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2645 A INTERNACIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS E A INCOMENSURABILIDADE DE VALORES: SUA PROPOSTA COMO REFLEXO DE UMA TRADIÇÃO THE INTERNATIONALIZATION OF RIGHTS AND THE INCOMMENSURABILITY OF VALUES: IT’S PROPOSAL AS A REFLECTION OF A TRADITION Gabriela Garcia Batista Lima RESUMO Analisa a internacionalização dos direitos e a sua relação com o pluralismo jurídico, no sentido geral do termo, ou seja, um pluralismo de valores, culturas e tradições, na influência do direito internacional no direito interno. Para tanto, primeiro caracteriza-se a consolidação do direito internacional em face das principais mudanças contemporâneas, sendo a internacionalização dos direitos, fruto desse novo contexto, além de se vislumbrar também como este mecanismo funciona. Posteriormente, verifica-se a internacionalização dos direitos como oriunda de uma tradição, que busca legitimar determinada prática, e com isso, pode vir a suprir peculiaridades locais, ainda que vise respeitar ao máximo tais diferenças. Em seguida, analisa a questão da incomensurabilidade de valores como uma proposta adequada para a não supressão de cultura na relação entre culturas e direitos. PALAVRAS-CHAVES: DIREITO INTERNACIONAL. INTERNACIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS. PLURALISMO. VALORES. TRADIÇÃO. INCOMENSURABILIDADE. ABSTRACT Examines the internationalization of rights and its relationship with the legal pluralism, in the general sense of the term, that is, in the sense of a pluralism of values, cultures and traditions, in the influence of international law in domestic law. First, it analyses the consolidation of international law in the context of contemporary’s major changes, having the internationalization of rights as an adequate system for these changes. It also study how this mechanism works. Subsequently, it analyses the internationalization of rights theory as a reflection of one tradition, seeking legitimacy for determinates practices, which can result on supplying local peculiarities, even though it aims to Trabalho publicado nos Anais do XVII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em Brasília – DF nos dias 20, 21 e 22 de novembro de 2008.

A INTERNACIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS E A … · 2010-07-29 · responsável pela regulamentação da ordem, por meio de um consenso sobre ... na construção da ordem mundial, e conseqüentemente,

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A INTERNACIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS E A INCOMENSURABILIDADE DE VALORES: SUA PROPOSTA COMO

REFLEXO DE UMA TRADIÇÃO

THE INTERNATIONALIZATION OF RIGHTS AND THE INCOMMENSURABILITY OF VALUES: IT’S PROPOSAL AS A

REFLECTION OF A TRADITION

Gabriela Garcia Batista Lima

RESUMO

Analisa a internacionalização dos direitos e a sua relação com o pluralismo jurídico, no sentido geral do termo, ou seja, um pluralismo de valores, culturas e tradições, na influência do direito internacional no direito interno. Para tanto, primeiro caracteriza-se a consolidação do direito internacional em face das principais mudanças contemporâneas, sendo a internacionalização dos direitos, fruto desse novo contexto, além de se vislumbrar também como este mecanismo funciona. Posteriormente, verifica-se a internacionalização dos direitos como oriunda de uma tradição, que busca legitimar determinada prática, e com isso, pode vir a suprir peculiaridades locais, ainda que vise respeitar ao máximo tais diferenças. Em seguida, analisa a questão da incomensurabilidade de valores como uma proposta adequada para a não supressão de cultura na relação entre culturas e direitos.

PALAVRAS-CHAVES: DIREITO INTERNACIONAL. INTERNACIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS. PLURALISMO. VALORES. TRADIÇÃO. INCOMENSURABILIDADE.

ABSTRACT

Examines the internationalization of rights and its relationship with the legal pluralism, in the general sense of the term, that is, in the sense of a pluralism of values, cultures and traditions, in the influence of international law in domestic law. First, it analyses the consolidation of international law in the context of contemporary’s major changes, having the internationalization of rights as an adequate system for these changes. It also study how this mechanism works. Subsequently, it analyses the internationalization of rights theory as a reflection of one tradition, seeking legitimacy for determinates practices, which can result on supplying local peculiarities, even though it aims to

Trabalho publicado nos Anais do XVII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em Brasília – DF nos dias 20, 21 e 22 de novembro de 2008.

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respect theses differences. And then, it analyses the issue of incommensurability of values as a suitable proposal in this relation between traditions and norms.

KEYWORDS: INTERNATIONAL LAW. INTERNATIONALIZATION OF RIGHTS. PLURALISM. VALUES. TRADITION. INCOMMENSURABILITY.

Introdução: O Direito Internacional, a internacionalização dos direitos e a pluralidade de valores.

O Direito Internacional rege os interesses entre os Estados e outros sujeitos, como um dos instrumentos de organização das relações internacionais. Atualmente, é incontroversa a influência do Direito Internacional para a regulamentação de assuntos no âmbito nacional, e da mesma forma, o reflexo dos assuntos que antes eram meramente regionais ou nacionais no campo internacional.

A internacionalização dos direitos, em termos gerais, consiste na influência do direito internacional no direito interno e vice-versa. Seguindo os fundamentos de Mireille Delmas-Marty, corresponde a um sistema de unificação, uniformização e harmonização na dinâmica do direito internacional, de uma ideologia liberal, na busca de um direito comum, que, portanto, se pressupõe universalista.

O contexto da internacionalização dos direitos se caracteriza pela pluralidade de atores, pela descentralização das fontes do direito internacional, pelo aumento nas formas de normas internacionais, pela existência de verdadeiros regimes autônomos, multiplicando também os mecanismos de se consolidar tais normas, além dos assuntos por elas tratados, que antes eram apenas locais ou nacionais, agora devem adaptar-se à repercussão internacional. Compreende a expansão do direito internacional, em tempos de globalização.

A pluralidade de valores parece controversa com a teoria da internacionalização dos direitos, diante da perspectiva de que o Direito Internacional, com sua proposta universalizadora, exterioriza, não os princípios e regras comuns a todos, mas sim aqueles de uma ideologia que aparece como dominante. É dizer que se tem o direito internacional construído com base em uma tradição específica, se legitimando e expandindo em face de outras tradições e culturas. A noção de pluralismo jurídico consiste, basicamente, no reconhecimento de que existem outras ordens normativas para além da oficial do Estado. Norteando a análise para o direito, admite-se, por este conceito, a coexistência de uma pluralidade de ordens, de sistemas jurídicos distintos.

Pretende-se trabalhar com a noção geral de pluralismo jurídico, ligada à relação entre ordens distintas, com tradições diferenciadas, visando uma coexistência entre direitos, na medida em que a análise focaliza a relação do direito internacional no direito interno. Entretanto, ainda que não consista propriamente o objeto da presente análise, vale destacar, existem duas grandes principais definições de pluralismo jurídico, quando

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estudado no âmbito da relação entre o direito nacional e uma ordem distinta de uma comunidade: pluralismo jurídico oficial unitário, na qual o Estado não impõe um limite de decisão no domínio em que a ordem jurídica local e distinta abrange, como, por exemplo, uma ordem indígena, atuando em igualdade com a ordem jurídica estatal; e o pluralismo jurídico oficial igualitário, que dispõe que a característica multiética já é constitucionalmente reconhecida, com as leis, decretos e políticas especificas já promulgadas, e que os administradores são obrigados a permitir a expressão de um direito próprio da comunidade local.[1] Entretanto, vale repetir, não é esta a esfera do estudo em questão, mas sim a relação do pluralismo jurídico e o direito internacional no fenômeno da internacionalização dos direitos.

