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A LÓGICA DA PESQUISA CIENTÍFICA KARL POPPER Notas sobre o livro Por Claudia Castro de Andrade

A LÓGICA DE KARL POPPER

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A LÓGICA DA PESQUISA CIENTÍFICAKARL POPPERNotas sobre o livro

Por Claudia Castro de Andrade

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1. DEFINIÇÃO

Segundo Popper:

“A tarefa da lógica da pesquisa científica, ou da lógica do conhecimento, é, (...) analisar o método das ciências empíricas” (POPPER, 1993, p. 27). Nisto se

fundamenta, vale lembrar, o racionalismo crítico de Popper.

Disto se conclui que o método das ciências empíricas não se justificam pela própria empiria, ou seja, pela própria experiência, mas sim, pelo raciocínio lógico. Isto ocorre em vista do problema da indução¹ que transforma enunciados singulares (particulares) em enunciados universais (hipóteses ou teorias), o que para Popper é um erro.

Desse modo, o método indutivo tende a universalizar conceitos a partir da experiência (conceitos da experiência tornados universais pela própria experiência), mas a experiência refere-se a enunciados singulares que não podem, de acordo com Popper, serem universalizados. Tampouco podem os enunciados universais ser conhecidos pela experiência (id. P. 28), isto é, a verdade acerca dos enunciados universais não podem se reduzir a enunciados singulares.

Indução¹ – a partir de casos particulares conclui-se uma proposição geral, porém, como baseia-se em probabilidade, pode levar a erros.

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Muitas pessoas acreditam, com efeito, que a verdade desses enunciados universais é ‘conhecida através da experiência’; contudo, está claro que a descrição

de uma experiência – de uma observação ou do resultado de um experimento – só pode ser um

enunciado singular e não um enunciado universal. Nesses termos, as pessoas que dizem que é com

base na experiência que conhecemos a verdade de um enunciado universal querem normalmente dizer que a verdade desse enunciado universal pode, de

uma forma ou de outra, reduzir-se à verdade de enunciados singulares e que, por experiência, sabe-

se serem estes verdadeiros. Equivale isso a dizer que o enunciado universal baseia-se em inferência

indutiva.(id.p. 28)

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DAVID HUME

Popper critica David Hume por não ter explicado acerca das incoerências do método

indutivo. (id. P. 29). Hume considera que acreditamos no conhecimento como resultado de nossos

hábitos. Pensamos assim porque acreditamos no princípio de causalidade, isto é, como se todas as coisas, ou efeitos, possuíssem uma

causa. Diante disso, Hume se pergunta: porque uma causa é sempre necessária? E, a

partir disso, vai tecer argumentos contra a necessidade de causa.

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A CRÍTICA DE POPPER A HUME E O RESGATES DO STATUS CIENTÍFICO CONTRA O CETICISMO HUMIANO

Nesse sentido, Popper, embora concorde com Hume sobre a impossibilidade de uma validação

do conhecimento pela experiência, procura resgatar o conhecimento racional e científico

mediante o entendimento de que o princípio da indução justifica-se através de um enunciado

universal. A indução, ou como diz Popper, o princípio da

indução é, portanto, tributário dos enunciados universais, não fosse assim, ou seja, se a verdade

de um enunciado universal decorresse da experiência faríamos uma regressão ao infinito, na medida em que precisaríamos validar uma

experiência a partir de outra e assim ad infinitum.

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IMMANUEL KANT E OS TIPOS DE JUÍZO

Já a crítica de Popper a Kant refere-se aos juízos sintéticos a priori. É válido, portanto, que façamos uma breve exposição do pensamento kantiano sobre o tipos de juízos:

O JUÍZO ANALÍTICO A PRIORI

O JUÍZO SINTÉTICO A POSTERIORI

O JUÍZO SINTÉTICO A PRIORI

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O JUÍZO ANALÍTICO A PRIORI

Juízo analítico (conhecimento implícito) a priori (anterior à experiência) – é universal e necessário. Podemos dizer que contém o princípio da obviedade acerca do conteúdo do conhecimento e independem de nossa experiência empírica. Assim, a informação já está na coisa, cabendo a nós apenas descobri-la.

