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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ BRUNA CAROLINA BOTTAMEDI RACHADEL A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS FORNECEDORES EM FACE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Tijucas 2009

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

BRUNA CAROLINA BOTTAMEDI RACHADEL

A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS FORNECEDORES EM FACE D O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Tijucas

2009

BRUNA CAROLINA BOTTAMEDI RACHADEL

A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS FORNECEDORES EM FACE D O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas, campus Tijucas. Orientador: Prof. Espc. Everaldo Medeiros Dias

Tijucas

2009

BRUNA CAROLINA BOTTAMEDI RACHADEL

A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS FORNECEDORES EM FACE D O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Esta Monografia foi julgada adequada para obtenção do título de Bacharel em Direito e

aprovada pelo Curso de Direito do Centro de Ciências Sociais e Jurídicas, campus Tijucas.

Direito Civil/ Direito do Consumidor

Tijucas, 10 de julho de 2009.

Prof. Espc. Everaldo Medeiros Dias Orientador

Prof. MSc. Marcos Alberto Carvalho de Freitas Responsável pelo Núcleo de Prática Jurídica

Dedico este trabalho aos meus pais, Paulo Cesar e Jani, pelo incentivo,

cooperação e apoio, pois compartilharam comigo os momentos de

tristeza e também os de alegrias, nesta etapa, em que, com a graça de

Deus, está sendo vencida...

Muitos foram aqueles que contribuíram para a realização deste trabalho e para os quais deixo

o meu agradecimento.

Agradeço primeiramente a Deus por me presentear com uma família maravilhosa e grandes

amigos, e pelas Suas demonstrações de amor a cada instante.

Ao meu querido pai e à minha querida mãe, pelo incentivo, pelos exemplos, pelos

ensinamentos, pelo carinho e paciência e acima de tudo pelo amor dedicado à minha pessoa.

Aos meus irmãos, pelo carinho e compreensão.

Ao meu querido noivo Rafael, que inúmeras vezes me apoiou, escutou o que eu tinha para

dizer e desabafar, me incentivou e continua me incentivando cada vez mais a seguir em

frente; agradeço seu amor e companheirismo.

Aqueles amigos incondicionais: Greici, Marcos, Maraiza e Giovani que conseguiram

entender minha ausência e me apoiaram na luta por mais esse sonho. Obrigada por estarem

sempre presentes.

Agradeço também aos amigos de faculdade por tornarem os dias mais prazerosos e as aulas

mais divertidas, em especial, às grandes amigas Bianca, Adriana, Juliana, Cassiane e Joice

pelo apoio de todas as horas e pela amizade de sempre.

Ao Prof. Everaldo Medeiros Dias, meu orientador, pela dedicação, orientação e paciência

dispensadas à minha pessoa.

Aos professores desta instituição e profissionais que contribuíram, sempre com muito carinho,

para minha formação acadêmica, ao longo desses anos.

Enfim, a todos, que de alguma forma passaram pela minha vida e influenciaram positivamente

nessa conquista. O sucesso também é de vocês!

“O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer”.

Albert Einstein

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte

ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí –

UNIVALI, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca

do mesmo.

Tijucas, 10 de julho de 2009.

Bruna Carolina Bottamedi Rachadel Graduanda

RESUMO

A presente monografia trata da Responsabilidade Civil dos Fornecedores, voltando-se para a análise da Responsabilidade Civil em face do Código de Defesa do Consumidor, como meio de garantir a reparação do prejuízo causado à parte. Inicialmente, toma-se como base o estudo da Responsabilidade Civil em geral, analisando desde sua evolução histórica, conceituação, Responsabilidade Civil subjetiva e objetiva, contratual e extracontratual, e bem como desenvolvendo uma análise atenta a função da Responsabilidade Civil na vida cotidiana. Após o estudo da Responsabilidade Civil no primeiro momento, passa-se ao estudo do Código de Defesa o Consumidor analisando o que vem a ser a Relação de Consumo existente entre as partes conceituado os seus principais pressupostos: fornecedor, consumidor, produto e serviço. Por fim, o terceiro e último capítulo trata da Responsabilidade Civil dos Fornecedores em face do Código de Defesa do Consumidor, analisando a Responsabilidade trazida pelo Código como regra geral de acordo com cada caso exposto pela legislação e a exceção a essa Responsabilidade de acordo com o artigo 14, parágrafo 4º, do Código em questão. No entanto, sempre que a aplicação da Responsabilidade Civil do Fornecedor seja motivo de dúvidas, esta se caracteriza pela conduta do fornecedor, que sendo responsável, deverá agir em concordância com as normas estabelecidas pelo Código, sendo que se o fornecedor atuar em desacordo com as tais regras, pode sem dúvida, ser responsabilizado pelas conseqüências morais e patrimoniais causadas ao consumidor. Palavras-chave: Responsabilidade Civil. Fornecedor. Consumidor.

RIASSUNTO

Questa Monografia sviluppa l’argomento della Resposabilità Civile dei Fornitore, rivolgendosi all’analisi della Responsabilità Civile nei confronti del Codice di Difesa dei Consumatore, con lo scopo di garantire il risarcimento dei pregiudizi imputati a un cittadino. Innanzittutto si prende come fundamento lo studio della Responsabilità Civile in generale, facendo un’analisi della sua evoluzione storica, concettuale, oggettiva e soggetiva, contrattuale ed extracontrattuale, come pure svolgendo un’attenta analisi del ruolo della Responsabilità Civile nella vita quotidiana dei cittadini. Dopo lo studio della Responsabilità Civile, in un primo momento, si passa allo studio del Codice de Difesa dei Consumatore, facendo un’analisi di quello che possiamo definire come Rapporto di Consumo stabilitosi tra le parti prendendo in cosiderazione i seguenti pressupposti: fornitore, consumatore, prodotti e servizi. Come terzo e ultimo capitol svolgiamo il tema della Responsabilità Civile dei Fornitore nei confronti del Codice de Difesa dei Consumatore, soffermandoci sull’iter Responsabilità trattato dal Codice come regola generale, d’accordo con ogni caso previsto dalla legge e l’eccezione nei confronti di questa Responsabilità secondo l’articolo 14, paragrafo 4º del Codice in questione. Tuttavia, sempre che l’applicazione della Responsabilità Civile del Fornitore sarà motivo di dubbio, questa si caratterizza dalla condotta del Fornitore, il quale, come responsabile, dovrà agire in conformità con le norme stabilite dal Codice. Nel caso del fornitore presentare una condotta contraria alle regole espresse nel Codice suaccennato, potrà essere responsabilizzato per le conseguenze morali e patrimoniali imputate al Consumatore. Parole chiavi: Responsabilità Civile. Fornitore. Consumatore.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

a.C. Apud Art. Caput CC CDC

Antes de Cristo Citado por Artigo Cabeça Código Civil Código de Defesa do Consumidor

Ed. Edição Nº Número P. Página Prof. Professor § Parágrafo TJSC Tribunal de Justiça de Santa Catarina UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí Vol. Volume

LISTA DE CATEGORIAS E SEUS CONCEITOS OPERACIONAIS

Lista de categorias1 que a Autora considera estratégicas à compreensão do seu

trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais2.

Consumidor “Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final” 3.

Dano “Conceitua-se, então, o dano como sendo a subtração ou diminuição de um bem jurídico, qualquer que seja a sua natureza, quer se trate de um bem patrimonial, quer se trate de um bem integrante da própria personalidade da vitima, como a sua honra, a imagem, a liberdade etc. Em suma, dano é lesão de um bem jurídico, tanto patrimonial como moral, vindo daí a conhecida divisão do dano patrimonial e moral” 4.

Defeito “São as imperfeições de natureza grave, capazes de causar dano à saúde ou à segurança do consumidor” 5.

Fornecedor “Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços” 6.

1 Denomina-se “categoria” a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia. Cf. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis ao pesquisador do Direito. 8. ed. Florianópolis: OAB Editora, 2003, p. 31. 2 Denomina-se “Conceito Operacional” a definição ou sentindo estabelecido para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias expostas ao longo do trabalho. Cf. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis ao pesquisador do Direito, p. 43. 3 BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990: Código de defesa do consumidor. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm>. Acesso em: 25 de maio de 2009. 4 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil/ Sérgio Cavalieri Filho. – 7. ed. – 3. reimpr. – São Paulo: Atlas, 2007, p. 71. 5 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor/ Roberto Basilone Leite – São Paulo: LTr, 2002, p. 139. 6 BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990: Código de defesa do consumidor. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm>. Acesso em: 25 de maio de 2009.

Produto “Qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial” 7.

Relação de Causalidade “É a ligação ou a dependência do agente à causa, mostrando, assim, que foi ele quem a produziu” 8.

Relação de Consumo “É uma relação de cooperação, pois um cidadão entra com o bem ou serviço e o outro oferece em troca o pagamento do preço; ambos colaboram assim para o sucesso do objetivo comum, que é a transferência do domínio do bem ou a execução dos serviços” 9.

Responsabilidade Civil “A responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão do ato por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal” 10.

Serviço “Qualquer atividade fornecida no mercado de consumo mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista” 11.

Vício “São as imperfeições que tornam o produto (art.18) ou serviços (art.20) impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam [...]” 12.

7 BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990: Código de defesa do consumidor. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm>. Acesso em: 25 de maio de 2009. 8 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. – Rio de Janeiro, 2007, p. 1192. 9 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 54. 10 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, v. 7: responsabilidade civil/ Maria Helena Diniz. – 18. ed. rev., aum. e atual. de acordo com o novo Código Civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002) e o Projeto de Lei n. 6.960/2002. – São Paulo: Saraiva, 2004, p. 40. 11 BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990: Código de defesa do consumidor. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm>. Acesso em: 25 de maio de 2009. 12 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 139.

SUMÁRIO

RESUMO ................................................................................................................................... 5

RIASSUNTO ............................................................................................................................. 6

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ............................................................................. 7 LISTA DE CATEGORIAS E SEUS CONCEITOS OPERACIONAIS . ............................. 8

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 12 2 DA RESPONSABILIDADE CIVIL ................................................................................... 16 2.1 NOÇÕES GERAIS ............................................................................................................. 16 2.2 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA RESPONSABILIDADE CIVIL ................................. 17

2.3 CONCEITO DE RESPONSABILIDADE ......................................................................... 20 2.4 CONCEITO DE OBRIGAÇÃO ......................................................................................... 21 2.5 DIFERENÇA DA RESPONSABILIDADE PENAL E RESPONSABILIDADE CIVIL . 22

2.6 DA RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA ............................................................ 25

2.6.1 Pressupostos da Responsabilidade Civil Subjetiva ......................................................... 27 2.6.1.1 Ação ou Omissão .......................................................................................................... 27

2.6.1.2 Culpa ou Dolo do Agente ............................................................................................. 28 2.7 DA RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA .............................................................. 29

2.7.1 Pressupostos da Responsabilidade Civil Objetiva ........................................................... 30 2.7.1.1 Relação de Causalidade ................................................................................................ 30 2.7.1.2 Dano ............................................................................................................................. 31

2.8 DA RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL E EXTRACONTRATUAL ......... 31 2.9 A FUNÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL ............................................................. 33

3 O DIREITO DO CONSUMIDOR ..................................................................................... 35 3.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA – DO LIBERALISMO CONTRATUAL AO INTERVENCIONALISMO REPRESENTADO PELO DIREITO DO CONSUMIDOR ...... 35 3.1.1 Consumo .......................................................................................................................... 37

3.1.2 Relação ............................................................................................................................ 38

3.1.3 Relação de Consumo ....................................................................................................... 38 3.2 ELEMENTOS DA RELAÇÃO DE CONSUMO .............................................................. 39

3.2.1 Definição de Consumidor ................................................................................................ 39 3.2.1.1 Consumidor Pessoa Jurídica ......................................................................................... 41 3.2.1.2 Pessoa que Ganha o Produto ou Serviço ...................................................................... 41 3.2.1.3 Consumidor – Coletividade .......................................................................................... 42 3.2.1.4 Direitos do Consumidor ............................................................................................... 42 3.2.2 Definição de Fornecedor ................................................................................................. 44 3.2.2.1Pessoa Física ou Jurídica ............................................................................................... 46 3.2.2.2 Entidades Sem Personalidade Jurídica ......................................................................... 47 3.2.2.3 Fornecedor Profissional Autônomo .............................................................................. 48 3.2.3 Definição de Produto e Serviço ....................................................................................... 49 3.2.3.1 Produtos Comprados no Exterior ................................................................................. 51 3.2.3.2 Produtos e Serviços Destinados ao Insumo .................................................................. 51 3.3 DIREFENÇA ENTRE VÍCIO E DEFEITO ....................................................................... 52 3.3.1 Vício do Produto e do Serviço ......................................................................................... 52

3.3.2 Defeito do Produto e do Serviço ..................................................................................... 53

4 A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS FORNECEDORES EM FACE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR ........................................................................................ 56 4.1 DA RESPONSABILIDADE CIVIL PELO FATO DO PRODUTO OU DO SERVIÇO .. 56 4.1.1 Da Responsabilidade Civil Objetiva subsidiária do Comerciante pelo defeito do produto na Relação de Consumo ........................................................................................................... 58

4.1.2 Da Responsabilidade Civil Objetiva do Fornecedor de Serviços pelo Fato do Serviço na Relação de Consumo ................................................................................................................ 61

4.2 DA RESPONSABILIDADE PELO VÍCIO DO PRODUTO OU DO SERVIÇO ............. 66 4.2.1 Da Responsabilidade Civil Objetiva do Fornecedor de Serviço pelo Vício do Serviço na Relação de Consumo ................................................................................................................ 69

4.3 DA RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PRESTADORES DE SERVIÇOS PÚBLICOS .................................................................................................................................................. 70

4.4 DA RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PROFISSIONAIS LIBERAIS ........................ 71

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 75 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 78 ANEXOS ................................................................................................................................. 81

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objeto13 o estudo da Responsabilidade Civil dos

Fornecedores, mais especificadamente no que diz respeito a Responsabilidade Civil em face

do Código de Defesa do Consumidor.

A importância deste tema reside nas dificuldades encontradas pelo Consumidor, para a

reparação dos danos causados pelos Fornecedores, pelos vícios existentes nos produtos ou

serviços ou até mesmo nos defeitos dos mesmos que acabam resultando em graves acidentes

de consumo.

Ressalte-se que, além de ser requisito imprescindível à conclusão do curso de Direito

na Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, o presente relatório monográfico também vem

colaborar para o conhecimento de um tema que, apesar de não poder ser tratado como

novidade no campo jurídico, na dimensão social-prática ainda pode ser tratado como elemento

repleto de nuances a serem destacadas pelos intérpretes jurídicos.

O presente tema, Responsabilidade Civil dos Fornecedores em face do Código de

Defesa do Consumidor, na atualidade, traz em seu bojo, a preocupação que a sociedade tem

em relação aos prejuízos psíquico-físico causados pelos produtos e serviços fornecidos ao

consumidor, em punir os maus profissionais que atuam na área da comercialização.

A Responsabilidade Civil destes fornecedores está cada vez mais presente nos órgãos

do Poder Judiciário, pois o procedimento tomado por esses tais profissionais reflete ainda

mais na sociedade e na conduta humana que cada vez, necessita mais dos produtos e serviços

fornecidos e prestados por eles.

Sendo assim, de grande importância para a sociedade, é que despertou interesse em

elaborar esta pesquisa sobre o presente tema.

Em vista do parâmetro delineado, constitui-se como objetivo geral deste trabalho a

defesa do Consumidor diante das condutas adotadas pelos Fornecedores, que eventualmente

13 Nesta Introdução cumpre-se o previsto em PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, p. 170-181.

13

venham a se ocultar na hora de indenizar seu Consumidor pelos produtos e serviços

fornecidos e prestados contendo determinados vícios, que muitas vezes passam a serem

defeitos, causando, assim, o acidente de consumo e gerando uma Responsabilidade Civil.

O objetivo institucional da presente Monografia é a obtenção do Título de Bacharel

em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas,

campus de Tijucas.

Como objetivo específico, pretende-se verificar de que modo devem ser

responsabilizados os Fornecedores pelos vícios e defeitos existentes nos produtos e serviços, e

analisar a melhor forma de sanar o dano causado ao Consumidor de acordo com o Código de

Defesa do Consumidor.

Sendo assim, deve-se analisar em quais casos o Fornecedor responde objetivamente ou

subjetivamente em relação ao Consumidor.

Para o desenvolvimento da presente pesquisa foram formulados os seguintes

questionamentos:

a) Existe previsão, junto ao CDC, de Responsabilidade Civil dos Fornecedores de

Produtos ou Serviços por eles prestados?

b) A Responsabilidade Civil dos Fornecedores é objetiva ou subjetiva de acordo com

os artigos existentes no Código de Defesa do Consumidor?

c) Quando é que a Responsabilidade Civil do Comerciante, de reparar o dano causado

pelo produto, deixa de ser solidária para ser subsidiária?

Já as hipóteses consideradas foram as seguintes:

a) O CDC prevê a Responsabilidade Civil dos Fornecedores de Produtos ou Serviços;

b) A Responsabilidade Civil regida pelo Código de Defesa do Consumidor é a

objetiva, ou seja, aquele que o Fornecedor tem o dever de repara o dano, independentemente

da existência de culpa; a Responsabilidade Civil também adotada pelo Código de Defesa do

Consumidor é a subjetiva, ou seja, aquela que o Fornecedor tem o dever de reparar o dano,

somente se for comprovada a culpa ou o dolo do agente causador do dano.

c) A Responsabilidade Civil do Comerciante deixa de ser solidária e passa a ser

subsidiária quando é constatado que o produto ou serviço não contém somente vícios e sim

14

defeitos, causando o acidente de consumo. Essa Responsabilidade é regida nas condições do

artigo 13, inciso I, II e III, do Código de Defesa do Consumidor.

O relatório final da pesquisa foi estruturado em três capítulos, podendo-se, inclusive,

delineá-los como três molduras distintas, mas conexas: A Responsabilidade Civil, O Direito

do Consumidor e a Responsabilidade Civil dos Fornecedores em face do Código de Defesa do

Consumidor.

No primeiro capítulo do presente trabalho, faz-se a análise de uma forma geral da

Responsabilidade Civil, buscando um breve comentário a sua evolução histórica,

conceituações, Responsabilidade Civil objetiva e subjetiva, Responsabilidade contratual e

extracontratual e por fim sua função.

No segundo capítulo, elenca o Direito do Consumidor, onde se relata um breve

comentário sobre sua evolução histórica, a Relação de Consumo existente entre as partes,

podendo assim conceituar os seus principais pressupostos: Fornecedor, Consumidor, produto

e serviço. Não podendo deixar de lado a diferenciação existente entre vício e defeito, onde

levará a esclarecer as resposta aos questionamentos da presente monografia.

No terceiro e último capítulo desta monografia, analisar-se-á propriamente a

Responsabilidade Civil dos Fornecedores em face do Código de Defesa do Consumidor, na

qual se destacam os seguintes aspectos: A Responsabilidade Civil pelo Fato do Produto ou do

Serviço, A Responsabilidade Civil Subsidiária do Comerciante pelo Defeito do Produto ou do

Serviço na Relação de Consumo, A Responsabilidade Civil pelo Vício do Produto ou do

Serviço, A Responsabilidade Civil dos Prestadores de Serviço Público e A Responsabilidade

Civil dos Profissionais Liberais.

Quanto à metodologia empregada, registra-se que, na fase de investigação foi utilizado

o método dedutivo, e, o relatório dos resultados expresso na presente monografia é composto

na base lógica dedutiva14, já que se parte de uma formulação geral do problema, buscando-se

posições científicas que os sustentem ou neguem, para que, ao final, seja apontada a

prevalência, ou não, das hipóteses elencadas.

14 Sobre os “Métodos” e “Técnicas” nas diversas fases da pesquisa científica, vide PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, p. 99-125.

15

Nas diversas fases da pesquisa, foram acionadas as técnicas do referente, da categoria,

do conceito operacional e da pesquisa bibliográfica15.

Os acordos semânticos que procuram resguardar a linha lógica do relatório da pesquisa

e respectivas categorias, por opção metodológica, estão apresentados na Lista de Categorias e

seus Conceitos Operacionais, muito embora algumas delas tenham seus conceitos mais

aprofundados no corpo da pesquisa.

A estrutura metodológica e as técnicas aplicadas nesta monografia estão em

conformidade com o padrão normativo da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)

e com as regras apresentadas no Caderno de Ensino: formação continuada, Ano 2, número 4;

assim como nas obras de Cezar Luiz Pasold, Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas

úteis ao pesquisador do Direito e Valdir Francisco Colzani, Guia para redação do trabalho

científico.

A presente monografia se encerra com as Considerações Finais, nas quais são

apresentados pontos conclusivos destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos

estudos e das reflexões sobre a Responsabilidade Civil do Fornecedor em face do Código de

Defesa do consumidor.

Com este itinerário, espera-se alcançar o intuito que ensejou a preferência por este

estudo: Buscar o Direito de Defesa ao Consumidor diante das condutas adotadas pelos

Fornecedores, que eventualmente venham a se ocultar na hora de indenizar-lo pelos produtos

e serviços fornecidos e prestados contendo determinados vícios, que muitas vezes passam a

serem defeitos causando, assim, o acidente de consumo, gerando uma Responsabilidade Civil.

15 Quanto às “Técnicas” mencionadas, vide PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, p. 61-71, 31- 41, 45- 58, e 99-125, nesta ordem.

2 DA RESPONSABILIDADE CIVIL

2.1 NOÇÕES GERAIS

Preliminarmente, para melhor discorrer sobre o tema proposto, é necessário apresentar

algumas noções gerais a cerca da Responsabilidade Civil. Assim, amparando-se nas lições de

Fábio Ulhoa Coelho, pode-se dizer que em sociedade, estamos todos interagindo, fazendo

com que a omissão e a ação das pessoas causem algum prejuízo ou uma melhoria, interferindo

na situação, nos interesses e nos bens de outras. Para o autor, essas interferências são

colocadas como externalidades, onde uma pessoa tem sua situação danificada por uma ação

alheia e não é compensada por isso 16.

No entanto, conforme lecionam Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho

“toda a atuação do homem invade ou, ao menos tangencia, o campo da responsabilidade” 17. É

neste sentido que os autores anteriormente citados, na seqüência da lição transcrita a cima,

dispõem que “[...] a noção jurídica de responsabilidade pressupõe a atividade danosa de

alguém que, atuando a priori ilicitamente, viola uma norma jurídica preexistente (legal ou

contratual), subordinando-se, desta forma, às conseqüências do seu ato (obrigação de

reparar)” 18.

Quanto a esta questão, Fábio Ulhoa Coelho discorre que:

O que caracteriza a interação como externalidade é a inexistência de compensação entre as pessoas envolvidas. Se quem tem a situação piorada pela ação alheia não é compensado por isso, ou se aquele que ganhou não compensa ninguém pela melhora que experimentou, a interferência é uma externalidade. Caso contrário, isto é, na hipótese de compensação dos prejuízos ou ganhos, dá-se a internalização da externalidade. A

16 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, volume 2/ Fábio Ulhoa Coelho. – 2 ed. rev. – São Paulo: Saraiva, 2005, p. 249. 17 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO. Rodolfo. Novo curso de direito covil. Volume III: responsabilidade civil/ Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho. – 5. Ed. Ver. e atul. – São Paulo: Saraiva, 2002, p. 9. 18 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO. Rodolfo. Novo curso de direito covil. Volume III: responsabilidade civil, p. 9.

17

externalidade é negativa se a ação de uma pessoa prejudica outra; e positiva, se beneficia 19.

Sendo assim, entendesse que a Responsabilidade Civil tem a função de reparar o dano

causado por alguém que traz algum prejuízo para outrem.

Passasse, nesse momento, a um breve relato sobre a evolução histórica da

Responsabilidade Civil, para melhor entendermos quando surgiu e de que forma ela foi e é

aplicada nos tempos atuais.

2.2 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Segundo Roberto Senise Lisboa, “desde os tempos remotos preponderou a idéia de

delito, como sendo origem da Responsabilidade, ou seja, o dever jurídico de reparação do

dano” 20.

