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FERNANDO LUÍS DE ROSSO A PEDAGOGIA LIBERTÁRIA NO ENSINO DA MATEMÁTICA PARA JOVENS E ADULTOS: UNIDADES DE MEDIDA DE COMPRIMENTO CANOAS, 2009

A PEDAGOGIA LIBERTÁRIA NO ENSINO DA MATEMÁTICA … · unidades de medida de comprimento por alunos da Etapa 3 na Educação de Jovens e Adultos, que constituem uma pequena parcela

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FERNANDO LUÍS DE ROSSO

A PEDAGOGIA LIBERTÁRIA NO ENSINO DA MATEMÁTICA PARA

JOVENS E ADULTOS: UNIDADES DE MEDIDA DE COMPRIMENTO

CANOAS, 2009

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FERNANDO LUÍS DE ROSSO

A PEDAGOGIA LIBERTÁRIA NO ENSINO DA MATEMÁTICA DE

JOVENS E ADULTOS: UNIDADES DE MEDIDA DE COMPRIMENTO

Trabalho de conclusão apresentado à banca examinadora do curso de Matemática do Centro Universitário La Salle – Unilasalle, como exigência parcial para a obtenção do grau de Licenciado em Matemática.

Orientação: Profa. Ms. Patrícia da Conceição Fantinel

CANOAS, 2009

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FERNANDO LUÍS DE ROSSO

A PEDAGOGIA LIBERTÁRIA NO ENSINO DA MATEMÁTICA DE

JOVENS E ADULTOS: UNIDADES DE MEDIDA DE COMPRIMENTO

Trabalho de conclusão apresentado à banca examinadora do curso de Matemática do Centro Universitário La Salle – Unilasalle, como exigência parcial para a obtenção do grau de Licenciado em Matemática.

Aprovado pela Avaliadora em 02 de dezembro de 2009.

AVALIADORES:

Profa. Ms. Patrícia da Conceição Fantinel

Unilasalle

_____________________________ Prof. Ms. Carlos Venhoffen Flores

Unilasalle

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À minha parceira e amiga Paula,

apoiadora e incentivadora, incondicional.

Ao meu filho Pedro Arthur, que sempre

estive ao meu lado em todos os

momentos. Aos colegas de Unilasalle, que

de uma maneira ou outra, me

incentivaram a realizar este trabalho.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Jair e Margarete, pelos exemplos de vida para a formação de

meu caráter.

À minha irmã Jaqueline, pelo apoio de sempre.

À Mestra, no sentido literal da palavra, Patrícia da Conceição Fantinel, pela

dedicação na orientação e confiança no trabalho realizado.

Aos amigos de longa data, José Antônio e Liana, pela especial colaboração

na realização do trabalho.

Aos professores de Matemática do Unilasalle que tiveram papel importante na

concretização de meu sonho.

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“Um matemático é um Dom Quixote

moderno, que luta num mundo real com

armas imaginárias.”

(Pedro Corcho)

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RESUMO

O presente trabalho mostra a importância do trabalho diferenciado no assunto

unidades de medida de comprimento por alunos da Etapa 3 na Educação de Jovens

e Adultos, que constituem uma pequena parcela do todo, porém, por suas

particularidades suscitam grande interesse no contexto da Educação. A partir da

pesquisa realizada, percebi que o procedimento didático utilizado pelo professor é

importante para o sucesso de um projeto, podendo ainda gerar um grande interesse

por parte do aluno, despertando então, a vontade de ir além. Porém, de maior

importância é transcender a abstração e o autoritarismo reinantes na sala de aula,

levando o aluno a sua autonomia no processo educativo. Os preceitos da Pedagogia

Libertária de Sébastien Faure nos mostram que para criarmos um futuro diferente,

precisamos recriar nossos conceitos, muitos dos quais ainda em formação, pois a

“nova escola” está a caminho e para participarmos da construção deste projeto

devemos estar prontos para “correr o risco”.

Palavras-chave: Sébastien Faure. Pedagogia Libertária. Unidades de medida de

comprimento. Educação de jovens e adultos.

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RESUMEN

Este trabajo muestra la importancia del tratamiento distinto en el tema de unidades

de medida de longitud de los estudiantes del paso 3 en la educación de jóvenes y

adultos que constituyen, en el contexto de la Escuela, una pequeña parte del todo,

sin embargo, debido a sus particularidades suscitan gran interés en el contexto de

la educación. De la encuesta, me di cuenta de que el procedimiento utilizado por el

profesor de enseñanza es importante para el éxito de un proyecto y también puede

generar un gran interés por el estudiante. Pero lo más importante es trascender la

abstracción y el autoritarismo en el aula, teniendo los estudiantes a su autonomía en

el proceso educativo. Los preceptos de la Educación Libertaria por Sébastien Faure

nos muestran que para crear un futuro diferente, tenemos que reconstruir nuestros

conceptos, muchos de los cuales todavía están en formación, porque la "nueva

escuela" está en marcha y para participarnos de la construcción del proyecto

debemos estar prontos para “correr lo risco”.

Palabras clave: Sébastien Faure. Educación Libertaria. Unidades de medida.

Jóvenes y adultos.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 10

2 ORGANIZAÇÃO DA PESQUISA ...............................................................12

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................. 14

3.1 Histórico da Pedagogia Libertária .......................................................... 14

3.2 Os pilares da Pedagogia Libertária .........................................................15

3.3 Pedagogia Libertária no Brasil ................................................................18

3.4 Educação Libertária – experiências hoje .............................................. 20

3.5 Educação de jovens e adultos - EJA .................................................... 23

3.5.1 A EJA no Brasil......................................................................................... 24

3.6 O Ensino das unidades de medida de comprimento para EJA .......... 26

4 APLICAÇÃO E DADOS ............................................................................. 28

4.1 Contextualização ..................................................................................... 28

4.2 Relato da tarefa ........................................................................................ 28

4.3 Coleta de dados ....................................................................................... 32

4.3.1 Questionário aplicado antes da atividade ................................................. 32

4.3.2 Questionário aplicado após a atividade..................................................... 35

4.3.3 Levantamento de dados............................................................................ 37

4.3.3.1 Questionário aplicado antes da atividade.................................................. 37

4.3.3.2 Questionário aplicado após a atividade..................................................... 40

5 CONCLUSÃO ............................................................................................ 43

REFERÊNCIAS......................................................................................... 46

APÊNDICE A – Plano de aula para realização da ativi dade ................. 50

APÊNDICE B – Breve histórico das unidades de medida ................... 54

APÊNDICE C – Questionário aplicado antes da ativida de .................. 57

APÊNDICE D – Planilha para registro dos resultados ......................... 60

APÊNDICE E – Questionário aplicado após a atividade ....................... 64

APÊNDICE F – Pergunta 6, questionário aplicado após a atividade -

algumas respostas .................................................................................. 66

APÊNDICE G – Pergunta 8, questionário aplicação apó s a atividade -

algumas respostas ................................................................................... 67

APÊNDICE H – Outros relatos de alunos ............................................. 68

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1 INTRODUÇÃO

A resolução de problemas matemáticos que envolvam simples organização e

coleta de dados ou então questões que abordem de forma mais aprofundada

raciocínio lógico são vistas por alunos de todas as idades como algo difícil e

trabalhoso.

Conforme Moriyón (1989), o fracasso de notável maioria dos alunos no

aprendizado da Matemática nas Escolas não está tanto na matéria comumente

chamada de “muito difícil” ou então “sem aplicação na vida real” e sim, da forma

como rotineiramente tentam ensiná-la.

Não é diferente a forma como é tratado o assunto “unidades de medida de

comprimento” nas Escolas, onde invariavelmente é privilegiada a abstração, isto nos

leva a entender que as boas intenções e o aprendizado com significado ficam

apenas nas palavras que pretendem ser ditas ou, quando muito, no anseio de quem

as profere. Desperdiça-se precioso tempo repetindo-se à exaustão exercícios com

fórmulas prontas e questões que pouco ou nada dizem. Como uma orquestra de

robôs, alunos forjam-se à imagem e semelhança desta realidade.

Luengo et al. (2000), entende que a aprendizagem permanente e cooperativa

de jovens e adultos permite o questionamento mútuo e recriação constante de

conceitos em formação. Desta forma, a Pedagogia Libertária, no Ensino da

Matemática para a Educação de Jovens e Adultos do Ensino Fundamental tem por

finalidade integrar as atividades intelectual e manual, experimentar constantemente

novas formas de aprendizagem e educação, facilitar os meios necessários para a

auto-aprendizagem ensinando a pensar e a levar o aprendizado para outras pessoas

que o requeiram ou necessitem, oportunizando assim uma distribuição igualitária da

aprendizagem, ou seja, a mesma quantidade de educação para todos.

Os ideais libertários de Sébastien Faure que convergem para a ajuda mútua e

a cooperação como grandes responsáveis pelo progresso do aprendizado são antes

de qualquer coisa preponderantes para que ocorra um desenvolvimento completo

das potencialidades de cada aluno em um meio de liberdade, humanidade e

igualdade.

O professor pode proporcionar aos alunos jovens e adultos a aprendizagem de

muitos conceitos matemáticos, através da troca de experiências no grupo, baseando

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suas relações vivenciais no respeito ao semelhante, no apoio mútuo e na

solidariedade. Desta forma o professor é visto, então, como facilitador no processo

de busca de conhecimento que deve partir do aluno. Cabe ao professor organizar e

coordenar as situações de aprendizagem, adaptando suas ações às características

individuais dos alunos, para desenvolver suas capacidades e habilidades

intelectuais. (BRASIL, 1998, p. 31).

Através então de tais preceitos foi desenvolvida uma pesquisa de campo que

buscou responder a pergunta “Pode-se através de uma Pedagogia Libertária,

baseada nos princípios de Sébastien Faure, facilitar o entendimento do conteúdo

unidades de medida de comprimento para jovens e adultos do Ensino

Fundamental?”

Para chegar a esta resposta, no capítulo número dois teremos a organização

desta pesquisa, através da apresentação da motivação, indagação e metodologia

pertinentes a elaboração da pesquisa.

No capítulo de número três é exposta a fundamentação teórica da pesquisa

realizada abordando o histórico da pedagogia libertária no Mundo e no Brasil, seus

pilares e experiências hoje. Ainda neste capítulo é reservado espaço para uma

abordagem da Educação de Jovens e Adultos (EJA), seu contexto e histórico no

Brasil, bem como, o tratamento que o conteúdo unidades de medida de comprimento

deve receber na EJA.

No capítulo quatro, são apresentados a aplicação, sua contextualização e

relato da tarefa, a tabulação e a síntese dos dados coletados.

Finalmente no capítulo cinco, são relatadas as conclusões, observações da

pesquisa realizada, bem como um parecer final sobre a utilização da pedagogia

libertária no ensino de jovens e adultos para o conteúdo unidades de medida de

comprimento.

