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ANA PAULA TIMÓTEO
A IMPORTÂNCIA DO ENFERMEIRO FRENTE AO CUIDADO E
CURATIVO DE PACIENTES QUEIMADOS
FACULDADE MÉTODO DE SÃO PAULO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO (LATO SENSU)
MBA GESTÃO EM SAÚDE E CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR
São Paulo 2014
2
ANA PAULA TIMÓTEO
A IMPORTÂNCIA DO ENFERMEIRO FRENTE AO CUIDADO E
CURATIVO DE PACIENTES QUEIMADOS
Trabalho de MBA em Gestão em saúde e controle das infecções hospitalares apresentado à Faculdade Método de São Paulo, como requisito parcial para obtenção de grau de especialista.
Orientador: Mestre em Ciências do Cuidado em Saúde pela Universidade Federal Fluminense-UFF. Professora Orientadora de Trabalho de conclusão de curso MBA Gestão em Saúde e Controle de Infecção Hospitalar Thalita Gomes do Carmo.
Co-orientador: Bacharel em Psicologia pela PUC Pontifícia Universidade Católica de Goiás, especialista em sexualidade pela AVM – Universidade Cândido Mendes-UCAM.
São Paulo
2014
3
Timóteo, Ana Paula
T482i Importância do enfermeiro frente ao cuidado e curativo de pacientes
queimados, A . [manuscrito] / Ana Paula Timóteo
61f.,enc.
Orientador: Thalita Gomes de Carmo
Monografia: Faculdade Método de São Paulo
Bibliografia: f. 61
1. Queimaduras / Enfermagem 2. Complicações infecciosas/queimaduras 3. Cuidados de
enfermagem 4. Enxertia 5. Atuação do enfermeiro 6. Humanização 7. Estresse
psicológico. I. Título
CDU: (043.2)
4
“A vitória pertence não aquele que
nunca cai, mas sim aquele que nunca desiste
de levantar.”
Jô Furlan
5
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS
RESUMO...............................................................................................................................................08
ABSTRACT……………………………………………………………………………………………………...09
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................................10
OBJETIVO.............................................................................................................................................10
METODOLOGIA....................................................................................................................................11
DISCUSSAO..........................................................................................................................................12 CAPITULO I - A PELE...........................................................................................................................12 1.1 EPIDERME......................................................................................................................................13 1.2 DERME............................................................................................................................................16 1.3 HIPODERME...................................................................................................................................17 1.4 ANEXOS CUTÂNEOS.....................................................................................................................18 1.5 FISIOLOGIA DA PELE...................................................................................................................20
CAPITULO II – QUEIMADURA.............................................................................................................22 2.1 TIPOS DE QUEIMADURAS............................................................................................................23 2.2 AVALIAÇÃO DA EXTENSÃO DA QUEIMADURA: ASCT – ÁREA DE SUPERFÍCIE CORPORAL TOTAL LESADA....................................................................................................................................25 2.3 TRATAMENTO DE EMERGÊNCIA EM SITUAÇÕES DE QUEIMADURAS: PRIMEIROS SOCORROS..........................................................................................................................................25 2.4 TRATAMENTO MEDICO DO PACIENTE COM QUEIMADURA....................................................26 2.5 ATUAÇÃO DA ENFERMAGEM NO TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DO PACIENTE QUEIMADO...........................................................................................................................................30 2.6 CURATIVOS...................................................................................................................................31
CAPITULO III - FISIOPATOLOGIA DE QUEIMADOS..........................................................................41 3.1 TIOPATOGENIA DA INFECÇÃO....................................................................................................42 3.2 APRESENTAÇÃO DAS INFECÇÕES...........................................................................................44
RESULTADOS......................................................................................................................................51 CAPITULO I - A HUMANIZAÇÃO E O DESGASTE DA EQUIPE DE ENFERMAGEM NO TRATAMENTO DE QUEIMADOS.........................................................................................................51 1.1 HUMANIZAÇÃO............................................................................................................................. 51 1.2 O DESGASTE DA EQUIPE DE ENFERMAGEM FRENTE AO PACIENTE COM QUEIMADURAS....................................................................................................................................53
CAPITULO II - FATORES PREDITIVOS E CONTROLE DE INFECÇÃO.............................................57
CONCLUSÃO........................................................................................................................................60
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS......................................................................................................61
6
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Anatomia da pele ............................................................................................12
Figura 2 Tipos de queimaduras ....................................................................................23
7
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Regra dos nove ...........................................................................................................25
Tabela 2 Manifestações clinico/laboratoriais da sepse ..................................................46
8
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ASCT Área de superfície corporal total queimada ou lesada
ATLS A - vias aéreas; B - boa respiração; C - circulação; D - dano neurológico;
E - exposição
AGE Ácidos graxos essenciais
SH Radical sulfidrila
CTQ Centro de tratamento de queimadura ou queimados
LPC Complexo lipoprotéico
ITU Infecção do trato urinário
TSS Síndrome do choque tóxico
DF Distrito Federal
CCIH Central de controle de infecção hospitalar.
9
RESUMO
As queimaduras estão entre os mais comuns acidentes domésticos, neste
contexto, mesmo em unidades de saúde não especializadas, invariavelmente a
equipe de saúde depara-se com o paciente queimado, quer a nível ambulatorial,
quer a nível interno. A queimadura é uma lesão em determinada parte do organismo
desencadeada por um agente físico, que age no tecido causando destruição parcial
ou total da pele e seus anexos podendo atingir camadas profundas. Nas
queimaduras profundas há uma grande quantidade de tecidos necróticos, o que
facilita o desenvolvimento de infecção. Apesar dos avanços no tratamento de
queimados que vêm reduzindo as taxas de letalidade e melhorado a qualidade de
vida das vítimas, as complicações infecciosas continuam representando um grande
desafio e uma das principais causas de óbito no paciente queimado, uma vez que as
queimaduras são um sítio favorável à multiplicação de microrganismos e infecção,
principalmente devido às grandes áreas envolvidas e ao longo tempo de internação.
Medidas de prevenção e tratamento das infecções são essenciais para a sobrevida
dos pacientes com queimaduras. O presente trabalho fala sobre a semiologia da
pele, a fisiopatologia de queimados, a assistência de enfermagem, as complicações
infecciosas, a importância do curativo e o desgaste da equipe de enfermagem frente
ao tratamento. Para tanto foi realizado um levantamento bibliográfico do referido
tema. Conclui-se que um melhor conhecimento dos fatores preditivos para
complicações infecciosas em pacientes queimados permite estimar a probabilidade
de infecção o que poderá facilitar o diagnóstico e o tratamento precoces destas
complicações, com uma terapia sistêmica adequada, contribuindo para reduzir a
morbidade e a letalidade nesses pacientes.
PALAVRAS CHAVE: Queimaduras/enfermagem; Complicações
Infecciosas/queimaduras; Cuidados de enfermagem; Enxertia; Atuação do
enfermeiro; Humanização; Estresse psicológico.
10
ABSTRACT
Burns are among the most common household accidents in this context, even
in non-specialized health facilities, health staff invariably faced with the burned
patient, either on an outpatient basis, either internally. The burn is an injury in one
part of the body triggered by a physical agent, which acts in the tissue causing partial
or total destruction of the skin and its annexes may reach deep layers. In deep burns
there is a large amount of necrotic tissue, which facilitates the development of
infection. Despite advances in treatment of burns that have reduced mortality rates
and improved quality of life of victims, infectious complications continue to represent
a great challenge and a major cause of death in burn patients, since the burns are a
site favorable to the multiplication of microorganisms and infection, mainly due to the
la rge areas involved and the long hospitalization. Measures to prevent and treat
infections are essential to the survival of patients with burns. This paper talks about
the semiology of the skin, the pathophysiology of burns, nursing care, infectious
complications, the importance of dressing and wear the nursing staff towards
treatment. For that we carried out a literature on this issue. We conclude that a better
knowledge of predictive factors for infectious complications in burned patients
permits to estimate the probability of infection which may facilitate early diagnosis
and treatment of these complications, with an appropriate systemic therapy, helping
to reduce morbidity and mortality in these patients.
KEYWORDS: Burns / nursing Complications, Infectious / burns; Nursing; Grafting;
Nurse performance; Humanization; Psychological stress.
11
INTRODUÇÃO
Queimadura é uma lesão em determinada parte do organismo desencadeada
por um agente físico. Esses agentes agem no tecido causando destruição parcial ou
total da pele e seus anexos podendo atingir camadas profundas.
A pele é um órgão integrante do sistema tegumentar de grande complexidade
e constitui a interface do corpo humano com o meio externo, exercendo funções
cruciais para a vida. É o principal órgão humano atingido em queimaduras,
constituindo assim um dos principais alvos deste estudo. Nas queimaduras
profundas há uma grande quantidade de tecidos necróticos, o que facilita o
desenvolvimento de infecção, pois esses tecidos fornecem nutrientes para as
bactérias que requerem pouco oxigênio para a sobrevivência, consumindo-o e
diminuindo ainda mais a quantidade de oxigênio disponível para os tecidos.
As sequelas de queimaduras refletem de modo negativo na autoestima e
estigmatizam o individuo perante a sociedade. Os pacientes com queimaduras
representam um pesado ônus social e econômico, tanto durante sua recuperação
quanto ao longo de suas vidas. Os avanços no tratamento de queimados têm
reduzido as taxas de letalidade e melhorado a qualidade de vida das vitimas de
queimaduras. Mas apesar do desenvolvimento de potentes agentes antimicrobianos
tópicos e sistêmicos, dos avanços no suporte nutricional e do uso de técnicas
cirúrgicas de excisão de tecidos desvitalizados e enxertia precoce na área
queimada, as complicações infecciosas continuam representando um grande desafio
e uma das principais causas de óbito no paciente queimado.
