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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE <> <> <> <> <> A GOVERNANÇA CORPORATIVA E O MERCADO DE CAPITAIS NO BRASIL <> <> <> POR: MARIA LORENA DE FARIAS TEIXEIRA <> <> <> Orientador Ana Paula Ribeiro Rio de Janeiro 2008

A GOVERNANÇA CORPORATIVA E O MERCADO DE CAPITAIS NO … · Apresentação de monografia à Universidade ... Palavras-chave: Governança Corporativa, Mercado de Capitais, Novo Mercado

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

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A GOVERNANÇA CORPORATIVA E O MERCADO DE CAPITAIS NO BRASIL

<>

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<>

POR: MARIA LORENA DE FARIAS TEIXEIRA

<>

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Orientador

Ana Paula Ribeiro

Rio de Janeiro

2008

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

<>

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A GOVERNANÇA CORPORATIVA E O MERCADO DE CAPITAIS NO BRASIL

<>

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Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Gestão

Empresarial

Por:. Maria Lorena de Farias Teixeira

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AGRADECIMENTOS

À mãe, irmã e filho, por tudo que

representam para mim e para a

minha hsitória de vida.

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DEDICATÓRIA

À minha mãe, por tudo que fez e faz por nós e

ao meu filho, que por muitos momentos teve

que abrir mão da minha presença para que eu

finalizasse o trabalho.

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RESUMO

A presente monografia trata da Governança Corporativa como um todo,

ambientando-se no contexto brasileiro e internacional. O tema em questão tem

extrema relevância, tendo em vista o desenvolvimento do Mercado de Capitais no

Brasil e a crescente aderência aos princípios da Governança Corporativa pelas

empresas brasileiras.

Discute-se aqui a evolução histórica da Governança no Brasil; os diferentes

níveis de Governança Corporativa, bem como seus aspectos; a importância da

adesão aos princípios da Governança e os tipos de Governança existentes, e

finalizando, os obstáculos ao desenvolvimento desse segmento no Brasil.

Palavras-chave: Governança Corporativa, Mercado de Capitais, Novo Mercado

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ABSTRACT

This monograph deals with the Corporate Governance as a whole, in the

Brazilian context and internationally. The issue in question is extremely important in

view the development of the Capital Markets in Brazil and increasing adherence to

the principles of corporate governance by Brazilian companies.

It is discussed here the historical development of governance in Brazil, the

different levels of corporate governance as well as its aspects, the importance of

adherence to the principles of governance and the types of existing governance, and

ending, the obstacles to the development of that segment in Brazil.

.

Keywords: Corporate Governance, Capital Market, New Market

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................ 8

2 A GOVERNANÇA CORPORATIVA ......................................................................... 12

2.1 PRINCÍPIOS DA GOVERNANÇA CORPORATIVA .............................................. 14

2.1.1 Transparência (Openess)......................................................................................... 14

2.1.2 Equidade (Equity)....................................................................................................... 15

2.1.3 Prestação de Contas (Accountability): ................................................................ 16

2.1.4 Responsabilidade Corporativa:.............................................................................. 16

2.2 ÓRGÃOS DA GOVERNANÇA CORPORATIVA ................................................... 16

2.2.1 Conselho de Administração:................................................................................... 16

2.2.2 Conselho Fiscal:......................................................................................................... 17

2.2.3 Auditoria Independente:........................................................................................... 17

3 A GOVERNANÇA CORPORATIVA NO BRASIL .................................................. 19

3.1 OS DIFERENTES NÍVEIS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA. ...................... 20

3.1.1 Nível 1 de Governança Corporativa ...................................................................... 22

3.1.2 Nível 2 de Governança Corporativa ...................................................................... 24

3.1.3 Novo Mercado ............................................................................................................. 25

4 GOVERNANÇA NO MUNDO..................................................................................... 30

4.1 MODELOS DE GOVERNANÇA................................................................................ 31

5 OBSTÁCULOS AO DESENVOLVIMENTO DO MERCADO DE CAPITAIS NO

BRASIL ................................................................................................................................... 33

6 CONCLUSÃO ............................................................................................................... 38

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 39

8 ANEXOS ........................................................................................................................ 41

8.1 TERMOS COMUNS EM GOVERNANÇA CORPORATIVA (Fonte: IBCG) ...... 41

8.2 ESCÂNDALOS RECENTES DO MUNDO CORPORATIVO................................ 44

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1 INTRODUÇÃO

No início da década de 60, o país vivia um clima de nacionalismo extremo,

com o projeto de Substituição de Importações. Tal projeto define-se como um

processo que leva ao aumento da produção interna de um país e a diminuição das

suas importações. Ao longo da história econômica mundial, os processos de

substituição de importações foram desencadeados por fatores políticos ou

econômicos, e foram resultado de ações planejadas ou imposição. O processo de

substituição de importações, quando fruto de política econômica, é geralmente

obtido por controle de taxas de importação e manipulação da taxa de câmbio.

Entre as décadas de 1950 e 1960 a Comissão Econômica para a América

Latina e o Caribe (CEPAL) defendia que o desenvolvimento das economias do

terceiro mundo necessariamente passaria pela adoção da política de substituição de

importações. Esta política permitiria a acumulação de capitais internos que poderiam

gerar um processo de desenvolvimento auto-sustentável e duradouro

(www.wikipédia-brasil.net, acesso em 07-02-2008). Sendo assim, as autoridades

monetárias brasileiras congelaram, por períodos prolongados, a taxa cambial

(cambio fixo).

O Mercado de Capitais brasileiro começou seu desenvolvimento somente a

partir da década de 90, quando os investimentos estrangeiros no Brasil tiveram

facilidade para se concretizar. A consequente ampliação dos volumes de negócios

proporcionou o começo, mesmo que tímido, de operações de mercado de capitais,

porém, não foi suficiente para criar organismos sólidos e estruturas concretas para

tais investimentos. Sendo assim, o Mercado de Capitais brasileiro se tornou

extremamente dependente das mudanças e peculiaridades do ambiente

internacional.

Os governos do Brasil, ao longo dos anos, viam o Mercado de Capitais

basileiro como uma “fonte de recursos”, taxando e tributando os capitais volantes.

Não enxergavam que tal mercado significaria um movimento estratégico para o

Brasil e para o seu desenvolvimento.

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Sendo assim, as companhias brasileiras que tinham ADR’s (American

Depositary Receipt) na bolsa de Nova Iorque passaram a não mais lançar seus

papéis em mercado brasileiro. Como forma de comparação, em 2001 o volume de

investimentos feito em ADR’s foi 46 vezes superior ao total aplicado por estrangeiros

na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) – (www.bovespa.com.br, Informações

Institucionais, acesso em 03/03/2008). Os custos, taxas e impostos no Brasil eram

tão grandes que acabav por desistimular os investimentos internos.

Com o passar dos anos, porém, as autoridades governamentais passaram a

considerar o Mercado de Capitais brasileiro um instrumento estratégico para o

desenvolvimento do país e acumulação de divisas, o que vem sendo observado nos

dias de hoje.

Por conta de algumas mudanças nas legislação e leis brasileiras, os

investidores estrangeiros já negociam mais ações brasileiras que os próprios

investidores nacionais. O apetite internacional sobre os ativos brasileiros, em

especial ações, tem se intensificado ao longo dos últimos anos.

