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Departamento de Estudos Anglo-Americanos e
Departamento de Estudos Portugueses e Estudos
Romnicos
A Pronncia nas Aulas de Lngua
Estrangeira
Estratgia de investigao aplicada s aulas de Ingls e
Espanhol para falantes portugueses
Ccile da Silva Leal
Professor orientador: Rogelio Ponce de Len Romeo
Professor Co-orientador: Nicolas Hurst
2010
Departamento de Estudos Anglo-Americanos e
Departamento de Estudos Portugueses e Estudos
Romnicos
A Pronncia nas Aulas de Lngua
Estrangeira
Estratgia de investigao aplicada s aulas de Ingls e
Espanhol para falantes portugueses
Ccile da Silva Leal
Licenciada em Lnguas, Literaturas e Culturas Perfil
Monodisciplinar de Ingls com Minor em outra lngua estrangeira
(Espanhol)
Relatrio Apresentado para Obteno do Grau de Mestre em
Ensino do Ingls e do Espanhol no 3 ciclo do Ensino Bsico e
Secundrio
Professor orientador: Rogelio Ponce de Len Romeo
Professor Co-orientador: Nicolas Hurst
Orientadoras de Estgio: Elisabete Melo e Cndida Grij
2010
Resumo
Este trabalho tem por inteno apresentar as reflexes e os resultados prticos
decorrentes da prtica de uma investigao-aco realizada no mbito da prtica da
pronncia no contexto do ensino de lnguas estrangeiras.
Tendo observado que a pronncia incorrecta podia representar para os alunos um
obstculo comunicao e ser uma fonte de desmotivao para eles, o mbito desta
investigao visou apresentar um mtodo de interveno docente capaz de contornar
esta dificuldade de aprendizagem.
Partindo da seguinte questo Como que exerccios centrados na pronncia
podero ajudar os alunos a sentirem-se mais confiantes nas actividades de prtica oral
em lngua estrangeira?, a estratgia docente adoptada teve por meta estudar de que
maneira uma aproximao explcita a este aspecto lingustico poderia servir para
melhorar a expresso oral dos alunos e, paralelamente, a autoconfiana destes face s
actividades de tipo comunicativo.
Abstract
This work intends to present the reflections and practical results deriving from
an action research focused on the pronunciation practice in the foreign language
teaching context.
Having observed that incorrect pronunciation could be seen as a communicative
obstacle for learners, which could also be demotivating for them, this research aimed at
presenting a possible teaching method capable of going round this learning difficulty.
Based on the following question: Can pronunciation-focused exercises help
students to feel more confident when participating in oral activities using the foreign
language?, the goal of the adopted teaching strategy was to find out how the explicit
approach to this language aspect could improve learners oral expression, as well as,
their self-confidence facing communicative activities.
A todos aqueles que estiveram por perto quando precisei deles
Agradecimentos
Aos meus pais por nunca terem deixado de crer nas minhas capacidades.
Aos meus irmos, cunhados, sobrinhos e afilhados pelo carinho e pacincia
evidenciados ao longo dos ltimos tempos.
Ao meu ye
Aos orientadores deste relatrio, Dr. Rogelio Ponce de Len Romeo e Dr. Nicolas
Hurst pela pacincia, dedicao e profissionalismo.
s minhas orientadoras de estgio, Dr. Elisabete Melo e Dr. Cndida Grij pelo apoio
e aconselhamento ao longo deste ano lectivo.
Aos meus colegas de estgio pela amizade construda e experincias partilhadas.
Aos colegas de curso pelo interesse e carinho demonstrados ao longo do percurso.
Aos alunos da Escola Secundria c/ 3 ciclo de Oliveira do Douro pela participao e
empenho ao longo do ano.
Sumrio
Introduo 1
Captulo I: Contexto de Investigao .... 5
1.1 O conceito de investigao-aco 5
1.2 Os grupos intervenientes .. 6
1.3 Observao e Diagnstico e Definio da rea de Interveno .. 6
1.4 A escolha do grupo de trabalho 9
1.5 Instrumentos de Observao: recolha de dados ... 10
1.5.1 A Formulao de grelhas fonticas ... 10
1.5.2 A Formulao de questionrios . 13
1.6 Resultados Obtidos e Respectivo Significado .. 15
1.6.1 Resultados das grelhas fonticas e respectivo significado 15
1.6.2 Resultados dos questionrios e respectivo significado .. 18
1.6.3 A aplicao do questionrio a outros grupos . 22
1.7 A aproximao dos manuais pronncia . 23
1.8 Linhas Orientadoras .. 26
Captulo II: Estado do Conhecimento na rea a Estudar 30
Captulo III: Ciclos de Interveno 34
3.1 Primeiro Ciclo .. 34
3.1.1 A primeira aula do primeiro ciclo em Ingls . 35
3.1.2 A primeira aula do primeiro ciclo em Espanhol ... 41
3.1.3 Concluses relativas ao primeiro ciclo .. 46
3.2 Segundo Ciclo .. 48
3.2.1 A primeira aula do segundo ciclo em Espanhol 49
3.2.2 A primeira aula do segundo ciclo em Ingls . 53
3.2.3 A segunda aula do segundo ciclo em Ingls . 59
3.2.4 A segunda aula do segundo ciclo em Espanhol 61
3.2.5 Concluses relativas ao segundo ciclo .. 63
3.3 Concluses relativas aos dois ciclos . 64
Captulo IV: Interpretao dos Dados 69
Captulo V: Discusso e Concluso 70
Referncias Bibliogrficas .. 75
Anexos
1
Introduo
Neste relatrio de final de estgio, o meu objectivo o de descrever e apresentar
o trabalho de investigao-aco que levei a cabo ao longo do meu percurso de
profissionalizao em ensino na Escola Secundria com 3 ciclo de Oliveira do Douro,
situada em Vila Nova de Gaia.
A pronncia foi o tema escolhido como base do meu estudo. De acordo com o
que se poder ler numa das diversas definies do termo, nomeadamente no dicionrio
online do Portugus, Priberam, o termo pronncia refere-se articulao dos sons
das letras, slabas ou palavras.1
Tendo observado as problemticas sentidas na aprendizagem nas minhas turmas
de estgio, a pronncia dos alunos pareceu-me ser um aspecto lingustico passvel de ser
explorado e melhorado em contexto de sala de aula e, nesse sentido, um terreno frtil
para o desenvolvimento da minha investigao. Sendo um elemento de lngua pouco
focalizado explicitamente nas aulas observadas, quis ver se seria possvel, por meio da
minha prtica docente, permitir que esse aspecto de lngua fosse mais regularmente
evocado e observar de que modo essa abordagem proporcionaria alguma diferena na
forma como os alunos se expressavam.
Apesar de no ser uma componente da lngua qual se d uma importncia
prioritria no contexto do ensino de uma lngua estrangeira, a pronncia um elemento
que pertence lngua e que dever ser obrigatoriamente ensinada como caracterstica
implcita da expresso oral. Citando as palavras de Daniella de Souza Bezerra:
Se considerarmos que a capacidade de expressar-se oralmente e de
compreender a expresso oral de outras pessoas so habilidades
importantssimas na aprendizagem de uma lngua estrangeira com o objectivo
de us-la para a comunicao, certamente no poderemos excluir a componente
pronncia dessa capacidade (Bezerra, 2009:18).
A pronncia, parte da vertente oral da lngua, integra a engrenagem que explica
como que uma determinada lngua falada e entendida fonologicamente. De facto,
ainda que um aluno tenha uma boa competncia lingustica a todos os nveis mas no a
1 Dicionrio Priberam da Lngua Portuguesa [em linha], 2008, retirado de:
http://priberam.sapo.pt/dlpo/sapo.aspx?pal=pron%u00fancia [consultado em 27/07/10].
http://priberam.sapo.pt/dlpo/sapo.aspx?pal=pron%u00fancia
2
tenha em termos de pronncia, pouco provvel que tenha sucesso a envolver-se num
processo de comunicao na medida em que, pelo incorrecto uso fonolgico da lngua,
o falante no ser capaz de se fazer entender, isto porque existem factores segmentais e
supra-segmentais da lngua materna ou da sua interlngua que interferem no seu
desempenho comunicativo. Como o mencionado no estudo de ngela Carvalho:
O conhecimento dos fonemas voclicos e consonantais, bem como dos
ambientes onde ocorrem e a possvel relao, seja nas semelhanas, seja nas
diferenas dos fonemas [], so conhecimentos importantes na construo de
uma aprendizagem da lngua-alvo (Carvalho, ngela et al., 2007: 248).
Nessa perspectiva, entende-se que a pronncia, para que a comunicao se
efectue, seja entendida como um elemento co-articulador da competncia comunicativa.
Por outras palavras, considera-se que no haver comunicao eficiente no contexto de
sala de aula e fora dela se esta no for acompanhada de um nvel entendvel de
pronncia.
Ora, tendo-me apercebido que vrios alunos demonstravam ter dificuldades na
produo oral da lngua e que a pronncia era, para alguns deles, motivo de obstculo
quando se queriam expressar, pareceu-me interessante tentar estabelecer estratgias que
pudessem justamente facilitar a expresso desses alunos a nvel da proficincia oral mas
tambm lev-los a sentirem-se menos angustiados face necessidade de praticar a
lngua na sua vertente oral. Para alm do mais, havia tambm detectado que a
incorreco oral prejudicava, em determinados momentos, a comunicao praticada no
contexto de sala de aula e portanto era fonte de perturbao para a interaco lingustica
praticada entre os alunos e entre os alunos e os respectivos professores. Nesse sentido,
tomei a deciso de suprir a falha analisada por meio de uma proposta de soluo: incluir
momentos, nas aulas, dedicados pronncia, que esclarecessem aspectos problemticos
e que fossem sempre aplicados a contextos comunicativos concretos.
Representada pela seguinte questo: Como que os exerccios centrados na
pronncia podero ajudar os alunos a sentirem-se mais confiantes nas actividades de
prtica oral em lngua estrangeira?, a minha interveno traduziu-se em tentar
assegurar que, ao longo das aulas que eu viesse a ter disponveis, os alunos usufrussem
de exerccios direccionados para a pronncia mais frequentes e sempre interligados com
actividades comunicativas. Pareceu-me evidente que conjuntamente a uma anlise mais
3
minuciosa dos sons, no poderia pr de parte a situao comunicativa em que os sons
so utilizados. No faria sentido promover a produo correcta dos sons se no fosse
com o objectivo de permitir que esses sons, bem pronunciados, fossem usados como
meio de melhor prtica comunicativa.