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2 ORGANIZAÇÃO DA PESQUISA

As unidades de medida de comprimento começaram a ganhar importância

desde as antigas civilizações. Os problemas com estas unidades começaram

quando o homem deixou de ser apenas nômade e caçador para então se fixar em

determinadas regiões como agricultores. A partir de então, foi necessário demarcar

terras, construir suas casas, armazenar produtos e controlar sua produção.

Ao longo do tempo houve muitas tentativas de criar uma unidade padrão, com

utilização universal. Nos primórdios, as unidades de medida de comprimento

referiam-se em geral às partes do corpo de algum rei ou imperador. No entanto, as

diferenças de estatura e porte físico existente entre os povos acabaram por dificultar

ainda mais as relações entre cada uma das unidades de medida de comprimento

existentes.

O desenvolvimento científico e tecnológico passou a exigir medições cada vez

mais precisas e diversificadas. Por isso, em 1960, foi criado o Sistema Internacional

de Unidades - SI, adotado também pelo Brasil, em 1962, e ratificado pela Resolução

nº 12 de 1988 do Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade

Industrial - Conmetro, tornando-se de uso obrigatório em todo o Território Nacional.

Toda essa busca por padronização, reflete a importância das unidades de

medida de comprimento para todos os povos de nosso planeta. Como o conteúdo

unidades de medida de comprimento é parte integrante das competências a serem

trabalhadas na Educação de Jovens e Adultos1, e ao mesmo tempo é um assunto

que se reflete no dia-a-dia de todos nós, destinei-me a realizar esta pesquisa de

campo para verificar se “é possível uma Pedagogia Libertária, baseada nos

preceitos de Sébastien Faure, colaborar no nivelamento dos conhecimentos do

assunto unidades de medida de comprimento por alunos da EJA do Ensino

Fundamental de uma Instituição de Canoas?”.

Segundo Fiorentini e Lorenzato (2007) a pesquisa de campo é uma modalidade

de investigação onde a coleta de dados é feita no local onde o fato acontece, neste

caso na sala de aula. Esta modalidade pode ser obtida através de entre outros

1 à partir de agora, a Educação de Jovens e Adultos será tratada simplesmente como EJA.

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modos, a aplicação de questionários. Nesse modo de pesquisa, o pesquisador

investiga um grupo de alunos durante um processo normal de aula. Neste caso o

investigador faz um acompanhamento dos procedimentos dos alunos em relação às

atividades propostas, e também aplica um questionário para complementação da

pesquisa.

Desta forma, para responder a pergunta norteadora desta pesquisa foram

realizados os seguintes passos metodológicos:

Revisão bibliográfica: A revisão bibliográfica traz as informações necessárias

para o embasamento do trabalho a ser realizado. A revisão é a indicação de fontes

que serão os alvos das consultas iniciais, com o intuito de aprofundar e tomar

conhecimento de abordagens ou estudos sobre o tema, objetivando primeiramente

definir a investigação, e neste caso para uma melhor definição da questão proposta

na pergunta diretriz.

Escolha dos sujeitos da pesquisa: Os sujeitos da pesquisa são escolhidos com

o objetivo de dar teor empírico ao trabalho que será realizado. A atividade proposta

para a realização da pesquisa tem como alvo alunos do de EJA Etapa 3 (séries

finais do ensino fundamental) que possuam noções de unidades de medida, mais

especificamente de comprimento.

Construção e aplicação de um questionário: A construção do questionário

obedecerá a critérios e situações que levam os alunos a reportar os seus

sentimentos em relação à aplicação do trabalho, para que expressem as conclusões

obtidas, o mais próximo possível da realidade. A aplicação do questionário ocorrerá

antes e depois da conclusão das tarefas propostas aos alunos.

Planejamento da seqüência didática, utilizando a Pedagogia Libertária: Os

alunos, conforme suas necessidades realizarão medições no âmbito da sala de aula

e da Escola, com o objetivo de realizarem medições de coisas reais com o objetivo

de tomarem conhecimento das unidades de medida de comprimento (metro,

múltiplos e submúltiplos) e suas diferenças.

Levantamento e análise dos dados: Procurar-se-á a partir das respostas

tabuladas e analisadas concluir se a Pedagogia Libertária, conceituada a partir dos

preceitos de Sébastien Faure, com uma abordagem diferenciada do assunto

“unidades de medida de comprimento” poderá facilitar o entendimento de alunos

Jovens e Adultos.

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3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

No texto que segue, serão expostos o histórico, a definição e a

conceitualização de Pedagogia Libertária e Educação de Jovens e Adultos (EJA),

bem como a exploração do tema unidades de medida de comprimento nos materiais

para alunos do EJA.

3.1 Histórico da Pedagogia Libertária

A Pedagogia Libertária originou-se com o movimento anarquista, no século XIX

e teve forte eco na Europa. A primeira grande experiência libertária em educação

deu-se na França, em 1880, no Orfanato Prévost, em Cempuis. Seu Diretor Paul

Robin, professor de ciências e pedagogo, profundo conhecedor dos assuntos

ligados à Educação (havia sido professor de ciências e Matemática da rede pública)

recebeu total liberdade para colocar em prática suas idéias sobre educação. Mas

Robin acaba destituído do cargo em 1894 após intensa campanha na imprensa,

orquestrada, sobretudo pela Igreja Católica, contra a co-educação dos sexos.

Após Cempuis, uma segunda grande experiência libertária ocorreu. Trata-se da

experiência de Sébastien Faure, também na França, chamada sugestivamente de La

Ruche ou “A Colméia”, em uma alusão direta à teoria do apoio mútuo, corrente

anarco-comunista da qual Faure militava ativamente.

A Colméia de Sébastien Faure era uma instituição que educava 40 crianças e,

embora não faltassem pedidos de vagas, não se poderiam atender mais do que este

número devido às dificuldade de manutenção financeira e também devido ao tipo de

educação que se pretendia trabalhar: situando as crianças em um meio solidário e

integrado, formando assim uma espécie de “comunidade”.

A rigor, Faure não pretendia que sua experiência fosse classificada como uma

Escola, tampouco como um orfanato até por que, as crianças que ali viviam não

eram necessariamente órfãs (MORIYÓN, 1989). O que podemos afirmar com base

nos relatos sobre a experiência faureana é que La Ruche foi na verdade um

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Laboratório de Educação. Este laboratório foi pensado e estruturado de forma

autogestionária, prevendo ampla e direta participação de todos.

Acreditavam os anarquistas que poderia existir uma sociedade alternativa, sem

burgueses, sem proletários e sobretudo sem estado, onde cada um viveria a sua

liberdade e seria o senhor de seus atos, algo semelhante a “auto-gestão” da

sociedade. Para alcançar tal nível de desenvolvimento do homem, os anarquistas

deram grande atenção à educação, enxergando nela o portal para a mudança no

pensamento da sociedade. É justamente no âmbito da educação que o movimento

anarquista suscita maior interesse devido aos bem sucedidos modelos de Escolas,

que são exemplo de desenvolvimento humano e convivência civilizada, pois

conforme Gallo (1995) em nenhum espaço social que não o da Educação, faz-se tão

necessário à liberdade para ser e criar, a igualdade de consideração humana e de

oportunidades, como necessário se faz sempre o ideal de solidariedade.

A experiência de Faure acabou dissolvida em fevereiro de 1917, com treze

anos de atividades. Conforme relato de Faure a Colméia morreu vítima, como tantas

outras obras edificadas com amor, da guerra, já que era impossível manter o

abastecimento necessário, sobretudo do carvão (GALLO, 1995).

Luengo et al (2000), através de seu trabalho na Escola Livre Paidéia, em

Mérida na Espanha defende como preceitos básicos da Pedagogia Libertária a livre

expressão e crítica constante do pluralismo de idéias, de maneira que cada pessoa

possa refazer sempre sua própria concepção de mundo e da vida questionando toda

a cultura estabelecida. Assim a aprendizagem permanente das pessoas se converte

em um meio pelo qual a sociedade autogestionária se questiona e se recria

constantemente.

3.2 Os pilares da Pedagogia Libertária

Conforme Faure, os principais pilares da pedagogia libertária são a educação

integral, a filosofia positiva, o apoio mútuo e um meio social de plena liberdade, onde

todos são iguais, de fato e de direito (GALLO, 1995).

A idéia moderna de educação integral libertária parte do princípio que cada

homem tem, quaisquer que sejam as circunstâncias do seu nascimento, o direito de

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desenvolver da forma mais completa possível todas as suas faculdades físicas e

intelectuais. Tanto a educação geral (leiam-se de conhecimentos gerais) quanto

àquela voltada para a formação científico-profissional. Partindo-se deste contexto,

entende-se que os libertários através desta idéia vislumbram um novo perfil para os

educandos, ou seja, o aluno que compreende e que sabe. Somente com uma

educação feita nestas bases, ocorrerá uma unificação da sociedade, pois enquanto

coexistirem dois ou mais tipos de ensino, haverá necessariamente classes, ou seja,

privilégios para uns e para outros não, benesses financeiras para uns e escravidão

(mesmo que não nos mesmos moldes do início do século XVII) para outros.

Na “nova sociedade” imaginada, com os conceitos de educação integral,

haveria sempre um grande número de “aprendizes” dispostos em atender ao

primeiro chamado. Dá-se como exemplo o trabalho de Darwin, que levou trinta anos

reunindo e analisando fatos para a elaboração de sua teoria. Vejamos então que

com a educação imaginada pelos libertários, a um só chamado, teria ele encontrado

uma infinidade de pessoas prontas a responda-lo para trabalhar em dados e

explorações parciais. Com certeza uma multidão de sociedades teria proposto uma

discussão e assim, resolvido os problemas parciais englobados na teoria e, em

menos de dez anos se teria chegado à comprovação dos fatos. Grande parte (e com

humildade, talvez todos) esses questionamentos a respeito da evolução, que só

agora ganham força, teriam provavelmente aparecido logo em sua magnitude. Seria

então a multiplicação exponencial do progresso científico.

Prova irrefutável disso são os primeiros tempos da indústria moderna, onde

lampejos de genialidade de homens comuns levaram a um progresso nunca visto

antes, no que diz respeito às invenções que revolucionaram os meios de produção,

onde podemos citar o instrumentalista Watt, o tabelião Smeeton, o construtor de

carroças Stephenson, o pedreiro Telford, o aprendiz de prataria Fulton e tantos

outros que a história tratou de ocultar (MORIYÓN, 1986). E por que os cientistas

profissionais não conseguiram fazê-lo? Porque enquanto simples operários estavam

no calor das forjas, nas máquinas das fábricas e nos tornos das oficinas mecânicas,

eles, os cientistas estavam afastados do mundo, vivendo na poeira das bibliotecas.

