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    Edmir Mantellatto

    A Obra de Ruy Ohtake:Uma contribuio para a co mpreenso do processo do desenho da arquitetura

    contempornea.

    UNIVERSIDADE DE SO PAULOFaculdade de Arqui tetura e Urbanismo

    So Paulo, 2012

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    Ilustrao da capa:

    Croqui demonstrativo do Museu do Surf, elaborado por Ruy Ohtake

    Durante entrevista em seu escritrio, no dia 05 de maio de 2008.

    Fonte: Arquivo pessoal.

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    EDMIR MANTELLATTO

    A obra de Ruy Ohtake:

    Uma contribuio para a compreenso do processo do desenho da

    arquitetura contempornea.

    So Paulo2012

    Dissertao de Mestrado apresentada Faculdade de

    Arquitetura e Urbanismo da Universidade de So Paulo

    como parte dos requisitos necessrios obteno do grau

    de Mestre.

    rea de concentrao: Projeto de Arquitetura

    Orientador: Prof. Dr. Helena Aparecida Ayoub Silva

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    AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OUELETRNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

    E-MAIL DO AUTOR: [email protected]

    Mantellatto, Edmir

    M292o A obra de Ruy Ohtake: uma contribuio para a compreensodo desenho da arquitetura contempornea / Edmir Mantellatto. SoPaulo, 2012.

    260 p. : il.

    Dissertao (Mestrado - rea de Concentrao: Projeto deArquitetura) FAUUSP.

    Orientadora: Helena Aparecida Ayoub Silva

    1.Arquitetura moderna Brasil 2.Projeto de arquitetura3.Ohtake, Ruy, 1938- I.Ttulo

    CDU 72.036(81)

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    Prof. Dr. ______________________________________________________Instituio:__________________________________________________

    Julgamento:_________________________________________________ Assinatura: __________________________________________________

    Prof. Dr. ______________________________________________________Instituio:__________________________________________________

    Julgamento:_________________________________________________ Assinatura: __________________________________________________

    Prof. Dr. ______________________________________________________Instituio:__________________________________________________

    Julgamento:_________________________________________________ Assinatura: __________________________________________________

    EDMIR MANTELLATTO

    A obra de Ruy Ohtake:

    Uma contribuio para a compreenso do processo do desenho da arquitetura contempornea .

    Dissertao de Mestrado apresentada Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

    da Universidade de So Paulo como parte dos requisitos necessrios obteno

    do grau de Mestre.

    Aprovado em:

    Banca Examinadora

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    Para

    Anglica,

    Aline, Alice, Paulo e Laura

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    AGRADECIMENTOS

    Aos professores da FAUUSP

    Lcio Gomes Machado, pelo incentivo e apoio;

    Paulo Jlio Valentino Bruna, pelas valorosas conversas na

    FAUUSP, sobre os caminhos a serem trilhados na presente

    dissertao.

    Celso Lamparelli, Maria Ruth do Amaral Sampaio e Jos

    Tavares de Lira, pelas preciosas indicaes metodolgicas;

    Monica Junqueira de Camargo e Hugo Segawa, pelo

    compartilhamento das experincias e prticas

    pedaggicas;

    Jlio Roberto Katinsky, pelas observaes e orientaes

    durante o exame de qualificao;

    Helena Aparecida Ayoub Silva, pela dedicao e incentivo

    durante a orientao deste trabalho.

    Anglica, minha esposa, pelo apoio incondicional;

    Aos meus filhos, pelo incentivo de retorno academia.

    Ao arquiteto Ruy Ohtake, pela gentileza, apoio e sobretudo

    pelas valiosas conversas em seu escritrio;

    Aos colegas da Prefeitura Municipal de Santos que sempre

    acolheram minhas solicitaes, disponibilizando todo o

    material necessrio;

    Enfim, a todos os que colaboraram direta ou indiretamente

    para a realizao da presente dissertao de mestrado.

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    Acho que preciso valorizar o desenho. assim que a arquitetura se expressa.

    Fazer ressurgir a esperana.

    Bela e expressiva.

    Ruy Ohtake

    WOLF, Jos. Uma pedra no caminho. Depoimentos sobre a Escola Paulista.

    Revista AU 17, abril/ maio, 1988. p. 58.

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    RESUMO

    Este trabalho busca entender o processo de

    elaborao dos projetos do arquiteto Ruy Ohtake, que

    ainda no foi alvo de um estudo criterioso. A principal

    referncia para um estudo de caso o projeto e a obra do

    Museu do Surf (2006-2008) construdo na cidade de

    Santos, SP. Analisa por meio deste projeto a metodologia

    projetual do arquiteto, apresentando por meio do ambiente

    cultural, as referncias, as caractersticas principais e a

    transformao de seu repertrio formal. Identifica como

    Ohtake projeta suas obras, as determinantes de suas

    opes projetuais e, conclui que um desenho

    contemporneo traz em si a imanncia de um processo.

    Palavras-chave:Ruy Ohtake / Arquitetura contempornea brasileira /

    Processo de projeto.

    ABSTRACT

    This work seeks to understand the process ofelaboration of projects by architect Ruy Ohtake, wich has

    not been the subject of careful study. The main reference

    for a case study is the work of the project and Surf Museum

    (2006 2008) built in the city of Santos, SP. Through this

    project examines the methodology projectual of the

    architect, showing the environment through cultural

    references, the main characteristics and the transformation

    of this formal repertoire. Identifies how designs Ohtake his

    works, the determinants of their choice about design, and

    concludes that a contemporary design bears the

    immanence of a process.

    Keywords:

    Ruy Ohtake / Brazilian contemporary architecture / Design

    process.

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    SUMRIO

    CAP TULO 1

    Introduo 15

    CAP TULO 2

    2.1 - A exposio RUY OHTAKE: PRESENTE! 27

    CAP TULO 3

    3.1 - O Ambiente cultural 533.2 - Caractersticas formais 87

    3.3 - Principais publicaes 121

    CAP TULO 4

    4.1 - Histrico 1354.2 - Propostas de requalificao da rea 1434.3 - A proposta de Oscar Niemeyer 157

    4.4 - A proposta de Ruy Ohtake 169

    CAP TULO 5

    5.1 - O Museu do Surf 1935.2 - Concluses 243

    5.3 Referncias bibliogrficas 253

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    INTRODUO

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    INTRODUO

    INTRODUO

    Ruy Ohtake um dos arquitetos mais importantes

    no cenrio da arquitetura brasileira.

    Formado em 1960, pela Faculdade de Arquitetura e

    Urbanismo da Universidade de So Paulo, inicia sua

    produo em um dos perodos culturalmente mais

    expressivos, refletido no amadurecimento pela busca de

    uma identidade nacional.

    Suas maiores referncias neste perodo foram os

    eventos emblemticos realizados pelos mestres Lcio

    Costa e Oscar Niemeyer, bem como os novos rumos da

    arquitetura brasileira, impulsionados principalmente por

    Vilanova Artigas, protagonizador da expresso intelectual e

    material da denominada escola paulista, responsvel por

    sua formao.

    Como sntese dessas referncias, atribu-se aOhtake a dicotomia entre a liberdade criativa de Oscar

    Niemeyer e a aprendizagem do pensar, do discutir com

    veemncia, e de projetar de Vilanova Artigas.

    A linguagem formal e material de seus projetos

    iniciais era comum entre os arquitetos seguidores desta

    linha. A plasticidade e rusticidade do concreto armado, as

    exploraes das texturas dos elementos de vedao sem o

    uso de revestimentos, e as instalaes aparentes,

    explicitavam a carga de trabalho humano dissipado na

    materializao dos edifcios.

    No entanto, esta linguagem caracterstica alterou-sepaulatinamente, quer sejam pelas circunstncias adversas,

    ou pelas novas encomendas oriundas do setor pblico ou

    privado.

    A cada projeto sempre buscou o novo, transportou a

    curva como detalhe interior para o exterior, contrapondo a

    rigidez da ortogonalidade, esculpiu o volume puro

    transformando-o em casca protetora do bloco contentor do

    programa, buscou a cada novo projeto a apropriao da

    natureza.

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    18INTRODUO

    Concebe sua arquitetura com novos materiais, e

    novas tecnologias explorando as texturas e as cores no

    ento presente revestimento.

    Sugere em cada novo projeto contemporneo,

    novas experimentaes, enfim mantendo-se na vanguarda,

    que sempre regeu os princpios de modernidade.

    O presente estudo pretende analisar o processo de

    projeto do arquiteto Ruy Ohtake que muito tem a contribuir

    neste sentido, pela sua extenso, pelo reconhecimento

    nacional e internacional e, pela produo ininterrupta deuma arquitetura que tem como caracterstica a polarizao

    entre o silncio introspectivo dos projetos iniciais dos anos

    de 1960, e a inquietao das obras impactantes

    contemporneas, fazendo com que a crtica no se mostre

    indiferente perante sua obra.

    Embora densa e expressiva, a obra de Ruy Ohtake

    no foi alvo de estudos mais aprofundados pairando sobre

    ela opinies diversas, quer sejam de enaltecimento ou de

    estranhamento.

    O arquiteto e professor do Instituto de Arquitetura e

    Urbanismo da Universidade de So Paulo, em So Carlos,

    Renato Anelli1, ao mesmo tempo em que destaca a

    importncia de Ruy Ohtake no cenrio da arquitetura

    contempornea brasileira, aponta que os trabalhos mais

    recentes apresentam uma figuratividade estranha, no

    correspondendo aos seus projetos iniciais. Entretanto

    afirma que sua obra merecedora de estudos mais

    detidos e que Ruy Ohtake um dos principais arquitetos

    brasileiros na ativa.

    Luiz Recamn2, tambm arquiteto e professor da

    FAUUSP, na mesma oportunidade considera que a

    trajetria de Ohtake tem desviado da tradio moderna

    que caracterizaria o ncleo essencial da escola paulista a

    que pertence.

    1GIOIA, Mrio.ARQUITETURA DEVE PROCURAR SURPRESA.Folha de So Paulo, So Paulo, 13 de abril de 2008, Ilustrada E5.2Id. Ibid.