O meu interesse como investigadora era saber at que ponto, graas minha
interveno, os alunos poderiam aperfeioar a qualidade de expresso oral, diminuindo
manifestaes de pronncia incorrectas, como por exemplo as que provm da
interferncia lingustica da L1 na L2 (tendo em conta as disciplinas sob leccionao, o
Espanhol2 e o Ingls). Permitindo que os alunos se tornassem mais entendidos e melhor
informados sobre a articulao correcta da lngua estrangeira, presumi que a minha
interveno iria possibilitar que, pelo menos aqueles que se sentissem mais inibidos ao
falar, ganhassem autoconfiana e falassem com mais segurana, com menos receio de
errar.
Parti do princpio que, verificando os prprios progressos ao nvel da correco
da lngua falada, os alunos teriam uma melhor imagem deles prprios enquanto falantes
no nativos da lngua e consequentemente participariam de forma mais espontnea e
voluntria, o que por sua vez iria ao encontro das necessidades de avaliao oral
decorrentes do ensino de uma lngua.
Hoje em dia, dada a importncia atribuda prestao ora dos alunos, veja-se a
informao disponvel no site do GAVE (Gabinete de Avaliao Educacional do
Ministrio da Educao), convinha que se treinasse os alunos para uma prtica regular
da mesma:
O reconhecimento da importncia da oralidade no processo de ensino-
aprendizagem encontra-se bem evidenciado na instituio de momentos formais
de avaliao da componente da oralidade nas disciplinas de lnguas
estrangeiras, correspondente a um peso de 30% (Portaria n. 1322/2007, de 4
de Outubro). (GAVE)
Acredito que um aluno qualquer, ao aperceber-se da sua evoluo, ao dar conta
que para alm de conseguir elaborar frases estruturalmente correctas, tambm sabe
pronunciar bem a lngua, rapidamente ganhar conscincia da diminuio dos
obstculos de fala antes ressentidos, e progressivamente manifestar maior auto-
2 O termo Espanhol e Castelhano iro ser usados indistintamente ao longo do trabalho
4
satisfao face s suas prestaes e maior envolvimento nas aulas. Da mesma forma, ao
sentir que um falante nativo ou pessoa entendida na rea da lngua em questo no
estranha a produo da lngua do aluno, este no ressentir que a sua identidade,
enquanto falante no nativo, desmascarada e intuitivamente orgulhar-se- da sua
capacidade de adaptao no s lngua como sociedade que lhe associada.
Assim sendo, perspectivei que uma boa forma de incluir e provar a pertinncia
de abordagens mais centradas na pronncia seria aliar momentos de anlise formal da
lngua a momentos de prtica comunicativa. Estudos j elaborados, nomeadamente por
Noteboom revelaram que a produo da fala afectada pela percepo que cada aluno
tem da fala. Nessa lgica, quanto melhor o aluno percepcionar o sistema fonolgico da
lngua, melhor ser capaz de reproduzi-lo. Este facto ilustra como importante integrar
a pronncia nas actividades comunicativas. Ao comunicar, o aluno v-se forado a
percepcionar oralmente a lngua e produzir oralmente a lngua, a recepcionar e articular
a pronncia que caracteriza a identidade da lngua que pretende aprender.
Consequentemente, envolvendo-se nas diversas situaes comunicativas, o aluno
adquire a possibilidade de desenvolver a sua pronncia quer pela audio como pela
expresso (Noteboom, 1983: 183-94, citado por Otlowski, 1998).
Convm salientar que a noo de pronncia correcta aplicada a cada uma das
lnguas em estudo corresponder ao longo da exposio do trabalho norma de
prestgio de cada uma das vertentes lingusticas (no caso do Espanhol, a variante
predominante do centro da Pennsula, usada tambm pelos meios de comunicao; e, no
caso do Ingls, o Standard English e Standard US English, forma do Ingls
estandardizada e considerada norma nacional).
No entanto, embora se mencione repetidamente a noo de pronncia correcta
ou incorrecta, esta sempre aplicada luz daquilo que seria entendido como bem ou
mal pronunciado de acordo com as caractersticas da norma padro que se toma como
modelo de ensino.
Alis, a cada passo de esclarecimentos relativos pronncia, o professor no
poder deixar de frisar que a variante de prestgio s uma opo entre as outras
variaes lingusticas que correspondem respectiva lngua e que esta em nada dever
ser vista como superior ou mais correcta de que as restantes. (Poch, 1999: 53-60)
5
Captulo I - O contexto de investigao
1.1 O conceito de investigao-aco
Sabendo que este estudo foi realizado no decurso da minha primeira experincia
enquanto docente, partindo de um nvel profissional em fase inicial, tanto como
professora como investigadora, que dei forma investigao-aco que aqui apresento.
Assim sendo, numa primeira etapa, pareceu-me mais sensato lanar-me na pesquisa e
entendimento das implicaes que tal projecto acarretaria para que me conseguisse
organizar e perspectivar em que consistiria o meu trabalho.
Com as tcnicas de investigao-aco que pouco a pouco fui descobrindo e
progressivamente nos foram detalhadas e esclarecidas pelos professores responsveis
pelas cadeiras que acompanham o estgio, tivemos a oportunidade de reflectir sobre os
factores profissionais que nos rodeiam, e inferir possibilidades de melhorias partindo
das carncias educativas com as quais fssemos contactando. Por outras palavras, tendo
por base a realidade objectiva com a qual iramos estar a trabalhar quotidianamente, a
sala de aula, poderamos indicar as falhas que representam pontos menos positivos no
contexto de ensino-aprendizagem e elaborar mtodos de anlise e levantamento de
dados que gradualmente nos permitissem dar forma a planos de superao das falhas
encontradas partida e alcanar, ou no, os objectivos que visvamos atingir com o
nosso plano de interveno. Atravs deste processo de observao e consequente aco
por parte do docente, este tipo de investigao engrenar-se-ia mecanicamente numa
espiral auto-reflexiva, num processo de constante auto-anlise em que seriam
balanados os prs e os contra da execuo do plano estruturado pelo docente e ao
consequente constante aperfeioamento do mesmo plano, na perspectiva de aproximar-
se cada vez mais dos objectivos pr-definidos (Wallace, 1998: 16-17). Deste modo, este
tipo de investigao entendido como um estudo de incessantes ciclos de retoques
que viabilizam incessantemente a concretizao dos objectivos por fora da observao
e reflexo de quem lida com esse projecto e pretende obter determinados resultados. A
investigao-aco resume-se ento a uma sequncia de diferentes momentos, ciclos de
actividades, que se centram, e seguindo sempre esta ordem, em identificar um problema,
fazer um levantamento de dados sobre o dito problema, elaborar uma estratgia focada
nesse problema, testar a estratgia colocando-a em aco, observar os resultados dessa
estratgia e, consoante a satisfao decorrente deste ciclo inicial, redefinir aspectos que
6
necessitem refinamento e dar lugar a um novo ciclo que corresponda aos mesmos
passos atrs descritos (Wallace, 1998: 16-17).
1.2 Os grupos intervenientes
Como o nome indica, a Escola Secundria com 3 ciclo de Oliveira do Douro,
continha alunos quer do 3 ciclo, o que abarca alunos do 7, 8 e 9 ano, como alunos do
secundrio, constitudo por alunos de 10, 11 e 12.
O nosso ncleo de estgio, orientado pela professora Cndida Grij, na vertente
inglesa, e Elisabete Melo na vertente espanhola, tendo em conta o horrio atribudo a
ambas as professoras, era constitudo dos seguintes grupos e nveis: o 7 B, 10B e
12A/B/C (o equivalente a uma turma s) no que diz respeito ao Ingls; e, no que diz
respeito ao Espanhol, o 7 B (a mesma turma j identificada na vertente do ingls), 8
A/B (correspondente a uma s turma tambm) e o 10 C.
O nmero de alunos de cada turma era bastante variado. O 7 B contava com 27
alunos, o 10 C 23 alunos, o 10 B e o 12 contavam com um total de 15 alunos e o 8 de
Espanhol um total de 8 alunos. Relativamente aos nveis de lngua, as turmas de
Espanhol eram todas de iniciao, nvel 1, com a excepo do 8 ano, cujos alunos j
tinham tido a disciplina de Espanhol no ano lectivo anterior. As turmas de Ingls
correspondiam aos nveis 3, 6 e 8 de Ingls, consoante os respectivos anos de estudo: 7,
10 e 12 (correspondentemente, o 7 tinha o nvel 3, o 10 o nvel 6 e o 12 ano o nvel
mais elevado, o nvel 8).
1.3 Observao e Definio da rea de interveno
A minha funo como observadora/investigadora iniciou-se concretamente no
dia em que comecei a assistir s aulas das nossas orientadoras, no dia 18 de Setembro de
2009. Desde ento, foi meu objectivo localizar uma possvel rea de interesse que
viabilizasse algum estudo nos contornos de uma investigao-aco. Tal tarefa desde
cedo se revelou complexa, nomeadamente devido obrigatoriedade de aplicarmos o
mesmo estudo aos dois contextos de lngua, ao Ingls e ao Espanhol, e a nveis de
aprendizagem que fossem o mais homogneos possvel. Por exemplo, ainda que
encontrasse possveis aspectos de realce numa turma, esses mesmos poderiam no
existir ou ser observveis noutra turma, na outra lngua. Ou, ainda que verificasse algo
de interesse numa lngua, a turma em questo poderia no ter correspondncia de nvel
7
ou de faixa etria na vertente da outra lngua. A ttulo de exemplos mais concretos, ao
passo que numa turma como o 8 ano de Espanhol, os alunos evidenciavam, nas suas
participaes orais, problemas de timidez, nas turmas de Ingls em geral, a timidez no
era to evidente e generalizada. Paralelamente, uma turma com apenas oito alunos,
como era o caso do 8 ano de Espanhol, no era uma populao-alvo suficientemente
representativa e verosmil para a tipologia de estudo pretendido. No poderia extrair
qualquer tipo de ilao credvel partindo de uma turma de oito alunos. Os resultados
obtidos poderiam ser assumidos como impraticveis em turmas de tamanho considerado
normal (as quais normalmente rondam os 25 alunos).