A possibilidade da obtenção do tão esperado “Investment Grade”, ou “Grau de

Investimento”, junto com desburocratização de leis e normas está fazendo com que

investidores estrangeiros realizem aplicações de valores bilionários na economia

brasileira.

Além dos obstáculos já encontrados no Mercado de Capitais brasileiro, o

sistema como um todo enfrenta o grande desafio da dívida pública. O país, carente

de recursos para cumprimento de suas obrigações frente aos credores

internacionais, emite títulos de dívida pública, a altas taxas de juros (atualmente a

taxa selic é de 11,25% ao ano), onerando, desta forma, todo o sistema de

acumulação de reservas e desenvolvimento financeiro.

Assim, o segmento privado passa a ser enxergado como um concorrente dos

títulos públicos, o que acaba, mais uma vez, por frear o pleno desenvolvimento do

Mercado de Capitais do Brasil.

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Outra distorção do Governo brasileiro se refere às privatizações ocorridas na

década de 90, onde vendeu-se blocos de controle das empresas, mantendo as

empresas divididas em pouco investidores. Esse movimento impediu a diluição dos

direitos de controle e, ao mesmo tempo, inibiu a ampliação da base de acionistas

das empresas. Isso devolveria, de forma tímida, a cultura de mercado de capitais e

mercado acionário no país, porém, naõ foi o que ocorreu. A referida “cultura” foi

destinada somente aos Investidores Institucionais, como Fundos de Pensão e

Seguradoras.

Os Fundos de Pensão, como são mais conhecidas as Entidades Privadas de

Previdência Complementar (EPPC), são os maiores investidores no mercado de

capitais no brasileiro, com participações acionárias nas principais companhias de

capital aberto.

Com o objetivo de incentivar as aplicações das EPPC em ações de

companhiasque adotem melhores regras de governança corporativa, o Conselho

monetário Nacional, em conjunto com a Secretaria de Previdência Complementar,

editou a Resolução 3.121, de 25 de setembro de 2003, que depois foi substituída

pela Resolução 3456/07, de 01 de Junho de 2007. Tal resolução permite que estas

entidades investam um percentual maior em ações de emissão de companhias que

sejam listadas Níveis I e 2 e no Novo Mercado.

Com o tempo, os problemas apontados vêm sendo superados, e atualmente,

o Mercado de Capitais brasileiro encontra-se em plena expansão entre pessoas

físicas e jurídicas, independente do porte patrimonial.

A decisão pela adoção de boas práticas de Governança Corporativa também

tem auxiliado a expansão do segmento de Mercado de Capitais no Brasil. A Bolsa de

Valores de São Paulo adotou, há alguns anos, os princípios de Governança

Corporativa (transparência, equidade e prestação de contas com responsabilidade),

como condição para a entrada no “Novo Mercado”.

Os países desenvolvidos já praticam a Governança Corporativa em todas as

empresas listadas na “SEC” (Security Exchange Comission - a CVM norte

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americana) em decorrência das fraudes bilionárias de empresas como Enron e

Wordcom. Tais fraudes denegriram os mercados acionários mundiais, causaram

grande insegurança nos investidores e acabaram por exigir normas de controle mais

rígidas e seguras nas empresas.

Desta forma, o que podemos verificar atualmente é um desenvolvimento

estratégico do Mercado de Capitais brasileiro, bem como a difusão de informações

dos princípios da Governança Corporativa no Brasil.

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2 A GOVERNANÇA CORPORATIVA

A Governança Corporativa (GC) pode ser entendida como uma

“Regulamentação da estrutura administrativa da empresa”, com os seguintes

detalhes:

-Estabelecimento dos direitos e deveres dos acionistas

-Definição dos órgãos sociais e suas respectivas competências

-Dinâmica e organização dos poderes nas empresas

-Prevalência do interesse social sobre eventuais interesses particulares dos

acionistas

Dentre as várias definições para Governança Corporativa, podemos citar

algumas importantes, como as definições abaixo:

• “Governança Corporativa é um campo da economia que investiga como

assegurar/motivar a administração eficiente de corporações através do uso de

mecanismos de incentivos, tais como contratos, desenhos organizacionais e

legislação. Isto é freqüentemente limitado por questões de melhoria de

performance financeira, por exemplo, como os proprietários da companhia

podem assegurar/motivar os administradores no sentido de que os

mesmos obtenham uma taxa de retorno competitiva” (MATHIESEN, 2002);

• “Governança Corporativa lida com as maneiras pelas quais fornecedores de

recursos para as companhias assegurem a si mesmos a obtenção do retorno

para seus investimentos” (SHLEIFER e VISHNY, 1997)

• “Governança Corporativa é o sistema através do qual os negócios

corporativos são dirigidos e controlados. A estrutura de governança

corporativa especifica a distribuição de direitos e responsabilidades entre

diferentes participantes das companhias, tais como conselhos de

administração (boards), administradores, acionistas e outros stakeholders, e

detalha as regras e procedimentos para a tomada de decisões nos negócios

corporativos. Ao realizar isto, ela também propicia a estrutura através da qual

os objetivos da companhia são colocados e os meios de atingir estes

objetivos e monitorar a performance” (OCDE, 1999);

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• .“governança corporativa pode ser definida como as relações de uma

companhia com seus acionistas ou, mais amplamente, suas relações com a

sociedade. (FINANCIAL TIMES, 1997)”;

• “governança corporativa diz respeito à promoção da integridade,

transparência e restação de contas que se faz da companhia”. (WORLD

BANK, 1999);

• “alguns comentaristas têm uma visão estreita do termo e dizem que ela

(governança corporativa) é um termo extravagante para definir a maneira

através da qual diretores e auditores manipulam suas responsabilidades

perante os acionistas. Outros usam a expressão com se ela fosse sinônimo

de democracia dos acionistas. Governança corporativa é um tópico

recentemente concebido, ainda mal definido e, onseqüentemente, nebuloso

em seus entornos [...] governança corporativa como um ssunto, ou um

objetivo, ou um regime a ser seguido para o benefício de acionistas,

mpregados, clientes, banqueiros e, na verdade, para a reputação e

posicionamento de nossa nação e de sua economia”. (MAW ET al., 1994,

p.1).

• RABELO e SILVEIRA (1999) definem Governança corporativa como “sistema

pormeio do qual se exerce e se monitora o controle nas corporações”. Desta

maneira, percebe-se que esta definição está intimamente vinculado à

estrutura de propriedade, às características do sistema financeiro, a

densidade e profundidade dos mercados de capitais e ao arcabouço legal de

cada economia.

No Brasil, a Governança Corporativa pode ser definida como uma ferramenta,

onde os investidores que não são controladores e os acionistas minoritários têm a

condição de limitar os poderes do acionista controlador e, de certa forma, defender

seus direitos.

Desta forma, de acordo com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa

(IBCG), a definição adequada para Governança Corporativa seria:

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... “Sistema que assegura aos sócios-proprietários o governo estratégico da empresa

e a efetiva monitoração da diretoria executiva. A relação entre propriedade e gestão

se dá através do Conselho de Administração, Auditoria Independente e o Conselho

Fiscal.... Com a profissionalização, a privatização e a globalização, a Governança

Corporativa colocou o Conselho entre a Propriedade e a Gestão.”

