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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A Importância da Psicomotricidade para o Desenvolvimento Infantil através do Futebol
por
Rodrigo Vieira Azevedo Souza
Orientador
Prof. Ms. Nilson Guedes de Freitas
Rio de Janeiro Julho, 2004
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A importância da Psicomotricidade para o desenvolvimento infantil através do Futebol
Por
Rodrigo Vieira Azevedo Souza
Trabalho apresentado em cumprimento às exigências para obtenção do grau de especialista no curso de pós-graduação psicomotricidade da Universidade Candido Mendes Projeto A vez do mestre.
Rio de Janeiro Julho,2004
DEDICATÓRIA
À minha esposa Daniela,
dedico este trabalho pelos
momentos de companheirismo e
apoio na sua realização.
À minha filha Marcela, um
estímulo eterno para continuar.
Dedico também a todos que
me incentivaram nos momentos
mais difíceis, dando forças para
superá-los.
RESUMO
A presente monografia teve como objetivo investigar formas através das quais o futebol possa ser utilizado como importante instrumento de desenvolvimento global, dada sua inerente riqueza quando educativamente explorada, de vivências motoras e cognitivas. Defende-se que a exploração do aspecto competitivo do futebol deveria ser substituída em favor de seus inúmeros aspectos que favorecem o desenvolvimento psicomotor, especialmente em crianças na fase inicial de seu desenvolvimento. Devido à sua grande popularidade , assim como a capacidade de oferecer momentos de grande prazer a quem o pratica , o futebol foi o desporto escolhido para este estudo. Para tanto, utilizou-se como metodologia, a pesquisa bibliográfica , cuja literatura foi fundamental para a concretização do estudo, por proporcionar um maior conhecimento do assunto abordado e um maior embasamento teórico. A faixa etária escolhida para a realização deste trabalho foi de seis a oito anos de idade, com crianças do sexo masculino. Um dos principais fatores que determinaram esta escolha, foram as experiências vivenciadas pelo autor, onde crianças (através da prática do futebol), alcançaram um significativo desenvolvimento em seus aspectos motor e social. Esta pesquisa foi organizada em três capítulos, onde, baseado nos estudos de Le Boulch, Piaget, Mello, M.L Santos, Ramos e E. Santos procurou-se relacionar Psicomotricidade e futebol, tendo como objetivo o desenvolvimento infantil . A monografia destaca em sua conclusão, a importância da prática de atividades físicas para crianças, desde que sejam feitas com prazer e encaradas como um momento de brincar.
Palavras-chave : Educação . Psicomotricidade . Futebol
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................... 7
1. Psicomotricidade e Desenvolvimento Infantil...................................... 10
2. Dados Históricos e Conceito de Futebol............................................. 19
3. Futebol e Desenvolvimento Infantil..................................................... 27
CONCLUSÃO........................................................................................... 38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................... 42
ANEXO..................................................................................................... 43
ÍNDICE..................................................................................................... 44
FOLHA DE AVALIAÇÃO......................................................................... 45
INTRODUÇÃO O presente estudo procura analisar os meios pelos quais o futebol pode ser trabalhado , a partir das teorias psicomotoras ligadas ao desenvolvimento motor, em crianças com idade de seis a oito anos. Em outras palavras, procurou-se descobrir que contribuição a Psicomotricidade poderia dar às escolinhas de futebol para se otimizar o desenvolvimento infantil na referida faixa etária.
Para alcançarmos tal intento, o procedimento metodológico adotado
para a realização deste trabalho foi a pesquisa bibliográfica , ou seja ,
desenvolvida a partir de material já elaborado , constituído principalmente de
livros e artigos científicos . Esse tipo de pesquisa trouxe, como já foi colocado ,
informações de estudos já realizados, como também, mostrou resultados de
trabalhos práticos, que haviam sido direcionados para crianças da faixa etária
em questão , e que obtiveram sucesso.
Assim, o objetivo principal desta pesquisa é mostrar de que forma este
desporto , o futebol , pode servir como ferramenta para se otimizar e promover,
ao máximo , o desenvolvimento motor nas crianças em período de
escolarização. As referências utilizadas se basearam nos estudos que autores
como Le Boulch , Piaget , e Mello no campo da Psicomotricidade, e Viana e
Melo no área do desporto, fizeram, incluindo seus experimentos práticos e
atividades desenvolvidas, os quais contribuíram para a formulação de outras
atividades posteriormente propostas neste trabalho.
O futebol foi o desporto escolhido para o estudo pelo fato de ser um
esporte praticado no mundo inteiro, por milhões de pessoas , e de oferecer
grande prazer a quem o pratica, independentemente da idade. Se já existe
tanta motivação, basta, somente, direcionar o trabalho para que o objetivo, no
caso, o desenvolvimento psicomotor, possa ser alcançado. A faixa etária
analisada foi determinada por despertar grande interesse no autor pelo
conhecimento das teorias psicomotoras apresentadas; e por este ter vivido
uma experiência com um aluno de sete anos que, através do futebol, em pouco
tempo, alcançou um grande desenvolvimento em seus aspectos motor e social.
Este caso será explicitado com mais detalhes no capítulo 3 do presente
trabalho.
Devido a esse imenso interesse que o futebol desperta nos indivíduos, e
pelo fato de sua magnitude estar transformando-o em um mercado lucrativo, a
criança ao iniciar sua prática, geralmente, passa a ser vista e cobrada como
simples objeto a ser lapidado até atingir um alto nível de performance. Desta
maneira, acaba-se esquecendo de todos os outros aspectos positivos, como o
prazer a alegria, que podem advir com a prática do futebol.
Pessoas que trabalham com futebol, pais, e até alguns profissionais,
esquecem que o principal na atividade desenvolvida pela criança (seja ela o
futebol, a dança, ou qualquer outra atividade física e cognitiva ), é a formação
do seu intelecto, da sua motricidade e da sua sociabilidade; buscando
desenvolver em primeiro lugar, não um atleta, visto e tratado como algo
lucrativo, mas sim um ser humano ético, saudável e inserido na sociedade.
A fim de melhor alcançar os objetivos propostos, o presente estudo foi
organizado em três capítulos. No capítulo 1, intitulado Psicomotricidade e
Desenvolvimento infantil, procura mostrar a importância dos conceitos
psicomotores aplicados à atividade física, através, principalmente das teorias
de Le Boulch e de Piaget, para se trabalhar com crianças de seis a oito anos
de forma valiosa e consistente, contribuindo para seu desenvolvimento motor e
cognitivo. Serão mostrados, também, habilidades motoras e funções
psicomotoras, para que se compreenda de forma global o assunto abordado.
No segundo segmento, Dados Históricos e Conceito de Futebol , tem por
objetivo conceituar o referido desporto , sua origem , destacar sua influência no
contexto social e econômico do país , além de relacionar (apoiados na literatura
de grandes conhecedores do assunto , como M. L. Santos , Beltrão , Ramos e
E. Santos ) passagens históricas e informações técnicas muito interessantes e
valiosas para a confecção deste estudo.
O capítulo 3, Futebol e Desenvolvimento Infantil, tenta mostrar como o
futebol pode servir de instrumento para se alcançar um desenvolvimento
satisfatório da criança . Procurou-se chegar a essas informações através da
observação de atividades realizadas numa escolinha de futebol, e através de
autores como Viana e Melo , que trouxeram relevantes e produtivas
informações.
1. PSICOMOTRICIDADE E DESENVOLVIMENTO
INFANTIL Historicamente, ao longo dos séculos, a significação do corpo sofreu inúmeras transformações. Desde Aristóteles passando pelo cristianismo, havia a divisão corpo/alma, onde o corpo era negligenciado em relação ao espírito. A partir do século XIX, o corpo passou a ser estudado por neurologistas com o objetivo da compreensão das estruturas cerebrais, e posteriormente por psiquiatras para o conhecimento das patologias mentais.
O desenvolvimento da consciência corporal, da reflexão e da
criatividade, além do pleno desenvolvimento afetivo, cognitivo e motor, constitui
alguns dos objetivos da psicomotricidade que, se alcançados, possibilitarão
adultos sadios e felizes.