Na deteco de possveis factores que se enquadrassem em temticas de
investigao, no entanto, ajudaram a persistncia de observao e questionao, as
conversas com as orientadoras, supervisores de cada lngua e colegas de estgio e
tambm as fichas de observao que nos acompanharam ao longo do primeiro contacto
com as turmas de estgio. Contudo, apesar do aparente largo espectro de escolha, foi, no
meu caso, necessrio batalhar um certo tempo at que me sentisse finalmente preparada
para lanar-me e dedicar-me numa s rea de pesquisa. Como Michael Wallace o reala
na sua obra dedicada ao entendimento do processo de investigao-aco Action
Research for Language Teachers: () o sucesso ou o insucesso pode ser determinado
pelo tpico seleccionado e pelo modo como o desenvolvemos. (Wallace, 1998)3 Fruto
da minha observao quotidiana, todavia, em meados de Novembro, tendo j
experimentado a oportunidade de encarregar-me da planificao e concretizao de
aulas, fui capaz de enumerar alguns campos de possvel investigao directamente
relacionados com as turmas atribudas. Entre as possveis temticas encontravam-se as
seguintes: a inibio de determinados alunos face ao acto de fala em lngua estrangeira,
a prtica de leitura inexpressiva, a frequente ocorrncia de erros de escrita e, por fim, a
pronncia incorrecta.
Relativamente inibio, depressa verifiquei que a grande maioria dos alunos,
em qualquer nvel superior ao do 8 ano, ou seja, da faixa etria que ronda os 15 anos de
idade em diante, quer eles se enquadrassem num 8, 10 ou 12 ano, manifestavam uma
espcie de vergonha intrnseca na hora de se expressarem na lngua estrangeira.
3 Todas as citaes escritas, originalmente, em lngua estrangeira foram traduzidas para o Portugus
8
A leitura inexpressiva reflectiu-se de forma geral em todas as ocasies em que se
solicitava que os alunos lessem, fazendo das suas leituras momentos de pura
articulao, praticamente monocrdica, de palavras.
No que se refere aos erros de escrita, este fenmeno era evidente em todos os
anos, em todos os nveis e em ambas as lnguas. No entanto, tal situao era mais
alarmante na expresso escrita dos alunos de nvel avanado, como o caso dos alunos
de 12 ano de Ingls. Estes alunos, apesar de serem, em maioria, bons alunos, eram
capazes de cometerem erros de escrita elementares. Usavam, por exemplo, wout em
vez de wouldnt, omitiam o sujeito das frases como demonstra o inicio de frase: Is
better to em vez de It is better to, usavam easely em vez de easily ou this
em vez de these, entre outros erros semelhantes.
Por fim, nos casos de pronncia incorrecta, a incorreco lingustica revelou ser
algo transversal a todas as turmas, embora de diferentes tipos em cada uma delas e
numas sendo erros de pronncia mais inesperados do que noutras. mais expectvel
ouvir erros de pronncia em turmas cujo nvel de lngua mais baixo, tendo em conta o
recente contacto com a lngua, do que nos nveis mais avanados, em que os alunos j
tiveram tempo para adequarem e praticarem a expresso oral de acordo com o sistema
fonolgico da lngua em questo.
Tendo em conta as consideraes descritas acima, verifiquei que mais do que
aspecto de estudo assinalado como possvel rea de investigao estava relacionado
com a produo oral (a timidez da fala, a leitura inexpressiva e a pronncia), e comecei
ento paulatinamente a direccionar-me para essa vertente e a interrogar-me sobre qual
das possibilidades seria mais vivel, tendo em conta as lnguas e os nveis com os quais
iria trabalhar. Por fim, por questes de preferncia, o ramo da pronncia acabou por ser
o meu predilecto tendo em considerao tratar-se de uma faceta da lngua directamente
implcita na produo oral e na boa comunicao de um falante no nativo.
Contudo, embora tivesse chegado a uma concluso quanto temtica sobre a
qual iria estar focalizada a minha investigao, cheguei rapidamente concluso que
deveria definir com muita exactido o que visava comprovar e o que que, atravs da
minha aco, visava alcanar. Embora os meus conhecimentos de pronncia,
nomeadamente de fontica, fossem razoavelmente bons relativamente ao Ingls, nunca
tinha tido qualquer contacto com aulas propriamente ditas de pronncia e fontica
espanhola. Assim sendo, tendo conscincia das minhas limitaes, procurei direccionar
9
a minha ateno para aspectos da pronncia que eu poderia facilmente gerir e trabalhar
usando os meus conhecimentos.
Reconhecendo ento que os aspectos de pronncia que havia detectado at ento
centravam-se em sons isolados que causavam problemas no entendimento das palavras,
ocorreu-me desde logo que seria til e interessante restringir o meu campo de
investigao-aco ao plano da produo dos sons ao nvel das palavras.
1.4 A escolha do grupo de trabalho
Estabeleci que a turma do 7 B, a que tinha ambas as disciplinas, quer o
Espanhol, quer o Ingls, seria uma boa opo de populao-alvo para a minha
investigao, tendo em conta a garantia de homogeneidade exigido para a comparao
do estudo entre as duas lnguas, o nmero de alunos que a compunha (era a turma que
possua mais alunos), a temtica abordada e o conhecimento dos alunos da mesma, as
etapas que teriam de ser concretizadas para a formulao correcta da minha pesquisa-
aco e o tempo disponvel de aulas para que essas fossem garantidamente
concretizadas.
Soube, com a devida antecedncia, que o 7B era uma das turmas onde eu iria ter
a oportunidade de dar mais aulas no contexto do estgio, quer no segundo perodo, quer
no terceiro, e no mbito das duas lnguas (esta turma tinha a particularidade de ter-nos
como estagirios quer nas aulas de Ingls, quer nas aulas de Espanhol). Era, portanto,
um grupo onde asseguradamente poderia pr em prtica o projecto de investigao-
aco. Para alm desse facto, o 7 B era a turma com o nvel de contacto com a lngua
estrangeira mais baixo em comparao com as restantes turmas (8, 10, e 12) e,
portanto, o menor conhecimento de lngua e de pronncia da mesma e, nesse sentido,
um grupo onde eu teria previsivelmente menos dificuldades em abordar as questes de
pronncia, pelo menos um grupo onde os vcios de pronncia seriam praticamente
inexistentes ainda.
Quanto necessidade de seleccionar uma turma para cada lngua com nveis de
lngua homogneos, de forma a credibilizar os resultados entretanto obtidos, ainda que
tivesse seleccionado uma turma de 7 para cada lngua (a mesma turma, o 7 B), o nvel
de lngua de Ingls/Espanhol no correspondia exactamente ao mesmo. Embora estes
alunos estivessem inseridos no nvel 1 a Espanhol, num nvel, portanto, inicial, um nvel
que contacta pela primeira vez com a lngua; eram, no que toca ao Ingls, uma turma de
10
nvel 3, e portanto, uma turma que estudava pelo terceiro ano consecutivo a lngua
inglesa. Assim sendo, ainda que os dois nveis de lngua no fossem totalmente
correspondentes, ambas as vertentes de aprendizagem se posicionavam num nvel
introdutrio de aprendizagem, e, na minha perspectiva, num patamar relativamente
igualitrio no que se refere aos nveis de progresso da aprendizagem de uma lngua
estrangeira.
O nico aspecto que, a meu ver, poderia causar problemas quanto escolha
desta turma como grupo de trabalho, era o facto de ter escolhido a mesma turma para as
duas lnguas. Contudo, este pormenor no me pareceu problemtico visto que iria
trabalhar com ela de forma distinta no curso da investigao e, pelo menos a sua
seleco assegurava a relativa homogeneidade preferencial para este tipo de estudo.
Alis, para resolver a falta de contraste desta turma com outra constituda de alunos
possuidores de caractersticas de idade, nveis e caractersticas de aprendizagem
semelhantes, determinei que seria suficiente contrastar, sempre que possvel, os
resultados obtidos nesta turma com outras que no pertencessem ao ncleo de estgio,
turmas que no pertencessem s turmas sob a responsabilidade das nossas orientadoras.
Desta forma, estabeleceria um paralelo de comparao com outros alunos com as
mesmas caractersticas e poderia dar mais fora aos resultados analisados.
A verdade que, as alternativas escolha desta turma no eram muitas. Teria,
por exemplo, existido um fosso bem maior em termos de disparidade de nvel de lngua
na eventualidade de ter seleccionado as duas turmas de 10 ano tambm pertencentes ao
ncleo. O 10 C de Espanhol enquadrava-se no nvel 1 (nvel de iniciao lngua) e, no
contexto do Ingls, os alunos do 10 B encontravam-se num nvel 6 (uma aprendizagem
correspondente a 5 nveis acima).
1.5 Instrumentos de Observao: recolha de dados
1.5.1 A formulao de grelhas fonticas
Partindo da ideia de me debruar sobre os sons na produo de palavras e no
sentido de recolher dados suficientes que comprovassem que os alunos tinham
dificuldades nesta rea, ainda antes de ter designado o grupo de trabalho sobre o qual
me iria debruar ao longo do ano, elaborei umas grelhas nas quais, por meio de
transcries fonticas dos erros cometidos pelos alunos, pude recolher informaes
concretas sobre as dificuldades e carncias sentidas perante a pronncia de
11
determinadas palavras. de referir que nas referidas grelhas, apresentadas abaixo, os
erros fonticos transcritos correspondem a erros que efectivamente foram extrados das
aulas e recorrem, na sua maioria, aos smbolos fonticos do AFI (alfabeto fontico
internacional).4
Exemplo grelha de sons voclicos Ingls5
Data: 22.01.10
Exemplo grelha de sons voclicos Espanhol78
Data: 15.01.10
4 retirado da pgina do instituto Cames [em linha]:
http://cvc.instituto-camoes.pt/cpp/acessibilidade/capitulo2_1.html [consultado em 15/09/10] 5 As transcries correctas das palavras acima descritas seriam as seguintes: machine: ;company: ;photografy: AmE /BrE; automobile: ;mentioned: ;fixed: ;showed: AmE / BrE 6 Nas tabelas reais, os nomes dos alunos surgem conforme a lista de alunos. Os nomes so omitidos aqui para evitar
qualquer tipo de identificao no autorizada. 7 As transcries correctas das palavras acima descritas seriam as seguintes: pasillo: [i; profesor:
[o; eso [e; especialmente: e; stano: [otano] 8 As transcries fonticas do Espanhol apoiam-se nos smbolos sugeridos por Quilis & Fernandez (1996)
9 Quando dois smbolos fonticos aparecem como modelo para o mesmo som, tal significa que se apresenta as duas
variantes alofnicas da mesma vogal. Contudo, na minha aproximao pronncia, no espero que os alunos faam a
diferena entre os alofones dos sons, s os apresento para fazer as distines exactas dos sons.