De acordo com Arnoldo Wald, cria-se a “democracia societária”, que,

diferentemente do que ocorria anteriormente, proporciona ao sistema equilíbirio e

separação de poderes.

2.1 PRINCÍPIOS DA GOVERNANÇA CORPORATIVA

Para a instituição da “Democracia Societária”, alguns princípios da

Governança Corporativa devem ser esclarecidos.

2.1.1 Transparência (Openess)

A divulgação precisa e oportuna de informações e fatos relevantes é um dos

princípios da GC. Informações como posição financeira, desempenho comercial,

participação acionária e administração são cruciais para a total satisfação do mercado

e acionistas.

Informações como as descritas acima podem influenciar, tanto para bem

quanto para mal, a visão, comportamento e proteção dos investidores. Além de atrair

novos investimentos e manter a confiabilidade da empresa, as divulgações podem, de

forma explícita, avaliar a gestão das diretorias, bem como incentivar a tomada de

decisões bem fundamentadas.

Após análises por parte das empresas aderentes ao princípio de “Openess”,

constatou-se que não se acarreta custos absurdos para as empresas que desejam

divulgar suas informações.

As questões abaixo são alvo da transparência nas empresas que atuam com

a GC, de acordo com a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento

Económico) :

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• Resultados Financeiros e operacionais;

• Objetivos da empresa;

• Principais participações acionárias;

• Conselheiros e executivos, bem como suas remunerações;

• Fatores de risco previsíveis e relevantes;

• Fatos relevantes a respeito de seus funcionários;

• Estruturas e políticas de Governança Corporativa

Além de divulgação das informações, a empresa sempre deve possuir

auditoria Externa anual, a fim de validar dados e números relativos às suas

publicações.

2.1.2 Equidade (Equity)

Para se evitar a utilização indevida de recursos de investidores externos, são

necessários métodos eficazes para a obtenção de reparação de prejuízos que possam

vir a ser causados. A proteção dos investimentos é fator fundamental para a confiança

dos investidores. A utilização indevida, por parte de executivos da empresa, de

valores a ela relacionados é, de certa forma, evitada, pelo princípio da equidade. Em

alguns casos, está previsto que os acionistas minoritários podem entrar com ações na

justiça, caso acreditem, de forma justificada, que foram desrespeitados ou lesados.

Vale mencionar que os Investidores Institucionais, tradicionais provedores de

fundos de aplicações, têm estruturas aprimoradas de controle e supervisão, tanto

interno quanto dos órgãos reguladores aos quais estão subrodinados.

Sendo assim, como exemplo, podemos citar o Fundo de Pensão dos

funcionários do Banco do Brasi, a Previ. A Previ aderiu ao PRI (Princípios para o

Investimento responsável). O referido Fundo participa apenas de empresas que já

tenham aderido aos princípios da Governança Corporativa. Outros Fundos de Pensão

também estudam projetos para seguir o exemplo da Previ.

Desse jeito, tal princípio assegura o tratamento de forma igualitária para todos

os acionistas, tanto os majoritários quanto os minoritários, onde todos eles têm a

oportunidade e o direito de receber a efetiva reparação para quaisquer violações de

seus direitos.

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2.1.3 Prestação de Contas (Accountability):

Tal princípio tem total aderência ao termo “Democracia Societária”, citada na

obra de Arnoldo Walt. Os órgãos da empresa fiscalizam-se entre si e têm como

missão prestar contas de todas as suas atividades a quem os ecolheu. Desta forma, o

ambiente torna-se cooperativo e eficiente, trazendo ainda mais segurança os

acionistas (shareholders) e aos grupos de interesse (stakeholders).

2.1.4 Responsabilidade Corporativa:

Conselheiros e executivos devem zelar pela perenidade das organizações

(visão de longo prazo, sustentabilidade) e, portanto, devem incorporar

considerações de ordem social e ambiental na definição dos negócios e operações.

Responsabilidade Corporativa é uma visão mais ampla da estratégia empresarial,

contemplando todos os relacionamentos com a comunidade em que a sociedade

atua. A "função social" da empresa deve incluir a criação de riquezas e de

oportunidades de emprego, qualificação e diversidade da força de trabalho, estímulo

ao desenvolvimento científico por intermédio de tecnologia, e melhoria da qualidade

de vida por meio de ações educativas, culturais, assistenciais e de defesa do meio

ambiente. Inclui-se neste princípio a contratação preferencial de recursos (trabalho e

insumos) oferecidos pela própria comunidade (passagem extraída do “Códigos da

melhores práticas de Governança Corporativa”, IBCG, 2007).

2.2 ÓRGÃOS DA GOVERNANÇA CORPORATIVA

Abaixo citamos alguns órgãos essenciais para a boa prática de Governança

Corporativa:

2.2.1 Conselho de Administração:

Realiza a orientação corporativa, sendo também responsável pela fiscalização

do andamento administrativo da empresa, bem como pelo impedimento de práticas

que possam vir a lesar os acionistas ou gerar conflito de interesses. Além disso,

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observa a legislação em vigência nas áreas tributária, comercial, trabalhista

ambiental, salutar e de segurança.

De acordo com docuemnto elaborado pela OCDE, devem os conselheiros:

• atuar no interesse as empresa e acionistas

• tratar aos acionistas com justiça

• cumprir da legislação

• orientar sobre estratégias corporativas

• rever os proventos dos executivos e conselheiros

• Administrar possíveis conflito de interesses

• Supervisionar processos de comunicação e mídia

2.2.2 Conselho Fiscal:

Órgão importante na Governança Corporativa, o Conselho Fiscal fiscaliza os

atos dos administradores e denuncia possíveis fraudes ou crimes. Cláudio

Oksenberg defende que todas as empresas deveriam possuir esse Conselho, para

um controle total dos atos de gestão da sociedade, protegento os acionistas,

empregados e a empresa como um todo.

2.2.3 Auditoria Independente:

Obrigatória em empresas de Capital Aberto, as auditorias Independentes vêm

sendo cada vez mais utilizadas em empresas de grande porte. Apesar dos

escândalos envolvendo a maior firma de auditoria do mundo, no caso da Enron,

essas auditorias têm como função apurar e verificar demonstrações financeiras

preparadas pela diretoria, informando, de forma transparente, a realidade financeira

da empresa. As principais empresas de auditoria do mundo são:

PriceWatherhouseCoopers, KPMG, Ernest Young, Accenture, Delloite Touche

Tohmatsu.

A figura abaixo representa o Sistema da Governança Corporativa (Fonte:

IBCG):

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3 A GOVERNANÇA CORPORATIVA NO BRASIL

Há alguns anos, o cenário brasileiro era marcado pela administração familiar,

onde a gestão era centralizada, o Conselho de Administração tinha pouco ou

nenhum poder de decisão e os acionistas minoritários tinham um comportamento

passivo. Atualmente, esse cenário vem se modificando, com a descentralização do

controle, maior participação dos acionistas minoritários e a constante busca do

aumento de valor da empresa como um todo, focando sempre na transparência da

gestão.

