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A verdade: Uma questão dúbia refletida na caverna. Kelen Cristina Gini 23 de março de 2016 Resumo: Quando a questão sobre a verdade se apresenta, inúmeras dúvidas repercutem na existência ou não de verossimilhança. As fases de frustração e mágoa em que o ser é submetido quando há quebra de expectativa pelo que se considera figura imitativa, enverada o espectro do que será parte do caminhar quando adulto. Os pontos que culminam em sua posição como ser social, entrevará em sua atuação naquela atmosfera. Entre a ficção e a busca por definições verdadeiras, configura-se o ser. Este pisa em uma linha tênue. Questiona-se seu papel no acolhimento da satisfação ao exposto ou insatisfação pelo que é 1

A questão da verdade é inserida no texto de Marílena Chauí

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Page 1: A questão da verdade é inserida no texto de Marílena Chauí

A verdade: Uma questão dúbia refletida na caverna.

Kelen Cristina Gini

23 de março de 2016

Resumo:

Quando a questão sobre a verdade se apresenta, inúmeras dúvidas

repercutem na existência ou não de verossimilhança. As fases de frustração e

mágoa em que o ser é submetido quando há quebra de expectativa pelo que se

considera figura imitativa, enverada o espectro do que será parte do caminhar

quando adulto. Os pontos que culminam em sua posição como ser social, entrevará

em sua atuação naquela atmosfera. Entre a ficção e a busca por definições

verdadeiras, configura-se o ser. Este pisa em uma linha tênue. Questiona-se seu

papel no acolhimento da satisfação ao exposto ou insatisfação pelo que é

apresentado. Surge então, a busca incessante de alguns pela verdade a partir do

inconformismo.

Palavras-chaves: Mito. Verdade. Alienação. Psique. Infância

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1. Introdução

Este artigo pretende discutir em níveis diversos os pontos que nos colocam

frente a discussão da Verdade, como instância dúbia. Tem como base fundamental,

o capítulo 1, intitulado Ignorância e Verdade, presente na unidade 3, do livro Convite

à Filosofia, de autoria de Marilena Chauí. 

2. Desenvolvimento

A questão da verdade é inserida no texto de Marilena Chauí, como a busca

incessante por respostas verossímeis, através dos questionamentos adquiridos

frente ao embate direto das discursivas levantadas pelo status quo de um único

direcionamento de informação.

Aponta-se didaticamente, na obra introdutória de Chauí, a quebra de

expectativa desde a infância, em que o paradigma de discurso de incondicional

veracidade é quebrado quando indica-se contradições no que se apresenta como

indiscutível.

Citando a sentença de Blaise Pascal: "O coração tem razões que a própria

razão desconhece", cria-se uma perspectiva sobre a posição de experimentar

sensivelmente a inverdade e a configuração com que a mesma é racionalizada.

Desta colisão contraditória, em que a sistematização de processo interno inicia-se

cognitivamente, submerge à vontade. Vontade esta, que se enfronha através da

busca intelectual, por muito calcada nos parâmetros investigativos de uma filosofia

dada como empírica, mesmo que na infância seja perceptível de modo ainda

rudimentar.

A diferenciação do jogo lúdico em relação a exposição da mentira

professada, cria no ser, em sua primeira fase vivente, a frustração da quebra de

confiança.

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A partir deste momento, contribui-se expressivamente para que o

desenvolvimento desta fase, siga calcada em diretrizes na construção do

pensamento e modus operandi do ser, frente a sociedade em que está inserido.

Mito Da Caverna: O ser ou não ser – Uma instigante busca pelo firmamento alienante.

           

A formação construída na primeira fase da infância e seguida no emanar

factual, podem apresentar características evidentes na estagnação proposital de

alguns. Desde o apego extremo por uma única fonte opinativa, até diretrizes

religiosas que expliquem miticamente, como verdade absoluta, os caminhos

tomados pela humanidade e a condição socioeconômica do individuo. A concepção

do ser humano como uno, traz embutida de fragilidade sua percepção do singular.

Erich Fromm, em sua obra “O medo à Liberdade, enfatiza o problema da

instabilidade apresentada na psique humana frente relação entre o individuo e o

mundo.

Inserir-se na massa como modo de corpo indestrutível, como união de

pensamento, trava uma batalha e coloca-se em cheque a finitude em que o ser está

fadado. O ser não é ser, é corpo. É parte crucial de uma organização social e que

briga para abolir os resquícios da individualidade de pensamento. Existe a

necessidade em evitar o isolamento social e moral, esta descrita vivamente por

Balzac, na passagem de O sofrimento do inventor:

“Aprende uma coisa, porém, grava-a em tua mente que ainda é tão

maleável: O homem tem horror ã solidão, a mais terrível é a solidão moral.

Os primeiros eremitas viviam com Deus, habitavam o mundo mais povoado,

que é o dos espíritos. A primeira ideia do homem, seja ele um leproso ou

um prisioneiro, um pecador ou um inválido, é a de ter um companheiro de

sorte. Para satisfazer este impulso, que é a própria vida, ele devota todo o

seu vigor, todo seu poder, à energia de sua vida inteira. Teria Satanás

arranjado companheiros não fosse este anelo irresistível? Sobre este tema

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poder-se-ia escrever toda uma epopeia, que seria um prólogo ao Paraiso

Perdido porque este nada mais é que a apologia da rebelião”.