Ingls/10B [] [] [:] []
see cup got saw about
Aluno A6
[m
machine
[k
company
fixed
Aluno B
[k
keyboard
[
showed
Aluno C
[
photography
[
automobile
mentioned
Espanhol/7B []/ []9 []/ [ / [] [i] [u]
malla/ palma ese/remo vamos/costa grita muco
Aluno A
[e
eso
Aluno B
[psi
pasillo
o
profesor
Aluno C
[e
especialmente
[so
stano
http://cvc.instituto-camoes.pt/cpp/acessibilidade/capitulo2_1.html
12
Exemplo grelha de sons consonnticos Ingls10
Data: 22.01.10
Ingls/10B [] [] [h] [r] [j]
chair go just house right yes
Aluno A
which
Aluno B
[
example
[
Rambo
Aluno C
[
Egyptian
[
eighteen
[
ocular
Aluno D
[
historical
Exemplo grelha de sons consonnticos Espanhol11
Data: 19.01.10
Espanhol/10C [s] [b] []
cena seco gente vago tierra cero
Aluno A
[o
copas
[a
despejado
Aluno B
[a
hace
a
ests
[a
borrar
Aluno C
[er]12
atardecer
[
voy
Aluno D
e
cejas
[or]
horror
Na minha observao auditiva do que seria considerado incorreco de
pronncia, determinei que em vez de apontar os erros de pronncia de modo aleatrio,
10
As transcries correctas das palavras acima descritas seriam as seguintes: which: [; example: AmE [/ BrE [; Egyptian [; eigthteen [; historical AmE [/ BrE [h+; Rambo: AmE */ BrE [; ocular: BrE [/ AmE [akj 11
As transcries correctas das palavras acima descritas seriam as seguintes: hace: [a; atardecer: [er;cejas: [exas]; copas: [o; ests: [estas]; despejado: [a; voy [boi]; borrar: [brar ; horror: ror 12
Erros em que os grafemas c,z seguidos de e,i so pronunciados /s/ no devem ser obrigatoriamente entendidos como erros visto que so concretizaes fonticas tambm produzidas pelos prprios espanhis. A este fenmeno
damos o nome de seseo (Briz, 2008: 55).
13
medida que ia assistindo s diferentes aulas (embora j o tivesse estado a fazer por meio
de transcries fonticas), seria mais objectivo e organizado tentar especificar os erros
por meio de grelhas, por meio das quais seria possvel catalogar os tipos de sons mal
pronunciados, e especificar o aluno que os estaria a cometer. Esta prtica permitir-me-ia
futuramente poder vir a usar esses dados para orientar a minha aproximao
investigao. Estes dados poder-me-iam ser teis para identificar os alunos com mais
dificuldades ou detectar sons/pronuncias que de um modo geral causariam mais
problemas, entre outras possibilidades. Para alm disso, tendo em conta o espao
restrito que representa uma folha A4 para todos os sons da tabela fontica, criei uma
grelha para as vogais, outra para as consoantes, e outra para os ditongos. Assim,
dependendo do erro que fosse ouvindo, apontava-o numa folha de rascunho, por
questes de possvel volatilidade da memria, e em seguida encaixava a palavra e o som
em questo na coluna adequada. E, como cada turma detinha as suas particularidades
em termos de pronncia incorrecta e cada aula correspondia a tipos de erros distintos,
tambm achei por bem, possuir para cada turma um conjunto de grelhas personalizado,
e datar os erros para que, a posteriori, pudesse mais facilmente fazer referncia a estes
dados.
de referir, que na constituio das grelhas que apresento no incluo todos os
sons possivelmente presentes na lngua. Propositadamente dei mais prioridade
identificao de obstculos em determinados sons do que em outros. Entre as razes que
me levaram a tais seleces tive em conta a recordao das minhas prprias dificuldades
de articulao como aluna, os fonemas que geralmente tm diferentes tipos de
associaes com a grafia na lngua materna e os sons que geralmente no existem na
produo da lngua materna.
Tambm, no que diz respeito s transcries, foi minha preferncia concretizar
transcries de tipo estreita em vez de uma transcrio alargada no sentido de
transcrever com um maior nvel de preciso possvel o modo como os alunos produziam
os sons.
1.5.2 A Formulao de Questionrios
Tendo j, entretanto, seleccionado o 7 ano como turma de estudo para a minha
investigao resolvi recorrer a outros materiais de levantamento de dados, para alm das
14
grelhas apresentadas acima, que me permitissem agregar dados extra sobre as
dificuldades sentidas em termos de pronncia.
Partindo da assuno de que os alunos, em todas as turmas manifestavam falhas
a nvel da pronncia (falhas essas transpostas nas referidas grelhas), tambm me
pareceu importante recorrer a outro meio de levantamento de dados que me permitisse
verificar qual era a opinio dos alunos relativamente aos seus conhecimentos de
pronncia, sobre o ensino da pronncia e sobre a conscincia das dificuldades nessa
matria. Para esse mbito, pareceu-me apropriado que paralelamente ao preenchimento
das grelhas, com base na minha observao directa como professora, lhes distribusse
tambm um questionrio annimo com perguntas de resposta simples, no sentido de
comprovar se as minhas ideias quanto problemtica da pronncia eram um facto
sentido pelos alunos, ou pelo menos, um facto que eles admitiam. Atravs dos
questionrios iria ter um conjunto de dados que emanariam da opinio dos alunos e que
no decorreriam da minha opinio, da minha subjectividade e da minha vontade de
comprovar que a turma ressentia indubitavelmente dificuldades no domnio da
pronncia.
Na estruturao deste questionrio, que seguiu uma composio muito idntica
para as duas lnguas (ver anexos 1 e 2), inclu questes que procuravam detectar se os
alunos consideravam a lngua em estudo uma lngua difcil, se ressentiam qualquer tipo
de receio de errar na hora de pronunciar a dita lngua, as razes que motivavam esses
receios, se existia uma vontade generalizada para que se promovessem mais momentos
dedicados pronncia no sentido de desenvolverem mais esse aspecto de aprendizagem
do idioma, mas tambm algumas questes mais focalizadas na identificao e
associao correcta de sons.
A estruturao de um questionrio personalizado para cada lngua decorre da
conscincia de que, para os alunos, a perspectiva sobre o ensino da pronncia pudesse
ser diferente. As variaes observveis entre os dois questionrios justificam-se pela
vontade de adaptar o questionrio ao contexto das respectivas lnguas, mas tambm pela
necessidade de aplicar alteraes que aperfeioassem o modelo entregue em primeira
instncia (a verso criada para a vertente do Ingls, ver anexo 1).
A preferncia por questes fechadas na elaborao dos referidos questionrios
deveu-se necessidade de objectivar ao mximo os meus resultados e evitar que os
alunos que compunham a minha populao-alvo achassem o questionrio entediante,
15
longo e complicado. Antecipando a tipologia de respostas dadas s questes formuladas
e permitindo que estas servissem de opes para os alunos, achei que estes fossem ter
mais facilidade e vontade no preenchimento do questionrio e em darem respostas
autnticas e objectivas. Na eventualidade da resposta desejada pelo aluno no constar
nas propostas apresentadas nos questionrios, previ que estes pudessem seleccionar,
sempre que possvel a opo outra, como alternativa.
1.6 Resultados obtidos e respectivo significado
1.6.1 Resultados das Grelhas Fonticas e respectivo significado
Os dados recolhidos por intermdio das grelhas permitiram-me ressaltar as
seguintes observaes:
Grficos referentes aos erros fonticos decorridos ao longo de quatro aulas observadas
no contexto de aulas de Espanhol dadas ao 7B
Grficos referentes aos erros fonticos decorridos ao longo de quatro aulas observadas
no contexto de aulas de Ingls dadas ao 7B
O que dos grficos apresentados se entende que, das aulas dedicadas
observao directa dos erros lingusticos que os alunos foram cometendo ao longo das
aulas regidas quer pela professora titular quer pelos restantes professores estagirios
[r ]
16
(mais concretamente, seis diferentes aulas, na totalidade), os erros que mais
frequentemente foram produzidos foram os que se encontram representados acima.
Da codificao que usada deve-se interpretar que, cada aluno, em vez de
produzir os sons em questo, nas palavras onde se inseriam, correctamente (por
exemplo, o som [] na palavra escribir em Espanhol), no o souberam fazer
substituindo os respectivos sons, por alternativas que so entendidas como incorreces
de pronncia (por exemplo, substituindo o som [] pelo som [] produzindo a palavra
sugerida atrs como eshcribir).
Os erros relacionados com os sons apresentados so exemplificados a seguir
com amostras de erros ocorridos nas aulas em questo:
Olhando para a tipologia de erro cometido fcil, para um falante de lngua
portuguesa, detectar as razes que levaram os alunos a pronunciarem os fonemas
incorrectamente. Estes alunos, ainda pouco habituados a adequar a prpria articulao
lingustica lngua alvo, ainda tm tendncia em articularem e lerem as palavras da
lngua meta de acordo com as regras de pronncia da lngua materna, neste caso o
Portugus. Por outras palavras, graas maneira como cada aluno concretiza
acusticamente a lngua segunda que entendemos como que cada um percepciona e o
modo como os conhecimentos da lngua materna interferem na aprendizagem da lngua
estrangeira. A este fenmeno, que evidencia que um determinado aluno mistura
Aulas Espanhol
Som Palavra Pronncia
Correcta
Pronncia
Incorrecta
// lavavajillas []
/r / perro [r [x]
// haciendo [ [s]
// estudiar r
Aulas Ingls
// mentioned []
/h/ husband
// which
// thinking [ [t]
17
aspectos de lngua materna com aspectos da lngua estrangeira, damos o nome de
transferncia lingustica. Esta particularidade que invariavelmente se concretiza no
processo de aprendizagem de uma lngua definida por Flege como o processo pelo
qual:
Os estudantes de idiomas que acreditam ouvir na lngua estrangeira sons
quase idnticos aos da lngua materna (apesar de talvez reconhecerem
pequenas diferenas fonticas entre as duas lnguas) iro basear sua pronncia
ao longo do processo de aprendizagem num modelo acstico resultante de pares
de sons semelhantes das duas lnguas, em vez de base-la no modelo acstico
especfico da lngua estrangeira, assim como ocorre na aprendizagem da lngua
materna. (Flege, 1981:443-55, citado por Schtz, 2008)
A transferncia lingustica tanto pode operar de forma positiva como negativa no
processo de aquisio de uma determinada lngua. No caso em que a lngua materna
prejudica a fluncia da interaco comunicativa em lngua estrangeira, fazendo com que
o aluno cometa erros de fala, essa transferncia considerada uma transferncia
negativa visto que os erros acarretados pela lngua materna dificultam ou obstaculizam
o processo de entendimento e percepo do acto comunicativo, o que por sua vez pode
dificultar a evoluo da capacidade de aprendizagem do aluno.
