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1 ANNA PAULA IBANHEZ PIMENTA A PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO E ANSIEDADE EM PESSOAS COM DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA (DPOC) SUBMETIDAS A TRATAMENTO FISIOTERÁPICO Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí Orientadora: Profª Msc. Giovana Delvan Stühler Itajaí (SC), 2009

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ANNA PAULA IBANHEZ PIMENTA

A PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO E ANSIEDADE EM PESSOAS

COM DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA (DPOC)

SUBMETIDAS A TRATAMENTO FISIOTERÁPICO

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí Orientadora: Profª Msc. Giovana Delvan Stühler

Itajaí (SC), 2009

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DEDICATÓRIA

À minha “mamãe”, Izabel!

Exemplo de força, honestidade, dedicação.

É minha mãe, meu pai, minha amiga, meu modelo,

me dedicou amor incondicional.

Graças ao seu incentivo e esforço cheguei até aqui

e é por ela que pretendo ir além!

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AGRADECIMENTOS

À minha mãe, pelo amor incondicional a mim dedicado. Por nunca ter me

deixado desistir, mesmo nos momentos em que tudo parecia perdido. Por todas as

dificuldades enfrentadas por ela para que eu possa concluir minha graduação. Grande

parte do que sou hoje devo a ela, e é por ela que pretendo ir além! Este é só o

primeiro de muitos “agradecimentos” que estão por vir!

À minha família, especialmente à minha avó Cida, por todo o apoio, amor,

paciência e carinho a mim dedicados durante toda a vida e, principalmente, os últimos

5 anos. E às minhas tias Ivete e Maria, pelo afeto e reconhecimento e por todo apoio

que dispensaram a mim e à minha mãe sempre que necessário.

Ao meu pai, que de uma forma não tradicional também me proporcionou

aprendizados e o cursar a graduação.

Aos meus amigos, pelo carinho, compreensão, apoio e pelos momentos de

diversão! Em especial aos futuros profissionais de Fisioterapia e Enfermagem, que

tanto me auxiliaram indicando referências e esclarecendo dúvidas.

À professora Edilaine e às funcionárias da Clínica de Fisioterapia, que, sempre

muito atenciosas, deram todo o auxílio necessário para a elaboração desta pesquisa.

À minha orientadora e professora Giovana, por me proporcionar a realização

desta pesquisa e dividir comigo seu conhecimento. Pelo cuidado e respeito dedicados

em cada correção, em cada idéia e opinião dadas por ela. Por me acolher nos

momentos de insegurança, sendo minha maior fonte de estímulo. E, claro, por todo

aprendizado que me proporcionou. Sem a menor dúvida, cresci muito enquanto ser

humano e futura profissional!

Aos professores Jamir e Eduardo legal, que aceitaram o convite para compor a

minha banca, cedendo seu concorrido tempo e compartilhando seu conhecimento.

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SUMARIO

RESUMO................................................................................................................. 6

LISTA DE QUADROS...............................................................................................7

LISTA DE ILUSTRAÇÕES........................................................................................8

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................9

2 EMBASAMENTO TEÓRICO ............................................................................. 11

2.1. Doenças crônicas........................................................................................... 11

2.2. Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica............................................................ 12

2.3. Tipos de tratamento para DPOC.................................................................... 14

2.4. Teoria Cognitivo-Comportamental.................................................................. 16

2.5. Depressão....................................................................................................... 19

2.6. Ansiedade....................................................................................................... 23

3 ASPECTOS METODOLÓGICOS ...................................................................... 27

3.1. Participantes................................................................................................... 27

3.2. Instrumentos................................................................................................... 28

3.3. Coleta de dados ............................................................................................. 29

3.4. Análise de dados ........................................................................................... 30

4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS .......................................................... 32

4.1. Análise dos resultados obtidos através do BAI e do BDI................................ 32

4.2. Análise dos resultados obtidos a partir dos questionários de levantamento de

dados..................................................................................................................... 34

5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.................................................................... 52

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 56

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 58

8 APÊNDICES ...................................................................................................... 61

8.1 Apêndice A – Questionário de Levantamento de Dados................................. 62

8.2 Apêndice B – Termo de Autorização............................................................... 63

8.3 Apêndice C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.......................... 64

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A PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO E ANSIEDADE EM PESSOAS COM DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA (DPOC) SUBMETIDAS A TRATAMENTO FISIOTERÁPICO

Orientadora: Msc. Giovana Delvan Stühler Defesa: Março de 2009.

Resumo: A DPOC é uma doença crônica causada, principalmente, pelo uso do tabaco e tem como principais sintomas:

tosse, produção de expectoração e dispnéia ao esforço. Além das implicações físicas, pessoas com DPOC

possuem maior propensão a desenvolver depressão e ansiedade quando comparadas à população em geral. A

presença de depressão e ansiedade, bem como a percepção que o paciente possui acerca da doença e do

tratamento podem afetar a adesão ao tratamento e o prognóstico do quadro clínico. A presente pesquisa teve

como objetivo identificar a prevalência de depressão e ansiedade em pessoas com DPOC, bem como o

conhecimento e a percepção destas frente à doença e ao tratamento fisioterápico. Participaram do estudo 9

pacientes cadastrados na Clínica de Fisioterapia da UNIVALI e foram utilizados como instrumentos: os

Inventários de Beck para Depressão e Ansiedade (BDI e BAI) e um questionário de levantamento de dados.

Os resultados dos inventários indicaram, em sua maioria, níveis mínimo e leve para ansiedade e depressão. As

respostas obtidas através do questionário de levantamento de dados apontaram a visão negativa em relação a

si mesmos, ao ambiente e ao futuro, porém, nenhuma sintomatologia que indicasse níveis importantes de

ansiedade ou depressão.

Palavras chave: Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica; depressão; ansiedade.

SUB-ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: Estados subjetivos e emoção – 7.07.02.04-7 (CNPQ)

MEMBROS DA BANCA

Dr. Eduardo José Legal Professor convidado

Dr. Jamir João Sardá Jr. Professor convidado

Msc. Giovana Delvan Stühler Professora Orientadora

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01 - Principais erros cognitivos apresentados por pessoas deprimidas,

segundo Beck et al (1997) (p.12). ......................................................................... 21

Quadro 02: Identificação dos participantes da pesquisa sobre a prevalência de

depressão e ansiedade em pessoas com DPOC submetidas a tratamento

fisioterápico............................................................................................................ 27

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 01: Níveis de ansiedade e depressão obtidos a partir dos escores do BAI e do BDI. .................................................................................................................. 33

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1 INTRODUÇÃO

Um dos fenômenos mais evidentes em todo o mundo, atualmente, é o

envelhecimento da população. No Brasil, este fenômeno ocorre rapidamente.

Durante o século XX, a expectativa de vida passou de 33 anos para 68 anos.

Dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) realizada

em 2004 revelam que o número de idosos no país é superior a 17 milhões,

equivalente a 10% da população total; e, as expectativas para 2020 são de que

esse número chegue a 32 milhões, deixando o Brasil em sexto lugar dentre os

países com maior número de idosos (DUARTE & REGO, 2007).

Segundo dados do IBGE (2005), a cada ano acrescentam-se 200 mil idosos

com idade superior a 60 anos na população brasileira. A expectativa de vida, que

na década de 1980 era de 68 anos, em 2003 chegou a 71,3 anos (Ministério da

Saúde, 2005). Tais fatos geram uma importante demanda para o sistema de

saúde, pois o envelhecimento da população implica num aumento na morbidade

devido a doenças crônicas não transmissíveis, que por sua vez possuem grandes

repercussões sociais, econômicas, pessoais e na saúde (DUARTE & REGO,

2007).

Dentre as doenças crônicas que causam inúmeras repercussões sociais,

pessoais, econômicas e na saúde existe a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica

(DPOC), que é uma das maiores causas de morbi-mortalidade mundial. A DPOC é

a 12ª doença mais comum no mundo, e as projeções da OMS são para que ela se

torne a 5ª doença de maior incidência até 2020 (KERKOSKI et al., 2007). Além

disso, no Brasil, em 2004, foram internados no Sistema Único de Saúde

aproximadamente 191 mil pacientes com DPOC e foram registrados 30 mil óbitos,

deixando a DPOC como a 5ª causa de morte no país (NASCIMENTO, 2006).

De acordo com a Associação Brasileira de Portadores de DPOC, a doença

caracteriza-se por ser, geralmente, progressiva e possuir sintomas respiratórios

crônicos (tosse, produção de expectoração e dispnéia ao esforço). Engloba o

enfisema pulmonar e a bronquite crônica e surge após os 40 anos de idade, em

média.

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Além das implicações físicas, as doenças crônicas (especialmente as

pneumopatias), trazem como consequência também uma maior predisposição dos

pacientes para transtornos depressivos e ansiedade quando comparados à

população geral (CARVALHO et al., 2007).

Pessoas com depressão apresentam distorções cognitivas em relação a si

mesmos, ao ambiente e a seu futuro. Sendo assim o indivíduo acredita ser

incapaz, percebe seu ambiente como hostil, com obstáculos intransponíveis e

considera não ter recursos suficientes para modificar seu futuro. Tais

características podem dificultar a adesão ao tratamento (LIMA et al., 2004).

Quadros ansiosos, assim como a depressão, também possuem

características que podem dificultar a adesão ao tratamento. Dentre estas

características, destacam-se as distorções cognitivas relacionadas à

superestimação da probabilidade de ocorrer um evento negativo e o pensamento

catastrófico (atribuir consequências extremas a eventos menores, que passam a

ser vistos como intoleráveis). Além disso, há a preocupação constante em relação

ao futuro e a persistência da interpretação negativa de estímulos (KAPCZINSKI &

MARGIS, 2004).

Segundo Straub (2005), pode-se definir adesão ao tratamento (ou

aderência) como o ato de seguir as orientações acerca de medicações, de

mudanças no estilo de vida (como parar de fumar e perder peso), ou como seguir

as recomendações relacionadas à prevenção, como seguir uma alimentação

saudável e manter um programa de exercícios. Aderir a um tratamento

requer grande comprometimento psicológico (STRAUB, 2005).

Neste sentido, estudos sobre a prevalência de depressão e ansiedade em

pessoas com DPOC são importantes, pois a presença destes transtornos pode

inviabilizar um tratamento bem sucedido. Diante do exposto, o presente estudo

teve como objetivo identificar a prevalência de depressão e ansiedade em

pessoas com DPOC que se encontram em tratamento fisioterápico, a percepção

destas acerca da doença e do tratamento e crenças sobre a doença.

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2 EMBASAMENTO TEÓRICO

2.1. Doenças crônicas

Segundo a OMS (2003), as condições crônicas são responsáveis por 60%

de todo o encargo decorrente de saúde no mundo. A previsão para o ano de 2020

é de que este número chegue a 80% nos países em desenvolvimento, nestes

países somente 20% dos doentes crônicos aderem ao tratamento. O que acontece

em todo o mundo, até hoje, é que os sistemas de saúde não possuem um plano

de gerenciamento apropriado a estas condições crônicas, tratando apenas os

sintomas quando aparecem.

As doenças (ou condições) crônicas são problemas de saúde que

demandam cuidados por um período de vários anos, além disso, fazem parte

desta mesma categoria doenças que, aparentemente, não possuem nenhuma

ligação entre si. Incluem- se nesta categoria as doenças transmissíveis (como

HIV/AIDS), as não-transmissíveis (como a DPOC e o câncer) e as incapacidades

estruturais (como amputações e cegueira) (OMS, 2003).

O ponto comum entre estas doenças está em seu caráter permanente (sem

chances de cura), que produz alterações patológicas irreversíveis no indivíduo,

fazendo com que este necessite de reabilitação ou de longos períodos de

observação e cuidados (SANTOS e SEBASTIANI, 1996).

Com o aparecimento de uma doença crônica, podem surgir no paciente

diversos sentimentos confusos e dolorosos, como a insegurança e a ansiedade,

pois, com a enfermidade o indivíduo perde o autocontrole, a liberdade e vê suas

expectativas de um futuro sendo ameaçadas por uma condição permanente

(SANTOS e SEBASTIANI, 1996).

O paciente crônico defronta-se então com uma nova situação que lhe

exigirá grandes esforços para adaptar-se à vida com a doença. Para tanto, é

necessário que este paciente busque conhecer e aceitar a enfermidade, bem

como se reestruturar como pessoa a fim de viver com qualidade, apesar das

limitações decorrentes da doença (SANTOS e SEBASTIANI, 1996).

