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0 FACULDADE DE DIREITO UNIVERSIDADE DE LISBOA A RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AO AMBIENTE NA GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS. UMA PERSPECTIVA LUSO- BRASILEIRA, COM ENFOQUE NO SETOR EMPRESARIAL. LISBOA 2010

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FACULDADE DE DIREITO UNIVERSIDADE DE LISBOA

A RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AO AMBIENTE NA GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS. UMA PERSPECTIVA LUSO-

BRASILEIRA, COM ENFOQUE NO SETOR EMPRESARIAL.

LISBOA 2010

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SARAH ROSIGNOLI SOUZA

A RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AO AMBIENTE NA GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS. UMA PERSPECTIVA LUSO-

BRASILEIRA, COM ENFOQUE NO SETOR EMPRESARIAL.

Relatório desenvolvido no âmbito da disciplina de Direito Privado do Ambiente, referente ao Mestrado Científico na área Jurídico-Ambiental. Orientação Prof. Dr. José Luís Bonifácio Ramos.

LISBOA 2010

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SIGLAS

BR – BRASIL CONAMA – CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE DL – DECRETO-LEI LBA – LEI DE BASES DO AMBIENTE PERSU II – PLANO ESTRATÉGICO PARA OS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS PPP – PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR PT – PORTUGAL RSU´S – RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS TJMG – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MINAS GERAIS

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 04 2 A GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NAS PERSPECTIVAS PORTUGUESA

E BRASILEIRA ................................................................................................................ 05 3 MEIO AMBIENTE E DANO .......................................................................................... 08 3.1 O meio ambiente interligado ............................................................................................... 08 3.2 Dano ecológico e dano ambiental ....................................................................................... 09 4 PRINCÍPIOS AMBIENTAIS NA GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS ................ 14 4.1 Princípio da precaução e prevenção .................................................................................... 14 4.2 Princípio do planejamento................................................................................................... 17 4.3 Princípio do poluidor-pagador ............................................................................................ 18 5 TEORIAS DO RISCO NO INSTITUTO DA RESPONSABILIDAD E CIVIL .......... 20 5.1 Teoria do risco proveito ...................................................................................................... 20 5.2 Teoria do risco criado.......................................................................................................... 21 5.3 Teoria do risco integral ....................................................................................................... 22 6 RESPONSABILIDADE CIVIL ....................................................................................... 25 6.1 Responsabilidade civil subjetiva ......................................................................................... 25 6.2 Responsabilidade civil objetiva........................................................................................... 27 7 DOS EFEITOS DA RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL .................................................. 31 7.1 Da recomposição e compensação natural ........................................................................... 31 7.2 Da indenização pecuniária como forma de compensação ................................................... 33 7.2.1 Da dificuldade de se quantificar o dano .............................................................................. 34 7.2.2 Fundos ambientais ............................................................................................................... 37 7.2.3 Seguros ambientais .............................................................................................................. 38 8 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 40 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................... 42 ANEXOS ..................................................................................................................................... 49 LEI Nº 12.305 ............................................................................................................................... 49 DECRETO-LEI 178/2006 ............................................................................................................ 74

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1 INTRODUÇÃO

Em termos gerais, no Brasil1, são produzidos anualmente 90 milhões de toneladas de

lixo e, cada brasileiro produz, em média, 500 gramas de lixo por dia. Em Portugal2, são

recolhidos, anualmente, 445 kg de resíduos sólidos urbanos (RSU´s) por habitante – e, neste

caso, considerando somente os resíduos urbanos. Isto significa que produzimos lixo numa

quantidade que o planeta Terra não consegue suportar sozinho3.

Dentro de uma sociedade de amplo consumo e descarte, também as empresas

constituem uma ampla parcela dos responsáveis pela crescente quantidade de lixo. O destaque

quantitativo deve-se, principalmente, à má gestão dos resíduos, donde advêm os danos ao

ambiente. O direito dos resíduos é uma esfera nova e repleta de particulariedades.

O presente trabalho vem discorrer sobre a responsabilização civil, com enfoque no

setor empresarial4, pelos danos ambientais procedentes da gestão dos resíduos sólidos, nas

repúblicas brasileira e portuguesa.

Cada vez mais, os danos ao ambiente têm sido objeto de ampla preocupação no setor

jurídico, dando espaço a discussões sobre as soluções que podem e devem ser adotadas para

prevenir e precaver as lesões ambientais. Pode-se considerar que tanto o regime jurídico

português quanto o brasileiro, em matéria de meio ambiente, estão sempre a buscar inovações,

e são considerados, a nível mundial, como legislações ambientalmente avançadas.

Regulando a gestão dos resíduos sólidos, temos diplomas novos tanto no Brasil quanto

em Portugal. O regime lusitano (DL 178/2006) é recente e, mais ainda, a Política Nacional de

Resíduos Sólidos no Brasil (Lei 12.305/10), que foi aprovada em 06 de agosto último.

Portanto, buscamos trabalhar estes regimes, cumulados com aqueles pertinentes à

responsabilidade civil, explanando a matéria da obrigação das empresas de responder pelos

seus próprios atos, quando da gestão dos resíduos sólidos. Os novos diplomas, esperamos,

ainda darão muitos frutos e novas perspectivas ao direito do ambiente, no qual, humilde e

ainda que infímamente, esperamos contribuir.

1 BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/datas/gari/cuidando.html>. Acesso em: 05 set. 2010. 2 PORTUGAL. Instituto Nacional de Estatísticas de Portugal. Dados do ano de 2007. Disponível em: <http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0000480&contexto=pi&selTab=tab0>. Acesso em: 05 set. 2010. 3 World Wildlife Fund, WWF, Relatório Planeta Vivo 2008, p. 2. Disponível em: <http://assets.wwf.org.br/downloads/sumario_imprensa_relatorio_planeta_vivo_2008_28_10_08.pdf>. Acesso em: 05 set. 2010. 4 Quando dizemos o setor empresarial, aqui, não se insere o setor industrial, pois estes geram outros tipos de resíduos, que não o resíduo urbano.

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2 A GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NAS PERSPECTIVAS PORTUGUESA E BRASILEIRA

A crescente preocupação social no plano dos resíduos sólidos faz com que o Direito se

veja obrigado a regulamentar a sua gestão, buscando incentivar a valorização e a reciclagem

dos resíduos na tentativa de diminuir a quantidade de lixo inaproveitável, que virá a ser

descartado no ambiente. O descarte inadequado e a má gestão dos resíduos produzem grandes

impactos ambientais, poluindo águas, solo e ar, danificando o meio ambiente e disseminando

doenças à população. A necessidade de que haja uma correta gestão dos resíduos sólidos

tornou-se matéria de extrema importância.

Para isto, foi aprovado em Portugal o regime geral da gestão dos resíduos, na forma do

Decreto-Lei 178/2006, que transpõe para a ordem jurídica interna a Diretiva n.º 2006/12/CE,

do Parlamento Europeu e do Conselho, de 5 de abril, e a Diretiva n.º 91/689/CEE, do

Conselho, de 12 de dezembro, e traz o conceito de resíduos em seu artigo 3º, alínea u, como

sendo “qualquer substância ou objecto de que o detentor se desfaz ou tem a intenção ou a

obrigação de se desfazer, nomeadamente os identificados na Lista Européia de Resíduos5”

(grifos nossos)

No Brasil, depois de vinte e um anos de trâmite pelo Congresso Nacional sem

anteriores resultados, acaba de ser editada a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei

12.305/10), de 06 de agosto de 2010, que define resíduos sólidos também em seu artigo 3º:

5 “[...] Ou ainda: i) Resíduos de produção ou de consumo não especificados nos termos das subalíneas seguintes; ii ) Produtos que não obedeçam às normas aplicáveis; iii ) Produtos fora de validade; iv) Matérias acidentalmente derramadas, perdidas ou que sofreram qualquer outro acidente, incluindo quaisquer matérias ou equipamentos contaminados na sequência do incidente em causa; v) Matérias contaminadas ou sujas na sequência de actividades deliberadas, tais como, entre outros, resíduos de operações de limpeza, materiais de embalagem ou recipientes; vi) Elementos inutilizáveis, tais como baterias e catalisadores esgotados; vii) Substâncias que se tornaram impróprias para utilização, tais como ácidos contaminados, solventes contaminados ou sais de têmpora esgotados; viii ) Resíduos de processos industriais, tais como escórias ou resíduos de destilação; ix) Resíduos de processos antipoluição, tais como lamas de lavagem de gás, poeiras de filtros de ar ou filtros usados; x) Resíduos de maquinagem ou acabamento, tais como aparas de torneamento e fresagem; xi) Resíduos de extracção e preparação de matérias-primas, tais como resíduos de exploração mineira ou petrolífera; xii) Matérias contaminadas, tais como óleos contaminados com bifenil policlorado; xiii ) Qualquer matéria, substância ou produto cuja utilização seja legalmente proibida; xiv) Produtos que não tenham ou tenham deixado de ter utilidade para o detentor, tais como materiais agrícolas, domésticos, de escritório, de lojas ou de oficinas; xv) Matérias, substâncias ou produtos contaminados provenientes de actividades de recuperação de terrenos; xvi) Qualquer substância, matéria ou produto não abrangido pelas subalíneas anteriores;”

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Art. 3º. XVI - resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível;

A lei brasileira, inovando, faz a distinção entre resíduos e rejeitos6 e determina que

estes são os que não têm mais possibilidade de tratamento e recuperação disponíveis e

economicamente viáveis, havendo apenas como destino a disposição final adequada a cada

tipo de rejeito.

Desde a geração à disposição final, incluindo os ciclos intermédios próprios a cada

resíduo, estes devem ser geridos de forma adequada, buscando minimizar os impactos

ambientais e de saúde pública. A gestão pode ser feita pelo setor empresarial (aquele que o

produz ou o detém deve gerir os seus próprios resíduos) ou pelo Poder Público, que o pode

fazer tanto de forma direta quanto indireta, através de concessões administrativas ou

terceirização, donde repassa a prestação do serviço a um particular – o que acontece, em

especial, no caso de saneamento básico7.

Dentro do setor empresarial, os resíduos são classificados conforme a sua origem, que

podem ser provenientes de serviços de saúde e de transporte, e, ainda, resíduos industriais, de

construção civil, agrossilvapastoris, e de mineração. Ou seja, cada atividade particular gera

resíduos sólidos, que devem ser geridos de acordo com a sua periculosidade.

Certo é que os resíduos se caracterizam como coisas resultantes de uma determinada

atividade e que por não serem mais utéis àqueles que os produziram, são descartados. O

resíduo é a sobra, aquilo que não é mais interessante ao produtor e, por isso, este se desfaz

6 Artigo 3º, inciso XV da Lei-BR 12.305/10. 7 O serviço de saneamento básico inclui a limpeza e o manejo de resíduos sólidos urbanos, que são aqueles provenientes de origem doméstica, de varrição e de estabelecimentos comerciais. Os titulares do serviço (Administração Pública) podem delegar a prestação das atividades, o que é instituído no Brasil pela Lei 11.445/07 (Lei de Saneamento Básico). Em Portugal, o Decreto-Lei 372/93, de 29 de outubro alterou a redação do art. 4º da Lei n.º 46/77 (este último foi depois substituído pela Lei 88-A/97, de 25 de julho), abrindo as portas, ainda que de forma limitada, à possibilidade de concessão no setor de recolha e tratamento de resíduos urbanos. Após, o Decreto-Lei 379/93 (alterado pelo Dec.-Lei 103/2003, de 23 de maio) consagrou o regime legal da gestão e exploração do serviço, que veio a ser completado pelos Dec-Leis 294/94, de 16 de novembro, e 319/94, de 24 de dezembro. Finalmente, o Decreto-Lei 147/95 regulamentou o regime jurídico da concessão dos serviços de resíduos sólidos urbanos dos sistemas municipais. Sobre as formas de gestão direta e indireta em Portugal, ver MAÇÃS, Fernanda. Serviços públicos de abastecimento de água, saneamento de águas residuais urbanas e resíduos urbanos. In: FERREIRA, Eduardo Paz; MORAIS, Luís Silva; ANASTÁCIO, Gonçalo (Coord.). Regulação em Portugal: novos tempos, novo modelo? Coimbra: Almedina, 2009, p. 533. Mas não adentraremos na responsabilidade administrativa, por questões de limitação do estudo.

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dela8.

Embora a primeira opção deva ser que os resíduos possam ser reciclados e

valorizados, muitos acabam sendo destinados ao simples descarte. Mas, tanto em sede de

valorização quanto de eliminação, a má gestão dos resíduos sólidos pode provocar danos ao

ambiente, inclusive, irreversíveis. Mister se faz uma atenção e preocupação especiais por

parte do regime jurídico neste âmbito delicado. O direito dos resíduos resulta da amplitude de

formas com os quais estes podem vir a lesar o ambiente em si.

8 ARAGÃO, Maria Alexandra de Sousa. Direito administrativo dos resíduos. In: OTERO, Paulo; GONÇALVES, Pedro (Coord.). Tratado de direito administrativo especial. Coimbra: Almedina, 2009, v. I, p. 14. A autora também escreve sobre os resíduos em ARAGÃO, Maria Alexandra de Sousa. O direito dos resíduos. Cadernos Cedoua. Coimbra: Almedina, 2003.

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3 MEIO AMBIENTE E DANO

3.1 O meio ambiente interligado

Devido à conectividade e a inter-relação própria do ambiente9, uma única atividade

poluidora pode ser capaz de danificá-lo de múltiplas formas. O ambiente é um só, é um todo

conexo, que se interage em todos os seus aspectos: água, solo, ar, fauna e flora.

Muitas vezes, o descarte dos resíduos sólidos é realizado de maneira inadequada,

depositados em lixões10 a céu aberto, sem o menor tratamento ou controle ambiental dos seus

efeitos, o que é do ponto de vista ambiental e de saúde pública, inaceitável.

Estes lixões geram maus odores e atraem ratos, mosquitos e outros animais

transmissores de doenças, que atingem a saúde pública, e, em especial, a população de baixa

renda, que acaba sendo a mais atingida. Além disso, a decomposição da matéria orgânica

contida no lixo11 produz o chorume12, que é um líquido de cor preta, extremamente poluidor e

mal cheiroso.

Através do chorume, contamina-se o solo, a água e o ar. Da poluição do solo e da água

superficial, decorre a contaminação direta do homem através dos alimentos plantados e da

água ingerida, o que, naturalmente, contamina também os animais terrestres e aquáticos que

vivem ao redor, tornando-os doentes e infectando a sua carne para consumo humano

(contaminação humana indireta).