Naquela época, prevalecia a lei do mais forte. De acordo com Carlos Roberto

Gonçalves, destacava-se a vingança privada, como sendo uma solução comum para os

conflitos e para a reparação do dano causado entre si:

Não imperava, ainda, o direito. Dominava, então, a vingança privada, forma primitiva, selvagem talvez, mas humana, da reação espontânea e natural contra o mal sofrido; solução comum a todos os povos nas suas origens, para a reparação do mal pelo mal 21.

Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho também relatam que predominava

na organização das sociedades pré-romanas a concepção de vingança:

De fato, nas primeiras formas organizadas de sociedade, bem como nas civilizações pré-romanas, a origem do instituto está calcada na concepção de vingança privada, forma por certo rudimentar, mas compreensível do ponto de vista humano como lídima reação pessoal contra o mal sofrido 22.

19 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, volume 2, p. 249. 20 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil. Volume 2: obrigações e responsabilidade civil/ Roberto Senise Lisboa. – 3. ed. rev. atual. e ampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004, p. 418. 21 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil/ Carlos Roberto Gonçalves. – 2. ed. rev. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2007, p. 6. 22 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO. Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume III: responsabilidade civil, p. 10.

18

No entanto, Roberto Senise Lisboa destaca o entendimento de Rodolph Doreste

dizendo que “todos os povos da antiguidade passaram por esse modelo de direito e de justiça,

a partir da retribuição privada contra o autor do prejuízo” 23.

Sendo assim, a Responsabilidade teve origem quando os povos da antiguidade

começaram a sentir necessidade de reparação dos danos causados por outrem, sendo que suas

formas de fazer justiça eram através de força humana.

Todavia, Maria Helena Diniz entende que nos tempos remotos “a responsabilidade era

objetiva, não dependia da culpa, apresentando-se apenas como uma reação do lesado contra a

causa aparente do dano” 24.

Posteriormente, com o surgimento da Lei das XII Tábuas, por volta do ano 450 a. C.,

houve uma superação do período marcado pela vingança, onde Alvino Lima, lembrado e

citado por Carlos Roberto Gonçalves menciona que:

Este período sucede o da composição tarifada, imposto pela Lei das XII Tábuas, que fixava, em casos concretos, o valor da pena a ser paga pelo ofensor. É a reação contra a vingança privada, que é assim abolida e substituída pela composição obrigatória. Embora subsista o sistema do delito privado, nota-se, entretanto, a influência da inteligência social, compreendendo-se que a regulamentação dos conflitos não é somente uma questão entre particulares 25.

Na fase inicial do século III a. C., consagrou-se a pena de Talião, onde Carlos Roberto

Gonçalves discorre que “se a reação não pudesse acontecer desde logo, sobrevinha a vindicta

imediata, posteriormente regulamentada, e que resultou na pena de talião, do ‘olho por olho,

dente por dente’” 26, sendo que, essas idéias de vingança foram desenvolvidas pelo Código de

Hamurabi, no ano de 1750 a. C..

23 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil. Volume 2: obrigações e responsabilidade civil, p. 422. 24 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, v. 7: responsabilidade civil/ Maria Helena Diniz. – 18. ed. rev., aum. e atual. de acordo com o novo Código Civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002) e o Projeto de Lei n. 6.960/2002. – São Paulo: Saraiva, 2004, p. 11. 25 1999 apud GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO. Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume III: responsabilidade civil, p. 10. 26 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil, p. 6.

19

Para Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, houve uma evolução do

instituto, ainda na lei do Talião, onde concebiam a possibilidade de composição entre a vítima

e o ofensor, evitando-se a aplicação da pena dessa Lei 27.

Nos primeiros tempos do direito romano, ainda no século III a. C., as primeiras idéias

de se construir uma estrutura jurídica para a Responsabilidade extracontratual veio com a

introdução da Lex Aquilia de Damno. No entanto Sílvio de Salvo Venosa entende que:

O sistema romano de responsabilidade extrai da interpretação da Lex Aquilia o princípio pelo qual se pune a culpa por danos injustamente provocados, independentemente de relação obrigacional preexistente. Funda-se aí a origem da responsabilidade extracontratual. Por essa razão, denomina-se também responsabilidade aquiliana essa modalidade 28.

Maria Helena Diniz entende que a introdução da Lex Aquilia de Dammo veio como

sendo o grande marco na história da Responsabilidade Civil:

A Lex Aquilia de damno veio a cristalizar a idéia de reparação pecuniária do dano, impondo que o patrimônio do lesante suportasse os ônus da reparação, em razão do valor da res, esboçando-se a noção de culpa como fundamento da responsabilidade, de tal sorte que o agente se isentaria de qualquer responsabilidade se tivesse procedido sem culpa. Passou-se a atribuir o dano à conduta culposa do agente. A Lex Aquilia de damno estabeleceu as bases da responsabilidade extracontratual, criando uma forma pecuniária de indenização do prejuízo, com base no estabelecimento de seu valor 29.

Contudo, Maria Helena Diniz relata que, foi ainda no período romano que o Estado

passou a intervir nas relações entre a vítima e o ofensor:

O Estado passou, então, a intervir nos conflitos privados, fixando o valor dos prejuízos, obrigando a vítima a aceitar a composição, renunciando à vingança. Essa composição permaneceu no direito romano com o caráter de pena privada e como reparação, visto que não havia nítida distinção entre responsabilidade civil e a penal 30.

27 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO. Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume III: responsabilidade civil, p.10. 28 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: responsabilidade civil/ Sílvio de Salvo Venosa. – 7. ed. – São Paulo: Atlas, 2007. – (Coleção direito civil; v. 4), p. 16. 29 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, v. 7: responsabilidade civil, p. 11. 30 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, v. 7: responsabilidade civil, p. 11.

20

Posteriormente, foi que começou a se delinear, nas palavras de Carlos Roberto

Gonçalves “a diferenciação entre ‘pena’ e a ‘reparação’, [...] com a distinção entre os delitos

públicos (ofensas mais graves, de caráter perturbador da ordem) e os delitos privados” 31.

Já com a criação do Estado Moderno, próximo à Revolução Francesa (1789),

Fernando Noronha, entende que a Responsabilidade Civil, que se confundia com a

Responsabilidade Penal, onde estavam unidas para sancionar os infratores, se separaram de

vez 32.

Hoje, o Código Civil, traz no artigo 927 os novos meios de Responsabilidade:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo Único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem 33.

Após um breve relato de como se desdobrou a Responsabilidade Civil desde os

tempos remotos até os atuais, passa-se, a conceituação de Responsabilidade e Obrigação, para

que a elaboração do trabalho seja ampla e completa.

2.3 CONCEITO DE RESPONSABILIDADE

Após esta abordagem histórica sobre a evolução da Responsabilidade Civil, é

indispensável buscar em doutrinas alguns conceitos da palavra Responsabilidade. Assim

verifica-se o conceito apresentado por Francisco Fernandes, Celso Pedro Luft e F. Marques

Guimarães, no Dicionário brasileiro, onde a Responsabilidade no sentido mais genérico

significa “qualidade do que é responsável; obrigação de responder por certos atos, próprios ou

de outrem” 34.

31 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil, p. 7. 32 NORONHA, Fernando. Direito das obrigações. Fundamento do Direito das obrigações, Introdução à Responsabilidade Civil. V.1. São Paulo, 2003, p. 530. 33 BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002: Código Civil. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>. Acesso em 25 de maio de 2009. 34 FERNANDES, Francisco; LUFT, Celso Pedro; GUIMARÃES, F. Marques. Dicionário brasileiro Globo/ Francisco Fernandes, Celso Pedro Luft, F. Marques Guimarães. – 12. ed. – São Paulo: Globo, 1989.

21

Já, para Roberto Senise Lisboa o conceito de Responsabilidade no sentido jurídico “é

o dever jurídico de recomposição do dano sofrido, imposto ao seu causador direto ou

indireto”35.

Nos dizeres de Sílvio de Salvo Venosa, “o termo responsabilidade é utilizado em

qualquer situação na qual alguma pessoa, natural ou jurídica, deva arcar coma as

conseqüências de um ato, fato ou negócio danoso” 36.

Sobre o surgimento da Responsabilidade, Fábio Ulhoa Coelho leciona que é no

momento em que “alguém intencionalmente causa dano ao patrimônio de outrem, a

convivência em sociedade pressupõe a obrigação de aquele repor a este os prejuízos

causados” 37.

Sendo assim, o autor supracitado conclui que a Responsabilidade Civil é uma forma de

justiça, e é caracterizada como sendo “[...] a obrigação em que o sujeito ativo pode exigir o

pagamento de indenização do passivo por ter sofrido prejuízo imputado a este último” 38.

No entanto, a Responsabilidade Civil é parte integrante do direito das obrigações, pois,

segundo Roberto Senise Lisboa a “responsabilidade constitui uma relação obrigacional cujo

objeto é o ressarcimento” 39. Portanto, responsabilidade e obrigação não possuem o mesmo

significado. Trata-se a Responsabilidade Civil como uma espécie de obrigação.

2.4 CONCEITO DE OBRIGAÇÃO

Roberto Senise Lisboa, ao seu entendimento conceitua a palavra obrigação da seguinte

forma:

[...]é um vínculo de direito de natureza transitória que necessariamente compele alguém a solver aquilo a que se comprometeu, garantindo o devedor que pagará a prestação economicamente apreciável, seja por meio do seu próprio patrimônio ou de outrem 40.

35 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil. Volume 2: obrigações e responsabilidade, p. 427. 36 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: responsabilidade civil, p. 1. 37 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, volume 2, p. 249. 38 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, volume 2, p. 252. 39 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil. Volume 2: obrigações e responsabilidade civil, p. 427. 40 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil. Volume 2: obrigações e responsabilidade civil, p. 61.

22

Ainda, o autor supracitado, completa que “o juramento de honra relaciona-se com o

conceito de obrigação, como um reforço da responsabilidade pessoal. É, portanto, mais que o

simples desenvolver de uma atividade em prol do outro pela existência de um débito” 41.

No mesmo sentido, Marcelo Kokke Gomes, lembrado por Carlos Roberto Gonçalves

conceitua obrigação como sendo “[...] o vínculo jurídico que confere ao credor o direito de

exigir do devedor o cumprimento de determinada prestação” 42.

Vendo uma breve definição de obrigações, é de suma importância relembrar o

conceito de Responsabilidade, que para os autores Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona

Filho, vem a ser:

Responsabilidade, para o Direito, nada mais é, portanto, que uma obrigação derivada – um dever jurídico sucessivo – de assumir as conseqüências jurídicas de um fato, conseqüências essas que podem variar (reparação dos danos e/ou punição pessoal do agente lesionante) de acordo com os interesses lesados 43.

Sendo assim, a Responsabilidade Civil é sempre uma obrigação de reparar os danos,

sejam eles “[...] causados à pessoa ou patrimônio de outrem, ou danos causados a interesses

coletivos, ou transindividuais, sejam estes difusos, sejam coletivos stricto sensu” 44.

Após explanar alguns conceitos básicos de obrigação, passasse adiante com

diferenciação de alguns tipos de Responsabilidade no ramo do direito.

2.5 DIFERENÇA DA RESPONSABILIDADE PENAL E RESPONSABILIDADE CIVIL

Dando continuidade ao presente trabalho, para o autor Carlos Roberto Gonçalves a

“palavra ‘responsabilidade’ origina-se do latim respondere, que encerra a idéia de segurança

ou garantia da restituição ou compensação do bem sacrificado. Teria, assim, o significado de

recomposição, de obrigação de restituir ou ressarcir” 45.

41 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil. Volume 2: obrigações e responsabilidade civil, p. 427. 42 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil/ Carlos Roberto Gonçalves, p. 7. 43 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO. Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume III: responsabilidade civil/ Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho, p. 5. 44 NORONHA, Fernando. Direito das obrigações. Fundamento do Direito das obrigações, Introdução à Responsabilidade Civil, p. 429. 45 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil/ Carlos Roberto Gonçalves, p. 23.

23

Portanto, o conceito de Responsabilidade para Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo

Pamplona Filho, no campo jurídico, justamente pela sua generalidade, não se restringe ao

Direito Civil [...], aplicando-se e respeitando-se as devidas peculiaridades, a todos os outros

campos do Direito, como nas esferas penal, administrativa e tributária 46.

No entanto, os autores supracitados, começam a distinguir a diferença entre

Responsabilidade Civil da Responsabilidade Penal, onde a primeira tem a obrigação de

reparar dano patrimonial ou moral, buscando primeiramente o estado inicial da coisa e se não

for mais possível reparando com indenização pecuniária e a segunda aplica ao infrator uma

cominação legal:

Na responsabilidade civil, o agente que cometeu o ilícito tem a obrigação de reparar o dano patrimonial ou moral causado, buscando restaurar o status quo ante, obrigação esta que, se não for mais possível, é convertida no pagamento de uma indenização (na possibilidade de avaliação pecuniária do dano) ou de uma compensação (na hipótese de não se poder estimar patrimonialmente este dano), enquanto, pela responsabilidade penal ou criminal, deve o agente sofrer a aplicação de uma cominação legal, que pode ser privativa de liberdade (ex.: prisão), restritiva de direitos (ex.: perda da carta de habilitação de motorista) ou mesmo pecuniária (ex.: multa) 47.

Após traçar a diferença básica existente entre Responsabilidade Civil e a

Responsabilidade Penal, passa-se agora a definição de Responsabilidade Penal, onde Maria

Helena Diniz a conceitua como sendo:

[...]uma turbação social, ou seja, uma lesão aos deveres de cidadão para com a ordem da sociedade, acarretando um dano social determinando pela violação da norma penal, exigindo para restabelecer o equilíbrio social investigação da culpabilidade do agente ou o estabelecimento da anti-sociabilidade do seu procedimento, acarretando a submissão pessoal do agente à pena que lhe for imposta pelo órgão judicante, tendendo, portanto, à punição, isto é ao cumprimento da pena estabelecida na lei penal 48.

Carlos Alberto Bittar lembrado pelos autores Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo

Pamplona Filho, assegura que a Responsabilidade Penal, por sua vez, no que diz respeito a

46 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO. Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume III: responsabilidade civil, p. 4. 47 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO. Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume III: responsabilidade civil, p. 4. 48 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, v. 7: responsabilidade civil, p. 22.

24

pena, “ corresponde à submissão pessoal e física do agente, para restauração da normalidade

social violada com o delito” 49.

Pablo Stolze Gagliano e Pamplona Filho deixam claro que a Responsabilidade Civil e

Penal decorrem a priori, que: “a noção jurídica de responsabilidade pressupõe a atividade

danosa de alguém que, atuando a priori ilicitamente, viola uma norma jurídica preexistente

(legal ou contratual), subordinando-se, dessa forma, às conseqüências do seu ato (obrigação

de reparar)” 50.

Já na conceituação de Responsabilidade Civil, Maria Helena Diniz traz como sendo:

A responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão do ato por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal 51.

Sendo assim, a autora acima citada, ressalta que a Responsabilidade Civil sempre

requer prejuízo a terceiro:

A responsabilidade civil, por ser repercussão do dano privado, tem por causa geradora o interesse em restabelecer o equilíbrio jurídico alterado ou desfeito pela lesão, de modo que a vítima poderá pedir reparação do prejuízo causado, traduzida na recomposição do statu quo ante ou numa importância em dinheiro 52.

Para Carlos Alberto Bittar novamente lembrado por Pablo Stolzer Gagliano e

Pamplona Filho a Responsabilidade Civil é tomada pela reparação do dano que “representa

meio indireto de devolver-se o equilíbrio às relações privadas, obrigando-se o responsável a

agir, ou a dispor de seu patrimônio para a satisfação dos direitos do prejudicado” 53.

Já para não mais haver entrelace entre esses dois tipos de Responsabilidade, Maria

Helena Diniz esclarece que:

49 1990 apud GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO. Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume III: responsabilidade civil, p. 5. 50 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO. Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume III: responsabilidade civil, p. 9. 51 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, v. 7: responsabilidade civil, p. 40. 52 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, v. 7: responsabilidade civil, p. 22. 53 1990 apud GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO. Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume III: responsabilidade civil, p. 5.

25

É preciso ainda não olvidar o disposto no artigo 935 do Código Civil, que estabelece o princípio da independência da responsabilidade civil relativamente à criminal, porém não se poderá questionar mais sobre a existência do fato (isto é, do crime e suas conseqüências) ou quem seja o seu autor, quando estas questões se encontrarem decididas no crime. Logo, enquanto o juízo criminal não tiver formado convicção sobre tais questões, os processos correrão independentemente, e as duas responsabilidades (civil e penal) poderão ser de fato, independentemente investigadas 54.

Ou seja, a Responsabilidade Civil é independente da Criminal, podendo ou não, se

discutir sobre o autor e os fatos ilícitos que causaram alguma lesão a outrem.

2.6 DA RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA

Para Cáio Mário da Silva Pereira a idéia fundamental na Responsabilidade Civil

Subjetiva é a da culpa, podendo ela não se observada em alguns casos que a lei autorizara:

[...] a regra geral, que deve presidir à responsabilidade civil, é a sua fundamentação na idéia de culpa; mas sendo insuficiente esta para atender às imposições do progresso, cumpre ao legislador fixar especialmente daquele os casos em que deverá ocorrer a obrigação de reparar, independentemente daquela noção. Não será sempre que a reparação do dano se abstrairá do conceito de culpa, porém quando o autorizar a ordem jurídica positiva 55.

Conceituando Responsabilidade Civil Subjetiva, Washington de Barros Monteiro

discorre que:

[...] pressupõe sempre a existência de culpa (latu sensu), abrangendo o dolo (pleno conhecimento do mal e direta intenção de o praticar) e a culpa (stricto sensu), violação de um dever que o agente podia conhecer e acatar, mas que descumpre por negligência, imprudência ou imperícia 56.

Todavia, Gagliano e Pamplona Filho também entendem que essa culpa se caracteriza

pela negligência ou imprudência do autor do dano culposo. No entanto “a responsabilidade

civil subjetiva é a decorrente de dano causado em função de ato doloso ou culposo” 57.

54 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, v. 7: responsabilidade civil, p. 24. 55 PEREIRA, Cáio Mário da Silva. Instituições de direito civil. V. III. Contratos: declaração unilateral de vontades; Responsabilidade civil. Rio de Janeiro, forense, 2004, p. 562. 56 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. direito das obrigações. V. 5º. 34º ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 449. 57 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO. Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume III: responsabilidade civil, p. 13.

26

O Código Civil estabelece no artigo 186 que “Aquele que, por ação ou omissão

voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que

exclusivamente moral, comete ato ilícito” 58.

Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho trazem ainda em seu contexto, a

culpa como sendo a noção básica da Responsabilidade Civil, no qual cada um responde pela

própria culpa – unuscuique sua culpa nocet 59.

Os autores supracitados entendem também que “há situações em que o ordenamento

jurídico atribui a Responsabilidade Civil a alguém por dano que não foi causado diretamente

por ele, mas sim por um terceiro com quem mantém algum tipo de relação jurídica” 60.

No entanto, Carlos Roberto Gonçalves citando Miguel Reale, discorre que deve ser

reconhecida “a responsabilidade subjetiva como norma, pois o indivíduo deve ser

responsabilizado, em princípio, por sua ação ou omissão, culposa ou dolosa. [...]” 61.

Seguindo o mesmo entendimento de Gonçalves, Maria Helena Diniz ressalta que:

No nosso ordenamento jurídico vigora a regra geral de que o dever ressarcitório pela prática de atos ilícitos decorre da culpa, ou seja, da reprovabilidade ou censurabilidade da conduta do agente. O comportamento do agente será reprovado ou censurado quando, ante circunstâncias concretas do caso, se entende que ele poderia ou deveria ter agido de modo diferente 62.

Pode-se concluir pelo entendimento de Roberto Senise Lisboa que a “responsabilidade

subjetiva é aquela que é apurada mediante a demonstração da culpa do agente causador do

dano” 63.

Sendo assim, a obrigação de indenizar, somente surge, se o dano houver sido causado

de forma culposa.

Por fim, para que a Responsabilidade seja subjetiva, existem alguns pressupostos a

serem examinados, sendo que os principais são: ação, omissão, culpa ou dolo do agente.

58 BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002: Código Civil. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>. Acesso em 25 de maio de 2009. 59 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO. Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume III: responsabilidade civil, p. 14. 60 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO. Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume III: responsabilidade civil, p. 14. 61 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil, p. 33. 62 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, v. 7: responsabilidade civil, p. 44. 63 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil. Volume 2: obrigações e responsabilidade civil, p. 460.

27

2.6.1 Pressupostos da Responsabilidade Civil Subjetiva

2.6.1.1 Ação ou Omissão

Sobre esses elementos ‘ação’ e ‘omissão’, Rogério Marrone Sampaio afirma que:

Percebe-se, portanto, que a obrigação de reparar o dano vincula-se etimologicamente a um comportamento humano, positivo (ação), ou negativo (omissão). Daí a idéia de que o ato ilícito insere-se entre as espécies do gênero ato jurídico. Em suma, deve-se reparar o dano aquele que, por meio de um comportamento humano, violou dever contratual (descumprimento de obrigação contratualmente prevista), legal (hipótese em que, segundo, comportamento, sem infringir a lei, foge à finalidade social a que se destina, como acontece com os atos praticados com abuso de direito)64.

Segundo Sérgio Cavalieri Filho a ação “consiste [...] em um movimento corpóreo

comissivo, um comportamento positivo, como a destruição de uma coisa alheia, a morte ou

lesão corporal causada em alguém” 65.

Fábio Ulhoa Coelho entende que essas ações podem ser “conscientes ou inconscientes,

segundo a área do cérebro responsável pelo comando” 66.

Já na caracterização da omissão, Rogério Marrone Sampaio ensina que: “[...] o

comportamento omissivo constitui apenas um dos elementos essenciais à Responsabilidade

Civil, devendo, portanto, coexistir como os demais para que surja a obrigação de indenizar a

vítima” 67.

O ato omissivo para Fábio Ulhoa Coelho, “só gera responsabilidade civil subjetiva se

presentes dois requisitos: a) o sujeito a quem se imputa a responsabilidade tinha o dever de

praticar o ato omitido; e b) havia razoável expectativa (certeza ou grande probabilidade) de

que a prática do ato impediria o dano” 68.

Sendo assim, a ação é um ato positivo enquanto a omissão gera resultado negativo ao

patrimônio de outrem.

64 SAMPAIO, Rogério Marrone de castro. Direito Civil, Responsabilidade Civil, p. 30. 65 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil/ Sergio Cavalieri Filho. – 7. ed. – 3. reimpr. – São Paulo: Atlas, 2007, p. 24. 66 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, volume 2, p. 304. 67 SAMPAIO, Rogério Marrone de castro. Direito Civil, Responsabilidade Civil, p. 32. 68 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, volume 2, p. 306.

28

2.6.1.2 Culpa ou Dolo do Agente

Culpa para Sílvio de Salvo Venosa, em sentido amplo, “é a inobservância de um dever

que o agente devia conhecer e observar” 69.

Sérgio Cavalieri Filho entende que a culpa somente obtêm relevância jurídica quando

nela é integrada a conduta humana, sendo assim, quando alguém causa dano a outrem tendo o

dever de repará-lo 70.

Fábio Ulhoa Coelho ainda afirma que é possível “a identificação da culpa como

pressuposto da responsabilidade civil” 71 e “culposo é o ato negligente, imprudente, imperito

ou intencional destinados a prejudicar alguém” 72.

No mesmo sentido, para Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho a culpa

também pode ser vista através desses atos culposos, os conceituado da seguinte forma:

Negligência – é a falta de observância do dever de cuidado, por omissão; Imprudência – esta se caracteriza quando o agente culpado resolve enfrentar desnecessariamente o perigo. O sujeito, pois, atua contra as regras básicas de cautela; Imperícia – esta forma de exteriorização da culpa decorre da falta de aptidão ou habilidade para a realização de uma atividade técnica ou cientifica 73.

