A Responsabilidade Civil Do Estado Pelo Dano Nuclear e Radiológico

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    A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO PELO DANO NUCLEAR ERADIOLGICO

    THE LIABILITY OF THE STATE FOR NUCLEAR AND RADIOLOGICAL DAMAGE

    Aline de Oliveira Santos1

    Eudes Teotnio Rodrigues2

    RESUMOConsiderando-se que o dano nuclear e o dano radiolgico tem natureza iminentementeambiental, haja vista que provocam contaminao do solo, da gua, do ar, de materiaisdiversos como roupas, casas, veculos, entre outros, a responsabilidade civil e, maisespecificamente, a responsabilidade civil do Estado, deve ser analisada sob esse enfoque. AConstituio Federal de 1988 elencou a proteo ao meio ambiente como direito fundamental,tanto da presente gerao como das geraes futuras, impondo ao Estado o especial dever de

    proteg-lo. Assim sendo, acompanhando a corrente majoritria e a jurisprudncia dominantedo Superior Tribunal de Justia, os danos decorrentes da falha na fiscalizao, fruto da desdiaestatal no cumprimento desta atividade, impe ao Estado o dever de reparao do dano, de

    forma objetiva e solidria.Palavras-chave: Dano nuclear e radiolgico; Dano ambiental; Responsabilidade civil doEstado.

    ABSTRACTConsidering that the nuclear damage and damage imminently environmental radiological innature, given that cause contamination of soil, water, air, various materials such as clothing,houses, vehicles, etc., liability, and more specifically, the liability of the state, should beanalyzed under this approach. The Constitution of 1988 listed the protection of theenvironment as a fundamental right, both the present generation and future generations, the

    state imposing a special duty to protect him. Thus, following the party line and prevailingjurisprudence in the Superior Court of Justice, the damage arising from failure in supervision,the result of negligence on duty state oversight, the state imposes a duty to repair the damage,in an objective and supportive.Keywords:Nuclear and radiological damage; Environmental damage; Liability of the State.

    1Bacharel em Direito e Aluna de Disciplina Isolada de Direito Pblico pela Pontifcia Universidade Catlica de

    Minas Gerais e pesquisadora do Ncleo Jurdico de Pesquisas Pblicas. Servidora do Tribunal de Justia de

    Minas Gerais. E-mail: [email protected] em Direito e Mestrando em Direito Pblico pela Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais.

    Advogado e membro de comisses da 197 Subseo da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas Gerais. E-mail: [email protected].

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    1 INTRODUO

    O recente incidente ocorrido na usina nuclear de Fukushima, no Japo, devido ao

    terremoto seguido de tsunami, e que provocou a contaminao por radioatividade em grande

    extenso da costa japonesa, tendo-se notcias que tal j tenha se estendido regio costeira do

    continente americano, reacendeu o debate mundial sobre a utilizao de materiais radioativos

    para, principalmente, a gerao de energia.

    Contudo, a utilizao de materiais radioativos no se limita to somente sua

    utilizao em usinas nucleares. A sua utilizao amplamente difundida para os mais

    diversos fins, merecendo destaque, dentre eles, a medicina nuclear.

    Em face da utilizao de elementos radioativos, existe a possibilidade da ocorrnciade acidentes, sejam nucleares ou radiolgicos, a exemplo do que ocorreu na cidade de

    Goinia, em 1987, onde um equipamento mdico que continha o elemento radioativo Csio

    137 estava abandonado e foi encontrado por catadores de material reciclvel e que gerou

    inmeros danos, tanto ao meio ambiente quanto sade humana, em face da contaminao

    radioativa decorrente.

    Neste contexto, a problematizao situa-se justamente na possibilidade de se

    considerar o dano nuclear e radiolgico como dano ambientar para fins de aferio daresponsabilidade civil do Estado no caso de sua ocorrncia.

    Figura como hiptese, pois, que o dano nuclear e radiolgico est intimamente ligado

    noo de dano ambiental, haja vista que tm o condo de provocarem a contaminao do

    meio ambiente, como o solo, a gua e o ar. Tendo o Estado o especial dever de preservao do

    Meio Ambiente, essencial a anlise da sua responsabilidade civil no tocante aos danos de

    natureza nuclear e radiolgica. a que se prope o presente artigo.

    2 NOTAS SOBRE O DANO NUCLEAR E RADIOLGICO

    A utilizao de materiais radioativos e, sobretudo, da energia nuclear, ampla nos

    dias atuais. Seja para a produo de energia, seja para sua utilizao na medicina nuclear para

    tratamento de patologias, a energia nuclear faz parte do dia a dia de todos. E com o recente

    acidente nuclear ocorrido no Japo, na usina de Fukushima, as atenes do mundo voltaram,

    mais uma vez, para o perigo que a utilizao de materiais nucleares representa para a

    integridade tanto das populaes quanto do meio ambiente natural.

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    A histria mostra que muitos foram os acidentes que ocorreram em virtude da

    utilizao de material nuclear. A Agncia Internacional de Energia Atmica (AIEA) tem

    documentado, de forma muito detalhada, os acidentes nucleares ocorridos pelo mundo (AIEA,

    1988). Destaca-se, entre os inmeros casos relatados, o acidente ocorrido na usina de

    Chernobyl, na Ucrnia, no ano de 1986, considerado o pior acidente nuclear do mundo,

    espalhando radioatividade pela atmosfera em uma grande extenso territorial. A cidade de

    Pripyat, onde se localiza a usina de Chernobyl, at hoje uma cidade fantasma, pois os nveis

    de radioatividade naquele local ainda se encontram muito acima dos limites de tolerncia

    permitidos para o ser humano.

    Ressalte-se tambm o acidente radiolgico acontecido em Goinia, em 1987,

    considerado o maior acidente radiolgico do mundo ocorrido fora de usina nuclear. Esse casoser examinado adiante.

    Os efeitos da radiao nos seres humanos, a depender do grau de exposio, podem

    ser devastadores. Os sintomas variam desde nuseas e vmito at o desenvolvimento de

    leucemias, alterao da funo da medula, esterilidade, ulcerao dos tecidos epiteliais e bito

    em poucas horas3, alm de ter a capacidade de contaminar o solo, o ar e a gua, provocando

    efeito de contaminao em cadeia.

    Para fins de contextualizao e melhor compreenso do leitor, abaixo expe-sealguns conceitos envolvendo a radioatividade e que sero mencionados no curso deste estudo.

    A Comisso Nacional de Energia Nuclear (CNEN) define a radioatividade (tambm

    chamada de radiatividade) como sendo

    Um fenmeno natural ou artificial, pelo qual algumas substncias ou elementosqumicos chamados radioativos, so capazes de emitir radiaes, as quais tm apropriedade de impressionar placas fotogrficas, ionizar gases, produzirfluorescncia, atravessar corpos opacos luz ordinria, etc. As radiaes emitidas

    pelas substncias radioativas so principalmente partculas alfa, partculas beta eraios gama. A radioatividade uma forma de energia nuclear, usada em medicina(radioterapia), e consiste no fato de alguns tomos como os do urnio, rdio e trioserem instveis, perdendo constantemente partculas alfa, beta e gama (raios-X). Ournio, por exemplo, tem 92 prtons, porm atravs dos sculos vai perdendo-os naforma de radiaes, at terminar em chumbo, com 82 prtons estveis (COMISSONACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR, 2013).

    Acrescenta-se ainda que a radioatividade pode ser natural, manifestada nos

    elementos radioativos e nos istopos que se encontram na natureza, e artificial ou induzida,

    3So os inmeros sintomas descritos para os efeitos da radiao em adultos e podem ser consultados napublicao disponibilizada pelo CNEN em , nas pginas32 e 33.

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    provocada por transformaes nucleares artificiais (COMISSO NACIONAL DE ENERGIA

    NUCLEAR, 2013). possvel, pois, concluir que a radiao no provm to somente das

    reaes nucleares, sendo que certos elementos a possuem naturalmente.

