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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO MESTRE A ESTIMULAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM EM PORTADORES DE DEFICIÊNCIA MENTAL Patricia Sant’Anna Teixeira Lima Rio de Janeiro, fevereiro de 2002. UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A ESTIMULAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO

DA LINGUAGEM EM PORTADORES

DE DEFICIÊNCIA MENTAL

Patricia Sant’Anna Teixeira Lima

Rio de Janeiro, fevereiro de 2002.

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

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PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A ESTIMULAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO

DA LINGUAGEM EM PORTADORES

DE DEFICIÊNCIA MENTAL

Patricia Sant’Anna Teixeira Lima

Trabalho monográfico apresentado

como requisito parcial de Especialista

em Psicopedagogia.

Orientadora : Yasmin Maria R. Madeira da Costa

Rio de Janeiro, fevereiro de 2002.

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Agradeço à Deus por iluminar meus

pensamentos na elaboração dessa pesquisa e,

à minha mãe, irmãos e amigos pelo grande

e incessante incentivo.

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Dedico o presente trabalho a todos

os portadores de necessidades especiais,

personagens principais de meus estudos

e reflexões.

À memória de meu pai.

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“Os erros são apenas acidentes de percurso, uma

pedra na qual se tropeça, um muro que se pode evitar,

uma árvore caída que se desloca ou que se contorna ;

no entanto a caminhada continua, estimulada até pelas

dificuldades que superamos ou ultrapassamos.”

( Freinet )

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RESUMO

A linguagem, comunicação e expressão de idéias e sentimentos, permite a compreensão

e interação com o meio em que nos inserimos. Por conseguinte, qualquer fator que interfere

e/ou impede seu desenvolvimento irá provocar reflexos na socialização do indivíduo. Tal

aspecto pode ser observado nos portadores de necessidades especiais, principalmente nos

quadros de deficiência mental onde, de acordo com o nível de comprometimento, os prejuízos

são grandes.

Mesmo em face de algumas limitações, a estimulação da linguagem e a obtenção de

ganhos nesse sentido são possíveis e, nesse processo várias pessoas estão envolvidas. O estudo

de teorias, as experiências realizadas e vivenciadas vêm comprovar essa possibilidade, que irá

permitir uma vida melhor e mais feliz aos portadores de deficiência mental.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.....................................................................................................................7

CAPÍTULO I - A LINGUAGEM E SEU DESENVOLVIMENTO...................9

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1. Linguagem, pensamento e

comunicação.................................................................9

2. Abordagens

Teóricas....................................................................................................11

3. Desenvolvimento da

linguagem.................................................................................14

CAPÍTULO II - DEFICIÊNCIA MENTAL.............................................................16

1. O portador de deficiência

mental.............................................................................16

2. A linguagem do portador de deficiência

mental.................................................22

CAPÍTULO III - LINGUAGEM E INCLUSÃO SOCIAL.................................25

CAPITULO IV - ESTIMULAÇÃO DA LINGUAGEM......................................30

1.

Família................................................................................................................................31

2.

Escola..................................................................................................................................33

3. Programas

ocupacionais..............................................................................................35

4.

Tecnologia.........................................................................................................................37

CONCLUSÃO.....................................................................................................................40

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................42

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INTRODUÇÃO

Quando se faz referência ao desenvolvimento humano, ação, linguagem e aprendizagem

são de suma importância para os processos de apropriação de experiências e de construção de

estruturas mentais. No entanto, limitações que o indivíduo possa apresentar, quando portador

de alguma deficiência, tornam-se barreiras para o seu aprendizado. Neste caso, a estimulação

representa uma forma de neutralizar essas barreiras.

A presente pesquisa discorre sobre o processo de desenvolvimento da linguagem no caso

dos portadores de deficiência mental e a estimulação do mesmo.

Com a realização do estágio e a participação no PROJETO CONVIVER - voltado para a

inclusão de portadores de necessidades especiais na sociedade - assim como com os

conhecimentos adquiridos na área da Fonoaudiologia, surgiu um grande interesse acerca da

aquisição da linguagem por estes indivíduos, mais especificamente, nos quadros de deficiência

mental.

Na atualidade, onde já não é mais possível desconhecer o indivíduo especial como um

ser humano que pensa, sente e se comunica, a linguagem, principalmente oral, torna-se

importante forma de comunicação, que permite sua aproximação com o mundo e a expressão

do que dele percebe. Sendo assim, buscar formas de estimular tal aspecto torna-se fundamental

na inclusão do ser humano no meio em que vive.

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Durante o desenvolvimento do tema busca-se provar que várias e possíveis são as

formas de estimulação da linguagem nos portadores de deficiência, diante dos diversos níveis

de comprometimento.

A aquisição e o desenvolvimento da linguagem, nos casos de deficiência mental, são

vistos de maneira bastante complexa, onde distinguem-se meios e pessoal envolvidos em sua

estimulação.

Baseando-se em diversos estudos e teóricos, principalmente ao fazer referência à

aquisição e à evolução da linguagem, o trabalho destaca as teorias formuladas por Vygotsky,

fundamentais para que se compreenda a importância da linguagem como ferramenta de

construção da própria identidade, cidadania e de inserção no meio. Nesse aspecto, a pesquisa

bibliográfica indica a metodologia utilizada, constituindo a fundamentação do trabalho.

No Capítulo I estabeleceu-se o conceito de linguagem, discorrendo-se acerca de seu

desenvolvimento a partir de parâmetros de normalidade.

O Capítulo II veio apresentar o portador de deficiência mental, esclarecendo quanto às

causas, diagnóstico e intervenção, dentre outros aspectos, bem como destacando características

de sua linguagem.

No Capítulo III foram formuladas algumas considerações sobre a importância da

linguagem no processo de inclusão do portador de deficiência mental em nossa sociedade.

Finalmente, no Capítulo IV foram apontadas formas de estimulação da linguagem,

ressaltando-se a participação da família, da escola, de profissionais especializados e da

informática para que o processo de desenvolvimento seja realmente possível.

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CAPÍTULO I - A LINGUAGEM E SEU DESENVOLVIMENTO

1. Linguagem, pensamento e comunicação

Desde os tempos mais remotos, o ser humano utiliza inúmeras formas de se comunicar

com os seus semelhantes, expressando desse modo seus pensamentos e desejos. Tais

instrumentos de comunicação constituem e definem o termo linguagem, podendo compreender

gestos, expressões faciais, fala e escrita.

A linguagem é a responsável pela expressão do pensamento do indivíduo, estando

intimamente ligada a ela, revelando suas idéias, emoções, raciocínio, etc., trazendo à consciência

o conhecimento através de signos e significados. Tal aspecto possibilitará a compreensão e a

interação com o meio em que se está inserido.

Tendo como elemento fundamental a palavra, que designa coisas, características, ações

e relações, a linguagem humana constitui-se de um sistema codificado, cujo objetivo maior é

o de transmitir informação e experiências vivenciadas pelo sujeito. A partir deste instrumento

ele constrói formas superiores de comportamento, entrando em contato com a natureza e com

a sociedade, com possibilidades de transformá-la.