OBJETIVO
Tem sido afirmado que “o cuidado com as feridas não pode ser um procedimento
automático, mas um ‘exercício científico’, em que o enfermeiro deve atuar de forma
consciente visando aplicar medidas que possam facilitar o processo de cicatrização”
(Monetta 1990). Assim, o objetivo deste estudo foi descrever, mediante revisão de
literatura, a estrutura da pele e seus anexos; os tipos de queimaduras, primeiros
http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%93rg%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_tegumentar
12
socorros e os tratamentos médicos recomendados; aos agentes tópicos e tipos de
cobertura que têm sido recomendados no tratamento de queimaduras; discutir as
implicações do uso desses produtos no processo de cicatrização; bem como os
principais quadros infecciosos que acometem estes pacientes alem do
relacionamento enfermeiro/paciente queimado visando o desenvolvimento de
medidas preventivas de controle destes quadros e, conseqüentemente, a diminuição
do índice de letalidade e melhorando a atuação do enfermeiro frente à complexidade
destes pacientes.
METODOLOGIA
Para tanto foi realizada uma revisão literária com a finalidade de verificar a
produção do conhecimento em periódicos sobre queimaduras, humanização da
assistência e complicações infecciosas nos últimos cinco anos. A busca reuniu
artigos publicados a partir da base de dados do LILACS (Literatura Latino Americana
e do Caribe em ciências da Saúde), MEDLINE (Medical Literature Analysis and
Retrieval System – on-line) e BDENF (Base de Dados da Enfermagem) tendo como
palavras chave: queimaduras, tratamento queimados, queimados, enxertia de
queimados, humanização, complicações Infecciosas, cuidados de enfermagem,
atuação do enfermeiro e estresse psicológico.
No estudo, foram incluídos apenas os artigos localizados na Biblioteca da
FASB e da Biblioteca do Centro de Colaborador da OPAS – Organização Pan-
americana de Saúde e OMS – Organização Mundial de Saúde para pesquisa de
publicações científicas em saúde – Bireme. Para o aprofundamento teórico se
buscaram o embasamento teórico em fontes complementares como livros,
periódicos, artigos.
13
DISCUSSAO
CAPITULO I - A PELE
A pele (cútis ou tez), em anatomia, é o órgão integrante do sistema
tegumentar junto ao cabelo e pelos, unhas, glândulas sudoríparas e sebáceas. A
pele é um órgão complexo composto por diversos tecidos, tipos celulares e
estruturas especializadas. Constitui a interface do corpo humano com o meio
externo, exercendo funções cruciais para a vida, como termorregulação, vigilância
imunológica, sensibilidade e proteção do indivíduo contra agressões exógenas, de
natureza química, física ou biológica, e contra a perda de água e de proteínas para o
exterior.
Fig.1
É o maior órgão do corpo humano e representa 15% do peso corpóreo, com
variações estruturais ao longo de sua extensão. É composta por três camadas
interdependentes: a epiderme, mais externa; a derme, intermediária; e a hipoderme
http://pt.wikipedia.org/wiki/Anatomiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%93rg%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_tegumentarhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_tegumentarhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cabelohttp://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%AAlohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Unhahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Gl%C3%A2ndula_sudor%C3%ADparahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Gl%C3%A2ndula_seb%C3%A1cea
14
ou panículo adiposo, sobre a qual repousam as camadas já citadas, permitindo que
a pele se movimente livremente sobre as estruturas mais profundas do corpo.
1.1 EPIDERME
A epiderme consiste em um epitélio pavimentoso estratificado e queratinizado,
de origem ectodérmica. Sua espessura varia aproximadamente de 0,04 a 1,5 mm de
acordo com a topografia; 95% das células que compõem a epiderme são
queratinócitos organizados em quatro camadas que se renovam continuamente. São
elas: camada basal ou germinativa, camada espinhosa, camada granulosa e
camada córnea. A camada mais profunda, a basal, apresenta atividade mitótica, e
os queratinócitos resultantes da divisão celular sofrem diferenciação à medida que
são empurrados para as camadas mais superiores, sintetizando quantidade
crescente de queratina no seu citoplasma. O tempo de maturação de uma célula
basal até atingir a camada córnea é de aproximadamente 26 dias.
As camadas da epiderme estão dispostas de modo que sua superfície é
relativamente plana, com exceção das áreas das pregas cutâneas, submetidas a
extensões e contrações. A base da epiderme é sinuosa, formada por cones
epidérmicos que se projetam na derme e encontram-se intercalados com projeções
digitiformes da derme denominadas papilas. Essa disposição confere grande adesão
da epiderme com a derme e maior superfície de contato entre elas, permitindo uma
área eficaz de troca entre esses dois componentes, já que a epiderme é avascular e
sua nutrição deriva dos capilares dérmicos.
Intercalados entre os queratinócitos, há outros tipos celulares, como os
melanócitos, as células de Langerhans e as células de Merkel.
População Queratocítica
Camada Basal
É a camada mais profunda da epiderme, delimitando-se com a derme. É
constituída habitualmente por única camada de queratinócitos que possuem
citoplasma basófilo e núcleos grandes, alongados, ovais e hipercromáticos, em
contínua divisão mitótica.
15
Camada Espinhosa ou Malpighiana
Situa-se logo acima da camada basal e é formada por 5 a 10 camadas de
queratinócitos com configuração poliédrica, achatando-se progressivamente em
direção à superfície, com seus maiores eixos paralelos a esta.
As células espinhosas estão unidas mecanicamente entre si e às células
basais subjacentes por meio de pontes intercelulares denominadas desmossomos,
estruturas complexas que conferem à pele resistência a traumas mecânicos. Na
camada basal, há apenas uma placa de aderência ligando a membrana plasmática
das células basais à membrana basal; essas estruturas de adesão são chamadas
hemidesmossomos. Anormalidades dos desmossomos causam separação das
células (acantólise), com formação de bolhas ou vesículas na epiderme. É o que
ocorre em doenças autoimunes como pênfigo foliáceo e pênfigo vulgar, onde há
produção de anticorpos contra as desmogleínas 1 e 3 (constituintes dos
desmossomos), respectivamente.
Camada Granulosa
É composta por 1 a 3 camadas achatadas de queratinócitos com formato
losangulare citoplasma repleto de grânulos de querato-hialina, que dá origem à
filagrina, importante componente do envelope das células corneificadas. Nesta
camada, já se observam, além da filagrina, os outros componentes necessários para
a morte programada das células e a formação da barreira superficial impermeável à
água, como involucrina, queratolinina, pancornulinas e loricrina.
Na pele da região palmoplantar, há uma camada adicional entre as camadas
granulosa e córnea denominada estrato lúcido. Suas células são anucleadas e
formam uma faixa clara e homogênea, fortemente coradas pela eosina à
microscopia óptica.
Camada Córnea
É a camada mais superficial da pele. Sua espessura é variável de acordo com
a topografia anatômica, sendo maior nas palmas e plantas. O processo de
maturação dos queratinócitos está completo no estrato córneo, apresentando células
anucleadas com um sistema de filamentos de queratina imerso em uma matriz
contínua circundada por membrana celular espessada.
16
População Não-queratocítica
Melanócitos
São células dendríticas de origem ectodérmica que sintetizam pigmento
melânico. Localizam-se na camada basal e seus dendritos estendem-se por longas
distâncias na epiderme, estando em contato com muitos queratinócitos para os
quais transfere melanina. O melanócito e os queratinócitos com os quais se
relaciona constituem as unidades epidermomelânicas da pele, numa proporção de 1
para 36, respectivamente.
Células de Langerhans
São células dendríticas originadas na medula óssea que constituem 2 a 8%
das células da epiderme e localizam-se na camada espinhosa. Na microscopia
eletrônica, são caracterizadas por estruturas citoplasmáticas denominadas grânulos
de Birbeck, que se assemelham a uma raquete de tênis. Têm função imunológica,
como células apresentadoras de antígenos aos linfócitos T.
Células de Merkel
São células de origem controversa encontradas nas extremidades distais dos
dedos, lábios, gengivas e bainha externa dos folículos pilosos. Alguns acreditam que
sejam de origem neuroendócrina, pois apresentam grânulos intracitoplasmáticos
com substâncias neurotransmissoras e estão em contato íntimo com fibras nervosas
da derme, constituindo os discos de Merkel, que provavelmente são
mecanorreceptores.
Junção Dermoepidérmica
As células da camada basal da epiderme repousam sobre uma estrutura
chamada membrana basal. À microscopia óptica, essa zona limítrofe corada pelo
ácido periódico de Schiff (PAS) revela uma delgada zona uniforme de reação
intensa. Os estudos de microscopia eletrônica esclareceram a complexidade dessa
região, o que vem facilitando a compreensão de várias doenças cutâneas. A zona da
membrana basal é constituída por 4 áreas distintas: a membrana celular da célula
basal; a lâmina lúcida, sob a membrana plasmática dos queratinócitos basais, com
seus hemidesmossomos; a lâmina densa, formada por colágeno tipo IV; e a lâmina
fibrorreticular, que se continua com a derme subjacente.
17
A função da zona da membrana basal é fornecer a ancoragem e a adesão da
epiderme com a derme, mantendo a permeabilidade nas trocas entre estes dois
componentes e atuando como filtro para a transferência de materiais e células
inflamatórias ou neoplásicas.
Várias doenças mecanobolhosas hereditárias e auto-imunes envolvem a
separação e a formação de bolhas em vários níveis da junção dermoepidérmica,
como epidermólise bolhosa, penfigoide bolhoso, penfigoide gestacional e lúpus
eritematoso bolhoso.
