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A PESCA NO RIO TEJO OS AVIEIROS: Que padrões de cultura? Que factores de mudança sócio-cultural? Que futuro? CARLOS LOPES BENTO, professor da Universidade Internacional É abundante a informação escrita sobre a importância geoestratégica do Tejo, que durante séculos constituiu a base de uma sólida linha de defesa (1) contra diferentes invasores (lembremos, entre outros, os romanos, árabes, castelhanos e franceses), mas escassa sobre o papel que a bacia hidrográfica deste rio poderá desempenhar, do ponto de vista económico, no desenvolvimento do País e no progresso social e cultural das populações nela fixadas. A sua grande riqueza hídrica tem sido apontada como susceptível de aproveitamento em domínios como: a navegação, a produção de energia, o uso doméstico, a agro-pecuária, a indústria, o turismo e as pescas, potencialidades que, até ao momento, talvez por falta de vontade política, capacidade criativa e de projectos integrados e regionais de desenvolvimento, estão mal utilizadas ou, na maioria dos casos, totalmente desaproveitadas. Face à limitação da extensão da presente comunicação, não me é possível abordar tão grande multiplicidade de domínios, debruçando-me, apenas, sobre aspectos liga¬dos à produção científica relacionada com os pescadores avieiros do Tejo, quer a disponível, quer a futura. Mas quais as razões que me levaram a estar presente neste Congresso e à escolha da temática «pesca e pescadores avieiros doTejo»? Destaco algumas:

A PESCA NO RIO TEJO

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 A PESCA NO RIO TEJO

OS AVIEIROS: Que padrões de cultura?Que factores de mudança sócio-cultural? Que futuro?

 CARLOS LOPES BENTO, professor da Universidade

Internacional É abundante a informação escrita sobre a importância

geoestratégica do Tejo, que durante séculos constituiu a base de uma sólida linha de defesa (1) contra diferentes invasores (lembremos, entre outros, os romanos, árabes, castelhanos e franceses), mas escassa sobre o papel que a bacia hidrográfica deste rio poderá desempenhar, do ponto de vista económico, no desenvolvimento do País e no progresso social e cultural das populações nela fixadas.

A sua grande riqueza hídrica tem sido apontada como susceptível de aproveitamento em domínios como: a navegação, a produção de energia, o uso doméstico, a agro-pecuária, a indústria, o turismo e as pescas, potencialidades que, até ao momento, talvez por falta de vontade política, capacidade criativa e de projectos integrados e regionais de desenvolvimento, estão mal utilizadas ou, na maioria dos casos, totalmente desaproveitadas.

Face à limitação da extensão da presente comunicação, não me é possível abordar tão grande multiplicidade de domínios, debruçando-me, apenas, sobre aspectos liga¬dos à produção científica relacionada com os pescadores avieiros do Tejo, quer a disponível, quer a futura.

Mas quais as razões que me levaram a estar presente neste Congresso e à escolha da temática «pesca e pescadores avieiros doTejo»?

Destaco algumas: —Ser natural e sido enculturado no alto Ribatejo

(Mouriscas), na margem direita do médio Tejo (2) onde, desde a meninice, até cerca dos 25 anos, tive o privilégio de, no inverno, contemplar, quase anualmente, a grandeza e a impetuosidade das então indomáveis e volumosas cheias, por vezes devastadoras, que espalhavam o pânico entre as populações ribeirinhas e destruíam os seus haveres e, no verão, de utilizar para banhos e para a pesca as suas límpidas, serenas e curativas águas.

—Ter, por outro lado, atravessado e cruzado, centenas de vezes de barco e a pé (a vau) o rio, quer por motivos da minha então profissão de moleiro e moleiro-estudante, tendo até, no

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período final da 2ª Guerra Mundial, participado no comércio clandestino de cereais, aproveitando os locais mais recônditos do Tejo para fugir à fiscalização, actividade que se fazia, geralmente, a altas horas da noite, em condições perigosas.

—A curiosidade de conhecer, mais de perto, estes pescadores, surgida quando, de 1979 a 1983, como investigador, participei no Projecto de I&D intitulado «A reconversão da pesca artesanal — Problemas Humanos —», comparticipado pela J.N.I.CT. e da responsabilidade da Sociedade de Estudos de Sociologia e de Antropologia, Ldª (ANTROPOS) e, nesse âmbito, ter realizado, nos núcleos piscatórios de Alhandra e Vila Franca de Xira, estudos preliminares de carácter exploratório (3).