Sendo um componente essencial da linguagem, a palavra também o é em relação à

fala, sendo o meio comunicativo mais utilizado na interação com o mundo, pois carrega e

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transmite amplos significados.

Estudada como meio de compreensão do homem, a linguagem é de significação

complexa, pois pode ser encontrada : num gesto diferente, na melodia de uma música, na

entonação de uma fala, no silêncio de ações e pensamentos, etc. . Cada momento descrito revela

seu significado distinto, de acordo com o falante, o receptor e o entendimento de mundo que cada

um possui.

Possibilitando-nos seu uso sob diversas formas, a linguagem não apresenta um caráter

fixo, pois encontra-se em constante mudança, visto que alguns termos se renovam, assim como

outros tornam-se desgastados.

“A linguagem é um meio de comunicação, mas também um dos principais instrumentos de desenvolvimento dos processos cognitivos do ser humano.”

( MAZZAFERA & SORDI, 2000 )

Não devendo ser percebida, unicamente, como mera forma de comunicação e expressão

de idéias, a linguagem é elemento precursos do desenvolvimento cognitivo da criança. E é de

acordo com este desenvolvimento e com as experiências de vida, que as palavras irão assumir

diferentes significações. Quando fala e atividade prática entram em convergência é que nos

vemos diante do momento de maior significado no curso de desenvolvimento intelectual : a

consolidação do desenvolvimento infantil.

Envolvendo a utilização de sistemas de símbolos e funcionando de maneira integrada,

a linguagem divide-se em :

. Linguagem Interior ou Integrativa - usada pelo pensamento, memória e imaginação;

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. Linguagem Receptiva - usada visando o entendimento de idéias expressas pelo outro, com

participação das vias sensoriais receptivas; e

. Linguagem Expressiva - usada para comunicação de nossas idéias.

2. Abordagens Teóricas

Logo após o seu nascimento, a criança inicia o processo de desenvolvimento de sua

linguagem. No entanto, não devem ser esquecidas as estimulações ocorridas ao longo da vida

intra-uterina, tais como os ruídos corporais da mãe e do meio ambiente externo, que também

influenciam nos aspectos biológico, emocional e cognitivo.

Quando nasce, a criança terá possibilidade de compreender o mundo e expressar as

idéias que permitam a sua integração com o mesmo.

Vários foram os estudos realizados acerca do processo de aquisição e evolução da

linguagem, assim como dos fatores que influenciam tal processo. Neste campo, surgiram certas

divergências quanto às idéias preconizadas por alguns autores, onde podem ser destacados os

seguintes enfoques :

. SKINNER (1957 ) - desenvolvimento lingüístico da criança devido a um condicionamento dos

estímulos recebidos, sendo comparado à habilidade de andar, beber água, etc.;

. PIAGET ( 1962 ) - surgimento da linguagem como fruto de operações e estruturas cognitivas

construídas pela criança através de interações sensório-motoras com o mundo, onde a imitação

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ativa das próprias ações e das ações dos outros é de extrema importância;

. CHOMSKY ( 1966 ) - desenvolvimento da linguagem acontece a partir de capacidades inatas,

inerentes a todos os indivíduos, necessitando apenas da estimulação do meio, que ativará um

potencial de conhecimento já existente;

. RAPPAPORT, FIORI & DAVIS ( 1981 ) - existência de condições desejáveis como

fundamentais no processo de desenvolvimento e domínio da linguagem, para que o ser humano

possa direcionar sua vida e a da comunidade em que se encontra;

. VYGOTSKY ( 1984 ) - ampliação gradativa do vocabulário infantil, em consonância com o

desenvolvimento cognitivo, baseada na formação de conceitos, na elaboração de significados e

no desenvolvimento das percepções, a partir do amadurecimento e da experimentação pela

criança. A fala facilita a manipulação de objetos, além de controlar o comportamento da criança,

fazendo com que adquira a capacidade de ser sujeito e objeto de seu próprio comportamento;

. POETZSCHER ( 1994 ) - presença da linguagem em qualquer momento da vida do ser humano,

pois sem ela a sociedade seria impossível; através da Língua indivíduo e sociedade se

determinam;

. GERALDI ( 1995 ) - a atividade da linguagem se constrói e reconstrói na interação com os

outros, sendo um trabalho social e histórico de todos, num processo que se altera de geração para

geração.

Embora os autores mencionados anteriormente apresentem divergências significativas

quanto ao elemento deflagrador e ao decorrer do processo de desenvolvimento da linguagem, é

inegável a importância do biológico e do meio influenciando o mesmo.

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Partindo para um outro campo que é o da Filosofia, podemos perceber que também os

filósofos tiveram a linguagem como foco de seu discurso, visto que para eles só era possível

compreender a essência do homem através de sua linguagem. Um deles, foi PLATÃO, defensor

do homem como um ser sociável, que enxergava a linguagem não só como o que o sujeito quer

dizer, mas também como expressão de suas idéias e, acima de tudo, de sua realidade espiritual.

Já DESCARTES, considerava a filosofia como estudo da sabedoria, que irá conduzir a

vida do homem e só pode ser adquirida e expressa através da linguagem.

Na atualidade, os filósofos continuam estudando a linguagem como meio de

compreensão do homem, sendo localizada entre dois níveis diferentes de organização, entre corpo

e pensamento ou entre corpo e mente. É possível pensar algo que não possamos dizer, mas de

modo algum podemos dizer algo que não podemos pensar. Isso não significa dizer que falamos

tudo que pensamos, mas sim que o falar necessita de um pensamento prévio. Embora observemos

um objeto com os olhos, fixamos suas características pela mente, relacionando-as com as

emoções, experiências e sentimentos, elaboramos com o pensamento e expressamos a idéia pela

fala.

Uma das funções da filosofia é dispor regras nos jogos lingüísticos, determinando as

necessidades humanas que fazem o sujeito utilizá-los para o ambiente. Estes jogos compreendem

o uso das palavras na vida e no contexto de instituições e comportamentos humanos.

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3. Desenvolvimento da linguagem

O desenvolvimento da linguagem é possível à medida em que o indivíduo

recebe

estimulação do meio, levando-se em conta, ainda, suas capacidades neurológicas, físicas e

emocionais. Tal desenvolvimento pode sofrer a influência de inúmeros fatores.

Durante os três primeiros meses de vida, o repertório de comportamentos vocais da

criança ainda é muito limitado e faz-se devido às suas necessidades fisiológicas. São eles : o

choro e os sons de conforto.

O choro acontece de várias maneiras, podendo significar dor, raiva, fome, etc. .

Os sons de conforto tornam-se presentes, geralmente, após a alimentação, a troca de

fraldas ou outra situação que represente alívio de um desconforto.