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Das categorias de doenças crônicas supracitadas, vale ressaltar as não-

transmissíveis. As doenças crônicas não-transmissíveis são a causa de duas em

cada três mortes na população dos países da América Latina e Caribe, sendo a

maioria destas mortes prematura, ocorrendo antes dos 70 anos de idade. Fazem

parte das doenças crônicas não-transmissíveis: doenças cardiovasculares, câncer,

diabetes e DPOC. Estas doenças, além de causar inúmeras mortes prematuras,

trazem consigo a necessidade de tratamentos onerosos e ainda causam sequelas

e invalidez, que limitam a produtividade do indivíduo. Os fatores de risco para

estas doenças incluem uma má alimentação, sedentarismo, tabagismo,

hipertensão arterial, sobrepeso e obesidade, além disso, existem os fatores

predisposição genética e idade (OPAS, 2007).

2.2. Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica

A DPOC é uma condição patológica que se caracteriza pela obstrução

crônica do fluxo aéreo e é parcialmente reversível. Esta obstrução do fluxo aéreo

é, geralmente, persistente e progressiva e associada a uma resposta inflamatória

anormal das vias aéreas à inalação de partículas ou gases tóxicos (LEE & CELLI,

2000; NASCIMENTO, 2006).

Quando se nomeia DPOC, somente duas doenças são englobadas:

bronquite crônica e enfisema pulmonar. Durante a realização do diagnóstico

devem-se excluir as hipóteses de asma, fibrose cística, bronquiectasia e

bronquiolite (LEE & CELLI, 2000). Alguns indivíduos podem apresentar uma

destas patologias em comorbidade com DPOC, como em casos de asma em

indivíduos tabagistas (NASCIMENTO, 2006).

A bronquite crônica é definida pela presença de tosse crônica produtiva por

no mínimo 3 meses ao ano, em dois anos consecutivos, depois de descartadas as

outras possíveis causas de expectoração crônica. Já o enfisema pulmonar é

definido como um alargamento anormal dos espaços aéreos distais aos ramos

terminais (alvéolos), acompanhado pela destruição de suas paredes, sem fibrose

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óbvia. Com isso, os alvéolos pulmonares perdem sua função de realizar a

hematose (LEE & CELLI, 2000; NASCIMENTO, 2006).

Os principais sintomas de DPOC são: tosse, produção de expectoração,

dispnéia ao esforço e chiado no peito. Com a evolução da doença, o indivíduo

pode ter alterações nas trocas gasosas nos pulmões que, consequentemente,

causa uma carência de oxigênio em níveis normais no sangue prejudicando o

funcionamento de outros órgãos, como o coração e o cérebro. Além disso, a

dispnéia intensa torna cada vez mais difícil a realização de atividades cotidianas

(tomar banho e vestir-se) e aumenta-se a freqüência das exacerbações dos

sintomas, bem como das internações (NASCIMENTO, 2006; Associação Brasileira

de Portadores de DPOC, 2008).

Dentre as causas da DPOC, vale destacar o tabagismo, que é responsável

por um risco estimado de 80 – 90% no desenvolvimento da doença (LEE & CELLI,

2000). Segundo a Associação Brasileira de Portadores de DPOC, existem

atualmente 50 milhões de adultos tabagistas no Brasil. A DPOC acomete cerca de

15% a 20% dos tabagistas, portanto, existem cerca de 7,5 a 10 milhões de

tabagistas com DPOC no país. A DPOC atinge as pessoas aos 40 anos de idade

em média, no auge de suas vidas ativas, deixando-as incapazes para o trabalho

(Associação Brasileira de Portadores de DPOC, 2008).

Além do tabagismo, existem outros fatores que predispõe para a DPOC,

tais como: a poluição ocupacional e urbana; poluição intra e extra domiciliar; a

infecção do trato respiratório inferior durante a infância; sexo, raça,

hereditariedade e nível socioeconômico, de forma que a prevalência da doença é

maior em homens, os índices de mortalidade são maiores em não-brancos, e a

morbidade e a mortalidade são inversamente proporcionais ao nível

socioeconômico (LEE & CELLI, 2000; JARDIM et al., 2002).

Jardim et al. (2002) apontam também causas relacionadas ao hospedeiro,

como: a deficiência de alfa-1-antitripsina (a única alteração genética conhecida até

então); o crescimento pulmonar, que está relacionado ao desenvolvimento do feto

durante a gestação, ao peso no nascimento e às exposições que a criança sofre

durante a infância; e a hiper-responsividade das vias aéreas.

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A confirmação do diagnóstico de DPOC se dá através de um exame

denominado espirometria, que avalia a função pulmonar através de um aparelho

que registra manobras de inspiração e expiração realizadas pelo paciente

(Associação Brasileira de Portadores de DPOC, 2008).

Um quadro de DPOC pode manter-se estável, ou seja, os sintomas

permanecem estáveis e com igual intensidade por um longo período, ou sofrer

exacerbações, períodos nos quais os sintomas se agravam abruptamente. Para

enfrentar as várias etapas da DPOC, serão expostos a seguir os tipos de

tratamento existentes.

2.3. Tipos de tratamento para DPOC

Teoricamente, o diagnóstico da DPOC deveria ser feito precocemente,

como isso dificilmente ocorre, o tratamento é dividido de acordo com a gravidade

da doença e em fase estável e fase de exacerbação (NASCIMENTO, 2006).

A gravidade da DPOC é delimitada pelo grau de limitação física e social,

bem como pela quantidade de exacerbações que ocorrem no período de um ano e

pelo grau de obstrução brônquica verificado pela espirometria. Após a análise

desses dados, a DPOC é dividida em estádios que vão do I ao IV, graduados do

nível leve ao grave (Associação Brasileira de Portadores de DPOC, 2008).

Na fase estável, o tratamento deve ser feito de acordo com o estadiamento

da doença e visa um manejo global do paciente, que se dá através de tratamento

farmacológico e não-farmacológico. O tratamento não-farmacológico inclui a

cessação do tabagismo, a oxigenoterapia, o suporte nutricional, a reabilitação

pulmonar e a vacinação contra influenza1. Já o tratamento farmacológico se dá

através do uso de broncodilatadores, corticóides inalatórios e a associação de

ambos, além do uso de antiinflamatórios e fármacos cuja ação está associada à

1 É um tipo de vírus causador de infecções respiratórias.

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redução da busca pela nicotina, como a bupropiona2 (NASCIMENTO, 2006;

BUENO, CEDON e ROMALDINI, 2005).

Quanto à cessação do tabagismo, Jardim et al. (2002), combina um “plano

para parar de fumar”, com o uso da psicoterapia de abordagem cognitivo-

comportamental e tratamento farmacológico.

Em relação aos demais tratamentos não-farmacológicos, vale ressaltar a

reabilitação pulmonar que, segundo Bueno, Cedon e Romaldini (2005), é um

programa contínuo de serviços prestados por uma equipe multiprofissional aos

pacientes com doenças pulmonares e suas famílias, e tem como objetivos: reduzir

a obstrução das vias aéreas através do tratamento farmacológico, prevenindo e

tratando as complicações, a fim de aliviar e controlar os sintomas da doença;

dessensibilizar o paciente do pânico causado pela dispnéia; proporcionar uma

melhor condição nutricional; introduzir a atividade física na vida do paciente,

ensinando técnicas e estratégias de conservação de energia, ou seja, de um modo

geral, busca-se uma melhora na qualidade de vida dos pacientes.

Para pacientes a partir do estádio III e com mais de duas exacerbações ao

ano, acrescenta-se o corticóide inalatório. E no estádio IV, além da oxigenoterapia,

inclui-se, se necessário, tratamento de cor pulmonale3. A reabilitação pulmonar é

indicada a todos os indivíduos que se encontram a partir do estádio II

(NASCIMENTO, 2006).

Além destes tratamentos tradicionalmente encontrados na literatura

especializada, Neves Neto (2002) aponta o uso da Terapia Cognitivo-

Comportamental como parte de um tratamento combinado, cujas intervenções são

realizadas a partir de diagnósticos obtidos por meio de entrevistas (estruturadas

ou semi-estruturadas) e aplicação de escalas ou inventários válidos. Com a

utilização destes instrumentos também é possível acompanhar a evolução do

tratamento e seu impacto na qualidade de vida dos pacientes, bem como o alívio

2 É um antidepressivo atípico que age como inibidor seletivo da recaptação de noradrenalina e dopamina, muito utilizado para tratar a dependência da nicotina. 3 É uma forma de insuficiência cardíaca na qual ocorre uma diminuição da capacidade funcional do ventrículo direito, causada por doença pulmonar.

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ou a resolução dos problemas psicossociais que, se não tratados, podem causar

um aumento nos níveis de morbidade e mortalidade.

2.4. Teoria Cognitivo–Comportamental

A Teoria Cognitivo- Comportamental (TCC) tem origem na integração entre

os princípios e práticas das abordagens comportamental e cognitiva. Esta

abordagem é muito utilizada no tratamento de transtornos psiquiátricos devido ao

seu caráter diretivo, ativo e estruturado, que se utiliza de diversos procedimentos

clínicos objetivando conduzir a aprendizagens de modo a corrigir comportamentos,

pensamentos e emoções julgadas inadequadas (RANGÈ, 1999).

De acordo com Knapp (2004), TCC é um termo genérico que abrange mais

de 20 abordagens dentro do modelo cognitivo-comportamental. Entre estas várias

abordagens, cabe destacar o primeiro modelo clínico cognitivo-comportamental - a

Terapia Racional Emotiva Comportamental (REBT) de Albert Ellis (1962) e a

Terapia Cognitiva de Aaron Beck (1936) (COSTA, 2002; NEVES NETO, 2002).

Beck iniciou seus estudos com pacientes deprimidos após verificar que as

formulações freudianas acerca da depressão eram falhas em diversos aspectos.

Ele então observou que seria mais eficaz concentrar-se no conteúdo do

pensamento negativo da pessoa deprimida, portanto suas primeiras descrições

tratavam das tendências negativas e das distorções que eram comuns a seus

pacientes deprimidos. Estas descrições o levaram a aprofundar-se nos conteúdos

e nos processos das cognições, relativamente, característicos da depressão

(DERUBEIS, 2006).

Na tradição cognitivo-comportamental, existem três pressupostos

fundamentais: (1) a cognição influencia o comportamento, (2) a atividade cognitiva

pode ser monitorada e alterada e (3) a mudança comportamental desejada pode

ser alcançada através da mudança cognitiva (KNAPP, 2004; COSTA, 2002;

DOBSON e DOZOIS, 2006).

O modelo cognitivo de Beck trabalha três níveis de cognição: pensamentos

automáticos, crenças intermediárias e crenças nucleares. Os pensamentos

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automáticos ocorrem espontaneamente, em forma de sentenças ou imagens. A

grande maioria deles não é percebida de forma consciente, pois ocorre de forma

rápida, involuntária e automática. Eles podem ser ativados tanto por eventos

externos quanto por eventos internos e são as cognições mais acessíveis

(KNAPP, 2004; FALCONE, 2001b, COSTA, 2002).

Os pensamentos automáticos também podem ocorrer de forma exagerada,

distorcida, equivocada, irreal, disfuncional e sem sentido. Assim, eles têm um

papel muito importante na psicopatologia, pois são eles que modulam os

sentimentos e comportamentos dos sujeitos. Estes tipos de pensamentos são

denominados “distorções cognitivas” ou “erros cognitivos” (KNAPP, 2004;

FALCONE, 2001b, COSTA, 2002).

As crenças intermediárias correspondem ao segundo nível das cognições.

Elas não ocorrem diretamente relacionadas a situações como os pensamentos

automáticos, mas sim sob formas de suposições e regras. As suposições são

caracterizadas por pensamentos de estilo condicional, do tipo “Se... então” (p. ex.:

“Se as pessoas me conhecerem melhor, então elas me rejeitarão.”), enquanto as

regras são caracterizadas por declarações relacionadas a obrigações (p. ex.: “Eu

tenho que demonstrar segurança ao conversar com as pessoas!”). As crenças

intermediárias são o reflexo de idéias mais profundas e, por isso, são mais difíceis

de serem modificadas. Elas representam um meio que o sujeito encontra para

minimizar o sofrimento causado pela crença central (KNAPP, 2004; FALCONE,

2001b; COSTA, 2002).