—Numa altura em que os recursos aquáticos vivos nacionais caminham para um rápido esgotamento (4), sem que a maioria dos portugueses tenha disso consciência e das consequências que, necessariamente, daí advirão para as gerações vindouras, pretender lançar algumas bases que permitam, em futuros estudos científicos, conhecer, de maneira global, sistemática e interdisciplinar:

 ● Os padrões de interacção entre o ecossistema aquático

e o sistema sócio-cultural e suas múltiplas implicações no modo de vida dos mesmos pescadores e no meio ambiente.

● Os factores de mudança sócio-cultural responsáveis por eventuais alterações das e nas funções e estruturas das suas principais instituições.

 Para que o Tejo volte a constituir um ecossistema vivo e

funcional e os seus recursos aquáticos sirvam, em primeiro lugar, a pessoa humana e a comunidade, é necessário tomar decisões (5) que, para além da necessidade de estarem de acordo com a realidade concreta actual, exijam, igualmente, que se faça o ponto da situação, quanto à administração das pescas e dos recursos, de modo a conhecer e a avaliar as lacunas e os erros do passado que, de algum modo, nos ajudem a compreender os comportamentos e dificuldades do presente e a lançar as bases correctas do futuro, de modo a permitir uma exploração responsável, adequada e eficiente das águas e das riquezas do rio Tejo, seus afluentes, esteiros e estuário, ... .

É deveras importante o conhecimento das situações reais do passado, para uma mais completa compreensão dos muitos problemas que afectam a realidade actual do sector das pescas, no caso concreto, a que diz respeito aos avieiros do Tejo. Contudo, a produção científica em relação aos avieiros nem sempre tem primado pela qualidade nem pela quantidade.

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De qualquer maneira, as diferentes formas de conhecimento disponível realçam a riqueza piscosa do rio Tejo até um passado não muito longínquo e a sua importância na economia alimentar das populações fixadas nas suas margens e dos seus tributários, com relevo para grandes aglomerações como Lisboa.

Nos finais do século passado, para além das espécies próprias do seu estuário, ainda havia certa abundância de barbo, corvina, robalo, linguado, fataça ou muge ou tainha, boga, sável, lampreia, saboga e enguia, evidência que é confirmada por estudos realizados por essa altura, isto é, no último quartel do século XIX.

Surge, então, o relatório mandado elaborar pela Sociedade de Geografia de Lisboa, em 1888, indicando-nos que, nos rios Douro, Mondego e Tejo, na época própria, pescavam-se a lampreia e o sável, com grande valor económico, mas que, então, já escasseavam as espécies sedentárias de água doce (barbo, robalo, enguia...) que, pela pequena quantidade capturada, pouco valor tinham nas pescas (6).

            Baldaque da Silva na sua memorável obra — Estado actual das pescas em Portugal — e no relatório que elaborou para a 2ª Circunscrição do Reino, com base nos dados do Inquérito Industrial de 1890, oferece-nos importantes referências sobre a pesca no Tejo e os pescadores que, então, exerciam a faina, que, pela forma como foram recolhidas, classificadas e interpretadas, devem ser consideradas de confiança e válidas, relativamente, à época em que foi realizada a observação.

O Inquérito de 1890 referencia os seguintes portos fluviais no Tejo, Vila Franca de Xira, Alcochete, Aldeia Galega, Muge, Santarém, Constância e Abrantes (pgs. 283 e 284).

Nos referidos portos, segundo o mesmo Inquérito, «em determinadas épocas do ano é muito importante a pesca que se faz no rio Tejo, não só em todo o estuário do rio, desde a embocadura até Valada, mas também para cima, até muito a montante de Abrantes» (pg. 287).

Nas temporadas do sável, lampreia e corvina, procuravam os pescadores para surgidouro os portos fluviais em condições mais favoráveis para a laboração da sua indústria e escolhiam, geralmente, os que acima indiquei, nos quais, em maior ou menor escala, sempre se exercia a pesca fluvial, embarcada ou a pé, durante todo o ano (pg. 287 e seguintes).