Proporcionar o trabalho psicomotor irá ajudar na estruturação da
personalidade da criança, já que ela pode expressar melhor seus desejos,
elaborar seus fantasmas, desenvolver suas necessidades e trabalhar suas
dificuldades.
1.1- Definições de Psicomotricidade
Há várias definições de psicomotricidade. O termo evoluiu seguindo uma
trajetória primeiramente teórica, depois prática, até que se chegasse a um
meio-termo entre as duas. Dentro desta evolução, fixou-se sobretudo no
desenvolvimento motor da criança. Depois, estudou-se a relação entre o atraso
do desenvolvimento motor e o atraso intelectual da criança. Seguiram-se os
estudos até se chegar a um ponto de equilíbrio, onde a psicomotricidade
ultrapassa os problemas motores e cognitivos, buscando trabalhar também a
relação entre o gesto, a afetividade e a qualidade de comunicação. Segundo a
Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, fundada em abril de 1980,
“psicomotricidade é a ciência que tem por objeto de estudo o homem através
do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo,
bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir com o outro, com os
objetos e consigo mesmo “.
Com base nessas considerações iniciais, evidencia-se a contribuição
que a psicomotricidade aplicada à atividade física pode oferecer na tentativa de
se viabilizar um desenvolvimento satisfatório em crianças na faixa etária de
seis a oito anos.
Antes de mais nada, é fundamental considerarmos a educação como um dos instrumentos mais significativos para obtermos uma resposta positiva, ao propor exercícios a crianças da faixa etária referida, tendo total confiança que estes lhe proporcionarão prazer e motivação.
Para que isto ocorra, é de extrema importância que a atividade esteja
adequada à realidade da criança, ou seja , que ela se identifique com cada
palavra e ação proposta, ou seja, se faz necessário que os aprendizados
estejam ligados às situações vividas.
Com relação a esta questão do aprendizado, para que ele realmente se concretize, é fundamental fazer com que as crianças tenham “fome“ de aprender. Isso também fica explícito nas palavras de Alves (1988, p.12), quando ele diz : “devemos fazer com que o desejo do corpo se ofereça à educação. É isto : começar pelo desejo...” . 1.2 - A importância do brincar para o desenvolvimento infantil Para que este efeito surja na criança, nada melhor que utilizar o brincar. É extremamente importante que a criança se expresse espontaneamente através do ato de brincar, possibilitando o surgimento de situações e experiências com grande riqueza de significados.
Vemos, a partir disso, que a educação possui um papel fundamental na aprendizagem infantil, ou seja, ela é importantíssima no processo de desenvolvimento psicomotor da criança. Podemos até afirmar que uma das primeiras tarefas da educação é ensinar a ver; ou seja, temos que orientar a criança para que ela, por si só, tome consciência da vida, dos prazeres e das obrigações que tem consigo e com o mundo. Indubitavelmente, o afeto é imprescindível para que a criança se doe ao trabalho, além disso, ele encurta o caminho que faz a criança ter interesse em aprender. Wallon (apud MELLO, 1989), dedicou especial atenção à esfera emocional, dando origem ao que chamou Diálogo Tônico - emocional, onde sorrisos, sinais de contentamento, choro, etc, são significativas expressões gestuais afetivas. Além disso, em idade inicial de escolarização, a criança necessita vivenciar muitas e diferentes situações. Em relação a isso, Le Boulch (1987) deixa clara a importância do adulto não intervir excessivamente, para que haja possibilidade da criança reagir de modo global, favorecendo a expressão da espontaneidade. É importante deixar a criança com total liberdade para criar. Isso a ajuda a desenvolver sua parte cognitiva, fazendo com que seu raciocínio fique mais veloz e suas idéias cada vez mais complexas, aumentando assim, sua autoconfiança. A criança deve se sentir livre para agir, sem ser controlada, e isto deve ocorrer durante todo o processo de desenvolvimento. Dentre as diversas maneiras de se trabalhar com criança, tendo como base a teoria de Le Boulch, é necessário deixá-la experimentar até mesmo para que se possa descobrir a
riqueza que ela tem. Utilizar diversos materiais, usar o corpo dos colegas , explorar o espaço físico disponível. Trabalhando dessa forma , estaremos oportunizando o surgimento de novas situações - problemas para a criança, criando nela a possibilidade de enfrentar essas situações e buscar caminhos para desenvolver inclusive a parte cognitiva. 1.3 - Estágios operacionais segundo Piaget O desenvolvimento infantil para Piaget (apud FLAVELL, 1965), até os onze anos de idade pode ser dividido em períodos com características específicas, como serão explicados a seguir. A partir do nascimento, a criança se encontra no período, classificado por Piaget, de Sensório - motor. Neste período inicial, a criança se desenvolve de um nível neonatal, onde se reflete a completa indiferenciação entre o eu e o mundo, para uma organização relativamente coerente de ações sensório - motoras, diante do ambiente imediato. O período seguinte, denominado por Piaget como Período de preparação e de organização das operações concretas , possui uma subdivisão, os sub - períodos. O primeiro destes é o subperíodo das representações pré operacionais; o segundo, das operações concretas. Estes subperíodos foram respectivamente, descritos através da teoria Piagetiana, como o seguinte :
Trata-se daquele período, na infância inicial, no qual a criança realiza suas primeiras tentativas relativamente desorganizadas e hesitantes de enfrentar um mundo novo e estranho de símbolos. O trabalho desta fase preparatória frutifica no subperíodo seguinte, das operações concretas. Nele, a organização conceitual do ambiente circundante torna-se lentamente estável e coerente, dada a formação de uma série de estruturas chamadas agrupamentos. Particularmente neste subperíodo, a criança começa a parecer racional e bem organizada em suas adaptações; parece possuir um quadro de referências conceitual razoavelmente estável e regular que aplica sistematicamente ao mundo de objetos que a rodeia (FLAVELL, 1965, p. 86 ).
Para reforçar a importância do cuidado que se deve ter ao trabalhar com desenvolvimento psicomotor em crianças, nestas primeiras séries escolares, as quais correspondem ao período citado acima, Mello (1989), recomenda que deve ser estimulado e estruturado o esquema corporal, o equilíbrio, a coordenação e a motricidade fina, tendo o professor total consciência do trabalho que está sendo realizado neste ou naquele exercício. Posteriormente, ocorre o período que é definido por Piaget, segundo Flavell (1965), como Período das operações formais. Durante esse período, ocorre uma reorganização nova e definitiva; o adolescente é capaz de lidar eficientemente, não só com a realidade que o cerca, mas também, com um mundo das possibilidades, o mundo das afirmações abstratas e proposicionais. Com isso, Piaget vê a criança, de seis a oito anos, inserida numa fase de transição entre o subperíodo pré-operacional, onde a criança deixa de ser um organismo, cujas funções mais inteligentes são ações sensório-motoras e explícitas, e se transforma num organismo cujas cognições superiores são manipulações internas e simbólicas da realidade. Neste contexto, este subperíodo demonstra vários pontos importantes a serem abordados no presente estudo. Um dos mais evidentes é o egocentrismo. Nele, a criança demonstra freqüentemente, uma relativa incapacidade de assumir o papel de outra pessoa, ou seja, de considerar seu próprio ponto de vista como um, entre muitos outros, e de tentar coordená-lo com estes outros pontos de vista. Este fenômeno se manifesta nitidamente na área da linguagem e da comunicação, onde a criança parece fazer pouco esforço no sentido de
adaptar sua linguagem falada às necessidades do ouvinte. Outro relevante ponto do pensamento pré-operacional, conhecido como centração , é a tendência da criança centrar a atenção num aspecto único e saliente do objeto sobre o qual o raciocínio incide, o que produz uma distorção deste; ela assimila apenas aqueles aspectos superficiais que mais chamam sua atenção. A irreversibilidade é mais uma característica marcante. As crianças caem constantemente em contradição, porque não são capazes de manter suas premissas inalteradas, durante uma seqüência de raciocínio. Seu pensamento é irreversível, na medida em que lhes é negada a possibilidade permanente de voltar a uma premissa inicial inalterada. Já com o início do sub-período seguinte, das operações concretas, a criança, por estar com idade mais avançada, parece ter sob seu controle um sistema cognitivo coerente e integrado, ou seja, ela passa a aplicar suas atitudes a ações reais, quer a algo presente no ambiente, quer a outras ações do sujeito. Ela dá a impressão clara de possuir uma base cognitiva sólida, com a qual pode estruturar o presente em termos de passado sem distorções e deslocamentos indevidos. Isso ocorre como se uma organização assimilativa rica e integrada estivesse funcionando em equilíbrio com um mecanismo acomodativo, precisamente ajustado e discriminativo. Surge, então, a partir deste momento, o interesse da criança pelos jogos de regras, e a criança passa a se mostrar mais autônoma em suas ações, demonstrando maior coragem e desenvoltura para a transposição de possíveis obstáculos.