Toda e qualquer Teoria que busque crivar no intelecto a indagação é

repudiada, pois subverte a sequência dos fatores já estabelecidos. Pode-se usar

como exemplo prático o movimento religioso conhecido como teologia da libertação,

em que Ignácio Martin-Baró foi um dos percursores.

O completo fatalismo que a igreja Católica submetia para resignação humana

e mantenimento da ordem”, foi contestada pelo surgimento desta vertente

introduzida na própria religião católica. Os métodos designativos do situacional

humano e seu papel social, passaram a ser duramente contestados. O resultado

deste principio de liberdade, foi suprimido em seu inicio, com o assassinato de seus

disseminadores. Eis a Caverna de projeções que Platão nos submete. É preferível

conviver com o estabelecido, a única verdade que a ilusório nos banha, do que

estarmos isolados em um apanhado de indagações e questionamentos cruciais para

o desenvolvimento intelectual. Sócrates questionou demais; Édipo questionou

demais; Antígona enfrentou o que era lei estabelecida. Fim cabal: Todos

condenados pela fragilidade de sua finitude.  

      

Friedrich Wilhelm Nietzsche: A máscara de toda palavra

           Como então construir conceitos definitivos sobre a verdade?

A problematização dá-se justamente pela insegurança. Esta vincula-se a

insatisfação de prosseguir com o estabelecido. Ao fazer uma digressão até a fase

inicial humana, tem-se outra diretriz formativa: Os incertos.

Através da frustação, registra-se como codificado no subconsciente, a luz do

princípio filosófico.  

As fontes de informação, os métodos para obtenção do saber, já não são

mais suficientes. Em mão, agora, obtêm-se uma gama de métodos e fontes; fontes

que se anulam umas as outras, métodos de aplicação prática que igualmente se

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anulam. Surge então, algo que pudesse chamar de particular.  Como cita Marilena

Chauí: Busca da verdade.

O insistente nos fatos se desgarra de factoides. A verdade instaura-se como

quimera. Todo o exercício filosófico passa a ser tecido.

Esta formação de ser não caminha como massa, passa a observá-la em

terceira pessoa. Analiticamente, assim como analise-se os fatos.

Deste modo, o pensador desafia inclusive a filosofia, pois cria uma

perspectiva nova da caverna, questionando outras aberturas ainda mais profundas,

pois sabe que a linha filosófica que tende ao fixo, tem a perspectiva parcial do

filósofo.

Depara-se então com o edificar argumentativo e abre-se a dialética.

Todas as opiniões mascaram-se. As palavras surgem recobertas de efeitos

próprios de seu emissor.

Nietzsche despe a verdade que se diz imutável. Provoca ainda a

consignação do conhecimento, diz metaforicamente: “certa vez uma estrela onde

animais mais inteligentes inventaram o conhecimento. Foi o minuto mais soberbo e

mentiroso da "história universal".

Dado acima, podemos inclusive questionar o papel do que se aceita por

conhecimento. Os ídolos agora estão quebrados.

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3. Considerações finais

No decorrer de nossa formação intelectual, a busca incessante pelo

conhecimento esbarra no que temos de acessível. O exercício filosófico implica

como parte quase inata deste crescimento fértil. Nos é apresentado uma dicotomia

de diretrizes: Caminhar pelo conformismo ou seguir a incerteza.

Em um dado primeiro momento, os acúmulos cognitivos influenciarão

intrinsicamente esta escolha. Farão com que os pés sigam uma trajetória pré-

estabelecida, pois em essência, há também uma dicotomia.

Quando o pensamento se dissemina através de olhares mais amplos,

percebe-se que todos estamos mantidos aprisionados na caverna platônica. O que

segue, é a diferença de posição frente a profundida da mesma. As bases de

conhecimento estão apresentadas em formatos prontos ou semi-prontos. O que

permite exercer a singularidade no preparo, vem também de ingredientes prontos.

No entanto, a química das misturas cria ares novos adventos de ventanias antigas.

A filosofia cresce neste conceito. É a água em torrente da formação de nuvens e

não as poças imutáveis.

Pensar não nos torna filósofos no sentido teórico do arranjo. Mas nos

possibilita questionar. Em épocas de efervescência histórica e crises sociais, a

comunicação chega como meio de convencimento, como forma necessária de

agrupamento, discussão e fundição do pensar. Posiciona como massa ou

contestador. Seremos então objetos de estudo e estudiosos. Dicotômico? Sim.

Podemos estar em primeira pessoa no que nos veiculam ou observar o todo em

terceira pessoa, exercitando a dialética.  

A verdade absoluta apresenta-se na deterioração do corpo em morte.

           Há uma escolha...A filosofia segue como nasceu: Da dúvida!

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4. Bibliografia 

FROMM, E. O Medo à Liberdade. Tradução de Octávio Alves Velho. 14ª Ed.

Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1983.

CHAUÍ, M., Convite à Filosofia, São Paulo, 13a. ed., Ática, 2003.

NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Sobre Verdade e Mentira no Sentido Extra-

Moral. (Org. e Trad. Fernando de Moraes Barros). São Paulo: Hedra, 2007.

PLATÃO, A República. Trad. Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova Cultural,

2004

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