A IDÉIA DE OBJETO EM HUSSERL E MEINONG cp040422

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROCENTRO DE FILOSOFIA E CINCIAS HUMANASINSTITUTO DE FILOSOFIA E CINCIAS SOCIAIS

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM FILOSOFIA

    DOUTORADO EM FILOSOFIA

    TESE DE DOUTORADO

    A IDIA DE OBJETO EM HUSSERL E MEINONGCONSIDERADA A PARTIR DA FILOSOFIA DE FRANZ BRENTANO

    Prof. Orientador: Dr. Aquiles Crtes GuimaresAluno: Andr Ricardo Cruz Fontes

    Rio de Janeiro2007

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    Andr Ricardo Cruz Fontes

    A IDIA DE OBJETO EM HUSSERL E MEINONGCONSIDERADA A PARTIR DA FILOSOFIA DE FRANZ BRENTANO

    Tese de Doutorado, apresentada ao Programa dePs-Graduo em Filosofia, do Instituto de Filosofiae Cincias Sociais, da Universidade Federal do Riode Janeiro, como parte dos requisitos necessrios

    obteno do ttulo de Doutor em Filosofia.

    Orientador: Professor Doutor Aquiles CrtesGuimares.

    Rio de Janeiro2007

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    S237 Fontes, Andr Ricardo Cruz.A idia de objeto em Husserl e Meinong considerada a

    partir da filosofia de Franz Brentano/ Andr Ricardo CruzFontes. Rio de Janeiro, 2007.

    xi, 245 f.

    Tese (Doutorado em Filosofia) Universidade Federal do Riode Janeiro, Instituto de Filosofia e Cincias Sociais, 2007.

    Orientador: Aquiles Crtes Guimares

    1. Objeto. 2. Fenomenologia. 3. Psiquismo. 4. Intencionalidade.5. Conscincia. 6. Objtica Teses.I. Guimares, Aquiles Crtes (Orient.). II. Universidade Federaldo Rio de Janeiro.Instituto de Filosofia e Cincias Sociais. III.A idia de objeto em Husserl e Meinong considerada a partir dafilosofia de Franz Brentano.

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    Andr Ricardo Cruz Fontes

    A IDIA DE OBJETO EM HUSSERL E MEINONGCONSIDERADA A PARTIR DA FILOSOFIA DE FRANZ BRENTANO

    Rio de Janeiro, 29 de maio de 2007.

    ________________________________________________Prof. Dr. Aquiles Crtes Guimares, UFRJ

    ________________________________________________Prof. Dr. Emmanuel Carneiro Leo, UFRJ

    ________________________________________________Prof. Dr. Fernando Augusto da Rocha Rodrigues, UFRJ

    ________________________________________________Prof. Dr. Aylton Barbieri Duro, UEL

    ________________________________________________Prof. Dr. Willis Santiago Guerra Filho, UECE

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    Ao Professor Aquiles Crtes Guimares, que com obrilho de sua inteligncia, dedicao e esforo

    mpares abriu as portas da Filosofia, e legou aosestudiosos do Direito no Rio de Janeiro a chave daFenomenologia. Dedico este trabalho com nimo dediscpulo.

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    APRESENTAO

    Pouco adaptado aos caminhos da Filosofia, enfrentei os mais difceis obstculem minha dissertao de Mestrado em Direito Civil na Universidade do Estado do Rio de Jan(UERJ), em 1998, por querer associar em bases ontolgicas e racionais dois conceitos jurdde origem e natureza diferentes: a pretenso e a situao jurdica. A pretenso ( Anspruch), deorigem alem, e a situao juddica (situaction juridique) francesa, mas bifurcada e consagradapela literatura italiana (situazione giuridica). Embora eu tenha consultado extensa literatura

    alem, francesa e italiana, os trs mundos de idiomas e idias permanecem em trs rbdspares e aparentemente antitticas. A literatura jurdica conhecida no apresentava soluolevasse a uma conexo ou a outro tipo de relao proposta entre os institutos. Foi nessa ocaque conclu o quanto era vago e impreciso o dito conhecimento jurdico e o grau de incapaciddos estudiosos do Direito em buscar e compreender a essncia dos conceitos. Fui orientadseguir os passos do mais notrio jurista da rea civil dos ltimos tempos, o Professor KLarenz, da Universidade de Munique, que era, simultaneamente, jurista e filsofo, do jusfile professor da Universidade de So Paulo Miguel Reale e procurar um professor de Filosofia

    se dispusesse a oferecer a contribuio necessria consecuo da pesquisa. Recebi a indicana Universidade do Rio de Janeiro (Uni-Rio), por iniciativa de um Professor de FilosofiaDireito e na ocasio mestrando em Filosofia, Juan David Posada, de que o ento professoaposentado da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJinstituidor do seu programa de ps-graduao em Direito, o Professor Aquiles Crtes Guimarera tambm professor no Instituto de Filosofia e Cincias Sociais (IFCS) da UniversidaFederal do Rio de Janeiro (UFRJ) e que poderia proporcionar a orientao das partes insolvda dissertao. Vestido de forma bizarra com terno e gravata para um ambiente desprendimento como o IFCS, segui procura do Prof. Aquiles Crtes Guimares como ucriana desnorteada e submetida a uma verdadeira orfanidade intelectual. Do ilustrssiprofessor, j nos primeiros momentos de exposio das agruras que vivia, recebi apoio e o alto caros naqueles dias de dvidas e angstias. Desde ento, no mais me desvinculei do IFCnem da orientao que, de fato, recebi do Professor Aquiles Crtes Guimares. A dissertaoMestrado tornou-se uma original contribuio aos estudos de Direito, ao mesmo tempo u

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    inexpugnvel barreira crtica nas Faculdades de Direito, que passaram a consider-la couma das principais fontes de uma das duas linhas de orientao sobre a pretenso, a linha poder , mais seguida no Direito Civil, e que se contrapunha aquela outra, j consagrada, madotada no Direito Processual Civil, que sustentava a posio deato, como ocorreu na Faculdade

    de Direito da Universidade de So Paulo (USP) e na prpria UERJ, ambas nos seus respectiProgramas de Ps-Graduao em Direito Processual Civil (PPGD). A polarizao, alis, podser resumida a partir de umregressum ao mundo grego, com o exame da mais simples distinoaristotlica entreato e potncia. Dado de especial relevncia o de que a dissertao queapresentei douta congregao da UERJ tornou-se uma reflexo menos afeta ao Direito do qualquer outra dissertao apresentada no mesmo programa de ps-graduao em Direito Cda Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Tributo ao Prof. Aquiles Crtes Guimaresucesso alcanado pelo trabalho, que, publicado como um livro tcnico no ano seguinte

    apresentao, esgotou-se j nos primeiros meses de publicao. Aquela tambm tornoureferncia em todos os estudos de pretenso e situao jurdica nas Faculdades de Direito dopas. Retornei ao IFCS para dar continuidade e retribuir, com as minhas impresses, os oito ade estudos em aulas e leituras de Filosofia que l desenvolvi. Apresento, agora, docongregao da UFRJ, a idia desdobrada de soluo da primeira barreira que enfrentei quaresolvi iniciar os escritos da dissertao supra-referida: a noo de objeto. Fundidaamalgamada pela viso fenomenolgica to decantada pelo Prof. Aquiles Crtes Guimarsomada orientao daTeoria dos Objetos, aqui apresentada na noo formulada por um

    condiscpulo de Edmund Husserl: Alexius Meinong. O retorno s prprias coisas to trabalhe polido por Edmund Husserl apresentado nesta pesquisa, a partir da concepo do objeto, na perspectiva do sujeito, mas na do objeto em si mesmo.

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    AGRADECIMENTOS

    A numerosos colegas do IFCS, da Universidade do Rio de Janeiro (Uni-Rio), qual integro o corpo docente, e do Tribunal Regional Federal da 2a Regio, sou grato pelapacincia e compreenso por todos os desvios e desatenes perpetradas durante a elaboradesta tese. A todos agradeo e fao aqui meno individualizada a cada um. Tenho, entretauma dvida especial e que precede a qualquer outra com relao ao Professor Doutor AquCrtes Guimares pela sua amizade, sbios conselhos e assistncia na redao deste traba

    Sem o seu apoio e orientao teria sido impossvel escrev-lo. No acredito que a maneira coo professor conseguiu mostrar-se capaz de confiar e assumir os riscos inerentes a uma orientaa um ento mestrando de um programa de ps-graduao to dspar da Filosofia e to refrats suas mais profundas indagaes, como ocorre com o Direito, pudesse ser factvel sobstculos. Associadas tradio e continuidade notria do IFCS a sua autoridade intelectuconfiana inquebrantvel foram inolvidavelmente a parcela ltima para a consecuo da oPara os outros professores do IFCS com que travei a relao de aluno, o Doutor EmmanCarneiro Leo e o Doutor Ricardo Jardim Andrade fao tambm a consignao dos m

    agradecimentos especiais, sem deixar de registrar que, ambos, com sua inteligncia incomconstituram um verdadeiro marco nas minhas impresses sobre a capacidade de pensar ecompreender do que o homem dotado. Essas impresses estendem-se aos Professores DoutFernando Augusto da Rocha Rodrigues e Gilvan Fogel, com quem tive o prazer de compartimomentos determinantes no ambiente intelectual do IFCS. De uma forma singular, agradeoProfessor Doutor Amrico Augusto Nogueira Vieira, da Universidade Federal Fluminenseinterlocues e crticas, assim como todo o incentivo para a concluso da tese.

    Sou devedor dos bons e operosos prstimos das bibliotecas da UniversidadComplutense de Madri, da Universidade de Genebra, da Universidade de Coimbra, Unversidade de Roma La Sapienza, e da Universidade da Costa Rica, no exterior; e daUniversidade Federal de Minas Gerais, da Universidade de So Paulo, da Universidade Feddo Rio Grande do Sul, em nosso pas. De todas elas, antigas e prestigiosas, extra as impressmais puras e seletas do ambiente acadmico que as preenche, mas sou especialmente grato p

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    urbanidade e ateno a mim dispensadas na ocasio em que solicitei os variados servioslocalizao de textos de artigos e livros usados na obra. Sou especialmente grato ChefeBiblioteca da Universidade do Rio de Janeiro (Uni-Rio), Mestre em Cincia da InformaMrcia Valria Brito Costa, pela extensa quantidade de texto que isoladamente obteve jun

    outras instituies e na prpria Uni-Rio. Estendo meus agradecimentos Diretora de Bibliodo Tribunal Regional Federal da 2a. Regio, Sra. Debora Cordeiro da Costa, pela formaincansvel e dedicada com que buscou os textos necessrios pesquisa. Destaco, entretantmeu agradecimento Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que com o seu Progrde Ps-Graduao em Filosofia recebeu e proporcionou ao subscritor o que poderia se chamao maior tesouro da sua vida acadmica: o doutoramento em Filosofia.

