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PRÓ-REITORIA ACADÊMICA CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS WALDEMYR FRANCISCO RAMOS A EVOLUÇÃO DO CONSUMO NO BRASIL A PARTIR DA DÉCADA DE 1990: UMA ANÁLISE DAS CLASSES ECONÔMICAS CANOAS, 2007.

A EVOLUÇÃO DO CONSUMO NO BRASIL A PARTIR DA … · PNAD de 2003 e POF de 2002/2003, em R$ de janeiro de 2003.....39 Tabela 10 – Brasil: População – famílias e pessoas, gasto

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PPRRÓÓ--RREEIITTOORRIIAA AACCAADDÊÊMMIICCAA CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

WALDEMYR FRANCISCO RAMOS

A EVOLUÇÃO DO CONSUMO NO BRASIL A PARTIR DA DÉCADA DE

1990: UMA ANÁLISE DAS CLASSES ECONÔMICAS

CANOAS, 2007.

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WALDEMYR FRANCISCO RAMOS

A EVOLUÇÃO DO CONSUMO NO BRASIL A PARTIR DA DÉCADA DE

1990: UMA ANÁLISE DAS CLASSES ECONÔMICAS

Trabalho de conclusão apresentado à banca examinadora do curso de Ciências Econômicas do Centro Universitário La Salle – UNILASSALLE, como exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Ciências Econômicas, sob orientação do Prof. Ms. Cássio Silva Moreira.

CANOAS, 2007.

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TERMO DE APROVAÇÃO

WALDEMYR FRANCISCO RAMOS

A EVOLUÇÃO DO CONSUMO NO BRASIL A PARTIR DA DÉCADA DE

1990: UMA ANÁLISE DAS CLASSES ECONÔMICAS

Trabalho de conclusão aprovado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel do Curso de Ciências Econômicas do Centro Universitário La Salle –

UNILASALLE, pela seguinte banca examinadora:

___________________________________ Prof. Ms. Mário Baiocchi

Unilasalle

____________________________________ Prof. Ms. Paulo Garzelaz

Unilasalle

____________________________________

Prof. Ms. Cássio Silva Moreira Unilasalle

Canoas, 12 de dezembro de 2007.

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RESUMO

O objetivo do trabalho é descrever a evolução do consumo de todos os brasileiros, focando nas classes econômicas no Brasil, a partir da década de 1990, e verificar a importância da distribuição da renda, e a disponibilidade crédito para o consumo nessas classes. Através de uma metodologia teórica, descritiva e estatística, analisa-se o comportamento do consumidor e os fatores que influenciam nesse ato, assim como os conceitos gerais da divisão de classes. Também se apresenta um panorama da distribuição de renda no Brasil entre as classes econômicas juntamente com o comportamento do crédito a partir da década de 1990. Analisando os resultados obtidos percebe-se que o aumento da renda acompanhado do crescimento do crédito na economia são os dois fatores que respondem pela evolução e pela diversificação do consumo entre as classes econômicas, principalmente as C, D e E. Palavras-chave: Consumo, classe, renda, crédito e consumidor.

ABSTRACT

The goal of the work is to describe the evolution of the consumption of all Brazilians, focusing on economic classes in Brazil, from the decade of 1990, and see the importance of distribution of income, and credit availability for consumption in these classes. Through a theoretical methodology, and descriptive statistics, analyzes it is the behavior of consumers and the factors that influence this act, as well as the general concepts of the division of classes. It also gives an overview of the distribution of income in Brazil between economic classes together with the behavior of credit from the decade of 1990. Analyzing the results realizes that the increase of income accompanied by the growth of credit in the economy are the two factors that account for the development and diversification of consumption between economic classes, especially the C, D e E. Key words: Consumption, class, income, credit and consumer.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - O conjunto orçamentário.......................................................................13

Figura 2 - Aumento na renda.................................................................................14

Figura 3 – Taxa de inflação brasileira de 1990 a 2006 (inflação – IGP – DI)

(% a.m.) ...............................................................................................................31

Figura 4 - Queda do índice de Gini da desigualdade da distribuição da renda no

Brasil de 1995 a 2005 ...........................................................................................33

Figura 5 - Queda do índice T de Theil da desigualdade da distribuição da renda no

Brasil de 1995 a 2005 ...........................................................................................33

Figura 6 - Operações de crédito do sistema financeiro total mensal: mi. R$ ........44

Figura 7 – Evolução (%) do crédito em relação ao PIB, de 1990 a 2006 ..............45

Figura 8 – Evolução das taxas de juros dos empréstimos de 2000 a 2006 ..........46

Figura 9 – Evolução dos prazos médios (em dias) dos empréstimos. .................47

Figura 10 – Índice de inflação brasileira ( Inflação – IGP-DI - % a.a. )

1986-2006 .............................................................................................................49

Figura 11 – Relação das vendas no varejo com crédito para aquisição de bens no

Brasil, de 2002 a 2006 ..........................................................................................51

Figura 12 – Crédito x consumo: vendas de móveis eletrodomésticos e crédito para

aquisição dos mesmos..........................................................................................51

Figura 13 – Crédito x consumo: vendas de automóveis e motos e crédito para

aquisição dos mesmo............................................................................................52

Figura 14 – Despesas monetárias familiares per capita e sua composição pelas

rubricas de gasto, nas regiões metropolitanas, Goiânia e DF, POF 1987-1988 ...53

Figura 15 – Despesas monetárias familiares per capita e sua composição pelas

rubricas de gasto, nas regiões metropolitanas, Goiânia e DF, POF 1995-1996 ...55

Figura 16 – Despesas monetárias familiares per capita e sua composição pelas

rubricas de gasto, nas regiões metropolitanas, Goiânia e DF, POF 2002-2003 ..61

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Figura 17 – Evolução da estrutura de participação de estratos selecionados de

renda monetária familiar per capita no total das despesas e mais três grupos

(alimentos, vestuário e habitação), entre as três POFs ........................................66

Figura 18 – Estrutura de participação do mercado de transporte, saúde, educação,

serviços pessoais e bens duráveis entre as três POFs, , nos diferentes estratos

renda ....................................................................................................................68

Figura 19 – Estrutura de participação dos mercados de aparelhos eletroeletrônicos,

automóveis, casas e artigos de mobiliários entre as três POFs............................70

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Fatores determinantes da decisão de compra ...................................19

Quadro 2 - Características dos itens domiciliares .................................................24

Quadro 3 - Critérios dos aparelhos domésticos em geral .....................................26

Quadro 4 - Programas sociais do governo federal a partir de 1990......................37

Quadro 5 – Funções das instituições financeiras do Brasil ...................................43

Quadro 6 - Classificação das operações de crédito ..............................................44

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Escala de preferências .......................................................................15

Tabela 2 - Sistema de pontos quanto à posse de itens.........................................24

Tabela 3 - Grau de instrução do chefe da família..................................................25

Tabela 4 – Classificação e cortes do critério Brasil ...............................................25

Tabela 5 – Brasil: indicadores de desigualdade de renda 1960 – 1990 (anos

selecionados) ........................................................................................................30

Tabela 6 - Evolução da desigualdade da distribuição de renda no Brasil entre 1995

e 2005: índice de Gini e T de Theil........................................................................32

Tabela 7 - Recebimento mensal familiar per capita: evolução dos valores médios

e por estratos selecionados de renda (em R$ de janeiro de 2003).......................35

Tabela 8 – Salário mínimo Brasil de janeiro de 1990 até dezembro de 2006 .......38

Tabela 9 – Rendimento mensal domiciliar per capita e seus subcomponentes:

PNAD de 2003 e POF de 2002/2003, em R$ de janeiro de 2003 .........................39

Tabela 10 – Brasil: População – famílias e pessoas, gasto mensal familiar per

capita, recebimento mensal familiar e composição da renda e das despesas,

segundo a situação do domicílio ...........................................................................40

Tabela 11 – PIB per capita do Brasil, segundo as grandes regiões e unidades da

federação, 2001-2004 e PIB Brasil 2004...............................................................41

Tabela 12 - Percentual da despesa média Mensal Familiar em Alimentação, por

Classe de Recebimento Mensal Familiar, segundo os Tipos de Despesa Total das

áreas - 1995/1996 .................................................................................................57

Tabela 13 - Consumo alimentar domiciliar per capita de alguns produtos (em

kg/ano), segundo as áreas da pesquisa - 1996/1987............................................59

Tabela 14 - Rendimento monetário e não-monetário médio familiar e despesa

Monetária mensal familiar por classes de rendimento, com indicação de

características das famílias, em 2003 ...................................................................62

Tabela 15 – Distribuição dos tipos de despesa, em relação à despesa total

monetária e não-monetária, por classes de rendimento no Brasil, em 2003.........63

Tabela 16 – Posse de bens duráveis conforme a forma do produto, segundo as

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POFs de 1995-1996 e 2002-2003 .........................................................................64

Tabela 17 - Aquisição de bens duráveis pelas famílias conforme o produto,

segundo as POFs 1995-1996 e 2002-2003 (média mensal, em milhares de

famílias).................................................................................................................65

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................10

2 ASPECTOS CONCEITUAIS DO COMPORTAMENTO DO CON SUMIDOR E

AS CLASSES ECONÔMICAS ..............................................................................12

2.1 O comportamento do consumidor ...............................................................12

2.2 A divisão de classes: conceitos gerais .......................................................21

3 O PERFIL DA RENDA BRASILEIRA E O COMPORTAMENTO DO

CRÉDITO ..............................................................................................................29

3.1 Panorama sobre a distribuição da renda no Brasi l a partir de 1990 .........29

3.1.1 A repartição da renda entre as classes .......................................................34

3.2 O comportamento do setor de crédito a partir da década de 1990 ...........42

4 A EVOLUÇÃO DO CONSUMO NO BRASIL A PARTIR DA DÉCA DA DE 1990:

UMA ANÁLISE DAS CLASSES ECONÔMICAS .................................................48

4.1 Aspectos macroeconômicos no decorrer das três P OFs ..........................48

4.2 O consumo entre as classes econômicas na POF de 1987-1988..............52

4.3 O consumo entre as classes econômicas na POF de 1995-1996..............55

4.4 O consumo entre as classes econômicas na POF de 2002-2003..............60

4.5 Análise comparativa das três POFs ............................................................66

5 CONCLUSÃO ....................................................................................................71

REFERÊNCIAS .....................................................................................................75

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1 INTRODUÇÃO

Para a compreensão da estrutura da sociedade brasileira, particularmente no

que se refere à distribuição de renda e à composição dos estratos sociais, faz-se

necessário uma leitura mais detalhada da camada social brasileira para aproveitar

as oportunidades quanto à expansão do consumo e das atividades econômicas

como um todo.

É inserido nesse contexto que este trabalho tem por objetivo descrever a

evolução do consumo de todos os brasileiros. Baseado no estudo das classes

econômicas, no caso deste trabalho, uma diferenciação entre os estratos A e B

versus C, D e E no Brasil a partir da década de 1990 e verificar a importância da

distribuição da renda, e a disponibilidade de crédito para o consumo de todas as

classes.

O estudo apresenta inicialmente, no capítulo dois, os aspectos conceituais da

do comportamento do consumidor. Descrevem-se os diversos fatores que

influenciam nesse processo que envolve os indivíduos em suas compras, gostos e

costumes. Também será analisado a divisão das classes econômicas, seus

conceitos gerais e toda a nomenclatura utilizada para sua classificação.

No capítulo três, o tema abordado será o perfil da renda brasileira e o

comportamento do crédito. Inicia-se com um panorama da distribuição de renda no

Brasil a partir dos anos de 1990, fazendo-se uma análise da renda entre as classes

econômicas, utilizando-se índices de concentração como Gini e Theil, dados

pesquisados nas PNADs e focalizando nas POFs do IBGE. Descreve-se nesse

contexto o comportamento do crédito em relação à renda a partir de 1990.

O IBGE realizou três POFs entre 1987 e 2003. As duas primeiras, aplicadas

em 1987-1988 e em 1995-1996, se restringiram ao universo de nove regiões

metropolitanas (RMs), o Distrito Federal e a cidade de Goiânia. A última, de 2002-

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2003, teve âmbito nacional, mantendo representatividade amostral para a área das

duas pesquisas anteriores, para os meios urbanos de todas as unidades da

federação (UFs) e para o meio rural das cinco grandes regiões brasileiras

Finalmente, no capítulo quatro, estuda-se a evolução do consumo no Brasil a

partir da década de 1990 conforme as classes econômicas. Faz-se uma comparação

entre o consumo das classes econômicas no período das três POFs de 1987-1988,

1995-1996 e 2002-2003 relacionando-as com a evolução da renda e o do crédito.

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2 ASPECTOS CONCEITUAIS DO COMPORTAMENTO DO CONSUMID OR E DAS

CLASSES ECONÔMICAS

Descrevem-se neste capítulo o comportamento do consumidor e os aspectos

conceituais das diversas classes econômicas de renda. Aborda-se essa questão,

trazendo as considerações a respeito da quantidade de classes existentes, assim

como sua divisão. Pretende-se estudar o comportamento do consumidor diante das

preferências, escolhas e desejos de consumo e da restrição orçamentária.

2.1 O comportamento do consumidor

O conceito da teoria do consumidor é sustentado por hipóteses de

racionalidade e utilidade. Utilizando uma abordagem cardinal1, William Stanley

Jevons junto com Carl Menger (JEVONS; MENGER, 1983) e Leon Walras

(WALRAS, 1983), oriundos da escola marginalista, utilizaram números cardinais

para relacionar a afinidade entre duas variáveis na teoria do comportamento do

consumidor: utilidade e satisfação.

A Teoria do consumidor, é uma teoria microeconômica, que busca descrever

como os consumidores tomam decisões de compra e como eles enfrentam os

tradeoffs2 e as mudanças em seu ambiente. Os fatores que influenciam as escolhas

1 Abordagem cardinal: mais utilizada nas exposições dos economistas marginalistas, se aplicaria apenas para diferenciar dois níveis distintos de utilidade. Dessa forma, se um consumidor estiver diante de quatro situações, a, b, c, e d, e for capaz de dizer que a diferença de utilidade entre as situações a e b é algum múltiplo ou fração da diferença entre as situações c e d, este consumidor terá organizado sua escala de preferências em termos cardinais. (SANDRONI, 2002, p 624). 2 Em economia, tradeoff é uma expressão que define uma situação em que há conflito de escolha. Ele se caracteriza em uma ação econômica que visa à resolução de problema mas acarreta outro, obrigando uma escolha. (Wikipedia, 2007)

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dos consumidores estão basicamente ligados a sua restrição orçamentária e

preferências.

Segundo Varian (1999), na teoria do consumidor: os economistas partem do

pressuposto de que os consumidores escolhem a melhor cesta de bens que podem

consumir. Para dar conteúdo a essa teoria, o mesmo autor descreve com maior

precisão o que quer dizer por “melhor” e “podem adquirir”.

Dois bens geralmente bastam, essa hipótese é mais geral do que a princípio

se pode imaginar. Isso porque se pode tomar um dos bens como uma

representação de todas as outras coisas que o consumidor desejasse consumir.

Diz-se, então, que o bem 2 representa um bem composto que simboliza tudo

mais que o consumidor gostaria de consumir, à exceção do bem 1. Esse bem

composto é medido invariavelmente em unidades monetárias a serem gastos nos

outros bens que não o bem 1.

O conjunto orçamentário é representado na figura 1. A linha cheia é a reta

orçamentária de todas as cestas de produtos que este consumidor poderá comprar

em função de sua renda.

Bem 2

Reta orçamentária;

Conjunto

Orçamentário.

Bem 1

Figura 1 - O conjunto orçamentário Fonte: Varian (1999, p. 23).

O conjunto orçamentário é formado por todas as cestas que podem ser

adquiridas dentro de determinado preço e renda do consumidor.

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A inclinação da reta orçamentária mede o custo de oportunidade3 de

consumir o bem 1. Para consumir mais do bem 1, é preciso deixar de consumir um

pouco do bem 2. Abrir mão da oportunidade de consumir um pouco do bem 2 é o

custo real de consumir mais do bem 1; esse custo é medido pela inclinação da reta

orçamentária.

A reta orçamentária é fixa? Não, como os preços e a renda variam, o

conjunto de bens que o consumidor pode adquirir também varia. Essas mudanças

afetam o conjunto orçamentário.

Nas variações na renda, verifica-se que o aumento na renda elevará o

intercepto vertical, mas não afetará a inclinação da reta. Assim, o aumento da renda

implicará um deslocamento paralelo e para fora da reta orçamentária, como mostra

a figura 2.

Bem2

Retas orçamentárias

Bem 1

Figura 2 - Aumento na renda Fonte: Varian (1999, p. 24)

O aumento na renda provoca o deslocamento paralelo e para fora da reta

orçamentária. Do mesmo modo que a diminuição da renda causará um

deslocamento paralelo e para dentro.

3 Custo de oportunidade: conceito de custo utilizado por Marshall. Segundo esse conceito, os custos não devem ser considerados absolutos, mais iguais a uma segunda melhor oportunidade de benefícios não aproveitada. Ou seja, quando a decisão para a possibilidade de utilização da A exclui a escolha de um melhor B, podem-se considerar os benefícios não aproveitados decorrentes de B como custo de oportunidade (SANDRONI, 2005, p. 218).

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A preferência do consumidor é uma etapa que consiste em encontrar uma

forma prática de descrever a variedade de bens e serviços e a diversidade de gostos

pessoais.

Segundo Souza (2000), o consumidor ordena sua escala de preferências em

função de seus gostos e da utilidade proporcionada pelos produtos individualmente.

Nesse momento, ele apenas revela uma escala de preferência ou indiferença no

consumo de cada bem, sem menção de valores para a utilidade ou satisfação. Veja

na tabela a seguir que estão arroladas, por ordem decrescente de preferência,

diferente cestas de bens, correspondendo a distintos orçamentos, contendo, entre

outros bens, quantidades diversas de frango e de peixe.

Tabela 1 – Escala de preferências.

Cesta (ordem) Quantidade de frango Quantidade de peixe

A 10 10

B 6 10

C 8 6

D 10 4

E 5 8

F 2 8

G 4 4

H 6 2

Fonte: Souza, 2000, p. 67.