Ex: o triângulo tem 3 lados; o homem é bípede; o cachorro é quadrúpede.

Esses tipos de juízos são óbvios, fundam-se, portanto, no princípio da identidade e, desse modo, não ampliam o conhecimento.

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O JUÍZO SINTÉTICO A POSTERIORI

Juízo sintético (juízo aditivo) a posteriori (efetiva-se na experiência) – é um juízo específico, não é universal e não é necessário para uma efetiva compreensão de algo, no entanto, é adicional, amplia o entendimento acerca de um determinado conteúdo do conhecimento que neste caso é a régua.

Ex: A régua é verde.

A cor verde acrescenta uma informação sobre a régua, entretanto, a qualidade a posteriori de uma coisa não é algo necessário para que se compreenda o que seja esta coisa, por esta razão não é um juízo necessário. Além disso, ser verde não é atributo de todas as réguas do mundo, é, pois, uma qualidade específica, é particular e não é universal.

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O JUÍZO SINTÉTICO A PRIORI

Juízo sintético (juízo aditivo) a priori (anterior à experiência) – como todo conteúdo a priori, é universal e necessário, ou seja, faz parte da constituição da coisa, sem a qual esta coisa perderia sua identidade, mas, ao mesmo tempo, é sintético porque insere uma nova informação a respeito da coisa. É como justificar uma qualidade a partir do conceito de essência (a priori). È perceber a partir de inferências indutivas, as essências da coisa.

Concluindo, vimos que:

O juízo analítico a priori está implícito na coisa, sendo por isso universal e necessário para sua definição enquanto tal, mas que não traz nada de novo;

O juízo sintético a posteriori traz uma informação nova que particulariza a coisa, mas que por ser particular não é universal e como não está implícito, como não é qualidade inerente da coisa não é necessário.

O juízo sintético a priori realiza a síntese do analítico com o sintético, pois define-se como um juízo que está implícito e mesmo assim traz uma informação nova, é implícito, como os juízos analíticos, e aditivo, como os juízos sintéticos.

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Também estão fundados no princípio da identidade, sendo então independentes da experiência empírica, mas mesmo implícitos na coisa, adicionam uma informação nova, como por exemplo:

Ex: A soma dos ângulos internos de um triângulo é igual a dois ângulos retos (180°). (teorema da soma dos ângulos internos de um triângulo).

Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Trig%C3%A9sima_segunda_proposi%C3%A7%C3%A3o_de_Euclides

O conteúdo de um conhecimento é o triângulo, seus graus são os produtos desse triângulo, ou seja, desse conteúdo do conhecimento, mas o teorema exposto sobre o triângulo não é uma qualidade a posteriori tal como vimos nos juízos sintéticos a posteriori acerca da cor verde da régua.

Ao contrário, a diferença entre a soma dos ângulos internos do triângulo e a cor verde da régua é que o primeiro é uma qualidade intrínseca do objeto, da coisa, é um universal e necessário, e, além disso, adiciona uma informação a mais, e o segundo, é particular.

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A CRÍTICA DE POPPER AOS JUÍZOS SINTÉTICOS A PRIORI DE KANT

A crítica de Popper se dá no sentido de que Popper considera que os juízos sintéticos a priori não passam de

hipóteses e, enquanto hipóteses, são passíveis de passarem pelo crivo do critério por ele estabelecido e

nomeado como “critério de falseabilidade” ou “falseacionismo”, que veremos mais adiante.

Além disso, Popper discorda da ideia, “segundo a qual, a inferência indutiva, embora não ‘estritamente válida’,

pode atingir algum grau de ‘confiabilidade’ ou ‘probabilidade’. Conforme essa doutrina, as inferências

indutivas apresentam-se como ‘inferências prováveis’. (id. p. 30).

