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1 A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO: DOS PRESSUPOSTOS CURRICULARES À ORGANIZAÇÃO DOS DOCUMENTOS NA INSTITUIÇÃO ESCOLAR 1 Lucia Vitorina Bogo 2 O ato de planejar nas instituições de ensino que assumiram o currículo regional, coletivamente sistematizado, envolve o domínio consistente e simultâneo de um conjunto de saberes sobre os pressupostos filosóficos, psicológicos, pedagógicos e legais, expressos no Currículo Básico para a Escola Pública da Região Oeste do Paraná e referendado nos projetos políticos pedagógicos das diferentes instituições que pautam seu trabalho nesse documento curricular. Os referidos pressupostos nos situam e, ao mesmo tempo, direcionam-nos à exigência de práticas pedagógicas que promovam aprendizagens significativas, no sentido de apropriação dos conhecimentos historicamente produzidos pela humanidade, os quais constituem o arcabouço cultural. Para tanto, há que se planejar de forma intencional e articulada a ação pedagógica de ensinar, de modo que os estudantes se apropriem efetivamente de saberes significativos em suas aprendizagens. Neste primeiro momento, faremos uma tentativa de refletir sobre a unidade necessária entre os documentos que organizam a prática docente. Para tanto, tomamos como ponto de partida as concepções delimitadoras do referencial curricular adotado nesta região, ressaltando que temos como princípio basilar o materialismo histórico dialético; a psicologia histórico-cultural e a pedagogia histórico-crítica, as quais resultaram de uma opção consciente de um grupo de trabalho, cujos estudos e discussões somaram-se aos esforços de décadas e de todo um coletivo, registrados em inúmeras produções acadêmicas e relatórios institucionais, publicados ou arquivados. Além desses pressupostos, contamos sempre com a delimitação legal, advinda do arcabouço jurídico que indica e delimita procedimentos no campo das instituições educacionais, bem como na implementação das políticas públicas. Cabe ressaltar que neste momento, não são objetos de estudo ou análise, os pressupostos 1 Texto elaborado como apoio aos estudos e discussões realizados no Grupo de Trabalho Organização do Trabalho Pedagógico na Educação Básica, organizado pelo Departamento de Educação da Associação dos Municípios do Oeste do Paraná AMOP. 2 Professora na Rede Pública Estadual do Estado do Paraná, no Curso Formação de Docentes para Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Coordenadora do GT Organização do Trabalho na Educação Básica (2017) e do GT Pressupostos Teóricos do Currículo Básico e Organização do Trabalho na Instituição Escolar (2017).

A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO: DOS … · Figura 3 Elementos constituintes do PPP ... Os marcos constitutivos do PPP são fundamentos que situam a discussão ... no currículo,

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1

A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO: DOS PRESSUPOSTOS CURRICULARES À ORGANIZAÇÃO DOS DOCUMENTOS NA INSTITUIÇÃO

ESCOLAR1

Lucia Vitorina Bogo2

O ato de planejar nas instituições de ensino que assumiram o currículo

regional, coletivamente sistematizado, envolve o domínio consistente e simultâneo de

um conjunto de saberes sobre os pressupostos filosóficos, psicológicos, pedagógicos

e legais, expressos no Currículo Básico para a Escola Pública da Região Oeste do

Paraná e referendado nos projetos políticos pedagógicos das diferentes instituições

que pautam seu trabalho nesse documento curricular. Os referidos pressupostos nos

situam e, ao mesmo tempo, direcionam-nos à exigência de práticas pedagógicas que

promovam aprendizagens significativas, no sentido de apropriação dos

conhecimentos historicamente produzidos pela humanidade, os quais constituem o

arcabouço cultural. Para tanto, há que se planejar de forma intencional e articulada a

ação pedagógica de ensinar, de modo que os estudantes se apropriem efetivamente

de saberes significativos em suas aprendizagens.

Neste primeiro momento, faremos uma tentativa de refletir sobre a unidade

necessária entre os documentos que organizam a prática docente. Para tanto,

tomamos como ponto de partida as concepções delimitadoras do referencial curricular

adotado nesta região, ressaltando que temos como princípio basilar o materialismo

histórico dialético; a psicologia histórico-cultural e a pedagogia histórico-crítica, as

quais resultaram de uma opção consciente de um grupo de trabalho, cujos estudos e

discussões somaram-se aos esforços de décadas e de todo um coletivo, registrados

em inúmeras produções acadêmicas e relatórios institucionais, publicados ou

arquivados. Além desses pressupostos, contamos sempre com a delimitação legal,

advinda do arcabouço jurídico que indica e delimita procedimentos no campo das

instituições educacionais, bem como na implementação das políticas públicas. Cabe

ressaltar que neste momento, não são objetos de estudo ou análise, os pressupostos

1 Texto elaborado como apoio aos estudos e discussões realizados no Grupo de Trabalho Organização

do Trabalho Pedagógico na Educação Básica, organizado pelo Departamento de Educação da Associação dos Municípios do Oeste do Paraná – AMOP. 2 Professora na Rede Pública Estadual do Estado do Paraná, no Curso Formação de Docentes para

Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Coordenadora do GT Organização do Trabalho na Educação Básica (2017) e do GT Pressupostos Teóricos do Currículo Básico e Organização do Trabalho na Instituição Escolar (2017).

2

em si, cabendo indicá-los como referencial fundamental, uma vez que permearão as

inferências a serem realizadas.

Quando nos reportamos ao Currículo Básico para a Escola Pública da Região

Oeste do Paraná, temos que:

Figura 1 Relações do Currículo com os Pressupostos

Fonte: Elaborada pela autora

Todos os municípios e suas instituições educativas que adotaram o referido

documento curricular enquanto norteador da organização do trabalho pedagógico em

suas instituições assumem em seus Projetos Políticos Pedagógicos (PPPs), em

decorrência da unidade e coerência conceitual, os mesmos pressupostos teóricos.

Assim, em seus PPPs, quer seja o da Secretaria Municipal de Educação ou de cada

uma das unidades escolares, sejam centros de educação infantil ou escolas, têm

como indicadores, os mesmos pressupostos do Currículo Básico:

Currículo Básico para a

Escola Pública da

Região Oeste do Paraná

Materialismo Histórico Dialético

Psicologia Histórico-Cultural

Pedagogia Histórico-

Crítica

Fundamentos Legais

3

Figura 2 Relações do PPP com os Pressupostos

Fonte: Elaborada pela autora

Cada unidade escolar (Centro de Educação Infantil ou Escola), por sua vez,

há que organizar o seu Projeto Político Pedagógico tendo como fundamento os

referidos pressupostos para proceder a análise do contexto da comunidade na qual

se encontra a instituição escolar, projetando suas intencionalidades e apresentando

sua proposta de organização do trabalho administrativo e pedagógico, abarcando a

totalidade das atividades que se fazem necessárias para que o ato pedagógico de

ensinar e aprender se efetive. Nesse contexto, cada PPP terá explicitado em seus

elementos constituintes, além de toda a estrutura de apresentação, os elementos mais

importantes indicados nos denominados: Marco Situacional, Marco Conceitual,

Marco Operacional, os quais podem sofrer pequenas modificações de nomenclatura,

dependendo dos autores consultados, contudo, o teor perpassa por conteúdos

essenciais que elencaremos na sequência.

PPP

Secretarias

Instituições

Escolares

Materialismo Histórico Dialético

Psicologia Histórico-Cultural

Pedagogia Histórico-

Crítica

Fundamentos Legais

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Figura 3 Elementos constituintes do PPP

Fonte: Elaborada pela autora

Os marcos constitutivos do PPP são fundamentos que situam a discussão

sobre a organização do Plano de Ensino ou Plano de Trabalho Docente (PTD) ou

planejamento, bem como o Plano de Aula ou diário de classe, no contexto mais amplo,

qual seja, inseridas na organização da Proposta Pedagógica Curricular (PPC), no

plano da escola, no currículo, no projeto de sociedade. Portanto, não é cabível ao

professor planejar seu conteúdo, desvinculado dos compromissos assumidos pela

instituição escolar junto à comunidade na qual se encontra inserida a unidade escolar,

muito menos, desconhecendo o próprio projeto político pedagógico institucional, as

demandas da comunidade, suas particularidades. Essa unidade é construção que se

faz pelo esforço coletivo dos sujeitos que assumem o compromisso com o projeto da

comunidade, pautados nos pressupostos que amparam o currículo regional. Não há

como ser diferente, caso a coerência teórico-prática seja uma das metas a alcançar

no campo da gestão administrativa e pedagógica.

