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Câmara dos Deputados Praça dos 3 Poderes Consultoria Legislativa Anexo III - Térreo Brasília - DF A LEI PELÉ NÃO EXISTE MAIS Emile Boudens Consultor Legislativo da Área XV Educação, Desporto, Bens Culturais, Diversões e Espetáculos Públicos ESTUDO OUTUBRO/2000

A LEI PELÉ NÃO EXISTE MAIS · 5 UM POUCO DE HISTÓRIA8 O DRIBLE NO CONGRESSO Sob o aspecto formal, a Lei nº 9.615, de 24.3.98, é o resultado das deliberações, na Câmara dos

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Câmara dos DeputadosPraça dos 3 PoderesConsultoria LegislativaAnexo III - TérreoBrasília - DF

A LEI PELÉ NÃO EXISTE MAIS

Emile BoudensConsultor Legislativo da Área XV

Educação, Desporto, Bens Culturais,Diversões e Espetáculos Públicos

ESTUDOOUTUBRO/2000

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ÍNDICE

© 2000 Câmara dos Deputados.

Todos os direitos reservados. Este trabalho poderá ser reproduzido ou transmitido na íntegra, desde que

citados o(s) autor(es) e a Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados. São vedadas a venda, a reprodução

parcial e a tradução, sem autorização prévia por escrito da Câmara dos Deputados.

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 3UM POUCO DE HISTÓRIA8 ...................................................................................................... 5O CLUBE-EMPRESA .................................................................................................................. 10SOCIEDADES DESPORTIVAS NOS CÓDIGOS (CIVIL E COMERCIAL) ........................... 15A SOLUÇÃO DADA PELA RECEITA FEDERAL E A SEGURIDADE SOCIAL .................. 19A LEI Nº 9.981/2000 E O CLUBE-EMPRESA ......................................................................... 22RELAÇÕES DE TRABALHO .................................................................................................... 23MEMÓRIA DA INICIATIVA LEGISLATIVA EM MATÉRIA DE RELAÇÕES DE TRABALHO

DO ATLETA PROFISSIONAL .............................................................................................. 24RELAÇÕES DE TRABALHO DESFIGURADAS ..................................................................... 31BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................... 35LEGISLAÇÃO ............................................................................................................................. 36

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INTRODUÇÃO

Deu no que deu. Em 1998, o ministro EdsonArantes do Nascimento assim reagiu-se àscríticas ao seu projeto de lei do desporto:

“O Pelé está acima de toda essa discussão política”. Agora não quermais que chamem de Lei Pelé a Lei nº 9.615/98. Teria comentadoo próprio Rei, “A Lei Pelé não existe mais”.

Segundo a imprensa, o desabafo foi feito durante aapresentação oficial do site “Pelé.net”. Na oportunidade, Peléteria culpado o Presidente Fernando Henrique Cardoso, de quemfoi ministro, pelo fracasso do Campeonato Brasileiro de Futebol,pela diminuição do público nos estádios, pela redução dosinvestimentos no futebol, pela manutenção do regime deescravidão dos atletas e pela falta de renovação nos quadrosdirigentes do desporto. Tudo isso em razão da entrada em vigorda Lei nº 9.981, de 14 de julho de 2000, que “Altera dispositivos daLei nº 9.615 de 24 de março de 1998, e dá outras providências”.

Esta lei é o resultado das deliberações do CongressoNacional sobre a Medida Provisória nº 1.962, de 22 de outubrode 1999, que, a julgar pela ementa, foi editada para instituir aTaxa de Autorização do Bingo, mas que, conforme a Mensagemde encaminhamento, também se destinava à “instituição de umataxa que venha viabilizar o efetivo poder de polícia daAdministração sobre a autorização e o controle do jogo do bingo”e à criação de “normas impeditivas de ações de sociedadeseconômicas voltadas ao descumprimento do sagrado princípioda livre concorrência”2 .

Não foi só. A MP nº 1.962, que posteriormente foirenumerada como 2.011, também ampliou a área de competênciado Conselho de Desenvolvimento do Desporto Brasileiro,transformando-o em órgão de normatização, deliberação eassessoramento. E numa de suas reedições foi inserida novaredação para o art. 30 original da Lei Pelé , prescrevendo que “ocontrato de trabalho do atleta profissional terá prazo determinado,com vigência nunca inferior a três meses nem superior a seisanos”3 .

A LEI PELÉ NÃO EXISTE MAIS

Emile Boudens

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No que se refere ao bingo, particularmente, a idéia a proposta era estender às ligas apossibilidade de explorar o jogo do bingo; atribuir ao INDESP a autorização e a fiscalização dofuncionamento dos bingos; ampliar para doze meses a validade das autorizações para bingo permanente;sujeitar a autorização dos bingos ao prévio pagamento de uma taxa (“Tabingo”); autorizar o INDESPa aplicar penalidades administrativas, sem prejuízo das sanções penais; responsabilizar asadministradoras de bingo pelo recolhimento dos tributos e encargos incidentes sobre as receitas;permitir que o bingo beneficiasse qualquer tipo de desporto e não apenas o desporto olímpico;reconhecer a legitimidade apenas das administradoras cujos diretores pudessem apresentar folhacorrida.

Interessante observar que, consoante se pode ler no parecer do Senador Maguito Vilela,a Comissão Mista4 constituída para examinar a Medida Provisória do Bingo entendeu que ”era urgentee necessária (destaque da transcrição) uma completa revisão dos dispositivos que tratam do bingo, de modo aproceder a seu aprimoramento” e, no entanto, resolveu não encarar o problema do bingo, que é caracterizadocomo “atividade (é) estranha à matéria desportiva, não devendo integrar a legislação que institui as normas geraissobre desporto, mas ser regulamentada separadamente”5. Em contrapartida, a Comissão Mista aproveitou oensejo para cuidar de dois outros “grandes temas”: o das relações de trabalho do jogador de futebole o da transformação dos clubes de futebol em empresas – precisamente os fulcros da Lei Pelé

Quanto à relação laboral entre clubes e atletas, a Comissão Mista quis, por um lado,assegurar aos clubes alguma forma de compensação pelo investimento realizado na formação dosatletas, em vista da proibição legal de se reter o atleta profissional após o cumprimento do contratode trabalho desportivo, e, por outro lado, dar ao atleta maior estabilidade, segurança eresponsabilidade6 .

No tocante ao chamado clube-empresa, as mudanças são no sentido do retorno àorganização desportiva tradicional, associativa, não só pelo caráter facultativa da transformação dosclubes em empresas (com a nova redação do art. 27, caput e § 2º, fica restabelecido o disposto no art.11 da Lei nº 8.672, de 1993), como, ainda, pelo elenco de restrições à participação de empresas nagestão do futebol profissional.

Além dos “grandes temas”, a Lei nº 9.981/00 mexe com a composição e as atribuiçõesdo Conselho de Desenvolvimento do Desporto Brasileiro (art. 11); trata da utilização dasdenominações e símbolos olímpicos (art. 15, 2º); suprime a categoria do atleta semi-profissional(arts. 3º, 36 e 37); altera a estrutura da Justiça Desportiva e a composição dos tribunais de JustiçaDesportiva (arts. 52 e 53); determina que a multa contratual, nos casos de transferência nacional einternacional, a ser recolhida à FAAP, seja paga pelo atleta e não pelo clube (art. 57); considera comode efetivo exercício a participação em delegação oficial, como atleta ou dirigente, de servidor público,tanto na fase de treinamento quanto no período de competição propriamente dito (art. 84); obriga osistema brasileiro de televisão aberta a transmitir ao vivo os jogos oficiais da seleção brasileira defutebol, mesmo que não haja interesse comercial (art. 84-A) .

Finalmente, cumpre notar que uma das mudanças mais significativas consta do art. 94,em sua nova redação, onde é determinado que os arts. 27, 27-A, 28, 29, 30, 39, 43, 45 e o § 1º do art.41 serão obrigatórios exclusivamente para jogadores e clubes de futebol. Coincidência ou não, foi oComitê Olímpico Brasileiro, por seu Presidente, Carlos Arthur Nuzman, que defendeu, junto àComissão Mista que analisou a Medida Provisória já referida, uma legislação separada para o futebolou, então, uma legislação desportiva que contemplasse separadamente o futebol e os demais esportes7.

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UM POUCO DE HISTÓRIA8

O DRIBLE NO CONGRESSO

Sob o aspecto formal, a Lei nº 9.615, de 24.3.98, é o resultado das deliberações, naCâmara dos Deputados, sobre os projetos de lei nº 1.159, de 1995, de autoria do deputado ArlindoChinaglia; nº 2.437, de 1996, apresentado pelo deputado Eurico Miranda; nº 3.633, de 1997,encaminhado pelo Poder Executivo, na gestão de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, como Ministrode Estado Extraordinário dos Esportes; e nº 3.558, também de 1997, de iniciativa do deputadoMaurício Requião. Na realidade, em que pese o fato de essas proposições terem tramitado em conjunto,a que monopolizou as atenções foi o PL 3.633, de 1997, que teve origem no Poder Executivo. Pode-se mesmo afirmar que, desconsiderado o capítulo “Do Bingo”, que ocupa 23 dos 96 artigos, nãoconstou do projeto original e só foi incluído de última hora, e descontadas as quatro cláusulas finais,a Lei Pelé é, no tocante aos 73 artigos restantes e a despeito de várias emendas de forma e de fundoacolhidas pela Câmara dos Deputados, o PL 3.633, de 1997.

Este projeto de lei chegou à Câmara em outubro de 1997, acompanhado de pedido paraser apreciado em regime de urgência constitucional9. Mesmo assim, foi alvo de 127 propostas deemenda.

Em 4 de novembro, a Presidência da República solicitou o cancelamento da urgênciaconstitucional, cuja manutenção poderia prejudicar a apreciação de outros projetos de interesse doPoder Executivo, inclusive a proposta orçamentária para 1998. Em 9 de dezembro, contudo, a Câmarados Deputados aprovou requerimento dos líderes, solicitando urgência regimental10 “para o PL 3.633/97 apensado ao PL 1.159/95”. Logo em seguida, o relator entregou à Comissão Especial um parecerfavorável, com substitutivo. Menos de vinte e quatro horas depois, a Comissão Especial aprovou oparecer do Relator, com novo substitutivo. Este substitutivo seguiu, ato contínuo, ao Plenário, que osacramentou no mesmo dia, com duas emendas.

A passagem da Lei Pelé pelo Senado foi meteórica. Lás sequer foi admitido o pensamentodivergente: a aprovação tinha que ser por unanimidade e sem qualquer emenda, para que a matérianão precisasse retornar à Câmara. Assim, já em 3 de março de 1998 os senadores puderam remetero texto ao Palácio do Planalto.

A sanção aconteceu em 24 de março de 1998, com 17 vetos.De volta ao Congresso Nacional, para apreciação dos vetos, a Comissão Mista11 não

apresentou parecer no prazo regimental, que se esgotou em 1º de junho de 1998.

ORIGENS DO PROJETO DE LEI DE PELÉ

O quadro a seguir mostra, grosso modo, a procedência dos diversos artigos do Projeto deLei de Pelé, em sua versão final.

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Curiosamente, alguns artigos listados no item 4 cuidam de matérias que em nenhummomento foram objeto de debate público, isto é, não se pode dizer com precisão de que forma e porsugestão de quem foram incorporados no substitutivo. É o caso, à guisa de exemplo, do art. 46, queregula a contratação de atleta de nacionalidade estrangeira com “visto temporário de trabalho”; doart. 17, vetado, em que se pretendia instituir e disciplinar o reconhecimento de apenas uma entidadenacional de administração do desporto por modalidade desportiva; do art. 29, em que a duração doprimeiro contrato de trabalho com o clube formador do atleta ficou limitada a dois anos; do art. 36,§ 4º, que ressuscita o passe; do art. 42, § 3º, que equipara o espectador de evento desportivo aconsumidor, e do art. 57, que transfere à Federação das Associações de Atletas Profissionais osrecursos anteriormente destinados ao sistema supletivo de assistência social e educacional aos atletasprofissionais, ex-atletas e atletas em formação, de responsabilidade do Poder Público.

Outra curiosidade é que, no art. 18, ressurge, como por encanto, o parágrafo que incumbeo Ministério Público e o INDESP de exercer o poder moralizador com relação às entidades deadministração do desporto, respectivamente atestando a viabilidade e autonomia financeiras dasentidades desportivas e atestando o cumprimento das obrigações trabalhistas, previdenciárias e fiscais.A supressão desse dispositivo e de outros congêneres (arts. 4º, § 2º; 22, § 5º; 23, § 2º) constantes doPL 3.633/97 havia sido ponto de honra para os deputados contrários à Lei Pelé e, assim, nãoconstara do substitutivo aprovado na Comissão Especial.

Importa ainda registrar que a Câmara extirpou do texto original (Cf. art. 14 do PL 3.633/97) o Conselho Deliberativo do INDESP (que coexistiria com o Conselho Brasileiro deDesenvolvimento do Desporto), a exigência de autorização prévia do Ministro dos Esportes paraentidade desportiva representar o Brasil no exterior (Cf. art 16, §§ 1º e 2º, do PL), o Cadastro Nacionaldo Desporto (Cf. arts. 11, 19 e 23 do PL), a liberação automática do atleta profissional ao término docontrato de trabalho (Cf. art 30, parágrafo único, do PL) e a participação dos clubes cessionários deatletas no produto da comercialização de imagens de seleções (Cf. art. 33, do PL).

No que concerne às mudanças introduzidas no texto na Câmara dos Deputados, não émuito fácil determinar com segurança a procedência de cada uma. Na reunião de Comissão Especialde 4 de dezembro, o relator apresentou um parecer favorável ao conjunto de projetos sob apreciação,com substitutivo, no qual disse ter aproveitado integralmente 18 emendas e, parcialmente, outras 30.Quando se vai conferir emenda por emenda, custa algumas vezes perceber o grau de aproveitamento,muito embora, a esta altura dos acontecimentos, isso não tenha grande importância.

1 – Dispositivos da Lei Zico, transcritos semqualquer alteração ou incorporados semalteração significativa.

1º, 2º, 6º, 7º, 9º, 8º, 10, 15, 26, 41, 42, 44, 47, 48,49, 50, 52, 53, 54, 56, 58, 82, 83, 84, 84, 89, 90,91, 95 - (30)

2 - Dispositivos que lembram a Lei Zico, não setratando de mera transcrição.

3º, 12, 13, 16, 21, 25, 38, 40, 43, 45, 51, 86, 87 -(13)

3 - Dispositivos de autoria do INDESP (= PoderExecutivo), substancialmente modificativos ounovos com relação à Lei Zico.

4º, 5º, 11, 14, 18, 20, 22, 23, 24, 28, 30, 37 - (12)

4 - Dispositivos de iniciativa da Câmara dosDeputados, substancialmente modificativos ounovos com relação ao texto original do PL3.633/97.

17, 19, 27, 29, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 39, 46, 53,88, 92, 93, 94, 96 - (18)

TOTAL (excluídos os artigos dedicadosao bingo)

30 + 13 + 12 + 18 = 73

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Na “Complementação de Voto”, proferida na reunião de 10 de dezembro, o relator teveo cuidado de registrar as diversas etapas de elaboração do texto final: “Apresentei o meu parecer emreunião da Comissão realizada em 4 de dezembro de 1997, concluindo por um substitutivo. Na reunião de 9 dedezembro de 1997, apresentei sugestões para uma nova versão do Substitutivo, que foi amplamente comentada ediscutida por diversos deputados. Encerrada a discussão na reunião de 10 de dezembro, durante a réplica, aceiteinovas alterações que surgiram dos acordos lá efetuados”. Quando se tenta localizar, no Substitutivo Adotadopela Comissão, as alterações sugeridas pelo relator, nova frustração: foram efetivamente incorporadasumas e desconsideradas outras, não havendo clareza quanto ao critério ou procedimento que foiusado na seleção.

O exame do mérito do PL 3.633, de 1997, fora atribuído a uma Comissão Especial, emsubstituição às Comissões de Seguridade Social e Família; Trabalho, de Administração e ServiçoPúblico; Economia, Indústria e Comércio; Educação, Cultura e Desporto; Finanças e Tributação;Constituição e Justiça e de Redação. A quantidade de comissões técnicas que foram incumbidas daanálise do projeto atesta, por si só, a complexidade da matéria. Lamentavelmente, a apreciação poruma comissão especial, exigida pelo Regimento Interno da Câmara, aliada à tramitação em regime deurgência constitucional, solicitada pelo Presidente da República, impediu que muitas questões denatureza constitucional, financeira, previdenciária, trabalhista e tributária fossem detalhadamentedebatidas. Ademais, as constantes interferências do INDESP e da Casa Civil da Presidência noandamento dos trabalhos, direta ou indiretamente, e a predominância de representantes do futebolprofissional na Comissão, não permitiram que houvesse clima e tempo para a maturação plena dasidéias.

O certo é que, mesmo que não tivesse havido qualquer audiência pública, o prazo de 45dias concedida à Câmara dos Deputados não teria sido suficiente para uma análise exaustiva damatéria. Como costuma acontecer, a certeza prévia de que não haveria tempo para um examequalitativo desestimulou uma participação mais ativa e fez com que as horas disponíveis fossemdesperdiçadas com a discussão de questiúnculas e com a marcação de pequenas vantagens sobre o“adversário”. Isso em detrimento de uma lei realmente inovadora, de evidente impacto social,econômico e político, que correspondesse com grandeza às expectativas e necessidades de todos osagentes desportivos, contemplasse de forma equânime as diversas tendências e, sobretudo, refletisseminimamente a ranzinice que, pelo menos naquela época, encharcava as relações entre a burocraciaestatal (INDESP), apoiada pelo Comitê Olímpico Brasileiro e entidades filiadas, e as forças vivas dofutebol (CBF e federações estaduais). Quanto ao papel desempenhado pelo Senado, é dispensávelqualquer comentário, conforme ficará evidente a seguir.

O PROJETO DE LEI DE PELÉ NO SENADO

Como já assinalado, a tramitação no Senado Federal do que passou a ser PLC 78/97também se caracterizou pela urgência, tanto que a matéria foi incluída em pauta de convocaçãoextraordinária (janeiro de 1998) e aprovada sem qualquer alteração, induvidosamente para alívio doMinistro diretamente interessado na matéria e de seus assessores. Apesar das críticas de seus membros,o Senado aprovou em tempo recorde o já então batizado Projeto de Lei Pelé (Projeto de Lei daCâmara nº 78, de 1997). A esse respeito, convém recordar alguns comentários colhidos na imprensada época.

Para começar, o próprio Jornal do Senado (12.2.98) relata: “A aprovação do texto oriundo daCâmara - foram incorporados apenas emendas de redação - ocorreu em razão de um entendimento político realizadoanteriormente, e com o compromisso da liderança do Governo em levar recomendações de vetos e aprimoramentos aoPresidente da República, quando da regulamentação de seus dispositivos”. Segundo a Folha de São Paulo(12.2.98), o acordo foi feito entre o ministro dos Esportes, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé,

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líderes e relatores. Teria participado do acerto o presidente do Congresso, senador Antônio CarlosMagalhães. Em troca da aprovação do texto da Câmara sem alterações, Pelé teria prometido que oGoverno avaliaria as recomendações dos senadores ao ensejo da sanção e regulamentação da lei.

Ao dar tais notícias, a imprensa12 registrou as declarações a seguir, algumas bastantesupreendentes:

- “Votamos com o espírito da balança. Temos críticas ao projeto, mas posto na balança, pesam mais osaspectos positivos” (Senador Arthur da Távola);

- “Não há necessidade de se mudar a lei. O que está acontecendo é falta de entendimento. Por issoestamos conversando” (Ministro Pelé);

- “O governo vai ter trabalho. Não sei se o governo vai acatar todas (as recomendações). Uma partevai ser viável” (Senador Arthur da Távola);

- “A proposta é um avanço grande para o esporte, clubes e atletas, daí a urgência e o acordo para aaprovação” (Senador Sérgio Machado);

- “Foi mais um gol de placa” (Ministro Pelé);- “Mais um susto” (Ministro Pelé, referindo-se às emendas que o senador Lobão pretendia

propor).- “O ministro se comprometeu a vetar os artigos que eu quero suprimir” (Senador Edison Lobão);- “O que for para melhorar o projeto vamos fazer. Não nos comprometemos a tirar nada. Vamos

discutir” (Ministro Pelé);- “Agora estamos no caminho do Primeiro Mundo... Muita coisa já estava na Lei Zico, mas para ela

faltou credibilidade e respeito”. (Idem);- “Eu manteria as emendas, se não tivesse a garantia do ministro. No dia em que o presidente não

cumprir um acordo desses, não sei, não...” (Senador Edison Lobão);- “Fiquei bobo com a agilidade que o senhor conseguiu na tramitação do projeto” (Presidente Fernando

Henrique Cardoso).- “O que é importante é que a lei é para o Brasil. Vai acabar com a perpetuação ‘deles’ no Brasil“

(Ministro Pelé).Enfim, a idéia de que a regulamentação e a sanção (incluindo a aposição de vetos) da

nova lei do desporto poderiam ensejar a correção de erros de conteúdo e ajustar o texto à presumidaintenção dos autores (Poder Executivo, Câmara dos Deputados e Senado Federal) mereceu estecomentário do senador Jader Barbalho:

“Estamos vivendo uma situação surrealista. Não é possível ouvir dos relatores que as emendas procedem,mas que não são acatadas. Não sabia que Pelé ia conseguir driblar o processo legislativo”.

A REGULAMENTAÇÃO DA LEI PELÉ

A regulamentação da Lei Pelé consta do Decreto nº 2.574, de 29 de abril de 1998. Decretoregulamentar é um ato normativo subordinado ou secundário, mais de natureza processual do queconceitual . A rigor, na medida em que “regulamentar uma lei” é torná-la exeqüível, fazer com quepossa ser efetivamente cumprida, sob a fiscalização do Poder Executivo, o Decreto deixa a desejar,por várias razões.

Primeira: Boa parte do texto é mera repetição de dispositivos da Lei, conforme facilmentese verifica em quadro comparativo. Ora, repetir não é regulamentar.

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Segunda: Em mais de uma oportunidade, o Poder Executivo extrapola sua competência:não regula alguma norma geral já existente, mas cria uma nova norma, ou seja, legisla. Exemplos: osarts. 42 e 32, § 4º. O caso mais grave é a reedição, via decreto, como se se tratasse de uma medidaprovisória, dos artigos 13 e 56, § 1º, da Lei, que haviam sido vetados.

Terceira: Há preocupação excessiva com minúcias que ficariam melhor acomodadas eminstrumentos normativos de caráter administrativo, como portarias e resoluções. Tal o caso dos artigos32, 57 (§§ 7º e 8º), 58 e 59, que se referem ao preenchimento de vagas nos tribunais de justiçadesportiva; do art. 70, cujos parágrafos regulam o processo de recolhimento dos valores devidos àFAAP; e de todos os dispositivos que tratam de credenciamento, autorização e prestação de contasdos bingos.

Quarta: Freqüentemente, a atenção se concentra em matérias que nada têm a ver com odesporto propriamente dito13 e figurariam melhor em legislação específica ou nesta já encontramamparo14 .