    A CNEN define a energia nuclear como sendo a energia advinda do ncleo do

    tomo, incluindo, portanto, qualquer tipo de radiao que possua esta origem. Partindo, ento,

    desse pressuposto, o estudo da radioatividade (que no objeto deste artigo), envolve ampla

    gama de atividades.

    O material radioativo aquele que tem capacidade de emitir radiao ionizante,

    sendo definido como qualquer partcula ou radiao eletromagntica que, ao interagir com a

    matria, ioniza direta ou indiretamente seus tomos ou molculas4 (BRASIL, 1992).

    Dentre os diversos empregos da energia nuclear, destaca-se a sua utilizao para finsde produo de energia eltrica, mediante fisso do ncleo atmico e a sua utilizao na

    medicina nuclear, para o tratamento de diversas patologias.

    Portanto, com as definies acima expostas e para fins deste estudo, fica definido

    como dano nuclear aquele decorrente de acidente em usinas nucleares (onde se faz a fisso

    nuclear) e dano radiolgico aquele decorrente da contaminao por emisses de radiao

    ionizante, no ocorrido no interior das usinas nucleares.

    3 BREVES NOTAS SOBRE A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

    A responsabilizao do Estado nem sempre foi admitida. Com a evoluo dos

    conceitos de Estado de Direito que a ideia de Estado responsvel tornou-se associada de

    Estado de Direito (DIAS, p. 141). Nesse sentido, Dias assevera que

    A partir da doutrina do Estado de Direito, cultuada pelos juristas alemes, naprimeira metade do sculo XIX, submetendo o Estado lei constitucional e ovinculando ao reconhecimento de certos direitos fundamentais dos indivduos nelaestabelecidos, permitindo-lhes defesa contra os excessos do poder estatal, despontoua tendncia de se incluir nos textos constitucionais um preceito normativo genrico,estabelecendo a responsabilidade civil do Estado pelos danos causados aosparticulares. (2004, p.. 141).

    A noo de Estado irresponsvel5no teve sua plenitude adotada pelo direito ptrio.

    Embora tenha adotado a responsabilizao do agente estatal, no havia de incio a

    4Esta a definio presente no art. 1, inciso XVI e XX do Decreto n. 623, de 4 de agosto de 1992, revogadopelo Decreto n. 2.210, de 22 de abril de 1997, que no trouxe a mesma definio.5 A ideia de Estado irresponsvel est intimamente ligada ideia de soberania irrestrita. Conforme discorreEdilson Pereira Nobre Jnior, a noo calcada na definio tradicional de soberania de um Estado, a ostentar a

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    responsabilidade direta por danos causados6. Somente com a Constituio de 1946 que a

    teoria da responsabilidade objetiva foi acolhida, quando se passou a admitir a

    responsabilidade do Estado, independentemente de haver culpa ou no na conduta do seu

    agente, tendo a Constituio de 1967 pouco inovado neste sentido (FARIA, p. 647).

    A Constituio de 1988 consolida a responsabilidade objetiva do Estado fulcrada no

    risco administrativo ou do servio7. De fato, a Constituio, no seu artigo (art.) 37 6, dispe

    que as pessoas jurdicas de direito pblico e as de direito privado prestadoras de servios

    pblicos respondero pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros

    [...] (BRASIL, 1988).

    Existe consenso doutrinrio no sentido da responsabilizao objetiva pelos atos

    estatais, com fundamento no risco administrativo. Segundo Celso Antnio Bandeira de Mello,a responsabilidade objetiva a obrigao de indenizar que incumbe a algum em razo de

    um procedimento lcito ou ilcito que produziu uma leso na espera juridicamente protegida

    de outrem. Para configur-la basta, pois, a mera relao causal entre o comportamento e o

    dano (2012, p. 1022). Para Maral Justen Filho, a responsabilidade civil do Estado consiste

    no dever de indenizar as perdas e danos materiais e morais sofridos por terceiros em virtude

    de ao ou omisso antijurdica imputvel ao Estado8 (2006, pg. 792).

    A aplicabilidade da responsabilidade objetiva tem como pressupostos a existncia dodano, seja ele material ou moral, a ao ou omisso imputvel ao Estado e o nexo de

    causalidade entre o dano a ao ou omisso estatal9(JUSTEN FILHO, 2006).

    4 O DANO NUCLEAR E O DANO AMBIENTAL

    ideia de poder ilimitado no seu interior, juntamente com a independncia absoluta no exterior, consolidava a

    teoria da irresponsabilidade [...] (2003, pg.332). Suas bases se desenvolveram poca do Estado absolutista,com a ideia de que o monarca titular do poder jamais causaria danos aos seus sditos. Mesmo assim, elapermaneceu existindo na sua substncia at mesmo aps o advento do Estado Liberal, especialmente naInglaterra e Estados Unidos onde foi utilizada at meados do sculo XX. No entanto, j em fins do sculo XIXos seus postulados demonstravam claros sinais de fadiga [...] (GOMES, pg. 112).6Cf. Maria Sylvia Zanella Di Pietro, pg. 648.7 Maria Sylvia Zanella Di Pietro, discorrendo sobre a responsabilidade objetiva do estado, leciona que chamada teoria da responsabilidade objetiva, precisamente por prescindir da apreciao dos elementossubjetivos (culpa ou dolo); tambm chamada teoria do risco, porque parte da ideia de que a atuao estatalenvolve um risco de dano, que lhe inerente. Causado o dano, o Estado responde como se fosse uma empresa deseguro em que os segurados seriam os contribuintes que, pagando os tributos, contribuem para a formao de umpatrimnio coletivo (2010, pg. 646).8No mesmo sentido a lio de Diogenes Gasparini, para o qual a responsabilidade civil do Estado caracteriza-

    se como a obrigao que se atribui de recompor os danos causados a terceiros em razo de comportamentounilateral comissivo ou omissivo, legtimo ou ilegtimo, material ou jurdico, que lhe seja imputvel (2005, pg.896)9Neste mesmo sentido, cf. Jos dos Santos Carvalho Filho (2010, pg. 605).

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    4.1 Conceito de Meio Ambiente

    A sociedade, imbuda de interesses econmicos cada vez mais perversos, passa a

    intervir no meio ambiente como jamais se imaginou, com auxilio de tecnologias cada vez

    mais modernas e invasivas, causando danos ambientais de propores nunca imaginadas.

    Diante desse dilema, preciso compreender o significado da expresso dano

    ambiental que, por sua vez, constitui um dos pressupostos da responsabilidade civil ambiental,

    bem como o conceito de meio ambiente. Entre as atividades antrpicas causadoras de dano

    ambiental pode-se citar a atividade nuclear, objeto da anlise do presente artigo.

    Primeiramente, necessrio compreender o sentido da expresso meio ambiente.

    Trata-se de um termo polissmico, podendo apresentar vrios sentidos, segundo o contexto noqual aplicado. Sua origem vem do francs milieu ambiant,tendo sido utilizada pela primeira

    vez pelo naturalista Geoffroy de Saint-Hilaire em sua obra publicada em 1835, denominada

    tudes Progressives dum Naturaliste (Milar, 2009).

    A palavra meio pode ser conceituada como metade de um inteiro, em um contexto

    fsico ou social. J a palavra ambiente pode representar um espao geogrfico fsico ou social,

    no sendo meio ambiente uma expresso redundante.

    Machado entende que tal expresso, embora bem sonante, no , contudo, a maiscorreta, sendo, alis, um pleonasmo, j que meio e ambiente so expresses sinnimas, sendo

    o meio aquilo que envolve, ou seja, ambiente (Machado, 2004).

    Percebe-se que no h acordo entre os especialistas a respeito do que seja meio

    ambiente. A palavra meio, bem como ambiente, podem trazer conotaes diferentes, seja no

    meio cientifico ou popular. No so, pois, termos unvocos, ou seja, detentores de um nico

    significado, mas so equvocos, palavras iguais com significados diferentes.