No contexto atrs analisado poder-se- dizer, que por falta de conhecimentos
relativos pronncia da lngua estrangeira, os alunos, quer nos contextos de aula de
Espanhol, quer nos de Ingls, apoiam-se nas regras fonolgicas geralmente aplicadas
lngua portuguesa, o que por sua vez se concretiza em articular os sons da L2 de acordo
com a maneira como eles so realizados na lngua materna. Operando dessa maneira, os
alunos, pelo menos num estado inicial, no percepcionam a incidncia das interferncias
efectuadas e, fruto do desconhecimento mencionado, nem sequer se tentam corrigir. S
medida em que vo progredindo no percurso de aprendizagem e so chamados
ateno sobre os erros cometidos que eles progressivamente se vo apercebendo dos
desvios lingusticos operados e tentando regularizar a fala de acordo com o sistema
articulatrio da lngua meta. Para exemplificar o que acaba de ser descrito, partindo dos
fonemas disponibilizados acima, pode-se observar que os alunos em vez de produzirem
a letras em final de slaba como /s/, como o seria de esperar em Castelhano (Quilis &
Fernndez, 1996: 95-97), fazem-no como // o que representativo da articulao desse
18
som no Portugus Europeu normal (Cunha & Cintra, 1984:32). Do mesmo modo,
ainda pouco habituados ao facto de certos h em Ingls serem sonoros, ocorrncia
inexistente em Portugus, quando estes alunos de Ingls so confrontados com palavras
contendo ou iniciando-se com h, tendencialmente no vocalizam o som.
1.6.2 Resultados dos questionrios e respectivo significado
Da aplicao dos questionrios turma, um referente disciplina de Ingls e
outro referente disciplina de Espanhol, pude tecer algumas concluses iniciais que
serviram de guia para a prospeco do meu projecto de aco.
No que concerne s respostas dadas ao inqurito sobre a disciplina de Espanhol,
responderam 21 alunos dos 27 que totalizavam a turma (alguns encontravam-se a
faltar). No contexto das aulas de Ingls, foram 23 os alunos disponveis para responder
ao questionrio.
Os resultados decorrentes da aplicao dos dois questionrios turma, pelo
menos no que diz respeito s questes em comum e consideradas de maior relevncia,
apresentam-se a seguir:
Como se pode verificar, embora os alunos, na generalidade, expressem no
sentirem qualquer tipo de obstculo quanto aquisio das respectivas lnguas, uma
mdia de 8 alunos (cerca de 34%, contando os que seleccionaram sim e mais ou
menos) revela possuir algumas dificuldades.
Em perguntas mais focalizadas na pronncia da lngua (ponto fulcral do
questionrio), nomeadamente como resposta questo apresentada no grfico seguinte,
podemos verificar que uma mdia de 13 alunos (cerca de cinquenta por cento da turma)
revelou, com maior incidncia, sentir s vezes dvidas no que respeita pronncia
das palavras, facto espectvel tendo em conta o diminuto nmero de anos em que estes
alunos tm estado em contacto quer com uma lngua, quer com a outra.
19
Relativamente questo apresentada no prximo grfico, descobrimos que entre
as possveis razes que poderiam levar os alunos a no se sentirem seguros no momento
de falar, em maioria, nove alunos no caso do Espanhol e 10 no caso do Ingls, ou seja
uma mdia de 43% dos alunos da turma, consideram que o facto de nunca terem
ouvido as palavras nas lnguas alvo que os leva a sentirem-se relutantes ao pronunciar.
No caso do Ingls em particular, lngua que os alunos j tm vindo a conhecer ao
longo de trs anos lectivos, uma outra razo tambm mais evocada: o
desconhecimento de determinados sons, tendo tambm 10 alunos escolhido esta opo
(em paralelo, apenas 4 alunos escolheram essa opo no contexto da disciplina de
Espanhol).
Entre as restantes opes de razes mais escolhidas encontram-se a opo Fico
confuso com a pronncia de certas palavras (equitativamente seleccionada no mbito
das duas disciplinas (com 5 alunos para cada lado) e Temo que os colegas se riam de
mim (principalmente no contexto das aulas de ingls com 8 alunos).
de realar que, quanto questo que se acabou de analisar, embora no
contexto das aulas de Ingls os alunos tivessem usufrudo da possibilidade de elegerem
mais do que uma razo para explicarem a sua dificuldade a nvel da pronncia, o mesmo
no se aplicou no preenchimento do questionrio relativo s aulas de Espanhol. Neste
ltimo, para detectar com maior exactido o que mais incomodava os alunos, pediu-se
que estes optassem por uma nica razo, identificando-a como a principal. Este facto
justifica por que que, no caso das respostas ao questionrio de Ingls, a soma do
20
nmero de alunos representados no ltimo grfico superior ao total de alunos que
efectivamente respondeu ao dito questionrio.
Por fim, quando questionados sobre a vontade de obterem mais aulas dedicadas
pronncia e sobre a eventualidade de essas aulas puderem ser mais variadas, os alunos
emitiram as seguintes opinies:
Embora a questo colocada para cada disciplina manifeste uma variao de
perspectiva e significado (depreende-se uma ideia de quantidade no questionrio de
Ingls e de qualidade no de Espanhol), verificamos que a maioria dos alunos no se
importaria de ver os momentos at ento desfrutados sobre a pronncia multiplicados ao
longo das futuras aulas e que esses mesmos momentos se apresentassem de forma mais
variada.
Em definitiva, analisando e comparando as respostas dadas s questes genricas
que estruturaram os questionrios (fazer-se- oportunamente referncia s questes
relativas aos fonemas mais adiante), cheguei concluso que nenhuma das lnguas
constitua, para os alunos, um sistema lingustico demasiadamente complexo. Nenhuma
das duas lnguas representava para eles uma disciplina repleta de obstculos
inultrapassveis e consequentemente uma disciplina pela qual os alunos nutrissem
qualquer espcie de averso. Portanto, a posio dos alunos perante ambas as lnguas
era a de acreditarem que, com o tempo, fossem capazes de aprender gradualmente as
caractersticas que lhes esto associadas e comunicar-se com elas, o que por sua vez
explicitava que os mesmos estariam dispostos a adquirirem mais conhecimentos
relativos pronncia. Alis, como observamos, este elemento era para eles uma faceta
da lngua importante e portanto no menosprezvel.
Contudo, quer no mbito do Ingls, quer no de Espanhol, uma parcela
substancial dos alunos admitiu que lhes ocorria sentir dificuldades ao nvel da
pronncia, como o verificvel nos grficos acima descritos. A ttulo de exemplo, mais
de 50% dos alunos em ambas as disciplinas afirma no saber sempre como que as
21
palavras com as quais se deparam so pronunciadas (por razes da ordem do puro
desconhecimento dos sons e das palavras em que estes se encontram).
Por deduo, tendo em conta que tanto o Ingls como o Espanhol, tal como o
Portugus, fazem uso do alfabeto latino e naturalmente partilham um certo nmero de
caractersticas grficas e sonoras, a aproximao aparente das lnguas acaba por
confundir os alunos e conduzi-los a trazerem estruturas e sons que pertencem lngua
materna, ao Portugus, para os enunciados que produzem em lngua estrangeira. Ao
aperceberem-se que, apesar de as lnguas estrangeiras partilharem com a lngua materna
o mesmo sistema de codificao grfica e muitas vezes de sons (pelo menos em vrias
ocasies), tambm se distinguem dela em vrios vectores, os alunos acabam por
sentirem-se frequentemente desorientados.
Para progredir na aprendizagem da lngua estrangeira necessrio desabituar o
aluno a associar constantemente a lngua estrangeira com o sistema de lngua que j
domina (a lngua materna). Este dever progressivamente aceitar que as outras lnguas,
embora aos seus olhos semelhantes lngua que j conhece, baseiam-se em conexes e
articulaes distintas, o que implica que, por exemplo, certas letras que tambm so
usadas em Portugus tenham produes distintas nas lnguas estrangeiras em questo.
Resumindo, os dados recolhidos pelos questionrios permitiram-me deduzir que
os alunos, numa fase anterior aplicao dos ciclos de investigao manifestavam
conscincia sobre a importncia da pronncia na aprendizagem da lngua, admitiam
sentir dvidas sobre esse aspecto da aprendizagem, pensavam serem capazes de
identificar as razes que causavam essa dificuldade e que, apesar de ressentirem esses
obstculos, acolhiam positivamente a possibilidade de assistiram e participarem em
momentos de pronncia que propusessem uma nova abordagem dessa vertente
lingustica.
A ttulo de concluso, tendo finalizado o processo de aplicao e leitura dos
instrumentos de recolha de dados iniciais pude inferir que, se por um lado, as grelhas de
observao fontica permitiram confirmar a existncia de dificuldades e reconhecer
onde e com que frequncia cada uma das turmas observadas evidenciava dificuldades a
nvel da pronncia, os questionrios manifestaram a perspectiva que a turma - entretanto
seleccionada como turma de trabalho - em comparao com outras turmas (possuidoras
de perfis idnticos) detinha relativamente aprendizagem das lnguas e suas respectivas
pronncias.
22
1.6.3 A aplicao do questionrio a outros grupos
Para obter uma viso mais panormica dos aspectos atrs descritos, mas tambm
para validar e credibilizar os dados descritos anteriormente, apliquei o mesmo
questionrio a diferentes turmas do mesmo nvel da escola (turmas essas que no me
tinham como professora e, consequentemente, no poderiam ser de qualquer maneira
influenciados por mim). Seleccionei uma turma de 7 de Espanhol, o 7 A, e uma turma
de 7 de Ingls, o 7C.