    Agradeo carinhosamente a Dina e a Snia, da Secretaria da Ps-Graduao

    Filosofia do IFCS, pelo empenho e denodo no cumprimento da suas funes institucionais e forma elegante e graciosa como conduziram as relaes com os alunos do PPGF, especialmeno trato com o subscritor deste agradecimento, e por solucionarem seus mais inusitadproblemas, especialmente os que espocaram nos dois primeiros anos de curso. De igual mosou grato s professoras Myriam de Filippis e Annette Ursula Runge de Souza, respectivamde italiano e alemo, pela instruo das suas lnguas maternas e pela amizade sincera construao longo de quase uma dcada.

    Esta uma pesquisa que resulta das prelees e seminrios do IFCSespecialmente da ctedra do Prof. Aquiles Crtes Guimares e de seu seleto corpo doceassim como dos estudos individuais e singularizados de que lancei mo. No uma obraescola ou formao, pelo que ao IFCS no deve ser imputado qualquer desvio epistemolgseja de objetivo, seja mesmo de jargo, pois o desafio ltimo do autor buscar as baabrangentes e unitrias do conhecimento humano.

    No gostaria de concluir esta parte do texto sem antes agradecer ao advogaRenan Fraga Tostes a assistncia tcnica de informtica e da disposio do texto, ao advogManuel Ferreira da Silva a soluo das questes tcnico-jurdicas que surgiram durantelaborao da pesquisa, e ao advogado Renato Saldanha Lima a orientao no acesso internpelas infinitas reflexes apresentadas.

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    Por derradeiro, registro que a semente do meu interesse e o despertar mais remodo pensamento reflexivo advm dos meus mais precoces dilogos com um ilustre positivcomteano, meu pai, Walter da Silva Fontes, a quem pretendo dedicar outro estudo, a elaborado em poca no to remota e tambm por mim assinado: uma pesquisa introdut

    sobre aTeoria dos Jetos de Pontes de Miranda, cientificista aparentemente surgido do mairomntico positivismo, que se propunha a ser analtica e comparativa com as conclusestrabalho aqui empreendido, sobre as idias de Husserl e Meinong, consideradas a partir filosofia de Franz Brentano.

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    A sutileza do pensamento consiste emdescobrir a semelhana das coisas diferentes e adiferena das coisas semelhantes.

    Montesquieu

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    RESUMO

    FONTES, Andr Ricardo Cruz.A idia de objeto em Husserl e Meinong considerada a partirda filosofia de Franz Brentano. Rio de Janeiro, 2007. Tese (Doutorado em Filosofia) Institutode Filosofia e Cincia Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.

    Objeto um termo que reponta freqentemente na literatura filosficaincidentertantum. Em todas as obras conhecidas, o objeto constitui a prpria atitude do filsofo em relaao mundo e a sua anlise feita a partir da contraposio noo de sujeito. dessa forma os estudos condensam no binmio sujeito-objeto o ponto de partida para as mais divermodalidades de pensamento. A essa dupla perspectiva, insurgiu-se Alexius Meinong, queprops a considerar o objeto no na sua relao com o sujeito, mas na sua prpria perspectivaseja: o objeto perante o prprio objeto. Suas concluses a partir do objeto em perspect

    principaliter no so espontneas, pois remontam obra de Brentano, de quem foi aluno e ecuja obra inspirou-se para a elaborao da sua teoria. Outro filsofo que tambm integroubancos acadmicos de Brentano e que alcanou incomparvel destaque foi Edmund HussReputado o mais profundo e original dos filsofos modernos, Husserl buscou caminho diveao de Meinong: manteve o objeto na sua relao com o sujeito, concentrou-se na idiaintencionalidade desenvolvida Brentano, compartilhada por Meinong, e, por fim, partiu parconhecimento das essncias dos fenmenos. Husserl e Meinong se abeberaram das mesmfontes e inspiraes legadas por Brentano, especialmente da idia de intencionalidade, mdesenvolveram concepes filosficas diversas, ao tomarem em considerao o fenmeno (Husserl) e oobjeto (Meinong). A identidade de origem permitiu que a obra desses filsofocontenha elementos comuns. Neste trabalho, as concepes de Husserl e Meinong so analise contrapostas a partir das consideraes de Brentano quanto quilo que mais imediatamedirige-se conscincia: a idia de objeto.

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    SUMMARY

    FONTES, Andr Ricardo Cruz.A idia de objeto em Husserl e Meinong considerada a partirda filosofia de Franz Brentano. Rio de Janeiro, 2007. Tese (Doutorado em Filosofia) Institutode Filosofia e Cincia Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.

    Object is a most used term in the philosophical litteratureincidenter tantum: in all thebest known works it constitutes the philosophers own attitude related to the world and analysis is the result of a counterposition to the notion of subject. This is the way studies redin the binomial subject-object the starting point to the most different ways of thinking. AlexMeinong did not agree with this double perspective that proposes to considerate the objectrelated with the subject, but related to the object itself. His conclusions that started with object in perspective principaliter are not expontaneous but refer to Brentanos work, who hadbeen his master and had inspired him to eleborate his theory. Edmund Husserl, anoth

    philosopher who had been Bretanos disciple, achieved the highest notability among all otBrentanos disciple. Well known as the most profound and original of the modern philosophHusserl went by another track in maintaining object from the perspective of the subject concentrating in the idea of intentionality extracted from Brentanos lectures that had ainspired Meinong. Husserl and Meinong based their works in Brentanos sources ainspirations, specially the idea of intentionality, but they formulated different conceptions frtheir masters philosophy. Thinking from the point of view of the phenomenon (Husserl) and theobject (Meinong), it turns possible to demonstrate the different conceptions among Brentandisciples. On the other hand, its difficult to understand why the common origin in Brenthadnt permitted that, in both of them, according points cant be interrelated. In this wHusserl and Meinongs conceptions are analysed and contraposed based on Brentanconsiderations about what is immediately directed to the conscience: the idea of object.

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    ZUSAMMENFASSUNG

    FONTES, Andr Ricardo Cruz.A idia de objeto em Husserl e Meinong considerada a partirda filosofia de Franz Brentano. Rio de Janeiro, 2007. Tese (Doutorado em Filosofia) Institutode Filosofia e Cincia Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.

    Objekt ist ein Begriff, der hufig in der philosophischen Literaturincidenter tantum erscheint. In allen bekannten Werken begrndet das Objekt die eigene Einstellung dPhilosophen zur Welt und seine Analyse geht von der Gegenberstellung mit dem Verstnd

    des Subjekts aus. In dieser Form fassen die Studien im Doppelbegriff Subjekt-Objekt Ausgangspunkt fr die verschiedensten Denkweisen zusammen. Gegen diese doppePerspektive lehnt sich Alexius Meinong auf, der sich vornimmt, das Objekt nicht in seiBeziehung zum Subjekt, sondern aus seiner eigenen Perspektive zu berdenken, d.h. das Obdem Objekt selbst gegenberzustellen. Seine Schlussfolgerungen, die vom Objekt ausgehen, dabei aus grundstzlicher Sicht nicht ursprnglich seine, da sie auf das Werk Brentanzurckgehen, dessen Schler er war und von dessen Werk er zur Ausarbeitung seiner Theoinspiriert wurde. Ein weiterer Philosoph, der ebenfalls seine akademische Lehre bei Brent

    vollzog und eine herausragende, unvergleichliche Stellung erreichte, war Edmund Husserl. tiefgehendster und originellster der modernen Philosophen geschtzt suchte Husserl eianderen Weg als Meinong: Er behielt das Objekt in seiner Beziehung zum Subjekt bkonzentrierte sich auf die von Brentano entwickelte und von Meinong bernommene Idee Intentionalitt und begab sich schliesslich auf den Weg der Erkenntnis des Wesens dPhnomene. Husserl und Meinong nhrten sich aus denselben von Brentano hinterlasseneQuellen und Inspirationen, besonders von dem Gedanken der Intentionalitt, entwickelten jedverschiedene philosophische Konzeptionen, indem sie das Phnomen (Husserl) und d

    Gegenstand (Meinong) betrachteten. Der gemeinsame Ursprung liess es zu, dass das Werk diPhilosophen Elemente enthlt, die zueinander in Beziehung stehen. In dieser Schrift werHusserls und Meinongs Konzeptionen analysiert und einander gegenbergestellt, ausgehend den Erwgungen Brentanos bezglich dessen, was sich am umgehendsten an das Bewusstsrichtet: der Idee des Objekts.

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    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS:

    ANAIS DE FILOSOFIA - Revista da Fundao de Ensino Superior de So Joo Del-Rei

    ANALYTICA - Revista do Centro de Filosofia e Cincias Humanas da Universidade FederaRio de Janeiro

    ARET - Revista de Filosofia do Departamento de Filosofia da Universidade Santa rsula

    CRTICA - Revista de Filosofia da Universidade Estadual de Londrina

    CULTURA - Revista de Histria e Teoria das Idias da Universidade Nova de Lisboa

    DIANOIA - Anurio de Filosofia

    DIOGNE - Diogne Revue Internationale des Sciences Humaines

    DIGENES - Revista Internacional de Cincias Humanas

    FRAGMENTOS DE CULTURA - Revista de Filosofia do Instituto de Filosofia e TeologiaSociedade Goiana de Cultura da Universidade Catlica de Gois

    IFCS - Instituto de Filosofia e Cincias Sociais (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

    LIBERTAO LIBERACIN - Revista do Centro de Estudos e de Pesquisas de FilosoLatino-America

    MANUSCRITO - Revista Internacional de Filosofia do Centro de Lgica, EpistemologiHistria da Cincia da Universidade Estadual de Campinas Unicamp

    PENSAMIENTO - Revista de investigacin e informacin filosfica

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    PRESENA FILOSFICA - Revista cientfica de Filosofia editada trimestralmente pela

    Sociedade Brasileira de Filsofos Catlicos.

    LATINOAMERICA - Revista Latinoamericana de Filosofia

    SNTESE - Revista Quadrimestral da Faculdade de Filosofia da Companhia de Jesus CentrEstudos Superiores SJ (BH).

    TACA - taca Revista dos alunos da Ps-Graduao em Filosofia do IFCS-UFRJ

    UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro

    UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro

    UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais

    UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    USP - Universidade de So Paulo

    UFPE - Universidade Federal de Pernambuco

    UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas

    UNI-RIO - Universidade do Rio de Janeiro

    EUA - Estados Unidos da Amrica

    PPGF - Programa de Ps-Graduao em Filosofia (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

    PRINCPIOS - Revista de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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    REVISTA DE FILOSOFIA - Publicao semestral da Academia Brasileira de Filosofia

    REVISTA DE FILOSOFIA DE LA UCR - Revista de Filosofia de la Universidad de Costa R

    PPGD - Programa de Ps-Graduao em Direito (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

    REVUE PHILOSOPHIQUE de la France et Ltranger

    RFA - Repblica Federal da Alemanha

    RBF - Revista Brasileira de Filosofia

    SOFIA - Revista semestral de Filosofia da Universidade Federal do Esprito Santo

    URSS - Unio das Repblicas Socialistas Soviticas

    VERITAS - Revista Trimestral de Filosofia da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grado Sul

    UE - Unio Europia

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    SUMRIO

    METODOLOGIA........................................................................................................................