Sendo, os juízos sintéticos a priori, constatados por inferência indutiva, como a soma dos ângulos internos de um triângulo, leva Popper a afirmar que a “justificação a

priori para os enunciados sintéticos tenha alcançado êxito.” (id. p. 29).

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OS VALORES ÉTICOS DE POPPER

A preocupação de Popper é com a ética e com o dogmatismo. Como diz Oliveira (2011, p. 22):

“A identificação da coerência entre a vida, a obra e os valores de Popper é fundamental para se entender o sentido da base ética de

sua filosofia”.

“(...) a base ética permite uma compreensão mais fiel do pensamento popperiano” (id. P.

30).

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O MÉTODO DEDUTIVO DE PROVA Para Popper, “uma hipótese só admite prova empírica –

e tão-somente, após haver sido formulada”. (id. p. 30). Em outras palavras, a experiência só oferece provas à

hipóteses anteriormente formuladas, não sendo ela mesma (a experiência), um mecanismo habilitado a nos oferecer conclusões hipotético-dedutivas., isto é, conclusões oriundas de hipóteses pela via da dedução.

Seu método dedutivo baseia-se então: Primeiro a hipótese e depois a comprovação empírica. Para Popper, a experiência não gera teorias, ela

comprova teorias. A necessidade de comprovação empírica se dá pelo fato de que a experiência tem como fim evitar conclusões metafísicas e não validar teorias por meras especulações sem qualquer rigor lógico.

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COMPROVAÇÃO EMPÍRICA X ESPECULAÇÃO

“Com rejeitar o método da indução (...) afasto as barreiras a separar a ciência da especulação metafísica” (id. P. 34).

“Ora, a meu ver, não existe a chamada indução. Nestes termos, inferências que levam a teorias, partindo-se de enunciados singulares ‘verificados por experiência’ (não importa o que isto possa significar são logicamente inadmissíveis)” (id. P. 41).

E ele diz ainda: “Caberá, em seguida, examinar se, uma vez introduzido, esse

princípio pode ser aplicado sem dar origens a incongruências, se ele é útil, se é realmente necessário. É esse tipo de

investigação que me leva a prescindir do princípio de indução: não porque tal princípio jamais tenha sido, me verdade,

empregado pela Ciência, mas porque acho que ele é desnecessário, que ele não nos ajuda e que chega mesmo a

dar origens a incongruências” (id. P. 55) No entanto, Popper diz também: “Só reconhecerei um sistema

como empírico ou científico se ele for passível de comprovação pela experiência” (id. P. 42).

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A DISTINÇÃO ENTRE A PSICOLOGIA DO CONHECIMENTO E A LÓGICA DO CONHECIMENTO

Psicologia do Conhecimento – se ocupa dos fatos empíricos e do processo de concepção de uma nova ideia (formulação de teorias), e fundamenta-se pelos “processos envolvidos na estimulação e produção de

uma inspiração” (id. P. 32) [grifo meu] e na experiência subjetiva, como diz Popper, “a questão de saber como uma ideia nova ocorre no homem”. (id.

p. 31). Lógica do Conhecimento – se preocupa

exclusivamente com relações lógicas, “a questões de justificação ou validade” (...) “Suas indagações são do tipo seguinte: pode um enunciado ser justificado?” (id. Ibid.). Funda-se na análise racional das relações lógicas que uma determinada ideia possa estabelecer, afinal,

não se pode reduzir enunciados científicos a experiências pessoais.

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A TAREFA DA LÓGICA DO CONHECIMENTO

Segundo Popper, “a tarefa da Lógica do Conhecimento consiste em investigar os métodos empregados nas provas

sistemáticas a que toda ideia nova de ser submetida para que possa ser levada em consideração” (id. P. 32).