Aplicando exactamente o mesmo questionrio a turmas que me desconheciam
assim como o propsito relacionado com o questionrio apresentado, visava garantir a
credibilidade dos dados da turma com a qual, at ento, havia estado a trabalhar. Se os
dados destas segundas turmas reiterassem, com uma margem de variabilidade
previsvel, o mesmo tipo de respostas, seria mais convincente que os alunos do 7B
haviam respondido com a honestidade pretendida ao questionrio distribudo e que as
informaes extradas se poderiam alastrar a uma populao mais abrangente que
unicamente a turma que serviu de base investigao.
Relativamente aos resultados obtidos dessas outras turmas o que se pode
observar que, de uma forma global, as respostas no variam muito (ver anexos 3 e 4).
No que diz respeito ao Espanhol (ver anexo 3), no h, entre as duas turmas,
variaes nas respostas muito significativas. A turma do 7 A, composta por 27 alunos,
tem praticamente a mesma postura e a mesma viso sobre pronncia nas aulas (o
Espanhol tambm para eles uma lngua com qual contactam pelo primeiro ano). A
maioria, 74%, admite contudo sentir algumas dvidas, em certos momentos, com a
pronncia de determinadas palavras (67% da turma respondeu que nem sempre sabia
como que as palavras eram pronunciadas). Com respeito s razes que levam os
alunos a sentirem-se inseguros na prtica correcta da pronncia, a maioria escolheu o
facto de desconhecerem a pronncia por nunca terem estado em contacto com as
palavras, (como j havia ocorrido com o 7B). Estes alunos, um pouco como j havia
sucedido com o 7B, apesar de no se encontrarem insatisfeitos com a prtica de
pronncia at ento praticada, manifestaram vontade de conhecer outras abordagens
pronncia (mais precisamente 54%, o equivalente a 15 alunos, revelou interesse por
usufruir de momentos dedicados pronncia mais variados).
Ao 7C, outra turma de Ingls, resolvi entregar uma verso do questionrio
anteriormente disponibilizado ao 7B mais reduzida, devido tomada de conscincia de
23
que algumas das perguntas da verso original no eram muito pertinentes no contexto
desta turma. Determinei, por exemplo, que no iria incluir questes descontextualizas
ou que fossem redundantes e/ou parecidas entre elas como a anlise de dos resultados da
primeira turma o havia manifestado. Portanto, partindo da experincia da entrega e
anlise do inqurito ao 7B, resolvi modificar o que poderia causar problemas ou
dvidas.
Os resultados extrados desta outra turma de Ingls no se afastam tambm
muito do que foi possvel observar no 7B (ver anexo 4). O que mais ressalta do
contraste entre as duas turmas o facto de 38% desta turma, afirmarem que, para eles, a
lngua inglesa uma lngua complicada face aos 17% do 7B que haviam dado a mesma
resposta. Um total de 29% dos alunos do 7C confirmaram possuir incertezas perante a
pronncia de certas palavras, em comparao com os 13 % do 7B. E o
desconhecimento das palavras e dos sons so igualmente as razes mais evocadas na
justificao das incertezas acima descritas.
Em suma, apesar das expectveis pequenas variaes verificveis no contraste
das turmas abordadas, a ptica dos alunos face aprendizagem da lngua e, mais
especificamente, da pronncia da lngua, relativamente transversal e homognea para
todos os grupos estudados, para os membros das trs turmas estudadas, o7A, o7B e o
7 C (quer a nvel do Espanhol, quer a nvel do Ingls). E, portanto, as leituras dos
dados j evidenciadas acima para o 7 B, aplicvel s duas outras turmas.
1.7 A aproximao dos manuais pronncia
Para alm de identificar com maior rigor quais as dificuldades dos alunos
relativamente pronncia, pareceu-me tambm pertinente averiguar de que modo os
prprios manuais, material de orientao para a aprendizagem, abordava a importncia
desse elemento lingustico e que tipo de exerccios lhes estavam associados.
A concluso qual cheguei, fruto da anlise dos manuais em uso na turma em
questo, que ambos propunham exerccios baseados na audio de um conjunto
diversos sons ou palavras isoladas que os alunos deveriam ouvir e repetir, ou incluam
notas de informao terica que chamavam a ateno para a distino de determinados
sons. Como se pode verificar numa actividade introdutria do manual de Espanhol
24
usado pela turma em estudo que apresento abaixo13
, o mbito subjacente actividade de
pronncia proposta restringe-se a apresentar como informao de input todo o conjunto
de sons e letras que possivelmente causaro constrangimento aos alunos e, como
actividade de output, ambiciona que os alunos por uma simples posta em contacto com
algumas palavras escritas em lngua segunda, consigam estabelecer os nexos de
diferenas e semelhanas entre a lngua nativa e a lngua segunda.
Ou seja, este manual parte do princpio que aps os alunos terem estado a
praticar os sons em questo, essa prtica no se orienta para qualquer outro tipo de
actividade lingustica em que esses sons sejam efectivamente usados como elementos
pertencentes a uma actividade de comunicao. J Silveira, a esse respeito afirmava
que:
[A]componente pronncia tem sido frequentemente negligenciad[a] nas salas
de aula e nos materiais didcticos. Alm do mais, quando esse componente
abordado em livros/texto, ele tende a ser trabalhado isoladamente, sem
integrao com outras habilidades lingusticas e a maioria das actividades so
controladas ou descritivas. (Silveira, 2004,citado por Silveira, 2006:1)
Ora, tambm neste manual a exercitao dos sons aparece visivelmente isolada
visto que, nem antes, nem depois, surge qualquer tipo de informao ou dado que
interligue a abordagem da pronncia a qualquer outro tipo de actividade. As nicas
13
Informao retirada de : Bueso, Isabel et al, 2008, Club Prisma A1, Mtodo de Espaol para jvenes, Madrid, Edinumen: 15.
25
referncias pronncia ulteriores, pelo menos evidenciadas no manual sob anlise,
encontram-se numa pgina sugerida como ficha de autoavaliao (a incluir no porteflio
de lngua do aluno), situada no fim da unidade e referente ao exerccio apresentado
acima (mais concretamente na pgina 17 do manual, ver anexo 5).
Face a este tipo de exerccios, os alunos, no caso do respectivo professor decidir
que estes exerccios so efectivamente teis para a aprendizagem, no ir
provavelmente entender porque que, do nada, de um contexto em que nada deixaria
prever que os sons fossem a ser praticados, obrigado a prestar ateno aos sons e
forma como eles se escrevem, tendo em conta que no se lhes expe qualquer tipo de
objectivo ou utilidade a alcanar subsequentemente.
No entanto, admitindo que o professor em questo queira efectivamente
debruar-se sobre questes de pronncia, o livro do professor correspondente ao manual
distribudo aos alunos, sugere-lhe alguma informao e sugestes de abordagem de
pronncia que so, a meu ver, muito interessantes e que, de acordo com a ideia j
apresentada inicialmente, raramente so postas em prtica no desenrolar das aulas de
lngua. Este livro de apoio ao professor sugere, por exemplo, que se explore itens de
pronncia partindo de textos poticos simples, redigidos por autores espanhis
conceituados e deixa ao livre arbtrio do professor a sua explorao no contexto da sala
de aula (ver anexo 6). Neste sentido, um professor que tenha detectado uma dificuldade
especfica e at partilhada no conjunto da sua turma (por exemplo, por meio de tabelas
fonticas similares s que apresentei para o mbito desta investigao), poder remeter-
se ao ndice proposto no livro do professor (ver anexo 7), na seco denominada
Ortografa y Pronunciacin e aproveitar o material sugerido para a prtica de um som
em especfico (actividades essas que nas aulas sob observao, nunca foram postas em
prtica).
No que se refere ao manual usado no contexto do Ingls, evidencia-se que as
questes de pronncia surgem mais frequentemente abordadas e faz-se, no ndice,
referncia aos momentos e tipos de exerccio de pronncia que se considerou
importantes tendo em conta os materiais lingusticos que se escolheram para constituir
as diferentes unidades didcticas. Assim sendo, o livro do aluno de ingls sugere, por
exemplo, que os alunos trabalhem a distino das grafias e pronuncias que contrastam o
Ingls americano e o Ingls britnico; que os alunos se apercebam que o s usado no
final das conjugaes de terceira pessoal do singular no Simple Present concretizado
26
de forma diferente: /s/, /z/ e //; que se apercebam que o artigo definido the
pronunciado como //// consoante se encontre antes de um substantivo que se
inicia com vogal ou consoante, entre outros aspectos de interesse que se relacionam com
o material lingustico explorado nessas mesmas unidades.
No entanto, como j se havia verificado no manual de Espanhol, tambm o
manual de Ingls, no parece dar qualquer tipo de seguimento oral ou comunicativo s
actividades de pronncia propostas. Depois de os alunos terem praticado os exerccios
sugeridos, no contextualizam de imediato esse conhecimento. No existe, portanto, no
seguimento dessas actividades nenhuma sugesto de exerccio que comprove a utilidade
da informao adquirida pelas informaes e exerccios propostos.
Para concluir, tendo avaliado os contedos sugeridos pelos manuais
disponibilizados para cada uma das disciplinas, embora ambos incluam exerccios de
pronncia, deixando transparecer que esse aspecto da lngua tambm deva ser um
aspecto a desenvolver na progresso da aprendizagem do aluno, cada um o efectua de
forma muito personalizada e negligenciando em parte a inter-relao desse elemento
lingustico com a vertente comunicativa da lngua. Ao passo que referencie aspectos de
pronncia que incidem mais sobre aspectos de pertinncia gramatical (o de Ingls),
outro f-lo de forma a ressaltar a utilidade de material extra para o professor (o de
Espanhol). No entanto, nenhum dos dois concretiza o efeito que, no meu ponto de vista,
seria o mais vantajoso e proveitoso para o aluno. Nenhum segue a sequncia cuja
eficcia pretendo demonstrar atravs do meu projecto, e por via desse facto, considero
que nenhum dos dois disponibiliza actividades que veridicamente ajudem os alunos a
sentirem-se mais confiantes no momento de produzirem e percepcionarem a lngua.