Em termos de Educação, por melhores que sejamos, por mais que estimemos

nossa coragem e senso de justiça, não temos direito maior ou menor do que nosso

semelhante de fazer do aluno nossa imagem e semelhança. Não temos o direito

nem de sugerir, nem de impor, muito menos de induzir a ele uma opinião política, um

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ideal social, econômico ou filosófico. Em termos cristalinos: a escola não deve e

nem pode ser política, religiosa e econômica.

Ao final, pode-se dizer que o grande marco de uma sociedade libertária é o

momento onde não existem mais sábios nem operários, mas sim homens.

A filosofia positiva, que nada tem a ver com o positivismo, muito menos com

Comte, nada mais é do que uma filosofia usada como ferramenta que se apóia na

observação e na experiência. Aqui, falamos inclusive de demonstrações

Matemáticas, na qual se desenvolveu importante trabalho. Para Kropotkin a

Matemática é a ciência que todos devem saber, pois “é a base de toda a educação

posterior, e que tão poucos aprendem em nossas escolas.” (MORIYÓN, 1989, p.

56). Ainda segundo o autor, ao confiar tudo à memória através da leitura à exaustão

dos teoremas, o aluno acabará por decorar ao invés de demonstrar. Por esta razão,

nove entre dez educandos em um curto espaço de tempo, após deixarem a escola

não são mais capazes de reproduzir sequer o mais elementar dos teoremas

(MORIYÓN, 1989).

Talvez o grande problema do ideal libertário seja exatamente o meio social de

plena liberdade e com pessoas iguais de fato e de direito, pois não restam dúvidas

que a sociedade atual é desigual, injusta, por vezes até mesmo nefasta e que

mesmo com algum (embora pequeno) esforço dos governantes pouco se consegue

evoluir neste sentido. Ora, sabe-se que para o homem emancipar-se ele precisa

antes de tudo compreender e saber. É exatamente neste quesito que a educação

tem papel de suma importância para a sociedade libertária.

A escola não pode e nem deve ser mais que um local adequado ao total

desenvolvimento do indivíduo. Não podemos dar ao aluno idéias feitas, quaisquer

que sejam elas, pois isto implica na castra e na atrofia das faculdades que se

pretende excitar. Afinal, é oceanicamente diferente explicar idéias religiosas a

ensinar um dogma religioso; expor idéias políticas a ensinar democracia, socialismo

ou anarquismo. É necessário sim, explicar tudo, mas nunca impor coisa alguma, por

mais justo ou certo que algo possa parecer. A escola que se quer, sem

denominação, é aquela que melhor suscite no aluno o desejo de saber por si

mesmo, dê forma a sua própria idéia e concepção, onde o professor é um indivíduo

neutro que tem a vital tarefa de ensinar, porém nunca de dogmatizar.

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3.3 A Pedagogia Libertária no Brasil

As experiências educacionais em bases libertárias se desenvolveram em várias

partes do mundo, inclusive no Brasil, no final do século XIX e início do XX.

Infelizmente, segundo Kassick (2000), a história oficial da pedagogia se fez omissa

em relação à contribuição do pensamento pedagógico libertário. Falar de pedagogia

libertária no Brasil parece trazer à memória algo já extinto. Salvo os poucos livros,

artigos em revistas e algumas dissertações e teses, acessíveis apenas para um

pequeno grupo, nada mais resta sobre educação anarquista no Brasil. Kassick

(2000) esclarece que isso se deve em parte à necessidade dos militantes

anarquistas não deixarem pistas que pudessem comprometer o movimento mais

amplo de organização dos trabalhadores na luta contra o Estado o que acabou, de

certa forma, prejudicando seu resgate histórico.

Conforme Marçal (1995), a primeira experiência anarquista que se tem registro

no Brasil é a escola da professora Malvina Tavares, que após concluir sua formação

em Porto Alegre em 1899, retornou até localidade de São Gabriel da Estrela, atual

município de Cruzeiro do Sul, alcançando relativo sucesso e tendo entre seus alunos

alguns nomes que mais tarde militaram no movimento anarquista gaúcho, como por

exemplo, os irmãos Martins: Nino, Armando, Espertirina, Eulina, Dulcina, Virgínia e

Henrique (que mais tarde optou pelo codinome Cecílio Vilar).

Segundo Kassick (2000), as Escolas Moderna I e II, fundadas em São Paulo,

em 1912, trabalharam novos métodos de ensino tendo por base o respeito à

liberdade, à individualidade, à expressão da criança, reorganizaram o fazer

pedagógico, imprimindo-lhe autêntica função revolucionária. Assim como em Prévost

e La Ruche, princípios como co-educação dos sexos e de classes sociais, ensino

racional e integral apontava para uma educação livre de dogmas, preconceitos e

competitividade.

Nos princípios de 1914 é inaugurada no bairro operário de Navegantes, em

Porto Alegre, a Escola Moderna, para adultos e crianças. Em 1915 é fundado por

Polidoro Santos, Cecílio Vilar, Zenon de Almeida, Djalma Feterman e outros o

Instituto de Educação e Ensino Racionalista, localizado na Rua Ramiro Barcelos,

também em Porto Alegre, ficava na então chamada Colônia Africana, onde viviam

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predominantemente negros e judeus pobres. Esta escola chegou a ter cerca de 400

alunos, de ambos os sexos.

Essa proposta foi de grande importância para a educação do operariado

brasileiro no início do século XX. Dado o desinteresse do Estado pela educação do

povo, pis segunda Azanha (1987) a democratização no ensino iniciou-se somente na

década de 60 com o fim dos exames de admissão nas escolas públicas brasileiras, a

educação libertária chegava a se constituir quase que na única educação que os

trabalhadores tinham acesso. Além disso, conforme Kassick (2000) os princípios

pedagógicos da educação libertária foram os únicos parâmetros para a contestação

da pedagogia tradicional.

As escolas libertárias, além de oferecer o ensino formal para as crianças,

ofereciam o ensino profissional para os adultos e realizavam palestras e

conferências à noite ou aos domingos, nas chamadas Sessões de Propaganda

Científica. Kassick (2000) fazendo um resgate da história do movimento anarquista

afirma que foi bastante elevado o número de escolas, Centros de Cultura e até

Universidades Populares, criadas e mantidas pelo anarco-sindicalismo da época.

No caso brasileiro, as idéias libertárias foram introduzidas no movimento

sindicalista brasileiro pelos trabalhadores anarquistas vindos da Espanha, Itália e

Portugal, durante a época da imigração, e “[...] representou a frente de luta mais

significativa dos trabalhadores nas duas primeiras décadas do século contra a

exploração do operariado brasileiro” (KASSICK, 2000, p. 15). No auge do

movimento, tem-se notícia de mais de vinte Escolas Libertárias no Brasil, sem contar

igual número de bibliotecas fundadas pelo mesmo movimento e, a Universidade

Popular que funcionava anexa a Escola Moderna Número I em São Paulo.

Além das Escolas já citadas, Moraes (2007) cita outras experiências

educacionais libertárias acontecidas em terras brasileiras. Em 1902, foi criada a

Escola Libertária Germinal, no bairro do Bom Retiro, na cidade de São Paulo. Outras

escolas foram surgindo pelo Brasil, como a Escola Elisée Reclus, em Porto Alegre

(1906), a Germinal, no Ceará (1906), União Operária em São Paulo (1906), Liga

Operária, em Sorocaba (1911), Escola Operária 1º de Maio, em Vila Isabel, no Rio

de Janeiro (1912) e a Escola Moderna em Petrópolis (1913) também no Rio de

Janeiro.

A derrocada do movimento libertário na educação brasileira começou no ano

de 1920. A fundação do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e a repressão do

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movimento operário pelo governo de Artur Bernardes atingiu em cheio a base de

sustentação das Escolas Modernas, que dependiam primariamente de organizações

e militantes anarquistas. Em 1919, em meio a uma campanha de difamação, as

autorizações de funcionamento das Escolas Modernas de São Paulo foram

cassadas. A imprensa católica da época, A Gazeta do Povo, descreveu as Escolas

Modernas como institutos de corrupção do operário, ninho do anarquismo e de onde

saíram bandidos de toda a espécie. Em referência a co-educação dos sexos o jornal

cita que a Escola Moderna trata-se de uma casa de perversão, constituindo um

perigo máximo para o povo (KASSICK; KASSICK, 1997).

Finalizando com Kassick (2000) apesar de pouco lembrada e referenciada, a

educação anarquista foi importante não apenas para a “instituição escola” e para o

seu fazer pedagógico, mas também para a própria Pedagogia, que incorporou

alguns de seus princípios como por exemplo Freinet nas Escolas do Povo,

Montessory na Escola Nova e Freire em seus grupos de autoformação.

3.4 Educação Libertária – experiências hoje

Ao falarmos de Pedagogia Libertária nos dias de hoje, é difícil conceber Escolas sem

tutela estatal ou privada. O coletivo Paideia que autogestiona a Escola Livre da

Paideia, na cidade de Mérida na Espanha, é hoje uma ilha dos ideais libertários. O

coletivo Paideia é na verdade um conselho formado por pais, alunos, professores e

demais funcionários que decidem sempre em conjunto qual atitude deverá ser

tomada, tratando inclusive casos de indisciplina. Na figura 1a, podemos visualizar a

fachada da Escola Livre da Paideia com as portas abertas para a visitação de uma

exposição de trabalhos de seus alunos, os quais podemos ter uma idéia através da

figura 1b. A figura 1c mostra o “Pátio das Palmeiras” onde são realizadas algumas

das assembléias.

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(a) (b) (c)

Figura 1: Escola Livre da Paideia Fonte:<http://www.paideiaescuelalibre.org/Galerias%20de%20Fotos/Fotos%20homenaje/album

/index.html>

A figura 2 mostra uma sala de aula na Escola Livre da Paideia.

Figura 2: Escola Livre da Paideia Fonte: <http://contraelfascismo.wordpress.com/2007/12/09/educacin-libre-sociedad-anrquica/>

A Escola Livre Paideia foi fundada, em janeiro de 1978, por um grupo de pais e

professores descontentes com o ensino então oferecido nas escolas espanholas. Os

jovens da Paideia perfazem o equivalente aos Ensino Fundamental e Médio. Após,

encaminham-se a um terceiro nível pré-universitário, que no sistema de ensino

espanhol equivale à educação geral, ou a um outro terceiro nível de formação

profissional.

Luengo et al. (2000) cita que a Educação Libertária defendida na Escola Livre

da Paideia baseia-se no apoio mútuo para estimular e aceitar a diversidade e a

criatividade de cada pessoa, assim a riqueza de diferenças individuais se opõe à

uniformidade da produção em massa dos grupos humanos. Os Educadores da

Paideia devem ser aqueles que tem sempre a necessidade de recuperar ou

enriquecer a curiosidade pelo mundo e convivem a maior parte de seu tempo com

outras pessoas (crianças, jovens ou adultos).