Em um nível mais profundo estão as crenças centrais e os esquemas que,

para Falcone (2001b), têm o mesmo significado. Já Costa (2002) e Knapp (2004),

os diferenciam afirmando que esquemas são estruturas e crenças são os

conteúdos destas estruturas, sendo os conteúdos os verdadeiros responsáveis por

modular a emoção, o pensamento e o comportamento.

Partindo desta diferenciação, as crenças nucleares são caracterizadas por

idéias mais absolutistas, rígidas e cristalizadas que o sujeito tem sobre si mesmo,

sobre o mundo e sobre os outros. Estas crenças se formam na infância, a partir de

eventos marcantes e vão se tornando convincentes na vida adulta, moldando a

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percepção e interpretação dos eventos. Se as crenças disfuncionais não forem

modificadas, elas se cristalizarão e o indivíduo as terá como verdades absolutas e

imutáveis (KNAPP, 2004; COSTA, 2002).

Quanto às crenças nucleares disfuncionais, Judith Beck propôs dois

agrupamentos, que foram expandidos para três: (1) crenças nucleares de

desamparo, nas quais o sujeito acredita ser impotente, frágil, vulnerável, carente,

desamparado e necessitado; (2) crenças nucleares de desamor, relacionadas ao

sujeito ser indesejável, incapaz de ser amado, imperfeito, abandonado, sozinho;

(3) crenças nucleares de desvalor, nas quais o indivíduo acredita ser incapaz,

incompetente, inadequado, defeituoso, fracassado, sem valor (KNAPP, 2004).

As crenças nucleares disfuncionais também podem ser direcionadas aos

outros e ao mundo (ex.: “as pessoas são más” ou “o mundo é injusto”) (KNAPP,

2004; COSTA, 2002).

Os esquemas são estruturas internas que armazenam as crenças e são

fundamentais para selecionar, organizar, armazenar e recuperar as informações

que chegam ao aparato cognitivo. Eles são responsáveis pela sequência que se

inicia na recepção do estímulo e termina na resposta comportamental (KNAPP,

2004; COSTA, 2002).

Isto posto, compreende-se que tanto o comportamento normal do ser

humano quanto o psicopatológico são fruto da interação entre cognição, emoção e

comportamento. Desta forma, pode-se dizer que o que gera emoções e

comportamentos em um indivíduo não é o evento em si, mas sim a forma como

este indivíduo interpreta este evento. Os eventos ativam os pensamentos e estes,

por sua vez, vão gerar as emoções e os comportamentos (KNAPP, 2004; NEVES

NETO, 2002; FALCONE, 2001b).

Há também o conceito da especificidade de conteúdo, que diz respeito aos

transtornos emocionais. Ela propõe que cada transtorno emocional possui

conteúdos próprios, por exemplo: a temática da depressão gira em torno da

desvalorização e da perda, enquanto a temática da ansiedade gira em torno do

perigo e da ameaça (KNAPP, 2004; FALCONE, 2001b).

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Além de ser efetivamente utilizada em diversos quadros psicopatológicos

como citado anteriormente, a TCC também tem sido amplamente utilizada no

tratamento de pacientes acometidos por outras doenças. Estudos recentes têm

demonstrado bons resultados em relação à redução de sintomas, a uma melhor

aceitação da doença por parte do paciente, a mudanças de cognições

disfuncionais relacionadas ao processo saúde-doença e a um aumento da

aderência ao tratamento de saúde (NEVES NETO, 2002).

Diante do exposto, pode-se compreender que a base do desenvolvimento

de psicopatologias, para a TCC, está na relação entre cognição – emoção –

comportamento. A depressão e a ansiedade, então, possuem esta característica

em comum, porém, cada uma delas possui características próprias e estas serão

apresentadas a seguir.

2.5. Depressão

Segundo Botega (2002), no decorrer da vida, uma em cada vinte pessoas

sofre um episódio depressivo moderado ou grave e o risco de apresentar um novo

episódio é de 50%, aumentando para 70% - 80% para um terceiro episódio. Este

transtorno pode prejudicar a qualidade de vida de um indivíduo tanto quanto uma

doença física.

A depressão, à luz do modelo cognitivo, enfatiza as mudanças que ocorrem

no pensamento do indivíduo deprimido. Os sintomas da depressão são resultado

das distorções cognitivas de conteúdo negativo, ou seja, eventos de vida, quando

interpretados de forma negativa, podem desencadear a depressão. A pessoa

deprimida percebe-se como inferior, indesejada e incapaz; possui também uma

visão distorcida de seu ambiente, percebendo-o como sendo hostil e não percebe

perspectivas de um futuro, pois considera não ter recursos suficientes para

modificar sua situação (LIMA et al, 2004).

O modelo cognitivo da depressão, segundo Beck et al. (1997), é composto

por três conceitos que melhor explicam os aspectos psicológicos supracitados: a

tríade cognitiva, os esquemas e erros cognitivos.

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A tríade cognitiva é composta por três padrões cognitivos que fazem com

que o indivíduo perceba a si mesmo, às suas experiências e ao seu futuro de uma

forma particular. O primeiro componente da tríade está relacionado à visão

negativa que o indivíduo possui de si mesmo. Ele percebe-se como inferior,

inadequado, incapaz, carente ou defeituoso e, tende a culpabilizar seu suposto

defeito psicológico por todas as situações desagradáveis que vivencia. Com isso,

o indivíduo tende a se subestimar e a se criticar por seus supostos defeitos,

acreditando que só será feliz quando obtiver determinados atributos que considera

essenciais (BECK et al, 1997).

De acordo com o mesmo autor, o segundo componente da tríade diz

respeito à forma negativa pela qual o indivíduo encara suas experiências atuais.

Para este indivíduo, o mundo lhe faz exigências exorbitantes e lhe apresenta

obstáculos intransponíveis e sua interação com o ambiente é interpretada como

sendo uma derrota. Este tipo de interpretação errônea evidencia-se frente a uma

situação na qual outras interpretações mais plausíveis são possíveis.

O último componente da tríade cognitiva diz respeito à visão negativa em

relação ao futuro, ou seja, a pessoa deprimida acredita que seu sofrimento

continuará por tempo indeterminado e espera passar por dificuldades, privações,

fracassos e frustrações no futuro(BECK et al, 1997).

O segundo conceito postulado pelo modelo cognitivo é o de esquemas.

Segundo Beck et al. (1997), “este conceito é usado para explicar porque um

paciente deprimido mantém suas atitudes indutoras de sofrimento e

autoderrotistas apesar de evidências objetivas de fatores positivos em sua vida”

(p.11). Esquemas são estruturas cognitivas que extraem, codificam e diferenciam

os estímulos, idéias ou experiências com as quais o indivíduo se depara. Eles

também são fundamentais para organizar novas informações, dando-lhes

significado, o que determinará como os fenômenos serão percebidos e

interpretados (KNAPP, 2004).

Os esquemas podem se manter latentes até que sejam ativados por

estímulos ambientais específicos, como situações estressantes. Estes esquemas

vão influenciar diretamente a forma como o indivíduo responderá ao estímulo

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recebido. No sujeito deprimido, as interpretações feitas acerca de situações

específicas são distorcidas para que possam se adequar ao esquema disfuncional

prevalente (BECK et al., 1997).

O último conceito postulado pelo modelo cognitivo diz respeito ao

processamento falho de informações (ou erros cognitivos). Estes erros cognitivos

da pessoa deprimida, conforme o Quadro a seguir, fazem com que os conceitos

negativistas mantenham-se apesar da presença de evidências que os contrarie

(BECK et al., 1997).

Quadro 01: Principais erros cognitivos apresentados por pessoas deprimidas, segundo

Beck et al (1997) (p.12).

1. Inferência arbitrária (um

conjunto de respostas)

Refere-se ao processo de extrair uma conclusão

específica na ausência de evidências para apoiar a

conclusão, ou quando as evidências são contrárias à

conclusão.

2. Abstração seletiva (um

conjunto de estímulos)

Consiste em focalizar um detalhe extraído do contexto,

ignorar outras características mais salientes da situação e

conceituar a experiência toda com base neste fragmento.

3. Hipergeneralização (um

conjunto de respostas)

Refere-se ao padrão de extrair uma regra geral ou

conclusão com base em um ou mais incidentes isolados e

aplicar o conceito indiscriminadamente a situações

relacionadas e não relacionadas.

4. Magnificação e

minimização (um conjunto de

respostas)

São refletidas em erros de avaliação da importância ou

magnitude de um evento que são tão grosseiros a ponto

de constituir uma distorção.

5. Personalização (um

conjunto de respostas)

Refere-se à propensão do paciente a relacionar eventos

externos a si próprio, quando não há qualquer base para

estabelecer tal conexão”.

6. Pensamento dicotômico

absolutista (um conjunto de

respostas)

É manifestado na tendência a colocar todas as

experiências em uma entre duas categorias opostas; por

exemplo, impecável ou defeituoso, imaculado ou imundo,

santo ou pecador. Ao descrever-se, o paciente seleciona

a categorização negativa extrema.

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Como citado anteriormente, a depressão pode causar impactos tão ou mais

fortes quanto uma doença clínica na qualidade de vida de um indivíduo. Este

impacto pode ser ainda maior em pacientes clínicos, pois geralmente não são

realizados o diagnóstico e o tratamento adequado. Teng, Humes & Demetrio

(2005) apontam algumas possíveis causas para a dificuldade em se realizar o

diagnóstico adequado de depressão num paciente clínico: predomínio dos

sintomas físicos sobre os psíquicos (fadiga, lentificação, insônia, dor); sintomas de

depressão pouco específicos; sintomas físicos comuns à depressão e à condição

clínica do paciente; falta de preparo ou dificuldades pessoais do profissional de

saúde em lidar com o adoecer psiquiátrico.

Além disso, a depressão no paciente clínico se difere da depressão

presente em pacientes psiquiátricos em alguns pontos: o estresse tem maior

importância no desencadeamento da depressão; a prevalência de depressão em

familiares é menor que em pacientes psiquiátricos; existe uma maior dificuldade

no diagnóstico, como citado anteriormente; e existe um maior risco de interação

medicamentosa durante o tratamento (BOTEGA, 2002).

A presença da depressão no paciente clínico pode causar o agravamento

de sua doença e também aumentar a percepção para sintomas físicos

inexplicáveis. Alguns estudos recentes descrevem também um aumento da

mortalidade em pacientes idosos com doenças crônicas que apresentavam

sintomatologia depressiva (TENG, HUMES & DEMETRIO, 2005; TENG, HUMES

& DEMETRIO, 2005 apud COOPER et al., 2002; UNÜTZER et al., 2002).

Portanto, é inegável a importância de se realizar uma cuidadosa

investigação acerca da presença de sintomas depressivos em pacientes clínicos

para, se necessário, realizar o tratamento adequado, auxiliando assim na redução

dos níveis de morbidade e mortalidade entre estes pacientes.

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2.6. Ansiedade

Segundo Dalgalarrondo (2000), “a ansiedade é definida como um estado de

humor desconfortável, uma apreensão negativa em relação ao futuro, uma

inquietação interna desagradável” (p. 107). O termo “ansiedade” também é

utilizado para definir curtos períodos de nervosismo ou medo que são

experimentados durante a vivência de situações difíceis ao longo da vida

(GREENBERGER & PADESKY, 1999).

A ansiedade caracteriza-se pela sensação de perigo iminente,

acompanhada de manifestações somáticas (taquicardia, dispnéia, tremores,

tensão muscular, sudorese, boca seca, formigamento nos membros, urgência para

urinar ou evacuar, etc.) e manifestações psíquicas (inquietação, nervosismo,

insegurança, irritabilidade, sensações de estranheza em relação a si mesmo ou ao

ambiente e insônia) (DALGALARRONDO, 2000; BARBOSA, 2004; BARROS

NETO, 2000).

De acordo com Barbosa (2004), a ansiedade é uma emoção normal que

funciona como uma espécie de alarme que chama a atenção de nosso corpo para

os perigos, mobilizando-o para uma reação de luta, fuga ou paralisação frente a

uma situação supostamente ameaçadora. Portanto, todos os sintomas

supracitados fazem parte das respostas da ansiedade chamadas de “luta-fuga” ou

“lutar, fugir ou congelar”. Estas respostas podem ser adaptativas quando são

utilizadas para encarar um perigo real (ex.: fugir de alguém que queira agredí-lo),

mas não são úteis em situações de “perigo social”, como quando se está diante de

um grupo de pessoas para fazer um discurso (GREENBERGER & PADESKY,

1999).

