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475 A PSICOLOGIA SOCIAL COMO HISTÓRIA* Kenneth J. Gergen 1 Swarthmore College, Swarthmore, E.U.A. Tradução de Filipe M. Boechat Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil Revisão técnica de Francisco Teixeira Portugal Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil A psicologia é usualmente definida como ciência do comportamento humano e a psicologia social como aquele ramo dessa ciência que lida com a interação hu- mana. Um dos maiores propósitos da ciência é o estabe- lecimento de leis gerais por meio da observação sistemá- tica. Para o psicólogo social, tais leis gerais são desen- volvidas a fim de descrever e explicar a interação social. Essa visão tradicional da lei científica repete-se de uma ou outra forma em quase todas as pesquisas fundamen- tais do campo. Em sua discussão sobre o papel da expli- cação nas ciências do comportamento, DiRenzo (1966) apontou que uma “explicação completa” nas ciências comportamentais “é aquela que assumiu o estatuto inva- riável de lei” (p. 11). Krech, Crutchfield e Ballachey (1962) declararam que “enquanto estivermos interessados em psicologia social como uma ciência básica ou como uma ciência aplicada, um conjunto de princípios científicos é essencial” (p. 3). Jones e Gerard (1967) propagaram esta visão: “a Ciência busca compreender os fatores respon- sáveis por relações estáveis entre eventos” (p. 42). Como Mills (1969) colocou, “psicólogos sociais querem des- cobrir relações causais que permitam estabelecer princí- pios básicos que explicarão o fenômeno da psicologia social” (p. 412). Esta visão da psicologia é, certamente, descenden- te direta do pensamento setecentista. Em um tempo em que as ciências físicas produziram contribuições notá- veis ao conhecimento, poder-se-ia ver com grande oti- mismo a possibilidade de aplicação do método científico ao comportamento humano (Carr, 1963). Se princípios gerais do comportamento pudessem ser estabelecidos, talvez fosse possível eliminar os conflitos sociais, dar um fim aos problemas de doença mental e criar condi- ções sociais em máximo benefício dos membros da so- ciedade. Como outros esperaram outrora, poderia mes- mo ser possível dar a tais princípios uma forma matemá- tica, desenvolver “uma matemática do comportamento humano tão precisa quanto a matemática das máquinas” (Russell, 1956, p. 142). O notável sucesso das ciências naturais em estabe- lecer princípios gerais pode ser atribuído em grande me- dida à estabilidade geral dos eventos no mundo da natu- reza. A velocidade da queda dos corpos ou a combinação dos elementos químicos, por exemplo, são eventos alta- mente estáveis ao longo do tempo. São eventos que po- dem ser recriados em qualquer laboratório, 50 anos atrás, hoje, ou 100 anos depois. Porque são tão estáveis, largas generalizações podem ser estabelecidas com um alto grau de confiança, explicações podem ser empiricamente tes- tadas e formulações matemáticas podem ser desenvolvi- das com êxito. Se os eventos fossem instáveis, se a velo- cidade da queda dos corpos ou a composição dos ele- mentos químicos estivesse em fluxo contínuo, o desen- volvimento das ciências naturais estaria drasticamente impedido. Leis gerais não apareceriam, e o registro de eventos naturais destinar-se-ia principalmente à análise histórica. Se os eventos naturais fossem caprichosos, a ciência natural seria amplamente substituída pela história natural. O objetivo deste artigo é demonstrar que a psicolo- gia social é principalmente um inquérito histórico. Dife- rentemente das ciências naturais, ela lida com fatos que são em grande medida irrepetíveis e notadamente instá- veis. Os princípios da interação humana dificilmente po- dem ser desenvolvidos porque os fatos sobre os quais são baseados geralmente não permanecem estáveis. O conhecimento não pode ser acumulado, no sentido usu- al, porque tal conhecimento geralmente não transcende seus limites históricos. Na discussão seguinte, duas li- nhas centrais de argumentação serão desenvolvidas a fim de sustentar essa tese: a primeira, centrada no impacto da ciência no comportamento social; a segunda, centrada na mudança histórica. Após examinar estes argumentos, focaremos nas alterações no domínio e objetivos do cam- po sugerido por essa análise. Impacto da ciência na interação social Tal como Back (1963) mostrou, a ciência social pode proveitosamente ser vista como um extenso siste- ma de comunicações. Na execução da pesquisa, os cien- tistas recebem mensagens transmitidas pelo sujeito do Psicologia & Sociedade; 20 (3): 475-484, 2008

A psicologia social como história gergen

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Psicologia & Sociedade; 20 (3): 453-464, 2008

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A PSICOLOGIA SOCIAL COMO HISTÓRIA*

Kenneth J. Gergen1

Swarthmore College, Swarthmore, E.U.A.Tradução de Filipe M. Boechat

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, BrasilRevisão técnica de Francisco Teixeira Portugal

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil

A psicologia é usualmente definida como ciênciado comportamento humano e a psicologia social comoaquele ramo dessa ciência que lida com a interação hu-mana. Um dos maiores propósitos da ciência é o estabe-lecimento de leis gerais por meio da observação sistemá-tica. Para o psicólogo social, tais leis gerais são desen-volvidas a fim de descrever e explicar a interação social.Essa visão tradicional da lei científica repete-se de umaou outra forma em quase todas as pesquisas fundamen-tais do campo. Em sua discussão sobre o papel da expli-cação nas ciências do comportamento, DiRenzo (1966)apontou que uma “explicação completa” nas ciênciascomportamentais “é aquela que assumiu o estatuto inva-riável de lei” (p. 11). Krech, Crutchfield e Ballachey (1962)declararam que “enquanto estivermos interessados empsicologia social como uma ciência básica ou como umaciência aplicada, um conjunto de princípios científicos éessencial” (p. 3). Jones e Gerard (1967) propagaram estavisão: “a Ciência busca compreender os fatores respon-sáveis por relações estáveis entre eventos” (p. 42). ComoMills (1969) colocou, “psicólogos sociais querem des-cobrir relações causais que permitam estabelecer princí-pios básicos que explicarão o fenômeno da psicologiasocial” (p. 412).

Esta visão da psicologia é, certamente, descenden-te direta do pensamento setecentista. Em um tempo emque as ciências físicas produziram contribuições notá-veis ao conhecimento, poder-se-ia ver com grande oti-mismo a possibilidade de aplicação do método científicoao comportamento humano (Carr, 1963). Se princípiosgerais do comportamento pudessem ser estabelecidos,talvez fosse possível eliminar os conflitos sociais, darum fim aos problemas de doença mental e criar condi-ções sociais em máximo benefício dos membros da so-ciedade. Como outros esperaram outrora, poderia mes-mo ser possível dar a tais princípios uma forma matemá-tica, desenvolver “uma matemática do comportamentohumano tão precisa quanto a matemática das máquinas”(Russell, 1956, p. 142).

