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A escrita de resenha na universidade a partir de contextos distintos: a importância de se ensinar os gêneros textuais Taiana Grespan (Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE) Márcia Sipavicius Seide (Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE) Resumo: A tarefa de escrever é, para muitos estudantes, árdua. Além disso, o desconhecimento a respeito de alguns gêneros textuais exclusivos da esfera acadêmica também se torna um empecilho para a boa escrita desses textos. Mesmo assim, essas produções serem cobradas como avaliação já se tornou uma prática comum entre professores universitários. Nessa perspectiva de escrita, desconsidera-se que as práticas de letramento vivenciadas no Ensino Médio (EM) são distintas das do Ensino Superior (ES), tanto no nível dos gêneros quanto no da linguagem. Assim, a partir das concepções de letramento de Lea e Street (1998), este trabalho busca apresentar e comparar duas práticas de produção de resenhas em um curso de Secretariado Executivo de uma universidade pública do Paraná. Ressalta-se que esta é uma continuação de uma pesquisa anterior, sendo que nesta serão analisadas resenhas produzidas por uma turma de primeiro ano. Espera-se, com este trabalho, evidenciar a importância dos letramentos acadêmicos na formação de profissionais mais instruídos e críticos. Palavras-chave: Letramentos acadêmicos; escrita acadêmica; resenha. Abstract: Writing textual genres typical of the university, for many professors, a habitual and innate task of academics. From this conception, some texts are collected in an evaluative form, and, many times, they have not been explained. In this context, we forget that literacy practices experienced in Higher Education (MS) are completely different from those of Higher Education (ES), both at the level of genders and in language. Thus, based on Lea and Street (1998), this paper seeks to present and compare two practices for the production of reviews in an Executive Secretariat Course at a public university of Paraná. We will analyze reviews produced by two classes, and in one (second year) the genre was worked and in the other (first year) simply charged, without previous study. It is hoped, with this work, to highlight the importance of academic literacies in the formation of more educated and critical professionals. Keywords: Academic literacy; academic writing; review. Introdução Conversar com o orientador, vender um produto, convencer alguém a alugar um determinado imóvel, sair-se bem em uma entrevista de emprego, compreender um texto ou escrever um artigo científico são ações praticadas mais ou menos intensamente pelas pessoas, por vezes, com dificuldades. Konder (2003, apud ROJO; BARBOSA, 2015) define tais atividades praticadas pelos indivíduos os quais transformam o mundo circundante como

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A escrita de resenha na universidade a partir de contextos distintos: a

importância de se ensinar os gêneros textuais

Taiana Grespan

(Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE)

Márcia Sipavicius Seide

(Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE)

Resumo: A tarefa de escrever é, para muitos estudantes, árdua. Além disso, o desconhecimento

a respeito de alguns gêneros textuais exclusivos da esfera acadêmica também se torna um

empecilho para a boa escrita desses textos. Mesmo assim, essas produções serem cobradas

como avaliação já se tornou uma prática comum entre professores universitários. Nessa

perspectiva de escrita, desconsidera-se que as práticas de letramento vivenciadas no Ensino

Médio (EM) são distintas das do Ensino Superior (ES), tanto no nível dos gêneros quanto no

da linguagem. Assim, a partir das concepções de letramento de Lea e Street (1998), este

trabalho busca apresentar e comparar duas práticas de produção de resenhas em um curso de

Secretariado Executivo de uma universidade pública do Paraná. Ressalta-se que esta é uma

continuação de uma pesquisa anterior, sendo que nesta serão analisadas resenhas produzidas

por uma turma de primeiro ano. Espera-se, com este trabalho, evidenciar a importância dos

letramentos acadêmicos na formação de profissionais mais instruídos e críticos.

Palavras-chave: Letramentos acadêmicos; escrita acadêmica; resenha.

Abstract: Writing textual genres typical of the university, for many professors, a habitual and

innate task of academics. From this conception, some texts are collected in an evaluative form,

and, many times, they have not been explained. In this context, we forget that literacy practices

experienced in Higher Education (MS) are completely different from those of Higher

Education (ES), both at the level of genders and in language. Thus, based on Lea and Street

(1998), this paper seeks to present and compare two practices for the production of reviews in

an Executive Secretariat Course at a public university of Paraná. We will analyze reviews

produced by two classes, and in one (second year) the genre was worked and in the other (first

year) simply charged, without previous study. It is hoped, with this work, to highlight the

importance of academic literacies in the formation of more educated and critical professionals.

Keywords: Academic literacy; academic writing; review.