Da contaminação de alimentos e animais (aquáticos e terrestres) derivam também

danos patrimoniais, vez que os pescadores, os agricultores e os criadores de gado e outros

animais, também restam prejudicados. Acrescido a isto, a contaminação do solo e da água

desequilibram o ecossistema natural, matando fauna e flora, tornando solos inférteis, rios

poluídos e, contaminando, inclusive, os lençóis freáticos que, através das chuvas, são

atingidos pelo chorume.

9 Sobre o meio ambiente como bem jurídico, ver CUNHAL SENDIM, José de Sousa. Responsabilidade civil por danos ecológicos: a reparação do dano através de restauração natural. Coimbra: Coimbra Editora, 1998, p. 75. 10 Lixões ou lixeiras (como é chamado em Portugal) são locais de depósito de resíduos sólidos, geralmente a céu aberto, que não passam por nenhuma forma de controle, não têm estudo prévio de impacto ambiental, vedação, impermeabilização do solo, nem nenhuma característica própria do aterro sanitário, que é a forma correta de se dispor o lixo após a sua vida útil. Sobre as ações decorrentes de problemas com as lixeiras em Portugal, ver FREITAS, Filipe Lebre de. O problema das lixeiras e as decisões do Ministério Público em alguns processos de inquérito a elas relativos. In: Anuário de Direito do Ambiente: 1996. Centro de Estudos Ambientais. Lisboa: AMBIFORUM, 1996. 11 Utilizaremos o vocábulo “lixo” para designar resíduos sólidos, que é o âmbito específico deste trabalho. 12 BARROS, Raphael T.de V. et al. Saneamento: manual de saneamento e proteção ambiental para os municípios. Vol. 2. Belo Horizonte: Escola de Engenharia da UFMG, 1995.

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Os gases tóxicos liberados pela decomposição do lixo também atingem o ar,

contribuindo para as alterações ambientais e provocando danos à saúde. Ou seja, tanto sob o

aspecto ambiental quanto pela perspectiva de saúde pública, os resíduos sólidos descartados

sem controle são totalmente indesejáveis.

3.2 Dano ecológico e dano ambiental

Embora os elementos naturais sejam caracterizados como res communes omnium, ou

seja, coisas que são comuns a todos e, assim, impossibilitadas de apropriação individual13,

isto não quer dizer que um dano14 ao ambiente não atinja a interesses particulares.

Há uma distinção doutrinária, trazida por Cunhal Sendim15, onde ele diferencia danos

ambientais de danos ecológicos. Os primeiros são danos a bens ou pessoas e o ambiente é

somente o “percurso causal do dano”, ou seja, é apenas o meio pelo qual se atinge direitos

subjetivos individuais ou interesses alheios. Aqui, o ambiente somente se transveste de “pano

de fundo” pelo qual se lesam interesses particulares, atingidos indiretamente pela via

ambiental. O bem jurídico tutelado não é o meio ambiente, mas sim a proteção de interesses

individuais, que são lesados a partir de um dano ecológico. A natureza é apenas o meio

indireto da lesão. Estes danos individuais seriam passíveis de ressarcimento, pelo instituto

normal da responsabilidade civil, independente do dano à natureza.

Diferente é o que acontece nos danos ecológicos (ou dano ecológico puro)16, onde o

bem jurídico é estritamente o meio ambiente em si, a proteção da natureza e de todos os seus

elementos constituintes, assim previstos pelas Constituições de ambas as repúblicas

estudadas17. A preocupação aqui é evitar um dano que agrida o sistema ecológico e que

13 O clássico civilismo só caracteriza a responsabilidade civil quando haja a violação de direitos, mas o bem jurídico ambiente – embora não suscetível de apropriação particular –, pela sua característica limitada, também se insere na necessidade jurídica de se ressarcir prejuízos, pois, ainda que estes sejam difusos, acabam por atingir individualmente o coletivo. Responsabilidade civil clássica em Portugal é trazida no artigo 483º e, no Brasil, no artigo 927 c/c artigo 186 e 187, ambos dos respectivos Códigos Civis. 14 A palavra dano advém do latim damnum iniuria datum, que signifca “causar prejuízo em coisa alheia, animada ou inanimada”, e nasce com a Lei Aquília, um plebiscito romano possivelmente do século III a.C. Para mais, ver FREITAS, Vladimir Passos. Constituição Federal e a efetividade das normas ambientais. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 168. 15 CUNHAL SENDIM, José de Sousa. Responsabilidade civil por ..., cit., p. 129. 16 Cunhal Sendim conceitua danos ecológicos como uma “perturbação do patrimônio natural – enquanto conjunto dos recursos bióticos (seres vivos) e abióticos e da sua interação – que afete a capacidade funcional ecológica e a capacidade de aproveitamento humano de tais bens tutelada pelo sistema jurídico-ambiental”. CUNHAL SENDIM, José de Sousa. Responsabilidade civil por ..., cit., p. 130. Ver também MARTINS DA CRUZ, Branca. Responsabilidade civil pelo dano ecológico – alguns problemas. In: Actas do I Congresso Internacional de Direito do Ambiente da Universidade Lusíada. Porto: ILDA, 1996, p. 190. 17 Na Constituição Portuguesa, artigo 66º e, na Brasileira, artigo 225.

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desequilibre, de alguma forma, a interação entre os seus recursos bióticos (seres vivos) e os

abióticos (ar, água e solo)18.

A vítima lesada deixa de ser um indivíduo considerado, para traduzir-se no próprio

ambiente, que ganha um valor jurídico19 distinto, afastando-se do regime civilista tradicional

de danos. Como seres dependentes do equilíbrio ecológico, somos obrigados a manter o

ambiente preservado – dentro de uma noção de sustentabilidade –, para proteger

indiretamente os nossos próprios direitos subjetivos, que é a sobrevivência humana através

dos recursos naturais.

Na verdade, por mais que se tenha uma visão ecocêntrica de defesa do meio ambiente

por si só, essa perspectiva não se dá pelo fato de sermos seres bondosos repletos de amor ao

ambiente, mas sim por sabermos que, através da proteção ambiental, estamos protegendo a

nós mesmos, o que, no fim, reflete numa visão antropocêntrica-utilitarista20. Só protegemos o

meio ambiente porque dele retiramos a nossa subsistência, porque ele nos é útil. É verdade

que a natureza tem um valor em si, mas a única razão pelo qual foi criado um direito ao

ambiente se deve ao fato de termos nos apercebido da dimensão limitada e não renovável do

ambiente, este que é condição fundamental para a sobrevivência humana.

Através da Diretiva do Parlamento Europeu e do Conselho de n.º 2004/35/CE, de 21

de abril de 2004, o legislador comunitário instituiu a matéria de responsabilidade civil em

matéria ambiental, mas tratou tão-só – e quanto a isto foi bem específico – de danos

ecológicos, generalizando e, por consequência, modificando o conceito de dano ambiental que

era antes empregue doutrinariamente, sendo, hoje, o termo “dano ambiental” usado para

caracterizar os danos ecológicos puros21. Porém, o legislador comunitário não impediu que os

Estados-membros abrangessem também os danos individuais ocorridos através de lesões ao

ambiente.

Transpondo a Diretiva Comunitária para a ordem interna, a responsabilidade civil em

matéria ambiental foi regulamentada pelo Decreto-Lei 147/2008, de 29 de julho, e trouxe a

18 A LBA determina como lesões à natureza: a poluição atmosférica, a perturbação do nível de luminosidade, a poluição hídrica, a danificação do solo ou subsolo, da flora, da fauna, a ofensa da paisagem, e a poluição sonora (artigos 8º e ss da LBA). 19 Em Portugal, o artigo 6º da LBA institui a necessidade de tutela jurídica aos bens ambientais, mais nomeadamente, o ar, a luz, o solo vivo e o subsolo, a flora e a fauna, e descreve a gravidade das lesões ambientais nos artigos 8º e ss, vez que não é qualquer tipo de dano que é tutelado, mas só aquele que ocorre em medida inadmissível pela sociedade. 20 Sobre visões ecocêntricas, antroponcêntricas e antroponcêntrica-utilitarista no direito do ambiente, ver CUNHAL SENDIM, José de Sousa. Responsabilidade civil por ..., cit., p. 85. 21 ANTUNES, Tiago. Da natureza jurídica da responsabilidade ambiental. Actas do Colóquio “A responsabilidade civil por dano ambiental”. Lisboa: ICJP, 2010, p. 128,129. Disponível em: <http://www.icjp.pt/publicacoes>. Acesso em: 27 ago. 2010.

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debate se, após a sua edição, permaneceria a distinção entre danos ecológicos e danos

ambientais, e se o legislador português regulou, a exemplo da Diretiva, apenas os danos

ecológicos puros, ou se, neste aspecto, abarca também os antigos “danos ambientais”.

Para Antunes22, o Decreto português traz duas vias paralelas de atuação numa única

disciplina jurídica, e engloba todos os dois tipos de danos, seja o ecológico puro ou o que

atinge direitos individuais através da lesão ambiental.

O legislador português demonstra a sua intenção, já no preâmbulo, quando diz que “os

operadores-poluidores ficam obrigados a indenizar os indivíduos lesados pelos danos sofridos

por via de um componente ambiental” (grifos nossos) e, depois, no segundo cápitulo da

norma, que fala em seus artigos 7º e 8º de ofensa a “direitos ou interesses alheios por via da

lesão de um qualquer componente ambiental” (grifos nossos). O âmbito aqui não é só a tutela

ambiental, mas também a tutela de interesses particulares.

E, ainda, em seu artigo 10º, proibe a dupla reparação àqueles que tenham sido lesados

por danos ao ambiente, o que deixa bem claro a intenção de se abranger também os antigos

danos ambientais, vez que regula também a possibilidade de reparação a direitos individuais

atingidos através da lesão ao componente ambiental. Enquanto o legislador comunitário

admitiu somente a reparação ecológica e nada mais, o nacional admitiu a reparação e a

indenização pecuniária, entre outras. Tudo isto demonstra que o novo DL visou a regulação

de ambos os tipos de danos, atribuídos por duas vias de responsabilidade: a de dano ecológico

puro e a de lesões individuais realizadas através do inquinamento ambiental.

Porém, este não é um pensamento uniforme na doutrina23, que acredita que o novo DL

alargou a noção de dano ambiental e englobou os dois tipos, pondo em xeque a antiga

distinção. Para Amado Gomes24, somente o dano ecológico puro necessita de um regime

especial de responsabilidade civil, vez que o instituto de danos patrimoniais, independente de

serem danos ocorridos por meio do ambiente ou não, já são regulados tradicionalmente pelo

Código Civil.

22 Em diálogo com ANTUNES, Tiago. Da natureza jurídica ..., cit., p. 122. Como nós nos filiamos ao ponto de vista do autor, e, para facilitar a compreensão do trabalho, utilizaremos das expressões “dano ecológico” e “dano ambiental” no seu sentido “antigo”. 23 Ver SILVA, Vasco Pereira da. Ventos de mudança no direito do ambiente. In: O que há de novo no ambiente? Actas das Jornadas de direito do ambiente. Lisboa: AAFDL, 2009, p. 17, 21; e AMADO GOMES, Carla. A responsabilidade civil por dano ecológico – reflexões preliminares sobre o novo regime instituído pelo DL 147/2008, de 29 de julho. In: O que há de novo no ambiente? Actas das Jornadas de direito do ambiente. Lisboa: AAFDL, 2009. 24 AMADO GOMES, Carla. De que falamos quando falamos de dano ambiental? In: Actas do Colóquio “A responsabilidade civil por dano ambiental”. Lisboa: ICJP, 2010, p. 155. Também a autora em AMADO GOMES, Carla. Direito administrativo do ambiente. In: Tratado de direito administrativo especial. Lisboa: Almedina, 2009, v. I, p. 244.

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Mas, qual seja o tipo, o dano é pressuposto da responsabilidade civil, ou seja, a lesão é

elemento necessário para que se constitua o direito de reparação. No Brasil, o legislador não

definiu bem o conceito de dano, mas definiu o de meio ambiente no artigo 3º, inciso I, da Lei

6.938/81 (Política Nacional do Meio Ambiente)25 e determinou que aquele que o lesa e,

também a terceiros – abrangendo assim tanto o dano ambiental quanto o ecológico – fica

responsável pela sua reparação (art. 14, §1º).

Assim, a norma brasileira abrange todos os dois tipos de danos num único diploma. E

deu o seu entendimento, logo no início, do que é a poluição, como sendo o resultado de

atividades que direta ou indiretamente degradem a qualidade ambiental, através de uma

“alteração desfavorável das características do meio ambiente”, associando assim os dois

incisos do artigo 3º (II e III) para determinar o inquinamento ambiental. Mas o legislador não

define o limite do dano tolerável (embora seja uma questão implícita) e a resposta é buscada

na doutrina e jurisprudência, que lecionam que o só o dano que rompa o equilíbrio ambiental,

aquele grave, é que é passível de responsabilização26.

Voltando os olhos à matéria de resíduos, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei

12.305/10) fala de “áreas contaminadas” pelos resíduos, caracterizando, neste âmbito, o dano

ao ambiente. E o DL 178/2006, que regulamenta a gestão de resíduos em Portugal, também

determina a prevenção de danos provocados pela má gestão dos resíduos, que, muitas das

vezes, produz impactos negativos ambientais de alto grau, vindo a lesar tanto o ambiente em

si quanto afetando direitos particulares.

25 Lei-BR 6.938/81. Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente; III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos; IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental; V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora. (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989). 26 “Dano ambiental, de forma específica, deve ser compreendido como toda lesão intolerável causada por qualquer ação humana (culposa ou não) ao meio ambiente, diretamente, como macrobem de interesse da coletividade, em uma concepção totalizante, e indiretamente, a terceiros, tendo em vista interesses próprios e individualizáveis e que refletem no macrobem”. MORATO LEITE, José Rubens. Dano ambiental: compensação ecológica e dano moral ou extrapatrimonial. Actas das I Jornadas Luso-Brasileiras de direito do ambiente. Lisboa: Instituto do Ambiente, 2002, p. 54.

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Considerando a inter-relação do ambiente, os danos ecológicos e ambientais

provocados pelos resíduos sólidos, acabam por serem conexos. O dano ambiental, além de

lesar direitos particulares, interfere também no meio ambiente. E, o dano ecológico, por mais

que não lese imediatamente direitos particulares, o faz de forma indireta.

Assim, os danos ambientais oriundos da má gestão dos resíduos sólidos afetam tanto

interesses coletivos lato sensu quanto stricto sensu27 (danos ambientais a interesses coletivos

particulares). Os primeiros são danos que lesam interesses de uma coletividade indeterminada

e não são susceptíveis de serem caracterizados individualmente, pois afetam o ambiente como

interesse difuso, como um todo: afetam todo o ambiente interligado. Embora todos os

cidadãos sejam indiretamente lesados, é impossível ressarcir individualmente os danos

ambientais, restando apenas o ressarcimento ecológico, que veremos mais à frente.