    Diversos autores buscam delimitar o significado da expresso meio ambiente.Ernesto Briganti, citado por Freire, entende que ambiente o conjunto, em um dado

    momento, dos agentes fsicos, qumicos, biolgicos e dos fatores sociais suscetveis de terem

    um efeito direto ou indireto, imediato ou futuro, sobre os seres vivos e a atividade Humana

    (BRIGANTI apud FREIRE, 1998, p.18).

    Maurcio Libster, citado porFreire, defende que

    [...] no conceito de ambiente e seus estudos, o homem apresenta em sua natureza de

    ser social, e tem como ponto de partida a sua atuao modificadora dos componentesfsicos naturais que o circulam, quando essas modificaes alteram de algum modo,o equilbrio dos ecossistemas ou atentam contra seu restabelecimento. (LIBSTERapud FREIRE,1998, p 17-23).

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    Segundo o dicionrio Aurlio, Meio Ambiente o conjunto de condies e

    influncias naturais que cercam um ser vivo, ou uma comunidade, e que agem sobre eles

    (FERREIRA, 1999, pg. 428).

    Observa-se, pois, a necessidade de se compreender a expresso meio ambiente de

    forma ampla, haja vista que, a partir da compreenso de sua amplitude poder-se-

    compreender o mbito de sua proteo.

    O desenvolvimento equilibrado da vida se faz necessrio sobrevivncia do homem,

    neste sentido entendendo-se por meio ambiente

    [...] a interao do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais quepropiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas. Aintegrao busca assumir uma concepo unitria do meio ambiente, compreensivados recursos naturais e culturais. (SILVA, 2000, p. 2).

    E, adentrando no sentido aplicado ao direito, Milar define o direito do ambiente

    como o complexo de princpios e normas coercitivas reguladoras das atividades humanas

    que, direta ou indiretamente, possam afetar a sanidade do ambiente e sua dimenso global,

    visando sua sustentabilidade para as presentes e futuras geraes (2009, p. 109).

    4.2 Definio de Dano Ambiental

    Verifica-se que a moderna literatura tem encontrado dificuldades para definir o que

    seja dano ambiental, como ensina Paulo de Bessa Antunes, citado por Milar (2009, p. 734).

    Essa dificuldade ocorre tendo em vista que a legislao no cuidou de definir o que seja meio

    ambiente.

    A legislao ptria no buscou conceituar o que seja dano ambiental, diferentementede outros pases, em que o conceito de dano ambiental pode ser encontrado na prpria

    legislao, a exemplo da Itlia:

    Dano ambiental a leso (alterao, prejuzos) de um fator ambiental ou ecolgico(ar, gua, solo, floresta como tambm clima) com a qual consigna-se umamodificao - para pior - da condio de equilbrio ecolgico do ecossistema localou abrangente.(MACHADO, 2009, p. 348-349)

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    A legislao ambiental, ao contrrio, utiliza as expresses poluidor, degradao

    ambiental e poluio. Para definir o que seja dano ambiental, necessrio compreender os

    termos citados.

    Poluidor, segundo o art. 3, inciso IV, da Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, a

    pessoa fsica ou jurdica, de direito pblico ou privado, responsvel, direta ou indiretamente,

    por atividade causadora de degradao ambiental (BRASIL, 1981). Degradao ambiental

    constitui a alterao adversa das caractersticas do meio ambiente (BRASIL, 1981),

    conforme a redao do art. 3, inciso II da mesma lei.

    Por fim, o art. 3, inciso III, define a poluio como sendo

    [...] a degradao da qualidade ambiental resultante das atividades que direta ouindiretamente:a) prejudicam a sade e o bem estar da populao;b) criem condies adversas s atividades sociais e econmicas;c) afetem desfavoravelmente a biota;d) afetem as condies estticas e sanitrias do meio ambiente;e) lancem matrias ou energia em desacordo com os padres ambientaisestabelecidos. (BRASIL, 1981)

    A redao do dispositivo acima transcrito deixa claro que a poluio no est restrita

    alterao do meio natural, pois o meio ambiente a ser considerado pode ser tanto o natural

    quanto o cultural e o artificial.

    Milar define o dano ambiental como a leso aos recursos ambientais, com a

    consequente degradao - alterao adversa ou in pejus - do equilbrio ecolgico e da

    qualidade ambiental (2009, p. 734).

    Leite assim o define:

    o dano ambiental deve ser compreendido como toda leso intolervel causada porqualquer ao humana (culposa ou no ao meio ambiente), diretamente comomacrobem de interesse da coletividade, em uma concepo totalizante, eindiretamente a terceiros tendo em vista interesses prprios individualizveis e querefletem o macrobem (2000, p. 108).

    O dano ambiental apresenta caractersticas diferentes do dano tradicional,

    principalmente porque considerado bem de uso comum do povo, incorpreo, imaterial,

    autnomo e insuscetvel de apropriao exclusiva (COLOMBO, 2006). Trata-se, aqui, de

    direitos difusos, em que o indivduo tem o direito de usufruir o bem ambiental e tambm tem

    o dever de preserv-lo para as presentes e futuras geraes. Sendo assim, o dano ambiental qualquer alterao que traga uma prejudicialidade ao equilbrio ecolgico.

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    4.3 O Dano Nuclear e Radiolgico

    Poluio ambiental por atividades nucleares e radiolgicas um problema de

    propores imensurveis, que se d ora por seus rejeitos (lixo atmico), ora por acidentes

    causados, a exemplo do acontecido na usina de Fukushima, no Japo, em 2011.

    Compreende-se por rejeito nuclear todo material contaminado resultante de uma

    instalao nuclear10. Estima-se que os 413 reatores nucleares em todo mundo produzem

    centenas de toneladas de lixo atmico, sendo crescente a produo de rejeitos radioativos

    (ANTUNES, 2011, p. 1061). Como sabido, o lixo atmico letal e, em se tratando de

    material desta natureza, a incerteza a nica certeza em matria de radioatividade e de seusefeitos sobre meio ambiente e a sade humana (ANTUNES, 2011, p. 1062).

    Uma das solues encontradas por muitos pases, (talvez a melhor expresso seria a

    postergao de um problema) o enterramento dos rejeitos, lamentavelmente deixando um

    problema para as geraes futuras.

    Uma questo relativa ao dano radiolgico de repercusso mundial, enfrentado pelo

    Brasil, e que ser posteriormente analisado, foi o acidente ocorrido na cidade de Goinia,

    capital de Gois, com o rejeito radioativo causado pelo Csio 137, provocando inmerosdanos sade das pessoas atingidas e que gerou vrias toneladas de lixo considerado

    radioativo que, atualmente, encontra-se armazenado na cidade de Abadia de Gois.

    Merece destaque o fato de que a Central Nuclear Almirante lvaro Alberto11produz

    16 toneladas de lixo radioativo a cada 18 meses e ainda no encontrou soluo definitiva para

    a disposio dos rejeitos por ela produzidos. Por isso, os mesmos so estocados

    provisoriamente (ANTUNES, 2011, p. 1074).

    Diante desse problema, faz-se necessrio compreender o instituto daresponsabilidade civil do Estado no tocante ao dano nuclear e radiolgico, sob a tica do dano

    ambiental e seus reflexos, com o intuito de assegurar s presentes e futuras geraes um

    ambiente preservado, o que constitui-se em dever do Estado, como preconiza a Constituio

    Federal. Tal anlise ser demonstrada em tpico prprio adiante.

    10O art. 1, inciso III da Lei 6.453/77 traz a seguinte definio: III produtos ou rejeitos radioativos, osmateriais radioativos obtidos durante o processo de produo ou de utilizao de combustveis nucleares, ou cuja

    radioatividade se tenha originado da exposio s irradiaes inerentes a tal processo, salvo os radioistopos quetenham alcanado o estgio final de elaborao e j se possam utilizar para fins cientficos, mdicos, agrcolas,comerciais ou industriais (BRASIL, 1977).11Formada pelas Usinas Nucleares Angra 1, Angra 2 e Angra 3.

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    A Constituio Federal, no seu art. 225, caput, dispe que todos tm direito ao meio

    ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso coletivo e essencial sadia qualidade de

    vida, cabendo ao Poder Pblico e sociedade em geral o dever de defend-lo e preserv-lo

    para as presentes e futuras geraes (BRASIL, 1988).