Alguns acontecimentos serviram para ajudar a mudar o modelo empresarial

brasileiro, tais como: a onda de privatizações das empresas, o impacto da

globalização, uma maior participação dos investidores institucionais, as fusões e

aquisições das empresas e a crescente necessidade de financiamento das mesmas.

Quando as empresas estatais tiveram seus controles transferidos para grupos

privados, uma nova realidade societária passou a existir, onde o controle é

compartilhado em regimes de parceria com grupos nacionais, multinacionais e

fundos de pensão.

Com o aumento da concorrência, advindo da abertura econômica e dos

processos de fusões e aquisições, as empresas brasileiras tiveram que ir em busca

de outras fontes de financiamento e que, ao mesmo tempo, não ameaçam suas

sobrevivências. A competição passou a ser global e as empresas que antes não

representavam quase nenhuma ameaça se transformaram em gigantes.

Ao mesmo tempo, o país pôde contar com um histórico de diversos

escândalos, onde os acionistas controladores se beneficiam em detrimento dos

minoritários, obrigando-os a aceitar um valor bem menor do que lhes era devido.

Outro fator, segundo o IBGC que também marcou a transição do modelo

empresarial brasileiro foi o aumento da paticipação dos investidores institucionais –

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fundos de pensão, fundos mútuos de investimentos e seguradoras. Esses agentes

são de extrema importância para a economia brasileira, por serem responsáveis

pela formação de grande parte da poupança no país.

Além disso, os Investidores Institucionais, que detém grandes volumes de

capital e aposentadoria de milhões de pessoas, buscam retornos a longo prazo.

Para que isso aconteça, eles passaram de uma postura passiva para uma atuação

mais ativa, marcada pelo comparecimento em assembléias gerais, exercício do

direito de voto das ações em que são titulares, e maior fiscalização das companhias

em que investem.

Ao longo de sua desenvoltura, a Governança Corporativa foi tomando formas

distintas em diversos países. Entre as práticas criadas muitas se tornaram modelos

comuns e outras, símbolos da disparidade da cultura financeira de cada nação. A

análise da origem dos modelos internacionais torna-se extremamente importante

para a compreensão da Governança Corporativa no Brasil e do modelo em que o

Novo Mercado Bovespa foi baseado. Hoje em dia, entre os países emergentes, o

Brasil encontra-se bem acima da média, no que diz respeito ao desenvolvimento da

Governança Corporativa.

3.1 OS DIFERENTES NÍVEIS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA.

O mercado acionário é o modo pelo qual uma empresa pode financiar a sua

produção e, ao mesmo tempo, incentivar novos investimentos. O mercado brasileiro,

hoje, mestra uma pequena parte do seu potencial. A falta de transparência na

gestão e a ausência de instrumentos adequados de supervisão das companhias

(assunto abordado no último capítulo) ajudaram a frear o crescimento econômico

brasileiro através do mercado acionário e acaba por tornar esse ambiente mais

arriscado.

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Implantados em dezembro de 2000 pela Bolsa de Valores de São Paulo –

BOVESPA, os Níveis Diferenciados de Governança Corporativa são segmentos

especiais de listagem que foram desenvolvidos com o objetivo de proporcionar um

ambiente de negociação que estimulasse, simultaneamente, o interesse dos

investidores e a valorização das companhias que aderem aos princípios da GC.

Empresas listadas nesses segmentos oferecem aos seus acionistas

investidores melhorias nas práticas de governança corporativa que ampliam os

direitos societários dos acionistas minoritários e aumentam a transparência das

companhias, com divulgação de maior volume de informações e de melhor

qualidade, facilitando o acompanhamento de sua performance e risco.

Sendo assim, o Novo Mercado foi criado com o objetivo principal de fortalecer

o mercado de capitais nacional, à medida que exige maior transparência por parte

dos administradores de uma empresa.

A premissa básica é que a adoção de boas práticas de governança

corporativa pelas companhias confere maior credibilidade ao mercado acionário e,

como conseqüência, aumenta a confiança e a disposição dos investidores em

adquirirem as suas ações, pagarem um preço melhor por elas, reduzindo seu custo

de captação. Além disso, a aimgem da empresa torna-se mais valorizada no

ambiente.

As empresas que estão listadas neste segmento se comprometem,

voluntariamente, a adotar práticas de Governança Corporativa e características

adicionais aos já exigidos pela legislação.

Além do Novo Mercado, foram criados os Níveis 1 e 2 de Governança

Corporativa, que visam preparar e incentivar as empresas para o Novo Mercado. Os

Níveis se diferem pelo grau de comprometimento da empresa com as práticas

exigidas.

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22

Atualmente, 157 companhias participam dos segmentos especiais de

Governança Corporativa da BOVESPA, sendo 94 no Novo Mercado, 20 no Nível 2 e

43 no Nível 1.

Abaixo, estão os princípios que devem ser cumpridos pelas empresas ao

serem listadas nos diferentes níveis da governança corporativa:

3.1.1 Nível 1 de Governança Corporativa

As Companhias Nível 1 se comprometem, principalmente, com melhorias na

prestação de informações ao mercado e com a dispersão acionária. Por exemplo, a

companhia aberta listada no Nível 1 tem como obrigações adicionais à legislação

(www.Bovespa.com.br, acesso em 17/03/2008):

• Melhoria nas informações prestadas, adicionando às Informações Trimestrais

(ITRs) – documento que é enviado pelas companhias listadas à CVM e à

BOVESPA.

• Melhoria nas informações relativas a cada exercício social, adicionando às

Demonstrações Financeiras Padronizadas (DFPs) – documento que é

enviado pelas companhias listadas à CVM e à BOVESPA, disponibilizado ao

público e que contém demonstrações financeiras anuais – entre outras, a

demonstração dos fluxos de caixa.

• Melhoria nas informações prestadas, adicionando às Informações Anuais

(IANs) – documento que é enviado pelas companhias listadas à CVM e à

BOVESPA, disponibilizado ao público e que contém informações corporativas

– entre outras: a quantidade e características dos valores mobiliários de

emissão da companhia detidos pelos grupos de acionistas controladores,

membros do Conselho de Administração, diretores e membros do Conselho

Fiscal, bem como a evolução dessas posições.

• Realização de reuniões públicas com analistas e investidores, ao menos uma

vez por ano.

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23

• Apresentação de um calendário anual, do qual conste a programação dos

eventos corporativos, tais como assembléias, divulgação de resultados etc.

• Divulgação dos termos dos contratos firmados entre a companhia e partes

relacionadas.

• Divulgação, em bases mensais, das negociações de valores mobiliários e

derivativos de emissão da companhia por parte dos acionistas controladores.

• Manutenção em circulação de uma parcela mínima de ações, representando

25% (vinte e cinco por cento) do capital social da companhia.

• Quando da realização de distribuições públicas de ações, adoção de

mecanismos que favoreçam a dispersão do capital.