Ele afirma ainda que “a primeira tarefa da lógica do conhecimento é a de elaborar um conceito de ciência

empírica, (...) de modo a traçar uma linha de demarcação entre ciências e ideias metafísicas”. (id. P. 40).

A questão principal para Popper não é saber as reais intenções e ideias do sujeito, mas refletir sobre a coerência interna de

um método científico por ele empregado para que se possa, a partir disso, conhecer a verdade ou falsidade de suas

argumentações. Tal método de Popper, aliás, na verdade, reflete sua preocupação com a ética, pois sua opção pela

método lógico em vez do método psicológico, também é capaz de revelar as implicações éticas que uma teoria possa ter.

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OS 4 MODOS DE SE SUBMETER UMA TEORIA À PROVA 1) comparação lógica das conclusões a fim de se obter a coerência

interna do sistema; 2) investigação lógica da teoria a fim de se determinar se é uma teoria

empírica, científica ou tautológica¹; 3) comparação com outras teorias a fim de se descobrir se ela

representa um avanço científico; 4) comprovação empírica da teoria, submetendo-a à prova através de

comparações com a realidade, cuja finalidade é verificar se as teorias respondem às exigências da prática, confrontando assim, os enunciados deduzidos por uma teoria com “os resultados das aplicações práticas e dos experimentos” (id. P. 34).

Tautológicas ¹– Aquilo que subsequentemente se veio chamar de "enunciados analíticos”, isto é, enunciados, cujos juízos estão implícitos na coisa. O predicado de B está inserido em A. Negar este tipo de juízo (tautológico) é cair em contradição, como por exemplo dizer que “todo corpo é extenso”, não traz nenhuma informação nova, não informa nada que já não soubéssemos, além disso não se pode negar esta informação.

Juízos tautológicos possuem 2 características: Não trazem informação nova; Não se pode contradizer.

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O PROBLEMA DA DEMARCAÇÃO “Denomino problema de demarcação o problema de

estabelecer um critério que nos habilite a distinguir entre as ciências empíricas, de uma parte, e a Matemática e a Lógica, bem como os sistemas ‘metafísicos’ de outro.” (id. P. 35).

Obs: Metafísicos aqui significam a abstração formal que não possui comprovação empírica, mas apenas lógica, e que se encontra na base dos argumentos lógicos, por esta razão no texto de Popper o termo está entre aspas, pois não pressupõe uma metafísica no sentido de algo oculto, místico ou que não se revela por conclusões óbvias. Ademais, Popper não exclui a metafísica, tal como fizeram os positivistas lógicos do Círculo de Viena, só não a considera quando relacionada ao fazer científico, no entanto, Popper não abandona a metafísica por considerar que é através da intuição que o cientista descobre eventos científicos e é a partir de uma fé irracional que ele credita veracidade a esses eventos.

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Entretanto, assim como podem haver silogismos que, mesmo contendo conexões lógicas, podem induzir a erros sistemáticos, tal como:

Premissa maior: Todos os homens são tigres Premissa menor: Sócrates é homem Conclusão: Logo, Sócrates é tigre.

Nota: o silogismo acima apresentado contém um erro, mas as premissas e a conclusão, mesmo com o erro, possuem conexão lógica entre si.

Da mesma forma, um enunciado pode induzir a erro mesmo contendo conexão lógica em seu enunciado ou estar baseado em fundamentos que não possuam comprovação empírica capaz de torná-lo cientificamente válido.

Exemplo: “(...) é impossível que a ideia de Deus que em nós existe não

tenha o próprio Deus por sua causa”. (Descartes, 1983, p. 81).

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DEMARCAÇÃO COMO CRITÉRIO ACEITÁVEL A demarcação como critério aceitável significa dizer que

não se deve fazer uso da lógica indutiva tal como fizeram os positivistas lógicos que, como diz Popper, “interpretam o problema da demarcação de maneira

naturalista; interpretam-no como se ele fosse um problema da ciência natural” (id. P. 36), fazendo uso da

ciência empírica (experiência), isto é, do indutivismo lógico que Popper tanto critica. (lembrar que para

Popper a experiência só serve como comprovação e não como fundamento lógico).