Introdução

Conversar com o orientador, vender um produto, convencer alguém a alugar um

determinado imóvel, sair-se bem em uma entrevista de emprego, compreender um texto ou

escrever um artigo científico são ações praticadas – mais ou menos intensamente – pelas

pessoas, por vezes, com dificuldades. Konder (2003, apud ROJO; BARBOSA, 2015) define

tais atividades – praticadas pelos indivíduos os quais transformam o mundo circundante – como

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“práxis”. Ainda nessa perspectiva, podemos entender que as práticas sociais se dão, em nossa

sociedade, de forma organizada a partir das esferas sociais a que pertencem e são praticadas.

Neste trabalho, parte-se da esfera acadêmica para compreender de que forma algumas práticas

– especificamente as de produção de texto – ocorrem e por que, muitas vezes, não atingem os

resultados esperados pelos sujeitos envolvidos (professores e alunos).

A prática de produção de textos na universidade tem ganhado um foco cada vez maior.

Não somente nas áreas de licenciatura tem-se percebido a necessidade de um olhar cada vez

mais cuidadoso para o texto acadêmico. Partindo dessa reflexão, questiona-se: a universidade

está tomando para si um papel que não deveria ser seu, o de ensinar o básico? Os jovens estão

preparados para o ensino superior? Houve uma aprendizagem eficaz no que tange a

interpretação de diversos textos? Até que ponto essa defasagem trará prejuízo para o aluno no

exercício de sua profissão? E até que ponto esse fator prejudica o ensino superior, tirando seu

foco real de ensino para o ensino básico?

Ainda questionando o foco da produção textual no ensino superior, percebe-se que, em

diversos momentos, textos característicos da esfera acadêmica têm sido cobrados pelos

professores como critério meramente avaliativo. Entretanto, nem sempre esses gêneros são

ensinados em sala, sendo que, diversas vezes, os professores acreditam que o aluno traga tal

conhecimento do ensino médio. Contudo há que se considerar que os textos produzidos nos

dois contextos de letramento (Ensino Médio e Ensino Superior) são distintos e, por isso, na

universidade, assim como no ensino básico, a produção de texto necessita de uma atenção

especial.

Considerando essa importância do ensino e atenção aos gêneros na universidade, este

trabalho objetiva demonstrar a importância do ensino dos tipos de textos – típicos da esfera

acadêmica – em sala de aula. Trata-se da ampliação de um trabalho publicado recentemente o

qual comparou os resultados da escrita de resenhas em primeira versão de duas turmas distintas,

cujas produções também ocorreram de formas diferentes – uma com orientação e outra sem.

Para este trabalho, analisou-se um corpus constituído por 32 resenhas (16 de primeira e 16 de

segunda versão) produzidas durante as aulas de Língua Portuguesa por acadêmicos do primeiro

de um curso de Secretariado Executivo de uma universidade pública do Paraná.

Para a melhor organização deste estudo, o trabalho conta, além desta introdução, com

uma seção específica sobre a escrita no ambiente acadêmico (A escrita acadêmica e suas

implicações: qual seu papel no ensino superior?), a qual está subdivida em um tópico que

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tratará acerca do gênero resenha (Breves considerações sobre o gênero resenha). Na sequência,

será apresentado o procedimento metodológico (Procedimentos metodológicos) utilizado para

a realização desta pesquisa, seguido dos resultados da análise (Análise das resenhas) e, por

fim, as considerações finais.

1 A escrita acadêmica e suas implicações: qual seu papel no ensino superior?

O trabalho com a produção de textos dentro da universidade – uma das principais

produtoras de conhecimento – sempre foi muito intenso, principalmente com fins específicos.

Ao ingressarem no ensino superior, os acadêmicos se veem abarrotados de atividades de

produção textuais as quais vão desde simples relatórios de aula até trabalhos de conclusão de

curso. Essa é uma prática comum que visa desde ao compartilhamento de informações, até a

publicação de resultados de pesquisas. Independentemente do objetivo, sabe-se que os

estudantes universitários necessitam escrever diversos tipos de textos, contudo, nem sempre

conseguem fazê-lo.

No final da década de 70, devido a uma mudança no perfil das aulas de Língua

Portuguesa, as discussões acerca dos textos produzidos em contextos de aprendizagem

tomaram maiores proporções. Até então, a prioridade das análises linguísticas era a modalidade

oral da língua (PIETRI, 2012). As produções de texto começaram a se tornar um objeto de

estudo nos círculos acadêmicos na segunda metade da década de 70, quando passou a ser parte

de alguns exames vestibulares. De acordo com Pietri (2007), esses primeiros estudos, os quais

têm como corpus as redações de vestibular, foram patrocinados pela Fundação Carlos Chagas,

a qual os financiou e publicou em seus Cadernos de Pesquisa.