Ainda nesta fase, denominada de Fase Pré-lingüística, aos três meses surge o balbucio,

considerado um som universal, pois é produzido sem a interferência da discriminação auditiva,

e o som independe do som da língua materna. É um período compartilhado por ouvintes e

não-ouvintes.

Até os cinco ou seis meses, o balbucio não tem muita relação com a língua do bebê,

sendo os sons emitidos por puro prazer. No sexto mês, no entanto, a audição começa a interferir

no desenvolvimento da linguagem, onde a criança que é ouvinte repete os padrões que ouve. Ela

brinca, repete os sons e seus músculos vocais, respiratórios, articulatórios e outros, começam a

ser regulados para a função fonológica específica. Caracteriza-se o período de vocalização.

Quando a criança alcança um ano de idade, já pode produzir a primeira palavra com

intenção de se comunicar. Nesta etapa, denominada Monossilábico Intencional, as palavras

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representam uma frase ou palavra, dependendo do contexto. Ela também utilizará gestos,

melhorando a ligação dos objetos com a sílaba falada e apontada. Já existe maior domínio da

visão e a manipulação de objetos. Após essa fase, a criança adquire a capacidade de combinar

sílabas, mesmo sem significação no vocabulário do adulto.

Por volta dos doze aos dezoito meses, a criança torna-se mais independente, iniciando

sua exploração do mundo, pois já consegue andar. Utiliza uma palavra que representará uma

frase. Esta etapa é denominada de Palavra-frase.

Em seguida, acontece a etapa da Palavra Justaposta, onde a criança junta palavras

originadas de sons e que, geralmente, possuem correspondência entre si. É uma linguagem

utilizada com gestos e manipulação, que traduz o desejo da criança. Como exemplo : “dáua”

( quer dizer : dá água ).

A criança contará com um vocabulário de cerca de cinqüenta palavras, quando

alcançar um ano e meio a dois anos. Muitas delas já começam a juntar as palavras formando

“Frases simples”. Ocorre um maior desenvolvimento da gramática, como também surgem

fonemas mais complexos ( /f/, /v/, /s/, /z/, /x/ ). Mesmo assim, o pensamento ainda é concreto,

sendo necessário que o objeto esteja presente para que se possa atuar sobre ele.

Terá sido adquirido quase todo o repertório da gramática dos adultos, exceto alguns

detalhes a serem posteriormente aprendidos, quando a criança estiver preparada para ingressar

no jardim de infância.

Apenas aos dez ou doze anos de idade, a criança terá um maior domínio da linguagem,

aprimorando-a com o passar do tempo, compreendendo, realizando transformações complexas

e fazendo outras estruturações.

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CAPÍTULO II - DEFICIÊNCIA MENTAL

1. O portador de deficiência mental

É denominado portador de necessidades especiais o indivíduo que apresenta

deficiências em caráter permanente, isto é, perdas ou reduções de estrutura ou função anatômica,

fisiológica, psicológica ou mental, que provocam limitações para determinadas atividades, dentro

de um parâmetro de normalidade para o ser humano. Desta maneira, comprometem sua

capacidade de inserção social, havendo necessidade de equipamentos, adaptações e outros

recursos especiais, objetivando receber ou transmitir informações inerentes ao desempenho da

função a ser exercida.

Fazendo parte deste grande grupo, sendo constante alvo do descaso, do preconceito e

da discriminação, bem como encontrando dificuldades para participar da dinâmica social,

situamos o portador de deficiência mental.

De acordo com a Associação Americana de Deficiência Mental ( AAMR ), é

considerado deficiente mental o indivíduo que apresenta um estado de redução notável do

funcionamento intelectual significativamente inferior à media, originado no período do

desenvolvimento infantil, caracterizando-se por limitações substanciais em aspectos do

funcionamento adaptativo, tais como : comunicação, cuidados pessoais, competências

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domésticas, habilidades sociais, autonomia, saúde e segurança, aptidões escolares, lazer e

trabalho.

É interessante estabelecer uma distinção entre deficiente mental e doente mental. O

deficiente mental apresenta problemas de comportamento, mas sua deficiência não foi causada

por eles. No caso do doente mental, temos o rompimento com sua estrutura de vida devido a uma

doença de ordem psíquica, como psicopatia e esquizofrenia.

Durante muito tempo, baseada unicamente num sistema de rótulos elaborados a partir

de testes psicométricos, a deficiência mental também passou a ser encarada como uma defasagem

cognitiva em relação às respostas esperadas dentro de uma faixa etária e de uma realidade sócio-

cultural, levando-se em conta algumas teorias psicogenéticas.

Numa visão mais atualizada, VERDUGO ( 1994 ) destaca que uma pessoa com

deficiência mental é assim diagnosticada por necessitar de apoios limitados em habilidades de

comunicação e habilidades funcionais, enfatizando-se suas potencialidades de crescimento e

como pessoa. Este último aspecto é de extrema importância, pois centraliza-se no indivíduo e na

idéia de que este faz parte da comunidade, como os demais, devendo ter asseguradas suas

oportunidades e autonomia. Ao determinar a importância do apoio a todas as pessoas que dele

necessitem, fazendo com que conquistem independência/interdependência, produtividade e

integração na comunidade, preconiza-se e aplica-se a noção de “rejeição zero”.

Como a existência de limitações não ocorre em todas as áreas das habilidades

adaptativas, o portador de deficiência mental necessitará de apoio apenas nas áreas afetadas,o

que poderá ser determinado através de avaliações clínicas, nunca se fechando num único

diagnóstico. Só a partir daí poderá ser adotada uma adequada intervenção.

Para que se tenha uma melhor compreensão do quadro da deficiência mental e das

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implicações na vida daquele que é seu portador, cabe realizar alguns esclarecimentos relativos

à : causas e fatores de risco, tipos, dados estatísticos, identificação, diagnóstico, prognóstico e

intervenção.

Para que se tenha uma melhor compreensão do quadro da deficiência mental e das

implicações na vida daquele que é seu portador, cabe realizar alguns esclarecimentos relativos

à : causas e fatores de risco, tipos, dados estatísticos, identificação, diagnóstico, prognóstico e

intervenção.

As causas e fatores de risco são inúmeros e, muitas vezes, não é possível definir com

clareza a etiologia da deficiência mental. Sabe-se, no entanto, que a maior parte das causas

acontece durante a gestação. Podem ser divididas em :

. Pré-natais - Aquelas que incidem da concepção ao trabalho de parto, tais como : desnutrição

materna, má assistência à gestante, doenças infecciosas ( sífilis, rubéola, toxoplasmose ), tóxicos

( álcool, drogas, medicamentos, poluição ambiental, tabagismo ) e aspectos genéticos ( alterações

cromossômicas numéricas ou estruturais e alterações gênicas ).

. Periantos - Aquelas que incidem do trabalho de parto até o primeiro mês de vida do bebê,

compreendendo : má assistência ao parto e traumas, hipóxia ou anóxia ( oxigenação cerebral

insuficiente ), prematuridade e baixo peso e icterícia grave do recém nascido.