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Conforme Luengo, et al (2000 p. 19-20), os principais conceitos tratados pela

Escola Livre da Paideia são entre outros:

- Devolver as tarefas educativas e de aprendizagem aos seus

protagonistas: as pessoas e grupos naturais que a configuram;

- Integrar as atividades intelectual e manual;

- Oportunizar a mesma quantidade de educação para todos;

- Defender a aprendizagem dos direitos e liberdades individuais e coletivos;

- Basear as relações vivenciais no respeito à pessoa, no apoio mútuo e na

solidariedade;

- Experimentar constantemente novas formas de aprendizagem e

educação;

- Rechaçar constantemente a violência em qualquer de suas formas –

física, oral, mental, psicológica – em todos os níveis, desde o interpessoal, grupal, social até o

nacional e internacional;

- Defender as idiossincrasias pessoais, que requerem tolerância, defesa da

auto-estima, respeito ao ritmo de desenvolvimento e aprendizagem, aceitação efetiva e diálogo lógico

e racional;

- Desenvolver a autonomia pessoal, afetiva e intelectual, para

autodeterminar-se e autogestionar-se;

- Cada um realizará conforme suas possibilidades e obterá segundo suas

necessidades;

- Evitar a exploração dos alunos, que nas Escolas convencionais são

submetidos à competição e jornada excessiva, com a única finalidade de alcançar e ocupar postos de

privilégio na sociedade.

A Paideia pretende construir pessoas com estruturas mentais diferentes

daquelas que os sistemas autoritários criam, para facilitar então a possibilidade de

evolução da sociedade, potencializando assim o progresso social.

A gestão, ou melhor, auto-gestão econômica da Paideia dá-se através da

contribuição dos pais dos alunos, de acordo com suas possibilidades financeiras,

onde aqueles de maiores posses pagam mais e, aqueles de posses inferiores

pagam menos, da mesma forma que a remuneração dos professores varia de

acordo com a quantidade de alunos.

A dinâmica educativa da Paideia baseia-se na análise da conclusão de uma

etapa anterior que é dada em trimestres. Desta forma, a cada início de curso, o

grupo de educadores apresenta a uma assembléia geral (pais, alunos, colegiado e

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demais funcionários) o projeto para o trimestre. Neste projeto se expressam os

objetivos a alcançar e as razões pelas quais foram escolhidos.

Em consonância com o projeto apresentado, existem as fichas de

compromisso, para que os próprios alunos, entre outros objetivos, proponham um

compromisso livre e respondam a ele mesmo; percebam a necessidade de escrever

e adquirir vocabulário, se esforcem para se comunicar por escrito e, tenham a

experiência de que nem sempre se pode responder a um compromisso, pois isto

requer esforço, que algumas vezes é necessário diminuí-los, porque não estão

suficientemente maduros para responder a eles sem dificuldade.

Além dos aspectos pedagógicos, as fichas de compromisso ajudam os

estudantes a se auto-conhecerem, auto-aceitarem e fazerem o mesmo em relação

às demais pessoas e, servem também para expor publicamente erros e acertos,

reconhecê-los e com isso desenvolverem-se.

3.5 Educação de Jovens e Adultos - EJA

A educação de jovens e adultos é uma modalidade de ensino, amparada por lei

e voltada para pessoas que não tiveram acesso, por algum motivo, ao ensino regular

na idade apropriada. Porém são pessoas que têm cultura própria. Sabe-se que o

papel docente é de fundamental importância no processo de reingresso do aluno às

turmas de EJA. Por isso, o professor da EJA deve, também, ser capacitado a

identificar o potencial de cada aluno. Tal capacitação deve ser reconhecida e

valorizada.

O perfil do professor da EJA é muito importante para o sucesso da

aprendizagem do aluno adulto, pois a EJA é uma educação possível e capaz de

mudar significativamente a vida de uma pessoa, permitindo-lhe reescrever sua

história de vida.

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3.5.1 A EJA no Brasil

A história da Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Brasil apresenta muitas

variações ao longo do tempo demonstrando estreitos laços com as transformações

sociais, econômicas e políticas que caracterizaram os diferentes momentos

históricos do País.

A expulsão dos Jesuítas, ocorrida no século XVIII, desorganizou o ensino até

então estabelecido. Novas iniciativas sobre ações dirigidas à educação de adultos

somente ocorreram durante a época do Império. Desde a Revolução de 1930, as

mudanças políticas e econômicas permitiram o início da consolidação de um sistema

público de educação elementar no País.

A Constituição de 1934 estabeleceu a criação de um Plano Nacional de

Educação, que indicava, pela primeira vez, a educação de adultos como dever do

Estado, incluindo em suas normas a oferta do ensino primário integral, gratuito e de

freqüência obrigatória, extensiva para adultos.

Na década de 40, com a criação e a regulamentação do Fundo Nacional do

Ensino Primário (FNEP) e a criação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

(INEP) possibilitou, entre outros, o surgimento das primeiras obras dedicadas ao

ensino supletivo; o lançamento da Campanha de Educação de Adolescentes e

Adultos (CEAA).

Ainda em 1947, realizou-se o 1º Congresso Nacional de Educação de Adultos.

E em 1949 foi realizado mais um evento de extrema importância para a educação de

adultos: o Seminário Interamericano de Educação de Adultos.

Em 1952 foi criada a Campanha Nacional de Educação Rural (CNER),

inicialmente ligada a Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos - CEAA. A

CNER caracterizou-se, no período de 1952 a 1956, como uma das instituições

promotoras do processo de desenvolvimento de comunidades no meio rural

brasileiro.

Ainda nos anos 50, foi realizada a Campanha Nacional de Erradicação do

Analfabetismo (CNEA), que marcou uma nova etapa nas discussões sobre a

educação de adultos. Seus organizadores compreendiam que a simples ação

alfabetizadora era insuficiente, devendo dar prioridade à educação de crianças e

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jovens, aos quais a educação ainda poderia significar alteração em suas condições

de vida.

Em 1958, foi realizado o 2º Congresso Nacional de Educação de Adultos,

objetivando avaliar as ações realizadas na área e visando propor soluções

adequadas para a questão. Foram feitas críticas à precariedade dos prédios

escolares, à inadequação do material didático e à qualificação do professor. A

delegação de Pernambuco, da qual Paulo Freire fazia parte, propôs uma educação

baseada no diálogo, que considerasse as características socioculturais das classes

populares, estimulando sua participação consciente na realidade social.

Na década de 60, com o Estado associado à Igreja Católica, novo impulso foi

dado às campanhas de alfabetização de adultos. O Movimento de Educação de

Bases (MEB) sobreviveu por estar ligado ao MEC e à igreja Católica. Todavia,

devido às pressões e à escassez de recursos financeiros, grande parte do sistema

encerrou suas atividades em 1966.

A década de 70, ainda sob a ditadura militar, marca o início das ações do

Movimento Brasileiro de Alfabetização – o MOBRAL, que era um projeto para se

acabar com o analfabetismo em apenas dez anos. Após esse período, quando já

deveria ter sido cumprida essa meta, o Censo divulgado pelo IBGE registrou 25,5%

de pessoas analfabetas na população de 15 anos ou mais. O programa passou por

diversas alterações em seus objetivos, ampliando sua área de atuação para campos

como a educação comunitária e a educação de crianças.

O ensino supletivo, implantado em 1971, foi um marco importante na história

da educação de jovens e adultos do Brasil. Durante o período militar, a educação de

adultos adquiriu pela primeira vez na sua história um estatuto legal, sendo

organizada em capítulo exclusivo da Lei nº 5.692/71, intitulado ensino supletivo. O

artigo 24 desta legislação estabelecia que o supletivo deveria suprir a escolarização

regular para adolescentes e adultos que não a tenham conseguido ou concluído na

idade própria (VIEIRA, 2004).

No início da década de 80, a sociedade brasileira viveu importantes

transformações sócio-políticas com o fim do governo militar e a retomada do

processo de redemocratização. Em 1985, o MOBRAL foi extinto, sendo substituído

pela Fundação EDUCAR. O contexto da redemocratização possibilitou a ampliação

das atividades da EJA. Estudantes, educadores e políticos organizaram-se em

defesa da escola pública e gratuita para todos. A nova Constituição de 1988 trouxe

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importantes avanços para a EJA. Visto que o ensino fundamental, obrigatório e

gratuito, passou a ser garantia constitucional também para os que a ele não tiveram

acesso na idade apropriada.

Contudo, a partir dos anos 90, a EJA começou a perder espaço nas ações

governamentais. Em março de 1990, a Fundação EDUCAR foi extinta e todos os

seus funcionários colocados em disponibilidade. As atividades da EJA tiveram seu

controle repassado então para os Estados e Municípios.

Em janeiro de 2003, o MEC anunciou que a alfabetização de jovens e adultos

seria uma prioridade do Governo Federal. Para isso, foi criada a Secretaria

Extraordinária de Erradicação do Analfabetismo. Para cumprir essa meta foi lançado

o Programa Brasil Alfabetizado, por meio do qual o MEC contribuiria com os órgãos

públicos estaduais e municipais, instituições de ensino superior e organizações sem

fins lucrativos que desenvolvessem ações de alfabetização.

Apesar de não estar havendo continuidade dos programas, ao longo dos

tempos, a Educação de Jovens e Adultos está sempre sendo buscada, com o

objetivo de permitir o acesso de todos à educação, independentemente da idade.

Desta forma, fica claro o caminho que a EJA percorreu em nosso país até chegar

aos dias atuais. Muito já foi feito, mas ainda há outro tanto, pois afinal como reza a

nossa Constituição Federal, educação é direito de todos.

3.6 O Ensino das unidades de medida de comprimento para a EJA

Conforme os PCN-EJA (BRASIL, 1998) o tratamento das unidades de medida

para alunos das séries finais do Ensino Fundamental devem priorizar a observação,

representação e manuseio de instrumentos de medição. É importante ainda

proporcionar aos alunos experiências que permitam ampliar sua compreensão sobre

os processos de medição e a percepção de sua utilização para descrever e

comparar fenômenos que fazem parte de sua realidade. Ainda, o estudo de sua

utilização no contexto social e de problemas históricos ligados a elas geralmente

despertam o interesse dos alunos. O trabalho com medidas deve centrar-se

fortemente na análise de situações práticas que levem o aluno a aprimorar o sentido

real das medidas.

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Conforme os PCN-EJA (BRASIL, 1998), são “Conceitos e Procedimentos” para

trabalho com Unidades de Medida:

- reconhecimento de grandezas como comprimento, massa, capacidade,

superfície, volume, ângulo, tempo, temperatura, velocidade e identificação

de unidades adequadas (padronizadas ou não) para medi-las, fazendo uso

de terminologia própria.

- Reconhecimento e compreensão das unidades de memória da

informática, como bytes, quilobytes, megabytes e gigabytes em contextos

apropriados, pela utilização da potenciação.

. - Obtenção de medidas por meio de estimativas e aproximações e

decisão quanto a resultados razoáveis dependendo da situação-problema.