1.2 DERME
A derme é a camada situada logo abaixo da epiderme, formada por denso
estroma fibroelástico de tecido conectivo em meio a uma substância fundamental,
que serve de suporte para extensas redes vasculares e nervosas, e anexos
cutâneos que derivam da epiderme.
Os principais componentes da derme incluem o colágeno (70 a 80%) para
resistência, a elastina (1 a 3%) para elasticidade e os proteoglicanos, que
constituem a substância amorfa em torno das fibras colágenas e elásticas.
A derme divide-se em papilar (mais externa), reticular (mais interna) e derme
perianexial. A derme papilar é mais delgada, altamente vascularizada e preenche as
concavidades entre as cristas epidérmicas, dando origem às papilas ou cristas
dérmicas. É formada por feixes delicados de fibras colágenas (principalmente do tipo
III) e elásticas, dispostas em uma rede frouxa, circundada por abundante gel de
mucopolissacarídeos. A derme reticular compõe a maior parte da espessura da
derme, está abaixo do nível das cristas epidérmicas e é constituída de fibras
colágenas (principalmente do tipo I) entrelaçadas, além de fibras elásticas que estão
dispostas paralelamente à superfície da pele. A derme perianexial tem a mesma
estrutura da derme papilar, mas localiza-se em torno dos anexos cutâneos.
O sistema elástico, que permeia as fibras colágenas das dermes papilar e
reticular, é responsável pela elasticidade cutânea, ou seja, capacidade da pele de
retornar à posição original quando submetida ao estiramento.
18
A derme contém população mista de células, incluindo fibroblastos, fibrócitos,
macrófagos teciduais, melanófagos, mastócitos e leucócitos sanguíneos (como
neutrófilos, eosinófilos, linfócitos, monócitos e plasmócitos).
Vascularização
O suprimento vascular da pele é limitado à derme e constitui-se de um plexo
profundo em conexão com um plexo superficial. Estes plexos correm paralelos à
superfície cutânea e estão ligados por vasos comunicantes dispostos
perpendicularmente.
O plexo superficial situa-se na porção superficial da derme reticular, com
arteríolas pequenas das quais partem alças capilares que ascendem até o topo de
cada papila dérmica e retornam como capilares venosos.
O plexo profundo situa-se na base da derme reticular e é composto por
arteríolas e vênulas de paredes mais espessas. Há ligação íntima entre os plexos
por meio dos vasos comunicantes, e o controle do fluxo sanguíneo dérmico por
esses vasos contribui para o controle da temperatura corpórea.
1.3 HIPODERME
A hipoderme ou panículo adiposo é a camada mais profunda da pele e está
organizada em lóbulos de gordura divididos por septos fibrosos compostos de
colágeno, por onde correm vasos sanguíneos, linfáticos e nervos. Une a derme à
fáscia profunda subjacente, absorve choques e funciona como isolante térmico.
Inervação
A inervação da pele é abundante e constituída por nervos motores
autonômicos e por nervos sensoriais somáticos.
O sistema autonômico é composto por fibras simpáticas e é responsável pela
piloereção, constrição da vasculatura cutânea e secreção do suor. As fibras que
inervam as glândulas écrinas são simpáticas, mas têm como neurotransmissor a
acetilcolina.
19
O sistema somático é responsável pelas sensações de dor, prurido, tato suave,
tato discriminativo, pressão, vibração, propriocepção e térmica. Os nervos sensitivos
têm receptores especializados divididos funcionalmente em mecanorreceptores,
termorreceptores e nociceptores. Morfologicamente, estes receptores podem
constituir estruturas especializadas, como:
corpúsculos de Vater-Pacini, nas regiões palmoplantares, específicos
para pressão e vibração;
corpúsculos de Meissner, nas polpas dos dedos, específicos para o tato;
corpúsculos de Krause, nas áreas de transição entre pele e mucosas,
sensíveis ao frio;
corpúsculos de Ruffini, sensíveis ao calor.
Podem também ser desprovidos de características estruturais específicas, que
são as terminações nervosas livres responsáveis pela sensibilidade da dor, prurido e
parte da térmica.
1.4 ANEXOS CUTÂNEOS
Unidade Pilossebácea
As unidades pilossebáceas são encontradas sobre toda a superfície da pele,
exceto nas regiões palmoplantares, nos lábios e na glande. Compõem-se de uma
haste pilosa circundada por bainha epitelial contínua com a epiderme, uma glândula
sebácea, musculatura lisa piloeretora e, em certas regiões corpóreas, ducto excretor
de uma glândula apócrina que desemboca acima da glândula sebácea.
A haste pilosa é a parte do pelo que se projeta para fora da pele, e sua raiz é a
região que fica dentro da pele. A haste é composta por cutícula externa, córtex
intermediário e medula. A bainha epitelial da raiz divide-se em bainhas radiculares
externa e interna. A externa dá continuidade às células da camada espinhosa da
epiderme superficial, e a interna é formada por três camadas celulares distintas:
camada de Henle, camada de Huxley e cutícula, formada por escamas que se
entrelaçam com as escamas da cutícula do pelo.
Na porção mais inferior do folículo piloso, há uma expansão chamada de bulbo
piloso, que contém a matriz do pelo. Nela ocorre a atividade mitótica do pelo e
20
encontram-se os melanócitos, sendo, portanto, responsável pelo crescimento e
pigmentação do pelo.
Há dois tipos de pelo: o lanugo ou pelo fetal, que são curtos, delicados e claros,
idênticos aos pelos velus do adulto; e o terminal, mais grosso, escuro e grande,
encontrado nas axilas, cabelos, barba e região púbica.
Os pelos não crescem continuamente, e sim de maneira cíclica, podendo-se
identificar 3 fases distintas:
anágena: fase de crescimento ativo, com duração de 2 a 3 anos;
corresponde a 85% dos cabelos;
catágena: fase de involução, com duração de 3 semanas; corresponde a
1% dos cabelos;
telógena: fase de queda, com duração de 3 a 4 meses; corresponde a
14% dos cabelos.
As glândulas sebáceas são glândulas holócrinas cuja função é produzir o
sebo, que é uma combinação de ésteres de cera, esqualeno, ésteres de colesterol e
triglicérides. É secretado através do ducto sebáceo na luz do folículo piloso e
recobre a superfície cutânea, atuando como lubrificante natural do pelo, além de
evitar a perda de água pela camada córnea, proteger contra excesso de água na
superfície e ter ação bactericida e antifúngica. Ocorrem por toda a pele, exceto na
região palmoplantar, e seu controle é hormonal, especialmente andrógeno.
Glândulas Sudoríparas Écrinas
As glândulas sudoríparas écrinas derivam da epiderme e não pertencem à
unidade pilossebácea. Cada glândula é um túbulo simples com um segmento
secretor enovelado situado na derme e um ducto reto que se estende até a
superfície da pele. São inervadas por fibras simpáticas, mas têm a acetilcolina como
mediador.
Estão localizadas em toda a superfície cutânea, exceto nas áreas de pele
modificada, como os lábios, os leitos ungueais e a glande. Participam da
termorregulação, produzindo suor hipotônico que evapora durante o calor ou
estresse emocional.
21
Glândulas Sudoríparas Apócrinas
As glândulas sudoríparas apócrinas derivam da epiderme e fazem parte da
unidade pilossebácea, desembocando, em geral, nos folículos pilosos. Localizam-se
nas axilas, escroto, prepúcio, pequenos lábios, mamilos e região perineal, além de,
modificadamente, nas pálpebras (glândulas de Moll), mamas (glândulas mamárias) e
conduto auditivo externo (glândulas ceruminosas). Produzem secreção viscosa e
leitosa constituída de proteínas, açúcares, amônio e ácidos graxos; é inodora
quando atinge a superfície, mas as bactérias a decompõem, causando odor
desagradável. São inervadas por fibras nervosas simpáticas e estão sob controle
dos hormônios sexuais. Sua função provavelmente representa vestígios de espécies
inferiores, cuja comunicação sexual se dá por meio de substâncias químicas.
Unhas
São placas córneas localizadas no dorso das falanges distais dos quirodáctilos
e pododáctilos. São compostas por 4 partes: a raiz, parte proximal recoberta por
uma prega de pele chamada de prega ungueal proximal; a lâmina, que está aderida
sobre o leito ungueal; as dobras laterais, que cobrem as bordas laterais da lâmina
ungueal; e a borda livre.
No leito ungueal, a epiderme apresenta somente a camada basal, que se torna
opaca na sua parte proximal, formando a lúnula. Aí encontra-se a matriz, que tem
intensa atividade proliferativa e é responsável pelo crescimento da unha.
1.5 FISIOLOGIA DA PELE
As várias estruturas da pele exercem funções primordiais para a sobrevivência
do organismo. São elas:
O estrato córneo atua como barreira para a perda de água das
camadas epidérmicas internas e para lesão proveniente do ambiente
externo, como a entrada de agentes tóxicos e micro-organismos.
Os melanócitos exercem proteção contra os efeitos indesejáveis da
radiação solar ultravioleta por meio da melanina, que a absorve
amplamente.
Os nervos dérmicos têm a importante função de percepção do meio.
22
As fibras colágenas e elásticas da derme e sua substância fundamental
conferem à pele propriedades viscoelásticas e de resistência que a
protegem contra as forças de cisalhamento.
A termorregulação se dá pela extensa rede vascular cutânea, através do
controle do fluxo sanguíneo, e pelas glândulas sudoríparas écrinas, cuja
secreção proporciona o resfriamento por evaporação a partir da
superfície da pele.
O papel da pele na proteção imunológica do organismo se deve
principalmente à célula de Langerhans, que participa de várias reações
imunológicas, inclusive na interação macrófago-célula T e nas
interações entre linfócitos T e B.