Sendo assim, para Sérgio Cavalieri Filho, esses três elementos, estão claramente

identificados no artigo 186 do Código Civil podendo ser expostos mediante análise de seu

contexto 74.

Já, o dolo, para Fábio Ulhoa Coelho, é a culpa de forma intencional, entendendo que:

Age dolosamente quem provoca prejuízo a outrem, ao praticar atos com o objetivo ou o risco de causá-los. Esta modalidade de culpa compreende tanto o dolo direto, em que o prejuízo é a finalidade perseguida pelo agente, como o indireto, em que o dano ocasionado não era propriamente o objetivo, mas o agente assumiu de forma consciente o risco de provocá-lo 75.

69 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. Responsabilidade Civil, p. 22. 70 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil, p. 23. 71 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, volume 2, p. 308. 72 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, volume 2, p. 308. 73 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO. Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume III: responsabilidade civil, p. 128. 74 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil, p. 17. 75 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, volume 2, p. 308.

29

No entanto para melhor compreensão do dolo, destaca-se o entendimento de Rogério

Marrone Sampaio, que ensina ser “[...] a manifestação de vontade consciente dirigida a

determinado fim. Diz-se, portanto, que, no dolo, a conduta (comportamento humano) nasce

ilícita, já que o autor a pratica querendo atingir o resultado antijurídico” 76.

Após uma breve distinção sobre culpa e dolo, continua-se o presente trabalho com a

exposição da Responsabilidade Civil Objetiva.

2.7 DA RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA

Roberto Senise Lisboa conceitua a Responsabilidade Civil Objetiva como sendo

“aquela que é apurada independentemente de culpa do agente causador do dano, pela

atividade perigosa por ele desempenhada” 77.

Nesse tipo de Responsabilidade Civil, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona

Filho relatam que “[..] o dolo ou culpa na conduta do agente causador do dano é irrelevante

juridicamente, haja vista que somente será necessária a existência do elo de causalidade entre

o dano e a conduta do agente responsável para que surja o dever de indenizar” 78.

Contudo, Maria Helena Diniz ressalta que “essa Responsabilidade tem como

fundamento a atividade exercida pelo agente, pelo perigo que pode causar dano à vida, à

saúde ou a outros bens, criando risco de dano para terceiros” 79.

Na concepção de Carlos Roberto Gonçalves a teoria do risco, é uma das teorias que

procuram justificar a Responsabilidade Civil Objetiva, sendo que toda pessoa que exercer

alguma atividade criando um risco a terceiros tem o dever de repará-lo, ainda que não

comprove a culpa do lesante 80.

O Artigo 927 do CC, em seu parágrafo único estabelece a obrigação de reparar o dano,

independe da culpa, tendo apenas que ser apresentando o risco 81.

76 SAMPAIO, Rogério Marrone de castro. Direito Civil, Responsabilidade Civil, p. 77. 77 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil. Volume 2: obrigações e responsabilidade civil, p. 461. 78 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO. Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume III: responsabilidade civil, p. 14. 79 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, v. 7: responsabilidade civil, p. 55. 80 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil, p. 31. 81 BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002: Código Civil. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>. Acesso em 25 de maio de 2009.

30

Maria Helena Diniz, quanto ao dever ressarcitório, entende que:

O dever ressarcitório, estabelecido por lei, ocorre sempre que se positivar a autoria de um fato lesivo, sem necessidade de se indagar se contrariou ou não norma predeterminada, ou melhor, se houve ou não um erro de conduta. Com a apuração do dano, o ofensor ou seu proponente deverá indenizá-lo. Mas, como não há que se falar em imputabilidade da conduta, tal responsabilidade só terá cabimento nos casos expressamente previstos em lei82.

No entanto, Carlos Roberto Gonçalves ainda ressalta que não se exige qualquer prova

de culpa do agente causador do fato ilícito para que seja obrigado a reparar o dano 83.

Determina ainda, que seja indispensável “a relação de causalidade, uma vez que,

mesmo no caso de Responsabilidade objetiva, não se pode acusar quem não tenha dado causa

ao evento” 84.

Já, para Maria Helena Diniz, no que diz respeito ao nexo causal, ele é pressuposto

indispensável para a Responsabilidade Civil Objetiva, sendo que:

[...] todo aquele que desenvolve atividade lícita que possa gerar perigo para outrem deverá responder pelo risco, exonerando-se o lesado da prova da culpa do lesante. A vítima deverá apenas provar o nexo causal, não se admitindo qualquer escusa subjetiva do imputado 85.

Após estabelecer a conceituação de Responsabilidade Civil Objetiva, é de suma

importância atribuir ao presente trabalho uma breve explicação dos seus principais

pressupostos: relação de causalidade e dano.

2.7.1 Pressupostos da Responsabilidade Civil Objetiva

2.7.1.1 Relação de Causalidade

O nexo causal é um dos elementos da Responsabilidade Civil a ser examinado, e

segundo Sérgio Cavalieri Filho “é necessário que o ato ilícito seja a causa do dano, que o

82 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, v. 7: responsabilidade civil, p. 55. 83 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil, p. 30. 84 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume IV: responsabilidade civil, p. 31 85 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, v. 7: responsabilidade civil, p. 56.

31

prejuízo sofrido pela vítima seja resultado desse ato, sem que a responsabilidade não correrá a

cargo do autor material do fato” 86.

No mesmo sentindo Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho entendem que

“somente se poderá responsabilizar alguém cujo comportamento houvesse dado causa ao

prejuízo” 87.

Sendo assim, só haverá Responsabilidade Civil Objetiva, se houver uma relação de

causalidade e o dano propriamente dito.

2.7.1.2 Dano

No entendimento de Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, o dano é

“requisito indispensável para a configuração de qualquer espécie de Responsabilidade

(contratual ou extracontratual, objetiva ou subjetiva)” 88.

Para Cavalieri Filho a conceituação de dano é a seguinte:

Conceitua-se, então, o dano como sendo a subtração ou diminuição de um bem jurídico, qualquer que seja a sua natureza, quer se trate de um bem patrimonial, quer se trate de um bem integrante da própria personalidade da vítima, como a sua honra, a imagem, a liberdade etc. Em suma, dano é lesão de um bem jurídico, tanto patrimonial como moral, vindo daí a conhecida divisão do dano em patrimonial e moral 89.

Sendo assim, dano não passa de um prejuízo causado pelo agente. Passa-se agora, a

expor a definição da Responsabilidade Civil Contratual e da Responsabilidade Civil

Extracontratual.

2.8 DA RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL E EXTRACONTRATUAL

É de caráter fundamental diferenciar a Responsabilidade Civil Contratual da

Extracontratual, sendo que na primeira, Rogério Marrone Sampaio destaca que “[...] o dever

86 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil, p. 46. 87 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO. Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume III: responsabilidade civil, p. 86. 88 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO. Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume III: responsabilidade civil, p. 35. 89 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil, p. 71.

32

de indenizar os prejuízos decore do descumprimento de uma obrigação contratualmente

prevista” 90.

Na Extracontratual, Fernando Noronha entende que é de suma importância ressaltar

que essa Responsabilidade “[...] não é simplesmente aquela que fica para além dos contratos,

ela é bem mais importante, é o regime-regra da responsabilidade civil” 91.

Sílvio de Salvo Venosa observa que “[...] nem sempre resta muito clara a existência de

um contrato ou de um negócio, porque tanto a responsabilidade contratual como a

extracontratual com freqüência se interpenetram e ontologicamente não são distintas” 92.

Maria Helena Diniz entende que a Responsabilidade Contratual:

[...] se atribui descumprimento ou má prestação de uma atividade à qual alguém estava obrigado em virtude de liame contratual e esse inadimplemento visava, diretamente, a satisfazer um interesse extracontratual do credor, o dano será também diretamente não-econômico 93.

Já, Rogério Marrone Sampaio, no que diz respeito a Responsabilidade Extracontratual,

ensina que:

No tocante à responsabilidade extracontratual ou aquiliana, o dever de indenizar os danos causados decorre da prática de um ato ilícito propriamente dito (ilícito extracontratual), que se substancia em uma conduta humana positiva ou negativa violadora de um dever cuidado 94.

Sendo assim, na Responsabilidade Extracontratual o dever de indenizar decorre de um

ato cometido de maneira ilícita pelo agente, podendo ser uma conduta humana positiva ou

negativa.

90 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito Civil, Responsabilidade Civil, p. 24. 91 NORONHA, Fernando. Direito das obrigações. Fundamento do Direito das obrigações, Introdução à Responsabilidade Civil, p. 433. 92 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. Responsabilidade Civil, p. 19. 93 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, v. 7: responsabilidade civil/, p. 135. 94 SAMPAIO, Rogério Marrone de castro. Direito Civil, Responsabilidade Civil, p. 24.

33

2.9 A FUNÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL

No entendimento de Maria Helena Diniz, a função da Responsabilidade Civil está

como sendo uma forma de diminuir o sofrimento causado pelo devedor a vítima, sendo uma

forma de indenizar quem está na situação de perda. É neste sentido que expõe:

A obrigação de indenizar, fundada sobre a responsabilidade civil, visa suprir a diferença entre a situação do credor, tal como esta se apresenta em conseqüência do prejuízo, e a que existiria sem este último fato. A indenização é estabelecida em atenção ao dano e à situação do lesado, que deverá ser restituído à situação em que estaria se não tivesse ocorrido a ação do lesante. De forma que tal indenização será fixada em função da diferença entre a situação hipotética entre a situação real do lesado, ou melhor, o dano mede-se pela diferença entre a situação existente à data da sentença e a situação que, na mesma data, se registraria, se não fora a lesão 95.

Segundo Roberto Senise Lisboa, “na sociedade pós-moderna, o instituto da

Responsabilidade Civil possui papel fundamental para a resolução dos conflitos

intersubjetivos e transindividuais, [...]” 96.

Ainda, o autor citado acima, continua o seu entendimento, expondo que além desse

papel fundamental a Responsabilidade Civil possui duas funções:

Garantir o direito do lesado, prevenindo-se a coletividade de novas violações que poderiam eventualmente ser realizadas pelo agente em desfavor de terceiros determinados ou não (titulares, portanto, dos interesses difusos e coletivos); e servir como sanção civil 97.

Já, para Rodolfo Pamplona Filho e Pablo Stolze Gagliano, em seus entendimentos a

Responsabilidade Civil possui três funções que facilmente são visualizadas na reparação civil,

são elas: a reparação compensatória do dano à vítima, a punitiva do ofensor e a desmotivação

social da conduta lesiva 98.

Na reparação compensatória, os autores supracitados ainda colocam que:

Retornar as coisas ao status quo ante. Repõe-se o bem perdido diretamente ou, quando não é mais possível tal circunstância, impõe-se o pagamento de

95 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, v. 7: responsabilidade civil, p. 6. 96 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil. Volume 2: obrigações e responsabilidade civil, p. 428. 97 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil. Volume 2: obrigações e responsabilidade civil, p. 428. 98 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO. Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume III: responsabilidade civil, p. 21.

34

um quantum indenizatório, em importância equivalente ao valor do bem material ou compensatório do direito não redutível pecuniariamente 99.

No entanto, a função punitiva, para os autores acima citados, consiste na “[...]

reposição das cosias ao estado em que se encontravam, mas igualmente relevante esta é a

idéia de punição do ofensor” 100, já para a função da desmotivação, eles ainda entendem como

sendo:

[...] de cunho sócio educativo, que é a de tornar público que condutas semelhantes não serão toleradas. Assim, alcança-se, por via indireta, a própria sociedade, restabelecendo-se o equilíbrio e a segurança desejada pelo direito 101.

Concluindo a explanação da função da Responsabilidade Civil, Maria Helena Diniz

trata-a como sendo consubstancial, entendendo ser uma função primordial da

responsabilidade Civil, uma vez que se faz necessário a indenização, ao prejudicado, do dano

sofrido 102.

Após os relatos sobre a Responsabilidade Civil, passa-se ao estudo minucioso do

Direito do Consumidor para que se possa concluir o presente trabalho respondendo assim ao

questionamento inicial e verificar quais das hipóteses são cabíveis.

99 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO. Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume III: responsabilidade civil, p. 21. 100 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO. Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume III: responsabilidade civil, p. 21. 101 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO. Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume III: responsabilidade civil, p. 21. 102 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, v. 7: responsabilidade civil.

3 O DIREITO DO CONSUMIDOR

3.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA – DO LIBERALISMO CONTRATUAL AO INTERVENCIONALISMO REPRESENTADO PELO DIREITO DO CONSUMIDOR

Segundo José Fernando Simão na época da promulgação do Código Francês, no

século XVIII, significou uma verdadeira revolução, “pois sistematizou de maneira eficaz e

ampla toda a matéria civil, o que não ocorria desde a Codificação de Justiniano, no século VI,

em que pese à existência de várias compilações medievais entre as quais se destaca a Lex

Romana Visigotorum” 103.

Para Roberto Basilone Leite, naquela época, “as relações de consumo eram singelas e

modestas: o consumidor final, por via de regra, adquiria as mercadorias diretamente do

produtor”104 porquanto a margem de vícios e defeitos encontrados nos produtos eram

mínimas, pois os bens eram manufaturados de forma quase individualizada para cada

consumidor105.

No entanto, José Fernando Simão, discorre que: “o liberalismo tornou o contrato o

mais importante negócio jurídico, conferindo ao princípio do pacta sunt servanda importância

máxima, desconsiderando as diferenças sociais e econômicas dos contratantes”106.

Contudo, o autor supracitado ainda esclarece que, a respeito dos contratos

estabelecidos entre as partes, os contratantes estavam sempre em posição de igualdade, onde

se respeitava a vontade e à livre discussão de cláusulas do instrumento, pois a relação e os

contratos eram bem mais simples do que nos dias de hoje 107.

103 SIMÃO, José Fernando. Vícios do produto no novo código civil e no código de defesa do consumidor/ José Fernando Simão. – São Paulo: Atlas, 2003, p. 25. 104 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor. – São Paulo: LTr, 2002, p.25. 105 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 25. 106 SIMÃO, José Fernando. Vícios do produto no novo código civil e no código de defesa do consumidor, p. 25. 107 SIMÃO, José Fernando. Vícios do produto no novo código civil e no código de defesa do consumidor, p. 26.

36

Porém, em meados do século XIX, com o começo da Revolução Industrial, José

Fernando Simão, relata em seu contexto que a tão apreciada liberdade de contratar, não

passava de mera filosofia. Vejamos de que maneira entende o autor do relato acima

mencionado:

Na prática, a parte mais forte exercia sua vontade sobre a mais fraca, que era simplesmente obrigada a contratar sob pena de ficar sem o bem da vida almejado. A liberdade que funcionou satisfatoriamente entre os pares burgueses passou a significar forma de opressão quando a relação jurídica ocorria entre partes economicamente desiguais 108.

Sendo assim, o autor acima citado, entende que para disciplinar as relações jurídicas

“foi necessária a intervenção estatal no direito privado, criando-se, em certos aspectos,

verdadeiro dirigismo, o que afetou profundamente a noção privatista de contrato” 109.

José Fernando Simão, ainda discorre que, após um breve relato da evolução histórica

da relação entre as partes contratante, pode constatar-se que o contrato mudou, pois o mundo

também mudou, e com isso abandona definitivamente o conceito individual estabelecido no

século XIX passando a ser elementos nas regras de relações de maneira mais justa,

principalmente nas relações jurídicas onde existia hipossificiencia de uma das partes 110.

No entanto, o autor acima citado, conclui e põe fim ao estudo da evolução histórica

mencionando que nos dias de hoje “a rapidez dos negócios exigiu a transformação das

relações pessoais e jurídicas e, por isso, o contrato hoje mudou de estilo. Mudou para atender

às necessidades. É o direito que acompanha a realidade” 111. Assim o Estado Liberal

transformado em Estado Social passa a intervir nas relações jurídicas em flagrante

desequilíbrio, como no caso das Relações de Consumo.

Por fim, após o esclarecimento relatado de como se desdobrou a Relação de Consumo

entre as partes, passamos estudar o significado da mesma.

108 SIMÃO, José Fernando. Vícios do produto no novo código civil e no código de defesa do consumidor, p. 26. 109 SIMÃO, José Fernando. Vícios do produto no novo código civil e no código de defesa do consumidor, p. 26. 110 SIMÃO, José Fernando. Vícios do produto no novo código civil e no código de defesa do consumidor, p. 27. 111 SIMÃO, José Fernando. Vícios do produto no novo código civil e no código de defesa do consumidor, p. 27.

37

3.1.1 Consumo

Francisco Fernandes discorre no Dicionário brasileiro que ‘consumo’ é o “ato de

consumir; gasto; venda; extração; procura” 112, para complementar esse conceito não se poder

deixar de mencionar o significado de consumir que o autor também traz como sendo “gastar;

destruir; corroer; apagar; obliterar; comer; beber [...]” 113.

Ainda conceituando a palavra consumo, Roberto Basilone Leite relata que essa palavra

provém do verbo latino consumere, ‘comer, consumir, gastar’, o qual, por sua vez, deriva do

latim sumere, ‘tomar’, documentada no início do século XVI, de onde resultou o verbo

português ‘sumir’ 114. No entanto utiliza-se esse modelo para a adaptação para o verbo

consumir.

Já, no seu sentido genérico, o autor acima citado, ainda conceitua consumo como

sendo “todo ato ou processo humano de utilização de bens e serviços econômicos destinados à

satisfação direta de necessidade ou desejo” 115.

Após a conceituação de consumo, é de suma importância conceituar mercado, pois é

através dele que se tem uma Relação de Consumo entre o Fornecedor e o Consumidor e é por

isso que Roberto Basilone Leite nas palavras de Alvin Toffler define mercado da seguinte

forma: “mercado é o espaço estratégico que “se situa precisamente na fenda entre o produtor e

o consumidor”” 116.

Contudo, ainda, Roberto Basilone Leite segue com seu entendimento lembrando que

“quando as pessoas consumiam o que produziam, o consumidor confundia-se com o produtor

e, por isso, não havia mercado. O mercado surge quando a tarefa do consumo se separa da

produção” 117.

Por fim, após esclarecer a relação existente entre consumo e mercado passa-se a

conceituação de relação pra poder entender o significado da expressão Relação de Consumo. 112 FERNANDES, Francisco. LUFT, Celso Pedro; GUIMARÃES, F. Marques. Dicionário brasileiro Globo. 113 FERNANDES, Francisco. LUFT, Celso Pedro; GUIMARÃES, F. Marques. Dicionário brasileiro Globo. 114 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 53. 115 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 53. 116 1997 apud LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 53. 117 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 53.

38

3.1.2 Relação

O conceito de relação pra Roberto Basilone Leite também vem “do século XVI,

provém do latim relation, onis, ‘ação de dar em retorno, ato de pagar um favor com outro

favor’, o qual deriva do verbo latino referre, ‘restituir, repor, trazer de novo, reproduzir,

repetir’” 118.

Ainda, sobre relação, o autor acima citado, entende que ela pode ser entre os homens,

através de sua convivência social, podendo ser chamada de relações sociais. Contudo

menciona o entendimento do jurista San Tiago Dantas, que explica que as relações podem ser

classificadas em relação de cooperação ou relação de concorrência: sendo que a primeira, dois

indivíduos combinam seus esforços para a obtenção de um resultado comum, e a segunda é

verificada quando um indivíduo persegue o objetivo do outro 119.

Passa-se agora ao significado de Relação de Consumo.

3.1.3 Relação de Consumo

Roberto Basilone Leite entende por Relação de Consumo, como sendo:

[...] uma relação de cooperação, pois um cidadão entra com o bem ou serviço e o outro oferece em troca o pagamento do preço; ambos colaboram assim para o sucesso do objetivo comum, que é a transferência do domínio do bem ou a execução dos serviços 120.

Segundo Luiz Antônio Rizzatto Nunes, “haverá relação jurídica de consumo sempre

que se puder identificar num dos pólos da relação o consumidor, no outro, o fornecedor,

ambos transacionando produtos e serviços” 121.

Porém, Roberto Basilone Leite ressalta que pode essa relação de consumo se

transformar em relação de concorrência da seguinte forma:

118 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 54. 119 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 54. 120 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 54. 121 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto. Curso de direito do consumidor: com exercícios. – 2. ed. rev., modif. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2005, p. 71.

39

Pode, no entanto, a relação de consumo transforma-se numa relação de concorrência se o consumidor constatar, por exemplo, que o bem recebido está em desacordo com as expectativas do negócio realizado entre as partes e o fornecedor se recuse a reparar o problema. Eles passam assim a buscar objetivos distintos: um quer desfazer o negócio, o outro quer mantê-lo 122.

Sendo assim, o autor acima citado ainda entende que a Relação de Consumo de certa

forma é uma relação jurídica podendo ser regulamentada pelo direito onde é o objeto principal

ocupando o Código de Defesa do Consumidor 123.

Passa-se agora, ao estudo dos elementos essenciais da Relação de Consumo, tendo

como sujeitos o Fornecedor e o Consumidor e seus objetos o Produto e o Serviço.

3.2 ELEMENTOS DA RELAÇÃO DE CONSUMO

Para entendermos melhor o tema abordado é preciso estabelecer as diferenças entre

Fornecedor e Consumidor que são os dois sujeitos envolvidos em uma Relação de Consumo e

ainda conceituar Produto e Serviço para poder esclarecer o problema apresentado e suas

hipóteses.

3.2.1 Definição de Consumidor

O art. 2º do Código de Defesa do Consumidor traz em seu contexto uma definição

clara para Consumidor: “consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza

produto ou serviço como destinatário final” 124.

No parágrafo único do artigo supracitado “equipara-se a consumidor a coletividade de

pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo” 125.

Já no art. 17 do CDC “[...] equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do

evento”126 que provocou ato ilícito.

122 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 55. 123 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 55. 124 BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990: Código de defesa do consumidor. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm>. Acesso em: 25 de maio de 2009. 125 BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990: Código de defesa do consumidor. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm>. Acesso em: 25 de maio de 2009. 126 BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990: Código de defesa do consumidor. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm>. Acesso em: 25 de maio de 2009.

40

Seguindo no mesmo sentido, o art. 29 do Código em estudo diz que “[...] equiparam-se

aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele

previstas”127.

Sendo assim, para Roberto Basilone Leite o artigo 29 “desdobra o conceito de

consumidor para alcançar todas as pessoas, determináveis ou não, expostas às práticas

comerciais ou contratuais abusivas” 128.

Nas palavras de José Geraldo de Brito Filomeno citado por José Fernando Simão em

seu livro, através do conceito concedido pelo Código de Defesa do Consumidor, começa a

delimitar o significado de Consumidor para o direito pátrio:

O conceito de consumidor adotado pelo Código foi exclusivamente de caráter econômico, ou seja, levando-se em consideração tão-somente o personagem que no mercado de consumo adquire bens ou então contrata a prestação de serviços, como destinatário final, pressupondo-se que assim age com vista ao atendimento de uma necessidade própria e não para o desenvolvimento de uma atividade negocial 129.

No mesmo sentido, com suas palavras José Fernando Simão estabelece que “a opção

do legislador brasileiro ao definir consumidor é bastante objetiva, contrapondo-se às

definições subjetivas as quais consumidor é aquele “não-profissional que contrata ou se

relaciona com um profissional, comerciante, industrial ou profissional liberal”” 130.

Por fim, passa-se ao estudo desmembrado dos artigos acima mencionados para poder

obter um conceito definitivo a palavra ‘Consumidor’.

127 BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990: Código de defesa do consumidor. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm>. Acesso em: 25 de maio de 2009. 128 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 50. 129 1998 apud SIMÃO, José Fernando. Vícios do produto no novo código civil e no código de defesa do consumidor, p. 28. 130 SIMÃO, José Fernando. Vícios do produto no novo código civil e no código de defesa do consumidor, p. 28.

41

3.2.1.1 Consumidor Pessoa Jurídica

Pessoas jurídicas, nas palavras de Washington de Barros Monteiro são as “associações

ou instituições formadas para a realização de um fim e reconhecidas pela ordem jurídica como

sujeitos de direitos” 131.

