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Trabalho de Conclusão de Curso
A ESCOLA COMO ESPAÇO PARA GARANTIA DE CIDADANIA
Gisele da Rosa Antônio
Resumo: Esta pesquisa objetivou verificar junto à Escola Municipal Professora Marlene
Noronha Gonçalves, situada em Três Lagoas/MS, a utilização de estratégias que promovam a
cidadania do aluno, bem como estimulem a sua participação de forma ativa na sociedade em
que se insere, partindo-se do pressuposto de que a educação, enquanto responsável pela
aprendizagem dos mais diversos segmentos na vida do sujeito, pode, de fato, colaborar para a
construção de condições mais efetivas de cidadania dos mesmos, a partir da sua
instrumentalização. A pesquisa foi realizada a partir do contato e de entrevistas
semiestruturadas com profissionais da Coordenação Pedagógica e docência e Escola.
Palavras-chave: Estratégias. Educação. Cidadania. Efetivação.
1. INTRODUÇÃO
Esta pesquisa objetivou verificar junto à Educação, suas possibilidades de colaboração
para a garantia de cidadania do aluno, de forma que fosse possível identificar estratégias
utilizadas pela Escola Professora Marlene Noronha Gonçalves para este fim.
Haja vista as grandes dificuldades e desigualdades vivenciadas pelos indivíduos nesta
sociedade, e juntamente com estas, as situações de sofrimento e falta de condições dignas de
sobrevivência, acredito ser crucial pensar neste momento de que forma tem se estimulado e
concretizado a condição de cidadão deste sujeito, enquanto possuidor de direitos, e a quem se
deveria garantir o mínimo para uma vida digna e satisfatória.
Contudo, refletir as condições de preparo do mesmo para o seu exercício de cidadania,
se trata de uma questão complexa e delicada, pois, muito além de observar as condições de
sua família e responsável neste papel, nos implica verificar como a Escola tem tratado deste
assunto, uma vez que, representante do Estado e responsável por muito no que se refere a
aprendizagem e ao desenvolvimento de seu aluno, significativamente pode colaborar neste
processo, de desenvolvimento do cidadão de direitos, agregando-o conhecimento e autonomia
perante os processos de vida enquanto ser humano.
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2. CIDADANIA: UMA INTRODUÇÃO AO CONCEITO
Caracterizando-se por considerável relevância e complexidade, o conceito de
cidadania nos leva à reflexão à medida em que auxilia na compreensão da busca de uma
concretização mais efetiva de direitos. Cabe destacar a transformação do mesmo ao longo do
tempo, uma vez que, desde o seu início já não se fazia presente a igualdade para os cidadãos,
mas sim a exclusão social de acordo com a cor, raça e gênero principalmente, acentuando
desta maneira, a desigualdade entre as classes. Com o tempo, refletindo-se além do
estabelecimento de direitos e deveres, passou-se a buscar a garantia da integridade da
dignidade do sujeito, por meio da sua integração e interação com o meio social, de forma que
se constituísse participante de sua comunidade, e ainda que, lhe fosse proporcionada sua
autonomia. Para além da cidadania em termos de igualdade, passou-se a buscar também, o
direito ao desenvolvimento das suas subjetividades, com a observação e o respeito da
variedade de culturas (BARANOSKI; LUIS, 2016).
De acordo com Baranoski e Luis (2016) esta luta pela cidadania persiste por anos, e
perpassa as relações políticas e econômicas que se estabelecem na sociedade e que estão em
constante movimento, demandando de forma dinâmica e frequente a reavaliação do conceito,
e das suas condições de efetivação. São estas relações que definirão como e em qual
proporção a igualdade entre os sujeitos será exercida, sendo este exercício dependente de uma
participação ativa do indivíduo na sociedade em que se insere. Contudo, para que esta
participação seja satisfatoriamente atuante, torna-se necessário o compromisso do próprio
país com a responsabilidade de informar e ensinar a estes sujeitos sobre os seus direitos,
produzindo a igualdade de oportunidades para uma prática de cidadania mais real e próxima
da idealizada em normas legislativas, a fim da redução dos impactos causados pelas
desigualdades sociais tão presentes.
