A Estrutura Ecologica Urbana No Modelo Da Rede Estruturante Da Cidade

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AESTRUTURAECOLGICAURBANANOMODELO DAREDEESTRUTURANTEDACIDADE

TniaMonteiroAlves

11deAgosto2010BubokPublishingS.L. 1edio Edio:TniaMonteiroAlves ProjectogrficoCapa:TniaMonteiroAlves ISBN: DL: Impresso:Bubok

Atimeuamor,peloapoio,pacincia,companhia,carinho,porMe teresencontrado,aceiteemefazerestofeliz,eporquems realmente.Portudoisto,obrigadopelasmanhs,pelastardesepelas noites,portodososmomentos...eportiqueamo. memriadosmeusavs,NunoeConceio.

Agradecimentos Ao meu orientador, Professor Doutor Jorge Carvalho, pelo apoio,incentivo,pelasbiaorientao,quefezcomqueeuno sasse do meu caminho, e principalmente por ter acreditado nestetrabalho. AoRogrio,peloapoioincansvel,peloconfortoepacincia nos momentos de desnimo e de stress, pelas sugestes, por nometerdeixadodesistireacreditarqueeueracapaz,porser omeumelhoramigo. minha famlia, que mesmo longe, encorajou e apoiou, estandosemprepresente. Aosamigosquedelongeapoiarameanimaramnospiores momentos, especialmente, a Anglica, o Dinis, a Rebeca, e a Cristina. Cmara Municipal de Mirandela, especialmente ao Henrique Pereira e Maria Gouveia, pelas informaes fornecidas,pelotempodispensadoepeladisponibilidade. Obrigadoatodosquedequalquerformacontriburampara estetrabalho

NDICENDICE9 NDICEDEFIGURAS13 NDICEDEQUADROS.14 NDICEDEESQUEMAS...14 NDICEDEPLANTAS...15 INTRODUO17 1.RelevnciadoTema.....17 2.MetodologiaeEstrutura..20 CAPTULO1.CIDADE,ORDENAMENTOEAMBIENTE25 1.1Cidadepsindustrialambiente, caractersticaseproblemas......................................................................25 1.1.1Asrespostasmodernistasaocaosurbano...26 1.1.2OCasoPortugus60 1.1.3Snteseeorientaes...74 1.2Cidadeemergentecaractersticas...83 1.2.1ProblemasAmbientais,SociaiseEconmicos88 1.2.2ProblemasFsicoEstruturais.93 1.2.3Problemasaresolvereorientaes.100

CAPTULO

2.

REDE

ESTRUTURANTE

DA

CIDADE

ESEUSELEMENTOS...103 2.1Conceitostericosbsicos...103 2.1.1Aunidadeterritorialeaunidadedevizinhana.103 2.1.2Oconceitodeestrutura107 2.1.2.1Oestruturalismoeafenomenologia...110 2.1.3OselementosdaimagemurbanadeKevinLynch..113 2.2Oselementosestruturantesdacidade...116 2.3ARedeEstruturantecomoinstrumentodeordenamentoda cidadeederesoluodosseusproblemas.120 CAPTULO 3. O VERDE COMO ELEMENTO

ESTRUTURANTE..129 3.1Overdenacidadeperspectivamoderna129 3.2OconceitodeContinuumnaturale...139 3.3OsconceitosdeEstruturaEcolgicaedeEstruturaEcolgica Urbana..140 3.4Asfunesebenefciosdoverdenacidade.158 3.5Aestruturaecolgicaurbanacomoelementoestruturanteda cidade...164 3.6Sntese.174

CAPTULO 4. FORMULAO DE METODOLOGIA PARA DELINEAO DA ESTRUTURA ECOLGICA URBANA NO QUADRODEUMAREDEESTRUTURANTEDECIDADE...179 4.1IdeiasdeReferncia..179 4.2MetodologiaparadelineaodaEstruturaEcolgicaUrbanano quadrodeumaRedeEstruturantedeCidade180 4.2.1Refernciasespaciaisconstitutivasenveis deintegraodaEstruturaEcolgicaUrbana...183 4.2.2Classes,tipologiasefunesdosespaosdaEEU...188 4.2.3RelaesentreaEstruturaEcolgicaUrbana(EEU)eos restanteselementosestruturantes...197 4.2.3.1RelaesentreaEEU,osPercursosVirioseos Intermodais.200 4.2.3.2RelaesentreaEEUeasCentralidades...203 4.2.3.3RelaesentreaEEUasUnidadesTerritoriaise respectivosEspaosdeFronteira205 4.3ObservaesFinais...207 CAPTULO 5. APLICAO A CASO DE ESTUDO MIRANDELA.209 5.1ProcessoMetodolgico210 5.2Escaladecidade212 5.2.1Anlise212 5.2.1.1IdentificaodasRefernciasEspaciaisConstitutivase ClassesdaEstruturaEcolgicaUrbana..212 5.2.1.2Identificaodosoutroselementosestruturantes214

5.2.1.3RedeEstruturanteexistenteinsuficinciase potencialidades..215 5.2.2Proposta..221 5.2.2.1RedeEstruturanteproposta.221 5.2.2.2EstruturaEcolgicaUrbanapropostanomodeloda RedeEstruturante..224 5.3.Escaladepartedecidade(unidadeterritorial)...230 5.3.1Anlise230 5.3.1.1Identificaodasrefernciasespaciaisconstitutivase ClassesdaEstruturaEcolgicaUrbana..230 5.3.1.2Identificaodosoutroselementosestruturantes233 5.3.1.3Redeestruturanteexistente..234 5.3.2Proposta..236 5.3.2.1EstruturaEcolgicaUrbanaproposta.236 CAPTULO6.CONCLUSES239 REFERNCIASBIBLIOGRFICAS..245

NDICEDEFIGURASFig.1CidadeindustrialdeRobertOwenamultiplicaodascidades pelocampo27 Fig.2CidadeindustrialdeRobertOwenNewHarmony..28 Fig.3FalanstriodeFourier29 Fig.4PlanodeBarcelonadeIldefonsoCerd(1864).Alternativas propostasparaosquarteires35 Fig.5CidadeLineardeSoriayMata.37 Fig.6EsquemageraldacidadejardimdeEbenezerHoward.Esquema desecodacidadejardim.41 Fig.7SistemadecidadesCidadeSocial...42 Fig.8ProcessodeConurbao,CertoeErrado(Diagramadolivro CitiesinEvolution(1915)deGeddes,ondemostraoalastramento dacidadeeoseuremdio...47 Fig.9CidadeIndustrialdeTonyGarnierPormenordosbairros habitacionais.51 Fig.10LeCorbusierLaVilleContemporaine..56 Fig.11AcidaderadiosadeCorbusieresboosdeedifcios construdosemamplosespaosverdes57 Fig.12readecidadedesenvolvidacomoplanodeunidadede vizinhana(1916)deDrummond...105 Fig.13PlantadoCentralParkdeOlmstedeVaux..131 Fig.14VistaareadoCentralPark...132 Fig.15Modelodacidadejardimcomaestruturaverde..135 Fig.16Termosdaredeecolgicaecorredoresverdes..142 Fig.17Funeschaveabiticas,biticaseculturaisdainfraestrutura verde152 Fig.18Funotermoreguladoradavegetao..160 Fig.19Funodeprotecocontraovento161 Fig.20Percursopedonal...163

Fig.21Alternativastericasparaadistribuiodosespaosabertos nascidades..166 Fig.22Integraodesuperfciecomercialnaenvolvente205

NDICEDEQUADROSQuadro1SntesecomparativadeconceitosdeEstruturaEcolgicae EstruturaEcolgicaUrbanaabordados..155 Quadro2Correspondnciaentreasrefernciasespaciaisconstitutivas eosnveisdeintegraonaEEU.187 Quadro3Relaoentreasrefernciasespaciaisconstitutivaseas classesdaEEU....188 Quadro4Relaoentreclasses,tipologiasdeespaosefunesda EEU...190 Quadro5RelaesGeraisdaEEUcomosRestantesElementos Estruturantes...198 Quadro6RelaesdaEEUcomosRestantesElementos Estruturantes...199

NDICEDEESQUEMASEsquema1Metodologiaeestruturadotrabalho.20 Esquema2MetodologiaparadelineaodaEstruturaEcolgica UrbananoquadrodaRedeEstruturantedaCidade181

NDICEDEPLANTASPlanta1Anlisedasrefernciasespaciaisconstitutivaseclassesda EEUEscaladeCidade213 Planta2AnlisedaRedeEstruturanteExistente EscaladeCidade220 Planta3PropostadaRedeEstruturanteEscaladeCidade...223 Planta4PropostadaEstruturaEcolgicaUrbana EscaladeCidade229 Planta5Anlisedasrefernciasespaciaisconstitutivaseclassesda EEUEscaladePartedeCidade232 Planta6AnlisedaRedeEstruturanteExistente EscaladePartedeCidade235 Planta7PropostadaEstruturaEcolgicaUrbana EscaladePartedeCidade.238

INTRODUO

1.RelevnciadoTema As cidades sofreram um enorme crescimento a partir da industrializao, causado pelo aumento da populao, o que alterou para sempre a sua configurao, que foi sendo moldada pelas prticas que foram surgindo, algumas espontneas,outrasapartirdosmodelosutpicosquederam origemaourbanismodosc.XX. A cidade actual continua a crescer, sem uma direco definida, de forma catica, e alastrase pelo territrio, associadaaumaexpressojcomvriosanos,emmanchade leo. Este crescimento nem sempre justificado pelo aumento da populao, vai acontecendo de forma casustica e fragmentria,assentenosinteressesimobiliriosenumainfra estruturaviriacadavezmaisvasta. O resultado evidente: a cidade apresentase fragmentada,dispersa,desordenada,destitudadeumaforma ou de uma estrutura, sem identidade, e com inmeros problemas,fsicoestruturais,ambientais,sociaiseeconmicos. Esta cidade emergente no vai, de todo, ao encontro do desenvolvimentosustentvel,conceitocriadojnosanos80,e que teve por base a consciencializao da importncia das questes ambientais e ecolgicas e da sua incompatibilidade comocaminhoqueacidadeseguianaaltura. Esta consciencializao conduziu ao aumento da importncia dos espaos verdes na cidade, j iniciada com a industrializao,ondeasuacriaoteveporbasearespostas questeshigienistasesociais.Aimportnciaactualprendese comasquestesambientaiseecolgicas,conduzindocriao 17

devriosconceitos,nomeadamenteosdecontinuumnaturalee deEstruturaEcolgicaUrbana(EEU). No entanto, o modo como os espaos verdes e a prpria Estrutura Ecolgica Urbana (EEU) tm sido abordados, assemelhasebastanteabordagemdequeacidadetemsido alvo,equeaquicontestamos,apresentandosediversasvezes de modo descontnuo sem a articulao e a multifuncionalidade que seria esperada. Derivam de intervenes isoladas, no fazendo parte de uma viso de conjunto, de continuidade, e to pouco de integrao e articulao com a estrutura edificada, resultando apenas em peassoltas,resduos,semidentidadeesemleituranaeparaa cidade. comaleituradestasduasrealidades,acidadeactualeos espaosverdesdesta(tendoemvistaumaEstruturaEcolgica Urbana), e assumindoas como um todo, porque a questo assenta nessa viso de conjunto, que se afigura fundamental contrariar: as tendncias actuais de crescimento catico e descontrolado que atinge as cidades e que as vai desfigurando, fazendo com que a sua identidade se dilua, tornandoasnumsomatriodenolugares;eomodocomoos espaos verdes so encarados nesta cidade, uma vez que devemfazerpartedela. necessrio um urbanismo que assuma uma escala mais humana e que realce a questo ecolgica e ambiental utilizandoparatalnovoselementoscomoaanliseestrutural e semiolgica do quadro urbano contribuindo para a instaurao de um Urbanismo adaptado ao habitante1 e s particularidadesenecessidadesdecadacidade.