Já a sua forma restrita é determinável. Por exemplo, a deposição de resíduos sólidos

em lixões afeta uma coletividade restrita de cidadãos: afeta aqueles que habitam no município

onde o lixão se encontra e, ainda mais, aqueles que habitam mesmo próximo ao local, sendo

possível identificar individualmente os lesados pela poluição, quer sejam lesões patrimoniais

ou extrapatrimoniais.

A tutela ambiental visa proteger o meio ambiente em si, e, cumulativamente, também

resguarda interesses particulares de uma categoria abstrata de pessoas, dando a possibilidade

de se reparar os danos surgidos através da restauração ecológica e, quando esta não seja

suficiente para ressarcir completamente os prejuízos, através da indenização pecuniária,

baseando-se no instituto da responsabilidade civil.

Sabe-se que há um dano ao ambiente quando este perturba o equilíbrio ecológico28,

quando rompe a barreira da poluição admissível. Se a má gestão residual disturba este

equilíbrio, então haverá um dano ao ambiente, o que, quase sempre neste âmbito, é grave.

27 Ver MILARÉ, Édis. Direito do ambiente. A gestão ambiental em foco. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 868. Também CUNHAL SENDIM, José de Sousa. Responsabilidade civil por ..., cit., p. 131-132. 28 VIANNA, José Ricardo Alvarez. Responsabilidade civil por danos ao meio ambiente: à luz do novo código civil. Curitiba: Juruá, 2008, p. 128.

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4 PRINCÍPIOS AMBIENTAIS NA GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDO S

4.1 Princípio da precaução e prevenção

O princípio da precaução29 aplicado à gestão dos resíduos diz respeito às operações em

que exista um determinado risco de lesões graves ao ambiente ou possíveis danos

irreversíveis, principalmente quando se trate de resíduos perigosos, onde, muitas vezes, há

uma ausência de certeza científica sobre os tipos de danos que poderão advir, ou ainda, sobre

a natureza dos danos, ou sobre a relação de causalidade entre o dano e a conduta do agente, o

que requer uma rede precaucional quando se lida com resíduos.

O DL 178/2006, em Portugal, determinou expressamente no artigo 72º, a possibilidade

de serem decretadas medidas cautelares, em casos de emergência ou perigo grave para a saúde

pública ou para o ambiente, em especial a suspensão de qualquer operação de gestão de

resíduos30.

Mas a lei não exige que as operações versem sobre resíduos perigosos, podendo ser

qualquer tipo de resíduo, desde que haja um risco alto de possíveis danos irreversíveis. E este

danos não são provenientes só de resíduos periculosos em si, podendo advir sobre outras

naturezas residuais. A questão, ainda que advenha de resíduos comuns, é, por si só, matéria

grave.

Aragão31 exemplifica com o caso de um armazém que contenha resíduos não

perigosos, mas que, porventura, esteja situado em um local impróprio, com risco de

desabamento por sobre um conjunto habitacional na base de uma montanha, ou, por exemplo,

em um local facilmente inundável em tempos de cheia. Seria de se esperar que o Governo

decretasse medidas cautelares, ainda que não se tratasse de resíduos perigosos. E o ônus de

fazer a prova em contrário, de que a situação não se enquadra em caso de emergência ou de

perigo grave para a saúde pública, fica a par do operador ou detentor dos resíduos.

29 Em diálogo com ARAGÃO, Maria Alexandra de Sousa. Direito administrativo dos resíduos. In: OTERO, Paulo; GONÇALVES, Pedro (Coord.). Tratado de direito administrativo especial. Coimbra: Almedina, 2009, v. I, p. 15. Os princípios da precaução e prevenção são, desde logo, instituídos nas Constituições portuguesa e brasileira, respectivamente, nos artigos 66º, n.º 2 e 225, inc. V. 30 DL-PT 178/2006. Artigo 72º: “1—Os membros do Governo responsáveis pelas áreas do ambiente e da saúde podem, por despacho e em caso de emergência ou perigo grave para a saúde pública ou para o ambiente, adoptar medidas cautelares adequadas, nomeadamente a suspensão de qualquer operação de gestão de resíduos. 2—As medidas cautelares caducam se não for tomada uma decisão definitiva sobre a situação jurídica em causa no prazo de seis meses, prorrogável uma única vez por igual período.” 31 ARAGÃO, Maria Alexandra de Sousa. Direito administrativo dos resíduos. In: OTERO, Paulo; GONÇALVES, Pedro (Coord.). Tratado de direito administrativo especial. Coimbra: Almedina, 2009, v. I, p. 17.

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De acordo com o princípio 1532 da Declaração do Rio de 1992, o fato de existir um

risco de dano irreversível, independente de que haja certeza científica ou não, obriga os

Estados a tomarem as providências cabíveis, tal como a suspensão de uma operação de

resíduos, qualquer que seja a sua natureza, fazendo valer assim a regra in dubio pro ambiente.

Porém, as medidas cautelares33, de acordo com o número 2 do artigo 72º do DL,

caducam se não houver uma decisão definitiva em seis meses34, apta a apresentar a certeza

científica que faltava para provar o perigo de danos graves.

Diferentemente da precaução, no princípio da prevenção existe uma certeza científica

sobre a natureza dos riscos de danos ambientais e, em matéria de resíduos, este princípio se

divide em dois ramos: a prevenção de resíduos e a prevenção de danos35, ambos legalmente

amparados: em Portugal, pelo artigo 6º do DL 178/2006 e, no Brasil, pelos artigos 6º, inc. I e

7º, inc. II da Lei 12.305/1036.

A prevenção de resíduos versa na tentativa de diminuir socialmente a produção de

resíduos, através de mecanismos estatais que estimulem o encontro deste objetivo, como, por

exemplo, a instituição de taxas, o prolongamento da vida útil dos produtos, a reciclagem e a

valorização dos resíduos, e a busca pela minimização do número de rejeitos que vão para a

destinação final em aterros.

32 O Princípio 15 da Declaração do Rio de 1992 diz que: “Visando proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser aplicado pelos Estados de acordo com as suas capacidades. Onde existirem ameaças de sério ou irreversível danos, a ausência de certeza científica absoluta não deve ser usado como razão para postergar medidas efetivas e economicamente viáveis na prevenção da degradação ambiental” (tradução nossa). ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS – ONU. Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente, 1992. Disponível em: <http://www.unep.org/Documents.Multilingual/Default.asp?documentid=78&articleid=1163>. Acesso em: 19 ago. 2010. 33 Como medida cautelar, a lei prevê também a apreensão provisória de bens e documentos, tal como o faz o DL-PT 45/2008 (transferência de resíduos entre Estados-membros), no art. 10º, n.º 2, e o DL-PT 46/2008 (resíduos de construção e demolição), art. 19º, n.º 2, ambos de acordo com o art. 42º da lei de contra-ordenações ambientais portuguesa (Lei n.º 50/2006). 34 A lei possibilita a prorrogação deste período por uma única vez, por igual período. 35 Esta divisão é trazida por ARAGÃO, Maria Alexandra de Sousa. Direito administrativo dos resíduos. In: OTERO, Paulo; GONÇALVES, Pedro (Coord.). Tratado de direito administrativo especial. Coimbra: Almedina, 2009, v. I, p. 18. 36 DL-PT 178/2006. Art. 6º: “Constitui objetivo prioritário da política de gestão de resíduos evitar e reduzir a sua produção bem como o seu carácter nocivo, devendo a gestão de resíduos evitar também ou, pelo menos, reduzir o risco para a saúde humana e para o ambiente causado pelos resíduos sem utilizar processos ou métodos susceptíveis de gerar efeitos adversos sobre o ambiente, nomeadamente através da criação de perigos para a água, o ar, o solo, a fauna e a flora, perturbações sonoras ou odoríficas ou de danos em quaisquer locais de interesse e na paisagem”. Lei-BR 12.305/10. Art. 6º: “São princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos: I – a prevenção e a precaução;” Art. 7º: “São objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos: II – não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, bem como disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos”.

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Uma clarificação da prevenção de resíduos, é a questão das embalagens37, onde as

diretrizes versam sobre a busca da sua valorização, o que diminui significativamente o peso e

o volume dos resíduos sólidos urbanos (RSU´s). O PERSU II (Plano Estratégico para os

Resíduos Sólidos Urbanos)38, em Portugal, e o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, no Brasil,

buscam, entre outros, traçar estratégias de eco-consumo e de informação aos consumidores

para que estes possam, por si próprios, tomarem decisões ambientalmente acertadas. Mas

estas informações, advindas de projetos estatais, têm de ser claras, simples, credíveis e de

fácil acesso ao cidadão, através de propogandas e rotulagem ambientalmente específica dos

produtos.

E, quando não for mais possível prevenir a produção de resíduos, temos como dever

tratar da prevenção dos danos que podem resultar da gestão dos resíduos, que podem ser

muitos. Seja modificando a composição dos produtos ou monitorando as operações de

resíduos, o objetivo é que haja o menor impacto ambiental sustentavelmente possível.

Através desta modificação dos componentes dos produtos, visa-se trabalhar com

elementos que agridam menos ao ambiente, como no caso das pilhas e acumuladores39, que

devem progressivamente ser fabricados com substâncias menos perigosas, buscando substituir

os metais pesados como o mercúrio, o cádmio e o chumbo. Os produtores são obrigados,

ainda, a rotular os produtos de forma a instruir e informar os consumidores sobre o tipo de

pilha e sobre a remoção segura dos respectivos resíduos, que devem ser dispostos

adequadamente.

A maioria dos resíduos são destinados a aterros, que obedecem às normas de

licenciamento ambiental40 e devem ser localizados em áreas isoladas e monitoradas, inclusive

após o fechamento destes, prevenindo os riscos de danos ambientais antes mesmo que eles

aconteçam, através da utilização de técnicas apropriadas e de fiscalização constante da sua

gestão. Existe todo um procedimento técnico de operação de aterro sanitário, compactando o

lixo depositado e utilizando sistemas de engenharia para drenagem do chorume e dos gases

expelidos na decomposição orgânica dos rejeitos, que vão ser posteriormente tratados.

37 DL-PT 366-A/97, de 20 de dezembro, alterado pelo DL-PT 162/2000, de 27 de julho e pelo DL-PT 92/2006, de 25 de maio. 38 O PERSU II foi aprovado pela Portaria-PT n.º 187/2007, de 12 de fevereiro, promovendo, em âmbito nacional, instrumentos de implantação de uma política de gestão de resíduos no período de 2006 a 2016, criando sistemas multimunicipais, intermunicipais e, especificamente, municipais de ação. O Plano Nacional de Resíduos Sólidos do Brasil consta da Lei-BR 12.305/10. 39 O DL-PT 6/2009, de 06 de janeiro, é que prevê o regime de pilhas e acumuladores em Portugal. No Brasil, é a Resolução do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) n.º 401/08. 40 As regras gerais de licenciamento ambiental são dispostas, em Portugal, no DL-PT 173/2008 e, no Brasil, na Resolução CONAMA 237/97.

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4.2 Princípio do planejamento

Embora este não seja um princípio formal, Aragão41 o traz como um dos princípios

do direito dos resíduos, com base no “princípio da regulação da gestão de resíduos”, que,

devido à peculiaridade da matéria, se baseia na necessidade de criar um plano de gestão

amparado por normas e diretrizes técnicas sobre os resíduos em geral e, sobre aqueles

específicos, como os resíduos perigosos, por exemplo.

O planejamento é uma obrigação estatal e deve versar e regular sobre os diversos

tipos de resíduos, suas origens, sobre a necessidade de recolha, tratamento e reciclagem, e

sobre as formas de eliminação e valorização dos mesmos. Um plano de gestão tem ainda que

tratar sobre as questões de localização e disposição final dos rejeitos.

No que tange à questão dos resíduos, é imprescindível que o Estado tenha um

planejamento a longo prazo sobre a sua gestão, determinando metas e estratégias de eficiência

econômica e ambiental, evitando riscos à saúde pública e danos ao meio ambiente.

No caso dos resíduos sólidos urbanos, a matéria parece simples, mas não é. Uma

cidade produz uma quantidade muito grande de lixo diariamente, e gerir todo esse material é

tarefa árdua. Embora os RSU´s não contenham nenhum tipo de pericolosidade, a amplitude do

volume gerado dificulta a sua gestão. Os resíduos perigosos, embora sejam produzidos em

menor quantidade, também têm toda uma especialidade de gestão, baseando-se em normas

técnicas próprias a cada espécie residual.

Fato é que todo cidadão produz resíduo, e todos os tipos de atividade também, de

pequenos estabelecimentos a grandes indústrias. Gerir tudo isso não é simples e é preciso que

haja diretrizes técnicas para as diversas espécies de resíduo, sendo absolutamente necessário

um planejamento antecipado da matéria.

Tanto em Portugal quanto no Brasil42, os planos de ação e de estratégias em matéria

residual, são previstas em âmbito nacional, multimunicipal, intermunicipal e municipal, com

o acréscimo da esfera estadual na legislação brasileira.

41 Em diálogo com o pensamento de ARAGÃO, Maria Alexandra de Sousa. Direito administrativo dos resíduos. In: OTERO, Paulo; GONÇALVES, Pedro (Coord.). Tratado de direito administrativo especial. Coimbra: Almedina, 2009, v. I, p. 46. 42 DL-PT 178/2006, artigo 9º e Lei-BR 12.305/10, artigo 14.

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4.3 Princípio do poluidor-pagador

Também chamado “princípio da responsabilidade”, o princípio do poluidor-pagador

(PPP) se baseia na teoria econômica de internalização das externalidades geradas pela

produção de resíduos, impondo o verdadeiro custo da poluição43. É um princípio que objetiva

dar respaldo aos padrões e normas ambientais, evitar o dano ao ambiente e a poluição

desenfreada, fazendo com que o poluidor44 arque com as responsabilidades das suas decisões

não-ambientais.

A Declaração do Rio de 1992, traz o PPP no seu princípio 1645, expandido

internacionalmente a necessidade de se responsabilizar os poluidores, o que foi acatado pelas

repúblicas portuguesa46 e brasileira. A primeira dispôs sobre o assunto no artigo 64º da Lei de

Resíduos, e a segunda, no artigo 6º, inciso II, da Política Nacional de Resíduos47.