    INTRODUO...........................................................................................................................

    PARTE I A NOO E A EXTENSO DE OBJETO 1. Etimologia........................................................................................................................... 2o. Significado........................................................................................................................... 3o. Perfil.....................................................................................................................................

    PARTE II O OBJETO NA FILOSOFIA 1. As indagaes iniciais......................................................................................................... 2. Objeto e conhecimento....................................................................................................... 3. O objeto na Filosofia...........................................................................................................4 . O objeto na Filosofia contempornea.................................................................................

    PARTE III HUSSERL, MEINONG E A ORIENTAO COMUM DE BRENTANO

    1. Consideraes gerais........................................................................................................... 2o. A intencionalidade da conscincia......................................................................................

    PARTE IV FRANZ BRENTANO 1. Elementos para uma leitura introdutria e fragmentada..................................................... 2. As idias de Brentano.......................................................................................................... 3. Panormica do legado de Brentano..................................................................................... 4. A dupla perspectiva estrutural do psicologismo de Franz Brentano................................... 5. Aspectos do objeto no psicologismo de Brentano sob o ponto de vista das suas obrasI A psicologia de Aristteles com particular ateno sua doutrina denos poietiks...........68II A psicologia sob o ponto de vista emprico.........................................................................III A classificao dos fenmenos psquicos ou a Psicologia II............................................... 6. Conscincia sensvel ou conscincia notica ou Psicologia III........................................... 7. Algumas notas comparativas entre Brentano e Bolzano ....................................................

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    8. Brentano e Trendelenburg: a relao docente que indiretamente influenciou Husserl.......

    PARTE V - O PENSAMENTO DE HUSSERL 1o. Introduo............................................................................................................................

    2o. As bases dos pensamento de Husserl..................................................................................

    3. A contribuio de Brentano a Husserl................................................................................ 4o. A evoluo do pensamento de Husserl................................................................................ 5o. A Filosofia da Aritmtica..................................................................................................... 6o. As Investigaes Lgicas...................................................................................................1 7o. Lgica formal e transcendental..........................................................................................1 8o. Meditaes Cartesianas......................................................................................................1 9o. Experincia e Juzo............................................................................................................1

    10. Crise da Cincia europia................................................................................................13 11. Idias para uma fenomenologia pura e para uma filosofia fenomenolgica II Noes preliminares................................................................................................................1II Introduo geral fenomenologia pura..................................................................................1 12. Idias para uma fenomenologia pura e para uma filosofia fenomenolgica III Investigaes fenomenolgicas sobre a constituio...............................................................1II A fenomenologia e os fundamentos da cincia.......................................................................

    PARTE VI A CRTICA DE FINK 1. Introduo............................................................................................................................ 2. A interveno no terceiro colquio de Filosofia de Royaumont.........................................

    PARTE VII A CRTICA DE FREGE 1. A filosofia da aritmtica.....................................................................................................1 2. Experincia e Juzo.............................................................................................................1

    PARTE VIII PARA UMA ANLISE DE OBJETO SEGUNDO HUSSERL........................1

    PARTE IX AS BASES DO PENSAMENTO DE MEINONG 1. Noes fundamentais.......................................................................................................... 2. A formao do pensamento de Meinong............................................................................ 3. A contribuio de Brentano a Meinong..............................................................................

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    PARTE X O CONTEDO DESCRITIVO DA TEORIA DOS OBJETOS DE MEINONG l. Introduo............................................................................................................................1 2o. O objeto como objeto..........................................................................................................1

    3o. O objeto como teoria...........................................................................................................

    4o. Origem................................................................................................................................. 5o. Classificao dos Objetos....................................................................................................

    PARTE XI A CRTICA DE BERTRAND RUSSEL TEORIA DOS OBJETOS DMEINONG..................................................................................................................................

    PARTE XII - A FILOSOFIA DE HUSSERL E A SUA CONTRIBUIO NA OBRA

    MEINONG..................................................................................................................................

    PARTE XIII HUSSERL E MEINOG E SUAS DIFERENAS TERICAS..........................

    PARTE XIV HUSSERL E MEINONG CONSIDERADOS EM SUAS DISTINESPARTIR DA IDIA DE OBJETO..............................................................................................2

    CONCLUSES...........................................................................................................................

    BIBLIOGRAFIA.........................................................................................................................

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    METODOLOGIA

    No estado atual do conhecimento cientfico, dois so os momentos de toddoutrina crtica: (1) o gnoseolgico e (2) o epistemolgico. O primeiro (o gnoseolgiconsidera o dado como objeto do conhecimento. O segundo (o epistemolgico), por sua vconsidera o dado como objeto da cincia. De uma maneira mais analtica, diramos que aq(1) se refere s condies e aos limites do processo do conhecimento em geral; e essa (2) respeito s disciplinas que se aplicam ao conhecimento do dado, em si mesmo e em seus nex

    assim como ao processo metdico de pesquisa.1

    Por abstrao, duas ordens podem ser extradas desses momentos: a primeira,Gnoseologia, que indaga das condies do conhecimento ao sujeito cognoscente, pertinentesujeito que conhece; e a segunda, a Epistemologia, que indaga das condies pelas quais algtorna objeto do conhecimento pelo juzo.2

    Na estruturao do conhecimento como totalidade integradora, a dupl

    perspectiva sujeito-objeto superada pela funo maior de alcanar a plenitude do elemeestimativo da realidade a que se visa compreender. As duas concepes abstratamente referia Gnoseologia e a Epistemologia, encontram-se aqui em unidade concreta de descrio objetos por conhecer e de formular as teorias cientficas que os determinam. Os objetconsiderados como algo que se submete ao conhecimento e cincia, traduzem, em sua unidmetodolgica, o objeto e as teorias que o explicam.3

    Essa realidade manifesta-se como a expresso de uma exigncia crtica dpolaridade, na qual o objeto assume essa perspectiva bifurcada de implicao. Por conseqn

    1 Donati, Benvenuto.Obbietto di una Introduzione alla Scienza del Diritto, in Rivista Internazionale di Filosofia delDiritto, 1927, p. 139 e seg.2 Reale, Miguel. Introduo Filosofia. So Paulo: Saraiva, 2002, p. 24.3 Ferrater Mora, Jos. Diccionario de filosofia. 4. ed. Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 1958. p. 905.

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    a juno dessas duas esferas diretivas na descrio da idia impe uma unidade funcionalreferncia daquilo a que se visa conhecer.4

    Pelo que se depreende disso, enquanto se projeta a idia final, a ramificao o

    justaposio gnoseolgica e epistemolgica, impretervel uma a outra, torna possvecompreenso hipottica de qualquer matria. A estrutura dos dados quanto perspectivasujeito e do objeto, todavia, continuam separadas e autnomas. E disso decorre que ampoderiam firmar marcos prprios, de modo que cada um pudesse ensejar uma prpria trataDa a questo: o objeto sujeita-se a uma particular apreciao, de modo a admitir uma verdade prpria tica dele, considerado em si mesmo, ou seja, o objeto como objeto.5

    Constitui premissa de toda sistematizao de um saber a caracterizao e

    organizao progressiva por meio de um objeto e um mtodo; e isso pode ser o distintcaracterstico de uma novel teoria que visa a determinar o percurso para sua construo, queque encerra o esboo deste ensaio.6

    4 Czerna, Renato Cirell.O Pensamento Filosfico e Jurdico de Miguel Reale. So Paulo: Saraiva, 1999, p. 11.5 Miguel Reale, Introduo Filosofia, 4 ed. So Paulo: Saraiva, 2002. p. 37.6 Vieira de Almeida, Lgica Elementar , 2. ed. Coimbra: Armnio Amado Editor, 1961. p. 7.

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    INTRODUO

    O termoobjeto evoca, essencialmente, uma relao a algum, em face de quem objeto se encontra. A terminologia filosfica rigorosa atm-se a esse sentido relativo da palae, por isso, emprega o vocbuloobjeto, no como muitas vezes acontece na vida corrente, mascomo simples sinnimo de coisa.Objeto, em sentidolato (1), tudo aquilo a que se dirige o atoconsciente de um sujeito, ou tudo aquilo a que uma faculdade ou atitude psquica duradourahbito ou tambm uma cincia pode dirigir-se, ou seja, o fim do ato enquanto tal; pconseguinte, o puro ente em si no objeto, a no ser enquanto cognoscvel, apreciv

    tornando-se objeto, de um modo novo, ao ser conhecido, apetecido de fato.7

    A Filosofia escolstica distingue oobjeto material, ou seja, o ente concreto total aque se dirige o sujeito, e oobjeto formal, que se afigura caracterstica peculiar, o aspecto especial(forma) que neste todo se considera aspecto comum a todos os seus objetos e apreendido,menos implicitamente, em cada uma das suas participaes individuais.8 Em sentido restrito,objeto (2) significa no toda e qualquer coisa conhecida ou querida, mas unicamente aquilo est diante do sujeito, com independncia deste e ao qual este se deve amoldar. Nesse diapas

    por exemplo, o conhecimento e a vontade criadora de Deus no tm objeto: seu saber poantes, qualificar-se de saber no esboo de sua origem.9 Sob outro aspecto, o conceito deobjeto (3) restringe-se ao ente material diretamente identificado pela percepo, ao passo quedenomina no objetivo tudo o que possui condio de sujeito e de pessoa, ou seja, o prprioeu,experimentado unicamente na realizao de seus atos, e a pessoa do prximo compreendnuma espcie de co-realizao de seus atos intencionais. Com essa acepo, o objeto podtambm se relacionar restrio do seu prprio conceito (4), reduzindo-o a significar o objetum puro e desinteressado af do conhecer.10

    7 Mario Bunge, La relacin entre la sociologia y la filosofia. Madri: Edaf, 2000. p. 45.6 Dann Obregon, Ernesto. Lgica. 6. Ed. Buenos Aires, Editorial Mundi, 1971, p. 19.99 Ressalvamos que a referncia a Deus deve ser tomada comovox muorta porque no tem finalidade evocativa esim didtica. Cf. nesse sentido a advertncia de Mauro Antonelli,in Alle radici del movimento fenomenolgicoPsicologia e metafsica nel giovane Franz Brentano. Bolonha: Pitagora, 1996. p. 17. 10 Jos Ferrater Mora, Diccionario de filosofia, 4, ed. Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 1958. p. 981.

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    Conquanto se atribua ao sujeito uma unidade final, sobre a qual todo conhecimento est assentado, haveria de se suscitar acerca do objeto prprio e isoladameconsiderado a dignidade de se tornar objeto por si, e, a sua vez, de uma prpria cincia. CouAlexius Meinong configurar como cincia e batizar toda essa tratao deTeoria dos Objetos.