    O texto constitucional eleva o direito ao meio ambiente equilibrado ao status de

    direito fundamental. E o 3 do mesmo artigo dispe que as condutas e atividades

    consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitaro os infratores, pessoas fsicas ou jurdicas, a

    sanes penais e administrativas, independentemente da obrigao de reparar os danos

    causados (BRASIL, 1988).

    O art. 14, 1, da Lei n. 6.938/81, tratando do dever de reparar os danos provocadosdecorrentes da conduta lesiva ao meio ambiente, exclui a culpa como um dos elementos da

    responsabilidade12, caracterizando, pois, a responsabilidade objetiva.

    Explicita ARAJO:

    A responsabilidade objetiva pressupe que quem danificar o meio ambiente tem odever jurdico de repar-lo, evidenciando, assim, o binmio dano/reparao, de talsorte que no se cogita o motivo da degradao para que se possa indenizar e/oureparar, no interessando se a atividade gera ou no risco. O que se verifica quem

    foi atingido para, posteriormente, iniciar-se o processo lgico-jurdico da imputaocivil objetiva ambiental (2009, p. 317).

    Destaca-se os seguintes diplomas legais que adotaram o regime da responsabilidade

    objetiva no ordenamento jurdico-ambiental brasileiro: a Lei n. 6.453, de 17 de outubro de

    1977, art. 4; a Lei n. 6.938/81, art. 14, 1; Cdigo Civil, art. 927; e a Lei n. 11.105, de 24

    de maro de 2005 (MILAR, 2009).

    Para que haja a configurao da responsabilidade objetiva, basta que se demonstre o

    evento danoso e o nexo de causalidade, tendo em vista que a referida responsabilidade fundada na teoria do risco da atividade.

    Nesse sentido, Faria (2011, p. 643) ensina que, para configurar a responsabilidade

    objetiva do Estado, necessrio apenas a comprovao do dano e do nexo de causalidade.

    12Art. 14, pargrafo 1: Sem obstar a aplicao das penalidades previstas neste artigo, o poluidor obrigado,independentemente da existncia de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a

    terceiros, afetados por sua atividade. O Ministrio Pblico da Unio e dos Estados ter legitimidade parapropor ao de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente (BRASIL, 1981) (grifono consta no original).

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    Isto a constatao de que o fato danoso foi causado pelo Estado, por ao, comissiva ou

    omissiva, culposa ou no.

    Considera evento danoso o resultado de atividades que, direta ou indiretamente,

    causaram dano ao meio ambiente, enquanto o nexo causal a relao de causa e efeito entre a

    atividade e o dano dela advindo. Para estabelecer o dever de reparar o prejuzo, a anlise se d

    em virtude da atividade causadora do dano.

    A responsabilidade do Estado fundamenta-se na responsabilidade direta pela

    fiscalizao e efetiva aplicao da lei, visto que, se a mquina administrativa no opera em

    sintonia com tal escopo, fere as disposies constitucionais13, desrespeitando o meio ambiente

    e atuando contra o desenvolvimento econmico sustentvel, vale dizer, lesa a sociedade como

    todo.Assim, verifica-se que h responsabilidade extracontratual do Estado em face dos

    danos ambientais, conforme disposto na Constituio Federal, que considera o meio ambiente

    direito difuso, cabendo ao Poder Pblico o dever de preservar e de defender o mesmo,

    independentemente da ocorrncia do fato danoso imputado diretamente ao Estado, que

    responsvel na medida em que no exerce o papel delineado na Constituio14.

    Segundo Mello

    [...] entende-se por responsabilidade patrimonial extracontratual do Estado aobrigao que lhe incumbe de reparar economicamente os danos lesivos esferajuridicamente garantida de outrem e que lhe sejam imputveis em decorrncia decomportamentos unilaterais, lcitos ou ilcitos, comissivos ou omissivos, materiaisou jurdicos(2004, p. 917).

    Nos dizeres de Cavalieri, haver responsabilidade extracontratual se o dever

    jurdico violado no estiver previsto no contrato, mas sim na lei ou na ordem jurdica (2009,

    p.16).

    Observa-se que a ideia da responsabilidade pelos danos causados, ou da

    responsabilidade patrimonial, ou, ainda, da responsabilidade extracontratual, no deriva dos

    contratos, decorrendo de atuao administrativa, vinculando-se prpria noo de Estado de

    Direito, impondo ao Estado a responsabilidade pelo resultado prejudicial dos atos por ele

    praticados (BASTOS, 1996, p. 187).

    13 O Art. 225, pargrafo 1, inciso VII, determina que incumbe ao Poder Pblico As condutas e atividadesconsideradas lesivas ao meio ambiente sujeitaro os infratores, pessoas fsicas ou jurdicas, a sanes penais eadministrativas, independentemente da obrigao de reparar os danos causados (BRASIL, 1988).14Este o sentido que se encontra no art. 225, caput, da Constituio.

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    Complementando o raciocnio lgico de Bastos, Cretella Jnior (1997) salienta que o

    paradigma de Estado condicionante do tipo de responsabilidade pblica e do tipo de Estado

    dos nossos dias bem diverso do tipo de Estado do mundo antigo. Aduz, ainda, o autor, que a

    responsabilidade patrimonial do Estado contm peculiaridades que a distinguem da

    responsabilidade civil do particular, sendo certo que tais aspectos peculiares da

    responsabilidade do Estado so fatores suficientes para justificar que ela tenha regime prprio

    e de nvel constitucional.

    A culpa extracontratual ou aquiliana (j que deriva da Lex Aquilia romana)

    fundamenta-se, assim, no fato de que o agente causador do dano no est ligado ao ofendido

    ou vtima diretamente por laos contratuais, mas, sim, devido a uma imposio legal.

    Nesse sentido, Mello (2004) argumenta que o Estado deve responder objetivamentepelos danos que causou e, no caso de no os ter causado, deve responder por estes mesmos

    danos quando havia a obrigao legal de atuao para evitar a sua ocorrncia.

    5.2 A Responsabilidade Solidria do Estado pelo Dano Ambiental

    No caso do dano ambiental, o texto constitucional vigente enftico ao atribuir ao

    Estado a responsabilidade de garantir o meio ambiente ecologicamente equilibrado para aspresentes e futuras geraes, de maneira que, se o dano ambiental ocorreu devido a omisso

    estatal, este responder objetivamente15.

    A doutrina e a jurisprudncia do Superior Tribunal de Justia (STJ) j se

    posicionaram no sentido de que a responsabilidade civil do Estado por dano ambiental

    advindo da falha na fiscalizao e, portanto, pela sua omisso, solidria e objetiva. Se o

    dano for causado por ato de agente pblico, a responsabilidade inteiramente sua, ressalvado

    o direito de regresso, se o agente agiu com culpa ou com dolo. Milar defende que

    [...] o Estado tambm pode ser solidariamente responsabilizado pelos danosambientais provocados por terceiros, j que seu o dever de fiscalizar e impedir quetais danos aconteam. Essa posio mais se refora com a clusula constitucional

    15Valery Mirra, em sentido oposto, defende queAcionar indiscriminadamente o Estado, em carter solidriocom o terceiro degradador, pela sua omisso em fiscalizar e impedir a ocorrncia do dano ambiental, significaria,no final das contas, transferir prpria vtima ltima da degradao a sociedade a responsabilidade pelareparao do prejuzo, com todos os nus da decorrentes, quando, na verdade, a regra deve ser a daindividualizao do verdadeiro e principal responsvel, evitando-se, com isso, indesejvel socializao dos

    encargos necessrios reparao de danos ambientais praticados por pessoas fsicas ou jurdicas determinadas(2004, p. 205). Neste mesmo sentido a lio de Marcelo Abelha, ao argumentar que no se deve, numa atitudesimplista e irresponsvel, desejar que o Poder Pblico seja o responsvel, sempre, pela omisso causadora dodano ao meio ambiente (1997, p. 129).