Quinta: Não raras vezes, quando não invade áreas de competência das entidadesdesportivas (por exemplo, arts. 36, 58 e 62, bem como os parágrafos do art. 71), o Poder Executivofoi, no caso da Lei Pelé, evidentemente omisso no que se refere ao dever de regular. Assim, porexemplo, nos casos do art. 18, I e II e do art. 27, parágrafo único.

Sexta: O Decreto, assim como a Lei, é repleto de redundâncias e de remissões legislativas.Ambas, como se sabe, prejudicam a clareza e a precisão da norma jurídica. Ainda na esteira da Lei,a preocupação maior do decreto regulamentador é com a má-fé, a corrupção, a truculência, avenalidade, a falta de espírito público e o interesse escuso com que estariam sendo geridos osnegócios desportivos. É notória a repetição de disposições que lembram a necessidade de se cumpriremintegralmente a Constituição Federal, a Lei Pelé e o próprio Decreto, como se dirigentes fossemmarginais por definição e até prova em contrário, permanentemente empenhados em manipularassembléias-gerais, conviver com desfalques e rombos financeiros, mudar a bel-prazer tabelas eregulamentos de campeonatos, enriquecer às custas de atletas e associados, apropriar-se das quantiasdescontadas em folha a título de contribuição para o INSS, o FGTS e o IR e não repassadas aosórgãos competentes.

Sem dúvida, a ingerência em assuntos internos da Justiça Desportiva e do sistemaprivado de assistência ao atleta profissional, a imposição do clube-empresa como única alternativacapaz de tornar transparente a captação e a gerência de recursos financeiros, a insistência na ação doMinistério Público, entre outras medidas, dão bem uma idéia do que Pelé entende por modernizaçãoe moralização do desporto brasileiro de qualquer maneira e à força. Quanto às intenções do Ministro,aliás, convém reler a mensagem de encaminhamento do PL 3.633/97.

Consoante aquele documento, modernizar seria “adequar a legislação pátria à atividade denatureza evidentemente comercial exercida pelas entidades de prática desportiva”, que negociam contratos deatletas, comercializam os direitos sobre a transmissão de jogos, vendem produtos com o logotipo doclube, estabelecem parcerias com patrocinadores e com empresas de marketing desportivo epublicidade. Moralizar seria extirpar os principais vícios que teriam embaraçado o desenvolvimentodesportivo brasileiro: a desorganização, o amadorismo, o paternalismo que marca as relações entreos atletas e os dirigentes de clubes, o desprezo à condição humana do atleta, a falta de transparêncianos negócios desportivos, a impunidade de agentes desportivos corruptos, a irresponsabilidade doscartolas.

Atestam o propósito moralizador, entre outros, os arts. 18, 20, 22, 23, 24 e 27, da Lei, eos arts. 38 (parágrafos), 40 (parágrafos), 42, 43, 57 (§§ 7º, 8º, 9º, 10), 58, 70 (parágrafos), 77 a 105, doDecreto. Note-se que, em momento algum, o legislador sequer admite que os abusos existentes na

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área do desporto poderiam ser devidos, pelo menos em parte, à omissão de autoridades que temem aforça política dos dirigentes e o potencial eleitoral das torcidas e, assim, por razões nada técnicas,costumam fazer vista grossa às ilegalidades praticadas, até mesmo com o consentimento do Congresso15 .

De fato, historicamente, entidades e dirigentes desportivos (algumas vezes, os própriosatletas) consideram-se acima da lei, porque os governantes costumam adulá-los em benefício (eleitoral)próprio, em vez de tratá-los como as demais pessoas jurídicas e físicas. Ao contrário do que faz crera Lei Pelé, não há nenhuma necessidade de explicitar que tais e quais normas valem também paraentidades e agentes desportivos. É claro, por exemplo, que a proibição da realização de compensaçãoprivada de créditos e valores em moeda estrangeira é geral e irrestrita, não havendo necessidade demencionar expressamente as transações internacionais envolvendo atletas em geral e jogadores defutebol em especial. O que não pode acontecer é que, sob o manto protetor da natureza formalmenteassociativa - e, portanto, sem fins lucrativos - de entidade desportiva, clubes de futebol profissionale agentes desportivos profissionais sejam tratados como tivessem objetivos e motivação meramentebeneficentes.

O CLUBE-EMPRESA

A ORGANIZAÇÃO DO DESPORTO DE COMPETIÇÃO NO BRASIL

A organização do desporto de competição em associações, ou clubes, é tradição tãoantiga quanto a sua sistematização, internacionalização e popularização, que se tornaram possíveisgraças à unificação das regras de jogo, a partir de meados do século passado. No Brasil, a fundação declubes e federações foi particularmente intensa nas décadas iniciais do século em curso. A extintaConfederação Brasileira de Desportos (ex-Federação Brasileira de Sports), por exemplo, foi fundadaem 1914.

Clubes, oficialmente chamados de “entidades de prática desportiva”, são pessoas jurídicasde direito privado, via de regra constituídas sob a forma de associação. Uma das características destetipo de sociedade é que os associados, tomados individualmente, não têm qualquer participação nopatrimônio, por maior que possa ser. Tanto é que, dissolvida a entidade, por qualquer razão, opatrimônio é destinado a outra entidade, de fins idênticos ou semelhantes. Outra característica é que,no caso de associação, a existência da pessoa jurídica é tão distinta da dos seus membros que aadmissão ou o desligamento de associados não acarreta qualquer mudança nos atos constitutivos,diferentemente do que ocorre com a sociedades comerciais, onde a saída de qualquer um dos sóciosimplica alteração do contrato existente ou a elaboração de um novo contrato social.

Clubes promovem atividades recreativas, desportivas e sociais para os associados.Freqüentemente mantêm departamento de desporto profissional, onde atuam atletas que não sãonecessariamente associados, ou seja, cujo vínculo com o clube não decorre de uma cota, mas de umcontrato de trabalho ou um contrato de patrocínio. Os clubes mais conhecidos são aqueles cujostimes de futebol disputam campeonatos nacionais. São associações de finalidade dupla: tem fins nãoeconômicos (na medida em que funcionam para os associados) e fins econômicos (na medida em queexploram o desporto profissional e, com ele, obter renda).

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O reconhecimento oficial da relevância política e social do desporto ocorreu, pela primeiravez, em 1941, quando a União estabeleceu as bases de organização do desporto em todo o país. Noque se refere ao tema objeto deste estudo, cumpre lembrar que o capítulo inicial do Decreto-lei nº3.119, de 14 de abril de 1941 é todo dedicado ao Conselho Nacional de Desportos, incumbido, entreoutras, das seguintes tarefas:

“a) estudar e promover medidas que tivessem por objetivo assegurar uma conveniente e constante disciplinaà organização e à administração das associações e demais entidades desportivas do país (...);

b) incentivar, por todos os meios, o desenvolvimento do amadorismo, como prática de desportos educativapor excelência, e, ao mesmo tempo, exercer rigorosa vigilância sobre o profissionalismo, com o objetivo demantê-lo dentro de princípios de estrita moralidade”.

Com relação à natureza jurídica das entidades desportivas, aquela primeira lei orgânicado desporto em nosso país preceituava:

“Art. 48. A entidade desportiva exerce uma função de caráter patriótico. É proibido a organização e ofuncionamento de entidade desportiva de que resulte lucro para os que nele empreguem capital de qualquerforma.

.....Art. 50. As funções de diretor das entidades desportivas não poderão ser, de nenhum modo, remuneradas”.

De acordo com o Decreto-lei nº 7.674, de 25 de junho de 1945, dispondo sobre aadministração das entidades desportivas, especialmente sob o ponto de vista financeiro,

“Art. 1º Em cada entidade desportiva sujeita ao regime de organização e administração prescrito noDecreto-lei nº 3.119, de 14 de abril de 1941, existirá, com a finalidade de acompanhar a gestão do órgãoadministrativo, um órgão fiscal instituído pela respectiva assembléia geral, ou conselho deliberativo, na formados respectivos estatutos.

.....§ 2º A responsabilidade dos membros do órgão fiscal por atos ou fatos ligados ao cumprimento de seus

deveres obedecerá às regras que definam a responsabilidade dos membros do órgão administrativo”.Consoante o Decreto-lei nº 5.342, de 25 de março de 1943, as sociedades desportivas só

podiam funcionar depois de obter licença por meio de álvará expedido pelo Conselho Nacional deDesportos. O mesmo documento declara ilícita a atividade de intermediários nos processos deaquisição e transferência de atletas profissionais.

O entendimento de que a forma associativa de prática e administração do desporto,nascida e evoluída espontaneamente, era a que convinha ao País também do ponto de vista legal nãomudou em 1976, quando a organização do desporto no Brasil passou a obedecer ao disposto na Leinº 6.251, aliás tão centralizadora e autoritária quanto o decreto-lei que a antecedeu. A nova leiconfirmou as associações como entidades básicas da organização desportiva nacional, muito embora“sob a alta supervisão normativa e disciplinar” do Conselho Nacional de Desportos.

Note-se que não é recente a preocupação com a administração econômica e financeiradas associações desportivas. É de 1945 o Decreto-lei nº 7.674, que “dispõe sobre a administração dasentidades desportivas, especialmente sob o ponto de vista financeiro”. E a Lei 6.251, de 1976, atribuía aoConselho Nacional de Desportos competência para baixar normas referentes ao regime econômico efinanceiro das entidades desportivas, inclusive no que diz respeito aos atos administrativos. Naregulamentação (Decreto nº 80.228, de 25 de agosto de 1977), foram estabelecidas normas rígidasde administração financeira das entidades desportivas. Ainda consoante este Decreto, “nas associaçõesdesportivas, os sócios se manifestarão coletivamente por meio de conselhos deliberativos, que serãoórgãos soberanos e constituídos de, no mínimo, vinte membros”, cabendo à assembléia geral afunção de eleger o conselho deliberativo e de decidir quanto à extinção da entidade ou sua fusão.

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O Decreto nº 80.228/77, art. 90, estabelecia também que, a) nas entidades em que sepraticasse o desporto profissional, o orçamento e a contabilidade fossem feitos à parte e registradosde modo autônomo, garantindo tratamento independente ao setor profissional; b) o balanço geral decada exercício, acompanhado da demonstração dos lucros e das perdas, registrasse os resultados dascontas patrimoniais, financeiros e orçamentárias.

Em síntese, entre 1941 (Decreto-lei nº 3119) e 1993 (Lei nº 8.672), foram princípiosbásicos da organização do desporto: associacionismo, responsabilidade colegiada, finalidade nãolucrativa, não-remuneração dos dirigentes, tutela governamental, controle interno e externo dos atosadministrativos nas entidades desportivas, transparência contábil. Assim, até então, ao menosformalmente, as entidades desportivas - confederações, federações, ligas, clubes - não tinham comofuncionar exclusivamente segundo os caprichos de dirigentes de plantão, como nos quer fazer crer oadmirável Pelé. Conselhos fiscais, por exemplo, são obrigatórios nas entidades desportivas desde1945, “para acompanhar a gestão financeira das administrações” (Cf. Decreto-lei nº 7.674, de 25 dejunho de 1945).

Na realidade, uma explicação honesta da tão proclamada má organização do desportoprofissional, especialmente do futebol, seria, entre outras, que os estatutos das entidades desportivas- aprovados pelas assembléias-gerais - deixam margem para a prática da prepotência, o enriquecimentoilícito, a manipulação de conselhos fiscais e comissões de arbitragem, o uso das estruturasadministrativas das entidades para a promoção pessoal dos dirigentes. Escoimar esses estatutos detodos os dispositivos contrários a uma efetiva participação política de todos os associados (filiados),como, por exemplo, admissão de conselheiros vitalícios, excessiva tolerância com relação aos abusosdo poder, excesso de delegação de competências aos conselhos deliberativos - eis a tarefa que seimpõe. Mas isso depende basicamente dos próprios associados, que devem deixar de ser coniventescom a corrupção, reagir às administrações truculentas, reestruturar os órgãos colegiados, pôr emprática os princípios básicos do associacionismo.

Entretanto, a falta de controle sobre os atos administrativos e a vida econômico-financeiradas associações desportivas é devido também à omissão do poder público, que, não importam asrazões, tem sido excessivamente benevolente com relação à sonegação praticada em entidadesdesportivas. Essa é sem dúvida uma das causas dos “vícios que têm embaraçado o desenvolvimento desportivobrasileiro” de que fala a Justificação ao PL 3.633/97 e da proposta de implementação de medidasmoralizadoras e de “profissionalização” das relações decorrentes da prática do desporto profissional.

A ADMINISTRAÇÃO DOS CLUBES HOJE

A Constituição Federal de 1988 proclamou a autonomia das entidades desportivas quantoa sua organização e funcionamento (art. 217, I, ), ao mesmo tempo que reconheceu a competêncialegislativa concorrente em matéria de desporto (art. 24). Daí que a necessidade de uma legislaçãodesportiva atualizada não se fez esperar.

A nova lei, de nº 8.672, ficou pronta em 6 de julho de 1993 e consagrou o princípio dalibertação do desporto da tutela do Estado, em artigo que foi reaproveitado na Lei Pelé (art. 26).

“Art. 18. Atletas, entidades de prática desportiva e entidades de administração do desporto são livrespara organizar a atividade profissional de sua modalidade, respeitados os termos desta Lei”.

O regime de livre iniciativa, marcado pela extinção do Conselho Superior de Desporto econjugado à crescente mercantilização do desporto de competição, fez com que viessem à tonaalguns aspectos negativos do associacionismo, principalmente com relação à prática profissional. Defato, um desporto-espetáculo como o futebol requer o desenvolvimento de atividades de naturezaevidentemente empresarial. Muito embora a maioria dos dirigentes desportivos discorde, na era da

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qualidade total, da globalização e da competitividade a prática do desporto profissional está setornando complexa e arriscada demais para poder depender apenas da intuição, da boa vontade, dapaixão, do “amor ao clube”, do suposto desprendimento dos dirigentes tradicionais. Donde a idéiade libertar as associações desportivas não só da tutela estatal como também do paternalismo, queseria a principal característica da administração dos dirigentes de clube tradicionais, comumentechamados cartolas.

Cartola é aquele dirigente ao mesmo tempo carismático e autoritário, em cujo favor osassociados cedem direitos estatutários fundamentais, em troca de uma menor carga de responsabilidadese de um relacionamento humano cordial, embora freqüentemente indigno do cidadão. O cartola équem manda, quem sabe, quem provê o que é bom e correto; o cartola encarna os valores, as normase as crenças que constituem a mística da associação; é no cartola que são incorporadas as expectativasde jogadores e torcedores.

Como dirigente de entidades sem fins lucrativos, o cartola não pode ser remunerado.Presumivelmente, mantém-se graças a recursos próprios, advindos de atividades paralelas. O quefundamentalmente o move é a perspectiva do exercício do poder, o prestígio que a direção de umaassociação desportiva confere e a possibilidade de usar a estrutura institucional do desporto em prolde projetos pessoais, sobretudo de natureza eleitoral e política até mesmo no trato de questões comolicenciamento de marcas, exploração da venda de produtos ligados ao clube, comercialização deplacas nos estádios, organização de campeonatos e negociação de contratos de patrocínio, de comprae venda de atletas e de transmissão de jogos. O tipo de motivação, cooperação e solução de conflitosa que, com o tempo, habituam seus “clientes”, bem como a administração baseada em troca defavores e relações de dependência que caracteriza sua administração não favorecem o tratamentoracional, empresarial, das questões financeiras e são o terror de potenciais patrocinadores e parceiroscomerciais. Para evitar maiores prejuízos, diversos clubes já entregaram a direção dos negócios dodia-a-dia a executivos.

Já que legalmente não pode ser remunerados pelo serviço prestado a seu clube,dificilmente o cartola pode ser responsabilizados por atos administrativos equivocados, prejuízoscausados ao clube, sonegação de valores descontados em folha e não repassados aos órgãosgovernamentais competentes, dilapidação do patrimônio das entidades que dirigem. A impressão –que eles próprios ajudam a cultivar – é que cartolas são pessoas bem intencionadas, inteiramentededicadas ao clube-do-coração. Essa impunidade impede uma administração afinada com a éticaque, pelo menos para fora, impera no mundo dos negócios. Afinal, transparência e jogo limpo sãorequisitos mínimos para o estabelecimento de transações comerciais confiáveis. Neste sentido, muitoembora não passe de uma bravata inconseqüente, pode-se compreender a inserção do art. 23 da Leinº 9.615/98, que proclama a inelegibilidade para o desempenho de cargos eletivos de inadimplentesna prestação de contas da própria entidade, de falidos e de afastados de cargo em virtude de gestãopatrimonial ou financeira irregular ou temerária da entidade. Levando-se em conta a facilidade comque a maioria dos clubes de futebol faz pouco caso da legislação, especialmente a tributária, atrabalhista e a previdenciária, pode-se compreender, ainda, o abuso que Pelé faz de pleonasmos dotipo “devem obrigatoriamente”.

Hoje, muitos consideram o cartolismo um fator de atraso, na medida em que se tornousinônimo de amadorismo gerencial, luta por poder político, desconforto e insegurança nos estádios,rombos financeiros nas contas dos clubes, falta de clareza na negociação de contratos de transmissãode imagens e de cessão de atletas, calendários de campeonato mal organizados16 . O cartolismo seriaa principal causa da resistência aos contratos de parceria por parte de bancos de investimento,

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empresas de marketing desportivo e agências de intermediação de mão-de-obra desportiva,potencialmente interessados em investir ou fazer investir no mercado desportivo e, por conseqüência,em tornar os clubes financeiramente rentáveis.

É muito importante lembrar, porém, que o problema da falta de uma administração“profissional” não é exclusivo dos clubes de futebol. O problema existe em outras entidades prestadorasde serviço como instituições privadas de ensino, hospitais, entidades filantrópicas e organizaçõesnão-governamentais, e, obviamente, por isso mesmo, não será resolvido apenas por meio de umconjunto de “normas gerais sobre desporto” muito menos com a transformação dessa entidades emsociedades comerciais17 .

A ADMINISTRAÇÃO DO DESPORTO PROFISSIONAL: LEGISLAÇÃO

Foi para viabilizar a administração “profissional” das associações desportivas que surgiramas tentativas de tornar juridicamente possível o que passou a ser chamado clube-empresa. A primeiraconsta do art. 11 da Lei nº 8.672, de 6 de julho de 1997, conhecida como Lei Zico, transcrito noquadro abaixo. É preciso entender que, para Zico, o problema não era optar entre facultatividade eobrigatoriedade; o problema era romper com a tradição do associativismo como filosofia e modelo deorganização do desporto, consagrada na legislação. Afinal, ele sabia que o resto cabia à decisãosoberana dos próprios associados, como se depreende da leitura do parágrafo único de referidoartigo:

Parágrafo único. As entidades a que se refere este artigo não poderão utilizar seus benspatrimoniais, desportivos ou sociais, para integralizar sua parcela de capital ou oferecê-los comogarantia, salvo com a concordância da maioria absoluta na assembléia geral dos associados e naconformidade dos respectivos estatutos.

Já Pelé queria que a transformação dos clubes de futebol profissional em empresas fosseobrigatória como “condição para as entidades de prática desportiva promoverem atividades relacionadas acompetições de atletas profissionais”. Consta, ainda, da Exposição de Motivos nº 22/GMEE, de 15.9.1997,que o objetivo da mudança era “adequar a legislação pátria à atividade de natureza evidentemente comercialexercida pelas entidades de prática desportiva, de modo a profissionalizar as relações decorrentes dessa atividadecomercial e inserir a iniciativa privada no contexto mais amplo do desenvolvimento do desporto”. O braço direitodo Ministro Pelé, Hélio Viana, não deixou dúvidas: “O projeto de lei do Ministro dos Esportes, EdsonArantes do Nascimento, Pelé, apenas propõe o óbvio, ou seja, que as atividades mercantis desenvolvidas pelos clubessejam reguladas de maneira idêntica a toda e qualquer empresa instalada no País. Nada, rigorosamente nada, alémdisso”18 .

A única concessão que Pelé fez foi que os clubes tivessem o prazo de dois anos para seadaptar ao disposto no art. 27. Esse prazo foi prorrogado posteriormente, por força da Lei n° 9.940,de 21 de dezembro de 1999, para três anos.

Veio a Lei nº 9.981, de 14 de julho de 2000, e, com ela, uma nova redação para o art. 27da Lei Pelé.Segundo o Senador Maguito Vilela, relator dessa matéria na Comissão Mista constituídapara deliberar sobre a MP nº 2.011-7:

“A obrigatoriedade das associações se transformarem em clube-empresa como condição sine qua paradisputar certames profissionais afronta e fere os postulados constitucionais da liberdade de associação e daautonomia desportiva”. Assim, “exigir-se a transformação de clubes profissionais em empresas é tão esdrúxuloe injurídico quanto compelir as empresas a se tornarem clubes profissionais”.

O quadro a seguir permite comparar as diversas leis.

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SOCIEDADES DESPORTIVAS NOS CÓDIGOS (CIVIL E COMERCIAL)

Quanto ao texto da Lei Zico, ainda bem que era facultativa a criação do clube-empresa!De fato, o art. 11 da Lei nº 8.672/93Zico não resiste a uma crítica conceitual até mesmo superficial,na medida em que confunde sociedade de fins lucrativos e sociedade comercial Como será explicadomais detalhadamente em capítulo a seguir, entidade desportiva, mesmo que vise a lucros, não ésociedade mercantil; é sociedade civil, inscrita no Registro Civil das Pessoas Jurídicas e não na JuntaComercial; é regida pelas disposições do Código Civil e não pelas disposições do Código Comercial.E, no caso de terceirização da administração do desporto profissional, a administradora, a não serque seja constituída sob a forma de uma S/A19 , também será uma sociedade civil, não uma sociedadecomercial.

Idêntica confusão conceitual aparece, por exemplo, na idéia de uma “sociedade comercialde finalidade desportiva”, que encerra uma contradição em termos. Com se verá mais adiante, ocerto é que entidades desportivas podem assumir a forma de sociedades comerciais e como taissejam tratadas do ponto de vista tributário, embora, pelo conteúdo, sejam sociedades civis de finseconômicos. Consoante o art. 16 do Código Civil, há dois tipos de pessoa jurídica de direito privado:a sociedade civil e a sociedade mercantil. A sociedade mercantil é inscrita na Junta Comercial eregida pelas disposições do Código Comercial, como se vê a seguir:

Lei nº 8.672/93, art. 11 Lei nº 9.615/98, art. 27 Lei nº 9.981/00, art. 27É facultado às entidades deprática e às entidades federaisde administração de modalidadeprofissional manter a gestão desuas atividades sob aresponsabilidade de sociedadecom fins lucrativos, desde queadotada uma das seguintesformas:

As atividades relacionadas acompetições de atletasprofissionais são privativas de:

É facultado à entidade de práticadesportiva participante decompetições profissionais:

I - sociedades civis de finseconômicos;

I – transformar-se emsociedade civil de finseconômicos;

I - transformar-se em sociedadecomercial com finalidadedesportiva;

II - sociedades comerciaisadmitidas na legislação emvigor;

II – transformar-se em sociedadecomercial;

II - constituir sociedadecomercial com finalidadedesportiva, controlando amaioria de seu capital comdireito a voto;III - contratar sociedadecomercial para gerir suasatividades desportivas.