Dirigindo o estudo mais diretamente para o desenvolvimento motor, Le Boulch (1987, p. 119) destaca :
O trabalho global da motricidade não permite apenas contar com uma influência positiva no desenvolvimento psicomotor, mas também atingir e melhorar certos fatores de execução : Agilidade, vivacidade e velocidade, força muscular, tolerância, resistência, coordenação dinâmica geral e aprendizagens motoras; jogos funcionais; ajustamento ao meio aquático.
O desenvolvimento de uma criança é algo tão amplo e que engloba tantos fatores, que, muitas vezes, o professor nem imagina estar conseguindo buscar esse entendimento pela criança, através de uma atividade que é proposta, ou seja , a criança nunca está se desenvolvendo apenas num aspecto , ela está em constante crescimento; todos os fatores que geram conhecimento, geram um desenvolvimento motor. Le Boulch (1987) , opõe-se terminantemente a um trabalho mecanicista; ele busca desenvolver estes fatores, mencionados acima , indo de encontro à Educação Física tradicional, que para ele não teve condições de corresponder às necessidades de uma educação real do corpo. 1.4 – A importância de se trabalhar as funções psicomotoras Serão citadas, a seguir, algumas das habilidades motoras e psicomotoras, a serem exercitadas em crianças de seis a oito anos, com suas respectivas definições extraídas de Viana (1991). O objetivo é mostrar que, ao se utilizar atividades, dando variados estímulos à criança, estas habilidades motoras aprimorar-se-ão com o tempo, até que se aproximem de um desenvolvimento satisfatório, para que , no futuro, quando adulta, esta criança não possua dificuldades com sua parte motora. Isto fará com que ela exerça quaisquer tarefas que desejar, obtendo prazer na prática de exercícios físicos,
sem medo ou vergonha, e assim, continuar praticando atividade física durante toda sua vida, envelhecendo com saúde e com uma qualidade de vida mais elevada. As habilidades referidas são : Agilidade , “qualidade física que permite mudar a posição do corpo no menor tempo possível “ (TUBINO,1979, p.25 ); Equilíbrio, “estado particular pelo qual o sujeito pode, por sua vez, manter uma atividade ou um gesto, ficar imóvel ou lançar seu corpo no espaço, utilizando a gravidade ou resistindo-a” ; Coordenação psicomotora , “controle nervoso das contrações musculares na realização de atos motores” (COSTALLAT,1981, p.84). Mello (1989, p.38) também colabora para uma maior compreensão das funções psicomotoras ao propor definições como:
Organização espacial e temporal. Organização espacial é a capacidade de orientar-se diante de um espaço físico e de perceber a relação de proximidade de coisas entre si. Refere-se às relações de perto, longe, em cima, embaixo, dentro, fora, etc. A organização temporal corresponde à capacidade de relacionar ações a uma determinada dimensão de tempo, onde sucessões de acontecimentos e de intervalo de tempo são fundamentais. Tratando do movimento, a Psicomotricidade solicita a associação de tempo e espaço conjuntamente, no desencadeamento de ações num determinado espaço físico e numa seqüência temporal, embora alguns autores as estudem de forma isolada.
Funções psicomotoras que enriquecem ainda mais o campo de exploração para o entendimento do desenvolvimento motor são : Ritmo, que se caracteriza por ser um ato motor com uma ordenação específica e diretamente ligada ao intervalo de tempo; Lateralidade, que é definida como sendo a capacidade individual de diferenciar direita e esquerda através de experiências vividas, diferentemente de dominância lateral, ou seja, predomínio ocular, auditivo e sensório-motor de um dos membros superiores ou inferiores, que pode ser
detreminada por influência de ordem social. É extremamente importante que a criança tenha essas habilidades e funções psicomotoras bem desenvolvidas. A forma mais eficaz de se alcançar êxito neste tipo de trabalho com crianças de seis a oito anos parece ser a utilização de atividades lúdicas, basear o trabalho em cima do “simbólico “, fazer a criança representar coisas da própria vida através do movimento, resultando com que apareça o equilíbrio, a relação de espaço, de tempo e etc. Do ponto de vista de Mello (1989), essas funções psicomotoras juntamente com as habilidades motoras, devem ser trabalhadas, nesta faixa etária, de forma bem lúdica, devido à dificuldade da criança, na fase em questão, de manter concentrada ao realizar tarefas mecanizadas e repetitivas. Podemos dizer, corroborando o ponto de vista deste autor, que a natureza da criança a leva a desenvolver todas essas habilidades , se ela brincar , se ela encontrar um trabalho voltado para o recreativo. A brincadeira seria onde a psicomotricidade está atuando ; Criar situações e desafios para que os alunos executem exercícios como por exemplo, chutar a bola o mais alto ou o mais longe que conseguirem, é uma forma de motivar e desenvolver as crianças. Dessa forma , os exercícios e atividades despertadoras visam, essencialmente, assegurar o desenvolvimento harmonioso dos componentes corporais, afetivos e intelectuais da personalidade da criança objetivando a conquista de uma relativa autonomia e da apreensão refletida do mundo que a cerca. Os autores até aqui citados, Le Boulch , Piaget , Flavell e Mello, possuem
pontos de vista sobre o desenvolvimento que se completam. Todos buscam um mesmo objetivo e observam o desenvolvimento da criança, ressaltando pontos incomuns, obtendo resultados independentes entre si; ou seja, Le Boulch ressalta a não intervenção excessiva do adulto sobre as atividades da criança, dando liberdade para ela criar. Os teóricos concordam que a intervenção do adulto deve ser apenas para apresentar atividades lúdicas, buscando criar situações e desafios para a criança, desenvolvendo assim sua parte cognitiva, aumentando, em conseqüência disso, sua auto confiança. Piaget, através de seus estudos, observa as mudanças ocorridas no crescimento e desenvolvimento. Seu estudo se detém mais nos atos tomados pelas crianças, como agem, suas atitudes. Observa mais o produto, o resultado daquele determinado período e a característica que a criança possui. Le Boulch, através de seus estudos, cita o papel do adulto na formação da criança, que atitudes tomar, que atividades devem ser oferecidas. Neste capítulo, procurou-se trabalhar pontos específicos, para que fiquem claras todas as nuanças que, eventualmente, possam surgir no trabalho com a criança. Buscou-se mostrar, aqui, a importância da educação no contexto do desenvolvimento; atitudes que devem ser tomadas por nós, educadores, para dar prazer e motivação à criança; o papel fundamental da psicomotricidade para o indivíduo, e como ela deve ser trabalhada; além das teorias sobre o desenvolvimento infantil, pesquisadas na literatura, dando o necessário embasamento científico ao estudo.
2. DADOS HISTÓRICOS E CONCEITO DE
FUTEBOL
Parece desnecessário proceder-se a uma profunda pesquisa para se constatar que o Brasil ocupa uma posição de destaque no cenário esportivo do futebol mundial. Os resultados obtidos por seus clubes e seleções em competições internacionais a partir de 1950, fizeram com que o mundo se voltasse para o desempenho dos jogadores brasileiros.