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    INTRODUO

    J o arquiteto Paulo Mendes da Rocha3, abstm-se

    Estou fora, arquiteto no fala da obra de colega.

    Enquanto Oscar Niemeyer afirma: Ele faz aquilo de

    que gosta e no o que os outros gostariam que fizesse. E

    isso, para mim, o fundamental, para Carlos Faggin,

    professor de Histria da Arquitetura da FAUUSP:

    Ele quer aparecer e consegue. Todos os arquitetos

    querem isso, ainda que tenham suas obras chamadas de

    melancia4.

    Outra importante opinio do tambm arquiteto e

    professor da FAUUSP, Rodrigo Queiroz. Para ele, [...]

    mesmo sendo tributrio da escola paulista, ele coloca

    3MACEDO,Luciana. INOVAES ARQUITETONICAS GERAMPOLEMICA. Folha de So Paulo, So Paulo, 23 de fevereiro de 2003,Urbanismo, C5.4ZAPPAROLI, Alecsandra. CORES, CURVAS E CONCRETO. VejaSo Paulo, So Paulo, 27 de julho de 2005. PERFIL.

    sempre um elemento, uma curva, tenta sempre se

    desvincular do cannico 5.

    Farias (2008), afirma que a FAUUSP no exerce

    controle sobre a produo dos alunos, porm de certa

    maneira, deixa vestgios nos que a frequentaram.

    A partir dessas afirmaes, pergunta-se:

    De que maneira e como essas marcas evidenciam-

    se na obra de Ruy Ohtake?

    possvel que essas marcas desapaream, tendoem vista a busca constante por novas experimentaes?

    Para Farias (1994), a obra de Ruy tem uma

    influncia muito forte de Oscar Niemeyer, ao introduzir a

    curva em sua produo, sobretudo a partir da dcada de

    1970, a ponto de comparar seu procedimento de projeto a

    um movimento pendular, ora referenciando-se arquitetura

    paulista de Vilanova Artigas, ora aos pioneiros da

    5MOLINA, Camila. RUY OHTAKE REVISITA SUA OBRA NA FAU. Oestado de So Paulo, So Paulo, 15 de setembro de 2008, VisuaisArquitetura, Caderno 2, D5.

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    20INTRODUO

    arquitetura moderna brasileira, desenvolvida a partir de

    meados dos anos de 1930, no Rio de Janeiro.

    H ainda afirmaes consensuais de que a obra de

    Ruy Ohtake apresenta caractersticas de uma herana

    cultural japonesa, quer seja pela fluidez dos espaos, quer

    seja pelas curvas e finalmente justificam-na por meio da

    convivncia em um contexto familiar onde a arte sempre foi

    essncia.

    Considerando tais afirmaes, o presente

    estudo tem como objetivo a busca por um entendimentosobre sua obra e seu processo de projeto, at ento pouco

    analisado. Propor uma leitura de sua produo,

    investigando como ele projeta suas obras, quais so os

    processos de gerao das formas que estruturam seu

    partido arquitetnico, analisando e identificando as

    influncias e referncias condicionadoras de seu repertrio

    formal, ou seja, tentar revelar suas razes conceituais eevitar as aproximaes epidrmicas.

    O motivo da escolha do personagem deve-se ao

    fato de que o autor, desde o inicio de sua graduao na

    Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Santos, FAUS,

    de 1979 a 1983, nutria admirao pela obra de seusprofessores, Jon Maitrejean, Joo Walter Toscano, Michail

    Lieders, Yopanan Rebello, Maurcio Nogueira Lima, entre

    eles Ruy Ohtake. Nesse perodo seus principais projetos j

    haviam sido publicados nos Cadernos Brasileiros de

    Arquitetura e nos peridicos especializados.

    Para tanto, o projeto de pesquisa iniciado em 2007,

    tinha como objetivo a anlise, no de seus projetos iniciais,

    mas, sim, de um projeto contemporneo como ponto de

    partida para o entendimento de sua obra, o Museu do Surf,

    projetado em meados de 2006 e com obras concludas em

    2008, na cidade de Santos, SP.

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    INTRODUO

    A anlise de um projeto contemporneo no tem

    sido uma prtica comum, sobretudo se o personagem

    criador estiver em plena produo, como o arquiteto Ruy

    Ohtake.

    A inteno em estabelecer este recorte temporal

    entender as relaes entre o projeto do Museu do Surf com

    os projetos iniciais da produo de Ohtake, a fim de

    verificar o distanciamento ou a ruptura preconizada pelas

    opinies anteriormente apresentadas, de sua escola de

    formao.

    A escolha do Museu do Surf justifica-se tambm

    pela possibilidade de se estabelecer uma leitura de sua

    obra, ou seja, a transformao da imagem do projeto em

    artefato, mediante as circunstncias para sua

    materializao.

    O Museu do Surf, ao contrrio de outros que foram

    largamente construdos a partir de 1980 pelo mundo, no

    um edifcio vigoroso, pelo contrrio, trata-se de uma obra

    singela, devido s circunstncias de sua implantao, e

    pouco divulgada. Mesmo assim, acredita-se que pela

    simplicidade da obra, bem como pelo seu

    acompanhamento por parte do autor, pode-se preencher

    uma lacuna to pouco estudada e reconstruir os possveiscaminhos geradores do projeto e obra.

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    22INTRODUO

    O DESENVOLVIMENTO DA DISSERTAO

    O desenvolvimento da dissertao se dar por trs

    caminhos.

    O primeiro pela pesquisa textual, visando obter um

    entendimento sobre o relevo em que a produo do

    arquiteto se insere, as circunstncias e o ambiente cultural

    definido pelo recorte temporal definido pela sua formao,

    que coincide com a inaugurao de Braslia, at o ano de

    2008, ano de concluso das obras do Museu do Surf.

    Posteriormente, por meio da reviso bibliogrficacontemplada pelos textos do prprio Ohtake, extrados de

    publicaes e eventos em que tenha participado. Estes

    textos expressos pela ptica do arquiteto talvez tenham

    sido geradores dos primeiros textos crticos sobre sua obra.

    Entre os mais importantes destacam-se o ensaio de

    Agnaldo Farias em: La Arquitectura de Ruy Ohtake,

    publicado em 1994. Outra grande contribuio,

    presente na reviso bibliogrfica, o texto de Roberto

    Segre em: Ruy Ohtake A Contemporaneidade da

    Arquitetura Brasileira de 1999.

    Nesse trabalho, Segre, igualmente a Farias, analisa a obra

    de Ohtake desde o incio de sua produo, acrescentando

    obras consideradas mais importantes no perodo,

    contextualizando sua arquitetura nacional e

    internacionalmente.

    Obviamente as leituras dos autores apresentam-se por

    meio de diferentes olhares, o que permite um entendimento

    sobre o discurso e a prtica de Ruy Ohtake, enriquecendoa anlise proposta nesta dissertao de mestrado. Alm

    das referncias acima citadas, outros textos foram

    extrados de peridicos e publicaes nacionais

    especializados em arquitetura como as revistas: AU,

    Projeto Design, Arquitetura e Construo, Construo So

    Paulo, etc.

    Devido sua intensa atividade projetual natural o

    surgimento de outros textos mais recentes, que tambm

    sero alvos de uma reflexo analtica. Entre eles

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    23

    INTRODUO

    destacam-se: Edifcios Hoteleiros, da srie Arquitetura

    comentada, escrito por Roberto Segre em 2005, Helipolis,

    um projeto de identidade cultural em conjunto com a

    comunidade,de 2006, a publicao em 2008, de catlogosobre sua recente exposio na FAUUSP denominada Ruy

    Ohtake: Presente!E, tambm, a obra publicada em 2008,

    Ruy Ohtake 10 anos: 1998 2008, da srie Portflio Brasil.

    O segundo caminho de aproximao obra de Ruy

    Ohtake ser por meio do desenho, como veculo principal

    da anlise. Para Robbins (1997), o meio para gerar,

    testar e gravar o discurso conceitual e criativo de um

    arquiteto.

    O desenho, segundo PERRONE (1993), no deve ser

    entendido como representao, mas sim, como um

    procedimento investigativo sobre o pensamento, evoluo,

    procedimento e transmisso de conhecimento. Sobre este

    mtodo Zein, afirma que: [...] ao redesenhar voc aprende[...] e realmente entende o que aquela obra , ou deixa de

    ser [...] a melhor maneira de estudar a arquitetura,

    desenhar[...] (informao verbal)6. Os desenhos das obras

    sero produzidos atravs da observao in loco, indicando

    os aspectos mais caractersticos captando a atmosfera

    local e temporal que envolve cada obra (PUNTONI, 2002),bem como por meios digitais.

    E, finalmente, o terceiro caminho de anlise ser

    pelo acompanhamento simultneo da obra. Por meio da

    pesquisa in loco foi possvel verificar o percurso entre as

    primeiras idias, desde os croquis, at a concluso da

    obra. Para esta coleta de dados foram utilizados,

    levantamentos fotogrficos, desenhos de observao

    relatando as fases da obra, desde a sua locao no

    terreno.

    As trs vias de aproximao sistematicamente

    fundidas sero responsveis pela anlise da obra e de seu

    processo de criao e, sobretudo pelos argumentos

    estruturadores da dissertao.

    6Informao verbal. Palestra proferida por Ruth Verde Zein, naFAUUSP em 25/05/08.

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    24INTRODUO

    Coincidentemente, em setembro de 2008, a

    FAUUSP realizou uma homenagem ao arquiteto Ruy

    Ohtake, convidando-o a realizar uma exposio dentro de

    sua prpria escola de formao, denominada Ruy Ohtake:

    Presente! Assim sendo, a exposio desenhada pelo

    protagonista, embora efmera, tornou-se aliada da

    pesquisa por tratar-se de uma obra tambm

    contempornea, indicou um rumo a seguir para a descrio

    da trajetria de Ohtake, transformando-se no segundo

    captulo da presente dissertao.

    Por meio dele, sero abordados aspectos

    importantes como o aprendizado da arquitetura, a

    academia, as referncias conceituais e projetuais e a

    herana cultural.

    No segundo captulo, a anlise ser iniciada,

    primeiramente, pela implantao, em seguida, pela

    desmontagem do conjunto e na individualizao doselementos que compe os suportes expositivos,

    observando cada parte de um todo, compreendendo sua

    natureza, funo, sentido e suas relaes com as

    representaes expostas.