Assim, a presente análise visa uma reflexão acerca da internacionalização dos direitos sob a perspectiva crítica da pluralidade de valores, em que o foco principal é a influência do direito internacional no âmbito normativo interno, e não o contrário. E também, esclarece-se, o estudo se limita ao campo do direito público, estudando no âmbito das normas internacionais públicas, principalmente. Isso por que é possível se estudar a internacionalização dos direitos pela esfera do direito privado, o que não é o objeto da presente reflexão.

Nessa perspectiva, pensar no pluralismo jurídico, em termos gerais, implica racionalizar um problema central na internacionalização dos direitos: como aproximar ou fazer interagir conceitos, noções, valores de ordens jurídicas distintas, muitas vezes incomensuráveis ou incompatíveis, que se orientam para objetivos diferentes, interagir ou se relacionar?

Para tanto, primeiro se estuda a internacionalização dos Direitos em uma análise da consolidação do direito internacional em face das mudanças contemporâneas em tempos de globalização. Posteriormente, busca-se compreender como funciona esse mecanismo da internacionalização dos direitos no campo das normas internacionais públicas, com base, principalmente, na concepção de Mireille Delmas-Marty.

Em seguida, estrutura-se a composição da pluralidade de valores e a internacionalização dos direitos, em uma ponderação voltada para a afirmação do direito internacional como instrumento de legitimação de uma ordem emanada de uma tradição especifica, de cunho liberal, no sistema capitalista de produção, com fulcro na vertente de Bourdieu e Hannah Arendt, mas que, todavia, é possível, por meio do direito internacional, lidar com a incomensurabilidade das culturas, justamente ao se compreender como lidar com o pluralismo jurídico, e nesse sentido, a reflexão de desenvolve com um estudo que se aproxima das obras de Bernstein, John Gray e Boaventura de Sousa Santos. A internacionalização dos direitos é um sistema fundado no direito internacional ocidental cuja proposta, mesmo que possa suprimir valores por não serem comuns a todos, é uma forma que visa à maximização do respeito a essa pluralidade.

1. A consolidação do Direito Internacional: um contraste entre o modelo clássico e as principais modificações contemporâneas.

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A internacionalização dos direitos é um fenômeno que se verifica dada algumas mudanças contemporâneas relevantes na dinâmica das relações internacionais, no âmbito normativo, em tempos de globalização. Para tal compreensão, estrutura-se aqui, primeiro, os elementos centrais que permanecem no modelo clássico do direito internacional, e em seguida, as mudanças essenciais que montam este cenário de atuação da internacionalização dos direitos, destacando-se a pluralidade de sujeitos, aumento do rol de objetos normatizados internacionalmente e a atuação dos regimes internacionais.

1.1 Os elementos centrais do modelo clássico do direito internacional

O direito internacional é um conjunto de regras que ligam Estados e os outros agentes da política mundial em suas relações recíprocas. [2] O estudo das bases do Direito Internacional, necessariamente remonta para a teoria das relações internacionais, pois é influenciado pela dinâmica que esta segue, por constituir um de seus elementos, responsável pela regulamentação da ordem, por meio de um consenso sobre determinada questão.

Na sistemática internacional tradicional, as relações internacionais remetem para o entendimento de enquanto os Estados permanecem em paz, precisam viver em conjunto, e em vez de recorrer à violência procuram então se convencerem mutuamente; e quando entram em guerra, buscam se impor uns aos outros. [3] Nesse panorama, se contextualiza a característica da interdependência entre os Estados.

Outro elemento importante é a política. Essencial na manutenção da ordem internacional é um instrumento de união e de conciliação de interesses da administração interna de cada país com os interesses da humanidade. Importante ressaltar a diferença entre política interna e a política externa: a primeira tende a reservar o monopólio da violência aos detentores da autoridade legitima, a segunda admite a pluralidade dos centros de poder armado. Toda política internacional importa num choque constante de vontades, por estar constituída por relações entre Estados soberanos, que pretendem determinar livremente a sua conduta.[4] Na ausência de um ente superior habilitado para a coordenação da ordem internacional, cada Estado está em uma posição em que é prioridade a proteção seus interesses.

No sistema tradicional da política do poder, considera-se que o principal dever de cada governo seja o de preservar os interesses do povo que governa e representa face aos interesses rivais de outros povos. A potência de um Estado depende do cenário da sua ação e da sua capacidade de empregar os recursos materiais e humanos de que dispõe. [5] A ordem internacional, em suma, reflete a um padrão de atividades que sustenta os objetivos correntes no campo internacional[6] Observa-se uma postura sempre estrategista, que irá se incorporar por parte de todos os sujeitos atuantes no cenário internacional, que então rege as relações internacionais, na construção da ordem mundial, e conseqüentemente, do Direito Internacional.

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E nesse sentido, manifesta-se preponderante na resolução de conflitos, o equilíbrio de poder, como parte da mediação estratégica militar e diplomática, elaboração de normas para reger interesses divergentes e interesses comuns. Ilustra-se assim, a dinâmica do equilíbrio do poder no campo internacional, de forma que o poder é a capacidade que tem uma unidade política de impor sua vontade às demais, tanto na diplomacia, diante da capacidade maior ou menor de influir na escolha dos demais sujeitos, quanto em termos de estratégia, pela demonstração da capacidade de força militar. Tais influências são fatores decisivos na tomada de decisões e construção das normas internacionais. [7]

Tal como formulado, a partir dos Séculos XVI e XVII, o modelo de ordem internacional, juntamente com a noção de soberania enfatizam um processo de reconhecimento mútuo, por meio do qual os Estados garantiram-se uns aos outros o direito de jurisdição sobre seus respectivos territórios. Mesmo diante das transformações da contemporaneidade, no decorrer do Século XX, este modelo ainda mantém suas características básicas.[8]

A soberania nacional vê a sua dinâmica tradicional se diferenciar, com o seu domínio de aplicação atual mais limitado em comparação com o modelo tradicional, na medida em que os assuntos tratados anteriormente pelo direito nacional estão resolvidos pelo direito internacional e são criadas novas fontes de direito e novos órgãos de execução e de controle. Nesse sentido, o Estado perde a exclusividade na sua atuação em determinados assuntos, na medida em que o Direito Internacional avança, e o faz de acordo com os jogos de forças e de interesses entre os Estados e os outros atores não-estatais.

Entretanto, não há qualquer perda de soberania, pois é elemento base do direito internacional e das relações entre os Estados. Outros atores que recebem poderes específicos não são soberanos propriamente ditos, ainda que sejam dotados de alguma autonomia ou até de capacidades análogas a poderes soberanos, mas não há transferência de soberania, porque transferir implica perder uma parte do que se está transferindo, tratando-se apenas de uma atribuição de capacidade. [9] Dessa forma, entidades não estatais somente são legítimas para emanar normas internacionais e demandar sobre determinado objeto por que o Estado lhe conferiu tal atribuição. Essa atividade é, portanto, reflexo, ainda que implícito ou indireto, da atuação estatal.

As relações internacionais sempre foram práticas sobre equilíbrio, reunindo vários elementos explicativos da convivência em comum, através dos subsídios da tecnologia, economia e reflexos sóciopolíticos da atividade dos Estados, como forma de coexistência. [10] Nesse sentido, se explica a interdependência dos Estados, que se projeta como liame indispensável da globalização. Assim, do direito internacional tradicional, se reconhece que é permanece essa construção de uma ordem para os diversos assuntos de interesse comum e das relações entre os Estados em geral, com a junção de novos atores e influências oriundas das relações internacionais.