43 Em diálogo com MILARÉ, Édis. Direito do ambiente.., cit., p. 827. Também sobre o PPP, ver SILVA, Isabel Marques da. O princípio do poluidor-pagador. In: ROCHA, Mário de Melo (Coord.). Estudos de direito do ambiente. Coleção Actas. Porto: Publicações Universidade Católica, 2003, p. 97; e ARAGÃO, Maria Alexandra de Sousa. O princípio do poluidor-pagador. Pedra angular da política comunitária do ambiente. Studia Iuridica n.º 23. Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Coimbra: Coimbra Editora, 1997. 44 O conceito de poluidor é trazido na Comunidade Européia já em 1975, com o n.º 3 da Comunicação anexa à Recomendação do Conselho 75/436, de 3 de março de 1975, que o determina como “aquele que degrada directa ou indirectamente o ambiente ou cria condições que levam à sua degradação” Disponível em: <http://eur-lex.europa.eu/Notice.do?val=46512:cs&lang=pt&list=517781:cs,467557:cs,260812:cs,256874:cs,303562:cs,187880:cs,46512:cs,&pos=7&page=1&nbl=7&pgs=10&hwords=Recomendação do Conselho de 3 de Março de 1975~&checktexte=checkbox&visu=#texte>. Acesso em 23 ago. 2010. 45 “As autoridades nacionais devem se esforçar para promover a internalização dos custos ambientais e o uso dos instrumentos econômicos, tendo em vista a abordagem de que o poluidor deve, em princípio, arcar com o custos da sua poluição, em atenção ao interesse público e sem acarretar distorções no comércio e nos investimentos internacionais” (tradução nossa). ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS – ONU. Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente, 1992. Disponível em: <http://www.unep.org/Documents.Multilingual/Default.asp?documentid=78&articleid=1163>. Acesso em: 19 ago. 2010. 46 O PPP advém desde logo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que o consagrou comunitariamente através do Ato Único Europeu, no artigo 174º, n.º 2 do Tratado da União Européia. A Recomendação C (72)128 da OCDE, datada de 26 de maio de 1972 e intitulada como “Princípios Reguladores da Dimensão Econômica Internacional das Políticas Ambientais” (“Guiding Principles Concerning International Economic Aspects of Environment Policies”), determina que “o poluidor deve suportar as despesas da tomada de medidas de controle da poluição decididas pelas autoridades públicas para assegurar que o meio-ambiente se mantenha num estado aceitável” apud SILVA, Vasco Pereira da. Verde cor de direito: lições de direito do ambiente. Coimbra: Almedina, 2002, p. 74. O autor considera, em exceção, que o regulamento português do PPP tenha natureza constitucional, pois a alínea h do n.º 2 do artigo 66º da Constituição Portuguesa determina como dever do Estado “assegurar que a política fiscal compatibilize desenvolvimento com proteção do ambiente e qualidade de vida”. 47 O PPP no Brasil foi acolhido primeiramente na Lei-BR 6.938/81, em seu artigo 4º, VII, que determina “a imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados”. Na Lei-BR 12.305/10, o artigo 7º dispõe que deve-se buscar a “recuperação dos custos dos serviços prestados, como forma de garantir sua sustentabilidade operacional e financeira”. O artigo 64º do DL-PT 178/2006 diz que “o regime financeiro do mercado de resíduos deve visar a cobertura dos custos de gestão do respectivo sistema sem que por seu efeito se introduzam distorções no mercado ou os custos de transação se tornem superiores aos custos de regulação”.

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Este princípio diz respeito à atribuição da responsabilidade pela gestão dos resíduos –

e, também, dos seus custos – àquele que o produz, o opera ou o detém. E a responsabilidade

do produtor só se transfere com a transmissão dos resíduos a operador licenciado de gestão ou

a entidades responsáveis por sistemas de gestão de fluxo de resíduos48.

O PPP na gestão dos resíduos, se aplica na medida em que, aquele que opera os

resíduos fica obrigado a arcar com os custos da atividade, sejam eles custos iniciais de

licenciamento, por exemplo, custos de tratamentos dos resíduos, ou, simplesmente, despesas

inerentes aos danos porventura provocados pelos resíduos, em especial, pela sua má gestão.

O lema é: quem polui, paga. Mas isso não significa que seja um “direito a poluir”, mas

sim uma forma de dar um valor financeiro à poluição, evitando os danos ao ambiente e

incentivando os operadores a manejarem os resíduos de forma a garantir o desenvolvimento e

proteger o meio ambiente.

A responsabilidade civil pelos danos ambientais acarreta, primeiramente, na reparação

e restauração natural do ambiente lesado, o que fará com que o poluidor despenda

financeiramente, muitas vezes até mais do que se pagasse uma indenização, para tentar

restituir os danos causados e equilibrar novamente o meio que sofreu uma lesão. Porém,

algumas vezes não é possível reparar o dano e aí, o poluidor fica então obrigado a indenizar o

seu ato lesivo, cobrindo monetariamente a sua poluição. A responsabilidade civil nada mais é

do que a tradução do princípio do poluidor-pagador.

Cada vez mais, o PPP é utilizado para custear as despesas da reposição do ambiente

lesado ao seu status quo, na medida do que se é possível fazer, e também para arcar com as

medidas de prevenção e precaução ambiental.

48 Artigo 5º do DL-PT 178/2006.

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5 TEORIAS DO RISCO NO DIREITO AMBIENTAL

Os princípios ambientais não podem ser verdades absolutas – como nada no Direito –

e para a aplicação deles, é necessário estabelecer critérios de razoabilidade na sobreposição da

relação entre agente poluidor e atividade poluidora: o nexo causal que liga ambas, donde

resultam as teorias do risco criadas no direito do ambiente. Sob qual nível de risco o agente

deve responder pela sua conduta danosa? Para Martins da Cruz49, as teorias da causalidade

nada mais são do que mecanismos criados pelo Direito para facilitar a obtenção da prova na

imputação objetiva.

5.1 Teoria do risco proveito

A teoria do risco proveito50 se baseia na concepção de que quem retira benefícios de

uma determinada atividade, é responsável por arcar com o ressarcimento dos danos oriundos

dela, sendo uma clarificação do PPP. Esta é uma teoria abarcada por muitas críticas, e a

primeira refere-se ao seu sentido amplo, pois toda atividade gera proveito àquele que a

pratica, seja econômico ou moral.

Se se visualizar de uma forma estrita, estrita também seria a aplicação da teoria, que

seria imposta somente àqueles que retiram benefícios financeiros de uma determinada

atividade, restringindo a responsabilidade dos danos ambientais apenas aos comerciantes e

industriais produtores de resíduos sólidos, afastando-a de todos as outras classes que,

obviamente, também produzem ou, de alguma forma, manejam resíduos.

O nexo causal entre conduta e dano seria o fato de o agente retirar proveito da

atividade, excluindo-se todas as outras possibilidades em que um operador de resíduos os

maneja e acaba por lesionar o bem. A consequência disto é que a maior parte dos danos

ficaria impune, mesmo porque existe uma grande dificuldade de identificar o responsável pela

conduta e o seu nexo de causalidade com esta.

Limitando o âmbito da teoria, teríamos ainda a dificuldade de se fazer a prova do

alcance do benefício econômico, prova esta que processualmente seria imputada à vítima,

49 MARTINS DA CRUZ, Branca. Responsabilidade civil pelo dano ecológico – alguns problemas. In: Actas do I Congresso Internacional de Direito do Ambiente da Universidade Lusíada. Porto: ILDA, 1996, p. 217. 50 Em diálogo com o pensamento de VILELA, Gracielle Carrijo; RIEVERS, Marina. Direito e meio ambiente: reflexões atuais. Belo Horizonte: Fórum, 2009, p. 438.

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acarretando empecilhos desnecessários à concretização da responsabilidade civil pelos danos

ambientais51.

Aqui seria possível atribuir fatores de exclusão ou diminuição da responsabilidade,

como nas situações de caso fortuito, força maior e fatores em que a própria vítima contribui

para o dano, por exemplo, dificultando a aplicabilidade da responsabilização do agente

poluidor.

5.2 Teoria do risco criado

Ampliando um pouco o âmbito de atuação, temos a teoria do risco criado52, que

imputa a responsabilidade àquele que a desenvolve, independente de dela retirar benefícios ou

não, desde que a atividade tenha potencialidade de causar danos, coletivos ou individuais. Ou

seja, o âmbito desta teoria é se a atividade é potencialmente poluidora ou não. Se ela é

passível de expor os indivíduos a um risco de dano, se ela provoca riscos por si só,

independente de que tenha havido culpa stricto sensu, então haverá a imputação da

responsabilidade civil.

E, neste caso, a prova do dano não é imputado à vítima, pois a responsabilidade é

determinada pelo risco que a atividade provoca, e aquele que a desenvolve deve arcar com as

consequências da mesma, havendo culpa ou não.

Este é o caso de Portugal, que adota, em matéria ambiental, tanto a responsabilidade

subjetiva quanto a objetiva, mas esta última, isto é, a responsabilidade imputada ao agente

independentemente de culpa, só se consubstancia se – e apenas se – a atividade for

especialmente perigosa, nos termos da lei53.

Como anteriormente demonstrado, a gestão de resíduos é por si só uma atividade com

um alto risco de poluição, e, sendo assim, o regime jurídico-ambiental assume uma forte

presunção de risco de dano, imputando a responsabilidade consequencial da atividade ao seu

gestor, independente de que este tenha agido com culpa ou não. É necessário que o direito do

ambiente trabalhe com presunções sobremaneira fortes, tal como esta, na aplicação da

responsabilidade civil por dano ao ambiente, pois, se não o fizesse, seria extremente árduo

fazer a prova da causalidade e da imputação do dano, resultando, quase na totalidade, de

danos efetivos, mas não ressarcidos.

51 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 144 apud VILELA, Gracielle Carrijo; RIEVERS, Marina. Direito e meio ..., cit., p. 439. 52 VILELA, Gracielle Carrijo; RIEVERS, Marina. Direito e meio ..., cit., p. 439. 53 Artigo 12º do DL-PT 147/2008, que remete à listagem de condutas perigosas no seu anexo III.

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Com a edição do DL-PT 147/200854, o legislador aplicou a teoria de “causalidade

ambientalmente adequada”, que se firma num “critério de verossimilhança e probabilidade”,

considerando-se as “circunstâncias do caso concreto e, considerando, em especial, o grau de

risco e de perigo e a normalidade da ação lesiva” (grifos nossos) e, ainda, “a possibilidade de

prova científica do percurso causal e o cumprimento, ou não, de deveres de proteção”,

ampliando a teoria da causalidade aplicada em terras lusitanas e conservando a

responsabilidade pelo risco a casos excepcionais.

Segundo Leitão55, o agente responde objetivamente pelos danos causados no caso de

ações especialmente perigosas, mesmo que ele prove que se serviu de todos os meios a que

lhe eram possíveis para prevenir e evitar o dano.

O número 1 do artigo 2º do referido decreto português, prevê que o agente deve ser

responsável pelo seus próprios danos, no exercício de uma qualquer atividade econômica,

seja ela lucrativa ou não. Amado Gomes56, neste ponto, critica o legislador, pois, segundo a

autora, “a reparação do dano deveria ser imputável a qualquer responsável devidamente

identificado, desenvolvendo ou não uma atividade econômica”, ainda que esta seja diversa

das listadas no anexo III, opinião do qual nós nos perfilamos, pois, ambientalmente falando,

mais eficaz seria a responsabilidade objetiva baseada na teoria do risco integral, como

veremos a seguir.

5.3 Teoria do risco integral

Aqui, a responsabilidade é imputada integralmente ao agente que pratica a atividade,

pois, segundo esta teoria57, toda atividade é capaz de criar riscos de dano para outrem. A

prática da atividade, por si só, já abarca a imputação da responsabilidade, independente de

qualquer tipo de culpa. A responsabilidade civil objetiva integra este modelo de risco,

obrigando o agente a arcar com o risco total da sua atividade.

Neste aspecto, é necessário que haja o efetivo dano e o nexo de causalidade, não se

levando em conta a conduta do agente, nem excludentes. Isto significa que o único meio de se

escapar da teia da responsabilidade é comprovando que não tenha havido um dano ambiental

54 Artigo 5º do DL-PT 147/2008. Também SILVA, Vasco Pereira da. Ventos de mudança no direito do ambiente. In: O que há de novo no ambiente? Actas das Jornadas de direito do ambiente. Lisboa: AAFDL, 2009, p. 21. 55 LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. A responsabilidade civil por danos causados ao ambiente. In: Actas do Colóquio “A responsabilidade civil por dano ambiental”. Lisboa: AAFDL, 2009, p. 32. 56 AMADO GOMES, Carla. Direito administrativo do ..., cit., p. 245. 57 VIANNA, José Ricardo Alvarez. Responsabilidade civil por ..., cit., p. 100.

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ou que o agente não é o responsável pela respectiva atividade. Fora isto, a indenização pelo

dano é certeira58.

A dificuldade é provar quem é o causador do dano, principalmente porque o dano

pode ser cumulativo ou produzido por mais de uma empresa. Determinar a culpa exclusiva de

uma empresa é muito difícil e é por isso que o regime da responsabilidade brasileira adota a

teoria do risco integral, responsabilizando todas as empresas que somaram na produção do

dano, ampliando o conceito de nexo causal cabível.

A causalidade, então, resulta do princípio da imputação (dado um pressuposto, têm-se

uma consequência) e constitui o dever de reparação à coletividade. Através da rigorosidade da

lei, o empreendedor vê-se obrigado a se adequar às medidas de prevenção e precaução de

danos ambientais, que devem ser sempre observadas na execução de uma atividade, dando

efeito ao princípio do poluidor-pagador.

Esta é uma concepção mais extremada, que não admite qualquer forma de exclusão da

responsabilidade e deve-se indenizar, inclusive, sem nexo causal. O nexo causal aqui é a

prática da atividade. Se o agente pratica a atividade, responde integralmente pelas

consequências geradas, mesmo que a atividade seja regularmente licenciada pela

Administração Pública59.

A teoria do risco integral responsabiliza as empresas que exercem a atividade que

possa ter dado causa à poluição, podendo, inclusive, imputar mais de uma empresa pelo dano.

E, caso haja um excesso na divisão de responsabilidades, caberá a competente ação de

regresso, onde o juiz poderá mesurar o nível de culpa com que cada agente concorreu. O que

jamais poderíamos permitir é que o dano ficasse sem reparação alguma em prol da

interminável discussão – como bem sabemos, a morosidade é uma característica bem atual

dos tribunais – de divisão de responsabilidades judiciais60.

O meio ambiente precisa de respostas imediatas, sob pena de se ver a lesão cada vez

mais agravada. Sob a importante perspectiva da manutenção do equilíbrio ecológico, mister se

faz que a sociedade tenha uma baixa tolerância em relação a este tipo de dano, obrigando o

agente a assumir totalmente os riscos de sua atividade.