Neste sentido, a ansiedade auxilia na avaliação da situação, buscando a

saída mais adequada seja através do enfrentamento, da fuga ou da paralisação

frente à situação. Uma boa ansiedade é proporcional à dificuldade da situação e

leva a um enfrentamento saudável, por outro lado, a má ansiedade é improdutiva

e/ou desproporcional à dificuldade a ser enfrentada. Quanto mais controle e

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conhecimento acerca da situação a ser enfrentada o indivíduo tiver, menos

respostas de ansiedade ele irá desenvolver (BARBOSA, 2004).

Segundo Greenberger e Padesky (1999), eventos importantes que

ocorrem durante a vida podem contribuir para o desencadeamento da ansiedade.

Alguns exemplos de eventos importantes são traumas (ex.: sofrer um acidente),

desenvolver uma doença, morte, situações aprendidas (ex.: “cobras são

venenosas”), coisas que são observadas (ex.: notícias de jornal sobre acidentes

aéreos) e situações que parecem difíceis de serem enfrentadas). Porém, as

pessoas diferem quanto à percepção e à reação frente a eventos como estes.

Enquanto umas são capazes de enfrentar uma perda, outras, na mesma situação,

desenvolvem um quadro psicopatológico. Neste sentido, as variáveis individuais

parecem ter um papel decisivo (FALCONE, 2001a).

As variáveis individuais, segundo Falcone (2001a) são compostas pela

vulnerabilidade biológica e pela vulnerabilidade psicológica do indivíduo. A

primeira diz respeito a uma tendência herdada para desenvolver ansiedade. A

segunda está relacionada a características aprendidas a partir de relações

familiares e experiências de vida, como a percepção de incontrolabilidade e

imprevisibilidade em relação ao mundo. Se um indivíduo possuir o componente

biológico e desenvolver o psicológico, estará predisposto a desenvolver um

transtorno de ansiedade frente a um evento ansiogênico.

A ansiedade passa a ser patológica quando ocorre sem a presença de um

objeto específico ou com uma intensidade desproporcional à gravidade da

situação desencadeadora. Além dos sintomas citados anteriormente, o indivíduo

passa a sentir extrema tensão, esgotamento, sensação de cansaço e de paralisia,

pois está o tempo todo com medo de que algo catastrófico aconteça. Esta

ansiedade é irracional, aparece dissociada de situações normalmente

ansiogênicas e causa grande sofrimento podendo prejudicar a vida social e/ou

ocupacional do indivíduo (BARBOSA, 2004; KAPCZINSKI & MARGIS, 2004).

A ansiedade também pode estar presente em diversos transtornos mentais,

e, quanto aos transtornos de ansiedade, pode-se citar o transtorno obsessivo-

compulsivo, o transtorno de ansiedade generalizada, as fobias, o pânico, etc. De

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acordo com Barros Neto (2000), um estudo realizado por Kessler e col. nos EUA,

demonstrou que 25% da das pessoas já teve ou terá um transtorno de ansiedade

ao longo da vida.

Os pensamentos do indivíduo ansioso são voltados para o futuro,

frequentemente prevendo catástrofes, já suas atenções são voltadas para o meio

externo, na tentativa de controlar as ameaças do ambiente e de tentar minimizar o

medo daquilo que pode acontecer no futuro (GREENBERGER & PADESKY, 1999;

BARBOSA, 2004). Os indivíduos ansiosos, segundo Barbosa (2004), passam a

maior parte do tempo tentando lutar, fugir ou se esquivar da ansiedade.

Neste sentido, Schinohara e Nardi (2001) trazem o conceito de antecipação

cognitiva do perigo, caracterizada pela preocupação. A preocupação é definida

como uma cadeia de pensamentos e imagens carregada de sentimentos

negativos e é, geralmente, incontrolável. Esta preocupação representa uma

tentativa de solucionar mentalmente o problema que aflige o indivíduo. Estas

preocupações são mantidas por reforçamento negativo, ou seja, aparentemente,

elas “impedem” que as catástrofes aconteçam. Alguns indivíduos relatam que as

preocupações os deixam preparados para enfrentar o perigo, outros relatam que

elas os distraem para que pensamentos piores não surjam.

No que diz respeito ao aparecimento dos sintomas de ansiedade, além das

variáveis ambientais e individuais supracitadas, Kapczinski e Margis (2004)

consideram que a forma como indivíduo interpreta os eventos de vida é, muitas

vezes, mais importante que os eventos em si. A ansiedade, assim como a

depressão, é marcada por distorções cognitivas, dentre essas distorções estão a

superestimulação de uma probabilidade e o pensamento catastrófico.

A interpretação que o indivíduo faz acerca de eventos de vida é fortemente

influenciada pelas crenças que ele já possui em relação à sua saúde. Essas

crenças são, em geral, incompatíveis com a realidade. Quando uma pessoa

defronta-se com um diagnóstico de doença crônica, tende a reconstruir essa

informação integrando-a em suas crenças ao invés de mudar sua estrutura de

conhecimento. Essa forma de interpretar um diagnóstico pode ter forte impacto

sobre a resposta do indivíduo frente à situação (STRAUB, 2005). Portanto,

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trabalhar estas distorções provenientes das interpretações que o indivíduo faz

acerca de um evento de vida podem trazer grandes benefícios a uma pessoa

acometida por uma doença crônica.

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3 ASPECTOS METODOLÓGICOS

A presente pesquisa caracteriza-se como descritiva e exploratória baseada

em avaliações individuais, porém dentro de um grupo pertencente a um contexto.

3.1 Participantes

Participaram da pesquisa 9 pacientes de um total de 14 encaminhados pela

Clínica de Fisioterapia da UNIVALI. Foram utilizados como critérios de inclusão:

ter diagnóstico de DPOC, estar em tratamento fisioterápico na Clínica de

Fisioterapia da UNIVALI, não possuir história de doenças psiquiátricas e não fazer

uso de nenhum tipo de medicação psicotrópica. Cabe destacar que 5 pacientes

foram excluídos do estudo pelos seguintes motivos: 2 não aceitaram participar do

estudo, 1 interrompeu seu tratamento fisioterápico antes de concluir todas as

etapas previstas do estudo e 2 fazem uso de antidepressivos. Os 9 participantes

desta pesquisa serão apresentados no quadro a seguir:

Quadro 02: Identificação dos participantes da pesquisa sobre a prevalência de depressão e ansiedade em pessoas com DPOC submetidas a tratamento fisioterápico.

Participantes Idade Sexo Tempo de diagnóstico

Tratam. na Fisioterapia

P- 01 70 F Mais de 20 anos

3 meses

P- 02 68 M 6 meses 1 mês e meio

P- 03 67 F 4 meses 2 meses P- 04 66 F 15 anos 4 anos P- 05 83 F Mais de 20

anos 4 anos

P- 06 74 M 3 anos 2 anos e meio

P- 07 72 M Mais de 20 anos

2 anos

P- 08 49 M 4 anos e meio

4 anos

P- 09 68 F 4 anos 2 anos

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Como pode-se observar no quadro acima, dos 9 participantes, 8 tem idade

entre 66 e 83 anos e 1 participante tem 49 anos de idade. Quatro participantes são

do sexo masculino. Em relação ao grau de instrução destes participantes, 7 deles

cursaram até o 4º ano do Ensino Fundamental e 2 não são alfabetizados. O tempo

de diagnóstico foi variável, pois 4 participantes afirmaram possuir a doença há

pelo menos 15 anos e nos outros 5 participantes este tempo variou de 4 meses a

4 anos.

Quanto ao tempo de tratamento fisioterápico, 6 participantes o fazem há

mais de 2 anos e os outros 3 participantes o fazem há menos de 6 meses. Mesmo

entre os participantes que fazem tratamento fisioterápico há menos tempo (3

meses, como por exemplo P-01) pode-se encontrar pessoas com diagnóstico de

DPOC há mais de 15 anos. Cinco participantes iniciaram tratamento fisioterápico

entre 2 meses e 2 anos após receber o diagnóstico da doença, enquanto os outros

4 participantes levaram de 11 anos a 20 anos para iniciá-lo.

Outro dado importante é que, dos 9 participantes, 8 apresentam outras

doenças além da DPOC. Destes 8, 5 participantes sofrem de hipertensão arterial,

3 tem diabetes, 1 tem osteoporose e 1 tem a DPOC em comorbidade com outra

doença pulmonar (bronquiectasia), sendo que alguns deles possuem mais de uma

destas doenças, como no caso do P-06 que tem DPOC em comorbidade com

diabetes tipo II, hipertensão arterial e osteoporose.

3.2 Instrumentos

Para a coleta de dados foram utilizados os seguintes instrumentos:

Inventário de Depressão Beck (BDI), Inventário de Ansiedade Beck (BAI) e um

questionário de levantamento de dados.

O BDI é um instrumento utilizado para a mensuração da intensidade da

depressão. Ele é composto por 21 questões, com 4 opções de resposta que

correspondem a escores de 0 a 3, subentendendo graus crescentes de depressão

(CUNHA, 2001).

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O BAI é utilizado para mensurar níveis de ansiedade. Também possui 21

itens, suas opções de resposta têm caráter qualitativo, mas também

correspondem a escores que vão de 0 a 3, seguindo um nível crescente de grau

de ansiedade (CUNHA, 2001).

O questionário de levantamento de dados teve por objetivo coletar, além

das informações sociodemográficas do paciente, dados relacionados à percepção

destes frente a sua doença e ao tratamento recebido. Havia também questões

relacionadas ao conhecimento que os mesmos possuem acerca de sua doença,

quais eram as dificuldades encontradas, há quanto tempo estão diagnosticados,

há quanto tempo estão sob tratamento e quais são estes tratamentos (Apêndice

A). As respostas dadas pelos participantes foram gravadas em áudio e transcritas

na íntegra para posterior análise.

3.3 Coleta dos Dados

A coleta de dados foi realizada nas dependências da Clínica de Fisioterapia

da UNIVALI, em Itajaí (SC). Primeiramente, a Coordenação do Curso de

Fisioterapia foi contatada, recebendo os devidos esclarecimentos em relação à

pesquisa para que a mesma autorizasse a realização do estudo (Apêndice B).

Com a autorização da Coordenação do Curso de Fisioterapia, foi feito contato com

a professora supervisora de estágio na área da Fisioterapia, para que esta

indicasse os pacientes com DPOC que estavam em tratamento fisioterápico. Os

pacientes que se enquadraram no perfil necessário para a realização da pesquisa

foram procurados pela pesquisadora e esta lhes apresentou o termo de

consentimento livre e esclarecido (Apêndice C). Após a assinatura deste, foram

marcados os horários para realização do questionário e administração dos

inventários BDI e BAI.

Tanto o BDI quanto o BAI foram aplicados da mesma forma, tendo sido esta

realizada em oito participantes pela examinadora e uma auto aplicada (P -02). Nas

aplicações realizadas pela examinadora, as instruções eram lidas ao examinado,

em voz alta e este, posteriormente, recebia uma cópia do protocolo para

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acompanhar a leitura dos itens e respondê-los. Na auto-aplicação, o examinado lia

as instruções em voz alta para o examinador e preenchia as informações

requeridas nos inventários. As respostas deveriam ser embasadas no que o

examinado vinha sentindo na última semana, inclusive no dia da aplicação do

inventário.

Os inventários e o questionário foram aplicados em um único encontro,

individualmente, durando em média 40 minutos. Para os participantes 1, 6 e 7

foram necessários 2 encontros em função da pouca disponibilidade de tempo e da

baixa qualidade do áudio da gravação e algumas interferências externas

presentes no local de realização da pesquisa.

3.4 Análise dos Dados

- BAI e BDI

Os escores do BDI e do BAI são obtidos da mesma forma: os escores

individuais de cada um dos 21 itens são somados, obtendo-se então o escore

total, que não ultrapassa 63 pontos (CUNHA, 2001).

De acordo com a pontuação obtida, os graus de depressão podem ser

classificados, para pacientes psiquiátricos, nos seguintes níveis: mínimo, de 0 a 11

pontos; leve, de 12 a 19 pontos; moderado, de 20 a 35 pontos; e grave, de 36 a 63

pontos.

Já os níveis de ansiedade são graduados, para pacientes psiquiátricos, da

seguinte forma: mínimo, de 0 a 10 pontos; leve, de 11 a 19 pontos; moderado, de

20 a 30 pontos; e grave, de 31 a 63 pontos (CUNHA,2001).