A seleção e os grandes clubes brasileiros são considerados como de
grande expressão no cenário do futebol internacional, devido principalmente à
habilidade, criatividade e capacidade de improvisação dos seus jogadores. Não
à toa, podemos afirmar que no Brasil nasceu o maior jogador de futebol de
todos os tempos, Pelé, homem e atleta, exemplo que muito bem representa a
categoria, habilidade e simplicidade do jogador brasileiro .
Mesmo antes dos grandes sucessos, quando a falta de intercâmbio
internacional e de um maior conhecimento do jogo colocavam o futebol
brasileiro em segundo plano, a extraordinária habilidade do jogador brasileiro já
era reconhecida internacionalmente.
2.1 – Conquistas históricas e origem do futebol
Com base na gloriosa história futebolistica nacional, as conquistas mais
expressivas do nosso futebol e que contribuíram para o reconhecimento
mundial da nossa supremacia foram: a conquista definitiva da Taça Jules
Rimet , com as vitórias nas Copas do Mundo de 1958, 1962 e 1970 e a posse
da Taça Independência, também conhecida como Mini - Copa, em 1972, sendo
que nesse período a seleção brasileira bateu um outro recorde mundial de
partidas invictas, realizando 34 jogos sem perder.
Entretanto, parece interessante indagar-se sobre as origens históricas
do futebol no mundo, pois apareceu na pré-história como resultado dos jogos
com bola. Entre sua origem e os jogos modernos pode-se notar uma distinção,
pois a sua aparição em escolas e universidades visando à recreação, data de
aproximadamente 100 anos. Sofreu a influência de muitos povos. Nos tempos
atuais, conquistou totalmente a simpatia popular, que fez do futebol o esporte
das multidões.
No futebol, pode-se sentir a tônica dos povos e das épocas pelos quais
passou, nas fases de sua evolução. Foi uma competição militar, já foi à guerra
e até brilhou em meio à aristocracia e à nobreza.
Atualmente, o futebol constitui uma diversão que não perdeu o primitivo
caráter de guerra controlada, mas geralmente se converte em uma festa,
tornando-se o maior acontecimento semanal.
Fernandez (1984) assinala que, no ano de 2600 a . c. , um jogo
denominado kemari e que guardava alguma semelhança com o futebol já era
praticado na China. E ainda, o epyskiros dos gregos, harpastum dos
romanos, soule ou choule dos normandos e o calcio dos italianos podem ser
considerados como precursores do futebol.
Beltrão (1974) assinala ainda , que a palavra inglesa football dá origem
à forma abrasileirada , futebol.
Conhecido pelos italianos como calcio, fútbol pelos países de língua
espanhola e soccer para os norte-americanos, são os ingleses que reivindicam
a criação do futebol como esporte, o que pode se confirmar nas palavras de E.
Santos (1979, p.9 ) :
A época do futebol, tal como hoje o conhecemos, começou, na verdade, em 29 de outubro de 1863, quando representantes de 11 clubes ingleses – a maioria ligada a colégios ou universidades – se reuniram na taberna Freemason, Great Queen Street, em Londres, e fundaram a Football Association. E já na reunião seguinte, quinze dias depois, tomaram a deliberação de levar a efeito o difícil trabalho de unificar as regras do jogo, então existentes.
O International Board fundado em 1873, pela Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda, teve por objetivo tornar-se o fórum das decisões em relação às regras do futebol. A FIFA ( Federation International de Football Association ), órgão máximo do futebol, fundada em 21 de maio de 1904 pela França, Bélgica, Dinamarca , Holanda , Espanha, Suécia e Suíça, teve como finalidade a promoção do futebol em todo o mundo. O objetivo da Federação organizada foi incentivar as associações -membros, bem como controlar o desporto, buscando prevenir infrações aos estatutos e regras de jogo promulgadas pelo International Board. A popularidade crescente do futebol, o prestígio e simpatia que goza entre a juventude e sua posição cada vez mais importante, o têm transformado num meio de propaganda. Portanto, o futebol constitui, originalmente, um jogo e deveria permanecer como tal, a serviço da sociedade e não a sociedade a serviço do futebol. Podemos afirmar, inclusive, que no brasil o futebol é mais do que um esporte, ocupando vários espaços na vida de todos, pois não estão imunes às suas influências, mesmo aqueles que procuram evitá-lo. O futebol não se restringe aos estádios, mas traz reflexos sobre a realidade, fazendo parte do aparelho ideológico do Estado e reproduzindo as condições econômicas, políticas e sociais. Ramos (1984, p. 28 ) corrobora esta afirmação quando faz o seguinte relato:
Agora são 100 mil pessoas gritando e torcendo no Mineirão. Agitando
bandeiras, estourando fogos, esperando o início da pequena guerra civil mineira. Quando o juiz soar o apito, estará em jogo a sorte dos dois partidos políticos, os mais fortes de Minas Gerais – o Atlético e o Cruzeiro.
Assim, o futebol parece caracterizar-se como uma atividade complexa, sendo estudado por diversas ciências que procuram analisá-lo em seus múltiplos aspectos. O futebol constitui um esporte coletivo com leis universais, sendo praticado da mesma forma em todos os lugares. Tem-se tentado enquadrá-lo em algum ramo da atividade humana, podendo ser encarado também como uma profissão, na medida em que relações profissionais se acham envolvidas. Desta maneira, o futebol como atividade de caráter científico, também abarca uma realidade teórica, sendo diversas ciências usadas como suporte, tais como : fisiologia, psicologia, nutrição e cinesiologia. Além disso, a necessidade dos conhecimentos prático - teóricos sobre o futebol, também é traduzida pela técnica e pela tática, de grande importância quando se pretende preparar o jogador. Por outro lado, o futebol pode ser colocado entre as artes, posição plenamente justificada pelos espetáculos que são oferecidos às multidões nos estádios. Dando ao futebol, no plano artístico, um caráter todo especial, M. L. Santos (1976, p. 12 ) ainda ressalta :
Comparado com o teatro cênico, parece que o futebol se apresenta com muito mais espontaneidade do que as peças teatrais. De certo modo, o ator para encenar seu papel, é posto a exercitar-se contínua e ininterruptamente até a perfeita assimilação da sua função específica. Para o jogador não há esse requinte de preparação anterior. As cenas que serão vividas emergem de comportamentos que ocorrerão no futuro, logo, imprevisíveis. Ora, se as soluções diante das situações imprevistas são resolvidas segundo a qualidade mental do jogador, parece que a espontaneidade representa nele um papel mais importante que no ator teatral.
2.2 – Requisitos necessários para prática do futebol Podemos assinalar que o futebol
pertence ao grupo de esportes que exige um bom rendimento, requerendo ainda , força e habilidade. Atualmente, os planos educativos de quase todos os países incluem a sua prática, por tratar-se de um esporte considerado de suma importância para o desenvolvimento físico e psíquico das crianças. Demonstrando o caráter pedagógico do jogo, Busch (1981, p. 8) afirma que :
Se queremos seguir considerando-o como um esporte que se pratica com entusiasmo, e se ainda, desejamos empregá-lo com fins pedagógicos, nunca se deve fazê-lo perder totalmente sua característica essencial de jogo, não obstante o caráter de rendimento que mencionamos anteriormente. Em todo jogo competitivo afloram agressões inconscientes, que se transformam em força e capacidade de rendimento. Toda pessoa que conheça as regras do futebol e os valores éticos que sua prática requer, sabe que suas raízes são muito mais profundas.