1

Choay(2005,contracapa)

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Assim, este trabalho desenvolvese a partir de algumas preocupaesecertezas: A cidade actual carece de uma abordagem holstica, no que refere ao seu ordenamento, de forma a dar resposta aos vrios problemas que apresenta, nomeadamente de forma, identidade e legibilidade, sendo indispensvel assumir a cidade como ela se apresenta, dispersa e fragmentada, nas suasdiversaspartes,escalas,noseutodo. Esta nova abordagem assenta num modelo organizacionaldacidade,jdefendidoporCarvalho(2003),a redeestruturantedacidade. com base na convico de que a rede estruturante consiste efectivamente num instrumento notvel de ordenamento, articulao e suporte da cidade, capaz de lhe conferir a coerncia e legibilidade desejada, que so desenvolvidos os objectivos deste trabalho, e que assentam fundamentalmente: nacomprovaoqueaEstruturaEcolgicaUrbana(EEU) consiste num dos elementos estruturantes fundamentais da rede estruturante da cidade, definindo o seu papel e potencialidadesparaaarticulaodaredee,porconseguinte, dacidade; naformulaodeumametodologiaparaadelineaoda Estrutura Ecolgica Urbana (EEU) no quadro desta rede estruturante, com o objectivo da identificao dos espaos e relaes que, efectivamente, podero promover a articulao pretendida. Nestecontexto,otrabalhodesenvolvido,parecerelevante eoportuno,namedidaquesepretendedarnfaseaopapelda Estrutura Ecolgica Urbana (EEU) na articulao da cidade, 19

enquadrada num novo modelo organizacional, a rede estruturante, apresentando novas potencialidades, assentes numa viso holstica da cidade, pretendendo qualificala, tornandoacoerenteeperceptvel.

2.MetodologiaeEstrutura A Estrutura Ecolgica Urbana , neste trabalho, encarada numaperspectivacomplementardaquelaquehabitualmente abordada. O trabalho foi iniciado j com o conhecimento que a Estrutura Ecolgica Urbana desempenha (ou deveria desempenhar) um papel importante na cidade. No decorrer deste,esseconhecimentofoisendocompletadoeatpostoem causa, constatandose que, efectivamente, as potencialidades da Estrutura Ecolgica Urbana no meio urbano vo muito para alm das funes ecolgicas e ambientais, s quais constantementeassociada.Portanto,pretendeuseprovaresta ideia, inicialmente embrionria, atravs da investigao desenvolvida.

Cidade Cidade

ps-industrial Problemas da Cidade

Cidade emergente/ (des)ordenamento

Estrutura e elementos de imagem de Lynch Rede Estruturante Elementos Estruturantes Rede estruturante (Modelo organizacinal da cidade) como resposta

Evoluo do verde na cidade e suas funes Verde Estrutura Ecolgica Urbana Aplicao a caso de Estudo Verde como (Estrutura Ecologica Urbana) elemento estruturante Formulao de Modelo para definio da EEU, no quadro da Rede Concluses

Esquema1Metodologiaeestruturadotrabalho

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Ametodologiadotrabalhoconsistiu: na compreenso da evoluo histrica da cidade, com basenumaabordagemterica: fazendo um estudo da evoluo da cidade ps industrial,dosseusproblemasedassoluesque forampreconizadasaonveldoseuordenamento; caracterizando a cidade actual, concluindo que esta apresenta vrios problemas ambientais, sociais, econmicos, nomeadamente fsico estruturais,equaisasrespostasadar. noassumiraRedeEstruturante,compostaporelementos estruturantes, como instrumento adequado para o ordenamentodacidadeactual,baseandoseestaemconceitos estruturalistas; naapresentaodaevoluodosespaosverdesataos nossos dias, assim como das suas funes, com base numa abordagem terica, e na comprovaoda EstruturaEcolgica UrbanacomoumdoselementosfundamentaisdaRede: efectuando um estudo da evoluo do papel dos espaosverdesnacidade,apardaevoluodesta; apresentando o conceito actual de Estrutura Ecolgica Urbana e as suas interpretaes, e comprovando que esta, possui a capacidade de constituir um dos elementos fundamentais da Rede,atravsdaanlisedoseupapelarticulador. naformulaodeumametodologiaparaadelineaoda Estrutura Ecolgica Urbana no quadro da Rede Estruturante, nomeadamente no que diz respeito s relaes que se pretendequeestabelea: 21

analisando o modo como a Estrutura Ecolgica Urbana pode desempenhar um papel articulador na Rede e na cidade, com base nos conceitos e orientaes (alguns deles da Histria) identificadosesintetizadosaolongodotrabalho. na aplicao da metodologia formulada a um caso de estudo. nas concluses, que se assumem como uma sntese das quesechegouaolongodotrabalho. O trabalho organizase assim em seis captulos, que emboraassentemporvezesemtemasdiferentes,articulamse ecomplementamseentresi: No primeiro captulo, so apresentadas duas realidades, assentesnapesquisabibliogrfica. A primeira assenta na evoluo histrica e caractersticas da cidade psindustrial, os seus problemas, e quais as respostasanveldeordenamentodacidadeparaosresolver. Soabordadastambmasopesurbansticaslevadasacabo entreosanos20eos50emPortugal.Apartirdestapesquisa efectuadaumasntesenaqualsepretendecolherorientaes, sobretudo anvel de estrutura para oordenamento actual da cidade. A segunda realidade prendese com as caractersticas da cidade emergente e os problemas que ela apresenta, nomeadamente os fsicoestruturais, cuja resoluo poder minimizar os restantes, focando como finalizao deste captuloosproblemaspassveisdeseremresolvidoscombase22

na definio de uma rede estruturante e nomeadamente da EEU. No segundo captulo, so expostos conceitos tericos, como os de estrutura e estruturalismo, e os elementos de imagemurbanadeLynch,queconsistemnabasedadefinio dos elementos estruturantes e da rede estruturante. So igualmenteidentificadososvrioselementosestruturantesea redeestruturante,assimcomoassuasrelaes,apresentando seestacomorespostaparaalgunsdosproblemasdacidade. No terceiro captulo efectuada uma pesquisa sobre a evoluo da importncia dos espaos verdes na cidade, focando qual o papel que desempenharam ao longo da evoluodacidade. Explicitase igualmente o conceito de continuum naturale, queseapresentacomoumdesenvolvimentonaturaldoponto anterior e, ainda neste seguimento, so confrontados os conceitos de Estrutura Ecolgica e de Estrutura Ecolgica Urbana, assim como exposto a forma como estas so assumidaseabordadas,anvelnacionaleinternacional. Soainda apresentadasas funes dosespaos verdes na cidade. neste captulo que se responde a um dos objectivos do trabalho, assumindo e apresentando a Estrutura Ecolgica Urbanacomoelementoestruturantedacidadeeexplicitandoo papelquedetmoupodedeternaredeestruturante. O captulo termina com uma sntese, que colhe algumas orientaes,nomeadamenteondeseconcluique,naHistria,a Estrutura Ecolgica Urbana j desempenhou o papel de elemento estruturante, embora no tenha sido assumido com tal. 23

No quarto captulo formulada uma metodologia para a delineao da Estrutura EcolgicaUrbana noquadro da rede estruturantedacidade,ondesefocaaimportnciadaseleco dosespaosaintegrarnaEstruturaEcolgicaUrbana,assentes em referncias espaciais e nveis de integrao, se define tipologias de espao e, essencialmente so apresentadas e expostasotipoderelaesentreaEstruturaEcolgicaUrbana eosrestanteselementosestruturantescomvistadefinioda rede. No quinto captulo aplicada a metodologia para a delineaodaEstruturaEcolgicaUrbanaformuladaeaRede Estruturanteaumcasodeestudo. O sexto e ltimo captulo assenta na concluso onde efectuada uma sntese das concluses a que se chegou ao longodoestudo,fundamentalmentequeaEstruturaEcolgica Urbana consiste num elemento estruturante de grande importncia para a rede estruturante e ordenamento da cidade, tendo a capacidade de restabelecer as relaes espaciaisdesta,dotandoadeumaformacoerenteecontnua, de legibilidade, tornandoa perceptvel, e identificvel nas suaspartesenoseuconjunto,comoumtodo.

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CAPTULO1.CIDADE,ORDENAMENTOEAMBIENTE nosoaspedras,masoshomensquefazemacidade2

1.1 Cidade psindustrial ambiente, caractersticas e problemas Aindustrializaoalterouprofundamenteascidades. O aumento da produo e a oferta de emprego provoca uma grande afluncia cidade de fora operria que, vinda do campo, procura aqui uma oportunidade de emprego e melhores condies de vida. No entanto, a cidade no se encontra preparada, e com a necessidade de albergar esta populao, grupos de especuladores do incio construo de casas, originando os bairros operrios denominados na GrBretanha de slums. Com o aumento da densidade populacional, iniciase o processo de suburbanizao, a periferia que envolve a cidade antiga, e todo o espao disponvel nesta ocupado, nomeadamente as suas zonas verdes, jardins e hortos so substitudos por novas construes e remendos (Benevolo, 1997:565), e as condies dehabitabilidadetornamseprecriaseinsalubres.Osbairros caracterizamsepelafaltadeespaoqueimpedeaeliminao dos refugos e o desenvolvimento das actividades ao ar livre por falta de espaos pblicos e jardins, exiguidade e m qualidade dos edifcios, falta de higiene, luz e ventilao (Benevolo, 1997:565; Carvalho, 2003:57). Alis, Engels, numa descrio que faz de Manchester, diz que ali termina toda a aparncia de cidade e no cresce nem um fio de relva (Benevolo,1997:566).

2

(AristtelesinNaredo,2000:18) 25

Ascidadesevoluemsemumadirecoespecficasombra dalocalizaodasindstriasedosinteressesespeculativosna construomassivadebairrosparaasclassestrabalhadoras.A cidadetradicionaldegradaseeperdetodooequilbriocomo meionatural. Embora existam algumas aces por parte das administraeslocaisnatentativaderesolverosproblemasda cidade,maiorpartedelasnosurtegrandeefeito.Noentanto, duranteamesmaaltura,nomenosimportantessoasteorias e a influncia dos pensadores dos problemas urbanos. Alis em retrospectiva, a influncia de todos foi literalmente incalculvel,aliscontinuaaslo.()Algumasdestasideias estavam desenvolvidas no final do sc. XIX, e uma grande partefoitornadapblicanofinaldaPrimeiraGuerraMundial. No entanto, com a excepo de algumas experincias de pequena escala at 1939, maior parte da influncia nas polticas prticas e no desenho apenas comeou a partir de 1945(Hall,1977:42).

1.1.1Asrespostasmodernistasaocaosurbano Os muitos problemas decorrentes da cidade industrial conduzem ao descontentamento social e a uma busca de solues para a cidade existente. Desde modo, a tentativa de cura da cidade comea pela sua higienizao, e as primeiras respostas surgem ao longo do sculo XIX atravs do socialismoutpico,pormeiodecrticas,dennciasemodelos. RobertOwen(17711858),industrialinglsempenhasena melhoriadaqualidadedevidadostrabalhadores,pondoesse ideal em prtica na sua fbrica em New Lanark, fundamentalmenteatravsdareduodashorasdetrabalho,26

daprticadaescolaridadeobrigatria,edomelhoramentodo habitat, com base numa cidademodelo num espao verde (Choay, 2005:61). O seu modelo de cidade consiste no estabelecimento de pequenas comunidades semirurais distribudas pelo espao verde, pequenas cidades industriais autosustentveis, como Owen as denomina (Choay, 2005:62 63, Guimares, 2007:108). Deste modo o modelo proposto localizase num terreno agrcola com cerca de 500 ha, onde Owenpropeadisposiodehabitaesnumquadrado,para cerca de 1 200 pessoas, em que a zona central ocupada por edifcios pblicos e zonas verdes destinadas ao lazer e desporto.Osedifciosparaalmdeserviosenglobamalguns equipamentos como escolas, biblioteca e um centro de encontro, que constitui o centro. No permetro externo desenvolvemseasreasdehabitaes,ondeosjardinsdestas e um anel de ruas isolam todo o tipo de estabelecimentos industriais e rurais (Benevolo, 1997:567; Owen in Choay, 2005:6364).

Fig. 1 Cidade industrial de Robert Owen a multiplicaodascidadespelocampo. Fonte:Benevolo(1997)

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Owen apresenta o seu plano, entre 1817 e 1820, ao governo ingls, no entanto este reprovado. J na Amrica (1825) adquire um terreno para realizar o seu sonho, comunidade qual chamou New Harmony, no entanto confrontado com a realidade,vistoterqueseadaptaraaldeiasjexistentes,asua tentativafracassa(Benevolo,1997:568).