O notável sucesso das ciências naturais em estabe-lecer princípios gerais pode ser atribuído em grande me-

dida à estabilidade geral dos eventos no mundo da natu-reza. A velocidade da queda dos corpos ou a combinaçãodos elementos químicos, por exemplo, são eventos alta-mente estáveis ao longo do tempo. São eventos que po-dem ser recriados em qualquer laboratório, 50 anos atrás,hoje, ou 100 anos depois. Porque são tão estáveis, largasgeneralizações podem ser estabelecidas com um alto graude confiança, explicações podem ser empiricamente tes-tadas e formulações matemáticas podem ser desenvolvi-das com êxito. Se os eventos fossem instáveis, se a velo-cidade da queda dos corpos ou a composição dos ele-mentos químicos estivesse em fluxo contínuo, o desen-volvimento das ciências naturais estaria drasticamenteimpedido. Leis gerais não apareceriam, e o registro deeventos naturais destinar-se-ia principalmente à análisehistórica. Se os eventos naturais fossem caprichosos, aciência natural seria amplamente substituída pela histórianatural.

O objetivo deste artigo é demonstrar que a psicolo-gia social é principalmente um inquérito histórico. Dife-rentemente das ciências naturais, ela lida com fatos quesão em grande medida irrepetíveis e notadamente instá-veis. Os princípios da interação humana dificilmente po-dem ser desenvolvidos porque os fatos sobre os quaissão baseados geralmente não permanecem estáveis. Oconhecimento não pode ser acumulado, no sentido usu-al, porque tal conhecimento geralmente não transcendeseus limites históricos. Na discussão seguinte, duas li-nhas centrais de argumentação serão desenvolvidas a fimde sustentar essa tese: a primeira, centrada no impactoda ciência no comportamento social; a segunda, centradana mudança histórica. Após examinar estes argumentos,focaremos nas alterações no domínio e objetivos do cam-po sugerido por essa análise.

Impacto da ciência na interação social

Tal como Back (1963) mostrou, a ciência socialpode proveitosamente ser vista como um extenso siste-ma de comunicações. Na execução da pesquisa, os cien-tistas recebem mensagens transmitidas pelo sujeito do

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experimento. Em sua forma crua, tais mensagens geramapenas “ruído” para o cientista. Teorias científicas ser-vem como dispositivo decodificador que converte o ba-rulho em informação útil. Embora Back tenha usado essemodelo de várias maneiras instigantes, sua análise termi-na no ponto da decodificação. Esse modelo precisa serestendido além do processo de coleta e decodificaçãodas mensagens. A tarefa do cientista é também aquela docomunicador. Se suas teorias provam ser dispositivosúteis de decodificação, elas são comunicadas à popula-ção a fim de que ela possa beneficiar-se de sua utilidade.Ciência e sociedade retroalimentam-se.

Esse tipo de relação do cientista com a sociedadeexpandiu-se progressivamente durante a última década.Canais de comunicação desenvolveram-se rapidamente.No nível da educação superior, mais de oito milhões deestudantes anualmente deparam-se com cursos ofereci-dos no domínio da psicologia, ofertas que se tornaram,nos últimos anos, insuperáveis em popularidade. A edu-cação liberal de hoje exige familiaridade com as idéiascentrais da psicologia. Os veículos de comunicação demassa vêm também satisfazer o vasto público interessa-do em psicologia. A imprensa monitora cuidadosamenteos encontros profissionais tanto quanto os periódicos daprofissão. Editoras acharam rentável apresentar a visãodos psicólogos sobre os padrões contemporâneos decomportamento, e revistas quase exclusivamente volta-das à psicologia ostentam hoje um total de mais de 600.000leitores. Quando acrescentamos a essas marcas a osten-siva expansão do mercado de brochuras, a crescentedemanda governamental por conhecimento justificandoo investimento público na pesquisa psicológica, a prolife-ração de encontros técnicos, o estabelecimento de em-preendimentos comerciais vendendo psicologia atravésde jogos e pôsteres, e a crescente confiança das grandesinstituições (comerciais, governamentais, militares e so-ciais) depositada na competência de seus cientistascomportamentais; começa-se então a sentir a força dolaço pelo qual os psicólogos encontram-se vinculados,em mútua comunicação, à cultura que lhes envolve.

A maioria dos psicólogos sustenta o desejo de que oconhecimento psicológico irá causar algum impacto nasociedade. Muitos de nós nos sentimos gratificados quan-do tal conhecimento pode ser utilizado para fins benéficos.De fato, para muitos psicólogos sociais, o comprometi-mento com o campo depende em grande medida da cren-ça na utilidade social do conhecimento científico. Contu-do, não se assume corriqueiramente que tal utilização alte-rará o caráter das relações causais da interação social. Es-peramos sim que o conhecimento do funcionamento sejautilizado na alteração de comportamentos, mas não espe-ramos que uma tal utilização afete o caráter subseqüentedo próprio funcionamento. Nossas expectativas, nessecaso, podem ser bastante infundadas. Não apenas a apli-

cação de nossos princípios pode alterar o dado sobre oqual eles estão baseados, como o próprio desenvolvimen-to dos princípios pode vir a invalidá-los. Três linhas deargumentação são pertinentes: a primeira é derivada doviés avaliativo da pesquisa psicológica; a segunda, dos efei-tos libertadores do conhecimento; a terceira, da importân-cia dos valores prevalecentes na cultura.

Viés Prescritivo da Teoria Psicológica

Como cientistas da interação humana, estamosengajados numa dualidade peculiar. Por um lado, cientifi-camente, avaliamos desinteressadamente o comportamen-to. Estamos bem avisados dos efeitos enviesadores deintensos compromissos normativos. Por outro lado, comoseres humanos socializados, nós sustentamos inúmerosvalores acerca da natureza das relações sociais. Raro opsicólogo social em que seus valores não influenciam otema de sua pesquisa, seus métodos de observação, oumesmo os termos de sua descrição. Na geração de co-nhecimento sobre a interação social, comunicamos tam-bém nossos valores pessoais. O receptor do conheci-mento provê-se assim de duas classes de mensagens:mensagens que desinteressadamente descrevem o queparece ser, e aquelas que sutilmente prescrevem o que édesejável.

