A Esquina Do Povo de Alt’Lam

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Esoterismo, Arqueologia Insólita.

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  • Debates do NER, Porto Alegre, ano 13, n. 21 p. 123-150, jan./jun. 2012

    A ESQUINA DO POVO DE ALTLAM: APRIMORAMENTO RACIAL E MORAL NO MOVIMENTO ESPRITA NATALENSE

    Antoinette Madureira1

    Lus Felipe Rios2

    Resumo: A partir de um conjunto de dados obtidos em pesquisa, o texto deseja salientar uma face pouco examinada pelos estudiosos do espiritismo no Brasil: aquela dos grupos espritas que cultuam extraterrestres. Examina a narrativa Rebelio de Lcifer, escrita pelo mdium potiguar Jan Val Ellam. Sustenta que esta atualiza noes importantes em relao a narrativas de salvao anteriores construdas pelo espiritismo. Destaca em especial o aprimoramento racial e moral atravs da reencarnao em distintos corpos humanos e em diferentes planetas. Examina-os a partir das noes de exlio planetrio e de evoluo racializada. Argumenta que Jan Val Ellam as atualiza atravs da categoria nativa Povo de AltLam e atravs de bricolagem com outros campos semnticos, notadamente a ufologia e a fi co cientfi ca.

    Palavras-chave: Espiritismo; Exlio Planetrio; Evoluo Racializada; Jan Val Ellam.

    Abstract: It takes a set of data obtained while in research as a starting point, in order to point out a not so examined aspect of the spiritualism in Brazil by the scholars: the one about spiritualistic groups that worship extraterrestrial beings. It examines the Lucifers Rebellion narrative, written by the potiguar medium Jan Val Ellam. It supports that this narrative updates important conceptions in comparison to previous salvation tales built by the spiritualism. It specially points out the racial and moral refi nement theme through the reincarnation in distinct human bodies and in different planets. It examines these points based on planetary exile and racialized evolution ideias. It argues that Jan Val Ellam updates them

    1 Antoinette de Brito Madureira doutora em antropologia e professora adjunta do Depar-tamento de Servio Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN. E-mail: [email protected]

    2 Lus Felipe Rios doutor em Sade Coletiva e professor adjunto do Departamento de Psicologia, do Programa de Ps-Graduao em Psicologia e do Programa de Ps-Gra-duao em Antropologia da UFPE. E-mail: [email protected]

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    through his AltLam People native category and through the blending with other semantic fi elds, notably the ufology and science fi ction.

    Keywords: Spiritualism; Planetary Exile; Racialized Evolution; Jan Val Ellam.

    INTRODUO

    Neste artigo, desejamos destacar a atualizao de argumentaes racialistas presentes na conformao do discurso de alguns grupos esp-ritas contemporneos, particularmente atravs do culto a extraterrestres. Pretendendo oferecer uma discusso sobre aprimoramento racial e moral no espiritismo, o texto examina algumas das maneiras de como estas noes aparecem na literatura nativa esprita mais clssica e tambm nos escritos do mdium Jan Val Ellam3. Esta uma temtica que entendemos ser importante, em particular, para a anlise socioantropolgica do movimento esprita brasileiro na atualidade e, de forma geral, para pensar as dinmicas contemporneas que envolvem expresses diversas de religiosidade no Brasil.

    A questo racial no foi inicialmente pensada quando da construo do projeto que originou a Tese da qual este artigo um desdobramento. Ela veio surgir a posteriori, na anlise dos dados, quando por diversos caminhos a temtica que conduzia a pesquisa, a saber, a construo das emoes entre espritas adesos4 e no adesos permitiu revelar que dadas emoes eram asso-ciadas a certos espritos que apareciam racializados nos discursos nativos, como ciganas, ndios, pretos velhos e entidades extraterrestres. Esta constatao fez

    3 O presente artigo tem como ponto de partida a Tese de Madureira (2010). Jan Val Ellam o pseudnimo do mdium esprita, empresrio, uflogo e escritor potiguar, Rogrio de Almeida Freitas, coordenador do Grupo Atlan, coletivo esprita natalense. Os escritos e palestras de Ellam e as reunies do Grupo Atlan so examinados na Tese supracitada.

    4 Adeso: termo nativo esprita que signifi ca associado ao campo federativo esprita, este ltimo signifi cando a FEB (Federao Esprita Brasileira) e as federaes estaduais liga-das FEB. Um centro esprita torna-se adeso quando se associa a uma dessas federaes espritas estaduais. O termo adeso tambm se refere converso. A esse respeito, ver Cavalcanti (1983).

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    com que voltssemos a ler a literatura nativa que orientava as prticas espritas, em busca das marcas raciais no pensamento esprita, objeto deste artigo.

    A discusso sobre raa no espiritismo aparece desde autores como Bastide (1971), que, examinando o espiritismo de umbanda, identifi ca que nessa reli-gio a luta racial, presente na dimenso social, passa a se expressar no campo do sagrado. A temtica racial aparece tambm em Ortiz (1999), tratando do embranquecimento da umbanda, e em Cavalcanti (1983), que examina a presena das classes mdias urbanas no espiritismo. J a recente literatura antropolgica, atravs de trabalhos como os de Sinu Miguel (2009) e Lewgoy (2000), assinala a presena de militares e de certa classe mdia (funcionrios pblicos, mdicos, professores) no movimento esprita brasileiro, o que pode sinalizar o espiritismo como uma religio de brancos em nosso pas. A litera-tura tambm destaca, quando trata do mito fundador da umbanda, sobre a conhecida rejeio dos espritas aos espritos de cor, que so afastados de suas casas de culto para descer na umbanda (Giumbelli, 2002).

    Buscamos aqui efetuar uma anlise das condies de produo do discurso esprita racializado em torno da temtica dos extraterrestres em trs tempos: inicialmente, focalizamos em escritos legitimados pela FERN5 mais especifi camente Kardec6 e Chico Xavier7, em um segundo momen-to, em alguns escritos cuja leitura no incentivada pela FERN, mas que no entanto lida pelos espritas Edgard Armond8 e Herclio Maes9 e, em um terceiro momento, nos escritos de Jan Val Ellam. Assinalamos a importncia de olhar os escritos deste ltimo mdium como possibilidade de iluminar questes que passam desapercebidas, quando focamos apenas nos textos aceitos pela federao, e sinalizamos que no incluir o universo dos no adesos seria uma mutilao, mais do que um recorte metodolgico,

    5 FERN: Federao Esprita do Rio Grande do Norte. Fundada a 29 de abril de 1926; adesa Federao Esprita Brasileira (FEB).

    6 Allan Kardec (1804-1869). Pedagogo francs, criador da doutrina esprita.7 Francisco Cndido Xavier (1910-2002), mdium esprita mineiro. Para a sua carreira,

    Lewgoy (2000) e Stoll (1999 e 2003).8 Edgard Armond (1894/1982), militante esprita paulista.9 Herclio Maes (1913-1993), mdium esprita paranaense.