1.2 O Direito Internacional com as principais mudanças contemporâneas

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A globalização, com sua velocidade para a constituição de relações jurídicas, desconsiderando tempo e espaço, leva no campo jurídico, para a rápida interação de uma série de fatores, e enfatiza-se assim, para os seus efeitos normativos, que pode então ser entendida como o processo pelo qual determinada condição ou entidade local estende sua influência a todo o globo. Essa ênfase normativa no processo de globalização é trazida, em uma análise junto com os estudos de Boaventura de Sousa Santos, e é interessante apontar para as formas de globalização que o autor destaca, entre outras ponderaçõeseressante apontar para as duasse globalizou com sucesso.m vias para a nao ma relativizacao para que nao : localismo globalizado, em que determinado fenômeno local é globalizado com sucesso; e globalismo localizado, em que se tem o impacto de práticas e imperativos transnacionais nas condições locais. Boaventura destaca como exemplos de localismo globalizado, a atividade mundial das multinacionais, a adoção mundial das leis de propriedade intelectual e etc. O globalismo localizado pode ser ilustrado pelo comércio livre ou zonas francas, destruição dos recursos naturais para pagamento da dívida externa, uso turístico de tesouros históricos ou indígenas, entre outros.[11] E nessa visão, é complexo definir pontualmente e exclusivamente em que quadro estaria a internacionalização dos direitos, senão no âmbito jurídico que se inserem essas duas formas de globalização.

Entretanto, conforme se verificará ao longo dessa reflexão, a internacionalização dos direitos pode ser visualizada principalmente na direção do localismo globalizado, na medida em que o direito internacional se impõe aos direitos locais, ou seja, um aspecto de uma tradição local que se globalizou com sucesso. No entanto, ressalva-se, é possível estudos acerca da internacionalização pelo norte do globalismo localizado, se, em termos gerais, é um fenômeno de interação entre o direito internacional e o direito interno. Boaventura trabalha também com a concepção de cosmopolitismo e patrimônio comum da humanidade, que serão explicados neste artigo, no âmbito do tratamento da incomensurabilidade de valores.

Ressaltando-se para o efeito normativo da globalização, verifica-se, na ceara de elaboração de normas e da ordem internacional, que a sua dinâmica passa a ser permeada por uma série de fatores que acarretam na descentralização da produção normativa estatal e na transformação subjetiva que passa a tratar o indivíduo como sujeito de direito internacional. A descentralização das fontes e a pluralidade de atores participando no direito internacional se explicam pela atribuição progressiva de competências e de capacidades dos Estados às organizações internacionais e supranacionais, na elaboração e controle das normas internacionais. [12] Incorporam a este fenômeno da internacionalização dos direitos, na medida em que aumenta o rol de produção de normas internacionais que estão tratando, cada vez mais, todos os tipos de assuntos, que antes eram meramente regionais ou locais.

A multiplicidade de atores na atuação da exploração de setores sociais, em que as expectativas ampliaram-se para alcançar, além dos aspectos econômicos da vida humana, outras necessidades e modo de organização os mais variados, provocaram o surgimento de regimes normativos autônomos dissociados do Estado, e do limite territorial que este representa na regulamentação internacional. [13]

Os regimes internacionais são os princípios, normas, regras e decisões reflexos da convergência de interesses de seus atores. Os princípios são o conjunto coerente de estabelecimentos teóricos, as normas especificam formas gerais de comportamento, e as

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regras e decisões se referem às prescrições especificas de comportamento em áreas definidas.[14] Representam a própria dinâmica do Direito Internacional, na medida em comportam o próprio resultado da interação entre os seus diversos atores, que não se limitam mais somente aos Estados, além das várias formas que estes regimes podem adquirir na elaboração das normas.

Ademais, não se deve esquecer o contexto em que os regimes surgiram, por ser uma questão de política internacional que interfere na internacionalização dos direitos, dado o grau de influência da questão do equilíbrio de poderes nas relações internacionais. Tal ressalva remete para a divisão doutrinária Norte-Sul, entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, cujo relacionamento é o de conflito de interesses, o que reflete claramente na tomada de decisões no plano internacional, e na criação das normas pertinentes. [15] O grau de influência na criação da norma é reflexo dos efeitos da globalização nesse sistema, e isso contribui para a reconstrução dos regimes internacionais e a determinação de uma lógica própria para cada regime.

Foram se criando regimes próprios e distintos daqueles propostos pelos países do Norte, na medida em que os países do Sul não podiam influenciar no campo internacional por meio de ações unilaterais. Sua fraqueza é resultado do subdesenvolvimento das políticas e sistemas sociais, que não são fortes suficientemente para prover ajustamentos que poderiam suportar os choques externos, e no âmbito externo, o seu poder de capacidade é limitado, pois a economia nacional e as fontes militares não eram capazes de influenciar nas decisões dos países desenvolvidos. [16]

Todavia, em muito, os países do Sul tiveram de se submeter ao rumo que os países do Norte colocavam para as relações internacionais, e para a constituição do Direito e da ordem internacional. No entanto, na medida em que foram se fortalecendo e participando no cenário internacional, com essa postura contestadora da ordem vigente, os países em desenvolvimento acabaram por demonstrar sua atuação, buscando alterar o sistema e produção de normas internacionais, e então emergem os mais diversos regimes nos mais diversos campos internacionais.

Os regimes são específicos no que se refere à matéria e ao modo de tratar essa matéria, adquirindo uma verdadeira autonomia na regulamentação daquela questão, e por isso se verifica uma mudança na perspectiva da efetividade do Direito Internacional, pois esta é avaliada dentro de cada regime em específico, com sua estrutura de eficácia própria. São determinantes para a internacionalização dos direitos, na medida em que fazem parte do processo de elaboração de normas internacionais, na uniformização, unificação e harmonização de interesses e regras.

Nesse sentido, na vertente de Ha-Joon Chang, interessante ressaltar para a pressão que os países em desenvolvimento vêem sofrendo, por parte dos países desenvolvidos, para seguir as políticas internacionais de desenvolvimento, por estes apontadas. A discussão ensejada indaga se essas políticas recomendadas são meramente convenientes para aqueles que sugeriram, visando dificultar o caminho para o desenvolvimento em si, pois não foram exatamente aquelas aplicadas quando os países desenvolvidos ainda estavam em processo de desenvolvimento.[17] A análise de Chang ilustra a complexidade da tensão nas relações internacionais, entre os sujeitos desenvolvidos e os em desenvolvimento, não obstante os aspectos ambientais, penais e de direitos humanos, entre outros, que chamam a atenção internacional para a sua

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regulamentação, e para a necessidade de cooperação para sua efetivação, o que parece ser difícil, à primeira vista, em um ambiente que se demonstra competitivo.

A internacionalização dos direitos, tendo como pressuposto a velocidade com que as relações são concretizadas, bem como a questão da interdependência no cenário internacional, apresenta-se como um mecanismo pelo qual interesses de cada Estado são permeados pelos valores então impostos pelo direito internacional. A crítica que se constrói, em geral, é justamente que esses valores ditos comuns são colocados de forma que não há muito espaço para uma escolha diversa daquela, justamente diante da interdependência nas relações internacionais.

É dizer que torna complexo, embora não anula o papel do Estado na defesa dos seus interesses. Por outro lado, importa também na própria construção de uma ordem, é uma proposta de sistematização das relações internacionais, adaptadas aos elementos que vão surgindo e dinamizando o cenário, e é, portanto, incomensurável com uma análise em que os Estados defendem somente os seus interesses, existe, pois, toda uma interferência entre o contexto internacional e o interno.

A peculiaridade da internacionalização dos direitos consiste no resultado dessa interação desses elementos que emergem com a globalização, com a rápida velocidade nas negociações internacionais, elaborações de normas, que compõem a um sistema próprio, com diversos assuntos transfronteiriços e pelos mais variados atores nas relações internacionais, em que se verifica essa interferência do direito internacional no direito interno e vice-versa.

