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A Nefropatia Diabética Aumenta as Alterações Morfológicas Após a Aplicação de Ondas de Choque

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A nefropatia diabética aumenta as alteraçõesmorfológicas após a aplicação de ondas de choque?

Oskar Grau KaufmannCarlos Gustavo

Yuji VerrastroAlexandre Pascotto, Rosana Delcelo

Valdemar OrtizMiguel Srougi

Departamento de Urologia - Escola Paulista de Medicina. São Paulo, Brasil.

Numeração de páginas na revista impressa: 67 à 69

Introdução

A doença litiásica urinária atinge de 3% a 5% da população, causando enormesprejuízos socioeconômicos, chegando a atingir de 2% a 3% de morbidade nos diasatuais(1,2).

Há algum tempo o tratamento desta patologia consistia basicamente em cirurgiaaberta, procedimentos cistoscópicos, extração com sondas e c irurgia percutâneapara a maioria dos cálculos que não eram eliminados espontaneamente(3).

No início dos anos 80, Chaussy e cols. utilizaram em seres humanos, pela primeiravez, ondas de choque para fragmentar cálculos renais. Iniciou-se uma nova era notratamento da litíase urinária(4).

Inicialmente apenas 20% dos pacientes portadores de cálculos renais tinhamindicação de litotripsia extracorpórea por ondas de choque (LECO). Porém, em1993, a sua utilização já havia se ampliado para praticamente 85% dos casos,devido aos bons resultados obtidos na prática clínica(5).

Cerca de 90% dos pacientes com cálculos renais de até 2,0 cm eliminamcompletamente os fragmentos com apenas uma sessão de LECO; 7% necessitaram

de reaplicação e 1,5% de duas ou mais reaplicações(6). Nos cálculos maiores de2,0 cm 25% dos pacientes precisaram de duas ou mais reaplicações(6).

Alguns estudos na literatura utilizaram modelos animais de experimentação, com oobjetivo de verificar os efeitos das ondas de choque nos rins(6-11). Algunsdemonstraram não haver lesão tecidual nos rins de ratos submetidos à aplicaçãode ondas de choque(12), enquanto outros revelaram graus mínimos de lesão renalque se resolveram espontaneamente(13).

Recker & cols. estudaram rins de ratos submetidos à aplicação de 500, 1000 e2000 ondas de choque e avaliados após 24 horas, 7 e 35 dias. Encontraram

alterações morfológicas como hemorragia glomerular, dilatação tubular, atrofia enecrose parcial imediatamente após a aplicação das ondas de choque. Nos demaisperíodos de observação encontraram poucos casos de fibrose c icatricial eesclerose tubular(9). Outros estudos encontraram correlação entre a intensidadedas alterações (necrose tubular) e o número de ondas de choque(14). Emavaliação por ressonância nuclear magnética, encontrou-se perda da junção

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corticomedular, hematoma subcapsular e retração fibrótica da convexidaderenal(15). O exame microscópico revelou hemorragia subcapsular, ruptura de veiasinterlobares e arqueadas, levando à hemorragia intersticial e intrapiélica(10).

Na literatura pesquisada, as alterações morfológicas, na aplicação de ondas dechoque, foram bem estudadas, porém não foram encontrados estudos sobre aaplicação de ondas de choque em rins de ratos diabéticos.

Considerando a importância clínica das alterações quanto à lesão renal após

aplicação de ondas de choque e à prevalência de diabetes na população, criou-sea motivação para a realização deste estudo.

Materiais e métodos

Foram utilizados dois grupos de animais: o primeiro com 12 ratas Wistar-EPM e osegundo com 12 ratas diabéticas - neste grupo se induziu diabetes pelo uso de 1mg/kg de Estreptozotocina endovenosa. Após 21 dias foram colhidas amostras deurina de 24 horas, a fim de se constatar a nefropatia diabética através damicroalbuminúria (acima de 0,4 mg/24 h).

HI: Hemorragia intersticial HC: Hemorragia cortical HG: Hemorragia glomerular HM: Hemorragia medular CG: Congestão glomerular CHP: Cilindros hemáticos protéicosNTA: Necrose tubular aguda

Gráfico 1 - Achados histopatológicos encontrados entre os ratos normais e

diabéticos.

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O experimento foi subdividido em três fases:

a. Colocação de marcador radiopaco no rim esquerdo de todos os animais;b. Aplicação de uma sessão de 2000 ondas de choque a 14 KeV;c. Nefrectomia bilateral e eutanásia.