Ainda segundo Pietri (2007), nesses estudos estava presente uma relação entre os

estudos linguísticos de base mais gramatical e os estudos que assumem uma perspectiva menos

tradicional. É importante destacar o início do interesse pela escrita escolar como objeto

autêntico de análise no contexto acadêmico e os rumos que esse interesse foi tomando nas

décadas seguintes, até chegar às discussões atuais que envolvem o que tem sido denominado

letramento acadêmico.

Nessa perspectiva, vale ressaltar que o interesse pela escrita acadêmica, apesar de

instigante e necessário, ainda é muito recente. Contudo, nos últimos anos, no Brasil, alguns

pesquisadores (FISCHER, 2007; MOTTA-ROTH; HENDGES, 2010; PETRI, 2007, 2012)

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vêm demonstrando uma maior preocupação em relação à leitura e à escrita dos alunos que

ingressam na universidade.

Fiad (2011), ao considerar as práticas de letramento que ocorrem nos diversos âmbitos

sociais, salienta a importância de o professor considerar as habilidades trazidas pelos estudantes

para dentro da sala de aula:

Se, antes, era possivel ver o desempenho na escrita como habilidades

individuais de ler e escrever, adquiridas principalmente na escola, hoje e

necessário situar qualquer prática envolvendo a leitura e a escrita em um

contexto socio-historico-cultural especifico. Olhar para as habilidades

individuais reforca dicotomias conhecidas: alfabetizados X analfabetos;

letrados X iletrados e não considera outros tipos de letramento,

principalmente aqueles que acontecem fora do contexto escolar. (FIAD, p.

360, 2011).

A postura da autora corrobora com os novos estudos sobre letramento, os quais não

descartam o conhecimento prévio sobre escrita trazido pelos indivíduos, porém consideram

que as práticas de escrita são de contextos distintos e, por isso, é necessário ensinar os

estudantes:

Nesse contexto, e possivel falar em letramento academico: assume- se que

há usos especificos da escrita no contexto academico, usos que diferem de

outros contextos, inclusive de outros contextos de ensino. (FIAD, 2011, p.

36).

Santos (2017) analisou como se dá a prática da escrita entre ingressantes de Letras de

uma universidade pública do estado de Tocantins. Baseando-se nos novos estudos sobre

Letramento, o autor concluiu que a maioria desses estudantes apresenta dificuldades

relacionadas à escrita e aos gêneros textuais que integram a esfera acadêmica. Além disso,

constatou que tais defasagens provêm do ensino básico e são anteriores ao ingresso no ensino

superior. Ainda em relação à pesquisa, Santos (2017) constatou que, muitas vezes, na

universidade, os professores aplicam atividades textuais sem instruções, considerando que os

alunos já saibam as regras que regem a estrutura dos textos.

As dificuldades com a produção e compreensão de textos são notórias nos

alunos ingressantes, pois, como demonstrado na citação acima, elas são

pregressas ao ES. Diante desse panorama, a maioria dos docentes acaba

disseminando uma cultura equivocada de que os alunos não são letrados, por

não dominarem efetivamente as práticas linguageiras da academia.

(SANTOS, 2017, p.96).

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A redação escolar como objeto de estudo de pesquisas acadêmicas começou a se

intensificar na segunda metade da década de 70, quando passou a ser parte de alguns exames

vestibulares. Conforme Petri (2007), esses primeiros estudos que tomam como corpus de

análise redações de vestibular, foram patrocinados pela Fundação Carlos Chagas, que os

financiou e publicou em seus Cadernos de Pesquisa. Ainda Pietri (2012), na mesma

perspectiva analítica de textos acadêmicos, observou a construção de dissertações e teses

elaboradas ao final da década de 70, a partir do viés da semântica no ensino de Língua

Portuguesa. Motta-Roth e Hendges (2010) ressaltam a importância da produção científica no

ambiente universitário, justificando que, neste cenário, a produtividade intelectual é medida

pela quantidade de publicações.

Em relação a essa produção escrita, tanto nas universidades quanto nas escolas,

percebe-se que são adotados modelos fechados de eduação e, por isso, esses espaços são

concebidos como ambientes artificiais, nos quais o aprendizado torna-se descontextualizado,

evidenciando a passividade do aluno. Em contraposição a esse modelo de letramento

impregnado nas escolas, Street (1984), a fim de propor alternativas para esses impasses que

envolvem as questões de escrita, propôs um modelo ideologico, destacando que “(...) todas as

práticas de letramento são aspectos não apenas da cultura, mas tambem das estruturas de poder

numa sociedade” (KLEIMAN, 1995, p. 38).