A tabela 1 mostrou que a cesta A (10, 10) é preferível a todas as demais

cestas, porque possui maiores quantidades de ambas as mercadorias (frango e

peixe), enquanto as cestas C (8, 6) e D (10, 4) são indiferentes, porque possuem a

mesma quantidade total de bens. Pode-se formular a suposição de que essas duas

cestas também sejam indiferentes a B (6, 10) é preferível a E (5, 8) porque tem

maiores quantidades de frango e peixe.

O consumidor, além de ter restrições orçamentárias e ter preferências, tem

fatores quanto à escolha do bem a ser consumido. Esse comportamento é mais

bem compreendido quando se examina suas etapas. Um consumidor pode

comparar uma série de itens diferentes em um conjunto de itens disponíveis para

compra, porém sempre existirá um item mais preferido a outro; caso isso não

aconteça, o consumidor será indiferente a esses dois itens.

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Segundo Solomon (2002, p. 24), o comportamento do consumidor é

entendido como “o estudo dos processos envolvidos quando indivíduos ou grupos

selecionam, compram, usam ou dispõem de produtos, serviços, idéias ou

experiências para satisfazer necessidades e desejos”.

Vários fatores influenciam a quantidade de um bem ou serviço que os

consumidores desejam comprar em um determinado mercado, em um determinado

tempo. Os principais fatores, segundo Thompson Jr. e Formby (2003, p. 63) são:

preço do produto, seus atributos, bens substitutos, as preferências do consumidor, a

renda, a quantidade de consumidores e suas expectativas.

Quanto ao preço do produto, é quase sempre fator determinante de sua

demanda. Mantidos constantes todos os demais fatores, a quantidade demandada

de um produto varia inversamente a seu preço, ou seja, os consumidores preferem

comprar a preços mais baixos.

Os atributos de um bem vão de encontro ao atributo que este bem pode

oferecer comparado com os demais concorrentes e demais bens substitutos. Os

atributos mais procurados pelos consumidores são: performance, garantias, serviço

de atendimento ao consumidor (SAC), conveniência, estilo e valor global.

Quando a preferência por um bem ou serviço enfraquece ou diminui, a sua

demanda também enfraquece. Um aumento na intensidade do desejo do

consumidor por um bem ou serviço tende a aumentar sua disposição em pagar um

preço mais alto ou o leva a comprar mais unidades desse bem.

Os consumidores devem ser capazes de pagar pelos bens que desejam

adquirir. Quanto maior a renda maior a demanda de mercado por bens em geral ou

por um bem em particular. Apenas no caso de bens inferiores é que um aumento na

renda será acompanhado por uma redução na demanda.

Os preços de bens relacionados determinam a demanda por um bem dada a

inter-relação que existe entre o consumo de produtos diversos. No caso dos bens

substitutos, a forma pelo qual o preço de uma marca se compara ao preço de outra

pode ser crucial no processo de escolha do consumidor.

Quanto ao número de consumidores e a freqüência de compras. A demanda

por um item é o somatório das demandas dos consumidores individuais por um bem

ou serviço, portanto, o número de compradores em potencial possui um efeito direto

sobre a demanda de mercado, bem como a freqüência na qual compram esses

itens. Já quanto às expectativas, se os consumidores acreditam que os preços dos

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bens irão subir, terão um incentivo para antecipar suas compras, evitando pagar

mais caro pelos bens.

Podem-se considerar algumas outras variáveis para determinar a demanda. O fato de os consumidores perceberem um bem como supérfluo ou como essencial tem influência. Embora tais percepções a respeito de um item sejam em função do estilo de vida, as demandas de bem de luxo e de bens essenciais tendem a ser diferentes em suas respostas às variações de preço, condições recessivas, taxas de juros, disponibilidade de crédito e freqüência de compras. O aspecto essencialidade-supérfluo de uma compra reconhece explicitamente a amplitude de aspectos culturais e estilos de vida que influenciam quem pode comprar o quê e com que grau de urgência; ele também considera a capacidade dos compradores de adiar suas compras em função de circunstancia econômicas adversas. Uma reflexão adicional deve sugerir outros fatores que influenciam a demanda por certos produtos. Contudo, cada bem ou serviço possui seu próprio conjunto de fatores que determinam a quantidade a ser demandada e que, por seu turno, cada um desses determinantes influencia a demanda de uma forma que é especifica a cada bem. (THOMPSON JR. E FORMBY, 2003, p. 64).

Outro fator a ser considerado na análise da demanda de consumo é o

conceito de elasticidade, que segundo Sandroni (2002, p. 199),

É a medida da variação na demanda de uma mercadoria. A demanda, considerada a quantidade de certa mercadoria comprada por unidade de tempo, depende de alguns fatores: do preço da mercadoria (elasticidade preço da demanda), da renda do consumidor (elasticidade renda da demanda), do preço de outras mercadorias, do gosto do consumidor, entre outros. Quando há qualquer mudança num desses fatores, ocorre variação na quantidade comprada da mercadoria na unidade de tempo em questão. A elasticidade da procura mede a variação relativa da quantidade comprada na unidade de tempo, quando ocorre uma variação em um dos fatores citados anteriormente, mantendo-se constantes os demais.

Além da elasticidade da renda e do preço da demanda, os bens podem

relacionar-se entre si de três formas: podem ser substitutos, nesse caso o aumento

nas compras de um bem é feito à custa da redução nas compras de outro. Como

exemplo as diversas marcas de margarina, sabão em pó e gasolina; podem ser

complementares entre si, nesse caso o aumento nas compras de um desses bens

produz um aumento nas compras de outros. Exemplo: sapatos e meias, cadernos e

canetas, carpetes e aspiradores de pó; e, por último os bens podem ser

independentes, onde a compra de um bem não tem influência na demanda de outro.

Como exemplo, óleo de soja e vara de pescar, carretel de linha e refrigerante.

Segundo Kotler (2000, p 181), o comportamento de compra do consumidor é

também influenciado por fatores culturais, sociais, pessoais e psicológicos. A cultura

é o principal determinante do comportamento e dos desejos da pessoa. À medida

que cresce, a criança adquire certos valores, percepções, preferências e

comportamento de sua família e de outras instituições. Uma criança criada nos

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Estados Unidos, por exemplo, é exposta aos seguintes valores: realização e

sucesso, eficiência e praticidade, progresso, conforto material, individualismo,

liberdade, humanitarismo e juventude.

Além dos fatores culturais, o comportamento do consumidor é influenciado

por fatores sociais, como grupos de referência, família, papéis sociais e status

social4.

Os grupos de referência de uma pessoa são aqueles que exercem alguma

influência direta (face a face) ou indireta sobre as atitudes ou comportamento dessa

pessoa. A família é a mais importante organização de compra de produto de

consumo na sociedade e seus membros constituem o grupo de referência primário

mais influente.

Uma pessoa participa de muitos grupos – família, clubes e organizações. A

posição de uma pessoa em cada grupo pode ser definida em termos de papéis e

status. Um papel consiste nas atividades que uma pessoa deve desempenhar. Cada

papel carrega um status.

A ocupação também influencia o padrão de consumo de uma pessoa. Um

operário comprará roupas de trabalho, sapatos de trabalho e outros produtos que

possa usar no trabalho. Um presidente de empresa comprará ternos caros,

passagens de avião, títulos de clubes exclusivos e barcos luxuosos.

A escolha de produto contempla circunstâncias econômicas: renda disponível

(nível, estabilidade e padrão de tempo), economias e bens, débitos, capacidade de

endividamento e atitude em relação a gastar versus economizar.

A teoria psicanalítica, fundada por Sigmund Freud (apud BASTA, 2004),

afirma que as forças psicológicas que formam o comportamento das pessoas são

basicamente inconscientes e que uma pessoa não pode entender completamente

suas motivações.

O quadro 1 mostra os fatores psicológicos que influenciam na escolha de

compra de uma pessoa.

4 Status social é o "posto", a honra ou o prestígio anexados a posição de alguém na sociedade. Note que o status social é influenciado pela posição social. Certos comportamentos carregam estigmas que podem afetar negativamente o status do indivíduo (WIKIPEDIA, 2007).

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Quadro 1 – Fatores determinantes da decisão de compra:

• Motivações: os consumidores podem ser influenciados por necessidades, que são

divididas em fisiológicas (fome, sede, desconforto) e psicológicas (reconhecimento, auto-

estima, relacionamento), mas muitas vezes estas necessidades não serão forte o

bastante para motivar a pessoa a agir num dado momento, ou seja, a pessoa às vezes

necessita de um motivo maior para buscar sua satisfação.

• Personalidade: é a personalidade de cada pessoa que vai determinar o seu

comportamento no ato da compra, pois se refere às características psicológicas que

conduzem uma resposta relativamente consistente no ambiente onde a pessoa está

inserida. Destaca, ainda, o autor, que o conhecimento da personalidade pode ser muito

útil para analisar o comportamento do consumidor quanto a uma marca ou um produto.

• Percepções: considerada como processo pelo qual as pessoas selecionam, organizam e

interpretam informações para formar uma imagem significativa do mundo.Desta forma, a

pessoa fica pronta para agir, influenciada por sua percepção, que vai determinar sua

decisão de compra.

Fonte: Kother e Armstrong, 1993, p.89.

Os aspectos envolvidos no ato de consumo são importantes para o

conhecimento das empresas. Em cada um de nós existe um consumidor que poderá

agir diferente em diversos casos, isto não deixando de analisar e levar em conta as

classificações sociais, como será abordado no decorrer do presente trabalho. Se os

consumidores, ou seja, as pessoas são diferentes umas das outras e necessitam de

alimentar-se, vestir-se e até mesmo se divertirem, são as suas diferenças que vão

determinar seus atos de compra e seus comportamentos em relação às outras no

mercado de consumo.

A compreensão desses fatores que influenciam o comportamento de compra

possibilita, não só uma visão da dinâmica da compra, mas abre possibilidade de

intervenções como o uso de estímulos de marketing que objetivem gerar bons

resultados, criando valor para o cliente e produzindo a satisfação com o produto e

conseqüente envolvimento do cliente com a compra (PINHEIRO et al, 2006, p. 21).

Por meio dessas influências, os consumidores aprendem e diferenciam

fatores sobre escolhas que vão fazer durante as suas tomadas de decisões,

tornando, assim, seu comportamento um pouco mais previsível a quem deseja

estudá-lo.

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Descreveram-se nesse subitem que o consumidor age diferentemente uns

dos outros, segundo os seus costumes e estilos de vida, fatores culturais,

psicológicos, econômicos e sociais que levam as pessoas a decidirem na compra.

No mercado, as pessoas passam por etapas na decisão de compra, são processos

para a satisfação e necessidades dos consumidores.

A abordagem da utilidade cardinal conduz à lei da demanda. As curvas de

demanda mostram o preço máximo que os consumidores estão dispostos a pagar

por cada quantidade do bem em questão. Quando o preço é uniforme no mercado e

os consumidores compram tudo que necessitam aos preços de mercado, forma-se

um excedente do consumidor que representa o ganho que esse obtém com a troca.

Segundo Thompson Jr. e Formby (2003, p. 39), são poucos, contudo, os

consumidores que tem êxito na maximização da utilidade que obtém de suas rendas.

As compras realizadas por impulso, hábito, informação imprecisa a respeito dos

preços e da qualidade dos produtos, desejo de variedade, traços emocionais e

pessoais, pressão do tempo e das circunstâncias, regras familiares e pelos poderes

da persuasão da propaganda, entre outros, podem fazer com que os consumidores

não obtenham o máximo de satisfação possível.

Mesmo não obtendo êxito total na maximização da utilidade, o importante é

se os consumidores podem agir com base na utilidade percebida, incluindo as

considerações de tempo e de renda e, portanto, se a abordagem da utilidade

cardinal é capaz de fornecer boas previsões e explicações a respeito do

comportamento do consumidor.

Segundo Keynes, (1983, p. 71), a quantia que uma família despende em

consumo depende: do volume de sua renda; de fatores objetivos; e de suas

necessidades subjetivas, de propensões psicológicas, dos hábitos dos indivíduos e

também dos princípios sobre os quais a renda é dividida entre eles.

Conforme o mesmo autor, os principais fatores objetivos que podem

influenciar a propensão a consumir são os seguintes: uma variação na unidade

salarial, uma vez que de acordo com Keynes o consumo é uma função basicamente

da renda real, e não da renda monetária; uma variação na diferença entre renda e

renda líquida (disponível). Keynes afirma que é na renda disponível que os

indivíduos se baseiam ao decidir sua escala de consumo; variações nos valores-

capital não permitidos no cálculo da renda (líquida) disponível; variações na taxa de

desconto intertemporal, ou seja, na taxa de troca entre bens presentes e futuros;

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variações na política fiscal; variações nas expectativas a respeito da relação entre

nível de renda presente e futuro.

Na Teoria Geral, Keynes apresenta vários argumentos a respeito da decisão

de consumo, mas resume a determinação do consumo agregado à chamada lei

psicológica fundamental. Segundo essa lei, as variações no nível de renda corrente

produziriam variações no nível de consumo corrente, porém em menor proporção.

Isso se deve ao fato de que o indivíduo poupa a diferença entre a sua renda efetiva

e os gastos necessários para manter o seu padrão habitual de vida.

Deve-se ressaltar que Keynes reconhece que as poupanças acumuladas

pelas famílias no passado poderiam ser usadas como uma forma de defesa de seu

padrão de vida, ou seja, que os indivíduos poderiam poupar por fins puramente

precaucionais.

Portanto, Keynes já afirmara em 1936, que as motivações das famílias quanto

às suas decisões de consumo/poupança, (e entre elas o motivo precaucional),

poderiam mudar de acordo com vários fatores, como a distribuição de riqueza e com

os níveis de vida.

Uma das variáveis importantes no comportamento do consumidor é a renda, e

para melhor análise de sua influência no consumo, é importante dividir esse

consumidor por classes, que será abordado no próximo subitem.

2.2 A divisão de classes: conceitos gerais

A classe social é considerada uma das variáveis que interfere no ato de

consumo, e que não pode ser deixada de lado ao procurar estudar a forma de cada

consumidor agir diante de determinadas escolhas.

Segundo Sandroni (2005, p. 148), classe social é definida como:

Cada um dos grandes grupos diferenciados que compões a sociedade. Os critérios para definir-se um grupo social como classe são motivos de divergências. De modo geral, nessa caracterização privilegiam-se fatores macroeconômicos tais como riqueza, apropriação dos meios de produção, posição no sistema de produção, profissão, nível de consumo e origem dos rendimentos, entre outros. Considera-se ainda que os membros de uma classe social, além de terem no conjunto os mesmos interesses, tendem a compartilhar valores semelhantes. A mobilidade social nas modernas sociedades industriais, em decorrência da ampliação das oportunidades, contribuiria para a expansão das camadas médias e para atenuação dos conflitos de classe, mais próprios do capitalismo passado. Nas pesquisas de mercado, as classes são identificadas pura e simplesmente por estarem dentro de certas faixas (A,B,C,D etc.) construídas a partir dos níveis de renda e de consumo dos indivíduos.

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Kotler (2000) buscou identificar “classes”, como social. Todas as sociedades

humanas possuem estratificação5 social. A estratificação algumas vezes toma a

forma de um sistema de castas6, em que os membros de diferentes castas são

criados de acordo com certas regras específicas e não podem mudar. Mais

frequentemente, a estratificação toma a forma de classe social.

As classes sociais são divididas e relativamente homogêneas e duradouras

dentro de uma sociedade. São hierarquicamente ordenadas e seus integrantes

possuem valores, interesses e comportamentos similares. É um dos fatores mais

utilizados na segmentação de mercados, por ser um indicador da posição social de

um indivíduo perante seus pares e diante da sociedade como um todo. Segundo

Pinheiro et al (2006, p. 39), também poder ser definida como um critério de

ordenação da sociedade, utilizando indicadores como poder aquisitivo, escolaridade

e ocupação.

As classes sociais têm várias características. Em primeiro lugar, duas

pessoas pertencentes a uma mesma classe social tendem a se comportar de

maneira mais semelhante do que duas pessoas de duas classes sociais diferentes.

Em segundo lugar, as pessoas são vistas como ocupantes de posições inferiores ou

superiores de acordo com sua classe social. Em terceiro lugar, a classe social é

indicada por um grupo de variáveis: ocupação, renda, propriedades, grau de

instrução, orientação para valores, e não por uma única variável. Em quarto lugar, as

pessoas podem passar de uma classe social para outra – para cima ou para baixo –

durante sua vida. A extensão dessa mobilidade varia de acordo com a rigidez da

estratificação social da sociedade.

Apresentam preferências nítidas por produtos e marcas em diversas áreas,

incluindo roupas, móveis e eletrodomésticos, atividade de lazer e automóveis. As

diferentes classes sociais apresentam preferências por diferentes meios de

5 A estratificação social indica a existência de diferenças, de desigualdades entre pessoas de uma determinada sociedade. Ela indica a existência de grupos de pessoas que ocupam posições diferentes. São três os principais tipos de estratificação social: - Estratificação econômica: baseada na posse de bens materiais, fazendo com que haja pessoas ricas, pobres e em situação intermediária; - Estratificação política: baseada na situação de mando na sociedade (grupos que têm e grupos que não têm poder); - Estratificação profissional: baseada nos diferentes graus de importância atribuídos a cada profissional pela sociedade. Por exemplo, em nossa sociedade valorizamos muito mais a profissão de advogado do que a profissão de pedreiro (WIKIPEDIA, 2007). 6 Castas: raças, gerações, classes sociais (BUENO, 2000).

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comunicação, por exemplo: as classes mais altas dão preferência a revistas e livros

e as classes mais baixas, à televisão. Na televisão, os consumidores de classes

mais elevadas preferem noticiários e filmes, enquanto as de classes mais inferiores

costumam assistir novelas e programas esportivos.

Segundo Pinheiro et al (2006, p. 40), o conceito de classe social deve ser

usado com cautela em países onde a mobilidade social é intensa, como no caso

brasileiro. Neste trabalho a divisão utilizada será a de classe econômica. No Brasil,

utiliza-se o Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB), que enfatiza a função

de estimar o poder de compra das pessoas e famílias urbanas, abandonando a

pretensão de classificar a população em termos de “classe social”.

