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A LEI 6.938/81 - Instituto Brasileiro de Sustentabilidade Cursos/Direito Ambiental/PNMA.pdf · A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação

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A LEI 6.938/81

POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE:

A Lei em questão, criada em 1.981, foi responsável pela instituição da

Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA , a qual, por sua vez, estabeleceu a

criação do Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA.

Seu objetivo é o desenvolvimento social sustentável por meio de

políticas, programas e métodos que busquem relegar ao meio ambiente uma

maior proteção em relação àquelas atitudes humanas poluidoras.

Assim, em seu Art. 2º a lei declara:

A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação,

melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando

assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos

interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida

humana, atendidos os seguintes princípios:

Primeiramente o escopo da PNMA é buscar a preservação ambiental. Em

casos em que esta não seja mais possível, como, por exemplo, em áreas já

degradadas, deve ela então agir de forma a melhorar e recuperar a qualidade

ambiental capaz de propiciar a vida.

No presente artigo em tela há uma grande presença do Princípio da

Prevenção, o qual impõe que primeiramente deve-se buscar todas as formas

possíveis de prevenção. Somente nos casos em que a prevenção não se torne

mais possível é que se deverá então falar em melhoria e recuperação

ambiental.

O interesse social recai primeiramente em atividades preservacionistas,

uma vez que estas mais interessam à sadia qualidade de vida humana em

detrimento da recuperação ambiental.

Para a efetivação de tais linhas, impõe-se a observação dos seguintes

princípios:

I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico,

considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser

necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo;

II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;

III - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;

IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas

representativas;

V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente

poluidoras;

VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o

uso racional e a proteção dos recursos ambientais;

VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental;

VIII - recuperação de áreas degradadas; (Regulamento)

IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação;

X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação

da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na

defesa do meio ambiente.

A presente lei informa também o conceito de alguns termos presentes

em seu texto e que também são constantemente utilizados.

Assim temos, segundo o Art. 3º:

Meio Ambiente: o conjunto de condições, leis, influências e interações

de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em

todas as suas formas.

Degradação da qualidade ambiental: a alteração adversa das

características do meio ambiente.

Poluição: a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades

que direta ou indiretamente prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar

da população; criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;

afetem desfavoravelmente a biota; afetem as condições estéticas ou sanitárias

do meio ambiente; lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões

ambientais estabelecidos.

Poluidor: a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,

responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação

ambiental.

Recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e

subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da

biosfera, a fauna e a flora.

Além do objetivo geral apresentado no Art. 2º da lei em voga, o Art. 4º

traz de forma mais objetiva e esmiuçada os objetivos da PNMA. São eles:

[…] compatibilização do desenvolvimento econômico-social com

a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio

ecológico;

Trata-se de um objetivo amplo, o qual busca o estabelecimento e

desenvolvimento de uma sociedade econômica e socialmente responsável

frente ao meio ambiente e consequentemente à sadia qualidade de vida.

O desenvolvimento econômico e social fundado sob ideologias e práticas

de respeito e preservação ambiental é totalmente possível e viável, tornando-

se a melhor forma, a curto, médio e longo prazos, de crescimento econômico,

desenvolvimento social e preservação da vida humana no planeta. Não uma

vida qualquer, mas sim uma vida dotada de sadia qualidade.

[…] definição de áreas prioritárias de ação governamental

relativa à qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos

interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e

dos Municípios;

De acordo com os interesses tanto da União, como dos Estados-membros

e em âmbito local, dos Territórios e Municípios, deve haver a criação e

definição de áreas em que a ação governamental deva ser priorizada.

Para a definição de tais áreas, será necessária a observação das

características de cada região, suas necessidades e urgências, e também a

importância direta dos bens ambientais da região na sadia qualidade de vida

das pessoas.

[…] estabelecimento de critérios e padrões de qualidade

ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursos

ambientais;

Critérios e padrões são necessários a fim de se mensurar a qualidade

ambiental e também o quão determinadas práticas enquadram-se nas

premissas de preservação ambiental. As normas, observados os critérios e

padrões de qualidade ambiental, determinarão as melhores formas de se

utilizar e manejar os recursos naturais existentes.

[…] desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais

orientadas para o uso racional de recursos ambientais;

Deve-se pesquisar, incentivar e desenvolver tecnologias que busquem

solucionar alguns problemas ambientais e melhor utilizar e gerir os bens,

recursos e insumos naturais.

[…] difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à

divulgação de dados e informações ambientais e à formação de uma

consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade

ambiental e do equilíbrio ecológico;

Um ponto muito importante que deve ser ressaltado é a necessidade pela

formação de uma consciência pública acerca da urgência da preservação

ambiental e do equilíbrio ecológico.

Entra em cena a questão da Educação Ambiental. A Educação Ambiental

é o meio mais viável, senão o único, de formação de uma consciência tangente

à preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico. É um assunto

bastante amplo e de interesse, visto que a Educação Ambiental deve agir

primeiramente sobre os indivíduos da sociedade, de forma efetiva e

construtiva.

Matéria ambiental é matéria prática, matéria de ação. De nada adiantará

se uma excelente teoria for desenvolvida teoricamente, se ela não for

implementada de forma prática.

A Educação Ambiental, muito além de informar as necessidades

ambientais de preservação e recuperação, deve buscar desenvolver a

consciência das pessoas, buscando apresentar o Meio Ambiente não como um

elemento que necessita de favores do homem, mas sim um bem único e vital,

que está se deteriorando por ações humanas. Deve-se buscar desenvolver a

identidade regional e local das pessoas, a fim de que estas se identifiquem e

criem laços de respeito com os respectivos bens ambientais.