Infelizmente, a prática de leitura e escrita no contexto universitário apresenta diversas

lacunas, seja nos resultados ou no processo em que ocorrem. Pensando nisso, Lea e Street

(1998) abrem mão do julgamento de uma escrita boa ou ruim e lançam mão de uma análise

sobre as abordagens dos contextos de produção da escrita e leitura no contexto acadêmico. Para

os autores, há três modelos ou perspectivas de letramento, sendo que não há um melhor que o

outro: (1) modelo de habilidades de estudo, (2) modelo de socialização acadêmica e (3) modelo

de letramentos acadêmicos.

O primeiro modelo, habilidades de estudo, percebe a escrita e o letramento como uma

capacidade individual do estudante. Nessa perspectiva, acredita-se que a escrita é uma

habilidade, e, se o aluno a tem, é capaz de transferi-la de um contexto a outro. Essa é a

concepção mais difundida entre os professores, os quais subentendem que os alunos já

conhecem vários gêneros e, por isso, consideram que não se faz necessária uma nova

explicação a respeito.

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A segunda perspectiva de letramento, denominada socialização acadêmica, refere-se ao

processo de “aculturamento de estudantes em discursos e generos baseados nos temas e nas

disciplinas” (LEA; STREET, 1998). Nesse sentido, admite-se que os alunos ingressam em

novos ambientes e precisam aprender tudo a respeito deste novo cenário e dos novos tipos de

textos. Nesse caso, desconsidera-se todo o aprendizado que o aluno teve durante sua vida

escolar e nos outros contextos de letramento. Desse modo, a partir do momento em que o

estudante aprende e compreende as regras dos novos gêneros, ele é capaz de reproduzi-los sem

nenhuma dificuldade.

No terceiro modelo, o de letramentos acadêmicos, existe uma relação com a produção

de texto e os sentidos provocados por ele. Nesse caso, a produção de texto não desconsidera o

que foi aprendido pelo estudante em outro contexto, porém não descarta a possibilidade de ele

ter que se familiarizar com os novos gêneros e compreender suas reais funções.

Para os autores, os três modelos não se excluem, ao contrário, eles se complementam.

Isso significa que em um contexto de produção de texto é necessário levar em consideração

todo o aprendizado do aluno, contudo sem esquecer de que ele precisa de orientações para a

sua escrita.

1.1 Breves considerações sobre o gênero resenha

Para compreendermos a importância do trabalho com os textos no ambiente acadêmico,

faz-se necessário compreender o que são esses gêneros e de que forma eles estão inseridos na

sociedade. Segundo Bakhtin, os sujeitos ocupam funções e papeis dentro da sociedade por

conta das situações de interação na qual estão envolvidos e isso ocorre, principalmente, por

conta da capacidade de linguagem. Para o estudioso, por meio dela, os indivíduos são capazes

de compreender as diversas relações existentes dentro de uma sociedade.

Além disso, ainda para Bakhtin, esses sujeitos produzem enunciados (considerados por

ele acontecimentos), os quais exigem uma situação histórica específica, a identificação dos

atores sociais, o compartilhamento de uma mesma cultura, e, por fim, o estabelecimento de um

diálogo.

Desse modo, os gêneros são compreendidos por Bakhtin como uma manifestação, a

qual materializa-se por meio de textos – chamados por ele de gêneros do discurso. Ademais, o

autor considera que esses textos são tipos relativamente estáveis de enunciado, os quais

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mantêm determinadas características, seja no campo temático, estilístico ou na sua composição.

Para Bakhtin,

o estilo e indissociavelmente vinculado a unidades temáticas determinadas e,

o que e particularmente importante, a unidades composicionais: tipo de

estruturacão e de conclusão de um todo, tipo de relacão entre o locutor e os

outros parceiros da comunicacão verbal. (1997, p. 284)

Assim, esses enunciados relativamente estáveis são marcados por condições sociais e

históricas dos meios em que estão inseridos, uma vez que refletem as finalidades de cada

produção. Sendo assim, por mais que muitas vezes pareçam, eles não são totalmente iguais,

dependendo, sempre, de cada condição de inserção.

Essa reflexão demonstra que, quando tratamos de resenhas, é necessário que fique claro

tanto ao professor quanto ao aluno que as condições de produção durante o ensino médio se

diferenciam das condições durante o ensino superior, do mesmo modo que serão diferentes em

uma situação real de produção de resenha para uma revista, por exemplo.