Abaixo, as principais empresas listadas no Nível 1 da Governança Corporativa:

Page 24: A GOVERNANÇA CORPORATIVA E O MERCADO DE CAPITAIS NO … · Apresentação de monografia à Universidade ... Palavras-chave: Governança Corporativa, Mercado de Capitais, Novo Mercado

24

3.1.2 Nível 2 de Governança Corporativa

As Companhias Nível 2 se comprometem a cumprir as regras aplicáveis ao

Nível 1 e, adicionalmente, um conjunto mais amplo de práticas de governança

relativas aos direitos societários dos acionistas minoritários. Por exemplo, a

companhia aberta listada no Nível 2 tem como obrigações adicionais à legislação:

• Divulgação de demonstrações financeiras de acordo com padrões

internacionais IFRS ou US GAAP.

• Conselho de Administração com mínimo de 5 (cinco) membros e mandato

unificado de até 2 (dois) anos, permitida a reeleição. No mínimo, 20% (vinte

por cento) dos membros deverão ser conselheiros independentes.

• Direito de voto às ações preferenciais em algumas matérias, tais como,

transformação, incorporação, fusão ou cisão da companhia e aprovação de

contratos entre a companhia e empresas do mesmo grupo sempre que, por

força de disposição legal ou estatutária, sejam deliberados em assembléia

geral.

• Extensão para todos os acionistas detentores de ações ordinárias das

mesmas condições obtidas pelos controladores quando da venda do controle

da companhia e de, no mínimo, 80% (oitenta por cento) deste valor para os

detentores de ações preferenciais (tag along).

• Realização de uma oferta pública de aquisição de todas as ações em

circulação, no mínimo, pelo valor econômico, nas hipóteses de fechamento do

capital ou cancelamento do registro de negociação neste Nível;

• Adesão à Câmara de Arbitragem do Mercado para resolução de conflitos

societários.

Além de presentes no Regulamento de Listagem, alguns desses

compromissos deverão ser aprovados em Assembléias Gerais e incluídos no

Estatuto Social da companhia.

Page 25: A GOVERNANÇA CORPORATIVA E O MERCADO DE CAPITAIS NO … · Apresentação de monografia à Universidade ... Palavras-chave: Governança Corporativa, Mercado de Capitais, Novo Mercado

25

Abaixo, as principais empresas listadas no Nível 2 da Governança

Corporativa:

3.1.3 Novo Mercado

O Novo Mercado é um segmento de listagem destinado à negociação de

ações emitidas por companhias que se comprometam, voluntariamente, com a

adoção de práticas de governança corporativa adicionais em relação ao que é

exigido.

A valorização e a liquidez das ações são influenciadas positivamente pelo

grau de segurança oferecido pelos direitos concedidos aos acionistas e pela

qualidade das informações prestadas pelas companhias que aderiram a este

princípio.

A entrada de uma companhia no Novo Mercado ocorre por meio da

assinatura de um contrato e implica a adesão a um conjunto de regras societárias,

genericamente chamadas de "boas práticas de governança corporativa", mais

exigentes do que as presentes na legislação brasileira.

Page 26: A GOVERNANÇA CORPORATIVA E O MERCADO DE CAPITAIS NO … · Apresentação de monografia à Universidade ... Palavras-chave: Governança Corporativa, Mercado de Capitais, Novo Mercado

26

Essas regras, consolidadas no Regulamento de Listagem do Novo Mercado,

ampliam os direitos dos acionistas, melhoram a qualidade das informações

usualmente prestadas pelas companhias, bem como a dispersão acionária e, ao

determinar a resolução dos conflitos societários por meio de uma Câmara de

Arbitragem, oferecem aos investidores a segurança de uma alternativa mais ágil e

especializada.

A principal inovação do Novo Mercado, em relação à legislação, é a exigência

de que o capital social da companhia seja composto somente por ações ordinárias.

Porém, esta não é a única. Por exemplo, a companhia aberta participante do Novo

Mercado tem como obrigações adicionais:

• Extensão para todos os acionistas das mesmas condições obtidas pelos

controladores quando da venda do controle da companhia (tag along).

• Realização de uma oferta pública de aquisição de todas as ações em

circulação, no mínimo, pelo valor econômico, nas hipóteses de fechamento do

capital ou cancelamento do registro de negociação no Novo Mercado.

• Conselho de Administração com mínimo de 5 (cinco) membros e mandato

unificado de até 2 (dois) anos, permitida a reeleição. No mínimo, 20% (vinte

por cento) dos membros deverão ser conselheiros independentes.

• Melhoria nas informações prestadas, adicionando às Informações Trimestrais

(ITRs) – documento que é enviado pelas companhias listadas à CVM e à

BOVESPA, disponibilizado ao público e que contém demonstrações

financeiras trimestrais – entre outras: demonstrações financeiras consolidadas

e a demonstração dos fluxos de caixa.

• Melhoria nas informações relativas a cada exercício social, adicionando às

Demonstrações Financeiras Padronizadas (DFPs) – documento que é

enviado pelas companhias listadas à CVM e à BOVESPA, disponibilizado ao

público e que contém demonstrações financeiras anuais – entre outras, a

demonstração dos fluxos de caixa.

Page 27: A GOVERNANÇA CORPORATIVA E O MERCADO DE CAPITAIS NO … · Apresentação de monografia à Universidade ... Palavras-chave: Governança Corporativa, Mercado de Capitais, Novo Mercado

27

• Divulgação de demonstrações financeiras de acordo com padrões

internacionais IFRS ou US GAAP.

• Melhoria nas informações prestadas, adicionando às Informações Anuais

(IANs) – documento que é enviado pelas companhias listadas à CVM e à

BOVESPA, disponibilizado ao público e que contém informações corporativas

– entre outras: a quantidade e características dos valores mobiliários de

emissão da companhia detidos pelos grupos de acionistas controladores,

membros do Conselho de Administração, diretores e membros do Conselho

Fiscal, bem como a evolução dessas posições.

• Realização de reuniões públicas com analistas e investidores, ao menos uma

vez por ano.

• Apresentação de um calendário anual, do qual conste a programação dos

eventos corporativos, tais como assembléias, divulgação de resultados etc.

• Divulgação dos termos dos contratos firmados entre a companhia e partes

relacionadas.

• Divulgação, em bases mensais, das negociações de valores mobiliários e

derivativos de emissão da companhia por parte dos acionistas controladores.

• Manutenção em circulação de uma parcela mínima de ações, representando

25% (vinte e cinco por cento) do capital social da companhia.

• Quando da realização de distribuições públicas de ações, adoção de

mecanismos que favoreçam a dispersão do capital.

• Adesão à Câmara de Arbitragem do Mercado para resolução de conflitos

societários.

Além de presentes no Regulamento de Listagem, alguns desses

compromissos deverão ser aprovados em Assembléias Gerais e incluídos no

Estatuto Social da companhia.

Page 28: A GOVERNANÇA CORPORATIVA E O MERCADO DE CAPITAIS NO … · Apresentação de monografia à Universidade ... Palavras-chave: Governança Corporativa, Mercado de Capitais, Novo Mercado

28

Como podemos perceber, a Bovespa muito tem feito para desenvolver boas

práticas de governança corporativa nas empresas e estimular o mercado de capitais.

A criação do Novo Mercado e dos níveis 1 e 2, o trabalho permanente junto

às companhias e o apoio ao Projeto de Lei que permite o investimento de recursos

do FGTS em ações (apenas empresas do Novo Mercado e do Nível 2) são algumas

dessas ações.