Entretanto, é importante compararmos os escores desta amostra com os

resultados obtidos em grupo semelhante (amostra médico-clínica), presentes no

Manual das Escalas Beck. Neste grupo, as médias obtidas foram: M=16,53 e

DP=10,04 para o BDI e M=16,47 e DP= 7,63 para o BAI.

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- Questionário de levantamento de dados

Para as informações sociodemográficas foi utilizada a freqüência simples e

as demais informações foram analisadas qualitativamente sob a luz da Teoria

Cognitivo-Comportamental (TCC) e serviram como elemento a mais para a

identificação da ansiedade ou da depressão. Esta abordagem foi escolhida, pois

traz como base da sintomatologia da depressão e da ansiedade as distorções

cognitivas e a interpretação que o indivíduo faz acerca dos eventos de vida,

características que podem ser encontradas nas falas dos participantes.

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4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Os resultados serão apresentados da seguinte forma: primeiramente serão

expostos os dados obtidos a partir da aplicação dos inventários (BAI e BDI), em

seguida serão apresentados individualmente os resultados obtidos através das

entrevistas.

4.1. Apresentação dos resultados obtidos através do BAI e do BDI

Como citado anteriormente, tanto o BAI quanto o BDI classificam os graus

de ansiedade e depressão, respectivamente, da seguinte forma: mínimo, leve,

moderado e grave, diferindo apenas a pontuação que delimita cada grau.

Em relação aos graus de ansiedade, os resultados foram: participantes 01,

02, 03, 05, 06 e 07 = mínimo; participantes 04 e 08 = leve e participante 09 =

moderado.

Quanto aos graus de depressão, os resultados foram: participantes 02, 03,

04 e 07 = mínimo; participantes 01, 05, 06 e 09= leve; participante 08 = moderado;

e nenhum participante obteve grau grave de depressão.

Comparando com os resultados obtidos com o grupo semelhante (CUNHA,

2001) cujas médias são: M=16,53 e DP=10,04 para o BDI e M=16,47 e DP= 7,63

para o BAI, pode-se notar que há uma concordância entre os resultados, estando

apenas P-09 com um escore acima da média (BAI = 29).

Diante do exposto e conforme o gráfico a seguir, nota-se que mais da

metade dos participantes obteve graus mínimo e leve de ansiedade segundo os

resultados do BAI, o que pode indicar que este grupo de pacientes não apresenta

sintomas de ansiedade quando do momento da aplicação do inventário.

Da mesma forma, os escores obtidos a partir do BDI também

correspondem, em sua maioria, aos níveis mínimo e leve de depressão, o que

também indica que este grupo, possivelmente, não possui uma sintomatologia que

sugira um quadro depressivo.

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Os participantes 02, 03 e 07 obtiveram grau mínimo em ambos os

inventários e seus escores não passaram de sete. Destes participantes, os dois

primeiros são os que possuem diagnóstico de DPOC há menos tempo (6 meses e

4 meses, respectivamente), já o participante 07 tem DPOC há mais de 20 anos.

Gráfico 01: Níveis de ansiedade e depressão obtidos à partir dos escores do BAI e do BDI. Legenda: Mínimo; Leve e Moderado. A seguir, serão apresentados individualmente os resultados obtidos através

dos questionários, buscando, nas falas, encontrar algum indício de sintomatologia

de depressão e ansiedade, bem como a percepção e conhecimento dos

participantes em relação à DPOC.

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34

4.2. Análise dos resultados obtidos a partir dos questionários de

levantamento de dados

Os resultados a seguir trazem as falas dos 9 participantes de acordo com

os seguintes aspectos:

1. Conhecimento acerca da doença e tratamentos - relacionado a tudo

aquilo que o participante sabe sobre sua doença, sobre a causa e os tratamentos

existentes, a busca de informações acerca da doença

2. Adesão ao tratamento – refere-se às respostas que demonstram se o

participante adere ou não ao tratamento e porque o faz.

3. Tratamento fisioterápico – este espaço foi destinado às respostas

relacionadas ao tratamento fisioterápico, se o participante percebe uma melhora

ou não, como ele percebe o tratamento que recebe, etc.

4. Indícios de ansiedade – considera as respostas com possíveis indícios

de distorções cognitivas características da sintomatologia da ansiedade, como

pensamentos catastróficos e superestimação da probabilidade de que ocorra algo

ruim.

5. Indícios de depressão – encontram-se as respostas com possíveis

indícios de distorções cognitivas características da sintomatologia da depressão.

Participante 01

Mulher, 70 anos de idade, reside com o filho, a nora e três netos e trabalhou

por muitos anos como empregada doméstica. Ela não soube informar

precisamente há quanto tempo tem o diagnóstico de DPOC.

Esta participante mostrava-se queixosa tanto pelos sintomas da DPOC e

pelas consequências disso em sua vida, quanto pela solidão e problemas

pessoais, sendo a primeira paciente encaminhada pela Clínica de Fisioterapia

para o estudo. No entanto, seus escores de BAI e BDI foram, respectivamente, 8

e 12 indicando graus mínimo e leve de ansiedade e depressão.

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A participante relata não ter diálogo em casa, sendo as sessões de

fisioterapia os únicos momentos nos quais ela têm “alguém para conversar”. Além

disso, em suas falas fica claro o pouco conhecimento que possui em relação à

doença e às limitações decorrentes dos sintomas da DPOC. Estes fatores

somados, provavelmente, contribuem para o sofrimento que ela demonstra e

dificultam o enfrentamento da doença.

Quando questionada sobre a causa da doença, relatou:

Eu nunca fumei, eu nunca tomei gelado, só o meu marido que fumava

muito, eu não sei se foi isso.

Nesta fala pode-se observar que, mesmo não sabendo exatamente o que

desencadeou sua doença, ela imagina que o tabagismo pode ser responsável por

isso, mas mantém o mito de que “tomar gelado” é prejudicial à saúde.

Da mesma forma, nota-se o pouco conhecimento que ela tem acerca da

doença nesta fala:

Olha, o médico disse que tá muito feio meus pulmões, bem feio... Eu tenho

que tá tomando remédio porque eu tenho muito catarro no pulmão, né... Eu

tenho fraqueza... E... às vezes, assim, ó... Como que eu vou explicar

assim... Eu fico enjoada.

P-01 relata que não foi difícil aderir ao tratamento e contou sobre os auxílios

que recebe. Sua fala deixa claro as mudanças que ocorreram em suas atividades

diárias em decorrência dos sintomas de DPOC, principalmente pela dispnéia.

Olha, eu não consigo trabalhar mais, se eu vou lavar uma roupinha eu já

fico assim, cansada, se eu vou tomar banho, também fico cansada e... Eu

passo trabalho.

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Esta participante, apesar de ter DPOC há muitos anos, submete-se a

tratamento fisioterápico há apenas 3 meses e, em relação a este tratamento, ela

relatou que tem melhorado, mas que não deseja permanecer como está, o que

pode-se observar a seguir:

É, tô melhor, só que eu não quero sentir isso...

Ao ser questionada sobre o que pensa em relação à DPOC e às mudanças

que ocorreram em sua vida, relatou:

Eu tenho medo, muito medo... vem bobiça na minha cabeça quando eu tô

deitada na cama... Assim, que a gente já tá velha mesmo, né... bota tudo na

mão de Deus né, tem hora assim que me dá vontade de chorar, chorar,

chorar...

Participante 02

Homem, 68 anos de idade, aposentado, reside com a esposa. Seus

escores de BAI e BDI foram, respectivamente, 2 e 7, ambos indicando grau

mínimo.

Este participante não recebeu um diagnóstico de DPOC pelo médico,

apenas fez uma espirometria que indicou um grau leve de obstrução e, por isso,

foi encaminhado para tratamento na Clínica de Fisioterapia. Ele não faz uso de

nenhuma medicação para DPOC, estava em tratamento fisioterápico há 1 mês e

meio, por não ter recebido nenhum diagnóstico do médico, também acredita não

estar doente.

Ao ser questionado sobre a possível causa da obstrução de fluxo aéreo

constatada com a espirometria, ele relatou:

Sou fumante, né... acho que através do cigarro.

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Este participante fuma há 50 anos e afirmou que ainda não parou de fumar

“por falta de vontade” (sic). Ele afirma que os sintomas que vem apresentando não

causaram nenhuma mudança em sua vida:

Continuo normal, como antes... Não tenho qualquer preocupação, só tentar

seguir as indicações, normal.

Mesmo não tendo o diagnóstico de DPOC, este participante possui alguns

sintomas, como dispnéia. Na fala a seguir, ele descreve como o tratamento

fisioterápico tem auxiliado em sua recuperação:

Tô um pouquinho mais, assim, aliviado na respiração... mas muito pouco,

viu... ainda é cedo pra... a diferença é pequena!

Pode-se dizer que este participante é um caso isolado, afinal, seu

“diagnóstico” foi feito no início dos sintomas e ele já iniciou com tratamento

fisioterápico e não com medicação, como na maioria dos casos. Além disso, ele

apresenta os sintomas há pouco tempo (6 meses) e não percebeu nenhuma

mudança em sua rotina, o que, provavelmente, não lhe causa preocupação

alguma, como pode-se notar na fala a seguir:

Olha, na verdade eu nem penso nela, não penso mesmo! Eu não me

preocupo (...) Eu me desligo... hoje mesmo a moça (estagiária de

fisioterapia) me falou que é uma doença, eu digo ‘mas que doença?!’... ela

disse que é não sei que... mas eu não me preocupo, não.

Participante 03

Mulher, 67 anos de idade, viúva, reside com dois filhos, aposentada.

Recebeu diagnóstico de bronquite crônica há 4 meses e também é hipertensa,

submete-se a tratamento clínico desde o diagnóstico e a tratamento fisioterápico

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há 2 meses. Tanto o escore do BAI quanto o do BDI foi 3, indicando para os dois

inventários grau mínimo.

Sobre a possível causa da DPOC, ela trouxe a questão do tabagismo:

Acho que é por causa que eu fumava, deixei do cigarro faz 7 anos... Fumei

acho que, mais de 30 anos. (...) Uma carteira por dia.

Ela relatou ainda que sempre trabalhou fora e só parou devido a sua idade,

mas as atividades cotidianas foram prejudicadas pelo surgimento dos sintomas da

bronquite crônica:

Ai sei lá, mudou muita coisa porque eu não faço mais o que podia fazer,

esforço não dá, não posso fazer esforço nenhum... caminhar muito rápido,

não posso caminhar que canso... Muita coisa não posso fazer mais.

Esta participante relata não ter conhecimento em relação aos tratamentos,

mas tem ciência de que o uso do tabaco pode ter sido a causa da sua doença,

mesmo tendo cessado o uso há 7 anos. Além disso, apresenta um conceito sobre

o que é uma doença crônica, mas este conceito não corresponde à doença que a

acomete, como ela expressa na seguinte fala:

Se fosse crônico tinha que ser assim, como eu tô há 4 meses, já há muitos

anos, né... Mas só dava aquelas crises e passava... Agora que começou,

que não parou mais.

Pode-se perceber que o conhecimento desta paciente acerca de

cronicidade relaciona-se ao tempo pelo qual a mesma possui a doença, desta

forma, como sua doença é recente, ela acredita que não seja crônica.

Como citado anteriormente, a participante faz tratamento clínico há 4 meses

e tratamento fisioterápico há 2 meses. Ela então foi questionada sobre as

mudanças que o tratamento fisioterápico tem causado em seu dia-a-dia e se

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estava conseguindo voltar a fazer algumas atividades que os sintomas da

bronquite a impedem de fazer. Sua resposta foi:

Muito pouquinho, muito pouco... (...) Eu costuro... só não faço força assim,

força não! Mas o serviço da casa, essas coisas eu faço.

A participante ainda complementou sua resposta contando que acredita que

sua limitação pode estar relacionada também ao seu excesso de peso.

Sobre a adesão ao tratamento, ela relata que faz o que for necessário para

melhorar. No caso da DPOC, a adesão ao tratamento parece não ser uma simples

opção, a maioria dos entrevistados relatou, assim como P-03, fazer o que for

necessário “para não sofrer”, pois as crises são muito intensas e os sintomas se

fazem presentes o tempo todo. Neste sentido, ela afirma:

Fui obrigada, né! O que eles oferecerem pra melhorar tem que fazer, né...