Diversos autores já se debruçaram sobre esta temática, definindo e delimitando o

gênero. Outros apontaram as reais dificuldades dos acadêmicos em escrevê-lo. Sabe-se,

entretanto, que dentre os gêneros produzidos no ensino superior, a resenha está entre os mais

recorrentes. Segundo Motta-Roth e Hendges (2010), é por meio da resenha que um indivíduo

demonstra seu ponto de vista acerca de um livro, sendo que é necessária uma visão crítica da

obra para que o leitor tenha uma leitura distinta da obra original. As autoras ainda destacam

que há quatro etapas essenciais (chamadas de movimentos retóricos) para a construção de uma

resenha, sendo elas: 1) apresentação; 2) descrição; 3) avaliação; 4) recomendação – ou não –

da obra. As pesquisadoras informam, porém, que não é necessário que os movimentos

aconteçam nesta ordem obrigatoriamente. Neste trabalho consideraram-se essas etapas para

avaliação e explicação do gênero, contudo, optou-se, por conta do tempo, por resenhar um

artigo.

Souza e Silva (2017), em trabalho intitulado “A resenha como produto de

retextualizacão em (re)escrita academica”, analisaram o genero resenha no contexto

universitário. As pesquisadoras, por meio de um corpus de quarenta e seis resenhas, verificaram

as instruções dadas aos estudantes e os resultados obtidos com essas produções. As autoras

analisaram resenhas de primeira e segunda versões e verificaram compreensão, exposição do

conteúdo e apreciação do texto fonte. As autoras também concordam e afirmam que há

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diferença entre uma resenha produzida em sala de aula e outra produzida especificamente para

publicação.

Em relação aos resultados, as autoras afirmam:

As quarenta e seis resenhas de livro coletadas nessa disciplina foram

desenvolvidas a partir de Koch e Elias (2009) ou de Antunes (2006), sendo a

metade delas de primeira versão e a outra de segunda. Das primeiras vinte e

três resenhas, seis demonstravam mais influência do contexto de produção,

com linguagem mais autônoma, acadêmica e, estruturalmente, organizada

para o gênero em questão; ao passo que dezessete não cumpriam as

expectativas para o contexto em que se encontravam. (SOUZA; SILVA,

2017, p. 62).

Dessa forma, as autoras afirmam que um trabalho de refacção mostra-se necessário caso

os alunos não atinjam o nível acadêmico esperado.

Outro trabalho sobre o gênero em questão no contexto universitário foi produzido por

Oliveira (2017). Também considerando os pressupostos de Lea e Street (1998) sobre os

modelos de letramento, a autora analisou uma aula sobre resenha de um professor de uma

universidade privada de São Paulo e avaliou as produções dos alunos a partir dos comandos

dados em sala de aula.

Como resultado, a autora percebeu que o professor deu muita ênfase na composição do

gênero e supôs que seus alunos já soubessem como escrever o texto solicitado. Por conta dessa

postura, Oliveira (2017) enfatiza que

(...) nas aulas do professor, a emergência dos modelos de socialização

acadêmica e de habilidades deu-se de maneira concomitante, pois, à medida

que o professor socializava com os alunos dois dos aspectos composicionais

do gênero, o seu conceito de resenha, a forma com a qual gostaria que os

comentários fossem feitos e as capacidades de leitura envolvidas na produção

da resenha, ocorria também a emergência do modelo das habilidades,

configurado na pressuposição de que os alunos eram leitores e escritores

proficientes”. (OLIVEIRA, 2017, p.138-139)

Assim como foi percebido por Oliveira (2017), muitos outros professores universitários

possuem a mesma postura quando se trata de produção escrita no contexto acadêmico. O nível

de exigência, muitas vezes, não é compatível com aquilo que foi ensinado e, por isso, os

resultados não atingem as expectativas dos professores. Não se trata, contudo, de baixar as

expectativas ou o nível de exigência das produções escritas, mas apenas de rever as práticas de

letramento praticadas nesses contextos.

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2 Procedimentos metodológicos

Conforme dito anteriormente, este trabalho é uma ampliação de uma primeira versão

de um texto a qual contou com a análise de 33 textos de primeira versão – produzidos em

contextos distintos - de duas turmas diferentes. Para a viabilização dessa primeira etapa do

trabalho, realizou-se uma experiência com duas turmas (primeiro e segundo ano) de graduação

de um curso de Secretariado Executivo de uma universidade pública do Paraná. As atividades

foram aplicadas durante a disciplina de Língua Portuguesa I e II, em um mesmo período (maio

de 2017), porém empregando-se metodologias distintas. No total, foram 33 resenhas de

primeira versão analisadas, sendo 16 do primeiro ano (turma A) e 17 do segundo ano (turma

B). O texto que serviu de base para a atividade foi o artigo A formação do profissional em

secretariado executivo no mercado de trabalho globalizado, de autoria de Cibele Martins,

Penha Terra, Émerson Maccari e Ismar Vicente, publicado na revista GeSec.