. Pós-natais - Aquelas que incidem do primeiro mês de vida até o final da adolescência do

indivíduo, debilitando-o de forma total ou causando desenvolvimento retardado de uma série de

suas potencialidades. Podem ser : desnutrição, desidratação grave, carência de estimulação

global, infecções ( meningoencefalites, sarampo, etc. ), intoxicações exógenas ( envenenamento

por remédios, inseticidas e produtos químicos ), infestações ( neurocisticircose pela larva da

Taenia solium ) e acidentes ( trânsito, afogamento, choque elétrico, asfixia, quedas, etc.).

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Quanto aos tipos de deficiência, estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde, em

1976, os portadores de deficiência mental são classificados a partir do grau de comprometimento

que os afeta. Divide-se, então, a deficiência mental em : leve, moderada, severa e profunda. No

entanto, nos dias de hoje, a tendência é não enquadrar a pessoa com deficiência em categorias

previamente estabelecidas para sua faixa etária, mas sim dar uma maior atenção à sua história de

vida, ao apoio que recebe da família e às oportunidades que vivencia.

Quando nos referimos a dados estatísticos, notamos que eles apontam um índice de 10%

de portadores de deficiência na população dos países em desenvolvimento, onde a metade é

portadora de deficiência mental. Tais dados foram levantados, também, pela Organização

Mundial de Saúde.

A identificação de um quadro de deficiência só é possível quando vários sinais se fazem

presentes, isto é, um aspecto isolado não pode ser considerado indicativo de uma deficiência

mental, assim como de qualquer outro tipo de deficiência. Estes sinais podem ser :

- Atraso no desenvolvimento neuropsicomotor :

. Demora em fixar o olhar;

. Atraso no desenvolvimento de ações motoras ( firmar a cabeça, rolar, sentar, engatinhar,

andar, falar ou agarrar objetos );

. Dificuldades no desempenho de atividades ligadas aos hábitos da vida diária ( vestir-se,

alimentar-se, tomar banho, escovar os dentes, etc. ).

- Dificuldades no aprendizado :

. Dificuldade de compreensão de normas e ordens, bem como de seguir instruções;

. Limitação de aprendizagem espontânea;

. Dificuldade para raciocinar, para prestar atenção e para memorizar;

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. Dificuldade para identificar as cores, ler e escrever, representar e operar com números.

- Dificuldades sócio-emocionais :

. Dificuldade de controlar as emoções apresentando, às vezes, problemas de

comportamento;

. Dificuldade para se integrar ao meio.

O estabelecimento do diagnóstico de deficiência mental deve ser feito por uma equipe

multiprofissional, contando pelo menos com um médico, um assistente social e um psicólogo.

Atuando em conjunto, esses profissionais avaliarão o indivíduo em sua totalidade : aspectos

sócio-culturais ( através do estudo e diagnóstico familiar feito pelo assistente social ), aspectos

biológicos ( através de anamnese e exame físico realizados pelo médico ) e aspectos psicológicos

e nível de deficiência mental ( através também de anamnese, observação e aplicação de

avaliações específicas pelo psicólogo ). Após essa avaliação global, caberá a eles discutir o caso,

afim de elaborar conclusões, diagnóstico global, condutas mais adequadas e encaminhamentos

que se fizerem necessários.

O trabalho em equipe pressupõe uma melhor orientação da família quanto às

potencialidades de seu filho e sua participação no tratamento proposto. Essa participação é

fundamental.

Mesmo envolvendo a atuação de diversos profissionais, o diagnóstico da deficiência

mental, muitas vezes, é difícil. Muitos fatores podem encontrar-se na base da impossibilidade do

ajustamento social adaptativo adequado, sem que haja necessariamente deficiência mental. E é

preciso que eles sejam levados em conta e devidamente diagnosticados em face da suspeita de

um quadro de deficiência mental. Devem-se avaliar as possibilidades de inserção social da

criança e orientar quanto à abordagem terapêutica e educacional.

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O prognóstico é baseado em programas de estimulação precoce, pedagógicos e

ocupacionais. Através destes programas busca-se o pleno desenvolvimento do potencial do

indivíduo e sua inserção na comunidade, pois quanto maior a sua integração social, maiores serão

as suas oportunidades de aceitação e inclusão na sociedade.

As intervenções são realizadas a partir da avaliação detalhada do portador de

deficiência mental e da determinação dos tipos de apoio de que irá necessitar. O tratamento e o

planejamento de serviços deverá levar em consideração todos os aspectos da pessoa, suas

respostas individuais para as mudanças necessárias ao longo do tempo, para as mudanças

ambientais, para as atividades educacionais e para as intervenções terapêuticas. O ambiente social

deverá oferecer condições que permitam aumentar as oportunidades que levem a uma vida

pessoal satisfatória.

Os tipos de apoio, em casos de deficiência mental, podem ser :

. Extensos - caracterizados por sua regularidade em pelo menos algumas áreas ( vida familiar ou

profissional ) e sem limitação temporal ( apoio a longo prazo ); e

. Generalizados - caracterizados pela constância e elevada intensidade, com atuação em

diferentes áreas, no sentido de proporcionar melhores condições de vida. Em geral, exigem mais

pessoal e maior intromissão.

Na verdade, a busca pela otimização do nível físico, mental ou social, visando

compensar perdas ou limitações funcionais, facilitando ajustes ou reajustes sociais constituem

o objetivo maior de todo processo de reabilitação. Ele deve conter programas com atividades que

melhorem ou compensem a(s) função(ões) afetada(s).

São, também, imprescindíveis os serviços de aconselhamento à pessoa deficiente e à sua

família, de avaliação, orientação e acompanhamento. Através deles é que se poderá

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desenvolver a autoconfiança deste ser humano.

2. A linguagem do portador de deficiência

mental

Não é possível fazer referência à questão da linguagem sem focalizar aspectos de

desenvolvimento dos processos cognitivos dos quais ela é instrumento.

Diversas pesquisas têm sido realizadas sobre os aspectos estruturais e funcionais da

vida intelectual dos portadores de deficiência mental. Nesse sentido, eles apresentam uma

condição semelhante a uma construção inacabada. Contudo, até o nível que conseguem alcançar,

sua evolução é similar a das pessoas consideradas normais mais novas. Mesmo assim, revelam

uma maior dificuldade na resolução de situações-problema, quando os instrumentos cognitivos

são acionados.

Um ponto bastante interessante é o de que, apesar da estagnação ou lentidão no

processo intelectual, observa-se certa plasticidade na inteligência dos deficientes mentais, que

reagem de modo satisfatório às solicitações do meio.

Na maior parte dos casos de deficiência mental, o comprometimento intelectual básico

não melhora; no entanto, seu nível de adaptação pode ser influenciado de modo positivo por um

ambiente enriquecido e de suporte. É preciso trabalhar as potencialidades desse indivíduo.