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    j que estes ltimos so falados todo o tempo no movimento esprita, seja enquanto modelos alternativos e negativos de comportamento para os espritas tradicionais seja enquanto lugares de fuga, onde se buscam recursos simblicos, teraputicos para lidar com aquilo que a ortodoxia esprita no consegue dar conta.

    De incio, apresentamos o lugar do mdium Jan Val Ellam e de seu gru-po ante o movimento esprita natalense; em seguida, tratamos de como na tradio esprita10 o aprimoramento moral e racial situado, especialmente em Kardec e Xavier. Logo aps, trazemos os escritos de Armond e Maes que tratam do mesmo tema, para ento situarmos a narrativa de Ellam acerca de aprimoramento moral/racial. Em seguida, salientamos a noo de esquina do povo de AltLam, para examinar a concluso da narrativa de Ellam e, por fi m, examinamos as diferenas e semelhanas entre adesos e no adesos em relao evoluo racializada, sempre em torno do tema dos extraterrestres.

    PREPARADOS PARA A ATERRISSAGEM: O GRUPO ATLAN E A VOLTA DE JESUS NO DISCO VOADOR

    Era o incio do ano de 2007 e a segunda vez que participvamos da reunio do grupo Atlan, e eis que, nesse dia, Graa, uma das mdiuns do grupo, trouxe um livro para nos emprestar; disse-nos que deveramos l-lo, para entender sobre os nossos mentores e a nossa tarefa. Era um livro psicografado por certo Herbert Speer e intitula-se A Grande Mensagem Ce-leste de Ashtar Sheran Humanidade da Terra. Por esta mesma poca, Luiz, outro mdium, ofereceu-nos mais um livro, intitulado A Stima Trombeta do Apocalipse: a volta de Jesus, da autoria de Jan Val Ellam, o coordenador do grupo. Tambm orientou-nos a que nos registrssemos em uma comunidade virtual na internet, chamada de Frum Comunidade Famlia Ascenso11. Disse que a leitura e a participao nessa comunidade virtual iriam nos ajudar

    10 Para tradio esprita, Stoll (2002).11 Site Frum Comunidade Famlia Ascenso. Disponvel em http://nominato.asiafreefo-

    rum.com/f1-comunidade-familia-ascensao-http-nominatocombr-forum-index. Acesso em 05 out 2009.

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    a estar prontos, antes da aterrissagem. Ora, a aterrissagem era a volta de Jesus Cristo Terra em um disco voador, como j deveramos saber.

    De fato, j conhecamos h algum tempo esta profecia, por causa de nossa circulao entre o movimento esprita natalense: estava previsto que Jesus voltaria Terra naquele mesmo ano, at o fi nal do ms de novembro. O autor da profecia, Jan Val Ellam, o coordenador do Atlan, era um mdium que se comunicava com Lcifer tambm chamado de Yel Luzbel12, e com numerosos extraterrestres, os mesmos que estavam a preparar a chegada triunfal de Jesus, que voltaria Terra junto com outros personagens mencio-nados na Bblia, no apenas em um, mas em centenas de discos voadores que seriam, ento, vistos nos cus de todo o nosso planeta. A chegada do Cristo, segundo conta Ellam, caracterizava-se como uma ajuda direta13: Jesus chegaria em breve para anunciar a expulso dos inadequados, encerran-do tambm uma guerra milenar, a Rebelio de Lcifer. Jesus trazia a tarefa de concluir o confl ito, intervindo de forma defi nitiva em nosso planeta, no sentido de retirar dele todos os indivduos ainda vinculados s foras do Mal, num processo chamado de Transio Planetria.

    Fundado no fi nal dos anos oitenta14, e registrado como Sociedade Civil Sem Fins Lucrativos, em dezembro de 1996, o Grupo Atlan de Natal, ou simplesmente o Atlan, rene-se mensalmente no auditrio de uma escola de ensino fundamental de Natal. Nas reunies, h a presena assdua de aproximadamente sessenta membros, mas se contarmos tambm com os participantes eventuais o grupo detm por volta de duzentos componentes

    12 Yel Luzbel um personagem resgatado dos mitos judaico-cristos para a cena esprita, tomando lugar na narrativa contada por Jan Val Ellam, como descreveremos mais frente neste artigo.

    13 A categoria nativa ajuda direta designa a chegada de seres evoludos em naves espaciais, para auxiliar as humanidades dos vrios mundos retardados evolutivamente. Jan Val Ellam diferencia ajuda direta (chegada nas naves) e indireta, atravs da reencarnao. (Ellam, 1996, p. 57).

    14 Os adeptos contam que as primeiras reunies do Grupo Atlan, quando ainda no detinha esse nome, davam-se na residncia de um dos participantes, e que, aps alguns anos o grupo sentiu a necessidade de se registrar como Sociedade Civil Sem Fins Lucrativos.

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    em sua totalidade. A nica atividade desenvolvida pelo Atlan a palestra com Jan Val Ellam.

    Chamados carinhosamente por Jan Val Ellam de Povo de AltLam, o Atlan junto a outros grupos que seguem Ellam carrega a tarefa de avisar humanidade sobre a transio planetria. Compreendendo que a guerra entre Jesus e os exrcitos do Mal permanece em nossos dias e se expressa em todos os confl itos humanos, recebem relevo em suas reunies o tema da guerra, especialmente a segunda guerra mundial e os confl itos blicos do oriente mdio. Tambm h certo interesse nos universos da astronomia15 e da ufologia, principalmente em torno da procura de vida em outros planetas e sobre OVNIs.

    importante apresentar rapidamente o mdium coordenador do grupo. Graduado em administrao de empresas, Ellam trabalhou quinze anos na Caixa Econmica Federal, onde ocupou funes gerenciais. hoje diretor executivo da Federao do Comrcio de Bens, Servios e Turismo do Rio Grande do Norte e tambm diretor de um grupo portugus que detm empreendimentos tursticos no litoral do Rio Grande do Norte. Interessa-do por ufologia e muito conhecido pela comunidade ufolgica brasileira, tendo, segundo conta, investigado casos de ataques de ETs a humanos no serto nordestino, ele criador do Projeto Orbum, que tem como objetivo [...] articular ufologia e espiritualidade [...] e que traz como escrito bsico a declarao dos princpios da cidadania planetria, em que se encontra a inteno de se construir na Terra um comportamento fraterno, para alm das fronteiras geopolticas, religiosas e tnicas16.

    tambm colaborador das revistas brasileiras Comcincia, UFO, O qu? e da portuguesa Clssicos e Modernos. Tem participao em dois pro-gramas de rdio veiculados semanalmente, aos domingos noite: o Projeto Orbum, da Rdio Boa Nova, de So Paulo (SP), acessado atravs do link www.radioboanova.com.br, e o Conversas sobre a Espiritualidade, da Rdio

    15 H, inclusive, um astrnomo, professor universitrio, entre os membros deste grupo.16 Para o manifesto completo, ver http://www.orbum.org/manifesto/. Acesso em 21 jul 2011.