Nesse contexto, é que indicamos o Marco Situacional ou Referencial como

sendo o momento em que a comunidade escolar expressa sua identidade revelando

suas potencialidades e fragilidades de modo a evidenciar seu autoconhecimento para

fins de projetar intencionalidades. É onde ela reconhece a identidade de todos os

sujeitos, identifica a identidade da comunidade para além dos muros escolares,

reconhecendo, inclusive que a comunidade tem uma história anterior à própria criação

da instituição escolar. Nesse exercício de olhar para as práticas existentes é possível

reconhecer no âmbito do administrativo, do pedagógico, do humano, do material, do

PPP

Dados de Identificação

Marco Situacional

Marco Conceitual

Marco Operacional

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financeiro, do físico, dentre outros aspectos àquilo que precisa ser otimizado e àquilo

que pode e deve ser melhorado. Temos defendido, neste momento da organização

do Marco Situacional que é de suma importância reconhecer a construção identitária

da comunidade, para além dos muros escolares, buscando investigar como ela

enxerga os pontos fortes e as fragilidades da organização do bairro ou região em que

a instituição está situada.

Além disso, ao proceder o levantamento socioeconômico cultural das famílias,

dos docentes e funcionários cabe ressaltar o sentido da análise dos dados levantados

investigando-os na relação com a função social da instituição escolar, na organização

da comunidade e na consolidação de uma das políticas públicas mais significativas

quanto à formação intelectual dos filhos e filhas da classe trabalhadora. As atividades

econômicas desenvolvidas, as relações de trabalho, os vínculos familiares, as

condições de moradia e de saneamento básico, o acesso aos serviços públicos de

saúde, lazer, transporte, segurança, educação, cuidados com a preservação do meio

ambiente, dentre outros são indicadores da qualidade de vida e ou da sua

precariedade, trazendo elementos para que a organização do trabalho pedagógico no

campo do marco operacional se efetive nas propostas pedagógicas curriculares

auxiliando na busca de conhecimentos que mobilizem a própria comunidade no

sentido de problematizar a sua prática social, dela extraindo elementos para agir

objetivando provocar mudanças na forma de organização da própria comunidade.

Ressaltamos aqui que, aquilo que for identificado como fragilidade e/ou

potencialidade da comunidade deve transparecer nas práticas docentes curriculares,

posteriormente, no marco operacional, mais especificamente na Proposta Pedagógica

Curricular, à medida que os conteúdos a serem ensinados forem discutidos,

mediados, problematizados. Conhecer a realidade de uma comunidade que convive

com a degradação ambiental, uso de agrotóxicos fará sentido no momento em que os

conteúdos de Ciências e Geografia, por exemplo, estiverem como objeto de estudo e

aprofundamento e essa relação transparecer de forma intencional na organização da

proposta pedagógica curricular das referidas disciplinas. Desse modo, à proporção

que a escola cumprir com sua função social de formar os estudantes dessa

comunidade, instrumentalizando-os no arcabouço de conhecimentos, que os

instrumentalize para compreender os danos provocados pela degradação ambiental,

é possível contribuir para que ações, a médio e longo prazo, possam ser construídas

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nas demais instituições representativas desta mesma comunidade local e regional,

visando o enfrentamento de tais problemáticas.

O Marco Situacional, como podemos inferir, é o momento de a comunidade

escolar situar-se no tempo histórico e no espaço geográfico, demarcando as diversas

relações que a constituíram, identificando a totalidade dos sujeitos que construíram a

sua história, sobretudo aquela que não costuma ser registrada nas páginas oficiais ou

que permanece invisível aos olhos da maioria. Esse é o momento de identificar a

instituição para além da estrutura física, é o registro de como ela se constituiu em seus

diversos processos, suas relações humano-profissionais, administrativo-pedagógicas,

político-pedagógicas. Reconhecer onde a comunidade está situada é o primeiro e

mais importante passo para poder delimitar os rumos da sua proposta curricular,

naquilo que compete às escolhas desta comunidade, para além daquilo que está

construído no documento curricular guia, adotado pela mantenedora. Afinal, assumir

a identidade com a mantenedora, foi um dos primeiros pontos que fizemos nesta

análise, ou seja, esfera pública, municipal, na oferta da Educação Infantil e Anos

Iniciais do Ensino Fundamental, incluindo as modalidades da Educação Especial,

Educação de Jovens e Adultos, além da Educação do Campo, da Educação Indígena,

Quilombola e ou outra, dependendo de onde está situada a instituição. Assim, cabe

ressaltar que, para a Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental,

sobretudo, estamos nos referindo a duas etapas com proposta curricular construída e

revisada coletivamente por grupos de trabalho regional.

De forma sintética, ao proceder a leitura do Marco Situacional temos que

saber identificar: Quem somos? Onde estamos? Como estamos? Por que estamos?

Com quem estamos? O que fizemos? Como fizemos? É um retrato descritivo-reflexivo

sobre a comunidade, para além dos muros da escola, para além do momento em que

a instituição foi criada, lembrando que a existência da comunidade é anterior à

instituição escolar, portanto, não é esta que justifica a escola, mas é aquela que

demanda esta. Aqui, por vezes, gera dúvidas de onde dispor o histórico da instituição,

de forma anterior ou no Marco Situacional? São escolhas da comunidade escolar, sob

orientação da mantenedora, sendo que o mais importante é prestar atenção ao teor

da escrita. O registro histórico deve primar por processos, estando atento à

organização coletiva para a constituição da instituição escolar, evitando transpor

pessoas de forma individualizada a um patamar de “merecimentos” políticos, como se

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a construção de uma instituição escolar fosse, na sua ampla maioria, resultado do

trabalho ou empenho de uma ou duas pessoas apenas. Não perder o foco do processo

histórico de organização da comunidade e resgatar as vozes que, na maioria das

vezes foram silenciadas é um ótimo exercício, inclusive, para pesquisa por parte dos

próprios estudantes, os quais podem buscar informações em documentos legais, atas,

depoimentos ou outras fontes históricas.

O Marco Conceitual, por sua vez, é o momento de a comunidade expressar

a unidade teórica com os pressupostos expressos no Currículo Básico para a Escola

Pública da Região Oeste do Paraná. Nesse sentido, cabe ressaltar que não é apenas

a transposição de tais pressupostos para o texto do PPP, mas sobretudo sua

discussão, análise e compreensão por parte de todos os sujeitos que integram a

comunidade escolar, abarcando-os na totalidade das dimensões que integram os

afazeres da instituição escolar. Vale indagar de que forma os referidos pressupostos:

filosóficos, psicológicos, pedagógicos e legais implicam, determinam e/ou delimitam

as práticas de ensino, de aprendizagem, de organização da gestão, do serviço de

alimentação escolar, da limpeza, da secretaria e documentação escolar, do

atendimento pedagógico, dos projetos, da recuperação de estudos, da e na inclusão

educacional e social, na formação continuada e na abordagem e trabalho com a

comunidade escolar? Enfim, de que modo as práticas estão permeadas e revelam a

compreensão de tais pressupostos?

A revisão conceitual é indispensável a partir dos estudos realizados com todos

os segmentos sendo necessário manter a unidade teórica entre os pressupostos.

Quando da análise dos textos que integram o marco conceitual é comum

encontrarmos a defesa do materialismo histórico dialético, no campo dos

pressupostos, associado a enunciados da qualidade total, no campo da gestão. Da

mesma forma, muitas vezes, a instituição assume os pressupostos da psicologia

histórico-cultural de modo coerente aos pressupostos do Currículo Básico para a

Escola Pública da Região Oeste do Paraná e elenca as práticas da aprendizagem

pautadas nas etapas do desenvolvimento, compreendidas enquanto inatas e/ou

cronologicamente dadas, como se essas se efetivassem de forma independente da

qualidade dos processos de mediação docente promovidos ao longo do trabalho

pedagógico.