Ah, não, credo! Pra não morrer... não morrer não, pra gente não ficar

sofrendo, porque se morrer morreu! Mas tu já pensou ficar aí com uma falta

de ar todo o tempo... não conseguir respirar?!

Assim, pode-se perceber que a DPOC é uma doença que, além de limitar

as atividades cotidianas do sujeito, traz consigo sintomas extremamente

desconfortáveis que podem causar também grande sofrimento psíquico. Quando

questionada sobre o que sente ao pensar nesta doença, a participante afirma:

Ah, eu fico apavorada do dia que eu quero respirar e não dá... dá agonia só

da agonia que dá, não tem coisa mais triste... (...) É coisa terrível, né... a

gente depois de velha sofrer assim, querer respirar e não dá... é ruim, é

ruim! Ninguém queira!

Participante 04

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Mulher, 66 anos, reside com o marido e dois filhos (de 46 e 28 anos de

idade), é dona de casa. Seu escores do BAI e do BDI foram, respectivamente, 13

e 10, correspondentes a níveis leve para ansiedade e mínimo para depressão.

Seu diagnóstico é de asma há 15 anos e, além disso, tem diabetes e taxa de

colesterol alta.

A participante relata que, das doenças que a acomete, a asma é a mais

preocupante. Sobre esta última ela conta que, no início, era apenas bronquite e,

posteriormente, com outros exames, seu médico diagnosticou a asma. Durante 11

anos ela submetia-se apenas a tratamentos farmacológicos (com

broncodilatadores). Foi na Clínica de Fisioterapia, quando a participante fazia

tratamento na área de Ginecologia e Obstetrícia, que a funcionária lhe informou

que havia tratamento fisioterápico para doenças respiratórias. Ela submete-se a

tratamento fisioterápico há quatro anos e afirma ter melhorado muito, a respeito

disso, conta sobre como estava ao iniciar seu tratamento:

Ê, cheguei aqui, eu não podia varrer uma casa, era um trabalho! Se eu ia

pro banheiro tomar banho, aquilo pra mim era como se eu caísse num

abismo... se eu ia comer eu cansava, tudo que eu fizesse mexer daqui pra

cima (braços e tronco) cansava.

Ela relata ter feito uso de tabaco durante 23 anos, parou em 1982, mas não

relaciona este fato à causa da doença, bem como não relaciona nenhum outro.

Ela relata também não ter nenhum conhecimento acerca da doença e dos

tratamentos existentes, tanto que só foi encaminhada para o tratamento

fisioterápico quando a funcionária da Clínica de Fisioterapia lhe deu as

informações necessárias para pedir o encaminhamento médico.

Assim como todos os participantes, ela também relata mudanças em sua

vida, e esta, provavelmente, é a característica mais marcante da DPOC, como

pode-se confirmar nesta fala:

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Mudou tudo! Eu trabalhava, fazia meu serviço com gosto. Agora eu faço

tudo pela metade, eu tenho medo de subir numa cadeira pra limpar uma

vidraça, que já fico cansada... Se eu limpo um banheiro... Ó, ontem eu

limpei e levei um dia todo pra limpar! (...) E tem o cheiro de tudo, eu não

posso mexer numa roupa que tem cheiro, eu não posso mexer a poeira. Ih!

É uma tristeza... Às vezes eu chego até a sangrar (o nariz).

Como citado anteriormente, esta parece ser a questão mais difícil a ser

enfrentada pelo doente. Quando questionada sobre a adesão ao tratamento, a

participante mencionou novamente a perda da “liberdade”, mas demonstrou

através de sua fala fazer o que for necessário para sua saúde e completou:

Eu sou uma pessoa que se tiver que tomar remédio... Eu adorava uma

cerveja, eu não tomo mais, porque tem dia que eu tomo oito qualidades de

remédio! Já chegou a dez. Aí vou tomar uma bebida em cima... não pode,

né?!

Ou seja, mesmo sendo difícil aceitar as limitações decorrentes da doença e

do tratamento, ela acata as recomendações médicas e ainda busca se manter

alegre, como afirma nesta fala:

(...) Eu acho que eu sou tão alegre, tão boa, tão cheia de vida! Às vezes eu

to cansada, mas eu penso: “vou sair!”, e eu saio, mesmo com as pernas

assim (mostra as pernas inchadas) eu saio! Eu não sou aquelas de ficar

dentro de casa assim, pensando que tá vindo, que... não, não!

Esta participante relata também que, ao pensar na doença e em todas as

limitações decorrentes dela, não sente tristeza nem medo, apenas conta sobre o

quanto é ruim o sintoma de dispnéia:

Eu só digo assim: mais valem 20 dores do que falta de ar. Porque a dor a

gente controla e a falta de ar não! Se tá doendo muito, você deita... mas a

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falta de ar não, não pode deitar direto, porque sufoca! Tem que ser quase

sentada. Tinha época que eram 3, 4 travesseiros!

Participante 05

Mulher, 83 anos de idade, costureira, reside com a família da neta (marido e

filho). Ela recebeu diagnóstico de bronquite crônica há mais de 20 anos e

submete-se a tratamento fisioterápico há 4 anos. Seus escores do BAI e do BDI

foram, respectivamente, 0 e 14, sendo, o último, correspondente a grau leve de

depressão.

Esta participante demonstrou não ter muito conhecimento acerca da doença

e, assim como outros participantes, relata também não ter recebido maiores

explicações de seu médico:

É crônica, né... não paro de tomar remédio a vida toda...

Ele (o médico) disse que eu tinha bronquite e que é porque eu fumava.

Além destas falas, ela também demonstra ter ciência de que, devido ao fato

de sua doença ser crônica, o tratamento serve apenas para amenizar os sintomas

e, por isso, ela o aderiu e não deixa de fazê-lo corretamente.

No que diz respeito à causa da doença, seu médico lhe informou que foi o

uso do tabaco o principal fator. Ela relata ter cessado o uso do tabaco há 4 anos,

desta forma:

Fumei uns trinta e poucos anos... aí ele disse que eu tinha que deixar de

fumar se eu queria viver mais alguns anos, né... E eu deixei já na hora, né!

Em relação às mudanças em sua rotina, decorrentes dos sintomas da

bronquite crônica, ela relata a dificuldade em fazer pequenas tarefas como lavar

roupas e tomar banho em comparação à sua vida antes do surgimento dos

sintomas, como pode-se perceber nas falas a seguir:

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Ah, eu fazia tudo né, nega! Costurava, né... lavava roupa, passava,

caminhava, não pegava ônibus, nada né... era bem saudável! (Agora) se eu

ando um pouquinho rápido eu canso... bronquite dá cansaço, né. (...) tem

época que eu não consigo tomar banho sozinha... duas , três vezes que me

deu crise, quem me dava banho era a neta, eu não podia ficar em pé no

banheiro.

Ela relata também que o tratamento fisioterápico tem ajudado muito na

remissão de alguns sintomas, mas as limitações obviamente persistem. Todas

estas limitações podem desencadear sofrimento psíquico, como ela demonstrou

nesta fala:

Eu não gosto de pensar... Eu não me sinto feliz, né... Que eu podia ser boa

né... e agora tem isso que me impede alguma coisa, né!

Participante 06

Homem, 74 anos de idade, reside com a esposa, é aposentado. Tem

diagnóstico de bronquite crônica desde a infância e de enfisema pulmonar há 3

anos e submete-se há tratamento fisioterápico há 2 anos e meio. Além de DPOC,

P-06 tem hipertensão arterial, diabetes tipo II e osteoporose. Seus escores do BAI

e do BDI foram, respectivamente, 8 e 19, indicando graus mínimo de ansiedade e

leve de depressão.

Embora tenha bronquite crônica há bastante tempo, quando questionado

sobre o que sabe em relação às duas doenças, ele relata apenas seu

conhecimento sobre a causa delas:

O enfisema foi do cigarro, né, que eu fumei 50 anos. E a bronquite, isso já

é de família, já tenho desde criancinha.

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Das duas doenças, a que mais lhe incomoda é o enfisema pulmonar, pois

este, além de ser mais recente, parece lhe causar sintomas mais fortes e foi a

partir do surgimento destes sintomas que sua vida mudou mais, como ele mesmo

relatou:

Mudou tudo... uma falta de ar, não posso subir morro ou escada, qualquer

morrinho... Você viu, eu vim dali aqui já tô (demonstra cansaço)... Isso é um

problema...

Além disso, ele também tem o diagnóstico de outras doenças já citadas, o

que lhe causa algumas outras limitações. Devido a tudo isso, ele afirma não ter

quase nenhuma atividade em casa e, por isso, a fisioterapia tem lhe ajudado

muito:

O tratamento é muito bom pra mim. Em casa praticamente eu não faço

exercício quase... às vezes eu saio, ando um pouco, mas é difícil né... E

aqui, quando eu venho, eu me sinto melhor... Eu já até aprendi a respirar

né... Aqui me ensinaram a respirar.

Ele conta que, no início do tratamento fisioterápico, seu quadro clínico era

muito grave. Ele chegava à Clínica de cadeira de rodas, pois já não conseguia

mais andar devido aos sintomas do enfisema pulmonar e, atualmente, ele não

precisa mais deste recurso, anda sozinho, mesmo com um pouco de dificuldade.

Além disso, o participante relata ter sido hospitalizado diversas vezes antes do

início de seu tratamento fisioterápico:

No começo... uns 6 meses, eu ia pra casa, ia pro hospital, ia pra casa, ia

pro hospital... Aí eu comecei aqui, aí parou! Quando eu vim pra cá eu já

nem andava, andava de cadeira de rodas. Aí começaram aqui a me

movimentar, fazer exercício, aí foi que eu larguei a cadeira de rodas... Ainda

tá em casa, claro, mas eu não uso. Deixa pra lá! O dia que precisar... mas

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eu não, eu não usei mais... Porque eu revivi daqui, por isso que eu venho

sempre.

Embora o resultado do BDI tenha indicado grau leve de depressão, em sua

fala ele demonstra não ter preocupação em relação às suas doenças e se

considera uma pessoa “contente com a vida”:

Olha eu, com essas doenças todas que eu tenho, eu me sinto satisfeito da

vida... eu não me preocupo com elas... é preocupante, mas eu não! Eu me

conformo... me conformei, entende? Sou conformado... deu e deu. O erro

foi meu, né, de ter fumado tantos anos.

Também afirma não sentir culpa, mesmo sabendo que o enfisema pulmonar

foi ocasionado pelo uso do tabaco:

Não, culpado eu sei que eu sou... agora, preocupado, não, não... sou

contente da vida... to levando a vida como diz outro.

Participante 07

Homem, 72 anos de idade, reside com a filha, trabalha numa loja de cristais

(8 horas diárias), tem diagnóstico de bronquiectasia há 22 anos. Seus escores do

BAI e do BDI foram, respectivamente, 3 e 5, indicando grau mínimo para

ansiedade e depressão. Submete-se há tratamento fisioterápico há 2 anos.

O participante conta que, em 1986, quando trabalhava numa fábrica de

móveis, teve hemoptise (expectoração sanguínea através de tosse),

provavelmente devido a seu contato constante com solventes e com vários

colegas tabagistas. Na época, o médico afirmou a sua ex-esposa que ele só teria

mais 6 meses de vida. Posteriormente ele buscou outro médico que, então, lhe

deu o diagnóstico de bronquiectasia.

Quando questionado sobre seu conhecimento acerca da doença, ele relata:

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Eu sei o seguinte, que eu não posso fazer cirurgia e não posso fazer

transplante, porque ele é bem fininho, o pulmão, né...

Além disso, o participante demonstra ter conhecimento sobre alguns tipos

de tratamento. Conta que fez uma punção pulmonar e, nesta época, emagreceu

6kg, por isso recebe acompanhamento de uma nutricionista. Ele não faz uso de

medicação. Conta também que só teve conhecimento sobre o tratamento

fisioterápico quando esteve internado no hospital e foi atendido por um estagiário,

que lhe indicou um médico para encaminhá-lo para a Clínica de Fisioterapia. O

participante relata que percebeu melhoras após o início do tratamento

fisioterápico, há 2 anos, e que sente a diferença quando não o recebe no período

de férias escolares:

Agora que eu fiquei uns tempinhos sem vir, que a UNIVALI tava de férias

né, aí alterou porque são 2 semanas, 3 semanas que eu não fiz o

tratamento, aí eu senti!

Este participante conta que não mudou sua rotina após adquirir a doença.