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    Poty, de Natal (RN). Tem quinze ttulos publicados17 e faz regularmente conferncias internacionais, abordando a j mencionada transio planetria.

    Articulando ao seu modo noes encontradas em Kardec e Chico Xavier, com fragmentos pinados de outros campos semnticos, os livros de Ellam o fazem conhecido junto a certa vertente do movimento esprita, notadamente admiradores das UFO Religions18 e de certa literatura sobre confl itos blicos.

    Ora, na poca da pesquisa, intrigava-nos a infl uncia de Ellam no movimento esprita natalense, j que as reunies do Atlan em Natal so frequentadas por dirigentes de diferentes casas espritas. Lembramos ao leitor que tomamos conhecimento das ideias de Ellam pelos corredores de centros adesos FERN; assinalamos que em nenhum destes o nome de

    17 Os assinados sob o pseudnimo Jan Val Ellam so a trilogia Reintegrao Csmica (1996), Caminhos Espirituais (1997) e Carma e Compromisso (1998), alm de O Sorriso do Mestre (1998), Nos Cus da Grcia (1998), Recado Csmico (1999), Nos Bastidores da Luz (2000), Muito Alm do Horizonte (2001), Jesus e o Enigma da Transfi gurao (2002), Fator Extraterrestre (2004), A Stima Trombeta do Apocalipse: a volta de Jesus (2005), O Testamento de Jesus (2006) e Nos Bastidores da Luz II (2006). Publicou ainda, em 2005, utilizando o nome Rogrio de Almeida Freitas, Inquirio Potica e Teia do Tempo, este ltimo em coautoria com o astrnomo Jos Renan de Medeiros, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Conta, segundo nos disse, com um grande volume de obras em andamento e algumas prontas, apenas aguardando autorizao dos mentores para serem publicadas. Alm do Brasil, algumas de suas obras foram publicadas em Portugal, frica do Sul, Austrlia, Angola, Moambique, Inglaterra e Rssia. Ele tambm fundador da Editora Zian, que publica parte de seus livros.

    18 Partridge (2003) chama de UFO Religions grupos espiritualistas como a Raelian Church (no Brasil chamada de Movimento Raeliano), a Unarius Academy of Science, a Aetherius Society e a Heavens Gate, que defendem, de uma maneira geral, a existncia de seres extraterrestres na direo da histria da humanidade, alm de sustentar que o planeta Terra faria parte de certa comunidade galctica e que um futuro de paz e harmonia em nosso planeta est ancorado na ajuda de ETs, mais precisamente em suas supostas capacidades tecnolgicas e espirituais. Tambm defendem a existncia de certa conspirao entre os governos da Terra para ocultar a presena dos ETs entre ns. Sobre as UFO Religions, alm de Partridge (2003), ver Grunschlo (2002), Lewis (1995) e Vallee (1979), dentre outros.

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    Jan Val Ellam era desconhecido nem tampouco tratado com indiferena, ainda que ele seja desvinculado de casas tradicionais.

    Porm, algum tempo de insero neste campo j sufi ciente para entender que sua presena pouco tolerada pela federao; esta recrimina publicamente algumas prticas de seu grupo, como a convivncia medinica com o esprito de Lcifer, a crena na volta de Jesus no disco voador, o uso do nome da doutrina esprita como referncia e o fato de que Ellam tido pelos seus seguidores como a reencarnao de Allan Kardec.

    Na verdade, um mapeamento ainda que superfi cial da infl uncia de Ellam deve ir alm da cidade de Natal, pois o grupo Atlan est criando fi liais: h poucos anos surgiram o Grupo Atlan de Campo Grande (MS) e o de Vitria da Conquista (BA), grupos que tiveram a presena de Ellam em seu processo de fundao. H tambm grupos que o seguem em So Paulo e Rio de Janeiro e fora do Brasil, como em Portugal, na Itlia19 e em Angola20, para onde o mdium frequentemente viaja, a fi m de ministrar conferncias. Na repercusso de suas ideias, deve tambm ser analisado o volume de vendas de seus livros, disponveis para comercializao on-line21 e a veiculao de suas palestras atravs do site Orbum22.

    Este um campo que no tem sido estudado frequentemente pela cincia. Lembramos, contudo, que o culto de extraterrestres no espiritismo j foi salientado por Incio da Cruz (2007), que examinou a carreira do mdium Chico Monteiro, um mix de terapeuta holista, escritor, msico, inventor, catalisador de seres angelicais, comunicador, benzedor (Cruz, 2007). Monteiro afi rma incorporar o esprito do mdico alemo Dr. Fritz, assim como andar de disco voador, tendo sido, segundo conta, abduzido em uma nave espacial. Tambm relata receber dos comandantes Ashtar e

    19 O Gruppo Atlan Italia, com sede em Milo, foi fundado no ms de junho de 2011, em cerimnia em que Jan Val Ellam, presidente honorrio, fez-se presente. O grupo tem como coordenador um italiano que morou alguns anos em Natal.

    20 O grupo de Luanda tem como fi gura mais conhecida uma mdium de pseudnimo Val Eom, que publicou um livro tratando do que diz ser o signifi cado da reintegrao csmica da Terra e da volta de Jesus para o continente africano. (Val Eom, 2005).

    21 Alguns livros de Ellam tambm esto disponveis para cpia gratuita pela internet.22 O link do site Orbum http://www.orbum.org/. Acesso em 21 jul 2011.

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    Rajneve extraterrestres ensinamentos variados. Monteiro narra o epi-sdio de sua abduo em livro (Monteiro, 1995). Para a carreira de Chico Monteiro, ver Cruz (2007).