No entanto, Roberto Basilone Leite recorda em seu texto que “são consumidores, por

força do Código, não apenas as pessoas jurídicas de direito privado, mas igualmente as de

direito público interno ou externo” 132. Contudo, o autor acima citado relata que o Fornecedor

também “responde pelos produtos e serviços alienados à União, Estados-membros,

Municípios, Distrito Federal, autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de

economia mista” 133.

Luiz Antônio Rizzatto Nunes, sobre o Consumidor pessoa jurídica, levanta a seguinte

indagação:

Ora, afinal o que é que uma pessoa jurídica pode consumir? e logo a seguir no mesmo contexto relata que “para ser consumidora, ela somente poderia consumir produtos e serviços que fossem tecnicamente possíveis e lhe servissem como bens de produção e que fossem, simultaneamente, bens de consumo 134.

Sendo assim, a pessoa jurídica para ser tratada como Consumidora, terá que adquirir

produtos ou serviços possíveis para lhe servir como bem de produção sendo ao mesmo tempo

bens de consumo.

3.2.1.2 Pessoa que Ganha o Produto ou Serviço

Roberto Basilone Leite, analisando o artigo 2° do Código de Defesa do Consumidor,

entende que:

Além da pessoa que efetua diretamente a aquisição do produto ou serviço, também é consumidor aquele que recebe o produto ou serviço como

131 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil, v. 1: parte geral. – 41. ed. rev. e atual. por Ana Cristina de Barros Monteiro França Pinto. – São Paulo: \Saraiva, 2007, p. 127. 132 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 50. 133 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 50. 134 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, 1956- Comentários ao Código de Defesa do Consumidor/ Luiz Antônio Rizzato Nunes. – 3. ed. rev. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2007, p. 103.

42

presente. Dessa forma, alguém que receba uma geladeira de presente de casamento pode, ele mesmo, exigir do fabricante ou importador – e, se for o caso, do comerciante – que responda por vícios ou defeitos do produto 135.

No entanto, toda pessoa que ganha um produto ou serviço como presente, poderá

exigir do fabricante ou importador, ou até mesmo se for o caso do comerciante o

ressarcimento pelo defeito ou pelo vício do produto ou serviço.

3.2.1.3 Consumidor – Coletividade

No parágrafo único do artigo 2° do CDC, Roberto Basilone Leite entende que

“equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja

intervindo nas relações de consumo” 136. Sendo assim ainda ressalta que:

As coletividades de pessoas indetermináveis, também protegidas pela lei, são aqueles grupos em relação aos quais não é possível identificar e particularizar os riscos ou prejuízos a que cada um ficou exposto em razão da imperfeição de produtos ou serviços. Por exemplo, não se pode individualizar as pessoas que ficaram expostas aos riscos gerados por um medicamento defeituoso colocado no mercado nacional 137.

Por fim, todos os que se encontram em um grupo indeterminado de pessoas, expostas

aos riscos que um produto pode oferecer, são considerados consumidores.

3.2.1.4 Direitos do Consumidor

O artigo 6º do CDC traz os direitos básicos do Consumidor, e para Roberto Basilone

Leite esses direito fundamentais podem ser classificados em cinco categorias: “a) direito à

saúde e a segurança; b) direito à proteção econômica; c) direito a informação e a educação; d)

direito à representação; e) direito à reparação de danos” 138.

Quanto a essas cinco categorias de direito fundamental do Consumidor o autor

supracitado estabelece que, no que diz respeito à saúde e a segurança, não se pode colocar no

mercado de consumo, “produtos e serviços perigosos, exceto aqueles naturalmente perigosos,

135 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 50. 136 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 51. 137 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 51. 138 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 112.

43

como agrotóxicos, fogos de artifícios, serviços de vigilância e segurança, demolição de

edifícios” 139.

Aos de direito a proteção econômica, segundo Basilone Leite, “cuidam principalmente

do acesso ao consumo, da liberdade de escolha e da validade das cláusulas do contrato” 140

sendo que, de acordo com o artigo 51 do CDC, são nulas todas as cláusulas contratuais

consideradas abusivas, mesmo que o consumidor tenha aceitado.

Dando continuidade aos direitos do consumidor, sobre o direito à informação e à

educação o artigo 6º, inciso III e IV do CDC estabelece que o consumidor tenha direito:

III - à informação adequada e clara sobre os produtos e serviços, com a especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; IV – a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra a prática e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços141.

No que tange ao direito à representação, Roberto Basilone Leite, relata que esse direito

“decorre do principio democrático e consiste no direito de ser ouvido e de participar das

decisões relativas aos seus interesses” 142.

Por fim, quando se fala em direito à reparação do dano, o autor acima citado conclui

que esse direito também está assegurado pelo art. 6º do CDC, inciso VI, onde ele é

disciplinado por duas seções, os meios de reparação e a questão da responsabilidade143 que é

matéria específica do presente trabalho.

Após estabelecer o conceito de Consumidor, como sendo toda e qualquer pessoa que

adquire um produto como destinatário final, e seus respectivos direitos, passa-se a gora a

definição de Fornecedor.

139 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 113. 140 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 115. 141 BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990: Código de defesa do consumidor. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm>. Acesso em: 25 de maio de 2009. 142 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 120. 143 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 121.

44

3.2.2 Definição de Fornecedor

Segundo o caput do artigo 3º do Código de Defesa do Consumidor, Fornecedor é:

Art. 3º Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados , que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços 144.

Para Luiz Antônio Rizzatto Nunes, uma pura e simples leitura do artigo acima

mencionado “é capaz de nos dar um panorama da extensão das pessoas enumeradas como

fornecedoras. Na realidade são todas pessoas capazes, físicas ou jurídicas, além dos entes

desprovidos de personalidade” 145.

Roberto Basilone Leite observa na definição de Fornecedor do Código de Defesa do

Consumidor, com intuito de fixar a responsabilidade solidária, nas relações de consumo que o

legislador procura atribuir a esse conceito a maior amplitude possível de todos os co-

responsáveis por eventuais vícios ou defeitos dos produtos e serviços 146.

Contudo, Rizzatto Nunes ainda relata em sua obra que são Fornecedores todas as

pessoas:

São fornecedores as pessoas jurídicas públicas ou privadas, nacionais ou estrangeiras, com sede ou não no País, as sociedades anônimas, as por quotas de responsabilidade limitada, as sociedades civis, com ou sem fins lucrativos, as fundações, as sociedades de economia mista, as empresas públicas, as autarquias, os órgãos da Administração direta etc.147.

Por tanto, são Fornecedores todas as pessoas que estão ligadas, de algum modo à

atribuição de serviços ou a venda de algum produto a outrem.

Sendo assim, José Fernando Simão completa, para todos os efeitos, que:

Assim, independentemente da qualidade do que presta o serviço – profissional ou não –, havendo remuneração e habitualidade, o Código de

144 BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990: Código de defesa do consumidor. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm>. Acesso em: 25 de maio de 2009. 145 NUNES, Luiz Antonio Rizzato. Curso de direito do consumidor: com exercícios, p. 86. 146 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 43. 147 NUNES, Luiz Antonio Rizzato. Curso de direito do consumidor: com exercícios, p. 86.

45

Defesa do Consumidor considera-o fornecedor e a relação, de consumo. A intenção do legislador foi, certamente, possibilitar a inclusão do maior número possível de prestadores de serviços no conceito de fornecedores, os quais, portanto, terão suas relações reguladas pelo Código de Defesa do Consumidor 148.

Eduardo Gabriel Saad, José Eduardo Duarte Saad e Ana Maria Saad C. Branco, ao

comentarem o Código de Defesa do Consumidor, observam como Fornecedor “o exercente

das atividades econômicas que discrimina, está a dizer que se trata de pessoa física ou jurídica

que exerce profissionalmente, isto é, com continuidade, essa atividade” 149.

Contudo, a Relação de Consumo é caracterizada pelo profissionalismo do ato de venda

do produto ou prestação de serviço, Roberto Basilone Leite entende que “só se considera

relação de consumo aquela que implique o fornecimento de produto ou serviço com caráter

profissional, ou seja, com intuito comercial” 150.

No mesmo sentido José Fernando Simão, completa que “o prestador de serviços

deverá exercer sua atividade remunerada habitualmente e, se assim não for, estaremos diante

de uma relação de direito comum” 151.

No entanto, Roberto Basilone Leite explica que “não se considera fornecedor o não-

profissional que pratica ato de venda ocasional de objeto de sua propriedade, como, por

exemplo, um veículo usado” 152.

Já, Luiz Antônio Rizzatto Nunes, sobre o caso acima citado, completa com seu

entendimento que não importa quem seja o Consumidor, não podendo falar em Relação de

Consumo quando falta a figura do Fornecedor. Com a falta dos sujeitos da Relação de

Consumo, a situação é regulada pelo direito comum civil, inclusive as garantias, vícios etc.153.

148 SIMÃO, José Fernando. Vícios do produto no novo código civil e no código de defesa do consumidor, p. 38. 149 SAAD, Eduardo Gabriel; SAAD, José Eduardo Duarte; BRANCO, Ana Maria Saad C.. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor e sua jurisprudência anotada: Lei n. 8.078, de 1990. – 6. ed. rev. e ampl. – São Paulo: LTr, 2006, p. 73. 150 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 43. 151 SIMÃO, José Fernando. Vícios do produto no novo código civil e no código de defesa do consumidor, p. 39. 152 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 44. 153 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto. Curso de direito do consumidor: com exercícios, p. 87.

46

3.2.2.1Pessoa Física ou Jurídica

Ao examinar o caput do artigo 2° do Código de Defesa do Consumidor, onde

conceitua o sujeito ‘Consumidor’, Rizzatto Nunes estabelece que nesse artigo a norma apenas

faz referência à pessoa jurídica sem qualquer qualificação. No entanto, aqui no artigo 3°,

caput, da mesma Lei, a pessoa jurídica já vem qualificada como sendo pública ou privada,

nacional ou estrangeira 154.

Contudo, continuando o entendimento acima mencionado, tanto no conceito de

Consumidor quanto no de Fornecedor oferecido pelo CDC, à referência é de toda pessoa

jurídica, independente de sua condição ou personalidade jurídica.

Sendo assim, Roberto Basilone Leite, sobre essas pessoas jurídicas de direito privado e

público, entende que elas são compostas pelas seguintes entidades:

Entre as pessoas jurídicas incluem-se as de direito privado – inclusive as religiosas, científicas e de utilidade pública – e as de direito público interno da administração direta (União, Estados, Municípios e Distrito Federal) e indireta (Autarquias e fundações públicas) 155.

Entende ainda o autor supracitado que “o art. 3º do Código deixa claro que, desde que

a relação tenha conotação mercantil, será tida como relação de consumo, seja o fornecedor

pessoa física ou jurídica” 156.

No entanto, Luiz Antônio Rizzatto Nunes ao comentar o Código de Defesa do

Consumidor, sobre as pessoas jurídicas estrangeiras, relata que:

A referência à pessoa jurídica estrangeira tem relevo na hipótese da pessoa jurídica admitida como estrangeira em território nacional e que, nessa qualidade, presta serviços ou vende produtos. Por exemplo, a companhia aérea que aqui faz escala ou a companhia teatral estrangeira que vem ao País para apresentações. Haverá em ambos os exemplos prestação de serviços, e pode haver venda de produtos: a empresa aérea que vende presentes a bordo; a companhia teatral que vende pequenos objetos: camisetas, bichos de pelúcia etc. 157.

154 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto. Curso de direito do consumidor: com exercícios, p. 88. 155 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 44. 156 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 44. 157 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, 1956- Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 111.

47

Portanto, desde que haja uma relação de consumo, o Fornecedor poderá ser uma

pessoa jurídica ou física.

No que diz respeito a pessoas física, Luiz Antônio Rizzatto Nunes entende que “tem-

se, em primeiro lugar, a figura do profissional liberal como prestador de serviço e que não

escapou da égide da Lei n. 8.078” 158.

No mesmo sentido José Fernando Simão, diante da decisão proferida pelo Primeiro

Tribunal de Alçada de São Paulo, onde discute relação de compra e vende de veículo entre

particulares, afirma que “será fornecedor a pessoa física que, a título singular, mediante a

realização de uma atividade civil ou mercantil, oferece produtos ou serviços para a

comunidade” 159, no entanto deverá ser tal oferta de forma “habitual, pois, em não sendo,

estaremos diante de uma relação civil ou comercial” 160.

Já, Luiz Antônio Rizzatto Nunes, menciona que existe outra situação que pode

identificar o Fornecedor como pessoa física:

É aquela em que desenvolva atividade eventual ou rotineira de venda de produtos, sem ter-se estabelecido como pessoa jurídica. Por exemplo, o estudante que, para pagar a mensalidade da escola, compra jóias para revender entre os colegas ou o cidadão que compra e vende automóveis – um na seqüência do outro – para aferir lucro 161.

No mesmo sentido, o autor acima citado, ainda afirma que as pessoas físicas sem ser

caracterizada profissional liberal, como o eletricista, o encanador, também é Fornecedor de

serviços 162.

3.2.2.2 Entidades Sem Personalidade Jurídica

Para Roberto Basilone Leite “o art. 3º do Código classifica ainda como fornecedor o

ente despersonalizado, tal como a massa falida, o espólio, o condomínio e a família” 163.

158 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, 1956- Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 112. 159 SIMÃO, José Fernando. Vícios do produto no novo código civil e no código de defesa do consumidor, p. 38. 160 SIMÃO, José Fernando. Vícios do produto no novo código civil e no código de defesa do consumidor, p. 38. 161 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, 1956- Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 112. 162 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, 1956- Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 112. 163 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 44.

48

No entanto, Luiz Antônio Rizzatto Nunes, sobre a massa falida, indica que “apesar de

uma pessoa jurídica falir, existirão no mercado produtos e, eventualmente, resultados dos

serviços que ela ofereceu e efetivou, e que continuarão sob a proteção da lei consumerista” 164.

Sendo assim, os entes despersonalizados respondem pelos seus produtos ou serviços

fornecidos, mesmo se forem considerados falidos.

3.2.2.3 Fornecedor Profissional Autônomo

Para Roberto Basilone Leite “os profissionais liberais, tais como o médico, advogado,

engenheiro, contador e outros, também respondem como fornecedores pelos serviços

prestados” 165.

No entanto, Rizzatto Nunes, no que diz respeito aos profissionais liberais, enriquece o

presente trabalho trazendo as características dos mesmos:

[...] autonomia profissional, com decisões tomadas por conta própria, sem subordinação; prestação do serviço feita pessoalmente, pelo menos nos seus aspectos mais relevantes; feitura de suas próprias regras de atendimento profissional, o que ele repassa ao cliente, tudo dentro do permitido pelas leis e em especial da legislação de sua categoria profissional 166.

Sendo assim, Roberto Basilone Leite ainda relata que abre uma exceção “à regra geral

da responsabilidade por culpa presumida do fornecedor, o Código estabelece que a sua

responsabilidade pessoal seja apurada mediante a verificação da culpa (art. 14, § 4º)” 167.

Contudo, Luiz Antônio Rizzatto Nunes, ainda completa que “essa é a única exceção ao

sistema da responsabilidade civil objetiva instituída pelo CDC” 168, sendo que a finalidade da

norma é submeter esse tal profissional “à obrigação de indenizar com base na

responsabilidade subjetiva, isto é, por apuração de culpa ou dolo” 169.

164 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, 1956- Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 111. 165 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 46. 166 NUNES, Luiz Antonio Rizzato. Curso de direito do consumidor: com exercícios, p. 337. 167 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 46. 168 NUNES, Luiz Antonio Rizzatto. Curso de direito do consumidor: com exercícios, p. 328. 169 NUNES, Luiz Antonio Rizzatto. Curso de direito do consumidor: com exercícios, p. 328.

49

Por fim, o profissional liberal também responde pelos seus atos, mas perante a

verificação da culpa, abrindo uma exceção à Responsabilidade Civil Objetiva estabelecida

pelo CDC.

3.2.3 Definição de Produto e Serviço

O artigo 3°, § 1° do Código de Defesa do Consumidor traz o conceito de produto

como sendo “qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial” 170.

Sendo assim, Roberto Basilone Leite entende que esse conceito de produto relatado

pelo Código “engloba praticamente todos os bens comercializáveis, tanto móveis quanto

imóveis” 171, sendo que “os bens imateriais consistem nos direitos autorais sobre obras

intelectuais, direitos hereditários, usufruto e outros bens incorpóreos” 172.

No entanto, José Fernando Simão, completa com seu entendimento que:

Se o próprio Código de Defesa do Consumidor opta por definir produto como qualquer bem, podemos considerar que, para as relações jurídicas de consumo, bem e produto têm idêntico significado. Ainda que procedentes as críticas sobre a utilização do termo bens no lugar de produtos, sendo mais adequada porque mais abrangente, parece-nos clara a intenção do legislador de utilizar as expressões como sinônimas173.

Contudo, Washington de Barros Monteiro na sua definição a palavra ‘bem’, traz a

diferença existente entre o conceito filosófico do significado jurídico da seguinte forma:

Filosoficamente, bem é tudo quanto pode proporcionar ao homem qualquer satisfação. Nesse sentindo se diz que a saúde é um bem, que a amizade é um bem, que Deus é sumo bem. Mas, se filosoficamente saúde, amizade e Deus são bens, na linguagem jurídica não podem receber tal qualificação. Juridicamente falando, bens são valores materiais ou imateriais que podem ser objeto de uma relação de direito. O vocábulo, que é amplo no seu significado, abrange coisas corpóreas e incorpóreas, coisas materiais ou imponderáveis, fatos e abstenções humanas 174.

170 BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990: Código de defesa do consumidor. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm>. Acesso em: 25 de maio de 2009. 171 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 52. 172 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 52. 173 SIMÃO, José Fernando. Vícios do produto no novo código civil e no código de defesa do consumidor, p. 39. 174 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil, v. 1: parte geral, p. 174.

50

Portanto, José Fernando Simão, após um breve estudo do § 1º do artigo 3º do CDC,

finalmente entende mais uma vez, o que o legislador pretendeu, quando atribuiu, ao definir

produto, a mobilidade e a materialidade como sendo as duas características alargando o

campo de incidência da Lei 8.078/90 175.

Já, o conceito de serviços, está estabelecido pelo Código no § 2° do artigo 3° sendo

“qualquer atividade fornecida no mercado de consumo mediante remuneração, inclusive as de

natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de

caráter trabalhista” 176.

Sendo assim, no mesmo sentido, José Fernando Simão conceitua serviço como sendo

“a atividade que decorre de uma ação humana e as ações humanas esgotam-se após serem

praticadas” 177.

Entende Roberto Basilone Leite que a essa regra existe apenas duas exceções:

“Serviços não remunerados estão fora do campo do Código” 178 e o “serviço prestado no

âmbito do contrato de trabalho igualmente não é objeto da relação de consumo” 179.

Para Eduardo Gabriel Saad, José Eduardo Duarte Saad e Ana Maria Saad C. Branco,

“quem, com habitualidade, tanto na esfera pública como na privada, presta um determinado

serviço em troca de remuneração, é um fornecedor de serviços” 180.

No entanto, se de certa forma ocorre à terceirização estabelecida em um contrato de

prestação de serviço, os autores acima mencionados estabelecem que “o primeiro fornecedor

permanece responsável, perante o consumidor, pela perfeita execução do serviço contratado” 181.

175 SIMÃO, José Fernando. Vícios do produto no novo código civil e no código de defesa do consumidor, p. 40. 176 BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990: Código de defesa do consumidor. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm>. Acesso em: 25 de maio de 2009. 177 SIMÃO, José Fernando. Vícios do produto no novo código civil e no código de defesa do consumidor, p. 40. 178 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 52. 179 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 52. 180 SAAD, Eduardo Gabriel; SAAD, José Eduardo Duarte; BRANCO, Ana Maria Saad C.. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor e sua jurisprudência anotada: Lei 8.078, de 1990, p. 90. 181 SAAD, Eduardo Gabriel; SAAD, José Eduardo Duarte; BRANCO, Ana Maria Saad C.. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor e sua jurisprudência anotada: Lei 8.078, de 1990, p. 90.

51

Após conceituar produto e serviço de uma forma bem abrangente, passasse a um breve

relato sobre os produtos comprados no exterior.

3.2.3.1 Produtos Comprados no Exterior

Roberto Basilone Leite entende que:

Em decisão prolatada a 11 de abril de 2000, cujo redator foi o Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, o Superior Tribunal de Justiça, por sua 4ª Turma, decidiu que a empresa multinacional estabelecida no Brasil deve responder também por produtos de sua marca comprados no exterior 182.

Sendo assim, de acordo com a decisão supracitada, as empresas estrangeiras

estabelecidas no Brasil, também respondem pelos produtos e serviços fornecidos ao

Consumidor.

3.2.3.2 Produtos e Serviços Destinados ao Insumo

No entendimento de Roberto Basilone Leite “não se considera relação de consumo

aquela travada entre empresários, em que o produto ou serviço adquirido destina-se não ao

consumo final, mas a integrar o processo de produção ou de comercialização” 183.

Contudo o autor acima citado completa seu ensinamento quando menciona em seu

livro que:

A comunidade Européia, na Resolução n. 543, de 17 de maio de 1973, que aprovou a Carta de Proteção do Consumidor, assim define consumidor: “pessoa física ou coletiva a quem são fornecidos bens e prestados serviços para uso privado”. Exclui, portanto, do conceito – seguindo a mesma diretriz da lei brasileira – o empresário que adquire bens para serem incorporados aos produtos por ele fabricados ou comercializados, ou seja, utilizados como meios para o implemento de sua própria atividade produtiva ou mercantil 184.

Sendo assim, o empresário que adquire um produto utilizado por ele somente para a

incorporação aos produtos por ele fabricados e depois comercializados se excluem do

conceito de Consumidor.

182 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 44. 183 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p.50. 184 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p.51.

52

3.3 DIREFENÇA ENTRE VÍCIO E DEFEITO

3.3.1 Vício do Produto e do Serviço

Para Roberto Basilone Leite, o conceito de vício nada mais é que “as imperfeições que

tornam o produto (art.18) ou serviços (art.20) impróprios ou inadequados ao consumo a que

se destinam [...]” 185.

No entanto, Luiz Antônio Rizzatto Nunes comenta que “são consideradas vícios as

características de qualidade ou quantidade que tornem os produtos ou serviços impróprios ou

inadequados ao consumo a que se destinam e também que lhes diminuam o valor” 186.

Domingos Afonso Kriger Filho entende que os produtos impróprios são “uma mera

conseqüência da conformidade material ou formal (informativa), quer seja ela localizada na

segurança, quer na adequação ou quantidade do produto ou serviço colocados no mercado”187.

Contudo, o autor acima citado continua seu entendimento mencionando que a

impropriedade dos produtos ou serviços, pode se estabelecer nos seguintes casos:

a) produtos com prazo de validade vencido, caso em que a impropriedade é formal, alheia ao seu conteúdo; b) produtos deteriorados, que têm sua qualidade ou condição primitiva modificada por causas naturais, somente indiretamente ligadas ao comportamento humano (má-conservação); c) produtos alterados, que têm a sua condição e qualidade primitivas alteradas por intervenção humana direta, intervenção esta não comunicada ao consumidor; d) produtos corrompidos ou adulterados, que são produtos modificados para pior em sua essência, por ação humana direta; e) produtos falsificados, que são produtos modificados com aparência genuína; f) produtos avariados, que não se prestam a cumprir, por completo, sua destinação mercadológica, seja por apresentarem alguma falha interna, seja por estarem em mau estado; g) produtos portadores de vícios de qualidade por segurança, nocivos a saúde e vida humana; h) produtos em desacordo com as normas regulamentares 188.

185 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 139. 186 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, 1956- Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 182. 187 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. A responsabilidade civil e penal no código de proteção e defesa do consumidor/ Domingos Afonso Kriger Filho. – 2. ed. – Porto Alegre: Síntese, 2000, p.79. 188 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. A responsabilidade civil e penal no código de proteção e defesa do consumidor, p. 79.

53

Já no que diz respeito a inadequação do produto ou serviço, Domingos Afonso Kriger

Filho, ainda relata que “a mesma tem a ver com o fim a que se destinam os produtos, cabendo

avaliar qual é o critério de avaliação desta inadequação” 189.