2. Os mecanismos da internacionalização dos Direitos

A construção do sistema da internacionalização dos direitos comporta as técnicas de unificação, uniformização e harmonização, segundo Delmas-Marty. A unificação é raramente espontânea, e é pelo direito internacional que se realiza normalmente, pelas convenções que substituem as regras nacionais diferentes. A uniformização é um processo diferente que consiste em adaptar os direitos nacionais às regras definidas pelas convenções internacionais, sendo que cada ordenamento mantém sua identidade, suas técnicas, que então veiculam a aplicação de uma regra internacional comum. [18]

Tanto a unificação como a uniformização, se baseia em um principio de identidade das praticas nacionais reguladas por uma norma em comum, e conduzem a uma única decisão. A harmonização, entretanto, é ordenada diante da impossibilidade de identidade ou de proximidade entre os sistemas, diante de diferenças que são julgadas incompatíveis, como, por exemplo, entre vários conceitos de dignidade que resultam em conseqüências totalmente diversas. A harmonização é politicamente mais aceitável, e favorece uma concepção tolerante e pluralista do direito, pois sustenta as técnicas de argumentação e interpretação em que as partes definem os critérios de avaliação para uma comparação entre os sistemas, mecanismo em que é necessário objetividade, transparência e rigor, para se definir uma concepção comum de quais critérios de comparação, argumento e interpretação.[19]

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Vale ressaltar a importância da democracia para a viabilização da internacionalização dos direitos, por permitir a participação política. Nesse sentido, Mireille Delmas-Marty coloca o método da unificação, uniformização e harmonização como pluralista que “vive da tolerância, mas também é resistente ao intolerável”. [20] Todavia, a pluralidade de valores pode não ser respeitada como se pretende, dada essa dinamização de imposição de uma ordem específica de cada ceara normativa, com suas próprias exigências nem sempre comum a todas as tradições, mas que, diante desse mecanismo, as tradições diversas tem que se adaptar.

Empiricamente, a influência do direito internacional pode ser ilustrada na esfera do direito penal, pelo Tribunal de Nuremberg, criado para julgar os acusados de colaboração para o regime nazista, e posteriormente, de outros dois tribunais, com caráter temporário, criados para julgar as crueldades ocorridas na antiga Iugoslávia e em Ruanda. Tais tribunais demonstram a evolução do processo de internacionalização dos Direitos que então se mostra concretizado no Tribunal Penal Internacional, regulado pelo Estatuto de Roma, desde 1998, se destacando por sua natureza permanente.[21]

A própria transposição de uma natureza transitória para permanente em um Tribunal Internacional cujo Tratado é composto por uma série de regras que impõe a unificação dos conceitos e do tratamento dos objetos dos preceitos normativos, ilustra, no âmbito da constituição das normas, a necessidade de os direitos internos dos Estados estarem em conformidade com o Direito Internacional.

O Brasil entrou para o regime que adota tal Estatuto, em 2000, posteriormente aprovado pelo Parlamento Brasileiro pelo Decreto Legislativo nº 112/2002, com o depósito da carta de ratificação emitida no mesmo ano, integrando do Direito Brasileiro com status de norma constitucional, não podendo quaisquer dos direitos e garantias nele constantes serem abolidos por qualquer meio, inclusive por emenda constitucional.

Importante denotar que é vedada qualquer possibilidade de reservas neste Tratado, por parte dos Estados membros, para evitar eventuais conflitos de interpretação, ou escusa no cumprimento das obrigações. Ressalta-se que a jurisdição do Tribunal não é estrangeira, mas sim internacional, podendo afetar qualquer Estado membro da Organização das Nações Unidas (ONU); e também não se confunde com a jurisdição universal, sendo necessário um regime de cooperação entre os membros para a sua viabilização. Denota-se também que a jurisdição do Tribunal incide apenas em casos raros, quando as medidas internas dos países se mostrarem insuficientes ou omissas no que respeita ao processo e julgamento dos acusados, bem como quando desrespeitarem as legislações penais e processuais internas. A competência para julgamento de tais crimes só vigora em relação àquelas violações praticadas depois da entrada em vigor do Estatuto no Estado. [22]

Nesse exemplo em específico, um tratado trouxe definido o caminho a ser traçado para a adequação do direito interno ao direito internacional, com uma definição clara dos limites da norma internacional. O Tribunal Penal Internacional delimita importante avanço no âmbito da defesa dos direitos humanos. Entretanto, vale explicar, a crítica da reflexão da internacionalização dos direitos com base na pluralidade de valores, de tradições, de ordens normativas distintas se remete ao aspecto de que: o que se conceitua como válido para todos na norma internacional, nem sempre é possível de ser

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adaptado à tradição do direito interno, mas este se adapta, em vista da política internacional de se manter uma ordem, que não teria poder para questionar.

No aspecto constitucional, a internacionalização do Poder Constituinte pode ser entendida como a influência direta do Direito Internacional na produção de normas constitucionais, ou seja, se verifica que as normas internacionais, em razão do seu objeto, podem ganhar o status de norma constitucional no direito interno dos países. [23] Os cidadãos sofrem efeitos de uma escolha política que se realizou no exterior das fronteiras estatais.

Tal fenômeno pode ser verificado também na atuação de operadores do direito nas missões de reconstrução do Estado, quando estes fracassam nas suas funções básicas e buscam apoio em organismos internacionais, entidades supra-estatais ou extra-estatais, para garantir a ordem e a segurança. Esse contexto pode ser ilustrado pelas operações de paz da ONU que, para além da assistência e observação do processo eleitoral, intervêm no sentido da reconstrução do Estado e de suas instituições jurídicas. [24]

Outro exemplo é a relação do direito internacional e do direito nacional nas comunidades indígenas[25], em específico para a presente análise, na questão do aproveitamento do conhecimento tradicional. Ainda que não caiba neste trabalho um desenvolvimento mais completo, é importante ressaltar a seguinte questão: um dos aspectos que emerge dessa questão de se incentivar pesquisas junto com as comunidades indígenas, consiste na compensação pela utilização do seu conhecimento tradicional. Ou seja, saber conduzir a relação dos direitos de propriedade intelectual e de gestão do sistema de patentes – que são instituições jurídicas não indígenas por natureza – com a participação das populações indígenas nessas pesquisas.

Nesse aspecto, a capacitação de técnicos em torno de outras formas de ordem jurídicas, próprias e distintas, como no caso de cada comunidade indígena, de se fazer ciência constitui importante elemento na relação entre direitos: uma estrutura de diálogo em que se confrontam sistemas de conhecimentos distintos, na qual se leva em conta a tradição local e elementos da sociedade emergente, formando tecnologias híbridas a favor dos interesses que levantaram tais pesquisas.

Existe uma importante repercussão na internacionalização dos direitos, acerca de como se proteger o conhecimento tradicional contra a exploração injusta pelas populações não indígenas. Em termos gerais, tal discussão gira em torno da dificuldade de se proteger o conhecimento tradicional somente com as regras de direito de propriedade intelectual, e se volta para a tentativa buscar elementos para a construção de uma espécie de sistema próprio para essa natureza de conhecimento. [26]

Um sistema que comporte outros institutos além daqueles de propriedade industrial e de direito de patentes, e que seja capaz de se amoldar à peculiaridade de se tratar de um conhecimento tradicional que deve ser preservado, além de ser possibilitar também, a compensação da população indígena, de alguma forma, pelo uso desse conhecimento tradicional. Tal tentativa é justamente a busca pela normatização entre ordens incompatíveis por natureza, questão central na internacionalização dos direitos.