Este argumento é mais claramente evidente naspesquisas sobre disposições pessoais. A maioria de nóssentir-se-ia insultado se fosse caracterizado como pos-suindo baixa auto-estima ou alto grau de busca de apro-vação, cognitivamente indiferenciado, autoritário, com-pulsivo anal, dependente do campo, ou de mentalidadefechada. Em parte, nossas relações refletem nossaaculturação. Não é preciso ser psicólogo para ofender-sepor tais rótulos. Mas, igualmente em parte, tais reaçõessão criadas pelos conceitos utilizados na descrição e ex-plicação de fenômenos. Por exemplo, no prefácio a TheAuthoritarian Personality (Adorno, Frenkel-Brunswik,Levinson & Sanford, 1950), os leitores são informadosde que “em contraste com o intolerante de antigamente,(o autoritário) parece combinar as idéias e as habilidadesde uma sociedade altamente industrializada a crenças ir-racionais e anti-racionais” (p. 3). Discutindo a personali-dade maquiavélica, Christie e Geis (1970) notaram que

Inicialmente, nossa imagem dos maquiavélicos foinegativa, associada a manipulações sombrias e de-sagradáveis. Entretanto ... encontramo-nos nós mes-mos diante de uma admiração perversa pela habilida-de daqueles para ultrapassar os outros em situaçõesexperimentais (p. 339).

Em sua capacidade prescritiva, tais comunicaçõestornam-se agentes de mudança social. Num nível ele-mentar, o estudante de psicologia poderia certamente

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desejar excluir da observação pública comportamentosrotulados pelos respeitados acadêmicos como autoritári-os, maquiavélicos e assim por diante. A comunicação doconhecimento pode, dessa maneira, homogeneizar osindicadores comportamentais de disposições subjacentes.Num nível mais complexo, o conhecimento dos correlatosda personalidade pode induzir o comportamento a supri-mir os correlatos. Não é estranho que muitas pesquisassobre diferenças individuais coloquem os psicólogos pro-fissionais em alta conta. Assim, mais os sujeitos asseme-lham-se aos profissionais – em termos de educação, con-dição econômica, religião, raça, sexo e valores pessoais –, mais vantajosas suas posições em exames psicológi-cos. Elevada educação, por exemplo, favorece diferenci-ação cognitiva (Witkin, Dyk, Faterson, Goodenough &Karp, 1962), baixo grau de autoritarismo (Christie &Jahoda, 1954), mentalidade aberta (Rokeach, 1960) etc.Munidos dessas informações, aquelas pessoas deprecia-das pela pesquisa poderiam contrabalancear a fim de eva-dir-se do estereótipo ofensivo. Por exemplo, mulheresque aprenderam que são mais persuasíveis que homens(cf. Janis & Field, 1959) podem retaliar, e, ao longo dotempo, a correlação é invalidada ou revertida.

Embora vieses avaliativos sejam facilmente identi-ficados em pesquisas sobre personalidade, eles não estãode modo algum limitados a esta área. A maioria dos mo-delos de interação social também contém juízos de valorimplícitos. Por exemplo, pesquisas sobre conformidadefreqüentemente tratam o conformado como um cidadãode segunda categoria, uma ovelha social que abre mão deconvicções pessoais em troca das opiniões errôneas dosoutros. Assim, modelos de conformidade social sensibi-lizam-no a fatores que poderiam levá-lo a ações sociaisdeploráveis. Com efeito, o conhecimento protege contraa eficácia futura destes mesmos fatores. Pesquisas so-bre mudança de atitude freqüentemente levam a essasmesmas implicações. Saber sobre a mudança de atitudeestimula a crer que se tem o poder de mudar os outros.Conseqüentemente, outros são relegados ao status demanipuláveis. Assim, teorias de mudança de atitude po-deriam sensibilizar em direção à proteção contra fatoresque poderiam potencialmente influenciá-lo. Do mesmomodo, teorias de agressão usualmente condenam oagressor, modelos de negociação interpessoal desapro-vam a espoliação e modelos de desenvolvimento moraldepreciam aqueles abaixo do estágio ótimo (Kohnlberg,1970). A teoria da dissonância cognitiva (Brehm & Cohen,1966; Festinger, 1957) podia parecer neutra, porém amaioria dos estudos nesta área tem apresentado o redu-tor de dissonância em termos nada elogiosos. “Quão es-túpido”, dizemos, “que as pessoas tenham que trapacear,tirar notas baixas em exames, mudar suas opiniões sobreos outros, ou mesmo comer alimentos indesejáveis, ape-nas para manter a consistência”.

A observação crítica subjacente a estas notas não éinadvertida. Parece infeliz que uma profissão dedicada aodesenvolvimento objetivo e imparcial do conhecimentodevesse usar esta posição para fazer propaganda àquelesque inocentemente recebem esse mesmo conhecimento.Os conceitos do campo são raramente desprovidos devalor, e muitos poderiam ser substituídos por conceitosde uma carga valorativa bastante diferente. Brown (1965)indicou o fato interessante de que a personalidade autori-tária clássica, tão temida em nossa própria literatura, erabastante similar à “personalidade tipo-J” (Jaensch, 1938),em alta conta entre os alemães. Aquilo que nossa literatu-ra nomeou rigidez foi visto por eles como estabilidade;flexibilidade e individualismo na nossa literatura foramvistos como falta de firmeza e excentricidade. Taisrotulações enviesadas percorrem nossa literatura. Porexemplo, elevada alta-estima poderia ser nomeada egoís-mo; necessidade de aprovação social poderia ser traduzidapor necessidade de integração social; diferenciaçãocognitiva como perfeccionismo; criatividade como des-vio; controle interno como egocentrismo. Do mesmomodo, se nossos valores fossem outros, conformidadesocial poderia ser vista como comportamento solidário;mudança de atitude como adaptação cognitiva; e o des-vio em direção ao risco como uma conversão corajosa.

Ainda assim, mesmo que os efeitos de disseminaçãoda terminologia psicológica precisem ser lamentados, éimportante traçar suas fontes. Em parte, a carga valorativados termos teóricos parece bastante intencional. O ato detornar público implica o desejo de ser ouvido. Entretanto,termos neutros têm pouco valor para o leitor potencial, e apesquisa não-valorativa rapidamente torna-se obscura. Seobediência fosse renomeada para comportamento alfa enão fosse tornada deplorável a partir de associações comAdolph Eichman, o interesse público seria indubitavelmentemenor. Além de angariar o interesse do público e da profis-são, conceitos carregados de valor provêem também umconsiderável meio de expressão para os psicólogos. Con-versei com inúmeros estudantes graduados que se volta-ram para a psicologia como decorrência de profundas pre-ocupações humanísticas. Dentre muitos se encontra umpoeta frustrado, filósofo ou humanitário que vê, no méto-do científico, simultaneamente, um meio para expressarseus valores e um obstáculo à livre expressão. Triste é ofato aparente de que a chave para a livre expressão namídia profissional é uma vida próxima ao laboratório. Muitosdesejam compartilhar seus valores diretamente, sem se-rem limitados pela constante demanda por evidência siste-mática. Para eles, conceitos sobrecarregados de valor com-pensam o conservadorismo usualmente oriundo dessasdemandas. O psicólogo de maior reputação pode perdoar-se mais diretamente. Normalmente, no entanto, nós nãocostumamos ver nossas opiniões como propagandísticas,mas sim como o reflexo de “verdades básicas”.