Utiliza-se o CCEB7, apenas para conceituar as classes existentes no país

deixando de lado todo e qualquer cálculo que se faça necessário. Utiliza-se como

parâmetro a renda familiar, base no salário mínimo nacional, distribuição da

população por região metropolitana, com base de dados do IBGE, e o dólar, através

das cotações do Banco Central.

No CCEB, utiliza-se o sistema de pontos, grau de instrução do chefe da

família e sistema de cortes para ajustamento da classificação. Posteriormente, será

abordado o procedimento na coleta de dados e as observações necessárias para o

melhor entendimento.

As tabelas 2, 3 e 4 mostram os sistemas de pontos utilizados para os critérios

de classificação, quanto à posse de bens, grau de instrução do chefe da família e as

classificações.

7 O critério de classificação Brasil sofre várias críticas. As mais comuns estão relacionadas à ausência de itens como, por exemplo, telefone celular, microondas, home theater, com afirmação de que qualquer um pode ser classe A, que pessoas de rendas diferentes pertencem à mesma classe (uma família da periferia de São Paulo pode ser classificada como classe A), que famílias pequenas e indivíduos que moram sozinhos não podem atingir a pontuação máxima ( um executivo que more num flat, com apenas um banheiro, uma televisão e um carro pode ser considerado classe B). O problema está em enxergar o critério Brasil comum uma ferramenta de segmentação por classe social. A idéia de construção do critério foi atender às necessidades de segmentação por poder aquisitivo, da grande maioria das empresas, com pretensão de ser amplo o suficiente para discriminar o consumo da maior parte dos produtos de massa. O critério Brasil não visa segmentar classes sociais, nem estilo de vida, apenas o poder de consumo. Mesmo porque o conceito de classe econômica difere, e muito, do conceito de classe social (PINHEIRO et al, 2006, p. 159).

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Tabela 2 - Sistema de pontos quanto à posse de itens:

Quantidade de itens

Itens 0 1 2 3 4 ou mais

Televisão em cores 0 2 3 4 5

Radio 0 1 2 3 4

Banheiro 0 2 3 4 4

Automóveis 0 2 4 5 5

Empregada mensalista 0 2 4 4 4

Aspirador de pó 0 1 1 1 1

Máquina de lavar 0 1 1 1 1

Videocassete e/ou DVD 0 2 2 2 2

Geladeira 0 2 2 2 2

Freezer ou geladeira duplex 0 1 1 1 1

Fonte: ABEP – 2003, Dados com base no levantamento Sócio Econômico – 2000 – IBOPE.

O quadro 2 mostra as características de todos os itens domiciliares

relacionados na tabela 4.

Quadro 2 - Características dos itens domiciliares:

• televisores. Considerar apenas os televisores em cores. • rádio. Considerar qualquer tipo de rádio no domicilio, mesmo que esteja incorporado a

outro equipamento de som. Não deve ser considerado o rádio do automóvel; • banheiro. O que define o banheiro é o vaso sanitário. Considerar todos os banheiros e

lavabos com vaso sanitário, incluindo os de empregada, os localizados fora de casa e os da suíte.

• automóveis. Considerar todo e qualquer veículo automotor usado pela família para fins não comerciais ou profissionais. Desconsiderar táxis, vans ou pick-ups usados para fretes, ou qualquer veículo usado para atividades profissionais. Veículos de uso misto; lazer e profissional, também não devem ser considerados no estudo.

• empregada doméstica. Considerar apenas os empregados mensalistas, isto é, aqueles que trabalham pelo menos cinco dias por semana, que durmam ou não no emprego.

• aspirador de pó. Considerar mesmo que seja portátil e também máquina de limpar a vapor, como por exemplo: Vaporetto.

• máquina de lavar. Considerar toda e qualquer máquina de lavar roupas, independente da marca ou modelo.

• vídeo cassete e/ou DVD. Verificar a presença de qualquer tipo de videocassete ou DVD. • geladeira e freezer. Considerar todo e qualquer aparelho refrigerador ou freezer, porém a

pontuação é totalmente independente, ou seja: uma geladeira simples de uma porta, vale um ponto, um freezer simples, vale um ponto. Já uma geladeira duplex, com duas portas, vale um ponto pela geladeira e um pelo freezer.

Fonte: ABEP – 2003, Dados com base no levantamento Sócio Econômico – 2000 – IBOPE.

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A tabela 3 mostra os pontos por grau de instrução do chefe da família. Cada

item representa essa uma pontuação que, somada com outras, dividem os

consumidores nas classes A1, A2, B1, B2, C, D e E, conforme tabela 6.

Tabela 3 - Grau de instrução do chefe da família:

Grau de instrução do chefe da família Pontos

Analfabeto / primário incompleto 0

Primário completo / ginasial incompleto 1

Ginasial completo / colegial incompleto 2

Colegial completo / superior incompleto 3

Superior completo 5

Fonte: ABEP – 2003, Dados com base no levantamento Sócio Econômico – 2000 – IBOPE.

Segundo o critério de classificação (tabela 4), havia no Brasil até dezembro

de 2002, 1% de classe A1, 5% de classe A2, 9% de classe B1, 14% de classe B2,

36% de classe C, 31% de D e 4% de classe E.

Tabela 4 – Classificação e cortes do critério Brasil:

Classe Pontos Total Brasil (%)

A1 30 – 34 1

A2 25 – 29 5

B1 21 – 24 9

B2 17 – 20 14

C 11 – 16 36

D 06 – 10 31

E 00 – 05 4

Fonte: ABEP – 2003, Dados com base no levantamento Sócio Econômico – 2000 – IBOPE.

O quadro 3 apresenta as condições para um critério de uniformidade e

precisão. Para tanto, deve-se atender integralmente as definições e procedimentos

citados a seguir:

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Quadro 3 – Critérios dos aparelhos domésticos em geral:

Considerar os seguintes casos

Não considerar os seguintes casos

• Bem alugado em caráter permanente.

• Bem emprestado para outro domicilio há mais de seis meses.

• Bem emprestado de outro domicilio

há mais de seis meses.

• Bem quebrado há mais de seis meses.

• Bem quebrado há menos de seis

meses

• Bem alugado em caráter eventual.

• Bem de propriedade de empregados ou pensionistas.

Fonte: ABEP – 2003, Dados com base no levantamento Sócio Econômico – 2000 – IBOPE.

Este critério foi construído para definir classes que atendam às necessidades

de segmentação (por poder aquisitivo) da maioria das empresas. Não pode,

entretanto, como qualquer outro critério, satisfazer todos os usuários em todas as

circunstâncias. Há muitos casos em que o universo a ser pesquisado é de pessoas

com renda pessoal mensal acima de R$30.000,00. Em casos como esse, procura-se

outros critérios de seleção que não o CCEB.

Segundo o CCEB, como os seus antecessores, foi construído com a

utilização de técnicas estatísticas que, sempre se baseia em coletivos. Em uma

determinada amostra, de determinado tamanho, temos uma determinada

probabilidade de classificação correta (que seja alta), e uma probabilidade de erro

de classificação (que seja baixa). Espera-se que os casos incorretamente

classificados sejam pouco numerosos, de modo a não distorcer os resultados da

investigação.

Nenhum critério, entretanto, tem validade sob uma análise individual.

Afirmações do tipo “conheço um sujeito que é obviamente classe D, mas pelo critério

é classe B...”, não invalidam o critério que é feito para funcionar estatisticamente.

Numa discussão em grupo um único caso de má classificação pode pôr a perder

todo o grupo. No caso de entrevista em profundidade os prejuízos são ainda mais

óbvios. Além disso, numa pesquisa qualitativa, raramente uma definição de classe

exclusivamente econômica será satisfatória.

Conforme Cupertino (1978), a simples leitura diária de jornais já bastaria para

chamar a atenção para a importância e a complexidade do problema das classes

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sociais. Encontra-se com grande freqüência a expressão referindo-se a patrões ou

empregados, às diversas categorias profissionais e mesmo a realidades tão

diferentes como a “classe teatral” e a “classe política”. Mais ainda, a todo o

momento, são transcritos pronunciamentos oficiais ou particulares de condenação à

luta de classes e aos que supostamente são responsáveis por sua preparação,

eclosão (aparecimento repentino) ou agrupamento, e de defesa de uma indefinida

justiça social. Por outro lado, a igualmente freqüente a publicação de pesquisas de

mercado ou de opinião pública, onde as pessoas são classificadas em quatro

classes, de A a D, segundo seu nível de renda. Finalmente, informa-se sobre a

existência de classes alta, média e baixa, sendo que a média por sua vez, também

pode ser decomposta em média alta, média baixa e média média.

Ainda segundo o mesmo autor (1978), a confusão é simplesmente difundida;

e é preciso passar para o terreno das ciências sociais para procurar um

esclarecimento. Porém, as ciências sociais não permitem a mesma firmeza e

imparcialidade das ciências naturais ou exatas, o que, ainda que não justifique, sem

dúvida explica o nível de confusão que transparece da leitura dos jornais. O

problema, na teoria, só será elucidado quando já tiver sido também na vida prática

da sociedade humana. No entanto, cabe o esforço no sentido de afastar as

dificuldades de ordem científica, metodológica ou ideológica que obscurecem a

questão.

Para fins de esclarecimento, neste trabalho usar-se-á a faixa de separação

entre ricos e pobres utilizada pelo IBGE, para separação das classes em termos de

renda.

• 10% mais ricos, pertencem a classe A.

• 20% abaixo dos 10% mais ricos, pertencem a classe B.

• 20% seguintes aos 50% mais pobres, pertencem a classe C.

• 30% seguintes aos 20% mais pobres, pertencem a classe D.

• 20% mais pobres, pertencem a classe E.

Em termos de participação por classe de renda mensal expressa em R$,

podemos separar as classes na seguinte ordem:

• Classe A - renda familiar mensal acima de R$ 6.600,00

• Classe B - renda familiar mensal de R$ 2.200,00 a R$ 6.600,00.

• Classe C - renda familiar mensal de R$ 570,00 a R$ 2.200,00.

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• Classe D - renda familiar mensal de R$ 300,00 a R$ 570,00.

• Classe E - renda familiar mensal até R$ 300,00.

No próximo capítulo analisar-se-á o perfil da renda brasileira e o

comportamento do crédito, que podem ser consideradas variáveis importantes no

ato da compra. Não basta o consumidor estar apenas disposto, ele deve estar apto

também, para que o consumo seja de fato efetivado.

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3 O PERFIL DA RENDA BRASILEIRA E O COMPORTAMENT O DO CRÉDITO

O objetivo deste capítulo é descrever o perfil da renda pessoal e o

comportamento do crédito. Quanto à renda, constitui-se em um tema complexo do

ponto de vista da teoria econômica, quando se trata de sua distribuição, pois por trás

deste panorama, encontram-se questões sobre a estrutura de poder de uma

sociedade e a forma como ocorreu sua dinamização na economia brasileira.

No próximo item faz-se uma análise do panorama brasileiro com relação à

distribuição de renda no Brasil.

3.1 Panorama sobre a distribuição da renda no Brasi l a partir de 1990

Para a compreensão deste item, abordar-se-á primeiramente uma variável no

consumo das pessoas: a renda pessoal. Entende-se por renda, tudo aquilo que o

trabalhador recebe pelo seu trabalho, ou o valor total em dinheiro recebido por sua

mão-de-obra. Segundo Sandroni (2002, p. 524), renda pessoal é:

Aquela recebida pelo indivíduo em forma de salário, lucro, juro, aluguel, arrendamento ou remuneração por serviço prestado. É a renda total de todos os indivíduos antes que tenham pago o Imposto de Renda e os demais impostos pessoais. Inclui um volume substancial de pagamentos de transferências do governo, que são incluídos na renda nacional. Inclui também pagamentos de transferências feitos pelo setor privado. Para seu cálculo, deve-se partir da renda nacional e subtrair as contribuições para a Previdência Social, os impostos sobre os lucros das sociedades anônimas e os lucros não distribuídos por eles. Os impostos não podem ser incluídos porque vão para o governo. E os lucros não distribuídos, por serem retidos para financiar a expansão dessas sociedades. A renda pessoal disponível é o que resta para os indivíduos depois de pagos os impostos. Representa a renda efetivamente à disposição para consumo ou poupança.

A questão sobre a distribuição de renda constitui-se em um tema controverso

tanto do ponto de vista da teoria econômica, quanto do ponto de vista das ações

práticas do governo.

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A importância do tema depara-se com a diversidade metodológica para

apurar as formas de expressão da renda e de sua concentração, assim como a

própria definição do que seja efetivamente “renda”, em uma sociedade capitalista

contemporânea, e de como ela se inter-relaciona com a qualidade de vida de uma

comunidade.

A tabela 5 mostra os indicadores de desigualdade no Brasil, no período de

1960 a 1990.

Tabela 5 - Brasil: indicadores de desigualdade de renda 1960 – 1990 (anos selecionados)

Ano

1% mais ricos

10% mais ricos

20% mais ricos

20% mais pobres

Coeficiente de Gini

1960 12,1 39,7 54,4 3,5 0.500

1970 14,8 47,8 62,2 3,2 0,568

1978 13,6 47,7 64,1 2,1 0,600

1979 13,4 47,6 64,2 1,9 0,600

1980 18,2 47,8 63,2 3,2 0,590

1981 12,7 46,7 63,1 2,6 0,590

1982 13,1 47,3 63,7 2,5 0,590

1983 13,5 47,7 64,4 2,5 0,600

1984 13,2 47,6 63,8 2,7 0,590

1985 14,2 48,2 64,4 2,5 0,600

1986 13,8 47,2 63,4 2,6 0,590

1989 16,4 51,7 67,8 2,0 0,640

1990 14,6 49,7 66,1 2,3 0,615

Fonte: IBGE, 2005.

Na tabela 7, o coeficiente de Gini que era em 1960 de 0,500 atinge o valor de

0,615 em 1990. Em 1989, o coeficiente alcançou sua pior marca, isto é, 0,640. Os

1%, 10% e 20% mais ricos, chegaram em 1990 com acréscimo na renda. No caso

dos 20% mais ricos, o percentual de absorção da renda ultrapassou, desde 1970, os

60%, atingindo 66,1% em 1990. Por outro lado, os 20% mais pobres, que em 1960

possuíam 3,5% da renda, em 1990 receberam 2,3%. Em geral, durante todo o

período, o percentual ficou entre 2 e 3%.

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31

Coeficiente de Gini é uma medida de concentração, mais freqüentemente

aplicada à renda, à propriedade fundiária e à oligopolização da indústria. Os valores

do coeficiente de Gini variam entre 1 e zero; quanto mais próximo de 1 for o

coeficiente, maior será a concentração na distribuição de qualquer variável (onde

uma pessoa tem toda a renda, e as demais nada têm) acontecendo o contrário, ou

seja, a igualdade de renda à medida que esse coeficiente se aproxima de zero

(onde todos têm a mesma renda) (SANDRONI, 1999, p. 106).

Um dos fatores causadores da desigualdade de renda no Brasil foi a inflação.

A figura 3 mostra a taxa de inflação a partir de 1990.

Índice de Inflação IGP-DI de Janeiro de 1990 até De zembro de 2006

-100

102030405060708090

100

% d

e In

flaçã

o

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Figura 3 – Taxa de inflação brasileira de 1990 a 2006 (Inflação – IGP-DI* - % a.m.) Fonte: Ipeadata, 2007. * Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI). Obs.: Compreende o período entre o primeiro e o último dia do mês de referência. Reflete a evolução dos preços captada pelo Índice de Preços por Atacado (IPA), Índice de Preços ao Consumidor (IPC-FGV) e Índice Nacional de Preços da Construção Civil (INCC).

A partir de 1990, com o processo de abertura econômica, implementado pelo

governo Collor, ocorreu a tentativa de controle da inflação através do controle da

liquidez. Assim, o confisco de ativos financeiros foi o instrumento utilizado, mas os

efeitos foram à recessão econômica sem que se criassem novos instrumentos de

incentivo ao crescimento e a distribuição de renda.

Após a queda dos índices inflacionários em 1994, verifica-se que ocorreu uma

queda nos índices de desigualdades. Com base no PNAD, a tabela 6 mostra a

desigualdade de distribuição da renda no Brasil, de 1995 a 2005.

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32

Tabela 6 – Evolução da desigualdade da distribuição de renda no Brasil entre 1995 e 2005: índice de Gini e T de Theil

Índice de Gini para Índice T de Theil para

Ano RDPC1 PEA2 PEA total3 POC4 RDPC PEA PEA total POC

1995 0,599 0,589 0,662 0,585 0,727 0,710 0,907 0,698

1996 0,600 0,584 0,657 0,580 0,726 0,698 0,889 0,687

1997 0,600 0,584 0,659 0,580 0,731 0,703 0,902 0,690

1998 0,598 0,581 0,659 0,575 0,728 0,697 0,903 0,677

1999 0,592 0,572 0,655 0,567 0,706 0,666 0,881 0,650

2001 0,594 0,571 0,642 0,566 0,720 0,680 0,862 0,664

2002 0,587 0,569 0,637 0,563 0,705 0,670 0,843 0,655

2003 0,581 0,561 0,630 0,554 0,680 0,652 0,824 0,635

2004 0,569 0,553 0,616 0,547 0,656 0,637 0,791 0,623

2005 0,566 0,550 0,616 0,544 0,650 0,641 0,800 0,624

Fonte: Barros; Foguel e Gabriel, 2006, p. 94. 1Rendimento domiciliar per capita (RDPC), definido como o cociente entre o rendimento domiciliar e o número de pessoas residentes, excluindo pensionistas, empregados domésticos e parentes de empregados domésticos, e considerando apenas os domicílios particulares permanentes com declaração de rendimento; 2Rendimento mensal de todas as fontes por pessoa economicamente ativa com rendimento positivo (PEA com renda positiva); 3Rendimento mensal de todas as fontes para a PEA total (PEA com declaração de rendimento, incluindo os que declararam rendimento nulo); e 4Rendimento mensal de todos os trabalhos das pessoas ocupadas com rendimento (POC).

O índice de Theil mede a desigualdade na distribuição de indivíduos segundo

a renda domiciliar per capita. É o logaritmo da razão entre as médias aritmética e

geométrica das rendas individuais, sendo nulo quando não existir desigualdade de

renda entre os indivíduos e tendente ao infinito quando a desigualdade tender ao

máximo. Para seu cálculo, excluem-se do universo os indivíduos com renda

domiciliar per capita nula (WIKIPÉDIA, 2007).