Fig. 2 Cidade industrial de Robert Owen New Harmony.Fonte:Benevolo(1997)

Entretanto em Frana, Charles Fourier (17721837), um escritor que defende um novo sistema filosfico e poltico, e que acredita que a reestruturao da sociedade atravs associaoecooperaoacuraparadoenapassageiraque civilizao existente, assenta a sua proposta num grande edifcio,oFalanstrio,nemurbanonemrural3,noqualdeve habitar um grupo de 1 620 pessoas de diferentes estratos sociais,afalange(comunidade),implantadonumterrenocom 250 ha (Benevolo, 1997:568). Segundo Choay (2005:9, 68), o modelo de habitao colectiva de Fourier caracterizase pela negao da famlia, pela ruptura com os modelos passados, pela forma de introduo da natureza no modelo e essencialmente pela viso funcionalista com o incio do zonamento funcional. O edifcio apresenta j uma separao de funes, por alas e pisos, separando os servios,

3Miles(2008:43)

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equipamentos, oficinas, habitaes e zona para visitantes. No pisotrreoexisteumptiocentraleptiosfechadosdemenor dimenso, de modo a no terem vista para ao campo, que funcionam como jardins de Inverno, e passagens fechadas para as carroas. O ptio central consiste no elemento de separao entre o edifcio principal e os estbulos, celeiros e lojas. No primeiro piso, encontramse as galerias cobertas climatizadas que fazem toda a comunicao interna, substituindo as ruas4 (Benevolo, 1997:568; Fourier in Choay, 2005:7274;Miles,2008:4344). Segundo Benevolo (1997:568) entre 1830 e 1850 existem vrias tentativas de colocar este modelo em prtica por parte dealgunspases.

Fig.3FalanstriodeFourier. Fonte: http://web tiscali it/icaria/urbanistica/fourier/fourier05b jpg

Fig.3FalanstriodeFourier. Fonte:http://web.tiscali.it/icaria/urbanistica/fourier/fourier05b.jpg

Noentanto,oFalanstrioapenasumapartedeumideal maior, ou seja, uma pea de uma de cidade ideal do perodo garantista5, que iria multiplicarse nessa cidade e gradualmente, atravs de um grande nmero de Falanstrios

Fourier abole as ruas assim Corbusier far no sculo seguinte, poderemos dizer que o modelo de Fourier serviu de inspirao para as ideias desenvolvidas por Corbusier para a Cidade Radiosa, alis segundo Choay (2005:68)anegaodafamlianomodelodeFourieradiferenasubstancial entreosdoismodelos. 5 Ver Choay(2005:6869)4

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substituila (Miles, 2008:42). Essa cidade dividese em trs anis concntricos de dimenses distintas adaptadas s construesnelasinseridas,separadosporplantaesrasteiras e relvados. O primeiro anel a cidade central, o segundo, destinadoaosgrandesedifciosfabrisearrabaldeseoterceiro para as grandes avenidas e subrbios. Todas as casas so isoladas, tendo os jardins ou ptios permeveis no mnimo a mesma rea da superfcie impermeabilizada pela construo. Oespaovaziopermevelodobroeotriplo,nosegundoe terceiro anel, respectivamente. O espao entre os edifcios deve ter pelo menos metade da altura deste, nas fachadas lateraisetardoz,eosedifcioslocalizadosnasruas,nodevem exceder em altura a largura desta, reservando um ngulo de 45C na fachada frontal, promovendo assim a ventilao e insolao. As ruas devem ter como ponto de fuga monumentos ou paisagem rural, algumas sero curvas, para quebrar a rectilineariedade sendo metade arborizadas com espcies variadas. Existem ruas pedonais, com a mesma largura das outras, no entanto parte da largura destas ocupadaporrelvado(FourierinChoay,2005:6971). Owen e Fourier recusam a cidade existente e o seu caos consequncia tambm da sua estrutura orgnica, propondo um modelo de cidade do futuro, implantado num espao amplamenteaberto,rompidoporvazioseverdesetraadode acordocomumaanliseeclassificaodasfuneshumanas, onde o racionalismo a cincia e a tcnica resolvem todos os problemasdacidade.

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Estas premissas, segundo Choay6 constituem a base do urbanismoprogressista(Choay,2005:89). Influenciados por Fourier, Victor Considrant (18081893) e Jean Baptiste Godin (18191888) propem edifcios inspirados no Falanstrio, como a colnia da Reunio, e o FamilistriodeGuise7,respectivamente(Choay,2005:77,105). Contudo,oFamilistrio,postoemprticaemGuise,apresenta caractersticas mais modestas, e seria implantado isoladamentenumparquecircundadopelaenseadadeumrio (Benevolo, 1997:568). constitudo por um edifcio principal com trs blocos fechados; edifcios anexos, onde se localizam os equipamentos e servios; ptios fechados e ruasgaleria, onde as pessoas convivem. Os elementos chave do Familistrioassentamnahigiene,areluz,convivnciaevida social, estimulao intelectual e educao (existncia de escolascomvriosnveisacadmicosebiblioteca). Godin preconiza essa luz e ar atravs dos jardins que envolvem o edifcio, alis defende que a jardinagem um recurso atractivo e essencial na educao (Godin in Choay, 2005:105107). Outra soluo utpica que surge na mesma altura como resposta ao estado de insalubridade da cidade, a de Benjamin Richardson (18281896), mdico ingls que funda o Journal of Public Health and Sanitary Review (18551859) e a Social Science Review (1862), que devido sua preocupao

6 Choay classifica as utopias socialistas e as propostas do sc. XX de progressistas e culturalistas, dois modelos, que se distinguem pelo tipo de projeces espaciais, de imagens da cidade futura, o primeiro associado criaodeumanovacidadeassentenasnovastcnicasenofuncionamismo,e osegundonanostalgiadaantigacidadeorgnica(2005:715) 7 aindahojeemfuncionamento

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com a sade pblica e o estado da cidade, desenvolve num livro (1876) um modelo utpico de cidade para 100 000 habitantes, qual chama Hygeia, e que surge de uma comunicao num congresso da Social Science Review (1875), conhecendo a partir desse momento, uma difuso mundial. (Choay,2005:99;OttoniinHoward,2002:25).Hygeiaocupaum terreno com 4 000 acres (cerca de 1 600 ha), com cerca de 20 000casas,numamdiade25pessoasporacre8.Ascasastm no mximo 4 andares (cerca de 18 m), cada uma com um mximode15apartamentos.Todasastraseirasdascasastm jardim, assim como terrao onde podem existir plantas. A cidadecortadaporduasgrandesruasprincipaisnosentido EsteOeste, existindo em cada uma, uma viafrrea para o trfego pesado. Outras ruas cortam as principais no sentido NorteSul, assim como as secundrias que so paralelas a estas, ladeadas por rvores e bastante largas, promovendo umaboainsolaoeventilao,tambmdevidobaixaaltura das construes. Os edifcios pblicos, os servios e os equipamentos,soindependentes,formandopedaosderuas e ocupando a posio de vrias casas. So cercados por um jardim e contribuem no s para a beleza da cidade, mas tambm para a sua salubridade (Richardson in Choay, 2005:100). Nas ruas principais, localizado equidistantemente, emvintelocais,encontraseumprdioisoladoenvolvidopor terreno, o hospitalmodelo, que se decompe em pequenas instituies(Richardson,inChoay,2005:101). Entretanto, ainda dentro das crticas e solues utpicas, mas numa perspectiva distinta das anteriores, John Ruskin (18181900)eWilliamMorris(18341896)criticamaapobreza do planeamento urbano e cidade inorgnica, incoerente,

8

1acreequivaleacercade0.4hectares

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desintegrada, defendendo um ideal nostlgico da organicidade e diversidade, da harmonia das ruas e cidades do passado, sendo estas as bases do urbanismo culturalista (Choay,2005:122). Morris (Choay, 2005:132135) critica ainda o fourierismo dizendoqueaquelemododevidaapenaspodeserconcebido por pessoas envoltas pela pior forma de pobreza. Defende tambm a recuperao e regenerao dos centros antigos, assimcomoasupressodadiferenaentreacidadeeocampo, eapreservaodoambientenatural. Aqum das solues utpicas, a renovao de Paris levada a cabo durante o Segundo Imprio (18511870), tendo vriassituaespositivasaseufavor,aambiodeNapoleo detornarParisamaissignificativacidadedomundo(Ottoni in Howard, 2002:32), a capacidade do Prefeito Haussman (18091891) e a existncia de duas recentes leis, a da expropriao (1840) e a sanitria (1850). Esta renovao pretende dar resposta aos problemas de insalubridade e congestionamentodacidade,atravsdabuscadaregularidade e de uma imagem moderna, revalorizando os monumentos atravsdasualocalizaoestratgica.Acirculao(165km) oelementobasedoPlanodeHaussman,dandocontinuidade slinhasbarrocasdopassadosoexecutadas95kmdenovas ruas que rasgam o tecido medieval, fazendo desaparecer 50 km das suas ruas antigas (Benevolo, 1997:589), a cidade assimcortadaporeixosortogonaisquesecruzamnumazona central,aledelaCitt.Osistemaviriocompletadopor12 avenidas que se prolongam at periferia e ao campo, perfazendo70kmderuas,comoobjectivodefacilitarfuturas expanses urbanas. A cidade estendese assim at s fortificaes externas. So ainda propostas avenidas que 33

circundam o centro e ligam os vrios sectores da cidade, principalmente as estaes ferrovirias (Benevolo, 1997:589; OttoniinHoward,2002:32).propostaumaeficienteinsero notecidourbanodenovosequipamentoseserviosquevisam responder s novas necessidades da populao, tais como, o aqueduto, gs, iluminao, rede de transportes pblicos, escolas, hospitais e nomeadamente parques pblicos (Benevolo,1997:593). Segundo Ottoni (Howard, 2002:36) o Plano de Haussman inspirou intervenes noutros pases, como por exemplo Viena,quederrubaasmuralhasantigaseassubstituiporum anel verde, o Ringstrasse (18731914) onde localiza, isolados relativamente cidade, novos equipamentos e servios. A interveno de Haussman e o Ringstrasse de Viena inspiram ainda, no incio do primeiro quartel do sc. XX, a criao de ummovimento,nosEUA,queassentanoembelezamentodas cidades, cujo precursor Daniel Burnham (18461912) responsvel pelo plano de Chicago (1909), obraprima deste movimentoquesedenominadeCityBeautifulequeinfluencia grandemente o desenho urbano europeu nos anos 20 e 30 (Lbo,1995:15). Assim como Paris, Barcelona tambm sofre uma interveno,masnestecasotratasedeumplanodeexpanso EnsanchelevadoacaboporIldefonsoCerdem1859.Este tipodeensanchefoitambmrealizadoemMadridcomoPlano Castro. O Plano de Cerd foi pensado para albergar 800 000 pessoas9 e alterou a cidade de Barcelona para o que conhecemos hoje. Caracterizase por possuir uma viso conjunta da cidade, com vista a resolver os problemas de

9

Lamas(2007:218)

34

higiene, mobilidade, densidade e desenvolvimento econmico. O desenho da nova cidade assenta num conjunto de elementos que formam uma estrutura de conjunto, a rede viriaeosseuscruzamentos,osns,eosquarteiresaosquais denominadeilhas,ondelocalizaosedifcios,equipamentose espaos verdes (Rueda, s/d). O Plano consiste numa quadrcula regular formada por vias com 20 m de largura e quarteirescom113mdelado,queformam,numconjuntode nove, um quadrado com 400 m de lado (Lamas, 2007: 216). Contudo esta quadrcula cortada por vias diagonais que se encontram numa grande praa. Esta nova malha envolve a cidade antiga que chega a ser atravessada por algumas vias quedocontinuidadeaoseixosdaexpanso.

Fig.4PlanodeBarcelonadeIldefonsoCerd(1864). Alternativaspropostasparaosquarteires.Fonte:Lamas(2007) 35

Embora o Plano consista numa malha ortogonal que forma quarteiresregulares,Cerdpropeumavariedadedeformas de ocupao destes, no entanto, a nova cidade construda segundoaformaclssica(Carvalho,2003:5253).Paraalmda estrutura viria que preconiza, Cerd prope igualmente um sistemadeparquesejardinscomopropsitodefuncionarem comoespaosdearpuro(Mendoza,2003). No entanto, embora os quarteires propostos possuam condies de higiene, salubridade e um carcter residencial muitoforte,aocontrriodacidademedieval,apresentandose igualmente muito direccionados para a burguesia, no resolvendo assim o problema da acomodao das classes trabalhadoras(Alonso,s/d:159). Arturo Soria y Mata (18441920) engenheiro espanhol, apresentaoseumodelo,aCidadeLinear,numarevista(1882) desenvolvendoo em projecto at 1892. Com este modelo pretende urbanizar o campo e ruralizar a cidade, juntando nummesmoespao,campo,indstria,servioseresidncias (Alonso,s/d:160).Omodeloconceptualdacidadeconsistena organizao de quarteires regulares ao longo de uma via central de circulao rpida proveniente de uma cidade j existente, apresentandose, segundo Soria y Mata, como uma cidadejardim linear, que oferece uma fcil acessibilidade entre a cidade e o campo e um mtodo de crescimento simples,atravsdaadiodequarteiresaolongodavia,em contraposiocomomtododecrescimentodacidadejardim deHoward(Hall,1977:7071;Hall,2002:131).