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Ao assumir as concepções demarcadas no currículo orientativo das práticas

pedagógicas regionais cabe ressaltar que, de modo simultâneo, exige-se assumir

concepções específicas de ensino, aprendizagem, mediação, desenvolvimento,

organização e gestão pedagógica, as quais resultam, sobretudo, do entendimento de

que a organização social não é dada naturalmente. Essa é uma forma de organização

que resulta de uma construção histórica, delimitada na luta de classes, em que

interesses de uma classe tem se sobreposto à outra, de forma a expropriar a ampla

maioria do acesso aos bens sociais e culturais historicamente produzidos. E, é no seio

dessa luta que os processos formativos escolarizados se encontram situados e, dentro

deles, os próprios professores/educadores, enquanto sujeitos sociais, também

expropriados material e/ou culturalmente, são sujeitos da ação pedagógica que visam

atuar no sentido da emancipação humana, num movimento, no mínimo, conflituoso.

O Currículo Básico (2015) apresenta-nos, a partir dos pressupostos da

Psicologia Histórico-cultural, as atividades-guia ou atividades dominantes que nos

ajudam a compreender o processo de desenvolvimento humano de modo que a

atividade pedagógica possa assumir, efetivamente, seu trabalho de mediadora dos

processos de aprendizagem, atuando no desenvolvimento das funções psíquicas. As

atividades guia do desenvolvimento, retomadas nos escritos de Tuleski e Eidt (2016),

no primeiro ano é a Comunicação Emocional Direta; a Atividade Objetal Manipulatória,

na Primeira Infância; a Atividade do Jogo de Papeis, na idade Pré-escolar; a Atividade

de Estudos, na Idade escolar; a Atividade de Comunicação Íntima Pessoal, na

Adolescência Inicial; e, a Atividade Profissional, na Adolescência.

Amparadas nos estudos de Vygotsky, as autoras destacam a periodização

do desenvolvimento com alternância de períodos estáveis e de crise:

Crise Pós-natal; primeiro ano - Crise de 1 ano;

Infância precoce (1 a 3 anos) - Crise dos 3 anos;

Idade Pré-escolar (3 a 7 anos) - Crise dos 7 anos;

Idade Escolar (8 a 12 anos) - Crise dos 13 anos;

Puberdade (14 a 18 anos) - Crise dos 17 anos.

É importante ressaltar que essa divisão/organização não obedece a critérios

cronológicos rígidos, conforme enfatizado pelos próprios pesquisadores, uma vez que

as condições socioculturais são fatores determinantes do desenvolvimento humano,

expressos pela e na relação que se constitui na situação social, mediada pela

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atividade e que ao promover transformações produz novas formas de relacionamento

com a própria situação social e reorganização da e na atividade social, sendo

necessário compreender, ainda, o conceito de neoformação, para o qual, Tuleski e

Eidt (2016), apresentam o conceito, a partir do definido por Vygotsky (1996) conforme

segue:

Entendemos por formações novas o novo tipo de estrutura da personalidade e de sua atividade, as mudanças psíquicas e sociais que se produzem pela primeira vez em cada idade e determinam, no aspecto mais importante e fundamental, a consciência da criança, sua relação com o meio, sua vida interna e externa, todo o curso de seu desenvolvimento em um período dado (Vygotsky, 1996, apud, MARTINS, et al, 2016, p. 53).

A atividade mediadora do ato educativo, sob responsabilidade do adulto e,

sobretudo, da escola, impõe sentidos e significados à ação pedagógica desenvolvida

em cada unidade escolar. Assim é que o destaque apresentado por Martins

(2016),assume especial relevância:

(...) uma vez que sendo processo o desenvolvimento é movimento, e, como todo movimento, encerra contradições internas que o movem. Esse preceito metodológico assume importância ímpar para a análise da periodização do desenvolvimento evidenciando, primeiramente, que o desenvolvimento não resulta nem do polo sujeito nem do polo objeto (condições sociais de vida), mas da natureza e da qualidade das mediações interpostas entre ambos. Por conseguinte, os dispositivos biológicos naturais – “localizados” no polo sujeito, a exemplo da idade cronológica – não são os parâmetros reais que balizam a evolução/transformação dos períodos experienciados pelos indivíduos (MARTINS, 2016, p.21).

Nessa direção a autora reforça que o ato educativo não pode ser

secundarizado no que tange às condições em que ele ocorre, quanto à seleção de

conteúdos e sua forma de organização, impondo responsabilidades à prática docente

em todo o ato de planejar e executar a ação, de modo que a ação pedagógica assuma

a intencionalidade de intervir no desenvolvimento de forma qualitativa, sendo

emergente, portanto, seu planejamento de forma intencional, o que nos remete ao

definido pelo professor Saviani (2012) enquanto trabalho educativo e o objeto da

educação, quais sejam:

(...) trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo a singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens. Assim, o objeto da educação diz respeito, de um lado, à identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que eles se tornem humanos e, de outro lado e,

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concomitantemente, à descoberta das formas mais adequadas para atingir esse objetivo (SAVIANI, 2012, p. 13).

Portanto, compreender o desenvolvimento humano enquanto resultado das

mediações promovidas nas experiências sociais requer colocar o processo de ensino

e aprendizagem no centro da atenção pedagógica recuperando sua essencialidade

no sentido de identificação do que representa o ato de ensinar. O que significa

aprender? Qual ou quais as diferenças essenciais entre os conhecimentos

memorizados e os conhecimentos aprendidos? Quais os encaminhamentos didáticos

que dão conta de promover a aprendizagem de modo que o desenvolvimento seja o

fim a alcançar? Ao responder essas questões, pautadas em pressupostos

consistentes e coerentes com o currículo regional, a comunidade escolar estará

situando conceitualmente suas práticas pedagógicas e administrativas.

Na relação com o Materialismo Histórico Dialético e com a Psicologia

Histórico-cultural, a Pedagogia Histórico-crítica direciona a atividade pedagógica de

modo a não deixar dúvidas sobre os encaminhamentos que sustentam o trabalho na

instituição escolar de modo a responder a necessidade de a escola cumprir com sua

função social na direção de contribuir para a emancipação dos filhos da classe

trabalhadora, por intermédio da socialização dos conhecimentos científicos e

artísticos, historicamente produzidos pela humanidade.

É fundamental compreender que a prática pedagógica necessária a

implementação dessa proposta curricular se pauta nos pressupostos da Pedagogia

Histórico-crítica e na organização do trabalho pedagógico a partir do defendido pelo

professor Saviani (1994), o qual articula a atividade pedagógica em cinco momentos

indissociáveis, quais sejam, a prática social inicial, a problematização, a

instrumentalização, a catarse e a prática social final ou reelaborada. Para tanto, faz-

se mister recuperar a atividade fim da instituição escolar: o ensino e a aprendizagem,

qualificando-os, nas palavras de Martins (2016):

Ao estabelecermos relações nesse momento – prática social e os processos de aprendizagem e ensino -, destacamos que aluno e professor apresentam-se nela como agentes sociais distintos, conduzindo suas ações por percursos lógicos e conteúdos simbólicos diferentes e necessariamente contraditórios. O que significa dizer: entre o curso lógico do ensino e a lógica interna dos processos psíquicos do aluno não existe correspondência absoluta (MARTINS, 2016, p. 28).

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Essa não correspondência não implica esperar pelo desenvolvimento, mas

sobretudo provocá-lo por meio do ensino, por intermédio de atividades pedagógicas

mediadoras que considerem o processo de desenvolvimento e a ele se adiantem,

tomando como princípio que:

O percurso lógico da aprendizagem segue uma linha de desenvolvimento que caminha do concreto (sensorial, empírico) para abstrato, do particular para o geral, do cotidiano para o não cotidiano, dos conhecimentos de senso comum para os conhecimentos mais elaborados e complexos (MARTINS, 2016, p. 28).