- Utilização de instrumentos de medida, como régua, escalímetro,

transferidor, esquadro, trena, relógios, cronômetros, balanças para fazer

medições, selecionando os instrumentos e unidades de medida adequadas

à precisão que se requerem, em função da situação-problema.

- Compreensão da noção de medida de superfície e de equivalência de

figuras planas por meio da composição e decomposição de figuras.

.- Cálculo da área de figuras planas pela decomposição e/ou composição

em figuras de áreas conhecidas, ou por meio de estimativas.

- Indicar o volume de um recipiente em forma de paralelepípedo retângulo

pela contagem de cubos utilizados para preencher seu interior.

.- Estabelecimento de conversões entre algumas unidades de medida mais

usuais (para comprimento, massa, capacidade, tempo) em resolução de

situações-problema.

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4 APLICAÇÃO E DADOS

A aplicação descrita a seguir, objetivou verificar a compreensão, por parte dos

alunos da EJA – etapa 3, das unidades de medida de comprimento à partir de uma

atividade prática.

4.1 Contextualização

A pesquisa começou com a elaboração de uma atividade prática para o

nivelamento de conhecimentos sobre assunto unidades de medida de comprimento

para Jovens e Adultos da etapa 3 do Ensino Fundamental (correspondente às séries

finais).

Após, foi apresentada à coordenadora de uma entidade que possui entre seus

projetos sociais a EJA, a proposta, de uma aplicação para o desenvolvimento da

pesquisa de campo relacionada ao Trabalho de Conclusão de Curso com alunos

daquela Instituição. Houve por parte da coordenação e supostamente da Entidade

uma boa aceitação da proposta, pois os alunos estariam em um período compatível

com o desejado iniciando o assunto unidades de medida de comprimento. A única

condição imposta pela coordenadora da entidade foi verificar o plano de aula

(APÊNDICE A) antes da aplicação.

Após esta etapa cumprida, no dia 30 de outubro de 2009 entre 13:30h e 17:30h

com quinze alunos ocorreu o desenvolvimento da atividade prática a qual é relatada

a seguir.

4.2 Relato da tarefa

A atividade foi iniciada com 15 alunos, na qual lhes foi apresentado um texto

tratando brevemente do histórico das unidades de medida de comprimento

(APÊNDICE B) desde os primórdios da humanidade até nossos dias. Neste

momento, foram aproveitados os questionamentos dos alunos para socialização de

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algumas situações corriqueiras como, por exemplo, de onde vêm os termos “meio-

dia” e “Televisor de vinte polegadas” conforme figuras 3a e 3b:

(a) (b) Figura 3: Temas do dia-a-dia

Fonte: Autoria própria, 2009.

Em seguida, foi entregue aos alunos um questionário onde os mesmos

responderam a dez questões (APÊNDICE C) livremente sobre itens da pesquisa tais

como apoio mútuo, fazer manual e aprendizado com significado conforme mostra a

figura 4:

(a) (b) Figura 4: Alunos respondendo questionário prévio

Fonte: Autoria própria, 2009.

Após o preenchimento do questionário prévio (ver figuras 4a e 4b) os objetivos

da atividade foram expostos ao grupo, contando com os questionamentos por parte

dos alunos quanto ao que deveria ser medido. Prontamente foi explicado aos alunos

que poderia ser medido qualquer objeto desde que em linha reta. Nas figuras 5a e

5b pode ser visualizada a explicação sobre o preenchimento do formulário no qual

seriam anotadas as medições realizadas.

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(a) (b) Figura 5: Explicação da atividade.

Fonte: Autoria própria, 2009.

Após serem tiradas as dúvidas dos alunos, foram analisados os questionários

para verificar se algum dos alunos não gostaria de realizar a atividade. Diante da

concordância dos quinze alunos presentes, discutiu-se então com os alunos qual

seria a melhor divisão dos grupos. Foi sugerida por boa parte dos presentes a

divisão em grupos de três pessoas para que todas as formações tivessem a mesma

quantidade de componentes e ninguém ficasse de fora da atividade. Após esta

decisão em uma rápida Assembléia, os alunos, livremente puderam optar por formar

seu grupo de trabalho. Como última orientação, lhes foi orientado que os integrantes

realizassem um rodízio nas atividades (duas posições da trena, medição e leitura, e

apontamento dos valores) e distribuído a cada um destes uma trena com

comprimento de três metros, uma prancheta, uma planilha para registro dos

resultados verificados (APÊNDICE D) e uma caneta esferográfica de cor azul.

Cada grupo então, esteve livre para, pelo pátio da Instituição, de forma ordeira

realizar as medições que tivessem interesse, observando sempre que cada

integrante realizasse pelo menos três vezes a mesma operação. A atividade foi

acompanhada e eventuais dúvidas surgidas na atividade foram de pronto

esclarecidas para que o trabalho pudesse prosseguir sem contratempos. As figuras

6a e 6b mostram os alunos realizando a atividade.

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(a) (b) Figura 6: Alunos realizando a atividade

Fonte: Autoria própria, 2009.

Após realizarem as medições solicitadas, o grupo reuniu-se na sala de aula

para socializar os resultados encontrados. Foi a oportunidade para os alunos

trocarem informações com seus colegas de outros grupos sobre as dimensões

encontradas. Durante a socialização dos resultados, os alunos puderam também se

manifestar sobre a atividade e outro fato importante, porém sem registro foi o

entusiasmo que os alunos manifestaram em percorrer o pátio da Instituição para

realizar a atividade, podendo efetuar as medições que julgavam interessantes. Neste

momento os alunos puderam concluir que uma atividade realizada e protagonizada

por eles mesmos pode ser muito proveitosa em termos de busca nivelamento de

conhecimentos. As figuras 7a e 7b mostram o momento da socialização dos

resultados em uma assembléia.

(a) (b)

Figura 7 – Socialização dos resultados Fonte: Autoria própria, 2009.

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4.3 Coleta de dados

Para a coleta de dados foram elaborados dois questionários que foram

aplicados, sendo um antes (APÊNDICE C) e outro após a atividade (APÊNDICE E)

com o objetivo maior de verificar o entendimento dos alunos sobre o assunto

matemático unidades de medida de comprimento e suas opiniões a respeito do

trabalho realizado com base nas relações vivenciais, apoio mútuo, aprendizado

solidário, bem como, novas formas de aprendizagem.

4.3.1 Questionário aplicado antes da atividade

O questionário aplicado antes da atividade ser realizada (APÊNDICE C) era

composto por dez questões, sendo que destas, cinco eram de múltipla escolha e

cinco eram descritivas. As três primeiras perguntas formam o primeiro bloco do

questionário (quadro 1), referindo-se ao entendimento ou não do assunto e os

prováveis porquês.

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Quadro 1: Primeiro bloco do questionário aplicado antes da atividade

Fonte: Autoria própria, 2009

O bloco seguinte, exibido no quadro 2, formado pelas questões quatro, cinco,

seis e sete refere-se ao uso ou não das unidades de medida de comprimento no dia-

a-dia de cada um e qual o nível de contato que possuíam com instrumentos e

unidades de medida de comprimento propriamente ditas.

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Quadro 2: Segundo bloco do questionário aplicado antes da atividade Fonte: Autoria própria, 2009

Por fim o terceiro e último bloco, no quadro 3, composto pelas questões oito,

nove e dez revelaram o interesse dos alunos em realizar atividades baseadas no

apoio mútuo, relações vivenciais, aprendizado solidário, experimentar novas formas

de aprender, integrar atividades manuais e intelectuais e, por fim, somado a todos os

demais fatores, ter a seu dispor a mesma oportunidade de aprendizagem.

Quadro 3: Terceiro bloco do questionário aplicado antes da atividade

Fonte: Autoria própria, 2009

O objetivo maior deste questionário era verificar qual o nível de conhecimento

que os alunos possuíam, seu desejo em trabalhar de forma cooperativa e solidária e,

principalmente, se estes percebiam como necessário entender o assunto unidades

de medida de comprimento.

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4.3.2 Questionário aplicado após a atividade

O questionário aplicado após a atividade (APÊNDICE E) era também composto

por dez questões. O objetivo maior deste questionário aplicado após a realização da

atividade era verificar se uma atividade diferenciada, com enfoque libertário, poderia

favorecer o nivelamento dos conhecimentos sobre o conteúdo unidades de medida

de comprimento. As três primeiras perguntas formam novamente o primeiro bloco do

questionário, referindo-se ao entendimento ou não do assunto após a atividade e os

prováveis porquês conforme quadro 4.

Quadro 4: Primeiro bloco do questionário aplicado após a atividade

Fonte: Autoria própria, 2009

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O bloco seguinte (formado pelas questões quatro, cinco, seis e sete) refere-se

a percepção dos alunos sobre o assunto após a realização da atividade sobretudo

no que diz respeito ao fato desta ter acrescentado algo mais e a contribuição que a

atividade em grupo pode proporcionar conforme quadro 5.

Quadro 5: Segundo bloco do questionário aplicado após a atividade

Fonte: Autoria Própria, 2009

Por fim o terceiro e último bloco (questões oito, nove e dez) revelaram o

interesse dos alunos em realizar novas atividades baseadas no apoio mútuo,

relações vivenciais, aprendizado solidário, experimentar novas formas de aprender,

integrar atividades manuais e intelectuais e, por fim, somado a todos os demais

fatores, ter a seu dispor a mesma oportunidade de aprendizagem conforme o bloco

6.

Quadro 6: Primeiro bloco do questionário aplicado após a atividade Fonte: Autoria Própria, 2009

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4.3.3 Levantamento de dados

Os resultados obtidos nos questionários aplicados antes e depois da atividade

são expostos a seguir:

4.3.3.1 Questionário aplicado antes da atividade

A resposta para a pergunta número um do questionário aplicado antes da

atividade - Você tem dificuldade em entender qual é a unidade de medida

fundamental e quais são seus múltiplos e submúltiplos? – nos mostra que a maioria

dos alunos responderam tem dificuldade no entendimento das unidades de medida

de comprimento conforme aponta o gráfico 1.

Você tem dificuldade em entender qual é a unidade d e medida fundamental e quais são seus múltiplos e submúltipl os?

NÃO43% SIM

57%

Gráfico 1: Primeira pergunta do questionário aplicado antes da atividade

Fonte: Autoria própria, 2009

Indagados sobre os motivos que os levaram a apresentar dificuldades no

entendimento do assunto unidades de medida de comprimento, houve uma maior

concentração em duas opções: “Não aprendeu unidades de medida de

comprimento” e “Tenho dificuldade em Matemática”, sendo cada uma destas opções

responsável por um terço das respostas conforme gráfico 2. Dentre a resposta

“Outros”, os principais motivos apresentados foram “não gosto de Matemática” e

“não gosto de medir”.

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Não aprendi unidades de

medida33,3%

Outros33,3%

Tenho dificuldade em Matemática

33,3%

Qual o(s) motivo(s) que o(a) levou(aram) a ter difi culdade na compreensão?