A pele desempenha uma função endócrina, pois a ação da radiação
ultravioleta sobre o 7-deidrocolesterol nos ceratinócitos forma a vitamina
D3, que estimula a absorção de cálcio e fosfato no intestino.
23
CAPITULO II - QUEIMADURA
Queimadura é uma lesão em determinada parte do organismo desencadeada
por um agente físico. Dependendo deste agente podem ser classificadas em
térmicas, elétricas e químicas. Esses agentes agem no tecido causando destruição
parcial ou total da pele e seus anexos podendo atingir camadas profundas, como
tecido subcutâneo, músculos tendões e ossos. (KNOBEL, 2006).
Queimaduras são lesões comuns, a maioria de pequena extensão auto-
tratáveis, aquelas com maior extensão são lesões graves que exigem tratamentos
intensivos e reabilitação.
As lesões por queimadura representam um importante problema de saúde em
termos de tratamento e cuidados em pacientes sobreviventes e o traumatismo
ocasionado pela queimadura, na maioria das vezes, é uma das mais devastadoras
ocorrências na vida do indivíduo.
No entender de Dal Molin, (2004) a dor causada pela queimadura faz com
que, na situação de emergência domiciliar, as pessoas utilizem pomadas e
ungüentos além de uma infinidade de outros produtos (borra de café, margarina,
creme dental, etc.). A pasta de dente, por exemplo, pelo seu frescor que é
freqüentemente usada, no entanto, há substâncias antissépticas que são
extremamente irritantes aos tecidos expostos na zona da lesão queimada. O
controle da dor é um dos principais objetivos da enfermagem no tratamento do
paciente queimado.
Na vigência da dor o paciente poderá apresentar vários sintomas segundo,
Smeltzer et al, (2006) taquicardia, sudorese, hipertensão, agitação e desconforto
respiratório. Medidas de controle, analgésico e sedação são freqüentemente
necessárias. A gravidade de uma queimadura é determinada principalmente pela
extensão, área de superfície corporal total queimada (ASCT) e pela sua
profundidade.
24
O tratamento de um paciente queimado inclui vários procedimentos,
dependendo da extensão e da gravidade das queimaduras, atendimento de
emergência, alívio da dor, debridamento e enxertia entre outros. Uma boa equipe
multiprofissional, com Médicos, Fisioterapeutas, Enfermeiros, Psicólogos e
Terapeuta ocupacional são imprescindíveis para a recuperação do paciente
(ERAZO, 2006).
2.1 TIPOS DE QUEIMADURAS
Costuma-se classificar as queimaduras de acordo com a profundidade da
pele lesada. Refletindo sobre esse assunto, Knobel, (2006) relata que essa
classificação é importante para se avaliar a previsão de cicatrização e cura da
queimadura. Quanto mais superficiais, melhor o prognóstico. Em todos os tipos de
lesão, várias células epiteliais vão formar novas camadas finas e secas. A pele em
regeneração deve ser protegida contra traumas, temperatura, exposição ao sol.
Podemos classificar as queimaduras da seguinte forma:
Fig. 2
Queimadura superficial ou 1º grau
Nesta queimadura, o traumatismo e a lesão celular ocorrem apenas na parte
externa da epiderme. Devido à natureza avascular da epiderme externa, não
ocorrerá sangramento. Normalmente, ocorre uma leve reação inflamatória e a pele
estará dolorida ao toque, mas não se formarão bolhas e a cicatrização normalmente
25
ocorrerá dentro de 2 a 5 dias. Haverá também algum “despelamento” (descamação)
da epiderme externa.
Queimadura superficial de espessura parcial ou 2º grau
Numa lesão de espessura parcial, a lesão ocorre através da epiderme até as
camadas superiores da derme. A camada epidérmica é completamente destruída,
mas a camada dérmica sofre apenas lesão leve a moderada. Este tipo de
queimadura é extremamente doloroso, devido à irritação das terminações nervosas
e dos sensores para a dor que sobrevive ao insulto térmico.
Queimadura profunda de espessura parcial ou 2º grau profundo:
Envolve a destruição da epiderme e uma grave lesão também da camada
dérmica. A maioria das terminações nervosas, folículos pilosos e glândulas
sudoríparas serão lesionados, com a destruição da maioria da derme. Esta é ainda
uma lesão dolorosa, porque nem todas as terminações nervosas foram destruídas.
O tecido pode estar anestesiado imediatamente após o traumatismo provocado pela
queimadura. Haverá o desenvolvimento de escaras, ou de tecido morto resultante da
lesão e da destruição tissular, em decorrência da presença da lesão necrosada e do
plasma. Queimaduras classificadas inicialmente como segundo grau podem
aprofundar-se na coexistência de infecção local.
Queimadura de espessura integral ou 3º grau
Neste caso todas as camadas epidérmicas e dérmicas estão completamente
destruídas. A extensão da lesão leva à necrose de coagulação das células,
destruição dos vasos sanguíneos, edema maciço e infiltração celular na ferida.
Devido à completa destruição das terminações nervosas na área, a ferida estará
relativamente indolor. É altamente provável a ocorrência de infecção e todos os
esforços precisam ser feitos para manter um mínimo de infecção.
Queimadura elétrica ou 4º grau
26
Envolve a completa destruição de todos os tecidos, desde a epiderme até (e
inclusive) o tecido ósseo subjacente. Este tipo de queimadura ocorre normalmente
em resultado do contato com a eletricidade e, se a corrente for forte o suficiente,
também poderão ocorrer fraturas do osso subjacente.
2.2 AVALIAÇÃO DA EXTENSÃO DA QUEIMADURA: ASCT – ÁREA DE
SUPERFÍCIE CORPORAL TOTAL LESADA
Existe um método bastante simples para se obter a área de superfície
corporal total lesada: o Método de Wallace, também conhecido com a Regra dos
Nove. Esta regra emprega valor igual a nove ou múltiplo de nove às partes
atingidas. Use-a para estimar o percentual atingido pela lesão (SMELTZER et al,
2006).
Regra dos nove
Cabeça – 9%;
Braços – 9% cada um;
Tronco – 36% (face anterior e posterior);
Pernas – 18% cada uma;
Genitália – 1%.
2.3 TRATAMENTO DE EMERGÊNCIA EM SITUAÇÕES DE
QUEIMADURAS: PRIMEIROS SOCORROS
Queimaduras são relativamente comuns. Uma fogueira pode ficar fora de
controle, um fogareiro e a churrasqueira pode dar problema. Não importa qual o tipo
de queimadura, o primeiro cuidado é a interrupção do agente agressor (ERAZO,
2006).
Como proceder em casos de queimaduras?
1 – Retirar a vitima do contato com a causa da queimadura:
a) Lavando a área queimada com bastante água, no caso de
gentes químicos; retirar a roupa do acidentado, se ela ainda
contiver parte da substância que causou a queimadura;
27
b) Apagando o fogo, se for o caso, com extintor (apropriado),
abafando-o com um cobertor ou simplesmente rolando o
acidentado no chão;
2 - Verificar se a respiração, o batimento cardíaco e o nível de
consciência do acidentado estão normais.
3 - Para aliviar a dor e prevenir infecção no local da queimadura:
a) Mergulhar a área afetada em água limpa ou em água corrente, até
aliviar a dor. Não romper as bolhas e nem retirar as roupas queimadas
que estiverem aderidas à pele. Se as bolhas estiverem rompidas, não
colocá-las em contato com a água;
b) Não aplicar pomadas, líquidos, cremes e outras substâncias sobre a
queimadura. Elas podem complicar o tratamento e necessitam de
indicação médica.
4 - Se a pessoa estiver consciente e sentir sede, deve ser-lhe dado
toda água que deseja beber, porém lentamente e com cuidado.
5- Encaminhar logo que possível à vítima ao Posto de Saúde ou ao
Hospital, para avaliação e tratamento.
Outros cuidados:
a) Não dê água a pacientes com mais de 20% do corpo queimado;
b) Não coloque gelo sobre a queimadura;
c) Não dê qualquer medicamento intramuscular, subcutânea ou pela
boca sem consultar um Médico, exceto em caso de emergência
cardíaca;
d) Não jogar água em queimaduras provocadas por pós-químicos;
recomenda-se cal e escovação da pele e da roupa.
e) Deve-se providenciar o transporte imediato do acidentado, quando
a área do corpo queimada for estimada entre 60 e 80%.
f) Além da percentagem da área corporal atingida, a gravidade das
queimaduras é maior nos menores de 5 anos e maiores de 60.
28
2.4 TRATAMENTO MEDICO DO PACIENTE COM QUEIMADURA
O tratamento deve ser planejado de acordo a extensão e profundidade da
queimadura, quando a área de superfície corporal total é muito grande o risco de
morte e complicações aumenta.
Deve-se controlar a dor, fazer debridamento, escarotomia, fasciotomia,
enxertos, balneoterapia, manter o equilíbrio hidricoeletrolítico bem como, seus sinais
vitais para que o cliente não desenvolva choque hipovolemico, por causa da perda
excessiva de líquidos. Problemas respiratórios podem surgir, caso ouve inalação de
fumaça e toxinas, atentar também ao risco de se desenvolver uma infecção por
perda da primeira camada de proteção da pele (IRION, 2005).
Exame básico (ATLS)
A – Vias Aéreas
B – Boa Respiração
C – Circulação
D – Dano Neurológico
E – Exposição
Controle da dor
O tratamento da dor é de responsabilidade do médico e da enfermeira, além
disso, temos de avaliar as causas e adotar as providências para eliminar ou
minimizar com o uso de analgésicos prescritos, como os opióides, antiinflamatórios,
cloridrato de tramal, entre outros. O Enfermeiro é responsável por este processo;
contudo, podemos perceber o quanto ele está atrelado ao que o médico diz e
prescreve. Isto se comprova por intermédio de pesquisas que apontaram o cuidado
centrado no aspecto farmacológico (DAL MOLIN, 2004).