Embora sejam capazes de fornecer exerccios com pertinncia para melhorar a
conscincia da lngua e dos sons que a compem, os dois manuais parecem esquecer-se
que a pronncia interliga-se forosamente com a produo oral e com o acto
comunicativo, com a capacidade de manipular o sistema lingustico tendo em vista a
socializao, a troca de informao.
1.8 Linhas orientadoras para a interveno
Uma vez definido o objecto de investigao, a pronncia de fonemas e a sua
aplicao em contextos comunicativos, esforcei-me por considerar metodologias que
poderiam melhorar os aspectos identificados como problemticos para os alunos.
27
Embora alguns tericos acreditem que a prtica de pronncia nas aulas de lngua
estrangeira no tem qualquer tipo de influncia no processo de melhoria da pronncia
dos seus aprendizes e que a realizao de uma pronncia rigorosa numa segunda lngua
uma questo que foge ao controlo dos educadores (Suter & Purcell, 1980: 271-87,
citado por Otlowski, 1998), quis explorar pelos meus prprios meios de que forma esse
pressuposto correspondia efectivamente realidade. Queria ajudar os alunos a
dissimular os traos de pronncia de lngua materna que se poderiam revelar em
elementos de perturbao comunicativa nos mais diversos contextos de fala e provar
que era possvel criar estratgias que conduzissem melhoria da expresso oral dos
discentes sem que, com tal mbito, se lhes impusesse que se aproximassem da correco
lingustica de um falante nativo. Para tal, tentei centrar-me na ideia que, para os alunos,
no bastava ouvir e produzir os sons repetidamente para que adquirissem a tcnica de
como bem pronunciar (conforme o sugeriam as abordagens dos manuais observados e
as tcnicas mais usualmente usadas nessa rea). Concordando com a perspectiva de
Encina Alonso:
Quando um aluno no consegue emitir um som, a primeira coisa a
perguntarmo-nos o porqu. intil produzir um som e repeti-lo, fazendo com
que o aluno tambm o repita connosco se, de antemo, nos apercebemos que
tem dificuldade em produzi-lo. Ser o centro da ateno, causar-lhe- uma
tenso e frustrao que lhe sero difceis de esquecer. muito provvel que
ganhe medo e repulse esse som.
(Alonso, 1997: 100, citado por Nardi, et al., 2004:7)
Nessa perspectiva, pareceu-me que, para alm de contactar com os sons pela via
auditiva conforme os mtodos tradicionais, era necessrio assegurar que esses sons,
especialmente aqueles em que eles tinham mais dificuldades, fossem descritos,
explicados, descodificados e utilizados, para que, em ocasies futuras, os alunos
tivessem menos receio de os articular (pelo menos essa era a hiptese que eu
considerava como mais susceptvel de surtir o efeito desejado).
Concebi que os alunos deveriam ser orientados para a anlise dos sons da L2 em
contraste com a produo dos sons da lngua materna (visto que as dificuldades
ressentidas haviam demonstrado que resultavam da interferncia da mesma) e promover
o uso dos mesmos em situaes de comunicao concretas onde a prtica dos mesmos
revelar-se-ia fonte de oportunidade de produo oral individual e contextualizao dos
28
sons sua funo social. O professor, nesse processo, serviria de modelo mas tambm
de facilitador da lngua. Enquanto, geralmente, falante no nativo, o professor de lngua
estrangeira tem conscincia da tipologia de interferncias possveis da lngua materna
sobre a lngua alvo. Enquanto falante que atravessou o mesmo trajecto de aprendizagem
lingustica, o professor que partilha com os seus alunos a mesma lngua materna capaz
de antever os obstculos de pronncia que os enunciados podero causar e prever
formas de diminuir o desconforto da pronncia incorrecta alertando ou esclarecendo
aspectos de pronncia que podero ajud-los a melhor produzir oralmente a lngua.
Como o enuncia Marta Bartol Rigol: Se um docente conhece a lngua dos alunos,
provvel que detecte com mais facilidade a origem de determinadas produes
incorrectas e poder intervir com mais eficcia (Bartol, 2005: 17).
Na minha viso de docente, a ocorrncia de mini passagens, de mini actividades
dedicadas reproduo de sons, asseguraria que alunos com mais dificuldades de
discernimento dos sons tivessem a oportunidade de pr em prtica os seus
conhecimentos e habilidades, e talvez expressar outras dvidas relativas pronncia.
Essa prtica, focalizada na exercitao e compreenso dos sons, partiria de um contexto
temtico familiar aos alunos, de maneira a que no estranhassem o vocabulrio que
estariam a manusear (permitindo uma maior concentrao no aspecto sonoro das
palavras) e desembocaria sempre numa actividade comunicativa em que esses sons
fossem previsivelmente aplicados (garantindo que os alunos se apercebessem da
utilidade do aperfeioamento da pronncia em contextos verdicos e observveis).
Esta utilidade dos exerccios mais dedicados correco da lngua para as
actividades comunicativas j havia sido enunciada por Brown. Este defendia que se os
exerccios focalizados na correco fossem usados em contexto de aulas, deveriam
orientar-se para a concretizao de actividades de foro comunicativo mais autnticas.
Na sua perspectiva, os drill exercises poderiam ser teis como etapas preambulares
que conduzissem a uma produo da lngua mais eficazmente comunicativa (Brown,
1994, citado por Celce-Murcia, 2001: 109).
Assim sendo e seguindo esta lgica de estruturao, a minha aproximao
pronncia propunha-se a ser bem mais do que uma estratgia de repeat after me,
conforme os mtodos de ensino de pronncia rotulados de tradicionais e considerados,
hoje em dia, incompatveis com os pressupostos comunicativos. Como o esclarece
Edward Y. Odisho , um professor de Ingls da Universidade do Illenois (EUA):
29
[] [A]o estarmos expostos a sons desconhecidos de forma casual e
imprpria, pouco provvel que consigamos produzi-los. [] A insuficiente
insistncia no estado de percepo e reconhecimento dos sons ou a sua total
negligncia apontada como importante falha na abordagem tradicional do
ensino da pronncia. (Odisho, 2007: 9)
A minha pretenso elevava-se a tornar os sons por um lado mais lgicos para os
alunos como, por outro lado, ao fazer uso deles no acto da fala, consciencializar os
alunos para a maior perceptibilidade do significado dos enunciados por eles produzidos
na ocorrncia de uma boa pronncia. Promovendo uma prtica de reflexo sobre o som,
uma prtica de lngua mais incidente na forma da lngua, sobre o uso controlado dos
seus segmentos fnicos e possibilitando que os alunos praticassem esses sons por meio
de situaes comunicativas concretas, determinei que poderiam usufruir
inconscientemente de um maior nvel de auto-satisfao nas suas performances orais e
sentir-se mais motivados quando envolvidos em exerccios deste tipo. Como j o
perspectivava Bartol:
Ter uma boa pronncia sempre digno de admirao e elogio, o que resulta
benfico para o aprendiz; contribui a aumentar a sua auto-estima e pressupe um
bom carto de apresentao face a nativos. (Bartol, 2005:4)
Consequentemente e enfrentando a necessidade de dar forma a uma questo que
traduzisse a minha estratgia de aco no terreno pedaggico, formulei a seguinte
pergunta de investigao: Como que exerccios centrados na pronncia podero
ajudar os alunos a sentirem-se mais confiantes nas actividades de prtica oral em
lngua estrangeira?. Com esta questo, propus-me a provar que os exerccios
controlados, focalizados na pronncia, eram determinantes para fazer com que os alunos
se sentissem mais confortveis e eficazes quando apelados a falarem em lngua
estrangeira.
Com este plano de aco, pretendia reunir as ferramentas necessrias para
corroborar a minha posio e demonstrar como a prtica de pronncia segundo os meus
moldes poderiam fazer uma diferena positiva no desenvolvimento da expresso oral
dos alunos e na concepo da prtica de pronncia nas aulas de ndole comunicativa.
30
Captulo II - Estado do Conhecimento: Pronncia
A pronncia tem sido perspectivada de vrias maneiras no contexto e histria da
aprendizagem de uma lngua estrangeira. Partindo de uma era em que era largamente
considerada uma faceta da lngua indispensvel aprendizagem de uma lngua segunda,
nomeadamente na era do ensino audiolingustico, depressa se viu catalogada como
elemento secundrio da aprendizagem. J Bartol afirmava que:
Apesar dos avanos e inovaes que se tm produzido no ensino da lngua
estrangeira, cremos que a pronncia continua a ser desatendida e que no
recebe [no contexto de sala de aula] o tratamento adequado (Bartol, 2005: 3).
Hoje em dia, as opinies, contudo, divergem com respeito pronncia. Para
determinados docentes (na minha opinio, a maioria), caracterizada como uma
componente lingustica de prioridade secundria. Segundo Mattos & Souza, Muitos
professores [] costumam deixar o ensino de pronncia de lado, ou simplesmente no
[planejar] [a] sua incluso nos programas de ensino por eles elaborados (Mattos &
Souza, 2007, citado por Bezerra, 2009: 18). Para eles, partindo de uma ptica de
aprendizagem comunicativa (estratgia de ensino que modela, na actualidade, os
programas de lnguas), o objectivo da aquisio de uma lngua estrangeira centrar-se-
mais na inteligibilidade do processo comunicativo do que na sua correco formal.
Na abordagem comunicativa do ensino entende-se que o aluno se deva sentir
capaz de recorrer satisfatoriamente lngua em qualquer contexto comunicacional,
ainda que no demonstre grandes nveis de correco lingustica. A grande meta do
aprendiz fazer com que, independentemente da situao social em que se encontre,
seja capaz de interactuar com um interlocutor da lngua meta de maneira a fazer-se, no
mnimo, entender. Para Mattos & Souza, por exemplo, o objectivo a pr em prtica na
contexto da aprendizagem de uma lngua estrangeira deveria ser o de atingir nveis
inteligveis ao invs de buscar uma pronncia perfeita [] ( Mattos &Souza,2007,
citado por Bezerra, 2009:15).
Consequentemente, devido nova concepo da lngua entendida como
prioritariamente um meio de comunicao pelo qual se estabelece interaco social, o
perfeccionismo que outrora se atribua correco da fala caiu em desuso e a percepo
da necessidade de se alcanar mestria no uso da pronncia foi progressivamente
deixando de existir.