Quanto ao ensino a autora destaca: Já o percurso lógico do ensino carece ocorrer do abstrato para o concreto, do geral para o particular, da síntese como possibilidade para a superação da síncrese, do não cotidiano para o cotidiano, dos conceitos científicos a serem confrontados com os conceitos espontâneos (MARTINS, 2016, p. 29).

Transitando pelo percurso do ensino e pelo percurso da aprendizagem,

professor e aluno, sujeitos da relação ensino e aprendizagem se configuram sujeitos

de um processo que tem como objetivo a superação da síncrese e a construção de

sínteses, as quais serão sempre provisórias, mas que em sendo provisórias carregam

a responsabilidade de se constituirem prenhes de conteúdo e significado político,

social, cultural que, por sua vez permitem novas sínteses, rupturas, saltos qualitativos

e rearranjos nos processos psíquicos, os quais, por sua vez, constituem a base do

desenvolvimento humano.

É sempre salutar destacar que, no campo conceitual, os pressupostos legais

delimitam rumos institucionais, tanto administrativos, quanto pedagógicos. Eles são o

que normatizam as práticas e devem ser respeitados em um estado de direito. Assim,

além das regulamentações da esfera federal e estadual, cabe a cada instituição cuidar

com as normativas de seu município, de modo a tomá-las como referencial das

práticas, evitando que na gestão do público os princípios constitucionais referenciados

no Artigo 37 da Constituição Federal de 1988 sejam desrespeitados, cabendo aqui

indicá-los de forma sucinta, quais sejam legalidade, impessoalidade, moralidade,

publicidade e eficiência, assim como seus desdobramentos. Permear a gestão do

público pelo respeito à legalidade é condição necessária para que a instituição cumpra

com transparência a sua função social.

12

Por fim, no Marco Operacional é onde se apresentam as formas como a

instituição executará suas intencionalidades de fazer acontecer, reforçando o que está

bom, bem como agindo no sentido de interferir naquilo que tenha identificado

enquanto fragilidade. No marco operacional encontram-se as Propostas

Pedagógicas Curriculares para cada etapa e modalidade ofertada pela instituição,

bem como os Projetos e Planos de Ação de cada um dos segmentos da instituição

escolar. E, aqui, novamente, o cuidado com o respeito aos pressupostos assumidos

precisa ser rigoroso, sendo que a unidade e a coerência com os princípios teóricos

requer responsabilidade por parte de todos, uma vez que a operacionalização é

sempre movimento e o movimento é tensionado pelas múltiplas interferências que

permeiam o contexto escolar, dentre elas, os provocados pelo atropelo e,

consequente aligeiramento nos processos de discussão e sistematização de sínteses

que, deveriam ser coletivas, mas que, muitas vezes, tornam-se parciais, quase que

solitárias.

É dessa organização mais ampla que decorre a organização do trabalho

docente. E, é nessa articulação dos documentos que situamos o trabalho do

coordenador pedagógico e do professor em sala de aula, naquilo que denominamos

de planejamento da ação docente que será expresso em um documento formal, ou

seja, o Plano de Trabalho Docente, conforme responsabilidade prevista no texto da lei

de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96. O Plano de Trabalho

Docente, responsabilidade primeira do professor, assume diferentes denominações,

estando naturalizado como Planejamento ou Plano de Ensino e sua organização com

variações em bimestral, trimestral, semestral e anual, cabendo ressaltar que o

fundamental é não perder de vista suas articulações essenciais:

Figura 4 Articulações Conceituais nos documentos institucionais

Fonte: Elaborada pela autora

Currículo

(MHD, PH-C, PH-C)

PPP

PPC

PTD

PA

13

Para tanto, consideramos indispensável que o professor esteja munido de um

conjunto de conhecimentos para realizar o plano de trabalho pedagógico, sob sua

responsabilidade, a organização da proposta pedagógica curricular e os pressupostos

que a amparam, dentre elas a atividade guia/dominante e as formações globais, suas

características e indicativos, de modo a estabelecer os percursos da organização do

trabalho pedagógico na sala de aula, mediando de forma sistemática e intencional

para que o ensino, efetivamente se adiante aos processos de desenvolvimento

atuando na zona de desenvolvimento eminente3, conforme responsabilidade

pedagógica que nos compete.

Na organização do trabalho pedagógico, é necessário considerar o currículo

em sua totalidade e como está estruturado para a etapa do ensino para o qual estará

organizando o plano de trabalho. No Currículo Básico para a Escola Pública da Região

Oeste do Paraná, adotou-se a organização dos conteúdos por Eixos, na Educação

Infantil e a organização disciplinar dos conteúdos, por ano no Ensino Fundamental –

Anos Iniciais. Entretanto, no interior da distribuição disciplinar dos conteúdos,

manteve-se a organização por eixos. É salutar estabelecer alguns indicativos de seus

sentidos e significados na operacionalização dos conhecimentos que compõem o

objeto de estudo das referidas disciplinas.

Assim, compete ao professor, dar conta de, ao ensinar o conjunto de conceitos

e relações que integram um determinado conteúdo, percebê-lo na sua relação com os

demais conhecimentos, dentro da própria área de estudos ou mesmo, em outras, uma

vez que a organização curricular responde muito mais a uma exigência formal para

operacionalizar os sistemas de ensino enquanto unidades gestoras do que para

abarcar as necessidades pedagógicas do ato de ensinar e aprender. Reforçamos,

portanto, que o eixo assume aqui a intencionalidade de articulador de um conjunto de

conhecimentos/conceitos, servindo ao professor como elemento referenciador de sua

própria prática à medida que ao longo dela, os conceitos, informações, análises e

sínteses promovidas devem dele partir e a ele retornar, ajudando a organizar os

procedimentos didáticos, inclusive.

Em síntese, os eixos são os elementos articuladores do conjunto de saberes

que compõem à área de conhecimentos funcionam como fios que conduzem ou

3 Também denominada zona de desenvolvimento proximal, dependendo da tradução.

14

entrelaçam conceitos e reflexões de modo a auxiliar na compreensão da realidade

e/ou fenômeno em estudo.

Feitas essas considerações, podemos retomar o que temos na organização

curricular:

EDUCAÇÃO INFANTIL – Organizado por eixos

1. Identidade e Autonomia;

2. Corpo e Movimento, que se desdobra em: Consciência Corporal: A

experiência do corpo; Experiência com o corpo; Experiência do corpo tendo

como espelho o outro; Apresentação do corpo e a interpretação da linguagem

corporal do outro. Linguagem Cênica; e, Linguagem Musical;

3. Intercomunicação e Linguagens, que se desdobra em: Oralidade: Linguagem

Escrita; e, Linguagem Plástica;

4. Conhecimento do ambiente físico, social e cultural;

5. Noções lógico-matemáticas, que se desdobra em: Números; Medidas;

Geometria; e, Tratamento da Informação.

Em todos os eixos, a avaliação perpassa o trabalho com o Introduzir,

Trabalhar e Aprofundar, exigindo do professor-educador o domínio dos objetivos,

conteúdos e pressupostos que respaldam a prática pedagógica.

Cabe ressaltar que, ao planejar, é condição indispensável que se tome todos

os eixos como referencial do trabalho pedagógico, à luz das atividades

guia/dominantes, tendo como pressuposto a responsabilidade do adulto enquanto

mediador dos processos de desenvolvimento. A Educação Infantil atende de 0 a 5

anos e, nessa condição, ela abarca, pelo menos, três das atividades guia/dominante

indicadas pelo escopo teórico da Psicologia Histórico-cultural, quais sejam: Atividade

de Comunicação Emocional Direta (0 a 1 ano de idade); Atividade Objetal (1 a 3 anos)

e Atividade de Jogo de Papéis (3 a 7 anos).

