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SEMINÁRIO FRANCO-BRASILEIRO “AS FUNÇÕES DOS DIREITOS DE PROPRIEDADE INTELECTUAL NO SÉCULO XXIA função social dos direitos de propriedade industrial Denis Borges Barbosa

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SEMINÁRIO FRANCO-BRASILEIRO

“AS FUNÇÕES DOS DIREITOS DE PROPRIEDADE

INTELECTUAL NO SÉCULO XXI”

A função social dos direitos de propriedade industrial

Denis Borges Barbosa

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Uma proposta de desenvolvimento nacional

• É no pensamento econômico e na obra de José da Silva Lisboa, futuro Barão e Visconde de Cairu, que Clóvis da Costa Rodrigues vai procurar as origens e a inspiração do parágrafo sexto do Alvará de 1809. Nascido em Salvador, no ano de 1756, o político, publicista e jurisconsulto de formação coimbrã — onde se graduou bacharel em Direito Canônico e Filosofia — galgou carreira destacada dentro da aparelhagem burocrática bragantina, ocupando durante o período joanino cargos importantes como o de Desembargador do Tribunal da Relação da Bahia,

• Desembargador da Mesa do Desembargo do Paço e da Mesa de Consciência e Ordens, Censor Régio, membro da Junta Administrativa da Imprensa Régia e Deputado do Tribunal da Junta do Comércio do Rio de Janeiro.

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Fontes

• Nuno Pires de Carvalho, As Origens do sistema Brasileiro de Patentes: o Alvará de 28 de abril de 1809 na confluência de políticas públicas

divergentes, Rev. ABPI no. 91 e 92.

• DBB, 185 anos de incentivos fiscais (1993) (Palestra na Confederação Nacional da Indústria), http://denisbarbosa.addr.com/30.DOC

• DBB, O Impasse em Nairóbi, Marcas, Patentes e a nova Ordem Econômica Mundial (Jornal do Brasil de 26 de setembro de 1981). http://denisbarbosa.addr.com/42.doc

• Clóvis Costa Rodrigues, A Inventiva Brasileira, vol. 2, 1973.

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PI como desenvolvimento

• Lei de patentes de 28 de abril de 1809, um Alvará de D. João VI aplicável somente ao Estado do Brasil

• 4ª Lei do mundo

• Parte de um pacote de desenvolvimento

• Sem patente para estrangeiro não investidor.

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ALVARÁ DE 28 DE ABRIL - UM PAC DE 1809

• ALVARÁ DE 28 DE ABRIL DE 1.809 • Isenta de direitos as matérias primas do uso das fábricas e concede outros favores

aos fabricantes e da navegação nacional.• Eu o Príncipe Regente faço saber aos que o presente Alvará com força de lei virem,

que sendo o primeiro e principal objeto dos meus paternais cuidados o promover a felicidade pública dos meus fiéis Vassalos (…)

I. Todas as matérias primas que servirem de base a qualquer manufatura serão isentas de pagar direitos alguns de entrada em todas as Alfândegas dos meus Estados, quando o fabricante as comprar para gasto de sua fábrica (…)

II. Todas as manufaturas necessárias serão isentas de pagar direitos alguns na sua exportação para fora dos meus Estados (…)

III. Para promover e adiantar a Marinha mercantil dos meus fiéis Vassalos: hei por bem determinar que paguem só metade dos direitos estabelecidos em todas as Alfândegas dos meus Estados, todos os gêneros e matérias primas, de que possam necessitar os donos de novos navios para a primeira construção e armação deles

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ALVARÁ DE 28 DE ABRIL - UM PAC DE 1809

• ALVARÁ DE 28 DE ABRIL DE 1.809

I. Todos os fardamentos das minhas tropas serão comprados às fábricas nacionais do Reino e às que se houverem de estabelecer no Brasil

II. sou servido ordenar que da Loteria Nacional do Estado, que anualmente quero se estabeleça, se tire em cada ano uma soma de sessenta mil cruzados, que se consagre, ou toda junta, ou separadamente, a favor daquelas manufaturas e artes, que mais necessitarem deste socorro, particularmente das de lã, algodão, seda e fábricas de ferro e aço

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• ALVARÁ DE 28 DE ABRIL DE 1809

• Eu o Príncipe Regente faço saber aos que o presente Alvará com força de lei virem, que sendo o primeiro e principal objeto dos meus paternais cuidados o promover a felicidade pública dos meus fiéis Vassalos