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    que imps ao Poder Pblico o dever de defender o meio ambiente e de preserv-lopara as presentes e futuras geraes16(2009, p. 342).

    Tal entendimento decorre das disposies contidas no art. 225, caput, e pargrafos

    1, 2 e 3 da Constituio. Tais normas de ordem constitucional instituem um especial dever

    de agir do poder pblico na proteo ao meio ambiente17. Para os doutrinadores que defendem

    esse posicionamento, a responsabilidade solidria motiva o poder pblico ao seu poder-dever

    de fiscalizar e vigiar a preservao do meio ambiente, eliminando, por conseguinte, as

    atividades que podem provocar leses na sade ambiental coletiva. Acrescentam ainda que o

    dever de agir do Estado, de forma preventiva, a fim de garantir um meio ambiente

    equilibrado, decorrncia do princpio da legalidade, insculpido no caput do art. 37 da

    Constituio.

    O STJ tem inmeras decises que tambm compartilham deste entendimento, a

    exemplo do julgamento do Recurso Especial n. 1.071.741. Neste caso em particular, o

    Ministrio Pblico do Estado de So Paulo ajuizou ao civil pblica requerendo a reparao

    do dano ambiental causado por construo irregular no Parque Estadual de Jacupiranga,

    unidade de conservao de proteo integral, por parte do particular que construiu ali um

    imvel, requerendo, tambm, a responsabilizao solidria do Estado pelo dano. O Tribunal

    de Justia de So Paulo afastou a responsabilidade do Estado, reconhecendo apenas o deverde reparar o dano pelo particular que praticou a conduta ilcita.

    No recurso especial remetido ao STJ, os ministros entenderam que o Estado de So

    Paulo seria solidariamente responsvel pelo dano ambiental causado, caracterizando a

    responsabilidade civil como objetiva, solidria e ilimitada. Ao definir a responsabilizao do

    ente estatal, o Relator assim colocou:

    Na sua misso de proteger o meio ambiente ecologicamente equilibrado para aspresentes e futuras geraes, como patrono que da preservao e restaurao dosprocessos ecolgicos essenciais, incumbe ao Estado definir, em todas asunidades da Federao, espaos territoriais e seus componentes a seremespecialmente protegidos, sendo a alterao e a supresso permitidas somenteatravs de lei, vedada qualquer utilizao que comprometa a integridade dosatributos que justifiquem sua proteo. (BRASIL, 2010).

    Neste processo, os ministros tambm consideraram que o Estado se responsabiliza

    pela omisso no seu dever-poder de controle e fiscalizao da proteo ao Meio Ambiente,

    16Neste mesmo sentido conferir Jos Afonso da Silva (2000, p. 281) e Paulo Afonso Leme Machado (2003, p.333).17Somam-se s disposies constitucionais s determinaes contidas no art. 3, inciso IV e art. 14, pargrafo 1da Lei n. 6.938/81.

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    tambm de forma objetiva e solidria, esposando o seguinte entendimento, constante no voto

    do Relator:

    Nesse contexto, foroso reconhecer a responsabilidade solidria do Estadoquando, devendo agir para evitar o dano ambiental, mantm-se inerte ou age deforma deficiente ou tardia. Ocorre a inexecuo de uma obrigao deagirpor quem tinha o dever de atuar. Agir no sentido de prevenir (e, cada vez mais,se fala em precauo), mitigar o dano, cobrar sua restaurao e punir exemplarmenteos infratores. A responsabilizao estatal decorre de omisso que desrespeitaestipulao ex vi legis, expressa ou implcita, fazendo tbula rasa do dever legal decontrole e fiscalizao da degradao ambiental, prerrogativa essa em que o Estadodetm quase um monoplio. Ao omitir-se contribui, mesmo que indiretamente, paraa ocorrncia, consolidao ou agravamento do dano. Importa ressaltar, mais umavez, que no h porque investigar culpa ou dolo do Estado (exceto para fins deresponsabilizao pessoal do agente pblico), pois no se sai do domnio daresponsabilidade civil objetiva, prevista no art. 14, 1, da Lei 6.93881, que afasta oregime comum, baseado no elemento subjetivo, de responsabilizao daAdministrao por comportamento omissivo (BRASIL, 2010).

    Portanto, em que pesem as disposies em contrrio, prevalece na doutrina e na

    jurisprudncia a responsabilidade civil do Estado, objetiva e solidria, em se tratando de dano

    ambiental, principalmente no tocante omisso no seu dever de fiscalizao e de vigilncia.

    6 A LEGISLAO BRASILEIRA E A RESPONSABILIDADE CIVIL PELO DANO

    NUCLEAR

    Existem vrios textos legais que dispem especificamente sobre a responsabilidade

    civil pelo dano nuclear, presentes tanto no texto constitucional quanto na legislao ordinria.

    Contudo, a legislao especfica no inibe a aplicao das normas gerais de responsabilidade

    civil, principalmente no tocante responsabilidade do Estado decorrente desses danos.

    6.1 A Responsabilidade na Constituio

    A Constituio Federal de 1988 traz algumas disposies referentes energia

    nuclear, contidas no art. 21, inciso XXIII, que dispe:

    Art. 21. Compete Unio:XXIII - explorar os servios e instalaes nucleares de qualquer natureza e exercermonoplio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, aindustrializao e o comrcio de minrios nucleares e seus derivados, atendidos os

    seguintes princpios e condies:a) toda atividade nuclear em territrio nacional somente ser admitida para finspacficos e mediante aprovao do Congresso Nacional;

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    b) sob regime de permisso, so autorizadas a comercializao e a utilizao deradioistopos para a pesquisa e usos mdicos, agrcolas e industriais;c) sob regime de permisso, so autorizadas a produo, comercializao eutilizao de radioistopos de meia-vida igual ou inferior a duas horas;d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existncia de

    culpa; (grifo no consta no original) (BRASIL, 1988).

    Salienta-se no texto constitucional, expressamente, que a responsabilidade civil por

    danos nucleares independe da existncia de culpa, adotando, portanto, a responsabilizao

    objetiva. O legislador constitucional no faz a distino entre acidente nuclear e radiolgico.

    Mas o artigo acima citado contempla a possibilidade de utilizao de radioistopos, mediante

    regime de permisso, o que nos permite concluir que, para o constituinte, a expresso dano

    nuclear refere-se no somente aos danos advindos de acidentes envolvendo usinas nucleares,

    mas tambm os demais acidentes relativos a elementos radioativos, a exemplo do que ocorreu

    em Goinia, com o Csio 137.

    6.2 A Responsabilidade Civil na Lei n. 6.453/77

    A Lei n. 6.453/77 regulamenta a responsabilidade civil e criminal por danos

    nucleares. Entretanto, no trata somente dos danos ocorridos em usinas nucleares. De fato, o

    seu art. 16 dispe que no se aplica a presente Lei s hipteses de dano causado por emisso

    de radiao ionizante quanto o fato no constituir acidente nuclear (BRASIL, 1977).

    J o art. 4 da mesma lei trata da responsabilidade civil do operador da instalao

    nuclear, nos seguintes termos:

    Art. 4 - Ser exclusiva do operador da instalao nuclear, nos termos desta Lei,independentemente da existncia de culpa, a responsabilidade civil pelareparao de dano nuclear causado por acidente nuclear:I - ocorrido na instalao nuclear;Il - provocado por material nuclear procedente de instalao nuclear, quando oacidente ocorrer:a) antes que o operador da instalao nuclear a que se destina tenha assumido, porcontrato escrito, a responsabilidade por acidentes nucleares causados pelo material;b) na falta de contrato, antes que o operador da outra instalao nuclear hajaassumido efetivamente o encargo do material;III - provocado por material nuclear enviado instalao nuclear, quando o acidenteocorrer:a) depois que a responsabilidade por acidente provocado pelo material lhe houversido transferida, por contrato escrito, pelo operador da outra instalao nuclear;b) na falta de contrato, depois que o operador da instalao nuclear houver assumidoefetivamente o encargo do material a ele enviado. (Grifo no presente no original)(BRASIL, 1977).