Verifica-se na tabela 6 a variação do índice de Gini e da medida T de Theil

para as quatro distribuições de renda definidas anteriormente, de 1995 a 2005. Para

a renda domiciliar per capita (RDPC), há queda no índice de Gini entre 1995 e 2001,

mas a partir de 2001 se observa uma tendência decrescente. Para as outras três

distribuições analisadas, é possível considerar que houve uma tendência de redução

da desigualdade ao longo do período 1995 - 2005. Verifica-se que a medida T de

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33

Theil indica aumento da desigualdade entre pessoas economicamente ativas (PEA)

e entre pessoas ocupadas (POC).

As figuras 4 e 5 permitem visualizar as variações nos índices de Gini e de

Theil das quatro distribuições. Percebe-se que, em 2005, ocorreu desaceleração do

ritmo de redução da desigualdade medida pelos índices de Gini e de Theil.

0,500

0,550

0,600

0,650

0,700

Índice de Gini para RDPC Índice de Gini para PEA

Índice de Gini para PEA total Índice de Gini para POC

1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005

Figura 4 – Queda do índice de Gini da desigualdade da distribuição da renda no Brasil de 1995 a 2005 Elaborado pelo autor. Fonte de dados brutos: Barros; Foguel e Gabriel, 2006,

0,5

0,55

0,6

0,65

0,7

0,75

0,8

0,85

0,9

0,95

Índice T de Theil para RDPC Índice T de Theil para PEA

Índice T de Theil para PEA total Índice T de Theil para POC

Figura 5 –– Queda do índice T de Theil da desigualdade da distribuição da renda no Brasil de 1995 a 2005 Elaborado pelo autor. Fonte de dados brutos: Barros; Foguel e Gabriel, 2006.

1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005

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34

A desigualdade da RDPC mostrou um comportamento distinto do observado

na PEA ou em pessoas ocupadas, pois estas últimas distribuições refletem o que

ocorreu no mercado de trabalho. As pessoas inativas, que receberam

aposentadorias e pensões, estão consideradas no cálculo da RDPC, mas estão

excluídas das outras três distribuições analisadas. A distribuição da RDPC é afetada

pela composição das famílias (número de crianças, número de pessoas

economicamente ativas, número de aposentados, etc.) e pela associação entre os

componentes do rendimento domiciliar.

Toda medida de desigualdade é uma forma de agregar diferenças de renda

entre toda a população em um indicador escalar. O índice mais utilizado é o

coeficiente de Gini. Sua construção é baseada numa curva denominada “curva de

Lorenz”, a qual é obtida a partir da ordenação das pessoas segundo o seu nível de

renda. As pessoas são dispostas de forma crescente com suas rendas.

O estudo da distribuição da renda pessoal no Brasil pode ser verificado pela

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), que revelam os índices de

desigualdades entre as classes econômicas. E pela Pesquisa de Orçamentos

Familiares (POF), que faz uma pesquisa domiciliar por amostragem, investigando

informações sobre características de domicílios, famílias, moradores e seus

respectivos orçamentos, isto é, suas despesas e recebimentos. Que será estudado

no próximo item.

3.1.1 A repartição da renda entre as classes

Segundo Singer (1981, p. 11), “a repartição da renda não mostra como alguns

poderiam pensar, o modo como se reparte entre a população tudo o que se produz.

Uma parte substancial deste valor é apropriada por entidades não-pessoais,

pessoas jurídicas, como são chamadas, tais como o Estado e as empresas.”

Desta maneira, a repartição da renda pessoal disponível reflete sobre os

níveis de consumo dos indivíduos, independentemente de sua classe econômica. O

que corresponde à noção corrente de pobres e ricos. Os dados da repartição da

renda mostram as proporções da população que se encontram nestes estratos e

como estas proporções variam ao longo do tempo, na medida em que a renda global

cresce, inclusive quando ela aumenta mais depressa que a população.

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35

A tabela 7 mostra a distribuição do rendimento de todas as fontes por pessoa

economicamente ativa (PEA) com rendimento positivo e para distribuição do RDPC,

baseado nos dados das POFs, de 1987, 1996 e 2003, e por estratos selecionados,

onde se percebe a noção e a diferença entre os ricos e os pobres.

Tabela 7 – Recebimento mensal familiar per capita: evolução dos valores médios e por estratos selecionados de renda (em R$ de janeiro de 2003)

Fonte: IBGE, POF, 2002/2003. Obs.: valores em R$ de 15/01/2003, deflacionados pelo INPC – IBGE

A delimitação de quem é “rico” é arbitrária. A definição a seguir estabelece um

critério objetivo para delimitá-los, segundo Barros; Foguel e Gabriel (2006, p. 101):

Dada uma distribuição de renda e adotada uma medida de desigualdade sensível a modificações na renda de todos os indivíduos, uma pessoa é considerada “rica” se um pequeno acréscimo em sua renda resulta em aumento da medida de desigualdade. Por oposição, uma pessoa é considerada “relativamente pobre” se um pequeno acréscimo em sua renda resulta em diminuição da medida de desigualdade.

A ciência econômica apresenta várias teorias sobre a repartição funcional da

renda, ou seja, da repartição da renda entre “capital”, “trabalho” e “terra” ou mais,

mais precisamente entre renda de capital (lucros, juros), do trabalho (salários) e da

terra (aluguéis, renda da terra). Mas onde entra a renda do indivíduo? No

rendimento de cada indivíduo pode haver varias espécies de rendas misturadas. Por

exemplo, nos ganhos de um diretor de empresa há renda de trabalho e capital; mas

de um agricultor que é proprietário da terra em que cultiva, há elementos de lucro,

juros, salário e renda da terra. Portanto, as teorias da repartição da renda não

podem ser aplicadas diretamente para entender como esta tem evoluído no Brasil.

Variáveis 1987 1996 2003

Média monetária 648,20 702,22 634,50

20% mais pobres 92,35 88,55 72,45

50% mais pobres 174,44 174,36 155,55

20% seguintes aos 50% menos pobres 445,86 459,28 412,53

20% abaixo dos 10% mais ricos 891,68 959,90 873,95

10% mais ricos 2.933,75 3.310,85 2.990,75

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36

Segundo Singer (1981, p. 13),

As classes sociais não correspondem diretamente a estratos de renda nem constituem província exclusiva da ciência econômica, como ela é convencionalmente definida. Quem se ocupa da estrutura de classes são sociólogos, que tendem a ter as classes sociais agrupamentos qualitativamente distintos, engendrados por modos de produção que se articulam numa formação social capitalista, como a brasileira.

As relações de classe são relações de dominação e de exploração. Os que

ocupam posições dominantes na estrutura de classes também usufruem situações

de privilégio na pirâmide da repartição da renda. As classes de renda utilizadas

nesse capítulo, para efeito de comparação, foram padronizados usando-se como

unidade o salário mínimo8 mais alto do país. A repartição da renda dos empregados

é feito por categorias entre aqueles que possuem um emprego9, formal ou informal.

Conforme Silva, Yazbek e Giovani (2007), ao se discutir a renda no Brasil,

deve-se debater sobre programas nacionais de transferência de renda, onde a

primeira discussão sobre o assunto, data de 1975, quando Antônio Maria da

Silveira10 publicou, na Revista Brasileira de Economia, um artigo sob o título

“Redistribuição de renda”. Na proposta apresentada, o entendimento do autor era de

que a economia brasileira, conforme estruturada, não atendia as necessidades de

sobrevivência de todos, mesmo aqueles inseridos no mercado de trabalho.

No quadro 4, se descreve os programas sociais realizados pelo governo

brasileiro, a partir de 1990.

8 Salário mínimo: menor remuneração permitida por lei para trabalhadores em um país ou ramo de atividade econômica. Sua fixação representa uma intervenção do Estado no mercado de trabalho, ou como ocorre em muitos paises, resulta de negociações coletivas entre empregados e empregadores (SANDRONI, 2002, p. 542). 9 Emprego: em sentido amplo, é o uso do fator de produção por uma empresa. Estritamente é a função, o cargo ou a ocupação remunerada exercida por uma pessoa (SANDRONI, 2002, p. 203). 10 Antônio Maria da Silveira possui graduação pela Universidade Federal de Minas Gerais (1963), mestrado em Administração pela Carnegie university (1968), doutorado em economia pela Carnegie Mellon University (1971) e pós-doutorado pela University of Cambridge (1990).

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37

Quadro 4 – Programas sociais do governo federal a partir de 1990:

• 1991: o projeto de Lei nº 80/91, apresentado pelo senador Eduardo Suplicy, para instituição de um Programa de garantia de Renda mínima para o Brasil. Aprovado por unanimidade, no Senado Federal;

• 1992: campanha Nacional da Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e pela Vida, conhecida como Campanha da Fome, sob a liderança sob sociólogo Herbert de Souza, o Betinho;

• 1993: governo Itamar Franco incorpora o programa de Herbert de Souza, passando a chamar-se Plano de Combate à Fome e à Miséria;

• 1995: o Plano de Combate a Fome e a Miséria, de Itamar Franco, é substituído pelo Programa Comunidade Solidária, cuja marca era focar o combate à pobreza apenas em alguns municípios brasileiros considerados os mais miseráveis, embora seja conclamada a participação da sociedade civil na luta contra a pobreza;

• 1996: Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI; • 2001: Programas de Transferência de Renda no Brasil, marcado pela proliferação de

programas de iniciativa do Governo Federal, com a implantação descentralizada em nível de municípios. Entre estes, tem-se a transformação do Programa Nacional de Garantia de Renda mínima – PGRM, “para toda criança na escola”, em Programa Nacional de renda Mínima vinculado à Educação – “Bolsa-Escola”, e a criação do Programa Bolsa-Alimentação, entre outros, além da expansão dos programas, também nacionais, instituídos em 1996 – Programa de erradicação do trabalho Infantil;

• 2003: iniciação de um processo de unificação de programas nacionais de transferência de renda, a partir de julho de 2003. A proposta inicial é de unificar quatro programas federais de transferência de renda (Bolsa-Escola, Bolsa-Alimentação, Vale-gás e Cartão-Alimentação). O novo programa foi denominado de Bolsa-Família;

Fonte: Silva et al, 2007.

Os programas assistenciais pagos pelo governo, conforme quadro 4,

propiciam a alvancagem das vendas no comércio das regiões Norte e Nordeste, pois

em 2005, os programas representaram 37,2% das vendas no Norte e 40,5% no

Nordeste (RIBEIRO, 2007).

Além dos programas sociais, outro indicador é o salário mínimo, não apenas o

seu valor no período, mas, também, a evolução quanto a seu poder de compra. A

tabela 8 mostra o salário mínimo no período de 1990 a 2006.

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38

Tabela 8 - Salário mínimo Brasil de janeiro de 1990 até dezembro de 2006

Data Valor nominal Data Valor nominal Data Valor nominal Data Valor nominal

jan/90 1.283,95 jan/91 12.425,60 out/93 12.024,00 abr/00 151,00

fev/90 2.004,37 fev/91 15.895,46 nov/93 15.021,00 abr/01 180,00

mar/90 3.674,06 mar/91 17.000,00 dez/93 18.760,00 abr/02 200,00

abr/90 3.674,06 set/91 42.000,00 jan/94 32.882,00 abr/03 240,00

mai/90 3.674,06 jan/92 96.037,33 fev/94 42.829,00 abr/04 260,00

jun/90 3.857,76 mai/92 230.000,00 mar/94 64,79 abr/05 300,00

jul/90 4.904,76 set/92 522.186,94 set/94 70,00 abr/06 350,00

ago/90 5.203,46 jan/93 1.250.700,00 mai/95 100,00 dez/06 350,00

set/90 6.056,31 mai/93 3.303.300,00 mai/96 112,00

out/90 6.425,14 jul/93 4.639.800,00 mai/97 120,00

nov/90 8.329,55 ago/93 5.534,00 mai/98 130,00

dez/90 8.836,82 set/93 9.606,00 mai/99 136,00

Fonte: DIEESE, 2007. Moedas: NCz$ (Cruzado Novo) janeiro 1989; Cr$ (Cruzeiro) março 1990; CR$ (Cruzeiro Real) agosto 1993; R$ (Real) julho 1994.

A partir de 1990, mesmo com a inflação, as políticas salariais garantiram o

poder de compra do salário mínimo, que apresentou um crescimento real de 10,6%

entre 1990 e 1994, em relação à inflação medida pelo INPC. Com a estabilização

após o Plano Real, o salário mínimo teve ganhos reais ainda maiores, totalizando

28,3% entre 1994 e 1999, se consolidando como a maior recuperação do poder de

compra desde a década de 1950 (DIEESE, 2007).

Quanto à renda, a medida mais adequada para medi-lá não é o salário

mínimo, mas sim o rendimento familiar per capita, isto é, a renda da família dividida

pelo número de familiares. A tabela 9 mostra os rendimentos mensais e seus

subcomponentes e trata da decomposição da renda no Brasil.

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39

Tabela 9 – Rendimento mensal domiciliar per capita e seus subcomponentes: PNAD de 2003 e POF de 2002/2003, em R$ de janeiro de 2003a.

Rendimento total e suas fontes POF 2002/2003b PNAD 2003

Rendimento mensal domiciliar per capita 501,48 -

Rendimento mensal monetário domiciliar per capita 429,24 339,06

Rendimentos do trabalho 314,24 259,95

Empregado 217,48 165,73

Empregador 35,8 39,68

Conta-própria 60,96 54,55

Transferências 73,49 70,28

Previdência pública 54,9 62,67

Aluguéis 9,08 5,91

Outros 32,44 2,92

Rendimento mensal não monetário 72,24 -

Fonte: IBGE, PNAD, 2003 e POF, 2002/2003. a Valores deflacionados pelo INPC – IBGE. b Em realidade trata-se de valores familiares – unidades de consumo – per capita, muito próximos do que na PNAD são valores domiciliares per capita.

Na tabela 9, onde constam os valores para as formas de recebimento,

apurados na POF (2002/2003) e na PNAD (2003), verifica-se o fato de a POF captar

de modo mais preciso as rendas provenientes de outras fontes que não da

previdência pública e do trabalho.

Segundo Silveira et al (2007, p. 28), verifica-se a diferença menor que a POF

apresenta em relação à Pnad de 2002, em 12% e 10%, nos subcomponentes do

rendimento “previdência pública” e “trabalho dos empregadores”. Pode-se, no caso

da previdência, creditar isso à inclusão de rendas previdenciárias em outras rubricas

de transferência que a POF discrimina.

A tabela 10 mostra a composição da renda familiar com relação ao

recebimento e aos gastos.

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40

Tabela 10 – Brasil: população – famílias e pessoas, gasto mensal familiar per capita, recebimento mensal familiar e composição da renda e das despesas,

segundo a situação do domicílio.

Indicadores Total - média

Metropolitana

Urbana não-

metropolitana Rural

Famílias (milhões) 48.534.638 15.563.706 25.479.496 7.401.436

Pessoas (milhões) 175.845.964 54.155.490 91.690.313 30.000.161

Tamanho médio da família 3,6 3,5 3,6 4,1

Participação na população (%)

Famílias 100 32 52 15

Pessoas 100 31 52 17

Recebimento mensal familiar per

capita (R$) 500,62 729,31 458,28 217,18

Gasto mensal familiar per capita (R$) 490,73 708,81 452,46 214,01

(%) das despesas de consumo 82 80 83 90

Fonte: IBGE – POF de 2002/2003.

No que se refere às diferenças entre o rural e o urbano, segundo Silveira et al

(2007), cabe demarcar, em primeiro lugar, o tamanho da família, que no meio rural é

bem superior ao das cidades e das metrópoles, cujos tamanhos são bastante

próximos. Nessa direção, observa-se que as famílias metropolitanas e urbanas têm

perfis semelhantes, salvo na participação das despesas de consumo no orçamento e

nos valores absolutos dos recebimentos e gastos.

O recebimento mensal familiar per capita metropolitano é 59% superior ao do

urbano não metropolitano, que, por sua vez, supera em 111% o dos domicílios

rurais. Esses diferenciais se preservam no caso dos orçamentos, com o gasto

mensal familiar per capita metropolitano superando em 57% o urbano não-

metropolitano, e este sendo maior que o rural em medida similar à observada para o

caso da renda.

Com relação ao PIB per capita nacional, visualiza-se na tabela 11, segundo

regiões e unidades da federação, conforme as contas nacionais do IBGE, de 2001 a

2004.

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41

Tabela 11 - PIB per capita do Brasil, segundo as grandes regiões e unidades da federação - 2001 - 2004 e PIB Brasil 2004

PIB per capita PIB

Regiões e estados 2001 -

R$ 2002 -

R$ 2003 -

R$ 2004 -

R$ Ranking regional

Ranking Brasil

2004 – Mi R$

Ranking regional

Ranking Brasil

Rondônia 4.274 5.021 5.743 6.238 3º 16º 1.864 7º 27º Acre 3.241 3.707 4.338 5.143 4º 19º 3.242 6º 26º Amazonas 7.086 8.331 9.100 11.434 1º 6º 35.889 1º 11º Roraima 3.553 4.191 4.569 4.881 6º 21º 9.744 3º 22º Pará 3.393 3.898 4.367 4.992 5º 20º 34.196 2º 13º Amapá 4.418 4.996 5.584 6.796 2º 13º 3.720 5º 25º Tocantins 2.558 2.894 3.346 3.776 7º 25º 4.768 4º 24º Total - Norte 4.254 4.939 5.512 6.500 4º 93.423 5 º Maranhão 1.781 1.949 2.354 2.748 9º 27º 16.547 4º 17º Piauí 1.930 2.113 2.485 2.892 8º 26º 8.611 9º 23º Ceará 2.833 3.129 3.618 4.170 5º 22º 33.261 3º 14º Rio Grande do norte 3.462 4.039 4.688 5.370 4º 18º 15.906 5º 18º Paraíba 2.946 3.311 3.872 4.165 6º 23º 14.863 6º 19º Pernambuco 3.938 4.482 5.132 5.730 3º 17º 47.697 2º 8º Alagoas 2.631 3.012 3.505 3.877 7º 24º 11.556 8º 21º Sergipe 4.469 5.082 6.155 6.782 1º 14º 13.121 7º 20º Bahia 3.936 4.631 5.402 6.350 2º 15º 86.882 1º 6º Total -Nordeste 3.233 3.695 4.306 4.927 5º 248.444 3º Mato Grosso do Sul 6.448 7.092 8.634 8.945 3º 10º 19.954 4º 16º Mato Grosso 5.584 6.772 8.391 10.162 2º 9º 27.985 3º 15º Goiás 4.839 5.921 6.825 7.501 4º 12º 41.316 2º 10º Distrito Federal 15.517 16.360 16.920 19.071 1º 1º 43.522 1º 9º Total - Centro Oeste 7.176 8.166 9.278 10.394 3º 132.777 4º Minas Gerais 6.215 6.775 7.709 8.771 4º 11º 166.586 3º 3º Espirito Santo 7.078 7.631 8.792 10.289 3º 8º 34.488 4º 12º Rio de Janeiro 10.092 11.459 12.671 14.639 1º 2º 222.564 2º 2º São Paulo 10.546 11.352 12.619 13.725 2º 3º 546.607 1º 1º Total - Sudeste 9.240 10.086 11.257 12.540 1º 970.245 1º Parana 7.457 8.241 9.891 10.725 3º 7º 108.699 2º 5º Santa Catarina 8.462 9.271 10.949 12.159 2º 5º 70.208 3º 7º Rio Grande do Sul 9.071 9.958 12.071 13.320 1º 4º 142.874 1º 4º Total - Sul 8.326 9.156 10.998 12.081 2º 321.781 2º Total - Brasil 6.896 7.631 8.694 9.729 1.766.670

Fonte: IBGE, 2006.