Os animais foram anestesiados com cloridrato de quetamina e solução de xilazinana proporção de 5:2, com 0,1 ml de solução para cada 100 gramas de peso, pormeio de injeção intramuscular. Realizada tricotomia da região abdominal e anti-sepsia local.Por meio de uma laparotomia mediana o rim esquerdo foi exposto e marcado comfio radiopaco proveniente de compressa de gaze, sendo suturado na parteposterior da bainha gordurosa renal com fio de algodão 4-0. O rim foi reposicionadonovamente na loja renal e a parede abdominal suturada.

Após o procedimento, os animais foram radiografados para confirmar a posição domarcador.

Decorridos 14 dias após a colocação do marcador os animais foram novamenteanestesiados e submetidos à aplicação de ondas de choque. O aparelho delitotripsia utilizado foi o Macstone 1000. Através de radioscopia foi localizado omarcador radiopaco e aplicadas 2.000 ondas de choque a 14 KeV de intensidade.Após 24 horas do procedimento os animais foram novamente anestesiados ereoperados. Realizada nefrectomia bilateral, seguida de eutanásia com dose letalde anestésico.Imediatamente após a nefrectomia os rins foram bipartidos e f ixados em solução

de formol a 10% durante 24 horas, seguida da preparação de blocos de parafina.Lâminas foram coradas pela técnica de hematoxilina e eosina (HE) para avaliaçãodos seguintes parâmetros histopatológicos: hemorragia cortical, intersticial,glomerular, necrose tubular aguda e presença de cilindros hemáticos e proteínasnos túbulos. Os resultados obtidos foram submetidos à avaliação estatística pelométodo de Wilcoxon/Mann-Whitney, considerando-se o nível de significânciaquando p<0,05.

Resultados

Durante o estudo pode observar-se que não houveram mortes após a aplicação de

ondas de choque nos animais.

Hemorragias corticais e interstic iais estavam presentes em 8% dos animais nãodiabéticos normais e não foram observadas no grupo diabético. Os dois gruposapresentaram 16% de hemorragia medular, enquanto que a hemorragia glomerularfoi de 8% no grupo normal e 16% nos diabéticos. Congestão glomerular estava

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presente em 8% nos dois grupos; necrose tubular aguda em 16% dos normais e8% dos diabéticos; cilindros hemáticos protéicos em 8% dos normais e 16% dosdiabéticos.

Não se encontrou alteração estatística significante em relação aos parâmetrosestudados.

Tais resultados podem ser mais bem avaliados pela Tabela 1 e Gráfico 1, quedemonstram os achados histopatológicos entre os ratos normais e os diabéticos.

Conclusão

Em ratos diabéticos as alterações morfológicas são semelhantes àquelasobservadas em ratos não diabéticos.

Discussão

Investigações dos efeitos celulares das ondas de choque foram utilizadasinicialmente para estudar as possíveis aplicações para células neoplásicas,entretanto serviram para nos fornecer informações sobre os efeitos nas células

normais.

Estudos iniciais mostraram que as alterações ocorridas após a exposição às ondasde choque foram mínimas e se resolveram rapidamente(12). As ondas de choqueatravessaram os tecidos sofrendo mínimas atenuações(12).

Através da microscopia eletrônica foi possível mostrar perda difusa damicrovilosidade ciliar, além da vacuolização, descamação e ruptura glomerular norim de ratos expostos às ondas de choque(9).

Diversos efeitos das ondas de choque nos rins são relatados pela literatura. Asprincipais alterações morfológicas encontradas foram: hemorragia subcapsular,

hemorragia intersticial, hemorragia glomerular, hemorragia cortical, perda da junçãocorticomedular, infiltrado crônico, microse cortical e edema perivascular(16). Asprincipais alterações funcionais das ondas de choque sobre o rim foram: alteraçõesna fisiologia glomerular tubular e vascular renal, queda do fluxo plasmático efet ivo,alteração na taxa de filtração glomerular, aumento de beta-2-microglobulinas, N-acetil-glucosaminidase (NAG), fosfatase alcalina (FA), desidrogenase láctica (DHL)(17).

Não existem dados na literatura relacionando nefropatia diabética e aplicação deondas de choque. Pacientes diabéticos submetidos a LECO poderiam apresentaralterações de sua nefropatia. Tal observação ainda não foi objeto de estudo.No presente estudo não se constatou intensidade maior de lesões renaisproduzidas pelas ondas de choque em rins de ratos diabéticos, quandocomparados aos não diabéticos. Em um próximo estudo iremos acompanhar osratos diabéticos submetidos a ondas de choque por períodos longos de observaçãoe avaliar o comportamento de sua nefropatia.

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