    H ainda o trabalho de Veronese (2006) sobre o culto religioso a ETs no Brasil. Esta pesquisadora efetuou, pioneiramente, pesquisa junto a Jan Val Ellam, em um grupo que o segue em So Paulo. A pesquisa de Carly Machado (2006) sobre o movimento raeliano tambm emblemtica, pois esse grupo, alm de cultuar extraterrestres, traz como uma de suas marcas etnogrfi cas o acionamento de noes do mbito da cincia e da fi co cientfi ca, incorporando-os ao seu sistema de crenas.

    Confi gurando-se como as bases sob as quais Ellam escreve, no prximo ponto deteremos-nos nas maneiras como Kardec23, e posteriormente Chico Xavier, Edgard Armond e Herclio Maes, abordam o aprimoramento universal de planetas e seres humanos, estes ltimos dispostos em raas.

    APRIMORAR-SE RACIALMENTE OU SER ELIMINADO:DO EXLIO CSMICO

    Para Kardec (1997), todos os orbes24 do universo so dispostos em categorias evolutivas e habitados por humanos dispostos em raas tambm distintas em padres evolutivos. No extremo inferior, encontram-se os orbes primitivos, sucedidos pelos de expiaes e de provas (a Terra um destes), mais adiante os de regenerao e enfi m os superiores, em que s existe o Bem. A sucesso e o aperfeioamento das raas ocorre em todo o universo

    23 Estes elementos constam em O Livro dos Espritos, no Evangelho Segundo o Espiritismo e em A Gnese. Vale aqui assinalar, junto com Stoll, que a participao de Kardec na constituio da doutrina muito mais extensa do que ele prprio sugere (Stoll, 2003 p. 48); nesse sentido, pode-se dizer que ele no apenas organiza as mensagens dos esp-ritos, como dito pelos adeptos da doutrina, mas tambm imprime sua marca pessoal nas interpretaes que faz sobre um conjunto de temas de ordem religiosa, buscando harmoniz-los com as descobertas cientfi cas de sua poca, sendo, assim, mais que apenas um codifi cador. (Stoll, 2003, p. 48).

    24 Orbe: categoria nativa esprita, signifi cando os planetas com sua populao de espritos encarnados e desencarnados (vivos e mortos).

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    (Kardec, 1997, p. 127), principalmente atravs da reforma ntima25. Porm, diz Kardec, que, frequentemente, um planeta progride muito e os indivduos atrasados podem dele ser retirados e enviados a outro, menos evoludo: o degredo planetrio de indivduos inadequados (Kardec, 1997, p. 123, p. 125). Devemos lembrar que nos escritos de Allan Kardec no h o delineamento de um mito de origem, assim como no h o relato de uma revelao divina a algum messias ou profeta (Stoll, 2003, p. 40). A cosmogonia formulada por Chico Xavier, a partir dos anos 1930, no Brasil.

    A articulao da educao emocional a uma limpeza planetria, tratada por Kardec, reaparece no espiritismo brasileiro no ano de 1939, quando da publicao de A Caminho da Luz, de Chico Xavier, autoria espiritual de Emmanuel. Atente-se que mesmo antes de Xavier, os romances espritas j traziam uma reapropriao mtica da histria (Aubre, 1994; Lewgoy, 2000); destacando perodos como o antigo Egito e a revoluo francesa, diferentes conjunturas so lidas luz da doutrina esprita. Xavier , porm, um divisor de guas, pois ele vai alm, apresentando aos espritas um mito de origem, que at ento sua religio no detinha. A partir de A Caminho da Luz, os espritas vo passar a citar Capela como o paraso perdido.

    Neste livro, lemos que Jesus o responsvel pela criao de nosso pla-neta e por semear aqui todas as formas de vida, em especial as raas dos primeiros humanoides (Xavier, 1999, p. 18). ento apresentado o sistema estelar de Capela, que havia chegado a grande desenvolvimento, trazendo, porm, como obstculo, a presena de alguns milhes de espritos rebeldes. Sendo necessrio o saneamento do planeta, estes seres so encaminhados Terra, no sem antes se reunirem com Jesus Cristo (Xavier, 1999, p. 35), que lhes explica o seu destino: por causa de seu crime do orgulho, sero exilados, sem data de retorno, na Terra, mundo primitivo, junto a raas ignorantes e atrasadas (os primeiros humanoides criados por Jesus). Seriam os mais evoludos deste planeta, e trabalhariam em seu adiantamento. Que jamais esqueceriam o paraso perdido nos fi rmamentos distantes; porm,

    25 Para a anlise da reforma ntima esprita, culto interno que objetiva a transformao da pessoa moral, Cavalcanti, 1983, p. 50-51.

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    diz Jesus, sentiriam a sua presena e o seu apoio cotidianos, e, alm disso, promete-lhes, teriam a sua vinda, no porvir.

    Xavier diz que os capelinos fundam as raas admicas (concernentes histria de Ado e Eva), sendo a raa ariana uma das mais fundamentais, pois teria lanado os marcos da civilizao europeia (Xavier, 1999, p. 26, 35-36). Os capelinos vo impulsionar o surgimento de todas as grandes civilizaes antigas; alguns deles, aps milnios, retornam a Capela; outros ainda vivem na Terra, e presenciaro o momento de transio deste planeta, no crepsculo de civilizao, que Xavier situa no sculo XX (Xavier, 1999).

    Em 1949, Edgard Armond escreve Exilados de Capela, em que conta mais detalhadamente a saga dos capelinos, de Xavier: ele recupera da angiologia crist a fi gura de Lcifer, que levado pelo orgulho a cair na Terra (Armond, 1995). Tambm prev que, em breve, aproximar-se- da Terra um planeta de aura etreo-astral trs mil e duzentas vezes maior que ela, causando a verticalizao do seu eixo e sugando daqui os indivduos inadequados para o bojo incomensurvel do passageiro descomunal; s um quarto dos habitantes da Terra os brandos e pacfi cos, nela permane-cero e sero os responsveis por construir uma nova civilizao (Armond, 1995, p. 55-56).

    Poucos anos depois da publicao desse livro de Armond, so publicados os primeiros livros de Herclio Maes, autoria espiritual de Ramats26. Maes

    26 Ramatis, Ramats, Rama-tys ou Swami Sri Rama-tys o nome atribudo pelos espritas a certo mestre espiritual hindu. Os mdiuns Herclio Maes, Amrica Paoliello Marques, Maria Margarida Liguori, Wagner Borges, Jan Val Ellam, Norberto Peixoto, Dalton Roque e Hur-Than de Shidha so alguns dos que afi rmam terem se comunicado com Ramats. A rejeio de parcela do movimento esprita brasileiro ao nome de Ramats, particularmente por parte da FEB, clara, sendo emblemticos, por exemplo, os escritos de J. Herculano Pires (1914-1979, escritor esprita paulista), que, publicando no extinto jornal Dirio de So Paulo, entre os anos de 1969 e 1970, uma coluna sob o pseudnimo de Irmo Saulo, classifi cava Ramats como esprito mistifi cador, um dos falsos profetas da erraticidade. A rejeio a Ramats mantm-se na atualidade, no meio esprita mais ligado FEB e s federaes espritas estaduais. Uma expresso desta a produo de Artur Ferreira (1997 e 2012), em que crtica a Ramats se d em nome de certo movi-mento pela pureza doutrinria.