III - entidades de práticadesportiva que constituiremsociedade comercial paraadministração das atividades deque trata este artigo.

III – constituir ou contratarsociedade comercial paraadministrar suas atividadesprofissionais.

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Art. 16. São pessoas jurídicas de direito privado:I - as sociedades civis, religiosas, pias, morais, científicas ou literárias, as associações de utilidade pública

e as fundações;II - as sociedades mercantis;III - os partidos políticos.§ 1º As sociedades mencionadas no inciso I só se poderão constituir por escrito, lançado no registro geral

e reger-se-ão pelo disposto a seu respeito neste Código, Parte Especial.§ 2º As sociedades mercantis continuarão a reger-se pelo estatuído nas leis comerciais.§ 3º .....Art. 17 .....Art. 18 Começa a existência das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição de seus contratos,

atos constitutivos, estatutos ou compromissos no seu registro peculiar, regulado por lei especial, ou com aautorização ou aprovação do Governo, quando precisa.

A sociedade civil pode ter intuitos não-econômicos ( Cf. o art. 22 do Código Civil) ouintuitos econômicos (Cf. o art. 23 do CC). Embora, no art. 22, chame aquela de associação, o próprioCódigo não estabelece qualquer distinção formal entre sociedade e associação. A Seção III de seuCapítulo II, por exemplo, é intitulado “Das Sociedades ou Associações Civis” e não “Das Sociedadese Associações Civis”. Ensina Jero Oliva (1978) que apenas em doutrina e, sobretudo, para finsdidáticos, costuma-se adotar a expressão “sociedade civil” para designar as entidades de finseconômicos, reservando-se o vocábulo “associação” para as de intuitos não-econômicos. Não temintuitos econômicos, por exemplo, as sociedades assistenciais, científicas, recreativas (Associação dePais e Amigos dos Excepcionais - APAE, Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciências - SBPC,o Clube do Congresso, etc.). Têm fins econômicos uma associação de mutuários do SFH, umasociedade de criadores de cães pastores alemães, uma associação de poupança e empréstimo dosservidores da Câmara dos Deputados.

É comum as pessoas pensarem que civil é a sociedade sem fins lucrativos e mercantil, asociedade de fins lucrativos. Nada mais errado. É mercantil a sociedade dedicada à prática de atos decomércio, procedendo como intermediária entre o produtor e o consumidor. A sociedade mercantilfaz circular a riqueza, de forma habitual e com fins lucrativos, especulativos. Já as sociedades civis defins econômicos podem visar ao lucro ou não. Um escritório de advogacia (como “AdvogadosAssociados S/C) tem fins lucrativos. A Associação de Lojistas de um shopping tem por objetivodefender os interesses comerciais de seus associados, mas não visa a lucros para si própria.

Em outras palavras, sociedades mercantis têm fins lucrativos por definição. Sociedadescivis podem ter fins lucrativos ou não. A distinção não surge da natureza jurídica da entidade, davontade de seus sócios ou do contrato, mas de seu objeto. É claro que, por princípio, inexistindo finseconômicos, não pode haver fim lucrativo, como no caso das entidades assistenciais. Quanto àssociedades de fins econômicos, ou seja, não assistenciais, podem ter animus lucrandi (por exemplo, associedade de prestação de serviços, como escritórios de contabilidade, estabelecimentos de ensino,clínicas médicas, academias de ginástica) ou não (como, por exemplo, o ECAD).

Os tipos mais comuns de sociedade mercantil são a sociedade por cotas de responsabilidadelimitada (a que parece referir-se o inciso I do art. 11 da Lei Zico) e a sociedade anônima (a que parecereferir-se o inciso II do art. 11 da Lei Zico). As sociedades civis de fins econômicos podem revestira forma de uma sociedade comercial sem deixar de ser civis. A exceção é a forma de sociedadeanônima, que a legislação considera mercantil seja qual for seu objeto.

Veja-se novamente o Código Civil:Art. 1.364. Quando as sociedades civis revestirem as formas estabelecidas nas leis comerciais, entre as

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quais se inclui a das sociedades anônimas, obedecerão aos respectivos preceitos, no em que não contrariem estecódigo, mas serão inscritas no Registro Civil e será civil o seu foro.

Art. 1.365. Não revestindo nenhuma das formas do artigo antecedente, a sociedade reger-se-á pelo queneste capítulo (o Capítulo XI do CC) se prescreve.

Já a Lei nº 6.015, de 31/12/73 (Lei dos Registros Públicos) assim preceitua:Art. 114. No registro civil de pessoas jurídicas são inscritas:I - os contratos, os atos constitutivos, o estatuto ou compromissos das sociedades civis, religiosas, pias,

morais, científicas ou literárias, bem como das fundações e das associações de utilidade pública;II - as sociedades civis que revestirem as formas estabelecidas nas leis comerciais, salvo as anônimas.

Como já foi assinalado, sociedades civis sem fins lucrativos podem ter (e freqüentementetêm!) rendas. Não se trata de lucro, uma vez que a legislação pertinente estabelece que a) essasrendas (“excedentes financeiros”, “superavits”) sejam aplicadas na manutenção e no desenvolvimentodos objetivos sociais, admitido seu investimento na ampliação do patrimônio; b) não podem remunerar,por qualquer forma, os cargos de diretoria, nem distribuir lucros, bonificações ou vantagens adirigentes, mantenedores, associados, instituidores ou benfeitores, a qualquer título e sob nenhumpretexto.

Sociedades desportivas não têm por objeto a prática habitual do comércio. Assim, nãosão, nem podem ser, sociedades mercantis. Sociedades desportivas são sociedades civis, mesmo querevestirem a forma de sociedade mercantil. Caso se propõem proporcionar a seus associados a práticada educação física, do esporte amador competivo e recreativo e atividades sociais, culturais, cívicase de lazer, são sociedades civis sem fins econômicos (e, também, sem fins lucrativos). Caso têm porobjeto a realização de ou a participação em competições de atletas profissionais, devem serconsideradas sociedades civis de fins econômicos. Como tais, têm que ser de fins lucrativos, pelomenos de fato, até por uma questão de sobrevivência: hoje em dia, é impossível manter uma equipede competição formada com atletas profissionais sem a garantia de uma renda permanente com quesustentá-la .

Algumas conclusões relativas ao quadro acima:a) É relativamente fácil aplicar o disposto no art. 27 (desde que, é claro, corretamente

redigido!) às entidades de prática desportiva que forem constituídas doravante. O problema é aplicá-lo aos clubes já existentes, que são associações, protegidas por disposições constitucionais e estatutáriosespecíficos.

b) A sociedade comercial referida no inciso II do art. 27 só pode ser a sociedade anônima,devendo a Lei dizê-lo diretamente, sem ambiguidades.

c) Em se tratando de associações, ou seja, de entidades que não precisam de autorizaçãodo Governo para funcionar, qualquer mudança do tipo jurídico depende de uma decisão daassembléia-geral, a não ser que que a Lei Penal dissesse claramente que associação desportiva manterdepartamento de desporto profissional é fim contrário ao que é previsto no estatuto, perigoso, nocivoao interesse público.

d) A mera transformação de um clube em “sociedade comercial” não assegura suamodernização. O que é preciso é que os clubes sejam administrados por pessoas com formaçãoespecializada, em quem patrocinadores e parceiros possam confiar.

f) A terceira alternativa oferecida na Lei Pelé é a constituição de sociedade comercialpara administração das atividades relacionadas a atletas profissionais. No que concerne a esta proposta,cumpre notar que administradoras não são sociedades comerciais, mas sociedades civis, ou seja,sociedades da mesma natureza jurídica das sociedades desportivas e, portanto, sujeitas às mazelas eaos vícios que Pelé pretende combater. Mandar que uma sociedade civil (ou parte dela) seja administrada

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por outra sociedade civil por si só nada resolve: será que o melhor guia para um cego é outro cego?Ademais, o que é que impede que os donos da administradora de um clube sejam seus própriosdirigentes - aqueles indivíduos que a Lei Pelé presume marginais (Cf. art. 23), caso em que tudocontinuaria como dantes? Finalmente, a terceirização da administração do departamento de desportoprofissional implicaria em mudança de estatuto e só poderia ser decidida pela assembléia-geral.

Seja como for, como pondera Mauro M. Pinto20 :- Não há qualquer garantia de que, por si só, a transformação de umas em outras vai

livrar o meio desportivo dos maus dirigentes;- Nas empresas quem decide é quem tem a maioria de cotas ou ações, enquanto nas

associações, o sócios minoritários ainda podem votar e trocar o presidente nas eleições;- O dono da empresa (sócio majoritário), por meio de maquiagem de balanços, pode

sonegar os lucros e deles se apropriar, lesando os sócios minoritários;- A organização empresarial ensejaria todo tipo de golpe financeiro em cima dos sócios;- Se um dirigente não presta contas num clube que não lhe pertence, com mais razão não

vai fazê-lo a terceiros num clube que é seu.

A SOLUÇÃO ENCONTRADA PELO MERCADO

O legislador não cria “realidades”, econômicas ou não. O legislador, sim, pode identificartendências de mercado e tentar canalizá-las e discipliná-las, a fim de que se mantenha a coerênciainterna e externa do arcabouço jurídico. Presentemente, em matéria de apoio financeiro externo aoesporte, as tendências são a parceria e o patrocínio.

A parceria desportiva pode ser definida como o contrato pelo qual uma entidade deprática desportiva se associa a uma empresa para a administração conjunta de uma equipe de atletasprofissionais, geralmente um time de futebol. Existem também parcerias para a administração/exploração de praças de esporte e para a comercialização de placas no estádios e produtos ligados aostimes A parceria garante à empresa a exposição na mídia e a popularização de marcas; ao clube, aquitação de débitos (IR, FGTS, INSS) e recursos para investir nas divisões de base. Amiúde, aempresa tem também uma participação nas rendas, principalmente na venda e no empréstimo deatletas.

Patrocínio é a exposição da marca de uma empresa ou de um produto na camisa (ououtros equipamentos) de atletas profissionais, em troca de uma recompensa financeira. Como naparceria, o patrocínio permite o uso da imagem do clube para promover produtos ou serviços,podendo referir-se, ainda, a um campeonato ou a um atleta. A diferença é que, na parceria, a empresanão se limita a pagar ao clube, mas participa diretamente da administração do departamento dedesporto profissional.

Ou seja, “ao contrário do patrocinador, que dá recursos ao clube em troca da publicidade na camisado time, o parceiro financeiro faz um investimento no produto. Seu papel consiste em otimizar as receitas e racionalizaras despesas da empresa para que ela seja o mais rentável possível. Perder ou ganhar dentro do campo só interessa namedida em que isso possa influir os resultados dos negócios da empresa”. Regime de patrocínio e co-gestão é oque vincula o Palmeiras ao Parmalat, que praticamente não interfere na administração do clube. Nocaso da parceria, clubes e bancos de investimento ou empresas de marketing podem criar umaempresa (sociedade civil ou sociedade anônima) para administrar a marca do clube e sua produçãodesportiva, cabendo ao parceiro atrair investidores. Existem parcerias em que o banco de investimentoexplora a marca do clube, mas não manda no modelo de gestão do clube.

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Ao contrário do que certos setores propalam, a desorganização e ineficiência administrativanas entidades desportivas, a diluição das responsabilidades pela má administração financeira e evasãofiscal nos clubes, as disputas pelo poder político nas associações e a convivência promíscua dodesporto amador e do desporto profissional nas federações não são os únicos obstáculos à ampliaçãoe ao fortalecimento da parceria e do patrocínio. Na série “País do Futebol”, a Folha de São Pauloaponta resistências nas próprias empresas em razão de a) temor de que torcidas rivais boicotem osprodutos (ou serviços) de um patrocinador de sucesso; b) falta de interesse no tipo de publicidadeobtida com o desporto e concentração em outras mídias; c) incerteza quanto à reação da concorrência;d) falta de experiência no trato da parceria e, conseqüentemente, falta de confiança nos resultados.

De qualquer forma, não há mais dúvida de que é possível separar o desporto profissional,especialmente o futebol, das demais atividades das associações desportivas, sem violentar estatutose sem rasgar a Constituição. Em se tratando de profissionalizar a administração do desporto decompetição, o contrato de gestão, a parceria e o patrocínio são mecanismos de modernizaçãocomprovadamente eficazes.

A SOLUÇÃO DADA PELA RECEITA FEDERAL E A SEGURIDADE SOCIAL

Como já foi lembrado, a idéia de Pelé era submeter as atividades relacionadas acompetições de atletas profissionais às normas da legislação comercial. Em outras palavras, nãobastava cobrar dos clubes o recolhimento dos “encargos” descontados nas folhas de pagamento edos tributos relativos à receita de bilheteria. Era preciso tirar-lhes a máscara, obrigá-los a contribuirsobre a receita obtida com licenciamento de marcas e marketing, patrocínios e parcerias, venda dedireitos de TV e de contratos de trabalho, e, neste sentido, tratá-los como empreendimentos lucrativosque de fato são. Pois bem. A despeito dessa explicação, a transformação compulsória de associaçõesdesportivas em clubes-empresas continuou sendo objeto de muita discussão.

Ocorre que, enquanto a Câmara dos Deputados procedida à pesagem dos prós e contrasdo clube-empresa, em outras áreas a questão do enquadramento de sociedades civis nas legislaçãotributária vinha sendo resolvido sem causar escândalo nem barulho. Donde uma breve referência àLei nº 9.532, de 10 de dezembro de 1997, que, sob certo aspecto, transformou a polêmica geradapela proposta de Pelé numa discussão sobre o sexo dos anjos.

De fato, o § 3º do art. 12 da Lei nº 9.532/97, que altera a legislação tributária federal,resolveu de uma vez por todas uma velha dúvida relativa à alínea c), do inciso VI, do art. 150 daConstituição Federal, que estabelece a imunidade fiscal de, entre outras entidades, instituições deeducação e de assistência social sem fins lucrativos, dispondo que:

§ 3º Considera-se entidade sem fins lucrativos a que não apresente superavit em suascontas ou, caso o apresente em determinado exercício, destine referido resultado integralmente aoincremente de seu ativo imobilizado.

Do disposto neste parágrafo, é legítimo concluir que tal não é nem pode ser, sob o riscoda inviabilidade econômica e financeira, o caso dos clubes desportivos. Pelo menos no tocante aodepartamento de futebol profissional, essas entidades são necessariamente sociedades de finslucrativos, queiram ou não, tenham-no declarado formalmente ou não. O animus lucrandi é evidentee, assim, nada impede que o poder público aplique às entidades desportivas o tratamento fiscalcorrespondente, independentemente do tipo jurídico declarado nos atos constitutivos. A mesma Lei

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nº 9.532/97, aliás, ao revogar o art.. 30 da Lei nº 4.506, de 30 de novembro de 1964, que “dispõe sobreo imposto que recai sobre as rendas e proventos de qualquer natureza”, extingüiu a isenção fiscal das entidadesdesportivas. Dizia o dispositivo revogado:

Art. 30 As sociedades, associações e fundações referidas nas letras a (“as sociedades e fundações decaráter beneficente, ..., recreativo e desportivo”) e b (“as associações ... que tenham por objeto cuidar dosinteresses de seus associados”) do art. 28 do Decreto-lei nº 5.844, de 23 de setembro de 1943, gozarão deisenção do imposto de renda, desde que:

I - não remunerem os seus dirigentes e não distribuam lucros a qualquer título;II - apliquem integralmente os seus recursos na manutenção e desenvolvimento dos objetivos sociais;III - mantenham escrituação das suas receitas e despesas em livros revestidos das formalidades que

assegurem a respectiva exatidão;IV - prestem à administração do imposto as informações determinadas pela lei e recolham os tributos

arrecadados sobre os rendimentos por elas pagos.§ 1º As pessoas jurídicas referidas neste artigo que deixarem de satisfazer às condições constantes dos

itens I e II, perderão, de pleno direito, a isenção......§ 3º Sem prejuízo das demais penalidades previstas na lei, a administração do imposto suspenderá, por

prazo não superior a dois anos, a isenção da pessoa jurídica prevista neste artigo que for co-autora de infraçãoa dispositivo de legislação sobre imposto de renda, especialmente no caso de informar ou declarar recebimentode contribuição em montarar para que terceiro sonegue impostos.

§ 4º Nos casos do parágrafo anterior, se a pessoa jurídica reincidir na infração, a autoridade fiscalsuspenderá sua isenção por prazo indeterminado

Em 10 de dezembro de 1997, foi sancionada a Lei nº 9.528, de 10 de dezembro de 1997,já referida, que, segundo comentários que, à época, circulavam na Comissão Especial, por sersimpático aos clubes de futebol, teria facilitado a negociação da aprovação do substitutivo do relator.De qualquer forma, é interessante ter conhecimento desta lei pelo tratamento empresarial que dá àsentidades desportivas, sem que, no entanto, sejam formalmente transformadas em “sociedadescomerciais”. No que se interessa ao presente estudo, a Lei nº 9.528 alterou o art. 22 da Lei nº 8.212,de 24 de julho de 1991 (a Lei de Custeio da Seguridade Social), reconhecendo como fato gerador dacontribuição previdenciária não só a renda de bilheteria, mas também a receita obtida com outrasatividades relacionadas a competições de atletas profissionais (Cf. Lei Pelé, art. 27). que ficou coma redação a seguir grifo nosso):

Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social, além do disposto no art.23, é de:

I - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas a qualquer título, duranteo mês, aos segurados empregados que lhe prestem serviços destinadas a retribuir o trabalho, qualquer que sejaa sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidentes de reajuste salarial, querpelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços, nostermos da lei ou do contrato, ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa;

II - para o financiamento dos benefícios concedidos em razão do grau de incidência de incapacidadelaborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho, conforme dispuser o regulamento, nos seguintespercentuais, sobre o total das remunerações pagas ou creditadas, no decorrer do mês, aos segurados empregadose trabalhadores avulsos:

a) 1% (um por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante o risco de acidentes de trabalhoseja considerado leve;

b) 2% (dois por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco seja consideradomédio;

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c) 3% (três) por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco seja consideradograve.

.....§ 6º A contribuição empresarial da associação desportiva que mantém equipe de futebol profissional

destinada à Seguridade Social, em substituição à prevista nos incisos I e II deste artigo, corresponde a cincopor cento da receita bruta, decorrente dos espetáculos desportivos de que participem em todo territórionacional em qualquier modalidade desportiva, inclusive jogos internacionais, e de qualquer forma de patrocínio,licenciamento de uso de marcas e símbolos, publicidade, propaganda e de transmissão de espetáculos desportivos.

§ 7º Caberá à entidade promotora do espetáculo a responsabilidade de efetuar o desconto de cinco porcento da receita bruta decorrente dos espetáculos desportivos e o respectivo recolhimento ao Instituto Nacionaldo Seguro Social, no prazo de dois dias úteis após a realização do evento.

§ 8º Caberá à associação desportiva que mantém equipe de futebol profissional informar à entidadepromotora do espetáculo desportivo todas as receitas auferidas no evento, descriminando-as detalhadamente.

§ 9º No caso de a associação desportiva que mantém equipe de futebol profissional receber recursos deempresa ou entidade, a título de patrocínio, licenciamento de uso de marcas e símbolos, publicidade e transmissãode espetáculos, esta última ficará com a responsabilidade de reter e recolher o percentual de cinco por cento dareceita bruta decorrente do evento, inadmitida qualquer dedução, no prazo estebelecido na alínea b, do art. 30desta lei.

§ 10 Não se aplica o disposto nos §§ 6º e 9º às demais associações desportivas, que devem contribuir naforma dos incisos I e II deste artigo e do art. 23 desta Lei.

§ 11 O disposto nos §§ 6º a 9º aplica-se às associações desportivas que mantém equipe de futebolprofissional e que se organizem na forma da Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998 (parágrafo acrescentadopela MP 1.663, com vigência desde 29.05.98).

Por fim, é oportuno lembrar o Decreto nº 2.306, de 19 de agosto de 1997, que, semmaiores traumas, havia resolvido algumas indefinições quanto ao estatuto jurídico de instituições deensino superior de direito privado. Pelo Decreto, que, no que couber, poderia inspirar um novoestatuto jurídico para as sociedades desportivas,

- as pessoas jurídicas de direito privado (clubes), mantenedoras de instituições de ensinosuperior (departamentos de desporto profissional) poderão assumir qualquer uma das formas admitidasem direito, de natureza civil ou comercial. A conseqüencia é que, sendo considerados de finseconômicos para os efeitos legais, no caso de extinção dessas sociedades, o patrimônio dessasinstituições pode ser compartido entre os sócios ou seus herdeiros (Cf. CC. art. 23);

- quando com finalidade lucrativa, ainda que de natureza civil, essas entidades deverãoa) elaborar e publicar, em cada exercício social, demonstrações financeiras certificadas por auditoresindependentes, com parecer do conselho fiscal, ou órgão equivalente; b) submeter-se, a qualquertempo, a auditoria pelo Poder Público;

- quando classificadas como particulares em sentido restrito, com finalidade lucrativa,ainda que de natureza civil, e mantidas e administradas por pessoa física, ficam submetidas aoregime da legislação mercantil, quanto aos encargos fiscais, parafiscais e trabalhistas, como secomerciais fossem, equiparados seus mantenedores e administradores ao comerciante em nomeindividual.

O Decreto nº 2.306 revogou o Decreto nº 2.207, de 15 de abril de 1997, que assim haviadisposto:

Art. 2º ................................................“Parágrafo único. As atuais mantenedoras das instituições privadas de ensino superior a que se refere este

artigo que desejarem alterar sua natureza jurídica, ..., revestindo um das formas estabelecidas nas leis

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comerciais, poderão fazê-lo no prazo de 120 dias, a contar da data de publicação deste Decreto, submetendoa correspondente alteração estatutária, devidamente averbada pelos órgãos competentes, ao Ministério daEducação e do Desporto, para fins de recredenciamento, ouvido o Conselho Nacional de Educação.

Art. 3º As entidades matenedoras com fins lucrativos submetem-se à legislação que rege as sociedadesmercantis, especialmente na parte relativa aos encargos fiscais, parafiscais e trabalhistas”.

Para avaliar corretamente a reviravolta causada pelo Decreto, importa saber que até oseu advento as instituições de ensino superior eram obrigatoriamente instituídas como pessoas jurídicassem fins lucrativos (na prática, como associações ou fundações, freqüentemente, por força dascircunstâncias, de fachada, com donos e tudo). Como se vê, não é tão difícil moralizar o futebol, paraque seja administrada de maneira empresarial. Salvo melhor entendimento, se o problema é dispensaràs entidades de prática desportiva profissional tratamento fiscal e parafiscal semelhante ao que éproporcionado às “empresas”, não é necessário transformá-las em “sociedades comerciais”, sequercolocá-las sob gerência de administradora especializada. Basta haver vontade política, legislaçãotributária ditada pelo bom-senso e recursos para implantar e implementar uma eficiente estrutura defiscalização. Afinal, a própria diversificação das atividades relacionadas ao deporto profissional(contratos de publicidade, patrocínio e transmissão de imagens; licenciamento de marcas e símbolos;renda de bilheteria; negociação de contratos de trabalho, entre outras) atesta o animus lucrandi –condição suficiente para enquadrar o desporto profissional na legislação tributária.