31
luz das concepes comunicativas, a prtica de actividades puramente
dedicadas pronncia, muito em voga na era do mtodo audiolingustico, deixaram de
ocupar o seu lugar de realce no contexto do processo do ensino/aprendizagem de uma
lngua. Recorrendo a exerccios de cariz repetitivo e ao pressupor que se ensine a lngua
como se esta fosse um conjunto desconectado de sons e estruturas de fala isolados do
seu contexto de comunicao (Celce-Murcia, 2001:109), a explorao da pronncia nas
aulas comeou a ser associada a vises retrgradas e conservadoras do ensino e
gradualmente a deixar de ser vista como ferramenta pedaggica incontornvel para
garantir a progresso e satisfao das necessidades dos alunos.
Por via do histrico que se lhe associado, ainda hoje, a prtica de pronncia
geralmente associada tcnica de reproduo incessante de sons, aos denominados
drills, segundo o termo ingls. Embora praticados nos foros de ensino de lnguas
estrangeiras a larga escala nos anos 40/50, estes exerccios, medida em que se foi
concebendo a lngua, prioritariamente, como instrumento de comunicao, foram
progressivamente sendo considerados pouco motivantes e, por isso, gradualmente
negligenciados na veiculao pedaggica dos sistemas lingusticos. Assim, conforme o
relata Joan Morley, os programas de pronncia passaram a perder a sua reputao nas
aulas de lngua estrangeira porque eram considerados estratagemas de drill-and-
exercise no comunicativos e sem sentido para as aulas (Morley, 1991: 485-6, citado
por Otlowski, 1998).
Tambm Penny Ur, a esse respeito, explicava que os professores de lngua
estrangeira contemporneos, quando encontravam tempo para dedicarem parte das suas
aulas pronncia, faziam-no sob a forma de apresentao e prtica de series de sons e
estruturas entediantes sobre tpicos aparentemente desconectados entre eles. Segundo
ele, a prtica de repeties cclicas e insistentes de sons levava a resultados
desencorajadores tanto para os alunos como para os professores e que, fruto desse
sentimento de insatisfao, alunos e professores acabavam por preferir evitar
categoricamente os exerccios explicitamente dedicados pronncia (1996: 47-56),
No entanto, apesar da perspectiva at agora descrita, de ressaltar que a
pronncia parte integral do acto de comunicao. Um qualquer aluno, apesar de
escolher os lexemas correctos, estruturar sintacticamente e gramaticalmente os
enunciados e aplicar os enunciados a contextos de linguagem socialmente correctos,
pode, ainda assim, no ser capaz de se fazer entender e, consequentemente, no
32
comunicar. Ao no conseguir aplicar correctamente os elementos fnicos que
acompanham a mensagem por, por exemplo, no articular correctamente os sons ou
aplicar um ritmo ou entoao no habitual lngua, em aluno pode no concretizar o
objectivo de ser entendido. Ou seja, a distoro no mbito da pronncia impede-o de
fazer com que os seus enunciados se entendam. Neste sentido, porque no existe acto
comunicativo oral que no actualize minimamente um grau entendvel de pronncia,
entende-se que o ensino da mesma deve obrigatoriamente tambm formar parte do
percurso de aprendizagem.
No meu parecer, assim como no parecer de outros investigadores,
nomeadamente Joan Morley, a viso actual do ensino da pronncia no currculo de uma
L2 de que esta deve ser vista como uma parte integral da comunicao e de que deve
dotar o aprendiz de pronncia inteligvel, como componente essencial da competncia
comunicativa (1991: 496, citado por Otlowski, 1998). Para este autor, um aluno sem
habilidades de pronncia adequadas v a sua capacidade comunicativa severamente
limitada. Por outro lado, um professor que no procure dar resposta s necessidades de
pronncia dos seus alunos um profissional que parcialmente procura anular a sua
responsabilidade enquanto docente.
Portanto, ainda que o objectivo da aprendizagem da pronncia, hoje em dia, no
seja adequar a fala do aprendiz fala de um falante nativo, um professor no deve cair
no erro de no abordar as questes que se prendem pronncia da lngua. Existem
aspectos orais da lngua que os alunos devero saber para se expressarem minimamente
bem na lngua pretendida e, quanto melhor o professor antecipar e abordar as questes
de pronncia que podem causar problemas no entendimento e uso da lngua estrangeira,
mais facilmente o aluno adquirir um nvel de competncia lingustico esperado.
A prtica de pronncia o ponto de partida para que os alunos no fossilizem
vcios de pronncia (Nardi, et al., 2004: 6) que podero mais tarde acarretar problemas
de comunicao e, implicitamente, problemas de convvio social nas esferas onde se
procurar expressar em lngua estrangeira.
de referir que, nos moldes do entendimento da prtica do ensino/aprendizagem
comunicativo, advoga-se que para que um aluno aspire a ter uma boa capacidade de
comunicao, dever trabalhar para desenvolver as diversas subcompetncias que lhe
esto implcitas: a competncia lexical, a competncia gramatical, a competncia
semntica, a competncia ortogrfica, a competncia ortopica e, por fim, e no menos
33
importante, a competncia fontica, que diz respeito aos elementos relativos
pronncia. Nessa lgica, os contedos relativos pronncia tambm integram
explicitamente os programas das lnguas estrangeiras. Neles estipulam-se quais os
contedos associados pronncia que os alunos tero de aprender de acordo com os
respectivos nveis. O programa curricular proposto pelo Ministrio da Educao para os
alunos de 7 ano de Ingls, por exemplo, especifica os aspectos que o aluno dever
dominar findado o respectivo nvel: Consciencializa a forma lingustica de enunciados
orais, nomeadamente: identifica e discrimina entre fonemas semelhantes, reconhece
variaes de pronncia do mesmo fonema (BrE/AmE), identifica e relaciona fonemas
com os seus smbolos fonticos14
Da mesma forma, na explicitao dos contedos a
leccionar no programa de Espanhol, emanado da mesma entidade, tambm se faz
referncia aos mesmos contedos, evidenciando os seguintes pontos: correspondncia
entre fonemas e letras em espanhol, reconhecimento e produo de fonemas
voclicos, fonemas semivoclicos, fonemas consonnticos. Neste ltimo programa de
orientao para a docncia tambm se alude aos sons que podero ser problemticos
para os estudantes portugueses, dando uma anteviso das possveis reas problemticas:
vogais o, e em posio tona e consoantes c,z,ch,j,g,b,v,r,s.15
Assim e conforme procurarei demonstr-lo, a prtica de pronncia explcita, no
tem de ser obrigatoriamente associada a um momento de ruptura com o mbito da
comunicao que se quer que seja inerente a qualquer aula de L2. A prtica de
pronncia, quando explicitamente conectada com um mbito comunicativo, pode-se
manifestar sob a aparncia de um momento de aquecimento, de pr-comunicao mais
centrado na correco lingustica que ir facilitar o envolvimento dos alunos nos
momentos de prtica comunicativa.
14 Programa Ingls: Programa e Organizao Curricular, Ensino Bsico, 3 ciclo, Ministrio da Educao, Departamento da Educao Bsica, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1997: 30.
15 Programa Espanhol: Programa e Organizao Curricular, Ensino Bsico, 3 ciclo, Ministrio da Educao, Departamento da Educao Bsica, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1997:27.
34
Captulo III Ciclos de Interveno
3.1. Primeiro Ciclo
Seguindo o plano proposto como esquema de uma investigao-aco no
contexto do ensino, decidi construir a minha estratgia em redor de dois diferentes
ciclos.
A minha estratgia de aco, pelo menos numa primeira tentativa, foi a de
aproveitar as aulas de 45 minutos pertencentes ao horrio semanal das lnguas do 7
ano. Estes alunos tinham, tanto a Espanhol como a Ingls, uma carga horria de 90
minutos + 45 minutos, semanalmente. Sabendo que a abordagem da pronncia no
poderia ser concretizada sistematicamente, em todas as aulas, dado que nem sempre o
material lingustico propcio sua concretizao, o meu objectivo era o de reservar os
mencionados dias, mais restritos em termos de tempo disponvel para a leccionao,
para o desenvolvimento de actividades de lngua diferentes, actividades inovadoras e
mais vocacionadas para a prtica de pronncia, para as quais nem sempre encontramos
tempo nas restantes aulas, mais prolongadas.
A escolha das aulas de 45 minutos tambm se deveu ao sentimento de que se
deveria dar, a essas aulas, um propsito concreto. As respectivas professoras
responsveis pela turma haviam, at ento, manifestado que lhes era difcil tirar proveito
dos dias em que somente tinham 45 minutos de aulas devido ao tempo relativamente
curto que estas lhes proporcionavam. Pressupus, ento, que as mesmas poderiam ser
usadas para um objectivo concreto: a pronncia.
Normalmente estas aulas eram utilizadas como passagens entre as restantes aulas
de 90 minutos. Serviam, nomeadamente: para a correco do trabalho de casa, para a
reviso da matria leccionada na aula anterior, como introduo aos contedos da aula
seguinte ou ainda como aula para a concretizao de apresentaes orais.
Para dar forma s ditas aulas, delineei que teria de conect-las sempre com a
matria leccionada nas aulas anteriores, de maneira a trabalhar temticas de lngua onde
os alunos se sentissem mais confortveis e assegurar que a associao com objectivos
comunicativos fosse sempre concretizada. Para tal, com a devida antecipao, deveria
rever as abrangncias temticas j dominadas pelos alunos, identificar quais os itens de
pronncia a abordar (seleccionando por exemplo aspectos de pronncia onde os alunos
j haviam evidenciado dificuldades), mas tambm reflectir sobre como iria adaptar esses
itens matria e s situaes comunicacionais pretendidas. Em concreto, nos 45
35
minutos que constituam essas aulas, teria de apresentar uma problemtica de pronncia
ressentida nos alunos, fazer com que eles tivessem conscincia da dificuldade
observada, proceder ao devido esclarecimento e prtica controlada e, finalmente, auferir
tempo suficiente para que esse novo conhecimento sobre os sons estudados fossem
contextualizados em momentos de comunicao em esses sons fossem actualizados.
3.1.1. A primeira aula do primeiro ciclo em Ingls
A posta em prtica destas aulas de pronncia ocorreu primeiramente na vertente
do Ingls e em redor do som th.
Porque esta primeira aula iria ser, antes de mais, uma aula teste, uma primeira
experincia de aplicao da investigao, achei correcto seleccionar um som em que os
alunos j tivessem objectivamente errado e um som ao qual eu saberia dar seguramente
respostas esclarec