Nesse contexto, é delicado pensar o planejamento da ação de forma parcial,

no sentido de tempo (do ano letivo: bimestre, trimestre, semestre) ou eixo, pois isso

pode implicar em desconsiderar o todo do desenvolvimento humano, sobretudo a

necessidade de intervenção pedagógica consciente, direcionada para fins de

mobilizar aprendizagens significativas que promovam a superação das aprendizagens

atuais. Ao analisar as contribuições da periodização histórico-cultural do

desenvolvimento para o trabalho pedagógico, Marsiglia e Saccomani (2016) apontam

15

para os estudos de Martins (2012) que organiza os conteúdos em formação

operacional, os quais “referem-se às aquisições que devem ser corroboradas pelo

trabalho docente” (p. 351) e em formação teórica, “que dizem respeito aos

conhecimentos científicos que serão convertidos em saberes escolares (conteúdos) e

“ensinados” diretamente à criança” (p. 352). Essa orientação auxilia na indicação

objetiva da tarefa docente no sentido de organizar a atividade de ensino desde o

berçário, atuando de forma diferente dos estímulos espontâneos que ocorrem em

outros ambientes, sendo que no espaço escolar o professor deve agir, sabendo os

fins a alcançar em termos de promoção do desenvolvimento infantil.

Assim entendemos que compete ao docente retomar cada um dos eixos do

currículo proposto para a Educação Infantil e, no conjunto de conhecimentos

propostos em cada um deles, analisar com responsabilidade e conhecimento formal

e operacional e/ou teórico-prático cada um dos desdobramentos didático-

metodológicos necessários para que a instituição escolar cumpra com sua função

social junto a cada criança enquanto sujeito histórico-cultural singular.

Quando adentramos a organização do ensino vinculado à etapa do

Ensino Fundamental - Anos Iniciais, o Currículo Básico para a Escola Pública da

Região Oeste do Paraná nos remete à organização por disciplinas e essas

apresentam um conjunto de conhecimentos que precisam ser trabalhados ao longo

dessa etapa da formação, num processo contínuo, integrado e de aprofundamento.

Nessa etapa da escolarização, os estudantes encontram-se nos períodos de

desenvolvimento que abarcam a Idade Pré-escolar (3 a 7 anos): Atividade do Jogo de

Papeis, bem como a Crise dos 7 anos e a Idade Escolar (8 a 12 anos): Atividade de

Estudo – além da Crise dos 13 anos. É sempre importante retomar que os períodos

não são demarcados de forma “etapista”, mas são referenciais que tomam por base

os processos sociais e culturais nos quais as crianças encontram-se inseridas,

conforme mencionado anteriormente.

Ao mesmo tempo, vale retomar a organização curricular disciplinar que,

conforme já exposto, mantém os eixos enquanto elementos estruturantes da prática

pedagógica:

Quadro 01 – Organização Curricular Disciplinar

Disciplina Eixos Avaliação

Língua Portuguesa Leitura Oralidade Escrita/Produção e Reescrita de Texto

Introduzir Trabalhar A/C: aprofundar/

16

Análise Linguística Consolidando

História Vida Trabalho Relações Próximas/Relações Sociais e de poder História

Introduzir Trabalhar A/C: aprofundar/ Consolidando

Geografia Formação de conceitos de espaço e tempo Representação do espaço e domínio da territorialidade Relações sociais e de produção presentes nos espaços Produção e transformação sócio-históricas dos espaços

Introduzir Trabalhar Consolidar

Ciências Noções de Astronomia Transformação e Interação Matéria e energia Saúde e melhoria da qualidade de vida

Introduzir Trabalhar Consolidar

Arte Linguagens Artes Visuais Teatro Dança Musica

Descrevendo Analisando Interpretando Fundamentando Revelando

Educação Física Jogos Ginástica Ritmo e Expressividade Cultura Corporal e saúde

Informática Educacional

Apresenta tópicos e conteúdos Acompanhar e Mediar

Matemática

Números e Operações Espaço e forma Medidas e Grandezas Tratamento da Informação

Introduzir Trabalhar A/C: aprofundar/ Consolidando

Ensino Religioso Pré – Eu, minha identidade e o meu desenvolvimento 1º ano - Eu e a minha realidade 2º ano - Eu e o outro imediato e o contexto escolar 3º ano - Eu e a realidade social (família/escola) e a

natureza ano - Eu, a realidade social do bairro e a natureza 5º ano - Eu na história da minha comunidade, as

identidades religiosas, sua unidade e diversidades de crença

Introduzir Aprofundar Consolidar

Fonte: Elaborado pela autora

Em cada eixo há o indicativo de um conjunto de conhecimentos que devem

ser ensinados por meio da ação docente. Aqui, os eixos assumem o mesmo sentido

de elementos articuladores de um conjunto de saberes que impõem ao professor a

tarefa de compreender cada disciplina na sua especificidade, considerando-a na

totalidade dos saberes que integram a Educação Básica, sem perder de vista tudo o

que é necessário para responder do particular ao geral, e deste ao particular, bem

como suas implicações na organização do trabalho pedagógico, incluindo as

especificidades, sem perder de vista os fins a alcançar enquanto projeto social mais

amplo.

Assim reforçamos que, do ensino à aprendizagem, é necessário que a ação

docente incorpore intencionalidades articulando o conjunto de conhecimentos sobre o

processo de desenvolvimento humano e de organização do trabalho pedagógico em

17

suas múltiplas dimensões, dentre elas a parte mais operacional que, nesse caso,

identificaremos como a estrutura do Plano de Ensino ou Plano de Trabalho Docente,

o qual pode sofrer pequenas alterações, dependendo das escolhas da comunidade

escolar, mas que não podem prescindir da definição de alguns elementos básicos,

quais sejam:

a) Situar-se no contexto do que foi exposto até aqui: compreensão dos processos

de desenvolvimento humano e suas implicações para o ato pedagógico e

intencional de ensinar em conformidade com os pressupostos assumidos no

Currículo Básico para a Escola Pública da Região Oeste do Paraná;

b) Conhecer a organização curricular em sua plenitude, no curso e ano no qual

trabalhará, de modo a perceber o conjunto de conhecimentos de cada área na

sua relação com os demais conteúdos, estabelecendo links, no momento de

ensiná-los;

c) Estabelecer objetivos claros de aprendizagem por parte dos estudantes em

relação ao acervo que integra as diferentes áreas do conhecimento;

d) Indicar os conteúdos curriculares;

e) Estabelecer os procedimentos teórico-metodológicos necessários à

apropriação do conjunto de conhecimentos, tendo por base a atividade guia, o

desenvolvimento humano e a necessária mediação pedagógica na

construção/apropriação de conceitos, análises e sínteses;

f) Definir instrumentos e critérios de avaliação orientativos dos processos de

ensino e aprendizagem.

Alguns pontos essenciais começam a ser delimitados a partir desse percurso.

Implica, amparados nesta consciência, retomar o conjunto de conhecimentos

selecionados no Currículo Básico para cada etapa do ensino e, a partir desse

arcabouço (atividade guia + conjunto de conhecimentos) organizar a prática

pedagógica.

Estabelecidas estas considerações, destacamos que a primeira

sistematização por parte da instituição escolar, dentro do Marco Operacional é o da

Proposta Pedagógica Curricular (PPC), sendo necessária uma PPC para cada

curso ofertado, ou seja, se há oferta de Educação Infantil, Ensino Fundamental – anos

iniciais e Educação de Jovens e Adultos – Fase I, para cada uma das etapas e

modalidades, uma proposta deve ser sistematizada. Ao organizá-las é necessário que

18

o curso (Educação Infantil ou Ensino Fundamental ou EJA) seja apresentado em seu

histórico na instituição, constando os aspectos mais relevantes de sua organização,

atos administrativos de aprovação e regulamentação.