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Soria y Mata desenvolve o modelo com uma largura de 500 m, tendo como eixo principal um caminhodeferro que une aglomerados rurais j existentes (Hall, 2002:131), definindo atravs das suas estaes a localizao de equipamentos e comrcio (Fadigas, 1993:156). A rede viria secundriaconsisteemruasperpendicularesaoeixocentral,e uma paralela de cada lado, que no conjunto definem os quarteires com 200 m de largura. Paralelamente aos quarteires formalizada uma faixa verde de cada lado que faz a transio com o campo. Todas as habitaes so unifamiliarestmjardimehorta.OprojectodaCidadeLinear de Madrid foi iniciado em 1894, e deuse por concludo em 1904, por dificuldades financeiras, apenas com 5 km construdos, nunca tendo sido considerada uma cidade, mas apenasumsubrbio(Hall,2002:131).

Fig.5CidadeLineardeSoriayMata.Fonte: http://w3.uniroma1.it/menichini/web_menichini/prima% 20lezione/cap_3/citta_lineare_file/slide0010_image003.jp 37

Contudo, o conceito da Cidade Linear encontrase presente na organizao, maioritariamente espontnea, adoptadaporvriasexpansesurbanas,queforamcrescendo aolongoasprincipaisvias(Fadigas,1993:159160). No final do sc. XIX, um arquitecto denominado Sitte (1843 1903), publica uma obra, Der Stadtebau nach seinen Kunstlerischen Grundsatzen (1889), na qual desenvolve uma teoria e um modelo de cidade ideal. Esta obra influencia muitosurbanistasgermnicoseexerceumagrandeinfluncia na realizao das cidadesjardim britnicas e no urbanismo culturalista anglosaxo. As suas solues, so vistas por alguns, sendo de carcter humanista (Geddes e Mumford) e poroutros(LeCorbusier)retrgradasenostlgicasdopassado (Choay,2005:205).Sittepreconizaumasoluoassenteemtrs objectivos:eliminaodosistemamodernodeconstruircidade baseado na regularidade; recuperao do que resta das cidades antigas; aproximao e adaptao, realidade moderna, dos modelos antigos nas novas criaes. Critica a maneira como os locais pblicos, tais como o frum, o mercado,eapraa,soexecutadospelosistemamoderno,no servindo as necessidades das pessoas e da cidade, fortalecendo a ideia ao dizer que relativamente s praas a sua nica razo de ser consiste em proporcionar mais ar e maisluzeemrompercomamonotoniadosoceanosdecasas ()elasservemnomximocomolocaisdeestacionamentoe no tm nada a ver com as casas que do para elas () em resumo, falta animao precisamente nos lugares onde na Antiguidade, ela era mais intensa perto dos edifcios pblicos(SitteinChoay,2005:206,208).Noseulivro,prope umareformanaordenaodascidadesmodernas,consistindo um dos pontos fundamentais, a elaborao de planos de38

extenso de cidade preparados de modo inteligente, com estudospreparatrios(antecipandoseaotrabalhodeGeddes), constitudos por um bom programa de execuo, onde calculadoaproximadamenteocrescimentodapopulaonum perodo de cinquenta anos; um estudo de circulao; assim comoumestudodotipodeconstruesaexecutareomodo deasdispornacidade,querespalhadasdeacordocomasua funo,querembairroscommisturadeusos.Defendeaindaa ideia que os jardins devem ser espalhados, mas, em compensao,osedifciosimportantesdevemseragrupados, quehavendoanecessidadedevriaspraas,estasdeveroser agrupadas, tendo cada uma delas uma identidade prpria, e que as irregularidades existentes devem ser mantidas em detrimentodaaspiraodasimetria(SitteinChoay,2005:216 217).Oobjectivodoplanoconsistenoidealdeproporcionara cada cidade uma praa original, onde todos os edifcios importantes estejam reunidos, uma praa ou um bairro, com identidade,umespaoqueaspessoasgostemecomoqualse identifiquem. O pensamento culturalista ganha forma no final do sc. XIXeinciodosc.XX,atravsdaprimeirarespostaprtica problemticadacidadeindustrial,dadaporEbenezerHoward (18501928), considerado o pai das cidadesjardim, e o fundadordaAssociaodasCidadesJardim(1899).atravs do seu livro Tomorrow: A Peaceful Path to Social Reform (1898) reeditado em 1902 sob o ttulo de Garden Cities of Tomorrow, queexpeaomundoasteoriassobreoseumodelodecidade ideal a cidadejardim (Hall, 1977:44). No entanto Howard, explicaquenosetratadeumdesenhodefinitivo,masdeum conceitoquesedeveadaptarscaractersticasdoslocaisaser implementado para a sim, tomar a sua configurao 39

definitiva (Howard in Rego, 2001:1570; Ottoni in Howard, 2002:41). As suas teorias so postas em prtica pelos arquitectos Raymond Unwin e Barry Parker no projecto da primeira cidade jardim, Letchworth (1903), e por LouisdeSoissons no deWelwynGardenCity(191920). O diagrama Trs mans que Howard apresenta no seu livro explicita as vantagens e desvantagens existentes na cidade e no campo, sendo as vantagens da primeira, as oportunidadesdeempregoeacessibilidadeaserviosurbanos e a desvantagem o pobre ambiente natural existente, por sua vez o campo oferece um ambiente excelente, mas no as oportunidades da cidade (Hall, 1977:48), resumindo, com o diagrama Howard prope que a cidade e o campo se casem, formando o man cidadecampo, a cidadejardim, onde se juntamtodasasvantagensdocamposempremcausaasque acidadeoferece,nohavendolugarparaasdesvantagensde nenhuma delas (Mumford, 1956; Hall, 1977:51; Howard in Choay,2005:221). A cidadejardim consiste ento numa pequena comunidadeconcentradaeautosuficientecomcercade30000 pessoasnacidadee2000nazonaagrcola(OttoniinHoward, 2002:41; Choay, 2005:223), assente na indstria e agricultura local, e com uma populao residente limitada em termos de densidade e nmero (Mumford, 1956). Segundo Howard, a zona da cidade deve ocupar 400 ha na parte central de um terrenocom2400ha,eteraformacircular,comumraiode1 130 m. No centro da cidade existe um jardim, com 2 ha, rodeado pelos edifcios pblicos de maior dimenso e importncia. Desta zona central partem seis boulevards arborizadas (como todas as ruas da cidade) com 36 m de40

largura,quedividemacidadeemseisbairrosoupartes,eque atravessam a cidade at ao limite da circunferncia, penetrando no campo. No anel concntrico ao centro desenvolveseoParqueCentralqueocupaumareade58ha, e inclui ptios de recreio sendo de fcil acesso a toda a populao. Este Parque limitado, excepto nas intercepes comasboulevards,peloPalciodeCristalqueconsistenuma grande arcada envidraada aberta para o parque, no sendo apenas o centro de compras da cidade e do distrito e uma exposio permanente onde os fabricantes da cidade exibem os seus produtos, mas tambm um jardim de Vero e de Inverno (Choay, 2005:225). Aps o Palcio de Cristal, desenvolvese o cinturo de casas (implantadas em terrenos espaosos com jardins algumas vezes comunitrios), que divididopelaGrandeAvenida,umcinturoverdecom125m de largura, mais de 5 km de comprimento, ocupando uma rea de 50 hectares. Nesta avenida, esto localizadas em seis reas,com1haemeio,asescolaserespectivaszonasdejogos ejardins,enoutrasasigrejas.Noanelexteriordacidade,esto localizadastodootipodeindstriasearmazns,aolongode

Fig.6EsquemageraldacidadejardimdeEbenezerHoward. Esquemadesecodacidadejardim.Fonte:Hall(1977) 41

umcaminhodeferrocircular,queseligaaumagrandelinha frrea atravs de ramificaes. A envolver a cidadeencontra se a zona agrcola (Ottoni in Howard, 2002:41; Choay, 2005:222225) que absorve os resduos slidos urbanos (Andrade,2005:31). Howard defende uma elevada densidade residencial, assim prope que quando cidade crescesse at ao limite estabelecido, ela deixaria de crescer e seriam criadas outras pequenas cidades autosuficientes em redor da cidade principal,mantendoascaractersticasdesta,eestandoapouca distncia da mesma, consistiria num crescimento por adio de clulas numa complexa aglomerao de cidades, tendo como pano de fundo o campo (Hall, 1977:52; Corbett &

Fig.7SistemadecidadesCidadeSocial. Fonte:Hall(1977) 42

Corbett, 1999:5; Ottoni in Howard, 2002:41; Choay, 2005:226 227). Howard chamou a este assentamento policntrico de Cidade Social (Hall, 1977:52; Hall, 2002:109). As cidades seriamenvolvidasporumcinturoverde,deformaaevitaro desenvolvimento da cidade em mancha de leo, e teriam ligaes rpidas entre si e com a cidade central, atravs de caminhosdeferro e elctricos, facilitando a mobilidade dos habitantesdetodooconjuntodecidades,alisadistnciade cadacidadeaocentrodacidadeprincipal,noseriamaiorque 5quilmetros(OttoniinHoward,2002:41;Choay,2005:227). Um dos pontos a destacar deste modelo o facto de se estar na presena de uma cidade, um contnuo urbano, com uma grande presena de espaos verdes o cinturo verde interior,oparqueeoespaoagrcolaenvolventeenonuma misturadecidadecampo(Carvalho2003:76).Acidadejardim assentadestemodonumacidadedetamanhodefinidoeonde subsiste um equilbrio funcional entre cidade e o campo (Fadigas,1993:162). AsteoriasdeHowardcomeamainfluenciarourbanismo devriospasesnoiniciodosc.XX,apsapublicaodoseu livro, tendo vrios seguidores, entre eles Raymond Unwin (18631940), que com Barry Parker, constri mais tarde um subrbiojardim no Nordeste de Londres Hampstead Garden Suburb(19059). UmdosmaiorescontributostericosdeUnwinconsisteno livroTownPlanninginPractice(1909)ondeexpealgumasdas suasideias,nomeadamente,apreocupaodoconfrontoentre os traados regulares e irregulares e a proposta do planeamento da cidade a duas escalas, o town planning distribuiofuncionaledosequipamentos,eorganizaodos traados virios; e o site planning organizao do 43

bairro/quarteiro/rua (Carvalho, 2003:78; Lamas, 2007:254 256), que podemos dizer equivalentes aos actuais plano de urbanizao e plano de pormenor. Defende a importncia de centros bem definidos, com uma concentrao de edifcios pblicos, constituindo verdadeiros ncleos de composio dentro do projecto da cidade. Para alm da definio de centros, Unwin preconiza a diviso destes em, principais e secundrios, sendo necessrio a sua existncia tambm nos bairros e subrbios, e importante a escolha das suas localizaes, uma vez que estes centros devem servir no s destioparaosedifciospblicos,mastambmcomofocosde vida social. Unwin menciona ainda que a estao do caminhodeferro um dos pontos focais das vias de comunicao, um n de alguma importncia, visto ser uma dasentradasdacidade,postoisto,develocalizarsenofundo de uma praa aberta, enobrecendo a entrada da cidade e facilitando o trfego (Unwin in Choay, 2005:230231). Esta posio referente importncia dos centros e dos ns retomada, por Kevin Lynch (Lamas, 2007:254). O livro e os ideais de Unwin tm influncias de Sitte, assim como se baseiam igualmente nos ideais de Howard, no entanto com alguns desenvolvimentos e modificaes, que Unwin desenvolve com Parker, particularmente no que refere proposta de densidades residenciais mais baixas; ao desenvolvimento de cidades tendo como pano de fundo o espao verde livre; e existncia de cintures verdes como limite das novas comunidades/bairros (Hall, 1977:55). Alis, Unwin defende que no se deve deixar crescer as cidades livremente, sendo fundamental concederlhes limites, que separem as diversas partes das vizinhas, nomeadamente os novosbairros,umalinhadeseparaontidaentreocampoe cidade,evitandoasmargensirregularesdeaglomeraes()44