Escarotomia
É um procedimento de emergência realizado por um medico com experiência
no atendimento a queimados. Irion, (2005), dá destaque que, no caso de
queimaduras de espessura total circunferências de membros ou do tronco, podem
29
ser necessárias à realização de escarotomia. O edema tecidual pode causar
compressão de estruturas em membros e predispor à necrose de extremidades. O
aspecto duro e inelástico da pele com queimadura de terceiro grau restringe os
movimentos respiratórios e pode levar a insuficiência respiratória.
Este procedimento deve ser realizado na sala de emergência ou mesmo no
leito do paciente. É feita a incisão da pele em toda a sua espessura, atingindo-se o
subcutâneo. A pele queimada de terceiro grau é insensível, mas pode ocorrer dor
com a incisão atingindo o subcutâneo. Analgesia proporcional à dor deve ser
administrada por via venosa.
Fasciotomia
Procedimento realizado na emergência por cirurgião experiente, indicado
quando se suspeita de síndrome de compartimento no antebraço ou perna,
geralmente em lesões decorrentes da passagem de corrente de alta voltagem
(IRION, 2005).
Debridamento
É muito importante para diminuir a ameaça de infecção. À medida que os
resíduos se acumulam na superfície da ferida, eles podem retardar a migração dos
queratinócitos, atrasando, assim, o processo de epitelização. O debridamento, outra
faceta do cuidado de queimadura, apresente duas metas:
Para remover o tecido contaminado por bactérias e corpos
estranhos, protegendo, assim, o paciente contra a invasão de bactérias.
Para remover o tecido desvitalizado ou a escara da queimadura
na preparação para a enxertia e cura da ferida. (SMELTZER et al, 2006p.
1822).
Há o debridamento mecânico, onde o tecido morto é segregado com o uso de
tesouras, pinças ou escovas para separar e remover. Existem fármacos como:
colagenase, purinol, alginato, dexene, de uso tópico que fazem debridamento, como
também o uso de hidroterapia. Tanto o debridamento mecânico como o cirúrgico é
feito sobre a ação de anestésicos, principalmente se o cliente tiver uma queimadura
grande e profunda (IRION, 2005).
30
Enxertos
Queimaduras grandes e profundas não conseguem se regenerar por si só. A
regeneração será lenta por segunda intensão, poderia deixar defeitos como, perda
da função e contração no local. Os enxertos podem ser de pele de seres humanos
vivos ou mortos: aloenxertos, a membrana da placenta humana e pele de porcos:
xenoenxertos. O próprio paciente, autoenxerto, no entanto, pode ser o doador se as
áreas de retirada do enxerto não estiverem comprometidas, os locais mais comuns
são as coxas, nádegas e tronco (SMELTZER et al, 2006).
Pesquisadores da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas)
conseguiram pela primeira vez no país reproduzir a pele humana em laboratório. A
descoberta abre caminho para o tratamento sem rejeição em pacientes com úlceras,
queimaduras e lesões.
O estudo é também o primeiro a ser publicado sobre o tema na literatura
mundial, segundo a coordenadora da pesquisa, a dermatologista Beatriz Puzzi. O
método foi apresentado em dois congressos, entre eles o 4º Congresso Mundial de
Banco de Tecidos, em maio no Rio - o estudo recebeu o prêmio de pesquisa
inovadora. (UNICAMP, 2005).
Problemas respiratórios
A inalação de fumaça ou substâncias tóxicas pode causar lesões e levar ao
óbito grande parte dos clientes. As alterações respiratórias mais complicadas são
pneumonia e embolia pulmonar (KNOBEL, 2006).
A equipe de enfermagem deve ficar atenta para sinais de hipoxemia,
taquicardia, sudorese e cianose. Essas lesões causadas podem destruir a árvore
respiratória provocando, edema e obstrução (SMELTZER et al, 2006).
Reposição hídrica
Após controlar a resposta respiratória e dor a enfermeira deve ficar atenta
para os sinais de hipovolemia e choque, fazendo a reposição de líquidos e eletrólitos
31
perdidos que foram prescritos. A punção de um acesso venoso calibroso é de
grande importância, mantê-lo fluindo (SMELTZER et al, 2006).
Risco de infecção
Apesar das precauções assépticas e do uso de agentes antimicrobianos
tópicos a queimadura é um meio excelente para o crescimento e proliferação
bacteriana. Bactérias como Staphylococcus e Pseudomonas são as mais comuns.
Os agentes microbianos mais usados são o de uso tópico, como, sulfadiazina de
prata, acetato de mafenide, nitrato de prata (SMELTZER et al, 2006).
Conforme os autores citados a enfermeira deve ficar atenta para sinais de
infecção no local da queimadura, coloração, secreções, bem como sinais sistêmicos
como febre, contagem de leucócitos. Para controlar os riscos de infecção deve fazer
a troca de curativo sempre que necessário e observar, também a troca de cateter
venoso conforme as normas da instituição.
Balneoterapia
A balneoterapia consiste em um curativo com lavagem da ferida, para a
limpeza e remoção de curativos em um ambiente próprio, com o paciente sob o
efeito de sedação venosa ou anestesia, se usa banheiras ou chuveiros. A
temperatura da água deve ser mantida em 37,8ºC e não devem ultrapassar os 30
minutos para evitar o calafrio do paciente e o estresse metabólico (SMELTZER et al,
2006).
2.5 ATUAÇÃO DA ENFERMAGEM NO TRATAMENTO E REABILITAÇÃO
DO PACIENTE QUEIMADO
O histórico de enfermagem tem como finalidade de ouvir atentamente o
paciente, para poder conseguir todas as informações necessárias a fim de identificar
os problemas. Avaliam-se também o peso corporal, pré-queimadura, temperatura,
histórias de alergias, patologias de base, vacinação contra tétano, fez cirurgias, usa
algum tipo de medicamento.
32
Fazer o exame físico completo céfalo-podálico, observando sinais, sintomas,
lesão e complicações em desenvolvimento. O exame neurológico também deve ser
feito para avaliar o nível de consciência, estado psicológico, dor, ansiedade,
comportamento se esta orientada no tempo e espaço (GEISSLER, 2003).
A enfermagem deve monitorar com freqüência os sinais vitais. O estado
respiratório é rigorosamente monitorado, sendo avaliado o pulso. A monitoração
cardíaca é indicada quando o paciente apresenta história de doença cardíaca, lesão
por eletricidade ou problemas respiratórios, ou quando o pulso está arrítmico ou a
velocidade anormal lenta ou rápida (SMELTZER et al, 2006).
O uso de cateter venoso calibroso e sonda urinária são inseridos e a
avaliação da enfermeira inclui a monitoração do balanço hídrico. O debito urinário,
um indicador da perfusão renal, é cuidadosamente monitorado e medido a cada hora
(KNOBEL, 2006).
Smeltzer et al, (2006), retrata que a enfermagem encorpara os exercícios de
fisioterapia ao cuidado do paciente para impedir a atrofia muscular e manter a
mobilidade necessária para as atividades diárias, um cuidado primordial para
reabilitação. A reabilitação começa logo depois da queimadura mais precocemente.
O grau de tolerância à atividade, a força e a resistência do paciente irão aumentando
gradualmente à medida que a atividade for acontecendo durante períodos cada vez
mais longos.
O cuidado, na perspectiva da dor para DAL MOLIN, (2004), da sua avaliação
e terapêutica, também deveria ser humanizado, individualizado, incluindo não
apenas o aspecto farmacológico, mas especialmente as ações próprias da
enfermagem, os nossos instrumentos de trabalho, o nosso foco, que é o cuidado
humano. Cuidar é muito mais do que curar, é proporcionar ao indivíduo uma melhor
percepção de si e de sua vida, e ao profissional, a satisfação cada vez maior.
2.6 CURATIVOS
Os protocolos para tratamento de feridas provocadas por queimaduras podem
variar de um hospital para outro. Aspectos que indicam a gravidade da ferida tais
como: a localização, profundidade, extensão, presença ou não de infecção, agente
33
causador do trauma, estado nutricional dos pacientes, presença de doenças
crônicas degenerativas e faixa etária, afetarão o processo de cicatrização e
influenciarão na escolha do tratamento da ferida.
As lesões resultantes das queimaduras são isquêmicas como conseqüência
da trombose causada pelo trauma. As queimaduras profundas apresentam trombose
em todas as camadas da pele atingidas e a diminuição da oxigenação nesses
tecidos dificulta o crescimento dos capilares e a cicatrização da ferida, pois todos os
tecidos humanos requerem oxigênio para que se mantenham viáveis. Nas
queimaduras profundas há uma grande quantidade de tecidos necróticos, o que
facilita o desenvolvimento de infecção, pois esses tecidos fornecem nutrientes para
as bactérias que requerem pouco oxigênio para a sobrevivência, consumindo-o e
diminuindo ainda mais a quantidade de oxigênio disponível para os tecidos.
Os curativos de pacientes que sofreram lesões térmicas têm sido realizados,
freqüentemente, por profissionais de enfermagem com base em uma rotina
preestabelecida nos serviços especializados em queimaduras.
O mercado oferece uma diversidade de produtos para tratamento de
queimaduras que tem provocado insegurança nos profissionais da saúde sobre qual
opção é a mais indicada. Vale considerar que a literatura apresenta alguns
questionamentos sobre o tratamento das queimaduras ainda sem respostas e
controvérsias que merecem ser esclarecidas. Em adição, alguns estudiosos
mencionam a escassez de informações específicas acerca da indicação e efeitos
adversos dos produtos convencionalmente utilizados em queimaduras, de maneira
que seja possível relacionar estas informações com o tipo e a fase da queimadura.