A linguagem é considerada um dos aspectos mais importantes a ser desenvolvido por

qualquer criança, para que ela possa relacionar-se com as outras pessoas, integrando-se na

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sociedade. Quanto maiores as habilidades na linguagem, melhor a capacidade de comunicação.

De modo geral, os portadores de deficiência mental apresentam variadas dificuldades

no desenvolvimento de sua linguagem, desde a infância. Por isso é de suma importância estar

atento a este fato quando ele ainda é um bebê. Quanto mais cedo for proporcionado um ambiente

que favoreça a evolução da linguagem, melhor será o futuro.

Comparada a outra criança, a criança com deficiência mental apresenta atraso na

aquisição e no desenvolvimento de sua linguagem. Tal atraso tem sido atribuído à características

físicas ou ambientais que influenciam de maneira negativa este processo.

Vários são os transtornos que podem surgir, interferindo na aprendizagem :

. Transtorno da leitura - É relativamente comum, sendo caracterizado pelo comprometimento

para reconhecer palavras, leitura fraca e inexata, além de baixa compreensão. Está associado à

dificuldades de atenção. A leitura requer um cérebro maduro e integração de informações.

. Transtorno da matemática - Acontece em virtude do comprometimento nas habilidades

lingüísticas, perceptivas, matemáticas e de atenção. Nota-se deficiência para a aptidão intelectual

e nível educacional.

. Ausência de atividades sociais que favoreçam a utilização da linguagem de maneira

significativa, em algumas situações.

É importante ressaltar que alguns transtornos irão variar de indivíduo para indivíduo,

considerando o grau de comprometimento que o acomete. Podemos nos confrontar com a

possibilidade de desenvolver habilidades de comunicação, onde poderá falar ou aprender a

comunicar-se até uma linguagem mínima, com pouca ou, aparentemente nenhuma capacidade

de comunicação. Em alguns quadros, diante de treinamento e educação, o indivíduo poderá

alcançar alguns segmentos escolares. Já na idade adulta, num enfoque de adequação social e

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vocacional, poderá atingir habilidades para uma automanutenção mínima ou algum

desenvolvimento de linguagem.

Com o atraso no desenvolvimento da linguagem , determinados padrões lingüísticos

podem permanecer além da fase da idade cronológica. Em algumas situações, os padrões

fonológicos e morfossintáticos tornam-se bem reduzidos, com ausência de elementos de ligação

e estruturas frasais primitivas. Acompanhando estas características podem ocorrer dificuldades

oro-motoras, havendo necessidade de uma maior enriquecimento e/ou ajustamento das sensações

proprioceptivas, facilitando a fixação dos padrões fonológicos corretos.

Diante de um quadro de significativos comprometimentos na área da linguagem,

acarretando grandes prejuízos no processo de desenvolvimento do portador de deficiência mental,

questiona-se : como levar este indivíduo a alcançar um sistema de comunicação interpessoal

afetivo mais normalizado, com crescimento lingüístico ? E qual a importância de se atingir este

objetivo, no que tange o processo de inclusão ?

Se pensarmos que a linguagem está presente em todo e qualquer momento da vida de

um ser humano, pois sem ela o homem não teria como se comunicar com os outros e, viveria

isolado, sem possibilidade de agir sobre o mundo e sobre ele mesmo, já poderemos começar a

responder os questionamentos anteriores. O domínio da linguagem permite interação com a

sociedade, ação e transformação do mundo.

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CAPÍTULO III - LINGUAGEM E INCLUSÃO SOCIAL

Durante muito tempo, o indivíduo denominado excepcional foi, ao longo da

história,

encarado com um olhar de preconceito, sendo na maioria das vezes rejeitado e afastado do

convívio social.

“A deficiência jamais passa em brancas nuvens, muito pelo contrário : ameaça, desorganiza, mobiliza. Representa aquilo que foge ao esperado, ao simétrico, ao belo, ao eficiente, ao perfeito... e, assim, como quase tudo que se refere à diferença, provoca a hegemonia do emocional.”

( AMARAL, 1995, p. 112 )

Diante dessa situação vinham à tona sentimentos de repulsa, pena e até medo; com

certeza frutos do total desconhecimento acerca das dificuldade, bem como das potencialidades

dessas pessoas.

Por muito tempo, o excepcional foi visto como portador de uma doença.

Felizmente, no século XX, surge um novo movimento, cujo objetivo é promover a

inclusão desses indivíduos, enfatizando a contribuição do meio em seu desenvolvimento. E com

ele, um novo paradigma : trabalhar com o diferente. Tal atuação visa colocar a criança em contato

com o seu próprio potencial, favorecendo sua adaptação ao mundo e desconstruindo estigmas que

marcam o portador de deficiência

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O que se tem visto, nos dias de hoje, é um movimento de integração, inclusão das

pessoas deficientes na sociedade. Tais pessoas passaram a ser tidas como portadoras de

necessidades especiais, possuidoras de limitações e potencialidades a serem desenvolvidas,

devendo levar-se em conta suas características individuais e as forças do ambiente ao se lidar

com a deficiência.

É importante destacar que o ser humano é uma totalidade bio-psíquica-socio-cultural,

não podendo ser considerado em partes distintas, mas sim como um todo que faz parte de um

contexto. E é na relação e na interação com o mundo que constrói sua identidade, história e

personalidade. Esse aspecto é importantíssimo quando nos referimos ao portador de deficiência,

pois preconceitos e rejeição provenientes do meio, tendem a gravar sua situação de diferença, que

não deve ser negada, mas sim aceita.

Sendo a linguagem um dos aspectos mais importantes no desenvolvimento do ser

humano, para que ele possa se relacionar e se integrar em seu meio social, a estimulação de

habilidades nesta área irá favorecer uma melhor comunicação de seus sentimentos, desejos e

pensamentos.

Muitos estudiosos relacionaram a questão da linguagem à evolução e ao processo de

hominização, onde o homem cria, transforma o mundo e se transforma a partir de sua criação. O

desenvolvimento da linguagem, então, estaria ligado ao trabalho. Junto a isso, dar-se-ia o

desenvolvimento do cérebro, dos sentidos, da capacidade de abstração e raciocínio dentro de um

contexto cultural. Desse modo, as diferenças são passíveis em relação à linguagem, aos modos

de vida cultural, tempos e espaços.

Com o progresso do trabalho e da linguagem foi possível o desenvolvimento da

cultura humana com todo o seu simbolismo : a linguagem, as artes, as ciências, a religião...

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WALLON ( 1986 ) utilizou-se de um método que denominou de materialismo dialético,

na defesa da idéia de que o progresso do ser humano acontece com o desenvolvimento da função

simbólica, que supõe a vida social.