Em relação ao PIB per capita, o maior valor continua sendo o do Distrito

Federal (R$ 19.071,00). Entretanto, em virtude do baixo desempenho econômico da

capital federal, a distância em relação à média do Brasil diminuiu. Em 2000, o PIB

per capita do Distrito Federal era 2,2 vezes a renda do Brasil e, em 2004, caiu para 2

vezes.

Em 2004, o PIB per capita dos estados de Mato Grosso (R$ 10.162,00) e

Espírito Santo (R$ 10.289,00), que ao longo da série vinham reduzindo sua distância

entre a média brasileira, pela primeira vez ficaram acima da média do país (R$

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42

9.729,00). Em relação a 2004, o PIB per capita do Amazonas passou o do Paraná

devido ao bom desempenho de sua economia, Mato Grosso passou Mato Grosso do

Sul e Amapá passou Rondônia. Roraima perdeu o posto para o Acre e Pará e, por

fim, Ceará ultrapassou a Paraíba.

O Rio de Janeiro (R$ 14.639,00) se manteve em segundo lugar no ranking do

PIB per capita, seguido por São Paulo (R$ 13.725,00). Já os piores resultados

continuam sendo os do Maranhão (R$ 2.892,00) e do Piauí (R$ 2.748,00), mas

devido ao bom desempenho de suas economias no ano de 2004, os dois estados

aproximaram-se mais da média do país.

No subseqüente item, descreve-se e estuda-se o comportamento do setor de

crédito e seu impacto sobre a renda.

3.2 O comportamento do setor de crédito a partir da década de 1990.

O crédito é uma renda antecipada, ou seja, o trabalhador ainda não trabalhou,

ainda não recebeu, mas tem como compromisso o recebimento e o pagamento da

instituição credora. Sandroni (2002, p. 140), define crédito:

Transação comercial em que um comprador recebe imediatamente um bem ou serviço adquirido, mas só fará o pagamento depois de algum tempo determinado. Essa transação pode também envolver apenas dinheiro. O crédito inclui duas noções fundamentais: confiança expressa na promessa de pagamento, e tempo entre a aquisição e a liquidação da dívida.

Neste item analisa-se a tendência de crescimento do crédito total, bancário e

pessoal. Para descrever sobre o crédito, tem-se primeiro que abordar as funções

dos bancos, dentre eles a do Banco Central do Brasil (Bacen), os bancos

comerciais, cooperativas de crédito, instituições financeiras, sociedade de

arrendamento mercantil (leasing), bancos de desenvolvimento, Banco do Brasil e

Caixa Econômica Federal.

Conforme Niyama (2000), a função clássica de um banco central é a de

controlar a oferta da moeda e do crédito, desempenhando a função de executor das

políticas monetária e cambial de um país. O Banco Central do Brasil está sediado

em Brasília/DF, possuindo representações regionais em vários Estados do país. O

quadro 5 apresenta as funções das instituições financeiras:

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43

Quadro 5 – Funções das instituições financeiras do Brasil

• Os bancos comerciais são instituições especializadas em operações de curto e médio prazo, que oferecem capital de giro para o comércio, indústria, empresas prestadoras de serviços e pessoas físicas, bem como concedem crédito rural.

• As cooperativas de crédito são instituições financeiras privadas, com personalidade jurídica própria, especializadas em propiciar crédito e prestar serviços a seus associados, constituídas sob a forma de sociedade civil.

• As financeiras, como o próprio nome diz; são bancos especializados em operações financeiras de médio e longo prazo. Tem como principal objetivo a concessão de financiamento para a aquisição de bens e serviços, bem como o financiamento de capital de giro. As financeiras operam também com leasing.

• Na sociedade de arrendamento mercantil (leasing), a principal operação da empresa é o arrendamento de mercadorias, do qual podem ser objetos bens móveis, de produção nacional ou estrangeira, bens imóveis, adquiridos pela entidade arrendadora, segundo especificações e para uso da arrendatária em sua atividade econômica.

• Bancos de desenvolvimento (BD) são instituições financeiras estaduais, especializadas em operações de médio e longo prazo, propiciando o aporte de recursos para projetos e programas que visem ao desenvolvimento econômico e social do estado. Ex. BNDES.

• O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal são considerados como agentes especiais, por suas características operacionais específicas. O Banco do Brasil é um banco comercial e principal parceiro do governo federal na prestação de serviços bancários, tais como pagamento e suprimento necessário à execução do Orçamento Geral da União, execução da política de preços mínimos dos produtos agropastoris, execução dos serviços de compensação de cheques e outros papéis. A Caixa Econômica Federal, entre suas operações, destacam-se a de explorar os serviços das loterias federais, exercer o monopólio das operações de penhores civis, executar o Plano Nacional de Habitação, o Plano Nacional de Saneamento Básico, administrar o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e outras atribuições cuja gestão lhe seja atribuída.

Fonte: Niyama, 2000.

As operações de crédito representam a principal aplicação de recursos

captados pelas instituições financeiras, sendo a fonte de receita mais significativa. A

legislação define quais as modalidades de operação que cada instituição esta

autorizada a realizar, e o Bacen estabelece nomenclatura contábil a ser utilizada, de

acordo com a destinação dos recursos e a atividade predominante do tomador de

crédito, assim como a regulamentação e fiscalização das instituições financeiras

envolvidas. O quadro 6 mostra a classificação das operações de crédito.

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44

Quadro 6 – Classificação das operações de crédito

• Empréstimos: são operações realizadas sem destinação específica ou vínculo à

comprovação da aplicação de recursos. Exemplo: Capital de giro, empréstimo

pessoal;

• Títulos descontados: são as operações de desconto de títulos, querem sejam

duplicatas11 que tenham por lastro transações mercantis, quer sejam notas

promissórias12;

• Financiamento: com destinação específica, vinculada à comprovação da aplicação de

recursos. Exemplo: financiamentos imobiliários, rurais, máquinas e equipamentos,

veículos, projetos, etc.

Elaborado pelo autor Fonte de dados brutos: Niyama, 2000.

As operações de crédito iniciaram sua ascendência na economia brasileira a

partir de 1994, com a efetivação do Plano Real. Na figura 6, verifica-se

comportamento das operações de crédito do sistema financeiro, em milhões de

Reais.

Operações de crédito total em R$ milhões

0

100000

200000

300000

400000

500000

600000

700000

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Figura 6 – Operações de crédito do sistema financeiro total mensal em R$ milhões Fonte: Ipeadata, 2007.

11 Duplicata. Título privado de crédito mediante o qual o comprador de um bem se compromete a pagar ao vendedor, no prazo fixado, a importância estipulada. (SANDRONI, 2002, p. 187). 12 Nota Promissória. Instrumento de crédito representado por uma promessa incondicional por escrito entre dois agentes, assinada por aquele que se compromete a pagar em determinada data uma soma determinada em dinheiro, ao primeiro ou ao portador da nota promissória. (SANDRONI, 2002, p. 427).

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45

No período de 1990 a 1994 o crédito apresentou tendência nula de

crescimento, em virtude do Plano Collor. A partir da implementação do Plano Real,

em 1994, a tendência passou a ser de crescimento até o ano de 2006.

A figura 7 mostra a evolução percentual do crédito de pessoa física e jurídica

em relação ao PIB do Brasil.

Evolução do crédito como percentual (%) do PIB

0

5

10

15

20

25

30

35

40

jan/

90

jan/

91

jan/

92

jan/

93

jan/

94

jan/

95

jan/

96

jan/

97

jan/

98

jan/

99

jan/

00

jan/

01

jan/

02

jan/

03

jan/

04

jan/

05

jan/

06

(%)

Pessoal Jurídico Total

Figura 7 – Evolução (%) do crédito em relação ao PIB, de 1990 a 2006. Elaborado pelo autor Fonte de dados brutos: Febraban, 2007. Verifica-se que o crédito pessoal em ralação ao PIB teve crescimento a partir

de 1994, passando de 5% no ano de 2001. Quanto ao crédito de pessoa jurídica,

percebe-se uma evolução de 1990 a 1995, chegando a mais de 30% em relação ao

PIB. Esse percentual apresentou queda até o ano de 2003. Desde meados de 2004,

em função tanto de mudanças institucionais quanto de fatores econômicos, a

relação do PIB com o crédito apresentou crescimento. Segundo a Febraban (2007),

essa mudanças institucionais se destacaram através da Lei nº 10.820 de 2003, que

regulamentou os empréstimos consignados em folha de pagamento, que ampliou o

aceso dos trabalhadores a uma modalidade de crédito com menor risco ao credor.

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46

A figura 8 mostra o comportamento das taxas de juros (%) dos empréstimos

com recursos livres13, em relação à pessoa física e jurídica no período de 2000 a

2006.

Evolução das taxas de juros dos empréstimos com rec ursos livres (% ao ano)

20

30

40

50

60

70

80

90

jun/

00

set/0

0

dez/

00

mar

/01

jun/

01

set/0

1

dez/

01

mar

/02

jun/

02

set/0

2

dez/

02

mar

/03

jun/

03

set/0

3

dez/

03

mar

/04

jun/

04

set/0

4

dez/

04

mar

/05

jun/

05

set/0

5

dez/

05

mar

/06

jun/

06

set/0

6

dez/

06

% a

o an

o

Pessoa Física Pessoa Juridica Média Total

Figura 8 – Evolução das taxas de juros dos empréstimos: de 2000 a 2006 Elaborado pelo autor Fonte de dados brutos: Febraban, 2007.

As taxas de juros dos empréstimos mostram queda a partir de 2003. A taxa

média dos empréstimos para pessoa física ficou em torno de 53% no final de 2006,

enquanto que o percentual relacionado a pessoa jurídica ficou abaixo de 30%. Essas

quedas percentuais devem-se, segundo a Febraban (2007), ao início do ciclo de

afrouxamento da política monetária.

A figura 9 mostra a evolução dos prazos médios dos empréstimos em dias, no

período de 2000 a 2006.

13 Recursos livres: é o volume de crédito que as instituições financeiras emprestam livremente (OLIVEIRA, 2007).

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47

Evolução dos prazos médios dos empréstimos - Dias

150

200

250

300

350

400

450ju

n/00

set/0

0

dez/

00

mar

/01

jun/

01

set/0

1

dez/

01

mar

/02

jun/

02

set/0

2

dez/

02

mar

/03

jun/

03

set/0

3

dez/

03

mar

/04

jun/

04

set/0

4

dez/

04

mar

/05

jun/

05

set/0

5

dez/

05

mar

/06

jun/

06

set/0

6

dez/

06

Dia

s

Pessoa Física Pessoa Jurídica Média Total

Figura 9 – Evolução dos prazos médios (em dias) dos empréstimos. Elaborado pelo autor Fonte de dados brutos: Febraban, 2007.

Além da queda observada nas taxas médias de juros dos empréstimos livres,

destaca-se o alongamento dos prazos que aumentaram concomitantemente ao

crescimento do volume das operações de crédito. O prazo médio das operações

para pessoa física ficou em 327 dias, chegando a 361 dias no final de 2006, já para

pessoa jurídica ficou em média 191 dias, chegando a 218 no final de 2006.

O cenário macroeconômico favorável criou possibilidade para a expansão do

crédito no Brasil, com reduções das taxas de empréstimos e alongamento dos

prazos. No caso das pessoas físicas o crédito consignado em folha de pagamento

representou um custo menor para o tomador que as demais opções de crédito

existente no mercado brasileiro.

O crédito é um dos fatores que vem sustentando o ciclo de expansão da

atividade econômica em conjunto com a melhora do mercado de trabalho, a

flexibilização da política monetária e a retomada dos investimentos.

Os impactos advindos dessa expansão são descritos no próximo capítulo

onde se investiga a evolução do consumo entre as classes no decorrer da década

de 1990, diante da evolução ocorrida na renda e no crédito.

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48

4 A EVOLUÇÃO DO CONSUMO NO BRASIL A PARTIR DA DÉCA DA DE 1990:

UMA ANÁLISE DAS CLASSES ECONÔMICAS

O objetivo deste capítulo é estudar a evolução do consumo no Brasil, ou seja,

o dispêndio das famílias brasileiras e os perfis de recebimento com relação à renda

e ao crédito associadas a todas as classes. Inicia-se o estudo com o cenário

macroeconômico com dados preliminares à década de 1990.

Os dados utilizados no estudo são baseados na Pesquisa de Orçamentos

Familiares (POF) do IBGE que analisa a composição dos gastos e do consumo das

famílias segundo as classes de rendimento, entre os anos de 1987-1988, 1995-1996

e 2002-2003 e, permitem verificar, mudanças nas despesas e nos hábitos dos

brasileiros.

Além das informações referentes à estrutura orçamentária, várias

características associadas às despesas e rendimentos dos domicílios e famílias são

analisadas, viabilizando o desenvolvimento de estudos sobre a composição dos

gastos das famílias segundo as classes de rendimentos. O estudo pretende analisar

e comparar as classes econômicas de acordo com a nomenclatura exposta no

capítulo dois (p. 27).

4.1 Aspectos macroeconômicos no decorrer das três P OFs

Na época da realização da primeira POF (1987-1988) ocorreram vários

planos econômicos na tentativa de conter o processo inflacionário (Plano Cruzado,

Bresser, Verão). Houve a influência do congelamento de preços sobre os dados da

POF, portanto, deve-se levar em conta o desequilíbrio entre a oferta e a demanda,

causada pelo aumento dos preços, gerando ágio na estrutura de consumo

observada.

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49

Na figura 10, verifica-se o período inflacionário no período de 1986 a 2006.

-50

250

550

850

1150

1450

1750

2050

2350

2650

2950

1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Figura 10 – Índice de inflação brasileira (Inflação – IGP-DI - % a.a.), de 1986-2006 Fonte: Ipeadata, 2007.

Em 1987–1988, o país enfrentava um processo de hiperinflação14, o que

gerou impactos sobre o consumo das famílias. A alimentação era um item caro. As

famílias realizavam compras de alimentos quando recebiam seus salários, sob risco

de não terem condições de comprá-los pelo mesmo preço alguns dias depois, além

da possibilidade de desabastecimento.

Ainda que se tenha tentado eliminar a influência do congelamento de preços

sobre os dados da POF, o desequilíbrio entre a oferta e a demanda, causado pela

demanda dos preços contidos, gerou ágio de preços. Os planos econômicos, além

de afetarem os preços, geravam muita incerteza em relação ao abastecimento,

sobretudo de produtos alimentícios. À época, não se utilizaram importações para

assegurar a oferta.

Durante a realização da pesquisa de 1995-1996, que ocorreu oito anos após

a primeira POF, o país passava por transformações econômicas, políticas e sociais.

O Plano Real havia estabilizado os preços, a transição política dava sinais de

maior consolidação, e as instituições entravam em um novo momento. 14 Hiperinflação: caso especial de inflação galopante, em que os preços aumentam tanto (em geral por uma expansão substancial dos meios de pagamento) que as pessoas não procuram reter dinheiro, mesmo por poucos dias, em razão da rapidez com que diminui seu poder de compra. Cai assim a confiança dos agentes econômicos na estabilidade da moeda e eles procuram gastá-la o mais rapidamente possível. Isso provoca um aumento na velocidade de circulação da moeda e acelera ainda mais o aumento dos preços (SANDRONI, 1999, p. 281).

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50

Observou-se uma elevação da demanda – um aumento no consumo de bens

de primeira necessidade e de bens duráveis, mas sem tabelamento e em condições

de oferta bem mais satisfatórias, inclusive pela abertura externa, viabilizando as

importações, como forma de atender a demanda.

A demanda interna, que já vinha de uma trajetória favorável, cresceu em

função da contenção dos preços internos, num processo de abertura comercial

iniciado em 1990, acelerando-se no período – e de valorização da moeda local (o

Real).

A POF de 2002-2003 se deu num momento diferenciado da política nacional –

a chegada ao poder do primeiro governo de esquerda desde a ditadura militar – e

em termos econômicos, já que os limites da estabilidade da moeda foram testados.

Apesar da turbulência vivida durante parte do ano de 2002 e início de 2003,

quando o Governo Lula assumiu, o processo inflacionário não se consolidou e a

inflação manteve-se em níveis constante, conforme verificado na figura 10.