Com referência ao desempenho dos atletas de futebol podemos afirmar que uma verdadeira preparação requer a sistematização do treinamento dos jogadores, englobando a soma total de procedimentos do estilo como se joga hoje e como se poderá jogar no futuro próximo. Dando prosseguimento a esta abordagem não podemos deixar de levar em consideração o atual estado evolutivo do jogo e a direção na qual progride. Um treinamento moderno pressupõe um alto padrão de preparação técnica, mas exige também , a utilização dos mais recentes métodos científicos auxiliares do esporte ( pedagogia, psicologia, fisiologia, higiene, etc.) . Como resultado da evolução do futebol, as exigências cresceram para quem quer praticá-lo com fins competitivos ou profissionais, sendo exigida uma formação técnica e atlética. Alguns autores estudaram as características do futebol e concordam que o desempenho dos jogadores pode ser considerado sob quatro aspectos : técnico, tático, físico e psicológico. E. santos (1979) procurou estudar o
desempenho individual dos jogadores de futebol. Demonstrou que a técnica no futebol, se constitui pelos movimentos individuais executados com a bola num jogo de futebol. A tática, é a melhor maneira de se utilizar os jogadores de uma equipe, no sentido de impor ao adversário a própria iniciativa. Assim, a tática consiste no julgamento das possibilidades do oponente, na condição de certas jogadas e na preferência por uma modalidade de jogo. Sendo então o futebol um esporte coletivo, a tática assume importância no desempenho de uma equipe. Em relação ao desempenho físico, Garcia, Muiño e Teleña (1983 ) assinalam que, no futebol moderno, a técnica e a preparação física se complementam mutuamente, o que é facilmente compreendido, quando se considera as características de um jogo de futebol. A ampla área de jogo utilizada no futebol , 110m x 80m , e seus 90 minutos de duração ( dois tempos de 45 minutos com um breve descanso de 10 ) exigem uma resistência mais anaeróbica que aeróbica, devido aos deslocamentos curtos em grande velocidade, mas sucedendo-se constantemente trocas rápidas de direção, afetados ainda pelos choques que lesionam qualquer jogador que não esteja devidamente preparado. 2.3 – A importância de um suporte psicológico no âmbito esportivo O desempenho psicológico constitui um problema complexo no treinamento esportivo. Sendo diferente da preparação técnica, tática e física, pode ser considerado como um componente do treinamento esportivo, pois objetiva provocar adaptações progressivas, para aceitação de maiores padrões de treinamento e um maior êxito nas
competições. Borsari (1975) também estudou as características do desempenho psicológico em atletas de futebol. Em um desses estudos , ele apresenta os diversos tipos de comportamentos que seriam exigidos de um jogador, para desempenhar a contento as suas funções em campo. Além disso, o referido estudo aborda também os aspectos técnicos, táticos e físicos, examinando as qualidades específicas de cada jogador, conforme a posição que este ocupa na sua equipe. Entre os diversos especialistas que estudaram o futebol, as características de desempenho dos atletas de futebol estariam relacionadas com padrões de conduta, principalmente em relação aos aspectos técnicos, táticos, físicos e psicológicos. Entretanto, face a um estudo mais aprofundado da questão, parece que o desempenho técnico, embora sem negar os outros fatores mencionados, seria aquele que poderia determinar ou até diferenciar os vários níveis de desempenho no futebol. Talvez seja possível evidenciar-se uma hierarquia, em que os desempenhos tático, físico e psicológico coloquem-se em uma escala com graus de importância relativa. Alguns autores, se não excluem um fator em benefício do outro, parecem demonstrar a existência desta referida hierarquia, atribuindo um peso a cada aspecto no que tange ao desempenho do atleta; ou ainda, que o declínio de um fator deve ser compensado pelo maior desenvolvimento do outro. Assim, uma equipe bem preparada física e taticamente, e com bom suporte psicológico, poderá ser melhor do que equipes formadas por jogadores mais técnicos. Por ter citado o “suporte psicológico” ,
convém mencionar que a psicologia aplicada ao futebol possui realmente significativa importância , ajudando a compreender, explicar e prever comportamentos dos jogadores. Veículo integrador, educador e de grande transformação social, o futebol, universo de grande complexidade (como podemos observar pelo que foi exposto nas linhas acima ) requer a necessidade de novos estudos que objetivem a descoberta de relevantes possibilidades , que , aplicadas à prática possam trazer subsídios aos seus praticantes e admiradores.
3. FUTEBOL E DESENVOLVIMENTO INFANTIL
O presente capítulo busca mostrar de que forma o futebol pode ser utilizado como um instrumento para se chegar ao desenvolvimento infantil.
Através de dados colhidos na literatura e da vivência adquirida pelo
autor no seu âmbito profissional, espera-se deixar claro que é possível obter
sucesso no desenvolvimento motor e cognitivo da criança, utilizando desporto
citado.
3.1 – Atividade física X Qualidade de vida
A prática de atividades físicas, ao longo do tempo, vem ganhando
grande importância na manutenção da saúde e na melhora da qualidade de
vida. Atualmente observa-se que uma das maiores preocupações dos pais é
colocar seus filhos em escolas de esportes ainda com pouca idade, ajudando-
os a desenvolver ainda mais a sua disposição para praticar exercícios. Dentre
estes esportes, o futebol aparece com boas perspectivas em relação à sua
prática , pois contribui para a sociabilização, reduz o stress , fortalece a
musculatura e melhora a destreza.
Podemos ir mais além no que diz respeito à importância da prática da
atividade física para a criança. Freqüentemente nos deparamos com estudos
realizados por conceituados institutos de pesquisa, que nos trazem relevantes
informações no sentido de que as crianças, para serem saudáveis na vida
adulta e reduzirem os riscos de doenças cardíacas e diabetes, devem fazer
exercícios intensos de uma hora por dia , de 3 a 5 vezes por semana. E o
futebol se enquadra nesse contexto, por possuir um alto grau de intensidade.
Porém deve-se abordar um ponto fundamental , de grande relevância
para o atual estudo, que é o da participação dos pais no sentido de dar à
criança um repertório motor bem amplo, onde ela possa vivenciar o máximo de
experiências possíveis para que possam escolher o que gostam e variar as
atividades.
Este ponto de vista possui uma relação de muita afinidade com as
teorias psicomotoras, uma vez que , com a psicomotricidade, na educação
infantil, as crianças tem a oportunidade de vivenciar “isso “, usar “aquilo “,
descobrir todas as capacidades que o corpo delas tem . Esse aspecto deve ser
realmente levado em consideração, pois , em idade inicial, a criança é
considerada fragmentada, por teóricos como Lewin; ou seja, ela não consegue
se ver como um todo, de forma global. Se forem trabalhados apenas seus
membros inferiores, só desenvolver-se-ão essas partes, deixando esquecido o
restante do corpo.
Portanto, devemos oferecer meios pelo qual a criança viva cada parte do
seu corpo de uma forma global, para quando estiver com idade mais avançada,
conheça um grande número e uma grande variedade de atividades, podendo,
então, escolher o tipo de atividade que possui mais afinidade e praticá-la com
prazer.
3.2 – Aulas de futebol pautadas no lúdico:
momentos de prazer para a criança
Nos dias atuais, com a crescente propagação da violência nas ruas e
cada vez menos espaços naturais, ao ar livre, disponíveis para as crianças, é
fundamental que elas encontrem um lugar para brincar. Caso contrário, essas
crianças terão sua vivência motora prejudicada, acarretando em prejuízos à
sua agilidade e movimentação. Quando os pais procuram uma escolinha de
esportes para colocar seus filhos, devem ter em mente que o importante para
elas é estarem livres para se divertir. Com isso, professores de futebol, ou de
qualquer outra atividade destinada à criança, devem ser, aos olhos dela, uma
pessoa que compreenda aquele momento como um momento de brincar.
Mesmo ministrando aulas de futebol, o professor não deve se preocupar
somente com o aprendizado da técnica específica do esporte, mas sim,
proporcionar às crianças o maior número possível de vivências corporais e de
possibilidades de se relacionar com os mais variados objetos. Quanto mais
riquezas, vivências de movimentos diferentes e organizações diferentes do
mesmo movimento for oferecido à criança, maior será o domínio espacial dela.
O trabalho desenvolvido deve dar oportunidade às crianças de
conhecerem movimentos e materiais novos, que não estão inseridos no seu
cotidiano. Alguns materiais, como cordas elásticas, aros, cones, pinos, bolas,
além de motivá-las, dão ao professor uma gama de possibilidades para a
criação dos mais diversos exercícios.
No início do capítulo, foram apontados alguns aspectos importantes do
desenvolvimento da criança (advindos da prática do futebol ), sendo citado a
destreza como única função psicomotora trabalhada pelo referido desporto.