I. Sendo muito conveniente que os inventores e introdutores de alguma nova máquina e invenção nas artes gozem do privilégio exclusivo, além do direito que possam ter ao favor pecuniário, que sou servido estabelecer em benefício da indústria e das artes, ordeno que todas as pessoas que estiverem neste caso apresentem o plano de seu novo invento à Real Junta do Comércio; e que esta, reconhecendo-lhe a verdade e fundamento dele, lhes conceda o privilégio exclusivo por quatorze anos, ficando obrigadas a fabricá-lo depois, para que, no fim desse prazo, toda a Nação goze do fruto dessa invenção.

ALVARÁ DE 28 DE ABRIL - UM PAC DE 1809

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ALVARÁ DE 28 DE ABRIL – Um pacote de desenvolvimento

• ALVARÁ DE 28 DE ABRIL DE 1.809

I. Ordeno, outrossim, que se faça uma exata revisão dos que se acham atualmente concedidos, fazendo-se público na forma acima determinada e revogando-se todas as que por falsa alegação ou sem bem fundadas razões obtiveram semelhantes concessões.

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Constituição Política do Império do Brasil de 1824,

• Art. 179, inc. 26: “os inventores terão a propriedade de suas descoberta ou das suas produções. A lei lhes assegurará um privilégio exclusivo temporário, ou lhes (sic) remunerará em ressarcimento da perda que hajam de sofrer pela vulgarização.

• En France, l'Assemblée Constituante, avec la loi du 7 janvier 1791 déclare :

• "Toute découverte ou nouvelle invention, dans tous les genres de l'industrie est la propriété de son auteur; en conséquence, la loi lui en garanti la pleine et entière jouissance, suivant le mode et pour le temps qui seront ci-après déterminé

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Nossa história – Lei de 1830

• Art. 10. Toda a patente cessa, e é nenhuma:• (…) 4º. Se o descobridor, ou inventor, obteve pela

mesma descoberta, ou invenção, patente em paiz estrangeiro. Neste caso porém terá, como introductor, direito ao premio estabelecido no art. 3º.

• Art. 3º. Ao introductor de uma industria estrangeira se dará um premio proporcionado á utilidade, e difficuldade da introducção.

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PI como desenvolvimento

• A lei de 28 de agosto de 1830, na prática só ao inventor nacional era deferida a patente; se ficasse provado que o inventor havia obtido, pelo mesmo invento, patente no exterior, a concessão brasileira ficaria nula.

• Para os "introdutores de indústria estrangeira", ou seja, quem se estabelecesse no Brasil com tecnologias novas para o país, a lei previa um subsídio, não um monopólio;

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Nossa história

• Mas nunca foi votada verba necessária, o que levou os ministros da área a passar a conceder patentes a estrangeiros, ad referendum do poder legislativo. Assim, apesar da proibição, em 1878, foi concedida uma patente a Thomaz Edison para "uma máquina denominada fonógrafo".

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Internacionalização como escolha consciente

• A entrada na CUP foi uma decisão informada e consciente do Estado brasileiro

• O Visconde de Villeneuve, dono do Jornal de Comércio, foi designado embaixador extraordinário para a Convenção

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Nossa história

• Parecia, aos olhos de então, justificado o ponto-de-vista do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras públicas de 1876, ao propor a elaboração da nova lei:

• "Nação nova, dotada de grandes e variados elementos de riqueza, oferecendo tantas facilidades para a aquisição dos meios de subsistência, o Brasil não pode contar tão cedo, para o progresso de sua indústria, com o espírito de invenção que, como é sabido, somente na luta da necessidade contra os elementos encontra condições de vida e estímulos para seu desenvolvimento."

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Nossa história

• Votados, pela geográfica, ao subdesenvolvimento, só uma legislação liberal que protegesse os monopólios de importação poderia assim nos fornecer objetos novos da tecnologia mundial.

• D. Barbosa, O Impasse em Nairóbi, Marcas, Patentes e a nova Ordem

Econômica Mundial (Jornal do Brasil de 26 de setembro de 1981).