58 “Não se pode pensar em outra malha que não seja a malha realmente apertada, que possa, na primeira jogada da rede, colher todo e qualquer possível responsável pelo prejuízo ambiental”. FERRAZ, Sérgio. Direito ecológico, perspectivas e sugestões. In: Revista de direito ambiental. São Paulo, ano 2, v. 8, out/dez/1997, p. 48. apud VIANNA, José Ricardo Alvarez. Responsabilidade civil por ..., cit., p. 102. 59 VILELA, Gracielle Carrijo; RIEVERS, Marina. Direito e meio ..., cit., p. 438-441. 60 VIANNA, José Ricardo Alvarez. Responsabilidade civil por ..., cit., p. 100.

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A legislação brasileira adotou esta teoria, estreitando a possibilidade de se escapar à

teia da responsabilidade, no parágrafo 1º do artigo 14 da Lei 6.938/81, ou seja, adotou a

objetividade da responsabilização, por meio da adoção da teoria do risco integral.

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6 RESPONSABILIDADE CIVIL

6.1 Responsabilidade civil subjetiva

A responsabilidade civilista clássica diz que aquele que causa dano a outrem, fica

obrigado a repará-lo, baseando-se na culpabilidade do agente, porém, nos casos especificados

em lei ou quando a atividade a ser desenvolvida implique, por sua própria natureza, em risco

para os direitos alheios – ou seja, em caráter excepcional – esta responsabilidade pressupõe-se

independentemente de culpa. Assim é disposto nos Códigos Civis português e brasileiro, nos

artigos 483º e 927, respectivamente. Mas para que se fale em responsabilidade civil é, em

regra, preciso haver dano, nexo causal e conduta culposa (lato sensu) do agente.

Portanto, o primeiro requisito da responsabilidade civil, tanto subjetiva quanto

objetiva, é que efetivamente exista um dano. Não poderia haver dever de reparação e

indenização sem que se concretizasse um dano a ser compensado. Portanto, o quesito dano –

in casu, ao ambiente – é circunstância absolutamente necessária para que se possa falar em

responsabilidade. Como anteriormente demonstramos, no âmbito dos resíduos sólidos e de

sua gestão, os danos podem advir de muitas formas.

Mas demonstrar e provar o nexo causal entre o dano ao ambiente e a conduta do

agente é tarefa árdua aos operadores do direito. O artigo 5º do DL-PT 147/2008 rege que:

[...] a apreciação da prova do nexo de causalidade assenta num critério de verosimilhança e de probabilidade de o fato danoso ser apto a produzir a lesão verificada, tendo em conta as circunstâncias do caso concreto e considerando, em especial, o grau de risco e de perigo e a normalidade da ação lesiva, a possibilidade de prova científica do processo causal e o cumprimento, ou não, de deveres de proteção.

Em Portugal, já houve críticas à ausência do legislador na hora de estabelecer a

presunção legal de causalidade, mas, segundo Leitão61, a norma está descrita de forma

satisfatoriamente abrangente para que o juiz possa, ele próprio, estabelecer estas presunções.

Quanto à conduta, quando ela esteja envolta na culpa lato sensu, haverá a

responsabilidade civil subjetiva62, que, na teoria clássica, é a regra. Entre a conduta do agente,

seja ela comissiva ou omissiva, e o resultado danoso, é a existência de um comportamento

61 LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. A responsabilidade civil ..., cit., p. 40. 62 No direito brasileiro, ver VIANNA, José Ricardo Alvarez. Responsabilidade civil por ..., cit., p. 77. ALBERGARIA, Bruno. Direito ambiental e a responsabilidade civil das empresas. Belo Horizonte: Fórum, 2005, p. 135-136. No direito português, ANTUNES, Tiago. Da natureza jurídica ..., cit., p. 147.

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culposo ou doloso que vai determinar a responsabilidade civil do agente. Mister é fazer a

prova da culpa lato sensu do agente na ocorrência do dano.

Se o agente atua de forma voluntária e deliberada, consciente que o ato que pratica

poderá resultar num dano ao ambiente (dolo) ou, se o dano ocorre por imprudência,

negligência ou imperícia por parte do particular (culpa stricto sensu), haverá então a

responsabilização subjetiva, onde o agente arca com as consequências de seus atos. Aqui, não

basta que haja o dano, mas é necessário também que o agente tenha concorrido para o

resultado, como, por exemplo, quando ele se escusa de tomar os cuidados devidos.

Para Leitão63, para que haja responsabilidade civil subjetiva, é preciso preencher

cumulativamente os seguintes requisitos: que o agente pratique um fato voluntário, que este

fato seja ilícito (no sentido de violar direitos subjetivos ou normas protetivas de interesses

alheios), que a sua conduta seja censurável (culpa lato sensu), que exista um dano ao

ambiente, e que, por fim, este dano seja decorrente da conduta praticada, satisfazendo o nexo

de causalidade entre eles.

Em Portugal, na matéria ambiental, a responsabilidade civil subjetiva é prevista no

artigo 8º do DL 147/200864, que disciplina que todos aqueles que não constem no anexo III da

norma respondem de forma subjetiva. E, em matéria de responsabilidade administrativa por

danos ambientais, o legislador português previu a necessidade de culpa do agente no artigo

13º do referido decreto.

Ainda com base nesta normativa, o legislador português, no caso de poluição difusa,

onde esteja estabelecido o nexo de causalidade entre os danos e as atividades lesivas, no

artigo 3º e 4º, optou por responsabilizar solidariamente os respectivos diretores, gerentes ou

administradores, no caso de o dano ser provocado por uma pessoa coletiva, dispondo a cada

um dos agentes a responsabilidade de forma igual (sem prejuízo da competente ação de

regresso), mas, segundo Leitão65, mais válido seria se a solução fosse responsabilizá-los de

acordo com a suas quotas de mercado na empresa.

Mas quando falamos de meio ambiente, a dificuldade de se comprovar a culpa do

agente é tarefa árdua, e este é o motivo pelo qual o Brasil adota a teoria do risco integral, e

63 LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. A responsabilidade civil ..., cit., p. 25. 64 DL-PT 147/2008. Art. 8º: “Quem, com dolo ou mera culpa, ofender direitos ou interesses alheios por via da lesão de um componente ambiental fica obrigado a reparar os danos resultantes dessa ofensa”. Art. 13º: “1 – O operador que, com dolo ou negligência, causar um dano ambiental em virtude do exercício de qualquer actividade ocupacional distinta das enumeradas no anexo III ao presente decreto -lei ou uma ameaça iminente daqueles danos em resultado dessas actividades, é responsável pela adopção de medidas de prevenção e reparação dos danos ou ameaças causados, nos termos dos artigos seguintes. 2 — O disposto no número anterior não prejudica a responsabilidade a que haja lugar nos termos definidos no capítulo anterior.” 65 LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. A responsabilidade civil ..., cit., p. 40-41.

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assim a responsabilidade ambiental será objetiva, confome o art. 14, § 1º da Lei 6.938/81.

Com a adoção da teoria do risco integral, há uma ampliação do nexo causal adotado, que se

determina segundo o princípio da imputação, onde, dado um determinado fato, presume-se o

seu resultado decorrente. Essa excepcionalidade que é a responsabilidade objetiva, abrange a

tutela do ambiente, pela peculiaridade da matéria.

6.2 Responsabilidade civil objetiva

No direito dos resíduos, a responsabilidade apregoada é objetiva, desde logo instituída

pelo legislador no DL-PT 147/2008, tanto em caráter privado quanto público

(responsabilidade da Administração Pública). O decreto rege, nos seus artigos 7º e 12º, que,

aquele que ofende direitos ou interesses alheios através de um dano a um componente

ambiental, fica obrigado a reparar as lesões acometidas, independente de que tenha agido sem

dolo ou culpa. O legislador caracteriza as atividades no anexo terceiro da lei, ao qual os

artigos fazem remissão, e que, devido a sua pericolosidade, são atribuídas uma

responsabilidade objetiva: dentre estas atividades, se inclui a gestão dos resíduos66.

Tal anexo determina que as operações de gestão de resíduos, incluindo a recolha, o

transporte, a recuperação e a eliminação de resíduos e resíduos perigosos, abrangendo

também a supervisão dessas operações e o tratamento posterior dos locais de eliminação, e,

ainda, a exploração de aterros, todas sujeitas a licença ou registro, são de responsabilidade

objetiva.

E o DL-PT 178/2006, que regula especificamente os resíduos, atribui as titularidades

(e, claro, as responsabilidades) caso a caso, regulando que a gestão do resíduo constitui parte

integrante do seu ciclo de vida, sendo, primeiramente, da responsabilidade do respectivo

produtor, com exceção dos resíduos sólidos urbanos com produção inferior a 1.100 litros por

produtor, onde a responsabilidade se transfere ao respectivo município. Quando não se é

possível dizer ao certo quem o produz, a responsabilidade cai então sob quem o detém.

66 DL-PT 147/2008. Art 7º. “Quem, em virtude de uma atividade econômica enumerada no anexo III ao presente decreto-lei, que dele faz parte integrante, ofender direitos ou interesses alheios por via da lesão de um qualquer componente ambiental é obrigado a reparar os danos resultantes dessa ofensa, independentemente da existência de culpa ou dolo”. Artigo 12.º: “1 — O operador que, independentemente da existência de dolo ou culpa, causar um dano ambiental em virtude do exercício de qualquer das actividades ocupacionais enumeradas no anexo III do presente decreto -lei ou uma ameaça iminente daqueles danos em resultado dessas actividades, é responsável pela adopção de medidas de prevenção e reparação dos danos ou ameaças causados, nos termos dos artigos seguintes. 2 — O disposto no número anterior não prejudica a responsabilidade a que haja lugar nos termos definidos no capítulo anterior.”

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Em relação aos resíduos provenientes de áreas externas, introduzidos em território

nacional, a sua gestão recai sobre quem os importa. Mas todas essas responsabilidades se

extinguem quando os resíduos são transferidos e entregues a quem, licenciadamente, opera e

maneja os sistemas de gestão de fluxo67 e de resíduos.

Uma vez que a gestão de resíduos, sejam eles perigosos ou não, é uma atividade di per

si altamente poluidora, atribuindo quase sempre impactos negativos ao ambiente, o legislador,

acertadamente, determinou a responsabilidade objetiva àqueles que, de alguma forma, lidam

com este tipo de atividade.

Assim, o titular da gestão residual é responsável pela prevenção de danos ao ambiente,

e também pela sua reparação, independente de que tenha agido sem dolo ou culpa. Se o

resíduo sólido provoca um dano ambiental ou ecológico, o titular é obrigado a repará-lo,

mesmo que não tenha tido uma conduta censurável ou menos cuidadosa. Mas Antunes68,

neste aspecto, critica o legislador por não estabelecer exatamente o limite do “até onde” – ou,

“até quanto” – os operadores devem responder por danos que não foram culpados.

Toda esta responsabilidade advém da Lei de Bases do Ambiente, que, já em 1987,

previa a responsabilidade objetiva no seu artigo 41º, em casos de “danos significativos ao

ambiente” decorrentes de “atividades especialmente perigosas”. A própria LBA, no seu artigo

8º e seguintes, descreve uma série de lesões ambientais, dando enredo ao conceito do que

seriam os “danos significativos” por ela tutelados e mostrando o nível de gravidade

ambientalmente lesiva que se pretende socialmente refutar69.

Como a gestão de resíduos é uma atividade que, inevitavelmente, deve-se considerar

perigosa, pela sua capacidade de lesionar o ambiente tanto por via do solo e da água quanto

pelo ar, assim, também o legislador brasileiro determinou uma responsabilidade objetiva, o

que, em matéria ecológica, não poderia ser diferente.

Primeiramente, a Política Nacional do Meio Ambiente determina as atividades

potencialmente poluidoras no seu anexo VII70 e dentre elas a gestão dos resíduos.

67 Gestão de fluxos diz respeito a “tipos de produtos componentes de uma categoria de resíduos transversais a todas as origens, nomeadamente embalagens, eletrodomésticos, pilhas, acumuladores, pneus ou solventes”, segundo o artigo 3º, alínea m, do DL-PT 178/2006. 68 ANTUNES, Tiago. Da natureza jurídica ..., cit., p. 147. 69 Para mais, LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. A responsabilidade civil ..., cit., p. 29. 70 O anexo VII da Lei-BR 6.938/81 institui como categoria de serviços de utilidade, com potencial médio de poluição, “o tratamento e destinação de resíduos industriais líquidos e sólidos; disposição de resíduos especiais tais como: de agroquímicos e suas embalagens; usadas e de serviço de saúde e similares; destinação de resíduos de esgotos sanitários e de resíduos sólidos urbanos, inclusive aqueles provenientes de fossas; dragagem e derrocamentos em corpos d’água; recuperação de áreas contaminadas ou degradadas”.

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No artigo71 14, § 1º, rege a questão da responsabilidade objetiva, regulamentando que fica o

poluidor obrigado a indenizar ou reparar os danos por ele causados ao ambiente e a terceiros,

decorrentes de sua atividade, independente de conduta culposa, adotando explicitamente a

teoria do risco integral72.

Com a edição da nova Política Nacional de Resíduos Sólidos, o legislador determina a

necessidade de planos de gerenciamento dos resíduos nas esferas nacional, estadual,

microregional, intermunicipal, municipal e de atividades privadas, atribuindo a cada qual as

suas metas e proposições na diminuição do impacto ambiental gerado pelo lixo. E também

estão sujeitos à elaboração do plano de gerenciamento de resíduos, pelo qual são responsáveis

nos termos do artigo 2773 da lei, os geradores de resíduos: de saneamento básico, industriais,

serviços de saúde, mineração, e aqueles provenientes de construção civil, de serviços de

transporte e agrossilvopastoris e, ainda, de estabelecimentos comerciais e de prestação de

serviços que gerem resíduos perigosos (ou que não se equiparem a resíduos sólidos urbanos).

E, na gerência dos resíduos, o artigo 51 da lei prevê a responsabilidade objetiva, no

qual as pessoas físicas ou jurídicas, por suas ações ou omissões que importem inobservância

aos preceitos da lei dos resíduos (em especial, a inobservância das normativas dirigidas aos

planos de gerenciamento), ficam obrigadas a reparar os danos por elas causados,

independentemente de culpa. E institui a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida

dos produtos, desde o fabrico até a eliminação, consoante as atribuições de cada um.

Dadas as grandes dificuldades de se atribuir a titularidade dos danos ao ambiente, se

justifica a responsabilização civil objetiva. Nada mais natural que assim o seja, no campo

ecológico, e, ainda mais especificamente, no dos resíduos, em que os danos resultantes da sua

má gestão se difundem por toda a coletividade e que, ainda que os resíduos sejam

devidamente tratados, sempre irão exalar poluição, nunca alcançando um nível zero. Os

resíduos sólidos sempre irão provocar algum tipo de poluição, que deve ser rigorosamente

controlada para não exceder o limite do tolerável.