Essa visão, na verdade, pode ser muito mais ampla e abranger outras funções
e habilidades motoras. No futebol necessita-se muito de equilíbrio,
coordenação motora global, noção espacial, ritmo , noção espaço-temporal e
coordenação motora óculo-pedal. Vianna (1991), já citado no 1º capítulo,
mostra muitas dessas habilidades motoras e psicomotoras, e a relação destas
com o futebol, dando inclusive exercícios específicos para se trabalhar cada
uma delas. Por exemplo : para se exercitar a coordenação psicomotora, ele
propõe que um aluno mantenha uma bola quicando no solo, pressionando-a
com a sola do pé.
As funções psicomotoras, que já possuem suas definições no 1º
capítulo, estão intimamente ligadas às habilidades motoras. Na literatura,
existem muitos pontos em comum entre elas, tendo determinadas definições
que as colocam com itens idênticos. Cada uma dessas habilidades e funções
possuem um papel fundamental no desenvolvimento motor da criança. Com
esses aspectos bem trabalhados, ela apresentará, com o passar do tempo, um
ótimo desenvolvimento motor, o que favorecerá o prazer na realização das
tarefas e um maior entusiasmo em estar no ambiente, favorecendo , inclusive,
sua socialização, a exemplo do que aconteceu com um aluno do autor deste
trabalho, que terá seu caso descrito posteriormente neste capítulo.
Entrando na parte desportiva propriamente dita, Melo (2001, p.43 ) destaca pontos importantes em relação à iniciação de uma criança :
O gesto técnico-desportivo é realizado com uma série de movimentos interligados, e, à medida que vai havendo uma automatização do gesto técnico, os centros nervosos aproveitam a organização estrutural e funcional de gestos técnicos realizados anteriormente.
Fato relevante para a aprendizagem dos fundamentos técnicos de qualquer desporto é a repetição dos movimentos, que segundo Castelo (apud MELO,
2001, p.43 ) é :
À medida que os praticantes / jogadores aumentam o número de repetições de um determinado gesto técnico desportivo, aumenta igualmente o número de correções, produzindo-se, consequentemente, um afinamento cada vez mais particular do programa motor base.
Indo ao encontro à forma de pensar de Melo , podemos dizer que a
repetição faz parte do aprendizado. Com relação à forma de se apresentar
exercícios para as crianças, é importante ressaltar que não se deve transformar
a repetição de gestos em mecanização dos movimentos. Isso poderia causar
danos à criança como exemplifica Mello (1989, p.36 ) ao falar sobre o ponto de
vista de Le Boulch :
... em suas obras sobre a Educação Psicomotora, procura diferenciá-la da Educação Física tradicional, opondo-se terminantemente a um trabalho mecanicista e, principalmente, à formação esportiva precoce, no que vê a possibilidade de gerar desequilíbrios na formação da personalidade.
Essa formação esportiva precoce vem sendo muito discutida por limitar
demais a criança àqueles exercícios específicos. Evidentemente, há muitas
coisas que precisam ser trabalhadas antes, como por exemplo fazer com que
as crianças tenham o seu esquema corporal bem definido. Porém não
podemos deixar de relacionar os benefícios conquistados com a prática regular
de determinado desporto – no caso , o futebol – como por exemplo, uma maior
segurança, maior potencialidade corporal e pessoal, um alto conhecimento das
suas próprias possibilidades e dos seus limites. Isso viria, é claro , após um
determinado tempo de prática do desporto.
Este parágrafo sugere uma grande discussão a respeito de ser bom ou
não trabalhar um desporto específico com crianças. Se for trabalhado visando
apenas o alcance de uma alta performance, de resultados, a criança acaba
sendo privada de inúmeras experiências, inclusive a de perder. Se o trabalho
for direcionado para o lado oposto, tendo objetivos muito diferentes do que
apenas a formação de atletas, a criança terá a possibilidade de se tornar um
indivíduo com um bom nível de desenvolvimento motor e cognitivo, com grande
capacidade de socialização, sabendo, até mesmo, extrair grandes
aprendizados das situações de derrota.
Além disso, a criança nesta faixa etária - de seis a oito anos - necessita
do contato com outras crianças, para que ela comece a entender e a
desenvolver o respeito pelo próximo. Isso sem falar em outras virtudes que
podem vir a ser adquiridas com a prática do futebol , como a questão da
cidadania, da solidariedade , espírito de grupo e cooperação.
Sem dúvidas, o futebol possui grande capacidade de socialização, por
se tratar de um esporte coletivo. É um desporto em que um depende do outro e
o sucesso de todos depende do trabalho de cada um , sendo , portanto , um
excelente veículo integrador , contribuindo efetivamente para o aspecto sócio-
afetivo. A socialização é um dos mais importantes fatores que envolvem
atividade física para crianças. É impressionante observar uma criança iniciar a
prática de qualquer desporto totalmente inibida, tanto na parte social quanto na
parte motora, e , após alguns meses, poder percebê-la totalmente integrada e
satisfeita com a atividade.
3.3 – O futebol como instrumento de socialização
Em seguida, como exemplo, será feito o relato de um caso ocorrido com
um aluno do autor deste trabalho, com o intuito de mostrar que, através do
futebol, conseguiu-se obter sucesso em relação à socialização e ao
desenvolvimento motor de uma criança.
“ O aluno X., de sete anos de idade, foi matriculado na escolinha de
futebol sem nunca ter praticado atividade física orientada, ou seja , somente
brincava dentro do seu apartamento jogando video-game ou computador. No
início, era um garoto muito tímido, não gostava de fazer os exercícios
propostos, até pelo fato da mãe superprotegê-lo. Com o passar do tempo, ele
foi demonstrando melhora na parte social e motora, passando a realizar com
êxito as atividades propostas, mostrando uma ótima interação com os colegas
da turma, ganhando, assim, mais auto - confiança, o que fazia dele, agora , o
mais falante dentre os colegas. Foi impressionante ver o aluno X. estar em tão
pouco tempo, com tanta desenvoltura motora e, porque não dizer cognitiva,
mas, sobretudo e principalmente com uma grande evolução no aspecto social.”
O futebol é um desporto que, quando bem trabalhado, traz reais
benefícios às crianças que o praticam. Porém, esses benefícios podem se
transformar em malefícios se ele passar a ser visto e tratado como um meio
fácil de enriquecimento. A criança, ao iniciar a prática do futebol, não pode ser
pressionada, sob hipótese alguma, a ser um atleta de futebol, muito menos a
ser preparada para esse fim. Ela deve ter a oportunidade de experimentar o
desporto, sem qualquer obrigação, e ter a liberdade de no futuro, com maior
clareza sobre suas necessidades e potencialidades, quando estiver mais
madura, tanto na parte motora quanto na parte cognitiva, poder decidir sobre
quais caminhos seguir.
A preocupação em relação ao futuro destas crianças consiste no fato
deste mercado de trabalho ser caracterizado por instabilidade e muitas
incertezas. Pouquíssimos jogadores de futebol existentes no país ganham as
fortunas que são divulgadas na mídia; porém , isso acaba criando uma grande
expectativa, principalmente nos familiares, que acabam transferindo estes
sentimentos para a criança, que passa a ser fortemente pressionada para se
tornar um atleta de alto nível.
Além de ilusório, o futebol também é um esporte que traz muita
rivalidade, onde existe uma competição que muitas vezes extrapola os limites
do bom senso e dos próprios princípios esportivos. Nesse aspecto é que os
professores devem ter o maior cuidado ao se trabalhar com crianças. Costa
Ferreira (apud MELLO, 1989, p. 44 ), critica a Educação Física, a qual caminha
com uma série de problemas, que podem ser relacionados aos mesmos
problemas vividos pelo futebol, ao dizer :
Desempenho máximo, vitória a qualquer preço, glória, vantagens de ser campeão, submissão do homem, disciplina autoritária, e possibilidade, na maioria das vezes ilusória, de ascenção social.
Para evitar que esses problemas continuem ocorrendo dentro da
Educação Física , devemos trabalhar essa questão do “ganhar e do perder ”,
da competição, para que esta venha a ser uma coisa construtiva e não
destrutiva. Existem várias maneiras de levar a criança a competir
construtivamente ; basta fazê-la enxergar o jogo de uma forma amistosa, por
mais que ela queira ganhar.