Assim, se conclui que é preciso conhecer a eficiência de cada produto frente à
diversidade de situações. Cabe destacar que o sucesso do tratamento depende,
dentre outros fatores, da criteriosa escolha, bem como, da adequada utilização dos
produtos selecionados.
Tem sido afirmado que “o cuidado com as feridas não pode ser um
procedimento automático, mas um ‘exercício científico’, em que o enfermeiro deve
atuar de forma consciente visando aplicar medidas que possam facilitar o processo
de cicatrização” (Monetta 1990). Assim, o objetivo deste estudo foi descrever,
34
mediante revisão de literatura, os agentes tópicos e tipos de cobertura que têm sido
recomendados no tratamento de queimaduras e discutir as implicações do uso
desses produtos no processo de cicatrização.
Segundo Ferreira et al. (2003) segue-se os resultados obtidos na revisão de
literatura considerando a categorização realizada: agentes tópicos (soluções,
cremes e produtos naturais) e substituto temporário de pele, enfocando em cada
tópico as vantagens e desvantagens do uso de cada produto.
Agentes Tópicos
O termo agente tópico representa uma substância utilizada na superfície da
pele, podendo ter ação antimicrobiana ou não. Alguns agentes tópicos ajudam no
debridamento dos tecidos.
Dentre os diferentes tipos de agentes tópicos, existem os cremes que são
constituídos por emulsões de água e óleo, em que a quantidade de água é superior
ao óleo. Há consenso na literatura quanto à utilização da Sulfadiazina de Prata 1%
para o tratamento de queimaduras, com a finalidade de debridar tecidos necrosados
e combater infecção local. A Sulfadiazina de Prata 1% é um composto de nitrato de
prata e sulfadiazina de sódio, efetivo contra uma ampla microbiota de gram-
negativas como Escherichia coli, Enterobacter, Klebsiella sp e Pseudomonas
aeruginosa, além de incluir bactérias gram-positivas como Staphylococus aureus e
também Candida albicans.
Na revisão de literatura, encontramos alguns estudos que compararam a
utilização da Sulfadiazina de Prata 1% com outras substâncias como o mel, o
curativo colóide, e incorporada a outros produtos como a membrana amniótica e
com um substituto temporário de pele composto de polietileno glicol, hidróxi de
metacrilato e sufóxido de dimetil adicionado a Sulfadiazina de Prata. Esses
ingredientes foram incorporados a uma base de nylon e lycra que resultou na
formação de uma lâmina elástica e flexível que permite o contorno do corpo. Durante
a utilização desse produto observou-se redução do índice de infecção.
Por volta de 1976, estudiosos sobre o tratamento de queimaduras preparam
um composto de Nitrato de Cério e Sulfadiazina de Prata, com o objetivo de reduzir
35
a infecção de feridas. A combinação dessas duas substâncias leva à deposição de
uma fina camada de sais de cálcio sobre a lesão, formando uma barreira contra
bactérias.
A Sulfadiazina de Prata 1% é um dos agentes tópicos mais utilizados no
tratamento de queimaduras, sendo recomendada em queimaduras de segundo e
terceiro graus. É facilmente aplicada e removida, não provoca dor e apresenta
poucos efeitos colaterais. Como um dos efeitos colaterais da Sulfadiazina de Prata
1%, tem sido relatados episódios de discreta leucopenia depois de poucos dias de
uso, e de alergias em menos de 5% dos pacientes sem necessidade de interrupção
do uso.
Na prática clínica em uma Unidade de Queimados, os pacientes têm relatado
sensação de frescor após a aplicação desse creme. A aplicação de Sulfadiazina de
Prata 1% segue a prescrição médica, que recomenda a sua utilização nos primeiros
dias de tratamento da queimadura, enquanto há presença de tecido necrótico ou
infecção. Esse agente tópico deve ser trocado duas vezes ao dia em razão da
oxidação da prata. Entretanto, há dificuldades para atender a essa recomendação,
quando a Sufadiazina de Prata 1% é utilizada em curativos oclusivos, em função do
trauma físico e emocional que cada curativo provoca ao paciente e do alto custo dos
recursos utilizados.
Ainda, com relação à Sulfadiazina de Prata 1%, há evidências na literatura de
que ela é tóxica para o crescimento de queratinócitos e fibroblastos. Em um estudo
realizado, em cultura de queratinócitos in vitro, para comparar a toxidade de agentes
antimicrobianos para as células epiteliais, observou-se a seguinte ordem crescente
de toxidade: pomadas com três tipos de antibióticos (sulfametoxazol trimetoprima
50.000 U, Polimixina B 200,000 U e Neomicina 40 mg), solução salina normal,
petrolato, acetato de mafenide, solução de PVP-I, sulfadiazina de prata 1%, nitrato
de prata, nitrofurazona e líquido Dakin (0,5%). A Sulfadiazina de Prata foi testada em
uma concentração de 0,03% que é somente um terço da concentração utilizada
(1%). Com base nesses resultados, recomenda-se que na escolha do agente tópico,
sejam considerados os benefícios dos antibióticos contra os efeitos tóxicos na
migração epitelial. Desta forma, entendemos que a utilização de agentes com maior
36
toxidade não está indicada em áreas que apresentem sinais de epitelização e não
apresentem sinais de infecção.
Outros cremes também utilizados são o Acetato de Sulfanamida 10%, a
Nitrofurazona 0,2% e o Creme de Gentamicina 0,1%. O creme de Nitrofurazona
0,2% não tem sido utilizado nos Estados Unidos da América, entretanto, ainda é
utilizado no Brasil. Apresenta ampla ação bacteriostática, embora menor que a da
Sulfadiazina de Prata 1%. Quando as lesões apresentam-se limpas com formação
de tecido de granulação, tem sido utilizado o creme de Nitrofurazona 0,2%, sendo
que os pacientes relatam dor e sensação de queimação após a aplicação. Há relatos
na literatura de que esse creme é realmente bastante doloroso à aplicação e que
também apresenta toxidade ao crescimento de queratinócitos em cultura. Assim, a
sua utilização em feridas limpas com presença de tecido de granulação pode ser
contraindicada em razão da dor provocada após a aplicação. Esse creme pode
causar dermatite de contato (prurido e edema). Com base nas referências acima e
considerando os efeitos desse produto, entendemos que sua utilização em feridas
limpas ou quando apresentarem crescimento de tecido de granulação não seria uma
escolha adequada.
Na literatura, também está documentado o uso de Acetato de Sulfanamida
10% e Creme de Gentamicina 0,1%. O Acetato de Sulfanamida 10% foi amplamente
utilizado em tratamento de queimaduras antes do advento da Sulfadiazina de
Prata1%. Esse creme é ainda considerado como uma alternativa importante no
combate à infecção, entretanto, pode causar acidose metabólica, pela inibição da
anidrase carbônica e é doloroso à aplicação.
Dentre as diversas opções para tratamento de queimaduras observa-se a
recomendação da utilização das pomadas enzimáticas e dos Ácidos Graxos
Essenciais (AGE), que são compostos por ácido linoleico, ácido caprílico, vitamina E,
A e lecitina de soja. Os AGE são precursores de substâncias farmacologicamente
ativas envolvidas no processo de divisão celular e diferenciação epidérmica.
Possuem a capacidade de modificar reações inflamatórias e imunológicas, alterando
funções leucocitárias e acelerando o processo de granulação tecidual. Os AGE
podem ser utilizados diretamente sobre o leito da ferida ou embebidos em gases
estéreis, devendo ser trocados no máximo a cada 24 horas. Já as pomadas
37
enzimáticas como a colagenase, apresentam caráter enzimático e debridante,
estimulando, indiretamente, a formação do tecido de granulação e, posteriormente, a
reepitelização.
Paralelamente ao uso dos agentes tópicos devem-se instituir práticas que
devem incluir a avaliação precisa das lesões não só no que se refere à descrição
das suas características e da evolução diária, mas também à descrição das reações
e dos efeitos colaterais que esses agentes podem provocar.
Produtos Naturais
No tratamento de queimaduras, encontramos várias referências na literatura, no
período estudado, sobre a utilização do mel e da papaína. O mel mostrou-se mais
eficaz no tratamento das queimaduras, promovendo a cicatrização em tempo menor
que a sulfadiazina de prata 1%.
“As substâncias contendo açúcar, como mel e derivados da cana-de-açúcar, vêm sendo usadas há vários anos no tratamento de lesões de pele com excelentes resultados clínicos. Considera-se que propicia os seguintes efeitos: rápida diminuição da congestão passiva e do edema locais, estímulo da epitelização e granulação tissular e ação antibacteriana” (Subrahmayam, 1996).
Sabe-se que o mel é composto por vitaminas, concentrações de ácido
fórmico, enxofre, cloro e outros elementos químicos, mas o seu principal efeito é
desconhecido. O mel inibe o crescimento de cepas gram-negativas e gram-positivas,
devido ao baixo pH, e promove uma barreira viscosa que impede a invasão de
microorganismos, bem como a perda de fluidos das lesões. Também, contém
enzimas como a catalase, que auxilia no processo de cicatrização. Promove efeito
osmótico suficiente para inibir o crescimento microbiano e, quando diluído, produz
peróxido de hidrogênio, que é um agente antimicrobiano.
Outro agente tópico utilizado é a papaína, que é um complexo de enzimas
proteolíticas, retirado do látex do mamão papaia (Carica papaya), cujo sítio ativo é
portador de um radical sulfidrila (SH), tornando-se difícil sua associação com outro
recurso terapêutico, visto que ela sofre oxidação pela substituição do enxofre, por
derivados de ferro, oxigênio e iodo. Seu mecanismo de ação ocorre através da
dissociação das moléculas de proteína, resultando em desbridamento químico, por
38
ser uma enzima de fácil deterioração, deve ser sempre mantida em lugar fresco,
seco, ventilado e protegido da luz.