Adotando o materialismo dialético histórico, VYGOTSKY ( 1996 ) destacou relações

concretas de vida social e interação entre as pessoas, como meios de construção e transformação

de significados. Muitas foram as suas investigações e contribuições no campo da Defectologia

( Ciência geral da deficiência ) e da Educação Especial, sendo a deficiência vista como uma

organização peculiar das funções psicológicas superiores, em processos de significação que

diferem, mais ou menos, dos processos normais e de tendências que a Língua manifesta e pode

suportar para ser interpretável.

Para que se possa compreender os modos de significar o mundo é necessário entender

o funcionamento cognitivo e lingüístico ( verbal oral, gestual e o silêncio ), e a idéia de que os

signos, criação humana, só emergem da interação social, da mútua constituição “eu-outro”. É

com o outro e pelo outro que as regras se constituem e, com elas, o ser simbólico.

Sendo o portador de necessidades especiais, também, junto a seus semelhantes, um ser

histórico, cultural e simbólico, seu mundo tem um sentido : seus sorrisos, lágrimas, limitações,

descobertas, mesmo que ele não consiga expressar o que sente através de palavras. Muitas vezes,

não é possível a sua participação integral no mundo simbólico de outras pessoas; no entanto, ele

tem condições de penetrar no mundo cultural daqueles que o cercam.

Ultrapassando a mera comunicação para as relações de sobrevivência, a linguagem é

elemento de estruturação do pensamento, constituída de códigos objetivos que designam coisas

concretas e suas relações. A capacidade de apreendê-la é um desafio que surge para o indivíduo,

desde seu nascimento, a partir das informações acerca da realidade que o envolve. À

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princípio, a criança mantém uma linguagem externa que aos poucos vai sendo interiorizada,

transformando-se num processo intrapsíquico e definindo a auto-regulação de sua própria

conduta. Na situação da pessoa com deficiência, iremos nos deparar com uma família, cujas

condutas, alteradas pelo impacto e pela dor, poderão gerar barreiras significativas na apreensão

da realidade e na internalização de significados. Já no que se refere à auto-regulação da conduta,

isto acontecerá por meio de palavras com significados fixos, restringindo a compreensão do

mundo e o próprio comportamento social.

A ação motora da criança, portadora ou não de deficiência, em seus primeiros anos de

vida, parece anteceder à oralização. Através da interação com os objetos, ela vai estabelecendo

relações e generalizações. Será, então, na relação com os adultos, na entrada no universo social

e no brincar que as crianças deficientes mentais vão ou não sair do egocentrismo para processos

de socialização; embora as possibilidades de exercitar o papel da linguagem venham junto a

processos mecânicos, limitados e vazios de conteúdo social.

A evolução da linguagem deve ser entendida, assim como o pensamento, como um

sistema complexo, uma rede, na qual a atividade intelectual humana traduz-se pela linguagem

interiorizada na práxis social. Através dessa práxis é que se dá a construção da realidade.

O deficiente mental é rotulado como alguém que possui um funcionamento cerebral

retardado, insuficiente, incompleto e incapacitado de executar atividades que expressem

percepção, consciência e autonomia. A relação social estabelecida com o mesmo traduz uma

visão que precisa ser modificada, pois é limitada, condicionada à treino e memória de

significados e conceitos básicos. Isso restringe sua integração e atuação na realidade social. Tal

situação é vivida por uma grande maioria, cujo “desenvolvimento” da linguagem ocorre de forma

descontextualizada do real. Não se pode perpetuar a idéia de impossibilidade permanente na

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construção do conhecimento que, com certeza, impede a tomada de consciência pelo deficiente

de sua condição de ser histórico e social.

As funções corticais responsáveis pela linguagem desenvolvem-se na forma de rede,

que, no caso da deficiência mental, tem suas conexões comprometidas o que não significa

impossibilidade total de construção de conhecimento. Sendo assim, delimitar capacidades reforça

práticas de exclusão e de injustiça social.

É necessário que toda a sociedade esteja mobilizada num verdadeiro processo de

inclusão, o que só será possível a partir da modificação de valores, práticas sociais e tratamento

com relação ao conceito de deficiência. Só assim os portadores de deficiência participarão do

processo social, assegurando seu lazer, esporte, cultura e, principalmente, sua cidadania.

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CAPÍTULO IV - ESTIMULAÇÃO DA LINGUAGEM

Apesar de inúmeros avanços em muitos aspectos, a Medicina ainda não

consegue

explicar com clareza todas as teorias e questões quanto ao desenvolvimento humano, muito

menos fornecer subsídios para compreensão e indicação da atuação terapêutica mais adequada

em face de pessoas portadoras de lesões e/ou deficiências. O modelo que ela ainda oferece,

acaba por ser assumido por alguns profissionais na Psicologia e na Educação, marcando o

encaminhamento de crianças e jovens para tratamentos especiais, onde o foco são os problemas

de origem biológica. Poucos são os questionamentos sobre a vida das pessoas, e sobre a história

dos grupos sociais afetados.

Em algumas situações, avaliação clínica e institucional do deficiente mental tem

direcionado à simples constatação das “faltas” : sensoriais, motoras, verbais, cognitivas. Contudo,

é interessante pontuar que nem todos compartilham com a idéia de : “assim é, porque assim é”.

O importante consiste em criar novas possibilidades de intervenção, e não acomodar-se à

deficiência, ajustando programas aos requisitos básicos.

VYGOTSKY ( 1996 ), através de uma perspectiva histórico-cultural, já apontava a

possibilidade de inverter esse olhar acerca da deficiência, sugerindo que as funções psíquicas

oriundas da interação com o meio, permitem atenuar as conseqüências da mesma. Com isso,

maiores serão as chances de influência educativa.

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No quadro de deficiência mental, como em outros tipos de deficiência, todas as formas

de estimulação, inclusive da linguagem, devem fazer-se presentes desde a mais tenra idade do

indivíduo. Essa prática deverá envolver uma série de pessoas e recursos, fazendo parte de todos

os seus momentos de vida, buscando o pleno desenvolvimento de seu potencial.

Não será possível falar de uma estimulação adequada, que promova a reabilitação e a

inserção social do indivíduo, sem fazermos referências à participação da família, da escola, dos

programas ocupacionais e da tecnologia, dentro desse processo.

1. Família

O ambiente familiar é o local onde a criança recebe as primeiras mensagens sobre si

própria, através de seus pais. Nesse contexto é fundamental que eles possam lidar com a diferença

de maneira saudável.

A aceitação de filhos que sejam diferentes, por parte de seus pais, é um processo

bastante difícil e doloroso, pois constatar que eles são diferentes do que esperavam que fossem,

do que a sociedade determina como normal, bonito, saudável, inteligente, abala o emocional.

Nesse caso, o primeiro passo e fundamental, é a aceitação do filho como ele é, pois ele precisa

se sentir amado e querido, ocupando seu lugar dentro da família.

É importante que os pais percebam que o nascimento de um filho portador de

deficiências não deve se converter em frustração ou na idéia de que a criança necessitará de

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cuidados especiais que a eles não caberão. Na verdade, a convivência com os pais, inestimável

e insubstituível, deverá ser feita de padrões diferentes para novas situações e comportamentos.