Popper diz ainda: “O critério de demarcação inerente à lógica indutiva (...) equivale ao requisito de que todos os enunciados da ciência empírica (ou todos os enunciados ‘significativos’) devem ser suscetíveis de serem, afinal, julgados com respeito à sua verdade e falsidade”. (id. P.

41)

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Popper lembra que “não há dúvida de que o que os positivistas realmente desejam não é tanto uma bem sucedida

demarcação, mas a derrubada total e a aniquilação da metafísica” (id. P. 36).

Entretanto, continua ele, “os positivistas, em sua ânsia de aniquilar a Metafísica, aniquilam, com ela, a Ciência Natural” (id. P. 37). Assim, confessa Popper: “meu objetivo, tal como o

vejo, não é o de provocar a derrocada da metafísica” (id. P. 38). A defesa de Popper pela Metafísica explica-se do seguinte

modo: Popper acredita, a partir de Einstein (id. P. 32) que não há caminho lógico que leve a leis universais, pois isto somente

se realiza, por intuição, por um amor intelectual e por uma dedução pura capaz de fornecer uma imagem do universo.

Além disso, ele afirma também que “toda descoberta encerra um ‘elemento irracional’ ou ‘uma intuição criadora’, no sentido

de Bergson.” (id. Ibid.). A intuição pode ser entendida, portanto, como uma

experiência metafísica.

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A EXPERIÊNCIA COMO MÉTODO: MUNDOS POSSÍVEIS E O MUNDO DA NOSSA EXPERIÊNCIA

Segundo Popper, há muitos mundos logicamente possíveis, mas a ciência empírica deve pretender representar apenas um mundo, o mundo da nossa

experiência. (id. P. 40) Desse modo, entende-se que a lógica se aplica à

realidade e só a realidade poderá refutá-la.Popper afirma que um sistema teórico precisa de três itens,

são eles: 1º) deve ser sintético (síntese da experiência), de modo a

representar um mundo possível;2º) deve satisfazer um critério de demarcação que o faça

ser não metafísico e representar, ao mesmo tempo, um mundo de experiência possível;

3º) não deve pretender ser a única representação do mundo da experiência.

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A FALSEABILIDADE COMO CRITÉRIO DE DEMARCAÇÃO “(...) deve ser tomado como critério de demarcação, não a

verificabilidade, mas a falseabilidade de um sistema” (id. P. 42).

Além disso, um sistema científico deve ser passível de ser falseado, sob pena de ser não um sistema científico, mas

uma crença, um dogma e também estar adequado à realidade.

“Deve ser possível refutar, pela experiência, um sistema científico empírico”(id. P. 42).

“O enunciado ‘Choverá ou não choverá aqui, amanhã’, não será considerado empírico, simplesmente porque não

admite refutação, ao passo que será considerado empírico o enunciado ‘Choverá aqui, amanhã’. (id. P. 42).

O que admite probabilidades não é passível de refutação, além disso, só é, de fato, considerado empírico aquilo do qual podemos fazer observações, ou seja, observação acerca de fatos, acontecimentos.

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A FALSEABILIDADE NO LUGAR DA VERIFICABILIDADE

Popper entende que não basta apenas verificar, é preciso verificar e aplicar o

critério falseacionista, através do silogismo hipotético denominado Modus Tollens (MT)

que é um modo formal de negação da lógica clássica aristotélica.

Ele diz: “Consequentemente, é possível, através de

recurso a inferências puramente dedutivas, (com auxílio do modus tollens, da lógica

tradicional), concluir acerca da falsidade de enunciados universais a partir da verdade de

enunciados singulares).” (id. P. 43).