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    A redao do artigo clara em atribuir a responsabilidade ao operador da usina,

    adotando tambm a responsabilidade objetiva, ao excluir a culpa. A lei tambm limita a

    reparao do dano18 ao teto de um milho e quinhentas mil Obrigaes Reajustveis do

    Tesouro Nacional (ORTN)19 e o prazo prescricional de 10 (dez) anos para pleitear a

    indenizao20.

    A limitao da indenizao pelo dano causado por acidente nuclear, no foi, parece,

    recepcionada pela Constituio21. O prprio texto constitucional acima mencionado, bem

    como o art. 225, 3 da Constituio e o art. 14, 1 da Lei n. 6.938/81 no delimitam

    qualquer valor a ttulo de reparao, sendo que a reparao do dano ocasionado por acidente

    nuclear e radiolgico dever ocorrer em sua integralidade22.

    6.3 A Responsabilidade Civil no Decreto n. 911/93

    O Decreto n. 911, de 3 de setembro de 1993, promulgou a Conveno de Viena sobre

    Responsabilidade Civil por Danos Nucleares, de 21 de maio de 1963. Percebe-se, da leitura da

    referida conveno, que ela guarda muitas semelhanas com as disposies da Lei n.

    6.453/77, contudo, reveste-se de maior amplitude. No o objetivo deste trabalho fazer um

    estudo detalhado da referida conveno, mas ressalta-se trs importantes disposies nelacontidas: a responsabilidade pelo dano nuclear exclusiva do operador23; a possibilidade de

    limitao do valor da reparao do dano24; o prazo prescricional de 10 anos para o pleito de

    reparao do dano25.

    18Art. 9: A responsabilidade do operador pela reparao do dano nuclear limitada, em cada acidente, ao valorcorrespondente a um milho e quinhentas mil Obrigaes Reajustveis do Tesouro Nacional. (BRASIL, 1977).19Vigorou at fevereiro de 1986, tendo sido substituda pelas Obrigaes do Tesouro Nacional (OTN), com aedio do Decreto-Lei 2.284/86. A OTNs foi substituda pelo Bnus do Tesouro Nacional pela edio da Lei

    7.777/89, tendo sido extinto pela Lei 8.177/91.20Art . 12 - O direito de pleitear indenizao com o fundamento nesta Lei prescreve em 10 (dez) anos, contadosda data do acidente nuclear. (BRASIL, 1977).21 Por tratar-se de lei anterior Constituio, naquilo que lhe for contrrio, no h que se falar eminconstitucionalidade, tratando-se de caso de no recepo, pois, na concepo da doutrina majoritria e dajurisprudncia do Supremo Tribunal Federal, lei anteriores e contrrias Constituio no adentram oordenamento jurdico constitucional.22 Como j visto neste trabalho, o dano nuclear tem natureza iminentemente ambiental e, por isso, deve serreparado integralmente, como consta na doutrina e jurisprudncia majoritria.23 Artigo II-5 - Sem prejuzo do disposto nesta Conveno, somente o operador poder ser consideradoresponsvel pelos danos nucleares. No obstante, esta disposio no afetar a aplicao de nenhum dos acordosinternacionais de transporte vigentes ou abertos assinatura, ratificao ou adeso, na data em que estaConveno for aberta assinatura. (BRASIL, 1993).24Artigo V-1 - O Estado da Instalao poder limitar a responsabilidade do operador a uma importncia noinferior a 5 milhes de dlares por acidente nuclear. (BRASIL, 1993).25Artigo VI-1 - O direito de compensao, em virtude da presente Conveno, prescreve em dez anos, a contarde quando se deu o acidente nuclear. [...] (BRASIL, 1993).

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    No tocante s disposies acima destacadas, remete-se o leitor s observaes

    referentes s disposies da Lei n. 6.453/77.

    6.4 A Responsabilidade Civil na Lei n. 10.308/01

    A Lei n. 10.308, de 20 de novembro de 2001, trata, dentre outras disposies 26, da

    responsabilidade civil pelo depsito e transporte de materiais radioativos. O art. 19 e seguintes

    dispem que:

    Art. 19. Nos depsitos iniciais, a responsabilidade civil por danos radiolgicospessoais, patrimoniais e ambientais causados por rejeitos radioativos neles

    depositados, independente de culpa ou dolo, do titular da autorizao paraoperao daquela instalao.Art. 20. Nos depsitos intermedirios e finais, a responsabilidade civil por danosradiolgicos pessoais, patrimoniais e ambientais causados por rejeitos radioativosneles depositados, independente de culpa ou dolo, da CNEN.Art. 21. No transporte de rejeitos dos depsitos iniciais para os depsitosintermedirios ou de depsitos iniciais para os depsitos finais, a responsabilidadecivil por danos radiolgicos pessoais, patrimoniais e ambientais causados porrejeitos radioativos do titular da autorizao para operao da instalao quecontm o depsito inicial.Art. 22. No transporte de rejeitos dos depsitos intermedirios para os depsitosfinais, a responsabilidade civil por danos radiolgicos pessoais, patrimoniais eambientais causados por rejeitos radioativos da CNEN.Pargrafo nico. Poder haver delegao do servio previsto no caputa terceiros,mantida a responsabilidade integral da CNEN. (BRASIL, 2001).

    Ao contrrio do que ocorre com a Lei n. 6.453/77, na lei acima citada no se invoca a

    responsabilizao pelos danos ocasionados somente no interior das usinas nucleares. O

    legislador suplanta a noo pura e simples de dano nuclear concernentes queles ocorridos no

    interior das usinas nucleares (o que se convencionou chamar de dano nuclear) ao determinar a

    responsabilizao pordano radiolgico, ocorrido fora das usinas nucleares e por exposio a

    material radioativo.

    Salienta-se que a responsabilidade de que trata a Lei n. 10.308/01 objetiva, ao

    excluir a culpa e o dolo dos seus elementos, em consonncia com o texto constitucional. A

    principal diferenciao, no que tange responsabilidade civil, em relao s leis

    anteriormente citadas, que nesta lei, especificamente, figura uma autarquia federal como

    responsvel direta por dano radiolgico, a Comisso Nacional de Energia Nuclear. Como se

    pode observar dos artigos acima citados, a CNEN responsvel civilmente pelos danos

    26 Dispe sobre a seleo de locais, a construo, o licenciamento, a operao, a fiscalizao, os custos, aindenizao, a responsabilidade civil e as garantias referentes aos depsitos de rejeitos radioativos, e d outrasprovidncias. (BRASIL, 2001).

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    radiolgicos que possam ocorrer nos depsitos intermedirios e no transporte dos materiais

    radioativos dos depsitos intermedirios para os depsitos finais.

    6.5 Consideraes Finais sobre o Captulo

    Observa-se que a legislao brasileira, no que concerne responsabilizao civil por

    dano nuclear e radiolgico, ainda limitada. No se verifica, por exemplo, a existncia de lei

    que responsabilize os detentores de materiais radioativos em suas diversas formas de

    utilizao e nem d tratamento legislativo adequado aos danos que possam decorrer de sua

    utilizao, a exemplo do que ocorreu em Goinia. Ante essa lacuna, o Poder Judicirio,

    quando instado a analisar esses casos27, necessita aplicar, de forma subsidiria, outras leis,notadamente as leis ambientais.

    7 O ACIDENTE RADIOLGICO DE GOINIA28

    O acidente radiolgico de Goinia iniciou-se no dia 13 de setembro de 1987 e foi

    considerado o maior acidente radiolgico fora de usina nuclear do mundo e recebeu

    classificao 5 na escala internacional de eventos nucleares29

    . A contaminao com materialradioativo se deu pela abertura de uma cpsula blindada que continha Csio 137, istopo

    radioativo utilizado em equipamentos mdicos.