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A estimulação constante é necessária, contudo, exigir realizações acima de sua

capacidade poderá gerar sentimentos de irritação, incapacidade e derrota. Compensar suas

dificuldades também será prejudicial. O ideal é um equilíbrio entre esses dois extremos, contando

com o bom senso, a firmeza e, acima de tudo, a sensibilidade.

Uma vez que a linguagem desenvolve-se através da interação da criança com o meio,

e que seu domínio permite a inserção no mesmo, a família deverá ser a primeira fonte de

estímulos. A partir das necessidades específicas da criança, e com base na orientação de

profissionais, os pais deverão atuar no sentido de :

- Criar um ambiente favorável e estimulador;

- Nunca falar pela criança ou deixar que os outros falem por ela;

- Não antecipar a vontade da criança, devendo aguardar a sua solicitação;

- Prestar atenção quando a criança manifestar-se;

- Criar situações que provoquem reações da criança;

- Criar ambientes para a socialização, iniciativa e relacionamento com diferentes pessoas;

- Favorecer sua independência; e

- Promover atividades que propiciem o lazer.

Através das atitudes mencionadas e no contato com os seus familiares, a criança

aprenderá a lidar com sua diferença, desenvolvendo sua auto-imagem, relacionando-se com a

sociedade, iniciando sua constituição enquanto ser histórico e social.

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2. Escola

“Os deficientes mentais são sujeitos simbólicos, que mesmo com o mundo aos pedaços, continuam capazes de sonhar, imaginar, desejar, aprender e também

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amar. Eles esperam dos seus educadores maior compreensão de suas possibilidades e uma crença relativa nos diagnósticos médicos. Esperam poder participar do mundo cultural das pessoas consideradas normais.” ( PADILHA, 2001, p.p. 43-44 )

As dificuldades de comunicação representam o comprometimento mais significativo no

processo de desenvolvimento do portador de deficiência mental, pois o exclui da maioria dos

envolvimentos da nossa sociedade. E, como já foi mencionado, na inserção social, o papel do

grupo ( seja família, igreja, comunidade, escola ) é extremamente importante. Pensando nisso,

o movimento de inclusão trouxe metas de oferecer a todos um ensino de qualidade, incentivando

a convivência entre os portadores ou não de necessidades especiais, permitindo o acesso à

educação formal. No entanto, é necessário fazer algumas reflexões quanto ao que se denomina

escola e educação inclusivas.

A idéia que se apresenta acerca da educação inclusiva pressupõe o acesso à educação

formal e à educação para o trabalho, através do atendimento aos portadores de deficiências e de

sua inserção no ensino regular. Será que tal proposta é realizável no que se refere à deficiência

mental ?

A verdade é que não basta vislumbrar um processo tão complexo num campo

meramente ligado ao ambiente físico; é preciso o preparo e a capacitação da comunidade escolar,

além da modificação de valores e práticas em relação ao conceito de deficiência.

A Educação Especial deve :

- Respeitar as diferenças, possibilidades de desenvolvimento e ritmo individuais;

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- Valorizar o indivíduo em seu processo educacional; e

- Realizar planejamentos e avaliações constantes, buscando suprir necessidades gerais e/ou

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individuais.

O papel do professor é de suma importância, pois ele é o responsável pela promoção de

ações que incluam o portador de necessidades especiais no grupo. Seu trabalho, também voltado

para o desenvolvimento global, deve estar em consonância com a atuação de outros profissionais

especializados.

Envolvendo o trabalho em classes especiais e salas de recursos, a educação especial

utiliza-se de procedimentos didáticos que, em muitas ocasiões, enfatizam a figura do deficiente

como uma eterna criança, lançando mão de exercícios repetitivos, memorizados, mecanizados,

sem significação relevante para a sua vida.

Na busca por uma intervenção mais qualitativa, onde não impere unicamente um

caráter assistencialista, à Educação Especial competirá elaborar atividades que estejam

envolvidas com um trabalho de linguagem e pensamento, de relações com objetos mediadas pela

palavra. A linguagem deverá acompanhar a realização das atividades, sendo o principal veículo

para a interiorização de conceitos, o desenvolvimento do discurso e o desenvolvimento dos

processos cognitivos superiores.

Um dos papéis da linguagem é expressar a corporeidade, traduzindo sentimentos e

consciência. Dessa maneira, a consciência corporal é fundamental para a linguagem do corpo.

É necessário desenvolver a consciência de si para que seja possível expressá-la nos movimentos,

assim como os movimentos ajudam nessa tomada de consciência.

A motivação deve ser suscitada a todo momento, seja para o desenvolvimento

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psicomotor, cognitivo e social, em práticas de ensino em que a curiosidade, o interesse, a

significação do objeto de conhecimento mobilizem o sujeito a pensar, a descobrir, a criar, no

alcance dos seus objetivos.

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O desenvolvimento de habilidades será possível num espaço educacional livre de

imposições e de tensões sociais, afetivas e intelectuais; onde o trabalho educativo favorece o

equilíbrio entre os diversos aspectos da aprendizagem, mantendo a curiosidade, motivação e

concentração necessárias à sustentação do portador de necessidades especiais.

O potencial do indivíduo será melhor desenvolvido num ambiente de cooperação, rico

em estímulos físicos e sociais, onde os alunos possam comportar-se ativamente na construção de

seu conhecimento, sendo que a afetividade também desempenha um importante papel nesse

processo.

3. Programas ocupacionais

Junto à atuação da família do portador de deficiência mental, dentre outras deficiências,

e da escola, são desenvolvidos programas ocupacionais ou de treinamento. Tais programas

dependem do envolvimento de vários profissionais especializados.

Nos programas de treinamento reside a possibilidade de desenvolver aptidões de

auto-ajuda ( comer, vestir-se, lavar-se, pentear os cabelos, escovar os dentes, seguir instruções

e desempenhar tarefas simples ), sociais ( consideração pelos outros, atenção e gentileza ) e de

e de linguagem oral.

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Outro aspecto nesse tipo de intervenção refere-se ao treinamento sensorial e motor

básico, objetivando o desenvolvimento das capacidades motoras e da discriminação sensorial.

Nesse caso, aprendem a cuidar da casa, usar ferramentas comuns, telefonar e dar passeios em

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áreas próximas e conhecidas. Para isso, incentiva-se o conhecimento de regras de saúde e

segurança, fazendo com que o indivíduo seja capaz de cuidar de si próprio.

O trabalho terapêutico, lançando mão de atividades que favoreçam a comunicação, sob

suas diversas formas, busca fazer com que o indivíduo adquira consciência de si. A inserção nas

relações sociais e na dinâmica da sociedade, devem buscar sempre a sua valorização.

O portador de deficiência mental tem a capacidade de perceber que é diferente, sendo

que no processo terapêutico deverá ser estimulado a reconhecer seu próprio potencial, a

conquistar auto-aceitação e auto-fortalecimento, mobilizando adequadamente suas energias e

força vital no atendimento das próprias necessidades.