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Ainda que a comunicação de valores através do co-nhecimento seja em certa medida intencional, ela não o éde todo. A defesa de valores é quase um produto inevitávelda existência social, e como participantes da sociedaderaramente nos dissociamos desses valores ao perseguirmetas profissionais. Além disso, se confiamos na lingua-gem da cultura para a comunicação científica, é difícil en-contrar termos dizendo respeito à interação social despro-vidos de valor prescritivo. Nós poderíamos reduzir as pres-crições implícitas contidas em nossas comunicações seadotássemos uma linguagem completamente técnica. En-tretanto, mesmo uma linguagem técnica torna-se avaliativasempre que a ciência é usada como veículo de mudançasocial. Talvez nossa melhor opção seja mantermo-nos tãosensível quanto possível aos nossos vieses e comunicá-los tão abertamente quanto possível. A defesa de valorespode ser inevitável, mas podemos evitar mascará-la comoreflexões objetivas da verdade.

Conhecimento e Liberação ComportamentalÉ comum na prática de pesquisa em psicologia evitar

comunicar quaisquer premissas teóricas ao sujeito antesou durante a pesquisa. A pesquisa de Rosenthal (1966)indicou que mesmo as pistas mais sutis das expectativasdo experimentador podem alterar o comportamento dosujeito. Desse modo, sujeitos ingênuos são requeridospelos padrões comuns de rigor. As implicações dessacautela metodológica simples são de considerávelsignificância. Se os sujeitos possuem conhecimento pre-liminar, tais como premissas teóricas, não podemos tes-tar adequadamente nossas hipóteses. Da mesma manei-ra, se a sociedade é psicologicamente informada, teoriassobre isso mesmo que é informado tornam-se difíceis deserem testadas sem o risco de contaminação. Eis aquiuma diferença fundamental entre as ciências naturais esociais. Formalmente, o cientista não pode comunicarseu conhecimento aos sujeitos de seu estudo de tal for-ma que suas disposições comportamentais sejam modifi-cadas. Nas ciências sociais tal comunicação pode ter umimpacto vital no comportamento.

Um exemplo simples pode ser suficiente. Pareceque numa enorme variedade de condições, grupos detomada de decisão realizam decisões arriscadas atravésde grupos de discussão (cf. Dion, Baron, & Miller, 1970;Wallach, Kogan & Bem, 1964). Investigadores nessa áreaacautelam-se bastante para que os sujeitos experimentaisnão ignorem seu conhecimento neste assunto. Esses su-jeitos, uma vez cientes, poderiam resguardar-se dos efei-tos do grupo de discussão ou responder apropriadamen-te a fim de ganhar a aprovação do experimentador. En-tretanto, se o desvio em direção ao risco viesse a se trans-formar em conhecimento comum, sujeitos ingênuos tor-nar-se-iam inalcançáveis. Membros da cultura poderiamsistematicamente compensar as tendências em direção

ao risco produzidas pelo grupo de discussão até tais com-portamentos tornarem-se normais.

Como premissa geral, admite-se que o profundoconhecimento de princípios psicológicos liberte os sujei-tos de suas implicações comportamentais. Princípios es-tabelecidos do comportamento tornam-se estímulos àtomada de decisão de alguém. Como Winch (1958) indi-cou, “na medida em que compreender algo envolve com-preender sua contradição, alguém que, inteligentemente,realiza X deve ser capaz de visualizar a possibilidade defazer não-X” (p. 89). Princípios psicológicos tambémsensibilizam os sujeitos a influências que agem sobre elese dirigem sua atenção a certos aspectos do meio e delesmesmos. Nesse processo, seus padrões de comporta-mento podem ser fortemente influenciados. Como May(1971) expôs mais apaixonadamente, “cada um de nósherda da sociedade um fardo de tendências que nos mo-delam inevitavelmente; porém nossa capacidade de serconsciente desse fato salva-nos de sermos estritamentedeterminados” (p. 100). Dessa forma, o conhecimentode signos não-verbais de estresse ou calma (Eckman,1965) habilita-nos a utilizá-los toda vez que nos é útilfazê-lo. Saber que pessoas em problema são menos dis-postas a serem ajudadas quando há um grande númerode espectadores (Latané & Darley, 1970) pode aumentaro desejo de oferecer ajuda em tais condições. Saber queo estado de excitação pode influenciar a interpretação deeventos (cf. Jones & Gerard, 1967) pode suscitar caute-la quando esse mesmo estado encontra-se em grau ele-vado. Em cada caso, o conhecimento aumenta as alter-nativas de ação, e padrões prévios de comportamentosão modificados ou dissolvidos.

Fuga em direção à LiberdadeA invalidação histórica da teoria psicológica pode

ser mais profundamente investigada em sentimentoscomumente observados no interior da cultura ocidental.Da maior importância é o desconforto geral que as pes-soas parecem sentir quando têm o número de suas alter-nativas de respostas diminuído. Como Fromm (1941)viu, o desenvolvimento inclui a aquisição de fortes dese-jos de autonomia. Weinstein e Platt (1969) discutirambastante o mesmo sentimento em termos de “desejo dohomem de ser livre”, e vincularam esta disposição à es-trutura do desenvolvimento social. Brehm (1966) usouessa mesma disposição como pedra angular de sua teoriada reatância psicológica. A prevalência desse valor apren-dido teve importantes implicações para a validade, a lon-go prazo, da teoria psicossociológica.