A aplicação do Direito às populações indígenas constitui sensível exemplo de aproximação entre culturas que, se mal articulada, irá acarretar em violência e supressão

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de uma tradição em face da outra. Levar tal perspectiva pluralista para o âmbito jurídico, político e administrativo, significa levar à discussão o reconhecimento de que os povos indígenas precisam ter o poder de decisão sobre sua cultura, economia, terras e sociedade, que, no contexto brasileiro, significa lutar contra toda uma construção histórica de supressão e domínio.

Nesse cenário, se verifica a intensificação do tratamento jurídico internacional de certos problemas e conflitos dada a sua repercussão transfronteiriça, ainda a causa tenha ocorrido apenas em um panorama regional ou local. Nesse sentido, os objetos de normas internacionais permeiam assuntos que antes eram desta ceara local ou regional, como, por exemplo, a conservação ambiental, com a necessidade de implementação do desenvolvimento sustentável, a proteção do homem contra tratamentos como a tortura e o racismo e a promoção do desenvolvimento humano com os objetivos de erradicação da fome e da pobreza e etc.

Nesse sentido, não é um processo único e com limites nítidos, e forma bem definida. Pelo contrário, a medida interação entre os direitos nacionais e internacionais acaba por depender do grau da mobilização daquele assunto na ceara internacional e do discurso da necessidade de imposição de uma ordem internacional, em cada área em específico, com o fundamento de que tal harmonização se mostra a única forma de se regulamentar aquela demanda de repercussão transfronteiriça.

O direito comparado, com sua argumentação e interpretação é também uma forma de internacionalização dos direitos. Explica Delmas-Marty que após as contradições aparentes, a comparação entre os sistemas pode esclarecer as escolhas por um uso diferenciado das convergências e divergências, sendo que as convergências conduzem a uma unificação do direito e as divergências necessitam da construção de um sistema mais difícil. [27]

Em que pese o papel do direito comparado, o contexto mais forte deste fenômeno está no Direito Internacional, pela atuação de suas fontes principais. A internacionalização tem seu âmbito mais forte no contexto da implementação das Convenções, Tratados e Declarações, além da jurisprudência internacional, influenciando o Direito interno.

Nesse sentido, questiona-se até que ponto o Direito Internacional vem a “invadir” a esfera nacional? A internacionalização dos direitos demanda em diversos campos, a necessidade da harmonização, unificação ou uniformização de suas normas, mas e os valores de cada tradição? Se a internacionalização dos direitos se pretende um mecanismo de interlocução entre direitos para a construção de um direito em comum, o seu sistema consegue lidar com a incomensurabilidade?

Enquanto um sistema que propõe a construção de um direito comum e universal, a resposta parece ser não, justamente por não materializar esse caráter de universalidade enquanto respeito à incomensurabilidade. Entretanto, outras perspectivas podem ser traçadas ao se reconhecer tal sistema apenas como reflexo de uma tradição, entre outras tradições, e que propõe uma forma de relacionar diferentes direitos e ordens, ainda que talvez não seja a melhor forma possível.

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3. A internacionalização dos direitos como mecanismo de legitimação de uma ordem individualista e uma proposta para a questão da incomensurabilidade de valores

Superado o entendimento da internacionalização dos direitos, traça-se uma reflexão acerca da afirmação deste sistema como um mecanismo de legitimação de uma ordem individualista na dinâmica capitalista que rege as relações internacionais. E, posteriormente, denota-se para a questão de como se tratar a incomensurabilidade de valores, que demonstra ser, então, o cerne da relação entre a internacionalização dos direitos e a pluralidade de valores, ordens, tradições.

3.1 A internacionalização dos direitos como legitimadora de valores de uma tradição individualista

Com relação à legitimação, se vislumbram dois aspectos principais: essa internacionalização pode funcionar como legitimadora de uma outra ordem, que não a local, por ser também um sistema de concretização da ordem internacional no modelo capitalista de produção. O segundo aspecto de reflexão, de cunho jurídico normativo, é que a internalização da norma internacional, ainda que formalmente válida, pode suprimir valores locais, afetando na própria efetividade jurídica.

No que tange ao primeiro aspecto, o Direito Internacional atua diante da predominância do sistema capitalista de produção nas relações internacionais, e por isso, pode-se realça-lo como um modelo de imposição. Isso por que a velocidade na concretização das relações jurídicas se tornou essencial para a efetividade da ordem internacional, que, por sua vez, é veículo de concretização das relações internacionais no contexto do sistema capitalista. Essa é perspectiva de Hannah Arendt, que, enquadra a velocidade como elementar na concepção moderna de produção, e que a economia capitalista atua orientada para o acúmulo de riquezas e para a possibilidade de serem transformadas em capital pelo trabalho, em um contexto em que a distância enquanto barreira permanece suprimida diante do que hoje pode ser entendido como a globalização. [28]

Hannah Arendt explica ainda que o processo de acúmulo de riqueza e produção de capital, estimulando a própria vida humana é possível somente se o mundo e a própria característica mundana do homem forem sacrificados. É o que coloca como um reflexo da alienação ao mundo, das coisas que acontecem no mundo. [29] E é essa alienação às coisas mundanas o enfoque para se corroborar o Direito Internacional como uma imposição de valores, imposição que, influenciada por tal alienação, não se preocupa com o que está acontecendo com o mundo, o que importa é fazer o sistema funcionar, e em uma velocidade cada vez maior.

É a legitimação de uma ordem, na perspectiva de Bourdieu, aplicando-se ao contexto da influência do direito internacional no direito interno segue a lógica jurídica de se justificar uma determinada prática. Segundo Bourdieu, as práticas e os discursos jurídicos são o produto do funcionamento de um campo cuja lógica segue, por um lado, pelas relações de forças específicas que lhe conferem a sua estrutura e que orientam as lutas de concorrência e, por outro lado, pela lógica interna das obras jurídicas que delimitam em cada momento o espaço das possíveis soluções jurídicas. O campo

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jurídico é o lugar de concorrência pelo monopólio do direito de dizer o direito, na qual se defrontam agentes investidos de competência ao mesmo tempo social e técnica que consiste essencialmente na capacidade reconhecida de interpretar um corpus de textos que consagram a visão legítima, justa, do mundo social. É com esta condição que se podem dar as razões quer da autonomia relativa do direito, quer do efeito propriamente simbólico de desconhecimento que resulta da ilusão da sua autonomia absoluta em relação às pressões externas. [30]

Utiliza-se, aqui, os estudos sobre o poder simbólico para ilustrar essa representação de uma tradição que se impõe perante outras, sem, contudo, se pretender que esta imposição seja certa ou errada, consiste apenas em um esclarecimento do funcionamento da internacionalização dos direitos como um sistema de ordem nas relações internacionais. Consiste em afirmar a internacionalização dos direitos como uma forma de legitimação de uma ordem que se pretende ser imposta a todos, de uma ordem oriunda e implementadora de elementos de uma tradição ocidental liberal, e cuja conseqüência é a imposição de regras de uma tradição, e não de um direito comum a todos, como pretende a sua proposta.

Outro ponto a ser levantado é, seguindo-se a perspectiva de Louis Dumont, a influência do individualismo no modo de pensar e agir no desenvolvimento das comunidades, na formatação de quem se enquadra no poder, no desenvolvimento dos princípios e mesmo o Direito. O indivíduo pode ser colocado como elemento chave para o entendimento do comportamento humano, em seus diversos âmbitos: político, social, jurídico e até mesmo individual.[31] A internacionalização dos direitos, embora reconheça a complexidade de lidar com as diversas culturas e sistemas de direito, não apresenta uma proposta de não supressão dos valores, a não ser pelo próprio sistema, ou seja, não se reconhece os outros sistemas, apenas que eles, adaptados, fazem parte deste que se legitima.