Os vícios também podem ser aparentes ou ocultos, Rizzatto Nunes traz essa distinção

ao comentar o CDC:

Os aparentes ou de fácil constatação, como o próprio nome diz, são aqueles que aparecem no singelo uso e consumo do produto (ou serviço). Ocultos são aqueles que só aparecem algum ou muito tempo após o uso e/ou que, por estarem inacessíveis ao consumidor, não podem ser detectados na utilização ordinária 190.

Por fim, Roberto Basilone Leite relata que “no caso de vício do serviço, os efeitos são

a sua reexecução sem custo adicional, a restituição da quantia paga ou abatimento do

preço”191.

Após um breve relato sobre vícios do produto ou serviços, passasse agora a uma

pequena explicação do que é defeito do produto e serviço.

3.3.2 Defeito do Produto e do Serviço

Luiz Antônio Rizzatto Nunes entende que o defeito pressupõe o vício. No entanto “há

vício sem defeito, mas não há defeito sem vício” 192 sendo que “o vício é uma característica

inerente, intrínseca do produto ou serviço em si” 193.

Na conceituação de defeito, Roberto Basilone Leite, por sua vez, entende como sendo

“imperfeições de natureza grave, capazes de causar dano à saúde ou à segurança do

consumidor”194.

Logo, Luiz Antônio Rizzatto Nunes, conclui que:

189 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. A responsabilidade civil e penal no código de proteção e defesa do consumidor, p. 80. 190 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, 1956- Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 183. 191 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 139. 192 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, 1956- Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 183. 193 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, 1956- Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 183. 194 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 139.

54

O defeito é o vício acrescido de um problema extra, alguma coisa extrínseca ao produto ou serviço, que causa um dano maior que simplesmente o mau funcionamento, não-funcionamento, a quantidade errada, a perda do valor pago – já que o produto ou serviço não cumpriram o fim ao qual se destinavam. O defeito causa, além desse dano do vício, outro ou outros danos ao patrimônio jurídico material e/ou moral do consumidor 195.

No § 1º, artigo 12 do Código de Defesa do Consumidor, traz o conceito de defeito e as

circunstâncias relevantes da seguinte forma:

§ 1º O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I – sua apresentação; II – o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III – a época em que foi colocado em circulação 196.

Contudo, Rizzatto Nunes completa que o consumidor é mais atingido nas hipóteses de

defeito do produto e do serviço, constituindo assim, o acidente de consumo 197.

Nesse mesmo sentido, Domingos Afonso Kriger Filho entende o defeito como

causador do acidente de consumo, sendo ele o elemento principal da Responsabilidade Civil

Objetiva. No entanto todo produto e serviço apresentam uma margem de insegurança,

cabendo ao juiz determinar o grau dessa insegurança, analisando dentre outros fatores, sua

apresentação, o uso e o risco que razoavelmente dele se espera 198.

Roberto Basilone Leite, no que tange a Responsabilidade Civil adquirida pela

insegurança que o produto traz, relata que “os defeitos classificam-se em defeitos

juridicamente irrelevantes e defeitos juridicamente relevantes” 199, sendo que os defeitos

juridicamente irrelevantes não acarretam para o fornecedor a obrigação de reparação perante o

consumidor.

Já os defeitos juridicamente relevantes, para o autor acima citado, causam o acidente

de consumo. Essa “repercussão externa ou a manifestação danosa do defeito juridicamente

195 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, 1956- Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 183. 196 BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990: Código de defesa do consumidor. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm>. Acesso em: 25 de maio de 2009. 197 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, 1956- Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 183. 198 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. A responsabilidade civil e penal no código de proteção e defesa do consumidor, p. 74. 199 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 139.

55

relevante é chamada de fato do produto ou fato do serviço” 200, acarretando, assim, a

Responsabilidade Civil do Fornecedor.

No caput dos artigos 12 e 14 do CDC, estão elencados os defeitos juridicamente

relevantes os dividindo em três categorias destacadas por Roberto Basilone Leite:

a) os defeitos de criação, relativos ao projeto e à fórmula; b) os defeitos de produção, relativos à fabricação, construção, montagem, manipulação e acondicionamento; c) os defeitos de informação, relativos à publicidade, apresentação e informação insuficiente ou inadequada 201.

Sendo assim, segue o caput dos artigos acima mencionados:

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informação insuficiente ou inadequadas sobre sua utilização e riscos 202. (grifou-se).

Art. 14. [...] defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos 203. (grifou-se)

Por fim, não se considera defeituoso o produto, “pelo fato de outro de melhor

qualidade ter sido colocado no mercado” 204, no que estabelece o §2°, do artigo 12 do Código

de Defesa do Consumidor.

Contudo, pode-se estabelecer a diferença entre vício e defeito, sendo que o primeiro

traz para o consumidor um prejuízo somente ao patrimônio, tornando o produto ou serviço

impróprio ou inadequados para o fim destinado ao seu uso. Já o defeito, traz, não só um

prejuízo econômico, mas também um prejuízo moral ao consumidor, pondo em risco sua

saúde e segurança.

200 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 140. 201 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 140. 202 BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990: Código de defesa do consumidor. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm>. Acesso em: 25 de maio de 2009. 203 BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990: Código de defesa do consumidor. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm>. Acesso em: 25 de maio de 2009. 204 BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990: Código de defesa do consumidor. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm>. Acesso em: 25 de maio de 2009.

4 A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS FORNECEDORES EM FACE

DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

4.1 DA RESPONSABILIDADE CIVIL PELO FATO DO PRODUTO OU DO SERVIÇO

No que diz respeito a Responsabilidade Civil pelo fato do produto e do serviço, Luiz

Antônio Rizzatto Nunes relata que ela está expressa na Seção II do Capítulo IV, do CDC, e

que compreende os arts. 12, 13 e 14, onde trata dos defeitos e conseqüentemente da

Responsabilidade Civil pelos danos causados ao Consumidor205. Continua ainda seu

entendimento, relembrando que essa Responsabilidade “é objetiva, e os eventos relativos aos

danos são os chamados acidentes de consumo” 206.

Portanto, antes de adentrarmos ao estudo da Responsabilidade Civil Objetiva pelo fato

do produto ou serviço na Relação de Consumo, é de suma importância fazer um breve

comentário sobre a teoria de risco que é a base de tal Responsabilidade.

Domingos Afonso Kriger Filho, sobre a teoria de risco, entende que a palavra

“segurança, quando se fala em mercado de consumo, deve ser associada à idéia de risco

(probabilidade de um produto ou serviço vir a causar dano à saúde humana), sendo da maior

ou menor incidência deste que decorre aquele” 207.

Contudo, Rizzatto Nunes menciona que o risco é uma estratégia fundamental para o

investimento do empresário, sendo assim relata que:

Dentro dessa estratégia geral dos negócios, como fruto da teoria do risco, um item especifico é o que está intimamente ligado à sistemática normativa adotada pelo CDC. É aquele voltado à avaliação da qualidade do produto e do serviço, especialmente a adequação, finalidade, proteção à saúde, segurança e durabilidade. Tudo referendado e complementado pela informação208.

205 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, 1956- Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 171. 206 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, 1956- Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 171. 207 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. A responsabilidade civil e penal no código de proteção e defesa do consumidor, p. 67. 208 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, 1956- Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 172.

57

Segundo Domingos Afonso Kriger Filho, a legislação protretiva ao Consumidor,

baseada na teoria de qualidade, busca “envidar todos os esforços no sentido de assegurar que

os riscos existentes se mantenham num limite razoável, que não ameacem a segurança

social”209. Essa, no entanto, é a função do direito, que não tendo força para eliminar tal risco,

procura, ao menos, minimizá-lo perante a sociedade.

Após a rápida abordagem da teoria de risco, principal motivo que leva à

Responsabilidade Civil Objetiva, passasse ao estudo dos artigos correspondentes a essa

Responsabilidade.

Domingos Afonso Kriger Filho citado anteriormente entende que houve a

“substituição do sistema tradicional da responsabilidade civil, baseada na culpa, pelo sistema

da responsabilidade objetiva” 210.

Segundo o artigo 12 do Código de Defesa do Consumidor, respondem solidariamente

o fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador pela reparação

dos danos causados aos consumidores por defeito do produto, independentemente da

existência de culpa:

Art.12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos 211. (grifou-se).

No entanto, Cláudio Bonatto e Paulo Valério Dal Pai Moraes mencionam em seu livro

que o artigo supracitado tem importância em destacar que “estão nele discriminados os

agentes econômicos que diretamente responderão pelos fatos ilícitos que vierem a ser

209 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. A responsabilidade civil e penal no código de proteção e defesa do consumidor, p. 67. 210 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. A responsabilidade civil e penal no código de proteção e defesa do consumidor, p. 69. 211 BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990: Código de defesa do consumidor. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm>. Acesso em: 25 de maio de 2009.

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causados em decorrência de determinado produto [...]” 212 respondendo independentemente da

existência de culpa.

Contudo, Rizzatto Nunes, em seus comentários a Lei 8.078/90, deixa claro que “do

ponto de vista do dever de indenizar, a Responsabilidade Civil do agente é objetiva, oriunda

do risco integral de sua atividade econômica” 213.

Para Cláudio Bonatto e Paulo Valério Dal Pai Moraes o estabelecimento da

Responsabilidade Civil Objetiva “cumpre outras funções de âmbito global, que efetivam uma

melhor distribuição dos prejuízos causados pela necessária atividade produtiva e de massa”214.

Já o §3°, incisos I, II e III, do artigo 12, trazem as excludentes de Responsabilidade do

fabricante, do construtor, do produtor ou do importador:

§3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar: I – que não colocou o produto no mercado; II – que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; III – a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro 215.

No que diz respeito à Responsabilidade do comerciante e do distribuidor, ambos

respondem subsidiariamente de acordo com as situações previstas no artigo 13 do Código em

questão que será analisada a seguir.

4.1.1 Da Responsabilidade Civil Objetiva subsidiária do Comerciante pelo defeito do produto na Relação de Consumo

Dando continuidade ao tema proposto, ao se fazer uma breve leitura do artigo 3º do

Código de defesa do consumidor, Roberto Basilone Leite entende que:

A leitura isolada do art. 3º do Código pode conduzir o intérprete à conclusão de que são co-responsáveis o produtor, o importador e o comerciante. Isso porque o referido dispositivo qualifica como fornecedor “toda pessoa (...) que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação” (o produto lato sensu), de “importação, exportação,

212 BONATTO, Cláudio; MORAES, Paulo Valério Dal Pai. Questões controvertidas no Código de Defesa do Consumidor: principiologia, conceitos, contratos/ Cláudio Bonatto, Paulo Valério Dal Pai Moraes. – 4ª ed. – Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003, p. 114. 213 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, 1956- Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 179. 214 BONATTO, Cláudio; MORAES, Paulo Valério Dal Pai. Questões controvertidas no Código de Defesa do Consumidor: principiologia, conceitos, contratos, p. 116. 215 BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990: Código de defesa do consumidor. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm>. Acesso em: 25 de maio de 2009.

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distribuição” (o importador) e de “comercialização de produtos” (o comerciante) 216.

No entanto o artigo 13 do CDC estabelece a Responsabilidade Civil ao comerciante

nos seguintes casos:

Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando: I - o fabricante, o construtor, o produtor ou importador não puderem ser identificados; II – o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador; III – não conservar adequadamente os produtos perecíveis 217.

Eduardo Gabriel Saad, José Eduardo Duarte Saad e Ana Maria Saad C. Branco, ao

comentarem o CDC, relatam que o artigo 13 “reduz grandemente o campo da

responsabilidade daquele que comercializa o produto” 218.

No entanto, no que diz respeito ao tipo de Responsabilidade Civil, o artigo 12 do

Código do Consumidor, diz que por danos causados aos consumidores resultantes de defeito

do produto, o fornecedor é responsável, independentemente da existência de culpa.

Contudo, os autores acima citados acreditam que o legislador “[...] pretendeu dizer que

o comerciante é responsável, também, independentemente da existência da culpa, se for

encontrado em uma das três situações elencadas nos incisos I, II e III do art. 13 sob

comentário” 219.

Sendo assim, Roberto Basilone Leite entende que “os responsáveis são, dessarte, por

via de regra, o produtor e o importador” 220.

Já, para Luiz Antônio Rizzatto Nunes, todos são solidários:

Nem poderia ser de outra forma, porquanto a responsabilidade do comerciante, pelo menos nas hipóteses dos incisos I e II, somente existe

216 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 46. 217 BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990: Código de defesa do consumidor. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm>. Acesso em: 25 de maio de 2009. 218 SAAD, Eduardo Gabriel; SAAD, José Eduardo Duarte; BRANCO, Ana Maria Saad C.. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor e sua jurisprudência anotada: Lei n. 8.078, de 1990, p. 313. 219 SAAD, Eduardo Gabriel; SAAD, José Eduardo Duarte; BRANCO, Ana Maria Saad C.. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor e sua jurisprudência anotada: Lei n. 8.078, de 1990, p. 315. 220 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 46.

60

porque o produto original não foi ou não está identificado. Bastava a identificação para excluir a responsabilidade do comerciante 221.

No parágrafo único do artigo 13 do Código de Defesa do Consumidor diz que “aquele

que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os

demais responsáveis, segundo sua participação na causação do evento danoso” 222.

No entanto Luiz Antônio Rizzatto Nunes entende que o uso do pronome “aquele”

mencionado no parágrafo único do artigo em questão “significa que qualquer dos

responsáveis pode ser acionado pelo consumidor, independentemente de ser ele ou não o

responsável pela deterioração do produto [...]” 223.

No mesmo sentido, o autor acima citado ainda completa que:

A norma em comento serve para toda ou qualquer hipótese de pagamento de verba indenizatória ao consumidor, feita por qualquer dos co-responsáveis solidários. Quer em função de defeito – quando propriamente se fala em indenização ao consumidor –, quer em função de vício – quando se troca o produto ou se devolve o dinheiro ou parte dele. Nesse caso de vício, o prejuízo pode ser apenas do comerciante, que pode acionar o co-responsável224.

Para comprovar a existência da Responsabilidade Civil subsidiária do comerciante, de

acordo com o artigo 13 do CDC, menciona-se a ementa da Apelação Cível de nº

2004.020988-6 do dia 06 de fevereiro de 2007 entendendo que:

INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS - ACIDENTE DE CONSUMO - RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO - DEMANDA PROPOSTA EM FACE DO COMERCIANTE - ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM - ACTIO EXTINTA SEM JULGAMENTO DE MÉRITO - INSURGÊNCIA - VÍCIO DE REPRESENTAÇÃO NÃO VERIFICADO - RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA - ARGUMENTO AFASTADO - FABRICANTE MANIFESTAMENTE IDENTIFICÁVEL - RESPONSABILIDADE DESTE - EXEGESE DO ART. 13 DO CODECON - RECURSO IMPROVIDO. "O artigo 13 do Código de Defesa do Consumidor reputa subsidiária a responsabilidade do comerciante pelo acidente de consumo (fato do produto ou do serviço), o qual poderá compor a lide apenas quando o fabricante não puder ser identificado. Uma vez ajuizada a demanda contra o comerciante e sendo plenamente identificável o fabricante, o acolhimento

221 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, 1956- Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 199. 222 BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990: Código de defesa do consumidor. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm>. Acesso em: 25 de maio de 2009. 223 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, 1956- Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 202. 224 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, 1956- Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 203.

61

da preliminar de ilegitimidade passiva é medida que se impõe". (TJRS, 5ª Cam. Civ., in Ap. Civ. n. 70009153677, j. 11.11.2004)225.

Eduardo Gabriel Saad, José Eduardo Duarte Saad e Ana Maria Saad C. Branco,

concluem que o artigo 88226 do CDC, admite a faculdade de o réu, na ação de regresso, que

deve ser objeto de processo autônomo, levá-la a termo nos mesmos autos da ação principal227.

4.1.2 Da Responsabilidade Civil Objetiva do Fornecedor de Serviços pelo Fato do Serviço na Relação de Consumo

O artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor traz em seu contexto a

responsabilidade do Fornecedor de serviço pelo fato do serviço como sendo, também a

objetiva:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informação insuficiente ou inadequada sobre sua fruição e riscos 228. (grifou-se)

Segundo Luiz Antônio Rizzatto Nunes, sobre o dever de responder, “a redação do art.

14 é semelhante à do art. 12” 229, sendo que a diferença se encontra na “designação do agente

responsável” 230. A maneira mais adequada seria mencionar “prestador de serviço, porquanto

o termo fornecedor é o gênero do qual prestador do serviço é espécie [...]” 231.

Sendo assim, o autor acima citado completa o estudo ao Direito do Consumidor

conceituando o ‘serviço prestado’ como sendo:

225 BRASIL. Tribunal de Justiça. Apelação Cível nº 2004.020988-6/SC, QUARTA CÂMARA DE DIREITO CIVIL. (06/02/07). Relator Sérgio Roberto Baasch Luz, disponível em: http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acpesquisa!pesquisar.action?qTodas=&qFrase=&qUma=&qNao=&qDataIni=&qDataFim=&qProcesso=2004.0209886&qEmenta=&qClasse=&qRelator=&qForo=&qOrgaoJulgador=&qCor=FF0000&qTipoOrdem=relevancia&pageCount=10. Acesso em: 25 de maio de 2009. 226 Art. 88. Na hipótese do art. 13, parágrafo único, deste Código, a ação de regresso poderá ser ajuizada em processo autônomo, facultada a possibilidade de prosseguir-se nos mesmos autos vedada a denunciação da lide. Cf. BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990: Código de defesa do consumidor. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm>. Acesso em: 25 de maio de 2009. 227 SAAD, Eduardo Gabriel; SAAD, José Eduardo Duarte; BRANCO, Ana Maria Saad C.. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor e sua jurisprudência anotada: Lei n. 8.078, de 1990, p. 315. 228 BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990: Código de defesa do consumidor. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm>. Acesso em: 25 de maio de 2009. 229 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, 1956- Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 205. 230 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, 1956- Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 205. 231 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, 1956- Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 205.

62

[...] é aquele feito de conformidade com a oferta e cujo desenvolvimento esteja adequado e do qual advenha resultado útil, da maneira prometida, e que se tenha estabelecido diretamente pelo prestador, quer ele o faça diretamente (como no exemplo do profissional liberal), quer se utilize de produto ou serviço de terceiros 232.

Sendo assim, considera-se serviço prestado de forma adequada é todo aquele que é

desenvolvido de acordo com a maneira que é prometida, sendo que seu resultado seja o

esperado.

Para confirmar a explicação sobre a Responsabilidade Civil Objetiva do fornecedor de

serviços defeituosos de acordo com o artigo 14 do CDC já mencionado, vale a pena expor a

ementa da Apelação Cível de n. 2008.031349-9 decidida no dia 26/06/2008, prolatada pela

Quarta Câmara de Direito Cível de Santa Catarina, onde deixa claro esse tipo de

Responsabilidade:

INDENIZAÇÃO. GASTOS TELEFÔNICOS. LINHA CELULAR HABILITADA EM NOME DO AUTOR. FRAUDE DE TERCEIRO. NEGATIVAÇÃO DO CRÉDITO DAQUELE. EMPRESA DE TELEFONIA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. DANOS MORAIS. OBRIGAÇÃO REPARATÓRIA INCIDENTE. PREJUÍZOS MORAIS. EFETIVIDADE NÃO PROVADA. IRRELEVÂNCIA. VALOR INDENIZATÓRIO. FIXAÇÃO ADEQUADA. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. CONFIRMAÇÃO. RECURSO DE APELAÇÃO DESPROVIDO. I Na condição de prestadora de serviços, responde a empresa de telefonia objetivamente pelos danos que vier a causar a terceiros. Assim se habilita ela linha celular em nome do autor, cumpre-lhe verificar se é o este o efetivo contratante dos serviços. Se assim não age ela, admitindo uma contratação fraudulenta em nome do autor, em outro Estado da Federação, inegável é a sua responsabilidade pelos danos morais causados ao demandante que, em face da inadimplência do fraudador, teve o seu nome indevida e ilegalmente assentado em cadastro de negativação do crédito. II O dano moral opera-se 'in re ipsa', ou seja, como decorrência automática da própria pratica ilícita, resultando, no caso de negativação indevida do nome do lesado, do simples ato negativador, de forma a tornar irrelevante a prova a respeito do sofrimento, pela parte autora, de efetivos prejuízos. III Não há condições para a redução da indenização fixada a título de danos morais, quando o valor arbitrado, a par de não fomentar o enriquecimento ilícito do lesado, cumpre a sua função de apenar, com equidade e modicidade, a lesante, como forma de tentar inibi-la em reincidir na conduta tida como indevida 233. (grifou-se)

232 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, 1956- Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 295. 233BRASIL. Tribunal de Justiça. Apelação Cível nº 2008.031349-9/SC, QUARTA CÂMARA DE DIREITO CIVIL. (26/06/08). Relator Trindade dos Santos. Disponível em: http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acpesquisa!pesquisar.action?qTodas=&qFrase=&qUma=&qNao=&qDataIni=&qDataFim=&qProcesso=2008.0313499&qEmenta=&qClasse=&qRelator=&qForo=&qOrgaoJulgador=&qCor=FF0000&qTipoOrdem=relevancia&pageCount=10. Acesso em: 25 de maio de 2009.

63

Sendo assim, ainda na presente Apelação Cível, é de suma importância expor alguns

trechos do voto provido pelo Exmos. Srs. Des. Monteiro Rocha e Ronaldo Moritz Martins da

Silva, presidente e relator, onde demonstra claramente a negligência da prestadora de serviço

perante os serviços prestados de forma inadequada causando um dano patrimonial e ao

mesmo tempo moral pela inserção do nome da vítima ao Serviço de Proteção ao Crédito

equivocadamente: “comprovada restou, pois, a conduta negligente e, em decorrência, ilícita

da empresa apelante, por traduzir-se ela em uma verdadeira coação para a cobrança, do autor,

de valores que na verdade nunca foram contratados” 234.

Ainda: “À insurgente tocava a obrigação de se certificar corretamente sobre a possível

dívida do autor, diligenciando sobre a origem do débito antes de lançar o nome do suposto

devedor nos órgãos de restrição de crédito” 235.

Contudo a autora da apelação relata “[...] a impossibilidade de ser condenada por

danos morais por não ter o autor comprovado os prejuízos supostamente sofridos com a

anotação de seu nome em cadastros controladores do crédito” 236.

No entanto, o entendimento do relator em seu voto foi de uma clareza impecável

esclarecendo que:

Não se ignora, no entanto, que a não comprovação do lançamento, pela negativação do nome de alguém, de reflexos nas atividades comerciais ou no patrimônio de quem teve contra si praticado o ato, é circunstância que não opera qualquer relevância na composição dos danos morais, não isentando de responsabilidade aquele que injustamente negativa o nome de alguém na praça; suficiente, para que se integre o dano moral, em caso tal, é a indicação ilegal do nome de alguma pessoa para inclusão em cadastro de restrição,

234 BRASIL. Tribunal de Justiça. Apelação Cível nº 2008.031349-9/SC, QUARTA CÂMARA DE DIREITO CIVIL. (26/06/08). Relator Trindade dos Santos. Disponível em: http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acpesquisa!pesquisar.action?qTodas=&qFrase=&qUma=&qNao=&qDataIni=&qDataFim=&qProcesso=2008.0313499&qEmenta=&qClasse=&qRelator=&qForo=&qOrgaoJulgador=&qCor=FF0000&qTipoOrdem=relevancia&pageCount=10. Acesso em: 25 de maio de 2009. 235 BRASIL. Tribunal de Justiça. Apelação Cível nº 2008.031349-9/SC, QUARTA CÂMARA DE DIREITO CIVIL. (26/06/08). Relator Trindade dos Santos. Disponível em: http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acpesquisa!pesquisar.action?qTodas=&qFrase=&qUma=&qNao=&qDataIni=&qDataFim=&qProcesso=2008.0313499&qEmenta=&qClasse=&qRelator=&qForo=&qOrgaoJulgador=&qCor=FF0000&qTipoOrdem=relevancia&pageCount=10. Acesso em: 25 de maio de 2009. 236 BRASIL. Tribunal de Justiça. Apelação Cível nº 2008.031349-9/SC, QUARTA CÂMARA DE DIREITO CIVIL. (26/06/08). Relator Trindade dos Santos. Disponível em: http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acpesquisa!pesquisar.action?qTodas=&qFrase=&qUma=&qNao=&qDataIni=&qDataFim=&qProcesso=2008.0313499&qEmenta=&qClasse=&qRelator=&qForo=&qOrgaoJulgador=&qCor=FF0000&qTipoOrdem=relevancia&pageCount=10. Acesso em: 25 de maio de 2009.