Pode-se entender que o termo, que já passou por várias reconstruções, já significou
simplesmente o direito ao voto, porém, é sabido que para que se torne presente a cidadania,
são necessárias condições básicas, que possibilitem o exercício do termo, como as
econômicas, políticas, sociais e culturais, cabendo lembrar da posse essencial de deveres e
direitos, para esta condição (COVRE, 1991). Sobre a complexidade para o entendimento do
assunto, a autora explana:
A cidadania está relacionada ao surgimento da vida na cidade, à capacidade
de os homens exercerem direitos e deveres de cidadão. Na atuação de cada
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indivíduo, há uma esfera privada (que diz respeito ao particular) e uma
esfera pública (que diz respeito a tudo que é comum a todos os cidadãos)
(COVRE, 1991, p. 18).
Ambrosini (2012, p. 44), baseado em algumas teorias por ele defendidas, trata a
seguir, também, de aspectos existentes nesta relação entre as particularidades e coletividades
que influenciam o desenvolvimento da cidadania do indivíduo, como se pode perceber:
O processo histórico, que se efetivou na modernidade, compreendeu muito
bem o aspecto da autonomia individual do sujeito em sua vida privada.
Exemplo disso é a constituição do conceito de sociedade civil, onde reúnem-
se todas as particularidades do homem singular (religião, profissão,
propriedade), garantindo a independência do sujeito em sua vida particular.
Porém, o que não se levou a cabo, e que Kant preconizou, foi o aspecto
coletivo da emancipação humana. Não basta estabelecer os direitos
individuais dos cidadãos, é necessário que a sociedade garanta o exercício
público e racional desses mesmos cidadãos. A filosofia de Kant fundamenta
muito bem o conhecimento e a ética a partir do sujeito racional e autônomo,
e também propõe a ideia de uma sociedade livre e emancipada, mas não
chega a construir uma teoria da ação para se atingir coletivamente este ideal.
A conquista da cidadania não se trata de um processo estático, simples ou rápido.
Mas diz, sim, de uma sequência de batalhas travadas ao longo do tempo, que perduram, de
forma dinâmica, complexa e singular, até os dias de hoje. Embora esteja preconizada como
dever obrigatório do Estado para com o sujeito, na realidade, muito se percebe a distância
entre as propostas, e o que se concretiza, sendo isto evidenciado pela desigualdade vivenciada
e percebida nesta sociedade, que muito sofre com a falta de condições mínimas e dignas para
viver. Estimular o exercício da cidadania é oportunizar a superação da precariedade das
condições de vida dos sujeitos, além de fortalecer a sua autonomia e independência no que se
refere ao seu próprio livre-arbítrio.
3. DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA
A partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, todas as pessoas
devem ter seus direitos garantidos e baseados na liberdade e igualdade, cabendo à cada
pessoa a responsabilidade pelo controle de sua própria vida; direito à condições satisfatórias
de educação, saúde e lazer; o direito à livre expressão de pensamento, consciência ou
religião; à instrução; à segurança pessoal; remuneração justa, enfim, de forma que seja
proporcionada a sua dignidade humana, bem como de sua família, dentre outros.
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Em Covre (1991), nota-se também, a exposição de deveres constituintes da cidadania
do sujeito, e que são referentes à: sua própria colaboração para efetivação dos direitos de
todos, no sentido de buscar permanentemente a sua concretização, por meio de: cumprimento
de regras estabelecidas coletivamente; participação do governo, tendo como exemplo o voto
consciente; exigência de ações do mesmo no que se refere à população, e aquilo que promete
garantir, entre outros. Contudo, são percebidas neste contexto, uma série de dificuldades para
a prática efetiva da cidadania, de forma que uma delas, consiste no jogo de interesses
existente por parte de quem detém o poder, e as escassas possibilidades para garantia destes
direitos e cidadania do povo.