A LEI Nº 9.981/2000 E O CLUBE-EMPRESA

Voltando ao desabafo de Pelé (“A Lei Pelé não existe mais”), é fundamental perceber quea Lei nº 9.981/2000 não só livra os clubes da obrigatoriedade de sua transformação em empresascomo, ainda, estipula uma série de restrições à atuação de investidores e patrocinadores nos clubesde futebol. Essas restrições, que, na opinião de Pelé, dificultam as parcerias com empresas de marketingdesportivo, instituições financeiras e fundos de investimento, são o objeto do arts. 27 e 27-A, onde:

a) é determinado que, em qualquer hipótese de transformação, o clube deverá manter apropriedade de, no mínimo, cinquenta e um por cento do capital com direito a voto e ter o efetivopoder de gestão da nova sociedade (art. 27, § 3º);

b) se proíbe que, na assinatura de contratos, a entidade desportiva seja representada porprocurador que não tenha mandato eletivo (art. 27, § 4º);

c) se proíbe que uma pessoa física ou jurídica, por qualquer forma, participesimultaneamente da administração de duas ou mais entidades desportivas participantes de uma mesmacompetição (art. 27-A e parágrafos);

d) se proíbe que empresas de radiodifusão e de televisão por assinatura patrocinem clubesde futebol (art. 27-A, § 5º).

Na prática, são permitidos livremente apenas os contratos de investimento em estádios,ginásios e praças desportivas, de patrocínio, de licenciamento de uso de marcas e símbolos, depublicidade e de propaganda, e de transmissão de sons e imagens, desde que não impliquem qualqueringerência nas atividades desportivas propriamente ditas, como, de resto, está muito claro no art. 27-A, § 3º.

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Assim, as entidades desportivas agiram com rapidez, sequer deixaram espaço para que,em matéria de parcerias desportivas, adquiríssemos experiência e pudéssemos avaliar ocomportamento do mercado. Com a Lei nº 9.981/2000, sob o argumento do risco da manipulaçãodos resultados desportivos, conseguiram impor a camisa-de-força a investidores e patrocinadoresinteressados no esporte-negócio, em associação com os clubes. Não foi, pois, desta vez que se quebrouo monopólio das confederações e federações e se conseguiu subordinar a autonomia dos clubes aosaneamento financeiro e à gestão empresarial.

RELAÇÕES DE TRABALHO

DO DESPORTO PROFISSIONAL

Pela Lei nº 9.615, de 24.3.98, alterada pela Lei nº 9.981, de 14.7.00, o Sistema Nacionaldo Desporto tem por finalidade promover e aprimorar as práticas desportivas de rendimento (art.13). O desporto de rendimento pode ser organizado e praticado a) de modo profissional, caracterizadapela remuneração pactuada em contrato formal de trabalho entre o atleta e a entidade de práticadesportiva; b) de modo não-profissional, identificado pela liberdade de prática e pela inexistência decontrato de trabalho, sendo permitido o recebimento de incentivos materiais e de patrocínio (art. 3º,parágrafo único).

Concretamente, “incentivo material” tanto pode significar: contrato de formação atléticae técnica, como contrato de estágio, ajuda de custo, bolsa de manutenção, vale-transporte e vale-refeição, prêmio em dinheiro ou cachê. Na área do desporto, não é reconhecida figura do trabalhadorautônomo. A legislação esportiva em vigor só reconhece como profissional o atleta que mantémvínculo empregatício com algum clube, ou seja, recebe remuneração pactuada em contrato formalde trabalho (art. 28). Pelo art. 94 da Lei nº 9.981/2000, isso só é é possível no futebol (art. 94).

Como se sabe, a prática profissional do desporto só passou a ser admitida e permitida nadécada de 30. Até então, esporte havia sido uma forma de lazer, que, por princípio, tinha que serpraticado gratuitamente e, portanto, era incompatível com a idéia de trabalho enquanto meio degarantir a sobrevivência Nossa primeira “lei orgância do desporto”, o Decreto-lei nº 3. 199, de1941, explica porque, ao incumbir, em seu art. 3º, b) o Conselho Nacional de Desportos de:

“incentivar, por todos os meios, o desenvolvimento do amadorismo, como prática de desportos educativapor excelência, e ao mesmo tempo exercer rigorosa vigilância sobre o profissionalismo, com o objetivo de mantê-lo dentro de princípios de estrita moralidade” (sublinhamento da transcrição).

As relações de trabalho na área do desporto começaram a ser disciplinadas no Decreto-lei nº 5.342, de 25 de março de 1943, que assim dispunha:

“Art. 5º As relações entre atletas profissionais ou auxiliares especializadas e as entidades desportivasregular-se-ão pelos contratos que celebrarem, submetendo-se estes às disposições legais, às recomendações doConselho Nacional de Desportos e às normas desportivas internacionais.

Art. 6º Os contratos entre atletas profissionais e auxiliares especializados e as entidades desportivasserão registrados no Conselho Nacional de Desportos (...).

§ 1º Enquanto não for registrado o contrato, não poderá ser o atleta inscrito por qualquer entidade, nemo atleta exibir-se em competições desportivas.

§ 2º Para que seja registrado o contrato é necessário que o atleta tenha carteira desportiva, emitida

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segundo o modelo da Confederação e aprovado pelo Conselho Nacional de Desportos.Art. 7º O Conselho Nacional de Desportos estabelecerá as nomas para as transferências dos atletas

profissionais de uma para outra entidade desportiva, na mesma federação ou entre federações distintas,determinando, de acordo com as normas desportivas internacionais, as indenizações ou restituições devidas”.

Assim, há mais de sessenta anos, as relações de trabalho do atleta profissional tem sidoo alvo da iniciativa legislativa, como se verá no capítulo a seguir.

No momento, a par da vigência, até março de 2001, da Lei nº 6.354, de 2 de setembrode 1976, aplicam-se ao jogador de futebol as normas gerais da legislação trabalhista e da seguridadesocial, ressalvadas as peculiaridades expressas na Lei do Desporto. Para Alice Monteiro de Barros, asdisposições legais aplicáveis ao contrato (especial!) de trabalho do atleta profissional de futebol são:a Lei nº 6.354, de 2.9.76; a Lei nº 9.615, de 24.3.98 (evidentemente com as alterações da Lei nº9.981, de 14.7.00) e seu regulamento, o Decreto nº 2.574, de 29.4.98; as normas gerais aplicáveis dalegislação trabalhista e da seguridade social; as cláusulas constantes do contrato de trabalho (cf. art.28, § 1º, da Lei nº 9.615/98); as regras baixadas pela FIFA e pela CBF, especialmente as relativas àremuneração, cessão e transferência de jogadores; as disposições pertinentes do Código de JustiçaDesportiva e do Código Disciplinar de Futebol.

Consoante o mesmo estudo, não se aplicam ao atleta profissional do futebol o dispostonos arts. 451, 452, 453, 461 e 477 da CLT, que, respectivamente, tratam da prorrogação do contratopor prazo determinado, da renovação do contrato de trabalho, do instituto da estabilidade, da somade períodos contínuos, da equiparação salarial e da indenização por antiguidade. Pelo art. 30, parágrafoúnico, da própria Lei nº 9.615, não se aplica ao contrato de trabalho do atleta profissional o dispostono art. 445 da CLT, onde se proíbe que o contrato de trabalho por prazo determinado seja estipuladopor mais de 2 (dois) anos.

MEMÓRIA DA INICIA TIVA LEGISLATIVA EM MATÉRIA DE RELAÇÕES DETRABALHO DO ATLETA PROFISSIONAL.

08.10.75 - A Lei nº 6.251 reconhece como uma das formas de organização dos desportos“o desporto comunitário, amadorista ou profissional, sob a supervisão normativa e disciplinar do Conselho Nacionalde Desportos”. São classificadas como entidades recreativas as entidades que proprocionam o desportocomunitário mas não se integram no Sistema Desportivo Nacional.

02.09.1976 – Ainda hoje, as relações de trabalho do atleta profissional de futebol estãodisciplinadas em norma jurídica própria, apelidada “Lei do Passe”. É a Lei Nº 6.354, de 2 setembrode 1976, que dispõe sobre a forma, o conteúdo e os requisitos do contrato de trabalho do jogador defutebol, bem como suas obrigações para com o clube empregador (arts. 1º a 10); o período destinadoà preparação técnica e atlética (art. 5º); a cessão temporária e definitiva do atleta por um clube aoutro (arts. 11 a 14); as penas que podem ser aplicadas ao atleta por entidades de prática e deadministração do desporto (art. 15) e pela Justiça Desportiva (art. 19); os direitos dos trabalhadoresda bola (arts. 16, 17, 18 e 20 a 27); a legislação trabalhista a que está subordinado o jogador defutebol (art. 28); as penas para as entidades desportivas que atrasarem o pagamento dos salários (art.31) ou descumprirem dispositivos da Lei (art. 32); a competência e a abrangência da Justiça Desportivaem matéria de litígios trabalhistas (arts. 30 e 31).

No tocante ao “passe”, a Lei Nº 6.354/76 assim dispõe:

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- Passe é a importância devida por um empregador a outro pela cessão do atleta durantea vigência do contrato ou depois de seu término (art. 11);

- O passe é exigido de acordo com as normas desportivas, segundo os limites e ascondições estabelecidas pelo Conselho Nacional de Desportos (art. 13, caput);

- O montante do passe não pode ser objeto de qualquer limitação, quando se tratar decessão para empregador sediado no estrangeiro (art. 13, § 1º);

- O atleta tem direito a parcela de, no mínimo, 15% do montante do passe, devidos epagos pelo empregador cedente (art. 13, § 1º), mas sob a condição de que não tenha dado causa àrescisão de contrato e não tenha recebido qualquer importância a título de participação no passe nosúltimos quatro anos (art. 13, § 3º);

- Caso o clube encerre suas atividades (“dissolução do empregador”), o atleta é consideradocom passe livre (art. 17);

- Tem passe livre, ao fim do contrato, o atleta que atinge 32 (trinta e dois) anos de idade,desde que tenha prestado 10 (dez) anos de serviço efetivo ao seu último empregador (art. 26).

25.08.77 - O Decreto nº 80.228, que regulamenta a Lei nº 6.251/75, dedica um capítuloespecial ao desporto profissional, em que a) é admitida a prática do profissionalsimo no futebol, nopugilismo, no golfe, no automobilismo e no motociclismo; b) é vedada a prática do profissionalismonas associações desportivas com sede em municípios de menos de cem mil habitantes, nas associaçõesrecreativas, no desporto militar, estudantil e classista e nas categorias infantil e juvenil de qualquerramo desportivo (art. 70). O Decreto ainda proíbe a atividade de intermediários, com fins lucrativos,na obtenção de atletas profissionais (art. 74) e determina que, a par das competições de atletasprofissionais., as entidades desportivas promovam torneios e campeonatos de desportos exclusivamenteamadores (art. 72) .

Em virtude do art. 71, cabe ao Conselho Nacional de Desportos a) expedir as normaspelas quais, observada a legislação trabalhista, é realizada a prática do profissionalismo pelas entidadesdesportivas (art. 71); b) deliberar sobre os contratos celebrados entre atletas profissionais e asentidades desportivas (art. 75); c) registrar os contratos de trabalho (art. 76). Entretanto, o atleta sópode participar de competições desportivas depois que o contrato estiver inscrito na federação ouconfederação, às quais compete dar “condição de jogo”, ou seja, atestar o tipo de vínculo (amador,semiprofissional, profissional) que existe entre o atleta e seu clube..

O Decreto reafirma que as relações de trabalho entre o atleta profissional de futebol e asentidades desportivas obedecem ao disposto na Lei nº 6.354, de 2.9.76.

10.04.1986 - É aprovada a Resolução nº 10, do Conselho Nacional de Desportos, que,cumprindo o disposto no art. 13 da Lei do Passe, regula a cessão, a indenização e o atestado liberatórioao atleta profissional de futebol. Dentro desse objetivo geral, trata da cessão de atletas profissionaisde futebol, da participação no valor da indenização, do pagamento do percentual, do direito depreferência, do valor da indenização e do atestado liberatório. Importa notar que esta resoluçãodefine o passe como “indenização” (art. 2º), devida às associações desportivas que investem naformação dos atletas.

- Passe é sinônimo de “indenização pelos investimentos efetuados na formação dos atletas”(Exposição de Motivos);

- A indenização pode ser paga pelo próprio atleta, que, no caso, torna-se dono de seupasse e pode transferir-se livremente para qualquer clube (art. 5º, parágrafo único);

- Via de regra, o valor da indenização é calculado segundo a fórmula consagrada no art.21.

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- A fixação do valor da indenização é livre quando se trata de cessão de atleta commenos de 4 (quatro) anos de profissionalização que não tenha completado 24 anos de idade (art. 22,parágrafo único);

- É proibida a renúncia à parcela mínima de 15% (quinze por cento), bem como qualqueracordo que vise a sua redução (art. 6º, § 2º);

- O valor do passe sofre redução gradativa a partir dos 28 (vinte e oito) anos de idadecompletos (art. 23);

- O atestado liberatório é expedido após consumada a cessão definitiva, com a quitaçãodo preço dado pela associação cedente, e deve obrigatoriamente instruir o pedido de transferênciapara a associação cessionária (art. 25).

É importante assinalar que a Resolução/CND nº 10/86 reflete a filosofia básica da LeiNº 6.354/76: “praticar o futebol sob a subordinação de empregador”, mediante “qualquer modalidade deremuneração”. No Correio Braziliense de 22/9/96, o Zico registrou que o trabalho do jogador defutebol profissional é a única atividade que estabelece, através do passe, “um vínculo poderoso acima docontrole e da própria vontade de uma das partes - o atleta”. Muitos entendem que o passe é até mesmoinconstitucional, na medida em que priva o atleta do direito de livre locomoção e do direito de livreexercício do trabalho, além de discordar de vários princípios que fundamentam a legislação trabalhista.

A idéia do passe como mecanismo de pressão e retaliação vem à tona no Capítulo IV daResolução, intitulado Do Direito de Preferência, especialmente nos artigos 13, 14, 16 e 17. Na essência,aí se estabelece a obrigatoriedade da fixação do valor da indenização, por parte do clube, vinculando-o à negociação do reajuste salarial, caso o jogador não concorde com a proposta do clube. Então, ovalor do passe pode ser estabelecido num patamar muito acima dos preços praticados no mercado detrabalho, o jogador é forçado a aceitar as cláusulas contratuais que o clube quiser impor, sob pena deficar sem contrato.

A Resolução nº 10 será alterada, posto que apenas acidentalmente, pela Resolução nº19, também do Conselho Nacional de Desportos.

??.??.1987 - O Deputado Jamil Haddad apresenta à Comissão de Sistematização daAssembléia Nacional Constituinte a seguinte emenda: “Acrescente-se ao art. 24 um parágrafo únicocom a seguinte redação: É vedada a limitação ao exercício profissional do atleta através da retençãodo passe”. A emenda é rejeitada, por entender o relator que, no Direito brasileiro, a matéria étradiconalmente tratada na legislação ordinária, “não havendo motivo para modificar talentendimento”.1

06.07.1993 - É sancionada a Lei nº 8.672, que institui normas gerais sobre desportos. Noque se refere ao passe, esta lei atribui ao Conselho Superior de Desportos, sucessor do ConselhoNacional de Desporto, a regulamentação do valor, dos critérios e das condições para o pagamento daimportância denominada passe (art. 26) e determina que, até essa regulamentação, prevalecem asresoluções do CND precedentemente mencionadas.

A Lei nº 8.672/93, cognominada “Lei Zico”, define os três modos pelos quais pode serorganizado e praticado o desporto de rendimento: profissional, semi-profissional e amador (art. 3º,art. 22), amplia o prazo de vigência do contrato de trabalho de 24 para 36 meses (art. 23), obriga aconstituição de um sistema de seguro específico para os jogadores profissionais (art. 29), veda aparticipação de atletas não-profissionais com idade superior a vinte anos em competições desportivasde profissionais (art. 27).

Não é aprovada a proposta original de revogação pura e simples da lei nº 6.354/76. Nãoé, pois, ainda, desta vez que é extinto o passe, “ fórmula que torna inaplicáveis, de fato, certas disposições daDeclaração Universal dos Direitos Humanos que garantem a livre escolha do emprego e de condições de trabalho

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justas”2 .Comentando a decisão de manter a instituição do passe na Lei Zico, Álvaro Melo Filho

3 cita parecer de Evaristo de Morais Filho:“Não raro é o clube que faz a fama do atleta, educando-o, burilando as suas virtudes praticamente

inatas e a sua própria personalidade. Tudo isso pode e deve ter uma correspondência patrimonial, que setraduz, afinal de contas, no direito, que ambos os contratantes possuem, de plena certeza da segurança dovínculo que os prende, manifestado num contrato por prazo determinado”.

Melo Filho afirma que “é ilusória a pretensão de extinção do passe, na medida em quer ele funcionacomo uma garantia de melhores salários e sobretudo de luvas, dado que sabem as entidades de prática desportiva(clubes) que ao fim do contrato podem negociar a cessão ou transferência do atleta e ressarcir-se de grande parte dasquantias despendidas com os salários, luvas e gratificações, podendo, em alguns casos, beneficiar-se de lucros efetivos,pelas quantias astronômicas”. Para Melo Filho, o que se pode fazer é humanizar a Lei do Passe, ou seja,“mudá-la sem desestimular a formação de atletas e os investimentos dos clubes e sem comprometer os clubespatrimonialmente”. Neste sentido, afirma ter proposto, ao ensejo da discussão da lei Zico, uma fórmulade aumento progressivo da porcentagem de participação do atleta no valor do passe, por sinal bastanteparecida à do art. 6º §, 1º, do PL 2.437/96, como se verá mais adiante.

1º.03.1995 - Medida Provisória que dispõe sobre a organização da Presidência daRepública e dos Ministérios extingue o Conselho Superior de Desporto (art. 19, III) e transfere suascompetências para o Conselho Deliberativo do Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto.O INDESP é uma autarquia federal, instituída com a finalidade de promover e desenvolver aprática do desporto.

31.10.1995 - O Deputado Arlindo Chinaglia apresenta o Projeto de Lei nº 1.159, quesugere a alteração de dispositivos da Lei nº 6.354/76 e da Lei nº 8.672/93. Em síntese, o autorpropõe 1º) a extinção pura e simples do passe, 2º) a transferência à Justiça do Trabalho das questõestrabalhistas envolvendo atletas profissionais. Para o Deputado, o passe nada mais é que um “ardiljurídico”, criado e defendido com a finalidade de mascarar os verdadeiros interesses em jogo, ou seja,os interesses de dirigentes que usam os clubes (e os atletas) em proveito próprio: seu negócio éintermediar a compra, a venda e a locação de jogadores.

11.04.96 - É publicada no Diário Oficial da União um anteprojeto de resolução queregulamenta o art. 26 da Lei Nº 8.672, de 6 de julho de 1993, que é o que atribui ao ConselhoSuperior de Desporto competência para fixar o valor, os critérios e as condições para o pagamento daimportância denominada passe.

Segundo o Presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Nacional deDesenvolvimento do Desporto, Ministro Edson Arantes do Nascimento, “a regulamentação do citadoartigo é de fundamental importância para o atleta profissional de futebol, uma vez que a legislação vigente sobre oassunto não atende às necessidades da categoria, prejudicando sobremaneira não apenas a carreira do jogador, mastambém o desenvolvimento do desporto nacional”.

Ao ensejo, é solicitada a participação da sociedade no processo decisório sobre a questãodo passe, abrindo-se prazo para o oferecimento de sugestões e comentários. A Comissão de Educação,Cultura e Desporto convida o Ministro Extraordinário do Desporto para uma audiência pública.

11.09.96 - A imprensa noticia a assinatura da Resolução nº 1, do Instituto Nacional deDesenvolvimento do Desporto. A resolução, que não diverge substancialmente da proposta publicadaem abril, é imediatamente batizada de “Lei Pelé”4 , mas não é publicada no Diário Oficial da União.

São itens importantes da “Lei Pelé”:

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- a conceituação de atleta profissional e semi-profissional e a definição das condiçõespara a assinatura dos contratos de trabalho (artigos iniciais);

- a extinção do passe aos 24 (vinte e quatro) anos de idade (art. 5º);- as garantias aos clubes formadores de atletas (art. 6º);- a regulamentação da cessão de atleta durante a vigência do contrato de trabalho (arts.

7º a 12);- a contratação obrigatória de seguro de vida e acidentes pessoais para todos os atletas

(art. 2º, § 6º; art. 4º, IV).Nas disposições transitórias, é estabelecido um prazo de carência, de tal forma que a

extinção do passe aos 24 anos de idade só será efetivado a partir de 1999.8.10.96 - A Folha de São Paulo assim resume a situação do passe, naquela data: “Até o fim

do ano, o governo apresentará projeto de lei extinguindo o passe, com carência. Antes, o INDESP vai publicar noDiário Oficial resolução concedendo passe livre para atletas de 27 anos, em 1998. Com a aprovação do projeto delei pelo Congresso, a resolução do INDESP seria extinta”. Para os clubes, a legislação atual só pode seralterada pelo Congresso. Segundo a Folha, “os clubes prejudicados recorrerão à Justiça defendendo a ilegalidadeda resolução”. De qualquer forma, tudo indica, que o fim do passe é uma questão de tempo. Umdirigente teria declarado: “Vai sair a figura do passe e entrar a do contrato”.

15.10.96 - O deputado Eurico Miranda apresenta o Projeto de Lei nº 2.437, que dispõesobre a cessão de contrato o trabalho de atleta profissional de futebol. Pelas disposições cuja revogaçãopropõe, não há dúvida de que o objetivo principal do Projeto de Lei nº 2.437/96 é subtrair aoInstituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto a competência para fixar o valor, os critérios eas condições para o pagamento do passe. A idéia é que essa competência seja exercida pelo CongressoNacional. Note-se que a expressão “critérios e condições” se encontra no art. 19 e que o Capítulo Vé todo dedicado ao valor da indenização.

A originalidade do PL 2.437/96 se resume em quatro itens, três dos quais, “as principaisinovações e mutações sócio-econômico-desportivas que exsurgem deste projeto de lei”, sãoexplicitamente mencionados na Justificação:

1ª - Ao invés da exigência dos atuais 32 anos de idade e 10 anos de serviço efetivo ao seuúltimo empregador, passe livre aos 28 anos, ou seja, com o atleta no auge de sua vida profissionaldesportiva;

2ª - Participação percentual crescente dos atletas profissionais de futebol no produto dopasse ou no pagamento ao clube cessionário do direito de indenização por formação e promoção,condicionada a um tempo mínimo no clube cedente;

3ª - Ampliação da duração do contrato de trabalho do atleta profissional de futebol paraum prazo mínimo de seis meses e máximo de dez anos;

4ª - O direito dos clubes a uma indenização sobre a venda do jogador a clube estrangeiro,mesmo que o passe seja livre.