Gráfico 2: Segunda pergunta do questionário aplicado antes da atividade

Fonte: Autoria própria, 2009

A pergunta de número quatro do questionário era sobre a utilização anterior a

este momento de algum instrumento de medida de comprimento. Observa-se aqui a

relevância do assunto tratado, bem como a presença do medir comprimentos no dia-

a-dia das pessoas. O gráfico 3 mostra que todos os alunos presentes já tiveram

contato com algum instrumento de medida.

SIM100%

Você já mediu alguma vez com régua, trena ou outro instrumento?

Gráfico 3: Quarta pergunta do questionário aplicado antes da atividade

Fonte: Autoria própria, 2009

A questão de número cinco referia-se a negativa da pergunta de número

quatro. Como todos os alunos afirmaram que já mediram alguma vez com uma trena

ou outro instrumento, ninguém marcou-a.

A pergunta de número seis questionava aqueles que na pergunta de número

quatro responderam sim - Quais os instrumentos de medida de comprimento já

tiveram contato, a totalidade dos alunos respondeu que já haviam utilizado ao

menos a trena.

A questão de número sete referia-se a quais unidades de medida de

comprimento eram utilizadas no dia-a-dia do aluno. Aqui houve a divisão de

respostas entre metro e centímetro.

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A questão de número oito questionava aos participantes da atividade se

gostam ou não de atividades em grupo e se acreditam que com este tipo de método

poderiam aprender mais. O resultado pode ser visto no gráfico 4, onde a grande

maioria dos alunos respondem que sim, entendendo entre outros motivos expostos

que sempre é possível aprender algo novo neste tipo de organização. Aqueles que

não acreditam numa aprendizagem coletiva justificaram que preferem trabalhar se

forma isolada.

NÃO7%

SIM93%

Você gosta de trabalhar com outras pessoas e acred ita que pode aprender algo

Gráfico 4: Oitava pergunta do questionário aplicado antes da atividade

Fonte: Autoria própria, 2009

A questão de número nove indagava os alunos a respeito da importância das

unidades de medida de comprimento no dia-a-dia, neste item todos os alunos

responderam que consideram importante.

Por fim, a décima e última questão do primeiro questionário, foi a respeito do

interesse em realizar uma atividade prática com o assunto unidades de medida de

comprimento. A maioria dos alunos, conforme o gráfico 5 respondeu que gostaria de

realizar uma tarefa prática apenas com medições que lhes interessassem.

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GOSTARIA93%

NÃO GOSTARIA

7%

O que você acha de ao invés de realizar atividades somente em sala de aula realizar uma

tarefa prática de medições e nesta tarefa realizand o apenas medições que lhe interessam ?

Gráfico 5 – Décima pergunta do questionário aplicado antes da atividade

Fonte: Autoria própria, 2009

4.3.3.2 Questionário aplicado após a atividade

O questionário realizado após a atividade nos mostra que as respostas dos

alunos foram positivas quanto ao aprendizado e cooperação mútua e da “aula

diferente”. O gráfico 6, mostra a dificuldade em entender o assunto unidades de

medida de comprimento conforme pergunta número um (APÊNDICE E). Já aqueles

que declararam que não tiveram dificuldades, pergunta três, afirmaram entre outros

motivos, que “as aulas que tive foram suficientes e aprendi sobre o assunto”.

NÃO71%

SIM 29%

Você teve dificuldade em entender as unidades de me dida, seus múltiplos e submúltiplos?

Gráfico 6: Primeira pergunta do questionário aplicado após a atividade

Fonte: Autoria própria, 2009

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A pergunta quatro do questionário preenchido após a atividade indagava se a

atividade auxiliou no melhor entendimento sobre o assunto. É importante observar

que neste caso todos os alunos responderam ao questionamento, independente de

anteriormente declararem possuir conhecimento sobre o assunto tratado. A resposta

da grande maioria dos alunos foi positiva em relação a um melhor entendimento

conforme gráfico 7.

SIM86%

NÃO14%

Após as medições realizadas, você acredita que já s abe algo mais sobre as unidades de medida?

Gráfico 7: Quarta pergunta do questionário aplicado após a atividade

Fonte: Autoria própria, 2009

A questão de número cinco deveria ser respondida apenas por aqueles que

marcaram “não” na pergunta de número quatro. Para esta questão, a totalidade dos

alunos que respondeu-a afirmou que sim, ou seja, os alunos entendem que

“atividades desta natureza podem ajudar no nivelamento do conhecimento sobre o

assunto unidades de medida de comprimento”.

A pergunta de número seis era voltada para aqueles alunos que na pergunta

de número quatro responderam sim e solicitava que escrevessem com suas próprias

palavras o que acharam da atividade. Entre outras respostas (algumas destas

encontram-se no APÊNDICE F) verificamos a importância para o dia-a-dia.

A questão de número sete indagava sobre eventuais dificuldades encontradas

na realização da atividade. Nesta questão, aqueles que responderam que tiveram

dificuldades, apontaram a conversão de unidades (centímetro para metro e vice-

versa) como grande fator de dificuldade na realização da atividade.

Na pergunta oito, foi indagado aos participantes da atividade se “Você gostou

de trabalhar com outras pessoas e acredita que através deste e de outros trabalhos

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em cooperação poderá aprender algo mais?”. Unanimemente responderam que sim

(conforme gráfico 8) e os motivos externados encontram-se no APÊNDICE G.

SIM100%

Você gostou de trabalhar com outras pessoas e acred ita que através deste e de outros trabalhos em cooperação poderá aprender algo mais?

Gráfico 8: Oitava pergunta do questionário aplicado após a atividade

Fonte: Autoria própria, 2009

A pergunta de número nove indagava sobre a sobre a “importância que você

dá para a realização de atividades práticas que tragam significado para aquilo que

lhe é proposto”. Para esta pergunta, a resposta mais destacada pelos alunos foi a

possibilidade de sempre aprender algo mais.

Por fim, a questão de número dez, “o que você achou de realizar esta atividade

prática realizando apenas as medições que lhe interessavam?”, onde todos os

alunos afirmaram que gostaram da atividade.

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5 CONCLUSÃO

Os alunos realizaram com grande entusiasmo e alegria as medições e

apontamentos. Através da cooperação e rodízio feito corretamente, todos os

participantes puderam manusear trena e prancheta de forma tranqüila e organizada.

Analisando as repostas dos alunos, principalmente seus porquês (APÊNDICE

G), podemos constatar que os mesmos entenderam a atividade e tiveram uma

oportunidade de aprender com os outros, o que para eles é motivo de satisfação.

Até mesmo alguns que não tem grande apreço pelo trabalho em cooperação

avaliaram a experiência como positiva. Outros acreditam que “pouco sabem”

(APÊNDICE H) e entenderam que realizar este tipo de atividade pode propiciar, por

meio de relações vivencias e trocas de experiências, um melhor aprendizado.

Também podemos perceber que a atividade diferenciada e a conciliação de

conhecimentos práticos com teóricos podem contribuir de forma significativa para o

melhor entendimento do assunto unidades de medida de comprimento conforme

vemos nas respostas dos questionários aplicados antes e depois da atividade

prática.

É válido ainda, enfatizar que o mesmo material foi entregue a todos os grupos

e todos tiveram as mesmas oportunidades à disposição. Entende-se então que cada

um dos grupos realizou as medições que julgava mais importante, buscando o

conhecimento que lhe é necessário, mostrando serem protagonistas de seu próprio

aprendizado, conforme pressupõe a Pedagogia Libertária.

A percepção que sempre tive sobre a forma com a qual é abordado o assunto

unidades de medida de comprimento nas escolas sempre me deixou em dúvida

sobre o que realmente importa. Entendo que este conteúdo trata-se, entre outros de

igual importância, de algo que realmente precisamos desde nossos primeiros

passos. Ora, como é impossível desde este momento termos o conhecimento

científico sobre o tema, vamos conforme a nossa necessidade descobrindo

empiricamente as unidades de medida de comprimento, sejam elas quais forem

(massa, comprimento, volume, etc).

Foi em busca de dar significado ao aprendizado que resolvi trabalhar o assunto

unidades de medida de comprimento com alunos da EJA, modalidade de ensino

com a qual tenho uma grande afinidade. Entendo que é de fundamental importância

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mostrarmos de forma diferenciada cada um dos temas tratados, sejam eles de

grande, média ou pequena aplicação cotidiana. Porém, é vital para que o trabalho

tenha sucesso com este público que haja algo empírico, prático, que possa ser

realizado em cima da tentativa e erro para que tudo possa fazer sentido, para que

ocorra a integração do intelectual com o manual e desta forma ocorra a integralidade

do aprendizado.

Não pretendo aqui dizer que esta é a única forma de tratarmos os temas

envolvidos na EJA, porém, com base na pesquisa realizada e, através da análise de

dados, posso afirmar que os preceitos libertários de Sébastien Faure podem

contribuir de forma significativa para, uma vez que envoltos em um ambiente de

fraternidade, sem a figura de um professor autoritário, e trabalhando como se todos

formassem uma verdadeira “colméia”, na qual foi oportunizado o mesmo

aprendizado para todos, em que o aluno foi o “ator principal” de seu processo de

aprendizagem e não um mero repetidor de informações formou-se o ambiente

propício para a formação dos conceitos do assunto tratado.

Creio com muita firmeza que a “Nova Escola” está a caminho. A Escola sem

paredes, onde todos protagonizam seus próprios caminhos e para isso têm ao seu

lado muito mais que um Professor, mas muito menos que um Deus. Professor este

visto como um agente transformador de sua realidade. Alguém que saiba como vai

lhe mostrar o caminho da liberdade, da fraternidade, da humanidade, da convivência

em cooperação onde todos aprendem e todos ensinam.

Isto tudo para muitos pode parecer utópico, romântico demais para nossos

tempos, porém, se faz necessário antes de qualquer coisa saber o que é mesmo

utopia! Sem tirarmos este cisco de nossos olhos e entendermos o que

verdadeiramente significa esta palavra, não entenderemos mais nada e acabaremos

por nos render à maioria que primeiro procura o culpado.

Segundo Gallo (1995, p. 11) “utopia não se refere aquilo que não teve e nem

nunca terá lugar, mas apenas o que ainda não teve o seu lugar.”. Se nos é

demasiado sonhador imaginar a “Nova Escola”, não podemos nos esquecer que um

dia nos foi demasiado sonhar que chegaríamos a Lua, assim como ainda nos é

demasiado sonhar a cura para o câncer.

Os colaboradores da pesquisa mostraram que a “Nova Escola” é possível. Mais

que isso mostraram que além de tudo o que pensamos e idealizamos sobre ela

ainda não é tudo. Ela está se recriando todos os dias, a cada hora e a cada minuto.

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Pois aí é que está a sua diferença. Ela não é estática, tem grande mobilidade

através dos inúmeros protagonistas do processo.