71 Lei-BR 6.938/81. Art. 14. “Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não-cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores: (...) §1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente de existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados pela sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal por danos causados ao meio ambiente.” 72 A Lei-BR 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública), em seu artigo 1º, inc. I, é que disciplina a ação processual correspondente aos danos morais e patrimoniais causados ao meio ambiente. 73 O parágrafo primeiro do referido artigo 27 diz que “a contratação de serviços de coleta, armazenamento, transporte, transbordo, tratamento ou destinação final de resíduos sólidos, ou de disposição final de rejeitos, não isenta as pessoas físicas ou jurídicas referidas no art. 20 da responsabilidade por danos que vierem a ser provocados pelo gerenciamento inadequado dos respectivos resíduos ou rejeitos”.

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Com uma sociedade de grande consumo e produção, os resíduos são gerados em alta

escala e resta difícil determinar ao certo quem os produziu e mais, devido ao seu longo ciclo

de vida desde o fabrico de um produto à sua eliminação, a dificuldade se amplia sobremaneira

em determinar legalmente a quem constitui a responsabilidade. Muitas vezes os danos

ambientais e ecológicos só repercutirão no futuro, dificultando ainda mais a titularidade. E é

por isto que o legislador adota, no caso dos resíduos, a responsabilidade objetiva, atribuindo a

incumbência de responder pelos danos oriundos de sua atividade, independente de que este

tenha agido com dolo ou culpa.

O sistema tradicional da responsabilidade civil não funciona no campo ambiental, pois

devido à difusão do dano, as pessoas atingidas passam a ser incertas e indeterminadas,

tornando penosa a concretização da responsabilidade74. Mais difícil ainda seria a

responsabilidade por omissão, se, porventura, o agente deixasse de realizar um dos requisitos

do plano de gestão dos resíduos. Assim, através da responsabilidade objetiva, tanto a ação

quanto a omissão são ensejadoras da obrigação de resposta pelos danos.

Com a aplicação da teoria do risco integral, em que a responsabilidade é de quem

pratica a atividade, a reparação dos prejuízos ambientais se torna mais fácil, obrigando o

gestor a responder pelos efeitos advindos dos seus atos. Tal é aplicável às atividades em que o

legislador considera de riscos poluentes altos e de grande capacidade de danos a outrem e ao

ambiente em si, atribuindo a estas uma forte presunção de atividade poluidora.

E esta presunção se traduz na responsabilidade do agente, mesmo que este não aja com

culpa, mesmo que ele observe os parâmetros legais de cuidado, obrigando-o a assumir os

riscos de reparar os danos consequenciais do exercício da sua atividade. Mas este tipo de

responsabilidade só pode ser atribuída quando haja a sua previsão legal, por ser um modelo

excepcional75.

74 VIANNA, José Ricardo Alvarez. Responsabilidade civil por ..., cit., p. 77. “Nem todos os países adotam o sistema de responsabilidade objetiva em matéria ambiental. Neste particular, a legislação brasileira está muito mais adiantada do que diversos países europeus. Em verdade, a responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, em muitos países europeus, por exemplo, está fundada na culpa, sendo, portanto, subjetiva. Sabemos, entretanto, que a apuração da culpa, em cada caso concreto, é uma tarefa que, processualmente, é bastante árdua. Ademais, quando se trata de culpa por omissão, as dificuldades se ampliam sobremaneira.” ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. Rio de Janeiro: Lumen Iuris, 1994, p. 11 apud VIANNA, José Ricardo Alvarez. Responsabilidade civil por ..., cit., p. 93. 75 ALBERGARIA, Bruno. Direito ambiental ..., cit., p. 138.

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7 DOS EFEITOS DA RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL

7.1 Da recomposição e compensação natural

O principal objetivo do direito do ambiente é a prevenção e a precaução dos danos

ambientais, mas quando isto não seja mais possível, deve-se passar à reconstituição ou

reparação76 do ambiente lesado. O instituto da responsabilidade civil em matéria ambiental é

utilizado como forma, primeira, de fazer com que o poluidor arque com os custos da sua

poluição (PPP), restituindo ao ambiente, de maneira igualitária, aquilo que foi lesado.

Assim, o propósito inicial da responsabilidade civil é que o poluidor repare os danos

cometidos, como forma de indenização pelos prejuízos causados. E este é um ponto quase que

universalmente consensual em todos os sistemas jurídicos que prevêm a responsabilidade

civil ecológica77.

Dado um dano ambiental, dá-se a necessidade de reparação. E a regra é que esta

reparação seja feita de forma integral – restitutio in integrum –, restituindo ao meio ambiente

todos os danos que porventura foram causados78. O escopo é a tentativa de se restituir

completamente o status quo ambiental, restaurando os danos advindos como se não

houvessem sido praticados, buscando a recomposição, a restauração e a reintegração do

equilíbrio natural.

Assim, se os resíduos sólidos poluíram um rio, mister se faz que o agente trabalhe na

despoluição e na recolha do lixo que tenha sido ali despejado, se provocou danos à vegetação

ao redor, que se faça o replantamento arbóreo em conformidade com as exigências legais, e

assim por diante, recompondo os elementos ambientais danificados pela poluição residual.

O meio ambiente tem como característica a sua auto-recomposição, mas isto se dá

num processo lento e que, muitas vezes, delonga anos. Um ambiente lesado permanecerá

lesado, mas quando se age para restaurar os danos, possibilita-se à natureza regressar, ainda

que morosamente, ao seu ciclo normal e de perfeito equilíbrio.

Nada mais natural que a lei preveja a recomposição natural do dano, que se baseia,

primeiramente, no instituto da responsabilidade civil clássica. A legislação portuguesa prevê,

76 Também chamados reparação primária e reparação complementar. Sobre a matéria após o DL-PT 147/2008, ver OLIVEIRA, Heloísa. A restauração natural no novo regime de responsabilidade civil por danos ambientais. In: Actas do Colóquio “A responsabilidade civil por dano ambiental”. Lisboa: AAFDL, 2009. 77 CUNHAL SENDIM, José de Sousa. Responsabilidade civil por ..., cit., p. 153. 78 VIANNA, José Ricardo Alvarez. Responsabilidade civil por ..., cit., p. 138-139.

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em âmbito ecológico, no artigo 48º da LBA79 e no DL 147/0880, no artigo 11º, n.º 1, alínea n,

que remete ao anexo V da lei. E os artigos 15º e seguintes prevêm as medidas de reparação

nos termos da lei. A Lei de Resíduos81 também prevê expressamente a reposição da situação

anterior, no artigo 69º. Na perspectiva brasileira, a recomposição encontra amparo no artigo

4º, inc. VII e artigo 14, § 1º da Lei 6.938/8182 e na Política Nacional de Resíduos83, no artigo

51.

De tal maneira, a intenção primeira é de que haja a recomposição natural à situação

anterior. Porém, uma vez que os bens ambientais têm um caráter amplo e complexo, nem

sempre essa reparação se revela fácil e de solução imediata. Pode-se dar que o dano tenha sido

de tal magnitude, que não haja mais volta a dar. Pode acarretar na extinção de uma espécie

animal ou, devido ao alto nível de poluição, na destruição da capacidade auto-regenerativa

própria ao ambiente, revelando-se em danos irreversíveis para o ambiente84.

A dificuldade de recomposição torna-se cada vez maior. Mas tal não é justificativa

para não haver reparação, ao invés disso, revela-se uma necessidade de cuidado e de 79 LBA. Art. 48. “Obrigatoriedade de remoção das causas da infração e da reconstituição da situação anterior. 1 – Os infratores são obrigados a remover as causas da infração e a repor a situação anterior à mesma ou equivalente, salvo o disposto no n.º 3. 2 – Se os infratores não cumprirem as obrigações acima referidas no prazo que lhes for indicado, as entidades competentes mandarão proceder às demolições, obras e trabalhos necessários à reposição da situação anterior a expensas dos infratores”. 80 DL-PT 147/08. Art. 11º, n.º 1, n: «Medidas de reparação» qualquer acção, ou conjunto de acções, incluindo medidas de carácter provisório, com o objectivo de reparar, reabilitar ou substituir os recursos naturais e os serviços danificados ou fornecer uma alternativa equivalente a esses recursos ou serviços, tal como previsto no anexo V ao presente decreto-lei, do qual faz parte integrante”. E o anexo V institui: “O presente anexo estabelece um quadro comum a seguir na escolha das medidas mais adequadas que assegurem a reparação de danos ambientais. 1 — Reparação de danos causados à água, às espécies e habitats naturais protegidos. — A reparação de danos ambientais causados à água, às espécies e habitats naturais protegidos é alcançada através da restituição do ambiente ao seu estado inicial por via de reparação primária, complementar e compensatória, sendo: a) «Reparação primária» qualquer medida de reparação que restitui os recursos naturais e ou serviços danificados ao estado inicial, ou os aproxima desse estado; 81 DL-PT 178/2006. Art. 69º: “1—Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, o infractor está obrigado a remover as causas da infracção e a reconstituir a situação anterior à prática da mesma. 2—Sempre que o dever de reposição da situação anterior não seja voluntariamente cumprido, as entidades competentes para a fiscalização actuam directamente por conta do infractor, sendo as despesas cobradas coercivamente através do processo previsto para as execuções fiscais”. 82 Lei-BR 6.938/81. Art. 4º: “A Política Nacional do Meio Ambiente visará: VII - à imposição, ao poluidor e ao redador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados, e ao usuário, de contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos”. Art. 14, § 1º: “Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente”. 83 Art. 51. “Sem prejuízo da obrigação de, independentemente da existência de culpa, reparar os danos causados, a ação ou omissão das pessoas físicas ou jurídicas que importe inobservância aos preceitos desta Lei ou de seu regulamento sujeita os infratores às sanções previstas em lei, em especial às fixadas na Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que ‘dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências’, e em seu regulamento”. 84 VIANNA, José Ricardo Alvarez. Responsabilidade civil por ..., cit., p. 139. Também LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. A responsabilidade civil ..., cit., p. 36.

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elaboração de sistemas diversos na busca pela restauração e recomposição do ambiente

lesado.

Assim, quando não for possível reconstituir o ambiente à sua condição anterior, deve-

se aplicar a compensação, em termos semelhantes, aos bens ambientais danificados, buscando

neutralizar os efeitos danosos. A melhor alternativa é a recomposição, mas a compensação

também pode recuperar o equilíbrio ecológico, dando ao ambiente de forma proporcional

àquilo que se danificou85.

Ou seja, se se devastou um pedaço de mata para construir um aterro sanitário e,

naquele local, não é mais possível plantar porque já houve a construção, ou por qualquer outro

motivo, o certo é que, através da compensação, esse replanteio de árvores seja feito num local

próximo, ou, ás vezes, até mesmo distante, mas que, pela característica integracional do meio

ambiente, fará com que se contrabalanceie o que do ambiente se retirou, sendo uma forma de

se responsabilizar o poluidor e restituir ao ambiente.

7.2 Da indenização pecuniária como forma de compensação

Algumas vezes, a compensação não se dá somente de forma ambiental, mas também

de forma financeira, impondo ao poluidor o custo de seus atos com base no princípio do

poluidor-pagador (a recomposição e a compensação natural também se baseiam neste

princípio). A indenização tem como objetivo social evitar condutas que atinjam o ambiente e,

cumulativamente, dar uma resposta econômica à vítima do dano, seja ele o ambiente em si, no

caso de dano ecológico, ou pessoas consideradas, no caso de dano ambiental86.

As legislações de responsabilidade civil só admitem a indenização pecuniária quando

não seja possível a restauração natural87. Embora os bens ambientais não sejam res in

commercio, ou seja, bens destinados ao comércio, a indenização pecuniária é uma forma de

responsabilizar e sancionar os poluidores por suas lesões ambientais. A indenização passa a

ser assim, entre outros, um modo de sanção pelo ilícito ambiental. O ambiente não é um bem

propriamente fungível, o dano que desequilibra o sistema ecológico não é somente

patrimonial, quantificar uma lesão ambiental é matéria árdua, pois não há preço para se

85 VIANNA, José Ricardo Alvarez. Responsabilidade civil por ..., cit., p. 141. 86 MILARÉ, Édis. Direito do ambiente.., cit., p. 874. 87 LBA-PT. Art. 48º, n.º 3: “Em caso de não ser possível a reposição da situação anterior à infração, os infratores ficam obrigados ao pagamento de uma indenização especial a definir por legislação e à realização das obras necessárias à minimização das consequências provocadas”.

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manter um ambiente ecologicamente sadio88, mas, ainda assim, revela-se um instrumento

eficaz da responsabilidade civil, que concretiza o PPP.

7.2.1 Da dificuldade de se quantificar o dano

Mas daí decorre a problemática: como se quantificar em valores monetários um dano

ao ambiente sadio? Como quantificar finaceiramente as contaminações de lençóis freáticos e

cursos d´água pelo chorume? E o solo infértil advindo do depósito irregular de lixo? Como

medir o grau de poluição e traduzir em moeda a poluição causada pelos gases liberados pelo

lixo mal gerido, que podem provocar alterações climáticas e danos à camada de ozônio? Há,

aqui, uma enorme dificuldade de se dar um “preço” ao ambiente – e ao dano causado89.

Cunhal Sendim90 determina três objetivos fundamentais que fundamentam a tradução

monetária de danos ao ambiente:

a) possibilitar a análise da proporcionalidade das medidas de restauração natural; b) permitir a compensação dos usos humanos afetados durante o período de execução da restauração natural; c) e, permitir a compensação dos danos ecológicos quando a restauração natural se revele – total ou parcialmente –, impossível ou desproporcionada.

O autor diz que, quando a restauração natural não fosse possível, se se deixasse de

compensar – ainda que financeiramente – o meio ambiente, haveria uma inversão dos valores,

pois os danos mais graves e, além disso, os irreversíveis, não seriam restituídos nem de forma

natural, nem de forma monetária, acabando por haver uma ausência absoluta de reparação

ecológica e responsabilidade do poluidor91.

Mas como se determinar o quantum indenizatório? É necessário estabelecer critérios

que satisfaçam a compensação dos danos causados. É permitido ao Tribunal, quando este não

puder fixar exatamente o valor dos danos, julgar buscando uma equivalência, dentro dos

88 CAPONE, Dário; MERCONE, Mário. Diritto ambientale. Napoli: Scientifiche Italiane, 1996, p. 520 apud FREITAS, Vladimir Passos. Constituição Federal e ..., cit., p. 182. 89 VIANNA, José Ricardo Alvarez. Responsabilidade civil por ..., cit., p. 77. 90 CUNHAL SENDIM, José de Sousa. Responsabilidade civil por ..., cit., p. 52. 91 Também neste sentido, LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. A responsabilidade civil ..., cit., p. 27-28.