No mais, o PL nº 2.437/96 é a própria Resolução/CND nº 10/86, da qual inclusivemantém, sem qualquer alteração, o capítulo que trata do direito de preferência. Este direito tem sidocriticado, ao longo dos anos, exatamente por funcionar como um mecanismo de pressão sobre oatleta, exluindo-o do processso decisório relativo à renovação do contrato de trabalho. De fato, apartir do momento em que o valor for fixado (pelo clube!) e nenhum outro clube estiver interessadoem adquiri-lo, o jogador fica preso a seu clube até o final de sua carreira, sem receber salário e sempoder transferir-se. Para evitar tal situação, só lhe resta aceitar as condições do novo contrato detrabalho que o clube ditar.

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A notória semelhança entre o PL Nº 2.437/96 e a Resolução/CND Nº 10/86 levaautomaticamente ao exame de seus fundamentos. No caso da Resolução, os fundamentos, expressosna forma de considerandos, são os seguintes:

§ A instituição do passe é reconhecida internacionalmente e admitida pela FIFA ;§ Os preços dos passes prejudicam os próprios clubes, que são obrigados a grandes

investimentos na aquisição de passes de jogadores profissionais de futebol;§ O tempo útil de atividade de um atleta profissional de futebol, na dependência de sua

individualidade biológica, é bastante curta, quase nunca chegando a doze anos de duração;§As associações esportivas que investem na formação de atletas de futebol muitas vezes

não têm garantias e muito menos retorno do investimento efetuado;§ No estabelecimento do valor do passe do atleta profissional de futebol deve existir

uma vinculação lógica entre a oferta do contrato e o valor do passe;§ Aos 28 (vinte e oito) anos de idade os profissionais de futebol brasileiros deveriam

receber passe livre;§ As associações desportivas que investem na formação de jogador profissional de futebol

devem receber retornos compatíveis com os investimentos efetuados nas transferências de atletasprofissionais.

Já o Projeto de Lei nº 2.437/96 tem por objetivo proclamado humanizar a lei do passe.Na linguagem comum, humanizar a lei do passe seria torná-la benevolente, civilizada, socialmentepolida. Nos termos da Justificação, humanizar a lei do passe é 1º) harmonizá-la equitativamente comos interesses dos clubes e dos atletas, 2º) mantê-la articulada com os parâmetros sedimentados eaceitos nacional e internacionalmente, 3º) adequá-la à complexidade, às singularidades, aofortalecimento e ao progresso do futebol brasileiro.

Assim, na visão do deputado Eurico Miranda, são fundamentos do passe: 1º) a garantiada justa compensação ao clube pelo capital investido na formação do atleta; 2º) o ressarcimento dosprejuízos patrimoniais e financeiros causados ao clube “com a retirada súbita de uma das peças de seuconjunto”. Segundo o parlamentar, a extinção do passe ou sua concessão “prematura” terá um efeitodevastador sobre o futebol brasileiro e acarretará problemas perante a FIFA. Quanto aos atletas, ofim do passe significa desemprego e desvalorização profissional, bem como escravização pelosempresários (procuradores, agentes). Ademais, jogador profissional de futebol não tem do que reclamar,uma vez que é livre para asssinar ou não o contrato de trabalho, concordar ou não com as condiçõesde sua transferência. Como se vê, os clubes não querem abrir mão do que consideram seu principalpatrimônio e não estão dispostos a correr os riscos da atividade econômico.

15.10.96 – A imprensa dá conta de acordo que o Ministro dos Esportes teria feito comrepresentantes de clubes e de jogadores, aceitando o prazo de carência de um ano para a vigência daresolução e dando passe livre aos jogadores com 27 anos, a partir de 1º de janeiro de 1998. Em 1999,estarão livres os atletas com 26 e, no ano 2000, os com 25 anos. Já a partir de 97, serão donos dopróprio passe os jogadores que estiverem com 30 anos e os que estiverem com o preço do passefixado nas federações por mais de seis meses.

16.10.96 - O Ministro Edson Arantes do Nascimento comparece à Comissão de Educação,Cultura e Desporto, para dar explicações sobre a “Lei Pelé”.

17.10.96 – É assinada a Resolução Indesp nº 01/96.Comparando o texto de setembro com o de abril, notam-se poucas diferenças, exceção

feita de oportunas emendas de redação. A conclusão óbvia é que ou não foram apresentadas assugestões solicitadas pelo INDESP ou, por razões que caberia ao órgão esclarecer, as sugestões

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apresentadas não mereceram maior consideração. Seja como for, as principais inovações da Resoluçãonº 1, de 10 de setembro de 1996 são a supressão do art. 12 do texto original e a total reformulação doTítulo II - o das Disposições Transitórias.

Quanto ao art. 12, sua supressão foi bem pensada. Afinal, era um corpo estranho, dediscutível juridicidade, na medida em que disciplinava matéria estranha à regulamentação do art. 26da Lei nº 8.672, de 1993. De fato, o art. 12 tratava de atribuir aos Tribunais de Justiça Desportivacompetência para a apreciação dos litígios trabalhistas oriundos da nova Resolução, dispunha sobrea constituição e composição das Juntas de Conciliação e Julgamento e prescrevia o rito a ser adotadopara o processo administrativo trabalhista. Com sua supressão, prevalece, nesta matéria, o dispostonos arts. 29, 30 e 31 da Lei nº 6.354/76, e 38, da lei nº 8.672/93.

Do Título II original foi eliminado o art. 14, que, se mantido, teria sido renumerado emvirtude da supressão do art. 13. Nele se dispunha que os contratos de trabalho de atleta profissionalde futebol em vigor, com passe preso a favor da entidade de prática desportiva, adquiridos durante oexercício de 1996, que ficariam livres ao término do contrato, poderiam ser prorrogados, a critério daentidade, por igual período de duração. Da forma como estava redigido (adquiridos ... quem?, oque?), o artigo seria de difícil interpretação e, já por isso, não faz falta. Substituem-no os arts. 13, 14,15 e 16, que regulam a progressiva liberação dos jogadores para se transferirem, até a entrada emvigor do art. 5º, em 1999.

O art. 17 trata dos atletas com mais de dois anos de profissionalização que, à data devigência da Resolução, estiverem sem contrato de trabalho, porém com o valor do passe fixado hámais de seis meses. A propósito, no art. 18 está previsto que a Resolução nº 1 entrará em vigor em 1ºde janeiro de 1997.

É fundamental entender que a Resolução nº 01/96 não revogou, nem poderia revogar,a Lei do Passe (Lei nº 6.345, de 1976). A revogação atinge apenas a regulamentação precedente, ouseja, a Resolução/CND nº 10/86, que, depois de recepcionada pela Constituição Federal de 1988,foi ultrapassada pelas normas desportivas em vigor desde 1993. Tanto é que o art. 64 da Lei nº8.672/93 dispõe que, até a regulamentação do valor do passe, prevista no art. 26, prevalecem asresoluções pertinentes do Conselho Nacional do Desporto.

Vale repetir que a chamada “Lei do Passe” disciplina uma grande variedade de assuntos,todos de alguma forma referidos às relações de trabalho do jogador de futebol profissional. Entreeles, o passe, cuja regulamentação (= fixação de valor, critérios e condições) é competência doINDESP, ex-CND.

23.10.96 - Poucos dias depois (Cf. Folha de São Paulo de 23/10/96), o presidente doBotafogo, Carlos Augusto Montenegro, disse abrir mão do passe se os contratos não tivessem limitesde duração e se houvesse proteção aos clubes brasileiros em caso de transferências ao exterior. “Comisso, e um tempo de transição de um ano e meio, não precisaria haver mais passe”.

Nessa mesma data, o DOU publica a versão oficial da Resolução nº 01/96, que “entraráem vigor no dia 1º de janeiro de 1997, revogadas as disposições em contrário, exceto as Resoluções do extintoConselho Nacional de Desportos de nºs 10, de 23 de abril de 1986, e 19, de 19 de dezembro de 1988, que ficarãorevogadas a partir de 1º de janeiro de 1998” (art. 21).

16.01.97 - A Assembléia Geral da Confederação Brasileira de Futebol – CBF resolve“negar aplicação à Resolução nº 1, de 17 de outubro de 1996, editada pelo Conselho Deliberativo do InstitutoNacional de Desenvolvimento do Desporto – Indesp, determinando a todas as Federações e entidades de práticadesportiva (clubes) que continuem a observar, no que toca ao regime jurídico do passe, os dispositivos da Lei nº6.354, de 2 de setembro de 1976, e demais atos normativos inferiores em vigor que a regulamentam”5 .

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16.09.97 – É recebido na Câmara dos Deputados o PL nº 3.633, que “ institui normas geraissobre desporto” e revoga as Leis nº 6.345, de 2 de setembro de 1976, e 8.672, de 3 de julho de 1993,com exceção das disposições relacionadas ao passe, que entrarão em vigor após dois anos, da data devigência da lei. O PL passa a tramitar na condição de apensado ao PL 1.159, de 1995, juntamentecom os PLs 1.187, de 1995, 2.347, de 1996, e 3.558, de 1997. Por versar matéria das comissõestemáticas de Seguridade Social e Família; de Trabalho, de Administração e Serviço Público; Economia,Indústria e Comércio; Educação, Cultura e Desporto; Finanças e Tributação; e Constituição e Justiçae de Redação, é o processo despachado à apreciação de uma Comissão Especial.

24.03.98 - É sancionada a Lei nº 9. 615, cognominada “Lei Pelé”. A Lei é regulamentadapelo Decreto nº 2.574, de 29 de abril de 1998.

11.03.99 - O deputado Aldo Rebelo pede a instalação de uma CPI da Câmara dosDeputados, destinada a apurar possíveis irregularidades no contrato de patrocínio firmado entre aConfederação Brasileira de Futebol e a multinacional de material desportivo Nike. O contrato conteriacláusulas que ferem os princípios da soberania, autonomia e identidade nacional, estatuídos no art.2º da Lei nº 9.615/98.

21.12.99 - É prorrogado por mais um ano o prazo para os clubes se adaptarem ao dispostono art. 27 da Lei nº 9.615, de 24.3.98, ou seja transformarem o departamento de futebol profissionalem “empresa” (Lei nº 9.940).

14.07.2000 - É sancionada a Lei nº 9.819, que altera a Lei Pelé.14.09.00 - O Senado Federal aprova requerimento de criação da CPI do Futebol, com a

finalidade de dar uma “resposta competente, à altura das aspirações da sociedade, à sucessão de denúncias eescândalos envolvendo clubes, empresários, técnicos e jogadores de futebol” (Senador Álvaro Dias). A idéia éque a CPI investigue também as denúncias de sonegação de impostos e encargos sociais, deirregularidades na venda de jogadores para o exterior e possíveis ilegalidades no contrato de patrocíniofirmado entre a CBF e a Nike.

5.10.00 – O presidente Michel Temer (Câmara dos Deputados) decide instalar a ComissãoParlamentar de Inquérito pedida pelo deputado Aldo Rebelo no início de 1999.

RELAÇÕES DE TRABALHO DESFIGURADAS

Quando comparada à Lei Zico, a Lei Pelé6 apresenta as seguintes novidades em matériade relações de trabalho:

§ É dispensa tratamento diferenciado ao atleta profissional do futebol e os atletasprofissionais de outras modalidades desportivas (Art. 30, §§ 1º e 2º do Decreto);

§ Em vez de nela registrar o contrato de trabalho, os clubes apenas comunicam à entidadenacional de administração do desporto sua existência, informando a condição do atleta (profissional,semi-profissional, amador) (arts. 28, caput e art.35 da Lei e art. 30, §§ 3º e 4º do Decreto);

§ O vínculo desportivo do atleta com o clube tem natureza acessória ao vínculoempregatício, dissolvendo-se com o término da vigência do contrato de trabalho (art. 28, § 2º), o que,na prática, significa que, ao término do contrato de trabalho, deixa de haver vínculo desportivo(extinção do passe);

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§ Na vigência do contrato de trabalho, o atleta continua preso ao clube, a não ser quepague uma indenização (art. 28), cujo valor, supostamente, será estabelecido nos termos da CLT, ouseja, corresponderá ao valor total do contrato, cuja duração máxima é de 2 ano);

§ A julgar pelos arts. 38, 39 e 40, a iniciativa do empréstimo ou da transferência (definitivaou temporária) do atleta é do clube, cabendo ao atleta, apenas, anuir ou não;

§ Também não há que se falar em passe, caso o atleta venha a obter rescisão de contratoindireta, isto é, fundada no pagamento de salário ou recolhimento de encargos sociais (FGTS ePrevidência) com atraso por um período igual ou superior a três meses (art. 31, caput e § 1º);

§ São padronizados o contrato de trabalho e o contrato de estágio (arts. 34 e 37);§ No futebol de campo, é admitida a categoria dos atletas semiprofissionais, com idade

entre quatorze e dezoito anos completos (art. 36, caput , § 1º e § 5º);§ Os atletas semiprofssionais só poderão participar de competição entre profissionais a

partir dos dezesseis anos (art. 36, § 2º) e tornam-se obrigatoriamente profissionais ao completardezoito anos, sob pena de voltarem à condição de amadores (art. 36, § 3º);

§ A entidade desportiva formadora de atleta tem o direito de assinar com ele o primeirocontrato de trabalho, cujo prazo não pode ser superior a dois anos (art. 29, caput);

§A entidade desportiva detentora do primeiro contrato de trabalho do atleta por elaprofissionalizado tem direito à preferência para a primeira renovação deste contrato, podendo cedertal direito a outro clube, de forma remunerada ou não (art. 36, § 4º);

§ É vedado entidade de administração do desporto cobrar taxa pela transferência deatleta profissional na vigência do contrato de trabalho (art. 38);

§ É regulado o contrato de empréstimo ou de transferência temporária (art. 39);§ Atleta semiprofissional com idade superior a vinte anos não pode participar de

competições desportivas profissionais (art. 43);§ A prática do profissionalismo é permitida a partir dos dezesseis ano completos (art 44,

III);§ A partir de 25 de março de 2001 (cf. Lei art. 93) estarão revogados os incisos II e V e

os §§ 1º e 3º, os arts. 4º, 6º, 11 e 13, o parágrafo único do art. 16 e os arts. 22 e 26 da Lei nº 6.354, de2 de setembro de 1976 (Decreto, art. 30, § 1º).

Pela Lei nº 9.981, de 14 de julho de 2000,§ Fica limitada a cem vezes o montante da remuneração anual pactuada a cláusula penal

a ser paga quando do término antecipado do contrato de trabalho, tendo-se tido o cuidado de esclarecerque não se trata de passe, mas de “indenização de desvinculação”, “pacto bilateral de permanência”,ou, ainda, “mecanismo que pode evitar o êxodo nocivo dos melhores atletas profissionais para oexterior”, além de impedir o desequilíbrio técnico entre as equipes com a contratação das estrelaspelos adversários às vésperas das partidas decisivas (art. 28, §§ 3º, 4º, 5º e 6º);

§ Tem o clube que formou o atleta o direito de assinar o primeiro contrato de trabalho,cujo prazo não poderá ser superior a dois anos (art. 29, caput), sob a condição de que o atleta estejano clube, como não-profissional, há mais de dois anos (art. 29, § 1º);

§ É permitido negociar com outro clube o direito à assinatura do primeiro contrato detrabalho (arts. 28 e 29) – dispositivo esse que caracteriza retorno do passe;

§ Fica ampliado para cinco anos o prazo máximo do contrato de trabalho do atleta (art.30);

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§ É permitido a participação em competições desportivas profissionais de atletas não-profissionais menores de vinte e um anos de idade (art. 43);

§ Poderão as entidades de administração do desporto cobrar (dos atletas!) taxas pelacessão ou transferência (art. 38);

§ Volta a ser registrado na entidade nacional de administração do desporto o contrato detrabalho livremente negociado (art. 33);

§ É obrigatório apenas o seguro de acidentes de trabalho (art. 45).§ São os próprios atletas os principais responsáveis pelo financiamento do sistema de

assistência social e educacional ao atleta (art. 57, II).De vez que é revogado o art. 36, cujo § 3º determinava que , ao completar dezoito anos

de idade, o atleta semiprofissional deveria ser obrigatoriamente profissionalizado, é de se concluirque, agora, à vista da nova redação do art. 43, a profissionalização deverá ocorrer impreterivelmentecompletar o atleta vinte anos de idade. Levando em conta que a) o clube que formou o atleta tem odireito a assinar com ele o primeiro contrato de trabalho, cujo prazo não pode ser superior a dois anos(art. 29, caput) e b) esse mesmo clube tem a preferência para a primeira renovação deste contrato,cujo prazo pode ser de até cinco anos (art. 29, § 2º e art. 30, caput) primeiro contrato de trabalho é pordois anos, e admitindo-se que somente aos dezesseis anos o atleta esteja em condições de participarde participar de competições entre profissionais, tem-se:

Tempo que o atleta pode ficar legalmente preso ao clube (anos):Estágio não remunerado – dos 16 aos 20 anos (ambos completos) 4Primeiro contrato 2Primeira renovação 5TOTAL 11Idade em que o atleta ficará livre: 28 anos.

1 Isto é, a MP proíbe que mais de uma entidade de prática desportiva seja controlada, gerenciada ou de qualquer formainfluenciada em sua administração por uma mesma sociedade (civil ou comercial).2 Dizia o texto original: “O contrato de trabalho do atleta profissional terá prazo determinado, com vigêncianunca inferior a três meses”.3 Comissão Mista é comissão do Congresso Nacional e, portanto, composta de senadores e deputados. Na avaliação do Autor,o grande mal das Comissões Mistas (como, de resto, das Comissões Especiais) é que um reduzido grupo de parlamentares têmque deliberar sobre uma grande variedade de matérias. No caso, tinham de deliberar sobre questões de Direito Civil, DireitoPenal, Direito Comercial, Direito do Trabalho, Direito Tributário, Direito Administrativo, Direito Processual Penal (JustiçaDesportiva), Direito Previdenciário, só para dar alguns exemplos..4 Consoante o disposto no art. 2º, a partir de 31 de dezembro de 2001 estarão revogados os artigos da Lei nº 9.615/98 referentesao bingo (59 a 81), “respeitando-se as autorizações que estiverem em vigor até a data de sua expiração”.5 Não se sabe de que forma os atletas teriam feito chegar suas preocupações e reivindicações à Comissão Mista.6 Jornal do Senado, 31.3.2000, p 3.7 Cf. o estudo de nossa autoria “Lei Pelé: o drible no Congresso”.8 Cf. art. 64, parágrafos, da Constituição Federal.

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9 A tramitação de proposição em regime de urgência regimental dispensa algumas exigências, insterstícios e formalidades paraque se agilize a sua apreciação. Considerada urgente, a matéria entra em discussão na sessão imediatamente subseqüente,ocupando o primeiro lugar na ordem do dia (Cf. PACHECO, Luciana Botelho. Questões sobre processo legislativo naCâmara dos Deputados. Brasília, CD/CP, 1995).10 Medidas Provisórias são examinadas pelo Congresso Nacional e não pela Câmara dos Deputados e o Senado, separadamente(CF, art. 62). Comissão Mista é comissão do Congresso, ou seja, comissão formada de senadores e deputados.11Folha de São Paulo e O Globo, de 12 de fevereiro de 1998.12Vide, por exemplo,os arts. 41, 42, 43 e 44.13Exemplos: Estatuto do Estrangeiro, Regulamento do Imposto de Renda, Lei de Custeio da Previdência Social, legislaçãorelativa a cobertura cambial, jogos de azar, normas para a concessão de empréstimos, financiamentos e benefícos fiscais apessoas jurídicas de direito privado.14Basta lembrar a Lei nº 8.641, de 31 de março de 1993, que permitiu aos clubes de futebol profissional o parcelamento dosdébitos relativos a contribuições arrecadadas pelo INSS, existentes até a competência outubro de 1992.15Ver relato de seminário recentemente promovido em São Paulo, conforme registra a Gazeta Mercantil de Mercantil, 9.12.98,p B-2.16Vide: “O terceiro setor atrai executivos”. In: Gazeta Mercantil, 12.11.98, p C-8.17Correio Braziliense, 10 de outubro de 1997.18"Converter clube em empresa não é boa coisa...” In: Folha de São Paulo, 23 de maio de 1997, p 3.14.19 A título de curiosidade, outra emenda, de autoria de José Maurício propõe que os direitos e deveres dos atletas em exercíciono País sejam estabelecidos em estatuto elaborado com a participação de representantes do poder público, das associaçõesdesportivas, da comunidade e dos atletas, com a seguinte Justificação:

“Também no esporte o nosso País está crescendo como rabo de cavalo: para baixo. Depois deconquistarmos três vezes o título mundial de futebol, de obtermos grandes e expressivas vitórias internacionaisem quase todas as modalidades esportivas mais praticadas pelo Brasil, estamos amargando a sensação dederrota.

Atualmente, os dirigentes, sarcasticamente apelidados de ‘cartolas’, aparecem no plano mais elevadodo cenário desportivo nacional, obtendo sempre o maior destaque e as maiores glórias; em seguida vêm asentidades, especialmente através da preferência clubística dos profissionais de comunicação; logo apósaparecem as modalidades de esporte (futebol, basquete, vôlei, etc.) e só então chega a vez dos atletas, que,contudo, são os únicos e verdadeiros atores dos espetáculos desportivos.

Trata-se, sem dúvida, de situação inteiramente esdrúxula, que precisa ser revertida e para issodefendemos a criação de um estatuto do atleta que seja elaborado com a participação de todos os segmentosinteressados, porque essa é a única forma de se obter a democratização do esporte, que precisa ser encaradocomo uma questão sócio-cultural e não apenas como fonte de poder político ou de satisfação de interessescomerciais”.20MELO FILHO, Álvaro. O desporto na ordem jurídico-constitucional brasileira. São Paulo, Malheiros Editores Ltda, 1995, p153.21Op. cit. pp 154ss.22 Não confundir com o que posteriormente viria a ser designado como tal, a Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998.23 A CBF age assim mesmo, pois se considera acima da lei e fora do alcance do Poder Judiciário: é ela própria que avalia alegalidade e constitucionalidade dos atos normativos que lhe dizem respeito. Apenas a título de ilustração, a RDI (= Resoluçãode Diretoria) nº 3/96 extinguiu as Juntas Trabalhistas que funcionavam junto do Superior Tribunal de Justiça Desportiva,alegando, entre outras razões, que era altamente discutível o entendimento segundo o qual o art. 29 da Lei nº 6.354/76 haviasido recepcionado pela Constituição Federal de 1988.24 Para efeito deste capítulo, trata-se da Lei nº 9.615/98 e seu regulamento, o Decreto nº 2.574/98. 25 Coincidência ou não, é a idade proposta no art. 25 do PL 2..437, de 1996, do deputado Eurico Miranda.

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LEGISLAÇÃO

Decreto-lei nº 3.199, de 14.04.41. Estabelece as bases de organização do desporto etodo o país.

Decreto-lei nº 5.844, de 23.09.43. Dispõe sobre a cobrança e a fiscalização do impostode renda.

Decreto-lei nº 7.674, de 25.06.45. Dispõe sobre a administração das entidades desportivas,especialmente sob o ponto de vista financeiro, e estabelece medidas de proteção financeira aosdesportos.