    Catadores de materiais reciclveis entraram no Instituto Goiano de Radiologia, que

    estava abandonado e l encontraram um equipamento radiolgico de mais de 100 Kg e o

    levaram para desmonte, por conter metais como ao e chumbo, de elevado valor no mercado

    de reciclagem. Entre os componentes do equipamento encontrava-se uma cpsula lacrada com

    chumbo contendo o C sio 137. Esse invlucro protegia o mundo exterior da radiao domaterial nela contido.

    A cpsula foi violada para a retirada do chumbo e nela os catadores encontraram um

    sal, semelhante ao de cozinha, que emitia um brilho azul quando no escuro. Devair, o

    27O caso emblemtico no Brasil o acidente radiolgico ocorrido em Goinia. Vrias aes judiciais forammovidas em funo dos danos provocados pelo acidente, conforme analisado no captulo 6.28As informaes contidas neste ttulo foram retiradas da publicao The Radiological Accident in Goinia, daAgncia Internacional de Energia Atmica, disponvel no endereo http://www-pub.iaea.org/MTCD/Publications/PDF/Pub815_web.pdf.29

    A escala internacional de eventos nucleares (INEA, na sigla em ingls) utilizada pela AIEA para aclassificao dos eventos nucleares e tem a seguinte mensurao: 1 Anomalia; 2 Incidente; 3 - Incidenteimportante; 4 - Acidente sem risco fora da localizao; 5 - Acidente com risco fora da localizao; 6 - Acidenteimportante e 7 - Acidente grave. Disponvel em .

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    proprietrio do ferro-velho, levou o material para casa, mostrando-o sua esposa e fazendo a

    sua distribuio para parentes e vizinhos. Algumas horas aps a exposio, sintomas como

    diarreia, vmitos e tonturas comearam a surgir entre aqueles que tiveram contato direto com

    o material. Os sintomas, de incio, foram tratados como virose. A esposa de Devair,

    desconfiando do p, levou, com ajuda, a cpsula para a vigilncia sanitria. Somente no dia

    29 de setembro foi dado o alerta de contaminao radioativa.

    O acidente teve como saldo 112.800 pessoas expostas ao efeito do csio, a maioria

    com contaminao externa revertida a tempo. Destas, 129 apresentaram contaminao

    corporal interna e externa concreta, 49 delas foram internadas, 21 sofreram tratamento

    intensivo e 4 foram a bito.

    A CNEN mandou examinar toda a populao da cidade de Goinia. Muitas casasforam esvaziadas, os telhados aspirados e objetos pessoais apreendidos como lixo atmico

    que resultou em cerca de 6.000 toneladas e, atualmente, encontra-se armazenado na cidade de

    Abadia de Gois. Segundo a Associao das Vtimas do Csio 137 (Isto, 2012), nesses 25

    anos, 104 pessoas morreram e 1.600 foram afetadas diretamente.

    Em atendimento s vtimas, foram editadas a Lei Federal n. 9.425, de 24 de

    dezembro de 1996 e a Lei do Estado de Gois n. 10.977, de 3 de outubro de 1989, que

    instituram penses especiais s vtimas do acidente nuclear30

    ocorrido em Goinia.

    7.1 O Acidente e a Jurisprudncia

    O acidente radiolgico teve repercusso no Poder Judicirio. A ttulo

    exemplificativo, para fins deste estudo, traz-se colao uma deciso do Tribunal Regional

    Federal da 1 Regio (TRF1) e uma do Superior Tribunal de Justia (STJ).

    7.1.1 Tribunal Regional Federal da 1 Regio

    CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. MEIOAMBIENTE. ACIDENTE RADIOLGICO EM GOINIA COM BOMBA DECSIO 137. DANO AMBIENTAL E PESSOAL. PRESCRIO. PODER DEPOLCIA, FISCALIZAO DE ATIVIDADES COM APARELHOSRADIOATIVOS. VIGILNCIA SANITRIA. ILEGITIMIDADE PASSIVAAD CAUSAM DA UNIO FEDERAL. FISCALIZAO DE CLNICAMDICA. RESPONSABILIDADE DA SECRETARIA ESTADUAL DESADE. ABANDONO DE MATERIAL RADIOATIVO POR

    PROPRIETRIO DA CLNICA. NEGLIGNCIA E IMPRUDNCIA.

    30Enquanto a Lei n. 9.425/96 considera o acidente como nuclear, a Lei n. 10.977/89 o classifica comoradiolgico.

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    SOLIDARIEDADE DECORRENTE DE ATO ILCITO. OBRIGAO DEFAZER (PRESTAO DE ATENDIMENTO MDICO HOSPITALAR SVTIMAS), OBRIGAO DE DAR (PAGAMENTO AO FUNDO DEDEFESA DOS INTERESSES DIFUSOS).

    1. Embora o acidente com os radioistopos de utilizao mdica tenham sidoexpressamente excludos da disciplina da Lei 6.453/77, que dispe sobre aresponsabilidade civil sobre danos nucleares, o dano ambiental por ser de ordempblica indisponvel e insuscetvel de prescrio enquanto seus efeitosnefastos continuam a produzir leso.2. A configurao do dano ambiental causado pelomaior acidente radiolgico do mundo com a destruio da bomba de csio137, na cidade de Goinia, no ano de 1987, fato pblico e notrio e tambmfartamente documentado nos autos.[...]4. A pessoa natural no se confunde com a pessoa jurdica. A responsabilidadepela reparao do dano atribuvel a quem explora a atividade que teria dadoensejo ao acidente. Se o dano resultante de ato ilcito, todos os que concorrem

    para o resultado so responsveis na reparao dos efeitos lesivos.5. O acidente radiolgico com o csio 137, em setembro de 1987 na cidadede Goinia, insere-se no conceito legal de dano ambiental, eis que implicouem lanar na atmosfera e no solo substncia qumica desencadeadora deprocesso de radiao que atingiu pessoas e animais.[...]8. O csio no substncia nuclear e sim um radioistopo e, emconseqncia, o acidente ocorrido em Goinia no foi um acidente nuclear,mas radiolgico em proporo gigantesca.9. Poluidor a pessoa fsica ou jurdica, de direito pblico ou privado,responsvel, direta ou indiretamente, por atividade de degradao ambiental(art. 3, IV da Lei 6.938/81).[...]

    11. Tratando-se de ato omissivo do Poder Pblico, a responsabilidade subjetiva, pelo que se exige dolo ou culpa, em sentido estrito, esta numa desuas trs modalidades - negligncia, impercia e imprudncia, no sendonecessrio individualiz-la, dada que pode ser atribuda ao servio pblico, deforma genrica, a falta do servio.12. A falta do servio (faute du service) no dispensa o requisito dacausalidade, vale dizer o nexo de causalidade entre a omisso atribuda aoPoder Pblico e o dano causado.[...]17. Agiu com negligncia a autoridade sanitria estadual que no fiscalizou oIGR nos termos do decreto regulamentar e da lei 6.437/77 (art. 10). O caso subjudice no diz respeito ao monoplio de comrcio radioistopos artificiais esubstncias radioativas, mas de uso indevido (abandono) de um aparelho

    radiolgico em local de acesso a transeuntes.[...]19. Se uma ou mais pessoas concorreram culposamente para que se produzisseo resultado, respondem solidariamente pelos danos. E responsabilidadesolidria, significa que todos so responsveis pela dvida, conforme se encontraexpresso no pargrafo nico do art. 896 do Cdigo Civil. A sentena atenta aofato ao dispor que "a imputao da responsabilidade aos figurantes do plopassivo deu-se na forma solidria (CC art. 1518)".[...]26. Amaurillo Monteiro de Oliveira, ex-scio do IGR, agiu com imprudncia aodemolir parte do imvel e nele deixar abandonada a bomba de csio 137 que foiobjeto de subtrao e depois destruda a marteladas, dando incio ao desastre.[...] (BRASIL, 2005)

    7.1.2 Superior Tribunal de Justia

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    ADMINISTRATIVO. DIREITO NUCLEAR. RESPONSABILIDADE CIVILOBJETIVA DO ESTADO. ACIDENTE RADIOATIVO EM GOINIA. CSIO137. ABANDONO DO APARELHO DE RADIOTERAPIA. DEVER DE

    FISCALIZAO E VIGILNCIA SANITRIO-AMBIENTAL DE ATIVIDADESCOM APARELHOS RADIOATIVOS. RESPONSABILIDADE SOLIDRIA DAUNIO E DOS ESTADOS. LEGITIMIDADE PASSIVA.1. A vida, sade e integridade fsico-psquica das pessoas valor tico-jurdicosupremo no ordenamento brasileiro, que sobressai em relao a todos os outros,tanto na ordem econmica, como na poltica e social.2. O art. 8 do Decreto 81.394/1975, que regulamenta a Lei 6.229/1975, atribuiu aoMinistrio da Sade competncia para desenvolver programas de vigilncia sanitriados locais, instalaes, equipamentos e agentes que utilizem aparelhos deradiodiagnstico e radioterapia.3. Cabe Unio desenvolver programas de inspeo sanitria dos equipamentos deradioterapia, o que teria possibilitado a retirada, de maneira segura, da cpsula deCsio 137, que ocasionou a tragdia ocorrida em Goinia em 1987.