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limites do que se tenha prova92.

Na procura desta equitatividade, o juiz deve lançar mão de auxílio pericial, já que a

matéria ambiental é específica, e, mais ainda, nos resíduos, onde são necessários

conhecimentos técnicos e especializados dos seus componentes. No Brasil, os peritos têm

buscado estabelecer tabelas básicas de valores de indenização ambiental, que, tomadas como

base, podem ajudar na fixação de um valor justo e ressarcitório do dano93. Mas o juiz tem a

prerrogativa do livre conhecimento motivado, e pode discordar e alterar, no caso concreto, os

valores previamente estipulados, de acordo com as necessidades reais.

Em terras lusitanas, Cunhal Sendim94 também atribui métodos de determinação do

montante indenizatório e diz que o podem ser baseados, primeira e indiretamente, na “análise

de mercados de bens” que têm relação com os bens que se busca avaliar, valorando o meio

ambiente através dos bens que estabelecem relação de analogia com estes. Ou então, tomando

por base as preferências declaradas pelos cidadãos sobre o valor do bem ambiental. A

valoração direta (existe um mercado dos bens) e a indireta (cria-se um mercado hipotético)

também são trazidas nos apontamentos da perita brasileira em engenharia agrônoma, Maria

Letícia de Souza Paraíso, que aponta que o valor econômico dos bens ambientais podem ser

calculados através da fórmula: “valor econômico total = valor de uso + valor de opção + valor

de existência”95.

Sendo que valor de uso será referente à utilização e desfrute do bem pela sociedade,

considerando o seu possível valor de consumo no mercado (como o valor da madeira, por

exemplo). O valor de opção se baseia nos riscos de um eventual inquinamento ambiental e as

92 O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), em acórdão sobre o assunto: “Ementa: AÇÃO CIVIL PÚBLICA - MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO - DIREITO DIFUSO, CONSTITUCIONALMENTE TUTELADO (CF, ART. 225) - DANO AMBIENTAL COMPROVADO - RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA - BASE BINÁRIA (DANO E NEXO CAUSAL) - INDENIZAÇÃO - FUNDO DE DIREITOS DIFUSOS - QUANTUM ARBITRADO DE ACORDO COM A REALIDADE DOS AUTOS - CARÁTER PEDAGÓGICO-PUNITIVO - APELO PROVIDO. 1. Comprovada a base binária - dano ambiental e nexo causal - impõe-se ao infrator a obrigação indenizatória/compensatória, vez que o ordenamento jurídico pátrio, em matéria de direito ambiental (caráter difuso), adotou o regime da responsabilidade civil objetiva - prescindível, pois, a prova da culpa do agente - sendo que as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar o dano. (CF, art. 225, § 3º c/c Lei n. 6.938/1981, art. 14, § 1º). 2. O quantum da indenização destinada ao Fundo de Direitos Difusos apresenta-se condizente com a realidade dos autos, considerados o caráter pedagógico-punitivo da medida, a prova pericial e que não constam quaisquer referência às condições econômico-financeiras do infrator. Deram provimento”. Proc. N.º 1.0400.07.023657-7/001(1). Relator: Nepomuceno Silva. Data da publicação: 08/05/2009. (grifos nossos) 93 FREITAS, Vladimir Passos. Constituição Federal e ..., cit., p. 182. 94 CUNHAL SENDIM, José de Sousa. Responsabilidade civil por ..., cit., p. 170. 95 Os apontamentos da perita são trazidos na obra de VIANNA, José Ricardo Alvarez. Responsabilidade civil por ..., cit., p. 142 e em MORATO LEITE, José Rubens. Dano ambiental: compensação ecológica e dano moral ou extrapatrimonial. Actas das I Jornadas Luso-Brasileiras de direito do ambiente. Lisboa: Instituto do Ambiente, 2002, p. 88.

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suas consequências sobre dados bens, que podem, no futuro, conceber vantagens à sociedade

(como a ampla biodiversidade da Amazônia, por exemplo). E, por fim, mas não por menos, o

valor de existência seria a estima ética da própria existência dos bens ambientais, que são

importantes por si só na manutenção do equilíbrio natural, que temos a obrigação de manter

preservado de acordo com o princípio da solidariedade intergeneracional96.

A autora traz indicações de valoramento, baseando-se em preços de mercado, através

do diferencial de produtividade, que consiste nas diferenças de preços antes e após uma

prática danosa (o aumento do valor da madeira gera aumento de produtividade, mas os efeitos

decorrentes no solo prejudicam a produção agrícola, e geram diminuição de produtividade), e,

ainda, através da perda de ganhos, determina-se anteriormente os custos ambientais que são

necessários para se prevenir os danos, internalizando assim as externalidades geradas.

Mas, apesar das tentativas de se estabelecer padrões e critérios, somente na avaliação

do caso concreto, o juiz poderá medir a dimensão do dano provocado e o valor condizente

com a realidade de cada localidade. A Lei de Crimes Ambientais brasileira ensina que, para se

aplicar a penalidade, deve-se ter em conta a gravidade do fato, em concorrência com os seus

motivos geradores e consequências advindas, com os antecedentes ambientais do poluidor,

buscando saber se ele, via de regra, cumpre ou não a legislação ambiental e, ainda, com a sua

situação econômica97.

96 O princípio se traduz na garantia de um sentimento de identificação com os problemas ambientais que alimentamos na presente geração, mas que se perpetuarão também para as futuras gerações: os nossos filhos e os nossos netos, enquanto o nosso planeta existir. A solidariedade ambiental existe no tempo presente – mas não só neste tempo –, pois também as gerações vindouras possuem o direito e o dever de desfrutar de modo sustentável dos recursos naturais. MILARÉ, Édis. Direito do ambiente..., cit., p. 819-820. 97 Lei-BR 9.605/98, artigo 6º. O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) decidiu neste sentido: “Ementa: AÇÃO CIVIL PÚBLICA - MEIO AMBIENTE - RINHA DE GALO - PRÁTICA CARACTERIZADA - CULPA DOS REQUERIDOS - DANO AMBIENTAL CARACTERIZADO - RECUPERAÇÃO DO DANO - INVIABILIDADE - PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO - REDUÇÃO DO QUANTUM - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. Verificada a existência de dano ambiental e de nexo de causalidade entre a conduta dos requeridos e diante da impossibilidade de recuperação dos animais mal tratados, impõe-se a fixação de indenização. Na fixação da indenização por danos ambientais diante da ausência de laudo pericial sobre o tema devem ser observados os critérios do art. 6º da Lei de Crimes Ambientais (9.605/98), observando-se a gravidade do fato, diante de suas conseqüências para o meio ambiente, os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação ambiental e a situação econômica deste. Recurso provido em parte. Deram provimento parcial”. Proc. nº. 1.0480.03.048490-5/002(1). Relator: Kildare Carvalho. Data da publicação: 12/12/2008. (grifos nossos)

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7.2.2 Fundos ambientais

Nos danos ecológicos, uma vez que não existem lesados individuais, o valor recebido

em caráter indenizatório é atribuído a coletividades, a entes públicos ou a um fundo impessoal

com a finalidade de receber e destinar o valor pecuniário a metas ambientais98.

O fundo ambiental tem por objetivo a utilização do dinheiro para reconstituir os danos

ecológicos, ou destiná-los a ações de política ambiental. No Brasil, o Fundo de Defesa dos

Direitos Difusos (FDD) foi constituído, primariamente, pelo artigo 13 da Lei da Ação Civil

Pública (Lei-BR 7.347/85), que diz que este deve ser gerido por um Conselho Federal ou por

Conselhos Estaduais, sendo necessária a participação do Ministério Público e representantes

da comunidade, e, “enquanto o fundo não seja regulamentado, o dinheiro ficará depositado

em estabelecimento oficial de crédito, em conta com correção monetária”99. Não é um fundo

exclusivamente ambiental, pois trata de todo tipo de dano aos direitos difusos e coletivos no

âmbito nacional, mas nada impede que sejam criados fundos semelhantes de caráter estadual e

específicos à matéria, que podem funcionar de maneira mais próxima da comunidade

lesada100.

Em Portugal, também existe um fundo, mas aqui, a perspectiva é efetivamente

ambiental, assim previsto no artigo 23º do DL-PT 147/2008, e designado como Fundo de

Intervenção Ambiental (FIA)101, que custeia as medidas públicas de prevenção e reparação de

danos ao meio ambiente, com receitas obtidas, primariamente, sobre as garantias financeiras

de atividades poluentes, subtraindo destas um percentual máximo de um por cento, assim

disciplinado na lei.

Logo após, o DL-PT 150/2008 veio regulamentar o FIA e estabeleceu as receitas que o

compõem no artigo 6º, que são, entre outras, os montantes advindos das indenizações e

compensações resultantes das ações de responsabilidade civil (art. 6º, alínea d)102.

Assim, com a criação desses fundos, abre-se uma possibilidade de utilizar o valor

monetário arrecadado por via das ações de responsabilidade, para combater os danos

provocados, reconstruir patrimônios ambientais lesados, aplicar em medidas de prevenção e

98 LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. A responsabilidade civil ..., cit., p. 27. 99 A Lei-BR 9.008/95 é que regulamenta o Fundo de Defesa dos Direitos Difusos. 100 BELTRÃO, Antônio F. G. Manual de direito ambiental. São Paulo: Método, 2008, p. 238. 101 Criado pela Lei-PT n.º 50/2006, de 29 de agosto. 102 AMADO GOMES, Carla. De que falamos ..., cit., p. 156. A autora adverte para a necessidade, num futuro próximo, de estabelecer relação entre o FIA e o Fundo para a conservação da natureza e da biodiversidade, criado pelo DL-PT 171/09, de 3 de agosto.

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precaução, custear atividades de cunho ecológico e, ainda, investir em políticas de informação

social e conscientização ecológica da população, gerindo o dinheiro em prol do ambiente.

7.2.3 Seguros ambientais

Devido ao fato de o sistema preventivo não conseguir resolver sozinho as

problemáticas dos danos ambientais, cada vez mais manifestos na nossa sociedade, uma das

soluções apontadas ao setor empresarial que, inevitavelmente, trabalham com um nível alto de

risco poluidor, se traduz nos seguros ambientais103, que possibilita que as vítimas do dano

sejam ressarcidas de forma justa, ao mesmo tempo em que não prejudica as finanças da

empresa.

Embora seja necessário obrigar as empresas a arcarem com os custos da sua própria

poluição, acontece que, muitas vezes, elas não dão conta de sustentar todo este peso

financeiro, e acabam por falir. O seguro é uma forma de manter as empresas funcionando e

dividir a responsabilidade. Tanto em Portugal quanto no Brasil104, o seguro ambiental é

obrigatório, em caso de atividade com alto risco de poluição e de dano ao ambiente.

Este tem como benefício a circunstância de desestimular condutas negligentes dos

empresários, que são assegurados somente até um determinado valor de prêmio de seguro,

estabelecido conforme o agente tenha mais ou menos potencial de confiança; o que também

contribui para diminuir a carga burocrática do Estado, tanto na altura de controle prévio e

fiscalização da atividade, quanto na de resultados obtidos. E, ainda, tem a vantagem de ser um

instrumento eficaz e de celeridade de soluções, evitando o acúmulo de litígios judiciais.

O seguro ambiental não cobre os danos ecológicos, mas somente aqueles que lesam

pessoas ou coisas de terceiros, garantindo a poluição acidental, mas não aquela que ocorre

gradualmente, pois esta última é um risco da sociedade moderna industrial, que deve criar

mecanismos próprios (principalmente pela via estatal) para solucionar os problemas105.

103 Os seguros ambientais em Portugal, tiveram início no final da década de sessenta, com apólices específicas que cobriam os riscos ambientais, incidindo principalmente em determinadas atividades, mas foi no início da década de setenta, que as seguradoras criaram um novo modelo de apólice, visando especificamente a cobertura de danos relacionados com a poluição. Para mais, ver CUNHA, Paulo. A globalização, a sociedade de risco, a dimensão preventiva do direito e o ambiente. In: Lusíada: revista de ciência e cultura, série de direito, Universidade Lusíada-Porto. N.º 1 e 2. Coimbra: Coimbra editora, 2001, p. 479. 104 Em Portugal, a matéria é disciplinada no artigo 43º da LBA, e no Brasil, no artigo 9, inc. XIII da Lei 6.938/81, e agora também expressamente previsto, no artigo 40 da Lei-BR 12.305/10, a possibilidade de se exigir seguro em casos de licenciamento ambiental de empreendimentos ou atividades que operem com resíduos perigosos. 105 GOMES, Célia; PEREIRA, Eduardo. Seguro de responsabilidade civil poluição. In: Textos: ambiente. Centro de Estudos Judiciários. Lisboa: CEJ, 1994, p. 429.

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Mas não se pode esperar que os seguros ambientais resolvam todos os problemas, mas

é, inegavelmente, um bom remédio. Se o regime jurídico admite a responsabilidade civil por

danos ao ambiente, independentemente de culpa do agente, pelo grau de sua atividade

poluidora, como o é a gestão dos resíduos sólidos, nada mais natural de que lhe seja permitido

transmitir e dividir esta responsabilidade com terceiros106.

106 CUNHA, Paulo. A globalização, a sociedade de risco, a dimensão preventiva do direito e o ambiente. In: Lusíada: revista de ciência e cultura, série de direito, Universidade Lusíada-Porto. N.º 1 e 2. Coimbra: Coimbra editora, 2001, p. 479.

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8 CONCLUSÃO

Através da instituição do novo regime de responsabilidade civil, cumulado com o

regime de gestão dos resíduos sólidos em Portugal, e com o advento da Política Nacional de

Resíduos no Brasil, o direito dos resíduos se torna, em ambas as repúblicas, cada vez mais

aperfeiçoado, regulamentando e estreitando as cordas do setor empresarial quando estes são

obrigados a lidar com os resíduos que produzem.

A sociedade atual de amplo consumo e descarte, gera uma quantidade diária de

resíduos que o planeta não pode suportar sozinho, acarretando em danos ao ambiente, tanto de

caráter estritamente ecológico (quando se lesa os recursos naturais em si), quanto de caráter

patrimonial, lesando bens e pessoas.

Os resíduos sólidos, quando dispostos de forma inadequada, como muitas vezes o são,

abandonados a céu aberto sem o menor tratamento, disseminam doenças à populaçao e

provocam danos ao solo, à água e ao ar, através do chorume e dos gases exalados na

decomposição do lixo.