Decreto-lei nº 9.025, de 27.02.46. Dispõe sobre as operações de câmbio.Lei nº 5.506, de 30.11.64. Dispõe sobre o imposto que recai sobre as rendas e proventos

de qualquer natureza.Decreto-lei nº 594, de 27.05.69. Institui a Loteria Esportiva Federal.Lei nº 6.251, de 08.10.75. Institui normas gerais sobre desportos e dá outras providências.Decreto nº 80.228. Regulamenta a Lei nº 6.251, de 08.10.75.Lei nº 6.354, de 02.09.76. Dispõe sobre as relações de trabalho do at profissional de

futebol e dá outras providências.Lei nº 6.717, de 12 de novembro de 1979. Autoriza modalidade de concurso de

prognósticos da Loteria federal regida pelo Decret-lei nº 204, de 27 de fevereiro de 1967, e dá outrasprovidências.

Lei nº7.752, de 14.04.89. Dispõe sobre beneficios fiscais na área do Imposto de Renda eoutros tributos, concedidos ao desporto amador.

Lei nº 8.313, de 23.12.91. Restabelece princípios da Lei nº 7.505, de 02.07.86, queinstitui o Programa Nacional de Apoio à Cultura - PRONAC e dá outras providências.

Projeto de lei nº 2.179, de 1991. \institui adicional sobre as apostas em concursos deprognósticos, destinado ao fomento de práticas desportivas formais e não-formais.

Lei/DF nº 225, de 30.12.91. Autoriza o Poder Executivo do Distrito Federal a concederbenefícios fiscais na área do ISS, IPTU e IPVA à atividade desportiva.

Projeto de lei nº 2.323, de 1991. Dispõe sobre incentivos fiscais concedidos a empresasque mantenham escolas para a formação de atletas.

Lei nº 8.742, de 07.12.1993. Dispõe sobre a organização da assistência social e dá outrasprovidências.

Decreto nº 752, de 16.12.93. Dispõe sobre a concessão do Certificado de Entidade deFins Filantrópicos a que se refere o art. 55, inciso II, da Lei nº 8.212, de 24.07.91, e dá outrasprovidências.

Lei nº 8.650, de 22.04.93. Dispõe sobre as relações de trabalho do treinador profissionalde futebol e dá outras providências.06.07.

Lei nº 8.672, de 06.07.93. Institui normas gerais sobre desportos (Lei Zico).Decreto nº 981, de 11.11.93. Regulamenta a Lei nº 8.672, de 06.07.93.Lei nº 8.946, de 05.12.94. Cria o Sistema Eduacional Desportivo Brasileiro, Integrado

no Sistema Brasileiro de Desporto.

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Projeto de lei n° 383, de 1995. Dsipõe sobre incentivos fiscais ... concedidos a empresasque mantenham escolas para formação de atletas.

Projeto de lei nº 1.217, de 1995. Concede incentivos fiscais às empresas que mantenhamou ajudem atletas.

Decreto nº 1.437, de 04.04.95. Aprova a estrutura regimental do Instituto Brasileiro deDesenvolvimento do Desporto.

Projeto de lei nº 888, de 1995. Estabelece incentivo fiscal em favor do desporto amador.Projeto de lei nº 1.159, de 1995. Altera dispositivos da Lei nº 6.354, de 2 de setembro de

1976, que “dispõe sobre as relações de trabalho do atleta profissional de futebol” e da Lei nº 8.672,de 6 de julho de 1993, que “institui normas gerais sobre desportos e dá outras proividências”.

Projeto de lei nº 1.887, de 1996. Dispõe sobre incentivo fiscal para atividades desportivas.Projeto de lei nº 2.437, de 1996. Dispõe sobre a cessão de contrato de trabalho de atleta

profissional de futebol e dá outras providências.Resolução/INDESP nº 1, de 17.10.96. Regulamenta o art. 26 da Lei nº 8.672, de

06.07.93, que institui normas gerais sobre desportos e dá outras providências.Lei nº 6.815, de 19.09.80 - “Estatuto do Estrangeiro”.Lei nº 9.317, de 15.12.96. “Estatuto da micro-empresa”.Projeto de lei da Câmara nº 31, de 1996.Dispõe sobre o jogo do bingo e dá outras

providências.Projeto de lei nº 3.633, de 1997. Institui normas gerais sobre desportos e dá outras

providências.Projeto de lei nº 3.558, de 1997. Estabelece diretrizes para a orghanização do desporto

profissional e dá outras providências.Decreto nº 2.306, de 19.08.97. Regulamenta para o Sistema Federal de Ensino, as

disposições contidas no art. 10 da Medida Provisória nº1.477-39, de 08.08.97, e nos arts. 16, 19, 20,45, 46, 52, parágrafo único, 54 e 88 da lei nº 9.394, de 20.12.96, e dá outras providências.

Lei n 9.528, de 10.12.97. Altera dispositivos das Leis nº 8.212 e 8213, ambas de 24.07.91,e dá outras provdências.

Lei nº 9.532, de 10.12.97. Altera a legislação tributária federal.Lei nº 9.649, de 27.05.98. Dispões sobre a organização da Presidência da República e

dos Ministérios e dá outras providências.Lei nº 9.615, de 24.03.98. Institui normas gerais sobre desportos (Lei Pelé).Decreto nº 2.574, de 29.04.98. Regulamenta a Lei nº 9.615, de 24.03.98.Lei nº 9.732, de 11.12.98 - Altera dispositivos das Leis nº 8.212 e 8.213, ambas de

24.07.91, da Lei nº 9.317, de 05.12.96 e dá outras providências.Lei nº 9.940, de 21 de dezembro de 1999 – Altera dispositivo da Lei nº 9.615, de 24.03.98.Lei nº 9.981, de 14.7.2000 – Altera dispositivos da Lei nº 9.615, de 24.3.2000.

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ANEXO

LEI Nº 9.615, DE 24 DE MARCO DE 1998Com as alterações da Lei nº 9.981, de 14 de julho de

2000

COMENTÁRIOS

Institui normas gerais sobre desporto e dá outrasprovidências

NOTA BENE. Os dispositivosgrafados em itálico só valem parao futebol (Ver art. 94). Áreasombreada contém NR (novaredação, dada pela Lei nº9.981/00), ou AC (acréscimo, porforça da mesma lei) ou, ainda,REVOGADO (idem).

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu

sanciono a seguinte lei:CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES INICIAISArt. 1º O desporto brasileiro abrange práticas formais e

não-formais e obedece às normas gerais desta lei, inspiradonos fundamentos constitucionais do Estado Democrático deDireito.

§ 1º A prática desportiva formal é regulada por normasnacionais e internacionais e pelas regras de práticadesportiva de cada modalidade, aceitas pelas respectivasentidades nacionais de administração do desporto.

§ 2º A prática desportiva não-formal é caracterizada pelaliberdade lúdica de seus praticantes.

CAPÍTULO IIDOS PRINCÍPlOS FUNDAMENTAIS

Art. 2º O desporto, como direito individual, tem como baseos princípios:

I - da soberania, caracterizado pela supremacia nacionalna organização da prática desportiva;

II - da autonomia, definido pela faculdade e liberdade depessoas físicas e jurídicas organizarem-se para a práticadesportiva;

III - da democratização, garantido em condições de acessoàs atividades desportivas sem quaisquer distinções ouformas de discriminação;

IV - da liberdade, expresso pela livre prática do desporto,de acordo com a capacidade e interesse de cada um,associando-se ou não a entidade do setor;

V - do direito social, caracterizado pelo dever do Estado emfomentar as praticas desportivas formais e não-formais;

VI - da diferenciação, consubstanciado no tratamentoespecifico dado ao desporto profissional e não-profissional;

VII - da identidade nacional, refletido na proteção eincentivo as manifestações desportivas de criação nacional;

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VIII - da educação, voltado para o desenvolvimento integraldo homem como ser autônomo e participante, e fomentadopor meio da prioridade dos recursos públicos ao desportoeducacional;

IX - da qualidade, assegurado pela valorização dosresultados desportivos, educativos e dos relacionados àcidadania e ao desenvolvimento físico e moral;

X - da descentralização, consubstanciado na organização efuncionamento harmônicos de sistemas desportivosdiferenciados e autônomos para os níveis federal, estadual,distrital e municipal;

XI - da segurança, propiciado ao praticante de qualquermodalidade desportiva, quanto a sua integridade física,mental ou sensorial;

XII - da eficiência, obtido por meio do estímulo àcompetência desportiva e administrativa.

CAPÍTULO IIIDA NATUREZA E DAS FINALIDADES DO DESPORTO

Art. 3º O desporto pode ser reconhecido em qualquer dasseguintes manifestações:

I – desporto educacional, praticado nos sistemas de ensinoe em formas assistemáticas de educação, evitando-se aseletividade, a hipercompetitividade de seus praticantes,com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral doindivíduo e a sua formação para o exercício da cidadania e aprática do lazer;

II - desporto de participação, de modo voluntário,compreendendo as modalidades desportivas praticadas coma finalidade de contribuir para a integração dos praticantesna plenitude da vida social, na promoção da saúde eeducação e na preservação do meio ambiente;

III - desporto de rendimento, praticado segundo normasgerais desta Lei e regras de prática desportiva, nacionais einternacionais, com a finalidade de obter resultados eintegrar pessoas e comunidades do País e estas com as deoutras nações.

Parágrafo único. O desporto de rendimento pode serorganizado e praticado:

I - de modo profissional, caracterizado pela remuneraçãopactuada em contrato formal de trabalho entre o atleta e aentidade de prática desportiva;

II - de modo não-profissional, identificado pela liberdade deprática e pela inexistência de contrato de trabalho, sendopermitido o recebimento de inventivos materiais e depatrocínio.(NR)

Redação original: de modonão-profissional, compreendendoo desporto:

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a) (REVOGADO.) Texto revogado:semiprofissional, expresso emcontrato próprio e especifico deestágio, com atletas entrequatorze e dezoito anos de idadee pela existência de incentivosmateriais que não caracterizemremuneração derivada decontrato de trabalho;

b) (REVOGADO.) Texto revogado: amador,identificado pela liberdade deprática e pela inexistência dequalquer forma de remuneraçãoou de incentivos materiais paraatletas de qualquer idade.

CAPÍTULO IVDO SISTEMA BRASILEIRO DO DESPORTO

Seção IDa composição e dos objetivos

Art. 4º O Sistema Brasileiro do Desporto compreende:I - O Ministério do Esporte e do Turismo. (NR) Redação original: O Gabinete

do Ministro de EstadoExtraordinário dos Esportes;

II - O Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto –INDESP;

III - O Conselho de Desenvolvimento do DesportoBrasileiro - CDDB;

IV - o sistema nacional do desporto e os sistemas dedesporto dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,organizados de forma autônoma e em regime decolaboração, integrados por vínculos de natureza técnicaespecíficos de cada modalidade desportiva.

§ 1º O Sistema Brasileiro do Desporto tem por objetivogarantir a prática desportiva regular e melhorar-lhe o padrãode qualidade.

§ 2º A organização desportiva do Pais, fundada naliberdade de associação, integra o patrimônio culturalbrasileiro e é considerada de elevado interesse social.

§ 3º Poderão ser incluídas no Sistema Brasileiro deDesporto as pessoas jurídicas que desenvolvam práticasnão-formais, promovam a cultura e as ciências do desporto eformem e aprimorem especialistas.

Seção IIDo Instituto Nacional do Desenvolvimento do Desporto

– INDESPArt. 5º O Instituto Nacional do Desenvolvimento do

Desporto - INDESP é uma autarquia federal com a finalidadede promover, desenvolver a prática do desporto e exerceroutras competências específicas que lhe são atribuídasnesta Lei.

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§ 1º O INDESP disporá, em sua estrutura básica, de umaDiretoria integrada por um presidente e quatro diretores,todos nomeados pelo Presidente da República.

§ 2º As competências dos órgãos que integram a estruturaregimental do - INDESP serão fixadas em decreto.

Neste particular, a Lei Pelérecepcionou o Decreto nº 1.437,de 4.4.1995.

§ 3º Caberá ao INDESP, ouvido o Conselho deDesenvolvimento do Desporto Brasileiro - CDDB, propor oPlano Nacional de Desporto, observado o disposto no art.217 da Constituição Federal.

§ 4º O INDESP expedirá instruções e desenvolverá açõespara o cumprimento do disposto no inciso IV do art. 217 daConstituição Federal e elaborará o projeto de fomento dapratica desportiva para pessoas portadoras de deficiência.

O inciso refere-se à proteção eao incentivo às manifestaçõesdesportivas de criação nacional.

Art. 6º Constituem recursos do INDESP:I - receitas oriundas de concursos de prognósticos

previstos em lei;II - adicional de quatro e meio por cento incidente sobre

cada bilhete, permitido o arredondamento do seu valor feitonos concursos de prognósticos a que se refere o Decreto-Leinº 594, de 27 de maio de 1969, e a Lei nº 6.717, de 12 denovembro de 1979, destinado ao cumprimento do dispostono art. 7º;

Trata-se, presentemente(outubro/2000), da Loteria deNúmeros – Quina, Mega-sena,Supersena Dupla Chance,Lotomania; da Loteria EsportivaFederal; Bolsa de Apostas; eBolão Federal

III - doações, legados e patrocínios;IV - prêmios de concursos de prognósticos da Loteria

Esportiva Federal, não reclamados;V – Outras fontes.(VI - ) Os prêmios de jogos de bingo obtidos de acordo com

a Lei nº 9.615, de 1998, e não reclamados, bem como asmultas aplicadas em decorrência do descumprimento dodisposto no Capítulo IX do mesmo diploma legal,constituirão recursos do INDESP. (AC) (Ver o art. 3º.)

§ 1º O valor do adicional previsto no inciso II deste artigonão será computado no montante da arrecadação dasapostas para fins de cálculo de prêmios, rateios, tributos dequalquer natureza ou taxas de administração.

§ 2º Do adicional de quatro e meio por cento de que tratao inciso II deste artigo, um terço será repassado àsSecretarias de Esportes dos Estados e do Distrito Federal,ou, na inexistência destas, a órgãos que tenham atribuiçõessemelhantes na área do desporto, proporcionalmente aomontante das apostas efetuadas em cada unidade daFederação para aplicação segundo o disposto no art. 7º.

§ 3º Do montante arrecadado nos termos do § 2º,cinqüenta por cento caberão às Secretarias Estaduais douaos órgãos que as substituam, e cinqüenta por cento serãodivididos entre os Municípios de cada Estado, na proporçãode sua população.

§ 4º Trimestralmente, a Caixa Econômica Federal-CEFapresentará balancete ao INDESP, com o resultado dareceita proveniente do adicional mencionado neste artigo.

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Art. 7º Os recursos do INDESP terão a seguintedestinação:

I - desporto educacional;

II - desporto de rendimento, nos casos de participação deentidades nacionais de administração do desporto emcompetições internacionais, bem como as competiçõesbrasileiras dos desportos de criação nacional;

III - desporto de criação nacional;IV - capacitação de recursos humanos:a) cientistas desportivos;b) professora de educação física; ec) técnicos de desporto;V - apoio a projeto de pesquisa, documentação e

informação;VI - construção, ampliação e recuperação de instalações

esportivas;VII - apoio supletivo ao sistema de assistência ao atleta

profissional com a finalidade de promover sua adaptação aomercado de trabalho quando deixar a atividade;

VIII - apoio ao desporto para pessoas portadoras dedeficiência.

Art. 8º A arrecadação obtida em cada teste da LoteriaEsportiva terá a seguinte destinação:

I - quarenta e cinco por cento para pagamento dosprêmios, incluindo o valor correspondente ao imposto sobrea renda;

II - vinte por cento para a Caixa Econômica Federal - CEF,destinados ao custeio total da administração dos recursos eprognósticos desportivos;

III - dez por cento para pagamento, em parcelas iguais, àsentidades de práticas desportivas constantes do teste, pelouso de suas denominações, marcas e símbolos;

IV - quinze por cento para o INDESP.Parágrafo único. Os dez por cento restantes do total da

arrecadação serão destinados à seguridade social.Art. 9º Anualmente, a renda liquida total de um dos testes

da Loteria Esportiva Federal será destinada ao ComitêOlímpico Brasileiro-COB, para treinamento e competiçõespreparatórias das equipes olímpicas nacionais.

§ 1° Nos anos de realização dos Jogos Olímpicos e dosJogos Pan-Americanos, a renda liquida de um segundo testeda Loteria Esportiva Federal será destinada ao ComitêOlímpico Brasileiro-COB, para o atendimento da participaçãode delegações nacionais nesses eventos.

§ 2º Ao Comitê Paraolímpico Brasileiro serão concedidasas rendas liquidas de testes da Loteria Esportiva Federal nasmesmas condições estabelecidas neste artigo para o ComitêOlímpico Brasileiro-COB.

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Art. 10. Os recursos financeiros correspondentes àsdestinações previstas no inciso III do art. 8º e no art. 9º,constituem receitas próprias dos beneficiários que lhes serãoentregues diretamente pela Caixa Econômica Federal - CEF,até o décimo dia útil do mês subseqüente ao da ocorrênciado fato gerador.

Seção IIDo Conselho de Desenvolvimento do Desporto

Brasileiro - CDDBArt. 11. O Conselho de Desenvolvimento do Desporto

Brasileiro – CDDB é órgão colegiado de normatização,deliberação e asessoamento, diretamente vinculado aoGabinete do Ministro do Esporte e Turismo, cabendo-lhe:(NR)

Redação original: O Conselhode Desenvolvimento do DesportoBrasileiro - CDDB éórgão colegiado de deliberação eassessoramento, diretamentesubordinado ao Gabinete doMinistro de Estado Extraordináriodos Esportes, cabendo-lhe:

I - zelar pela aplicação dos princípios e preceitos desta Lei;II - oferecer subsídios técnicos à elaboração do Plano

Nacional do Desporto;III - emitir pareceres e recomendações sobre questões

desportivas nacionais;IV - propor prioridade para o plano de aplicação de

recursos do INDESP;V - exercer outras atribuições previstas na legislação em

vigor, relativas a questões de natureza desportiva;VI - aprovar os Códigos de Justiça Desportiva e suas

alterações; (NR) Redação original: aprovar osCódigos da Justiça Desportiva;

VII - expedir diretrizes para o controle de substâncias emétodos proibidos na prática desportiva.

Parágrafo único. O INDESP dará apoio técnico eadministrativo ao Conselho de Desenvolvimento do DesportoBrasileiro - CDDB.

Art. 12-ª O Conselho de Desenvolvimento do DesportoBrasileiro terá a seguinte composição: (AC)

Redação original (caput eincisos): vetada.

I – O Ministro do Esporte e Turismo; (AC)II – o Presidente do INDESP; (AC)III – um representante das entidades de administração do

desporto; (AC) IV – dois representantes de entidades de prática do

desporto; (AC) V – um representante de atletas; (AC) VI – um representante do Comitê Olímpico Brasileiro -

COB; (AC) VII – um representante do Comitê Paraolímpico Brasileiro

- CPOB; (AC) VIII – quatro representantes do desporto educacional e

de participação indicados pelo Presidente da República;(AC)

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IX – um representante dos secretários estaduais deesporte; (AC)

X – três representantes indicados pelo CongressoNacional, sendo dois deles da maioria e um da minoria. (AC)

Parágrafo único. Os membros do Conselho e seussuplentes serão indicados na forma de regulamentaçãodesta Lei, para um mandato de dois anos, permitida umarecondução. (AC)

Seção IVDo Sistema Nacional do Desporto

Art. 13. O Sistema Nacional do Desporto tem por finalidadepromover e aprimorar as práticas desportivas de rendimento.

Parágrafo único. O Sistema Nacional do Desportocongrega as pessoas físicas e jurídicas de direito privado,com ou sem fins lucrativos, encarregadas da coordenação,administração, normalização, apoio e prática do desporto,bem como as incumbidas da Justiça Desportiva e,especialmente:

I - o Comitê Olímpico Brasileiro-COB;II - o Comitê Paraolímpico Brasileiro;III - as entidades nacionais de administração do desporto;IV - as entidades regionais de administração do desporto;V - as ligas regionais e nacionais;VI - as entidades de pratica desportiva filiadas ou não

àquelas referidas nos incisos anteriores.Art. 14. O Comitê Olímpico Brasileiro-COB e o Comitê

Paraolímpico Brasileiro, e as entidades nacionais deadministração do desporto que lhes são filiadas ouvinculadas, constituem subsistema específico do SistemaNacional do Desporto, ao qual se aplicará a prioridadeprevista no inciso II do art. 217 da Constituição Federal,desde que seus estatutos obedeçam integralmente àConstituição Federal e às leis vigentes no País.

Art. 15. Ao Comitê Olímpico Brasileiro-COB, entidadejurídica de direito privado compete representar o País noseventos olímpicos, pan-americanos e outros de igualnatureza, no Comitê Olímpico Internacional e nosmovimentos olímpicos internacionais, e fomentar omovimento olímpico no território nacional em conformidadecom as disposições da Constituição Federal, bem como comas disposições estatutárias e regulamentares do ComitêOlímpico Internacional e da Carta Olímpica.

§ 1º Caberá ao Comitê Olímpico Brasileiro-COBrepresentar o olimpismo brasileiro junto aos poderespúblicos.

§ 2º É privativo do Comitê Olímpico Brasileiro - COB e doComitê Paraolímpico Brasileiro - CPOB o uso das bandeiras,lemas, hinos e símbolos olímpicos e paraolímpicos, assimcomo das denominações “jogos olímpicos”, “olimpíadas”,“jogos paraolímpicos” e “paraolimpíadas”, permitida autilização destas últimas quando se tratar de eventosvnculados ao desporto educacional e de participação. (NR)

Texto original: É privativo doComitê Olímpico Brasileiro-COBo uso da bandeira e dossímbolos, lemas e hinos de cadacomitê, em território nacional.

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§ 3º Ao Comitê Olímpico Brasileiro-COB são concedidos osdireitos e benefícios conferidos em lei às entidades nacionaisde administração do desporto.

§ 4º São vedados o registro e uso para qualquer fim desinal que integre o símbolo olímpico ou que o contenha, bemcomo do hino e dos lemas olímpicos, exceto mediante previaautorização do Comitê Olímpico Brasileiro-COB.

§ 5º Aplicam-se ao Comitê Paraolímpico Brasileiro, no quecouber, as disposições previstas neste artigo.

Art. 16. As entidades de prática desportiva e as entidadesnacionais de administração do desporto, bem como as ligasde que trata o art. 20, são pessoas jurídicas de direitoprivado, com organização e funcionamento autônomo, eterão as competências definidas em seus estatutos.

§ 1º As entidades nacionais de administração do desportopoderão filiar, nos termos de seus estatutos, entidadesregionais de administração e entidades de práticadesportiva.