Nesta data, eram os pescadores ílhavos que emigravam para os rios Tejo e Sado em determinadas épocas, fazendo moradia a bordo, resguardando-se do vento e da chuva por meio de um pequeno encerado quadrangular, que atravessavam «da borda avante...» (pg. 294).

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É importante notar que o Inquérito não se referia, ainda, aos pescadores de Vieira ou da Murtosa como frequentando, temporariamente, o Tejo para a safra do sável, lampreia e corvina, e, ao mencionar, o porto de pesca da Vieira esclarece-nos que aí os pescadores se dedicavam à pesca marítima costeira da sardinha, empregando artes de arrastar para terra, começando os lances de madrugada, repetindo-se até à noite, segundo a maior ou menor frequência dos cardumes que transitavam pela costa, acrescentando que os pescadores da Vieira, nas ocasiões de mau tempo, costumavam ir deitar alguns lances no rio Liz, mas a pesca fluvial, pela pouca importância que merecia, era exercida, principalmente, pelos habitantes das margens, em geral, amadores (pg. 290).

De acordo com este testemunho, os avieiros do Tejo, apenas, terão vindo pescar para este rio, por volta de 1900, possivelmente quando diminuiu a frequência dos cardumes de sardinha que passavam junto a Vieira, facto também confirmado por muitos dos nossos informadores de Alhandra e Vila Franca de Xira, contrariando os que defendem terem chegado os avieiros ao Tejo há mais de 200 anos.

A abundância de pesca no Tejo terá assim, há muito, atraído, de Fevereiro até Junho, muitos pescadores do litoral, que passavam a seguir os movimentos das espécies migratórias (sável, lampreia e corvina), calculando sempre a duração da faina, de modo a que o pescado chegasse de manhã aos cais do mercado e assim pudessem fazer a sua venda a tempo de ser distribuído pelos vendedores ambulantes para consumo desse dia.

Esses pescadores, hoje denominados avieiros, com o decorrer do tempo, começaram, pouco a pouco, a desligar-se das suas terras de origem e a fixar-se, temporariamente, em diferentes locais das margens do Tejo, de acordo com as suas necessidades e os seus interesses, habitando, numa primeira fase, nos barcos ou em barracas de pano, armadas num abrigado recanto de uma margem, formando, pouco a pouco, vários núcleos, que chegaram a estender-se de Olivais a Abrantes: Olivais, Sacavém, Póvoa de Santa Iria, Alhandra, Vila Franca (com vários), Porto Alto, Alcochete, Carregado, Azambuja, Porto Reguengo, Salvaterra, Palafita, Palhota, Escaropim, Vaiada, Muge, Sabugueiro, Caneiras (Benfica do Ribatejo), Ribeira de Santarém, Santarém, Vale de Figueira, Patacão de Baixo, Patacão de Cima, Chamusca, Barquinha e Abrantes (7).

Muitos destes núcleos decresceram de importância ou desapareceram face à diminuição progressiva das mais importantes espécies do rio Tejo, especialmente, as migratórias (sável, corvina e lampreia), devido:

 —Ao emprego de aparelhos de pesca danosos e

prejudiciais à procriação e desenvolvimento das espécies (redes

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de arrastar e de emalhar com malha inadequada, caneiros no meio do rio, tapa-esteiros,...), sobrepesca, pesca clandestina e deficiente preparação e imprevidência dos pescadores.

—Ao uso de matérias venenosas e explosivas (trovisco, cal, dinamite, granadas de mão,...).

—À instalação de fábricas poluidoras nas margens do Tejo e seus afluentes (de celulose, curtumes,...) que tornaram as águas impróprias para a vida animal e vegetal pelas alterações que os seus resíduos provocaram nas diferentes cadeias tróficas (9).

—As práticas agrícolas e silvícolas deficientes que, para além de agravarem o processo de erosão, provocaram, através do acréscimo de sedimentos, o desaparecimento dos nichos ecológicos e consequentes locais próprios para a fixação, esconderijo e desova de muitas espécies.

—À utilização excessiva, na agro-pecuária, de herbicidas, pesticidas e outros produtos venenosos que infestaram as águas e dizimaram as espécies.