    Esse raciocnio, contudo, estaria estribado no imaginrio impossvel, se no houvesse uma justificao. Este trabalho prope-se a demonstrar a existncia dessa teoria, batizada de Teoria dos Objetos, ou, mais modernamente, aObjtica,11 e delimitar sua extenso e abrangncia.12

    11 Cretella Junior, Jos.Primeiras Lies de Direito. Rio de Janeiro: Forense, 1995. p.28.12 Velarde Mayol, Victor. La teoria de los objetos em Aleixus Meinong. Pensamento. Madri: n 180, v. 45, octubre-diciembre, 1989. p. 462.

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    PARTE IA NOO E EXTENSO DE OBJETO

    1o.

    Etimologia

    Etimologicamente,objeto (do latim:obiectum) significa o que atirado diante, ouposto diante. A palavra objeto resulta do encontro da preposio latinaob com o verbo jacio,dando o verbo compostoobjicio. Objeto deriva deobjectum, o particpio passado do verbo

    objicio (infinitivo,objicere). Ob significa diante, defronte, vista; e jacio quer dizer lanar,atirar, arremessar. Da o significado deobjicio, que propor (pro+por), ou seja: pr-se diante dealgo. E objeto, que a forma verncula do substantivo latino formado a partir desse ve(objectus), serve para designar algo que se pe diante de uma pessoa, ou como alvo de algumatividade sua.13

    Em sentido figurado,objicio significa propor, causar, inspirar (um pensamento ouum sentimento), opor (algo em defesa prpria), interpor (como, por exemplo, interpor-se ent

    sol e seus raios). Pode-se dizer que,grosso modo, objeto (ob-jectum) significa o contraposto.14

    Disso resulta que, nas lnguas novilatinas mais faladas, encontramosobjet (francs),obbietto e oggetto (italiano),objeto (portugus e espanhol). Da mesma forma, o inglsobject . Ovocbulo alemo correspondente,Gegenstand, tem semelhante significado:o que est (em p)diante, em frente, a preposiogegen (contra) e o verbostehen (colocar em p). Oobjeto evocaessencialmente uma relao a algum, em facede quem ele se encontra.15

    13 Jos Ferrater Mora, Dicionrio de Filosofia, Barcelona: Hurope. p. 2.603.14 De forma anloga como o alemo Gegenstand, que se traduz comumente por objeto. Cf. J. Ferrater M Dicionrio de Filosofia. Barcelona: Hurope, p. 2.603.

    15 Dinamarco, Cndido Rangel.Fundamentos do Processo Civil Moderno. 4a. ed., v. 1. So Paulo: Malheiros, 2001.p. 238. Cf. ainda Hoffmeister, Johannes.Wsterbuch der Philosophischen Begriffe. 2 ed. Hamburgo, Verlag vonFelix Meiner, 1955. p. 248.

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    Obiectum quo (objeto pelo que) na Epistemologia medieval e escolstica, o objetpelo qual se conhece um objeto. H de ser entender em oposio aobiectum quod , que se refereao objeto conhecido. Por exemplo, quando uma pessoa sabe o que uma ma, a ma obiectum quod e seu conceito de ma oobiectum quo. Isto , o conceito instrumental para o

    conhecimento da ma, mas ele no conhecido. Os seres humanos necessitam dos concepara ter conhecimento, porque seu conhecimento receptivo, no que seria diferente de Deus,seria produtivo, na sua vocao divina. Nessa linha de raciocnio e seguindo a Epistemoloreferida, o conhecimento humano mediato, e o conhecimento divino imediato.16

    Os filsofos escolsticos crem que a distino entreobiectum quod e obiectum quo acentua a confuso central do idealismo. Segundo os idealistas, o objeto do conhecimento qdizer o que uma pessoa conhece; uma idia. De modo contrrio, os escolsticos sustentam

    os idealistas confundem o objeto do conhecimernto com os meios pelos quais se faz possvconhecimento humano. O sujeito deve conectar-se com o objeto de conhecimento por meioalgo (obiectum quo), mas o que o conecta o prprio objeto com o qual est conectado.17

    Sob a perspectiva da conscincia, oobjeto e o fenmeno obedecem a um tipo denexo: o da conscincia intencional. que se fenmeno o determinado pela conscincia,objeto poder ser tudo que se pe ante a conscincia: objetos materiais ou espirituais, concretosabstratos.18 Ou seja: algo que a mente apreende econcebe.19

    16 Alexander P. D. Nourelatos,in Dicionario Akal de Filosofia, coord. Por Robert Audi, verbete objeto, trad. deHuberto Marraud e Enrique Alonso. Madri: Ediciones Akal, 2004. p. 718.17 Idem.18 Menezes, Djacir. Hegel e a filosofia sovitica. Rio de Janeiro: Zahar, 1959. p. 99.19 Mais alm iramos se o ngulo fosse o doconceito: porque d sua essncia ao por ante a conscincia opondo-seao sujeito (ob-jectum).Cf. Djacir Menezes , op. cit., Idem. p. 100.

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    2o.Significado

    No l desta obra buscou-se estabelecer as bases etimolgicas doobjeto. Seja dolatim obiectum, que significa o que atirado adiante, ou posto adiante, seja pelo vocbulalemo correspondente,Gegenstand , que tem idntica significao o que est (em p) dianteem frente. Evoca, ento, o termo objetoin essentia uma relao a algum, em face de quem oobjeto se encontra.20

    A terminologia filosfica rigorosa atm-se a esse ltimo sentido relativo dpalavra, e, por conseguinte, emprega o termoobjeto no como muitas vezes acontece na vidacorrente, como simples sinnimo decoisa. Objetolato sensu tudo aquilo a que se dirige o atoconsciente de um sujeito, ou em uma perspectiva de cariz analtico, tudo aquilo a que ufaculdade ou atitude psquica duradoura ou hbito (habitus), ou tambm uma cincia, podedirigir-se, ou seja, o fim do ato (da faculdade etc.) enquanto tal. Em desdobramento a assertiva, afirmamos queo puro ente em si no objeto, a no ser enquanto cognoscvel, objeto

    de anlise, tornando-se objeto, de modo novo, ao ser conhecido, apetecido de fato.21

    Os escolsticos atriburam noo de objeto (objectum) vrios sentidos. No sed exatamente a mesma acepo se se trata de objeto da Metafsica, na Teoria do Conhecimeou na tica. H um sentido comum de objeto em qualquer caso, que o de termo. Na Metafso objeto um termo, o fim, a causa final. Na Teoria do Conhecimento, o objeto o termo dode conhecimento, e especialmente a forma, ou seja, como espcie sensvel, j como espinteligvel. Na tica, o objeto a finalidade, o propsito, o que se elege, o justo. Aqui nreferimos principalmente ao objeto no sentido metafsico e gnoseolgico, com particular atena esse ltimo significado.22

    20 Giulio Giorello, Introduzione alla filosofia della scienza. Milo: Strumenti Bompiani, 2006. p. 89.21 Jos Ferrater Mora, De la matria a la razn. Madri: Alianza Editorial, 1998. p. 171.

    22 J. Ferrater Mora, Dicionrio de Filosofia, op. cit . p. 2.603.

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    Ainda com respeito Filosofia da Escola, denominada Escolstica, insta observque ela distingue oobjeto material, ou seja, o ente concreto total a que se dirige o sujeito, e oobjeto formal, ou seja, a caracterstica peculiar, o aspecto especial (forma), que nesse todo considera, ou sob a qual esse todo considerado.23 Por objeto formal de uma faculdade, de uma

    cincia, de uma virtude se entende aquele aspecto comum a todos os seus objetos, que podeapreendido, ao menos implicitamente, em cada uma das participaes individuais de daspecto.24 Por outro lado, objetostricto sensu significa no toda e qualquer coisa conhecida ouquerida, mas, unicamente, aquilo queest diante do sujeito com independncia desse e ao qualesse se deve amoldar. Sob outra perspectiva, o conceito deobjeto restringe-se ao ente materialdiretamente visado na percepo. E se denominano objetivo tudo o que possui condio desujeito e de pessoa,rectius: o prprioeu, experimentado na realizao de seus atos, e a pessoa doprximo compreendida numa espcie de co-realizao de seus atos intencionais. nessa acep

    que se poderia relacionar a restrio do conceito de objeto de um puro e desinteressado afconhecer.25

    Se o conhecimento se perfaz por intermdio de uma imagem cognoscitivinconsciente, importa distinguir entreobjeto e contedo do conhecimento. O contedo mental arepresentao includa no conceito ou no juzo; o objeto o ente independente do pensamentque transcende), que entendido por ele. Tomado o contedo como sendo o prprio objedesembocamos no idealismo epistemolgico, para o qual o objeto um produto do pensame

    distino entre o contedo do conhecimento e objeto est conexo ao fato de que odado nemsempre coincide com oobjeto. Denomina-se (imediatamente)dado tudo o que se mostraimediatamente sem cooperao consciente do sujeito.26 De maneira que dado aquilo que vemimediatamente conscincia na percepo dos sentidos externos; isso, porm, segundoconcepo do realismo mediato. no o objeto exterior em seu prprio ser real, mas o interno, a modo de imagem (intencional), no qual o objeto contemplado. Em um sentamplo, tambm se denominadado todo objeto que se contrape independentemente ao sujeito

    23 Dann Obregon, Ernesto.op. cit. 24 Uma noo atual de objeto formal permeia as opinies sobre o conhecimento objetivo, exatamente codesafiado por filsofos e cientistas, porque ateoria ou teorias que decide o que podemos observar. Cf. a respeitodo assunto o confronto de opinies de Albert Einstein e Karl Popperin Peter Burker,O que histria cultural? trad. de Srgio Ges de Paula. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. p. 100.25 Vittorio de Palma, Il soggetto e lesperienza La critica di Husserl a Kant e il problema fenomenolgico detracendentale. Macerata: Quodlibet, 2001. p. 27.26 Jacobo Muoz e Julin Velarde,Compendio de Epistemologia. Madri; Editorial Trotta, 2000. p. 167.

