mais velada e

interpretada como sendo brincadeiras, que é o fenômeno conhecido como

Bullying. Este acontece diariamente no ambiente escolar, principalmente

na sala de aula, causando marcas profundas na vida dos alunos que

tendem a se fecharem no sofrimento.

Atualmente falar de violência escolar é também falar de bullying. O

termo bullying segundo GUARESCHI (2008) significa formas de agressões

intencionais e repetidas adotadas sem motivação evidente e direcionadas

aos outros. Compreende qualquer forma de atitude agressiva dentro de

uma relação desigual de poder, que torna possível a intimidação da vítima.

A escola é um contexto em que o bullying mais está presente uma

vez que se encontram num mesmo espaço muitas crianças e adolescentes

e que se torna difícil para os adultos vigiarem todos os comportamentos e

intervirem antecipadamente. Esta forma de violência passa, na maior parte

17

das vezes, despercebida aos olhos dos pais, dos professores e da

sociedade em geral.

Há especialistas que afirmam ser o bullying a forma de violência

mais cruel, pois tal nível de agressividade torna suas vítimas reféns da

ansiedade e de emoções que interferem negativamente nos seus processos

de aprendizagem e convívio social, devido à excessiva mobilização de

emoções, de medo e de raiva reprimida, o que pode servir de incentivo à

evasão escolar e ao ingresso destes alunos no mundo das drogas ou então

a geração de pessoas emocionalmente desestruturadas, que poderão vir a

cometer violência doméstica e adotar características anti-sociais.

A prática do bullying causa problemas de aprendizagem, transtornos

de comportamento responsáveis por suicídios e homicídios entre

estudantes. Por manter um caráter oculto, pois as vítimas não têm

coragem para denunciar as "brincadeiras". Isso contribui para a indiferença

sobre o assunto.

No livro Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e

educar para a paz, FANTE (2005) apresenta as características mais comuns

nos atos de Bullying entre os alunos: comportamentos danosos,

produzidos de forma repetitiva; apresenta uma relação de desequilíbrio de

poder, o que dificulta a defesa da vítima; não há motivos evidentes;

acontece de forma direta por meio de agressões físicas e verbais; de forma

indireta, caracteriza-se pela disseminação de rumores desagradáveis e

desqualificantes, visando à discriminação e exclusão da vítima de seu

grupo social.

No contexto escolar, no qual este projeto de implementação

pedagógica se configura podemos identificar que é comum considerar

violência somente as praticadas que ocorrem em casa, como surras que

deixam marcas, abuso sexual e abandono. É como se na escola não

existisse nenhum tipo de violência, que o problema é na casa do aluno.

Temos claro que não é fácil dar aula hoje em dia, sem ter outras

preocupações, como por exemplo, só os conteúdos a serem trabalhados

Um dos maiores problemas da educação mundial é descobrir como

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lidar com alunos com tantas situações de risco, seja no ambiente

doméstico e familiar, seja escolar.

De acordo com cronograma aprovado pela direção e equipe

pedagógica da escola. As apresentações foram feitas em data show, com

transparências, vídeos, slides e fotos, material produzido pelos alunos,

sob nossa orientação e acompanhamento da equipe pedagógica e direção

do estabelecimento de ensino.

Num primeiro momento, todas as turmas das terceiras séries

fizeram a pesquisa sobre o tema. O resultado dessa pesquisa passou por

uma avaliação e, posteriormente, foram elaboradas as palestras que

culminaram no seminário, onde cada turma da escola assistiu a uma

palestra específica para cada série.

Percebemos que tanto para os alunos que apresentaram como para

os que assistiram as palestras, o projeto proporcionou uma experiência

inovadora, pois tratou de um tema tão difícil e pouco discutido, numa

linguagem própria dos jovens.

Foram confeccionados "banners" de conscientização para o fim do

Bullying. Distribuídos pelos corredores da Escola. Ei-lo:

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... quando pratico o Bullying com os meus colegas:

Colocando apelidos. Ofendendo. Zoando. Humilhando. Discriminando.Chutando. Roubando e quebrando pertences. Excluindo.