    Parte-se da premissa que a anlise, por meio dos

    desenhos executivos da montagem e pelo redesenho dos

    expositores, seja possvel identificar as referncias

    projetuais e formais bem como os conceitos estruturadores

    de sua obra. Ser apresentada tambm sua formao

    acadmica, suas principais referncias e uma noo sobre

    a herana cultural, fatores importantes para o entendimento

    de seu processo criativo.

    O terceiro captulo ter como pano de fundo o

    ambiente cultural, desde o ano de sua formao em 1960

    at o ano de concluso das obras do Museu do Surf, em

    Santos, no ano de 2008, ser representado graficamente

    por uma linha do tempo, afim de que se possa

    compreender o relevo, os principais temas desenvolvidos e

    suas relaes com os respectivos perodos, identificandoseus pontos de inflexo. Ainda na linha do tempo,

    apresentada neste captulo, como base de anlise, optou-

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    25

    INTRODUO

    se pela escolha de alguns temas competentes para a

    tentativa de demonstrao das principais caractersticas

    formais de sua obra, so eles: as residncias individuais,

    os edifcios pblicos, os edifcios hoteleiros e os edifciosculturais, alm dos principais veculos de divulgao.

    O quarto captulo ser precedente da anlise do

    projeto Museu do Surf. Considerou-se importante entender

    o suporte de sua implantao: o emissrio submarino de

    Santos. Onde se insere e quais foram os fatores geradores

    de sua formao? Qual sua relao com o desenho urbano

    e com os habitantes da cidade? So algumas perguntas

    necessrias para a compreenso das opes de projeto do

    parque urbano As Ondas e do Museu do Surf idealizados

    por Ruy Ohtake.

    Nele sero apresentados a origem do aterro, os

    vrios projetos para requalificao da rea local que,

    obviamente, no deram certo.

    Como ponto central, ser apresentado o projeto

    desenvolvido por Oscar Niemeyer sem, no entanto, entrar

    no mrito da anlise da proposta do Mestre, mas no

    sentido de divulg-lo e apontar os motivos pelos quais

    acabou no se materializando.

    O quinto captulo dedicado prpria anlise do

    projeto e obra do Museu do Surf, objeto do presente

    estudo. Nele foi elencada uma estrutura analtica, talvez a

    mais apropriada para o entendimento dos procedimentos

    de projeto. Estabeleceu-se tambm a relao entre os

    elementos de arquitetura e de composio presentes, tanto

    no projeto contemporneo, quanto aos demais projetos

    anteriores que, de certa maneira, fizeram parte de uma

    somatria de procedimentos formais e conceituais do

    projeto em estudo.

    A anlise da obra, por meio de desenhos de

    observao e imagens do local, propiciou a oportunidade

    de se perceber, desde a linha traada no papel, s fiadas

    dos elementos de alvenaria, a transformao da paisageme das relaes humanas da cidade, orquestrados pelo

    desenho do arquiteto.

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    2.1 - A EXPOSIO RUY OHTAKE: PRESENTE!

    Desenho de memria, pelo autor.

    Exposio Ruy Ohtake: Presente!

    Fonte: Arquivo Pessoal.

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    RUY OHTAKE: PRESENTE!

    A falta de uma discusso mais organizada sobre sua

    produo foi compensada recentemente com a exposio

    intitulada RUY OHTAKE: PRESENTE! Realizada no

    perodo de 15/09/2008 a 17/10/2008, na Faculdade deArquitetura e Urbanismo da Universidade de So Paulo,

    FAUUSP, em razo da comemorao de seus 60 anos de

    fundao, tornando-se alm de homenagem, um momento

    oportuno e propcio para uma primeira aproximao junto a

    sua escola de formao.

    Considerada pelo seu protagonista um repasse pela

    sua obra, e que a mesma um projeto, oferece neste

    sentido a possibilidade de se lanar um olhar mais

    criterioso sobre sua produo.

    Segawa (2002, p.95) corrobora neste sentido por

    afirmar que [...] foi em uma obra de uso efmero que se

    gestaram alguns dos discursos arqutipos que iriam

    doravante povoar a arquitetura brasileira, referindo-se ao

    Pavilho do Brasil em Nova York, em 1939. E por fim, que

    a arquitetura de uso efmero marcou o incio do fim da

    denominada escola paulista, ao referir-se ao Pavilho

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    RUY OHTAKE: PRESENTE!

    Oficial do Brasil na EXPO 70, em Osaka, tratando-se,

    portanto de pontos de inflexo estudados na historiografia

    da arquitetura moderna brasileira.

    Momento oportuno, luz desse evento efmero, o

    presente estudo tem como objetivo realizar uma leitura de

    seu projeto expositivo, que embora seja um recorte

    aparentemente reduzido perante a magnitude de sua obra,

    pode clarear aspectos importantes ainda no discutidos, e

    entender se a obra de Ruy Ohtake caracteriza-se pela

    ruptura ou apresenta-se flexvel perante a arquitetura

    paulista, cerne de sua formao.

    Mantendo-se as devidas propores, Ohtake

    encontra-se diante dos mesmos encargos e diretrizes de

    projetos efmeros em que participou, seja do Pavilho do

    Brasil na Feira Internacional de Osaka em 1970, ou do

    Pavilho de Osaka em 1990.

    Parte-se da premissa que a anlise, por meio de

    desenhos executivos, bem como pelo redesenho, desses

    expositores seja possvel identificar as referncias, as

    recorrncias formais e os conceitos estruturadores de sua

    obra.

    A metodologia utilizada na presente leitura consiste

    na anlise primeiramente da implantao, em seguida na

    desmontagem do conjunto e na individualizao dos

    elementos que compe os suportes expositivos,

    observando cada parte de um todo, compreendendo sua

    natureza, funo, sentido e suas relaes com as

    representaes expostas.

    Considerando que a obra de um arquiteto pode ser

    analisada por diversos ngulos e que, segundo Baker

    (1998), um desenho contemporneo afetado pelos que o

    antecederam, pretende-se demonstrar por meio de um fio

    condutor, suas referncias de formao e as

    transformaes de seu repertrio formal at o foco dessa

    anlise, verificando as noes de ruptura com a base de

    sua formao, contribuindo assim para um melhor

    entendimento sobre seu processo criativo.

    Pelo fato de termos uma origem colonial, nossa cultura

    sempre foi permevel e dcil em relao s demais

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    RUY OHTAKE: PRESENTE!

    (ALMEIDA, 1984). Nesse sentido a arquitetura brasileira e

    as diversas manifestaes artsticas, foram influenciadas

    principalmente, a partir das dcadas de 1920 e 1930, pelos

    pioneiros do movimento moderno. Arquitetos renomadosdo velho continente e da Amrica do Norte, integrantes da

    historiografia oficial da arquitetura mundial, tornaram-se

    referncias - alguns com maior acento, e outros nem tanto -

    para os arquitetos brasileiros.

    Para Katinsky1, embora considere nomes como

    Gropius, Mendelson, Frank Lloyd Wright e Mies Van der

    Rohe, importantes nesse processo, a maior referncia para

    os arquitetos brasileiros foi Le Corbusier. Por mais

    polmico que possa parecer, foi por meio de seus

    ensinamentos que os arquitetos brasileiros transformaram

    e imprimiram um carter prprio a arquitetura brasileira,

    adquirindo nos anos 40 e 50, prestgio internacional.

    1CUNHA, Gabriel Rodrigues.ARQUITETURA PAULISTA?Disponvel em:acessado em 10/07/2009.

    A arquitetura brasileira aps os anos de 1960, j

    consolidada e desenvolvida pelos arquitetos paulistas,

    redefiniu-se, trazendo em seu ncleo alm de uma esttica

    prpria, um discurso poltico e social.

    Reconhecidamente a obra mais emblemtica desse

    perodo o edifcio da Faculdade de Arquitetura e

    Urbanismo da Universidade de So Paulo, FAUUSP,

    idealizada entre outras obras, pelo arquiteto Vilanova

    Artigas, que segundo Sanovicz2, [...] foi um discpulo da

    arquitetura carioca [...] e transformador de sua essncia,

    regionalizando-a e, sobretudo, invertendo o processo de

    projeto ao conceber a estrutura como arquitetura, conceito

    depurado por Niemeyer nos anos de 1950, segundo

    Segawa (2002).

    Para Lemos (1979), como seu grande mentor, Artigas

    no s imprimiu os novos rumos trilhados doravante pela

    arquitetura brasileira, mas contribuiu tambm com arenovao do ensino de arquitetura por meio de uma

    2WOLF, Jos. UMA PEDRA NO CAMINHO. Revista AU, So Paulo,n 17, Abril/maio de 1988. p.55.

    http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/08.029/3298?page=3http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/08.029/3298?page=3http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/08.029/3298?page=3http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/08.029/3298?page=3http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/08.029/3298?page=3
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    RUY OHTAKE: PRESENTE!

    reflexo crtica da realidade, marcando profundamente o

    ensino e seus alunos.

    A FAU tem uma caracterstica importante que

    eu acredito que se mantm ate hoje, que o fato de que

    todo mundo que passou por ela, foi marcado, de um jeito

    ou de outro e esta marca a gente leva pro resto da vida,

    de um jeito ou de outro, no d pra tirar, no d pra

    mudar, mesmo indo tropeando pela produo de outros

    colegas, descobrindo caminhos novos, mas a gente tem

    esta base de nossa formao muito forte [...], e continua

    afirmando,

    [...] H de fato um lao comum bsico e nesta estrutura

    bsica, h uma personalidade nica, que nos deu de

    presente, nos brindou e at hoje nos brinda com este

    prdio que o ARTIGAS. O ARTIGAS de um jeito ou de

    outro um mestre de todos ns e alm do ARTIGAS h

    vrios, grandes professores que passaram grandes

    alunos, etc., mas so todos linhas exploratrias a partir de

    um certo consenso bsico inicial que o ARTIGAS significa

    para a arquitetura paulista. S para deixar claro isto, oARTIGAS no o pioneiro, os pioneiros so, Knesse de

    Melo, Warchavchik, Miguel Fortes, mas o ARTIGAS

    significa uma consolidao de tudo isto a partir de uma

    obra primorosa, colocando a questo da arquitetura e da

    construo de uma forma muito coesa e muito importante

    e encontrando uma linguagem prpria profundamente

    brasileira que ao mesmo tempo, profundamente

    contempornea 3.