A autora então, sugere a Constituição pertencente a cada país, como ferramenta para
reivindicação de direitos, e acredita nesta e na apropriação por parte do sujeito dos seus
espaços, como únicas possibilidades de enfrentamento político e, consequentemente, uma
prática efetiva da cidadania, o que segundo a mesma, definir-se-ia como instrumento crucial
para o estabelecimento de uma sociedade melhor. Assim sendo, a cidadania se concretiza
através das conquistas também batalhadas pelo próprio indivíduo, posto que estas lutas, lhe
promoveriam não apenas o alcance de condições básicas para sua existência, mas o
abarcamento desta na sua totalidade, considerando então, a função da vida humana no
Universo.
É possível observar cidadania além de um conjunto de direitos e deveres, como uma
construção que tem por finalidade o estabelecimento de condições favoráveis à garantia de
dignidade à vida do sujeito, envolvendo este processo, tamanha complexidade, que, deve ser
entendida de modo que todos os indivíduos passem por processos de aprendizagem, à medida
em que, se concretizem estratégias claras para promoção da cidadania, considerando que esta
deve estar baseada na justiça, democracia, na igualdade, equidade, e participação dinâmica de
todos os agentes envolvidos a sociedade. Isto denota a relevância da educação neste contexto,
e quão grandiosa pode ser a sua contribuição para vivências mais democráticas (BRASIL,
2007). Tida a cidadania como condição essencial ao ser enquanto sujeito, é preciso
considerar:
Convém, por isso, lembrarmos que a existência da cidadania como situação
histórica supõe, necessariamente, um complexo de condições políticas,
sociais, econômicas e culturais. Por exemplo, se uma sociedade não garante
que todas as pessoas tenham as mesmas oportunidades de acesso ao bem-
estar, à cultura e à educação em sentido amplo, tal sociedade apresenta
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déficits enormes de democratização de sua estrutura social e política. Isso
contamina, de forma nociva, o convívio cívico do corpo social, pois o hábito
de conviver com a injustiça, o desrespeito e a desigualdade torna todos(as)
os(as) habitantes de uma nação embrutecidos(as) e insensíveis à dor do
outro (PINZANI E REGO, 2016).
Refletir a cidadania e o direito à sua prática nos proporciona condições mais amplas
para a garantia de direitos, uma vez que, nos torna conhecedores das condições dignas e
preconizadas pelas políticas as quais deveríamos ter o acesso propiciado. Conhecer estas
premissas nos mune para a luta por uma vida mais digna, partindo-se do pressuposto de que
tal conhecimento e informação instrumentalizam o sujeito para a conquista dos direitos dos
quais se torna consciente, além do potencial deste processo de oferta de uma perspectiva
melhor de vida, bem como a sua qualidade, o que consequentemente também o fortalece
neste processo de reivindicação e conquista de direitos. Além de concretizar um de seus
direitos, por meio do exercício cidadão, o sujeito tem acesso à outros, que sem dúvida, lhe
serão positivos e somarão em suas vivências.