que desonram os subrbios de quase todas as cidades modernas.Limiteessequepodeserformalizadoporfaixasde floresta, terras de cultivo ou parques com reas de jogos (UnwininChoay,2005:230). TambmnosEUAasinflunciasdeHowardsosentidas, assim durante o incio dos anos 20, um grupo de seguidores de Howard e das experincias de Unwin, denominado de RegionalPlanningAssociationofAmericatentapremprticaa teoria da cidadejardim, no entanto, o resultado so apenas subrbiosjardim ou cidades inacabadas. Deste grupo fazem parte, entre outros, Lewis Mumford, Clarence Perry, que desenvolve o conceito de unidade de vizinhana, do qualse falar adiante, Clarence Stein (18821975) e Henry Wright (18781936). Steindosprimeirosplaneadores,partedeParkereLe Corbusier, em Inglaterra e Frana respectivamente, a tentar solucionar os problemas trazidos pelo uso massivo do automvel. Defende que nas zonas residenciais necessrio uma separao entre a circulao pedonal/bicicletas e a de trfego automvel (Hall, 1977:59) assim, juntamente com Wright,tentaaplicarestapreocupaoeasteoriasdeHoward no desenvolvimento do que a primeira cidadejardim dos EUA, Radburn, em New Jersey (1933), que no chega a ser concludadevidoaosanosdaDepresso.Radburnorganizase em quarteires regulares de grandes dimenses, com um espao central livre onde se localizam a escola, algum comrcio e jardins comunitrios, e para onde se encontram viradas as habitaes. A importncia do automvel minimizada e o acesso s habitaes efectuado atravs de culdesacs que partem das vias principais. A rede de caminhos pedonais e ciclovias permitem o acesso a toda a 45

comunidade, e possuem uma informal naturalidade (Hall, 1977:61; Hall, 2002:146; Carvalho, 2003:8889; Corbett & Corbett,1999:5;Lamas,2007:312). Embora no tenha sido concluda, com a experincia de Radburn,SteineWrightdoumcontributofundamentalpara a cidadejardim que reside no manejo do trfego e da circulao de pedestres atravs do chamado esquema Radburn,porelesdesenvolvidoem1928(Hall,2002:142143). O princpio do Esquema de Radburn, aplicado por Stein noutros dois casos nos EUA nos anos 30, mas apenas adoptado na GrBretanha depois da 2 Guerra Mundial, no final os anos 50 (Hall, 1977:61), excepo da sua utilizao por Parker em Wythenshawe (1930), Manchester. Stein na dcada de 20/30, reinterpretando a cidadejardim prope as Greenbelt Towns, cidades satlites envolvidas por cintures verdesequedeacordocomFadigas(1993:174)nopassavam de unidades de vizinhana, equipadas, mas com caractersticasdereasresidnciassuburbanas,ossubrbios jardim. SegundoHall(1977:56;2002:128),BarryParker(18671947) vai um pouco mais alm no desenvolvimento e reinterpretaodasideiasdeHoward,enaintroduodetrs conceitosquetrazdosEUA(1925),doisdelesdiscutidoscom ClarenceSteineHenryWrightem1924,quepeemprticano projectodeumacomunidadepara100000habitantes,aSulde Manchester, Wythenshawe10 (1930). O primeiro consiste no desenvolvimento de parkways (vias rodovirias associadas a parques, concebidas por Olmsted) no espao livre entre as cidades, facilitando a ligao entre elas (uma adaptao do

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ParaHall(1977:56)aterceiracidadejardim

46

caminhodeferro para a realidade motora); o segundo, o princpio da diviso da cidade em unidades de vizinhana articuladas;eporltimooprincpiodoesquemadeRadburn dacidadejardimelaboradaporSteineWrightem1928(Hall, 2002:128129). o grupo Regional Planning Association of America, principalmente atravs de Mumford, que igualmente na dcada de 20, espalha pelos EUA e o resto do mundo, a filosofiaeconceitosdeoutroestudiosoPatrickGeddes(1854 1932), fundindoa com a de Howard, e como aconteceu com este,reinterpretandoa(Hall,2002:161). Geddes um bilogo escocs que se interessa pelo urbanismo, nomeadamente pela relao do Homem com o meioenvolventeepelocrescimentodascidades,chamandoa ateno que as novas tecnologias (energia, motor) estavam a fazer com que as cidades se dispersassem cada vez mais acabandoporseconglomerarem,definindoessasituaocom umnovoconceitoconurbao(Hall,2002:171).Segundoeleo grande problema desse crescimento que essas cidades so

Fig. 8 Processo de Conurbao, Certo e Errado (Diagrama do livro Cities in Evolution (1915) de Geddes, onde mostra o alastramento da cidadeeoseuremdio.Fonte:Hall(2002:172) 47

ainda o resultado da era industrial (descentralizao suburbana), portanto consistem num problema em expanso, deste modo, assim como Howard tambm preconiza, mas noutraescala,imprescindveltrazerocampoatcidadeat rua,enoapenasocontrrio,fundamentalqueascidades paremdeesparramarsecomoborresdetintaemanchasde gordura(Hall1977,65;2002,171). Com esta preocupao Geddes cria o conceito de planeamentoecidaderegionaleexpeassuasideiasemdois livrosCityDevelopment(1904)eCitiesinEvolution(1915). Um dos seus maiores contributos consiste no diagrama Seco de Vale11 e no mtodo que prope, e que assenta na necessidade da elaborao de um levantamento ambiental, geogrfico, historio, econmicosocial, limitaes e potencialidades locais, para o desenvolvimento de qualquer projecto urbano, para isto ele elabora um esquema12 geral adaptvel a cada realidade (Hall, 1977:65; Sarmento, 2004:10; Choay, 2005:274275). Questiona ainda, numa conferncia se uma vez donos desses elementos no seramos capazes de prever e organizar seu possvel desenvolvimento? (Choay, 2005:275). Mas aps a 2 Guerra Mundial que quer a teoria da cidadejardimdeHowardquerafilosofiadeGeddescomeam a proliferar, principalmente na GrBretanha. A ideia de construir este modelo de cidade em grande escala avana assim, com o objectivo de evacuar a populao dos centros urbanos sobrelotados, aps uma srie de relatrios, entre os quaisodeBarlow(1940),Uthwat(1942),Reith(1946),ecomo

11 12

VerHall(2005:165166,171)eSarmento(2004:1114) Choay(2005:277278)

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resultadodasNewTownsActde1947quepromovemacriao deumasriedenovascidades,14naGrBretanha,seguindo osideaisdacidadejardim(Mumford,1956;OttoniinHoward, 2002:56,85;Carvalho,2003:8081). Para alm dos relatrios destacase o Plano Abercombrie paraLondres(1944)elaboradoporPatrickAbercrombie(1879 1957),quepropeodescongestionamentodacidadeexistente; umcinturoverde,comreasdejogos,lazereequipamentos, entreos20kme35kmdocentro;eacriaodenovascidades autosuficientes, com cerca de 50 000 habitantes (Ottoni in Howard, 2002:86; Carvalho, 2003:80). Neste plano possvel constatar as influncias de Howard, Unwin, Geddes e Mumford(Hall,1977:66;Hall,2002:200). Contemporaneamente a Howard, Tony Garnier (1869 1948) apologista dos ideais progressistas exerce um papel primordial na origem do urbanismo e arquitectura moderna (Choay 2005:164). Garnier dedicase igualmente elaborao de um plano de uma cidademodelo, terminandoo em 1901, no entanto, o seu livro Une Cit Industrielle apenas editado em 1917. No livro so definidos os princpios bsicos da cidade, que assentam na anlise e separao das funes urbanas(zonamento);naorganizaodacidadeaumaescala macro, como uma cidade linear, centrada em eixos virios, nomeadamente no caminhodeferro e consequente sucesso de estaes13; importncia dos espaos verdes, como elementos isoladores; padronizao dos diferentes tipos de edifcios; e utilizao de novos materiais, nomeadamente o betoarmado(Choay2005:163).

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Carvalho(2003:95) 49

Uma Cidade Industrial ter sido o ponto de referncia para aqueles que, sem visionarem a ruptura com a cidade tradicional, propunham a sua evoluo e adaptao (Lamas, 2007:268). Garnier prope uma cidade mdia, para 35 000 habitantes, implantada entre uma zona montanhosa e uma plancie por onde passa um rio. Na plancie, perto do rio localizaseafbricaprincipal,umametalrgica,eentreestae acidade,quesedesenvolvenumplanalto,passaumcaminho deferro. Acima da cidade encontramse dispersos os estabelecimentos sanitrios. Quer estes, quer a cidade esto expostosaSuleabrigadosdosventos,umavezqueestandoj emvigoremmuitascidadesosregulamentosdehigiene14,so elaboradas e cumpridas uma srie de normas na sua cidade modelo. A estrutura viria consiste numa rede de ruas paralelas e perpendiculares. A rua mais importante parte da estao da estrada de ferro e vai de leste para oeste. As ruas nortesul tm 20 metros de largura e so arborizadas dos 2 lados,asruasOesteLestetm19ou13m,sendoasprimeiras arborizadasapenasdeumladoeassegundasno(Garnierin Choay, 2005:164166). Os bairros residenciais organizamse porquarteirescom150x30m(sentidoLesteOesteeNorte Sul,respectivamente),quesesubdividememlotesde15x15m, com um lado virado para a rua. A superfcie construda dever ser inferior metade da superfcie total do terreno, desenvolvendose no restante terreno do lote um jardim pblicoqueenvolveasconstruesatrua,existindoassim, uma passagem livre de acesso construo situada atrs da primeira, permitindo o atravessamento em qualquer sentido,

quevariamconsoanteascaractersticasclimatolgicasegeogrficasdos locais,aorientao,eadominnciadosventos 50 14

semanecessidadedepassarpelarua,eousufrutodojardim porpartedetodososresidentes(GarnierinChoay,2005:165). SegundoLamas(2007:270),Garnierpropeapermanncia da relao traado/rua/lote/edifcio, sendo a organizao do espao definida pela arquitectura. No que concerne aos servioseequipamentos,Garnierprope,nocentrodacidade, um espao destinado ao que ele denomina de estabelecimentospblicos,equeformamtrsgrupos,ogrupo Iosserviosadministrativosesalasdeassembleias,ogrupo II as coleces, que englobam museus, biblioteca, salas de exposies, e o grupo III os estabelecimentos desportivos e de espectculos. Os dois ltimos grupos localizamse num parquelimitadoaonortepelaruaprincipalepelogrupoI,ao sul por um terrao ajardinado com vistas para a plancie (GarnierinChoay,2005:166).

Fig.9CidadeIndustrialdeTonyGarnier Pormenordosbairroshabitacionais.Fonte:Lamas(2007)

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Espalhadas pelos bairros, em locais convenientemente escolhidos,localizamseasescolasprimrias,dentrodasquais existe uma rua ajardinada que separa as diferentes classes e servederecreio.NoextremoNordestedacidadesituamseas escolas secundrias. A estao disponibiliza igualmente alguns servios, e localizase no cruzamento da avenida que sai da cidade com as ruas que conduzem cidade velha, existindo na praa sua frente um mercado ao ar livre. O bairroanexoestaoconstitudoporhotis,grandeslojas,e outros servios, ficando o resto da cidade desocupada de construesemaltura(GarnierinChoay,2005:166169). Embora faa parte do movimento moderno de ideais progressistas, Garnier mantm ainda a relao rua/lote/edifcio, porm essa relao rompida atravs dos seusprecursores. Assimcomoomovimentoculturalista,noinciodosc.XX o movimento moderno e designadamente os ideais progressistas inspiram vrios profissionais, nomeadamente Walter Gropius (18831969), o fundador da Bauhaus15, que segundo Choay (2005:175) exerce uma influncia ideolgica sobre a arquitectura e o urbanismo, comparvel de Corbusier. com a influncia de Gropius que a arquitectura americana adere, depois da 2 Guerra Mundial, ao estilo internacional. Este estilo usado na construo moderna e baseiasenaexactidoerigorformal,simplicidadedentroda diversidade;estruturaodasunidadesconstrutivasconforme s funes respectivas dos edifcios, das ruas, dos meios de