Abaixo, as principais empresas listadas no Novo Mercado da Governança

Corporativa:

Page 29: A GOVERNANÇA CORPORATIVA E O MERCADO DE CAPITAIS NO … · Apresentação de monografia à Universidade ... Palavras-chave: Governança Corporativa, Mercado de Capitais, Novo Mercado

29

Abaixo, gráfico das emissões primárias de Ações nos últimos 2 anos, de

acordo com a divisão em níveis da Governança Corporativa:

Fonte: Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa)

Page 30: A GOVERNANÇA CORPORATIVA E O MERCADO DE CAPITAIS NO … · Apresentação de monografia à Universidade ... Palavras-chave: Governança Corporativa, Mercado de Capitais, Novo Mercado

30

4 GOVERNANÇA NO MUNDO

Nos últimos anos, a adoção das melhores práticas de governança corporativa

tem se expandido tanto nos mercados desenvolvidos quanto em desenvolvimento.

No entanto, mesmo em países de similares idioma e sistemas legais, como

EUA e Reino Unido, o emprego das boas práticas de governança apresenta

diferenças quanto ao estilo, estrutura e enfoque.

Não há uma completa convergência sobre a correta aplicação das práticas de

governança nos mercados, entretanto, pode-se afirmar que todos se baseiam nos

princípios da transparência, independência e prestação de contas (accountability)

como meio para atrair investimentos aos negócios e ao país.

E a fim de ganharem a confiança dos investidores, empresas e países

notaram a necessidade de incorporar algumas regras fundamentais, como sistemas

regulatórios e leis de proteção aos acionistas; conselho de administração atentos

aos interesses e valores dos shareholders; auditoria independente; processo justo

de votação em assembléias; e maior transparência nas informações.

A partir da criação dos códigos de governança corporativa locais, as

diferenças culturais e históricas têm sido adaptadas. Como ponto de convergência,

os documentos pretendem aumentar os padrões de governança nos mercados como

forma de atrair e reduzir os custos dos investimentos.

As particularidades e práticas locais mantiveram sua força. Enquanto algumas

nações apresentam o modelo familiar como dominante, outras têm no capital difuso

sua maior expressão.

Nos EUA e Reino Unido, onde estão as raízes da governança, os mercados

de capitais atingiram grande pulverização do controle acionário das empresas. Já na

Alemanha e no Japão, as instituições financeiras participam de forma importante no

capital social das empresas industriais, sendo, portanto, ativas na administração dos

negócios.

De maneira geral, na Europa Continental, chegou-se a um modelo de

evolução no relacionamento entre as empresas e o capital de terceiros: a

organização de blocos de controle para que os acionistas exerçam, de fato, o poder

nas companhias (Fonte: IBGC, 2007).

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31

4.1 MODELOS DE GOVERNANÇA

De modo geral, pode-se dividir os sistemas de governança corporativa no

mundo em (Fonte: Adriana e Rossetti; 2004):

= :

OUTSIDER SYSTEM

(acionistas pulverizados e tipicamente fora do comando diário das operações da

companhia) - Sistema de governança anglo-saxão (Estados Unidos e Reino Unido):

- Estrutura de propriedade dispersa nas grandes empresas;

- Papel importante do mercado de ações na economia;

- Ativismo e grande porte dos investidores institucionais;

- Foco na maximização do retorno para os acionistas (shareholder oriented).

INSIDER SYSTEM

(grandes acionistas tipicamente no comando das operações diárias, diretamente ou

via pessoas de sua indicação) - Sistema de governança da Europa Continental e

Japão:

- Estrutura de propriedade mais concentrada;

- Presença de conglomerados industriais-financeiros;

- Baixo ativismo e menor porte dos investidores institucionais;

- Reconhecimento mais explícito e sistemático de outros stakeholders não

financeiros, principalmente funcionários (stakeholder oriented).

PRIORIDADE INTERNACIONAL

Hoje, a comunidade internacional prioriza a governança corporativa,

relacionando-a a um ambiente institucional equilibrado e à política macroeconômica

de boa qualidade.

Page 32: A GOVERNANÇA CORPORATIVA E O MERCADO DE CAPITAIS NO … · Apresentação de monografia à Universidade ... Palavras-chave: Governança Corporativa, Mercado de Capitais, Novo Mercado

32

- O G8, grupo das nações mais ricas do mundo, considera a governança

corporativa um pilar da arquitetura econômica global.

- A OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico)

desenvolveu uma lista de princípios de governança corporativa e promove

periodicamente, em diversos países, mesas de discussão e avaliação dessas

práticas.

- Banco Mundial e FMI consideram a adoção de boas práticas de governança

corporativa como parte da recuperação dos mercados mundiais, fragilizados por

sucessivas crises em seus mercados de capitais.

- Em praticamente todos os países surgiram instituições dedicadas a promover

debates em torno da governança corporativa.

Page 33: A GOVERNANÇA CORPORATIVA E O MERCADO DE CAPITAIS NO … · Apresentação de monografia à Universidade ... Palavras-chave: Governança Corporativa, Mercado de Capitais, Novo Mercado

33

5 OBSTÁCULOS AO DESENVOLVIMENTO DO MERCADO DE CAPITAIS NO

BRASIL

Não há como se negar que o Brasil ainda enfrenta fortes barreiras para o

pleno desenvolvimento do mercado de capitais. A burocracia e a ausência de

legislação pertinente formam, cada vez mais, um país descrente com seu governo e

sua estrutura.

Sendo assim, abaixo são listados alguns obstáculos para o desenvolvimento

da Governança Corporativa e do Mercado de Capitais no Brasil.

• Há uma certa dificuldade em se entender a Governança Corporativa e o

Mercado de Capitais no Brasil. A evolução histórica nos traz um exemplo de

como o país poderia se desenvolver mais rapidamente caso novos projetos,

leis e tendências fossem melhores aceitas pelos empresários e banqueiros.

• Não existem promotores especializados capazes de lidar com casos

complexos sobre valores mobiliários. No Brasil, os operadores do direito têm

uma visão positivista exarcebada. Na prática, a grande maioria dos

promotores ignora aspectos econômicos dos negócios, o que dificulta o

entendimento de operações empresariais complexas. O estudo do direito no

Brasil negligencia aspectos importantes do ambiente institucional real e é

restrito à análise de como as leis se aplicariam em um ambiente ideal. Assim,

promotores e reguladores não estão preparados para lidar com casos

complexos envolvendo valores mobiliários.

• Os tribunais não são especializados. As mesmas razões dadas acima se

aplicam a esse problema. Juízes não estão preparados para entender

operações negociais complexas. Juízes ficam adstritos às formalidades da lei.

Eles tendem a não perceber formas indiretas de expropriação do valor de

acionistas minoritários. Juízes ignoram os impactos econômicos possíveis das

suas decisões.

Page 34: A GOVERNANÇA CORPORATIVA E O MERCADO DE CAPITAIS NO … · Apresentação de monografia à Universidade ... Palavras-chave: Governança Corporativa, Mercado de Capitais, Novo Mercado

34

• Não existem mecanismos de proteção aos acionistas. Não existe demanda

significante para proteções efetivas dos acionistas minoritários.