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    cognoscente. o que acontece quando afirmamos que o nosso conhecimento consisteem uma assimilao a um objeto pr-dado.27

    A estrutura lgica do juzo no correspondente de uma estrutura especificamen

    igual do contedo objetivo real: a relao lgica do sujeito e do predicado existe s em nopensamento e noem si, como pretende otranscendentalismo lgico. Certamente, a relaolgica corresponde amide ao objeto real (ou ao contedo objetivo real). H relao anloga,exemplo, de substncia e acidente, todavia, o objeto de um juzo no possui, necessariamentestrutura de uma relao real. Dizemos,exempli gratia, Deus esprito.28 Mas a essa proposiono corresponde uma relao real entre Deus e seu ser espiritual.29

    A forma lgica do juzo precisamente nosso modo nico de pensar e a verda

    do juzo no exige que nossomodo de pensar se encontre nas coisas, mas somente que ocontedo ontolgico corresponda aocontedo de pensamento. Os objetos incondicionadamentenecessrios so (prescindindo da existncia real de Deus) meroscontedos essenciais, que em sino denotam ainda a existncia real; assim, por exemplo, o objeto de juzo 2x2=4 no pressuque 2x2 exista realmente em algum lugar, mas indica, to-somente, que a essncia 2x2 tconsigo necessariamente a relao =4, de sorte que, sempre que se realizem 2xnecessariamente, o resultado ser 4.30 Os objetos contingentes existem s na medida em que, emcerto momento, lhes sobrevm a existncia real, e ,freqentemente, se lhes d tambm o nom

    fatos. A assertiva, segundo a qual ao juzo negativo verdadeiro correspondeum objeto negativoexistente em si, equvoca; o juzo negativo verdadeiro, precisamente quando o objeto nenegadono existe na ordem de ser. contraditrio atribuir ao negativo umser-em-si, porque onegativoexiste s em nosso pensamento.31

    27 Mario Bunge,Epistemologia, Buenos Aires: Siglo XXI, 2004. p. 5428 No obstante o pendor (ou fervor) de Brentano para as questes teolgicas, o termo Deus tomado no texto e referncia comovox mortua, pois no objeto desta pesquisa, nem como tema principal, nem incidente.29 Juan Martn Velasco, Introduccin a la fenomenologia de la religin, 7. ed. Madri: Editorial Trotta, 2006. p. 45.30 Sobre o assunto cf. Adolf Reinach, I fondamenti a priori del diritto civile. trad. do alemo para o italiano porDaniela Falcioni, Milo: Giuffr, 1990. p. 22.31 Walter Bruger, Dicionrio de Filosofia, trad. de Antnio Pinto de Carvalho. So Paulo: Herder, 1962. p. 381.

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    3o.Perfil

    Se algo percebido por meio do conhecimento sensitivo externo ser reputaobjeto. O objeto visto, normalmente, como algo de natureza material, ou seja: um fenmenindefectivelmente referido ao espao e ao tempo reduzido a umhic et nunc (aqui e agora)limitador e essencialmente ligado ao aparecer material. O fato de algo ser objeto material significa, necessariamente, que seja (fisicamente) real. Pode ser qualquer objeto

    conhecimento.32

    Esse conhecimento origina-se, sempre, de um rgo animado, por cujo intermdo sujeito realiza seu primeiro descobrimento do mundo, de maneira que oobjeto formal desseconhecimento sempre particular, determinado no devir,in fieri, material, sensvel, ligado a umapropriedade de ordem fsica e a imprescindvel modificao de um rgo.33 Nesse aspecto, aatividade do objeto mxima e a do sujeito mnima, e por isso se pode afirmar que nessascaractersticas do objeto que se assenta a fonte original de toda experincia e do vnculo prim

    e vital com a realidade.34

    O objeto formal e o objeto material so habitualmente considerados como prprio objeto do conhecimento (objecta scientiae). O objeto formal ( formaliter acceptum) oalcanado diretamente e essencialmente (ou naturalmente) pelo poder ou ato em uma perspectomstica. Por meio do objeto formal se alcana o objeto material (materialiter acceptum), o simplesmente o termo que desponta o poder ou o ato de conhecimento, por meio do objformal. O objeto material indeterminado e sua determinao opera-se por meio do objformal. O objeto formal pode ser objeto formalquod , quer dizer, objeto que se alcana ante todo,por si e diretamente, e o objeto formalquo quer dizer o objeto formal enquanto conhecido. Adiferena entre objeto formal e material funda-se na distino entre o conhecido enqua

    32 J. Ferrater Mora, Dicionrio de Filosofia, op. cit ,. p. 2.604.33 Dann Obregon, Ernesto. Lgica, 6 ed. Buenos Aires: Editorial Mundi, 1971. p. 19.34 Hctor D. Mandrioni, Introduccin a la filosofia. Buenos Aires: Editorial Kapelusz, 1964. p. 61.

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    conhecido e o objeto do conhecimento. Deve-se atentar para o fato de que, em algumas ocasio objeto material chamado tambm de sujeito, enquanto se expressa logicamente um termoqual se predica algo.35

    Esse conhecimento inicial no consiste em um choque mecnico com a realidadou o mero processo qumico ou fisiolgico, nem tampouco uma idia debilitada ou confuPer viam consequentie, o sujeito possuidor de algo da realidade exterior, mas o sujeitocognoscente no possuidor do todo; o primeiro a estar aberto e a co-nascer realidade, msem possesso consciente dessa realidade, pois o sujeito no deduz, no constitui, nem infnem mesmo cria o objeto, ao contrrio, constitudo e determinado pelo dado.36

    Segundo o patamar do desenvolvimento da cognio, podem tambm s

    investigados fenmenos cuja essncia seja j conhecida em certo grau. Nesse caso, d-sconhecimento das leis principais e mais gerais do objeto, cuja essncia se chega a descobrir cmaior profundidade, e o conhecimento avana de uma essncia de primeira ordem. Por ouparte, a medida que progride o saber acerca de um objeto, so descobertas novas facetas quconvertem em objeto de conhecimento.37

    Distintas cincias sobre um mesmo objeto possuem diferentes objetos dconhecimento (por exemplo, a anatomia estuda a estrutura do organismo; a fisiologia, as fun

    dos rgos; a patologia, as enfermidades etc.). O objeto do conhecimento objetivo no sentde que seu contedo independente de cada homem e da humanidade. Em cada caso particua eleio que faz o homem dos conhecimentos, pode, aparentemente, ser arbitrria e subjetmas em ltimo termo est determinada pelas necessidades e o nvel de desenvolvimentoprtica social. O objeto do conhecimento pode estar ou no estar imediatamente dado sentidos. Nesse ltimo caso, estuda-se atravs das suas manifestaes. Em sua totalidaddesenvolvimento, o objeto chega a ser conhecimento pelo movimento do pensar, que vai abstrato ao concreto. O prprio processo de cognio pode ser objeto de conhecimento.38

    35 J. Ferrater Mora, Dicionrio de Filosofia, op. cit . p. 2.604.36 Idem.37 Cf. Jacobo Muoz y Julin VelardeCompendio de epistemologia. Madri: Editorial Trotta, 2000. p. 427.38 Cf. Joo Branquinho, Desidrio Murcho e Nelson Gonalves Gomes,Enciclopdia de termos lgicos-filosficos.So Paulo: Martins Fontes, 2006. p. 557.

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    Faz-se necessria uma explicao filosfica do conhecimento humano dirigido objeto com um escrupuloso exame dessa figura, partir de uma observao e descrio. O chamamos conhecimento, esse peculiar fenmeno da conscincia, deve ser necessariame

    observado com rigor e descrito com exatido. Fazemos de modo a procurar apreender os tragerais essenciais desse fenmeno da conscincia, por meio da auto-reflexo sobre aquilo vivemos quando falamos do conhecimento. Esse mtodo chama-se fenomenolgico e distintodo psicolgico, pois enquanto esse ltimo investiga os processos psquicos concretos, no scurso regular e a sua conexo com outros processos, o primeiro se destina a apreender a essgeral do fenmeno concreto. Insta considerar, entretanto, quein casu no se descrever umprocesso de conhecimento determinado, no se estabelecer o que prprio de um conhecimdeterminado, mas, sim, o que essencial a todo o conhecimento, em que consiste a sua estru

    geral.39

    Se empregarmos esse mtodo, o fenmeno do conhecimento se nos apresenta nseus aspectos fundamentais de maneira perfeitamente distinguvel.40 No conhecimentoencontram-se, frente a frente, aconscincia e oobjeto, o sujeito e oobjeto, e, por essa razo, sepode dizer que o conhecimento apresenta-se como uma relao entre esses dois elementos, nela permanecem eternamente separados um do outro, o que nos leva a concluir que o dualissujeito e objeto, pertence essncia do conhecimento.41 A relao entre os dois elementos o

    que se poderia chamar de umacorrelao, pois o sujeito s sujeito para um objeto e o objeto s objeto para um sujeito e, para ambos, eles s so enquanto o so um perante o outro. Mas correlao no reversvel, uma vez que a funo do sujeito apreender o objeto e a do objede ser apreendido pelo sujeito.42

    Vista pelo lado dosujeito, essa apreenso apresenta-se como uma sada do sujeitopara fora da sua prpria esfera, uma invaso da esfera do objeto e uma absoro das propriedadesse ltimo. Sendo assim, o objeto no arrastado para dentro da esfera do sujeito, mpermanece, sim, transcendente a ele e nono objeto, masno sujeito alguma coisa se altera em

    39 Johannes HessenTeoria do conhecimento, trad. de Antnio Correia, 7a. ed. Coimbra: Armnio Amado- Editor,Sucessor. p. 25.40 Cf. Nicolai Hartmann na sua importante obraFundamentos de uma Metafsica do Conhecimento.41 Conscincia que se v e se trata no sentido mais tradicional, ou seja, como a apreenso de certos estadosorganismo. Cf. nesse sentido: Joo Paulo Monteiro, Realidade e cognio. So Paulo: Unesp, 2006. p. 59.42 Jacobo Muoz e Julin Velarde,Compendio de Epistemologia. Madri: Editorial Trotta, 2000. p.572.

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    resultado da funo do conhecimento. Isso porque no sujeito surge algo que contm propriedades do objeto, surge umaimagem do objeto.43

    Pelo lado doobjeto, o conhecimento representa uma transferncia das suas

    propriedades para o sujeito: o que transcende do sujeito para a esfera do objeto correspondeque transcende do objeto para a esfera do sujeito. So ambos somente aspectos distintosmesmo ato, embora nele o objeto predominasse sobre o sujeito, de maneira que o objeto determinante, o sujeito o determinado. O conhecimento pode definir-se, por ltimo, como udeterminao do sujeito pelo objeto, embora o determinado no seja o sujeito, pura esimplesmente, mas apenas a imagem do objeto nele. Essa imagem objetiva, na medida emleva, em si, os traos do objeto.44

    Por ser o conhecimento uma determinao do sujeito pelo objeto, no h dvique o sujeito se conduzreceptivamente perante o objeto. Essa receptividade no significa,contudo, passividade, mas ao contrrio, pode falar-se de uma atividade e espontaneidadesujeito em relao ao conhecimento. Ela no se refere, naturalmente, ao objeto, mas simimagem do objeto, no que a conscincia pode muito bem participar, contribuindo para a elaborao. Demais disso, a receptividade perante o objeto e a espontaneidade perante a imagdo objeto no sujeito so perfeitamente compatveis.45

    Ao determinar o sujeito, o objeto mostra-se independente dele,transcendente aele, de maneira que todo o conhecimento designa um objeto, que independente da conscicognoscente. O carter transcendente prprio, enfim, de todos os objetos reais e ideais e a respeito chamamos real a tudo o que nos dado pela experincia externa ou interna, ou delinfere. Os objetos ideais apresentam-se, pelo contrrio, como irreais, como meramente pensa j objetos ideais so, por exemplo, os objetos da matemtica, os nmeros e as figugeomtricas. Pois bem: o interessante que tambm esses objetos ideais possuem um ser emou transcendncia, no sentido epistemolgico. As leis dos nmeros, as relaes que existem,exemplo, entre os lados e os ngulos de um tringulo so independentes do nosso pensame

    43 Hessen,op. cit , p. 26.44 Hessen,op. cit . p. 27.45 Idem, p. 28.

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    subjetivo, no mesmo sentido em que o so os objetos reais e, apesar da sua irrealidade, fazemfrente como algo em si determinado e autnomo.46

    H uma contradio entre a transcendncia do objeto ao sujeito e a correlao

    sujeito e do objeto apontada anteriormente. Essa contradio, todavia, apenas aparente, psomente enquanto objeto do conhecimento que ele, objeto, se encontra incluso na correlaA correlao sujeito-objeto s inseparvel dentro do conhecimento; mas no em si mesma, vez que o sujeito e o objeto no se esgotam no seu ser de um para outro, pois tm, alm disum ser em si.47

    Se a relao do sujeito com o objeto incindvel no curso do processo deconhecimento, da mesma forma tambm irreversvel porque, uma vez estabelecido o

    conhecimento, no ser mais possvel deixar de consider-lo. Na ao, o objeto no determisujeito, mas sim o sujeito o objeto, pois aquele j no se conduz de forma receptiva, mas espontnea e ativamente, enquanto que esse se conduz passivamente, no que nos leva a concque o conhecimento e a ao apresentam, de forma conclusiva, uma estrutura completameoposta.48

    46 Ibidem. p. 28.47 Hessen,op. cit ., p. 29.48 Bunge,op. cit. p. 46.

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    PARTE IIO objeto na Filosofia

    1.