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A DIFERENÇA ENTRE O MODUS PONENS E O MODUS TOLLENS DA LÓGICA CLÁSSICA ARISTOTÉLICA

Em lógica: Modus ponens (MP) (Latim: modo que afirma) Se P, então Q (P → Q). P é verdadeiro. Logo, Q é verdadeiro. Só verifica se um enunciado é verdadeiro, não se ele é falso,

ou seja, no MP não se verifica se o que é tomado como verdade, é, de fato, verdade.

Modus tollens (MT) (Latim: modo que nega) Se P, então Q. Q é falso. Logo, P é falso. Se p então q; não q; consequentemente não p O MT insere uma proposição condicional e questiona a

veracidade

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O PROBLEMA DA “BASE EMPÍRICA” Popper não nega que as inferências sejam falseadas

por premissas de enunciados singulares, mas, segundo ele mesmo afirma, “algo se ganha” ( id. P. 45). Entretanto, “é certo que ocorrem erros de observação e que estes podem dar origem a enunciados singulares falsos, mas o cientista raramente tem ocasião de apresentar um enunciado singular como não empírico ou metafísico” (id. Ibid.).

Com isto se conclui que “o problema da base empírica’, tal como descrito por Popper, é termos de confiar nos enunciados singulares como comprovadores de teorias. No entanto, Popper diz que “é possível chegar a uma solução, caso separemos os aspectos psicológicos do problema de seus aspectos lógicos e metodológicos” (id. P. 45).

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“Precisamos distinguir, de uma parte, nossas experiências subjetivas ou nosso sentimento

de convicção, que jamais podem justificar qualquer enunciado (embora possam tornar-se objeto de investigação psicológica) e, de outra parte, as relações lógicas objetivas,

que se manifestam entre os vários sistemas de enunciados científicos e dentro de cada

um deles.” (id. P. 46).

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O PROBLEMA DA TEORIA DO MÉTODO CIENTÍFICO Para Popper, o método que escolhemos e utilizamos

em nosso trabalho científico é fundamental para que se compreenda a manipulação dos enunciados científicos, o que é capaz de revelar, por exemplo, o tipo de atitude que se toma diante da ciência. (id. p. 51).

Diante disso, Popper defende um posicionamento crítico em relação aos enunciados empíricos, a fim de que sejam suscetíveis de revisão, fazendo com que sejam não somente passíveis de verificação, mas também falsificação, para que possam, talvez, ser substituídos por enunciados mais adequados.

Nem mesmo um sistema que tenha obtido êxito deve estar isento de críticas, pois para Popper a atitude crítica deve fazer parte da vida do cientista.

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OBJETIVIDADE CIENTÍFICA E AS REGRAS METODOLÓGICAS Para Popper, através das convenções de regras

metodológicas podemos compreender a objetividade científica.

“Só a partir das consequências de minha definição de ciência empírica e das decisões metodológicas dela dependentes poderá o cientista perceber até que

ponto ela se conforma com a ideia intuitiva que tem acerca do objetivo de suas atividades” (id. P. 57).

Pois, “pode-se, sem dúvida, dizer que a maioria dos

problemas de filosofia teórica, e os mais interessantes, podem, ao longo dessas linhas, ser reinterpretados como problemas do método” (id. P.

58).

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: DESCARTES, R. Meditações Metafísicas. São Paulo: Abril

Cultural, 1983.

HUME, D. Investigação sobre o Entendimento Humano. São Paulo: Nota Cultural. Col. Os Pensadores.

KANT, I. Crítica da Razão pura. Tradução de Manuela Pinto dos Santos e Alexandre Fradique Morujão; Introdução e Notas de Alexandre Fradique Morujão. 3. ed. Lisboa : Fundação Calouste Gulbenkian, 1994.

OLIVERIA, P. E. Da ética à Ciência: uma Nova Leitura de Karl Popper. Rio de Janeiro: Editora Paulus, 2011.

POPPER, K. R. Lógica da Pesquisa Científica. São Paulo: Cultrix, 1993 (9ªed.).

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