    No ncleo de sua formao, idealizado e

    materializado por seu mestre Vilanova Artigas, o qual Ruy

    Ohtake considera como o grande do sculo XX 4,projetou

    expositores que abrigaram 63 trabalhos entre projetos e

    obras. Como suporte, o Salo Caramelo, considerado o

    espao mais significativo da FAUUSP, cerne de sua

    formao e local ideal para o dilogo entre mestre e

    discpulo. Optando pela sntese, contrariou com a escolha

    desse local, um dos eventos em comemorao ao

    cinqentenrio da FAUUSP realizada em 1997, a

    exposio dos desenhos de Abrao Sanovicz, que ocupou

    3SAWAYA, Sylvio. Informao verbal em Procedimentos de Projeto,

    Palestra realizada na FAUUSP, em 15/10/2008.

    4MOLINA, Camila. Ruy Ohtake revisita sua obra. O Estado de So,So Paulo, 15/09/2008. Visuais Arquitetura, Caderno 2, D5.

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    RUY OHTAKE: PRESENTE!

    vrias dependncias da escola como o Museu, o Caracol,

    as salas de aula e o Salo Caramelo.

    Sobre sua formao Ruy Ohtake (informao

    verbal)5 relata que Sanovicz e Katinsky, foram grandes

    colaboradores,

    Me lembro muito bem dos colegas, eu estava no 1 ano,

    encontrava algumas vezes com Katinsky, aqui presente.

    Cheguei a encontrar tambm o Katinsky e o Abrao

    Sanovicz, prematuramente falecido, andvamos a p

    saindo aqui da Fau Maranho, descendo pela Major

    Sertrio, at .. Praa ..que trabalhavam l. E eu primeiro

    anista, caminhava junto a eles para ouvir o que

    conversavam sobre arquitetura e sobre o Brasil as

    condies que a arquitetura estabelece com a historia do

    Brasil, com a historia da cultura e ento eu ia junto com

    eles, todos os dias, at onde trabalhavam e em seguida

    voltava para a Fau para assistir s aulas.

    Alm desse contato, frequentava tambm o

    escritrio de Carlos Millan6

    , onde aprendia por meio dos

    5Informao verbal. Ruy Ohtake em Procedimentos de Projeto,Palestra realizada na FAUUSP, em 15/10/2008.

    registros em papel manteiga, os ensinamentos do mestre.

    Buscava com isso lies prticas, diferentes daqueles das

    salas de aula, na procura de sua prpria identidade atravs

    da simbiose entre os pensamentos de Niemeyer e Artigas(FARIAS, 1994).

    desses mestres interessava-lhe o embate com a folha

    afixada na prancheta, as pequenas descobertas que fazia

    com que o dia fosse ganho. Os croquis que resultam da

    deriva da mente e da mo, os esboos das idias

    rabiscadas a margem das pranchas, os pequenos

    detalhes construtivos feitos para esclarecer o mestre de

    obras em meio a azafama dos canteiros de obras, e tudo o

    mais, enfim, que compe esta prtica peculiar e superior

    da inteligncia e da poesia. (FARIAS,1994, p.70).

    6CAMARGO, Mnica Junqueira de. Disponvel em:HTTP://www.docomomo.org.br/seminrio%206%20pdfs/Monica%20Junqueira%20%de%Camargo.pdfacessado em 10/07/2009.

    http://www.docomomo.org.br/semin%C3%A1rio%206%20pdfs/Monica%20Junqueira%20%de%Camargo.pdfhttp://www.docomomo.org.br/semin%C3%A1rio%206%20pdfs/Monica%20Junqueira%20%de%Camargo.pdfhttp://www.docomomo.org.br/semin%C3%A1rio%206%20pdfs/Monica%20Junqueira%20%de%Camargo.pdfhttp://www.docomomo.org.br/semin%C3%A1rio%206%20pdfs/Monica%20Junqueira%20%de%Camargo.pdfhttp://www.docomomo.org.br/semin%C3%A1rio%206%20pdfs/Monica%20Junqueira%20%de%Camargo.pdf
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    RUY OHTAKE: PRESENTE!

    ENTRE OS ANGULOS RETOS, O ESPAO DINMICO

    Uma das principais caractersticas do Salo

    Caramelo a predominncia de ngulos retos.

    Inserido em uma planta livre, provido de iluminao

    zenital, subdividida em espaos amplos e alturas

    diferenciadas, com divisrias baixas, integra-se entre os

    ambientes internos e externos.

    Ao mesmo tempo em que se apropria dos ngulos

    retos, caracterstica marcante da escola paulista, Ruy

    Ohtake explora esse enquadramento no sentido de facilitara apreenso do subjacente espao dinmico criado por

    meio de seus expositores.

    A implantao do conjunto de suportes expositivos

    no apresenta qualquer vnculo, relao de paralelismo ou

    mesmo qualquer outra subordinao de carter

    geomtrico, com a ortogonalidade do Salo Caramelo

    (Fig.1).

    Neste sentido a implantao subverte essas regras

    compositivas, aliando-se a predominncia da linha

    diagonal, que segundo Sausmarez (1996), indicadora de

    impulsos direcionais, criando um movimento dinmico e

    fluido em contraposio rigidez absoluta do ngulo reto.

    Essas caractersticas remetem ao denominado espaoorgnico de Zevi (1996), que atribui a Frank Lloyd Wright a

    idealizao de uma arquitetura rica em movimentos que

    expressam a ao da vida. As teorias de Wright

    influenciaram a arquitetura mundial, primeiramente na

    Europa por meio de Alvar Aalto e obviamente a arquitetura

    brasileira. Os eventos organicistas tiveram um papel

    importante na produo de arquitetos brasileiros, aexemplo disto o prprio prdio da FAUUSP.

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    RUY OHTAKE: PRESENTE!

    Figura 1 Projeto original da exposio

    Fonte: Ruy Ohtake arquitetura e urbanismo

    Figura 2 Implantao executada e editada pelo autor.

    Fonte: Arquivo pessoal.

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    RUY OHTAKE: PRESENTE!

    O CONTEDO DA EXPOSIO

    O contedo da exposio apresenta-se em quatro

    blocos de expositores. Pela definio do projeto executivotemos, no sentido de entrada do Salo Caramelo:

    BLOCO CIDADE; BLOCO MOBILIRIO; BLOCO 50

    OBRAS + TEXTOS; BLOCO PROJETOS DETALHADOS.

    Os grupos denominados BLOCO CIDADE e

    BLOCO MOBILIRIO, foram dedicados aos projetos de

    interveno urbana: O PARQUE ECOLOGICO DO TIETE,

    O EXPRESSO TIRADENTES e o PARQUE ECOLOGICODE INDAIATUBA

    e, as criaes dos mobilirios em madeira.

    O grupo 50 OBRAS + TEXTOS, o maior e de posio

    marcante expe projetos e obras concisamente

    representados. Os expositores denominados PROJETOS

    DETALHADOS foram posicionados em linha no sentido

    horizontal, no obedecendo ao projeto original (Fig.2).Seu contedo apresenta dez obras, entre elas as mais

    divulgadas. Entre elas esto: Hotel Renaissance, Hotel

    Alvorada, Embaixada do Brasil em Tquio, Residncia

    Tomie Ohtake, Expresso Tiradentes, Fundao Carlos

    Chagas e Edifcio Quatiara, alem dos projetos mais

    polmicos como: Hotel Unique e o Instituto Cultural TomieOhtake.

    Comparando-se os desenhos das figuras 1 e 2,

    torna-se visvel a distncia entre concepo e execuo.

    Embora aparentemente dispostos aleatoriamente, no

    obedeceram ao sentido original de implantao

    determinados pelo arquiteto, pois segundo Ohtake7, as

    mudanas ocorreram devido s goteiras, ocasionadas pelafalta de manuteno da cobertura do emblemtico edifcio,

    assim sendo, pode-se concluir que as determinantes de

    ordem climtica, prevaleceram sobre sua inteno plstica,

    revelando uma postura identificada com o equilbrio entre a

    dimenso esttica e a funcional (fig. 3).

    7Informao pessoal fornecida por Ruy Ohtake, durante a ExposioRuy Ohtake: Presente!

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    RUY OHTAKE: PRESENTE!

    BLOCOMOBILIRIO

    50 OBRAS +TEXTOS

    PROJETOSDETALHADOS

    Figura 3. Desenho do autor. Implantao dos suportes expositivos no Salo Caramelo.Fonte: Arquivo pessoal.

    BLOCOCIDADE

    PROJETO EXECUTADO

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    RUY OHTAKE: PRESENTE!

    Os desenhos de implantao da exposio remetem

    aos seus primeiros projetos residenciais, um tema

    considerado por Segre (1999), a essncia de sua carreira.

    Comparando-se o croqui explicativo da casa praa (Fig.4)com o desenho de implantao executada da exposio

    (Fig.4a), fica evidente a semelhana entre ambos, mesmo

    apesar da distncia temporal, ambos apresentam

    fragmentos agrupados em uma estrutura retangular, que os

    articula. O conceito da casa praa em primeiro lugar a

    negao da disposio tradicional dos compartimentos,

    minimizando as reas de uso individual, privilegiando as deuso coletivo.

    O desenho da casa praa uma [...] potica

    devotada ao rarefeito, onde[...] cada elemento pensado

    como se fora um casulo [...]. Alm disto compara com a

    cidade valorizando a circulao das pessoas em meio aos

    obstculos que [...] so os por assim dizer,

    acontecimentos arquitetnicos que tornam mais rica esugestiva essa promenade feita a regio mais interior da

    sociedade [...], (Farias, 1994, p.28).

    Figura 4 Croquis explicativo da casa-praa.

    Fonte: KATSUMATA, Mary.Cadernos Brasileiros d e Arquit etura,

    Vol.1 e 2. So Paulo: Schema Editora Ltda, out. 1976, p16.