—À construção de barragens e outras obras de arte que originaram profundas alterações no regime de correntes, oxigenação e temperaturas das águas, na alimentação e circulação das espécies.

—Ao desenvolvimento explosivo e desordenado e, por vezes, clandestino da urbanização sem o conveniente tratamento dos esgotos, que puseram em perigo a vida dos recursos vivos aquáticos.

—À má gestão e administração dos recursos aquáticos do País, a que não fugiu à regra parte da bacia hidrográfica do Tejo.

 Para além do conjunto de disposições legais tomadas pelos

poderes públicos, desde a fundação da nacionalidade até ao presente (9), e de alguns estudos realizados sobre aspectos da vida de alguns núcleos dos avieiros do Tejo (19), onde se incluem os já atrás referenciados, publicados no fim do século passado, o problema da pesca desta classe sócio-profissional ligado ao ambiente, tecnologia e qualidade de vida, não mereceu, até agora, em toda a sua extensão e profundidade, uma observação, classificação e interpretação sistemáticas. Seja uma análise capaz de compreender os padrões interaccionais entre o ecossistema aquático e o sistema sócio-cultural e as suas implicações na especialização profissional, nas variedades de equipamentos e técnicas, nos processos de pesca, nos sistemas de distribuição e de remuneração e na qualidade de vida dos avieiros ligados à actividade piscatória.

Por estas razões, em virtude da informação disponível obtida, até este momento, quer através da observação de pessoas quer através da observação de documentos, ser manifestamente insuficiente para a realização daquele tipo de análise, há que incentivar uma produção científica que permita, em relação ao passado e ao presente:

 

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—Conhecer, através de um minucioso inventário, os vários núcleos piscatórios avieiros, ainda existentes e os que foram extintos, desde Sacavém pelo menos até Abrantes, e o número de pessoas, por sexos e idades, que ainda se dedicam, a tempo inteiro ou parcial, às artes de pesca e aquelas que, embora resultado de movimentos migratórios de pescadores (que devem ser identificados no tempo e no espaço) e vivendo nos referidos núcleos, abandona¬am a actividade piscatória.

—Elaborar cartas de pesca ao longo do rio Tejo, que nos precisem o contorno das suas margens, os esteiros, a orografia do seu leito, a natureza dos seus fundos, as correntes, os locais mais piscosos e o movimento das espécies e os seus itinerários sobre as épocas da desova, para além de particularidades meteorológicas (ventos, temperaturas, insolação, chuvas,...), isto é, o conjunto dos factores responsáveis pelos padrões de interacção homem/rio, pelas migrações das espécies, devendo ainda ser conhecidas as opiniões dos pescadores sobre o ambiente físico e a etno-hidrografia do rio.

—Avaliar se, nas dezenas de núcleos piscatórios, por vezes próximos, existem variantes sócio-económicas e tecnológicas que nos possam mostrar realidades multifacetadas quanto a portos de abrigo, à natureza e composição das companhas, à propriedade das artes e da habitação e formas desta, aos tipos de embarcações e aparelhos, às espécies capturadas, isto é, se em cada local o pescador teve ou não necessidade de adaptar-se, culturalmente, ao ambiente, por forma a dar uma resposta compatível com os problemas pelo mesmo levantados e a poder satisfazer as suas necessidades de sobrevivência.

—Ter uma ideia precisa dos factores responsáveis pela diminuição da variedade e riqueza das espécies no Tejo e, igualmente, da percentagem de pescadores, alguns já atrás apontados, e aos quais poderíamos acrescentar os pesados custos dos aparelhos que, devido às exigências do meio aquático e à diversidade de espécies, não podem ser únicos, exigindo a posse de um grande número, e ainda os muitos perigos e trabalhos penosos que sofrem.

—Relacionar os tipos de pesca praticados (a pé e embarcada) com as condições de tempo, época do ano, marés, espécies capturadas, situação geográfica e os diversos tipos de aparelhos utilizados (de rede, de linha e de cana) com as características do ambiente aquático, conhecendo a evolução das tecnologias e, porventura, os conflitos gerados entre as velhas e novas e a influência destas na exploração e renovação das espécies e na alteração da estrutura sócio-económica existente e, finalmente, quem manufactura os diferentes aparelhos, em que material, seu custo médio e conservação.