Teorias válidas sobre o comportamento social cons-tituem significantes instrumentos de controle social. Namedida em que o comportamento de um indivíduo épredizível, ele torna-se vulnerável. Outros podem alteraras condições ambientais ou seu próprio comportamento

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em relação a ele a fim de obter um máximo de recompen-sa com um mínimo de custo. Da mesma maneira queum estrategista militar entrega-se a uma derrota quandosuas ações tornam-se predizíveis, que um oficial de umaorganização pode ser traído por seus subordinados, eque esposas manipuladas por seus maridos farristas quan-do seus padrões de comportamento são confiáveis. Oconhecimento torna-se assim poder nas mãos de outros.Segue-se que princípios psicológicos colocam uma ame-aça potencial a todos aqueles com que estão relaciona-dos. Investimentos em liberdade podem assimpotencializar um comportamento visando invalidar a teo-ria. Estamos satisfeitos com princípios de mudança deatitude até o momento em que os encontramos sendousados em campanhas dedicadas à modificação de nos-so comportamento. Nesse ponto, podemos nos ressentire reagir recalcitrantemente. Maior o poder da teoria emprever o comportamento, maior seu público de dissemi-nação e mais prevalente e reverberante sua reação. As-sim, as teorias fortes podem estar sujeitas à invalidaçãomais rapidamente do que as fracas.

O valor comum atribuído à liberdade pessoal não é oúnico ponto que responde pela ruína de uma teoriapsicossociológica. Na cultura ocidental, parece haver umgrande valor atribuído à singularidade ou individualidade. Aimensa popularidade de Erikson (1968) e Allport (1965)pode se dever ao grande apoio que esses autores dão a estevalor, e recente pesquisa em laboratório (Fromkin, 1970,1972) demonstrou a força desse valor na alteração do com-portamento social. A teoria psicológica, na sua estruturanomotética, é insensível às ocorrências singulares. Indiví-duos são tratados como exemplares de classes maiores.Uma reação comum é a de que a teoria psicológica édesumanizante, e como Maslow (1968) notou, pacientessustentam um forte ressentimento ao receberem a rubricaou serem rotulados com termos clínicos convencionais.Similarmente, negros, mulheres, ativistas, suburbanos,educadores e idosos têm todos reagido amargamente aexplicações sobre seus comportamentos. Dessa forma,podemos nos esforçar em invalidar teorias que nos sedu-zem por sua aparência impessoal.

Psicologia dos Efeitos de EsclarecimentoAté agora discutimos três modos através dos quais

a psicologia social altera o comportamento que ela pre-tende estudar. Antes de passarmos a um segundo grupode argumento em favor da dependência histórica da teo-ria psicológica, devemos lidar com um importante meiode combate aos efeitos descritos até agora. A fim de pre-servar a validade transhistórica dos princípios psicológi-cos, a ciência poderia ser removida do domínio público ea compreensão científica reservada a uma elite seleta.Essa elite seria, evidentemente, cooptada pelo Estado, umavez que nenhum governo poderia admitir o risco da exis-

tência de um estabelecimento privado desenvolvendo fer-ramentas de controle público. Para a maioria de nós, talproposta é repugnante, e nossa inclinação é, ao contrá-rio, procurar uma solução científica ao problema da de-pendência histórica. Muito do que se disse aqui sugereuma resposta desse tipo. Se pessoas que são psicologi-camente esclarecidas reagem aos princípios gerais con-tradizendo-lhes, ratificando-lhes, ignorando-lhes, e assimpor diante, então deveria ser possível estabelecer as con-dições sob as quais essas várias reações ocorrerão. Base-ado em noções de reatância psicológica (Brehm, 1966),profecias auto-realizadoras (Merton, 1948) e efeitos deexpectativa (Gergen & Taylor, 1969), poderíamos cons-truir uma teoria geral das reações à teoria. Uma psicolo-gia dos efeitos de esclarecimento deveria habilitar-nos apredizer e controlar os efeitos do conhecimento.

Embora uma psicologia dos efeitos de esclareci-mento pareça um promissor suplemento a teorias gerais,sua utilidade é seriamente limitada. Uma tal psicologiapode investir-se de valor, aumentar nossas alternativascomportamentais, e pode ser ofensiva por sua ameaça asentimentos de autonomia. Assim, a teoria que prediz re-ações à teoria é também suscetível à violação ou justifi-cação. Nas relações entre pais e filhos ocorrefreqüentemente algo que ilustra esse ponto. Pais estãoacostumados a usar recompensas diretas a fim de influ-enciar o comportamento de suas crianças. Com certotempo, as crianças adquirem consciência da premissados adultos de que uma recompensa atingirá os resulta-dos desejados e tornam-se obstinadas. O adulto pode entãoreagir com uma psicologia ingênua dos efeitos de escla-recimento e expressar desinteresse pela realização da ta-refa por parte da criança, novamente com a intenção dealcançar o objetivo desejado. A criança pode responderapropriadamente, mas muito freqüentemente irá emitiralguma variação de “você só está dizendo que você nãose importa porque você realmente quer que eu faça”.Nos termos de Loevinger (1959), “... um aumento nocontrole parental é contrabalanceado por um aumento nocontrole filial” (p. 149). Em bom português, nomeia-se-lhe psicologia reversa, e é freqüentemente mal vista. Cer-tamente, pode-se contar com pesquisa sobre reações àpsicologia dos efeitos de esclarecimento, porém rapida-mente pode-se ver que essa troca de ações e reaçõespoderia ser estendida indefinidamente. Uma psicologia dosefeitos de esclarecimento está sujeita às mesmas limita-ções históricas como outras teorias de psicologia social.

Teoria psicológica e mudança cultural

O argumento contra leis transhistóricas em psico-logia social não apenas reside na consideração do impac-to da ciência na sociedade. Uma segunda importante li-nha de pensamento merece consideração. Se examinar-

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mos as mais proeminentes linhas de pesquisa durante aúltima década, logo perceberemos que as regularidadesobservadas e, assim, os princípios teóricos mais impor-tantes, estão firmemente vinculados a circunstâncias his-tóricas. A dependência histórica dos princípios psicológi-cos é mais notável em áreas onde o foco incide sobre opúblico. Psicólogos sociais têm se preocupado muito,por exemplo, em isolar indicadores de ativismo políticodurante a última década (cf. Mankoff & Flacks, 1971;Soloman & Fishman, 1964). Entretanto, se se examinaesta literatura ao longo do tempo, inúmeras inconsistênci-as aparecem. Variáveis que predizem com êxito o ativismopolítico durante os primeiros estágios da guerra do Vietnãsão distintos daqueles que predizem com êxito o ativismodurante os períodos finais. Parece clara a conclusão deque os fatores mobilizadores do ativismo político muda-ram com o tempo. Assim, qualquer teoria do ativismo po-lítico construída de achados anteriores seria invalidada porachados posteriores. Pesquisas futuras em ativismo políti-co encontrarão ainda, indubitavelmente, outros indicado-res mais úteis.