O carvão ativado, outro agente muito utilizado em feridas infectadas, tem a
ação de absorver o exsudato da lesão e diminuir seu odor fétido.
Soluções
As soluções são utilizadas para a realização de anti-sepsia de pele e mucosas
com a finalidade de prevenir a colonização, porém, algumas vezes, também são
utilizadas em curativos úmidos. Entre as soluções citadas na literatura encontramos
o ácido acético, a solução de Dakin, o nitrato de prata, a tripla solução de antibiótico
(sulfametoxazol trimetoprima 50.000 U, Polimixina B 200,000 U e Neomicina 40 mg),
o Gluconato de Clorexidina e a solução de PVP-I (Polivinil Pirrolidona Iodada). O
ácido acético 0.5% possui ação bactericida para micro-organismos gram–negativos
e gram-positivos em especial para P. aeruginosa.
Em um estudo, no qual foi avaliada a toxidade de quatro agentes tópicos
antimicrobianos in vitro, solução de PVP-I a 1%, solução de hipoclorito de sódio
0,5% (líquido de Dakin), ácido acético 0,25% e peróxido de hidrogênio a 3%, em
culturas de fibroblastos humanos e em culturas de S.aureus, constatou-se que as
soluções de ácido acético e peróxido de hidrogênio apresentaram mais toxicidade
para os fibroblastos que para a bactéria e que as diluições de PVP-I (1: 1000) e
hipoclorito de sódio (1:1000) não apresentaram nenhuma toxidade para o
fibroblasto, mas sim atividade bactericida. Entretanto, é importante destacar que a
utilização PVP-I deve ser cuidadosa com atenção especial à possibilidade de
desenvolvimento de reações alérgicas e ao fato de que seu uso pode ser limitado
pela absorção sistêmica acarretando problemas renais e de tiróide. A solução de
clorexidina é outro agente tópico que age em bactérias Gram-positivas e Gram-
negativas, sendo contraindicado para o tratamento de feridas abertas, devendo ser
utilizado na prevenção da colonização dos locais de inserção de catéteres
vasculares e fixadores externos.
As soluções de acido acético a 0,25% também foram citadas como eficazes
na redução de microorganismos das feridas. Em um estudo realizado, o ácido
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acético 0.5% demonstrou ser tóxico para os fibroblastos em cultura, reduziu a
proliferação de células epiteliais e retardou a cura dos tecidos para enxertos. Assim,
as concentrações a 0,5% são tóxicas para regeneração do epitélio. Sugere-se que a
solução de ácido acético é adequada para pequenas feridas infectadas.
A solução de Dakin (hipoclorito de sódio a 0,5%) é considerada bactericida
para Stafilococcus sp e Streptococcus sp, fungos e alguns agentes virais. As
soluções com concentração 0,5% têm ação bactericida eficaz, mas possuem
toxicidade para os fibroblastos e queratinócitos em cultura. Já a solução de Dakin
0,25% tem apresentado toxicidade mais leve, mas provoca dor. A prolongada
utilização deste produto pode levar à irritação da pele. Em menor concentração,
essa solução é considerada como alternativa para o tratamento de pequenas feridas
infectadas por causa de sua leve toxidade para os tecidos.
Outra solução é a de nitrato de prata a 0,5% que possui ação bactericida
eficaz para gram-positivas (S. aureus). A infecção local pode ser controlada com
esta solução, que é extremamente hipotônica e eletrolítica (sódio e potássio).
Entretanto, com o seu uso podem ocorrer reações de hipersensibilidade por causa
de seu potencial tóxico.
A tripla solução de antibiótico (sulfametoxazol trimetoprima 50.000 U,
Polimixina B 200,000 U e Neomicina 40 mg) pode ser utilizada nos curativos de
feridas infectadas graves. Possui ação bactericida moderada para gram-negativas e
gram-positivas e é indicada por provocar sensação de frescor. A solução de
Gluconato de clorexidina possui ação bactericida para diferentes tipos de cepas
positivas e negativas, no entanto seu uso pode causar dermatite de contato.
Substitutos temporários de pele
Os substitutos temporários de pele são materiais eficazes no tratamento de
queimaduras superficiais recentes e também na cobertura da pele enquanto
aguarda-se o enxerto definitivo. Podem ser trocados a intervalos regulares ou
mantidos até a cicatrização ou enxerto, caso a aderência seja boa ou não haja
infecção. Considera-se que há três linhas de substitutos temporários de pele:
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Substitutos de origem animal, como enxerto homólogo, membrana
amniótica, pele de porco, pele de embrião bovino e colágeno;
Substitutos elaborados à base de substâncias sintéticas, tais como
silicone, poliuretano e hydrom;
Substitutos associados à matéria orgânica e uma película sintética, tal
como colágeno e silicone.
As propriedades dos substitutos de pele devem ser: aderência, transporte do
vapor de água, elasticidade, durabilidade, baixa antigenicidade e toxicidade,
capacidade hemostática e ação antibacteriana. Podem ainda ser classificados em
substitutos biológicos que constituem os aloenxertos (homoenxertos), xenoenxertos
(heteroenxertos) e membrana amniótica; substitutos sintéticos que são constituídos
por membranas de polímero de silicone, membranas de cloreto de polivinil,
metilmetacrilato, membrana de polipropileno com poliuretano, membrana de silicone
com nylon ligado a peptídios de colágeno dérmico, e membrana impermeável com
camada profunda de partículas de hidroativos agregados em polímero inerte;
substitutos biossintéticos que incluem a película microfibrilar de celulose pura e a
membrana de silicone com matriz dérmica de colágeno e glicosaminaglicanos.
Alguns substitutos temporários de pele disponíveis, como por exemplo,
Opsite® * e Tegaderm®*, são constituídos por filmes de poliuretano, por membrana
de cloreto de polivinil, pelos filmes de cloreto de polivinil que conferem ao material
maior elasticidade e permeabilidade ao vapor de água, sendo que estes filmes
aderem à pele e não a ferida.
Há ainda outros produtos, como por exemplo, o Epigard®* constituído pela
membrana de polipropileno com poliuretano, um material de dupla constituição que
contém um filme de polipropileno microporoso, na superfície, laminado a uma
camada profunda de espuma de poliuretano, o Biobrane®* constituído pela
membrana de silicone com nylon ligado a peptídeo do colágeno dérmico, material
semipermeável, tem boa aderência e flexibilidade e alivia a dor em 90% dos
pacientes, o Duoderm® * constituído por partículas hidroativas agregadas em
polímero inerte e funciona como um curativo hidroativo, constituído por duas
camadas, uma externa impermeável à água e uma interna formada por partículas
hidroativas agregadas a um polímero inerte. Esse tipo de cobertura adere à pele
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normal e as partículas protegem o leito cruento. O exsudato liberado pelo ferimento
interage com as partículas hidroativas, formando um gel úmido que facilita a
migração de células epiteliais, estimulando a cicatrização.
Os substitutos de pele têm sido considerados úteis no tratamento de
queimaduras superficiais, pois reduzem a frequência de troca do curativo.
Entretanto, esses materiais têm alto custo e não são eficazes para tratamento de
queimaduras profundas.
Em um estudo realizado com pacientes ambulatoriais, com queimaduras de
segundo grau, constatou-se que o Duoderm® apresentou melhores resultados que a
Sulfadiazina de Prata 1%, pois os pacientes apresentaram menor limitação de
atividade, repigmentação mais rápida; referiram melhora da dor, melhor cicatrização
da ferida e menor necessidade de troca de curativo, com menor custo.
Conclui-se que a seleção do agente tópico ou tipo de cobertura a ser utilizada
no tratamento de queimaduras deve ser realizada com base na avaliação das
características da ferida, em evidências apresentadas na literatura. A escolha dos
agentes tópicos deve permitir a prevenção de infecção ou minimizar a proliferação
de bactérias nas feridas. Aspectos relacionados com a toxicidade devem ser
cuidadosamente avaliados, considerando-se a ação que cada produto pode ter no
processo de epitelização.
Deve-se ainda considerar a relação custo/benefício como critério de escolha.
Nesse sentido, a equipe de saúde que atua em Unidades de Queimados necessita
manter-se atualizada, não se prendendo a tratamentos convencionais, sem
fundamentação científica. Mister se faz usar o raciocínio crítico na tomada de
decisão e na implementação de ações com vistas à efetividade do tratamento.
Portanto, a indicação e a aplicação de produtos químicos em queimaduras devem
ser realizadas com base na avaliação criteriosa da ferida, das condições clínicas do
cliente, bem como, na análise sistemática das evidências da literatura.
* Opsite® - Smith & Nephew Tegaderm/Tegasorb® – 3M Epigarg® - Orthomed Medizintechnik GmbH Duoderm® - Covatec Biobrane® - Woodroof Laboratories Inc. -Sterling Drug
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CAPITULO III - FISIOPATOLOGIA DE QUEIMADOS
As sequelas de queimaduras refletem de modo negativo na autoestima
e estigmatizam o individuo perante a sociedade. Os pacientes com queimaduras
representam um pesado ônus social e econômico, tanto durante sua recuperação
quanto ao longo de suas vidas. Cerca de um milhão de reais por mês é o valor gasto
pelo Ministério da Saúde com a internação de pessoas com queimaduras no Brasil.
Os avanços no tratamento de queimados têm reduzido as taxas de letalidade e
melhorado a qualidade de vida das vitimas de queimaduras. Esses avanços
ocorreram principalmente na correta reposição de volêmica, controle de infecções e
adequado apoio multidisciplinar (Muller & Hemdon 1994, Moore 1999, Macedo &
Rosa 2000).