    As indagaes iniciais

    O ingresso da indagao filosfica sobre os objetos, no estado atual dconhecimento, inicia-se segundo um elemento de valorao quantitativa, o objeto que prosensaes e que de natureza extensiva, e, portanto, mensurvel. Como coisa que se oferec

    viso, o objeto se prende ao seu aspecto mais ingnuo: o que est submetido apenas percepsensvel. Em termos mais precisos, as sensaes extradas de um objeto sensvel se limitamconsider-lo como coisa. Dessa forma, a relao do sujeito com o objeto est restrita ao queachava perante o sujeito. O objeto travaria, em verdade, com o sujeito que o percebe uma relreal, de representao.49

    O conhecimento do objeto estaria limitado ao que as sensaes externas nomostram, segundo uma afirmao objetiva. Essa afirmao corrensponderia, precisamen

    aquele sentimento subjetivo (do sujeito) de afirmao do objeto. Essa a tendncia natural; essa objeo dos nossos estados nem sempre legtima. O que significa dizer que somequando a objetivao tem carter universal, quando todos a reconhecem, que alcanaria algobjetividade de afirmao legtima.50

    Demais disso, a iluso (individual ou coletiva) pode conduzir a objetivao, a umpercepo no cientfica, ou seja, sem qualquer acordo com a lei geral das cincias. Eobjetivao teria mais em valor subjetivo, sem ser geral, sem ser universal, sem cientificidamuito longe de resolver o que significa objeto.51

    49 Para uma introduo do dualismo sujeito-objeto cf. Georg Simmel,Problemas fundamentales de la filosofia, trad.de Susana Molinari e Eduardo Schulzen. Andaluzia, 2006. p. 2350 Cf. Mario Bunge, A caza de la realidad La controvrsia sobre o realismo. Barcelona: Gedisa, 2007. p. 106.51 Mario Bunge,Emergncia y convergncia Novedad cualitativa y unidad del conocimiento. Barcelona: Gedisa,2003. p. 31.

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    Um dos elementos cardeais da diferena que separa o homem do resto de tocriao material o que se chama de expansividade: a gama superior das suas atividades maior amplitude dos seus horizontes em relao aos demais seres vivos.52

    Podemos isolar mentalmente as partes integrantes da conscincia com o objetide realizar o estudo do objeto, e essas partes juntas influenciam-se reciprocamente e interfena percepo do objeto, que o elemento de exame. Temos que lembrar que o homem umdotado de sensibilidade do mundo externo, alm de sua capacidade cognoscente e que o procde conhecimento produz-se sempre sobre um fundo de sentimento e emoo. Mesmo qconsideremos o conhecimento sensorial (externo) e o intelectual (interno) como processeparados, so eles manifestaes indissociveis, como lados diferentes de uma mesma moedo ponto de partida para o conhecimento humano sempre foi a sensao, os sentidos externos

    ver, ouvir, sentir, cheirar, tocar e outros que signifiquem canais pelos quais as coisas que esao alcance desses mesmos sentidos e, via de conseqncia, fora do homem, cheguem at ele.53

    52 D.J. Sullivan,Fundamentos de filosofia, trad. de Gonzalo Gonzalvo Mainar. Madri: Morata, 1920. p.89.53 Idem, p. 97.

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    2.Objeto e conhecimento

    Todo conhecimento constitui o mais simples ato do esprito, e muitos sero conhecimentos que contenham em si uma multiplicidade de pontos ou apenas uma unidad54 Uma espcie de realidade ou muitas espcies de realidades constituem a mais essencial evidncias a que chega a Filosofia. Parece um ponto de vista limitado ou estreito, mas saber

    um ou se so vrios os objetos do conhecimento constitui a mais primordial das distines.55

    Essas espcies de realidades so as regies da realidade ou esferas da realidapara conhecer. Dentre essas esferas podem ser distinguidas sub-realidades, que, por sua vezdesdobram em outros conhecimentos. Dessas, a mais conhecida a forma real ou imaginriaobjetos.56

    Tudo aquilo que pode existir, pensar-se, falar-se ou ser objeto de uma associa

    O mais bsico, abstrato e geral de todos os conceitos filosficos , portanto, indefinvel. Assiclasse de todos os objetos a mxima classe. Os objetos podem ser indivduos colecionadores, concretos (materiais) ou abstratos (ideiais), naturais ou artificiais. Por exemas sociedades so objetos concretos enquanto os nmeros so abstratos; as clulas so objenaturais e as palavras so artificiais.57

    Por objeto do conhecimento entendemos tudo o que possa ser sujeito de um juzenquanto um sujeito de um juzo. O pleno sentido dessa noo surge a partir da idia de obna sua ontologia. E a ontologia que encerra, no seu sentido, a Teoria dos Objetos, consideraem seu mais amplo sentido. Trata-se de teoria destinada a investigar otipo de objeto e o pleno

    54 Jos Babini,Origen y naturalez de la ciencia. Buenos Aires: Espasa, 1947. p. 29.55 Wesley Salmon, Nancy Cartwright, Theodore Mischel e Bas C. van Fraanssen,Spiegare e compreendere Saggi sulla spiegazione scientifica, trad. De Diana Sartori, Luigi P. Zorzto e Ivaldo Vermelli. Pdua: Spazio Libri Editori1992. p. 21.56 Jos M. Alejandro, S. J.,Gnoseologa de la certeza. Madri: Gredos, 1965. p. 21.

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    sentido dessa concepo segue a partir da idia de determinao. Determinao entendida ano como uma propriedade, pois propriedade uma determinao que se converte sempre objeto. Disso resulta que a determinao no muito mais ampla que a simples propriedade.58

    Os objetos do conhecimento so conceitos e no coisas, se forem tratados nperspectiva idealista, pois tudo o que se pode conhecer seriam simples idias, e no se podsaber se existe ou no algo. De maneira que, para os idealistas, toda a realidade est integrpela mente e os pensamentos que decorrem dela. J para os realistas, a apreenso simples coisas chega a ns de vrias formas, em muitos aspectos inteligveis.59

    O ponto central das investigaes do objeto est baseado em duas atitudes oposta objetivista e a subjetivista. De acordo com essa dualidade, o conhecimento parte da percep

    de um objeto per se ou de uma atitude de um sujeito. Se a perspectiva fosse aobjetivista, osobjetos existiriam de forma objetiva ou autnoma, o que equivaleria declarar que no estarcondicionados aos juzos estimativos do sujeito. Contra essa perspectiva h asubjetivista que fazdepender o objeto da existncia de uma atitude humana, entenda-se do sujeito.60

    Ambas as concepes encontram variantes conhecidas e importantes, mas, nesmomento, dois elementos do juzo que se forma a respeito do objeto sero considerados:61

    (a) oobjeto ao qual se refere o conhecimento;(b) osujeito que o conhece.

    O ato pelo qual o sujeito capta a forma inteligvel de algo, em primeiro grau conhecimento, chama-se de apreenso simples; simples porque o intelecto se limita a recebcoisa, sem afirmar ou negar nada acerca dela.62

    57 Manuel Gonzalo Casa, Introduccin a la filosofia, 3. ed. Madri: Gredos, 1967. p. 71.58 Aloys Muller, Introduccin a la filosofia, trad. de Jos Gaos, 2 ed. Buenos Aires: Espasa, 1940. p.41.59 D. J. Sulliivan,Fundamentos de filosofia, trad. Gonzalo Gonzalvo Mainar. Madri: Ediciones Morata, 1920. p.101.60 P. B. Medawar, Induzione e intuizione nel pensiero scientifico. trad. de Triete Valdi. Roma: Editore Armando,1970. p. 37.61 Carl G. Hempel, La formazione dei concetti e delle teorie nella scienza emprica, 3. ed. trad. de AlbertoPasquinelli. Milo: Feltrinelli Editore, 1976.62 Manuel Gonzalo Casas, Introduccin a la filosofia, 3 ed. Madri: Gredos, 1967. p. 219.

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    A unio da forma intencional com o intelecto que dela resulta, de modo a por emanifesto o ato de conhecer o objeto, na sua perspectiva ideal ou real, que constitui o tecentral das discusses deste trabalho.