• O Brasil ainda não possui uma cultura forte de cumprimento com as normas

de disclosure. Acionistas controladores brasileiros sentem-se donos das

empresas mesmo existindo uma parcela significante do capital detida por

acionistas minoritários (psychologically vested ownership). Assim, acionistas

controladores acham que não existe razão para revelar suas operações ou

“planos estratégicos”. Não existe ainda demanda efetiva por transparência e a

CVM também não tomou ações consistentes para melhorar níveis de

transparência.

• Não existem regras estritas para a revelação de transações com conflito de

interesses (selfdealing). As mesmas razões dadas acima se aplicam a esse

problema. Como os empresários acreditam que eles são donos das

empresas, eles não se sentem pressionados contra a prática de transações

em que há conflito de interesses. No Brasil, essas transações tipicamente são

mascaradas. Disclosure não é abrangente e a monitoracão é incompleta.

Também, nem a sociedade nem a imprensa condenam a extração de

benefícios em prejuízo da companhia.

• Existe um desincentivo para companhias privadas prepararem demonstrações

financeiras auditadas porque é mais difícil para uma companhia que faça isso

sonegar impostos do fisco; adicionalmente credores não requerem

demonstrações financeiras auditadas, como é o caso nos Estados Unidos.

Tanto o órgão regulador como bancos não requerem divulgação detalhada de

informações. A sociedade não demanda mudança institucional consistente e

os controladores não mudarão algo que eles acreditam que têm o direito de

fazer (wealth maximizing behavior se aplica).

• Não existe risco de responsabilização dos contadores por auditorias

deficientes; não existem casos de responsabilização de contadores por

violações. Contadores são comumente utilizados para maquiar resultados

Page 35: A GOVERNANÇA CORPORATIVA E O MERCADO DE CAPITAIS NO … · Apresentação de monografia à Universidade ... Palavras-chave: Governança Corporativa, Mercado de Capitais, Novo Mercado

35

porque a evasão de alguma quantia de impostos é generalizada no Brasil. O

conceito de influência social se aplica a esse caso, pois existe pequeno risco

de responsabilidade.

• A Bovespa não tem regras de listagem exigentes e se apóia na CVM com

relação à edição de regras para companhias listadas. Historicamente o

governo foi o líder na promoção da atividade econômica no Brasil, como

discutido anteriormente. Há carência de iniciativa privada. Uma exceção é o

Novo Mercado da Bovespa, um segmento de listagem, baseado no modelo

do Neur Market alemão. Uma companhia que deseja comercializar suas

ações no Novo Mercado tem que aderir a uma série de regras que são mais

exigentes que as normas jurídicas brasileiras. Algumas das regras do Novo

Mercado são: proibição de ações não votantes, tag along rights estendidos a

todos os acionistas, balanços em conformidade com o US GAAP ou IAS,

informações quadrimestrais detalhadas, painel de arbitragem para a

resolução de disputas. Apesar da criação do Novo Mercado ser uma iniciativa

positiva, somente duas companhias foram listadas no Novo Mercado durante

mais de dois anos de sua existência. As companhias listadas são CCR

Companhia de Concessões Rodoviárias e Companhia de Saneamento Básico

do Estado de São Paulo (SABESP).

• Companhias abertas fazem pouco uso de conselheiros independentes, e

conselheiros tidos como independentes no papel não são tão independentes

na prática. Controladores se sentem donos das empresas e esperam que os

conselheiros sigam as suas recomendações. Essa expectativa ganhou força

legal com a nova reforma, a qual torna conselheiros agentes dos acionistas

que os elegeram, vinculando seus votos aos acordos de acionistas.

Usualmente, mesmo quando conselheiros parecem ser independentes, eles

tendem a ter conecções pessoais com o acionista majoritário ou CEO.

• Existe um pequeno risco de responsabilização civil de administradores da

companhia, seja por processos trazidos por investidores, seja pela autoridade

regulatória (CVM). Administradores podem facilmente burlar o direito,

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36

furtando-se a condenações legais através de recursos protelatórios. Não

existem regras sociais que suportem sanções efetivas porque a sociedade

não condena fortemente práticas de self-dealing. O conceito de influência

social de Kahan se aplica porque existe pequeno risco de responsabilização.

Controladores detém status e prestígio na sociedade.

• Existe um pequeno risco de responsabilização penal de administradores que

incorreram em self-dealing ou violações de disclosure. As mesmas razões

descritas acima se aplicam a esse problema. Responsabilização penal é

ainda mais rara do que civil. Mesmo em casos envolvendo banqueiros que

foram largamente divulgados na imprensa, os acusados, na sua maioria, não

são condenados (conforme expressão corrente na linguagem popular: “tudo

acaba em pizza”).

• Banqueiros não enfrentam riscos de responsabilização na prática. As

mesmas razões descritas acima se aplicam a esse problema. Existem mais

casos de responsabilidade civil devido à fraudes cometidas contra o sistema

bancário, mas usualmente infratores conseguem.

• Não existe risco de responsabilização civil de conselheiros independentes

que aprovam saelf-dealing. As mesmas razões descritas acima se aplicam a

esse problema. Conselheiros considerados independentes tendem a não ser

tão independentes na prática. A sociedade não condena fortemente práticas

de self-dealing. Não existem regras desejáveis de disclosure, o que torna

mais fácil para controladores desviar fundos. O conceito de influência social

de Kahan se aplica a esse problema porque existe um limitado risco de

responsabilização.

• Não existe número significativo de casos que condenam manipulação de

mercado. As mesmas razões descritas acima se aplicam a esse problema. O

caso mais famoso contra manipulação do mercado foi o caso Nahas, que

ainda não teve decisão final até hoje. Usualmente pessoas envolvidas em

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manipulações têm boas relações pessoais e, de uma forma ou de outra,

conseguem evitar sanções.

• Não existem controles procedimentais para transações com conflitos de

interesses (selfdealing transactions) e não existem regras que requeiram que

contadores fiscalizem tais transações. As mesmas razões descritas acima se

aplicam aqui. Apesar da lei proibir transações com conflitos de interesse como

no caso das transações com a própria companhia,189 o cumprimento das

normas na prática é falho. Não houve demanda suficiente para mudança de

regras procedimentais sobre transações com a prórpia companhia.

• Existem problemas com a aplicação de sanções civis contra insider traders.

Houve um esforço no sentido de se requerer disclosure de posições

acionárias dos administradores (insiders). Entretanto, existem ainda

problemas com o cumprimento de sanções civis porqueas mesmas razões

discutidas acima se aplicam.

• O Brasil não conta atualmente com um sistema de contabilidade de boa

qualidade. Um bom padrão de contabilidade tornaria mais difícil para

controladores evadir impostos. Entretanto nem controladores nem contadores

iniciarão uma reforma considerando que a sociedade não demanda

mudanças consistentes.

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38

6 CONCLUSÃO

Apesar de ser um assunto extremamente em voga nos últimos anos, a boa

Governança Corporativa ainda se encontra em processo de maturação na economia

brasileira.

Comparado com os outros países, como Estados Unidos ou países Europeus,

a GC no Brasil ainda é pequeno. Nos países acima citados, o Mercado de Capitais

possui valor maior que os próprios PIBs (Produto Interno Bruto), e no Brasil, o

volume total do Mercado de Capitais fica em menos da metade do PIB.