    4. Em matria de atividade nuclear e radioativa, a fiscalizao sanitrio-ambiental concorrente entre a Unio e os Estados, acarretandoresponsabilizao solidria, na hiptese de falha de seu exerccio.5. No fosse pela ausncia de comunicao do Departamento de Instalaes eMateriais Nucleares (que integra a estrutura da Comisso Nacional de EnergiaNucelar - CNEN, rgo federal) Secretaria de Sade do Estado de Gois, o graveacidente que vitimou tantas pessoas inocentes e pobres no teria ocorrido.Constatao do Tribunal de origem que no pode ser reapreciada no STJ, sob penade violao da Smula 7.6. Aplica-se a responsabilidade civil objetiva e solidria aos acidentes nuclearese radiolgicos, que se equiparam para fins de vigilncia sanitrio-ambiental.7. A controvrsia foi solucionada estritamente luz de violao do Direito Federal, asaber, pela exegese dos arts. 1, I, "j", da Lei 6.229/1975; 8 do Decreto

    81.384/1978; e 4 da Lei 9.425/96.8. Recurso Especial no provido. (BRASIL, 2012).

    7.2 Anlise das Decises

    Das decises acima citadas, algumas observaes merecem destaque, principalmente

    no tocante responsabilidade do Estado pelo dano radiolgico. No tocante deciso do

    TRF1, salienta-se os seguintes pontos:

    considerou os danos decorrentes do acidente radiolgico como danos

    ambientais;

    diferenciou o incidente radiolgico do dano nuclear;

    reconheceu que o csio 137 no era substncia nuclear e sim radioistopo;

    quando se trata de ato omissivo do Poder Pblico, a responsabilidade

    subjetiva;

    a responsabilidade pela fiscalizao dos equipamentos radiolgicos doEstado e no da Unio.

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    A deciso do STJ merece os seguintes destaques:

    a competncia para a fiscalizao dos equipamentos radiolgicos concorrente

    entre os estados e a Unio;

    o dano radiolgico ambiental;

    na omisso lesiva do estado na fiscalizao de equipamentos dessa natureza,

    aplica-se a responsabilidade civil objetiva e solidria (neste aspecto o STJ aplicou a

    sua j tradicional jurisprudncia no que tange ao dano ambiental. Para este sodalcio,

    nos casos de omisso do estado no dever de fiscalizar, a sua responsabilidade

    objetiva e solidria pela reparao do dano).

    Das decises citadas, pode-se apontar o ponto comum: consideram o incidente de

    Goinia como dano radiolgico e equiparou o dano radiolgico ao dano ambiental. Contudo,

    elas divergem quanto responsabilizao dos entes estatais e a imputao da

    responsabilidade.

    O TRF1 considerou que somente o Estado de Gois era responsvel pela fiscalizao

    e, portanto, pela omisso lesiva na fiscalizao31. Considerou tambm que a responsabilidadecivil do estado por ato omissivo subjetiva, sendo necessrio perquirir o dolo ou a culpa do

    agente estatal, bem como a necessidade de se determinar o nexo de causalidade entre a

    conduta omissiva e o dano ocorrido. Excluiu tambm a Unio do dever de fiscalizao de

    material radiolgico.

    Por outro lado, o STJ determinou que a responsabilidade entre estado e Unio pela

    fiscalizao dos equipamentos radiolgicos concorrente e que, portanto, respondem

    solidariamente pelos danos decorrentes da omisso ou falha na fiscalizao. E,diametralmente oposto ao entendimento esposado pelo TRF1, o STJ entende que, no caso de

    dano radiolgico, equiparado ao dano ambiental, o Estado responde objetiva e solidariamente

    pelos danos causados, adotando a teoria do risco integral.

    Parece razovel entender que a deciso do STJ a mais acertada, haja vista que

    mantm coerncia com a sua tradicional jurisprudncia no tocante ao dano ambiental, bem

    como realizou anlise mais ampla no que diz respeito ao dever de fiscalizar e controlar a

    31Como j apontado no captulo 4.2, houve falha na fiscalizao ao permitir que um equipamento radiolgicoque, obviamente, continha material radioativo, permanecesse abandonado, sem a devida destinao paramateriais desta natureza.

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    posse de material radioativo. Em se tratando de equipamentos mdicos de radiologia e

    radioterapia, a vigilncia sanitria do Estado tem o dever de fiscalizao. No tocante

    utilizao de material radioativo, utilizado tambm em equipamentos mdicos, o CNEN tem a

    responsabilidade na sua fiscalizao e controle32.

    8 CONCLUSO

    impossvel dissociar a noo de dano nuclear e dano radiolgico da ideia de dano

    ambiental. De fato, os acidentes que ocorrem, envolvendo materiais radioativos, sempre

    causaro danos ao meio ambiente, contaminao do solo, da gua, do ar e de outros materiais,

    como, por exemplo, roupas, utenslios, casas etc. De modo geral, seus efeitos perduram pormuitos anos, a exemplo do que ocorreu em Chernobyl, onde no permitida a ocupao at

    os dias de hoje, 27 anos aps o fatdico acontecimento. Saliente-se tambm o ocorrido em

    Goinia, onde os efeitos do acidente radiolgico ainda so sentidos por quem teve contato,

    direto ou indireto, com o material radioativo.

    Como visto neste trabalho, o Estado, por determinao constitucional, tem o especial

    dever de cuidar da preservao do meio ambiente. O texto constitucional claramente

    explcito ao dispor que dever do poder pblico o controle da produo, comercializao,entre outros, de substncias que pem em risco a vida, a qualidade de vida e o meio

    ambiente33. No h dvida de quo nociva pode ser a radiao, tanto para o meio ambiente

    como para o ser humano e os demais seres vivos. E nesse aspecto, no pode o Estado se

    omitir no seu dever de fiscalizar e controlar esses materiais, principalmente quando esto na

    posse de permissionrios para uso em diversos fins, como na medicina nuclear, por exemplo.

    No Brasil ocorreu o trgico episdio de Goinia, onde, por desdia da fiscalizao

    estatal e total ausncia de controle da posse de material radioativo, um equipamento quecontinha material radioativo ficou abandonado em um prdio em runas e que foi parar em

    mos de catadores de materiais reciclveis, iniciando uma cadeia de contaminao que gerou

    danos incalculveis a enorme nmero de pessoas, como noticiado acima.

    Portanto, em face do seu especial dever de agir para garantir a qualidade de vida e

    meio ambiente equilibrado, o Estado dever responder, objetiva e solidariamente, pelos danos

    que possam ocorrer em caso de acidente nuclear ou radiolgico, no se admitindo que a

    omisso estatal do dever de fiscalizar possa ensejar a investigao de culpa do seu agente,

    32Conforme se verifica nas disposies da Lei n. 9.765/98.33Conforme disposto no art. 225, pargrafo 1, inciso V, da Constituio Federal.

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    ante a gravidade do risco para a vida e para o meio ambiente que tais incidentes podem

    provocar.

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