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situação essa que se observa no caso em pauta, conforme decidido pela insigne togada singular 237.

Para dar força ao entendimento jurídico, pode-se adicionar ao presente trabalho outro

caso semelhante onde leva o autor da Apelação Cível de n. 2008.017367-5, da Comarca de

Imbituba - SC, responder pelos seus atos defeituosos levando a vítima a ter prejuízo material e

até mesmo moral:

DECLARATÓRIA. INEXISTÊNCIA DE DÉBITO. RELAÇÃO JURÍDICA NEGADA. EMPRESA DE TELEFONIA. NEGATIVAÇÃO INDEVIDA EM REGISTRO DE CONTROLE DO CRÉDITO. DANOS MORAIS. CAUSAÇÃO. INDENIZAÇÃO DEVIDA. DEMANDA ACOLHIDA. INSURGÊNCIA RECURSAL. PROVIMENTO NEGADO. 1 Atua com culpa, estribada em negligência, a empresa de telefonia que habilita linha telefônica no nome de quem jamais a solicitou e, ao que tudo indica, à vista apenas da transmissão, via atendimento 'call center', dos dados de pessoa que jamais residiu na cidade em que se deu a contratação, com o pedido de habilitação sendo feita por pessoa totalmente estranha a este. 2 Sendo objetiva a responsabilidade da empresa de telefonia pelos serviços que presta, não se exime ela de suas responsabilidades perante o consumidor, pelo só fato de ter sido ela, tanto quanto o autor, vítima de falsário. 3 A inclusão indevida do nome de alguém em cadastro de inadimplentes configura, para o inscrito, prejuízo de ordem extrapatrimonial, calcado em dano moral, atraindo para aquela que promove a irregular negativação, o dever de prestar ao lesado a correspondente reparação. E, em tal hipótese, o dano moral opera-se 'in re ipsa', prescindindo da prova da efetiva causação de prejuízos, estes que decorrem presumidamente dos efeitos da prática do ato indevido. 4 Observados, na quantificação da indenização por danos morais, os critérios da razoabilidade e da proporcionalidade, com aptidão para integrar o caráter pedagógico a tal indenização emprestado pela doutrina e pela jurisprudência, não tendo o valor arbitrado potencial para gerar o enriquecimento indevido do lesado, não se entrevê fundamentos de ordem jurídica ou moral para reduzi-lo 238.

No entanto o relator da apelação em questão relata que o autor da ação enquadra-se no

conceito de Consumidor como é visto adiante:

É que o autor enquadra-se no conceito de consumidor, não como beneficiário ou utilizador dos serviços, mas sim, equiparando àquele que é

237 BRASIL. Tribunal de Justiça. Apelação Cível nº 2008.031349-9/SC, QUARTA CÂMARA DE DIREITO CIVIL. (26/06/08). Relator Trindade dos Santos. Disponível em: http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acpesquisa!pesquisar.action?qTodas=&qFrase=&qUma=&qNao=&qDataIni=&qDataFim=&qProcesso=2008.0313499&qEmenta=&qClasse=&qRelator=&qForo=&qOrgaoJulgador=&qCor=FF0000&qTipoOrdem=relevancia&pageCount=10. Acesso em: 25 de maio de 2009. 238 BRASIL. Tribunal de Justiça. Apelação Cível nº 2008.017367-5/SC, QUARTA CÂMARA DE DIREITO CIVIL. (24/04/08). Relator Trindade dos Santos. Disponível em: http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acpesquisa!pesquisar.action?qTodas=&qFrase=&qUma=&qNao=&qDataIni=&qDataFim=&qProcesso=2008.0173675&qEmenta=&qClasse=&qRelator=&qForo=&qOrgaoJulgador=&qCor=FF0000&qTipoOrdem=relevancia&pageCount=10. Acesso em: 25 de maio de 2009.

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vítima do evento, conforme preceitua o art. 17 do Código Consumerista, que diz: ‘Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento 239.

No mesmo sentido, o relator mencionou uma decisão da Segunda Turma Recursal dos

Juizados Especiais e Criminais do Distrito Federal, que decidiu questão semelhante da

seguinte forma:

CIVIL. CDC. DANO MORAL. EMPRESA DE TELEFONIA. FORNECEDORA DE SERVIÇOS. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA. FRAUDE DOCUMENTAL. RISCO DA ATIVIDADE EMPRESARIAL. SERVIÇO NÃO PRESTADO À PESSOA OFENDIDA. INDEVIDAS NEGATIVAÇÃO E MANUNTENÇÃO, MESMO DEPOIS DE DETECTADO O ERRO NO FATO QUE LHE DEU ORIGEM. DANO MORAL CARACTERIZADO. JUSTO ARBITRAMENTO. 1. A empresa de telefonia, na qualidade de fornecedora de serviços, responde objetivamente pelos seus atos e de seus prepostos que venham a causar dano ao consumidor ou a quem a este é equiparado (art. 17 do CDC). 2. Dívida de serviços de telefonia, em razão de instalação de terminal telefônico em endereço não pertencente à parte ofendida - Solicitada por terceiro e mediante fraude (uso dos números de seus documentos pessoais que, segundo oportuno registro da ocorrência policial, tinham sido furtados) - Motivadora da negativação do nome desta em empresa de serviço de proteção ao crédito, por constituir-se em risco da atividade empresarial da fornecedora de telefonia, só por ela deve ser absorvido e suportado. 3. Por isso, se tal fato levou à inserção do nome da pessoa ofendida no cadastro de maus pagadores, causando-lhe danos morais, devem ser suportados pela fornecedora responsável pelo ato negativador. [...] (grifamos, ACJ n. 20020110709544,rel. Juiz Benito Augusto Tiezzi, j. 19-3-03) 240.

Não sobra, pois, qualquer dúvida acerca da aplicabilidade do Código de Defesa do

Consumidor e da Responsabilidade Civil Objetiva nos casos exposto acima, sendo que existe

uma relação de consumo entre as partes.

239 BRASIL. Tribunal de Justiça. Apelação Cível nº 2008.017367-5/SC, QUARTA CÂMARA DE DIREITO CIVIL. (24/04/08). Relator Trindade dos Santos. Disponível em: http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acpesquisa!pesquisar.action?qTodas=&qFrase=&qUma=&qNao=&qDataIni=&qDataFim=&qProcesso=2008.0173675&qEmenta=&qClasse=&qRelator=&qForo=&qOrgaoJulgador=&qCor=FF0000&qTipoOrdem=relevancia&pageCount=10. Acesso em: 25 de maio de 2009. 240 BRASIL. Tribunal de Justiça. Apelação Cível nº 2008.017367-5/SC, QUARTA CÂMARA DE DIREITO CIVIL. (24/04/08). Relator Trindade dos Santos. Disponível em: http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acpesquisa!pesquisar.action?qTodas=&qFrase=&qUma=&qNao=&qDataIni=&qDataFim=&qProcesso=2008.0173675&qEmenta=&qClasse=&qRelator=&qForo=&qOrgaoJulgador=&qCor=FF0000&qTipoOrdem=relevancia&pageCount=10. Acesso em: 25 de maio de 2009.

66

4.2 DA RESPONSABILIDADE PELO VÍCIO DO PRODUTO OU DO SERVIÇO

Segundo Domingos Afonso Kriger Filho, a Responsabilidade pelo vício do produto ou

serviço, está prevista na Seção III do CDC, e tem por principal objeto a “esfera patrimonial

do consumidor procurando protegê-los dos vícios de qualidade (artigo 18) e dos vícios de

quantidade (artigo 19)” 241.

Dando continuidade ao entendimento de Domingos Afonso Kriger Filho, Eduardo

Gabriel Saad, José Eduardo Duarte Saad e Ana Maria Saad C. Branco,também entendem que

vício do produto pode ser de “qualidade ou de quantidade que o torna impróprio para

consumo ou que lhe reduz o valor” 242, sendo que quando ocorre o vício de qualidade “só

autoriza o lesado a pedir uma reparação quando o produto fica impróprio ou inadequado para

o consumo” 243.

O artigo 18 do Código de Defesa do Consumidor expõe que respondem

solidariamente, os fornecedores, pelos vícios de qualidade e no art. 19 pelos vícios de

quantidade dos produtos por eles fornecidos:

Art.18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim com por aqueles decorrentes da disparidade, com as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas 244.

Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do produto sempre que, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I – o abatimento proporcional do preço; II – complementação do peso ou medida; III – a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem

241 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. A responsabilidade civil e penal no código de proteção e defesa do consumidor, p. 78. 242 SAAD, Eduardo Gabriel; SAAD, José Eduardo Duarte; BRANCO, Ana Maria Saad C.. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor e sua jurisprudência anotada: Lei n. 8.078, de 1990, p. 367. 243 SAAD, Eduardo Gabriel; SAAD, José Eduardo Duarte; BRANCO, Ana Maria Saad C.. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor e sua jurisprudência anotada: Lei n. 8.078, de 1990, p. 368. 244 BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990: Código de defesa do consumidor. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm>. Acesso em: 25 de maio de 2009.

67

os aludidos vícios; IV – a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos 245.

Ao comentar os artigos acima citados do CDC, Luiz Antônio Rizzatto Nunes entende

que os caputs desses artigos colocam “todos os partícipes do ciclo de produção como

responsáveis direto pelo vício, de forma que o consumidor poderá escolher e acionar

diretamente qualquer dos envolvidos, exigindo seus direitos [...]” 246.

Sendo assim, o autor supracitado, ainda relata que “todos os fornecedores são

solidariamente responsáveis pelos vícios (e pelos defeitos, na medida de suas

participações)”247.

Diante da Responsabilidade de reparar, João Batista de Almeida entende que “a

responsabilidade pelo vício busca proteger a esfera econômica, ensejando tão-somente o

ressarcimento segundo as alternativas previstas na lei de proteção” 248. No então, não se pode

deixar de mencionar tais alternativas que estão dispostas no § 1º do artigo 18 do CDC:

§1° não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I – a substituição do produto da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; II – a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III – o abatimento proporcional do preço 249.

No entanto, para confirmação dessa Responsabilidade solidária entre todos os

fornecedores do produto ou serviço pelo seu vício, menciona-se o Agravo de Instrumento de

n. 2008.077940-8, de Blumenau/SC, onde podem responder solidariamente todos os

fornecedores do produto:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO REDIBITÓRIA COM PEDIDO DE DEVOLUÇÃO DO PREÇO, OU, ALTERNATIVAMENTE, A SUBSTITUIÇÃO DO PRODUTO POR OUTRO DA MESMA ESPÉCIE. DEFEITO EM VEÍCULO AUTOMOTOR NOVO. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA CONCEDIDA PARA O FIM DE DISPONIBILIZAÇÃO, PARA USO DA CONSUMIDORA ENQUANTO DURAR A AÇÃO, DE OUTRO VEÍCULO DE IDÊNTICAS CARACTERÍSTICAS. INSURGÊNCIA DA

245 BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990: Código de defesa do consumidor. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm>. Acesso em: 25 de maio de 2009. 246 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, 1956- Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 240. 247 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, 1956- Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 241. 248 ALMEIDA, João Batista de. Manual de direito do consumidor/ João Batista de Almeida. – 2. ed. rev. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2006, p. 68. 249 BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990: Código de defesa do consumidor. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm>. Acesso em: 25 de maio de 2009.

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REVENDEDORA. PRESENÇA, CONTUDO, DE PROVA ROBUSTA E INEQUÍVOCA ACERCA DAS FALHAS MECÂNICAS DETECTADAS, E, BEM ASSIM, DO FUNDADO RECEIO DE DANO IRREPARÁVEL OU DE DIFÍCIL REPARAÇÃO. DECISÃO MANTIDA. AGRAVO DESPROVIDO. Revela-se razoável, adequada e por isso mesmo defensável a decisão do juiz que, frente à densidade e robustez da prova reunida dando conta da existência de grave defeito mecânico em camioneta com 4 (quatro) meses de uso, vendida à consumidora com provável defeito de fabricação - o qual, aliás, não encontrou, junto à revendedora, a devida e esperada sanação - com base no art. 18 do CDC concede-lhe antecipação da tutela para, em ação redibitória, obrigar a concessionária a disponibilizar, ao Consumidor, enquanto durar o processo, veículo de idênticas características e em perfeitas condições de uso 250.

Contudo, é de suma importância mencionar alguns trechos do presente recurso onde

frisasse a solidariedade da Responsabilidade entre todos os fornecedores, destacando a lição

de Claudia Lima Marques, citada pelo Desembargador Eládio Torret Rocha:

Sobre o tema, [...] “quanto aos vícios por inadequação, o dispositivo mais importante é o art. 18 do CDC, o qual institui em seu caput uma solidariedade entre todos os fornecedores da cadeia de produção, com relação a reparação do dano (...). assim, respondem pelo vício do produto todos aqueles que ajudarem a colocá-lo no mercado, desde o fabricantes (que fabricou o produto e o rótulo), o distribuidor, ao comerciante (que contratou com o consumidor)” 251.

Sendo assim, para Arruda Alvim, Thereza Alvim, Eduardo Alvim e James Marins

citados por Cláudio Bonatto e Paulo Valério Dal Pai Moraes, respondem solidariamente o

fabricante e o comerciante do produto, simultaneamente pela totalidade do pedido, no mesmo

processo em litisconsórcio passivo dos dois 252.

No mesmo sentido, para finalizar, segue o entendimento o desembargador que proferiu

a decisão, mencionando que:

250 BRASIL. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento nº 2008.077940-8/SC. QUARTA CÂMARA DE DIREITO CÍVEL. (19/02/09). Des. Relator Eládio Torret Rocha. Disponível em: http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?qTodas=&qFrase=&qUma=&qNao=&qDataIni=&qDataFim=&qProcesso=2008.0779408&qEmenta=&qClasse=&qRelator=&qForo=&qOrgaoJulgador=&qCor=FF0000&qTipoOrdem=relevancia&pageCount=10&qID=AAAG%2B9AALAAA1IBAAB . Acesso em: 25 de maio de 2009. 251 BRASIL. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento nº 2008.077940-8/SC. QUARTA CÂMARA DE DIREITO CÍVEL. (19/02/09). Des. Relator Eládio Torret Rocha. Disponível em: http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?qTodas=&qFrase=&qUma=&qNao=&qDataIni=&qDataFim=&qProcesso=2008.0779408&qEmenta=&qClasse=&qRelator=&qForo=&qOrgaoJulgador=&qCor=FF0000&qTipoOrdem=relevancia&pageCount=10&qID=AAAG%2B9AALAAA1IBAAB . Acesso em: 25 de maio de 2009. 252 1995 apud BONATTO, Cláudio; MORAES, Paulo Valério Dal Pai. Questões controvertidas no Código de Defesa do Consumidor: principiologia, conceitos, contratos, p.136.

69

Pouco importa, ademais, que a causa do problema observado no automóvel advenha da fabricação do veiculo, já que ela, enquanto comerciante que o disponibilizou no mercado, haverá de responder objetivamente pelo dano face ao cliente, podendo ao depois, obviamente, voltar-se contra quem supostamente tenha sido o responsável pelo Vício 253.

Após definir a quem cabe o dever de indenizar o consumidor pelo vício do produto

enquadrado nos arts 18 e 19 do CDC, passasse a esclarecer a Responsabilidade Civil Objetiva

do Fornecedor de Serviço pelo Vício do Serviço na Relação de Consumo.

Contudo, Luiz Antônio Rizzatto Nunes ainda relata que o dever de reparar o dano

causado é solidário, não extinguindo a responsabilidade dos demais que indiretamente tenham

participado da relação de consumo 254.

Por fim, Domingos Afonso Kriger Filho, quanto aos responsáveis de indenizar o

consumidor pelos vícios de qualidade por inadequação e pelos vícios de quantidade, entende

que o comerciante também é o responsável principal, respondendo solidariamente, salvo

quando for comercializado in natura, sem processamento e quando os produtos forem pesados

na presença do consumidor 255.

4.2.1 Da Responsabilidade Civil Objetiva do Fornecedor de Serviço pelo Vício do Serviço na Relação de Consumo

Como foi visto anteriormente, o fornecedor e prestador de serviços são responsáveis

pelos vícios de qualidade e quantidade sendo que esses vícios venham a tornar o produto ou o

serviço impróprio, lhes diminuindo o valor.

O artigo 20 do CDC trata da responsabilidade do fornecedor de serviço pelo vício do

serviço, perante os vícios de qualidade que tornem impróprio o serviço prestado ao

consumidor:

Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou

253 BRASIL. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento nº 2008.077940-8/SC. QUARTA CÂMARA DE DIREITO CÍVEL. (19/02/09). Des. Relator Eládio Torret Rocha. Disponível em: http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?qTodas=&qFrase=&qUma=&qNao=&qDataIni=&qDataFim=&qProcesso=2008.0779408&qEmenta=&qClasse=&qRelator=&qForo=&qOrgaoJulgador=&qCor=FF0000&qTipoOrdem=relevancia&pageCount=10&qID=AAAG%2B9AALAAA1IBAAB . Acesso em: 25 de maio de 2009. 254 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, 1956- Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 294. 255 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. A responsabilidade civil e penal no código de proteção e defesa do consumidor, p. 81.

70

mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I – a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível; II – a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III – o abatimento proporcional do preço 256.

Luiz Antônio Rizzatto Nunes esclarece, ao comentar o Código de Defesa do

Consumidor, quem é, de fato, o responsável pelos serviços prestados de forma inadequada:

Ao contrário do estabelecido nos arts. 18 e19, nos quais aparecem como sujeitos os “fornecedores”, assim no plural, aqui no art. 20 há designação do termo no singular: “fornecedor”. Dessa forma, é de entender que a lei se refere ao fornecedor direto dos serviços prestados. E isso é adequado, na medida em que o serviço é sempre prestado diretamente ao consumidor por alguém. E é essa pessoa, quer seja física quer seja jurídica, a responsável 257.

Sendo assim, os responsáveis pelos serviços prestados, são somente os Fornecedores

de tais serviços prestados diretamente ao Consumidor.

4.3 DA RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PRESTADORES DE SERVIÇOS PÚBLICOS

O art. 22 do CDC também traz em seu contexto que a Responsabilidade Civil dos

prestadores de serviços públicos é objetiva e segundo o entendimento de Luiz Antônio

Rizzatto Nunes, esse tipo de serviço “está submetido exatamente a todas as mesmas normas

que recaem sobre o prestador do serviço privado” 258:

Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste Código 259.

256 BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990: Código de defesa do consumidor. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm>. Acesso em: 25 de maio de 2009. 257 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, 1956- Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 293. 258 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, 1956- Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 341. 259 BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990: Código de defesa do consumidor. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm>. Acesso em: 25 de maio de 2009.

71

No entanto, o autor acima citado ainda menciona que esses órgãos já vêem sendo

regularizados bem antes da elaboração do Código de Defesa do Consumidor, no §6º 260 do art.

27 da CRFB de 1988 261.

4.4 DA RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PROFISSIONAIS LIBERAIS

Segundo o entendimento de Cláudio Bonatto e Paulo Valério Dal Pai Moraes, “a única

exceção do Código de Defesa do Consumidor no tocante à responsabilidade civil baseada na

culpa diz respeito aos profissionais liberais” 262.

Para melhor entender o porquê a Responsabilidade Civil de tais profissionais é

subjetiva, é mister fazer a conceituação de profissionais liberais, onde Tupinambá Castro do

Nascimento, citado por Domingos Afonso Kriger Filho, esclarece que:

Há uma primeira colocação que advém do adjetivo liberal. É toda profissão cujo exercício se da por conta e risco próprios. Na pureza da expressão, profissional liberal é quem não mantém vínculo de emprego subordinado a terceira pessoa em relação a atividade que presta. O que se está acentuando é que a atividade que presta como profissional liberal é por conta própria, sem qualquer vínculo de subordinação com outrem. Entretanto, nem tudo que tem autonomia na prestação de serviço é profissional liberal.Um reparador de rede residencial que trabalha por conta própria, sem relação empregatícia, é um autônomo, mas não um profissional liberal. Este se configura se, além da autonomia, o conteúdo de serviço executado depende de conhecimento científico alcançados numa universidade, com concessão de habilitação. São os advogados, médicos, dentistas, farmacêuticos, etc. 263.

No parágrafo 4º do artigo 14 do CDC, está mencionando de forma explícita que a

Responsabilidade Civil de tais profissionais é subjetiva, ou seja, tem que ter a existência da

culpa do profissional: “§ 4º. A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada

mediante a verificação de culpa” 264.

260 “§6º as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurados o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa”. Cf. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 05 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 25 de maio de 2009. 261 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, 1956- Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 340. 262 BONATTO, Cláudio; MORAES, Paulo Valério Dal Pai. Questões controvertidas no Código de Defesa do Consumidor: principiologia, conceitos, contratos, p. 126. 263 1991 apud KRIGER FILHO, Domingos Afonso. A responsabilidade civil e penal no código de proteção e defesa do consumidor, p. 71. 264 BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990: Código de defesa do consumidor. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm>. Acesso em: 25 de maio de 2009.

72

Roberto Basilone Leite reafirma o que foi dito pelo autor Cláudio Bonatto,

relembrando que a única exceção à Responsabilidade Objetiva do CDC é a que está prevista

no artigo 14, § 4º, onde exige a verificação da culpa do profissional liberal 265.

No que diz respeito ao tratamento de forma mais benéfica da Responsabilidade Civil

dos profissionais liberais, Domingos Afonso Kriger Filho entende que:

Em nosso modo de ver, a adoção da responsabilidade subjetiva para os profissionais liberais se dá porque estes só podem se propor a utilizar todos os meios ao seu alcance e seu conhecimento para realizar o serviço contratado, o que enseja a sua responsabilidade caso estes meios não sejam utilizados adequadamente, pois tal situação caracteriza a culpa profissional266.

No entanto, percebe-se que há uma distinção na Responsabilidade Civil entre os

profissionais liberais e os demais fornecedores, onde a diferença está entre as obrigações,

sendo que elas podem ser de resultado e de meio, onde o autor acima citado traz o conceito

das duas obrigações para poder entender essa distinção de Responsabilidade:

[...] obrigações de resultado (aquelas em que o devedor se obriga a atingir determinado fim contratado), e das obrigações de meio (aquelas em que o devedor envida todos os esforços para atingir determinado fim), obrigações estas tradicionais no direito privado, sempre que na relação de consumo se estipule um vínculo que tenha por objeto a utilização de todos os esforços à disposição do fornecedor liberal para alcançar certo resultado 267.

Ademais, Luiz Antônio Rizzatto Nunes, confirma o relato do autor Domingos Kriger

dizendo que, sem sombra de dúvidas, a caracterização, de modo geral, do profissional liberal

é a obrigação de meio:

Isto é, o profissional não assegura o fim de sua própria atividade. Não porque não deseje, mas porque não pode. Assim, por exemplo, não pode – nem deve – um psiquiatra afirmar que irá obter a cura do problema mental de seu cliente. Da mesma maneira não pode – nem deve, nem tem condições objetivas – um advogado afirmar a seu cliente que este sairá vitorioso no julgamento pelo Júri do processo criminal. E, ainda, num terceiro exemplo, não pode – e não deve – o cirurgião dizer para o paciente não se preocupar

265 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao direito do consumidor: os direitos do consumidor e a aplicação do código de defesa do consumidor, p. 143. 266 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. A responsabilidade civil e penal no código de proteção e defesa do consumidor, p. 71. 267 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. A responsabilidade civil e penal no código de proteção e defesa do consumidor, p. 71.