Essencial para o desenvolvimento do Mercado de Capitais de um país, as

boas práticas da GC desenvolve não só as empresas, mas também a sociedade.

Muito se questiona sobre os custos envolvidos no processo de adesão aos

níveis da GC. Mesmo assim, não se pode questionar o ganho intrinseco de valor que

as empresas aderentes às práticas da GC auferem ao longo dos anos.

Ao ser criada pela prórpia Bovespa, com adesão voluntária e sem ser

regulamentada por nenhuma lei específica, a Governança Corporativa tem se

demonstrado altamente rentável para as empresas que aderem aos seus princípios.

Sendo assim, conforme citado no corpo do trabalho, os Investidores

Institucionais são direcionados a aplicar seus recursos somente em empresas

listadas em um dos níveis da GC, sendo o Novo Mercado o nível onde se pode

aplicar maior porcentagem de suas reservas.

Quanto às novas emissões de ações no Mercado, pode-se afirmar que as

empresas que obtiveram mais lucros nas emissões foram aquelas que já aderiram

aos princípios da Governança Corporativa.

Mesmo com todos os esforços do Governo Brasileiro em incentivar a boa

Governança nas empresas, deve-se estar ciente de que somente haverá plena

expansão do Mercado de Capitais se muitos dos aspectos citados acima forem

alterados e/ou modificados. A burocracia e a falta de experiência das diversas áreas

envolvidas na Governança Corporativa acabam por frear o pleno desenvolvimento

do segmento.

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39

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41

8 ANEXOS

8.1 TERMOS COMUNS EM GOVERNANÇA CORPORATIVA (Fonte: IBCG)

Ação ordinária: ação que confere a seu titular os direitos de voto nas instâncias

decisórias da sociedade, além do direito de participar dos resultados da companhia.

A cada ação ordinária corresponde um voto nas deliberações da Assembléia Geral.

Ação preferencial: classe de ações que confere aos seus detentores determinadas

vantagens de natureza financeira ou política em troca de restrições parciais ou totais

no exercício do poder de voto. As vantagens podem incluir prioridades na

distribuição de dividendo e/ou reembolso de capital, tag along, dividendos 10%

superiores aos das ações ordinárias, dentre outros. O estatuto deve definir as

situações nas quais as ações preferenciais têm direito de voto.

Acionista majoritário: pessoa física ou jurídica, ou grupo de pessoas vinculadas

por acordo de voto, ou sob controle comum, que: a) seja titular de direitos de sócio

que lhe assegurem a maioria dos votos nas deliberações da assembléia geral e o

poder de eleger a maioria dos administradores da companhia; b) use efetivamente

seu poder para dirigir as atividades sociais e orientar o funcionamento dos órgãos da

companhia.

Acionista minoritário: proprietário de ações, cujo total não lhe permite participar do

controle total da companhia, sendo eles os principais beneficiados.

Auditoria independente: órgão externo à organização e isento de conflito de

interesses, que tem a atribuição básica de verificar se as demonstrações financeiras

refletem adequadamente a realidade da organização.

Código de conduta: manual elaborado pela Diretoria de acordo com os princípios e

políticas definidos pelo Conselho de Administração, visando orientar administradores

e funcionários na sua forma de conduta profissional cotidiana.

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Comitê de Auditoria: órgão estatutário formado por conselheiros de administração,

e que se reporta ao colegiado integral do Conselho de Administração, para tratar dos

assuntos relacionados às normas a serem cumpridas pelos auditores independentes

contratados por essas instituições. O Comitê é instituído para analisar as

demonstrações financeiras, promover a supervisão e a responsabilização da área

financeira, garantir que a diretoria desenvolva controles internos confiáveis e que a

auditoria interna desempenhe a contento o seu papel, selecionar, fixar a

remuneração, acompanhar o trabalho e, sendo o caso, decidir pela destituição dos

auditores independentes, zelando para que estes façam uma correta revisão das

práticas da diretoria e da auditoria interna.

Conflito de interesses: há conflito de interesses quando alguém não é

independente em relação à matéria em discussão e pode influenciar ou tomar

decisões motivadas por interesses distintos daqueles da organização.

Free float (Ações em Circulação): quantidade de ações de uma empresa

disponível para negociação livre em mercado de capitais, ou seja, são todas as

ações de emissão da companhia exceto aquelas: (i) de titularidade do acionista

controlador, de seu cônjuge, companheiro(a) e dependentes incluídos na declaração

anual de imposto de renda; (ii) em tesouraria; (iii) de titularidade de controladas e

coligadas da companhia, assim como de outras sociedades que com qualquer

dessas integre um mesmo grupo de fato ou de direito; (iv) de titularidade de

controladas e coligadas do acionista controlador, assim como de outras sociedades

que com qualquer dessas integre um mesmo grupo de fato ou de direito; e (v)

preferenciais de classe especial que tenham por fim garantir direitos políticos

diferenciados, sejam intransferíveis e de propriedade exclusiva do ente

desestatizante.

Regimento interno do Conselho: conjunto de normas e regras que explicita as

responsabilidades, atribuições, funcionamento, rotinas de trabalho e interação entre

os principais órgãos da empresa, entre eles o Conselho de Administração, seus

Comitês, Diretoria, Conselho Fiscal e Conselho Consultivo, se existente, prevenindo

situações de conflito, notadamente com o executivo principal (CEO).

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Sessão Executiva: parte da reunião do Conselho de Administração na quais os

executivos principais ou integrantes da Diretoria não participam.

Stakeholders (Partes interessadas): indivíduos ou entidades que assumam algum

tipo de risco, direto ou indireto, em face da sociedade. São elas, além dos

acionistas, os empregados, clientes, fornecedores, credores, governos, entre outros.

Tag along: é a extensão parcial ou total, a todos os demais sócios das empresas,

das mesmas condições obtidas pelos controladores quando da venda do controle de

uma sociedade.

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8.2 ESCÂNDALOS RECENTES DO MUNDO CORPORATIVO

Tyco: acobertamento de perda de 8 bilhões americanos após aquisições arriscadas

para aumentar o valor das ações. Diminuição de capitalização em Bolsa de 92

bilhões de dólares americanos, em 2002.

World Com: fraude de 3,85 bilhões americanos e anúncios de 18.000 dispensas.

Sede social nas Bermudas;

Waste Management: fraude financeira de 1 bilhão de dólares americanos;

Vivendi-Universal: lucro da organização aumentado artificialmente em 3,5 bilhões

de euros. Dívida atual de 40 bilhões de dólares americanos.

Xerox: manipulação contábil da ordem de 3 bilhões de dólares americanos para

exibir lucros mais altos;

Enron: falsificação de contas e acobertamento de perdas de 2,1 bilhões de dólares

americanos. As dívidas acumuladas levaram a organização à falência, enquanto o

salário de seu PDG, K. Lay chegava a 103 milhões de dólares americanos além de

49 milhões em opções sobre ações. Os empregados, por sua vez, perderam todas

as somas creditadas em seu fundo de aposentadoria, e receberam $ 13.500 de

indenização (os dirigentes receberam 775 milhões de dólares em salários e

benefícios, em 2001).

FONTE: AKTOUF, 2004.