Ao terapeuta caberá, ainda, ajudar o indivíduo a sentir-se em casa no mundo,

abandonando mensagens negativas e reformulando positivas. Seu objetivo é recuperar o senso

do eu, do portador de deficiência, levando-o a descobrir-se, desenvolvendo suas potencialidades.

É interessante destacar que durante o desenvolvimento cognitivo e o gradativo domínio

da linguagem, outras dificuldades surgem, pois as limitações se deslocam, isto é, novas

dificuldades são criadas, porque as anteriores foram vencidas. Novas possibilidades de

intervenção surgem.

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4. Tecnologia

Sabe-se que os processos de aprendizagem das pessoas recebem influências

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significativas de recursos oferecidos pela sociedade, pela cultura, escola, etc. . Nesse conjunto,

a tecnologia não deve ser esquecida.

Os conceitos de tecnologia, desde as décadas de 50 e 60, têm evoluído, sendo que a

partir dos anos 70, a presença da informática, dentre as tecnologias educacionais, tem sido

marcante.

As tecnologias educacionais consistem em procedimentos que objetivam melhorar as

respostas educativas. No campo da Educação Especial, procura fazer com que os portadores de

deficiências alcancem maior qualidade nos processos de aprendizagem e comunicação, e que

possam integrar-se, exercendo sua cidadania.

Na interatividade com a máquina, o indivíduo terá possibilidade de ser um agente

integrante e ativo na busca de informação e construção do conhecimento. Será ativo no pensar,

no transmitir, no fazer, o que pressupõe uma situação de aprendizagem, permitindo uma

transformação positiva nesse processo.

No caso dos portadores de deficiência mental, as tecnologias educacionais acabam por

serem mais onerosas, pois os programas mais adequados são os mais caros. Mesmo assim, o mais

importante será o ambiente de aprendizagem que o computador poderá propiciar : extração de

informações e construção do próprio conhecimento. Em relatos de pesquisas, verificou-se que

os “os deficientes mentais” são capazes de dominar o computador, gostam de usá-lo e já

escolhem programas ( Word, Power Point, Kid Pic Studio ) e acessam a internet, com

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possibilidade de interligar a escola especial com escolas regulares. Também quanto aos modos

de leitura notam-se benefícios : estímulo para leitura de jornais, revistas e uso de enciclopédias,

bem como utilização de CD-Rom.

Lançar mão das tecnologias educacionais de modo efetivo requer especialização e

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atualização do professor, isto é, conhecimento dos procedimentos a serem adotados, visando

melhor utilização desse recurso. Isso aponta para mudanças : nas práticas e formação docentes,

no currículo e na própria estrutura da escola. O professor deverá orientar e não instruir, quanto

à construção da linguagem e do conhecimento.

Apesar das considerações já feitas, é preciso formular questionamentos quanto à

democratização de tais tecnologias na Educação Especial, que ainda encontra-se distante. Como

já mencionado, alguns programas são caros, não sendo disponibilizados para todos o que

gera desigualdades. Deve-se estabelecer como grande meta a universalização de suas

condições de uso, pois a tecnologia é junção de poder de técnica com a consciência da

importância social, política e pedagógica, que não deverá ser desumanizada pela racionalidade

técnica.

A dimensão do uso de tecnologias no ensino-aprendizagem enfatiza as necessidades

dos alunos, as teorias de comunicação e, deve ligar-se ao projeto curricular a ser desenvolvido.

Seus benefícios são significativos quando pais, educadores e outros profissionais tornam-se

mediadores no processo de “aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a estar junto e

aprender a ser”. ( ALICERCES PARA A EDUCAÇÃO DO SÉCULO XXI, Delors, 1996 ).

Também denominadas de Tecnologia Assistiva, pois proporcionam aos portadores de

deficiência maior independência, qualidade de vida e inclusão social, fazem-no através da

ampliação da comunicação, entre outros aspectos. O computador, então, será usado com pessoas

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com diferentes níveis de comprometimento motor e/ou comunicação e linguagem.

Os recurso, também chamados de recursos de acessibilidade, devem ser utilizados a

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partir de uma análise detalhada das necessidades de cada aluno, optando-se pelos que melhor

atendam a elas. Em alguns casos, a escuta de outros profissionais será necessária.

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CONCLUSÃO

Quando se procura estabelecer definições do que seja a deficiência mental, várias

dificuldades surgem, pois se por uma lado alguns especialistas dão relevância a fatores

constitucionais ou neurológicos, de outro a prioridade passa a ser a concorrência social. No

entanto, é unânime a idéia de que o portador de deficiência mental é incapaz de cuidar

adequadamente de si próprio.

Os níveis de deficiência mental são variáveis no que se refere ao tipo de lesão cerebral

e extensão da mesma, bem como aos comprometimentos e/ou dificuldades que acarreta. Desse

modo, estabelecer uma classificação precisa acaba sendo arbitrário, pois muitas vezes as

informações disponíveis não são suficientes para enquadrar o indivíduo nessa ou naquela

categoria.

É interessante perceber que determinadas deficiências mais possíveis de serem

medidas e classificadas, como a cegueira e a surdez, não garantem direitos sociais; definições,

classificações e recomendações não garantem direito a uma educação que favoreça o

desenvolvimento e a aprendizagem, nem o acesso a locais e inserção no meio social. Muitas

deficiências e deficientes são deixados de fora desse contexto, principalmente os deficientes

mentais.

Se os casos de deficiência mental não podem ficar limitados à rótulos previamente

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definidos, o mesmo acontece com os modos de intervenção e estimulação. É preciso que cada

indivíduo seja visto em suas peculiaridades e necessidades, buscando-se atendê-las da melhor

maneira possível. É preciso levar em conta o melhor “canal” para se chegar até ele, para

sensibilizá-lo, para fazê-lo travar contato com a própria realidade na busca de uma vida mais

satisfatória. E através da estimulação e desenvolvimento da linguagem isso será

possível, pois ela nos acompanha em todos os momentos de nossa vida, manifestando-se sob

diferentes formas. Tudo a nossa volta inspira idéias e compreensões, diz-nos algo, de alguma

maneira.

É importante saber que existem vários projetos envolvidos com o intuito de favorecer

o crescimento dos portadores de necessidades especiais em toda a sua totalidade. Para isso,

estimulam as diversas formas de linguagem, principalmente, através das artes plásticas, da música

e da expressão corporal, onde observam-se um grande alcance, além de resultados significativos.

Um exemplo dessa iniciativa é o PROJETO CONVIVER.

O domínio da linguagem pressupõe inserção no mundo, que para o portador de deficiência

mental só será realmente possível se a nossa sociedade desconstruir marcas conferidas a ele, e

perpetuadas ao longo da história. É preciso perceber que diferenças não devem ser negadas e

fazem parte de todos nós.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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