Após a escrita das resenhas, os alunos enviaram-nas ao e-mail da professora, a qual

corrigiu-as de acordo com critérios estabelecidos sobre o gênero. Estes critérios foram

estabelecidos a partir do que afirmam Motta-Roth e Hendges (2010) a respeito da estrutura

retórica básica de uma resenha:

Quadro 1: de critério de avaliação

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DAS RESENHAS Movimento 1: APRESENTACAO

Subfuncão 1: Informar a referencia bibliográfica no cabeçalho

Subfuncão 2: Informar o tema do artigo

Subfuncão 3: Fornecer informacoes sobre os autores

Subfuncão 4: Inserir o local onde o artigo foi publicado

Movimento 2: DESCRICAO

Subfuncão 5: Descrever a organizacão geral do artigo

Subfuncão 6: Apresentar as informações, citando a fonte – utilização do discurso indireto.

Subfuncão 7: Especificar o conteudo de cada parte

Movimento 3: AVALIACAO

Subfuncão 8: Fazer uma avaliação do artigo lido

Fonte: autora.

Para Motta-Roth e Hendges (2010, p.29), “ essas ações tendem a aparecer nessa ordem

e podem variar em extensão, de acordo com o quê e o quanto o resenhador deseja enfatizar em

sua análise (...)”. Desse modo, buscaram-se tais elementos nos textos dos alunos a fim de

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identificar as características do gênero solicitado. Entretanto, devido à restrição de extensão

para este trabalho, aqui o enfoque será dado ao primeiro movimento – apresentação.

Vale ressaltar que, neste trabalho, serão feitos apontamentos comparativos em relação

à evolução da escrita da versão primeira para a segunda versão da resenha produzida pelos

alunos da turma A, a qual, no momento de produção da versão 1, não recebeu nenhum tipo de

orientação em relação ao gênero, apenas a solicitação para escreverem uma resenha, depois da

leitura do artigo científico estudado em sala.

Na turma que nos diz respeito aqui (turma A) em um primeiro momento, foram

distribuídos os artigos para serem lidos em duplas ou trios. Inicialmente, a professora comentou

que se tratava de um artigo científico e explicou, de forma breve, o que era esse gênero. O

objetivo dessa atividade, primeiramente, era proporcionar o contato com o texto científico e

promover a discussão do assunto. Após a leitura, iniciou-se uma conversa a respeito do texto.

A atividade foi solicitada para ser feita em duplas, sendo que cada uma deveria fazer algum

comentário sobre o que havia lido e, em seguida, outra dupla deveria dar continuidade à

discussão. Ao término da aula, solicitou-se aos acadêmicos que produzissem uma resenha –

também em dupla - sobre o texto lido. A atividade deveria ser feita em casa e enviada ao e-

mail da professora no prazo de uma semana.

Nessa turma, propositalmente, não foi trabalhado o gênero resenha previamente.

Levou-se em consideração o conhecimento prévio dos alunos, considerando que parte dos

alunos já conhecesse o gênero, mesmo que isso não tenha sido questionado em nenhum

momento da aula. Essa prática tem se mostrado muito comum nas universidades e, por isso,

optou-se por testá-la com esse grupo de estudantes.

Para a avalição, elaborou-se um quadro considerando as características básicas de uma

resenha, conforme postulam Motta-Roth e Hendges (2010). Levou-se em consideração,

também, o contexto de produção dos textos – alunos no início da vida acadêmica, com pouco

ou nenhum contato com textos científicos.

Após a correção desta primeira versão e a devolução dos textos aos alunos, foi explicada

a situação (que se tratava de uma experiência de prática pedagógica) e solicitado que todos

refizessem os textos a partir dos apontamentos para uma nova correção. Além disso, em dois

encontros posteriores à devolução do texto de primeira versão, trabalhou-se o gênero resenha

em sala, a partir da conceituação e exemplificação.

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3 Análise das resenhas de primeira versão da turma A

Das 16 resenhas produzidas pela turma A, nenhuma apresentou todos os critérios de

avaliação. A maioria dos textos apresentou alguns dos movimentos, porém de forma

superficial. Em relação ao primeiro movimento (apresentação), verificou-se que 10 textos

expuseram algumas tentativas de apresentação da referência, contudo apenas 4 trouxeram o

nome do artigo no corpo do texto.

Abaixo seguem recortes dos textos analisados, os quais apresentaram, de alguma forma,

a referência do texto.