    Figura 4a Desenho com nfase no projeto de implantao

    da Exposio Ruy Ohtake: Presente! Editada pelo autor.

    Fonte: Arquivo pessoal.

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    RUY OHTAKE: PRESENTE!

    PROJETOS DETALHADOS

    No embate entre tradio e modernidade alguns

    elementos da arquitetura brasileira tornaram-se smbolos

    dessa polarizao caracterizada pelas condicionantesclimticas como, a luz solar, o calor e as intempries. Este

    primeiro grupo a ser estudado (Fig. 5), apresenta uma

    composio de painis verticais dispostos

    desordenadamente e, quando observados em projeo

    horizontal, compe linhas diagonais em relao a um perfil

    metlico apoiado sobre os mesmos. Intuitivamente os dois

    elementos, cuja filiao extrapola as denominadas EscolasCarioca e Paulista, remetem por um lado ao brise soleil,

    introduzidos pelos ensinamentos de Le Corbusier, e por

    outro, ao prtico, cujo uso e significados acompanham as

    aes antrpicas relatadas pela histria.

    Na arquitetura de Ruy Ohtake esses dois elementos

    so recorrentes. Individualmente a viga prtico, apresenta-

    se em seus projetos com claras referncias. A primeira, a

    residncia de Oswaldo Bratke (Fig. 6), construda no ano

    de 1955 em So Paulo. Nela a viga - prtico representa aFigura 6 Casa na Av. Morumbi. Arq. Oswaldo Bratke.Fonte: SEGAWA, Hugo; DOURADO, Guilherme Mazza.Oswaldo Arthur Br atke. So Paulo: Pr Editores, 1997.p.135

    Figura 5 Desenho do autor com nfase nos elementos do grupode expositores, PROJETOS DETALHADOS.Fonte: Arquivo pessoal

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    RUY OHTAKE: PRESENTE!

    silhueta virtual ao configurar um ptio interno reafirmando o

    conceito de sua existncia indicando os limites entre

    cultura e natureza. A segunda uma referncia a Vilanova

    Artigas, onde a casa e o lote formam um nico elemento,cabendo a viga - prtico, elemento caracterstico da escola

    paulista, estabelecer o limite potencialmente invisvel com

    a cidade.

    A terceira referncia de Rino Levi, onde ao observar as

    casas introspectivas assimila esses conceitos, prolongando

    repetidamente, do limite frontal ao limite dos fundos do lote,

    a viga prtico. Tanto Oswaldo Bratke quanto Rino Levi,

    nunca foram rotulados ou enquadrados na Escola

    Paulista8, porm so aludidas e utilizadas por Ohtake j em

    seus primeiros projetos residenciais. Assim sendo, pode-se

    concluir que suas referncias vo alm das denominadas

    Escolas de arquitetura Carioca e Paulista. Os painis

    8CUNHA, Gabriel Rodrigues.ARQUITETURA PAULISTA? Entrevistacom Jlio Roberto Katinsky.Disponvel em: acessado em 10/07/2009.

    verticais posicionados ortogonalmente ao solo remetem ao

    brise soleil, utilizados inicialmente no edifcio do ABI entre

    1936 e 1938, no Rio de Janeiro.

    Para BRUAND (2005), o projeto elaborado pelos

    irmos M.M. Roberto que no pertenciam equipe de

    Lucio Costa - no sofreu influncia direta de Le Corbusier,

    pois fora elaborado antes de sua vinda ao Brasil em julho

    de 1936.Componente funcional, o brise empregado no

    controle da iluminao solar sobre os ambientes internos

    Figura 7 - Residncia NadirZacarias. Projeto de Ruy Ohtakeem 1970.Desenho elaborado pelo autor.Fonte: Arquivo pessoal

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    RUY OHTAKE: PRESENTE!

    da edificao, posicionando-se tanto horizontal como

    verticalmente. Adaptado pelos arquitetos cariocas em sua

    primeira utilizao foi implantado verticalmente em uma

    nica direo, desconsiderando sua funo privilegiandoseu aspecto esttico. Considerado como objeto das [...]

    primeiras realizaes concretas de nossa arquitetura 9[...],

    tornou-se uma das gneses da arquitetura paulista (Fig.8),

    por meio tambm de [...] grandes empenas de concreto

    usadas como quebra sol ou plano de reflexo(ZEIN, 2002,

    p.22). Considerando que a arquitetura paulista foi

    largamente difundida pelo Brasil, (SEGAWA, 2002), o usodesse elemento influenciou arquitetos e obras de outras

    regies, chegando a ser ironicamente chamado por Estilo

    Brise por (SEGAWA, 2008) informao verbal10.

    Por meio de seu poder de sntese, a somatria dos

    conceitos e referncias incorpora-se ao seu repertrio

    formal, fundindo esses dois elementos em uma unidade

    (Fig.8). Mesmo no exercendo controle sobre a luz solar,

    9 Escola de Engenharia Mackenzie, agosto de 1945. Discurso deHenrique Mindlin, apud SEGAWA, 2002, p.105.10Informao verbal em aula da Ps-Graduao em 2008.

    enfatiza a dimenso esttica, apresentando-se em

    inmeros projetos como elemento filtrante entre arquitetura

    e natureza (Fig.8 a)

    .

    Figura 8 - Croquis de Ruy Ohtake. Residncia Giuseppe Viscomi.Fonte: FARIAS, Agnaldo Aric Caldas; KATINSKY, Jlio Roberto;QUEIROZ, Rodrigo.Ruy Ohtake: Presente!So Paulo:FAUUSP, 2008, p.59.

    Figura 8a Desenho do autor com nfase na utilizao dosbrises com finalidades estticas. Residncia Jos Egreja.Fonte: Arquivo pessoal.

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    RUY OHTAKE: PRESENTE!

    A CURVA: HERANA CULTURAL OU OPO

    PROJETUAL?

    Um dos principais elementos da exposio o

    destinado ao grupo 50 OBRAS + TEXTOS.

    Sua implantao, em diagonal ao salo caramelo,

    carrega em si sua caracterstica mais divergente em

    relao ortogonalidade, ponto de inflexo responsvel

    pela flexibilidade no uso da forma como expresso. Poroutro lado apresenta-se como elemento divisor de uma

    produo caracterizada pela ortogonalidade de uma

    arquitetura racionalista e, de uma arquitetura que no

    despreza uma fase posterior, mas sim, acrescenta e

    insinua a concordncia entre os ngulos de retas

    multidirecionais. A quem por ela caminha apresenta a

    opo de permanncia ou de incorporao.Pela dimenso remete a dois dos projetos urbanos

    mais importantes, O PARQUE ECOLGICO DO TIET e o

    EXPRESSO TIRADENTES, tema preferencial de sua

    carreira.

    Trao sinuoso e contnuo evidencia dois aspectos

    importantes; o referencial aos pioneiros da arquitetura

    moderna brasileira, e a herana cultural como fundamento

    do ato projetual. Tais questes surgem da afirmao de

    Oscar Niemeyer em seu texto de apresentao do livro LA

    ARQUITECTURA DE RUY OHTAKE. Niemeyer atribui ao

    talento de Ohtake uma fora interior desconhecida,

    presente a partir do nascimento, fora esta, responsvel

    pela qualificao e caracterizao de sua obra. Estasinfluncias genticas incorporam ao poder de criao,

    reflexos de um ambiente propcio que estimulam as

    habilidades artsticas. Niemeyer tornou-se referncia para

    uma legio de arquitetos, por meio de seus desenhos, tudo

    indica o mesmo efeito por meio de suas palavras.

    Na resenha deste livro Zein e Di Marco, afirmam que

    enquanto a curva [...] o elemento geomtrico que deseja

    a aproximao com a natureza [...] alguns edifcios

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    RUY OHTAKE: PRESENTE!

    remetem a [...] estrutura singela, equilibrada e harmnica

    dos origamis, a tradicional arte oriental da dobradura.11

    Seguindo esta orientao a assimilao da curva e a

    fluidez do espao na obra de Ruy Ohtake vincula-se talvez

    gentica e ao ambiente afetivo, ou seja, o convvio entre

    cores, telas e esculturas, podem ter exercido importante

    papel como elementos propulsores de sua capacidade

    inventiva.

    Katinsky (2008, p.29) refora argumentando e

    afirmandoEssa condio no ter, antes de tudo, moldado

    as escolhas, as opes do jovem estudante e depois do

    jovem arquiteto? referindo-se ao fato de Ruy ser filho de

    Tomie Ohtake, uma das mais importantes representantes

    do abstracionismo no Brasil.

    Marcos Acayaba entende que as caractersticas de

    seu processo criativo so uma fuso entre os pensamentos

    de Oscar Niemeyer e Katinsky, ao afirmar:

    11DI MARCO,Anita Regina; ZEIN, Ruth Verde. A HERANA DASCURVAS. Revista PROJETO, So Paulo, n 184, p.98. Abril/maio de1995.

    O jeito que voc tratava do espao, tinha alguma coisa a

    ver com a arquitetura japonesa, a fluidez do espao dentro

    desta soluo ortogonal tpica da arquitetura de So Paulo

    naqueles anos

    Tinha certa fluidez, uma luz muito peculiar, que eu no vi

    em obras de outros colegas. Depois, anos 70, eu anotei

    aqui, especialmente nesta casa do Yassuda, o Ruy

    admirava o Oscar Niemeyer. Comea a se soltar um

    pouco da ortogonalidade e o desenho do Oscar Niemeyer

    comeou a aparecer na arquitetura dele.12

    Segre (1999) apresenta uma viso holstica do

    surgimento da curva na arquitetura no mundo e, por meiode um recorte mais reduzido, atribui o surgimento da curva

    na arquitetura brasileira a influncia de Le Corbusier,

    citando como exemplo, o projeto do sinuoso viaduto

    habitao no Rio de Janeiro em 1930. Para ele a

    concepo a partir da observao da exuberante paisagem

    brasileira, imprimiu tanto na primeira gerao de arquitetos

    do Rio de Janeiro, como nas posteriores, a possibilidade de

    uso de uma linguagem de formas livres, sinuosas, abertas

    12 Informao verbal. Marcos Acayaba em Procedimentos de Projeto,Palestra realizada na FAUUSP, em 15/10/2008.

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    RUY OHTAKE: PRESENTE!

    e integradas natureza circundante de espaos

    transparentes e sombreados, porm no caso especifico de

    Ruy Ohtake, reitera as mesmas opinies j mencionadas,

    ao afirmar que a obra de Ohtake apresenta[...] traos de sua personalidade lapidadas na convivncia

    com sua me, Tomie Ohtake (Kioto, 1913) e na indubitvel

    herana da cultura japonesa. Dela recebe a infinita

    laboriosidade artesanal, a nitidez das formas e espaos

    em figuras abstratas e sinuosas; a paleta cromtica de

    pigmentos claros e transparentes; a busca constante da

    essncia no mistrio criativo de um sistema de imagens.