Ele continuou trabalhando normalmente, tanto que trabalha até hoje. Ele conta

que procura apenas não fazer muita força carregando peso. Conta também que só

sente falta de ar quando fica resfriado ou quando sobe escada.

Quando questionado sobre o que sente em relação à sua doença, ele

demonstra uma certa preocupação, mas parece buscar na fé e em algumas

atividades de lazer uma fuga para que estas preocupações não aumentem , como

relata:

Eu só peço a Deus pra me ajudar e me proteger... um dia a gente tem que ir

mesmo, né, então...eu fico tranqüilo! Quando chegar a hora a gente vai,

então... aproveita um pouco. Eu trabalho, ocupo minha cabeça... em casa

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tem computador (...) eu fico vendo televisão e, fico vendo ali... aí pego meu

computador, começo a jogar “Paciência” pra passar um tempinho aí...

Participante 08

Homem, 49 anos, reside com esposa e dois filhos, trabalhou no setor de

limpeza numa universidade durante 3 anos, após sofrer intoxicação foi transferido

para o setor de jardinagem e atualmente está afastado. Seus escores do BAI e do

BDI foram, respectivamente, 12 e 26, correspondentes a níveis leve, para

ansiedade, e moderado, para depressão.

Este participante adquiriu bronquite asmática há 4 anos e meio, após sofrer

uma intoxicação com produtos químicos durante o trabalho. O participante relata

que fumou durante 14 anos, mas que não havia aparecido nenhum sintoma antes

da intoxicação. Afirma ter também uma predisposição genética para o

desenvolvimento de bronquite asmática:

Eu me intoxiquei com produto químico aí eu adquiri uma bronquite

asmática, mas a minha tendência, assim, eu tinha um coisa pra ter

bronquite, né... mas daí a intoxicação desencadeou a bronquite.

Como citado anteriormente, o participante trabalhava em uma universidade

no setor de limpeza. Ele fazia a limpeza dos banheiros e das salas de aula,

usando cloro e solventes, sem máscara e com as portas e janelas fechadas, sobre

o dia em que sofreu a intoxicação, ele conta:

Eu trabalhei 3 anos assim, aí um dia o encarregado mandou eu passar

cloro puro na parede das salas, e eu tinha sete salas pra fazer isso. Quando

chegou na terceira sala eu não falava mais, trancou tudo, aí levaram pro

pronto socorro. Aí fiquei 3 dias em casa, né e voltei pro trabalho, normal, aí

eu sentia que quando eu subia escada, não conseguia mais subir a

escada... mas como que tá acontecendo, né? Aí eu desconfiei, “mas eu tô

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muito cansado”... aí eu fui no médico né, no especialista. Aí chegou, bateu

o coiso lá e disse “não, é bronquite asmática” que o produto químico

desencadeou, né...

Quando questionado sobre a doença em si, o participante demonstra não

ter muito conhecimento, restringindo-se àquilo que vive em seu dia-a-dia:

Ah... ela é ruim, né... que às vezes fica muito atacado, tem época que eu

fico atacado que a respiração é ruim, né... e é horrível, né... essa doença é

horrível. Você não pode dar uma caminhada que já cansa, subir uma

escada já cansa... e vai daí por diante, né.

Em relação aos tratamentos existentes para bronquite asmática, ele relata

as informações que recebeu de seu médico e demonstra ter ciência da

cronicidade de sua doença:

Pelo que o doutor me falou isso aí que eu tenho é só manter, né, porque

cura não tem mais. Essa minha bronquite asmática não tem mais cura, né...

Ficou crônica no caso, né. Esse remédio eu vou tomar pelo resto da vida e

manter a fisioterapia ajuda um pouco.

Este participante iniciou o tratamento fisioterápico logo que recebeu o

diagnóstico clínico e o faz há 4 anos. Ele demonstra certo conhecimento sobre o

tratamento que recebe e relata sua melhora:

Eu consigo dormir melhor à noite quando eu faço fisioterapia, que abre

meus brônquios aí aquela inalação, aquelas coisas ali, quer dizer, eu

consigo ficar melhor né, por isso que eu não saí da fisioterapia até hoje.

Quando chega no fim do semestre que eu fico dois, três meses sem fazer

fisioterapia aqui, eu já sinto que eu fico mais ruim, né. (o tratamento

fisioterápico) Não vai me curar né, mas vai me manter melhor né, a

respiração, essas coisas.

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Assim como os outros participantes, relata mudanças em sua vida. Ele é o

mais jovem dos participantes, um homem forte que sempre foi muito ativo e

atualmente não pode fazer esforço, durante a entrevista relembra muitas vezes

este fato, como nesta fala:

(...) pegava peso, eu trabalhei 22 anos num barco de pesca, então, não

tinha nada disso... agora, de uns tempos pra cá, se eu fizer uma força... se

a mulher pede pra eu dar uma varridinha na casa já... qualquer atividade

que eu faço com esforço, vamos supor lavar um tapete, uma coisa, já fico

cansado.

Além disso, há também os cuidados excessivos com o ambiente onde ele

consegue permanecer sem que os sintomas surjam:

Agora eu não posso mais pegar uma chuva, né, se eu me molhar já me

ataca. Se eu ficar num lugar muito abafado, já fica ruim. Então eu tenho que

estar num lugar ventilado e no mesmo tempo, agasalhado.

E em relação a todas estas mudanças ele relata sentimentos de raiva e

tristeza, pois, como citado anteriormente, ele era muito ativo, tem apenas 49 anos

de idade e há 4 anos recebeu o diagnóstico desta doença que fez com que ele

parasse com todas as suas atividades, como ele afirma nesta fala:

Às vezes me dá raiva, às vezes me dá uma tristeza assim né... E, pô, eu

fazia tanta atividade e no fim a gente passa a não fazer mais aquilo que

fazia, né... isso dá raiva né...

Participante 09

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Mulher, 68 anos, aposentada, reside com o esposo. Seus escores do BAI e

do BDI são, respectivamente 29 e 14, correspondentes a graus moderado e leve

para ansiedade e depressão. Ela recebeu diagnóstico de bronquite asmática há 4

anos e submete-se há tratamento fisioterápico há 2 anos.

Quanto aos conhecimentos que esta participante tem acerca da doença, ela

conta:

Ah, esse meu é asmático e acho que não sara, né! O doutor fala que esse

remédio que ele dá aqui é só pra bronquite dormir... pra não atacar né! (...)

Acho que não sara! Ele não quis falar, mas pelo jeito né... porque eu falei

pra ele que ficava sem tomar remédio e ele disse que é pra tomar direto

que ela (a bronquite) tem que estar sempre dormindo, que se ela acordar

né!

Ela relata também que o médico não lhe informou se a bronquite é crônica

ou não, mas ela sabe que é, pois ela não pode para de tomar os remédios.

Quanto à origem da doença, ela relata:

Foi da pneumonia que deu em mim. (...) Tem 4 anos. Daí que deu

bronquite.

A participante fumou durante 50 anos e relata que parou há quase vinte

anos, mas ela não relaciona o tabagismo à causa da doença. Em relação aos

tipos de tratamento existentes para bronquite, ela não conhece outros além

daqueles aos quais se submete (fisioterápico e farmacológico) e, quanto ao

tratamento fisioterápico, ela relata:

Ah...aqui é bom, porque faz tudo quanto é coisa, alivia bastante, aí não

ataca igual antes de eu fazer fisioterapia... eu ficava passando mal que só

vendo!

Em relação à adesão ao tratamento, ela relata que até hoje é difícil:

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É difícil, até hoje é difícil né... tem que aceitar né... quer fazer as coisas e

não pode fazer, né...

Nesta fala a participante relata sobre não poder fazer algumas coisas e o

quanto sua vida mudou desde que adquiriu bronquite:

Ah... mudou não foi coisa boa, não, porque... não posso tomar vento, não

posso tomar sol, se eu pego um vento eu fico gripada, se eu tomo sol fico

com dor na cabeça...(risos) ai meu Deus do céu! (risos) (...) Agora eu não

posso fazer quase nada! Até pra andar eu canso!

Ela conta que, mesmo com o cansaço frequente, faz os serviços de casa,

sempre descansando quando sente falta de ar. Quando questionada sobre o que

sente em relação a todas estas mudanças, ela ri e conta que já se acostumou à

situação:

Já concordei... (risos)... tem que fazer o que, né? Não tem jeito!

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5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Conforme apresentado no capítulo anterior, percebe-se que os participantes

desta pesquisa, de um modo geral, possuem pouco ou nenhum conhecimento

acerca da DPOC e dos tratamentos existentes. Os participantes 01 e 05, por

exemplo, passaram mais de 10 anos submetendo-se apenas ao tratamento

farmacológico, sem ter conhecimento sobre outros tipos de tratamento. Apenas P-

03 acredita que sua doença não é crônica mesmo tendo recebido esta informação

de seu médico, mas isso se deve ao fato de seu conceito sobre cronicidade ser

distorcido.

Segundo Santos e Sebastiani (1996), o paciente crônico, ao receber o

diagnóstico, defronta-se com uma nova situação que lhe exigirá muitos esforços

pra adaptar-se à vida com a doença e, para tanto, é necessário que o paciente

busque conhecer e aceitar a enfermidade que lhe acomete.

Neste sentido, mesmo tendo pouco conhecimento acerca da DPOC, parece

que o fato de saber que a doença é crônica e que o tratamento serve apenas para

amenizar os sintomas traz resultados positivos para a adesão ao tratamento. Além

disso, outro ponto relatado pela maioria dos participantes foi o fato de os sintomas

serem extremamente incômodos e frequentes, portanto, a adesão ao tratamento

acaba sendo quase inevitável. Dos 9 participantes, apenas P-02 não aderiu

completamente ao tratamento, pois não parou de fumar.

Outra constatação apontada pelo estudo refere-se às mudanças na vida

destes participantes em decorrência dos sintomas da DPOC. Apenas 2

participantes não relataram este fator como o mais importante (P-02 e P-07). Os

outros 7 participantes enfatizaram esta questão, relatando dificuldades para

realizar tarefas corriqueiras. O fato de não conseguir realizar pequenas tarefas

como lavar roupa, varrer a casa ou até mesmo tomar banho sozinho parece ser o

maior causador de sofrimento psíquico. Esta dificuldade para realizar tarefas

cotidianas é característica comum em pacientes que se encontram em fase mais

avançada da doença, como citado anteriormente nos capítulos 1 e 2, e ocorrem

devido a presença constante da dispnéia (Associação Brasileira de Portadores de

DPOC,2008 ; LEE & CELLI, 2000; NASCIMENTO, 2006).

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Em relação às causas da DPOC, surge um dado importante: dos 9

participantes, 7 são ou foram tabagistas e 2 (P- 01 e P- 07) conviviam com

tabagistas. Os participantes 04, 08 e 09 fizeram uso do tabaco durante 23, 14 e 50

anos, respectivamente, mas nenhum deles relaciona o tabagismo à causa da

doença. Porém, sabe-se que o tabagismo é responsável por um risco estimado de

80% a 90% no desenvolvimento de DPOC e que a doença acomete cerca de 15%

a 20% dos tabagistas (Associação Brasileira de Portadores de DPOC, 2008).

O presente estudo investigou a prevalência de depressão e ansiedade e,

nas respostas obtidas através do questionário de levantamento de dados,

observou-se a presença de distorções cognitivas. Beck et al. (1997) enumeraram

uma lista de distorções cognitivas e nela pode-se encontrar a inferência arbitrária,

que refere-se a extrair uma conclusão específica sem evidências que sustentem

esta conclusão ou quando existe uma evidência contrária à ela. Esta distorção

está presente no conceito que P-03 tem sobre cronicidade. Seu médico lhe

informou que sua doença é crônica, porém ela afirma que não, pois o diagnóstico

foi dado há apenas 4 meses (embora os sintomas já existam há mais tempo).

Além disso, segundo Straub (2005), ao receber o diagnóstico de uma

doença crônica, as pessoas tendem a reconstruir a informação recebida,

integrando-a as crenças que elas já possuem sobre saúde ao invés de mudar sua

estrutura de conhecimento.

O modelo cognitivo da depressão, segundo Beck et al. (1997), conceitua a

tríade cognitiva. Os três elementos deste conceito explicam porque a pessoa

deprimida sente-se inferior, incapaz, possui uma visão distorcida de seu ambiente

e acredita não ter recursos suficientes para modificar sua situação atual,

garantindo um futuro melhor (LIMA et al, 2004).