Desenvolvido o senso de respeito e identidade de pessoas frente ao Meio

Ambiente, a preservação, defesa e recuperação ambiental poderão assumir

formas mais eficientes junto às praticas humanas, visto que, uma vez

instaurado certo laço de identidade entre o indivíduo e determinado bem

ambiental, a pessoa irá defendê-lo e não agir como se interesse não tivesse

frente ao risco de dano a tal bem.

[…] preservação e restauração dos recursos ambientais com

vistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente,

concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à

vida;

Utilização racional é aquela utilização que é realizada com a razão. Assim

o uso dos bens ambientais com razão, com racionalidade pode ser entendido

como o uso sustentável, ou seja, o uso dos bens ambientais de forma

responsável não privando as futuras gerações também de sua utilização, e

assim, em um ciclo interminável. O uso sustentável não gera o fim de

determinado bem, e sim o que o torna faltoso ou inutilizável é o uso

irresponsável e não sustentável.

[…] imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de

recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da

contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins

econômicos.

Quanto à indenização dos danos causados, ou seja, a responsabilidade

civil nos casos de danos ambientais, a presente lei teve um papel

importantíssimo, uma vez que é em seu Art. 14 que ela determina os

parâmetros da responsabilização e da indenização por danos ambientais, como

veremos mais adiante.

Parágrafo único - As atividades empresariais públicas ou privadas

serão exercidas em consonância com as diretrizes da Política Nacional

do Meio Ambiente.

Há a determinação de que as atividades empresariais, ou seja, sua

gestão e seus processos, tanto públicas como privadas, deverão sempre

nortear-se pelas premissas da Política Nacional do Meio Ambiente, uma vez

que tal política tem cunho amplo e geral, devendo ser observada tanto

internamente pela Administração Pública em seus processos com potencial

lesivo ao meio ambiente, como também por toda a sociedade e suas

decorrentes empresas e indústrias privadas.

No que tange a responsabilização por danos ambientais, a Lei 6938/81

determina em seu Art. 14:

Art. 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação

federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas

necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos

causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os

transgressores

[…]

§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o

poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou

reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua

atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para

propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio

ambiente. […]

Faz-se então importante algumas observações e uma breve análise

acerca do determinado.

A Constituição Federal determina sabiamente em seu Art. 225 que a

responsabilidade decorrente de uma atividade lesiva ao meio ambiente se

divide em três áreas: Administrativa, Civil e Penal, sendo todas independentes

e dotadas de autonomia entre si, onde uma vez aplicada certa punição

decorrente de determinada responsabilidade, não há o prejuízo desta aplicação

frente a outras eventuais penalizações referente às outras modalidades de

responsabilização.

Voltando-se os holofotes para a seara da responsabilidade civil, observa-

se que no Direito Ambiental ela se manifesta através da Teoria do Risco

Integral. Assim, uma vez que tal teoria denota a responsabilização do agente,

independente de haver ou não culpa, tem-se presente então a

Responsabilidade Objetiva.

Nestes termos, norteia o Art. 225, parágrafo terceiro da nossa Carta

Maior:

§ 3º – As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente

sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e

administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos

causados.

Observando-se os ditames constitucionais e o Art. 14, parágrafo 1º da lei

da PNMA, denota-se que, independentemente de incorrer o agente nas

modalidades culposas, há automaticamente a partir do início de suas

atividades que gerem lesões ao meio ambiente, a obrigação de reparação do

dano e da indenização de quem foi prejudicado, sem todavia deixar de lado a

sujeição de suas atividades a sanções administrativas e penais.

Basta que restem provados a conduta do agente, o dano e o nexo entre

eles, ou seja, a ação ter causado o dano. Não há que se falar em culpa.

Quando é conhecido o teor lesivo de determinada conduta, e não se

manifestando a lesão em tempos atuais, vindo a se configurar futuramente, é

também obrigação do agente tomar as providências reparatórias cabíveis, uma

vez que, não havendo dúvidas sobre o poder degradante da atividade, há

apenas a dúvida acerca do exato momento da manifestação dos efeitos no

meio ambiente, e a certeza de que eles ocorrerão.

Por dano, no direito ambiental, além claro da destruição material e física

dos bens ambientais, tem-se a destruição do direito difuso da coletividade.

A omissão também gera responsabilidade. Uma vez que há conhecimento

sobre a possibilidade da ocorrência de um fato danoso ao meio ambiente e o

agente nada faz, permanecendo inerte frente a tal situação, podendo com sua

conduta impedir a ocorrência, uma vez que tal dano ocorra, também ocorre

sua responsabilização.

Uma vez que o foco sobre a responsabilidade objetiva no Direito

Ambiental está crivado no dano, a obrigação de reparação está fundada,

independentemente da atividade ser lícita ou ilícita, autorizada ou não pelo

Poder Público. Assim, mesmo em atividade lícitas e que tenham o aval do

Poder Público, ocorrendo a lesão ambiental e tendo esta sua causa vinculada a

tais atividades, ocorre a obrigação de indenizar.

O meio ambiente recebe plausível tutela quando adotada a teoria do

risco integral. E não poderia ser diferente. O meio ambiente vai além de meros

bens ambientais como o solo, a água e o ar. É na verdade um elemento difuso,

presente em todo o globo, e de importância vital ao homem.

Dessa forma, seus elementos estão em constante interação, tanto entre

si, como com o homem. Cada elemento ambiental é dotado de elevada

interdependência e interação com outros bens também ambientais, e na

eventualidade de um dano, uma lesão a determinada região, os resultados

quanto a tais degradações são, até certo ponto, imprevisíveis, visto que o

efeito pode ser tanto local como também contribuir para uma macro

degradação ambiental nacional e mundial.