Às equipes de ensino que atuam nas secretarias municipais de educação,

cabe considerar que algumas equipes que revisam as PPCs, nos núcleos regionais

de educação, exigem que a apresentação da disciplina seja escrita em separado do

momento em que se apresentam as concepções. Consideramos, contudo, que estas

questões de organização devem ser resolvidas pelas equipes gestoras, considerando

que o fundamento mais importante é o da base conceitual, à qual deve manter-se una

e coerente, tanto em relação às normativas legais, quanto político-pedagógicas,

sobretudo, filosóficas e psicológicas. Poderíamos visualizar desta forma:

PROPOSTA PEDAGÓGICA CURRICULAR ENSINO FUNDAMENTAL – ANOS

INICIAIS

1. Apresentação do Curso

a. Matriz curricular

2. Objetivos do Curso

3. Organização Curricular – situa-se cada disciplina, podendo seguir a ordem

da própria matriz curricular

a. Apresentação/Concepções

b. Objetivos

c. Encaminhamentos teórico-metodológicos

d. Conteúdos

e. Avaliação na disciplina

f. Referências

4. Avaliação no Curso

5. Referências

Vejamos, estamos tratando de duas compreensões simultâneas: enxergar o

curso e dentro dele a(s) disciplina(s) ou eixos, no caso da Educação Infantil. Ao

enxergar o curso, preciso apresentá-lo, indicar seus objetivos, sua organização

curricular (o que implica indicar as disciplinas em sua estrutura, conforme

desmembramentos indicados), apresentar a forma como no curso se situa a avaliação

do ensino e da aprendizagem, bem como ocorre o diálogo com as avaliações

19

promovidas pelo sistema educacional, abarcando a avaliação institucional, condição

necessária à efetivação da gestão democrática, além dos referenciais utilizados para

esta construção teórico-prática. Feito este raciocínio, chegamos ao momento de,

dentro da PPC, enxergar a organização curricular de cada disciplina, a qual exige

perceber o específico do objeto de estudo na sua relação com o todo da formação

prevista para a etapa em que se insere.

Nesse ponto da sistematização da PPC, no item da organização curricular,

dedicam-se esforços no sentido de apresentar cada conjunto de conhecimentos nos

seguintes itens constitutivos: apresenta-se a disciplina, com seus objetivos, sua

concepção, os encaminhamentos teórico-metodológicos que melhor respondem à

efetivação dos pressupostos assumidos pelo PPP institucional, bem como se elencam

os conteúdos da disciplina, por ano ou eixo, além dos instrumentos e critérios de

avaliação, somados aos referenciais que pautam as reflexões da referida área do

conhecimento.

Em síntese, observamos que, realizada a Apresentação/Concepção da

PPC, identificando a coerência com as bases conceituais de ensino e aprendizagem,

inclusão social e educacional, avaliação e organização dos conteúdos, considerando

sempre os sujeitos envolvidos e os compromissos assumidos no Marco Conceitual

pela instituição ofertante do referido curso, e, definidos os objetivos do curso; é,

portanto, o momento de tratar da organização curricular, situando por eixo ou por

disciplinas o conjunto de saberes que serão efetivados ao longo do percurso anual.

Ao adentrar o campo da organização curricular do curso, é necessário

proceder a Apresentação de cada disciplina situando o percurso histórico de

construção do referido campo do saber, de forma breve e clara de modo a auxiliar na

compreensão da importância da permanência deste conjunto de saberes no universo

cultural da humanidade. Na sequência ou concomitantemente, insere-se a

concepção da disciplina, os objetivos dela no curso, podendo ser organizados por

ano de escolarização e a partir desses, a apresentação dos encaminhamentos

teórico-metodológicos e os conteúdos.

Ressaltamos que as questões que permeiam o cotidiano da comunidade

escolar, identificados no Marco Situacional, devem estar contemplados nas escritas

das diferentes disciplinas, à medida que se constituam conteúdos a serem

estudados/aprofundados/problematizados. Voltamos aqui, ao exemplo, das possíveis

20

questões ambientais que permeiam muitas das realidades locais e regionais, ou seja,

escolas que convivem com o uso de agrotóxicos ou lançamento de produtos químicos

no ar, por meio da agroindústria local, ou seja, sendo esse um problema da

comunidade, deve ser também um conteúdo presente na proposta pedagógica

curricular. Não é conteúdo novo, pois em Ciências, por exemplo, ao tratar dos

conteúdos que se inserem no Eixo Saúde e Melhoria da Qualidade de Vida ou de

outros que se inserem na Transformação e Interação da Matéria e Energia; ou na

Geografia na abordagem de conteúdos vinculados ao Eixo Produção e Transformação

Sócio-históricas dos espaços é, por exemplo, passível e necessária, a inserção

dessas questões que dizem respeito ao contexto social mais próximo da comunidade.

Mediante isso é que defendemos não ser possível realizar a simples transposição do

texto do Currículo Básico para a PPC, bem como se deve evitar a inserção de outros

referenciais que não mantenham a unidade teórica.

Assim é que, em relação aos Conteúdos, apesar de, na maioria das vezes,

ser uma transposição mais efetiva do documento curricular, é certo que não é possível

apenas copiá-los da relação posta, sendo necessário confrontar e imprimir a

identidade da comunidade, averiguando aquilo que precisa ser acrescentado e/ou

pode ser redefinido a partir de aprendizagens já garantidas aos estudantes em anos

anteriores, a partir de experiências já consolidadas. Nesse contexto, estamos nos

referindo à construção de PPPs e dentro deles de PPCs que estejam organicamente

vinculados à comunidade escolar, para além dos muros da escola, que analisem as

problemáticas sociais, ambientais, culturais, políticas dentre outras, tomando-as não

como o problema da prática social, entendendo-a numa visão reducionista e

deturpada de seu sentido filosófico, mas como questões que podem ajudar a atribuir

um sentido mais orgânico aos conteúdos curriculares.

Quanto aos encaminhamentos teórico-metodológicos, na escrita da PPC,

há que se considerar as especificidades do curso a que se destina, como por exemplo,

nos anos iniciais do Ensino Fundamental, os processos de alfabetização, a natureza

dos conteúdos, seus desdobramentos, suas articulações, tomando como referência

as atividades guia/dominante, a emergente ação de mediação pedagógica por parte

do professor de modo a promover a formação dos conceitos científicos, ampliando as

experiências no sentido de até o final dessa etapa de escolarização que a atividade

de estudo esteja desenvolvida por intermédio da ação pedagógica escolar. É, por isso,

21

inclusive, que a referência é de que os encaminhamentos assumem o caráter teórico-

metodológico, no sentido de que a ação mediadora tem significado por estar pautada

em conhecimentos sobre o processo de desenvolvimento humano, sobre o processo

de mediação pedagógica e sobre os processos de organização do trabalho

pedagógico em suas múltiplas dimensões.

Em síntese, em cada uma das disciplinas ou eixos, os encaminhamentos

teórico-metodológicos assumem especial relevância no conjunto de intencionalidades

que o PPP assume junto à comunidade escolar, por intermédio da efetivação da

função social da instituição escolar.

Quanto à avaliação, explicitam-se de forma direta, em cada disciplina ou eixo,

o conjunto de critérios orientativos, bem como um conjunto de possíveis instrumentos

que podem ser utilizados para acompanhar a ação de ensino e aprendizagem. É

fundamental que a concepção de avaliação esteja claramente definida no Marco

Conceitual do PPP, de modo a orientar toda a prática institucional, sobretudo a prática

professor. Assim, compete estabelecer os instrumentos mediadores da coleta de

informações, os critérios a partir dos quais as informações coletadas serão analisadas

e quais as ações de mediações serão desencadeadas a partir dos resultados obtidos.

A qualidade dos instrumentos é condição sine qua non para que o processo avaliativo

se configure como político-emancipatório e não apenas como quantitativo e

instrumental.

À medida que analisar a natureza dos conteúdos, os percursos de

aprendizagens, as mediações a serem realizadas, os objetivos a serem alcançados a

instituição terá condições de definir os instrumentos e critérios com maior clareza e

possibilidades de assertiva, em prol da qualidade político-pedagógica do ensino e da

aprendizagem, em cada disciplina. Lembrando que, na Educação Infantil, há que se

ponderar sobre todas as especificidades desta etapa, a qual não contempla a

avaliação para fins de promoção ou retenção, mas não dispensa os processos

avaliativos para fins de acompanhamento do processo de ensino e de aprendizagem,

visando reorganizar os procedimentos de mediação, sempre que necessário.