§ 2º As ligas poderão, a seu critério, filiar-se ou vincular-sea entidades nacionais de administração do desporto, vedadoa estas, sob qualquer pretexto, exigir tal filiação ouvinculação

§ 3º É facultada a filiação direta de atletas nos termosprevistos nos estatutos das respectivas entidades deadministração do desporto

Art. 17. (VETADO)Art. 18. Somente serão beneficiadas com isenções fiscais e

repasses de recursos públicos federais da administraçãodireta e indireta, nos termos do inciso II do art. 217 daConstituição Federal, as entidades do Sistema Nacional doDesporto que:

I - possuírem viabilidade e autonomia financeiras;II - apresentarem manifestação favorável do Comitê

Olímpico Brasileiro-COB ou do Comitê ParaolímpicoBrasileiro, nos casos de suas filiadas e vinculadas;

III - atendam aos demais requisitos estabelecidos em lei;IV - estiverem quites com suas obrigações fiscais e

trabalhistas.Parágrafo único. A verificação do cumprimento das

exigências contidas nos incisos I a IV deste artigo será deresponsabilidade do INDESP. (NR)

Redação original: A verificaçãodo cumprimento da exigênciacontida no inciso I e deresponsabilidade do INDESP, edas contidas nos incisos III e IV,do Ministério Público.

Art. 19. (VETADO)

Art. 20. As entidades de pratica desportiva participantes decompetições do Sistema Nacional do Desporto poderãoorganizar ligas regionais ou nacionais.

§ 1º (VETADO)

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§ 2º As entidades de prática desportiva que organizaremligas, na forma do caput deste artigo, comunicarão a criaçãodestas as entidades nacionais de administração do desportodas respectivas modalidades.

§ 3º As ligas integrarão os sistemas das entidadesnacionais de administração do desporto que incluírem suascompetições nos respectivos calendários anuais de eventosoficiais.

§ 4º Na hipótese prevista no caput deste artigo, é facultadoas entidades de prática desportiva participarem também. decampeonatos nas entidades de administração do desporto aque estiverem filiadas.

§ 5º É vedada qualquer intervenção das entidades deadministração do desporto nas ligas que se mantiveremindependentes.

Art. 21. As entidades de pratica desportiva poderão filiar-se, em cada modalidade, à entidade de administração dodesporto do Sistema Nacional do Desporto, bem como àcorrespondente entidade de administração do desporto deum dos sistemas regionais.

Art. 22. Os processos eleitorais assegurarão:I - colégio eleitoral constituído de todos os filiados no gozo

de seus direitos, admitida a diferenciação de valor dos seusvotos;

II - defesa prévia, em caso de impugnação, do direito departicipam da eleição;

III - eleição convocada mediante edital publicado em órgãoda imprensa de grande circulação, por três vezes;

IV - sistema de recolhimento dos votos imune a fraude;V - acompanhamento da apuração pelos candidatos e

meios de comunicação.Parágrafo único. Na hipótese da adoção de critério

diferenciado de valoração dos votos, este não poderáexceder à proporção de um para seis entre o de menor e ode maior valor.

Art. 23. Os estatutos das entidades de administração dodesporto, elaborados de conformidade com esta Lei,deverão obrigatoriamente regulamentar, no mínimo:

I - instituição do Tribunal de Justiça Desportiva, nos termosdesta Lei;

II- inelegibilidade de seus dirigentes para desempenho decargos e funções eletivas ou de livre nomeação de:

a) condenados por crime doloso em sentença definitiva;b) inadimplentes na prestação de contas de recursos

públicos em decisão administrativa definitiva;c) inadimplentes na prestação de contas da própria

entidade;d) afastados de cargos eletivos ou de confiança de

entidade desportiva ou em virtude de gestão patrimonial oufinanceira irregular ou temerária da entidade;

e) inadimplentes das contribuições previdenciárias etrabalhistas;

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Art. 24. As prestações de contas anuais de todas asentidades de administração integrantes do Sistema Nacionaldo Desporto serão obrigatoriamente submetidas, comparecer dos Conselhos Fiscais, às respectivas assembléias-gerais, para a aprovação final.

Parágrafo único. Todos os integrantes das assembléias-gerais terão acesso irrestrito aos documentos, informações ecomprovantes de despesas de contas de que trata esteartigo.

Seção VDos Sistemas dos Estados, do Distrito Federal e dos

MunicípiosArt. 25. Os Estados e o Distrito Federal constituirão seus

próprios sistemas, respeitadas as normas estabelecidasnesta Lei e a observância do processo eleitoral.

Parágrafo único. Aos Municípios é facultado constituirsistemas próprios, observadas as disposições desta Lei e ascontidas na legislação do respectivo Estado.

CAPÍTULO VDA PRÁTICA DESPORTIVA PROFISSIONAL

Art. 26. Atletas e entidades de prática desportiva são livrespara organizar a atividade profissional, qualquer que sejasua modalidade, respeitados os termos desta Lei.

Art. 27. É facultado à entidade de prática desportivaparticipante de competições profissionais: (NR)

Redação original: As atividadesrelacionadas a competições deatletas profissionais sãoprivativas de:

I – transformar-se em sociedade civil de finseconômicos; (NR)

Texto original: sociedades civisde fins econômicos;

II – transformar-se em sociedade comercial; (NR) Texto original: sociedadescomerciais admitidas nalegislação em vigor;

III – constituir ou contratar sociedade comercial paraadministrar suas atividades profissionais. (NR)

Texto original: entidades deprática desportiva queconstituírem sociedade comercialpara administração dasatividades de que trata esteartigo.

§ 1º (= parágrafo único original): REVOGADO. Texto do parágrafo revogado:As entidades de que tratam osincisos I, II e III que infringiremqualquer dispositivo desta Leiterão suas atividades suspensas,enquanto perdurar a violação.

§ 2º A entidade a que se refere este artigo não poderáutilizar seus bens patrimoniais, desportivos ou sociaispara integralizar sua parcela de capital ou oferecê-loscomo garantia, salvo com a concordância da maioriaabsoluta da assembléia geral dos associados e naconformidade do respectivo estatuto. (AC)

Igual dispositivo constava da LeiZico.

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§ 3º Em qualquer hipótese de transformação previstano caput deste artigo, a entidade de prática desportivadeverá manter a propriedade de, no mínimo cinqüenta eum por cento do capital com direito a voto e ter o efetivopoder de gestão da nova sociedade, sob pena de ficarimpedida de participar de competições desportivasprofissionais. (AC)

§ 4º A entidade de prática desportiva somente poderáassinar contrato ou firmar compromisso por dirigentecom mandato eletivo. (AC)

Art. 27-A. Nenhuma pessoa física ou jurídica que,direta ou indiretamente, seja detentora de parcela docapital, ou, de qualquer forma, participe daadministração de qualquer entidade de práticadesportiva poderá ter participação simultânea no capitalsocial ou na gestão de outra entidade de práticadesportiva disputante da mesma competiçãoprofissional. (AC)

§ 1º É vedado que duas ou mais entidades de práticadesportiva disputem a mesma competição profissionaldas primeiras séries ou divisões das diversasmodalidades desportivas quando: (AC)

Segundo o art. 94, esteparágrafo só se aplica ao futebol.Como, então, “... das diversasmodalidades desportivas”?

a) uma pessoa física ou jurídica, direta ouindiretamente, através de relação contratual, explorecontrole ou administre direitos que integrem seuspatrimônios; (AC)

O que vêm a ser “direitos queintegrem seus patrimônios”?

b) uma mesma pessoa fisica ou jurídica, direta ouindiretamente, seja detentora de parcela do capital comdireito a voto ou, de qualquer forma, participe daadministração de mais de uma sociedade ou associaçãoque explore, controle ou administre direitos queintegrem seus patrimônios. (AC)

§ 2º A vedação constante do caput deste artigo, bemcomo de seu § 1º, aplica-se: (AC)

a) ao cônjuge e aos parentes até o segundo grau daspessoas físicas; e (AC)

b) às sociedades controladoras, controladas ecoligadas das mencionadas pessoas jurídicas, bemcomo a fundo de investimento, condomínio deinvestidores ou outra forma assemelhada que resulte naparticipação concomitante vedada neste artigo. (AC)

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§ 3º Excluem-se da vedação de que trata este artigo oscontratos de administração e investimentos emestádios, ginásios e praças desportivas, de patrocínio,de licenciamento de uso de marcas e símbolo, depublicidade e de propaganda, desde que não importemna administração direta ou na co-gestão das atividadesdesportivas profissionais das entidades de práticadesportiva, assim como os contratos individuais oucoletivos que sejam celebrados entre as detentoras deconcessão, permissão ou autorização para exploraçãode serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens,bem como de televisão por assinatura, e entidades deprática desportiva para fins de transmissão de eventosdesportivos. (AC)

§ 4º A infringência a este artigo implicará a inabilitaçãoda entidade de prática desportiva para a percepção dosbenefícios de que trata o art. 18, bem como dasuspensão prevista no art. 48, V, enquanto perdurar atransgressão. (AC)

§ 5º Ficam as detentoras da concessão, permissão ouautorização para exploração do serviço de radiodifusão,bem como de televisão por assinatura, impedidas depatrocinar entidades de prática desportiva. (AC)

Art. 28. A atividade do atleta profissional, de todas asmodalidades desportivas, é caracterizada porremuneração pactuada em contrato formal de trabalhofirmado com entidade de prática desportiva, pessoajurídica de direito privado, que deverá conter,obrigatoriamente, cláusula penal para as hipóteses dedescumprimento, rompimento ou rescisão unilateral.

§ 1º Aplicam-se ao atleta profissional as normasgerais da legislação trabalhista e da seguridade social,ressalvadas as peculiaridades expressas nesta Lei ouintegrantes do respectivo contrato de trabalho.

§ 2º O vínculo desportivo do atleta com a entidadecontratante tem natureza acessória ao respectivovínculo empregatício, dissolvendo-se, para todos osefeitos legais, com o término da vigência do contrato detrabalho.

No futebol, além do vínculoempregatício, existe o vínculotécnico, esportivo. Este seriagerado pelo investimento naformação do atleta por umperíodo mínimo de dois anos.

§ 3º O valor da cláusula penal a que se refere o caputdeste artigo será livremente estabelecido peloscontratantes até o limite máximo de cem vezes omontante da remuneração anual pactuada. (AC)

§ 4º Em quaisquer das hipóteses previstas no § 3ºdeste artigo haverá a redução automática do valor dacláusula penal apurado, aplicando-se, para cada anointegralizado do vigente contrato de trabalho desportivo,os seguintes percentuais progressivos e não-cumulativos: (AC)

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a) dez por cento após o primeiro ano; (AC)b) vinte por cento após o segundo ano; (AC)c) quarenta por cento após o terceiro ano; (AC)d) oitenta por cento após o quarto ano. (AC)§ 5º Quando se tratar de transferência internacional, a

cláusula penal não será objeto de qualquer limitação,desde que esteja expresso no respectivo contrato detrabalho desportivo. (AC)

§ 6º Na hipótese prevista no § 3º, quando se tratar deatletas profissionais que recebam até dez saláriosmínimos mensais, o montante da cláusula penal ficalimitado a dez vezes o valor da remuneração mensalpactuada ou a metade do valor restante do contrato,aplicando-se o que for menor. (AC)

Art. 29. A entidade de prática desportiva formadora deatleta terá o direito de assinar com este o primeirocontrato de profissional, cujo prazo não poderá sersuperior a dois anos.

Redação proposta, porémvetada:. A entidade de práticadesportiva formadora do atletaterá o direito de assinar com omesmo, a partir de dezesseisanos de idade, o primeirocontrato de trabalho profissional,com prazo não superior a quatroanos, cabendo à entidade fixar ovalor da cláusula penal para ashipóteses de descumprimento,rompimento ou rescisãocontratual unilateral. (NR)

Parágrafo único. Texto original vetado.§ 1º- Para os efeitos do caput deste artigo, exige-se da

entidade de prática desportiva formadora que comproveestar o atleta por ela registrado como não-profissionalhá, pelo menos, dois anos, sendo facultada a cessãodeste direito a entidade de prática desportiva, de formaremunerada. (AC)

“... de forma remunerada” – é opasse, de novo!

§ 2º A entidade de prática desportiva detentora doprimeiro contrato de trabalho com o atleta por elaprofissionalizado terá o direito de preferência para aprimeira renovação deste contrato. (AC)

Art. 30. O contrato de trabalho do atleta profissionalterá prazo determinado, com vigência nunca inferior atrês meses nem superior a cinco anos. (NR)

Redação original: O contrato detrabalho do atleta profissional teráprazo determinado, com vigêncianunca inferior a três meses.

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Parágrafo único. Não se aplica ao contrato de trabalhodo atleta profissional o disposto no art. 445 daConsolidação das Leis do Trabalho. (AC)

O Art. 445 da CLT afirma que ocontrato de trabalho por prazodeterminado não poderá serestipulado por mais de dois anos,“observada a regra do art. 451” De acordo com o art. 451, ocontrato de trabalho por prazodeterminado que, tácita ouexpressamente, for prorrogadomais de uma vez, passará avigorar sem determinação deprazo.

Art. 31. A entidade de pratica desportiva empregadora queestiver com pagamento de salário de atleta profissional ematraso, no todo ou em parte, por período igual ou superior atrês meses, terá o contrato de trabalho daquele atletarescindido, ficando o atleta livre para se transferir paraqualquer outra agremiação de mesma modalidade, nacionalou internacional, e exigir a multa rescisória e os haveresdevidos.

§ 1º São entendidos corno salário, para efeitos do previstono caput, o abono de férias, o décimo terceiro salário, asgratificações, os prêmios e demais verbas inclusas nocontrato

§ 2º A mora contumaz será considerada também pelo nãorecolhimento do FGTS e das contribuições previdenciárias.

§ 3º Sempre que a rescisão se operar pela aplicação dodisposto no caput, a multa rescisória a favor da parteinocente será conhecida pela aplicação do disposto nos arts.479 e 480 da CLT.

Não há dúvida de que,considerando-se o disposto nocaput, a parte inocente só podeser o atleta. Pelo art. 479 da CLT,o clube terá de pagar-lhe, a títulode indenização e por metade, aremuneração a que teria direitoaté o termo do contrato.

Em sendo o clube a parteinocente, a indenização devidapelo atleta “não poderá excederàquela a que teria direito oempregado em idênticascondições” (art. 480).

Art. 32. É licito ao atleta profissional recusar competir porentidade de prática desportiva quando seus salários, no todoou em parte, estiverem atrasados em dois ou mais meses.

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Art. 33. Cabe à entidade nacional de administração dodesporto que registrar o contrato de trabalho profissionalfornecer a condição de jogo para as entidades de práticadesportiva, mediante a prova de notificação do pedido derescisão unilateral firmado pelo atleta ou documento doempregador no mesmo sentido, desde que acompanhado daprova de pagamento da cláusula penal nos termos do art. 28desta lei. (NR)

Redação original:Independentemente outroprocedimento, entidade nacionalde administração do desportofornecerá condição de jogo aoatleta para outra entidade deprática, nacional ou internacional,mediante a prova da notificaçãodo pedido de rescisão unilateralfirmado pelo atleta ou pordocumento do empregador nomesmo sentido.

. Art. 34. São deveres da entidade de prática desportivaempregadora, em especial: (NR)

Redação original: O contrato detrabalho do atleta profissionalobedecerá a modelo padrão,constante da regulamentaçãodesta Lei.

I – registrar o contrato de trabalho do atleta profissional naentidade de administração nacional da respectivamodalidade desportiva; (AC)

II – proporcionar aos atletas profissionais as condiçõesnecessárias à participação nas competições desportivas,treinos e outras atividades preparatórias ou instrumentais;(AC)

III – submeter os atletas profissionais aos exames médicose clínicos necessários à prática desportiva. (AC)

Art. 35. São deveres do atleta profissional, em especial:(NR)

Redação original: A entidade deprática desportiva comunicará emimpresso padrão à entidadenacional de administração damodalidade a condição deprofissional, semi-profissional ouamador do atleta.

I – participar dos jogos, treinos, estágios e outras sessõespreparatórias de competições com a aplicação e dedicaçãocorrespondentes às suas condições psicofísicas e técnicas.(AC)

II – preservar as condições físicas que lhes permitamparticipar das competições desportivas, submetendo-se aosexames médicos e tratamentos clínicos necessários àprática desportiva. (AC)

III – exercitar a atividade desportiva profissional de acordocom as regras da respectiva modalidade desportiva e asnormas que regem a disciplina e a ética desportivas. (AC)

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Art. 36. (REVOGADO) Texto do artigo revogado: Aatividade do atleta semi-profissional é caracterizada pelaexistência de incentivos materiaisque não caracterizemremuneração derivada decontrato de trabalho, pactuadoem contrato formal de estágiofirmado com entidade de práticadesportiva, pessoa jurídica dedireito privado, que deveraconter, obrigatoriamente, cláusulapenal para as hipóteses dedescumprimento, rompimento ourescisão unilateral.

§ 1º. (REVOGADO) Texto do parágrafo revogado:Estão compreendidos nacategoria dos semiprofissionaisos atletas com idade entrequatorze e dezoito anoscompletos.

§ 2º (REVOGADO) Texto do parágrafo revogado:Só poderão participar decompetição entre profissionais osatletas semiprofissionais comidade superior a dezesseis anos.

§ 3º (REVOGADO) Texto do parágrafo revogado.Ao completar dezoito anos deidade, o atleta semi-profissionaldeverá ser obrigatoriamenteprofissionalizado, sob pena de,não o fazendo, voltar à condiçãode amador, ficando impedido departicipar em competições entreprofissionais.

§ 4º (REVOGADO) Texto do parágrafo revogado: Aentidade de prática detentora doprimeiro contrato de trabalho doatleta por ela pro-fissionalizadoterá direito de preferência para aprimeira renovação destecontrato, sendo facultada acessão deste direito a terceiros,de forma remunerada ou não.

Texto do parágrafo revogado:Do disposto neste artigo estãoexcluídos os desportosindividuais e coletivos olímpicos,exceto o futebol de campo.

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Art. 37. (REVOGADO) Art. 37. O contrato de estágiodo atleta semi-profissionalobedecerá a modelo padrão,constante da regulamentaçãodesta Lei.

Art. 38. Art. 38. Qualquer cessão ou transferência de atletaprofissional ou não-profissional depende de sua formal eexpressa anuência. (NR)

Redação original: Qualquercessão ou transferência de atletaprofissional, na vigência docontrato de trabalho, depende deformal e expressa anuênciadeste, e será isenta de qualquertaxa que venha a ser cobradapela entidade de administração

Art. 39. A transferência do atleta profissional de umaentidade de prática desportiva para outra do mesmogênero poderá ser temporária (contrato de empréstimo)e o novo contrato celebrado deverá ser por período igualou menor que o anterior, ficando o atleta sujeito àcláusula de retorno à entidade de prática desportivacedente, vigorando no retorno o antigo contrato, quandofor o caso.

Art. 40. Na cessão ou transferência de atleta profissionalpara entidade de prática desportiva estrangeira observar-se-ão as instruções expedidas pela entidade nacional de título.

Parágrafo único. As condições para transferência do atletaprofissional para o exterior deverão integrar obrigatoriamenteos contratos de trabalho entre o atleta e a entidade deprática desportiva brasileira que o contratou.

Art. 41. A participação de atletas profissionais em seleçõesserá estabelecida na forma como acordarem a entidade deadministração convocante e a entidade de prática desportivacedente.

§ 1º A entidade convocadora indenizará a cedente dosencargos previstos no contrato de trabalho, pelo períodoem que durar a convocação do atleta, sem prejuízo deeventuais ajustes celebrados entre este e a entidadeconvocadora.

§ 2º O período de convocação estender-se-á até areintegração do atleta à entidade que o cedeu, apto aexercer sua atividade.

Art. 42. Às entidades de prática desportiva pertence odireito de negociar, autorizar e proibir a fixação, atransmissão ou retransmissão de imagem de espetáculo oueventos desportivos de que participem.

§ 1º Salvo convenção em contrário, vinte por cento dopreço total da autorização, como mínimo, será distribuído,em partes iguais, aos atletas profissionais participantes doespetáculo ou evento.

§ 2º O disposto neste artigo não se aplica a flagrantes deespetáculo ou evento desportivo para fins, exclusivamente,jornalísticos ou educativos, cuja duração, no conjunto, nãoexceda de três por cento do total do tempo previsto para oespetáculo.

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§ 3º O espectador pagante, por qualquer meio, deespetáculo ou evento desportivo equipara-se, para todos osefeitos legais, ao consumidor, nos termos do art. 2° da Lei n°8.078, de 11 de setembro de 1990.

Sujeita o espetáculo desportivoàs regras estabelecidas noCódigo do Consumidor

Art. 43. É vedada a participação em competiçõesdesportivas profissionais de atletas não-profissionaiscom idade superior a vinte anos. (NR)

Redação original: É vedada aparticipação em competiçõesdesportivas profissionais deatletas amadores de qualqueridade e de semiprofissionais comidade superior a vinte anos.

Art. 44. É vedada a pratica do profissionalismo, emqualquer modalidade, quando se tratar de:

I - desporto educacional, seja nos estabelecimentosescorara de 1° e 2° graus ou superiores;

II - desporto militar;III - menores até a idade de dezesseis anos completos.Art. 45. As entidades de prática desportiva são

obrigadas a contratar seguro de acidentes de trabalhopara atletas profissionais a elas vinculados, com oobjetivo de cobrir os riscos a que eles estão sujeitos.(NR)

Redação original: Asentidades de prática serãoobrigadas a contratar seguro deacidentes pessoais e do trabalhopara os atletas profissionais esemiprofissionais a elasvinculados com o objetivo decobrir os riscos a que estãosujeitos.

Parágrafo único. A importância segurada deve garantirdireito a uma indenização mínima correspondente aovalor total anual da remuneração ajustada no caso dosatletas profissionais. (NR)

Redação original: Para osatletas profissionais, o prêmiomínimo de que trata este artigodevera corresponder àimportância total anual daremuneração ajustada, e, para ossemiprofissionais, ao total dasverbas de incentivos materiais.

Art. 46. A presença de atleta de nacionalidade estrangeira,com visto temporário de trabalho previsto no inciso V do art.13 da Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 1980, comointegrante da equipe de competição da entidade de práticadesportiva, caracteriza para os termos desta lei práticadesportiva profissional, tornando obrigatório oenquadramento previsto no caput do art. 27.

Trata-se do Estatuto doEstrangeiro. Pela lógica, aexemplo do próprio art. 27, estedispositivo deve aplicar-sesomente ao futebol.

§ 1º É vedada a participação do atleta de nacionalidadeestrangeira como integrante de equipe de competição deentidade de prática desportiva nacional nos campeonatosoficiais, quando o visto de trabalho temporário expedido peloMinistério do Trabalho recair no inciso art. 13 da Lei 6.815,de 19 de agosto de 1980

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§ 2º A entidade de administração do desporto seráobrigada a exigir da entidade de prática desportiva ocomprovante do visto de trabalho do atleta de nacionalidadeestrangeira fornecido pelo Ministério do Trabalho, sob penade cancelamento da inscrição desportiva.

CAPÍTULO VIDA ORDEM DESPORTIVA

Art. 47. No âmbito de suas atribuições, os ComitêsOlímpico e Paraolímpico Brasileiros e as entidades nacionaisde administração do desporto têm competência para decidir,de oficio ou quando lhes forem submetidas pelos seusfiliados, as questões relativas ao cumprimento das normas eregras de prática desportiva.