No que se refere à reflexão no campo jurídico normativo de atuação do sistema da internacionalização dos direitos, a análise gira em torno da efetividade jurídica. Tem-se que os tratados passam a integrar a legislação interna, exigindo-se toda uma adaptação normativa, e, portanto, existe uma integração com as técnicas peculiares de cada ordenamento nacional. Por outro lado, entretanto, tal internalização resulta também na inclusão também de novos sistemas de regras no meio nacional, e isso pode vir a acarretar na supressão da tradição local, se esta se encontra incompatível com as práticas exigidas na internacionalização dos direitos.

Quando inseridas e adaptadas ao ordenamento jurídico interno dos países, as regras passam a ter um caráter de obrigatoriedade para a população, restando institucionalizadas pelo órgão nacional responsável para tanto. A internacionalização dos Direitos coloca os cidadãos em um estado em que não estão mais cumprindo as ordens de sua tradição local, mas também aquelas que são resultado de todo um jogo político de interesses da ceara internacional. Nesse sentido, não somente a ordem nacional, mas os valores e a tradição devem estar em harmonia com a ordem internacional.

Além disso, tanto as normas oriundas de tratados, quanto aquelas oriunda de instrumentos não convencionais remontam para a necessidade de adaptação do ambiente interno para a possibilidade de aplicação, para possibilitar a sua efetividade,

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propriamente dita. O plano da efetividade é o grau de incidência de obediência à norma jurídica. É o passo para além do mundo jurídico e diferencia-se, portanto, da eficácia, que se traduz para a qualidade de produzir os seus efeitos típicos, a efetividade da norma reflete na sua incidência.[32] É a regra jurídica enquanto momento da conduta humana.

Analisar o cumprimento de uma norma interna é analisar a sua efetividade jurídica. A aptidão para a produção de efeitos jurídicos incorpora a sua correspondência com o mundo dos fatos, tanto em elementos valorativos e de adequação. A capacidade de produção de efeitos de uma norma está diretamente relacionada com a sua correspondência com os valores daquela sociedade. Nesse sentido, a internacionalização dos direitos, além de ser um sistema que acaba impondo-se em face da tradição local, pode também encontrar entraves na sua efetividade, tendo em vista justamente este aspecto de que os valores que carregam podem não corresponder com os mesmos valores daquela localidade, ao ponto de não se conseguir até uma harmonização.

Delmas-Marty reconhece que a imagem de um direito que é a síntese de todas as famílias jurídicas é realmente impensável[33], entretanto, coloca a internacionalização dos direitos um sistema habilitado para harmonizar os diferentes sistemas jurídicos. Todavia, restou claro que há uma influência nos valores, estes que não são inicialmente comuns a todos, acabam sendo suprimidos em favor de outros, então legitimados pelo sistema propostos.

Todavia, até na internacionalização dos direitos, enquanto mecanismo de intermediação entre direitos distintos, as instituições estatais são indispensáveis para conter alguma possível injustiça, assim também enfatiza a democracia como elemento integrador desta proteção, e este é o fundamento liberal da equidade e do progresso em que o sistema da internacionalização visa operar, buscando uma harmonização em um contexto essencialmente pluralista. Nessa perspectiva, os institutos da sociedade civil se demonstram elementos chaves para essa relação entre internacionalização dos direitos e as tradições locais, na questão da incomensurabilidade.

3.2 Uma proposta de como se tratar a incomensurabilidade de valores

Ressaltados os aspectos de contemporaneidade em que trabalha a internacionalização dos direitos, bem como a ação normativa deste mecanismo e a afirmação de que consiste uma proposta de uma tradição específica, de cunho liberal, no curso dos atores que detém maior influência na formulação do direito internacional, com vias a manter funcionando o sistema capitalista de produção, insere-se na reflexão, o aspecto de como lidar com a incomensurabilidade de valores, de tradições e culturas distintas. E, nesse sentido, esclarece-se que, primeiro traça-se os principais aspectos desse conceito, o de incomensurabilidade, para depois enfatizar a relevância da sociedade civil e atuação das ONGs, e a relação com a noção de cosmopolitismo e patrimônio comum da humanidade, sempre com vias à capacitação da habilidade de lidar normativamente com sistemas de direitos distintos.

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Presentes nos estudos pós-modernos, a concepção de incomensurabilidade, na perspectiva de Richard Bernstein, pode se manifestar como um método adequado a uma relação que vise a não supressão, mas a interação de ordens distintas. Um sistema nesse sentido precisa se constituir com elementos que viabilizem uma relativização entre as ordens a serem relacionadas, na medida em que não se visa suprir uma em face da outra. A incomensurabilidade não é oposta à comparação, é o que permite fazer que a comparação dos paradigmas tenha uma maior precisão. [34]

Importante esclarecer que a crítica que Bernstein remete é para a estrutura da ciência ser pendular entre o objetivismo e o relativismo e a resposta que o autor emprega a sua pesquisa é, em suma, o reconhecimento da hermenêutica como principal instrumento capaz de resguardar a incomensurabilidade a ser utilizada em um espaço para o diálogo. Tenta enquadrar um modelo que respeite e pondere a incomensurabilidade e, aplicando-se isso à afirmação de que a internacionalização dos direitos é um sistema que propõe uma forma de diálogo de modo a tentar harmonizar essa incomensurabilidade de tradições.

Condiz, pois, com o pressuposto de que os objetos que são tidos como de comparação, são incomparáveis, na medida em que se constroem sob culturas diferentes, fundamentos distintos. Outro doutrinador nesse sentido é John Gray, que demonstra a concepção de pluralismo objetivista. Tal proposta reconhece que há valores últimos conhecidos, conflitantes e incombináveis. Essa variedade de pluralismos pode permear uma a outra, especialmente quando culturas e formas de vida tem que interagir uns com os outros, ainda que seus valores não sejam necessariamente harmônicos, o pluralismo é uma variação da imperfeição da vida humana. O que o pluralismo objetivista coloca é que destrói a idéia de vida humana perfeita e se reconhece a incomensurabilidade entre as culturas e formas de vida.[35]

Esclarece-se que John Gray estrutura a sua análise em uma crítica ao liberalismo, e se colocando em uma ceara pós-liberalista. Coloca que o liberalismo enquanto uma doutrina política, cujos pressupostos são o individualismo, o universalismo, a equidade e o progresso, que não sobrevive à pluralidade de valores, justamente por sua incomensurabilidade de formas de vida.

John Gray explica que o individualismo, em que o indivíduo está à frente do coletivo, é apenas mais uma forma de organização e que existem diversas outras, como o holismo, em que se enfatiza o coletivo; o universalismo, que consiste na demanda não relativista que impõe direitos e deveres a todos os seres humanos, desconsiderando circunstâncias históricas e peculiaridades culturais. Também coloca como superada a equidade, na medida em que existem formas de organizações e ideologias em que a equidade simplesmente não é aplicada. [36] E demonstra uma perspectiva pós-liberal, propondo, não uma legitimação do liberalismo e suas bases, mas a retirada do melhor modelo possível, dentro da tradição liberal, no estudo empírico, de um sistema habilitado a respeitar a incomensurabilidade de formas de vida, e sugere ser a sociedade civil, a melhor forma de se englobar culturas distintas, justamente por sua tolerância e institutos que buscam uma maior harmonização de interesses.