Ao tratar da avaliação na disciplina é importante que se considerem as

questões pertinentes à natureza dos conteúdos envolvidos. Ao fechar a PPC da

educação Infantil ou dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental ou EJA – Fase I, a

forma de registro institucionalizada deve estar devidamente explicitada, as fichas e/ou

22

pareceres descritivos utilizados para acompanhamento do ensino e da aprendizagem.

À equipe pedagógica cabe indicar os parâmetros utilizados em cada etapa de modo

que sirva de referencial para a organização dos planos de trabalho em cada turma da

instituição escolar. Quando do uso de parecer descritivo há que se indicar quais são

os critérios desses pareceres, evitando-se incorrer em escritas que não atendam a

essencialidade do ato educativo conforme intencionalidades explicitadas em todo o

arcabouço teórico do projeto institucional.

Além disso, neste campo da PPC, cabe ressaltar as relações com os

resultados dos instrumentos de avaliação utilizados pelo sistema nacional de

avaliação, cujos índices servem de parâmetro para avaliar o trabalho da instituição

frente ao cenário da educação regional, estadual, nacional, lembrando que são

índices, portanto, parâmetros que podem e devem servir para provocar reflexões

sobre padrões de aprendizagem, jamais para classificar quer seja no sentido positivo

ou negativo, gerando acomodações, competições ou meras frustrações, as quais não

produzem resultados positivos no campo pedagógico. Os resultados são suporte para

que a instituição repense sempre todas as suas práticas, incluindo as de gestão

escolar.

É na avaliação e por meio dela que reflexões sobre os processos de inclusão

social e educacional se tornam mais prementes nas salas de aula, exigindo que o

repensar pedagógico seja efetivado por meio de práticas de flexibilização curricular

que contemplem aprendizagens e não apenas o estar presente no mesmo espaço.

Nesse campo, ainda temos um longo percurso de aprendizagens a percorrer. As

formas de inclusão e de flexibilização dos conteúdos curriculares para atender aos

estudantes com dificuldades na aprendizagem em decorrência de transtornos ou

deficiências precisam ser indicadas à luz de pressupostos teóricos consistentes e

coerentes com os fundamentos que sustentam a base teórica dos documentos até o

momento referenciados. Na busca desta unidade, a tarefa da equipe da instituição

escolar, assume especial significado.

Ao submeter à apreciação da entidade fiscalizadora para análise da

coerência, cabe esclarecer que não se emite, sobre o processo político-pedagógico,

atos de aprovação, apenas indicativos sobre coerência com os documentos

orientativos e entre o exposto no PPP enquanto concepção e o definido no Regimento

Escolar. Em relação aos pressupostos legais, é necessário respeito e, portanto,

23

sempre que um preceito for ferido ele deverá ser indicado pelo revisor e retomado

pela equipe da instituição de modo a restabelecer a legalidade necessária. Cada

instituição, quando vinculado ao Sistema Estadual de Educação, tem o Regimento

Escolar homologado por intermédio de Parecer, emitido pelo Núcleo Regional de

Educação de sua jurisdição.

A partir da sistematização da PPC, é possível organizar o PTD, ou Plano de

Ensino ou Planejamento, definindo os objetivos, selecionando os conteúdos,

estabelecendo os encaminhamentos teórico-metodológicos, para, na sequência,

delimitar os instrumentos e critérios de avaliação para cada ano do Ensino

Fundamental, ou turmas da Educação Infantil ou EJA - Fase I. Reforçando que, ‘na

sequência’, significa sequencial apenas por estar no registro, de forma subsequente,

pois ao delimitar os objetivos e indicar os conteúdos, bem como os encaminhamentos

teórico-metodológicos, o processo de avaliação já estará sendo composto, de forma

simultânea, no próprio ato de ensinar, pois ele é condição necessária para que tal ato

se realize de forma responsável e competente, na busca dos fins propostos.

Realizadas todas as etapas de identificação de curso, ano, objetivo geral do

curso e da disciplina, ao adentrar no campo dos conteúdos, nos termos das reflexões

até aqui realizadas, é que optamos pela indicação do seguinte percurso para

sistematização dos PTDs ou Planos de Ensino:

Figura 5 - Percurso de sistematização dos PTDs ou Planos de Ensino

Fonte: Elaborada pela autora

Realizado esse ato de planejar, por disciplina, no ano a ser efetivado o

trabalho, é importante confrontar o ato de planejar o conjunto de saberes de todas as

áreas do conhecimento, analisando possibilidades de interlocução entre os conteúdos

afins, respeitando especificidades, mas avançando no diálogo de tudo aquilo que o

Objetivos Conteúdos

Encaminhamentos

Teórico-metodológicos

Avaliação

Instrumentos e critérios

Referências

24

conhecimento científico, cultural, artístico, filosófico, político e pedagógico nos

possibilita. Essa é a exigente tarefa de pensar a ação docente, antevendo

procedimentos didático-pedagógicos tendo em vista os processos de

desenvolvimento humano naquilo que há de maior possibilidade em cada momento

do processo de escolarização.

Assim é que, para essa organização formal do ato de planejar a ação docente,

compete ao coordenador pedagógico e ao professor pensar a ação junto às turmas,

analisando o contexto das mesmas, sem perder de vista as necessárias intervenções

para avançar significativamente nos processos de aprendizagem e desenvolvimento.

Planejar a ação pedagógica junto às turmas requer analisar o conjunto de

conhecimentos que se tem para trabalhar com os estudantes, considerando os

conhecimentos já adquiridos nos processos de escolarização anteriores, bem como

os que deverá apropriar-se e desenvolver nos períodos seguintes.

Definir o plano de trabalho docente ou planejamento do ano letivo e, a partir

dele, o do bimestre, trimestre ou semestre, passa a ser uma tarefa da qual o professor

não pode prescindir da perspectiva da totalidade e intencionalidade político-

pedagógica: o que, como, quando, por que, para quem, com quem, são apenas

algumas das questões norteadoras dessa prática que auxiliam na organização dos

rumos pedagógicos.

Cumpridas essas etapas do pensar pedagógico, é necessário a organização

da aula, por meio do Plano de Aula ou Diário de Classe. Tem sido objeto de

resistência por parte de alguns profissionais da educação, esta organização, contudo

é de extrema necessidade para a efetiva organização do trabalho pedagógico. O

Plano de Aula ou Diário de Classe, neste campo não se refere aos registros realizados

no Livro de Registro de Classe (LRC) ou Registro de Classe On Line (RCO), mas aos

registros decorrentes da organização da aula, em que estão expressas as escolhas

dos gêneros textuais, dos suportes que transportam socialmente estes textos, seus

conteúdos discursivos, suas interlocuções. No Plano de Aula ou Diário de Classe, os

docentes elaboram, organizam e/ou selecionam o conjunto de atividades que

comporão suas aulas no decorrer de um período, normalmente, semanal, constando

o desdobramento dos objetivos a serem alcançados e as atividades desenvolvidas

junto aos estudantes, visando dar conta da aprendizagem dos conteúdos curriculares

e do desenvolvimento da atividade guia, que orienta as práticas docentes. Nessa

25

prática de seleção de atividades, escolhas intencionais, constroem-se percursos,

confrontam-se escolhas e definem-se caminhos mais ou menos adequados aos

diferentes processos de ensino e aprendizagem. É um percurso muito diferente

daquele definido pelo simples seguir livros didáticos produzidos em escala nacional.

Assim, para cada disciplina a ser trabalhada no dia, devem ser escolhidos, a partir do

PTD, o conjunto de informações referentes a:

Figura 6 - Percurso de sistematização dos Planos de Aula

Fonte: Elaborada pela autora

Em relação à avaliação, no Plano de Aula ou Diário de Classe, é importante

destacar o que será observado em relação ao conjunto de conhecimentos trabalhados

naquele dia e se todos os alunos estarão em processo de avaliação, pois ao observar

para fins de avaliar, é importante destacar que não é possível, ao professor, observar

todos os alunos, em todos os aspectos, ao mesmo tempo, considerando os critérios

estabelecidos e o necessário cuidado quanto aos registros. Essa é uma questão que

teremos que, inclusive, aprofundar de forma cuidadosa, tanto para a Educação Infantil,

quanto para os anos iniciais do Ensino Fundamental ou EJA – Fase I.