73

porque a cirurgia de transplante de coração correrá bem e, sem nenhuma dúvida, o operado voltará a sua vida normal 268.

Contudo, não se pode excluir a hipótese de haver a Responsabilidade Civil do

profissional liberal pela obrigação de fim. O autor acima citado faz menção dessa hipótese nos

seus comentários ao Código de Defesa ao Consumidor da seguinte forma:

Alguns serviços profissionais são de fim, exatamente porque: a) pressupõem a capacitação profissional do prestador de serviço; b) não dependem de nenhuma outra circunstância – como acontece na atividade-meio, conforme visto acima – a não ser da própria habilitação profissional do prestador do serviço 269.

Sendo assim, Luis Antônio Rizzatto Nunes, cita como exemplo da Responsabilidade

do profissional liberal pela obrigação-fim, o seguinte caso:

Um arquiteto, também tido como profissional liberal, é contratado para elaborar a planta de uma casa. Essa é típica atividade-fim, pois, tendo em vista a capacitação técnica do arquiteto, não se espera que, executada a construção da casa com base na planta projetada, aquela, por exemplo, não caiba no terreno 270.

Para comprovar que a Responsabilidade Civil dos profissionais liberais é, em regra, a

subjetiva, menciona-se a Apelação Cível de n. 2003.028466-4, de Camboriú - SC, proferida

no dia 04 de dezembro de 2008, decidida pela Primeira Câmara de Direito Civil, nos termos

do voto do relator Joel Dias Figueira Júnior, que segue:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO (SUBJETIVA). APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. POSSIBILIDADE DE INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. LESÃO DO NERVO RADIAL APÓS CIRURGIA REALIZADA PELO RÉU, EM DECORRÊNCIA DE FRATURA NO BRAÇO SOFRIDA PELA AUTORA. ALEGAÇÃO DE NEGLIGÊNCIA, IMPRUDÊNCIA E IMPERÍCIA MÉDICA. CULPA NÃO CARACTERIZADA. DEMONSTRAÇÃO DE QUE O PROFISSIONAL DEMANDADO TOMOU TODAS AS PRECAUÇÕES E REALIZOU OS PROCEDIMENTOS NECESSÁRIOS AO TRATAMENTO DA ENFERMIDADE. AUSÊNCIA DE NEXO DE CAUSALIDADE. LESÃO OCASIONADA PELO PRÓPRIO TRAUMA SOFRIDO, BEM COMO PELA ADERÊNCIA DO NERVO AO CALO ÓSSEO FORMADO NO LOCAL APÓS O PROCEDIMENTO CIRÚRGICO E PELA AGRESSÃO

268 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, 1956- Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 225. 269 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, 1956- Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 226. 270 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto, 1956- Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 226.

74

DA PRÓPRIA FIBROSE NECESSÁRIA PARA A CICATRIZAÇÃO. REAÇÃO NATURAL DO ORGANISMO AO TRATAMENTO. RECURSO DA AUTORA DESPROVIDO. I - A lide pendente há de ser analisada sob a luz do Código Consumerista (Lei 8.078/90), aplicando-se o art. 6º, VIII, que permite a inversão do ônus da prova quando for verossímil a alegação do consumidor ou tratar-se de pessoa hipossuficiente. Por conseguinte, a regra insculpida no art. 333, I, do Código de Processo Civil encontra-se mitigada, em que pese interpretada sistematicamente com o aludido art. 6.º, VIII, e art. 14, § 4.º, ambos do Código de Defesa do Consumidor. Destarte, se o § 4.º do referido art. 14 afastou a responsabilidade objetiva, por outro lado, não suprimiu a aplicação do princípio da inversão do ônus da prova, incumbindo ao profissional liberal provar que não laborou em equívoco, nem agiu culposamente no desempenho de seu mister.Assim, em outros termos, cabe ao médico demandado o ônus de demonstrar que não agiu com culpa, ou ainda, a inexistência de relação de causalidade entre o serviço prestado e o dano experimentado pela vítima. II - Da análise apurada das provas colhidas, principalmente a pericial, é possível verificar-se que a lesão do nervo radial da Autora foi causada por um conjunto de fatores consubstanciado pelo próprio trauma sofrido no "terço-distal do úmero" (braço), bem como pela aderência do nervo ao calo ósseo formado no local após o procedimento cirúrgico, pela agressão da própria fibrose necessária para a cicatrização - reação natural do organismo -, além da idade da paciente e sua pouca tolerância ao tratamento prolongado. Destarte, no caso, não há como se determinar o vínculo de causa e efeito entre a conduta do Réu e dano causado, pressuposto para configuração da responsabilidade civil, principalmente porque ficou demonstrado nos autos que o médico tomou todas as precauções e realizou os procedimentos necessários ao tratamento da enfermidade, nada indicando, ainda, que o serviço prestado tenha sido incorreto, insuficiente, defeituoso ou inadequado. Desse modo, diante da inexistência de nexo de causalidade essencial ao reconhecimento da pretensão postulada, não merece provimento o apelo interposto.Antes de iniciar a abordagem do assunto, é adequado fazer um “parágrafo de introdução”, no qual se apresenta o motivo deste capítulo em relação à monografia, explicando ao leitor a razão de abordar este conteúdo271. (grifou-se)

Por fim, após a explanação dos tipos de Responsabilidade Civil e um breve relato

sobre o Direito do Consumidor, pode-se relatar que a Responsabilidade Civil que recai sobre a

ótica do Código Consumerista, em regra é a Responsabilidade Civil Objetiva, sendo que não

se pode excluir a exceção que é a Responsabilidade do profissional liberal sendo a subjetiva,

prevista no Código de Defesa do Consumidor no § 4º, art. 14.

271 BRASIL. Tribunal de Justiça. Apelação Cível nº 2003.028466-4/SC. PRIMEIRA CÂMARA DE DIREITO CIVIL. (04/12/08). Des. Subst. relator Joel Dias Figueira Júnior. Disponível em: http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?qTodas=&qFrase=&qUma=&qNao=&qDataIni=&qDataFim=&qProcesso=2003.0284664&qEmenta=&qClasse=&qRelator=&qForo=&qOrgaoJulgador=&qCor=FF0000&qTipoOrdem=relevancia&pageCount=10&qID=AAAG%2B9AAKAAAy9EAAA . Acesso em: 26 de maio de 2009.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo à verificação da Responsabilidade Civil dos

Fornecedores em face do Código de Defesa do Consumidor, em análise as doutrinas,

legislação e jurisprudências.

A pesquisa sobre a Responsabilidade Civil mostra a evolução no contexto histórico,

em face das diversas condutas humanas, onde, nos tempos remotos da civilização

preponderava a vingança privada, sendo que o mal sofrido era reparado por outro mal.

Já a Responsabilidade Civil nas Relações de Consumo, teve no liberalismo, o contrato

como sendo o principal instrumento dessas Relações Consumeristas, sendo que o principal

princípio destacado foi da pacta Sutn servanda, desconsiderando a desigualdade econômica

entre as partes contratante.

No entanto, os contratos estabeleciam entre as partes, uma posição de igualdade, onde

se respeitava a vontade e a livre discussão de cláusulas contratuais.

Após a Revolução Industrial, em meados do século XIX, começou a ser verificada que

a as Relações de Consumo onde se destacava a igualdade entre as partes, não passava de mera

filosofia, tendo que o Estado, a partir daí, intervir nos conflitos existentes entre as partes

nessas tais relações.

Com isso, o Estado Social passou a intervir nas Relações jurídicas para equilibrar a

Relação de Consumo existente entre as partes contratantes, protegendo assim a parte mais

fraca, ou seja, o consumidor.

Na introdução do presente trabalho, fez-se a análise dos seguintes problemas com suas

prováveis hipóteses voltadas para a concretização desta monografia:

a) Existe previsão, junto ao CDC, de Responsabilidade Civil dos Fornecedores de

Produtos ou Serviços por eles prestados?

b) A Responsabilidade Civil dos Fornecedores é objetiva ou subjetiva de acordo com

os artigos existentes no Código de Defesa do Consumidor?

c) Quando é que a Responsabilidade Civil do comerciante, de reparar o dano causado

pelo produto, deixa de ser solidária para ser subsidiária?

Já as hipóteses consideradas foram as seguintes:

a) O CDC prevê a Responsabilidade Civil dos Fornecedores de Produtos ou Serviços;

b) A Responsabilidade Civil regida pelo Código de Defesa do Consumidor é a

Objetiva, ou seja, aquele que o fornecedor tem o dever de repara o dano, independentemente

da existência de culpa; a Responsabilidade Civil também adotada pelo Código de Defesa do

Consumidor é a Subjetiva, ou seja, aquela que o fornecedor tem o dever de reparar o dano,

somente se for comprovada a culpa ou o dolo do agente causador do dano.

c) A Responsabilidade Civil do Comerciante deixa de ser solidária e passa a ser

subsidiária quando é constatado que o produto ou serviço não contém somente vícios e sim

defeitos, causando o acidente de consumo. Essa Responsabilidade é regida nas condições do

artigo 13, inciso I, II e III, do Código de Defesa do Consumidor.

No entanto, após o estudo da Responsabilidade Civil dos Fornecedores em face do

Código de Defesa do Consumidor, podem-se confirmar todas as hipóteses previstas acima, da

seguinte forma:

O código de Defesa do Consumidor estabelece que a Responsabilidade Civil em regra

geral é a objetiva, voltada para as Relações de Consumo, sendo que os Fornecedores, de

acordo com os artigos 12, 13 e 14, respondem independentemente da existência de culpa,

podendo ser solidária ou subsidiária essa Responsabilidade.

Respondem subsidiariamente, os comerciantes pelos defeitos do produto nos termos

do artigo 13, inciso I, II e III dos CDC, ou seja, eles só responderam por tais defeitos se não

forem identificados o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador de tais produtos,

quando o produto foi comercializado sem identificação clara do seu fabricante, produtor,

construtor ou importador e quando o produto perecível foi conservado de maneira inadequada.

Há também no Código de Defesa do Consumidor uma exceção a regra da

Responsabilidade Civil Objetiva, que está prevista no parágrafo 4° do artigo 14, que

estabelece a Responsabilidade Civil Subjetiva aos profissionais liberais, ou seja, para que os

profissionais sejam responsabilizados pelo dano causado ao consumidor tem que ser provada

a existência da culpa, de dano e do nexo causal.

Com base no que foi pesquisado, fica verificado que foi possível responder aos

problemas, restando assim confirmadas as hipóteses apontadas na introdução.

Evidente que não se esgota o assunto sobre a Responsabilidade Civil dos

Fornecedores, por ser tão amplo, e inúmeras condutas podem surgir destes profissionais.

Portanto, espera-se ter contribuído para o Direito, vez que cada dia surgem novos

entendimentos e situações merecedoras de novas pesquisas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXOS

Presidência da República Casa Civil

Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 8.078, DE 11 DE SETEMBRO DE 1990.

Regulamento

Regulamento

Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:

TÍTULO I Dos Direitos do Consumidor

CAPÍTULO I Disposições Gerais

Art. 1° O presente código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições Transitórias.

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóve l, material ou imaterial.

§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

CAPÍTULO II Da Política Nacional de Relações de Consumo

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: (Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)

I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;

II - ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor:

a) por iniciativa direta;

b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações representativas;

c) pela presença do Estado no mercado de consumo;

d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho.

III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores;

IV - educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo;

V - incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle de qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de consumo;

VI - coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuízos aos consumidores;

VII - racionalização e melhoria dos serviços públicos;

VIII - estudo constante das modificações do mercado de consumo.

Art. 5° Para a execução da Política Naciona l das Relações de Consumo, contará o poder público com os seguintes instrumentos, entre outros:

I - manutenção de assistência jurídica, integral e gratuita para o consumidor carente;

II - instituição de Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor, no âmbito do Ministério Público;

III - criação de delegacias de polícia especializadas no atendimento de consumidores vítimas de infrações penais de consumo;

IV - criação de Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas Especializadas para a solução de litígios de consumo;

V - concessão de estímulos à criação e desenvolvimento das Associações de Defesa do Consumidor.

§ 1° (Vetado).

§ 2º (Vetado).

CAPÍTULO III Dos Direitos Básicos do Consumidor

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;

II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;

III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;

IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;

V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;

VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos;

VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;

VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;

IX - (Vetado);

X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.

Art. 7° Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e eqüidade.

Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo.

CAPÍTULO IV Da Qualidade de Produtos e Serviços, da Prevenção e da Reparação dos Danos

SEÇÃO I Da Proteção à Saúde e Segurança

Art. 8° Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito.

Parágrafo único. Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar as informações a que se refere este artigo, através de impressos apropriados que devam acompanhar o produto.

Art. 9° O fornecedor de produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos à saúde ou segurança deverá informar, de maneira ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou periculosidade, sem prejuízo da adoção de outras medidas cabíveis em cada caso concreto.

Art. 10. O fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produto ou serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade ou periculosidade à saúde ou segurança.

§ 1° O fornecedor de produtos e serviços qu e, posteriormente à sua introdução no mercado de consumo, tiver conhecimento da periculosidade que apresentem, deverá comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores, mediante anúncios publicitários.

§ 2° Os anúncios publicitários a que se ref ere o parágrafo anterior serão veiculados na imprensa, rádio e televisão, às expensas do fornecedor do produto ou serviço.

§ 3° Sempre que tiverem conhecimento de per iculosidade de produtos ou serviços à saúde ou segurança dos consumidores, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão informá-los a respeito.

Art. 11. (Vetado).

SEÇÃO II Da Responsabilidade pelo Fato do Produto e do Serviço

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.

§ 1° O produto é defeituoso quando não ofer ece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:

I - sua apresentação;

II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

III - a época em que foi colocado em circulação.

§ 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado.

§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar:

I - que não colocou o produto no mercado;

II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;

III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando:

I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados;

II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador;

III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis.

Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do evento danoso.

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

§ 1° O serviço é defeituoso quando não forn ece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:

I - o modo de seu fornecimento;

II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

III - a época em que foi fornecido.

§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.

§ 3° O fornecedor de serviços só não será r esponsabilizado quando provar:

I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;

II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

§ 4° A responsabilidade pessoal dos profiss ionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.

Art. 15. (Vetado).

Art. 16. (Vetado).

Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.

SEÇÃO III Da Responsabilidade por Vício do Produto e do Serviço

Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.

§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máxi mo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso;

II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;

III - o abatimento proporcional do preço.

§ 2° Poderão as partes convencionar a reduç ão ou ampliação do prazo previsto no parágrafo anterior, não podendo ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio de manifestação expressa do consumidor.

§ 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1° deste artigo sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial.

§ 4° Tendo o consumidor optado pela alterna tiva do inciso I do § 1° deste artigo, e não sendo possível a substituição do bem, poderá haver substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos, mediante complementação ou restituição de eventual diferença de preço, sem prejuízo do disposto nos incisos II e III do § 1° deste artigo.

§ 5° No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o consumidor o fornecedor imediato, exceto quando identificado claramente seu produtor.

§ 6° São impróprios ao uso e consumo:

I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;

II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação;

III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam.

Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do produto sempre que, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

I - o abatimento proporcional do preço;

II - complementação do peso ou medida;

III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem os aludidos vícios;

IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos.

§ 1° Aplica-se a este artigo o disposto no § 4° do artigo anterior.

§ 2° O fornecedor imediato será responsável quando fizer a pesagem ou a medição e o instrumento utilizado não estiver aferido segundo os padrões oficiais.

Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível;

II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;

III - o abatimento proporcional do preço.

§ 1° A reexecução dos serviços poderá ser c onfiada a terceiros devidamente capacitados, por conta e risco do fornecedor.

§ 2° São impróprios os serviços que se most rem inadequados para os fins que razoavelmente deles se esperam, bem como aqueles que não atendam as normas regulamentares de prestabilidade.

Art. 21. No fornecimento de serviços que tenham por objetivo a reparação de qualquer produto considerar-se-á implícita a obrigação do fornecedor de empregar componentes de reposição originais adequados e novos, ou que mantenham as especificações técnicas do fabricante, salvo, quanto a estes últimos, autorização em contrário do consumidor.

Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.

Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código.

Art. 23. A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por inadequação dos produtos e serviços não o exime de responsabilidade.

Art. 24. A garantia legal de adequação do produto ou serviço independe de termo expresso, vedada a exoneração contratual do fornecedor.

Art. 25. É vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizar prevista nesta e nas seções anteriores.

§ 1° Havendo mais de um responsável pela ca usação do dano, todos responderão solidariamente pela reparação prevista nesta e nas seções anteriores.

§ 2° Sendo o dano causado por componente ou peça incorporada ao produto ou serviço, são responsáveis solidários seu fabricante, construtor ou importador e o que realizou a incorporação.

SEÇÃO IV Da Decadência e da Prescrição

Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em:

I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis;

II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis.

§ 1° Inicia-se a contagem do prazo decadenc ial a partir da entrega efetiva do produto ou do término da execução dos serviços.

§ 2° Obstam a decadência:

I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca;

II - (Vetado).

III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento.

§ 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo d ecadencial inicia-se no momento em que ficar evidenciado o defeito.

Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria.

Parágrafo único. (Vetado).

SEÇÃO V Da Desconsideração da Personalidade Jurídica

Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração.

§ 1° (Vetado).

§ 2° As sociedades integrantes dos grupos s ocietários e as sociedades controladas, são subsidiariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código.

§ 3° As sociedades consorciadas são solidar iamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código.

§ 4° As sociedades coligadas só responderão por culpa.

§ 5° Também poderá ser desconsiderada a pes soa jurídica sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores.

CAPÍTULO V Das Práticas Comerciais

SEÇÃO I Das Disposições Gerais

Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas.

SEÇÃO II Da Oferta

Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.

Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores.

Art. 32. Os fabricantes e importadores deverão assegurar a oferta de componentes e peças de reposição enquanto não cessar a fabricação ou importação do produto.

Parágrafo único. Cessadas a produção ou importação, a oferta deverá ser mantida por período razoável de tempo, na forma da lei.

Art. 33. Em caso de oferta ou venda por telefone ou reembolso postal, deve constar o nome do fabricante e endereço na embalagem, publicidade e em todos os impressos utilizados na transação comercial.

Parágrafo único. É proibida a publicidade de bens e serviços por telefone, quando a chamada for onerosa ao consumidor que a origina. (Incluído pela Lei nº 11.800, de 2008).

Art. 34. O fornecedor do produto ou serviço é solidariamente responsável pelos atos de seus prepostos ou representantes autônomos.

Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha:

I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade;

II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente;

III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos.

SEÇÃO III Da Publicidade

Art. 36. A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como tal.

Parágrafo único. O fornecedor, na publicidade de seus produtos ou serviços, manterá, em seu poder, para informação dos legítimos interessados, os dados fáticos, técnicos e científicos que dão sustentação à mensagem.

Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.

§ 1° É enganosa qualquer modalidade de info rmação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.

§ 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.

§ 3° Para os efeitos deste código, a public idade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço.

§ 4° (Vetado).

Art. 38. O ônus da prova da veracidade e correção da informação ou comunicação publicitária cabe a quem as patrocina.

SEÇÃO IV Das Práticas Abusivas

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: (Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994)

I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos;

II - recusar atendimento às demandas dos consumidores, na exata medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade com os usos e costumes;

III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço;

IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços;

V - exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva;

VI - executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e autorização expressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes de práticas anteriores entre as partes;

VII - repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo consumidor no exercício de seus direitos;

VIII - colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, se normas específicas não existirem, pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro);

IX - recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento, ressalvados os casos de intermediação regulados em leis especiais; (Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994)

X - elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços. (Incluído pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994)

XI - Dispositivo incluído pela MPV nº 1.890-67, de 22.10.1999, transformado em inciso XIII, quando da converão na Lei nº 9.870, de 23.11.1999

XII - deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou deixar a fixação de seu termo inicial a seu exclusivo critério.(Incluído pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)

XIII - aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou contratualmente estabelecido. (Incluído pela Lei nº 9.870, de 23.11.1999)

Parágrafo único. Os serviços prestados e os produtos remetidos ou entregues ao consumidor, na hipótese prevista no inciso III, equiparam-se às amostras grátis, inexistindo obrigação de pagamento.

Art. 40. O fornecedor de serviço será obrigado a entregar ao consumidor orçamento prévio discriminando o valor da mão-de-obra, dos materiais e equipamentos a serem empregados, as condições de pagamento, bem como as datas de início e término dos serviços.

§ 1º Salvo estipulação em contrário, o valor orçado terá validade pelo prazo de dez dias, contado de seu recebimento pelo consumidor.

§ 2° Uma vez aprovado pelo consumidor, o or çamento obriga os contraentes e somente pode ser alterado mediante livre negociação das partes.

§ 3° O consumidor não responde por quaisque r ônus ou acréscimos decorrentes da contratação de serviços de terceiros não previstos no orçamento prévio.

Art. 41. No caso de fornecimento de produtos ou de serviços sujeitos ao regime de controle ou de tabelamento de preços, os fornecedores deverão respeitar os limites oficiais sob pena de não o fazendo, responderem pela restituição da quantia recebida em excesso, monetariamente atualizada, podendo o consumidor exigir à sua escolha, o desfazimento do negócio, sem prejuízo de outras sanções cabíveis.

SEÇÃO V Da Cobrança de Dívidas

Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.

Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável.

SEÇÃO VI Dos Bancos de Dados e Cadastros de Consumidores

Art. 43. O consumidor, sem prejuízo do disposto no art. 86, terá acesso às informações existentes em cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de consumo arquivados sobre ele, bem como sobre as suas respectivas fontes.

§ 1° Os cadastros e dados de consumidores d evem ser objetivos, claros, verdadeiros e em linguagem de fácil compreensão, não podendo conter informações negativas referentes a período superior a cinco anos.

§ 2° A abertura de cadastro, ficha, registr o e dados pessoais e de consumo deverá ser comunicada por escrito ao consumidor, quando não solicitada por ele.

§ 3° O consumidor, sempre que encontrar ine xatidão nos seus dados e cadastros, poderá exigir sua imediata correção, devendo o arquivista, no prazo de cinco dias úteis, comunicar a alteração aos eventuais destinatários das informações incorretas.

§ 4° Os bancos de dados e cadastros relativ os a consumidores, os serviços de proteção ao crédito e congêneres são considerados entidades de caráter público.

§ 5° Consumada a prescrição relativa à cobr ança de débitos do consumidor, não serão fornecidas, pelos respectivos Sistemas de Proteção ao Crédito, quaisquer informações que possam impedir ou dificultar novo acesso ao crédito junto aos fornecedores.

Art. 44. Os órgãos públicos de defesa do consumidor manterão cadastros atualizados de reclamações fundamentadas contra fornecedores de produtos e serviços, devendo divulgá-lo pública e anualmente. A divulgação indicará se a reclamação foi atendida ou não pelo fornecedor.

§ 1° É facultado o acesso às informações lá constantes para orientação e consulta por qualquer interessado.

§ 2° Aplicam-se a este artigo, no que coube r, as mesmas regras enunciadas no artigo anterior e as do parágrafo único do art. 22 deste código.

Art. 45. (Vetado).

CAPÍTULO VI Da Proteção Contratual

SEÇÃO I Disposições Gerais

Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.

Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor.

Art. 48. As declarações de vontade constantes de escritos particulares, recibos e pré-contratos relativos às relações de consumo vinculam o fornecedor, ensejando inclusive execução específica, nos termos do art. 84 e parágrafos.

Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.

Parágrafo único. Se o consumidor exercitar o direito de arrependimento previsto neste artigo, os valores eventualmente pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão, serão devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados.

Art. 50. A garantia contratual é complementar à legal e será conferida mediante termo escrito.

Parágrafo único. O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e esclarecer, de maneira adequada em que consiste a mesma garantia, bem como a forma, o prazo e o lugar em que pode ser exercitada e os ônus a cargo do consumidor, devendo ser-lhe entregue, devidamente preenchido pelo fornecedor, no ato do fornecimento, acompanhado de manual de instrução, de instalação e uso do produto em linguagem didática, com ilustrações.