O primeiro componente da tríade diz respeito à visão negativa que o sujeito

tem de si mesmo (BECK et al,1997). Foi possível observar este componente em

duas participantes (P-01 e P-03) e a visão negativa estava relacionada à velhice.

Nos outros participantes não foi possível observar este componente em suas

falas.

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Já o segundo componente da tríade cognitiva diz respeito à forma negativa

pela qual o indivíduo encara suas experiências atuais (BECK et al,1997). Neste

aspecto foi possível encontrar várias falas comuns a 4 participantes (P-01, P-03,

P-05, P-08). Estas falas eram relacionadas às limitações decorrentes dos

sintomas da DPOC (dificuldades para realizar tarefas simples) que, para eles,

parecem ser intransponíveis. Em contrapartida, os outros 5 participantes

encontram-se em situações diferentes. P-02 e P-07 afirmaram não ter muitas

limitações. Os 3 participantes restantes sofrem várias limitações, porém buscam

enfrentá-las de diversas formas (p. ex.: saindo para caminhar para não “pensar

besteira”, limpando a casa mais devagar e descansando sempre que necessário,

etc.).

O último componente da tríade cognitiva está relacionado à visão negativa

que o indivíduo tem em relação ao futuro, pois não acredita ter recursos

suficientes para modificar sua situação atual (BECK et al,1997; LIMA et al, 2004).

Neste sentido, foi possível encontrar algumas questões em comum nas falas dos

participantes 01, 03, 05, 08 e 09. De um modo geral, estes participantes relatam o

quanto esta doença é “horrível” e limitante, pois não tem cura e eles não se

sentem capazes de lutar contra ela. Assim, o que fazem é recorrer à fé.

Nos parágrafos acima ficou evidente que estes participantes diferem entre

si na forma como reagem frente à DPOC e às adversidades impostas por ela.

Enquanto alguns procuram não se preocupar e apenas tomar os cuidados

necessários para manter um quadro clínico estável, outros passam o tempo todo

preocupados e apreensivos em relação ao futuro, correndo o risco de desenvolver

um quadro psicopatológico.

Neste sentido, Falcone (2001a), confirma que as pessoas diferem quanto à

percepção e à reação frente a eventos como estes. E, para tanto, as variáveis

individuais têm papel fundamental. Estas variáveis são compostas pelas

vulnerabilidades biológica e psicológica que, unidas a um evento ansiogênico,

aumentam a probabilidade de um indivíduo desenvolver um transtorno de

ansiedade.

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A ansiedade, assim como a depressão, também é marcada por distorções

cognitivas, dentre elas estão a superestimação de uma probabilidade e o

pensamento catastrófico (KAPCZINSKI e MARGIS, 2004). Estas distorções foram

pouco encontradas nas falas dos participantes, cabendo destacar aqui a

participante 01 que enfatizava seu medo e apreensão quanto ao futuro.

Shinohara e Nardi (2001) trazem o conceito de antecipação cognitiva do

perigo, caracterizada pela preocupação. A preocupação é uma tentativa de

solucionar mentalmente os problemas que afligem o indivíduo. Alguns

participantes (P-02, P-06 e P-09) relataram não ter preocupação alguma em

relação à sua doença, pois sabem que isso não resolveria seu quadro clínico ou

então porque já se conformaram com a situação, como relataram P-06 e P-09.

Ainda que não tenha sido constatado nas falas dos participantes indícios de

uma sintomatologia que sugira um quadro depressivo ou um quadro de ansiedade,

foi possível resgatar sentimentos de apreensão, algumas distorções cognitivas, o

desconhecimento acerca da doença e a perda da autonomia decorrente do

aparecimento da doença crônica em suas vidas. Estes resultados, de certa forma,

confirmam dados encontrados na literatura que relacionam uma maior propensão

ao desenvolvimento de depressão e ansiedade em pessoas com doenças

crônicas, especialmente pneumopatias (CARVALHO et al.,2007).

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa foi realizada com 9 participantes diagnosticados com

DPOC e os resultados obtidos através da análise dos questionários são coerentes

à maioria dos escores obtidos através da aplicação do BAI e do BDI, visto que não

foi encontrada nenhuma sintomatologia de depressão ou ansiedade de maior

relevância. Ou seja, 6 participantes obtiveram grau mínimo de ansiedade, 2

obtiveram grau leve e 1 obteve grau moderado. Quanto aos graus de depressão, 4

participantes obtiveram grau mínimo, 2 obtiveram grau leve e 1 obteve grau

moderado.

Durante a aplicação dos inventários foram encontradas algumas

dificuldades, por parte dos participantes, para compreender as opções de

respostas. Possivelmente, isto se deve ao grau de instrução da amostra, pois 2

participantes (P-01 e P-06) não são alfabetizados, 6 estudaram até a 4ª série do

Ensino Fundamental e apenas P-07 concluiu o Ensino Médio. Além disso, o fator

idade também pode ter influenciado, pois a faixa etária de 8 participantes era de

66 anos a 83 anos de idade, apenas P-08 estava abaixo desta faixa etária, com 49

anos de idade.

Quanto a análise dos questionários de levantamento de dados, esta foi

realizada à luz da Teoria Cognitivo-Comportamental e, desta forma, pôde-se

encontrar nas falas destes participantes (p. ex.: P-03)algumas distorções

cognitivas, além de visão negativa em relação a si mesmos (P-01 e P-03), à

situação que vivenciam atualmente (P-01, P-03, P-05 e P-08) e ao futuro (P-01, P-

03, P-05, P-08 e P-09). O ponto comum entre a maioria dos participantes foi a

dificuldade para realizar tarefas do cotidiano e, neste sentido, acreditam não ter

recursos suficientes para enfrentar esta dificuldade.

Com a análise dos questionários, foi possível ainda, perceber como os

participantes diferem entre si quanto a forma com que percebem e reagem às

adversidades decorrentes da DPOC. Neste sentido, também foi possível constatar

que, de um modo geral, os participantes não encontram grandes dificuldades

quanto à adesão ao tratamento. Isto pode estar associado ao fato de os sintomas

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serem extremamente incômodos e constantes no dia-a-dia, limitando-os para

quaisquer atividades que exija um mínimo de esforço, como citado no parágrafo

anterior.

Um outro aspecto levantado pelo estudo refere-se a falta de conhecimento

em relação à doença que os acomete e aos tratamentos existentes. Os

participantes apenas conhecem os tratamentos aos quais se submetem, têm

poucas informações acerca da doença e não buscam conhecê-la melhor. Quanto

ao tratamento fisioterápico, todos os participantes relataram ter percebido

melhoras desde que o iniciaram e, por isso, não deixam de fazê-lo.

Cabe destacar ainda que, embora o estudo não tenha confirmado para este

grupo a relação entre a presença de depressão, ansiedade e DPOC, algumas

falas sugerem que há indícios de sintomas depressivos decorrentes de uma

doença tão incapacitante como esta. Sugere-se neste sentido mais estudos que

possam aprofundar os fatores presentes tanto na determinação quanto no

desenvolvimento e desencadeamento de crises, bem como investigar a percepção

da família e demais pessoas que convivem com portadores de DPOC, como por

exemplo, os profissionais de saúde.

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7 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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8 APÊNDICES

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8.1. APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO DE LEVANTAMENTO DE DADOS

Dados de identificação

Nome (iniciais):

Idade:

Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

Profissão:

Reside com quem:

Tempo de diagnóstico:

Tempo de tratamento clínico:

Toma alguma medicação: ( ) Sim Qual? _______________________ ( ) Não.

Tempo de tratamento fisioterápico:

Submete-se a tratamento psicoterápico? ( ) Sim. Há quanto tempo? _____ ( )

Não.

ROTEIRO DE QUESTIONÁRIO DE LEVANTAMENTO DE DADOS

01. O que você entende por DPOC?

02. Como você acha que essa doença surgiu em sua vida?

03. Quais as mudanças que a DOPC causou em sua vida?

04. O que você sabe sobre os tratamentos existentes para a DPOC?

05. Em relação ao tratamento que você recebe na Clínica de Fisioterapia da

UNIVALI, qual sua opinião sobre o mesmo?

06. Em sua opinião existem facilidades ou dificuldades para a adesão ao

tratamento?

07. Você verificou alguma mudança na sua vida após o início do tratamento

fisioterápico?

08. Cite 5 palavras que lhe ocorrem quando você pensa em DPOC.

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8.2. APÊNDICE B - TERMO DE AUTORIZAÇÃO

O Curso de Fisioterapia da Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, na

cidade de Itajaí (SC), está ciente de que será realizada uma pesquisa intitulada “A

prevalência de depressão e ansiedade em pessoas com Doença Pulmonar

Obstrutiva Crônica submetidas a tratamento fisioterápico”, com o objetivo de

identificar a prevalência de depressão e ansiedade em pessoas com DPOC que

se encontram em tratamento fisioterápico e a percepção destas acerca da doença

e do tratamento. Os pacientes deverão responder a um questionário e aos

inventários BAI e BDI. Os dados coletados poderão ser utilizados tanto para fins

acadêmicos, quanto para publicação em eventos e/ou revistas científicas por

professores idôneos no ensino de seus alunos do Curso de Psicologia da

UNIVALI. Por serem voluntários, não terão direitos a nenhuma remuneração e os

dados referentes aos pacientes serão mantidos em sigilo.

Local: ___________________________________________ Data:__________

Assinatura (de acordo): ____________________________

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8.3 APÊNDICE C - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Gostaria de convidá-lo (a) para participar de uma pesquisa intitulada “A

prevalência de depressão e ansiedade em pessoas com Doença Pulmonar

Obstrutiva Crônica (DPOC) submetidas a tratamento fisioterápico”, cujo objetivo

geral é: identificar a prevalência de depressão em pessoas com DPOC que se

encontram em tratamento fisioterápico e a percepção destas acerca da doença e

do tratamento e, os objetivos específicos são: levantar a prevalência de depressão

e ansiedade em pessoas com DPOC que se encontram em tratamento

fisioterápico; levantar o nível de conhecimento que as pessoas com DPOC, que se

encontram em tratamento fisioterápico, possuem sobre a doença; e, investigar a

percepção que as pessoas com DPOC que se encontram em tratamento

fisioterápico têm em relação ao mesmo.

Sua colaboração consistirá em: (1) responder a um questionário de

levantamento de dados, contendo questões relacionadas ao seu conhecimento

acerca da doença e do tratamento fisioterápico que vem recebendo, bem como

sua percepção frente aos mesmos; (2) responder a um Inventário de Ansiedade e,

(3) responder a um Inventário de Depressão.

Quanto aos aspectos éticos, gostaria de informar que:

a) Seus dados pessoais serão mantidos em sigilo, garantindo seu anonimato;

b) Os resultados da pesquisa serão utilizados somente para fins acadêmicos,

podendo ser publicados em revistas especializadas, porém, como

explicitado no item (a), seus dados serão mantidos no anonimato;

c) Não há respostas certas ou erradas, o que importa é sua opinião;

d) A aceitação não implica que você seja obrigado a participar, podendo

interromper sua participação a qualquer momento, mesmo que já tenha

iniciado, bastando, para tanto, comunicar a pesquisadora;

e) Visto que sua participação é voluntária, você não terá direito a

remuneração;

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f) Durante a participação, se houver alguma reclamação do ponto de vista

ético, você poderá contatar a responsável por esta pesquisa.

Quanto aos resultados da pesquisa, estes serão repassados para cada

participante na presença da pesquisadora e da professora supervisora de

estágio na área de Fisioterapia Cardiorrespiratória.

IDENTIFICAÇÃO E CONSENTIMENTO

Eu,

__________________________________________________________________

___________________________________________________________, declaro

estar ciente dos propósitos da pesquisa, da maneira como será realizada e no que

consiste minha participação. Diante dessas informações, aceito participar da

pesquisa.

Assinatura: ___________________________________________

RG:_____________________

Pesquisadora responsável: Giovana Delvan Stühler (CRP 12/00338)

Assinatura: ______________________________

Acadêmica: Anna Paula Ibanhez Pimenta

Assinatura: _______________________________

UNIVALI – CCS – Curso de Psicologia

Rua Uruguai, 438 –Bloco 25B – sala 401

Fone: (47) 3341-7542

E-mail: [email protected]

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE PSICOLOGIA

A PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO E ANSIEDADE EM PESSOAS

COM DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA (DPOC)

SUBMETIDAS A TRATAMENTO FISIOTERÁPICO

ANNA PAULA IBANHEZ PIMENTA

Itajaí (SC), 2009