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    3.O objeto na Filosofia

    Na Filosofia clssica, com exceo dos sofistas63 e dos cticos,64 no se apresenta,em linha de princpio, o problema dos objetos do conhecer, especialmente quanto scapacidade de adequar as coisas.65 Para Aristteles, a alma faculdade do conhecimento, no atono qual conhece, torna ou transforma, de certo modo, todas as coisas, isto , realiza aquilo em seguida ser chamado de identidade intencional entre sujeito cognoscente e realiddesconhecida, no importando em que nvel de aprofundamento.66 No pensamento medieval,

    pe-se a ateno sobre o fato de que a atividade da nossa faculdade cognoscitiva tal, terminar em um produto interno a alma, que conhece a realidade abstraindo dela as espcsensveis e elaborando as espcies inteligveis em representao dessa realidade objetiva (Tode Aquino fala de umarepraesentatio rei: representao da coisa).67 Distingue-se assim (porexemplo, com G. Duns Scott) entre um objeto que segundo ele mesmo, mas no pode epresente no nosso intelecto, e a espcie que no intelecto nele se faz ver.68

    Descartes operou uma genial simplificao desses problemas, fazendo d

    conscincia mesma o fundamento da evidncia de si e dos prprios objetos de pensament69 Depois de Descartes nos percursos do fenomenismo (seja racionalizado, seja emprico), firmse reconhecimento da relao entre o intelecto e os prprios objetos.70 O objeto poderia serdesignado como uma sensao ou um sentimento ao qual se caracterizaria oeu penso, ou uma

    63 F. Adorno, T. Gregory, V. Verra, Storia della Filosofia, v. 1. Roma-Bari: Laterza, 1981. p. 181.64 Idem. 65 Ibidem. 66 Ibidem. 67 Givanni Reale, Dario Antiseri, Il pensiero occidentale dalle origini ad oggi, v.1, 21 ed. Brescia: Editrice LaScuola, 1998. p. 491.68 Idem. 69 Nesse sentido a IV Parte do Discurso do Mtodo,op. cit. 70 Idem. Tudo em coerncia com o seu mecanicismo subjetivista, pois Descartes sabidamente admite dois grausser: o esprito e a matria. Segundo ele a realidade redutvel a conceitos puramente mecnicos (posimovimento, impulso etc.), e todo acontecimento comporta uma explicao mediante leis mecnicas e, portacalculveis. subjetivista porque o dado ltimo e o ponto de partida necessrio da Filosofia o pensamento. Dser lembrado que Descartes era adversrio declarado da lgica formal, por no reconhecer a intuio intelecmas to-somente percepo sensvel das coisas individuais. Alm disso, era um nominalista. Cf. a anlise das idde Descartesin A filosofia de Descartes, John Cottingham, trad. de Maria do Rosrio Sousa Guedes. Lisboa:Edies 70, 1989. p. 111.

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    imagem do meu esprito e no, necessariamente, um objeto que exista realmente no mundoresultado foi a ampliao da potncia docogito a muito alm dos limites nos quais Descartes otinha tomado.71

    Kant circunscreve o conhecimento objetivo s coisas pelas quais nos veoferecido o material da sensibilidade.72 nessa perspectiva que Deus, a alma e o mundo comototalidade vm excludos de tal conhecimento, enquanto o universo fsico-matemtico nos eem pleno ttulo e o modo moral se dota de um nvel de objetividade entendida comuniversalidade da razo.73

    71 Ibidem. O cogito de Descartes lhe assegurava o acesso realidade, e pari passu, entre o esprito e a matria eleestatua uma relao de causa e efeito. Cf. Husserl nas Meditaeschamou a ateno disso.72 Cf. Crtica da razo pura. p. 111.73 Apelamos ao exemplo em respeito ao raciocnio original e no por sua invocao considerada em atitmeramente didtica e novamente rechaamos como o fizemos em nota anterior que Deus no tomado conenhuma entidade. Cf. nesse aspecto D.J. Sullivan,Fundamentos de filosofia, trad. Gonzalo Gonzalvo Mainar.Madri: Ediciones Morata, 1920. p. 53.

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    4.O objeto na Filosofia contempornea

    na Filosofia contempornea que as questes relativas ao objeto alcanam, comaior preciso, os objetivos deste trabalho. Franz Brentano, que pode ser qualificado commais expressiva e caracterstica das personalidades a por em discusso, em linha originrinicial, o problema do objeto na contemporaneidade filosfica, preocupa-se em determinapartir da diferena entre fenmenos psquicos e fsicos, sob a perspectiva da intencionalidadecaracterizao de um objeto (que talvez hoje melhor se chamasse de relao com um conte

    Desse modo, provoca as concepes fenomenolgicas de Edmund Husserl convencionadapartir deessncias. E, finalmente, Alexius Meinong, que no apenas aprofunda a doutrina dintencionalidade e a descrio dos fatos psquicos proposta por seu mestre Brentano, mtambm as modifica radicalmente ao afirmar que o objeto distingue-se do ato que o percebefoi por isso, necessria a concepo de uma teoria, aTeoria dos Objetos. Segundo Meinong aTeoria dos Objetos deveria analisar os vrios tipos de objetos, estudando as relaes entre elesos respectivos atos psquicos, o que seria uma cincia mais universal, que incluiria, em mbito, tudo aquilo que pode ser percebido pelo pensamento, independente de sua condi

    ontolgica.74 Assim, os diversos atos psquicos possuem objetos que lhe so prprios e, desmodo, representao do juzo, ao sentimento e ao desejo correspondem outros tantos tipoobjetos.75

    Uma ontologia entendida como teoria ou descrio geral dos objetos, destinaa estabelecer uma (nova) organizao do conhecimento, foi, sem dvida, uma taredesencadeada por Franz Brentano. Conquanto no tenha Brentano batizado a sua filosofia cosendo umaTeoria dos Objetos, foi ele que concebeu a gnese da descrio dos contedosintencionais da conscincia. Seu discpulo Husserl no concluiu ou elaborou os pormenores

    74 So contados os seguintes autores que tiveram Brentano como mestre: o prprio Husserl (Viena 1884-18Meinong (Viena 1875-1878), Carl Stumpf (Wrzburg 1866-1870), Christian von Ehrenfels ( ), KazimTwardowski (Viena 1885-1889), Anton Marty (Wrzburg 1866-1870), Alois Hfler ( ), Toms Masaryk ( Sigmund Freud ( ).75 Meinong, Alexius.Thorie de L'Objet et Prsentation Personell. Trad. francesa do alemo por Jean-FranoisCourtine e Marc de Launay. Paris, Librarie Philosophique J. Vrin. 1999, p. 81-82

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    que seria a arquitetura definitiva da Filosofia, a partir do objeto, de uma forma nominaddeclarada, embora sejam os objetos integrantes dos princpios diretivos da FenomenologiaFenomenologia vocacionada a ser tornar, em certo sentido, uma cincia preliminar parnoo dos objetos que esto ante o sujeito. digno de nota que no s em Husserl e

    fenmeno se manifestou, pois outros filsofos de seu tempo - discpulos como Stumpf Charles Sanders Pierce de Brentano - tomaram ou enriqueceram os aportes de sua filosofpartir da idia de objeto. verdade que o pensamento profundo e apurado de Husserl muitodestacou e se distanciou dos outros filsofos, o que torna a sua filosofia muito avanada relao qualquer outra citada. Coube a Meinong, entretanto, constituir, de forma estritaTeoria dos Objetos, cujos materiais e concluses, bom que no se olvide, so utilizados ahoje por todos os fenomenlogos.76

    So essas questes que, em espao nico e em apertada sntese, permitem colheobjeto, entendido como o prprio situar-se para conhecer algo. Ou, mais propriamente: taquilo que se est por conhecer.

    76 Mauro Antonelli, Alle radici del movimento fenomenolgico Psicologia e metafsica nel giovane Franz Brentano.Bolonha: Pitagora Editrice, 1996. p. 47.

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    PARTE IIIHUSSERL, MEINONG E A ORIENTAO COMUM DE BRENTANO

    1o.

    Consideraes gerais

    A filosofia de Edmund Husserl , tal como a de Alexius Meinong, derivada doutrina de Franz Brentano,77 professor de ambos na Universidade de Viena. Brentano retomou

    o conceito escolstico daintencionalidade e o reformulou, a partir de uma outra concepo maismoderna e precisa, da qual Edmund Husserl serviu-se para estruturar a sua formulao teortque denominou de Fenomenologia.78 Inspirada no mestre comum, aTeoria dos Objetos,elaborada por Alexius Meinong, em muitos aspectos assemelha-se Fenomenologia, queindiscutivelmente, mais importante e seguida por um movimento ao qual se associareminentes representantes, inicialmente na Alemanha e mais tarde em todo o mundo. E a isssoma o fato de que Husserl foi capaz de orientar as bases de uma outra escola filosficagrande expresso: o Existencialismo.79 A influncia de Husserl tambm espraiou-se por outras

    direes, dentre as quais se destaca o Realismo ingls, do qual G. E. Moore o mproeminente representante, e, de forma diferenciada, na Metafsica de Nicolai Hartmann.80

    77 Conquanto tenha excedido grandemente a ambos, em verdade, Husserl valeu-se no s da Filosofia de FrBrentano, mas, tambm de outros filsofos, como, por exemplo, do Psiclogo Carl Stumpf. Cf. Sokolowski.Op.Cit . p. 223.78 A influncia de Franz Brentano no se limitou aos dois ilustres filsofos citados e nem mesmo Filosofia, jparticipou dos estudos de Sigmund Freud, como seu professor na Universidade de Viena. Brentano influencioconhecido pai da Psicanlise, como revela sua correspondncia, pelos cinco cursos que fez com Brentano, ao pde questionar seu prprio atesmo, em razo dos argumentos do mestre, e por considerar a possibilidade de duplo doutoramento de modo a compatibilizar a Filosofia com as cincias naturais positivas, mas semcontribuies especficas de Brentano Fenomenologia. Cf. Renato Mezanin Viena e as origens da psicanlise eCarlos Doinhin Literatos e filsofos de lngua alem em Freud , ambos integrantes da obra coletiva coerdenada porMarialzira Perestrello A formao cultural de Freud , Rio de Janeiro: Imago, 1996. p. 89 e 204, respectivamente.Confira ainda Roger Dadoum,Freud . Trad. de Jos Afonso Pedrosa de Oliveira. Lisboa: Publicaes Dom Quixote1986. p. 52. Peter Gay, Freud, trad. Denise Bottmann. So Paulo: Companhia das Letras, 1999. p. 43, 45 e 477.79 Xavier Tilliette, Breve introduzzione all fenomelogia husserliana, trad. de Enrico Garulli. Lanciano: EditriceItinerari Lanciano, 1993. p. 118.80 Meinong, como exposto adiante, tambm influnciou Moore, o que se constata na principal obra desse auPrincipia Ethica, na qual os seus princpios tericos fizeram-se presentes de forma inegvel e inequvoca. Husstambm foi inpirado pela obra de Meinong, como reconhecem diversos estudiosos de sua doutrina. Cf. I.Bochenski, A filosofia contempornea ocidental, trad. de Antnio Pinto de Carvalho. So Paulo: E.P.U., 1975. p.