Se existe uma diversidade de formas de vida, organizações, englobadas em modos de vida que somente alguns deles podem ser acomodados com um regime liberal, então a ordem liberal não tem superioridade sobre aquelas não liberais. O valor pluralismo dita

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um pluralismo também nos regimes políticos, e é a sociedade civil, com a sua garantia de liberdade e seus limites no governo, que implicam que permanece viva e emerge em vários lugares do mundo, e não o liberalismo enquanto doutrina. [37]

A sociedade civil parece a proposta mais adequada para o pluralismo de valores, tendo em vista ser uma forma de sociedade na qual a prosperidade de valores da uma civilização moderna pode ser reproduzida, em que concepções incomensuráveis podem coexistir em paz, por ser tolerante na diversidade de perspectivas, religiosas e políticas, na qual o Estado não procura impor uma teoria compreensiva, e onde o governo está restrito à lei. A Sociedade Civil e um governo ilimitado são incompatíveis.

Assim John Gray propõe, na perspectiva do pós-liberalismo, a estruturação de um diálogo entre culturas sob o prisma da sociedade civil e em uma filosofia de tolerância, o que pode ser levado à compreensão da constituição do Direito Internacional, visando uma perspectiva de não supressão de valores. E Bernstein aponta para a ênfase à hermenêutica como instrumento capaz de lidar com a incomensurabilidade, em um espaço em que se é estruturado uma ação para o diálogo.

E não somente a atuação da sociedade civil propriamente dita, mas a atuação das ONGs é também fundamental. O centro da questão é aprender a lidar com o pluralimso jurídico, e nesse papel, a gestão participativa é fundamental. As ONGs assumem a intercessão entre leis nacionais e internacionais no nível local, bem como na relação entre as tradições locais nos fóruns nacionais e internacionais, exercendo papel de mobilização e tradução das necessidades locais na elaboração de políticas que ali se aplicarão. [38] Com o trabalho das ONGs, é possível se diagnosticar a situação sócio-econômica, a infra-estrutura, as necessidades e potencialidades das comunidades locais, permitindo a identificação de quais elementos uma política normativa específica deve trabalhar para aquela determinada comunidade.

O tratamento da incomensurabilidade, na perspectiva de Boaventura, remete para as outras duas questões de globalização apenas mencionadas no início. Boaventura esclarece como visualiza a globalização, pelo localismo globalizado e pelo globalismo localizado, conforme se explicou anteriormente. Entretanto, ressalta para outros dois aspectos que não se adequariam a nenhum dos dois, mas que são de igual ênfase: o cosmopolitismo e o patrimônio comum da humanidade. Com relação ao patrimônio comum da humanidade, destaca o direito internacional como importante veiculo de proteção, dada a emergência de temas que, pela sua natureza, são tão globais como o próprio planeta: a sustentabilidade da vida humana, ou temas ambientais de conservação da biodiversidade, gerência de recursos comuns e etc.[39]

Quanto ao cosmopolitismo, vale enfatizar na atuação de entidades, dos instrumentos viabilizados pelo direito internacional para a defesa de seus interesses, que buscam, não a supressão, mas a interação de ordens, e quanto ao patrimônio comum, são as repercussões de caráter mundial de fato, como a necessidade de conservação ambiental, e que por isso, denota como importante se recorrer ao direito internacional.As atividades cosmopolitas incluem, entre outras, diálogos e organizações Sul-Sul, organizações mundiais de trabalhadores, filantropia transnacional Norte-Sul, redes internacionais de assistência jurídica alternativa, organizações transnacionais de direitos humanos, redes mundiais de movimentos feministas, as ONGs, redes de movimentos e associações ecológicas e de desenvolvimento alternativo, movimentos literários, artísticos e

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científicos na periferia do sistema mundial em busca de valores culturais alternativos, não imperialistas, empenhados em estudos sob perspectivas pós-coloniais ou subalternas, etc. [40]

Saber intermediar esse mecanismo da internacionalização dos direitos para que não suprima culturas locais é uma atuação conjunta dos atores interessados, eis a importância das instituições da sociedade civil: levantar e fazer repercutir quais as necessidades que precisam ser vistas para que não se imponha uma norma internacional em detrimento da tradição local. É uma questão também de política pública, incentivo e investimento em projetos de gestão de participação da população com as empresas interessadas nos seus assuntos específicos.

Conclusão

A internacionalização dos direitos reflete a relação entre o direito internacional e as principais mudanças nas relações internacionais. Visa uma ordem baseada no direito internacional liberal, com sua característica universalista, pretende a construção de um direito comum. Sua sistemática tenta adequar essa pluralidade de valores e tradições, em um contexto em que a interferência do direito internacional no direito nacional é inevitável.

As peculiaridades da contemporaneidade das relações internacionais são de difícil ou quase impossível síntese, entretanto é possível delinear pelo âmbito jurídico normativo, os principais aspectos de repercussão, como se vislumbra da presente reflexão. Isso por que não há como afirmar a internacionalização dos direitos como um aspecto totalmente negativo, ou totalmente positivo, no que se refere na questão da interferência nos direito internos.

O que se pode definir é que uma internalização normativa inadequada pode vir a ter os efeitos negativos de eliminação de culturas e inviabilizar o diálogo entre tradições. Eis a perspectiva do pluralismo de valores no estudo da internacionalização dos direitos. E que, não é somente no momento da internalização que se pode ter essa inadequação, mas na própria normatização, se não se vislumbra a incomensurabilidade dos conceitos, formas de vida e tradições no cerne da regra jurídica.

Ademais, enfatiza-se o direito internacional como instrumento capaz de nortear a defesa de questões dentro da concepção de patrimônio comum da humanidade. Questões que remetem para a própria sobrevivência do planeta, e do ser humano. Esfera em que outras entidades, além do Estado, são importantes na construção de uma ordem que não resulte na supressão de ordens locais.

Entretanto, mister reconhecer que não há nada propriamente universalista, no sentido de se vislumbrar ordens distintas, um mecanismo fundamentado para visar à construção de um direito comum. Tal afirmação corresponde a uma argumentação que pretende a legitimação de uma prática jurídica, construída com todas as peculiaridades do equilíbrio de poderes nas relações internacionais, que remete

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também a imposição de uma forma de organização em detrimento de outras, suprimindo tradições locais, no caso da incompatibilidade de valores.

A harmonização como forma de internacionalização é a técnica visada justamente quando há uma incomensurabilidade de valores, com pressupostos de tolerância e equidade. O que ocorre é, em vista da diversidade de outras formas de vida, este sistema pode não ser o mais adequado, e mesmo neste caso, ainda assim é utilizado, e por isso a afirmação de que a internacionalização ainda pode se manifestar como uma legitimação de uma ordem em desfavor de outras.

Permanece de grande importância à promoção também dos institutos da sociedade civil, das ONGs e projetos e políticas voltadas para a implementação de gestão participativa. Não se pretende aqui, outra imposição de um outro tipo de mecanismo de legitimação da ordem individualista liberal, ainda que, no caso específico da sociedade civil esta seja também reflexo de uma tradição liberal. O que se visa enfatizar é capacidade desses institutos, em lidar com a incomensurabilidade de valores, de formas de vida, de ordens distintas, tendo em vista suas instituições serem construídas para que consigam lidar com possíveis injustiças, submetendo os governos à lei, e propondo um sistema de tolerância as diferentes culturas e de diálogo entre elas.

De um lado, há a necessidade de um mecanismo jurídico mínimo, mecanismo regulador do sistema econômico entre os sujeitos das relações internacionais, e de outro, a consideração para a incomensurabilidade do mundo em que ele vai se aplicar. O direito internacional como é proposto é apenas mais uma forma de organização, na medida em que é construído por determinada tradição, a liberal.