Outro aspecto macroeconômico a ser estudado é a relação do consumo e o

volume de crédito na economia brasileira

Segundo Bertasso (2007), associando-se as informações de menor proporção

de compra a crédito e de queda menos acentuada dos dispêndios com os bens

adquiridos a prazo do que à vista entre os dois períodos analisados, pode-se inferir

que:

A redução menos do custo do crédito em relação aos preços dos bens impediu uma demanda maior por esse instrumento. As exceções decorreram de condições específicas: a elevação da proporção das compras a prazo dos automóveis pode ter decorrido da existência de uma canal próprio de financiamento permitindo uma estabilidade de uma oferta maior de crédito; o número de venda financiadas de pequenos eletrodomésticos pode ter sido elevado estrategicamente pelos comerciantes para contornar a contração conjuntural das vendas e mesmo pela maior dinâmica do mercado secundário; e a evolução do crédito no mercado de microcomputadores pode ter sido mera decorrência da consolidação do mercado do produto (em 1995-1996 eram poucas observações de aquisição e baixa a proporção das famílias que contavam com o aparelho) (BERTASSO, 2007, p. 363).

O aumento do consumo no segmento de bens duráveis atesta a relação com

o crescimento das concessões de crédito. A figura 11 mostra a evolução do crédito

total da economia brasileira com relação às vendas totais do varejo.

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51

Crédito X Consumo

2,52,83,13,43,7

44,34,64,95,25,55,86,1

jan/02

abr/0

2jul/0

2

out/0

2

jan/03

abr/0

3jul/0

3

out/0

3

jan/04

abr/0

4jul/0

4

out/0

4

jan/

05

abr/0

5jul/0

5

out/0

5

jan/06

abr/0

6jul/0

6

out/0

6

R$

bilh

ões

Vendas no Varejo Crédito para aquisição de bens

Figura 11 – Relação das vendas no varejo com crédito para aquisição de bens no Brasil, de 2002 a 2006. Fonte: Banco Central do Brasil, 2006.

Verifica-se na figura 11, que no início do ano de 2002 até meados de 2003,

ocorreu um decréscimo nas vendas do comércio e consequentemente no crédito

concedido. Esse fato ocorreu por ocasião do início do governo Lula, devido à

insegurança política que não veio a se concretizar.

A figura 12 mostra a evolução do crédito com relação às vendas no varejo de

móveis e eletrodomésticos no período de 2002 a 2006.

Crédito X Consumo

750

850

950

1050

1150

1250

1350

1450

1550

1650

jan/

02

abr/0

2jul/0

2

out/0

2

jan/

03

abr/0

3jul/0

3

out/0

3

jan/

04

abr/0

4jul/0

4

out/0

4

jan/

05

abr/0

5jul/0

5

out/0

5

jan/

06

abr/0

6jul/0

6

out/0

6

R$

milh

ões

Vendas no varejo móveis e eletrodomésticos Crédito para aquisição de móveis e eletrodomésticos

Figura 12 – Crédito x consumo: vendas de móveis eletrodomésticos e crédito para aquisição dos mesmos. Fonte: Banco Central do Brasil, 2006.

Page 53: A EVOLUÇÃO DO CONSUMO NO BRASIL A PARTIR DA … · PNAD de 2003 e POF de 2002/2003, em R$ de janeiro de 2003.....39 Tabela 10 – Brasil: População – famílias e pessoas, gasto

52

A figura 13 mostra a evolução do crédito com relação às vendas no varejo e

com automóveis e motocicletas no período de 2002 a 2006.

Credito X Consumo

1,5

1,8

2,1

2,4

2,7

3

3,3

3,6

3,9

4,2

jan/

02

abr/0

2jul/0

2

out/0

2

jan/

03

abr/0

3jul/0

3

out/0

3

jan/

04

abr/0

4jul/0

4

out/0

4

jan/

05

abr/0

5jul/0

5

out/0

5

jan/

06

abr/0

6jul/0

6

out/0

6

R$

bilh

ões

Vendas no varejo automóveis e motos Crédito para aquisição de automóveis e motos

Figura 13 – Crédito x consumo: vendas de automóveis e motos e crédito para aquisição dos mesmos. Fonte: Banco Central do Brasil, 2006.

Verificam-se nas figuras 12 e 13 as mesmas tendências de evolução. O

crescimento do crédito é um dos fatores que vem sustentando o ciclo de expansão

da atividade econômica, em conjunto com: a melhora do mercado de trabalho;

flexibilização da política monetária; recuperação da confiança na política econômica;

retomada do investimento e o aumento real da renda.

O consumo no Brasil passou por uma fase de mudanças de hábitos, produtos

e preços. Depois da abertura comercial, que trouxe na década passada a

competição e estabilização da moeda, o novo impulso vem do aumento do crédito e

da elevação da renda dos mais pobres desde os anos de 1996.

No próximo subitem estudar-se-á o comportamento do consumo entre as

classes econômica, baseado na primeira POF, realizada pelo IBGE, nos anos de

1987-1988.

4.2 O consumo entre as classes econômicas na POF de 1987-1988

A Pesquisa de Orçamentos Familiares - POF é uma pesquisa domiciliar por

amostragem, que investiga informações sobre características de domicílios, famílias,

Page 54: A EVOLUÇÃO DO CONSUMO NO BRASIL A PARTIR DA … · PNAD de 2003 e POF de 2002/2003, em R$ de janeiro de 2003.....39 Tabela 10 – Brasil: População – famílias e pessoas, gasto

53

moradores e principalmente seus respectivos orçamentos, isto é, suas despesas e

recebimentos.

Segundo o IBGE (2007), a primeira POF limitou-se às nove regiões

metropolitanas oficiais: Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de

Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre mais a cidade de Goiânia e o Distrito

Federal. A pesquisa se restringiu ao levantamento das despesas e dos recebimentos

monetários, não sendo investigados os aspectos nutricionais, o consumo efetivo de

alimentos, as medidas antropométricas e o consumo não monetário, originário da

produção própria.

Com as Pesquisas de Orçamentos Familiares, a composição dos dispêndios

pode ser analisada por despesas monetária familiares per capita. A investigação da

POF 1987-1988, por ser a primeira da série, servirá de base para as seguintes, pois

o intuito desse trabalho é estudar o comportamento a partir de 1990.

A figura 14 mostra as despesas monetárias mensais familiares per capita nas

regiões metropolitanas.

Despesa familiar per capita, nas regiões metropolit anas (1987 - 1988)

443,

34

251,

92

410,

92

394,

97

34,3

8

59,3

0

424,

57

127,

65

589,

64

583,

39

251,

48

87,5

8

120,

91

76,2

7

13,9

4

4,65

74,3

3

28,5

2

58,0

4

68,3

7

0,00

100,00

200,00

300,00

400,00

500,00

600,00

Alim

enta

ção,

bebi

das

eta

baco

s

Ves

tuár

io

Hab

itaçã

o

Tra

nspo

rte

Cui

dado

spe

ssoa

is

Ser

viço

sdo

més

ticos

Saú

de e

educ

ação

Rec

reaç

ão e

dive

rsão

Ben

s de

cons

umo

durá

veis

Out

ras

desp

esasV

alor

es e

m R

$ (ja

neiro

200

3)

Classes A e B Classes C, D e E

Figura 14 – Despesas monetárias familiares per capita e sua composição pelas rubricas de gasto, nas regiões metropolitanas, Goiânia e DF, POF 1987-1988 Elaborado pelo autor Fonte de dados brutos: IBGE, 2007.

Page 55: A EVOLUÇÃO DO CONSUMO NO BRASIL A PARTIR DA … · PNAD de 2003 e POF de 2002/2003, em R$ de janeiro de 2003.....39 Tabela 10 – Brasil: População – famílias e pessoas, gasto

54

Verifica-se na figura 14, o valor em R$ para cada uma das rubricas de gasto

segundo os estratos de renda selecionados. A soma dos desembolsos das classes

C, D e E de R$653,00. Desse total R$196,00 foram gastos com alimentos, ou seja,

30%, enquanto as classes A e B, desembolsou um total de R$3.220,00, sendo que

R$443,00 foram gastos com alimentação, ou 13,7% do total. Enquanto 70% da

população brasileira, ou seja, o total das classes C, D e E gastou 30% com

alimentação, o restante, pertencentes às classes A e B, gastaram 13,7%.

Quanto à rubrica vestuário, as classes C, D e E o gasto foi de R$87,58

enquanto nas classes A e B, totalizaram R$251,92, ou seja, os estratos superiores,

gastaram com vestuário 187,65% a mais que as os estratos inferiores.

Verifica-se ainda que em todas as rubricas, os estratos mais ricos consomem

mais que os pobres, e este tipo de comparação será estudado mais detalhadamente

no próximo subitem utilizando-se a POF após o Plano Real, realizada entre os anos

de 1995 e 1996.

4.3 O consumo entre as classes econômicas na POF de 1995-1996

Nesta subseção a análise foi realizada entre o consumo das famílias

brasileiras no período posterior ao Plano Real, durante o governo FH, utilizando-se

dados da POF 1995-1996 em comparação com a POF anterior.

No intervalo de tempo entre as duas pesquisas, o país passou por mudanças

econômicas, desde um processo de abertura comercial até um plano de

estabilização.

Segundo o IBGE (2007), a população brasileira, que, ao final de 1987, era de

137,3 milhões de pessoas, atingiu quase 160 milhões em 1996, e a maioria reside

em áreas urbanas. O PIB per capita, a preços de 1997, cresceu, no período

considerado, 3%, o que significou cerca de R$5.300 em 199615. A inflação média,

medida pelo INPC, girava em torno de 15% ao mês em 1987, após o plano de

estabilização do cruzado; em 1996, caiu para menos de 1% ao mês, com a

consolidação do Plano Real (BACEN, 1998).

15 Segundo estimativas do Bacen (1998), essa variação do PIB foi afetada pela queda verificada nos primeiros três anos da década. Considerando-se o período mais recente, o quadro se reverteu, pois o PIB per capita cresceu cerca de 12%, entre 1993 a 1996 (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 1998).

Page 56: A EVOLUÇÃO DO CONSUMO NO BRASIL A PARTIR DA … · PNAD de 2003 e POF de 2002/2003, em R$ de janeiro de 2003.....39 Tabela 10 – Brasil: População – famílias e pessoas, gasto

55

Entre as duas pesquisas, houve mudanças nos hábitos de consumo e na

composição demográfica das famílias: redução com despesas alimentares e com

vestuário; e aumento de gastos com habitação, assistência à saúde e educação,

explicando a diminuição observada nos dispêndios per capita das famílias dos

centros urbanos do país.

A figura 15 mostra as despesas familiares per capita baseadas na POF 1995-

1996.

Despesas familiares per capita, nas regiões metropo litanas (1995 - 1996)

427,

13

127,

99

517,

25

322,

67

34,5

9

115,

73

394,

45

113,

18

707,

50

548,

38

207,

64

44,6

3

157,

72

80,2

8

13,7

7

7,20

85,8

6

23,4

1

73,3

5

56,8

2

0,00

100,00

200,00

300,00

400,00

500,00

600,00

700,00

800,00

Alim

enta

ção,

bebi

das

eta

baco

s

Ves

tuár

io

Hab

itaçã

o

Tra

nspo

rte

Cui

dado

spe

ssoa

is

Ser

viço

sdo

stic

os

Saú

de e

edu

caçã

o

Rec

reaç

ão e

dive

rsão

Ben

s de

cons

umo

durá

veis

Out

ras

desp

esas

Val

ores

em

R$

(jane

iro d

e 20

03)

Classes A e B Classes C, D e E

Figura 15 – Despesas monetárias familiares per capita e sua composição pelas rubricas de gasto, nas regiões metropolitanas, Goiânia e DF, POF 1995-1996 Elaborado pelo autor Fonte de dados brutos: IBGE, 2007.

Verifica-se na figura 15, a participação das despesas correntes no total de

gastos das famílias, para o total das áreas, apresentou tendência de queda, ao

longo do período, devido basicamente à redução dos gastos com consumo nas

classes de menor renda. O valor em R$ para cada uma das rubricas de gasto

segundo os estratos de renda selecionados. A soma dos desembolsos das classes

C, D e E foi de R$630,00. Houve uma queda de 3,55% em relação a 1987-1988. A

soma das classes econômicas A e B, totalizou R$3.298,00, ou seja, comparando-se

a 1987-1988, ocorreu aumento nos gastos totais de 2,45%.

Page 57: A EVOLUÇÃO DO CONSUMO NO BRASIL A PARTIR DA … · PNAD de 2003 e POF de 2002/2003, em R$ de janeiro de 2003.....39 Tabela 10 – Brasil: População – famílias e pessoas, gasto

56

Quando se analisam os dispêndios com consumo, houve uma tendência geral

à queda com as despesas com alimentação e vestuário, e aumento dos gastos com

aluguel, transporte urbano, assistência à saúde e educação.

A queda observada nas classes C, D e E pode, então, ser devida, entre

outras coisas, à alteração da estrutura de consumo, à queda nos preços dos bens

adquiridos, às mudanças demográficas e de preferências e expectativas das

pessoas. Com a evolução crescente da renda, é esperado que a demanda das

famílias por produtos de consumo aumente, como ocorreu efetivamente no período

em análise, notadamente no aumento da participação dos gastos com ativos (bens

duráveis). Por outro lado, a expansão da periferia urbana e a deterioração do

transporte urbano contribuíram para o aumento da demanda por carro próprio. A

crise habitacional fez com que as famílias fugissem do aumento dos aluguéis e

buscassem a casa própria. O aumento dos imóveis próprios, mas ainda não pagos,

refletiu-se no aumento dos gastos com prestação de imóvel que, no período

considerado, quase dobrou.

Houve diferenças de padrões de consumo por classe de renda e por grau de

desenvolvimento das regiões metropolitanas. As áreas do Nordeste e Belém

tenderam a uma participação de gastos em alimentação mais elevada do que a das

demais metrópoles. As famílias de menor rendimento gastavam relativamente mais

em alimentação do que as demais famílias. As despesas em alimentação foi o item

de dispêndio mais importante no orçamento das famílias. A participação dessas

despesas, apesar da tendência declinante desde a POF anterior, ainda representou

um percentual bastante elevado, principalmente para as famílias de menor renda.

Outro fenômeno observado nas duas Pesquisas de Orçamentos Familiares foi

o processo de déficit orçamentário das famílias nos estratos de renda baixa, que, em

média, gastaram mais do que recebem. Esse fenômeno voltou ocorrer também na

POF 2002-2003.

As despesas com alimentação podem ser observadas detalhadamente na

tabela 12, onde se verifica o percentual da média mensal e por recebimento familiar

expresso em salários mínimos, para verificar todas as classes econômicas, e não

apenas os dois grupos de classes A e B, e C, D e E16, no período de 1995-1996.

16 Caso necessário verifique na página 27, a participação por classe de renda mensal expressa em R$.

Page 58: A EVOLUÇÃO DO CONSUMO NO BRASIL A PARTIR DA … · PNAD de 2003 e POF de 2002/2003, em R$ de janeiro de 2003.....39 Tabela 10 – Brasil: População – famílias e pessoas, gasto

57

Tabela 12 - Percentual da despesa média mensal familiar em alimentação, por classe de recebimento mensal familiar, segundo os tipos de despesa total das áreas - 1995/1996

Classes de Recebimento Mensal familiar (em Salários Mínimos)*

Rubrica das despesas Total Até 2 Mais de 2 a 3 Mais de 3 a 5 Mais de 6 a 8 Mais de 10 a 15 Mais de 20 a 30

Despesas em alimentação 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Alimentação no domicílio 74,41 87,54 88,16 84,12 80,93 75,32 71,77

Cereais, leguminosas e oleaginosas 4,22 7,89 7,06 7,12 5,10 3,72 2,79

Arroz 2,40 4,27 3,90 4,17 2,94 2,19 1,53

Feijão 1,41 3,10 2,73 2,48 1,79 1,16 0,90

Farinhas, féculas e massas 2,47 4,26 3,93 3,69 2,77 2,38 2,01

Tuberculos e raízes 1,40 1,49 1,65 1,70 1,68 1,50 1,28

Açúcares e derivados 3,39 3,76 3,53 3,65 3,83 3,28 3,76

Legumes e verduras 2,39 2,73 2,84 2,87 2,66 2,44 1,97

Frutas 4,35 3,47 4,02 4,21 4,41 4,75 4,30

Carnes, víceras e pescados 13,06 13,96 14,44 14,29 14,71 14,65 13,24

Aves e ovos 4,75 8,59 6,78 6,58 5,84 4,50 3,84

Frango 3,71 6,75 5,30 5,06 4,57 3,49 2,99

Leites e derivados 10,69 11,46 11,90 12,33 10,92 10,83 10,59

Panificados 8,81 13,89 11,71 11,42 9,80 9,09 7,80

Óleos e gorduras 1,22 1,69 1,44 1,80 1,49 1,02 1,10

Bebidas e infusões 7,51 7,40 6,71 7,12 8,19 8,34 7,28

Café moído 1,55 2,91 2,23 2,38 1,87 1,52 1,16

Enlatados em conservas 0,73 0,50 0,51 0,61 0,71 0,61 0,79

Sal e condimentos 1,51 1,75 1,83 1,88 1,70 1,43 1,44

Alimentos preparados 2,26 1,16 0,90 1,00 1,57 1,97 3,13

Outros 5,66 3,60 8,91 3,85 5,56 4,80 6,44

Alimentação fora do lar 25,59 12,48 11,85 15,88 19,07 24,68 28,22

Almoço e jantar 13,14 5,15 3,36 4,64 6,64 11,40 14,85 Fonte: IBGE, POF, 2007. * Vide divisão por classes, p. 27.

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58

De forma geral, percebe-se que, na medida em que a renda aumenta,

aumenta também a proporção de pessoas que se alimentam fora do lar, saindo de

12,48% na população que recebe até 2 SM e chegando a 28,22% para as que

ganham acima de 20 SM, exceção feita apenas para as classes de rendimento entre

2 a 3 SM.

Quanto à alimentação no domicilio, percebe-se, que as despesas com cereais

(arroz e feijão), são maiores nas classes com rendimentos até 5 SM, 7,89% para

quem recebe até 2 SM, 7,06% de 2 a 3 é de 7,12% para quem recebe mais de 3 até

5 SM, e apresenta queda gradativa à medida que a renda aumenta, de 6 a 8, 10 a

15 e de 20 a 30 SM respectivamente. As farinhas, féculas e massas, seguem a

mesma tendência dos cereais.

Nas despesas com açucares e derivados, junto com as carnes, víceras e

pescados, pode se verificar que o consumo acontece uniforme para todas as classes

de rendimento, ou seja, há uma preferência linear por estas cestas de produtos.