4. EDUCAÇÃO E A FORMAÇÃO DO ALUNO CIDADÃO
A partir desta ideia, presenciam-se questionamentos pertinentes sobre quais papéis
tem desempenhado a escola na vida de seus alunos, uma vez que, por um lado, valoriza-se a
aprendizagem de conteúdos disciplinares e curriculares, e por outro, não se tem visto um
olhar voltado também para o processo de formação ética e moral dos seus alunos, sendo
entendido que, desta forma, não abrange, enquanto instituição pública constituída para formar
as próximas gerações, a sua função de construção da cidadania. Neste contexto, entende-se
que a escola ainda deve se pautar em padrões de convivência que concretizem a democracia,
a inclusão e a qualidade do ensino. Ressalta-se que tais valores não passam pela questão do
ensino em si necessariamente, bem como não são inatas, mas são desenvolvidos nas relações
e experiências do indivíduo, conforme elas se dão (BRASIL, 2007). Portanto, é possível
notar:
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, por conter o consenso da
comunidade internacional sobre os direitos considerados fundamentais o ser
humano, pode ser um guia de referência para a análise dos conflitos de
valores vivenciados em nosso cotidiano e para a elaboração de programas
educacionais que objetivem uma educação em valores. Se quisermos,
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portanto, promover uma educação ética e voltada para a cidadania, devemos
partir de temáticas significativas do ponto de vista ético (como é o caso
daquelas contidas na DUDH), propiciando condições para que os alunos e
alunas desenvolvam sua capacidade dialógica e desenvolvam a capacidade
autônoma de tomada de decisão em situações conflitantes do ponto de vista
ético/moral (BRASIL, 2007).
Desta maneira, é significativo considerar o que preconiza a Lei nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, uma vez que,
em seu texto, por vezes, é percebida a preocupação com a formação de cidadania do aluno,
nesta relação entre o mesmo e a educação. A partir desta, em suas disposições mais gerais, e
também na etapa voltada para o Ensino Médio, pode-se reafirmar que, a educação, aliada ao
Estado e à família, deve colaborar para a formação do aluno, de forma à prepara-lo para que
exerça a sua cidadania, dispendendo-se de seus instrumentos, metodologias e mesmo
conteúdos curriculares, para o alcance desta construção como uma de suas grandes
finalidades (BRASIL, 1996).
Entendendo que muitas vezes o indivíduo sequer conhece os seus direitos, condição
significativa para a garantia de sua cidadania, salienta-se a relevância de compreender a
questão que segue:
- De que forma a Escola pode colaborar para a ampliação do acesso à cidadania dos
seus alunos? – É interessante neste sentido apresentar, de forma breve e apenas para auxílio
na reflexão desta problemática, a importância atribuída por Freire (1987), ao conceito
entendido como emancipação. Em sua definição, o autor compreende o constructo como a
constituição ou a ampliação da capacidade do sujeito de reinvindicação e luta por condições
mais dignas no que se refere ao seu bem-estar físico, mental e psicossocial, o que de fato,
também possibilita as suas condições de cidadão. Onde cabe refletir se a Escola tem
colaborado de fato para esta emancipação defendida pelo autor, ou se, se mantém executando
a prática da “educação bancária” definida pelo mesmo, como aquela que apenas manipula e
oprime o sujeito, mantendo-o inerte e às margens desta sociedade, que é econômica e
socialmente favorável à uns, porém, não a todos. - ;
- São utilizadas estratégias para este fim?
Bem como defende Mendonça (2016), deve-se refletir sobre a escola como um espaço
de construção dos seus alunos, onde os mesmos tenham acesso à informação e
instrumentalização em relação aos direitos que deveriam ser garantidos, sendo que muitos ao
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menos tem consciência de que eles existem. Entretanto, não é o que se percebe na prática,
posto que, muitas vezes este espaço acaba por causar a reprodução de realidades difíceis e a
limitação de indivíduos que são submetidos a diversas vulnerabilidades.