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A intensa discussão da função social na votação em 1882

• Em nossa Lei Nº 3.129, de 14 de outubro de 1882, assim se dispunha:

– Art. 3º - (..) § 2º - Se parecer que a matéria da invenção envolve infração do § 2º do art. 1º, ou tem por objeto produtos alimentares, químicos ou farmacêuticos, o Governo ordenará o exame prévio e secreto de um dos exemplares, de conformidade com os Regulamentos que expedir: e a vista do resultado concederá ou não a patente.

– Da decisão negativa haverá recurso para o conselho de Estado.

– § 3º - Excetuados somente os casos mencionados no parágrafo antecedente, a patente será expedida sem prévio exame. (..)

– Art. 4º - Expedida a patente e dentro do prazo de 30 dias proceder-se-á com as formalidades que os Regulamentos marcarem à abertura dos invólucros depositados.

– O relatório será imediatamente publicado no Diário Oficial, e um dos exemplares dos desenhos, plantas, modelos ou amostras exposto à inspeção do público e ao estudo dos interessados, permitindo-se tirar cópias.

– Parágrafo único – No caso de não ter havido o exame prévio, de que trata o § 2º do art. 3º, o Governo, publicado o relatório, ordenará a verificação, por meio de experiências, dos requisitos e das condições que a Lei exige para a validade do privilégio, procedendo-se pelo modo estabelecido para aquele exame.

Assim, mesmo quando não se examinavam todas as patentes, examinavam-se as patentes ora submetidas à ao equivalente da ANVISA. Essa disposição teve análise minuciosa pelo Conselho de Estado do Império (parecer da Seção dos Negócios do Império de 11 de outubro de 1886 ).

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A intensa discussão da função social na votação em 1882

• Mais importante do que isso, na votação do projeto o Poder Legislativo entendeu que era inconstitucional deixar de examinar essas patentes :

• ”A Comissão entendeu que quando se trata de produtos farmacêuticos, químicos ou alimentares, esse exame é indispensável , julgando inconstitucional a exceção feita de tais produtos na proposta da Câmara (...)

• Para que esses produtos sejam colocados em venda, eles são sujeitos a um exame prévio pela Comissão Central de Higiene; mas esse exame não dá o privilégio. Nem o inventor tem direito de ação contra os falsificadores do produto.

• O direito do Inventor é assim tomado em consideração, enquanto antes não havia garantia; e da mesma forma, o interesse público”

• BAILLY, p. 97, reportando o voto do Senador Diogo Velho. Note-se que o projeto da câmara simplesmente negava patentes a essas invenções. O Senado, mais conservador, assegurou tais patentes, mas submetendo-as a um exame prévio. Sobre isso, vide o discurso do deputado Cândido de Oliveira, BAILLY, p. 122 e seg.

Vide o texto completo em BAILLY, G.A, Protection dês Inventions au Brésil, Paris, 1915, p. 274 e seg. CARVALHO DE MENDONÇA, J.X., Tratado de Direito Comercial Brasileiro, vol. III, Tomo I, reeditado por Russel, Campinas, 2003, no. 110, 134 e 136.

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Constituição de 1891,

• art, 72 § 25: “Os inventores industriais pertencerão aos seus autores, aos quais ficará garantido por lei um privilégio temporário, ou será concedido pelo Congresso um prêmio razoável, quando há conveniência de vulgarizar o invento”.

• Art. 72, §27: “A lei assegurará a propriedade das marcas de fábrica.

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Constituição de 1891,

• art, 72 § 25: “Os inventores industriais pertencerão aos seus autores, aos quais ficará garantido por lei um privilégio temporário, ou será concedido pelo Congresso um prêmio razoável, quando há conveniência de vulgarizar o invento”.

• Art. 72, §27: “A lei assegurará a propriedade das marcas de fábrica.

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Constituição de 1934

• art. 113, inc. 18: “Os inventores industriais pertencerão aos seus autores, aos quais a lei garantirá privilégio temporário, ou concederá justo prêmio, quando a sua vulgarização convenha à coletividade”.

• Art. 113, inc. 19:. “A lei assegurará a propriedade das marcas de industria e comércio e a exclusividade do uso do nome comercial”.

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Constituição de 1937

• art. 16 XXI: “Compete privativamente à União o poder de legislar sobre os privilégios de invento, assim como a proteção dos modelos, marcas e outras designações de origem”

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Decreto-lei nº 7.903 de 27 de Agosto de 1945

• Art. 2.º A proteção da propriedade industrial, em sua função econômica e jurídica, visa reconhecer e garantir os direitos daqueles que contribuem para o melhor aproveitamento e distribuição de riqueza, mantendo a lealdade de concorrência no comércio e na indústria e estimulando a iniciativa individual, o poder de criação, de organização e de invenção do indivíduo.