Com o intuito de esclarecer esse ponto de vista, em relação a possíveis
atividades do futebol a serem trabalhadas com crianças, será destinado o
restante deste capítulo a seis exemplos de exercícios que possam colaborar
com os trabalhos realizados na faixa etária de seis a oito anos. Ao final de cada
explicação dos exercícios, virá um breve comentário, mostrando os principais
elementos trabalhados, os quais terão alguns itens comuns em todos os
exercícios.
1º Exercício: Colocam-se cones (ou qualquer outro material que possa
servir de alvo) no meio da quadra; atrás de uma linha determinada, fica uma
equipe enfileirada, enquanto a outra equipe fará o mesmo do lado oposto.
Cada equipe inicia a competição com o mesmo número de bolas, que
corresponderá ao número de jogadores. Será pré - determinado um tempo. Ao
sinal do professor, os alunos tentam acertar os pinos chutando a bola. Será
considerada vencedora a equipe que tiver menor número de pinos em seu
campo.
Este exercício oferece às crianças inúmeras vivências, tanto em termos
motores quanto cognitivos. A motivação é trabalhada pelo fato da atividade
estar propondo um desafio. Socialização e cooperação são duas
características marcantes, uma vez que a criança tem o contato direto com as
outras e, juntamente com sua equipe, ela deve buscar derrubar os cones. São
utilizados materiais diversificados, diferentes dos comumente empregados,
como pinos ou cones. Este exercício desenvolve principalmente a coordenação
motora óculo – pedal e também alguns gestos técnicos específicos do
desporto, como o passe e o chute.
2º Exercício: Este exercício é uma espécie de pique - bandeirinha,
porém, jogado com os pés e duas bolas, que representarão as bandeirinhas. O
campo é dividido, em dois lados , por uma linha. No final e ao centro de cada
campo, é colocada uma bola. As duas equipes, com o mesmo número de
participantes, ficam de lados opostos. O objetivo é trazer a bola do campo
adversário para seu domínio, driblando os colegas da outra equipe. Se o aluno,
ao tentar trazer a bola para seu campo, perder o domínio da mesma, ela será
recolocada em seu lugar de origem.
A exemplo do exercício anterior, este também traz grande motivação por
ser uma atividade já conhecida das crianças, porém com adaptações que são
muito interessantes, principalmente para quem gosta de futebol. Mais uma vez,
a cooperação e a socialização estão em evidência, na divisão das equipes e no
contato direto das crianças, tendo estas, inclusive, o desafio de se organizarem
estrategicamente para tentar vencer o jogo. Muitas habilidades motoras estão
contidas nesta atividade, como a coordenação motora global, o equilíbrio e a
agilidade, a serem executados através dos dribles e dos passes; a organização
espacial, quando da noção de perto e longe, tanto em relação à bola quanto
em relação aos colegas e à “bandeirinha”. São trabalhados gestos técnicos do
futebol como o drible e a condução de bola.
3º Exercício : Inicialmente, coloca-se um aluno para chutar uma bola
para um determinado alvo. Depois, pede-se para que o aluno execute o mesmo
movimento, porém , de olhos fechados, podendo variar ainda mais os
estímulos.
Através do desafio, mais uma vez, adquire-se a motivação da criança
em realizar a atividade. Impreterivelmente, a coordenação motora global é
trabalhada em qualquer atividade física. Equilíbrio e noção espacial são
trabalhados tanto no primeiro quanto no segundo momento da atividade,
quando esta é realizada com os olhos fechados. O ritmo é marcante nesta
atividade, sendo trabalhado nas passadas, que devem ser bem definidas
temporalmente, principalmente no segundo momento. O gesto técnico
específico desenvolvido é o chute.
4º Exercício : Faz-se uma subdivisão da quadra (ou campo ) em
setores. Em cada setor, fica um grupo reduzido de crianças, sempre divididas
em duas equipes, inclusive dentro dos setores. Começa o jogo e cada criança
só poderá disputar a bola quando estiver no seu setor. É importante que as
crianças sejam trocadas de setor constantemente. Este jogo também pode ser
utilizado com maior número de bolas.
Esta atividade oferece motivação, principalmente para as crianças que
não possuem facilidade no desporto, tendo assim grandes possibilidades de
participação. A socialização e a cooperação estão intrinsicamente ligadas neste
exercício, através do contato e divisão das equipes. A coordenação motora
global , a organização espacial, a lateralidade e a agilidade são solicitadas em
todos os momentos, independentemente do setor em que a criança esteja
localizada. Os gestos técnicos trabalhados são : passe, chute , domínio,
condução de bola e cabeceio.
5º Exercício : Pique - pega com bola nos pés. Em um espaço
previamente delimitado, cada criança estará com uma bola no pé. Uma delas
será o pegador, e as demais terão que fugir, conduzindo a bola, para não
serem pegas. Troca-se o pegador, assim que este tocar com a mão em
alguém.
Motivação e socialização são duas características marcantes que esta
atividade promove; a primeira, com a inserção da bola a uma atividade que já
está contida no grupo de brincadeiras preferidas das crianças; a Segunda,
através do contato de uma criança com a outra. Coordenação motora global,
noção espacial e agilidade são necessárias para driblar e conduzir a bola. Os
gestos técnicos mais trabalhados são o drible e a condução de bola.
6º Exercício : Futevôlei com os pés e com as mãos . O campo (ou a
quadra) é dividido em dois quadrados, com cerca de quatro metros de lado. Na
linha central é colocado algum obstáculo, como por exemplo, cones de meio
metro de altura. Cada equipe é composta por três ou quatro jogadores. O
aluno, estando atrás de sua linha de fundo, inicia o jogo lançando a bola ao
chão, deixando-a quicar e , depois, chutando a mesma por cima do obstáculo.
A equipe adversária pode deixar a bola dar um quique e , em seguida, um de
seus integrantes pega a bola com a mão e faz o mesmo que seu oponente,
porém lançando a bola para um companheiro de sua equipe. Este repetirá o
movimento até o terceiro integrante, que lançará a bola por cima do obstáculo,
dando prosseguimento ao jogo. O objetivo é fazer com que a equipe adversária
não consiga receber a bola. O jogo termina em quantos pontos forem pré
determinados.
Este exercício promove motivação, pelo simples fato de ser uma
atividade distinta das que as crianças estão acostumadas a vivenciar. A
cooperação está presente, explicitamente, dentro de cada equipe.
Coordenação motora global , noção espacial , noção temporal e coordenação
motora óculo - manual são extremamente solicitadas. Os gestos técnicos
desenvolvidos são : passes , chutes e o movimento de “agarrar “ a bola ( para
os goleiros), que também é, muitas vezes, inédito para as crianças.
Buscou-se através destes exercícios, ilustrar, de forma sucinta, tudo o
que foi dito e discutido durante o presente estudo, como funções e habilidades
a serem trabalhadas, a questão da socialização e da cooperação que devem
ser mostradas e enfatizadas, além do papel fundamental que o professor
possui no seu desenvolvimento motor e cognitivo.
Espera-se ter explicitado que o intuito destes exercícios é buscar na
criança a vontade de realizá-los, e não a elas serem impostos.
CONCLUSÃO Após pesquisar autores das mais diversas áreas, como educação, psicomotricidade relacionada ao desenvolvimento infantil, e futebol; e aproveitar a própria experiência do autor, que já trabalhou com crianças iniciando a prática no futebol, pôde-se trazer relevantes informações para aqueles que se interessam pelo assunto abordado.
O embasamento apresentado sobre as teorias psicomotoras, referentes
ao desenvolvimento infantil , conforme foi visto no capítulo 1 , teve grande
relevância para o estudo. Elas serviram como ponto de partida para todas as
discussões proferidas no decorrer da monografia e seus diversos aspectos
foram abordados para que houvesse um entendimento amplo sobre o assunto.