Sendo assim, convém a realização de levantamentos e estudos de campo pertinentes
na área que se refira à educação e cidadania, observando o significativo potencial desta
relação para a melhoria da qualidade de vida dos indivíduos, e que nos permitam a promoção
de transformações sociais por meio de ações baseadas nestes estudos, tendo em vista a grande
vulnerabilidade observada em relação às pessoas nesta sociedade. Estas iniciativas permitirão
levantar algumas hipóteses a respeito da contribuição que a escola tem oferecido aos alunos
no que se refere à sua cidadania. Busca-se então pensar esta relação a partir do pressuposto de
que para que se desenvolva maior autonomia e senso crítico é preciso que o indivíduo seja
estimulado e direcionado para uma percepção mais ampla em relação a situação social do seu
país, e a sua própria realidade, podendo-se considerar as estratégias escolares como
ferramentas primordiais neste processo, seja por meio do esclarecimento, das informações
e/ou orientações prestadas (AMBROSINI, 2012). Em Brasil (2007), notam-se ideias que
reforçam os pensamentos expostos acima:
Dessa maneira, tanto em seu projeto político-pedagógico como em seu
planejamento institucional, a escola precisa considerar a realização de
projetos e ações que, ao mesmo tempo, promovam o acesso aos bens
culturais exigidos pela sociedade contemporânea e garantam uma formação
política aos jovens de modo a lhes permitir participar da vida social de
forma mais crítica, dinâmica e autônoma.
Embora sejam conhecidas muitas das dificuldades dos ambientes educacionais em
lidar com seu fluxo, como por exemplo: a quantidade considerável de alunos por turma; a
peculiaridade que cada um apresenta; a falta de recursos e materiais; a falta de capacitação de
alguns profissionais; a sua remuneração que muitas vezes é insatisfatória e geradora de
desmotivação, entre outros, ainda assim, é primordial que este sistema mantenha-se
comprometido com a efetivação de direitos dos seus alunos, a começar pelo incentivo, e à
construção sistemática de rotinas geradoras do exercício de cidadania, às muitas crianças e
adolescentes (quando adultos também) que passam pelo processo de escolarização.
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5. A ESCOLA
Este projeto propôs-se a verificar possibilidades de colaboração da Escola para a
concretização da cidadania do seu aluno, a medida em que se utiliza - ou não – de estratégias
para formação do aluno enquanto cidadão, em sua rotina diária, visando trabalhos
continuados que pratiquem o conceito, fortalecendo-o na comunidade. O Projeto foi realizado
na Escola Pública Municipal Professora Marlene Noronha Gonçalves, situada à Rua Manoel
Faria Duque, Nº 2142, Bairro Jardim Maristela, Três Lagoas/MS.
Próximo à Escola estão situados, principalmente, uma Unidade Básica de Saúde, um
Centro de Referência de Assistência Social e uma Creche, que atendem à população de suas
proximidades. Segundo o Censo 2014, a Escola oferece Educação Infantil e Ensino
Fundamental, conta com aproximadamente dezesseis salas de aula, 940 alunos
aproximadamente, 69 funcionários, e com uma estrutura aparentemente adequada, pois além
de possuir salas e espaço propícios para o trabalho dos profissionais, se constitui também em
Laboratório de Informática, Quadra de Esportes, banheiro adequado a alunos com deficiência
ou mobilidade reduzida – sendo as vias da Escola e dependências também acessíveis à este
público - salas de leitura, e Apoio Escolar para algumas disciplinas.
A referida Escola está localizada nas proximidades de conjuntos habitacionais
construídos e entregues pela Prefeitura deste município àqueles que se encaixam no critério
de baixa renda, podendo denotar dados interessantes à pesquisa e que se refiram às condições
socioeconômicas destes moradores, muitas vezes geradoras da violação de condições de
cidadania dos sujeitos, e de características do território.
6. METODOLOGIA
Foram aplicados questionários e entrevistas semiestruturadas com duas professoras,
dois alunos de quinto (5º) ano, do período Matutino, e duas coordenadoras pedagógicas da
Escola Municipal Marlene Noronha Gonçalves – situada no município de Três Lagoas/MS.
As entrevistas foram adaptadas a partir das que constituem a pesquisa de Silva (2000), que
buscou estudar alguns aspectos existentes na relação entre a Escola pública e a formação da
cidadania, que foram pertinentes a este trabalho, e que sem dúvidas auxiliaram no seu
desenvolvimento.