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    retoma e desenvolve a profecia sobre o planeta higienizador: este levar consigo dois teros da humanidade, que emigrar por padres, indo constituir raas particulares no planeta intruso: as raas de fanticos, intransigentes, mercantilistas e orgulhosos, das doutrinas religiosas, sero reunidos em um grupo distinto. J as raas de avaros, desonestos, capciosos e astuciosos formaro outro grupo; da mesma forma, as raas de cruis, impassveis, malfeitores e semeadores de sofrimento; e tambm os luxuriosos, per-vertidos, desvirtuadores da moral costumeira e, fi nalmente, as raas de zombeteiros, mistifi cadores, malbaratadores de bens alheios. (Maes, 1996, p. 285-286). Maes assinala a importncia desta limpeza para que logre sucesso a segunda vinda do Cristo, o Arcanjo Planetrio da Terra, no terceiro mil-nio (Maes, 1996, p. 291), e enfatiza a centralidade da Grande Fraternidade Branca e seus mestres, como Saint-Germain27, a impulsionarem a ascenso de nosso planeta (Maes, 1996, p. 363).

    JAN VAL ELLAM E A REBELIO DE LCIFER

    Diferentes elementos presentes em Kardec, Xavier, Armond e Maes do fundamento narrativa de Ellam. Em sua trilogia28, ele retoma a construo kardequiana de que, para nosso planeta evoluir, alguns devem ser expulsos. Recupera tambm a ideia de Xavier de que isso j ocorreu h milhares de anos, em Capela, e reinstitui a fi gura de Lcifer, mencionada por Armond, para expor a sua verso da histria.

    27 Saint-Germain uma entidade cultuada no Grupo Atlan, fazendo parte do que os adeptos chamam de Panteo de mestres ascensos, do qual tambm faz parte Ramats, Jesus Cristo e o extraterrestre Ashtar Sheran. No Brasil, sua fi gura cultuada por alguns grupos componentes do movimento da nova era, como a Fraternidade dos Guardies da Chama (Summit Lighthouse do Brasil), o Movimento Eu Sou (I AM Activity), a Ordem Rosacruz e o Movimento da Conscincia Suprema Una, dentre outros.

    28 A histria da Rebelio de Lcifer consta nos trs primeiros livros de Ellam, que inti-tulam-se: Reintegrao csmica os anjos decados, Caminhos Espirituais Livre Arbtrio e Carma e Compromisso Filhos das Estrelas. Eles compem uma srie, intitulada Queda e Ascenso Espiritual, tambm chamada de trilogia de Ellam pelos nativos.

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    Conta ento que, h trs milhes de anos, a Terra era um planeta primi-tivo, mas prestes a deixar de s-lo, pois nela seria construda uma base, um portal de sada rumo ao espao exterior, o que transformaria o nosso planeta em lugar de confraternizao de vrias raas planetrias evoludas (Ellam, 1996, p. 19). A razo dessa construo era a posio estratgica da Terra, na esquina da galxia. Era este o Projeto Planeta Azul, que, infelizmente, no se realiza em virtude da irrupo de uma guerra galctica, a rebelio de Lcifer, que pe o projeto de construo da mencionada base a perder (Ellam, 1996, p. 26; Ellam, 1998, p. 17-32).

    Na histria dessa guerra, um dos personagens centrais o prprio mdium, que na poca se chamava Val Ellam, morava no planeta Zian, em Capela, e convivia diretamente com Jesus (Ellam, 1996, p. 36). Junto com outros setecentos e trinta e seis indivduos, chamados de famlia Val, Ellam efetuava um trabalho de codifi cao. Para tal, pilotava uma nave espacial, e quando ia visitar Jesus em Orbum, o planeta onde este morava, levava consigo o seu velho mestre codifi cador29 (Ellam, 1998, p. 37-38).

    quando uma doena acomete centenas de indivduos deste sistema, fazendo-os duvidar da existncia de Deus. Liderados por Yel Luzbel, Lcifer, do planeta AltLam, os infectados empreendem uma revolta armada contra Jav, esprito criador de nosso universo. Ocorre ento a guerra j mencio-nada, que dura milnios e envolve dois exrcitos: os de Jav e os de Lcifer; este ltimo derrotado e como castigo, seus membros so expulsos de Ca-pela e exilados no planeta Terra, onde aportam a bordo de discos voadores.

    Assinalamos o peculiar lugar onde aterrissam as hostes luciferinas: as naves trazendo o exrcito derrotado ancoram em uma base que leva o nome de AltLam, situada em Atlntida, na esquina do oceano atlntico (Ellam, 1998, p. 165). Neste ponto do relato, a histria repete-se: recordando o destino de glrias guardado para o planeta azul e h milnios desperdi-ado, cabe dessa vez aos extraterrestres aprisionados na Terra, ainda que contaminados pela doena do orgulho, aproveitarem a base atlante para levar o nosso planeta ascenso na hierarquia dos mundos. Porm, com a

    29 Atente-se que codifi cador um termo caro aos espritas, j que designa precisamente a fi gura de Allan Kardec.

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    derrocada do imprio atlante, o plano da ascenso mais uma vez fracassa, e esta base desaparece.

    Mas a narrativa de Ellam continua, at os nossos dias, e ento perce-bemos que algo da sina dourada anunciada para o planeta azul e depois para a base atlante permaneceu, enraizando-se em nova esquina e em mais uma promessa de felicidades no infi ndvel plano da ascenso. Na verdade, a mesma AltLam, renomeada, que ressurge, pois Ellam nos diz que muitos milnios depois, j em nossos dias, aparece, tambm na esquina do Atln-tico, a cidade de Natal, que traz as mesmas letras de AltLam, [...] num anagrama que esconde bem mais do que aparentes casualidades (Ellam, 1998, p. 169-170).

    Ellam ento conclui sua narrativa no aguardado retorno de Jesus Cristo ao planeta Terra, a bordo de um disco voador, em uma ajuda direta. A nave de Jesus aportar na cidade de Natal: este evento encerrar a Rebelio de Lcifer e deve assinalar a inaugurao da Terra enquanto mundo de regenerao.