SEÇÃO II Das Cláusulas Abusivas

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis;

II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste código;

III - transfiram responsabilidades a terceiros;

IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;

V - (Vetado);

VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor;

VII - determinem a utilização compulsória de arbitragem;

VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro negócio jurídico pelo consumidor;

IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, embora obrigando o consumidor;

X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira unilateral;

XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que igual direito seja conferido ao consumidor;

XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor;

XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do contrato, após sua celebração;

XIV - infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais;

XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor;

XVI - possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias necessárias.

§ 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vontade que:

I - ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence;

II - restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou equilíbrio contratual;

III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.

§ 2° A nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer ônus excessivo a qualquer das partes.

§ 3° (Vetado).

§ 4° É facultado a qualquer consumidor ou e ntidade que o represente requerer ao Ministério Público que ajuíze a competente ação para ser declarada a nulidade de cláusula contratual que contrarie o disposto neste código ou de qualquer forma não assegure o justo equilíbrio entre direitos e obrigações das partes.

Art. 52. No fornecimento de produtos ou serviços que envolva outorga de crédito ou concessão de financiamento ao consumidor, o fornecedor deverá, entre outros requisitos, informá-lo prévia e adequadamente sobre:

I - preço do produto ou serviço em moeda corrente nacional;

II - montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de juros;

III - acréscimos legalmente previstos;

IV - número e periodicidade das prestações;

V - soma total a pagar, com e sem financiamento.

§ 1° As multas de mora decorrentes do inadimplement o de obrigações no seu termo não poderão ser superiores a dois por cento do valor da prestação.(Redação dada pela Lei nº 9.298, de 1º.8.1996)

§ 2º É assegurado ao consumidor a liquidação antecipada do débito, total ou parcialmente, mediante redução proporcional dos juros e demais acréscimos.

§ 3º (Vetado).

Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduciárias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefício do credor que, em razão do inadimplemento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado.

§ 1° (Vetado).

§ 2º Nos contratos do sistema de consórcio de produtos duráveis, a compensação ou a restituição das parcelas quitadas, na forma deste artigo, terá descontada, além da vantagem econômica auferida com a fruição, os prejuízos que o desistente ou inadimplente causar ao grupo.

§ 3° Os contratos de que trata o caput dest e artigo serão expressos em moeda corrente nacional.

SEÇÃO III Dos Contratos de Adesão

Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.

§ 1° A inserção de cláusula no formulário n ão desfigura a natureza de adesão do contrato.

§ 2° Nos contratos de adesão admite-se cláu sula resolutória, desde que a alternativa, cabendo a escolha ao consumidor, ressalvando-se o disposto no § 2° do artigo anterior.

§ 3o Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor. (Redação dada pela nº 11.785, de 2008)

§ 4° As cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão.

§ 5° (Vetado)

CAPÍTULO VII Das Sanções Administrativas (Vide Lei nº 8.656, de 1993)

Art. 55. A União, os Estados e o Distrito Federal, em caráter concorrente e nas suas respectivas áreas de atuação administrativa, baixarão normas relativas à produção, industrialização, distribuição e consumo de produtos e serviços.

§ 1° A União, os Estados, o Distrito Federa l e os Municípios fiscalizarão e controlarão a produção, industrialização, distribuição, a publicidade de produtos e serviços e o mercado de consumo, no interesse da preservação da vida, da saúde, da segurança, da informação e do bem-estar do consumidor, baixando as normas que se fizerem necessárias.

§ 2° (Vetado).

§ 3° Os órgãos federais, estaduais, do Dist rito Federal e municipais com atribuições para fiscalizar e controlar o mercado de consumo manterão comissões permanentes para elaboração, revisão e atualização das normas referidas no § 1°, sendo obrigatória a participação dos consumidores e fornecedores.

§ 4° Os órgãos oficiais poderão expedir not ificações aos fornecedores para que, sob pena de desobediência, prestem informações sobre questões de interesse do consumidor, resguardado o segredo industrial.

Art. 56. As infrações das normas de defesa do consumidor ficam sujeitas, conforme o caso, às seguintes sanções administrativas, sem prejuízo das de natureza civil, penal e das definidas em normas específicas:

I - multa;

II - apreensão do produto;

III - inutilização do produto;

IV - cassação do registro do produto junto ao órgão competente;

V - proibição de fabricação do produto;

VI - suspensão de fornecimento de produtos ou serviço;

VII - suspensão temporária de atividade;

VIII - revogação de concessão ou permissão de uso;

IX - cassação de licença do estabelecimento ou de atividade;

X - interdição, total ou parcial, de estabelecimento, de obra ou de atividade;

XI - intervenção administrativa;

XII - imposição de contrapropaganda.

Parágrafo único. As sanções previstas neste artigo serão aplicadas pela autoridade administrativa, no âmbito de sua atribuição, podendo ser aplicadas cumulativamente, inclusive por medida cautelar, antecedente ou incidente de procedimento administrativo.

Art. 57. A pena de multa, graduada de acordo com a gravidade da infração, a vantagem auferida e a condição econômica do fornecedor, será aplicada mediante procedimento administrativo, revertendo para o Fundo de que trata a Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985, os valores cabíveis à União, ou para os Fundos estaduais ou municipais de proteção ao consumidor nos demais casos. (Redação dada pela Lei nº 8.656, de 21.5.1993)

Parágrafo único. A multa será em montante não inferior a duzentas e não superior a três milhões de vezes o valor da Unidade Fiscal de Referência (Ufir), ou índice equivalente que venha a substituí-lo. (Parágrafo acrescentado pela Lei nº 8.703, de 6.9.1993)

Art. 58. As penas de apreensão, de inutilização de produtos, de proibição de fabricação de produtos, de suspensão do fornecimento de produto ou serviço, de cassação do registro do produto e revogação da concessão ou permissão de uso serão aplicadas pela administração, mediante

procedimento administrativo, assegurada ampla defesa, quando forem constatados vícios de quantidade ou de qualidade por inadequação ou insegurança do produto ou serviço.

Art. 59. As penas de cassação de alvará de licença, de interdição e de suspensão temporária da atividade, bem como a de intervenção administrativa, serão aplicadas mediante procedimento administrativo, assegurada ampla defesa, quando o fornecedor reincidir na prática das infrações de maior gravidade previstas neste código e na legislação de consumo.

§ 1° A pena de cassação da concessão será a plicada à concessionária de serviço público, quando violar obrigação legal ou contratual.

§ 2° A pena de intervenção administrativa s erá aplicada sempre que as circunstâncias de fato desaconselharem a cassação de licença, a interdição ou suspensão da atividade.

§ 3° Pendendo ação judicial na qual se disc uta a imposição de penalidade administrativa, não haverá reincidência até o trânsito em julgado da sentença.

Art. 60. A imposição de contrapropaganda será cominada quando o fornecedor incorrer na prática de publicidade enganosa ou abusiva, nos termos do art. 36 e seus parágrafos, sempre às expensas do infrator.

§ 1º A contrapropaganda será divulgada pelo responsável da mesma forma, freqüência e dimensão e, preferencialmente no mesmo veículo, local, espaço e horário, de forma capaz de desfazer o malefício da publicidade enganosa ou abusiva.

§ 2° (Vetado)

§ 3° (Vetado).

TÍTULO II Das Infrações Penais

Art. 61. Constituem crimes contra as relações de consumo previstas neste código, sem prejuízo do disposto no Código Penal e leis especiais, as condutas tipificadas nos artigos seguintes.

Art. 62. (Vetado).

Art. 63. Omitir dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade ou periculosidade de produtos, nas embalagens, nos invólucros, recipientes ou publicidade:

Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa.

§ 1° Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de alertar, mediante recomendações escritas ostensivas, sobre a periculosidade do serviço a ser prestado.

§ 2° Se o crime é culposo:

Pena Detenção de um a seis meses ou multa.

Art. 64. Deixar de comunicar à autoridade competente e aos consumidores a nocividade ou periculosidade de produtos cujo conhecimento seja posterior à sua colocação no mercado:

Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa.

Parágrafo único. Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de retirar do mercado, imediatamente quando determinado pela autoridade competente, os produtos nocivos ou perigosos, na forma deste artigo.

Art. 65. Executar serviço de alto grau de periculosidade, contrariando determinação de autoridade competente:

Pena Detenção de seis meses a dois anos e multa.

Parágrafo único. As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à lesão corporal e à morte.

Art. 66. Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante sobre a natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia de produtos ou serviços:

Pena - Detenção de três meses a um ano e multa.

§ 1º Incorrerá nas mesmas penas quem patrocinar a oferta.

§ 2º Se o crime é culposo;

Pena Detenção de um a seis meses ou multa.

Art. 67. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser enganosa ou abusiva:

Pena Detenção de três meses a um ano e multa.

Parágrafo único. (Vetado).

Art. 68. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa a sua saúde ou segurança:

Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa:

Parágrafo único. (Vetado).

Art. 69. Deixar de organizar dados fáticos, técnicos e científicos que dão base à publicidade:

Pena Detenção de um a seis meses ou multa.

Art. 70. Empregar na reparação de produtos, peça ou componentes de reposição usados, sem autorização do consumidor:

Pena Detenção de três meses a um ano e multa.

Art. 71. Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, constrangimento físico ou moral, afirmações falsas incorretas ou enganosas ou de qualquer outro procedimento que exponha o consumidor, injustificadamente, a ridículo ou interfira com seu trabalho, descanso ou lazer:

Pena Detenção de três meses a um ano e multa.

Art. 72. Impedir ou dificultar o acesso do consumidor às informações que sobre ele constem em cadastros, banco de dados, fichas e registros:

Pena Detenção de seis meses a um ano ou multa.

Art. 73. Deixar de corrigir imediatamente informação sobre consumidor constante de cadastro, banco de dados, fichas ou registros que sabe ou deveria saber ser inexata:

Pena Detenção de um a seis meses ou multa.

Art. 74. Deixar de entregar ao consumidor o termo de garantia adequadamente preenchido e com especificação clara de seu conteúdo;

Pena Detenção de um a seis meses ou multa.

Art. 75. Quem, de qualquer forma, concorrer para os crimes referidos neste código, incide as penas a esses cominadas na medida de sua culpabilidade, bem como o diretor, administrador ou gerente da pessoa jurídica que promover, permitir ou por qualquer modo aprovar o fornecimento, oferta, exposição à venda ou manutenção em depósito de produtos ou a oferta e prestação de serviços nas condições por ele proibidas.

Art. 76. São circunstâncias agravantes dos crimes tipificados neste código:

I - serem cometidos em época de grave crise econômica ou por ocasião de calamidade;

II - ocasionarem grave dano individual ou coletivo;

III - dissimular-se a natureza ilícita do procedimento;

IV - quando cometidos:

a) por servidor público, ou por pessoa cuja condição econômico-social seja manifestamente superior à da vítima;

b) em detrimento de operário ou rurícola; de menor de dezoito ou maior de sessenta anos ou de pessoas portadoras de deficiência mental interditadas ou não;

V - serem praticados em operações que envolvam alimentos, medicamentos ou quaisquer outros produtos ou serviços essenciais .

Art. 77. A pena pecuniária prevista nesta Seção será fixada em dias-multa, correspondente ao mínimo e ao máximo de dias de duração da pena privativa da liberdade cominada ao crime. Na individualização desta multa, o juiz observará o disposto no art. 60, §1° do Código Penal.

Art. 78. Além das penas privativas de liberdade e de multa, podem ser impostas, cumulativa ou alternadamente, observado odisposto nos arts. 44 a 47, do Código Penal:

I - a interdição temporária de direitos;

II - a publicação em órgãos de comunicação de grande circulação ou audiência, às expensas do condenado, de notícia sobre os fatos e a condenação;

III - a prestação de serviços à comunidade.

Art. 79. O valor da fiança, nas infrações de que trata este código, será fixado pelo juiz, ou pela autoridade que presidir o inquérito, entre cem e duzentas mil vezes o valor do Bônus do Tesouro Nacional (BTN), ou índice equivalente que venha a substituí-lo.

Parágrafo único. Se assim recomendar a situação econômica do indiciado ou réu, a fiança poderá ser:

a) reduzida até a metade do seu valor mínimo;

b) aumentada pelo juiz até vinte vezes.

Art. 80. No processo penal atinente aos crimes previstos neste código, bem como a outros crimes e contravenções que envolvam relações de consumo, poderão intervir, como assistentes do Ministério Público, os legitimados indicados no art. 82, inciso III e IV, aos quais também é facultado propor ação penal subsidiária, se a denúncia não for oferecida no prazo legal.

TÍTULO III Da Defesa do Consumidor em Juízo

CAPÍTULO I Disposições Gerais

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;

II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;

III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.

Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente: (Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)

I - o Ministério Público,

II - a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;

III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos por este código;

IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este código, dispensada a autorização assemblear.

§ 1° O requisito da pré-constituição pode s er dispensado pelo juiz, nas ações previstas nos arts. 91 e seguintes, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.

§ 2° (Vetado).

§ 3° (Vetado).

Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este código são admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela.

Parágrafo único. (Vetado).

Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.

§ 1° A conversão da obrigação em perdas e d anos somente será admissível se por elas optar o autor ou se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático correspondente.

§ 2° A indenização por perdas e danos se fa rá sem prejuízo da multa (art. 287, do Código de Processo Civil).

§ 3° Sendo relevante o fundamento da demand a e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citado o réu.

§ 4° O juiz poderá, na hipótese do § 3° ou na sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito.

§ 5° Para a tutela específica ou para a obt enção do resultado prático equivalente, poderá o juiz determinar as medidas necessárias, tais como busca e apreensão, remoção de coisas e pessoas, desfazimento de obra, impedimento de atividade nociva, além de requisição de força policial.

Art. 85. (Vetado).

Art. 86. (Vetado).

Art. 87. Nas ações coletivas de que trata este código não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogados, custas e despesas processuais.

Parágrafo único. Em caso de litigância de má-fé, a associação autora e os diretores responsáveis pela propositura da ação serão solidariamente condenados em honorários advocatícios e ao décuplo das custas, sem prejuízo da responsabilidade por perdas e danos.

Art. 88. Na hipótese do art. 13, parágrafo único deste código, a ação de regresso poderá ser ajuizada em processo autônomo, facultada a possibilidade de prosseguir-se nos mesmos autos, vedada a denunciação da lide.

Art. 89. (Vetado)

Art. 90. Aplicam-se às ações previstas neste título as normas do Código de Processo Civil e da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, inclusive no que respeita ao inquérito civil, naquilo que não contrariar suas disposições.

CAPÍTULO II Das Ações Coletivas Para a Defesa de Interesses Individuais Homogêneos

Art. 91. Os legitimados de que trata o art. 82 poderão propor, em nome próprio e no interesse das vítimas ou seus sucessores, ação civil coletiva de responsabilidade pelos danos individualmente sofridos, de acordo com o disposto nos artigos seguintes. (Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)

Art. 92. O Ministério Público, se não ajuizar a ação, atuará sempre como fiscal da lei.

Parágrafo único. (Vetado).

Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a causa a justiça local:

I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local;

II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de âmbito nacional ou regional, aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos casos de competência concorrente.

Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os interessados possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos meios de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do consumidor.

Art. 95. Em caso de procedência do pedido, a condenação será genérica, fixando a responsabilidade do réu pelos danos causados.

Art. 96. (Vetado).

Art. 97. A liquidação e a execução de sentença poderão ser promovidas pela vítima e seus sucessores, assim como pelos legitimados de que trata o art. 82.

Parágrafo único. (Vetado).

Art. 98. A execução poderá ser coletiva, sendo promovida pelos legitimados de que trata o art. 82, abrangendo as vítimas cujas indenizações já tiveram sido fixadas em sentença de liquidação, sem prejuízo do ajuizamento de outras execuções. (Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)

§ 1° A execução coletiva far-se-á com base em certidão das sentenças de liquidação, da qual deverá constar a ocorrência ou não do trânsito em julgado.

§ 2° É competente para a execução o juízo:

I - da liquidação da sentença ou da ação condenatória, no caso de execução individual;

II - da ação condenatória, quando coletiva a execução.

Art. 99. Em caso de concurso de créditos decorrentes de condenação prevista na Lei n.° 7.347, de 24 de julho de 1985 e de indenizações pelos prejuízos individuais resultantes do mesmo evento danoso, estas terão preferência no pagamento.

Parágrafo único. Para efeito do disposto neste artigo, a destinação da importância recolhida ao fundo criado pela Lei n°7.347 de 24 de julho de 198 5, ficará sustada enquanto pendentes de decisão de segundo grau as ações de indenização pelos danos individuais, salvo na hipótese de o patrimônio do devedor ser manifestamente suficiente para responder pela integralidade das dívidas.

Art. 100. Decorrido o prazo de um ano sem habilitação de interessados em número compatível com a gravidade do dano, poderão os legitimados do art. 82 promover a liquidação e execução da indenização devida.

Parágrafo único. O produto da indenização devida reverterá para o fundo criado pela Lei n.° 7.347, de 24 de julho de 1985.

CAPÍTULO III Das Ações de Responsabilidade do Fornecedor de Produtos e Serviços

Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços, sem prejuízo do disposto nos Capítulos I e II deste título, serão observadas as seguintes normas:

I - a ação pode ser proposta no domicílio do autor;

II - o réu que houver contratado seguro de responsabilidade poderá chamar ao processo o segurador, vedada a integração do contraditório pelo Instituto de Resseguros do Brasil. Nesta hipótese, a sentença que julgar procedente o pedido condenará o réu nos termos do art. 80 do Código de Processo Civil. Se o réu houver sido declarado falido, o síndico será intimado a informar a existência de seguro de responsabilidade, facultando-se, em caso afirmativo, o ajuizamento de ação de indenização diretamente contra o segurador, vedada a denunciação da lide ao Instituto de Resseguros do Brasil e dispensado o litisconsórcio obrigatório com este.

Art. 102. Os legitimados a agir na forma deste código poderão propor ação visando compelir o Poder Público competente a proibir, em todo o território nacional, a produção, divulgação distribuição ou venda, ou a determinar a alteração na composição, estrutura, fórmula ou acondicionamento de produto, cujo uso ou consumo regular se revele nocivo ou perigoso à saúde pública e à incolumidade pessoal.

§ 1° (Vetado).

§ 2° (Vetado)

CAPÍTULO IV Da Coisa Julgada

Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa julgada:

I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico fundamento valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I do parágrafo único do art. 81;

II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo improcedência por insuficiência de provas, nos termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese prevista no inciso II do parágrafo único do art. 81;

III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81.

§ 1° Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II não prejudicarão interesses e direitos individuais dos integrantes da coletividade, do grupo, categoria ou classe.

§ 2° Na hipótese prevista no inciso III, em caso de improcedência do pedido, os interessados que não tiverem intervindo no processo como litisconsortes poderão propor ação de indenização a título individual.

§ 3° Os efeitos da coisa julgada de que cui da o art. 16, combinado com o art. 13 da Lei n° 7.3 47, de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as ações de indenização por danos pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista neste código, mas, se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que poderão proceder à liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99.

§ 4º Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à sentença penal condenatória.

Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II e do parágrafo único do art. 81, não induzem litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada erga omnes ou ultra partes a que aludem os incisos II e III do artigo anterior não beneficiarão os autores das ações individuais, se não for requerida sua suspensão no prazo de trinta dias, a contar da ciência nos autos do ajuizamento da ação coletiva.

TÍTULO IV Do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor

Art. 105. Integram o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC), os órgãos federais, estaduais, do Distrito Federal e municipais e as entidades privadas de defesa do consumidor.

Art. 106. O Departamento Nacional de Defesa do Consumidor, da Secretaria Nacional de Direito Econômico (MJ), ou órgão federal que venha substituí-lo, é organismo de coordenação da política do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, cabendo-lhe:

I - planejar, elaborar, propor, coordenar e executar a política nacional de proteção ao consumidor;

II - receber, analisar, avaliar e encaminhar consultas, denúncias ou sugestões apresentadas por entidades representativas ou pessoas jurídicas de direito público ou privado;

III - prestar aos consumidores orientação permanente sobre seus direitos e garantias;

IV - informar, conscientizar e motivar o consumidor através dos diferentes meios de comunicação;

V - solicitar à polícia judiciária a instauração de inquérito policial para a apreciação de delito contra os consumidores, nos termos da legislação vigente;

VI - representar ao Ministério Público competente para fins de adoção de medidas processuais no âmbito de suas atribuições;

VII - levar ao conhecimento dos órgãos competentes as infrações de ordem administrativa que violarem os interesses difusos, coletivos, ou individuais dos consumidores;

VIII - solicitar o concurso de órgãos e entidades da União, Estados, do Distrito Federal e Municípios, bem como auxiliar a fiscalização de preços, abastecimento, quantidade e segurança de bens e serviços;

IX - incentivar, inclusive com recursos financeiros e outros programas especiais, a formação de entidades de defesa do consumidor pela população e pelos órgãos públicos estaduais e municipais;

X - (Vetado).

XI - (Vetado).

XII - (Vetado)

XIII - desenvolver outras atividades compatíveis com suas finalidades.

Parágrafo único. Para a consecução de seus objetivos, o Departamento Nacional de Defesa do Consumidor poderá solicitar o concurso de órgãos e entidades de notória especialização técnico-científica.

TÍTULO V Da Convenção Coletiva de Consumo

Art. 107. As entidades civis de consumidores e as associações de fornecedores ou sindicatos de categoria econômica podem regular, por convenção escrita, relações de consumo que tenham por objeto estabelecer condições relativas ao preço, à qualidade, à quantidade, à garantia e

características de produtos e serviços, bem como à reclamação e composição do conflito de consumo.

§ 1° A convenção tornar-se-á obrigatória a partir do registro do instrumento no cartório de títulos e documentos.

§ 2° A convenção somente obrigará os filiad os às entidades signatárias.

§ 3° Não se exime de cumprir a convenção o fornecedor que se desligar da entidade em data posterior ao registro do instrumento.

Art. 108. (Vetado).

TÍTULO VI Disposições Finais

Art. 109. (Vetado).

Art. 110. Acrescente-se o seguinte inciso IV ao art. 1° da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 198 5:

"IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo".

Art. 111. O inciso II do art. 5° da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, passa a ter a seguinte redação:

"II - inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, ou a qualquer outro interesse difuso ou coletivo".

Art. 112. O § 3° do art. 5° da Lei n° 7.347 , de 24 de julho de 1985, passa a ter a seguinte redação:

"§ 3° Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa".

Art. 113. Acrescente-se os seguintes §§ 4°, 5° e 6° ao art. 5º. da Lei n.° 7.347, de 24 de jul ho de 1985:

"§ 4.° O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.

§ 5.° Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta lei. (Vide Mensagem de veto) (Vide REsp 222582 /MG - STJ)

§ 6° Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante combinações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial". (Vide Mensagem de veto) (Vide REsp 222582 /MG - STJ)

Art. 114. O art. 15 da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, passa a ter a seguinte redação:

"Art. 15. Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado da sentença condenatória, sem que a associação autora lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público, facultada igual iniciativa aos demais legitimados".

Art. 115. Suprima-se o caput do art. 17 da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, passando o parágrafo único a constituir o caput, com a seguinte redação:

“Art. 17. “Art. 17. Em caso de litigância de má-fé, a associação autora e os diretores responsáveis pela propositura da ação serão solidariamente condenados em honorários advocatícios e ao décuplo das custas, sem prejuízo da responsabilidade por perdas e danos”.

Art. 116. Dê-se a seguinte redação ao art. 18 da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985:

"Art. 18. Nas ações de que trata esta lei, não haverá adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogado, custas e despesas processuais".

Art. 117. Acrescente-se à Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, o seguinte dispositivo, renumerando-se os seguintes:

"Art. 21. Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, no que for cabível, os dispositivos do Título III da lei que instituiu o Código de Defesa do Consumidor".

Art. 118. Este código entrará em vigor dentro de cento e oitenta dias a contar de sua publicação.

Art. 119. Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 11 de setembro de 1990; 169° da Independê ncia e 102° da República.

FERNANDO COLLOR Bernardo Cabral Zélia M. Cardoso de Mello Ozires Silva

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 12.9.1990 - Retificado no DOU de 10.1.2007