15Cujosprincpiossefundamentavamnosconceitosdacriaodeumespao

moderno,dapadronizaoeprfabricao 52

transporte; limitao a formastipo, de base, que so classificadas e repetidas (Gropius in Choay, 2005:177). Para Gropiusaresidnciaaclulatipodeumaunidadesuperior que na rua, e a cidade deve ser homognea, atravs da repetio de elementos arquitectnicos standardizados, e ter uma estrutura mais dilatada, mas no dispersa, devendo ser executadas simultaneamente construes horizontais (nas zonas suburbanas) e verticais (nos centros urbanos densificados) de 10 andares, que tm vantagens no aumento deespaovital,favorecendoosganhosdesol,luzear,devido ao distanciamento entre construes, e aumentando o espao para estacionamentos e localizao de comrcio. Porm, tambmGropiussenteanecessidadedecidadesmaisverdese da reconciliao entre a cidade e o campo, defendendo, a criao de cidades verdes disseminadas num campo urbanizado,isto,unidadesdeescalamaishumanadispersas pela regio, como resposta ao crescimento urbano, aliviando assim os grandes centros. Estas cidades estabeleceriam a reconciliao cidade/campo e consistiriam na base de uma estruturaurbanaregional(GropiusinChoay,2005:180181). Todavia, apenas em 1928 que o modelo progressista amplamente difundido atravs do grupo dos C.I.A.M. (Congresso Internacional de Arquitectura Moderna), que em 1933, no IV Congresso decorrido em Atenas com o tema A Cidade Funcional, elaboram La Charte dAthnes (Carta de Atenas) apenas publicada em 1943, onde expressam e delineiam os ideais progressistas. Os princpios da Carta de Atenas assentam no sol, espao e verde e em quatro funes chave: habitar, trabalhar, recrearse e circular, porm se por um lado, as preocupaes higienistas levavam exigncia de luz e verdura, por outro, o modo de fornecer estes 53

elementos era desligado do suporte fsico e biolgico (Magalhes, 2001:9294, 98; Choay, 2005:1920). O grande divulgador da Carta de Atenas, redigindo o seu texto final Le Corbusier (Carvalho, 2003:94, 97; Lamas, 2007:337, 342, 344). Le Corbusier (Charlesdouard Jeanneret, 18871965), embora na prtica tenha tido poucas realizaes, um divulgadordosideaisdourbanismoprogressista,assimcomo Garnier e Gropius, organizando a sua cidade segundo a classificao das funes urbanas (zonamento), criao de prottipos funcionais, standardizao e racionalizao do habitat colectivo, e multiplicao dos espaos verdes (Carvalho, 2003:97; Choay, 2005:183). Corbusier culpabiliza o traadonogeomtricodacidade,peloestadoemqueestase encontra, criticando a cidade onde tudo se confunde e cresce num ambiente catico onde se acumulam os imveis, se enlaam ruas estreitas repletas de barulho, de cheiro a gasolina e de poeira, fortalece a sua ideia dizendo que as condies naturais foram abolidas! A cidade radiocntrica industrialmodernaumcncerquevaiindobem(Corbusier in Choay, 2005:184185). Critica igualmente a cidadejardim, denominandoa de grande disperso de pnico (Carvalho, 2003:99).Assim,osprincpiosdeCorbusierbaseiamseemtrs pontos,nacriticadonofuncionamentodacidadetradicional e congestionamento dos centros, no paradoxo que o congestionamentoresolvidoaumentandoadensidadeepor ltimoapreocupaodadistribuiodedensidadedentroda cidade (Hall, 1977:73). Atravs de uma classificao da populao, Corbusier prope um programa de urbanismo com o objectivo de limpar e simplificar a cidade, no qual o centro consiste apenas no local de trabalho para cerca de54

500 000 a 800 000 pessoas, esvaziandose noite, uma parte dessaspessoashabitanazonaresidencialurbanaearestante absorvidapelascidadesjardim. Este programa16 fixa as linhas orientadoras do urbanismo moderno (Corbusier in Choay, 2005:187). Deste modo, em 1930 Le Corbusier elabora a sua tese, que denomina de Ville Radieuse(CidadeRadiosa).Comasnovastcnicasemateriais deconstruoelepretendeabrirasfachadasparaoareosol, deixando o solo livre, e fazendo dos telhados um novo solo. Abole a rua e a sua vida, os ptios, as praas e pretende transferirparaosterraos,oscafs,comrcioelocaisdelazer ondepequenaspassagensestabelecemacirculao(Corbusier inChoay,2005:189190).Acidaderadiosadesenvolveseassim num terreno plano, uma vez que necessrio construir geometricamenteeaoarlivreeparaCorbusierconstruiraoar livresignificasubstituiroterrenoirregular,insensato()por um terreno regular e longe do rio (Corbusier in Choay, 2005:192,194). divididasegundoaclassificaodapopulao(urbanos, suburbanos e mistos), separao de funes (trabalho, habitaoelazer)efuncionalondesedistinguemdoisrgos, separados por uma zona de extenso e proteco, a zona vassala, reservas de ar bosques e prados, um a cidade o centro organizado e compacto, o outro a cidadejardim o cinturo extensvel e flexvel (Corbusier in Choay, 2005:192). Demodoarespondernecessidadedoaumentodadensidade defendida por ele, ao aumento dos espaos verdes, e diminuio do caminho a percorrer, Corbusier com base nos novos materiais e tcnicas, prope a construo em altura,

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Choay(2005:187) 55

longedasruas,comasjanelasdandoparaparquesextensos (Corbusier in Choay, 2005:194), sendo a unidade de habitao o elemento morfolgico de organizao da cidade (Lamas,2007:352).

Fig.10LeCorbusierLaVilleContemporaine.Fonte:Lamas(2007)

Assim os edifcios afastamse do solo, ficando este livre entre pilares, desenvolvendose o primeiro piso a 3 m de altura. Estas unidades de habitao tm 50 m de altura, ocupandoumapequenareadesolo,25haemcontraposio com os 200 ha da cidadejardim, esto afastadas umas das outras cerca de 150 a 200 m, e so envolvidas por espaos pblicos e jardins. A circulao efectuada por meio de ruas interiores,ruasgaleria(CorbusierinChoay,2005:191).Noque referecirculaoviria,Corbusiereliminaoconceitoderua corredor, deixando esta de ser um elemento estruturante da cidade, e aposta na rapidez da circulao viria atravs da56

segregao e especializao de vias e da geometria, uma vez que defende que a cidade moderna composta por linhas rectas e as 7 vias17 constituem o sistema sanguneo e respiratrio () capazes de regular a circulao moderna (CorbusierinChoay,2005:188).Destemodo,propetrstipos de rua, no subsolo (nvel trreo), os transportes pesados de cargas e descargas rodeados de espao verde; ao nvel do primeiropiso,oacessodosautomveis,peesebicicletas,ea um nvel sobrelevado (os viadutos), com sentido NorteSul e

Fig. 11 A Cidade Radiosa de Corbusier esboos de edifcios em amplosespaosverdes.Fonte:Lamas(2007)

17Aregradas7Vfoiestabelecidaem1948apedidodaUNESCOeconsiste

naclassificaoehierarquizaodevias(Choay,2005:187188) 57

EsteOeste, o grande autdromo de atravessamento, para veculos rpidos. Existe apenas uma estao localizada no centro, que faz a comunicao com todos os meios de transporte,inclusiveosareos(CorbusierinChoay,2005:193 194). SegundoCarvalho(2003:94)distinguemsedoismomentos relativos ao modelo expresso na Carta de Atenas, o primeiro desdeoinciodosculoat2GuerraMundial,queassenta basicamente em utopias e algumas realizaes, e onde se destacam,osjmencionados,Garnier,GropiuseLeCorbusier, eumsegundomomento,nopsguerraataosanos70,coma adopo intensiva do modelo, devido necessidade inerente de construir rpido e economicamente, neste momento o modeloassumeainternacionalizao. No entanto o modelo preconizado na Carta de Atenas comea a ser criticado a partir dos anos 60, tendo sido a aboliodaruaedaspraas,asuabanalizaoeosresultados apresentados os principais motivos desta crtica. Alis no incio dos anos 70 o urbanismo moderno comea mesmo a morrer dando lugar criao do Novo Urbanismo e nostalgia pela cidade antiga (Carvalho, 2003:94; Lamas, 2007:387389). Contemporaneamente a Le Corbusier mas apresentando uma perspectiva completamente distinta da culturalista e da progressista, encontrase o arquitecto Frank Loyd Wright (18691959), considerado como terico da disperso e antiurbanista,ecujainflunciaseespalhapelomundoapartir de 1911, contudo mais discretamente que a dos arquitectos europeus. Os conceitos de liberdade total, individualidade e de espao orgnico so elemento inspirador de toda a sua obra.Apresentaoseumodeloutpico,BroadacreCity,em1934,58

atravsdeumamaquetegiganteedapublicaodetrslivros (Choay,2005:235236).Onomedomodeloprovmdaideiade 1 acre por indivduo, e a cidade natural da liberdade do espaoconsistenumhbridourbanoruraldebaixadensidade residencial, em que as construes de linhas orgnicas se espalhameintegramharmoniosamentenapaisagem,queno se assume como um suporte mas como um elemento arquitectnico. A arquitectura subordinase natureza. (Carvalho, 2003:119; Wright in Choay, 2005:241; Choay, 2005:31).Wrigthsuprimeacidadeexistente,evoautomvel nocomoumproblema,comoosoutrosurbanistas,mascomo umaliado,umavezquecomoaumentodoseuusoeextenso de vias, mais fcil chegar rapidamente a qualquer lado, portantoaconcentraodeixadesernecessria,viabilizandoo seu modelo (Hall, 1977:67; Fadigas, 1993:167). A circulao viriapromovidaporautoestradasintegradasnapaisagem eladeadasporrvoresesebes.Todasasunidadesfuncionais (residncia, oficinas, comrcio) ficam a curta distncia das escolasedomercado,eoslocaisdetrabalhonasproximidades das habitaes. As escolas so implantadas num parque envolvidoporcampo,etmterrenosuficienteparaosalunos fazerem plantaes (Wright in Choay, 2005:241245). Em Broadacre City no existe separao de funes, como noutros modelosmodernistas,porquecomorefereCarvalho(2003:125) na construo dispersa, caracterstica do modelo, isso no necessrio. Embora o modelo no seja efectivamente aplicado a dispersoumarealidadedacidadeactual. 59

1.1.2OCasoPortugus EmPortugalaindustrializaonomuitosentida,deste modo o crescimento das cidades no segue o exemplo das vrias cidades europeias, mantendo os seus limites amuralhadosatmeadosdosc.XIX.ApenasLisboaeoPorto registam um significativo crescimento urbano (Carvalho, 2003:5152),queconduz,em1865,elaboraodeumdiploma com as bases dos Planos Gerais de Melhoramentos destas cidades, que vigoram at 1934 e nos quais esto patentes as principais preocupaes urbanas da poca, a higiene e a circulaodascidades.Atravsdestesplanosourbanismod os primeirospassos em Portugal, porm este s seevidencia, nosanos30,atravsdasacesdeDuartePacheco,alturaem que so efectuados os Planos Gerais de Lisboa e Porto. No entanto as correntes urbansticas chegam a Portugal com um grande desfasamento e por vezes j alteradas ou com diferentesinterpretaes(Lbo,1995:13). Como j foi referido, antes da poca de Duarte Pacheco so elaborados alguns estudos, nomeadamente para Lisboa e Porto. Em 1874, altura em que se inicia um crescimento populacional na capital, Ressano Garcia (18471911) ingressa na Cmara Municipal de Lisboa e elabora uma srie de estudos, influenciados pelo Plano de Haussman, mas que harmoniosamente se conjugam com as prexistncias, sendo integrados, em 1904, no Plano Geral de Melhoramentos, que propenointeriordanovamalhaurbana,umgrandeespao verdecentral(Lbo,1995:17,22). Em1927,aCmaraMunicipaldeLisboaconvidaForestier, arquitectopaisagistafrancs,paracolaborarnaelaboraode outro Plano Geral de Melhoramentos que visa organizar o60

crescimentodacidade.ApropostadeForestierreflecteassuas orientaesmetodolgicas paraaszonas de expanso,que se baseiamnoestabelecimentodeumprojecto,umprogramaou sistema, expresso topograficamente, de espaos livres, de jardins e de parques (Lbo, 1995:16,26, DGOTDU, 2005), sistema este j preconizado por Olmsted nos EUA (Fadigas, 1993: 143144; Telles, 1997:57; Magalhes, 2001:105). A proposta assenta assim, na localizao de um parque que envolve a cidade onde localiza alguns equipamentos e trs pequenascidadesjardins(Carvalho,2003:84;DGOTDU,2005) enaexpansodacidadeparaNorte,quesearticulaporuma rotunda com uma alameda que atravessa o parque e que consiste no principal eixo da cidade (Lbo, 1995:2628; DGOTDU, 2005). Lbo (1995:16,124126,142) enquadra a interveno de Forestier no movimento City Beautiful, que influencia,entreosanos30e40,osplanosdeCristinodaSilva, Carlos Ramos, Paulino Montez, Jorge Segurado (Plano de UrbanizaodaPraiadoCabedelo,1934),JosPorto(Planode UrbanizaodaTermasdoGers,1936)ePauloCunha(Plano GeraldeArranjodaQuarteira,1942). Nosanos20soelaboradosestudosparavriaszonasdo pas, pela primeira gerao de arquitectosurbanistas portugueses(Lbo1995:16,31,132). No entanto, nos anos 30 que o urbanismo se lana em Portugal, atravs da aco interventiva de Duarte Pacheco, dirigentedoMinistriodasObrasPblicas(1932)quetempor objectivo a transformao da imagem das cidades portuguesas, prevendo assim a necessidade da criao de Planos Gerais de Urbanizao (1934). Todavia, estes apenas ganham fora em 1944, altura em que comeam a existir as