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Constituição de 1946

• art. 141, §17: ”Os inventos industriais pertencem aos seus autores, aos quais a lei garantirá privilégio temporário ou, se a vulgarização convier à coletividade, concederá justo prêmio”.

• Art. 141, §18: “É assegurada a propriedade das marcas de indústria e comércio, bem como a exclusividade do uso do nome comercial”.

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A internacionalização Questionada

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A denúcia do acordo de Madri

• O Decreto nº 5.685, de 1929, aprovou conjuntamente a Revisão de Haia da Convenção de Paris e dois Acordos de Madri de 14 de abril de 1891, o primeiro, relativo à Repressão das Falsas Indicações de Procedência, e o segundo, relativo ao Registro Internacional de Marcas. Este último foi denunciado pelo Brasil e revogado pelo Decreto nº 196, de 1934.

No texto do referido decreto 196, subscrito pelo Presidente Getúlio Vargas, se assinala que tal denúncia foi motivada por "reiterados apelos das classes produtoras do país".

Na Revista de Direito Industrial de 1935, o Dr. Francisco Antonio Coelho, então Diretor Geral do Departamento Nacional da Propriedade Industrial, publicou artigo sob o título "A DENÚNCIA DO ACORDO DE MADRI". Nesse artigo, o autor destaca tal decisão como patriótica, resultado "de uma campanha há longos anos sustentada pelos órgãos mais representativos das nossas classes conservadoras, notadamente as Associações Comerciais do Rio de Janeiro e de São Paulo".

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A denúcia do acordo de Madri

• Era tão grave a situação na época, que o saudoso Thomas Othon Leonardos, noprefácio de sua obra A MARCA DE INDÚSTRIA E COMÉRCIO, lançava o seu alerta:

• "Qual o remédio para tudo isso? Só vemos um. É drástico, é radical, mas éperfeito: desligarmo-nos das convenções internacionais".

•Referindo-se às marcas nacionais, Leonardos recomendava:

•"Para isso, porém, é mister defendê-la, torná-la nacional antes de internacional,só admitir a sua internacionalidade para ampliar o seu raio de ação, mas nuncapara tolhê-la dentro de seu próprio País de origem".

• Devia-se isso "à necessidade de interromper o registro automáticodas marcas internacionais que, em virtude do citado Acordo, eramencaminhadas pelo Bureau Internacional de Berna, serviço esseque, além dos ônus administrativos, tantos prejuízos vinhacausando aos nossos industriais e comerciantes".

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ISEB, CEPAL e odesenvolvimentismo

• O projeto nacional-desenvolvimentista que se desenvolveu à época teve como espaço principal de formulação o Instituto Brasileiro de Estudos Sociais e Políticos (IBESP), criado em 1952. Lá se formulou uma perspectiva nacionalista ocupada com o Terceiro Mundo, ou seja, postulou-se uma terceira posição entre os dois blocos em que se dividia o mundo durante a Guerra Fria.

• O IBESP iria se desdobrar em ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiros), criado em 1955 dentro do Ministério da Educação. O ISEB assume a mesma perspectiva da Cepal, já que a economia oferecia uma explicação estrutural para os problemas brasileiros.

• Mas acrescenta a ela a necessidade de uma ideologia do desenvolvimento, sem a qual não haveria processo de mudança.

• Nessa ideologia do desenvolvimento, o Estado assumia o papel de principal agente da modernização e também da democratização. O nacionalismo de então era pensado como uma ideologia capaz de vencer as forças de exploração das massas.

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ISEB, CEPAL e odesenvolvimentismo

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Internacionalização – NEO

• Tal fenômeno, que foi suscitado pelas intervenções brasileiras na Assembléia Geral da ONU no início do período, encontrou um marco importantíssimo no relatório daquele organismo, publicado em 1964, sobre o papel das patentes no desenvolvimento dos povos

• [1] Le Rôle des Brevets dans le Transfert des Conaissances Techniques, aux Pays Sous-Developpés, Document des Nations Unies, E/3861, 10 Mars 1964, Rapport du Sécrétaire Générale.