Através destas teorias, procurou-se direcionar o trabalho com crianças
de seis a oito anos, buscando entender o que elas necessitavam vivenciar para
que adquirissem com sucesso o desenvolvimento psicomotor e , em
conseqüência, notou-se que isto poderia traduzir-se em um processo de
socialização rápido e eficaz destas crianças.
Por ser o futebol um dos elementos - chave da pesquisa, evidenciou-se
a necessidade de escrever especificamente sobre isso. Desporto mais popular
do país , fenômeno que consegue atingir todas as classes sociais , o futebol
tem influência até sobre certas situações políticas e econômicas nacionais ,
como foi citado em um dado momento do capítulo 2.
Porém , apesar de toda sua popularidade e do grande interesse que
desperta, acredita-se que uma significativa parcela dos admiradores deste
desporto desconhece suas origens e passagens históricas, que conferem ao
futebol a condição de ser um esporte de notável riqueza cultural.
Diante destes fatos, o autor procurou fazer no capítulo 2 , uma breve
conceituação do referido desporto, citando ainda , dados históricos
considerados importantes.
Por acreditarmos que o futebol, um esporte coletivo, que além de
oferecer grande motivação a quem o pratica, possui , em sua essência ,
diversas formas de ser trabalhado , foi o desporto escolhido para se dirigir o
foco ao desenvolvimento motor e cognitivo, através de atividades que
trabalham seus gestos técnicos. Estas atividades foram explicitadas no capítulo
3 com o intuito de servir de idéias e exemplos a serem seguidos por
profissionais envolvidos com o futebol para crianças, buscando lhes dar um
ganho psicomotor amplo, não se restringindo aos movimentos específicos do
desporto.
O ponto alto das discussões foi notar que é simples unir o trabalho
realizado com o futebol às teorias psicomotoras e perceber que na prática isso
traz resultados bastante significativos, como foi citado no relato de um caso.
Quando a preocupação do professor é o desenvolvimento da criança, em seus
diversos aspectos, o futebol se mostra eficaz no alcance do objetivo.
A título de dar continuidade aos estudos que envolvam a
psicomotricidade e o desenvolvimento infantil, seria muito interessante ver
alguma outra pesquisa que relacionasse por exemplo, outra área (Fisioterapia ,
Fonoaudiologia ) usando a psicomotricidade como ferramenta para se alcançar
o desenvolvimento motor e cognitivo em crianças de seis a oito anos . Para os
profissionais dessas áreas , poderia significar uma alternativa de trabalho , ou
até mesmo uma complementação do mesmo, levando-os a ter uma outra visão
e aumentando as suas possibilidades de obter êxito com seus pacientes.
Uma outra abordagem que também poderia ser feita , e que teria
grandes possibilidades de se tornar um estudo bastante interessante , seria
pesquisar a importância de um outro desporto (que não seja o futebol )
associada à psicomotricidade contribuindo para o desenvolvimento infantil em
outra faixa etária ( diferente da que vai dos seis aos oito anos ) . Nessa
hipotética pesquisa, teríamos a oportunidade de ver como um outro desporto ,
com suas especificidades , características e diferentes solicitações de ordem
motora e cognitiva poderia contribuir para o desenvolvimento de crianças de
outra faixa etária , crianças estas , que pela condição de suas idades , se
encontram em outro estágio de desenvolvimento.
Como 3ª sugestão de estudo que poderia ser realizado envolvendo a
Psicomotricidade e desenvolvimento infantil , alguma pesquisa envolvendo
crianças portadoras de deficiências , me parece ser um assunto extremamente
interessante e de grande relevância. Pelo simples fato de serem crianças com
necessidades especiais , e portanto com todo um trabalho específico e
direcionado , este tipo de estudo já teria a sua validade garantida.
Retornando ao presente estudo, a fim de concluí-lo , devemos avaliar o
trabalho que vem sendo realizado com grande parte das crianças,
independentemente do local onde este ocorre (escola tradicional, escola de
esportes ou clube ), e com isso buscar melhorias na qualidade deste trabalho,
e direcioná-lo a uma meta que trará benefícios futuros às crianças, não
limitando-as aos conceitos sociais de enriquecimento e obtenção de valores
materiais, fazendo com que elas se transformem em meras máquinas
reprodutoras de movimentos, abdicando essas crianças da liberdade de
pensar, de agir e de criar.
Podemos também ratificar a validade desta pesquisa, onde a
Psicomotricidade tem uma contribuição a dar às escolinhas de futebol no
sentido de oportunizar um trabalho valioso e consistente com crianças de seis
a oito anos que contribua para um efetivo desenvolvimento motor, cognitivo e
social das mesmas.
Temos que modificar a mentalidade que pais e professores possuem e
depositam nas crianças, no que diz respeito ao reconhecimento que a alta
performance num determinado desporto, como o futebol, pode proporcionar. O
esporte deve ser encarado como brincadeira, a qual seus filhos e alunos
obterão ganhos sociais, motores e cognitivos, além de grande prazer em está-
lo realizando.
Então , temos que parar de impor a essas crianças o que nós desejamos
para elas e passarmos a ver o mundo como elas o vêem. Buscando oferecer o
que gostam de fazer, o que lhes dá prazer, encarando as dificuldades como
forma de brincadeira.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BORSARI, J. R. Manual de Educação Física. São Paulo: EPU, 1975. COSTALLAT, Dalila M. Psicomotricidade. Porto Alegre: Globo, 1981. CRATTY, B. J. A inteligência pelo movimento. Tradução de Roberto Goldkorn. São paulo: Difel, 1975. DIEM, L. Esportes para crianças :uma abordagem pedagógica. Tradução de Walter Maas. Rio de Janeiro: Beta, 1977. FERNANDEZ, Maria C. Futebol: fenômeno lingüístico. Rio de Janeiro: Documentário, 1984. FLAVEL, J. H. A psicologia do desenvolvimento de Jean Piaget. Tradução de Maria Helena Souza Patto. 5ª. ed. São Paulo: Pioneira, 1996. GARCIA, C. ; MUIÑO, E. e TELEÑA, A . La preparación física en el fútbol, 1983. LE BOULCH, J. Educação Psicomotora: psicocinética na idade escolar. 2ª ed. Porto Alegre: Artes médicas, 1987. MELLO, A . M. de. Psicomotricidade, educação física e jogos infantis. 3ª ed. São Paulo: Ibrasa, 1989. MELO, R. S. de. Futebol: da iniciação ao treinamento. Rio de Janeiro: Sprint, 2001. RAMOS, R. Futebol: ideologia do poder. Petrópolis: Vozes, 1984. SANTOS, E. Caderno técnico, didático: futebol. Brasília: SEED/DDD, 1979. SANTOS, M. L. Futebol: técnica e tática. Salvador: Forum, 1976. TUBINO, M. J. G. Metodologia do treinamento desportivo. São Paulo: Ibrasa, 1979. VIANA, A . R. Como treinar o futebolista. Viçosa: UFV, 1991.
ÍNDICE
INTRODUÇÃO........................................................................................... 7
1. Psicomotricidade e Desenvolvimento Infantil...................................... 10
1.1 Definições de Psicomotricidade.......................................................... 10
1.2 A Importância do brincar para o Desenvolvimento Infantil...................11
1.3 Estágios Operacionais segundo Piaget...............................................12
1.4 A importância de se trabalhar as funções psicomotoras..................... 15
2. Dados Históricos e Conceito de Futebol...............................................19
2.1 Conquistas Históricas e Origem do Futebol.........................................19
2.2 Requesitos necessários para a prática do Futebol.............................. 23
2.3 A importância de um suporte Psicológico no âmbito Esportivo........... 24
3. Futebol e Desenvolvimento Infantil...................................................... 27
3.1 Atividade Física X Qualidade de vida.................................................. 27
3.2 Aulas de Futebol pautadas no lúdico : Momentos de prazer
para a Criança.......................................................................................... 28
3.3 Futebol como instrumento de Socialização......................................... 31
4. CONCLUSÃO...................................................................................... 38
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................... 42
6. ANEXO................................................................................................ 43
7. ÍNDICE................................................................................................ 44
8. FOLHA DE AVALIAÇÃO..................................................................... 45