Tais alterações nas relações funcionais não estão limi-tadas em princípio às áreas concernentes ao público imedi-ato. A teoria da comparação social de Festinger (1957), porexemplo, e a extensiva linha de pesquisa dedutiva (cf. Latané,1966) estão baseadas na dupla suposição de que (a) pessoasdesejam avaliar-se corretamente e (b) a fim de fazê-lo, com-param-se com outros. Há pouquíssimas razões para acharque tais disposições são geneticamente determinadas, e po-demos facilmente imaginar pessoas, e mesmo sociedades,nas quais tais suposições não se sustentariam. Muitos denossos comentadores sociais são críticos da tendência co-mum a buscar na opinião dos outros a definição de si etentam mudar a sociedade com sua crítica. Com efeito,toda a linha de pesquisa parece depender de um conjunto depropensões aprendidas, propensões que poderiam ser alte-radas pelo tempo e circunstâncias.

Da mesma maneira, a teoria da dissonância cognitivadepende da suposição de que as pessoas não toleramcognições contraditórias. A base de tal intolerância não pare-ce ser geneticamente dada. Há certamente indivíduos queentendem tais contradições de modo bastante diferente. Es-critores existencialistas recentes, por exemplo, celebram oato inconsistente. Contrariamente, devemos concluir que ateoria é preditiva em razão do estado atual das disposiçõesaprendidas. Do mesmo modo, o trabalho de Schachter(1959) sobre afiliação está sujeito aos argumentos elabora-dos a partir da teoria da comparação social. O fenômeno daobediência de Milgram (1965) é certamente dependente dasatitudes contemporâneas frente à autoridade. Na pesquisasobre mudança de atitudes, a credibilidade do comunicadoré um potente fator porque aprendemos a confiar em autori-dades na nossa cultura, e a mensagem comunicada tornar-se dissociada de sua fonte com o passar do tempo (Kelman

& Hovland, 1953) porque, atualmente, não nos parece útilreter a associação. Em pesquisas sobre conformidade, pes-soas conformam-se mais a amigos do que a não-amigos(Back, 1951) parcialmente porque aprenderam que amigospunem comportamentos desviantes na sociedade contem-porânea. Pesquisas em atribuição causal (cf. Jones, Davis& Gergen, 1961; Kelley, 1971) dependem da tendência cul-turalmente dependente a perceber o homem como a fontede sua ação. Essa tendência pode ser modificada (Hallowell,1958) e alguns (Skinner, 1971) de fato demonstraram queisso pode acontecer.

Talvez a garantia principal de que a psicologia socialnunca desaparecerá pela sua redução à fisiologia seja a deque a fisiologia não pode dar conta das variações do com-portamento humano ao longo do tempo. As pessoas podempreferir roupas de cores abertas e alegres hoje e fechadas esóbrias amanhã; podem valorizar autonomia nessa era e de-pendência na próxima. Certamente, a variação das respos-tas ao meio repousa em variações na função fisiológica.Todavia, a fisiologia nunca pode especificar a natureza doestímulo ou do contexto da resposta a que cada indivíduoestá exposto. Não pode nunca dar conta do contínuo deslo-camento dos padrões do que é considerado bom e desejávelna sociedade, de uma série de fontes de motivação primáriapara o indivíduo. Entretanto, ainda que a psicologia socialesteja imunizada do reducionismo fisiológico, suas teoriasnão estão isoladas da mudança histórica.

É possível inferir dessa última classe de argumentosum compromisso com pelo menos uma teoria da validadetranshistórica. Tem-se argumentado que a estabilidade nospadrões de interação sob a qual a maioria de nossas teoriasrepousa depende de disposições adquiridas de duração li-mitada. Isso sugere implicitamente a possibilidade de umateoria da aprendizagem social transcendendo as circuns-tâncias históricas. No entanto, tal conclusão não é confiável.Consideremos, por exemplo, uma teoria elementar de re-forço. Poucos duvidariam de que a maioria das pessoasresponde às contingências recompensadoras e punitivasem seu meio, e é difícil imaginar um tempo em que issonão seria verdadeiro. Tais premissas parecem assim váli-das transhistoricamente, e a primeira tarefa do psicólogopoderia ser o isolamento das formas funcionais precisasrelacionadas aos padrões de recompensa e punição docomportamento.

Esta conclusão peca em dois pontos importantes.Muitos críticos da teoria do reforço têm sustentado que adefinição de recompensa (e punição) é circular. Reforço étipicamente definido como aquilo que aumenta a freqüênciade resposta; aumento de resposta é definido como aquiloque reforça. Assim, a teoria parece limitada à interpretaçãopost hoc. Apenas quando a mudança do comportamentoocorreu pode-se identificar o reforçador. A réplica maissignificante a esse criticismo reside no fato de que recom-pensas e punições ganham valor preditivo tão logo são

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indutivamente estabelecidas. Assim, isolar a aprovação soci-al como um reforço positivo para o comportamento huma-no depende inicialmente de uma observação post hoc. Con-tudo, uma vez estabelecida como um reforçador, a aprova-ção social prova ser, no que concerne à predição, um bem-sucedido meio de modificação do comportamento (cf. Barron,Hecknmueller, & Schultz, 1971; Gewirtz & Baer, 1958).

Entretanto, parece também que o reforço não per-manece estável ao longo do tempo. Reisman (1952), porexemplo, convincentemente demonstrou que a aprovaçãosocial tem um valor reforçador muito maior em nossa so-ciedade contemporânea do que há um século. E enquantoorgulho nacional poderia ser um forte reforçador do com-portamento juvenil nos idos de 1940, para a juventude con-temporânea tal sentimento provavelmente seria aversivo.Com efeito, a circularidade essencial na teoria do reforçopode a qualquer momento ser recolocada. Como os valo-res reforçadores mudam, assim também a validade preditivadessa pressuposição de base.

A teoria do reforço encara outras limitações históri-cas quando a consideramos em suas determinações maisprecisas. Igualmente à maioria das teorias da interaçãohumana, a teoria está sujeita ao investimento ideológico. Anoção de que o comportamento é totalmente governadopor contingências externas é vista por muitos como vul-garmente desprovida de sentido. O conhecimento da teo-ria habilita-nos a evitar ser capturado por suas predições.Assim como terapeutas da modificação do comportamen-to sabem, pessoas que estão familiarizadas com essas pre-missas teóricas podem subverter seus efeitos desejadoscom facilidade. Finalmente, já que a teoria provou-se tãoefetiva na alteração do comportamento de organismos in-feriores, torna-se particularmente ameaçador a alguém quevalorize a autonomia. De fato, muitos de nós não gostarí-amos que tentassem modelar nosso comportamento atra-vés de técnicas de reforço, e inclinar-nos-íamos a quebrara expectativa do ofensor. Em suma, a elaboração da teoriado reforço não é menos vulnerável a efeitos de esclareci-mento do que outras teorias da interação humana.