—Conhecer os diferentes tipos e dimensões das embarcações utilizadas pelos avieiros, de que modo estão adaptadas tecnologicamente às águas do Tejo e a força motriz que utilizam, quem as constrói e onde, de que material, como se conservam e seu preço médio.

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—Avaliar os problemas espaciais e temporais que se põem ao pescado, face às condições naturais, as espécies migratórias e sedentárias e tecnologia que dispõe, procurando saber qual a duração da actividade piscatória, as artes que utiliza e as espécies que captura, ao longo do dia e do ano.

—Determinar a exigência de mão-de-obra face às características do meio aquático do Tejo e à tecnologia utilizada e o papel da mulher na actividade piscatória, na companha e na família, como dona de casa e como mãe.

—Relacionar a periodicidade dos recursos aquáticos, as formas de organização social, a posse dos meios de produção e o sistema de retribuição do pessoal empregado na actividade piscatória, descrevendo as modalidades que, porventura, este sistema abranja, as suas variações ao longo do ano e os seus reflexos no modo de vida dos pescadores (habitação, alimentação, vestuário, ensino, pobreza e segurança social.

—Relacionar as diferentes formas de habitação utilizadas e a sua natureza, com o ambiente aquático, migrações das espécies, a tecnologia utilizada e os mercados abastecedores e venda do pescado e as posses do pescador.

—Identificar os padrões alimentares em épocas de abundância e de escassez edurante as estações do ano, relacionando-os com os recursos aquáticos IS7 existentes e os padrões das populações ribeirinhas com o desempenho de papéis diferentes dos do pescador, conhecendo também quem prepara a alimentação, onde e como o faz, a distribui e a que horas, incluindo, igualmente, as bebidas utilizadas durante e fora das refeições e o significado da sua utilização.

—Tipificar os padrões relativos ao vestuário e compará-los com os das populações rurais ribeirinhas, com as disponibilidades económicas, períodos diurnos e sazonais da actividade, destacando o vestuário utilizado durante a faina, por ambos os sexos, e fora dela, quer em dias normais quer em dias especiais (baptizados, casamentos, festas,...), quem e onde se confecciona e a que preços.

—Conhecer as diferentes instituições sociais em que o avieiro se integra, desenvolve e relaciona ao longo do ciclo da vida, quais os principais agentes responsáveis pela enculturação e socialização, a constituição e estrutura da família, as funções desta, da escola e da igreja naqueles processos e as condições ecológicas onde exerce a actividade, realçando-se o analfabetismo generalizado e a sua relação com a compreensão dos processos de mudança, a aceitação de novas tecnologias e as novas maneiras de enfrentar e explorar os recursos aquáticos e, ainda, as manifestações simbólicas relacionadas com o modo de vida dos avieiros e os perigos que correm durante a faina.

—Avaliar as situações de dependência dos pescadores avieiros em relação a comerciantes, agricultores, casas de penhor e outros, e as formas de solidariedade social e inter-ajuda a nível dos poderes públicos e da sociedade civil que, em

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momentos de carência, penúria e doença, serviam de apoio aos ditos pescadores e suas famílias.

—Inventariar as espécies capturadas, o seu tratamento, formas de distribuição e preços e descrever os processos utilizados com certas espécies, destinados a manter na produção o nível dos ditos preços.

 (Continua)

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Arquivo: Edição de 10-08-2005Sociedade

Privados cedem terreno na expectativa do PDM permitir urbanização de luxo na Póvoa de Santa Iria

Negócio imobiliário afasta avieiros do rio

O bairro dos avieiros da Póvoa de Santa Iria será afastado do rio. Entre as casas dos pecadores e o Tejo podem aparecer habitações de luxo. O protocolo que envolve a câmara, a TDVia e um Fundo de Investimento Imobiliário está a gerar apreensão e polémica na comunidade avieira

Os Avieiros da Póvoa de Santa Iria vão ser afastados da margem do rio Tejo onde algumas famílias vivem há mais de 50 anos. No terreno ribeirinho as casas e barracas devem dar lugar a habitações de luxo, comércio e serviços. A Câmara Municipal de Vila Franca de Xira aprovou por unanimidade um protocolo a assinar com a construtora TDVia, do grupo Teixeira Duarte, e um Fundo de Investimento Imobiliário.