    (Segre, 1999, p. 29).

    No final da dcada de 1970, Ohtake negaria que sua

    obra apresentasse vestgios de herana familiar. Antes de

    ingressar na FAUUSP, estudou nos Colgios, Dom Bosco

    e Roosevelt, no tendo freqentado casas de famlias

    japonesas, sendo que a escolha pela arquitetura recebeu

    pouca influncia de Tomie. Concorda em relao

    discusso sobre arte em sua casa, mas no sobre a artejaponesa, mas sim, sobre Van Gogh, Gauguin, Picasso,

    Bach, e Mozart. Nunca frequentou escola japonesa, muito

    menos apresenta domnio nesse idioma.

    Nos anos de 1980, porm, admite as influncias, e

    diz ter sentido a vontade de estudar a cultura e a

    arquitetura civil japonesa, sobre a qual se considera ser

    bem informado, a partir de seu contato com arquitetos

    japoneses, quando de sua contratao pelo Ministrio das

    Relaes Exteriores, para o projeto da Embaixada do Brasil

    em Tquio.

    [...] Eles me disseram que aquele projeto era de

    arquitetura brasileira, sem duvida, mas que alguns

    detalhes tinham um pouco a ver com a arquitetura

    japonesa, tais como a limpeza no tratamento da forma,

    dos espaos, e a pouca mistura de materiais [...].13

    Ohtake considera ter uma formao ocidentalizada e

    identifica traos em comum entre tradies japonesas e a

    arquitetura moderna brasileira, a busca da sntese,

    presente nas obras de Oscar Niemeyer e Artigas,

    13WOLF, Jos.A HERANA DO ORIENTE. Revista AU, So Paulo, n18, p 62. Junho de 1988.

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    RUY OHTAKE: PRESENTE!

    resultante da procura dos avanos tecnolgicos que

    propiciem a qualidade do espao interior com a forma

    exterior.

    Considerando o aspecto da herana cultural, o

    reencontro entre o ocidente com a cultura japonesa, no

    final do sculo XIX, causou grande impacto nos meios de

    expresso artsticos europeus, inclusive na arquitetura. A

    influncia da arquitetura japonesa nas obras de Wright e o

    grande interesse de Bruno Taut no estudo desses edifcios

    decorrem pelo despojamento, pela ausncia de

    ornamentos e a combinao de planos verticais ehorizontais sugerindo uma composio simples e a inter-

    relao entre espaos internos e externos. (GONALVES,

    2004).

    Sob este ponto de vista da herana cultural, alguns

    estudos do conta de que para os japoneses a linha curva

    no um elemento geomtrico distinto, mas sim uma

    derivao da linha reta14.

    Segundo Bruno Taut, o Japo [...] ignora o conceito

    de eixo arquitetnico, isto , que a linha reta existe apenas

    em nossas mentes, a linha pela qual todos os arquitetos

    iniciam seu trabalho 15.

    Nesse sentido esses conceitos foram largamente

    difundidos pelo ocidente, no se tornando especficos de

    arquitetos de origem japonesa, a exemplo da citao de

    Argan em que,

    Mais tarde Aalto vir a descobrir que uma linha ou uma

    superfcie curva no so menos racionais do que uma

    linha reta ou uma superfcie plana. (ARGAN, 2006,

    p.414).

    14

    ITOH, Teiji . Tradition in Japans formative culture. In: NEIVA,Simone; RIGH, Roberto. A importncia da cultura na constr uo doespao urbano no Japo.Revista Ps, v.15, n 24. So Paulo:Fauusp, v.1 (1990 -)

    15Ibid, p.38.

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    RUY OHTAKE: PRESENTE!

    LINHA CURVA:

    O surgimento deste elemento em sua obra, no

    passvel de uma afirmao categrica. Para Farias (2008),

    a procura por novas formas sempre fizeram parte das

    experimentaes de Ruy Ohtake. Assim como as cores, a

    curva foi sendo implantada paulatinamente, por meio de

    linhas ou planos curvos, sempre acrescidos aos

    fundamentos da ortogonalidade.

    Embora no se pretenda afirmar categoricamente,

    Ruy Ohtake obtm a curva inicialmente por meio do gesto,

    (Fig.9), comprimindo as duas extremidades da linha, at

    transform-la em arco. Pode-se sugerir que sua primeira

    manifestao, nesse sentido, deu-se na residncia Rosa

    Okubo,1964, Localizada no pavimento trreo, delineando a

    cozinha e o lavabo, localizados na entrada secundria da

    edificao, ou seja, do lado oposto a entrada principal

    (Fig.10).

    Figura 10 Residncia Rosa Okubo. nfase na curva.Fonte: Cadernos Brasileiros de Arquitetura, p.14.

    Figura 9 Desenhos do autor com nfase na transformao da linha reta,

    em curva.Fonte: Ar uivo essoal.

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    RUY OHTAKE: PRESENTE!

    Na residncia Chiyo Hama, o elemento curva

    emoldura o setor de servios, agora posicionados na frente

    (Fig. 11), da residncia, configurando o percurso de acesso

    ao hall social (Fig. 12).

    Nos anos de 1970, os projetos residenciais passam a ter

    como caracterstica principal as linhas curvas, soltas e

    exteriorizadas, vinculadas a natureza circundante. Este

    movimento, do interior para o exterior verificado emoutros projetos a partir de 1972, como nos edifcios da Cia

    City, onde a curva alm de participar da definio

    volumtrica participa na concepo de outros elementos

    como circulao vertical, na seqncia de arcos do

    pavimento trreo, ou ainda nos projetos paisagsticos dos

    mesmos.

    Nessa poca os edifcios pblicos povoaram aspranchetas de vrios arquitetos. Como caractersticas

    principais, o grande volume esculpido internamente para o

    abrigo de suas funes apoiado por poucos pilares,

    desenvolvido estruturalmente com a tecnologia do concreto

    armado. Nesse caso, Ohtake busca suavizar a volumetria

    pesada dos blocos. A associao da curva surge a partir do

    arco, transformando-se de linha curva, a instrumento de

    extruso dos volumes prismticos, tratando-os como casca,

    invlucros, essncia do conceito, estrutura comoFigura 12 - Residncia Chiyo HamaFonte:Ruy Ohtake: Presente! p.51.

    Figura 11 Desenhos do autor com nfase na transformao da linhareta, em curva.

    Fonte: Arquivo pessoal.

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    RUY OHTAKE: PRESENTE!

    arquitetura, caracterstica marcante entre outras, da

    produo de grande parte da gerao de arquitetos

    paulistas (Fig. 13).

    Em outros projetos prevalece o mesmo processo de

    subtrao volumtrica com volumes triangulares, como a

    Central Telefnica de Ibina (1974) e a agncia do

    Banespa Butant (1976). Cronologicamente observa-seque o procedimento de projeto o mesmo, mas as opes

    projetuais entre linhas curvas e linhas retas so variveis

    no se restringindo a cronologia.

    Na agncia bancaria do Unibanco da Alameda Lorena, (Fig.

    14), projetada em 1975, subtra do prtico, limite do espao

    pblico, a forma arqueada indicando o percurso da entrada

    na rea semi-pblica, invertendo-a para demarcar o acessoao interior do edifcio, configurando o significado de

    afetividade.

    Figura 13 - Cotesp Campos do JordoDesenhos do autor com nfase na construo da forma.Fonte: Arquivo pessoal

    Figura 14 Desenhos do autor com nfase na transformao da forma.Fonte: Arquivo pessoal.

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    RUY OHTAKE: PRESENTE!

    Outra soluo, talvez a mais

    ousada nesse perodo, foi a

    utilizada para agncia do

    Banespa em Goinia (1977).Neste projeto Ohtake subverte a

    relao entre lote e arquitetura

    projetando o edifcio a partir da

    desconstruo prismtica,

    esculpindo-o, tornando a estrutura componente subjacente

    forma (Fig.15). Por outro lado, recorre ao elemento mais

    caro a sua produo, a lmina horizontal componente dosprticos, agora sinuosamente modelada. A mesma soluo

    foi utilizada no Cartrio em

    Itanham SP, em 1985

    (Fig.16).

    Na residncia Tomie Ohtake, a curva surge de modo

    extrovertido, por meio da ondulao da viga prtico (Fig.

    17). Ruy Ohtake afirma que naquele momento tinha

    inteno de que o objeto Casa fosse mais participativo dacidade. Deveria agradar no somente seus usurios, mas

    tambm qualquer cidado que por ela passasse,

    admirando-a, de tal forma que seu olhar percorresse no

    s as formas prismticas como tambm as curvas,

    prenunciadas na viga frontal. Posteriormente, seguindo o

    mesmo esquema de composio, as ondas surgem

    tambm nos edificios residenciais.

    Figura17 Croquis de Ruy Ohtake. Residncia Tomie Ohtake. nfase naconstruo da forma.Fonte: Arquivo pessoal

    Fig.15 Banespa ag. GoiniaFonte: Arquivo pessoal

    Figura16 Desenho do autor. Cartrio emItanham.

    Fonte: Arquivo pessoal

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    RUY OHTAKE: PRESENTE!