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Constituição de 1967

• art. 150, § 24: “A lei garantirá aos autores de inventos industriais privilégio temporários para sua utilização e assegurará a propriedade das marcas de indústria e comércio, bem como a exclusividade do nome comercial”.

• Ec Nº 1, de 1969, art. 153, § 24: “A lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como a propriedade das marcas de indústria e comércio e a exclusividade do nome comercial”.

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LEI No 5.648, DE 11 DE DEZEMBRO DE 1970.

• Art 2º O Instituto tem por finalidade principal executar, no âmbito nacional, as normas que regulam a propriedade industrial tendo em vista a sua função social, econômica, jurídica e técnica.

• Parágrafo único. Sem prejuízo de outras atribuições que lhe forem cometidas, o Instituto adotará, com vistas ao desenvolvimento econômico do País, medidas capazes de acelerar e regular a transferência de tecnologia e de estabelecer melhores condições de negociação e utilização de patentes, cabendo-lhe ainda pronunciar-se quanto à conveniência da assinatura ratificação ou denúncia de convenções, tratados, convênio e acôrdos sôbrepropriedade industrial.

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A leitura do Supremo

• Supremo Tribunal Federal• RE-95382 / RJ Min. OSCAR CORREA • DJ DATA-26-08-83 PG-12716 EMENT VOL-01305-02 PG-

00397 RTJ VOL-00106-03 -01057 Julgamento em 05/08/1983 - primeira turma

• Ementa -INPI - Transferência de Tecnologia. Leis 5.648/70 E 5.772/71. Averbação de Contrato no INPI. Alcance da atuação do órgão especial no exame e controle dos Atos e Contratos. Discricionariedade de exame, que não obsta ao recurso ao Judiciário, mas se exerce amplamente, em defesa do interesse do desenvolvimento econômico do País. "In Casu" - exigências dentro dos limites regulares de atuação. Recurso Extraordinário conhecido e provido.

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A leitura do Supremo

• Da leitura atenta desse dispositivo verifica-se a amplitude da missão - e a gravidade e seriedade de que se reveste - que se conferiu ao Recorrido; e de como, dentro dos parâmetros legais, se inclui razoável parcela de discricionariedade, sem a qual não poderá desempenhá-la eficientemente.

• Desde logo, o objetivo - o desenvolvimento econômico do País -que não se mede apenas em conceito de avaliação material estrita, mas que desborda em aspectos imateriais, se só se completa com atingimento das finalidades humanas a que visa.

• Isto tudo deflui da importância vital da missão que a lei lhe deferiu o desenvolvimento econômico - no amplo e exato sentido, desenvolvimento humano, integrado, repetimos, porque não se pode atingi-lo sem que seu beneficiário direto e último - o homem -se desenvolva, no todo.

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A constituição Brasileira de 1988

• Art. 5º ...... ..... XXIX - a lei assegurará aos autores de inven­tos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País

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A constituição Brasileira de 1988

• Art. 5º ...... ..... XXIX - a lei assegurará aos autores de inven­tos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País

• To promote the Progress of Science and useful Arts, by securing for limited Times to Authors and Inventors the exclusive Right to their respective Writings and Discoveries;

Art 2º O Instituto tem por finalidade principal executar, no âmbito nacional, as normas que regulam a propriedade industrial tendo em vista a sua função social, econômica, jurídica e técnica.

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A constituição Brasileira de 1988

• Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:• I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;• II - garantir o desenvolvimento nacional;

• Art.218 (...)• § 2º - A pesquisa tecnológica voltar-se-á predominantemente para a solução dos

problemas brasileiros e para o desenvolvimento do sistema produtivo nacional e regional.

• Art. 219 - O mercado interno integra o patrimônio nacional e será incentivado de forma a viabilizar o desenvolvimento cultural e sócio econômico, o bem estar da população e a autonomia tecnológica do País, nos termos de lei federal.

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A constituição Brasileira de 1988

• Tal cláusula funcional da Propriedade Industrial, aliás, aponta para elementos que se caracterizam muito mais como de fim político (no sentido de optar pelo nacional em face do não-nacional) do que em qualquer propósito stricto sensu social. Com efeito, a cláusula reza que as propriedades industriais se concederão “tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País”.

• Poder-se-ia simplesmente notar que, com a noção do Art. 5º, XXIII, a propriedade industrial deixaria de ser uma juridicidade autocentrada, um valor em si mesmo, para ter uma transcendência além de seu titular.