Quanto às bebidas e infusões, enlatados e conservas e alimentos preparados,

o consumo maior fica a cargo das classes com rendimentos superiores a 5 SM.

Cabe ressaltar que a exceção apenas para as classes de rendimento entre 3 a 5 e

de 10 a 15 SM, que apresentam o mesmo valor, de 0,61%.

As tabelas 12 e 13, não foram separadas entre as classes econômicas

propositalmente, por tratar-se de bens de primeira necessidade (sobrevivência

humana).

A tabela 13 apresenta os resultados do consumo alimentar domiciliar per

capita da POF 1996, para dez produtos selecionados, bem como os resultados da

pesquisa anterior.17 Verifica-se que, para o total das áreas, há queda do consumo

de farinha de trigo (29,73%), leite de vaca (19,31%), arroz polido (16,56%), feijão

(15,56%), pão francês (12,84%) e macarrão (12,60%), e aumento do consumo de

biscoito (28,02%), frango (16,56%), carne bovina de segunda (6,95%) e carne

bovina de primeira (5,97%).

17 O IBGE apura o consumo desses produtos por meio da divisão da despesa total com cada produto pelo seu preço médio (outubro de 1987 e setembro de 1996), obtido da série histórica do Sistema Nacional de Preços ao Consumidor.

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59

Tabela 13 - Consumo alimentar domiciliar per capita de alguns produtos (em kg/ano), segundo as áreas da pesquisa - 1996/1987

Produtos

Arroz polido Feijão

Farinha de

trigo Macarrão

Carne bov. de

Região 1996 1987 1996 1987 1996 1987 1996 1987 1996 1987

Belém 18,33 17,78 9,86 10,23 1,31 1,03 3,93 3,83 15,83 12,97

Belo Horizonte 30,48 37,25 9,34 12,44 3,16 4,19 3,30 4,35 9,07 7,97

Brasília 42,80 35,58 10,95 9,97 3,12 2,16 3,36 2,78 12,47 8,84

Curitiba 22,08 26,10 8,44 8,29 12,83 15,06 5,27 4,05 12,59 9,40

Fortaleza 26,91 29,19 15,19 16,88 1,58 1,04 3,80 4,89 8,68 8,66

Goiânia 30,53 38,69 7,03 9,04 1,98 3,17 2,06 2,57 9,38 10,30

Porto Alegre 19,86 25,87 8,52 9,43 7,13 12,27 3,90 4,07 9,59 7,68

Recife 13,56 11,50 12,43 12,79 1,88 1,65 4,52 5,89 7,34 7,29

Rio de Janeiro 34,62 30,46 14,31 13,62 2,34 3,21 3,76 4,08 10,48 10,02

Salvador 13,83 12,67 12,51 13,04 2,38 1,74 3,05 3,56 7,03 8,60

São Paulo 20,51 34,52 6,56 10,72 1,43 3,41 3,58 4,40 11,38 11,15

Total das áreas 24,96 29,92 9,95 11,78 2,86 4,07 3,71 4,24 10,43 9,84

Produtos

Leite de vaca Frango Pão francês Biscoito

Carne bov. de

Região 1996 1987 1996 1987 1996 1987 1996 1987 1996 1987

Belém 6,02 3,23 24,993 14,18 17,77 21,94 2,75 2,54 22,30 20,23

Belo Horizonte 45,69 48,55 16,86 12,66 12,61 15,38 4,25 2,87 6,99 5,87

Brasília 66,71 66,21 21,10 11,65 15,95 15,48 3,05 2,87 9,87 9,40

Curitiba 55,48 72,03 18,02 11,70 17,12 15,91 5,28 4,11 10,60 8,70

Fortaleza 25,00 34,24 20,41 15,02 15,72 19,59 4,86 3,02 6,69 5,59

Goiânia 30,01 56,21 13,74 9,03 9,87 13,17 2,15 2,42 7,49 6,58

Porto Alegre 86,27 94,35 18,87 15,25 14,49 18,81 6,74 3,69 18,16 20,95

Recife 15,95 17,20 18,11 13,78 23,54 24,91 6,89 4,19 7,22 6,74

Rio de Janeiro 43,79 56,78 14,69 15,51 15,90 19,89 3,46 2,78 6,26 6,09

Salvador 10,02 29,62 17,19 13,29 21,20 24,28 4,72 3,30 8,80 11,13

São Paulo 60,90 77,62 16,02 15,08 19,19 20,97 2,90 2,93 8,63 7,35

Total das áreas 49,04 60,78 16,81 14,43 17,38 19,94 3,92 3,06 8,87 8,09

Fonte: IBGE, Pesquisa de Orçamentos Familiares, 1997.

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60

De forma geral, nas regiões metropolitanas do Nordeste, onde se concentra o

maior número de famílias pobres, observou-se uma redução de consumo per capita

em alguns itens que compunham o cardápio alimentar dessas famílias.

Observa-se mudança na composição da cesta alimentar, pois houve aumento

nas quantidades consumidas de carne bovina (de primeira e segunda), frango e

biscoito. A melhoria da capacidade de compra dessas famílias – seja pelo

incremento de renda, seja pela queda de preços dos alimentos – significou maior

diversificação na cesta de consumo alimentar, com aumento de participação de itens

considerados superiores.

Por outro lado, essas alterações não foram uniformes entre as áreas da

pesquisa. O consumo de arroz polido, por exemplo, subiu em Brasília (20,30%),

Recife (17,93%) e no Rio de Janeiro (13,67%), enquanto o de feijão cresceu em

Brasília (9,77%) e no Rio de Janeiro (5,06%), e assim por diante. A tabela 13 mostra

também uma variabilidade em termos do consumo alimentar per capita entre os

centros urbanos do país. Em Brasília, por exemplo, uma pessoa consome 117,3

gramas/dia de arroz polido e 34,2 gramas/dia de carne bovina de primeira, enquanto

que, em Recife, o consumo é de 37,2 e 20,1 gramas/dia, respectivamente.

Com a implementação do Plano Real, em 1994, e a estabilidade da moeda,

as famílias experimentaram o novo quadro econômico no país, pois com a inflação

controlada, ocorreu a possibilidade de se planejar o orçamento doméstico em virtude

da renda obtida, melhorando o bem-estar.

Por ocasião da POF 1995-1996, o Plano Real não estava consolidado, mas

em função da contenção dos preços domésticos e da valorização da moeda, a

demanda interna manteve-se em uma trajetória crescente. Verificar-se a no próximo

subitem a investigação da POF 2002-2003, até então a última realizada no país pelo

IBGE.

4.4 O consumo entre as classes econômicas na POF de 2002-2003

Com a POF 2002-2003, no início do governo Lula, o processo inflacionário

não se deflagrou e os hábitos de consumo da população, continuaram aumentando.

A figura 16 mostra as despesas familiares per capita baseadas na POF 2002-

2003, ou seja, valor em R$ para cada uma das rubricas de gasto segundo os

estratos de renda selecionados. A soma dos desembolsos das classes inferiores foi

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61

de R$658,66. Houve um aumento de 4,55% em relação a 1995-1996. A soma das

classes superiores totalizou R$3.232,00, ou seja, comparando-se a POF anterior,

houve uma queda nos gastos totais de 2,06%.

Despesas familiares per capita, nas regiões metropo litanas (2002 - 2003)

395,

88

112,

22

441,

61

367,

66

43,1

1

79,2

2

468,

26

103,

82

533,

13

687,

41

197,

69

45,9

4

167,

16

97,6

0

19,7

4

5,72

83,3

7

23,2

0

84,6

9

76,1

3

0,00

100,00

200,00

300,00

400,00

500,00

600,00

700,00

800,00

Alim

enta

ção,

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baco

s

Ves

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cons

umo

durá

veis

Out

ras

desp

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alor

es e

m R

$ (ja

neiro

de

2003

)

Classes A e B Classes C, D e E

Figura 16 – Despesas monetárias familiares per capita e sua composição pelas rubricas de gasto, nas regiões metropolitanas, Goiânia e DF, POF 2002-2003 Elaborado pelo autor Fonte de dados brutos: IBGE, 2007.

Ao contrário da POF anterior, verificou-se o aumento do consumo total das

classes C, D e E, devido à diminuição dos preços da maioria dos produtos da cesta

básica, e uma queda nos estratos superiores A e B.

Segundo IBGE (2007), baseado na POF 2002-2003, o Brasil possuía 48,4

milhões de domicílios, dos quais apenas 0,27% tinham mais de uma unidade de

consumo, isto é, mais famílias residindo no mesmo espaço domiciliar. O número

médio de indivíduos por domicílio era de 3,62 pessoas. Quanto ao serviço de água,

luz e saneamento18 77% dos domicílios recebiam água de uma rede geral; 95%

recebiam energia comercialmente; 49% tinham saneamento básico da rede pública;

17% possuíam fossa séptica; 22%, fossa rudimentar; e, 12%, outros meios.

A Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE analisou a composição dos

gastos e do consumo das famílias segundo as classes de rendimento, entre julho de

18 Despesas com serviço de água, luz e saneamento são lançadas na rubrica outras despesas.

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62

2002 e julho de 2003 e permitiu verificar, na comparação com as pesquisas

anteriores, algumas mudanças nas despesas e nos hábitos dos brasileiros.

Uma das mudanças foi à forma de alocação dos recursos, pelas famílias: a

parcela dos gastos permanentes, com alimentação, habitação, saúde, impostos,

obrigações trabalhistas, corresponderam, em 2003, a 93,26%. Com isso, os

investimentos (em imóveis e outros) ficaram em 4,76% (IBGE, 2007).

Os gastos com habitação, alimentação e transportes continuam como os três

maiores grupos da despesa de consumo das classes C, D e E em relação ao total

das despesas.

Segundo O IBGE (2007), ocorreu uma diversificação na alimentação

reduzindo-se o consumo de gêneros tradicionais como arroz, feijão, batata, pão e

açúcar e aumentando, por exemplo, o consumo per capita de iogurte, para 2,9 kg ou

de refrigerante sabor guaraná por pessoa/ano para 7,7 kg. O leite de vaca

pasteurizado, que é o produto adquirido em maior quantidade pelas famílias, ficou

em 38 kg por pessoa, tendo seu consumo reduzido. Já o consumo de água mineral

saltou para 18,5 kg per capita por ano. Um outro sinal de mudança nos hábitos é

dado pelo consumo dos alimentos preparados, por exemplo, que 5,4 kg per capita,

no período.

Para o consumo total dos produtos analisados necessita-se de renda, mas

nem todas as classes têm o suficiente para isso. A tabela 14 mostra os rendimentos

monetários e não-monetários por estratos de rendimentos.

Tabela 14 - Rendimento monetário e não-monetário médio familiar e despesa monetária mensal familiar por classes de rendimento, com indicação de

características das famílias, em 2003

Classes de rendimento monetário e não-monetário mensal

familiar (R$)*

Total Até 400

Mais de 400 a 600

Mais de 600 a 1000

Mais de 1000 a 1200

Mais de 1200 a 1600

Mais de 1600a 2000

Mais de 2000 a 3000

Mais de 3000 a 4000

Mais de 4000 a 6000

Mais de 6000

Rendimento total 1789,66 260,21 491,25 770,79 1086,7 1366,31 1766,63 2411,04 3413,65 4815,21 10897,52 Despesa total 1778,03 454,7 658,18 920,69 1215,33 1494,43 1914,35 2450,03 3270,2 4445,42 8721,91 Tamanho médio da família 3,62 3,34 3,53 3,68 3,73 3,72 3,7 3,8 3,72 3,72 3,63 Número de famílias 48534638 7949351 6747421 10181484 3528908 5086643 3349078 4571410 2416195 2236892 2467262 Distribuição das famílias(%) 100% 16,38 13,9 20,98 7,27 10,48 6,9 9,42 4,98 4,61 5,08

Fonte: IBGE, 2007. *Caso necessário verifique na página 27, a participação por classe de renda mensal expressa em R$.

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63

A família brasileira gastou, em média, R$ 1.778,03 por mês, valor inferior ao

seu rendimento médio mensal, que é de R$ 1.789,66.

Em quase todas as faixas de rendimento observadas na tabela 14, o valor

médio das despesas foi maior que o valor do rendimento. Por exemplo, na classe de

até R$ 400 de rendimento, ganhou-se em média R$ 260, 21, mas gastou-se R$

454,70. Apenas as classes acima de R$ 3.000 gastaram, em média, menos do que

receberam.

A tabela 15 faz uma comparação entre os dois extremos das faixas salariais

revelando as desigualdades no consumo no país. A faixa de mais baixo rendimento

(até R$ 400) representou 16,38% das famílias e a faixa mais alta (mais de R$

6.000), 5,08%. De forma geral, em valores absolutos, os gastos aumentaram

conforme a renda, em todos os grupos de despesa. No entanto, em termos

percentuais, verificam-se as diferenças nos padrões de consumo.

Tabela 15 – Distribuição dos tipos de despesa, em relação à despesa total monetária e não-monetária, por classes de rendimento no Brasil, em 2003

Classe de rendimento monetário e não-monetário mensal familiar*

Total % Até R$ 400 Mais de R$ 6000

Habitação 29,26 37,15 22,79

Alimentação 17,10 32,68 9,04

Transporte 15,19 8,15 17,26

Assistência à saúde 5,35 4,08 5,62

Vestuário 4,68 5,29 3,21

Educação 3,37 0,30 4,89

Despesas diversas 2,30 1,46 2,79

Recreação e cultura 1,97 0,81 2,16

Higiene 1,79 2,40 1,10

Serviços pessoais 0,84 0,64 0,81

Fumo 0,57 1,14 0,23

Fonte: IBGE, 2007. *Caso necessário verifique na página 27, a participação por classe de renda mensal expressa em R$.

Como na média do país, as despesas com habitação ocupam o primeiro lugar

no ranking nos dois extremos de rendimento, mas chegam a 37,15% na faixa mais

baixa, enquanto na mais alta ficam em 22,79%. Na faixa menor de renda, a

alimentação consome a segunda maior fatia das despesas (32,68%), o triplo do que

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64

se gasta na faixa mais alta (9,04%). Assim, apenas habitação e alimentação,

somadas, respondem por cerca de 70% das despesas de quem recebe até R$ 400

e, na faixa de mais de R$ 6 mil, cerca de 31,83%.

Na faixa de renda menor, em terceiro lugar, vem o transporte, com 8,15% da

despesa, boa parte desta destinada a transporte urbano (3,94%, contra 0,87% da

classe alta). Já na faixa mais alta de renda, o transporte fica em segundo,

consumindo 17,26% da despesa total. Segundo IBGE (2007), parte deste percentual

refere-se a despesas com veículo próprio (8,20% com aquisição de veículos, 3,40%

com gasolina, 0,33% com álcool, e 1,31% com manutenção).

Alem da observação do comportamento da renda dos brasileiros

metropolitanos, pode-se analisar também o consumo de bens duráveis. A tabela 16

mostra a posse de bens duráveis pelas famílias da população em geral.

Tabela 16 – Posse de bens duráveis conforme a forma do produto, segundo as POFs de 1995-1996 e 2002-2003.

POF de 1995 - 1996 POF de 2002 - 2003 (B) / (A) Número total de famílias 12.525.090 15.321.182

Produto Nº de famílias que

possuem (A) Nº de famílias que

possuem (B) Variação percentual

(%) Automóveis 4.448.193 5.445.071 22,41 Motocicletas 348.547 582.822 67,21 Pequenos eletrodomésticos 11.985.508 14.744.822 23,02 Refrigerador / Freezer 11.461.258 14.620.441 27,56 Máquina de lavar roupas 5.842.922 7.953.049 36,11 Microcomputador 870.062 3.277.728 276,72 Aparelho de televisor 11.806.118 14.565.770 23,37 Videocassete / DVD 4.740.533 8.224.567 73,49 Elaborado pelo autor Fonte de dados brutos: IBGE, 2007.

Percebe-se, conforme dados da tabela 16, a expansão da disponibilidade de

bens duráveis de todos os itens, nas regiões metropolitanas. A exceção ficou com os

automóveis, que registrou involução de posse pelas famílias entre 1995-1996 e

2002-2003. Os microcomputadores, no sentido contrário lideraram a variação do

estoque entre as pesquisas.

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65

A tabela 17 mostra informações sobre aquisição de bens duráveis segundo a

forma de pagamento nos dois períodos pesquisados. São apresentados o número

de famílias consumidoras e sua relação com o gasto médio mensal.

Tabela 17 - Aquisição de bens duráveis pelas famílias conforme o produto, segundo as POFs 1995-1996 e 2002-2003 (média mensal, em milhares de famílias)

POF de 1995 – 1996** POF de 2002 – 2003 (B) / (A)

Produto

Nº de famílias

que adquiriu

(A) Á

vista A

prazo % a

prazo

Nº de famílias

que adquiriu

(B) Á

vista A

prazo % a

prazo

(%) de quem

adquiriu

Automóveis 1.135 629 506 44,58 2.252 995 1.257 55,82 98,41

Motocicletas 103 51 52 50,49 390 189 201 51,54 278,64

Pequenos

eletrodomésticos* 1.849 1.451 398 21,53 2.891 2.073 818 28,29 56,35

Refrigerador /

Freezer 765 271 494 64,58 1.677 686 991 59,09 119,22

Máquina de lavar

roupas 456 127 329 72,15 1.049 393 656 62,54 130,04

Microcomputador 217 103 114 52,53 743 301 442 59,49 242,40

Aparelho de

televisor 1.653 565 1.087 65,76 2.161 928 1.233 57,06 30,73

Videocassete /

DVD 546 234 312 57,14 1.206 556 650 53,90 120,88

Fonte: IBGE, 2007. *Pequenos eletrodomésticos: reúne os produtos como batedeira de bolo, cafeteira elétrica, espremedor de frutas elétrico, faca elétrica, grill, liquidificador, máquina de moer carne, purificador de água, torneira elétrica, aspirador de pó, enceradeira, ferro elétrico, processador de alimentos. **POF de 1995-1996: valores monetários inflacionados pelo INPC de janeiro de 2003

Pelos dados da tabela 17, é possível identificar a evolução do consumo de

bens duráveis entre os sete anos que separam as duas POFs. Em todos os itens

houve aumento no número famílias adquirentes, destacando-se as motocicletas e os

microcomputadores, que chegaram a atingir 278% e 242%, respectivamente.