Nas décadas de 40 e 50, a principal causa de morte em queimados foi
o choque hipovolêmico. Nas décadas de 60 e 70, com as terapias de reposição
volêmica, a principal causa de óbito em queimados passou a ser a sepse,
proveniente do acometimento da ferida ou de outros sítios de infecção. Atualmente,
apesar do desenvolvimento de potentes agentes antimicrobianos tópicos e
sistêmicos, dos avanços no suporte nutricional e do uso de técnicas cirúrgicas de
excisão de tecidos desvitalizados e enxertia precoce na área queimada, as
complicações infecciosas continuam representando um grande desafio e uma das
principais causas de óbito no paciente queimado (Iribarren et al. 1990, Muller &
Herndon 1994, Nguyen et al. 1996, Bang et al.1998).
A infecção é tida como a preocupação maior para o médico que conduz o
tratamento clínico nestes pacientes. Passado o primeiro momento em que os
resgates respiratórios e hemodinâmicos são prioridades cruciais, o controle da
infecção, coloca-se, em seguida, como o desafio maior. A infecção lidera causas de
morbimortalidade no grande queimado. Em todos os centros de tratamento de
queimados (CTQs) do mundo, a infecção é a responsável por cerca de 75% dos
óbitos; sendo aceitável um índice de até 80%. No grande queimado a infecção é
praticamente tida como certa não sendo incomum um mesmo paciente apresentar
três ou mais episódios de infecção durante a sua jornada de cura. E como o
43
queimado é, acima de tudo, um paciente imunossuprimido, a sepse é tida como seu
apanágio.
3.1 ETIOPATOGENIA DA INFECÇÃO
Fatores do Paciente
A infecção assume tal perfil nestes pacientes porque o organismo queimado
oferece as condições ideais para o seu desenvolvimento: além da perda da
integridade cutânea (barreira mecânica) contra a invasão de microorganismos e de
ser um organismo imunodeprimido, o queimado é poliinvadido por tubos e cateteres,
apresentando, ainda, muitos outros fatores agravantes.
Perda da Barreira Mecânica
A pele íntegra é a primeira linha de defesa contra a invasão do organismo por
agentes bacterianos externos, e toda a sua estrutura constitui-se numa eficiente
barreira mecânica. Mas é uma simplificação grande chamá-la apenas de barreira
mecânica: a pele é um órgão inteligente e multifuncional. Os seus principais
mecanismos de defesa são a queratinização, a descamação, a produção de
substâncias antibacterianas, a produção de ácidos graxos livres insaturados, e o
desenvolvimento de uma flora bacteriana simbiótica. A queratinização é um dos
pontos-chave desta barreira. A renovação, ou seja, a descamação contínua das
camadas mais externas do tegumento cutâneo, elimina bactérias que, porventura,
consigam penetrar nestas camadas. Os ácidos graxos insaturados são considerados
substâncias antibacterianas naturais, que influenciam no equilíbrio da flora normal
da pele. A própria presença desta flora normal é capaz de impedir o aparecimento
de uma flora patológica. O trauma térmico destrói este harmonioso equilíbrio,
propiciando o desenvolvimento de uma flora patógena, aliada a uma importante
deficiência imunológica, o que pode ocasionar o desenvolvimento de um foco
infeccioso e posteriormente sepse.
Alterações Imunológicas
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O principal mecanismo de imunossupressão do paciente queimado parece
ser a produção e absorção do complexo lipoprotéico (LPC), a partir da escara da
pele queimada. Quanto mais extensa e profunda for a injúria térmica, maior será a
produção e absorção dos LPCs pelo paciente; por conseguinte, maior será o seu
comprometimento imunológico. As alterações imunológicas no queimado ocorrem
tanto no sistema humoral quanto no celular.
Fatores Agravantes
Fora a perda da integridade cutânea, e da imunossupressão que ocorre pela
produção e absorção dos LPCs, muitos outros fatores, são coadjuvantes como
imunossupressores; contribuindo, portanto, com a instalação e agravamento das
infecções como:
Poliinvasão de Tubos e Cateteres: O risco de infecção do paciente
aumenta na proporção do número de sondas e cateteres usados pelo
paciente, assim como, do tempo de permanência dos mesmos.
Sistema Imunológico Imaturo ou Cansado: É sempre mais difícil tratar
queimado nos extremos de idade: as infecções são mais graves na
criança, pela sua imaturidade imunológica, e no idoso, porque o seu
sistema imunológico já apresenta sinais de desgaste.
Desnutrição Prévia: Pacientes desnutridos e debilitados carecem de
proteína para produzir anticorpos, para carrear antibióticos e para
cicatrização da ferida.
Patologias Preexistentes: Patologias como epilepsia, etilismo (incluindo
os estados de embriaguez alcoólica), diabetes e hanseníase
(associadas a neuropatias periféricas), além de responsáveis pelo
acidente da queimadura, são, também, complicantes.
Estados Depressivos: Depressão aguda ou depressão associada a
distúrbios psiquiátricos mais graves, muitas vezes, levam o paciente a
tentar o suicídio com fogo em chamas (álcool, gasolina, diesel etc.).
Falta de Correto Suporte Nutricional: O queimado vive um estado de
hipermetabolismo tão intenso, que se não houver um correto suporte
nutricional, por mais reserva que tenha o doente logo entrará em
autocanibalismo. O estado de má nutrição calórico-protéica dos
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queimados inibe a capacidade fagocitária do neutrófilo. A deficiência
vitamínica (da vitamina A, pela sua importância na resistência à
infecção; da vitamina C, como auxiliar na cicatrização e no processo
infeccioso; e da tiamina, como auxiliar na produção de anticorpos)
facilita a infecção. A deficiência de minerais, se associada a um
aumento de ferro, que funciona como alimento para os
microorganismos, agrava a infecção.
Múltiplas Transfusões de Sangue e Derivados: O queimado, com seus
fatores de coagulação alterados, sendo heparinizado, e tendo de ser
submetido a múltiplos processos cirúrgicos, é quase impossível
imaginá-la não necessitando de hemoderivados.
Utilização de Múltiplos Antibióticos: Além da toxidade, em si, que é
inerente a todo antibiótico, o uso indiscriminado de antibióticos de
amplo espectro destrói a flora endógena do paciente queimado,
favorecendo o desenvolvimento de germes hospitalares super-
resistentes.
Processos Cirúrgicos Múltiplos: Os múltiplos processos cirúrgicos, seus
jejuns prolongados, suas sedações anestésicas e até mesmo as baixas
temperaturas dos centros cirúrgicos possibilitam uma boa refrigeração
para cirurgiões encapotados, mas hipotermizam o queimado;
conturbam ainda mais o momento cirúrgico, ato, em si, já crítico pela
possibilidade de difundir sistêmicamente (através da manipulação) um
processo infeccioso tópico.
3.2 APRESENTAÇÃO DAS INFECÇÕES
Não obstante, a sepse, pela sua relevância e freqüência, ser praticamente
sinônimo de infecção no paciente queimado, na prática clínica as seguintes
apresentações listadas também são vistas e descritas na literatura.
FORMAS DE APRESENTAÇÃO CLINICA DA INFECÇÃO NO
PACIENTE QUEIMADO:
Sepse
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A sepse pode ser definida como a resposta sistêmica do organismo à invasão
microbiana de qualquer natureza, sejam eles Gram-positivos, Gram-negativos,
fungos ou vírus, mas uma resposta sistêmica similar pode ser vista em processos
inflamatórios graves não induzidos por bactérias ou por endotoxina circulante (p.ex.:
o trauma, as queimaduras, a pancreatite e no pós-operatório). Esta resposta
inflamatória sistêmica vista no paciente queimado, sobretudo nos três primeiros dias
pós-injúria térmica, muito similar ao visto na sepse, muitas vezes, leva o médico
assistente a ter angústia quanto ao início da antibioticoterapia. Assim, como no
quadro visto na sepse, ela caracteriza-se inicialmente por febre, leucocitose (os
leucócitos podem estar tão elevados a ponto de ser visto como uma reação
leucemóide), taquicardia, e um estado de hiperdinamismo refletido por um aumento
do débito cardíaco, diminuição da resistência vascular periférica e aumento do
consumo de oxigênio. A infecção, geralmente, não ocorre no queimado antes do
terceiro ou quarto dia pós-injúria térmica, portanto, na grande maioria das vezes, o
tempo de evolução da queimadura nos orienta com relação a este dilema.
Normalmente, só passamos a nos preocupar com infecção no queimado quando o
paciente, que já estava eliminando o líquido do terceiro espaço retido nos três
primeiros dias de queimadura, começa a fazer retenção hídrica novamente; quando
os leucócitos que já estavam se normalizando, voltam a apresentar novo padrão de
piora (tanto leucocitose como leucopenia são preocupantes); quando passa a não
tolerar a dieta ou a distender o abdome; quando faz alteração mais intensa da curva
térmica; quando faz dessaturação dos níveis de 02, no sangue; enfim, quando o
paciente, que já havia conseguido alguma estabilidade dentro do quadro, volta a
apresentar piora.
Na dependência da gravidade da queimadura, das defesas do organismo, de
outros fatores de co-morbidade associados e, principalmente, do retardamento
diagnóstico por impossibilitar um tratamento oportuno (abordagem cirúrgica e
antibioticoterapia sistêmica apropriada no momento certo), o quadro pode evoluir
rapidamente para sepse grave, falência de múltiplos órgãos e óbito. A tabela abaixo
adaptada de Harris RL, Musler DM, Blomm K e cols. lista as manifestações clínico-
laboratoriais mais ou menos na ordem de progres