Mesmo percebendo a crônica dificuldade dos alunos da EJA em Matemática,

creio que experimentar o novo, e viver como afirma Gallo (1995) “o risco” não é algo

que precisa ser negativo. Negativo é insistirmos nos erros de séculos com situações

reduzidas de oportunidade de aprendizagem, privilegiando aqueles que tem mais

capacidade, ou então como diria Darwin, aqueles de maior capacidade de

adaptação.

Conforme Gallo (1995), as rápidas mudanças que testemunhamos atualmente,

a educação erra o caminho quando se limita a transmitir de forma autoritária

conhecimentos que em seguida são superados ou, de toda forma, parecem

revogáveis logo em seguida. A partir de Faure, idealizo uma educação em que o

aluno esteja constantemente rechaçando, inovando, reinventado-se e acima de tudo,

usufruindo de sua liberdade de pensamento e decisão. Talvez, atrevendo-me um

pouco mais, numa Escola Livre e Fraterna, criando uma sociedade Livre e Fraterna

para todos nós!

Visto que a resposta dos alunos em relação a esta atividade foi positiva,

entendo que podemos visualizar um horizonte largo em relação à aplicação da

Pedagogia Libertária em salas de aula, pois devido principalmente à combinação do

intelectual com o manual, oferecemos ao aluno a possibilidade de transcender o

abstrato podendo então atingir objetivos, recriá-los e constantemente modificá-los,

através de seu protagonismo e das necessidades que lhes são impostas.

Assim, pode-se afirmar que a Matemática é um campo fértil para a aplicação

da Pedagogia Libertária e que seus resultados podem ser de grande relevância para

o ensino desta área do conhecimento. Sugiro então, que futuros Professores,

Especialistas, Mestres, Doutores ou Pós-Doutores também explorem este tema, ou

outros relativos a esta Pedagogia, pois com a idéia de que a Escola é um ambiente

para a transformação da sociedade, precisamos de pessoas com a capacidade de

transformar, reinventar e correr “o risco”.

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KASSICK, Neiva B; KASSICK, Clóvis N. A Pedagogia Libertária na história da educação brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro: Achiamé, 2004. LIPIANSKY, Edmond M. A Pedagogia Libertária. São Paulo: Imaginário, 2007. LUENGO, Josefa M. et al. Pedagogia Libertária : experiências hoje. São Paulo: Imaginário, 2000. MARÇAL, João Batista. Os anarquistas no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Unidade Editorial, 1995. MORAES, José Damiro de. Signatárias do Manifesto de 1932 : trajetórias e dilemas, 2007. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 2007. MORIYÓN, Félix G. Educação Libertária. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989. MURRIE, Zuleika de Felice. Matemática : matemática e suas tecnologias : livro do professor ensino fundamental e médio. Brasília: MEC/INEP, 2002. VIEIRA, Maria Clarisse. Fundamentos históricos, políticos e sociais da educação de jovens e adultos – Volume I : aspectos históricos da educação de jovens e adultos no Brasil. Editora da Universidade de Brasília, Brasília, 2004.

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APÊNDICE A - Plano de aula para a realização da ati vidade:

Plano de Aula – MATEMÁTICA

Data: 30 de outubro de 2009

Períodos: 04 (4h)

Professores: FERNANDO LUÍS DE ROSSO

Conteúdo: As Unidades de Medida

Objetivos: Integrando as atividades intelectual e manual, retomar os conceitos de

Unidades de Medida de comprimento, suas unidades e utilizações;

Oportunizar a mesma aprendizagem para todos;

Experimentar novas formas de aprendizagem e educação;

Buscar, por meio de relações vivenciais, o respeito e o apoio mútuo,

assim como a solidariedade na aprendizagem.

Atividade inicial (0,75h):

O Professor discorrerá sobre o texto de introdução à matéria (anexo A) com o

seu material de apoio (distribuído também aos alunos) o histórico das Unidades de

Medida e sua importância na atualidade.

Após, repassará ao grupo o questionário inicial da atividade programada

(anexo B) e, em seguida o formulário de atividade de aula (constante no anexo C),

solicitará a organização dos alunos em grupos de livre escolha. Os grupos com no

máximo quatro pessoas receberão orientações no que diz respeito à organização e

divisão das tarefas, bem como a alternância nos postos ocupados pelos

participantes. Neste momento teremos dois alunos manuseando a trena e dois

realizando os apontamentos.

Atividade de desenvolvimento (1h):

Após a distribuição da atividade e, organização dos grupos, o Professor

deverá solicitar aos alunos, que coloquem no cabeçalho da atividade proposta seu

nome. Na seqüência dará início a atividade.

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A atividade consistirá da realização por parte dos alunos de medições de

comprimento com o instrumento trena (disponibilizada pelo professor), e anotação

em formulário anexo (anexo C) a este planejamento.

O Professor fará o monitoramento da atividade nos grupos através do

acompanhamento da atividade realizada pelos mesmos.

Socialização dos resultados (1h):

Através do preenchimento do anexo C, os grupos poderão por meio de seus

componentes socializar e discutir com os colegas e professor os resultados

encontrados, verificando a veracidade dos resultados encontrados através de

nova(s) medição(ões), dirimindo assim, eventuais dúvidas que possam surgir.

Atividade final (0,75h):

O professor realizará com os alunos o preenchimento do questionário final (anexo D)

e, realizará o preenchimento do controle de freqüência e produção.

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APÊNDICE B - Breve histórico das Unidades de Medida

Elementos históricos sobre as Unidades de Medida:

Muitos dos fatos com os quais convivemos ou podemos observar no dia-a-dia,

envolvem medidas e grandezas. Elas nos dão informações sobre as distâncias que

percorremos, o tamanho da nossa casa, a capacidade da nossa caixa d’água, a

quantidade de alimentos de que necessitamos, o nosso gasto com energia elétrica,

a organização do nosso tempo e outras coisas mais.

A necessidade de medir é muito antiga. Depois que os homens foram

deixando de ser apenas caçadores e coletores de alimentos, foram se fixando no

solo como agricultores. Deixaram gradativamente a vida nômade e tornaram-se, aos

poucos, mais sedentários.

Os egípcios antigos, por exemplo, cultivavam as terras nas margens do rio

Nilo. Essas terras eram demarcadas de acordo com cada grupo de agricultores. As

cheias do rio, entretanto, destruíam essas demarcações, o que os obrigava a refazê-

las todos os anos.

Para usar essas terras, os agricultores pagavam impostos ao faraó. Hoje

pagamos IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), imposto que a Prefeitura da

maioria das grandes cidades recolhe dos contribuintes que possuem um imóvel ou

terreno no município.

Diz-se, que no início, as pessoas apenas comparavam as grandezas. Quando

pensaram em construir suas casas, fazer suas plantações, armazenar seus

produtos, controlar sua produção, eles se depararam com problemas de medidas.

Para resolver problemas que envolviam comprimentos, criaram unidades de

medidas que, em geral, eram provenientes do tamanho das partes do corpo do

governante de cada país.

As Unidades de Medida – Primórdios

Os povos antigos - egípcios, babilônios, assírios, chineses, persas e gregos -

possuíam padrões diferentes de comprimento. A unidade de comprimento dos

babilônios era o dedo (aproximadamente 16mm). Usavam também o cúbito, que

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equivalia a 30 dedos. Também o pé e a polegada foram, em geral, para esses

povos, as unidades padrões.

É interessante ressaltar que, segundo L.A. Sanches, os egípcios possuíam

uma estranha medida denominada "polegada piramidal", encontrada na grande

pirâmide de Quéops, junto ao Nilo, construída aproximadamente em 3.000 A.C. Ao

ser estudada, concluíram que o diâmetro da Terra mede um bilhão e meio destas

polegadas. O cálculo do perímetro da base da pirâmide resulta 365.242 polegadas,

resultado cujos algarismos exprimem exatamente o número de dias do ano solar

(365,242 dias).

O homem também precisou pesar, ou melhor, comparar massas, pois peso e

massa são duas grandezas diferentes, sendo o primeiro uma força resultante da

atração gravitacional. Massa é a quantidade de matéria de um corpo, ou em termos

mais físicos, é a resistência que ele oferece a uma força aplicada. O peso pode

variar dependendo das condições e a massa é invariável no estado de repouso.

Nos primeiros tempos, o homem comparava a massa de dois corpos

equilibrando um em cada mão. Até que surgiu a primeira máquina de comparação:

uma vara suspensa no meio por uma corda. Os objetos eram pendurados nas suas

extremidades e, se houvesse o equilíbrio, ou seja, se a vara ficasse na horizontal,

eles possuíam a mesma massa.

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Os povos antigos padronizaram centenas de diferentes pesos e medidas para

atender às necessidades de suas civilizações. O grão de trigo tirado do meio da

espiga, provavelmente foi o primeiro elemento padrão de peso. Dos sistemas

adotados, um deles propagou-se pela Europa toda e hoje ainda é usado pelos

países de língua inglesa, após pequenas modificações: trata-se do sistema

comercial chamado "avoirdupois", palavra francesa que significa "bens de peso".

Suas unidades são:

-grão (gr);

-dracma (dr);

-onça (oz);

-libra (lb);

-quintal (cwt);

-tonelada (t).

Ramo de trigo

Com relação ao tempo, apesar de não poder segurá-lo ou guardá-lo, o

homem conseguia medi-lo registrando as repetições dos fenômenos periódicos.

Qualquer evento familiar servia para marcar o tempo: o período entre um e outro

nascer do Sol, a sucessão das luas cheias, ou a das primaveras.

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Assim como os antigos, os índios contavam os anos por invernos ou verões,

os meses por luas e os dias por sóis. Tais cálculos não eram muito exatos. As horas

de claridade entre o nascer e o pôr do sol variam muito durante o ano. Já o período

que vai de uma lua cheia a outra permanecia constante. Logo os homens

perceberam tal fato e concluíram que a maneira mais exata de medir o tempo era

baseando-se na periodicidade de eventos em corpos celestes.

O nosso ano é o período de tempo em que a Terra faz o seu movimento de

translação em torno do Sol. Ele é, às vezes, chamado de ano astronômico,

equinocial, natural ou solar. Os cientistas chamam-no geralmente de ano trópico e

tem 365 dias, 5 horas, 48 minutos, 45 segundos e 7 décimos. Como no calendário

consideramos apenas 365 dias, a cada quatro anos, as horas e os minutos que

sobram são reunidos, formando mais um dia, que aparece no ano bissexto.

O mês foi a primeira medida exata de tempo. Era calculado de uma lua cheia

a outra e tinha exatamente 29 dias e meio. Entretanto, dividindo-se o ano em meses

lunares, obtinha-se 12 meses e uma sobra de 11 dias. Não havia relação exata entre

o ano calculado pela translação da Terra em torno do Sole o mês lunar. Isto

originava confusão ao iniciar um novo mês. Outras tentativas de divisões em relação

a fenômenos naturais foram refutadas pela mesma razão. Júlio César, no ano 46

A.C. aboliu o ano lunar e adotou o ano solar de 365 dias, com um dia a mais a cada

quatro anos. Os meses eram baseados aproximadamente nos meses lunares,

porém com duração diferente. Os imperadores romanos costumavam subtrair dias

de alguns meses para adicioná-los a outros, seus favoritos.