Trabalho de Conclusão de Curso
O questionário utilizado com as profissionais da educação é composto pelos quatro
seguintes segmentos: Identificação; Escolaridade; Condições Socioeconômicas, e Experiência
Profissional. As entrevistas são compostas por vinte e duas questões que buscaram alcance de
informações acerca da dinâmica e funcionamento da Escola, rotina destes profissionais,
entendimento dos mesmos em relação aos temas propostos, dentre outros, e por fim, quais
seriam/são as possibilidades de contribuição da Escola para a efetivação de cidadania do
aluno. Já a entrevista aplicada nos alunos é composta por quatro (4) tópicos, que buscam
responder questões referentes à: suas identificações e características; sua relação com a
escola; com a comunidade, e com a sociedade. Responderam aos instrumentos, ao total, seis
participantes, cinco do sexo feminino e um do sexo masculino.
A primeira participante (P1) possui especialização em Psicopedagogia, trabalha na
área da educação há onze anos e seis meses aproximadamente, e o seu cargo é de
Coordenadora Pedagógica. A segunda participante (P2) possui Especialização em Educação
Infantil, trabalha no campo educacional há quinze anos, e o seu cargo também é referente a
Coordenação Pedagógica. A terceira participante (P3) possui Especialização em Gestão
Educacional, exerce atividade laboral referente a educação há vinte e dois anos, e a sua
função é Professora Regente.
7. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quanto aos dados coletados, serão aqui consideradas algumas observações mais
relevantes para a pesquisa, e que auxiliarão na compreensão de possíveis respostas
encontradas pela mesma.
Percebeu-se que, no que se refere à característica diferenciada da escola, para P1 e P2,
a resposta está relacionada ao público mais especificamente, pela sua vulnerabilidade
econômica e social e também pelas dificuldades encontradas para uma participação maior das
famílias junto à Educação. Estas participantes também, mesmo em entrevistas individuais,
concordam sobre o alto índice de evasão escolar, que ainda, é associado pelas mesmas à falta
de cumprimento da família com as suas responsabilidades no ensino do aluno, sendo este fato
potencialmente prejudicial a sua aprendizagem.
Já P3 e P4 demonstraram acreditar que a união e a simplicidade das suas colegas de
trabalho, bem como a sua receptividade, sejam os diferenciais da Instituição, alegando que
tais características tornam o ambiente mais favorável e confortável para o trabalho. As
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mesmas relataram não haver altos índices de evasão escolar, e inclusive, P3 acredita que as
constantes avaliações do aluno realizadas auxiliam no controle da evasão, enquanto P4 o
associa aos benefícios ofertados pelo Governo, Bolsa Família e Bolsa Escola.
Quanto ao significado do termo cidadania, P1 e P2 mostraram entendimentos
semelhantes, ao exporem que acreditam em uma visão voltada tanto para direitos, quanto
para deveres, e para o cumprimento pontual destes. P3 acredita no acesso a direitos básicos
como alimentação, educação e moradia, e P4 considera relevante o mérito de cada indivíduo
na busca por seus próprios direitos, mostrando sua crença no fato de que muitas vezes a
acomodação pessoal não permite tal conquista.
Foi bastante interessante observar qual o posicionamento das mesmas em relação ao
conceito de direitos humanos, sendo que: para P1, a sua efetividade é evidenciada apenas
para os criminosos, e de acordo com a sua visão, apenas os “bandidos” fazem uso da sua
proteção e utilidade, pois a mesma acredita que pessoas honestas não fazem proveito de tais
direitos; P2 alega claramente o desconhecimento do conceito, afirmando que o sabe apenas
muito superficialmente, e mencionando a negligência da mídia em não divulgá-lo, atribuindo
a mesma o papel de fazê-lo; P3 não fez diferenciação na conceituação dos temas apresentados
pela questão (cidadania e direitos humanos), e P4 a relaciona com critérios referentes ao
mérito individual na conquista de direitos. As quatro participantes foram unânimes ao se
afirmarem cidadãs.