    A ESQUINA DO POVO DE ALTLAM

    Devemos atentar para o leitor que o imaginrio natalense permeado pela ideia de esquina do atlntico, que traz uma das faces importantes de Natal, cidade cravada em lugar reconhecido como geografi camente especial pelos colonizadores portugueses, depois pelos holandeses e, fi nalmente, pelos militares brasileiros e norte-americanos que, em 1943, instalaram nela a Parnamirim Field, uma das grandes bases militares norte-americanas construdas fora dos Estados Unidos na poca da segunda guerra mundial, ou simplesmente a Base, como a chamaram os natalenses da poca.

    A chegada em Natal das tropas vindas dos EUA trouxe uma profunda transformao espacial para uma cidade, que s se comunicava com o resto do mundo pelo mar ou pela via frrea: foram os militares norte-americanos que, em seis meses, construram a primeira via expressa da cidade, a Parna-mirim Road, apelidada pelos natalenses de a pista. Ela tinha seu incio na Base de Parnamirim Field e seguia por vinte quilmetros at o porto, atravessando, comunicando e por fi m redesenhando toda a cidade. Na

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    manuteno da base, entrou mo de obra local: por 15 centavos de dlar ao dia, todo mundo queria trabalhar para os americanos, em servios de limpeza e de construo civil. (Lopes, 1997, p. 38-39). Tambm alguns dos produtos de primeira necessidade passaram a ser adquiridos localmente, movimentando e infl acionando o comrcio. Bailes foram organizados nos poucos clubes da cidade, surgiram cursos de ingls e, com a construo da Parnamirim Road, a classe mdia animara-se a comprar jeeps e caminhes, e com eles passeava pela pista. Para uma cidade que at ento detinha poucas ruas caladas, este era um desfi le indito (Lopes, 1997).

    Ao lado da euforia pelo dlar que circulava rapidamente pelo comrcio local e pelas boates recentemente abertas para atender ao fl uxo dos gringos, havia tambm o clima de guerra a assombrar a cidade que dez anos antes era uma provncia de apenas trs bairros (Cascudo, 1999; Onofre Jr., 2002). Os mais velhos falam em toque de recolher e blecautes, pois a base dos americanos era [...] lugar visado pelos nazistas.

    O trmino da guerra no ocasionou uma desocupao imediata da cidade pelos americanos, e a base de Parnamirim s foi entregue, defi niti-vamente, ao Brasil, em outubro de 1946, mais de um ano aps o fi m do confl ito, mas ento algo havia mudado. Como no conto sobre o afogado mais bonito do mundo o gringo morto jogado em uma praia miservel de uma aldeia miservel, que contrariando todas as expectativas acolhido pelas crianas, admirado pelas mulheres e ento velado e pranteado por todos, recebendo os funerais mais bonitos, de tal sorte que aps o cortejo fi nal onde seu corpo atirado s escarpas, a prpria cidade rebatizada em sua homenagem (Garca Mrquez, 1998), tambm a cidade de Natal, submersa durante trs formidveis anos na multido de gringos fardados no seria mais a mesma sem eles.

    No mito galctico que tentamos narrar, Ellam recupera dois elementos que remetem ao perodo da segunda guerra em Natal: a base militar e a relao com os estrangeiros. Desta maneira, ao tratar de Atlan, a base cons-truda em uma esquina para abrigar forasteiros envolvidos em uma guerra, Ellam toca nas peculiares lembranas dos natalenses sobre a sua prpria base, elemento central para a constituio da identidade potiguar, fazendo

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    Natal comparecer como mais um desdobramento do lugar de origem, a terra da promisso: a partir dela recontada a histria do minsculo e isolado planeta azul, na esquina da galxia, invadido por seres de outros mundos, que trouxeram progresso material e desenvolvimento tecnolgico, e tambm confl ito e desagregao.

    Neste sentido, o personagem que escolheu o ET perfeito, j que ele se situa em certa zona ambgua: por um lado, o extraterrestre a prpria alteridade, o estrangeiro por excelncia, o outro absoluto, pois ele no apenas traz uma cultura diferente, mas vem de outro planeta, veste outro corpo (Renard, 1984; 1987), e por outro lado na medida em que supomos que poderemos nos comunicar com ele, por entendermos que ele possivelmente teria racionalidade o ET tambm est no limite entre alteridade e identi-dade (Aranha Filho, 1990).

    a partir da ajuda direta destes estrangeiros que Ellam oferece sua ideia de expurgo planetrio: ele nos diz que a doena do orgulho trazida pelo exercito de Lcifer se transformou em endmica na Terra, no podendo mais ser curada, a no ser com a expulso dos doentes, processo que j se encontra em fase de concluso e levar dois teros de nossa populao para planetas inferiores (Ellam, 2000). J curados, porm, os setecentos e trinta e seis indivduos que faziam parte da famlia Val, e que so atualmente os seguidores de Ellam, iro ajudar neste expurgo.

    Assim, ao fi nal, a narrativa, que nos apresenta diferentes esquinas, conclui-se com o elogio de um povo, que traz em seus ombros a tarefa de conduzir a limpeza e a ascenso de um planeta a um destino triunfante. Nesta narrativa, carregada de elementos morais, a histria do exlio planetrio que se inicia com Kardec atualizada por Ellam a partir do povo de AltLam.

    EVOLUO PLANETRIA E APRIMORAMENTO RACIAL NO ESPIRITISMO

    H certas marcas ideolgicas que possibilitam os enunciados se articula-rem da maneira como os vimos em Kardec, Xavier e Ellam (Pcheux, 1990;

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    Bakhtin, 1997). As ideias de evoluo e de aprimoramento racial e moral do espiritismo, poca de Kardec, ancoram-se em certo contexto social e ideolgico, o do surgimento da noo de raa em suas capacidades fsicas e morais no mbito da cincia (Schwarcz, 2001). Kardec incorpora em seus escritos, que queriam se dizer cientfi cos, essa ideia: ampliando a noo de evoluo para todo o universo, tematiza o caminhar dos entes, vida aps vida, no processo de humanizao, e nos fala de um aperfeioamento moral condicionado pelas raas, das mais simples s mais superiores.

    H aqui tambm a categoria nativa reencarnao, que traz um segun-do determinismo: o indivduo, alm de encarnar em corpos racializados, ainda traz um karma, adquirido em outras vidas, a lhe constranger as aes, o que faz com que a atualidade seja uma resultante diacrnica de uma sequncia narrativa de pagamentos de dvidas e provaes escolhidas (Lewgoy, 2000), aquilo que Lewgoy (2000) denomina de sistema da dvida. Porm, a noo esprita de livre-arbtrio parece, a uma primeira vista, relativizar a rigidez das leis evolutivas raciais e do karma, a partir da categoria nativa reforma ntima. Pode-se dizer que h, pois, no espiri-tismo, desde Kardec, esta convivncia contraditria entre determinismo e livre-arbtrio (Cavalcanti, 1983).