TEXTO 1 – “Observa se que o artigo fala sobre pesquisas realizadas no meio de trabalho do

profissional de (...)”.

TEXTO 2 – “Diante do artigo “A formação do profissional em secretariado executivo no

mercado de trabalho globalizado”, é possível abordar como temas a educação do profissional

de secretariado executivo, a evolução da mulher na profissão, e os avanços com a

globalização.”.

TEXTO 3 – “O estudo publicado na revista GeSec trata sobre temas que envolvem a evolução

educacional que ocorreu na área e suas implicações em um contexto globalizado.”.

TEXTO 4 – “O estudo realizado pelos (as) Doutores (as) Cibele Barsalini Martins, Emerson

Macari e Ismar Vicente, junto com a Especialista em Administração Penha Mendes Terra,

(...)”.

TEXTO 5 - “A formação do profissional em secretariado executivo no mercado de trabalho

globalizado (Revista de Gestão e Secretariado, São Paulo, v. 1, p.69-89, jan./jun. 2010.)”.

TEXTO 6 – “O artigo “Formação do profissional de secretariado executivo” de Cibele

Barsaline Martins, Penha Mendes Terra, Émerson Macari e Ismar Vicente, (...)”.

TEXTO 7: “No texto, o autor começa criticando os estereótipos que marcaram a profissão de

secretariado, porém depois o mundo moderno se rendeu ao poder desses profissionais (...)”.

TEXTO 8: “O Artigo Científico “A formação do profissional em Secretariado Executivo no

mercado de trabalho globalizado”, escrito por Cibele Barsalini Martins, Penha Mendes Terra,

Émerson Maccari e Ismar Vicente, (...)”.

TEXTO 9: “Este artigo teve enfoque no profissional de Secretariado feminino, devido a sua

predominância na área, vale ressaltar que é um resultado de material já publicado”.

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TEXTO 10: “O artigo mostra a constante luta das mulheres contra o preconceito e a

discriminação para serem reconhecidas profissionalmente tanto quanto o sexo oposto.”.

Percebe-se, contudo, que, dentre os dez textos, apenas cinco demonstraram tentativa de

citação indireta para a apresentação das ideias dos autores do artigo. Nesses casos, essa

apresentação da voz dos autores do texto original ocorreu em um único parágrafo e não no

texto inteiro. Nos outros cinco, não houve sequer tentativa de referência, mas sim uma

produção de um novo texto sobre o tema do artigo. Apesar da ausência da citação dos nomes

dos autores e da obra original, não se pode afirmar que esses dez textos não se caracterizaram

como resenhas, pois, segundo Motta-Roth e Hendges (2010, p.29)

É importante frisar que o uso dos quatro estágios textuais (...) foi uma

tendência verificada em pesquisas anteriores, junto a editores e autores de

resenhas em periódicos internacionais (Motta-Roth, 1996). Portanto, a

descrição do gênero nesses termos deve ser tomada como um constatação (...)

e não uma norma a ser seguida cegamente.

Isso significa que as resenhas podem adquirir formatos diferentes dependendo do

contexto de produção e do estilo do resenhados. Constata-se que, mesmo não apresentando um

dos elementos, não se pode afirmar que os alunos não produziram resenha. Entretanto, a

comparação entre os textos produzidos pelos alunos da turma B (aquela que recebeu orientação

a respeito do gênero) e os da turma A mostraram que os textos daquela estavam mais completos

e próximos ao esperado de uma resenha.

Para melhor representação, organizou-se uma tabela com os resultados dessa análise.

TABELA 1 – Resultados das análises das resenhas das duas turmas

TURMA A TURMA B

Sem nenhuma característica

do gênero

6 0

Com a apresentação da

referência

5 0

Com apresentação da

referência e um parágrafo de

discurso indireto

5 3

Com referência, discurso

indireto, organização do texto

original e opinião

0 14

TOTAL 16 17

Fonte: autores

Page 13: A escrita de resenha na universidade a partir de contextos ... · A escrita de resenha na universidade a partir de contextos distintos: a ... da linguagem. Assim, a partir das concepções

Percebeu-se a nítida diferença entre os textos produzidos com instrução –

contextualizados e com significado para o aluno - e os produzidos como critério de avaliação,

sem nenhuma relação significativa para o aprendizado do aluno. Para Sercundes (2001), esse

tipo de producão revela textos “(..) que aparecem desvinculados do trabalho pedagogico

desenvolvido pelo professor, sem nenhuma ligacão com o trabalho anterior ou posterior, não

representando etapa de um processo mais amplo de construcão de conhecimento (...)”