Art. 48. Com o objetivo de manter a ordem desportiva, orespeito aos atos emanados de seus poderes internos,poderão ser aplicadas, pelas entidades de administração dodesporto e de prática desportiva, as seguintes sanções:

I - advertênciaII - censura escrita:III - multa;IV - suspensão;V - desfiliação ou desvinculação.§ 1º A aplicação das sanções previstas neste artigo não

prescinde do processo administrativo no qual sejamassegurados o contraditório e a ampla defesa.

§ 2º As penalidades de que tratam os incisos IV e V desteartigo somente pode ser aplicadas após decisão definitiva daJustiça Desportiva.

CAPÍTULO VIIDA JUSTIÇA DESPORTIVA

Art. 49. A Justiça Desportiva a que se referem os §§ 1º e 2ºdo art. 211 Constituição Federal e o art. 33 da Lei nº 8.028,de 12 de abril de 1990, regula-se pelas disposições desteCapítulo.

Art. 50. A organização, o funcionamento e as atribuiçõesda Justiça Desportiva, limitadas ao processo e julgamentodas infrações disciplinares e às competições desportivas,serão definidas em Códigos Desportivos.

Redação proposta, porémvetada: A organização, ofuncionamento e as atribuiçõesda Justiça Desportiva serãodefinidas em Código de JustiçaDesportiva, de cumprimentoobrigatório para as filiadas decada entidade de administraçãodo desporto, nos quais execetuar-se-ão as matérias de ordemtrabalhista e de Direito Penalcomum,

§ 1º As transgressões relativas à disciplina e àscompetições desportivas sujeitam o infrator a:

I - advertência;II - eliminação;III - exclusão de campeonato ou torneio;

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IV - indenização;V - interdição de praça de desportos;VI - multa;VII - perda do mando do campo;VIII - perda de pontos;IX - perda de renda;X - suspensão por partida;XI - suspensão por prazo.§ 2º As penas disciplinares não serão aplicadas aos

menores de quatorze anos.§ 3º As penas pecuniárias não serão aplicadas a atletas

não-profissionais.§ 4º Compete às entidades de administração do desporto

promover o custeio do funcionamento dos órgãos da JustiçaDesportiva que funcionem junto a si. (AC)

Art. 51. O disposto nesta Lei sobre Justiça Desportiva nãose aplica aos Comitê Olímpico e Paraolímpico Brasileiros.

Art. 52. Os órgãos integrantes da Justiça Desportiva sãoautônomos e independentes das entidades de administraçãodo desporto de cada sistema, compondo-se do SuperiorTribunal de Justiça Desportiva, funcionando junto àsentidades nacionais de administração do desporto; dosTribunais de Justiça Desportiva, funcionando junto àsentidades regionais da administração do desporto, e dasComissões Disciplinares, com competência para processar ejulgar as questões previstas nos Códigos de JustiçaDesportiva, sempre assegurados a ampla defesa e ocontraditório. (NR)

Redação original: Aos Tribunaisde Justiça Desportiva, unidadesautônomas e independentes dasentidades de administração dodesporto de cada sistema,compete processar e julgar, emúltima instância, as questões dedescumprimento de normasrelativas à disciplina e àscompetições desportivas, sempreassegurados a ampla defesa e ocontraditório.

§ 1º Sem prejuízo do disposto neste artigo, as decisõesfinais dos Tribunais de Justiça Desportiva são impugnáveisnos termos gerais do direito, respeitados os pressupostosprocessuais estabelecidos nos §§ 1° e 2° do art. 217 daConstituição Federal.

§ 2º O recurso ao Poder Judiciário não prejudicará osefeitos desportivos validamente produzidos emconseqüência da decisão preferida pelos Tribunais deJustiça Desportiva.

Art. 53. Junto ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva,para julgamento envolvendo competições interestaduais ounacionais, e aos Tribunais de Justiça Desportiva,funcionarão tantas Comissões Disciplinares quantas sefizerem necessárias, compostas cada qual de cincomembros que não pertençam aos referidos órgãosjudicantes e que por estes serão indicados. (NR)

Redação original: Os Tribunaisde Justiça Desportiva terão comoprimeira instância a ComissãoDisciplinar, integrada por trêsmembros de sua livre nomeação,para a aplicação imediata dassanções decorrentes de infraçõescometidas durante as disputas econstantes das súmulas oudocumentos similares dosárbitros, ou, ainda, decorrentesde infringência ao regulamento darespectiva competição

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§ 1º (VETADO)§ 2º A Comissão Disciplinar aplicará sanções em

procedimento sumário, assegurados a ampla defesa e ocontraditório.

§ 3º Das decisões da Comissão Disciplinar caberá recursoao Tribunal de Justiça Desportiva e deste ao SuperiorTribunal de Justiça Desportiva, nas hipóteses previstas nosrespectivos Códigos de Justiça Desportiva. (NR)

Redação original: Das decisõesda Comissão Disciplinar caberárecurso aos Tribunais de JustiçaDesportiva.

§ 4º O recurso ao qual se refere o parágrafo anterior serárecebido e processado com efeito suspensivo quando apenalidade exceder de duas partidas consecutivas ou quinzedias.

Art. 54. O membro do Tribunal de Justiça Desportivaexerce função considerada de relevante interesse público e,sendo servidor público, terá abonadas suas faltas,computando-se como de efetivo exercício a participação nasrespectivas sessões.

Art. 55. O Superior Tribunal de Justiça Desportiva e osTribunais de Justiça Desportiva serão compostos por novemembros, sendo: (NR)

Redação original: Os Tribunaisde Justiça Desportiva serãocompostos por, no mínimo, setemembros, ou onze membros, nomáximos sendo:

I – dois indicados pela entidade de administração dodesporto; (NR)

Texto original: um indicado pelaentidade de administração dodesporto;

II – dois indicados pelas entidades de prática desportivaque participem de competições oficiais da divisão principal;NR)

Texto original: um indicadopelas entidades de práticadesportiva que participem decompetições oficiais da divisãoprincipal;

III – dois advogados com notório saber jurídico-desportivo,indicados pela Ordem dos Advogados do Brasil;

Texto original: três advogadoscom notório saber jurídicodesportivo, indicados pela Ordemdos Advogados do Brasil;

IV - um representante dos árbitros, por estes indicado;V – dois representantes dos atletas, por estes indicados.

(NR)Redação original: um

representante dos atletas, porestes indicado.

§ 1º (REVOGADO) Texto do dispositivo revogado:Para efeito de acréscimo decomposição, deverá serassegurada a paridadeapresentada nos incisos I, II, IV eV, respeitado o disposto no caputdeste artigo.

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§ 2º O mandato dos membros dos Tribunais de Justiça teráa duração máxima de quatro anos, permitida apenas umarecondução.

§ 3º É vedado aos dirigentes desportivos das entidades deadministração e das entidades de pratica o exercício decargo ou função na Justiça Desportiva, exceção feita aosmembros dos conselhos deliberativos das entidades deprática desportiva.

§ 4º Os membros dos Tribunais de Justiça desportivapoderão ser bacharéis em Direito ou pessoas de notóriosaber jurídico, e de conduta ilibada. (NR)

Redação original: Os membrosdos Tribunais de Justiçadesportiva serãoobrigatoriamente bacharéis emDireito ou pessoas de notóriosaber jurídico, e de condutailibada.

CAPÍTULO VIIIDOS RECURSOS PARA O DESPORTO

Art. 56. Os recursos necessários ao fomento das práticasdesportivas formais e não formais a que se refere o art. 217da Constituição Federal serão assegurados em programasde trabalho específicos constantes dos orçamentos daUnião, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,além dos provenientes de:

I - fundos desportivos;II - receitas oriundas de concursos de prognósticos;III - doações, patrocínios e legados;IV - prêmios de concursos de prognósticos da Loteria

Esportiva Federal não reclamados nos prazosregulamentares;

V - incentivos fiscais previstos em lei;VI outras fontes.Art. 57. Constituirão recursos para a assistência social e

educacional aos atletas profissionais, ex-atletas e aos emformação, recolhidos diretamente para a FederaçãoAssociações de Atletas Profissionais - FAAP:

I - um por cento do contrato do atleta profissionalpertencente ao Sistema Brasileiro do Desporto, devido erecolhido pela entidade contratante;

II – um por cento do valor da cláusula penal, nos casos detransferências nacionais e internacionais, a ser pago peloatleta; (NR)

Redação original: um porcento do valor da multacontratual, nos casos detransferências nacionais einternacionais, a ser pago pelaentidade cedente;

III - um por cento da arrecadação proveniente dascompetição organizadas pelas entidades nacionais deadministração do desporto profissional;

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IV - penalidades disciplinares pecuniárias aplicadas aosatletas profissionais pelas entidades de prática desportiva,pelas de administração do desporto ou pelos órgãos daJustiça Desportiva.(NR)

Redação original: penalidadesdisciplinares pecuniáriasaplicadas aos atletasprofissionais entidade de práticadesportiva, pelas deadministração do desporto oupelos Tribunais de JustiçaDesportiva.

Art. 58. (VETADO)

CAPÍTULO IXDO BINGO

Consoante o disposto no art. 2º,ficam REVOGADOS a partir de31.12.2001 os artigos constantesdeste capítulo, respeitando-se asautorizações que estiverem emvigor até a data de sua extinção.

Art. 59. Os jogos de bingo são permitidos em todo oterritório nacional nos termos desta Lei.

Art. 60. As entidades de administração e de práticadesportiva poderão credenciar-se junto à União paraexplorar o jogo de bingo permanente ou eventual, com afinalidade de angariar recursos para o fomento do desporto.

(Parágrafo único.) Caberá ao INDESP o credenciamentodas entidades e à Caixa Econômica Federal a autorização ea fiscalização das realização dos jogos de bingo, bem comoa decisão sobre as regularidades das prestações de contas.(Ver o art. 2º)

§ 1º Considera-se bingo permanente aquele realizado emsalas próprias, com utilização de processo de extraçãoisento de contato humano, que assegure integral lisura deresultados, inclusive com o apoio de sistema de circuitofechado de televisão e difusão de som oferecendo prêmiosexclusivamente em dinheiro.

§ 2º (VETADO)§ 3º As máquinas utilizadas nos sorteios, antes de iniciar

quaisquer operações deverão ser submetidas à fiscalizaçãodo poder público, que autorizará ou não seu funcionamento,bem como as verificará semestralmente, quando emoperação.

Art. 61. Na hipótese de a administração do jogo de bingoser entregue a empresa comercial, é de exclusivaresponsabilidade desta o pagamento de todos os tributos eencargos da seguridade social sobre as respectivas receitasobtidas com essa atividade. (NR) (Ver o art. 4º.)

Redação original: Os bingosfuncionarão sob responsabilidadeexclusiva das entidadesdesportivas, mesmo que aadministração da sala sejaentregue a empresa comercialidônea.

Art. 62. São requisitas para concessão da autorização deexploração dos bingos para a entidade desportiva:

I - Filiação a entidade de administração do desporto, ou,conforme o caso, a entidade nacional de administração, porum período mínimo de três anos, completados até a data dopedido de autorização.

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II - (VETADO)III - (VETADO)IV - prévia apresentação e aprovação de projeto detalhado

de aplicação de recursos na melhoria do desporto olímpico,com prioridade para a formação do atleta;

V - apresentação de certidões dos distribuidores cíveis,trabalhistas, criminais e cartórios de protestos;

VI – comprovação de regularização de contribuições juntoà Receita Federal e à Seguridade Social;

VII - apresentação de parecer favorável da Prefeitura doMunicípio onde se instale a sala de bingo, versando sobre osaspectos urbanísticos e o alcance social doempreendimento;

VIII - apresentação de planta da sala de bingo,demonstrando ter capacidade mínima para duzentospessoas e local isolado de recepção, sem acesso direto paraa sala;

IX - prova de que a sede da entidade desportiva é situadano mesmo Município que funcionará a sala de bingo.

§ 1º Excepcionalmente, o mérito esportivo pode sercomprovado em relatório quantitativo e qualitativo dasatividades desenvolvidas pela entidade requerente nos trêsanos anteriores ao pedido de autorização.

§ 2º Para a autorização do bingo eventual são requisitos osconstantes nos incisos VI do caput, além da prova de préviaaquisição dos prêmios oferecidos.

Art. 63. Se a administração da sala de bingo for entregue aempresa comercial, a entidade desportiva juntará, ao pedidode autorização, além dos requisitos do artigo anterior,seguintes documentos:

I - certidão da Junta Comercial, demonstrando o regularregistro da empresa e capacidade para o comércio;

II - certidões dos distribuidores cíveis, trabalhistas e decartórios de protesto em nome da empresa;

III - certidões dos distribuidores cíveis, criminais,trabalhistas e de cartórios de protestos em nome da pessoaou pessoas físicas titulares da empresa;

IV - certidões de quitação de tributos federais e daseguridade social;

V - demonstrativo de contratação de firma para auditoriapermanente da empresa administradora;

I - cópia do instrumento do contrato entre a entidadedesportiva e a empresa administrativa, cujo prazo máximoserá de dois anos, renovável por igual período, sempreexigida a forma escrita.

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Art. 64. O Poder Público negará a autorização se nãoprovados quaisquer dos requisitos dos artigos anteriores ouhouver indícios de inidoneidade da entidade desportiva, daempresa comercial ou de seus dirigentes, podendo aindacassar a autorização se verificar terem deixado de serpreenchidos os mesmos requisitos.

Art. 65. A autorização concedida somente será válida paralocal determinado e endereço certo, sendo proibida a vendade cartelas fora da sala de bingo.

Parágrafo úico. As cartelas de bingo eventual poderão servendidas em todo o território nacional.

Art. 66. (VETADO)Art. 67. (VETADO)Art. 68. A premiação do bingo permanente será apenas em

dinheiro, cujo montante não poderá exceder o valorarrecadado por partida.

Parágrafo único. (VETADO)Art. 69. (VETADO)Art. 70. A entidade desportiva receberá percentual mínimo

de sete por cento da receita bruta da sala de bingo ou dobingo eventual.

Parágrafo único. As entidades desportivas prestarãocontas semestralmente ao poder público da aplicação dosrecursos havidos dos bingos.

Art. 71 e §§ 1º, 2º e 3º (VETADOS)§ 4º É proibido o ingresso de menores de dezoito anos nas

salas de bingo.Art. 72. As salas de bingo destinar-se-ão exclusivamente a

esse tipo de jogo.Parágrafo único. A única atividade admissível

concomitantemente ao bingo na sala é o serviço de bar ourestaurante.

Art. 73. É proibida a instalação de qualquer tipo demáquinas de jogo de azar ou de diversões eletrônicas nassalas de bingo.

Art. 74. Nenhuma outra modalidade de jogo ou similar, quenão seja o bingo permanente ou o eventual, poderá serautorizada com base nesta Lei.

Parágrafo único. Excluem-se das exigências desta Lei osbingos realizados com fins apenas beneficentes em favor deentidades filantrópicas federais, estaduais ou municipais, nostermos da legislação especifica, desde que devidamenteautorizados pela União.

Art. 75. Manter, facilitar ou realizar jogo de bingo sem aautorização prevista nesta Lei:

Pena - prisão simples de seis meses a dois anos, e multa.Art. 76. (VETADO)

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Art. 77. Oferecer, em bingo permanente ou eventual,prêmio diverso do permitido

Pena - prisão simples de seis meses a um ano, e multa deaté cem vezes o valor do prêmio oferecido.

Art. 78. (VETADO)Art. 79. Fraudar, adulterar ou controlar de qualquer modo o

resultado do jogo de bingo:Pena - reclusão de um a três anos, e multa.Art. 80. Permitir o ingresso de menor de dezoito anos em

sala de bingo:Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.Art. 81. Manter nas salas de bingo máquinas de jogo de

azar ou diversões eletrônicas:Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.

CAPÍTULO XDISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 82. Os dirigentes, unidades ou órgãos de entidades deadministração desporto, inscritas ou não no registro decomércio, não exercem função delegada pelo Poder Público,nem são consideradas autoridades públicas para os efeitosdesta Lei.

Art. 83. As entidades desportivas internacionais com sedepermanente ou tempo no País receberão dos poderespúblicos o mesmo tratamento dispensado às entidadesnacionais de administração do desporto.

Art. 84. Será considerado como efetivo exercício, paratodos os efeitos legais, o período em que o atleta servidorpúblico civil ou militar, da Administração Pública direta,indireta, autárquica ou fundacional, estiver convocado paraintegrar representação nacional em treinamento oucompetição desportiva no País ou no exterior. (NR)

Redação original: Seráconsiderado como de efetivoexercício, para todos os efeitoslegais, o período em que o atletaservidor público civil ou militar, daAdministração Pública direta,indireta autárquica oufundacional, estiver convocadopara integrar representaçãonacional em competiçãodesportiva no Pais ou no exterior.

Art. 84. Será considerado como de efetivo exercício, paratodos os efeitos legais, o período em que o atleta servidorpúblico civil ou militar, da Administração Pública direta,indireta autárquica ou fundacional, estiver convocado paraintegrar representação nacional em treinamento oucompetição desportiva no Pais ou no exterior. (NR)

Redação original: Seráconsiderado como de efetivoexercício, para todos os efeitoslegais, o período em que o atletaservidor público civil ou militar, daAdministração Pública direta,indireta autárquica oufundacional, estiver convocadopara integrar representaçãonacional em competiçãodesportiva no Pais ou no exterior.

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§ 1º O período de convocação será definido pela entidadenacional da administração da respectiva modalidadedesportiva, cabendo a esta ou aos Comitês Olímpico eParaolímpico Brasileiros fazer a devida comunicação esolicitar ao INDESP a competente liberação do afastamentodo atleta ou dirigente. (NR)

Redação original: § 1º Operíodo de convocação serádefinido pela entidade nacionalda administração da respectivamodalidade desportiva, cabendoa esta ou aos Comitês Olímpico eParaolímpico Brasileiros fazer adevida comunicação e solicitar aoMinistério Extraordinário dosEsportes competente liberaçãodo afastamento do atleta oudirigente

§ 2º O disposto neste artigo aplica-se, também, aosprofissionais especializados e dirigentes, quandoindispensável à composição da delegação.

Art. 84-A. Todos os jogos das seleções brasileiras defutebol, em competições oficiais, deverão ser exibidos, pelomenos, em uma rede nacional de televisão aberta, comtransmissão ao vivo, inclusive para as cidades brasileirasnas quais os mesmos estejam sendo realizados. (AC)

Parágrafo único. As empresas de televisão de comumacordo ou por rodízio, ou por arbitramento, resolverão comocumprir o disposto neste artigo, caso nenhuma delas seinteresse pela transmissão. O órgão competente fará oarbitramento. (AC)

Art. 85. Os sistemas de ensino da União, dos Estados, doDistrito Federal e Municípios, bem como as instituições deensino superior, definirão normas especificas de verificaçãodo rendimento e o controle de freqüência dos estudantesque integrarem representação desportiva nacional, de formaa harmonizar a atividade desportiva com os interessesrelacionados ao aproveitamento e à promoção escolar.

Art. 86. E instituído o Dia do Desporto, a ser comemoradono dia 23 de junho, Dia Mundial do Desporto Olímpico.

Art. 87. A denominação e os símbolos de entidade deadministração do desporto pratica desportiva, bem como onome ou apelido desportivo do atleta profissional, sãopropriedade exclusiva dos mesmos, contando com aproteção legal, válida para todo o território nacional, portempo indeterminado sem necessidade de registro ouaverbação no órgão competente.

Parágrafo único. A garantia legal outorgada às entidades eaos atletas referidos neste artigo permite-lhes o usocomercial de sua denominação, símbolos, nomes e apelidos.

Art. 88. Os árbitros e auxiliares de arbitragem poderãoconstituir entidades nacionais e estaduais, por modalidadedesportiva ou grupo de modalidades, objetivando orecrutamento formação e a prestação de serviços àsentidades de administração do desporto.

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Parágrafo único. Independentemente da constituição desociedade ou entidades, os árbitros e seus auxiliares nãoterão qualquer vínculo empregatício com as entidadesdesportivas diretivas onde atuarem, e sua remuneraçãocomo autônomos exonera tais entidades de quaisquer outrasresponsabilidades trabalhistas, securitários eprovidenciarias.

Art. 89. Em campeonatos ou torneios regulares com maisde uma divisão, entidades de administração do desportodeterminarão em seus regulamentos o princípio do acesso edo descenso, observado sempre o critério técnico.

Art. 90. E vedado aos administradores e membros deconselho fiscal de entidade pratica desportiva o exercício decargo ou função em entidade de administração do desporto.

CAPÍTULO XDISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS

Art. 91. Até a edição dos Códigos da Justiça dos DesportosProfissionais e Não-Profissionais continuam em vigor osatuais Códigos, com as alterações constantes desta Lei.

Art. 92. Os atuais atletas profissionais de futebol, dequalquer idade, que, na data entrada em vigor desta Lei,estiverem com passe livre, permanecerão nesta situação, ea rescisão seus contratos de trabalho dar-se-á nos termosdos arts. 479 e 480 da C.L.T.

Art. 93. O disposto no art. 28, § 2º, desta lei somenteproduzirá efeitos jurídicos a partir de 26 de março de 2001,respeitados os direitos adquiridos decorrentes dos contratosde trabalho e vínculos desportivos de atletas profissionaispactuados com base na legislação anterior. (NR)

Redação original: O disposto no§ 2º do art. 28 somente entraráem vigor após três anos a partirda vigência desta Lei.

Parágrafo único. (VETADO) Texto do parágrafo únicovetado: O disposto neste artigonão produz efeitos jurídicos,quanto ao vínculo desportivo, noscontratos firmados a partir davigência da Medida Provisória nº2.011-3, de 30 de dezembro de1999 e das reedições que deramnova redação ao art. 30 da Lei nº9.615/98. (AC)

Art. 94. Os arts. 27, 27-A, 28, 29, 30, 39, 43, 45 e o § 1º doart. 41 desta lei serão obrigatórios exclusivamente paraatletas e entidades de prática profissional da modalidadefutebol. (NR)

Redação original: As entidadesdesportivas praticantes ouparticipantes de competiçõesatletas profissionais terão o prazode dois anos para se adaptar aodisposto no art. 27.

Parágrafo único. É facultado às demais modalidadesdesportivas adotar os preceitos constantes dos dispositivosreferidos no caput deste artigo.(AC)

Art. 94-A. O Poder Executivo regulamentará o dispostonesta lei, inclusive a distribuição dos recursos, gradação dasmultas e os procedimentos de sua aplicação. (AC)

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Art. 95. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.Art. 96. São revogados, a partir da vigência do disposto no

§ 2 º do art. 28 desta Lei, os incisos II e V e os §§ 1º e 3º doart. 32, os arts. 4º, 6º, 11 e 13, o § 2º do art. 15, o parágrafoúnico do art. 16 e os arts. 23 e 26 da Lei nº 6.354, de 2 desetembro de 1976. São revogadas partir da data depublicação desta Lei, as Leis nºs 8.672, de 6 de julho de1993, e 8.946, de 5 dezembro de 1994.

(Art. 5º) Revoga-se a Lei nº 9.940, de 21 de dezembro de1999.

(Art. 6º) Ficam convalidados os atos praticados com basena Medida Provisória nº 2.011, de 26 de maio de 2000.

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