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bases de trabalho necessrias elaborao e execuo dos planos(Lbo1995:3537). Assim,aolongodosanos30einciodosanos40destacam se alguns planos e intervenes levadas a cabo por arquitectosurbanistasportugueses. Em 1932, tendo em conta o crescimento populacional do Porto, Ezequiel Campos influenciado pela teoria do planeamentoregionaldePatrickGeddes,propeaelaborao deumPlanoqueenglobaaspovoaesenvolventes,tendopor objectivo a definio de uma vasta cidade, a cidade regional, atravs de um plano regional de urbanizao. No plano so estudados os acessos cidade e a sua interligao com as outras povoaes, a rede de ruas que envolvem o centro e a localizao dos diversos usos, tais como a habitao, equipamentos, espaos verdes e a indstria. A ideia de Ezequiel Campos posta em prtica mais tarde pelo prof. AntodeAlmeidaGarrettquedesenvolveoPlanodaRegio doPorto(Lbo1995:15,3031). Aindanesteano,oarquitectoRogriodeAzevedoconcebe umapequenacidadejardimnaperiferiadeVianadoCastelo, na proximidade do caminhodeferro (Lbo, 1995:146; Carvalho, 2003:84). Lbo (1995:146) considera que esta propostaconsistenoprennciodacorrentequeirdominaro urbanismo portugus a partir do final da dcada de 30. Contudo a nvel morfolgico aproximaa da corrente reformista germnica das Siedlungen18, que da cidadejardim deHoward.

Pequenosaglomerados,geralmentecomtraadogeomtrico,localizados prximosdanaturezaedocaminhodeferro(Lbo,1995:146) 62 18

Cassiano Branco dos arquitectos portugueses j referidos, onicoquenosededicaaourbanismoenoinfluenciado pelacorrenteCityBeautiful,ele,assimcomoRogrioAzevedo prenunciaa corrente da cidadejardim,antecipa emPortugal, alinguagemdaCidadeRadiosadeCorbusier,edesenvolveno inciodosanos30,umapropostautpica,umplodelazerna Costa da Caparica, onde a arquitectura assume o papel principal.Apropostacaracterizasepeloamploespaopblico desenhado a pensar no automvel e por ignorar as pr existncias, deixando apenas a paisagem envolvente que tem por funo enquadrar os conjuntos de grandes edifcios propostos(Lbo,1995:103,124). Da primeira gerao de arquitectosurbanistas, os mais notveissoCarlosRamos,CristinodaSilvaePaulinoMontez (Lbo,1995:103). Em1935,CarlosRamosganhaoconcursoparaoPlanoda Praia da Rocha, que no sendo aprovado na altura devido a reacesnegativasporpartedaimprensa,omaistardeaps algumas alteraes. O plano dividese em duas composies, uma que se desenvolve em leque, tendo como centro uma praa costeira, e outra que se formaliza ao longo da costa, onde so demarcados os ns do eixo virio principal que se prolongaparaointerior.Nasduasavenidasperpendiculares costalocalizamseosequipamentoscomumaestruturaviria geomtricaquesedesdobraemruasdemenordimensoque enquadram os quarteires residenciais, sendo toda a rea construdaenvolvidaporespaosverdes.ParaLbo(1995:113 115) este plano um notvel exerccio de composio inspirado em exemplos contemporneos de desenho da cidade.Ramos,elaboraaindadoisplanosquesedestacam,o

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de Tomar (19381944) e o de Ponte de Sor, iniciado em 1944 (Lbo,1993:9798,fig.5.10;1995:115117). Aolongodadcada30,CristinodaSilvadesenvolvedois Planos de Pormenor para Lisboa e tambm prope uma cidadejardim para Lisboa que no concretizada, influenciandoporm,oplanoquedesenvolvenadcadade40 paraaPraiadeVieiradeLeiria(Lbo,1995:103,105). Em 1941, Cristino concebe o Anteprojecto para a Urbanizao da Frente Marginal de Monte Gordo, que consiste numa proposta que estrutura um conjunto de equipamentos, tendo como elemento principal o Casino que uneaalamedapedonaldapraiacomaviaprincipaldeacesso ao aglomerado existente. Dentro da mesma linguagem, desenvolve em 1942, a Regularizao e Embelezamento da frentemarginaldeSines(Lbo,1995:108110). Paulino Montez, no incio dos anos 40 desenvolve as propostasapresentadas,em1929,paraasCaldasdaRainhae Peniche,nasquaisassumeoconjuntocomoumtodo,prope maisespaosverdesedefineseparadamenteozonamentoea rede viria. No Plano das Caldas (194149) prope vias perifricas que envolvem a zona urbana, e um bairrojardim paraacidade.Nasreasdeexpanso,aparecempelaprimeira vez,quernesteplanoquernodePeniche,impasseslimitados por pracetas e pequenas alamedas. A proposta de praas rectangulares e um espao em U, envolvendo um grande equipamento,introduzemamplasreasdedesafogonotecido urbano(Lbo,1995:135). Contudo nos anos 30, urbanistas estrangeiros voltam a trabalharemPortugal,aconvitedeDuartePacheco,etambm da Cmara do Porto. Estes urbanistas trazem diferentes tendnciasdourbanismoeuropeu,influenciandoourbanismo64

portugusaolongodosanos40econtribuindoparaosvrios perodos de desenvolvimento do urbanismo em Portugal, sendo os mais importantes, DonatAlfred Agache, Giovanni MuzioeEtiennedeGrer(Lbo,1995:37,51). Em 1933, Duarte Pacheco convida Agache para o estudo daligaodeLisboaCascaiseparaaconcepodaexpanso da regio Oeste de Lisboa. Este valoriza a estrutura de conjunto, trabalhando escala regional e local, e Lbo (1995:51) enquadrao como a Forestier no movimento City Beautiful.Agacheassumeumavisoalargadadoprocessode planeamento,paraalmdodesenho,ocupasedaestruturao administrativa e da fundamentao legal das operaes a desenvolver (DGOTDU, 2005). Inicia assim o estudo tendo em conta as potencialidades locais, assumindo a articulao comocentrodeLisboanumaperspectivadedesenvolvimento regional e no apenas local, deste modo prope uma rede viria que assenta em dois eixos paralelos costa, a Estrada Marginal e a Autoestrada da Costa do Sol, que so cortadas porviastransversais,tendocomoobjectivoainteriorizaoda expanso urbana. Prope ainda um conjunto de espaos verdes,proporcionandoacadaaglomeradoaoportunidadede ter nas proximidades reas verdes de recreio; e a criao de um centro desportivo num amplo espao verde, na Cruz Quebrada, acessvel quer de Lisboa quer das restantes localidades. Entre 1935 e 1936, Agache dedicase ao Plano de UrbanizaodaCostadoSol,queapresentacomopremissasa expansourbanaeaexploraoturstica.Numaprimeirafase, desenvolveoplanoescalaregional,fazendoaarticulaode Lisboa com as localidades atravs do Plano Director; e numa segunda, passa para a escala local, desenvolvendo os Planos de Urbanizao das localidades ribeirinhas, tendo como 65

princpio orientador a requalificao dos centros e a sua ligaocomLisboa.Aonveldodesenhodefinearedeviria principal, as reas de expanso residencial e prope praas formais rodeadas por edifcios em banda, caracterizando a interveno pelo contraste do formalismo proposto para as reas centrais e a flexibilidade das reas residenciais perifricas (Lbo, 1995:5457). A proposta de Agache assenta ainda numa rea verde para a foz do rio Jamor, dando continuidade do Estdio; na transformao de jardins privados em espaos verdes pblicos, em Dafundo; e nos aglomerados com reas de expanso de maior dimenso, na definiodeumarededeespaosverdes,percursospedonais, pracetas, alamedas de dimenso reduzida e impasses, semelhana de Radburn, sendo Carcavelos considerado um exemplo paradigmtico (Lbo, 1995:5759; DGOTDU, 2005). Lbo, (1995:59) refere ainda que a proposta de Agache tem uma pujana formal e uma clara hierarquizao dos espaos urbanos, que no vir a ser alcanada pelas propostas subsequentes. Aausncia,dedoisanos,deDuartePacheconoMinistrio das Obras Pblicas, finaliza o trabalho de Agache em Portugal. Quando Duarte Pacheco regressa em 1938, convida Ettiene de Grer para o desenvolvimento do Plano de Urbanizao da Costa do Sol, o Plano Director de Lisboa, algunsPlanosdeUrbanizaodossubrbiosdeLisboa,assim comoosplanosdeCoimbra,Luanda,Braga,voraeSintra. comGrerque,tardiamente,ainflunciadefinitivadacidade jardim chega a Portugal nos anos 40, uma vez que baseia as suas intervenes na teoria da cidadejardim de Howard, defendendoumsistemaplaneadodecidadesconstitudopor centros urbanos de dimenso limitada e relaciona Corbusier66

com a construo em altura, que considera ultrapassada (Lbo,1995:75). Grer, em 1938, d assim continuidade ao plano iniciado por Agache. Porm, o plano de Grer diferente do desenvolvido pelo seu antecessor, que era mais urbano e formal, Grer aborda de uma forma mais geral o modelo cidadejardim, mas relacionandoo com o tradicional. Contrariamente a Agache que via a Costa do Sol num todo, Grerindividualizacadaaglomeradorelacionandoosapenas com a Marginal () e com o caminhodeferro. Os aglomerados caracterizamse pela orgnica dos seus arruamentos, adaptao ao relevo, utilizao de impasses e pracetas, domnio da baixa densidade, sendo apenas permitido habitaes multifamiliares em banda, com o mximodeumpiso,nasreascentrais.Grerrefereainda,no relatriodoplano,queozonamentoqueestabelecediferente do habitual, na medida em que pretende um aglomerado residencialespaado,mantidonumenvolvimentodeverdura (Lbo,1995:8992;DGOTDU,2005). Os Planos de Urbanizao de Coimbra e Luanda, com a colaborao de David Moreira da Silva, so os primeiros a serem concludos por Gror em Portugal, e apresentam em comum o desenvolvimento de localidades satlites como alternativaao crescimento da cidade central. Contudo, nestes planos a teoria da cidadejardim que defende, afastase na prtica do conceito de Howard, aproximandose mais do movimentofrancsdosubrbiojardim(Lbo,1995:77). NoquerespeitaaoPlanodeBraga(1942)Groradoptao zonamento, estruturando o plano por zonas residenciais, comerciais e industriais, e preconizando para as reas de expansoamonofuncionalidade(DGOTDU,2005).Propeum 67

traado da rede viria e pedonal, no qual a maior parte das ruassosinuosas,comexcepodasviasprincipais;utilizao impasse, criando espaos semipblicos; prope vrias tipologias de quarteires e estuda cuidadosamente a localizao do equipamento, nomeadamente a implantao dasescolas,quesituanointeriordegrandesquarteires,com acessosprprios(Lbo,1995:84). Em 1946, Grer inicia o Plano Director de Lisboa, que conclui em 1948, e que contm as intervenes que foram efectuadasnos25anosqueseseguiram.DeacordocomLbo (1995:9396), o plano faz pela primeira vez a aplicao do conceito da conteno do crescimento urbano cidade de Lisboa,eapresentacomoprincpiosorientadores,alocalizao de um cinturo rural de proteco e conteno, com 3 km de largura; o zonamento monofuncional, que mais tarde ser contestado devido s suas consequncias, sendo proposta de forma a minimizlas a descentralizao dos servios, reforando a vida interna dos bairros. Neste plano prope igualmente a localizao de parkways e cinturas verdes nos agrupamentosresidenciais. Grer para Lbo (2003:100), apresentase como um urbanistaactualeverstil,queabrangequernovastipologias, quer as correntes alems do sc. XIX, a cidadejardim de Howard, o princpio de Radburn e o de unidade de vizinhana, e o urbanismo moderno. Contudo, segundo Carvalho (2003:86), a influncia do modelo cidadejardim trazida por Grer, sentida atravs dos traados e tipologias concebidas para a requalificao e expanso das cidades existentes. Em1941,aCmaraMunicipaldoPortoconvidaGiovanni Muzio para colaborar na elaborao do Plano Regulador do68