    BLOCO MOBILIRIO e BLOCO CIDADE

    Variao da linha curva, o elemento composto por

    lminas ondulantes (Fig. 18), so suportes tanto dos

    projetos urbanos como de mobilirios. Assim como os

    outros elementos, originam-se a partir da viga prtico

    flexionada, utilizada na residncia Tomie Ohtake e, pela

    livre associao, agrupamentos e rotaes, seja nos planos

    horizontal ou vertical. Recorrentes em suas obras a partir

    da decada de 1980, ora apoiados em suas extremidades,

    ora encurvados tangenciando o solo, remetem tanto ao

    projeto do Hotel Las Americas, em So Domingos, na

    Repblica Dominicana, no construido, quanto ao Hotel

    Unique, em So Paulo. Em escala reduzida, so

    claramente identificveis na sua produo de mobilirios.

    Seu processo de criao pode ser entendido pela

    livre associao do arco com o adicionamento da linha reta

    (Fig.19).

    Figura18 Desenho do autor com nfase nosExpositores, BLOCO CIDADE e MOBILIARIOS.Fonte: Arquivo pessoal

    Figura19 Desenho do autor. nfase na criao e transformao daslminas.Fonte: Arquivo pessoal

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    RUY OHTAKE: PRESENTE!

    Mesmo sendo as lminas curvas elementos

    contemporneos de sua obra, resgata no desenho do

    mobilirio os pressupostos da arquitetura moderna

    brasileira, seja pelos pioneiros radicados em So Paulo ouno Rio de Janeiro.

    A produo do mobilirio de Ruy Ohtake, segundo

    Katinsky (1996), tem uma origem histrica, ou seja, a

    preocupao com a insero do mobilirio surge em seus

    primeiros projetos habitacionais e foram pensados como

    parte integrante do espao projetado. Inerente em cada

    projeto, das paredes conquistaram autonomia mantendo aprincipio a mesma tecnologia de fabricao para

    paulatinamente povoarem os espaos, configurando o

    percurso ao qual Farias (1994) compara com o ambiente

    urbano, mencionado anteriormente.

    Para Katinsky (1996), Ruy Ohtake prope a

    disseminao do desenho utilizando a tecnologia do ao

    para, por meio de uma produo seriada, atender uma

    necessidade cultural e no a mera satisfao de uma

    exigncia local e atual.

    Os traos de sua arquitetura so reconhecveis no desenho

    de seus mobilirios, diferenciando-se na escala e funo

    de ambos, porm ambos visam a produo do habitat

    humano.

    Nestes blocos de expositores, Ohtake indica que sua

    atuao como arquiteto vai alm da criao de adaptaes

    espaciais para atendimento das necessidades humanas

    socialmente definidas (SERRA,2006). Desenha e indica as

    relaes pessoais e de conforto no ambiente interno e,

    aponta para a resoluo dos problemas externos (Fig.20),

    ou seja, do ambiente urbano, tema pelo qual Ruy Ohtaketem grande afeio.

    Figura 20 Desenho do autor. Estante Fillipeli, 1990, Estao D. Pedro eperfil transversal do Expresso Tiradentes, 1997.Fonte: Arquivo pessoal

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    RUY OHTAKE: PRESENTE!

    Pelo fato da exposio abrigar 63 obras de uma

    intensa atividade projetual, pressupe-se antes de tudo um

    grande desafio, traduzido em projeto e obra efmera,

    dignos de uma anlise.Como sntese de um percurso de meio sculo, a

    exposio aponta vrios caminhos para compreenso da

    obra de seu autor. Por meio dela possvel verificar

    quando o arquiteto se aproxima da histria, de sua escola

    de formao, de suas referncias ou como alguns preferem

    de suas heranas culturais.

    O presente captulo tornou-se um balizamento pelo

    qual se podem extrair argumentos e compreenso de um

    processo criativo baseado nos mais singelos elementos

    geomtricos, capazes de por meio de suas livres

    associaes, criarem uma arquitetura impactante com

    traos imanentes.

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    3.1 O AMBIENTE CULTURAL

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    O AMBIENTE CULTURAL

    A produo do arquiteto Ruy Ohtake mantm-se

    ininterrupta desde sua formao em 1960, at a

    contemporaneidade.

    Iniciada em um dos perodos mais frteis para a

    arquitetura brasileira, integrada a um momento cultural de

    amadurecimento na busca de uma identidade nacional,

    transitou entre os mais graves problemas conjunturais que

    afetaram os aspectos sociais, econmicos e polticos do

    Brasil.

    Neste espao de tempo sua obra revela-se como a

    uma das mais importantes, ocupando um lugar de

    destaque na arquitetura nacional e internacional, malgrado

    pouco analisada.

    Proporcionar um entendimento sobre ela requer

    conhecer o processo de seu desenvolvimento. Das

    condies ideais de seus anos iniciais e, ao mesmo tempo,

    inimaginveis poucos anos aps, estendendo-se at ocenrio cultural diverso da contemporaneidade. Busca-se,

    portanto, embora por meio de um recorte muito especfico,

    um resultado capaz de levar a um entendimento de onde e

    como desguam os pensamentos, os conceitos, as utopias

    e as realizaes de uma gerao to privilegiada dearquitetos brasileiros.

    A metodologia utilizada baseia-se na construo de

    uma linha do tempo ora representada graficamente

    possibilitando uma viso geral, de 1960 a 2008, ano este

    de execuo das obras do parque urbano denominado,

    As Ondas - Santos 21. Pretende-se, com isto, identificar os

    pontos de inflexo, e as circunstncias que levaram o

    arquiteto Ruy Ohtake a buscar, por meio de sucessivas

    experimentaes, uma arquitetura que se analisada pela

    sua dimenso esttica, distancia-se, aparentemente, de

    suas referncias acadmicas, induzindo os menos atentos

    a uma leitura superficial e no reveladora da estrutura de

    sua obra. Primeiramente ser apresentada a linha

    completa de sua trajetria (Fig. 21) e, posteriormente, a

    contextualizao de sua obra nosperodos mais marcantes

    doravante selecionados.

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    O AMBIENTE CULTURAL

    O ACERVO DE PROJETOS E OBRAS EM MEIO SCULO

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    O AMBIENTE CULTURAL

    Figura 21 Desenho do autor. Diagrama de obras no decorrer de meio sculo. Fonte: Arquivo Pessoal

    * Dados obtidos pelo ndice da Arquitetura Brasileira.

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    O AMBIENTE CULTURAL

    Em uma primeira anlise, pode-se observar que sua

    trajetria divide-se em trs momentos distintos.

    O primeiro, compreendido entre os anos de 1960 a

    1980, diferencia-se pelo volume de projetos e obras, e

    identifica uma recorrncia cujo acervo compreende as

    residncias individuais, alm de outros temas.

    O segundo momento acontece a partir de 1980, ano

    de uma profunda depresso nas atividades econmicas,

    ocasionando a inexistncia de novos projetos, restando

    quando muito o desenvolvimento e ou detalhamentos de

    projetos anteriormente contratados, fenmeno este que ir

    ocorrer em 1990 e 1992.

    Entre altos e baixos, o predomnio de encomendas

    orbitou entre os temas, habitao individual e coletiva,

    sedimentando a tipologia de maior recorrncia em sua

    trajetria.

    Por fim, o terceiro momento, de 1992 a 2008,caracteriza-se por uma produo constante com temas

    variados.

    Diante de um quadro to diverso pergunta-se: por

    que das constantes oscilaes?

    Por que os primeiros 20 anos de produo

    apresentam um nmero significativo de obras e, porque as

    residncias individuais compem a maioria dos projetos e

    obras apresentadas?

    Quais os fatores determinantes das ocorrncias de

    determinados edifcios e suas respectivas variaes

    formais?

    Quais os principais meios de divulgao dessasobras, nacionais e internacionais e quando ocorreram?

    Estas so algumas perguntas que se pretende

    discutir e encadear um raciocnio para a apresentao

    deste captulo, que baseado na reviso bibliogrfica,

    apresenta-se como elemento fundamental para o

    conhecimento do cenrio em que a obra de Ruy Ohtake se

    desenvolveu e que certamente auxiliar na compreenso

    de seu processo projetual.

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    O AMBIENTE CULTURAL

    Em 1960, a arquitetura brasileira vivia seus

    melhores momentos, ocupando lugar de destaque no

    cenrio nacional e internacional, tornando-se parte da

    cultura brasileira. Consolidada por meio dos eventosemblemticos de Lcio Costa e Oscar Niemeyer e pelo

    enfoque social impulsionado por Vilanova Artigas como

    caminho a ser desenvolvido, estruturaram a formao de

    arquitetos a partir dos anos de 1950.

    Eu entrei na FAUUSP em 1956, no auge da ebulio da cultura

    brasileira que a meu ver a mais importante da histria do Brasil.

    Nesta poca comearam os movimentos da msica popular

    brasileira, a bossa nova, a dramaturgia brasileira, com a criao

    do Teatro de Arena e do Teatro Oficina, o cinema novo com

    Glauber Rocha, e a arquitetura que viria logo aps 1960, a

    inaugurao de Braslia. Depois de todo este caudal que eu

    entro na FAU [...] paralelamente quando entrei na FAU, tinha

    sado o resultado do concurso de projeto de Braslia, tendo como

    vencedor Lucio Costa, e durante meu curso em 5 anos na FAU,

    foi feita a construo e no meu ltimo ano, a inaugurao de

    Braslia. Portanto meus 5 anos da FAU foram ao longo da

    construo de Braslia[...], (Informao verbal)1.

    Nesse contexto, foi produzida talvez a grande parte

    da arquitetura moderna desenvolvida pelos arquitetos

    paulistas, conhecida tambm como a escola paulista

    (SEGAWA, 2002). A burguesia em So Paulo, enriquecida

    pelo comrcio ou pela indstria, desempenhava um papel

    de destaque no desenvolvimento do pas. Esta ascenso

    propiciou a essa classe social outra possibilidade de

    acmulo de capital, agora tambm pela especulao

    imobiliria, contribuindo para o aumento de novas

    oportunidades para os arquitetos (BRUAND, 2005).

    O contexto era favorvel para arquitetos e alunos

    das Faculdades de Arquitetura, da Universidade de So

    Paulo (USP) e MACKENZIE, as duas nicas escolas em

    So Paulo na poca. Coincidentemente as duas escolas

    1OHTAKE, Ruy. Informao verbal em Procedimentos de Projeto,palestra realizada na FAUUSP, em 15/10/2008.