    No espiritismo brasileiro, a contradio mantm-se, e a discusso sobre raas tambm, mas se o iderio cientfi co que d fundamento ao espiritismo francs o da eugenia, ao chegar ao Brasil, estas ideias parecem se confron-tar com o problema nacional do pas de mestios. Assim, na poca em que surge o livro A Caminho da Luz, de Chico Xavier, a questo como sustentar uma evoluo espiritual, em que a melhoria das raas uma das condies, num pas tido como degenerado racialmente, como o Brasil, pois as marcas da mistura racial e das epidemias que grassavam aqui se remetiam reciprocamente na mentalidade europeia afi nal, doena e raa estavam apreendidas a partir de uma mesma matriz (Costa, 1999).

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    A sada do espiritismo, mais uma vez s voltas com o determinismo racial, que, se aceito in totum impossibilitaria a evoluo no Brasil30, foi focar no melhoramento do indivduo, como uma espcie de tcnica de si (Foucault, 1994), uma disciplina que, se bem internalizada, poderia subjugar a fora da carne. Dentre as vrias possibilidades terico/prticas que j estavam em andamento no pas, no meio cientfi co da poca, os espritas, assim, afi nam-se mais facilmente ao eugenismo neolamarckista31, que fundava no meio os caracteres adquiridos e passados de gerao a gerao, enfatizando intervenes externas e pouco genticas no processo de evoluir, a partir da ideia de reforma ntima.

    J presente em Kardec, no modelo de Chico Xavier, a reforma ntima mantm-se, aprimorado pelo circuito de intercesso e graa (Lewgoy, 2000), absorvido do catolicismo popular por Xavier, e fazendo com que a reforma ntima neste ltimo se diferencie da de Kardec (Lewgoy, 2000). Ora, em Kardec, opera o sistema da dvida: a reforma ntima efetuada atravs de sacrifcios do indivduo para pagar os seus dbitos. O pagamento se d atravs da prtica da caridade e do aperfeioamento moral etc. J na reforma ntima em Chico Xavier, o indivduo em evoluo pode ser ajudado por outrem: terceiros, bons ou maus, que intervm para o ajudar a evoluir mais rpido. Os amigos intercedem pelos entes queridos mais desafortu-nados, suavizando suas provas, e os inimigos intercedem ao nos ensinar o valor da pacincia e da humildade. o que Lewgoy chama de circuito de intercesso e graa. Em Chico Xavier, o sistema da dvida convive com o sistema da ddiva, e em diferentes situaes este ltimo engloba o primeiro (Lewgoy, 2000).

    30 Lembremos de que faz parte da narrativa esprita, como j demonstramos, o exlio. Este elemento tambm faz parte da narrativa de formao de nosso Pas, na ideia de que os que aqui vieram colonizar eram a escria de marginais do velho mundo portugus; sem contar com a dispora africana, que se em determinado momento foi a fora braal para enriquecer a elite portuguesa, tornou-se tambm um dos principais problemas para a identidade nacional.

    31 Para o neolamarckismo, Stepan (2005) e Stefano (2004).

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    Lembramos que o entendimento da cincia eugnica que se faz no Brasil passa pela regenerao do indivduo atravs da ao moralizadora. Ora, sob esta lgica que atua o circuito de intercesso e graa do modelo de espiritismo de Chico Xavier, j que a ajuda externa capaz de mitigar provas e suavizar dores, e, alm disso, tambm aciona o arrependimento e a autocorreo do indivduo, sendo, assim, efi caz para promover a pessoa esprita. Desta maneira que o circuito de intercesso e graa de Chico Xavier pode ser compreendido a partir da lgica mais geral do modelo eugnico, que operou no Brasil durante o sculo XX.

    O aprimoramento da humanidade permanece uma preocupao tambm nos discursos de Ellam, em seu entendimento sobre o expurgo e de como esse se dar: notadamente, no apenas atravs de uma reforma moral, mas tambm atravs de uma interveno das foras do bem. Assim, em sua verso da histria, Jan Val Ellam mantm a centralidade da reforma ntima de Kardec, quando salienta a necessidade de os humanos regenerarem-se atravs de um autoburilamento, e mantm tambm o circuito de inter-cesso e graa de Chico Xavier, incrementando este ltimo, porm atravs da categoria nativa ajuda direta. A chegada das naves, que concluir a expulso dos inadequados, este elemento.

    O PILOTO E AS ARMADAS CELESTIAIS: CONCLUINDO O APRIMORAMENTO RACIAL DA TERRA

    Para esclarecer a peculiar maneira como Ellam descreve o seu fi m dos tempos, retornamos ao incio do texto: o leitor deve recordar a recomen-dao de um dos membros do Atlan para que nos registrssemos em certa comunidade virtual. Este site apresenta alguns personagens importantes para o expurgo: extraterrestres membros da Grande Fraternidade Branca, mencionada por Armond e retomada por um conjunto de livros lidos pelos espritas32. Tambm denominada de guias no Comando, Armadas Celestiais

    32 Dentre eles, Romo e Romo (2002), Orlovas (1999), Bourel-Dansot (2006), Tamburini (2007) e Rosa (1998).

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    ou de Comando Galctico Interestelar, esta fraternidade uma espcie de governo oculto da Terra33 e tem como lder o Comandante Ashtar Sheran, que junto a outros comandantes e generais estelares, em geral homens de tez clara e cabelos longos e loiros, apresenta-se aos mdiuns trajando vestes e emblemas de hierarquia militar.

    possvel pensar que estas entidades espirituais no apenas se ajustam a certo ideal de pureza racial, mas tambm a um ethos esprita que articula as noes de obedincia, retido e ajuste moral. Sob um discurso nacionalista, enfatizando a ptria brasileira, a literatura nativa destaca a ajuda desta ar-mada na expulso dos inadequados, j que no h mais alternativas para o melhoramento dos terrqueos, a no ser a interveno saneadora dos mestres.

    Ora, os escritos de Ellam so atravessados por essa noo, presente em outros movimentos milenaristas que cultuam ETs: a da interveno saneadora desde fora do planeta Terra por parte dos verdadeiros governantes do pla-neta (Grunschloss, 2002), caracterizando uma espcie de golpe de Estado inevitvel, que deve ser dado em breve um golpe que, alis, tido como necessrio e legtimo. essa noo que parece permear a profecia de Ellam.