Implicações para uma ciência histórica docomportamento social

Sob a luz dos presentes argumentos, a tentativacontínua de construir leis gerais do comportamento so-cial parece mal direcionada, e a crença associada a ela deque o conhecimento da interação social pode ser acumu-lado como nas ciências naturais revela-se injustificada.Em essência, o estudo em psicologia social é fundamen-talmente um empreendimento histórico. Estamos essen-cialmente engajados em incontáveis questões contempo-râneas. Utilizamos metodologia científica, porém os re-sultados não são princípios científicos no sentido tradici-onal. No futuro, historiadores poderão voltar-se para tais

relatos do passado a fim de alcançar uma melhor com-preensão acerca da vida nos dias atuais. Entretanto, éprovável que os psicólogos do futuro encontrem poucovalor no conhecimento contemporâneo. Esses argumen-tos não são puramente acadêmicos e não se limitam auma simples redefinição de ciência. Aqui estão implicadassignificantes alterações na atividade de campo. Cincodessas alterações merecem atenção.

Rumo à Integração do Puro e do AplicadoEntre psicólogos acadêmicos encontra-se difundi-

do um preconceito contra a pesquisa aplicada, um pre-conceito que é evidenciado pelo enfoque dado à pesquisapura pelos periódicos de prestígio e pela dependência depromoção e manutenção de contribuições à pesquisa puraem oposição à pesquisa aplicada. Esse preconceito ba-seia-se, em parte, na suposição de que a pesquisa aplica-da é de valor transitório. Enquanto esta se limitaria a re-solver problemas imediatos, a pesquisa pura contribuiriapara um conhecimento básico e duradouro. Do ponto devista atual, o solo no qual se assentam tais preconceitosnão é merecedor de respeito. O conhecimento que a pes-quisa pura se dedica em estabelecer é também transitó-rio; generalizações nessa área de pesquisa geralmente nãoperduram. A tal ponto que, quando generalizações da pes-quisa pura têm grande validade transhistórica, podem estarrefletindo processos de interesse periférico ou importan-tes para o funcionamento da sociedade.

Psicólogos sociais são treinados para usar ferramen-tas de análise conceitual e metodologia científica a fim deexplicar a interação humana. No entanto, dada a esterilida-de em aperfeiçoar os princípios gerais ao longo do tempo,essas ferramentas mostram-se mais produtivas quandousadas na resolução de problemas de importância imediatapara a sociedade. Isso não implica que tais pesquisas de-vam ser de alcance restrito. Um defeito fundamental degrande parte das pesquisas aplicadas é que os termos usa-dos para descrever e explicar são relativamente concretose específicos para o caso em mãos. Enquanto os compor-tamentos concretos estudados pelos psicólogos acadêmi-cos são freqüentemente mais triviais, a linguagemexplicativa é altamente geral, e assim mais amplamenteheurística. É assim que os argumentos presentes sugeremuma intensa focalização em assuntos sociais contemporâ-neos, baseados na aplicação de métodos científicos e fer-ramentas conceituais largamente generalizadas.

Da Predição à SensibilizaçãoO objetivo central da psicologia é tradicionalmente

encarado como a predição e o controle do comporta-mento. Do nosso ponto de vista, esse objetivo é despro-positado e oferece pouca justificativa para a pesquisa.Princípios do comportamento humano podem ter valorpreditivo temporalmente limitado, e seu alto conhecimento

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pode torná-los impotentes como ferramentas de controlesocial. Todavia, previsão e controle não precisam servirde pedras angulares do campo. A teoria psicológica podedesempenhar um papel excessivamente importante en-quanto dispositivo de sensibilização. Pode esclarecer-nosacerca da gama de fatores que potencialmente influenci-am o comportamento sob várias condições. A pesquisapode também oferecer algumas estimativas da importân-cia desses valores num determinado momento. Seja nocaso do domínio da política pública ou dos relaciona-mentos pessoais, a psicologia social pode aguçar a sensi-bilidade de um indivíduo para influências sutis e apontarsuposições sobre o comportamento que não se mostra-ram úteis no passado.

Quando se pede um conselho ao psicólogo socialsobre um provável comportamento em uma situaçãoconcreta, a reação consiste em desculpar-se. É necessá-rio explicar que o campo ainda não se encontra suficien-temente desenvolvido a ponto de que predições confiáveispossam ser feitas. Do nosso ponto de vista, tais descul-pas são inapropriadas. O campo pode raramente forne-cer princípios para que predições confiáveis possam serfeitas. Padrões de comportamento estão sob constantemudança. Contudo, o que o campo pode e deve oferecersão pesquisas informando o inquiridor do número depossíveis ocorrências, ampliando assim sua sensibilida-de e preparando-o para uma acomodação mais rápida àmodificação ambiental. Pode prover ferramentasconceituais e metodológicas com as quais um númeromaior de juízos de discernimento pode ser efetuado.

Desenvolvendo Indicadores de DisposiçõesPsicossociais

Psicólogos sociais evidenciam uma contínua preo-cupação com processos psicológicos básicos, ou seja,processos que influenciam um vasto e variado conjuntode comportamentos sociais. Simulando a preocupaçãode psicólogos experimentais com processos básicos,como visão em cores, aquisição da linguagem, memóriae assim por diante, psicólogos sociais detiveram-se emalguns processos, tais como dissonância cognitiva, nívelde aspiração e atribuição causal. Entretanto, há uma pro-funda diferença entre os processos estudados nos domí-nios da psicologia geral experimental e no domínio dapsicologia social. No primeiro caso, os processos estãofreqüentemente guardados biologicamente no organismo,não estão sujeitos a efeitos de esclarecimento e não de-pendem de circunstâncias culturais. Ao contrário, a mai-oria dos processos de domínio social é dependente dedisposições sujeitas a modificação ao longo do tempo.

Assim sendo, é um erro considerar os processosem psicologia social como básicos no sentido das ciênci-as naturais. Antes, podem ser largamente considerados acontrapartida psicológica de normas culturais. Da mes-

ma maneira que um sociólogo preocupa-se em medirpreferências parciais ou padrões de mobilidade no de-curso do tempo, o psicólogo social poderia atentar paraos padrões de mudança das disposições psicológicas e asua relação com o comportamento social. Se a reduçãode dissonância é um processo importante, então deverí-amos estar aptos a medir a prevalência e a força de taldisposição no seio da sociedade ao longo de tempo e osmodos de redução de dissonância prediletos num dadomomento. Se a elevação da estima parece influenciar ainteração social, os amplos estudos culturais deveriamrevelar a extensão dessa disposição, sua força em váriassubculturas, e a forma do comportamento social com aqual se encontra mais associada a um dado momento.Embora experimentos em laboratório sejam adequadosao isolamento de disposições particulares, são pobres in-dicadores da série e da significância dos processos davida social contemporânea. São extremamente necessá-rias metodologias que estabeleçam contato com aprevalência, força e forma das disposições sociais no tem-po. Com efeito, uma tecnologia dos indicadores sociaispsicologicamente sensíveis (Bauer, 1969) é desejada.