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    O AMBIENTE CULTURAL

    eram vizinhas e possuam um numero reduzido de alunos,

    o que permitia que se conhecessem pelos nomes2.

    Ruy Ohtake considera que na poca de sua

    formao a atividade profissional era mais herica, tendo

    em vista que a arquitetura ainda estava se firmando no

    cenrio cultural3.

    A aspirao de todo recm-formado na poca era

    montar seu prprio ateli, ou trabalhar com algum arquiteto

    de renome, ou quando muito conciliar as duas coisas.

    Alguns ingressavam no servio pblico, outros

    trabalhavam pela manh em ateli prprio e a tarde para

    outro profissional 4.

    2MELENDEZ, Adilson, et al. Curvas personalizadas. Revista Projeto,So Paulo, n 171, p. K1, jan/fev 94.

    3MELENDEZ, Adilson; MOURA, ride; SERAPIO, Fernando. Se eume preocupar com a crtica, vou ficar tolhido , fazendo arquiteturade 30 anos atrs.Revista PROJETODEIGN, So Paulo, n 272,pp.44-55. Outubro de 2002.

    4MELENDEZ, Adilson, et al. Curvas personalizadas. Revista Projeto,So Paulo, n 171, p. K1, jan/fev 94.

    Nesses anos de efervescncia cultural, o arquiteto

    Ruy Ohtake, formado em 1960, encontra um momento

    extremamente propcio para o desenvolvimento da

    produo de sua arquitetura.

    De incio, assim como a maioria dos recm-

    formados, encontrou em suas primeiras atividades

    profissionais, o respaldo familiar, projetando a reforma e

    ampliao da garagem de seu tio, em uma residncia no

    bairro da Aclimao. Dividia seus afazeres em dois

    perodos, trabalhando meio perodo no Centro de

    Pesquisas de Estudos de Urbanismo da FAU, onde eramdesenvolvidos planos diretores para as estncias, com

    financiamento do governo estadual e, em seu prprio ateli

    em outros projetos, geralmente pequenas intervenes

    como reformas e ampliaes, garantindo assim o inicio de

    uma produo ininterrupta (MELENDEZ, 2002).

    Entre os afazeres descritos, Ruy Ohtake dedicou-se

    tambm s atividades didticas, publicadas na Revista

    Acrpole n. 386 de 1971. Foi Professor Assistente de

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    Composio I da Faculdade de Arquitetura Mackenzie,

    entre 1963/1964; Professor Titular de Composio II da

    Fundao Armando Alvarez Penteado, 1965/1966;

    Professor do IADE, 1967/1968; Professor Assistente deDesenho do Objeto da Faculdade de Arquitetura e

    Urbanismo de Santos, desde 1970; representante dos

    Professores Assistentes no Conselho Departamental da

    Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Santos, desde

    1970.

    Para Sanovicz (1988, p.56), o plano piloto de

    Braslia e o surto desenvolvimentista, introduziram nestecenrio, novas perspectivas. Em 1959, elege-se em So

    Paulo, o governador Carvalho Pinto, estabelecendo um

    plano de ao governamental baseado nas iniciativas de

    Juscelino Kubitschek.

    Acontece que nesse meio tempo se elege Carvalho

    Pinto. Ele prepara um plano de ao coordenado por

    Plinio de Arruda Sampaio. Carvalho Pinto j tinha ido a

    Braslia, onde se encontrou com Juscelino, que lhe

    mostrou o trabalho dos arquitetos. Ele entendeu esse

    fenmeno. Se quisesse ter o mesmo resultado, seria

    necessrio usar os quadros que tinha em So Paulo. Foi

    uma poca maravilhosa. Os arquitetos de repente,

    tiveram de se preparar para um novo momento, que se

    iniciava com a construo de fruns, escolas, etc.[ ]

    A nossa gerao, enfim, pegou o bonde andando. Era

    uma poca maravilhosa. Quando comeamos a

    trabalhar, isso tudo j estava sistematizado [...]5.

    Nesse contexto, foi produzida talvez a grande parte

    da arquitetura moderna desenvolvida pelos arquitetos

    paulistas, conhecida tambm como a escola paulista

    (SEGAWA, 2002).

    Sobre esta denominao muitos estudos foram

    realizados e muitos ainda viro e, embora no seja o foco

    deste trabalho, algumas posies devem ser mencionadas.

    Oswaldo Bratke em depoimento a revista AU n. 17, revela

    que quando a arquitetura moderna havia se consolidado, o

    clima era de intercambio e no de rivalidade. Na mesma

    revista Abrao Sanovicz relata que a arquitetura

    5WOLF, Jos. Uma pedra no caminho. Depoimentos sobre a EscolaPaulista. AU 17: pp.56 e 57. abril/ maio, 1988.

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    desenvolvida em So Paulo s acontece em funo da

    experincia carioca anterior.

    Ruy Ohtake (1988, p.57), em sequncia, diz no ser

    favorvel a qualquer regionalizao e, s a aceita como

    segmentao didtica, pois Tudo faz parte da Arquitetura

    Moderna Brasileira, uma das mais significativas

    manifestaes de toda cultura brasileira 6

    6WOLF, Jos. Uma pedra no caminho. Depoimentos sobre a EscolaPaulista. AU 17: pp.56 e 57. abril/ maio, 1988.

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    OS PRIMEIROS 20 ANOS

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    Figura 22 Desenho do autor. Diagrama demonstrativo daproduo e condicionantes poltico/econmicas.Fonte: Arquivo pessoal

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    Os primeiros vinte anos aps a formao acadmica

    de Ruy Ohtake (Fig.22) foram paradoxalmente acentuados:

    Se por um lado representaram os momentos mais

    profcuos da arquitetura brasileira, por outro forampautados pelo agravamento dos problemas de espao

    urbano e, sobretudo pelo golpe militar de 1964, refletido

    nos aspectos sociais, econmicos e polticos que

    marcaram a histria do Brasil e a trajetria da arquitetura

    brasileira.

    Se, a economia caminhava a passos largos, antes

    mesmo do incio do governo de Juscelino Kubitscheck, omesmo no se pode dizer sobre o fim de seu mandato,

    pois se aprofundava numa crise de instabilidade poltico-

    econmica sem precedentes.

    Para Segawa (2002), o alto ndice inflacionrio e o

    desequilbrio na balana comercial, foram responsveis

    pela crise econmica do fim do governo JK. Politicamente,

    a renncia de Jnio Quadros e as atitudes de seu sucessor

    Joo Goulart, culminaram no golpe mili tar em 1964.

    esteira das grandes realizaes arquitetnicas,

    entre elas a inaugurao de Braslia, vieram tambm

    subjacentes alguns dos mais graves problemas, pois

    embora o movimento moderno da arquitetura brasileira, apartir dos anos 1960, j havia adquirido reconhecimento

    nacional e internacional, os conflitos de espaos seguidos

    pela escassez de habitaes populares, nas grandes

    cidades no haviam sido equacionados, e o esforo do

    poder pblico nesse sentido era quase nulo (BRUAND,

    2005).

    Bastos (2003) explica este fato argumentando queno perodo desenvolvimentista democrtico e progressista,

    segundo a ptica de Juscelino Kubitschek, deixou de lado

    em seu plano de metas aspectos importantes como,

    habitao e infraestrutura das grandes cidades, que

    passaram a ser desenvolvidos por meio de um carter

    tecnocrtico pelo governo militar, estatizando a economia

    gerando condies para criao de grandes empresas deengenharia consultiva.

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    Como decorrncia, no campo da arquitetura e

    construo civil, para fazer frente crescente demanda

    desenvolvimentista nas reas de infraestrutura,

    transportes, comunicao e industrias, entre outros, osprojetos de grande porte eram desenvolvidos por empresas

    de engenharia, que segundo Segawa (2002), muitas vezes

    ampliaram o campo de atuao dos arquitetos.

    Porm, como consequncia, os escritrios de

    arquitetura, sem participarem diretamente desse processo,

    tinham, na iniciativa privada, seu campo de atuao

    (FARIAS, 1994).O entendimento de Ruy Ohtake sobre este fato de

    que:

    [...] os militares estabeleceram o golpe em 1964, mas eles no

    tinham profissionais suficientes para tocarem o Brasil.

    Estimulou-se ento a criao das grandes empresas de

    engenharia com duas a trs mil pessoas em seus quadros.

    Nesta poca, foram realizados grandes projetos no Brasil,

    como aeroportos do Galeo e Cumbica, grandes hidreltricas,

    etc. No lhes interessavam projetos polmicos e sim projetos

    que passassem sem discusso. Ento a criatividade, que pode

    gerar polemica, no interessava aos militares [...], (Informao

    verbal)7.

    Ainda em 1964, havia sido convidado, juntamente

    com Dcio Tozzi, para ser assistente de Alfredo Paesani,

    ento professor do Mackenzie, mas o incio dessa carreira

    foi bruscamente interrompido, um ms aps as atividades

    iniciais, em decorrncia do regime mili tar implantado.

    7OHTAKE, Ruy. Informao verbal em Procedimentos de Projeto,palestra realizada na FAUUSP em 15/10/2008.

    [...] embutidos em equipes organizadas por empresas

    de engenharia consultiva (Themag, Hidroservice,

    Promon, Figueiredo Ferraz, IESA, CNEC, Tenenge),

    que, nos anos de 1960-1970, virtualmentemonopolizaram o planejamento das grandes obras civis

    do regime militar.

    Segawa (2002, p.160).

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    ESSNCIA E OS PRINCIPAIS CONCEITOS

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    Figura 23 Desenho do autor. Diagrama demonstrativo de projetos deresidncias individuais e suas primeiras premiaes.Fonte: Arquivo pessoal.

    Residncias individuais, com destaque para as primeiras premiaes.

    1 - Rosa Okubo ; 2- Chiyo Hama.; 3- Tomie Ohtake ; 4 - Jlio Menoncello;

    5 - Jos Roberto Filipelli ; 6 - Nadir Zacarias.

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    O ano de 1964, apesar do golpe militar, marcou o

    inicio de uma vasta produo de projetos e obras de

    residncias individuais.

    Entre as obras mais divulgadas des