Fonte: Produção dos alunos: Letícia Rentz Goltz, Elisiane Suzana Condas, Dieimilene Gomes Carneio e Mayko Douglas Simão - 3ªB do Col.Est.Antonio e Marcos Cavanis/2008Imagem adaptada do dusinfernus.worpress.com (postagem de março, dia 29/2008)

Na sala da equipe pedagógica foi colocada uma "urna" para que os

alunos denunciem a prática do bullying. Após leitura das denúncias, a

pedagoga tomará as medidas necessárias para resolver o problema.

Para tanto, estamos viabilizando que estas reflexões venham a fazer

parte do Projeto Político Pedagógico e da Proposta Curricular do

estabelecimento de ensino com o intuito de criar nos educandos uma

prática de tolerância e respeito às diferenças.

O papel do professor e da escola, ao perceber comportamentos

agressivos, é coibir a prática desse problema através de ações educativas,

objetivando a convivência saudável.

O espaço escolar deve envolver alunos, professores, família e a

comunidade, através da prática da cidadania, começando pelos problemas

que afetam a Escola.

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Cidadania e alteridade

O preconceito e a discriminação são fenômenos espalhados pelo

mundo, todos eles ocasionados pelo não reconhecimento do outro, com

os mesmos direitos que os nossos. A intolerância busca uma “solução”, de

preferência imediata, para um problema e não um tratamento permanente,

um caminho a ser seguido, principalmente com vistas a evitar sua

repetição no futuro.

No sentido inverso à intolerância, a alteridade busca a capacidade de

conviver com o diferente. Eu reconheço “o outro” também como sujeito de

iguais direitos. É exatamente essa constatação das diferenças que gera a

alteridade.

Entende-se por Alteridade a capacidade de conviver com o diferente,

reconhecendo o outro em mim, como sujeito com os mesmos direitos e

deveres. Para praticarmos a alteridade temos que deixar de lado o

preconceito e estabelecermos uma relação empática, que significa se

colocar no lugar do outro para sentir a situação vivida por outra pessoa.

Cidadania e alteridade devem ser praticadas na família, na escola e

na sociedade, para que tenhamos cidadãos comprometidos com o respeito

à dignidade humana.

Na escola, a prática da cidadania não pode ser desvinculada da

prática da alteridade. Se quisermos um mundo com menos violência,

menos desigualdades sociais e injustiças é preciso que haja escolas que

dão a todos o direito de falar, opinar e participar nos processos decisórios.

A verdadeira cidadania na família, na escola e na sociedade consiste

em aceitar as diferenças dos outros e engendrar esforços para ajudar na

superação de suas dificuldades.

A prática da alteridade conduz da diferença à soma nas relações

interpessoais entre os seres humanos revestidos de cidadania. Pela

alteridade é possível exercer a cidadania e estabelecer uma relação

pacífica e construtiva com os diferentes, na medida em que identifique,

entenda e aprenda a aprender com o contrário.

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Ao depararmos com o diverso, devemos retirar da nossa mente o

preconceito, isto é, julgamentos pré-concebidos. Estabelecer uma relação

de empatia com o outro e uma convivência fraternal.

Para interpretarmos quem somos como coletividade, dependemos

do reconhecimento que nos é dado pelos outros. “Ninguém pode edificar a

sua própria identidade independentemente das identificações que os

outros fazem dele.”, nos ensina Habermas (1983, p. 22). Portanto

reconhecer o outro é uma necessidade humana, já que o ser humano é um

ser que só existe através da vida social.

Mais do que os discursos, o convívio escolar é fundamental na

formação ética dos estudantes e, ao mesmo tempo, é o instrumento mais

poderoso que a escola tem para cumprir sua tarefa educativa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na medida em que as pessoas são despertadas e sensibilizadas para

uma participação em que o processo de construção construído por elas

mesmas com autonomia e respeito às diferenças, então as possibilidades

de uma formação cidadã começam a se concretizar.

Na escola essa formação acontece quando os alunos são ouvidos,

valorizados e respeitados na construção de seus projetos coletivos. O

exercício da cidadania deve começar na sala de aula até ocupar todas as

instâncias da escola e da sociedade. Não há cidadania sem participação

Ser cidadão crítico é agir e participar em todos os espaços da vida

tendo uma visão de mundo coerente com a sua classe social no sentido da

transformação dos pequenos espaços do cotidiano até o fortalecimento da

sociedade civil.