No próximo subitem estudar-se-á as três POFs em conjunto, fazendo-se as

devidas comparações.

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66

4.5 Comparativo das três POFs

Neste item, procurar-se-á mostrar um comparativo entre as três POFs e como

se comportaram as repartições entre os grupos de renda nos principais mercados

de bens e serviços – as rubricas de gasto.

Na figura 17, mostra-se a estrutura de participação para o total das despesas,

assim como o total gasto com alimentos, bebidas e tabaco; vestuário e habitação.

68 69 6450 53 48

77 77 75 65 63 56

32 31 3650 47 52

23 23 2535 37 44

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

1987 1996 2003 1987 1996 2003 1987 1996 2003 1987 1996 2003

Total das despesas Alimentos, Bebidase tabaco

Vestuário Habitação

Classes A e B Classes C, D e E

Figura 17 – Evolução da estrutura de participação de estratos selecionados de renda monetária familiar per capita no total das despesas e mais três grupos (alimentos, vestuário e habitação), entre as três POFs Elaborado pelo autor Fonte de dados brutos: IBGE, 2007.

Verificou-se um movimento de concentração das despesas monetárias entre

as duas primeiras POFs, com diminuição no período subseqüente. Ocorreu um

crescimento da participação no total das despesas monetárias do estrato de renda

monetária familiar per capita, das classes C, D e E, tendo por contrapartida uma

perda de espaço do estrato das classes mais ricas (A e B).

Quanto aos alimentos, bebidas e tabaco, os preços caíram, e as pessoas

estão fazendo outras escolhas no campo alimentar, como podemos observar nas

tabelas 12 e 13. A fome no país, só ocorre em casos pontuais e, de maneira geral, o

que pode ser questionado é a qualidade do cardápio atual dos brasileiros, pois cada

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67

vez se consomem mais carne, frango, açúcar, biscoitos e bebidas gaseificadas,

enquanto produtos básicos como arroz e feijão caem no conjunto da despesa

familiar. As famílias de baixa renda se acostumam com estruturas de consumo de

classes de renda mais altas, é o caso do consumo de carnes, víceras e pescados.

Parte desta constatação se deve ao efeito da queda dos preços, havendo um

aumento da oferta alimentar e uma segmentação do mercado de alimentos. Então, a

queda no comprometimento da renda com alimentação não é uma redução no total

consumido, porque aumenta a gama de produtos. Outro fator que se vê na

alimentação não está ligado ao preço, mas ao próprio funcionamento da sociedade

como um todo, com as mudanças na organização das famílias, a maior inserção das

mulheres no mercado de trabalho e o aumento dos custos de transportes e no

consumo de alimentos fora de casa do lar. Na POF de 1995-1996, de cada R$ 4

gastos com alimentação, na média R$ 1 era gasto fora de casa. Essa relação caiu

de R$ 3 para R$ 1 em 2002-2003. Nas décadas anteriores, a maior parte da

população comia dietas mais simples, porém adequadas e dentro do domicilio, e que

a mudança da estrutura alimentar poderia resultar em problemas de saúde pública,

como a obesidade.

Além da queda do peso dos alimentos no orçamento doméstico, o vestuário

também caiu. Isto é recorrente em todas as POFs: uma queda constante do

comprometimento do orçamento com gastos de alimentação e vestuário. Neste

caso, as classes A e B, aumentaram sua participação no mercado, pois as classes

de menor renda preferiram gastar parte de seu orçamento em outras despesas.

Quanto à rubrica habitação, esta cresceu em termos de importância no

orçamento das famílias, pressionando por todas as classes, em função do efeito

preço e do aumento de linhas de crédito para aquisição da casa própria. Observou-

se um aumento na participação das classes C, D e E de 35% em 1987-1988 para

44% em 2002-2003.

As figuras 18 e 19 ilustram a divisão dos gastos com transporte, saúde

educação e serviços pessoais e bens duráveis como um todo (fig. 18) e para os

bens que os compõem: eletroeletrônicos, imóveis, automóveis e artigos de mobiliário

(fig. 19).

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68

73 67 64 70 72 73 84 83 74

27 33 36 30 28 27 16 17 26

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

1987 1996 2003 1987 1996 2003 1987 1996 2003

Transporte Saúde, educação e serviçospessoais

Bens duráveis

Classes A e B Classes C, D e E

Figura 18 – Estrutura de participação do mercado de transporte, saúde, educação e serviços pessoais e bens duráveis entre as três POFs, nos diferentes estratos de renda. Elaborado pelo autor Fonte de dados brutos: IBGE, 2007. Outro item que pressionou o orçamento das famílias foi o transporte. No caso

das classes C, D e E, em função do efeito preço do transporte urbano e com a

ascensão do transporte privado individual. Houve uma mudança no perfil do

transporte público, com migração para o transporte alternativo (as vans), um pouco

para o trem e o metrô, e também a migração para o transporte individual, com a

aquisição de carros e motos. Porém, isso não responde por toda a queda que se

verificou no transporte coletivo. Em certa medida, a pressão do preço no transporte

coletivo levou a um crescimento do comprometimento orçamentário e a uma

migração, mas há pessoas tendo que lançar mão de subterfúgios, como andar a pé

ou de bicicleta, dados que a POF não consegue levantar. Com isso observou-se um

aumento na participação das classes C, D e E de 27% em 1987-1988 para 36% em

2002-2003.

Nos estratos superiores (A e B) assistiu-se a um crescimento concentrador da

participação no orçamento dos gastos em saúde, educação e serviços pessoais no

decorrer das três POFs.

Em função dos preços dos planos de saúde, cresceu o comprometimento

orçamentário da classe alta. Os índices de reajuste dos planos têm sido superiores

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69

aos da inflação. Mas o peso diminuiu para os mais pobres em função de políticas

públicas, como a criação da farmácia popular e a regulamentação dos

medicamentos genéricos, mesmo assim, insuficientes para ganhar mercado das

classes superiores.

A Educação também cresceu o comprometimento orçamentário, por dois

fatores: o aumento dos preços dos colégios e o crescimento do ensino privado

superior. Esses dois efeitos concentraram-se nos estratos mais elevados de renda.

Desta forma, verificou-se na educação um aumento da desigualdade no consumo.

Os ricos passaram a gastar ainda mais. É importante verificar que a política pública

é fundamental para que o orçamento dos mais pobres não seja tão pressionado.

Quanto à escola pública, o comprometimento orçamentário de pobres e ricos é o

mesmo, com uma pressão por consumir outras coisas, como material escolar, por

exemplo. Outro aspecto a ser analisado entre as famílias cujos adultos têm alta

escolaridade, sejam pobres ou ricos, é o crescimento do comprometimento

orçamentário com educação a despeito da renda. As pessoas comprometem mais

os seus orçamentos quanto mais escolarizados são. Desta forma, o valor da

educação está ligado ao seu grau e, não somente à sua renda, apesar de as duas

coisas estarem correlacionadas.

Quanto a rubrica bens duráveis, os dados indicam haver uma rigidez nas

estruturas de participação dos gastos, com uma concentração das despesas neste

mercado, no qual os 84% mais ricos respondem pelas despesas em 1987-1988 e

83% nos anos de 1995-1996. Já na POF seguinte, em 2002-2003, as classes C, D e

E aumentaram sua participação nessa rubrica em 52,9% em relação aos anos de

1995-1996, tornando esse quadro mais desconcentrado. Esse movimento ocorrido

nas despesas com bens duráveis pode ser associado ao processo de estabilização

da economia brasileira, com a melhoria do crédito e a queda dos preços.

A figura 19 discrimina em que subgrupos de duráveis ocorreram tais

movimentos, indicando que a desconcentração não foi uniforme, afetando ora uns,

ora outros grupos de renda, a depender do tipo de bem e do período.

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Figura 19 – Estrutura de participação dos mercados de aparelhos eletroeletrônicos, automóveis, casas e artigos de mobiliários entre as três POFs. Elaborado pelo autor Fonte de dados brutos: IBGE, 2007.

Verificou-se um crescimento de participação no total dos gastos com

eletroeletrônicos pelas classes C, D e E, tendo por contrapartida a perda de espaço

dos mais ricos. Tal processo se observou entre as duas primeiras POFs e

estabilizou-se no último período.

Nas despesas com aquisição de automóveis e de imóveis ocorreu, no período

das três POFs, uma perda de participação das classes mais altas (A e B), e um

aumento nas classes C, D e E. Na rubrica automóveis, o percentual de aumento foi

de 76,9%, enquanto que nos eletroeletrônicos foi de 29,4%.

Nesse mercado o que se verificou foi uma perda de importância dos estratos

relativamente ricos compensada por ganhos nas classes C, D e E.

Em relação ao mercado de artigos de mobiliário, houve um aumento da

participação das classes C, D e E entre 1987-1988 e 2002-2003, à custa de perdas

de participação nos mais ricos.

Dados socioeconômicos enriquecem a leitura das informações específicas de

consumo. Efetivamente, nos quase 20 anos que separam as POFs, houve

mudanças no perfil das famílias metropolitanas. A despeito do volume de

informações que essas pesquisas apresentam, elas ainda são pouco exploradas.

Credita-se isso à dificuldade de compreensão da sua estrutura de apresentação a

cada tempo ou nos dados disponibilizados no site do IBGE e da sua evolução.

94 92 83 87 88 77

66 57 5668 64 57

6 8 17 13 12 23

34 43 4432 36 43

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90%

100%

1987 1996 2003 1987 1996 2003 1987 1996 2003 1987 1996 2003

Imóveisresidenciais

Automóveis Eletroeletrônicos Mobiliário

Classes A e B Classes C, D e E

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5 CONCLUSÃO

O objetivo deste trabalho foi o de analisar e obter maior conhecimento a

respeito do perfil e do comportamento do consumidor brasileiro, focalizando as

classes econômicas no Brasil, a partir da década de 1990. Para atingir tal objetivo,

foi proposto um estudo, baseado no comportamento do consumidor, buscando

informações mercadológicas e governamentais a respeito de dados geográficos

regionais e nacionais.

Iniciou-se o trabalho demonstrando o comportamento do consumidor, as suas

características diante da restrição orçamentária, gostos e preferência, e a influência

do marketing sobre o mercado brasileiro. Verificou-se que a classe social que cada

indivíduo pertence, é considerada uma variável importante, que interfere no ato de

consumo, e que não pode ser deixada de lado ao procurar estudar a forma de cada

consumidor agir diante de determinadas escolhas.

As classes sociais são divididas e relativamente homogêneas e duradouras

dentro de uma sociedade, porém este estudo teve por objetivo avaliar o

comportamento do consumidor pela ótica da economia, sem deixar de lado os

fatores sociais. Por isso foram utilizados números reais, quanto à renda, inflação,

volume de crédito, taxa de juros, prazos dos contratos de crédito, assim como

volume de vendas no varejo.

A estratificação social indicou a existência de diferenças, de desigualdades

entre pessoas de uma determinada sociedade baseada na posse de bens materiais,

fazendo com que haja pessoas ricas, pobres e em situação intermediária. Pode ser,

baseada na situação de mando na sociedade (grupos que têm e grupos que não têm

poder), pode-se ainda, basear-se de acordo com a profissão de cada indivíduo.

Deste modo são hierarquicamente ordenadas e seus integrantes possuem valores,

interesses e comportamentos similares.

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No decorrer deste trabalho, abordaram-se duas variáveis relevantes no

consumo das pessoas, além do comportamento do consumidor e sua estratificação

social; a renda pessoal e o crédito. Quanto à renda, no Brasil constitui-se em um

tema complexo do ponto de vista da teoria econômica, quando se trata de sua

distribuição, pois por trás deste panorama, encontram-se questões sobre a estrutura

de poder de uma sociedade e a forma como ocorre sua dinamização na economia.

A distribuição de renda da sociedade brasileira é historicamente

concentradora. Desde os primórdios da colonização, o Brasil utilizou-se de mão-de-

obra escrava, latifúndios e produtos voltados para a exportação, caracterizando a

construção da exclusão social.

Verificou-se que a distribuição de renda, na década de 1990, piorou em

comparação com décadas anteriores. O coeficiente de Gini que era em 1960 de

0,500 atinge o valor de 0,615 em 1990. Em 1989, o coeficiente alcançou sua pior

marca, isto é, 0,640. Por sua vez, os 1%, 10% e 20% mais ricos, chegaram em

1990 com acréscimo na renda. Por outro lado, os 20% mais pobres, que em 1960

possuíam 3,5% da renda, em 1990 receberam 2,3%. Em geral, durante todo o

período, o percentual ficou entre 2 e 3%. Caracterizando uma concentração ainda

maior da renda no grupo pertencente às classes A e B.

Entre 1986 até o final de 1989, o país estava no auge de um processo de

hiperinflação, o que gerou impactos sobre a renda e consequentemente sobre o

consumo dos brasileiros. As famílias, principalmente as de menor poder aquisitivo,

realizavam suas compras quando recebiam seus salários, sob risco de não terem

condições de comprá-los pelo mesmo preço alguns dias depois. Neste período

ocorreram três planos econômicos na tentativa de conter o processo inflacionário

(Plano Cruzado, Bresser, Verão). Todos utilizando o método de congelamento de

preços, e que levou ao desequilíbrio entre a oferta e a demanda, gerando ágio na

estrutura de consumo, e um “sobe desce” nos índices de inflação. A partir de 1990,

com início do governo Collor, ocorreu nova tentativa de controle da inflação através

do controle da liquidez. Assim, o confisco de ativos financeiros foi o instrumento

utilizado, mas os efeitos foram à recessão econômica sem que houvesse a

distribuição de renda. A partir de 1991 o governo iniciou os projetos sociais, com o

intuito de minimizar a situação socioeconômica das classes mais pobres.

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A partir de 1995, o coeficiente de Gini começou a cair gradativamente

chegando em 2005 a 0,550 para a população economicamente ativa (PEA), ante

0,640 na virada da década passada.

As operações de crédito representaram a principal aplicação de recursos

captados pelas instituições financeiras, sendo a fonte de receita mais significativa.

No período de 1990 a 1994 o crédito apresentou tendência nula de crescimento, em

virtude do Plano Collor. A partir da implementação do Plano Real, em 1994, passou

a ser de crescimento até o ano de 2006. O crédito pessoal em relação ao PIB teve

crescimento constante desde 1994, passando de 5% no ano de 2001. Desde

meados de 2004, em função tanto de mudanças institucionais quanto de fatores

econômicos, a relação do PIB com o crédito apresentou crescimento ainda maior, e

o crédito pessoal em relação ao PIB chegou a 10% em 2006.

Um dos fatores que podemos destacar foi a Lei nº 10.820 de 2003, que

regulamentou os empréstimos consignados em folha de pagamento, ampliando o

aceso dos trabalhadores a uma modalidade de crédito com menor risco ao credor,

utilizado principalmente por funcionários públicos e pensionistas do INSS.

Com risco menor, e início do afrouxamento da política monetário, deu-se

início a queda acentuada da taxa de juros a partir de 2003, chegando a 53% ao ano

no final de 2006, para pessoa física. Além da queda observada nas taxas médias de

juros, destaca-se o alongamento dos prazos que aumentaram concomitantemente

ao crescimento do volume das operações de crédito. O prazo médio das operações

para pessoa física ficou em média 327 dias, chegando a 361 dias no final de 2006.

Com este cenário favorável ao consumo, houve aumento das vendas a

varejo, com a antecipação do consumo permitido pelo acesso ao crédito e pelo

aumento real da renda, causando uma maior demanda na indústria para

recomposição dos estoques dos estabelecimentos comerciais.

O consumo no Brasil atravessou uma fase de mudanças importantes de

hábitos, produtos e preços. Depois da abertura comercial, que trouxe na década

passada a competição de produtos importados, o novo impulso vem do aumento do

crédito e da elevação da renda dos mais pobres nos últimos anos. O resultado tem

sido a maior influência das famílias de classe C, D e E que têm renda mensal entre

um e cinco salários mínimos e que desde 2001 estão deixando de consumir apenas

produtos básicos, de primeira necessidade, e passando a exigir a redefinição de

linhas de produtos.

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Quanto ao público de baixa renda, percebe-se que este apresentou um

comportamento crescente pela busca por novidades, até então desconhecidas ou

inacessíveis. Se anteriormente, sua renda estava voltada para alimentação mais

comum, hoje se dá ao luxo de escolher produtos de higiene pessoal, laticínio e bens

duráveis.

As famílias brasileiras estão gastando menos com alimentação e vestuário

por causa da queda dos preços e, com isso, puderam melhorar sua habitação e

utilizar mais serviços urbanos. E, em menor envergadura, as classes C, D e E

começaram a elevar seu consumo de bens duráveis - eletroeletrônicos, mobiliário,

casa e automóvel. As estatísticas que revelaram isso foram as seguintes: na POF de

2002-2003, as classes C, D e E aumentaram sua participação em 52,9% em relação

aos anos de 1995-1996, tornando esse quadro mais desconcentrado. Esse

movimento ocorrido nas despesas com bens duráveis pode ser associado ao

processo de estabilização da economia brasileira, com a melhoria do crédito e a

queda dos preços.

As conclusões evidenciam que é necessário aumentar o poder de compra

para generalizar alguns consumos de bens duráveis que poderiam dar uma escala

ainda maior à indústria nacional, permitindo internalizar alguns segmentos industriais

que utilizam componentes importados, em função de que, na nossa indústria, o

dinamismo está concentrado em uma faixa muito restrita da população.

Neste sentido o aprofundamento do modelo, salário mínimo (renda / crédito)

foi a variável entre todas que melhor definiu essa evolução do consumo. Este dado

evidenciou a massificação do crédito, concedido às pessoas de baixa renda,

observado nos últimos anos, e como isso possibilitou o acesso desse público a um

lugar, até então proibido, o de consumidor no mercado brasileiro.

Enquanto para determinados segmentos da sociedade a possibilidade de alto

consumo nas camadas mais baixas se apresentaram como um paradoxo, novas e

importantes oportunidades deixaram de ser aproveitadas adequadamente.

Sugere-se para futuros trabalhos que venham a versar sobre o tema a

evolução do consumo nas camadas de menor renda, sua diversificação de produtos

consumidos, assim como o consumo de serviços, que pouco foi abordado neste

trabalho, pois a expansão desse mercado, na baixa renda não para de crescer.

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