E sob esse aspecto, tratar a incomensurabilidade na internacionalização dos direitos é também uma questão de efetividade. Assim, tendo em vista ser um reflexo das transformações contemporâneas, a formalização das normas diante da internacionalização dos direitos, acaba por ensejar que a construção normativa precisa de todo um processo de cooperação para que de fato seja efetiva, e, portanto, consiga lidar com ordens incomensuráveis, e seus destinatários a sigam.

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[1]FILOCHE, Geoffroy. Ethnodéveloppement, Développement durable et droit en Amazonie. (tradução livre) op. cit., p. 501-502.

[2] BULL, Hedley. A sociedade anárquica. 1ª edição. Brasília: Editora Universidade de Brasília, Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2002, p. 147.

[3] ARON, Raymond. Paz e guerra entre as nações. Tradução Sérgio Bath. Brasília: Editora Universidade de Brasília, Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2002, p. 73.

[4] ARON, Raymond. Paz e guerra entre as nações. Tradução Sérgio Bath. Brasília: Editora Universidade de Brasília, Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2002, p. 100.

[5] WIGHT, Martin. A política do poder. 2ª edição. Brasília: Editora Universidade de Brasília, Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2002, p. 85.

[6] BULL, Hedley. A sociedade anárquica. 1ª edição. Brasília: Editora Universidade de Brasília, Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2002, p. 13.

[7] ARON, Raymond. Paz e guerra entre as nações. Tradução Sérgio Bath. Brasília: Editora Universidade de Brasília, Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2002, p. 99.

[8] MACHADO, Maria Rocha. Internacionalização do direito penal: a gestão de problemas internacionais por meio do crime e da pena. São Paulo: Editora 34/ Edesp, 2004, p. 16.

[9] VARELLA, Marcelo Dias. A crescente complexidade do sistema jurídico internacional. Alguns problemas de coerência sistêmica. Revista de Informação Legislativa. Brasília a. 42 n. 167 jul./set. 2005.

[10] STRENGER, Irineu. Relações Internacionais. São Paulo: LTr Editora LTDA, 1998, p. 27.

[11] SANTOS, Boaventura de Sousa. Reconhecer para Libertar: Os Caminhos do Cosmopolitismo Multicultural. Edição Civilização Brasileira, 2003, p. 433.

[12] VARELLA, Marcelo Dias. A crescente complexidade do sistema jurídico internacional. Alguns problemas de coerência sistêmica. Revista de Informação Legislativa. Brasília a. 42 n. 167 jul./set. 2005.

[13] CONI, Luís Cláudio. A internacionalização do Poder Constituinte. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Ed. 2006, p. 65.

[14] KRASNER, Stephen D. Structural Conflict: The Third World Against Global Liberalism. University of California Press/ Berkeley, Los Angeles, London, p. 04.

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[15] KRASNER, Stephen D. Structural Conflict: The Third World Against Global Liberalism. University of California Press/ Berkeley, Los Angeles, London, p. 03.

[16] KRASNER, Stephen D. Structural Conflict: The Third World Against Global Liberalism. University of California Press/ Berkeley, Los Angeles, London, p. 04.

[17] CHANG, Ha-Joon. Chutando a escada: a estratégia do desenvolvimento em perspectiva histórica. Tradução: Luiz Antônio de Oliveira Araújo. São Paulo: Editora UNESP, 2004, p. 12.

[18] DELMAS-MARTY, Mireille. Trois défis pour un droit mondial. Tradução Livre. Paris, Éditions du Seuil, novembre 1998, p. 118.

[19] DELMAS-MARTY, Mireille. Trois défis pour un droit mondial. Tradução Livre. Paris, Éditions du Seuil, novembre 1998, p. 197.

[20] DELMAS-MARTY, Mireille. Trois défis pour un droit mondial. Tradução Livre. Paris, Éditions du Seuil, novembre 1998, p. 122.

[21] MAZZUOLI, Valério de Oliveira. O Tribunal Penal Internacional: Integração ao direito brasileiro e sua importância para a justiça penal internacional. Revista de Informação Legislativa. Brasília: Senado Federal, ano 41, n. 164, p. 157-178, out/dez, 2004.

[22] MAZZUOLI, Valério de Oliveira. O Tribunal Penal Internacional: Integração ao direito brasileiro e sua importância para a justiça penal internacional. Revista de Informação Legislativa. Brasília: Senado Federal, ano 41, n. 164, p. 157-178, out/dez, 2004.

[23] CONI, Luís Cláudio. A internacionalização do Poder Constituinte. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Ed. 2006, p. 155.

[24] CONI, Luís Cláudio. A internacionalização do Poder Constituinte. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Ed. 2006, p. 77.

[25] Tratar da relação entre direito e comunidades indígenas remete para a questão do etnodesenvolvimento. Sobre esse assunto, ver: SOUZA LIMA, Antonio Carlos de; BARROSO-HOFFMANN, Maria (orgs).Etnodesenvolvimento e políticas públicas: bases para uma nova política indigenista. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria LACED, 2002.

[26] Interessante exposição a respeito da complexidade de tal desafio é desenvolvida no artigo: GERVAIS, Daniel J. The Internationalization Of Intellectual Property: New Challenges From The Very Old And The Very New. Fordham Intellectual Property, Media and Entertainment Law Journal; Spring 2002.

[27] DELMAS-MARTY, Mireille. Trois défis pour un droit mondial. Tradução Livre. Paris, Éditions du Seuil, novembre 1998, pp. 117-118.

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[28] ARENDT, Hannah. A condição humana. 8ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997, p. 267.

[29] ARENDT, Hannah. A condição humana. 8ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997, p. 267.

[30] BOURDIEU, Pierre. O pode simbólico. Rio de Janeiro, Editora Bertand Brasil S. A., 1989, p. 211-212.

[31] DUMONT, Louis. O individualismo. Uma perspectiva antropológica da Ideologia Moderna. Rio de Janeiro: Rocco, 2000, p. 73.

[32] BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e Aplicação da Constituição: fundamentos de uma dogmática constitucional transformadora. 5. ed. Editora Saraiva, 2003, p. 247.

[33] DELMAS-MARTY, Mireille. Trois défis pour un droit mondial. Tradução Livre. Paris, Éditions du Seuil, novembre 1998, p. 106.

[34] BERNSTEIN, Richard J. Beyond Objetivism and relativism: science, hermeneutics, and práxis. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1983, p. 82.

[35] GRAY, John. Post-liberalism: studies in political thought. London and New York: Routledge, p. 292.

[36] GRAY, John. Post-liberalism: studies in political thought. London and New York: Routledge, p. 285.

[37] GRAY, John. Post-liberalism: studies in political thought. London and New York: Routledge, p. 314.

[38] Uma excelente pesquisa a respeito da importância da atuação das ONGs para o pluralismo jurídico é o estudo: SANTOS, Boaventura de Sousa. Reconhecer para Libertar: Os Caminhos do Cosmopolitismo Multicultural. Edição Civilização Brasileira, 2003. Constitui uma série de pesquisas que demonstram os vários aspectos do desafio de como se possibilita uma política para o reconhecimento e não para a supressão de tradições de populações vulnerável em face da ordem dos detentores do poder.

[39] SANTOS, Boaventura de Sousa. Reconhecer para Libertar: Os Caminhos do Cosmopolitismo Multicultural. Edição Civilização Brasileira, 2003, p. 435.

[40] SANTOS, Boaventura de Sousa. Reconhecer para Libertar: Os Caminhos do Cosmopolitismo Multicultural. Edição Civilização Brasileira, 2003, p. 436.