Porto, que tem por objectivos resolver os problemas da rede viria e da expanso da cidade para Poente, assim como estudar a ligao do centro com a Ponte D. Lus. A proposta finaldeMuzio,datade1942eapresentaumagrandereade espaos verdes, uma rea de expanso apenas na zona do Campo Alegre (que peca por no se adaptar ao terreno) e a zona industrial localizada no eixo PortoLeixes. No entanto, com a morte de Duarte Pacheco, que acompanhava o desenvolvimentodoplano,estesuspenso(Lbo,1995:68). ComojsereferiuoplaneamentourbanoemPortugals atingiuoseuaugeentre1944(alturaemquecomeamaexistir melhores bases topogrficas) e 1954, dcada em que so concludos volta de trezentos anteplanos de urbanizao, sendo aprovados at 1954 cerca de metade. Esta dcada marcada por dois momentos, que correspondem a duas correntes.Oprimeiromomentode1944a1948influenciado por Agache, Grer e seus antecessores, no qual o urbanismo associa o urbanismo formal, em que o desenho do espao pblicoacusaainflunciadosmodelosalemoeitaliano,com uma verso tardia da cidadejardim (Lbo, 1995:145). O segundo momento iniciase em 1948 com o I Congresso NacionaldosArquitectos,noqualhaadesoaosprincpios daCartadeAtenas,eomodelodeCorbusierganhaforaem Portugal. Do primeiro perodo destacamse Moreira da Silva, Faria da Costa e Joo Aguiar. Contudo, Carlos Ramos, mencionado anteriormente elabora ainda, depois de 1944, o Plano Parcial de Urbanizao junto ao Castelo do Queijo (1946), o Plano do Bombarral (1948), Fundo (194549) e Cabrela(1949). MoreiradaSilvadesenvolve,em1941,oPlanodeMoledo do Minho, estudo j elaborado por Ramos em 1929, onde 69

apresentaummaiorrespeitopelaspreexistnciaseumaviso de conjunto, desenvolvendo um aglomeradojardim onde os espaosverdespredominam(Lbo,1995:148152). Faria da Costa, a par de Joo Aguiar, autor de vrios estudos entre o final dos anos 30 e os anos 50, de entre os quais,osPlanosdaCostadaCaparica,TrafariaeCoruche,eos Bairros do Areeiro e Alvalade (Lbo, 1995:159; Lamas, 2007:284). OBairrodeAlvaladedatade1945,ocupaumareade230 ha,destinandosea45000habitantes.Oslimitesdobairroso grandes vias, e a proposta estruturase segundo quatro eixos virios,doisnosentidoNorteSuledoisnosentidoOesteEste, que dividem a rea de interveno em oito unidades e que retiramotrfegodeatravessamentodointeriordestas(Lbo, 1995:161). Segundo Lamas (2007:284286) o Areeiro e Alvalade representam um exemplo equilibrado entre cidade tradicional e os princpios da urbanstica moderna, como organizao distributiva das funes e equipamentos, a hierarquizao viria, a desprivatizao do solo, a libertao do interior dos quarteires para espao colectivo, as zonas livres e arborizadas. Em Alvalade igualmente notrio a aplicao do conceito de unidade de vizinhana, atravs da localizao do equipamento a cerca de 500 m da habitao, localizaodeumaescolaprimriacomopontofocaldecada unidadecomacessoatravsdeumaredepedonal,eaadopo damisturadeusos,conferindoaobairroumaautosuficincia (Lbo, 1995:161; Lamas, 2007:286). Lbo (1995: 160) afirma ainda, no que diz respeito a Alvalade, que a rede viria proposta tem por base uma malha reticulada, que uma sucessodeimpasses,pracetas,espaoslivreseequipamentos preenchem, resultando deste processo uma malha final70

compacta e equilibrada e que Faria da Costa prope uma nova linguagem relativa relao edifcio/rua, como prennciodoinciodosegundoperodo,emquesoseguidos osprincpiosdaCartadeAtenas. Joo Aguiar , nos anos 40, um dos urbanistas mais solicitados, tendo a seu cargo os planos de vrias cidade e vilas,nomeadamente:Olho,Setbal,Faro,VianadoCastelo, Castelo Branco, Viseu, Santarm, Vila Real, entre outras localidades. Lbo (2003:170) refere que o urbanista numa dialctica entre a consolidao e reestruturao do tecido existente (...) tenta a conciliao entre o urbanismo formal e umaimagemfortementeinfluenciadapelodesenhodacidade jardim. Os seus planos prevem e apoiamse de uma forma geralnosseguintespontos:reestruturaoehierarquizaoda rede viria, que na maioria dos seus planos conduz a um elevado nmero de demolies, principalmente nos centro antigos; criao de amplos espaos verdes e localizao de numerosos equipamentos nestes; definio de zonas para a localizao de edifcios pblicos, as quais designa de zonas oficiais;criaodenovaszonasresidenciaismaioritariamente comhabitaounifamiliar;demarcaodaszonasdestinadasa operaesderenovaourbana,fundamentalmenteoscentros antigos,porquestesdesalubridade. O Plano de Olho concludo em 1944 e apresenta a particularidade, a nvel de forma urbana, de propor quarteires abertos circulao pedonal, numa interveno semelhante que Faria da Costa prope para Alvalade, e a identificaodaformacidadejardim,comimpassesepracetas em U, numa zona de expanso. No Plano de Setbal (1944 1947)apropostasemelhanteanterior,emborareferenteao centro histrico, onde prope a abertura do interior dos 71

quarteires utilizao pblica, atravs de uma rede de caminhospedonais. OPlanodeFaro,terminadoem1945,propeumcinturo verdeondepermiteaexploraoagrcola,demodoacontero crescimentoperifrico. Ainda neste plano, defineque metade da rea de cada lote deve ser arborizada ou mantida como jardim,valorizandoassimosarruamentos. No Plano de Castelo Branco (1945), Aguiar prope um anelperifricodecirculao,localizandopraasnosnsdesta viacomasviasregionais. O Plano de Viseu (19471950) inovador devido aplicao de dois conceitos, o de sistema de parques, j defendido por Forestier, que prope de forma a criar um macio verde contnuo, e o conceito de unidade de vizinhana,japlicadoemAlvaladeporFariadaCosta,eque prope no bairrojardim que define para a rea de expanso (Lbo,1995:170183). Anto de Almeida Garret desenvolve o Plano Regulador do Porto (1952) sucedendo a Piacentiti e Muzio. O plano baseiasenanecessidadedeumaestruturaogeraldacidade, qual Garret responde com a proposta de uma rede viria conexa e coerente, e de trs cintures de jardins e parques onde localiza algum equipamento. Com base no conceito de unidade de vizinhana agrupa os bairros em unidades residenciais e define pequenas zonas locais de comrcio de fcil acesso, assim como uma mais central (Lbo, 1995:208 209).Aindasegundoaautoraesteplanoconstituiaindahoje ummarcofundamentalnaestruturaodacidade. O segundo perodo iniciase em 1948 no I Congresso Nacional dos Arquitectos, em que alguns urbanistas,72

nomeadamente Armnio Losa, Viana de Lima e Lobo Vital aderem e defendem os princpios da Carta de Atenas, promovendo a proliferao da ideia da Cidade Radiosa em Portugal. Este movimento influencia essencialmente a arquitectura e intervenes de pequena escala. Todavia, Armnio Losa e Bonfim Barreiros adoptamno nos Plano do Gers, Vila Nova de Gaia e Macedo de Cavaleiros, constituindo os primeiros exemplos do movimento (Lbo, 1995:211212;Carvalho,2003:111). O Plano de Vila de Gaia finalizado em 1949, e caracterizase pela segregao da rede de circulao, viria, pedonal e das ciclovias; zonamento monofuncional; alta densidade e extensos parques que enquadram os conjuntos edificados. So propostas unidades residenciais interdependentes que se articulam com diversos centros com funesdistintas,atravsdarededecirculao. OAnteplanodeMacedodeCavaleirosapenasterminado em 1951 e apresenta uma caracterstica inovadora no que refere forma, os edifcios em banda libertamse da rede viriaedamalhacadastral(Lbo,1995:215). A partir dosanos50a produo de planosdiminui, aps um longo perodo de grande actividade marcado pelas influncias estrangeiras que trazem, muitas vezes j descaracterizadosoureinterpretadoseadaptadosaocontexto portugustrscorrentes,adaCityBeautiful,aCidadeJardime aCidadeRadiosapreconizadanaCartadeAtenas.

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1.1.3Snteseeorientaes O estudo efectuado, dos modelos criados numa tentativa de ordenamento da cidade industrial, para resolver as questeshigienistasesociais,pretendecompreenderquaisas opes tomadas, a nvel organizacional, que elementos se destacam na estruturao da cidade, como que a cidade assumida,comoquearelaocomanatureza,grandemente evocada,solucionada,equaloseuvalorparaacidade,numa tentativaderetiraralgumasorientaes. A Revoluo Industrial alterou profundamente a cidade, quenoseencontrandopreparadaparaasmudanas,iniciou um crescimento descontrolado, devido ao aumento da populao,ocupandotodososespaosdisponveis,sobretudo as zonas verdes, conduzindo a condies de vida precria, problemas de insalubridade e sociais. A cidade comea a degradarse e perde o equilbrio com o meio natural envolvente, existente at ento. Surgem vrios modelos ou ideias ao longo do sc. XIX, os primeiros pelos socialistas utpicos, na procura de solues alternativas para os problemas da cidade industrial, como resposta s questes higienistas e s sociais, que assentam na recusa da cidade existenteenorestabelecimentodoequilbriocomanatureza,a necessidadedeespaoabertoeverde. As propostas dos utpicos progressistas estudados, embora algumas assentem em edifcios colectivos (Owen, Fourier, Considrant e Godin), e outras em habitaes unifamiliares(Richardson),apresentammuitosemelhantes,na medida em que se caracterizam por uma viso funcionalista, comoinciodasegregaofuncional(zonamento);consistem, maioritariamenteemprottipos,experinciasformalizadas,ou74

no,longedarealidadeurbana,quesepodemirreproduzindo na paisagem prexistente, sendo essa a relao com a natureza/verde,aexistnciadeumamploespaoverdequeas envolve; no existindo assim um carcter urbano e nem uma estrutura (viria ou verde) efectiva de cidade, alis alguns modelos suprimem mesmo a rua (os edifcios colectivos de Fourier, Considrant e Godin). E embora Fourier preconize trsanisrelvados,queseparamfuncionalmenteasuacidade ideal,assuasnicasfunessoaesttica,espaosparaserem contempladosnoconstituindoobstculosvisuais,earelao com a natureza relativa s questes higienistas. Os espaos verdesouanaturezaconstituemapenaspanosdefundoonde as unidades se implantam, no constituindo elementos da prpriacidadeoucomunidade. Numa perspectiva distinta dos utpicos progressistas, Ruskin e Morris, culturalistas, criticam a desarticulao e incoerncia da cidade e preconizam a defesa da mistura funcional, como caracterstica de ruas harmoniosas; a regenerao dos centros antigos; a necessidade de uma rede de espaos verdes na cidade e a preservao da paisagem natural. De notar que estas preocupaes inclusive, a desarticulao da cidade, so actuais, assim como a necessidade da mistura funcional, mas numa perspectiva planeada tendo em conta as necessidades da populao e as funes a associar, e a rede de espaos verdes, actualmente atravs da implementao de uma Estrutura Ecolgica Urbana. OPlanodeParisdeHaussmaneoPlanodeExpansode Barcelona de Cerd consistem em intervenes efectivas em cidadesexistentes,easduaspretendemresolverosproblemas 75

deinsalubridadeecongestionamentodacidade,promovendo umamelhormobilidade. No Plano de Haussman para Paris evidenciase, a forte redeviriaquefazaligaodasvriaszonasdacidadeedas estaes ferroviria