Segundo a presidente da câmara, o promotor antecipa a cedência do terreno do actual parque de estacionamento junto do terminal rodoviário para a autarquia construir 38 fogos em vivendas de dois pisos. O terreno será área de cedência da futura urbanização

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ribeirinha. O promotor fica dependente da revisão do Plano Director Municipal (PDM) em curso para concretizar o loteamento. Se a situação não for desbloqueada no prazo de três anos, a câmara terá de pagar 1,3 milhões de euros (260 mil contos) pelo terreno cedido.

O actual PDM apenas permite para a zona ribeirinha da Póvoa de Santa Iria, a construção de espaços industriais, serviços e armazéns. Segundo a presidente da câmara, as condicionantes impostas pelos vários instrumentos de gestão do território impediram o avanço do bairro dos pescadores no local onde foi inicialmente projectado e com ligação directa ao rio. Dada a urgência da situação, porque os avieiros vivem com más condições de habitabilidade e debaixo de um risco considerável, a câmara procurou alternativa. Maria da Luz Rosinha entende que o espaço ribeirinho será valorizado se o novo PDM permitir a construção de habitação de qualidade e espaços para comércio e serviços. “No âmbito da requalificação das frentes de água queremos avançar para outro tipo de construções que valorizem as zonas ribeirinhas”, disse a autarca

Este processo vai ser debatido esta tarde (quarta-feira) na assembleia municipal que se realiza na Póvoa de Santa Iria. A sessão deve ser polémica, apesar da presidente garantir que o processo tem o acordo de mais de uma centena de avieiros que participaram numa sessão de esclarecimento.

Mais de uma dezena de moradores do bairro dos Pecadores foram à última reunião de câmara acompanhados dos presidentes da junta e da assembleia de freguesia, para dizerem que estão de acordo com a mudança. Mas, a maioria dos moradores ficou no bairro e alguns confessaram a O MIRANTE não aceitam a mudança. “Não sai daqui de qualquer maneira”, refere Rosa Lobo.

“Quem não quiser

não terá casa no bairro”

Maria da Luz Rosinha diz que quem não aceitar as regras terá de procurar alojamento noutro local “Não há alternativa. Quem não quiser não terá casa no bairro”, refere.

Rosa Lobo habita uma das primeiras casas de alvenaria do bairro. Tem habitação própria e não está disposta a pagar uma renda pela nova casa. A mulher preferia “amanhar” a sua casa e continuar onde está. Lamenta estar impedida de fazer obras na sua habitação há mais de 15 anos. Os sinais de degradação acentuam-se. “Se houver um Inverno mau, isto inunda tudo e vai tudo à vida”, explica. O marido António Lobo refere que o risco de cheia está agravado pelos aterros que fizeram no antigo campo da bola e nos terrenos em redor do bairro. “Estamos aqui enterrados”, frisa.

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“Estamos deitados aos bichos”, acrescenta Emília Pedrosa que aponta para os esgotos que correm a céu aberto para o rio. A uns escassos metros do local onde um grupo de crianças se delicia a chapinhar na água poluída e com mau cheiro. “Já estão habituados”, diz a mulher que também cresceu à beira do rio.

Daniel Letra, porta-voz da comunidade, explica a O MIRANTE que a câmara fez várias dragagens naquele local onde os esgotos correm para o rio. ”Mas o trabalho não foi bem feito”, diz. As cargas de vários batelões foram colocadas mais à frente. Não afastou o mau cheiro e ajudou a assorear ainda mais o rio. “Há sítios onde os barcos não passam”, explica a mulher de um pescador.

Os avieiros não estão apenas preocupados com o realojamento e manifestam-se apreensivos quanto ao ordenamento do espaço ribeirinho. Os pescadores ganham a vida no mar e no rio. Exigem condições para ancorar os barcos e para guardar os artefactos que utilizam na faina. “Não nos preocupamos só com a casa para viver, teremos que nos preocupar com o nosso pão”, explicam.

A presidente da câmara, Maria da Luz Rosinha garantiu a O MIRANTE que as preocupações dos pescadores estão acauteladas. A edil assegura que haverá um cais onde os barcos serão colocados em segurança e serão construídas casas de madeira para os pescadores guardarem os seus artefactos.

O Mirante

Nelson Silva Lopes

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