Quando questionadas sobre o conhecimento de Leis como a Constituição, Plano de
Cargos salariais do Estado e o Estatuto da Criança (ECA), as respostas foram similares e
demonstraram certa limitação no conhecimento das Leis. Embora as participantes tenham
afirmado sobre a disponibilização de outros tipos de documentos pela escola, as mesmas
relataram conhecimento mais próximo apenas do ECA, e P2 acrescentou contato mais
profundo com as Leis e Diretrizes Básicas da Educação (LDB), posto que as mesmas
“amparam a educação”.
Sobre contribuições da Secretaria de Educação para a realização do trabalho na
escola, as participantes deram respostas positivas, mencionando que a mesma oferece cursos
de formação, orientações pedagógicas, promove a viabilização de projetos e capacitações
continuadas. Em relação a autonomia da escola para a execução do trabalho pedagógico, três
participantes afirmaram ser presente a flexibilidade para o desenvolvimento pedagógico,
entretanto, duas destas, enxergam também os limites desta flexibilização, demonstrando que a
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autonomia da escola acontece de forma parcial, e que existem padrões a serem seguidos, e
contudo, a quarta participante relatou não perceber esta autonomia, posto que visualiza
constantemente uma hierarquia e o controle exercido pelo sistema na sociedade.
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A escola pode colaborar com a efetivação da cidadania de seus alunos, à medida em
que se utiliza de estratégias para este fim, e busca garantir a sua promoção nas rotinas diárias,
por meio de ações colaborativas para este processo, formando alunos mais críticos e
conscientes das suas realidades. Para tal podem ser executadas estratégias e iniciativas
baseadas em conhecimentos e na instrumentalização destes alunos, no que se refere aos
Direitos Humanos.
Contudo, estas estratégias devem demonstrar eficiência na sua concretização, à
medida em que ocorrem de forma organizada, e ainda, que são acompanhadas e avaliadas de
acordo com a realidade do aluno.
Acredita-se que a transformação social tão necessária e desejada por aqueles que se
preocupam com realidades baseadas em equidade, só se fará possível a partir da
conscientização de seus sujeitos, e de seus direitos, para então, uma possível reivindicação
dos mesmos, constituindo-se este no primeiro passo para este processo de luta, e então para a
efetivação da cidadania do aluno.
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMBROSINI, T. F. Educação e Emancipação Humana: Uma fundamentação filosófica.
Thaumazein, Ano V, Número 09, Santa Maria, 2012.
BARANOSKI, M. C. R., LUIZ, D. E. C. Cidadania: sistematizando fundamentos teóricos e
conceptuais. Revista Âmbito Jurídico. <Disponível em http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?artigo_id=6006&n_link=revista_artigos_leitura>. Acessado
em 13 ago. 2016.
BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. LDB - Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro de
1996. Estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional. Brasília: MEC, 1996.
Trabalho de Conclusão de Curso
BRASIL. Ministério da Educação. Ética e cidadania: construindo valores na escola e na
sociedade / Secretaria de Educação Básica, Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação. Brasília, 2007.
COVRE, M. L. M. O que é Cidadania? Coleção Primeiros Passos. São Paulo-SP. Editora
Brasiliense, 1991.
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Adotada e proclamada pela
resolução 217 A (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948.
Disponível na Biblioteca Virtual de Direitos Humanos da Universidade de São Paulo:
www.direitoshumanos.usp.br
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 11º. Ed. Rio de Janeiro, 1987.
MENDONÇA, E. F. Pobreza, Direitos Humanos, Justiça e Educação. Curso de
Especialização Educação, Pobreza e Desigualdade Social, 2016.
PINZANI, A., REGO, W. L. Pobreza e Cidadania. Curso de Especialização Educação,
Pobreza e Desigualdade Social, 2016.
SILVA, A. M. M. ESCOLA PÚBLICA E A FORMAÇÃO DA CIDADANIA:
possibilidades e limites. Universidade de São Paulo, Faculdade de Educação. Tese de
Doutorado, 2000.