    H, porm, outros elementos a examinar. Devemos lembrar que nos-so mdium escreve seu primeiro livro nos ltimos anos do sculo XX. O contexto em que ele opera se diferencia do de Kardec e do livro A Caminho da Luz, de Xavier. Ellam encontra-se na confl uncia de outras narrativas, ao lado da narrativa esprita: um exemplo a fi co cientfi ca; lembramos, alis, ao leitor, que em sua trilogia Ellam pilotava uma nave espacial, como assim faz Atlan, o arconiano, personagem da srie Perry Rhodan. Nesta srie, publicada no Brasil entre 1966 e 2001, fi guram heris nascidos em um tempo anterior ao tempo das primeiras civilizaes terrestres. Particu-larmente em Atlan e rcon, ttulo de um dos ciclos da srie, aparece Atlan, o extraterrestre que mais infl uenciou a histria da Terra.

    Alguns elementos etnogrfi cos ainda sugerem uma recuperao por Ellam de traos esparsos da astrofsica, em sua obra e nas marcas que imprime em sua imagem. Faz parte destes indcios o seu prprio pseudnimo, possvel

    33 Para o governo oculto da Terra, ver Rosa (1998).

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    aluso ao fsico americano James Van Allen. Tambm emblemtica, em sua histria sobre o projeto planeta azul, a referncia noo de plido ponto azul, ttulo de livro do popular astrnomo Karl Sagan.

    CONSIDERAES FINAIS

    Importa refl etir que, se a narrativa de Kardec sobre exlio faz sentido para a cincia eugnica de sua poca, e a de Xavier atualiza o tema da eugenia em uma composio com a cultura catlica brasileira, Ellam j escreve em um peculiar momento no processo de modernizao de nosso Pas e do mundo: um mundo dito ps-raas, mas onde os confl itos raciais so recorrentes; que atravessou a guerra fria, mas que assiste a corridas armamentistas e ameaas atmicas; que, via tecnologias construdas para a guerra, encurtou o tempo, mas onde misria, fome e violncia continuam fortemente a assolar a humanidade.

    Por outro lado, Ellam incrementa o veio moralizante muito bem aceito pelos espritas com elementos para o seu pblico em especial, simpatizante de um espiritualismo de veio ufolgico. Assim, se mostrar esprita, uflogo e admirador de astrofsica, alm de trazer nomes marcantes da cultura pop, mais precisamente da fi co cientfi ca, para sua literatura uma combinao mpar, que desponta em sua carreira e que talvez seja seu diferencial, frente a tantos outros uflogos espiritualistas que se tm na atualidade.

    Ora, em relao s misturas frequentemente encontradas no mbito do espiritismo, Lewgoy (2006) chama ateno para o fato de que margem da representao de unidade nos discursos ofi ciais e falas do espiritismo institucional, as singularidades etnogrfi cas apontam para atravessamentos e sincretismos aparentemente fora de ordem (Lewgoy, 2006, p. 154). Para Lewgoy, o que faz ter uma ideia, desde longe, de uma coeso de crenas e ritos no espiritismo o cultivo, pelo espiritismo institucional, de uma identidade forte, que funciona como um vetor centrpeto, em oposio a outro modelo identitrio mais aberto, poroso, sincrtico e subjetivante. A incidncia do que ele denomina poderes centrais possibilita a unifi cao da Babel (Lewgoy, 2006, p. 154).

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    neste caminho que Ellam recupera elementos de diversas ordens, e numa mistura algo sincrtica ele se aproxima tanto do espiritismo mais ortodoxo (Kardec, Chico Xavier), quanto de vertentes espritas mais hete-rodoxas (Armond, Maes), assim como da ufologia e da fi co cientfi ca. No obstante, o mdium no traz uma proposta original ao ponto de ofe-recer uma religiosidade de nova ordem34: a mistura que realiza, faz-se e se completa no espiritismo; esta doutrina que engloba todo o resto. Assim que nos parece ser importante que ele no negue ao ser apontado como a reencarnao de Allan Kardec.

    Ellam consegue revisitar o aperfeioamento dos seres e a expulso dos inadequados de Kardec e Xavier, incrementando-o com a esquina do povo de AltLam, e por fi m situar de forma especfi ca os grupos que o seguem; fala para os natalenses sobre sua histria com os americanos, para os uflogos sobre os extraterrestres e para os espritas sobre ser Allan Kardec e tambm sobre ser um antigo piloto de nave espacial que aprendeu h muitos milnios a fazer codifi cao. Todos estes elementos juntam-se e sinalizam: Ellam ex-pressa anseios que so coletivos, e nesse sentido que sua verso da narrativa criada por Chico Xavier no deve ser percebida como a idiossincrasia de um grupo. Ele responde a anseios oriundos do prprio movimento esprita brasileiro: contedos como os apresentados em seus livros j haviam sido atualizados por outros mdiuns no Brasil, antes mesmo que ele escrevesse a sua primeira linha.

    Talvez a distino e o apelo que Ellam consegue ter residam justamente no fato de ele conseguir indigienizar os panoramas de crenas e imagens em fl uxo (Appadurai, 1990), ao trazer uma histria universal para a esquina do Brasil e ao contemplar e misturar aprimoramento racial e moral com ufologia, astrofsica, fi co cientfi ca e espiritismo, para um pblico vido desses links. Neste sentido, ele reaviva memrias e mobiliza pessoas, expressando, como profeta, anseios emocionais, mas tambm cognitivos e

    34 O Grupo Atlan no se identifi ca enquanto grupo religioso, e sim um grupo de estudo que legitima o discurso esprita de que este estudo atravessado por elementos reli-giosos, fi losfi cos e cientfi cos.

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    volitivos do universo esprita brasileiro, particularmente para os espritas desregulados das federaes.

    de se pensar, ao fi m e ao cabo, que talvez o espiritismo carea de novos heris, performando novas estruturas de afeto. Talvez a curiosidade crist de Andr Luiz, o reprter do alm, ou a abnegao de Bezerra de Menezes, o mdico dos pobres, esses que escreveram pela mo de Chico Xavier, o mdium mineiro, chamado de homem corao, no mais res-pondam completamente aos anseios que povoam o movimento esprita que se faz no Brasil atualmente. Talvez seja necessrio um piloto de guerra, navegando pelo espao em um disco voador, e antigo seguidor de Lcifer, para responder s mesmas perguntas de outra forma. Melhor dizendo, para falar do ansiado expurgo com o qual sonham os espritas de outra maneira.

    REFERNCIAS

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