A semana de 7 dias não tem relação exata com os corpos celestes e seus

movimentos, embora a divisão do mês em quatro semanas tenha origem nas

divisões que representavam as quatro fases da Lua.

O dia é estabelecido pelo período de rotação da Terra em torno do seu eixo. A hora

é a vigésima quarta parte do dia, não existindo, porém, relação entre os fenômenos

naturais e as repetições de duração de uma hora: a divisão foi feita arbitrariamente e

por conveniência.

O relógio de Sol, que consistia em um bastão espetado no chão no centro de

um círculo, foi o primeiro instrumento para medir o intervalo de tempo. Uma hora

possui 60 minutos e este, 60 segundos. Esta divisão foi feita pelos antigos babilônios

(aproximadamente 2000 a.C.), que adotavam um sistema de base sexagesimal, pois

já haviam dividido o círculo na base 60, critério que até hoje conservamos.

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As Unidades de Medida – Idade Média e Renascença

Os pesos e medidas usados nas civilizações antigas eram levados a outras

através do comércio ou da conquista. Assim, no início da Idade Média, as unidades

adotadas eram as dos romanos, o último e maior império da Antiguidade, que

levaram-nas por toda a Europa, oeste da Ásia e África. Sem dúvida, os mais usados

eram ainda aqueles das dimensões humanas. Obviamente eram necessárias

medidas mais precisas para certas atividades, como no caso das construções

bizantinas e árabes. Esses povos certamente possuíam seus padrões de pesos e

medidas, embora fossem diferentes para cada região.

Ao que tudo indica, nenhum padrão foi criado em termos nacionais, até que,

na Inglaterra, Ricardo I (reinou de 1189 a 1199, já no século XII) determinou

unidades para comprimento e para capacidade. Estas eram de ferro e mantidas em

várias regiões do país por autoridades regionais com o objetivo de comprovar a

veracidade de uma medida.

Datam desta época a jarda e o galão, até hoje usados pelos países de língua

inglesa. Várias versões existem para explicar o aparecimento da jarda: no norte da

Europa, supõe-se que era o tamanho da cinta usada pelos anglo-saxões e no sul

seria o dobro do comprimento do cúbito dos babilônios. Henrique I (reinou de 1100 a

1135), fixou o seu próprio comprimento como sendo a distância entre o seu nariz e a

ponta de seu braço esticado. Informações como esta provavelmente não carecem de

verdade, pois a maioria dos padrões da Idade Média era realmente criada pelos

soberanos, primeiros interessados nas medidas dos valores de seus reinos.

A jarda

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Os pesos padrões eram aqueles dos povos antigos, conforme a região, em

geral mantendo o grão como unidade fundamental. Em algumas regiões européias,

continuava o uso do sistema "avoirdupois" nas transações comerciais. Para o

comércio de jóias e pedras preciosas, que exigia processos de medidas mais

delicados, era usado o sistema "troy", cujas unidades eram:

-grão (gr.);

-pennyweight (dw.t);

-onça (oz.t);

-libra (Ib.t).

Para pedras preciosas, a unidade era o quilate, que equivale

aproximadamente a 4 grãos. De todos os padrões de pesos e medidas criados,

nenhum conseguiu uma utilização internacional e homogênea, existindo ainda

aqueles remanescentes da Antiguidade. A situação se tornava mais delicada e

confusa, devido a reprodução inexata, erros de interpretação e desonestidade de

alguns.

O mesmo não aconteceu com as medidas de tempo que já haviam sido

padronizadas por Júlio César, sendo seu calendário adotado pelo menos em toda a

Europa. Ainda devemos lembrar que nas invenções do fim da Idade Média e

Renascença eram adotados padrões cautelosos, pois se tratava de uma nova

atividade e podia ser muito bem controlada. Como exemplo, a tipografia e a

imprensa, cujos tipos móveis de padrões internacionais foram criados em fins do

século XV e são até hoje mantidos.

As Unidades de Medida – Atualidade

O Bureau Internacional de Pesos e Medidas, o BIPM, foi criado pelo artigo 1º

da Convenção do Metro, no dia 20 de maio de 1875, com a responsabilidade de

estabelecer os fundamentos de um sistema de medições, único e coerente, com

abrangência mundial. O sistema métrico decimal, que teve origem na época da

Revolução Francesa, tinha por base o metro e o quilograma. Pelos termos da

Convenção do Metro, assinada em 1875, os novos protótipos internacionais do

metro e do quilograma foram fabricados e formalmente adotados pela primeira

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Conferência Geral de Pesos e Medidas (CGPM), em 1889. Este sistema evoluiu ao

longo do tempo e inclui, atualmente, sete unidades de base.

O desenvolvimento científico e tecnológico passou a exigir medições cada vez

mais precisas e diversificadas. Por isso, em 1960, o sistema métrico decimal foi

substituído pelo Sistema Internacional de Unidades - SI, mais complexo e

sofisticado, adotado também pelo Brasil em 1962 e ratificado pela Resolução nº 12

de 1988 do Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial -

Conmetro, tornando-se de uso obrigatório em todo o Território Nacional. As unidades

de medida do SI, estão contidas em forma de tabelas no Anexo A deste relatório.

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APÊNDICE C - Questionário aplicado antes da ativida de

Dada a importância deste questionário para nossa pesquisa solicitamos que

responda com a maior sinceridade. Adiantamos que as informações serão tratadas

de maneira confidencial.

1 – Você tem dificuldade em entender qual é a unidade de medida fundamental e

quais são seus múltiplos e submúltiplos?

( ) Sim( ) Não

2 – Caso a resposta a pergunta 1 tenha sido Sim, assinale o(s) motivo(s) que o(a)

levou (aram) a ter dificuldade na compreensão:

( ) Não gosta de matemática.

( ) Não utiliza as unidades de medida.

( ) Não aprendeu as unidades de medida.

( ) Não gosta de medir.

( ) Não tem interesse em realizar tarefas de matemática.

( ) Outro. Qual(is)? ______________________________________________

3 – Caso a resposta a pergunta 1 tenha sido Não, assinale o(s) motivo(s) que o(a)

levou (aram) a não ter dificuldade na compreensão:

( ) As aulas que tive foram suficientes e aprendi muito sobre o assunto.

( ) Utiliza as unidades de medida no dia-a-dia.

( ) Acha importante conhecer as unidades de medida.

( ) Gosta de matemática.

( ) Gosta de realizar tarefas da escola.

( ) Outro. Qual(is)? ______________________________________________

4 – Você já mediu alguma vez com régua, trena, metro ou outro instrumento ?

( ) Sim( ) Não

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5 – Caso sua resposta à pergunta 4 tenha sido Não, gostaria de fazer uma atividade

que envolvesse medições?

( ) Sim( ) Não

6 – Caso sua resposta à pergunta 4 tenha sido Sim, escreva com qual instrumento

realizou a medição e para que finalidade a fez.

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

7 – Responda quais são as principais unidades de medida utilizadas em seu dia-a-

dia.

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

8 –.Você gosta de trabalhar com outras pessoas e acredita que pode aprender algo

trabalhando desta forma? Por que?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

9 – Você acha importante para o seu dia-a-dia saber utilizar as unidades de medida?

Por que?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

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_______________________________________________________________

10 – O que você acha de ao invés de realizar atividades somente em sala de aula

realizar uma tarefa prática de medições e nesta tarefa realizando apenas medições

que lhe interessam?

( ) gostaria( ) não gostaria ( ) não gosto de realizar atividades

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APÊNDICE D - Planilha para registro dos resultados

NOMES:

DATA:

O QUE FOI MEDIDO: MEDIDA VERIFICADA EM METROS

MEDIDA VERIFICADA EM CENTÍMETROS QUEM MEDIU?

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APÊNDICE E - Questionário aplicado após a atividade

Dada a importância deste questionário para nossa pesquisa solicitamos que

responda com a maior sinceridade. Adiantamos que as informações serão tratadas

de maneira confidencial.

1 – Você teve dificuldade em entender identificar as unidades de medida e seus

múltiplos e submúltiplos?

( ) Sim( ) Não

2 – Caso a resposta a pergunta 1 tenha sido Sim, assinale o(s) motivo(s) que o(a)

levou (aram) a ter dificuldade na compreensão:

( ) Não gosta de matemática.

( ) Não utiliza as unidades de medida.

( ) Não aprendeu as unidades de medida.

( ) Não gosta de medir.

( ) Não tem interesse em realizar tarefas de matemática.

( ) Outro. Qual(is)? ______________________________________________

3 – Caso a resposta a pergunta 1 tenha sido Não, assinale o(s) motivo(s) que o(a)

levou (aram) a não ter dificuldade na compreensão:

( ) As aulas que tive foram suficientes e aprendi muito sobre o assunto.

( ) Utiliza as unidades de medida no dia-a-dia.

( ) Acha importante conhecer as unidades de medida.

( ) Gosta de matemática.

( ) Gosta de realizar tarefas da escola.

( ) Outro. Qual(is)? ______________________________________________

4 – Após as medições realizadas, você acredita que já sabe algo mais sobre

unidades de medida?

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( ) Sim( ) Não

5 – Caso sua resposta à pergunta 4 tenha sido Não, você acredita que este tipo de

atividade não contribui para o aprendizado das unidades de medida?

( ) Sim( ) Não

6 – Caso sua resposta à pergunta 4 tenha sido Sim, escreva com suas palavras o

que você achou da atividade.

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

7 – Responda qual(is) foi(ram) a(s) dificuldade(s) encontrada(s) para realizar a(s)

atividade(s) proposta.

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

8 –.Você gostou de trabalhar com outras pessoas e acredita que através deste e de

outros trabalhos em cooperação poderá aprender algo mais? Por que?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

9 – Você acha importante para o seu dia-a-dia saber realizar atividades práticas que

tragam significado para aquilo que lhe é proposto? Por que?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

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10 – O que você achou de realizar esta atividade prática de medições realizando

apenas as medições que lhe interessavam?

( ) gostou( ) não gostou ( ) não gosta de realizar atividades

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APÊNDICE F - Pergunta 6 – aplicação após - algumas respostas

Aluno 1

Aluno 2

Aluno 3

Aluno 4

Aluno 5

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Aluno 6

Aluno 7

Aluno 8

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APÊNDICE G - Pergunta 8 – aplicação após – algumas respostas

Aluno 1

Aluno 2

Aluno 3

Aluno 4

Aluno 5

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Aluno 6

Aluno 7

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APÊNDICE H - Outros relatos de alunos

Pergunta 2 do questionário aplicado após a atividade