(SERCUNDES, 2001, p. 75). Tais resultados espelham uma prática bastante comum no

contexto de sala de aula, seja no ensino básico ou superior.

Na próxima seção, serão apresentados os resultados dos textos de segunda versão.

4 Reescrita: as resenhas de segunda versão

Após dois encontros destinados ao estudo do gênero resenha, os alunos puderam

compreender com mais propriedade a função e as características das resenhas. Da mesma forma

como foi feito com a turma B, os alunos da turma A puderam ler resenhas e perceber os

movimentos retóricos presentes nesses textos.

Após a reescrita e a devolução da última versão, percebeu-se uma evolução dos textos,

cuja estrutura se aproximou mais do que se espera de resenhas.

TABELA 2 – Comparação das versões das resenhas da turma A

PRIMEIRA VERSÃO SEGUNDA VERSÃO

Sem nenhuma característica

do gênero

6 0

Com a apresentação da

referência

5 0

Com apresentação da

referência e ao menos um

parágrafo de discurso indireto

5 9

Com referência, discurso

indireto, organização do texto

original e opinião

0 6

TOTAL 16 17

Fonte: autores

Pode-se observar que, na segunda versão, nenhum texto deixou de apresentar as

características do gênero, sendo que o primeiro movimento – o da apresentação da obra – foi

encontrado nos 16 textos. Nota-se uma evolução em relação à primeira versão, em que seis não

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tinham nenhuma das características. Além disso, em nove textos observaram-se a apresentação

da obra e dos autores e a tentativa de paráfrase, com a presença de discurso indireto; e em seis

foram encontradas todas as características postuladas por Motta-Roth e Hendges (2010),

resultados muito diferentes da primeira versão.

Acredita-se que esses resultados sejam reflexos da oportunização do conhecimento,

uma vez que, para a maioria, o gênero resenha era totalmente desconhecido por não ter feito

parte das produções textuais e das práticas de letramento anteriores.

Conforme postula Street (2014), para que os indivíduos possam se inserir nos diversos

contextos, é necessário transmitir-lhes o conhecimento. Consideramos aqui que as diversas

práticas de letramento escritas são degraus que permitirão os alunos circundarem em quaisquer

ambientes, visto que, hoje, dominar a escrita é um diferencial.

(...) a transferência de letramento de um grupo dominante para aqueles que

até então tinham pouca experiência com a leitura e a escrita implica muito

mais do que simplesmente transmitir algumas habilidades técnicas,

superficiais. Ao contrário, para aqueles que recebem o letramento novo, o

impacto da cultura e das estruturas político-econômicas daqueles que o

transferem tende a ser mais significativo do que o impacto das habilidades

técnicas associadas à leitura e à escrita (STREET, 2014, p. 30-31).

Essa análise prévia dos resultados denuncia a necessidade de trabalhar ou retrabalhar,

se for necessário, os gêneros textuais dentro da esfera acadêmica. Além disso os resultados

deixaram evidente que um trabalho detalhado com textos no ambiente acadêmico produz

efeitos mais positivos do que quando forem simplesmente cobrados como pré-requisitos para

a obtenção de notas. Além disso é necessário se considerar os reais objetivos de uma

universidade, que é, antes de mais nada, a produção de conhecimento. E sem dúvidas produzir

adequadamente textos é uma forma de conhecimento.

Considerações finais

Fica evidente, a partir da experiência com essa turma, que o ensino de gêneros dentro

da Universidade faz-se necessário e urgente, visto que não são somente os cursos de

licenciatura que exigem a formação de um profissional capaz de produzir e trabalhar com

diferentes textos. O profissional de secretariado executivo, por exemplo, precisa dar conta de

inúmeros gêneros dentro da esfera social de trabalho, sem considerar que hoje o fomento em

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relação à pesquisa está cada vez mais intenso, o que exige dele esse domínio dos gêneros

textuais da esfera acadêmica.

Além disso, é notória a melhora da qualidade dos textos quando o professor se dispõe

a ensinar como se faz e para que servem tais gêneros, dando sentido ao conteúdo e valorizando

o conhecimento prévio do aluno.

Apesar disso, este trabalho limita-se, devido ao espaço destinado ao texto, em registrar

apenas trechos das produções, sendo que seria mais interessante esmiuçar mais cada texto,

relacionando-os às partes da resenha, além de analisá-los do ponto de vista argumentativo do

gênero. Assim, espera-se que, em outro momento, seja possível analisar em outras perspectivas

o corpus para trazer resultados ainda mais pontuais sobre a importância de se trabalhar os

gêneros na sala de aula no contexto universitário

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