O exercício da cidadania implica autonomia e liberdade responsável,

participação na esfera política democrática e na vida social, lutando pela

justiça social, segurança, tolerância e contra o abuso de poder.

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As escolas deveriam dar mais espaço e oportunidade para se discutir

a cidadania não apenas nos aspectos institucionais dos direitos e deveres,

mas também os valores éticos e culturais que orientam a vida em

sociedade. É preciso envolver os jovens em ações concretas no meio onde

vive.

Acreditamos que o pensamento sociológico pode contribuir na

formação de indivíduos mais conscientes de si mesmo e do seu papel no

meio em que vivem. De acordo com as Diretrizes Curriculares de

Sociologia da SEED-PR (2006) o conhecimento sociológico deve ir além da

definição e correlações dos fenômenos sociais, explicitar problemas

concretos e contextualizados, desconstruindo as pré-noções que

dificultam o desenvolvendo da autonomia intelectual e de ações políticas

direcionadas a transformação social.

Aprender a pensar sociologicamente - olhando - em outras palavras, de forma mais ampla - significa cultivar a imaginação. Estudar sociologia não pode ser apenas um processo rotineiro de adquirir conhecimento. Um sociólogo é alguém que é capaz de se libertar da imediatidade das circunstâncias pessoais e apresentar as coisas num contexto mais amplo. (GIDDENS,2005,p.24)

Sabemos que a escola não é capaz de resolver sozinha os problemas

que assolam a sociedade. Mas por exercer forte influência nas pessoas, ela

pode ajudar na formação de indivíduos mais justos e solidários.

Ao nos capacitarmos para a convivência participativa na escola,

participamos de um processo de aprendizagem que também nos ensina

como participar do restante da vida social.

Aprender a ser cidadão é entre outras coisas, aprender a agir com

respeito, solidariedade, responsabilidade, justiça, não-violência e

comprometer-se com o que acontece na vida coletiva da comunidade e do

país.

Mais do que os discursos, somente a prática, o exemplo, a

convivência e a reflexão sobre situações reais que farão com que os

desenvolvam atitudes de cidadania. Por isso, o convívio escolar é um

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elemento-chave na formação ética dos estudantes e, ao mesmo tempo, é o

instrumento mais poderoso que a escola tem para cumprir sua tarefa

educativa nesse aspecto. O conhecimento e a própria escola devem ser

pensados e organizados de maneira que atenda ao educando.

É preciso pensar a educação de modo significativo para o educando,

fazendo da escola um espaço de transformação e não de reprodução da

sociedade.

A cidadania é a possibilidade de sermos sujeitos atuantes, com direitos e deveres, os quais requerem inclusão social. Entretanto, os direitos se tornam plenos se forem exercidos no cotidiano das ações das pessoas. Direito na lei, que não é exercido, é apenas direito formal. (PARANÁ, 2006, p.34)

Além disso, cabe registrar que discutir a escola como um todo e

suas relações sociais, é o primeiro passo para despertar em nossos

educandos, a curiosidade e o prazer de aprender, exercendo a discussão e

a participação.

Assim finalizamos, apropriando-nos das palavras de Hannah

(Paraná,2006) contidas no livro didático público de Sociologia do Ensino

Médio do Estado do Paraná, que tão bem explicitam a condição humana:

O fato de que o homem é capaz de agir significa que se pode esperar dele o inesperado, que ele é capaz de realizar o infinitamente improvável. E isto, por sua vez,só é possível porque cada homem é singular, de sorte que, a cada nascimento, vem ao mundo algo singularmente novo. Desse alguém que é singular pode-se dizer, com certeza, que antes dele não havia ninguém. Se a ação, como início, corresponde ao fato do nascimento, se é a efetivação da condição humana da natalidade, o discurso corresponde ao fato da distinção e é a efetivação da condição humana da pluralidade, isto é, do viver como ser distinto e singular entre iguais.

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Referências Bibliográficas

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