Quando retornamos ao Marco Operacional temos que contemplar a

organização do Plano de Ação dos diferentes setores, quais sejam: equipe de gestão,

coordenação pedagógica, conselhos gestores, agentes administrativos e de serviços

gerais ou agentes educacionais, dependendo da nomenclatura adotada na esfera

administrativa. Nos referidos planos há que constar os objetivos gerais da instituição,

conforme explícitos em seu PPP e a partir deles as ações e os encaminhamentos sob

responsabilidade de cada segmento. O sentido político-pedagógico de cada um dos

planos é o de responder às demandas da comunidade escolar e dar conta da função

social da instituição. Nesse sentido, as dimensões pedagógica, administrativa,

Objetivo(s) Conteúdo(s)

Encaminhamento(s):

Descrever/apresentar todas as atividades

Avaliação

Como será realizada neste dia.

26

material e humana são pontos importantes e requerem a atenção dos sujeitos

envolvidos. Novamente, reforçamos a necessidade de que os preceitos legais sejam

considerados na organização dos planos, incluindo o expresso no próprio Regimento

Escolar uma vez que, ao confrontar plano de ação com competências dos setores, é

comum encontrar omissões ou distorções. As mantenedoras, normalmente, emitem

documentos orientadores da organização dos planos, contudo quando essa

orientação não é explicitada, é possível seguir alguns passos básicos para indicar as

principais ações que cada segmento irá desenvolver.

Para cada segmento no interior da instituição é fundamental que se defina,

em conjunto com a mantenedora quais serão os pontos que devem constar no Plano

de Ação para que se tenha um roteiro comum. Aqui, apresentamos uma sugestão com

a intencionalidade de auxiliar, porém é importante que as equipes considerem a

realidade do município e discutam na coletividade quais são os elementos mais

significativos para cada setor da escola e da própria secretaria municipal de educação

apresentar enquanto plano. Destacamos, ainda, que todos os segmentos da

secretaria municipal de educação, precisam elaborar seus planos de ação,

respeitando as mesmas orientações e preceitos legais, político-pedagógicos,

considerando também os planos de governo que advém das mudanças de gestão em

decorrência dos períodos eleitorais. Outro aspecto que justifica a necessidade de a

equipe das secretarias de educação sistematizarem e publicizarem seus planos de

ação é o de que as ações desta secretaria e de seus setores impactam, direta ou

indiretamente, nos diversos setores da escola. Portanto, há que a instituição escolar,

conhecer o plano de ação da secretaria de educação para poder elaborar o seu próprio

plano de ação. Uma forma de enfrentar estas situações de modo a evitar problemas

na troca de gestão municipal, inclusive, é a de organizar instruções ou resoluções

normativas, por parte da Secretaria Municipal de Administração em conjunto com a

Secretaria Municipal de Educação, definindo as responsabilidades, conforme

estabelecidas nos Estatutos ou outros documentos utilizados, inclusive, para

organizar os editais de concursos ou seleção temporária. Essa legalidade,contribui,

sobremaneira, para a transparência no exercício das funções públicas.

Essa dinamicidade, ao ser respeitada, considerada, discutida, analisada e

implementada, acrescenta organicidade aos planos, evidenciando sua articulação

com as práticas efetivas, deixando de ser apenas documentos formais, que cumprem

27

uma função meramente administrativa. Na sequência, uma proposição para

sistematização do Plano de Ação:

a) Dimensões: Definir para cada setor quais serão as dimensões que serão

planejadas. No caso da equipe de direção, podem ser definidas como

dimensões: a Gestão Democrática (articulação interna e externa, relações

humanas e interpessoais, transparência; legalidade, fortalecimento dos

Conselhos, dentre outros aspectos); a Prática Pedagógica e a avaliação dos

resultados, a Formação Continuada; a Gestão dos Recursos

Materiais/Infraestrutura; dentre outras;

b) Problemas/desafios/pontos fortes: É importante destacar qual ou quais

são, tendo em vista o enfrentamento ou a otimização. Muitas vezes

esquecemos de indicar o que está dando certo, focando apenas nos pontos

fragilizados, contudo, na gestão é fundamental identificar as

potencialidades, pois elas auxiliam a manter o grupo fortalecido à medida

que identifica pontos assertivos em sua prática, mesmo que prevaleçam

pontos a melhorar;

c) Ações: O que será feito? Indicar com clareza o que será realizado visando

o enfrentamento ou o fortalecimento daquilo que foi identificado em cada

dimensão;

d) Recursos: Apontar com quais recursos materiais, físicos e humanos a ação

será desenvolvida;

e) Responsável(eis): Indicar claramente os responsáveis pela ação, podendo

ser a denominação por função ou nominal, dependendo do contexto de cada

unidade administrativa;

f) Cronograma: Demarcar o tempo/periodicidade, considerando que existem

ações permanentes, periódicas, temporárias.

g) Resultados esperados: Ao definir os resultados, estabelecem-se os

objetivos/critérios da ação em relação ao que se têm e ao que se propõe.

Eles definirão, inclusive, o teor das avaliações que precisarão ser realizadas

periodicamente para fins de inferir significado político-pedagógico aos

resultados parciais, redirecionando práticas quando necessário, bem como

os rumos estabelecidos. Os resultados esperados são, de certa forma, as

metas que nos moverão rumo a práticas político-pedagógicas mais eficazes

28

nos espaços institucionais, primando pelas intencionalidades expressas no

PPP.

Nesse campo, cabe indicar a relevância de que os diferentes planos sejam

discutidos e analisados no e pelo coletivo, confrontando as proposições de modo que

os sujeitos envolvidos nas diferentes ações dentro da instituição escolar,assumam o

projeto institucional como parte integrante de suas práticas diárias. Não há como dar

conta de um PPP desconhecido pelos sujeitos das diferentes ações, que não dialogam

entre si ou com os pares que atuam em outras instâncias. É necessário desconstruir

os muros existentes entre as diferentes funções exercidas dentro do espaço escolar

de modo que todos que ali atuam, compreendam o caráter político-pedagógico de sua

atuação, uma vez que a função social da escola não se efetiva somente na sala de

aula.

Entendemos, portanto, que essa construção de percurso, nesses termos,

somente é possível quando se compreende o sentido do político-pedagógico presente

no projeto institucional e define-se com clareza a serviço de quem se está trabalhando.

São escolhas, são opções, são compromissos que requerem ações.

Referências

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escola pública municipal: educação infantil e ensino fundamental- anos iniciais.

Cascavel, PR: ASSOESTE, 2015.

MARSIGLIA, A.C; SACCOMANI, M.C.S. Contribuições da periodização Histórico-

Cultural do desenvolvimento para o trabalho pedagógico histórico- crítico- cap

15, in: Periodização Histórico-Cultural do Desenvolvimento Psíquico - do nascimento

à velhice. Campinas, SP: Autores Associados, 2016. - Coleção (educação

contemporânea).

MARTINS, Ligia Marcia; ABRANTES,A.A. e FACCI, M.G.D.(org) Periodização

histórico- cultural do desenvolvimento psíquico: do nascimento à velhice.

Campinas, SP: Autores Associados, 2016. - Coleção educação contemporânea)

MARTINS, Lígia Marcia. Psicologia Histórico-Cultural, Pedagogia Histórico-

Crítica e Desenvolvimento Humano-cap. 1, in: Periodização Histórico-Cultural do

Desenvolvimento Psíquico- do nascimento à velhice. Campinas, SP: Autores

Associados, 2016. – (Coleção educação contemporânea).

SAVIANI, Dermeval. Pedagogia Histórico-Crítica. 11 ed. rev. Campinas, SP: Autores Associados, 2012. – (Coleção educação contemporânea).

29

TULESKI, Silvana Calvo; EIDT, Nadia Mara. A Periodização do Desenvolvimento Psíquico: atividade dominante e a formação das funções psíquicas superiores-cap.2, in: Periodização Histórico-Cultural do Desenvolvimento Psíquico- do nascimento à velhice. Campinas, SP: Autores Associados, 2016. – (Coleção educação contemporânea).