• Assim, “função social” seria toda transcendência do interesse egoístico. Preferimos, no entanto, configurar o “social” em uma acepção mais restrita, e distinguir os valores gerais relativos ao ser humano, em sociedade, daqueles específicos da função política.

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LEI No 5.648, DE 11 DE DEZEMBRO DE 1970.

• Art. 2º O INPI tem por finalidade principal executar, no âmbito nacional, as normas que regulam a propriedade industrial, tendo em vista a sua função social, econômica, jurídica e técnica, bem como pronunciar-se quanto à conveniência de assinatura, ratificação e denúncia de convenções, tratados, convênios e acordos sobre propriedade industrial. (Redação dada pela Lei nº 9.279, de 1998)

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O Código da Propriedade Industrial de 1996

• Art. 2º A proteção dos direitos relativos à propriedade industrial, considerado o seu interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País, efetua-se mediante :

• ............................................

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A função no judiciário

• “No estágio atual da evolução social, a proteção da marca não se limita apenas a assegurar direitos e interesses meramente individuais, mas a própria comunidade, por proteger o grande público, o consumidor, o tomador de serviços, o usuário, o povo em geral, que melhores elementos terá na aferição da origem do produto e do serviço prestado”

• (STJ – REsp 3.230 – DF – 4ª T. – Rel. Min. Sálvio de Figueiredo – DJU 01.10.1990)

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A função no judiciário

• “Assim, o direito intelectual, mesmo sendo garantia constitucional, deve ser funcionalizado a fim de promover a dignidade da pessoa humana, um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito, e o seu exercício não é um fim em si mesmo, mas antes um meio de promover os valores sociais, cujo vértice encontra-se na própria pessoa humana.

• Assim, aspectos sociais devem prevalecer sobre as razões econômicas de um direito de patente, o que caracteriza a sua função social. Um desses aspectos se mostra quando se verifica a imensa diferença tecnológica existente entre os países desenvolvidos e os subdesenvolvidos.

• Aumentar em demasia o período de vigência da patente significará um prejuízo para toda a sociedade que não poderá utilizar uma tecnologia já obsoleta para realizar novos desenvolvimentos ou simplesmente utilizar um produto de tecnologia ultrapassada”.

• Tribunal Regional Federal da 2ª Região, 1ª Turma Especializada, AMS 2006.51.01.524783-1, JC Márcia Helena Nunes, DJ 12.12.2008.

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A função no judiciário

• Aos direitos de propriedade e de exclusividade de uso sobre uma marca, atribuídos pelo registro no órgão marcário, corresponde um dever legal de uso da mesma, decorrente da função social da propriedade, ora estabelecida na Constituição Federal." TRF 2ª Região, Apelação Cível nº 438890, Processo nº. 2004.51.01.534594-7, Segunda Turma Especializada, Relator: Des. Messod Azulay Neto, julgado em 23.2.2010).

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A função no judiciário

• A marca possui função social ou para auxiliar o consumidor e decidir corretamente e daí a necessidade de ser ele protegido contra a confusão danosa da hora da escolha. Essa função social está contida no art. 2º, da Lei 9279/96, com a expressão “interesse social”, inserida no art. 5º, XXIX, da CF.."

• TJSP, AC 0191130-90.2011.8.26.0100, 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo, Des. Fortes Barbosa,20 de fevereiro de 2014.

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A função no judiciário

• “Como cediço, o direito de propriedade, seja material ou imaterial, deve ser exercido observando-se a função social da empresa, nos termos do art. 5º da CRFB. Aliás, a observância do função social do direito que se exerce encontra-se disseminada por toda a Constituição Federal., conduzindo o intérprete das normas a uma releitura dos institutos, incluindo-se aí, a Lei de Propriedade Industrial e demais normas de direito civil.

• A CRFB/88 determina, ainda, que a ordem econômica observe a função social da propriedade, sendo este um dos limites à livre iniciativa conferida.

• Evidencia-se que, hodiernamente, todos os direitos devem atender à uma função social, sendo certo que a solução do caso concreto deve atender, além do interesse das partes, o interesse da coletividade, dentre os quais se inclui, sem dúvidas, o Princípio da Preservação da Empresa”.

• Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, 9ª Câmara Cível, Des. Roberto de Abreu e Silva, AC 2006.001.63393, Julgado em 10.11.2009.