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    Faz-se necessria, para a adequada compreenso do tributo de Husserl Filosohodierna, retornar aos albores do Sculo XXI.81 No movimento filosfico iniciado nas primeirasdcadas do sculo passado por Husserl j existiam diferentes tendncias, as quais, com efe

    poderiam ser reduzidas a dois grupos: um representado pelo prprio Husserl, que pexperincia fenomenolgica pretendia chegar a uma filosofia das essncias; e outro, capitanepor Heidegger, que se valendo do mesmo mtodo, com alguns ajustes, trata de construir ufilosofia existencial.82

    Partindo de premissas similares quelas adotadas por Edmund Husserl, embora relativa importncia, mas de grande influncia na Filosofia, merece destaque a obra de AlexMeinong, o fundador daTeoria dos Objetos. Discpulo declarado de Franz Brentano, Meinong

    desenvolve elementos de concepo do seu mestre de forma coeva a Husserl, pois a sua ocapital,Ueber die Annahmen, foi publicada em 1902, e a obra de Edmund Husserl, denominad Logische Untersuchungen veio a lume em 1900-1901. A contemporaneidade das idias dHusserl e Meinong irretorquvel e serve para demonstrar a influncia que um exerceu soboutro. de ofuscante nitidez, entretanto, a influncia que o professor comum Brentano j htransmitido a ambos os filsofos-discpulos.83

    Dentre as mais relevantes contribuies de Meinong Filosofia, pode-s

    salientar, de forma inegvel, a influncia que exerceu sobre a obraPrincipia Ethica, de Moore.84 A teoria de Meinong fez-se sentir tambm em vrios aspectos da obra de Bertrand Russel.85 Acontribuio de Meinong ao (neo)realismo destacada e reconhecida, especialmente quandcomparada com a obra de Edmund Husserl. E essa influncia chegou ao neo-realismo noamericano e ao ingls, e, em certa medida, ao materialismo dialtico.86 A influncia de Meinong

    81 Cf. a profunda apresentao de Miguel Garcia-Bar, obra de Adolf Reinch, Indroduccin a la fenomenologia,Trad. de Rogrio Rovira. Madri: Ediciones Encuentro, 1986. p. 9.82 Sofia Vanni Rovighi, La fenomenologia di Edmund Husserl: Appunti delle lezioni. Milo: Celuc, 1973. p. 51.

    83 Liliane Albertazzi, Introduzione a Brentano.Roma-Bari: Latrza, 1999. p.29.84 Cf.Principia Ethica, de G.H. Moore, trad. de Maria Manuela Rocheta Santos e Isabel Pedro dos Santos. LisboFundao Calouste Gulbenkian, 1999. Cf. ainda a obra coletivaThe Philosophy of G. E. Moore, organizada porPaul Arthur Shilpp, especialmente o texto de Morris Lazerowitz, denominado Moores Paradox, Londres:Cambridge University Press, 1968. p. 371.85 Cf. Michele Lenoci, La teoria della conoscenza in Aleixus Mainong. Milo: Vita e pensiero, 1972. p. 30.86 A. S. Bogomolov, A filosofia americana no sculo xx, trad. de Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: CivilizaoBrasileira, 1979. p. 118.

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    no se limitou Filosofia, infliltrou-se tambm na Psicologia, especificamente na nooGestalt e na prpria psicologia gestltica.87

    Tanto Husserl como Meinong inspiraram-se de forma manifesta e declarada

    obra de seu mestre comum, Franz Brentano. Brentano afastou-se da Igreja em 187388

    e deixou actedra de Teologia Catlica em Wrzburg para dedicar-se Filosofia. Inicialmente, lecioFilosofia na prpria Wrzburg, e, posteriormente, em Viena, como professor oficial e depcomo auxiliar (1880-1895).89 Foi nessa ltima universidade, como mestre, que conheceu Hussee Meinong.90

    O meio intelectual que rodeou Franz Brentano em seus primeiros anos no se fpresente em seus escritos.91 No lhe interessaram a literatura, nem a poltica. Ele tambm

    renunciou s benesses e aos privilgios que lhe poderiam advir da posio influente de sfamiliares.92 Brentano converteu-se em um sacerdote dominicano, mas ao final de nove anabandonou a Igreja Catlica, especificamente em 1873.93 Foi posteriormente professor emWrzburg e em Viena, e passou os ltimos vinte anos de sua vida na Itlia e na Sua.94

    As principais contribuies de Franz Brentano tiveram lugar nos campos dEpistemologia, da Lgica, da Axiologia e da Psicologia.95 Proclamou a Psicologia como base daFilosofia e aproximou-se da Metafsica.96 No acreditava em sistemas metafsicos, mas sim na

    87 Cf. Elmar Holenstein, Jakobson o Estruturalismo fenomenolgico, trad. de Antnio Gonalves. Lisboa: EditorialVeja, s/d. p. 68.88 Brentano foi indicado para a defesa de tese da falibilidade papal, rechaada no Conclio Vaticano I, em 1870os pormenoresin Introduzione a Brentano, Liliana Albertazzi. Roma-Bari: Laterza, 1999.p. 136.89 Idem.

    90 Ibidem. 91 Seu mais importante e notrio trabalho foi, sem dvida, Lorigne de la connaissance moral, trad. de Marc deLaunay e Jean-Claude Gens. Paris: Gallimard, 2003.92 S travou relaes cordiais com seu irmo Lujo, famoso economista poltico e terico defensor do livcomrcio. Seu pai, Christian Brentano, devoto catlico e autor de obras religiosas, cuidou pessoalmenteeducao do filho. Cf. Introduzione a Brentano, de Liliana Albertazzi. Bari: Laterza, 1999. p. 5. Alm disso erasobrinho do conhecido escritor Clemente Brentano, que certamente muita influencia gerou em Brentaespecialemte por sua conhecida articulao terica. Cf. ainda Mauro Antonelli, Alle radici del movimento fenomenolgico psicologia e metafsica nel giovane Franz Brentano. Bolonha: Pitagora, 1996. p.23..93 Cf. Liliana Albertazzi, Introduzione a Brentano, Roma-Bari: Laterza, 1999. p. 6. Sobre o problema cf.94 Sobre Brentano cf. Francesca Modenato,Conscienza ed essere in Franz Brentano. Bolonha: Ptron Editore,1979. p. 13.95 Cf. Michele Lenoci,in Histria da Filosofia contempornea, 3. ed., coordenada por Sofia Vanni Rovighi, trad.de Ana Pareschi Capovilla. So Paulo: Edies Loyola, 200. p. 344.96 Uma das mais caractersticas contribuies de Brentano foi o seu Psicologismo de fundo epistemolgicoLiliana Albetazzi, Introduzione a Brentano. Roma Bari: Laterza, 1999. p. 5.

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    possibilidade de algum conhecimento metafsico fidedigno97 e foi resolutamente contrrio aoidealismo alemo, de maneira que chegou a afirmar que as cincias naturais ofereciamverdadeiro mtodo do pensamento filosfico.98 Rechaou a Psicologia fisiolgica de WilhelmWundt e de seus seguidores, que intentavam fundar uma escola da Psicologia lastreada

    mtodos de laboratrio, e reabilitou o conceito escolstico de relao intencional da conscicom seu objeto.99 Para Brentano, a intencionalidade precisamente o carter essencial dos fatpsquicos, tal como se oferecem a nossa experincia.100 Acentuou as diferenas fundamentaisentre o juzo e a representao, dois modos completamente distintos de conhecer um objeto101 Sua enrgica oposio aos intentos de reduzir a Lgica Psicologia foram de grande importpara Husserl e Meinong, a cujo trabalho nos debruamos, pari passu, com outros dos seus maisdestacados discpulos, dentre os quais Stumpf 102 e Ehrenfles.103

    Em um exame mais remoto da concepo de Brentano, pode-se afirmar que sFilosofia parte da premissa neokantiana do transcendental, que fundada na estrutura conscincia.104 E dessa orientao subjetivista que deriva a obra de Meinong.105 Na crise dopsicologismo, que o aceitou em uma linha objetivista, Meinong exps a Husserl suas crticacomo corolrio delas, contribuiu para a origem da corrente fenomenolgica, com o conceitointencionalidade da conscincia, que foi aperfeioado por Husserl.106 Demais disso, paraEdmund Husserl, se a Lgica no obedece nem ao formalismo, nem ao psicologismo,107 entosomente uma experincia purificada proporcionaria a elucidao de qualquer investigao;

    se daria pelo que denominou de reduo eidtica ou simplesmenteepoch.108

    97 que parecer sustentar, Cf. Lliana Albertazzi , op. cit . p. 12.98 Defesa que fez O carter autntico de pensamento de Brentano a maneira desafiadora e contemporaneamepouco tradicional como sua obra se apresenta, cf. nos seus desafios com a Igreja Catlica. Cf. Michele Lenociin, Histria da Filosofia Contempornea, 3, ed.,coordenado por Sofia Vanni Rovighi, trad. de Ana PareschiCapovilla. So Paulo: Loyola, 2004. p. 343.99 Cf. Michele Lenoci, Histria da filosofia, op. cit.Ver ainda W. Wundt, Princpios de Filosofia. trad. de LuisZulueta. Madri; La Espanha Moderna, 1922. passim. 100 Cf. Juan A. Casaubon, Historia de la filosofia. Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1994. p. 212.101 Gabriele Giannantoni, Le filosofie e le scienze contemporanee. Turim: Loescher, 1996. p. 365.102 F. Adorno, T. Gregory, V. Verra,Storia della filosofia, v. 3, Roma-Bari: Laterza, 1981. p. 456.103 Nicola Abbagnano, Histria da filosofia, trad. de Antnio Ramos Rosa, Conceio Jardim e Eduardo LcioNogueira, Lisboa: Presena, p.104 Nesse sentido: Mauro Antonelli, Alle radici del movimento fenomenolgico Psicologia e metafsica nel giovaneFranz Brentano, Bolonha: Pitagora, 1996. p. 24.105 Conf. Michele Lenoci, La teoria della conoscenza in Alexius Meinong, Milo: Vita e Pensiero, 1972. p.25.106 Filosofia da Aritmtica, 1891,op. cit. 107 Investigaes Lgicas ( 1900-1901), op. cit. 108 Idias para uma fenomenologia pura, 1913),op. cit.

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    2o.A intencionalidade da conscincia

    No primeiro plano de sua obra sobre os mltiplos significados do ser emAristteles,109 Franz Brentano dedicou-se, com reformulaes, distino aristotlica entre oserem sentido prprio, que se articula nas categorias, e oser no mundo da verdade, ou seja, o serque observa as coisas enquanto so por ns conhecidas.110 Essa uma distino bem conhecida,que Brentano desenvolvia de forma magistral em um ensaio que tem por tema a doutrina categorias de Aristteles. Nesse estudo, Brentano manifesta inteno expositiva e autn

    preocupao filosfica.111 Na forma regiminis dessa discusso, toda oriunda de concepesaristotlicas, no difcil avistar preocupao terica mais geral que,grosso modo, reconduz-sediretamente essncia do conceito deintencionalidade; conhecer significa, de fato, reportar-ses coisas, mas a nossa relao com o conhecimento ocorre, necessariamente, sobre terrenosubjetividade.112

    Sustenta Brentano que aosobjetos reais ladeiam osobjetos conhecidos, ou maispropriamente aqueles representados pela experincia, que se apresenta como uma relao qu

    reporta realidade, e volta a propor uma forma, que compete aos objetos prpriosenquanto sorepresentados (conhecidos, queridos etc.) pela objetividade, como entidades intencionais, objque in-existem intencionalmente na conscincia.113 Sublinhar que as coisas, enquanto soexperimentadas, adquirem uma forma intencional de existncia quer dizer tambm, pBrentano, reconduzir, sob a marca da intencionalidade, todos aqueles predicados que npertencem s coisas na sua imediatidade, mas, to-somente, aos objetos enquanto sexperimentados por ns.114 Das propriedades reais que existem nas coisas das quais temoexperincia deve-se dis