Pesquisa em Estabilidade ComportamentalO fenômeno social pode variar consideravelmente

na medida em que se submete à mudança histórica. Certosfenômenos podem ser mais estreitamente vinculados adados fisiológicos. A pesquisa de Schachter (1970) sobreestados emocionais parece ter uma forte base fisiológica,assim como o trabalho de Hess (1965) sobre afeto econstrição pupilar. Embora disposições adquiridas possamvir a superar algumas tendências fisiológicas, tais tendên-cias deveriam se reafirmar gradualmente. Outras propen-sões fisiológicas, ainda, podem ser irreversíveis. Pode ha-ver também disposições que são suficientemente podero-sas para que nem o esclarecimento e nem mesmo as mu-danças históricas venham a causar-lhe algum impacto. Al-gumas pessoas geralmente evitarão estímulos físicos do-lorosos, apesar de suas sofisticações ou das normas cor-rentes. Devemos pensar, então, em termos de um contí-nuo de durabilidade histórica, com fenômenos altamentesuscetíveis à influência histórica num extremo e proces-sos mais estáveis no outro.

Assim, métodos de pesquisa habilitando-nos adiscernir a durabilidade relativa do fenômeno social sãobastante necessários. Métodos interculturais poderiam serempregados para esse fim. Embora a replicação interculturalseja repleta de dificuldades, similaridade numa dada fun-ção entre culturas amplamente divergentes atestaria forte-mente sua durabilidade no tempo. Técnicas de análise deconteúdo poderiam também ser empregadas no exame deperíodos históricos recentes. Até agora, tais empreendi-mentos têm fornecido pouco além de citações indicandoque algum grande pensador pressentiu uma hipótese fami-

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liar. Temos ainda que travar contato com a vasta quantida-de de informações referentes aos padrões de interação nosúltimos períodos. Embora a progressiva sofisticação dospadrões de comportamento ao longo do espaço e do tem-po fornecesse valiosas compreensões referentes à durabi-lidade, alguns difíceis problemas apresentar-se-iam. Algunspadrões de comportamento podem permanecer estáveisaté uma observação minuciosa. Outros podem simples-mente tornar-se disfuncionais com o passar do tempo. Aconfiança do homem num conceito de deidade tem umalonga história e é encontrada em numerosas culturas. En-tretanto, muitos são céticos sobre o futuro desta crença.Taxas de durabilidade teriam assim que contribuir para aestabilidade potencial tanto quanto atual do fenômeno.

Ainda que a pesquisa por disposições culturais maisduráveis seja extremamente valiosa, não deveríamos daíconcluir que seja mais útil ou desejável que estudar os pa-drões passados de comportamento. Grande parte da vari-abilidade do comportamento social deve-se indubitavelmentea disposições historicamente dependentes, e o desafio decapturar tais processos “em luta” e durante períodos pre-ciosos da história é imenso.

Rumo a uma História Social IntegradaSustentou-se que a pesquisa em psicologia social é

fundamentalmente o estudo sistemático da história con-temporânea. Assim sendo, parece miopia manter a separa-ção disciplinar (a) do estudo tradicional de história e (b) deoutras ciências historicamente fronteiriças (incluindo so-ciologia, ciência política e economia). As particulares es-tratégias de pesquisa e a sensibilidade do historiador pode-riam elevar a compreensão da psicologia social, passada epresente. Particularmente útil seria a sensibilidade do his-toriador às seqüências causais no curso do tempo. Muitaspesquisas em psicologia social centram-se em segmentosmomentâneos de processos em andamento. Temos nosconcentrado muito pouco na função desses segmentosdentro de seu contexto histórico. Temos pouca teoria li-dando com a inter-relação entre eventos dentro de longosperíodos de tempo. Da mesma feita, historiadores poderi-am beneficiar-se das mais rigorosas metodologias empre-gadas pelos psicólogos sociais tanto quanto de sua sensi-bilidade a variáveis psicológicas. Contudo, o estudo da his-tória, passada e presente, deveria ser empreendido da ma-neira mais ampla possível. Fatores políticos, econômicose institucionais são todos fatores necessários à compreen-são numa perspectiva integrada. A concentração em psi-cologia apenas oferece uma compreensão distorcida denossa condição presente.

Notas

* GERGEN, K. J. (1973) Social Psychology as History. Journal ofPersonality and Social Psychology, 26 (2), 309-320.

1Sou muito grato às seguintes pessoas pelas profundas considera-ções às várias fases dessa análise: Shel Feldman, Mary Gergen,Kenneth Hammond, Louise Kidder, George Levinger, PaulRosenblatt, Ralph Rosnow, M. Brewster Smith, SiegfriedStreufert, Lloyd Strickland, Karl Weick, and LawrenceWrightsman. Pedidos de reimpressão deverão ser enviados aoautor, no Departamento de Psicologia, Swarthmore College,Swarthmore, Pensylvania 19080.

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Kenneth J. Gergen é psicólogo social, fundador doTAOS Institute e principal expoente do

Construcionismo Social em Psicologia desde apublicação do artigo ora traduzido. Atualmente, leciona

em Swarthmore College. Endereço paracorrespondência: Swarthmore College, Swarthmore,

Pensylvania 19080.Home page: http://www.swarthmore.edu/SocSci/

kgergen1/Email: [email protected]

Filipe M. Boechat é mestrando do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do

Rio de Janeiro, bacharel pela mesma universidade.Endereço para correspondência: Estrada da Boiuna, 519,casa 22. Taquara/Jacarepaguá. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

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Francisco Teixeira Portugal é doutor em Psicologiapela PUC-Rio (2002). Co-editor do periódico Arquivos

Brasileiros de Psicologia e professor adjunto daUniversidade Federal do Rio de Janeiro e do Programa

de Pós-Graduação em Psicologia do Instituto dePsicologia da UFRJ. Endereço para correspondência:

Instituto de Psicologia, Programa de Pós-Graduação emPsicologia. Av. Pasteur, 250, Fundos - Pavilhão Nilton

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A Psicologia Social como HistóriaKenneth J. GergenTradução de Filipe M. BoechatRevisão técnica de Francisco T. PortugalRecebido: 09/10/2008Aceite final: 09/10/2008