Dos princípios do direito ambiental, a precaução e a prevenção de danos são dos mais

importantes, pois, como dizia o antigo ditado “é melhor prevenir, do que remediar”. Mas,

infelizmente, a falta de compromisso ecológico da sociedade e, particularmente neste caso, do

setor empresarial, resulta em má gestão dos resíduos, muitas vezes dispostos de qualquer

forma ou simplesmente abandonados sem obediência a qualquer planejamento, acarretando

danos à natureza e à população.

E, conforme vimos, o princípio do poluidor-pagador determina que o poluidor deve

arcar com os custos da sua poluição, responsabilizando-se pelos seus atos e decisões não-

ambientais. Em matéria de dano ao ambiente, quando estes são decorrentes de atividades

geradoras de resíduos, pela sua característica de alto risco de prejuízo ao equilíbrio ecológico,

nada mais poderia ser admitido do que a responsabilização por via objetiva, ou seja,

independentemente de culpa do agente.

É assim que dispõem tanto a legislação portuguesa quanto a brasileira, a primeira nos

Decretos-Leis 147/2008 e 178/2006 e, a segunda, nas Leis 6.938/81 e 12.305/10, instituindo a

obrigação de responsabilizar o produtor do resíduo, quando haja dano, mesmo que este tenha

observado as normas e não tenha agido nem com dolo nem com culpa.

Com o perdão do trocadilho, nada seria mais natural, em matéria de natureza, do que a

responsabilidade objetiva, apregoando o PPP na sua forma mais verdadeira, seja através da

adoção da teoria do risco proveito, como acontece em Portugal, quanto da teoria do risco

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integral, como no Brasil. Nós nos filiamos de que a legislação ambiental, no quesito de

responsabilização civil, deve ser a mais apertada e estreita possível, dado o caráter célere com

que o ambiente se deteriora e a urgente necessidade de reparação e recomposição do mesmo.

Em princípio, a reparação in natura é o grande objetivo do instituto da

responsabilidade civil, ainda que esta reste mais onerosa do que uma simples indenização,

mas, muitas das vezes, não se é possível reparar o dano causado, devido, principalmente, às

peculiaridades dos resíduos, e, mais ainda, dos resíduos perigosos. Ocorre então uma

compensação ambiental, o que também satisfaz os interesses ecológicos, dada a característica

de inter-relação própria do ambiente, restituindo-o por outras vias aquilo que dele se retirou.

Como última possibilidade, a responsabilidade civil gera a obrigação de indenizar

financeiramente o dano, ainda que haja dificuldades de se quantificar em espécie, vez que os

bens ambientais são de valor incalculável: não são res in commercio. Mas, como é melhor

indenizar monetariamente do que nada reparar, os peritos têm desenvolvidos técnicas de

valoração dos danos, e têm sido capazes de auxiliar na definição de um quantum, através dos

valores de uso, de opção e de existência do bem lesado, que devem ser aplicados de acordo

com o caso concreto e os princípios da proporcionalidade e razoabilidade, condenando o

agente a pagar pela sua poluição.

Destes valores ressarcidos pelo dano ecológico, que vão para um fundo ambiental, a

sua utilização reverte-se na reparação de inquinamentos e políticas de meio ambiente,

compensando o dano por meio de outra via, qual seja, a indenização pecuniária.

Mas as indenizações por lesões ambientais são, quase sempre, de valores muito altos e

acabam por prejudicar o capital das empresas, que não têm bases financeiras e

organizacionais para suportar o dispêndio de um ressarcimento indenizatório, em especial, no

caso de pequenas empresas. Assim, uma das soluções que têm vindo a ser aplicadas é o

seguro ambiental, que possibilita o empresário a dividir a responsabilidade com um terceiro,

mantendo assim o perfeito funcionamento da mesma, enquanto repara o equilíbrio ambiental

antes deteriorado.

De tal maneira, satisfaz-se o interesse ambiental e o social (na perspectiva de

manutenção das empresas), permitindo que as responsabilize pelos danos resultantes da má

gestão dos seus resíduos sólidos, obrigando-as a restituir ao meio ambiente aquilo que dele se

extraiu, e, assim, adequando-as às novas necessidades contemporâneas: a atenção ao

ambiente.

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REFERÊNCIAS

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BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de Agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências.

BRASIL. Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985. Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (VETADO) e dá outras providências

BRASIL. Lei nº 7.804, de 18 de Julho de 1989. Altera a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, a Lei nº 7.735, de 22 de fevereiro de 1989, a Lei nº 6.803, de 2 de julho de 1980, e dá outras providências.

BRASIL. Lei nº 9.008, de 21 de Março de 1995. Cria, na estrutura organizacional do Ministério da Justiça, o Conselho Federal de que trata o art. 13 da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985, altera os arts. 4º, 39, 82, 91 e 98 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, e dá outras providências.

BRASIL. Lei nº 9.605, de 12 de Fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências.

BRASIL. Lei nº 11.445, de 5 de Janeiro de 2007. Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico; altera as Leis nos 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 8.036, de 11 de maio de 1990, 8.666, de 21 de junho de 1993, 8.987, de 13 de fevereiro de 1995; revoga a Lei no 6.528, de 11 de maio de 1978; e dá outras providências.

BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de Agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Resolução Conama nº 237/97. Dispõe sobre os procedimentos e critérios utilizados no licenciamento ambiental e no exercício da competência, bem como as atividades e empreendimentos sujeitos ao licenciamento ambiental.

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PORTUGAL. Decreto-Lei 379/93 (alterado pelo Dec.-Lei 103/2003, de 23 de maio) consagrou o regime legal da gestão e exploração do serviço, que veio a ser completado pelos Dec-Leis 294/94, de 16 de novembro, e 319/94, de 24 de dezembro.

PORTUGAL. Decreto-Lei n.º 147/2008. D.R. n.º 145, Série I de 2008-07-29. Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional. Estabelece o regime jurídico da responsabilidade por danos ambientais e transpõe para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 2004/35/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 21 de Outubro, que aprovou, com base no princípio do poluidor-pagador, o regime relativo à responsabilidade ambiental aplicável à prevenção e reparação dos danos ambientais, com a

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alteração que lhe foi introduzida pela Directiva n.º 2006/21/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, relativa à gestão de resíduos da indústria extractiva.

PORTUGAL. Decreto-Lei n.º 171/2009 de 3 de Agosto. A biodiversidade, a diversidade da vida em todas as suas formas, inclui a diversidade genética, de organismos, de espécies e de ecossistemas, e proporciona reconhecidamente uma vasta gama de benefícios à humanidade.

PORTUGAL. Decreto-Lei n.º 173/2008, de 26 de Agosto. Estabelece o regime jurídico relativo à prevenção e controlo integrados da poluição, transpondo para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 2008/1/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 15 de Janeiro.

PORTUGAL. Decreto-Lei n.º 178/2006 de 5 de Setembro. Aprova o regime geral da gestão de resíduos, transpondo para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 2006/12/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 5 de Abril, e a Directiva n.º 91/689/CEE, do Conselho, de 12 de Dezembro, e a Directiva n.º 91/689/CEE, do Conselho, de 12 de Dezembro.

PORTUGAL. Decreto-Lei n.º 46/2008 de 12 de Março. O sector da construção civil é responsável por uma parte muito significativa dos resíduos gerados em Portugal, situação comum à generalidade dos demais Estados membros da União Europeia em que se estima uma produção anual global de 100 milhões de toneladas de resíduos de construção e demolição (RCD).

PORTUGAL. Decreto-Lei n.º 6/2009 de 6 de Janeiro. O Decreto -Lei n.º 62/2001, de 19 de Fevereiro, transpôs para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 98/101/CE, daComissão, de 22 de Dezembro, que adaptou ao progresso técnico a Directiva n.º 91/157/CEE, do Conselho, de 18 de Março, relativa a pilhas e acumuladores contendo determinadas substâncias perigosas.

PORTUGAL. Decreto-Lei nº 103/2003 de 23 de Maio de 2003. Adita o artigo 4.º-A ao Decreto-Lei n.º 379/93, de 5 de Novembro, que estabelece o regime de exploração e gestão dos sistemas multimunicipais e municipais de captação, tratamento e distribuição de água para consumo público, de recolha, tratamento e rejeição de efluentes e de recolha e tratamento de resíduos sólidos.

PORTUGAL. Decreto-Lei nº 150/2008 de 30-07-2008. A resolução dos problemas que afectam o ambiente passa hoje em dia pela criação de um conjunto variado de instrumentos financeiros públicos capazes de assegurar a concretização do princípio do poluidor-pagador e a mutualização do risco ecológico.

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PORTUGAL. Decreto-Lei nº 162/2000 de 27 de Julho de 2000. Altera os artigos 4.º e 6.º do Decreto-Lei n.º 366-A/97, de 20 de Dezembro, que estabelece os princípios e as normas aplicáveis ao sistema de gestão de embalagens e resíduos de embalagens.

PORTUGAL. Decreto-Lei nº 294/94 de 16 de Novembro de 1994. Estabelece o regime jurídico da concessão de exploração e gestão dos sistemas multimunicipais de tratamento de resíduos sólidos urbanos.

PORTUGAL. Decreto-Lei nº 319/94 de 24-12-1994. Na sequência da alteração da lei de delimitação de sectores que abriu a possibilidade de participação de capitais privados, sob a forma de concessão, nas actividades de captação, tratamento e distribuição de água para consumo público e consagração dos princípios legais da gestão e exploração de sistemas que tenham por objecto aquelas actividades, cumpre agora definir o quadro legal concretizador das opções legislativas subjacentes aos diplomas anteriores.

PORTUGAL. Decreto-Lei nº 366-A/97 de 20-12-1997. O Decreto-Lei n.º 322/95, de 28 de Novembro, estabeleceu os princípios e as normas aplicáveis ao sistema de gestão de embalagens e resíduos de embalagens. Contudo, esse diploma foi aprovado pelo Governo anterior sem que se tenha respeitado a formalidade de notificação prévia prevista no artigo 16.º da Directiva n.º 94/62/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 20 de Dezembro de 1994.

PORTUGAL. Decreto-Lei nº 45/2008 de 11-03-2008. O Decreto-Lei n.º 296/95, de 17 de Novembro, assegurou a exequibilidade, na ordem jurídica nacional, das obrigações decorrentes para o Estado Português do Regulamento (CEE) n.º 259/93, do Conselho, de 1 de Fevereiro, relativo à fiscalização e controlo das transferências de resíduos à entrada, no interior e à saída da Comunidade.

PORTUGAL. Decreto-Lei nº 92/2006 de 25-05-2006. O Decreto-Lei n.º 366-A/97, de 20 de Dezembro, alterado pelo Decreto-Lei n.º 162/2000, de 27 de Julho, transpôs para a ordem jurídica nacional a Directiva n.º 94/62/CE, do Parlamento e do Conselho, de 20 de Dezembro, estabelecendo os princípios e as normas aplicáveis à gestão de embalagens e resíduos de embalagens.

PORTUGAL. Instituto Nacional de Estatísticas de Portugal. Dados do ano de 2007. Disponível em: <http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0000480&contexto=pi&selTab=tab0>. Acesso em: 05 set. 2010.

PORTUGAL. Lei n.º 46/77 de 08 de julho. (Revogada pelo art.º 5.º da Lei n.º 88-A/97, de 25/7). Veda a empresas privadas e outras entidades da mesma natureza a actividade económica em determinados sectores

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PORTUGAL. Lei n.º 88-A/97, de 25 de Julho de 1997. Regula o acesso da iniciativa económica privada a determinadas actividades económicas.

PORTUGAL. Lei nº 50/2006 de 29 de Agosto de 2006. Aprova a lei quadro das contra-ordenações ambientais.

PORTUGAL. Portaria nº 187/2007 de 12-02-2007. O Plano Estratégico para os Resíduos Sólidos Urbanos (PERSU), aprovado em 1997, configurou-se como um instrumento de planeamento de referência na área dos resíduos sólidos urbanos (RSU).

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Presidência da República Casa Civil

Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 12.305, DE 2 DE AGOSTO DE 2010.

Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

TÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS

CAPÍTULO I

DO OBJETO E DO CAMPO DE APLICAÇÃO

Art. 1o Esta Lei institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, dispondo sobre seus princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis.

§ 1o Estão sujeitas à observância desta Lei as pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, responsáveis, direta ou indiretamente, pela geração de resíduos sólidos e as que desenvolvam ações relacionadas à gestão integrada ou ao gerenciamento de resíduos sólidos.

§ 2o Esta Lei não se aplica aos rejeitos radioativos, que são regulados por legislação específica.

Art. 2o Aplicam-se aos resíduos sólidos, além do disposto nesta Lei, nas Leis nos 11.445, de 5 de janeiro de 2007, 9.974, de 6 de junho de 2000, e 9.966, de 28 de abril de 2000, as normas estabelecidas pelos órgãos do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa) e do Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Sinmetro).

CAPÍTULO II

DEFINIÇÕES

Art. 3o Para os efeitos desta Lei, entende-se por:

I - acordo setorial: ato de natureza contratual firmado entre o poder público e fabricantes, importadores, distribuidores ou comerciantes, tendo em vista a implantação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto;

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II - área contaminada: local onde há contaminação causada pela disposição, regular ou irregular, de quaisquer substâncias ou resíduos;

III - área órfã contaminada: área contaminada cujos responsáveis pela disposição não sejam identificáveis ou individualizáveis;

IV - ciclo de vida do produto: série de etapas que envolvem o desenvolvimento do produto, a obtenção de matérias-primas e insumos, o processo produtivo, o consumo e a disposição final;

V - coleta seletiva: coleta de resíduos sólidos previamente segregados conforme sua constituição ou composição;

VI - controle social: conjunto de mecanismos e procedimentos que garantam à sociedade informações e participação nos processos de formulação, implementação e avaliação das políticas públicas relacionadas aos resíduos sólidos;

VII - destinação final ambientalmente adequada: destinação de resíduos que inclui a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético ou outras destinações admitidas pelos órgãos competentes do Sisnama, do SNVS e do Suasa, entre elas a disposição final, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos;

VIII - disposição final ambientalmente adequada: distribuição ordenada de rejeitos em aterros, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos;

IX - geradores de resíduos sólidos: pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, que geram resíduos sólidos por meio de suas atividades, nelas incluído o consumo;

X - gerenciamento de resíduos sólidos: conjunto de ações exercidas, direta ou indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, de acordo com plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos ou com plano de gerenciamento de resíduos sólidos, exigidos na forma desta Lei;

XI - gestão integrada de resíduos sólidos: conjunto de ações voltadas para a busca de soluções para os resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável;

XII - logística reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada;

XIII - padrões sustentáveis de produção e consumo: produção e consumo de bens e serviços de forma a atender as necessidades das atuais gerações e permitir melhores condições de vida, sem comprometer a qualidade ambiental e o atendimento das necessidades das gerações futuras;

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XIV - reciclagem: processo de transformação dos resíduos sólidos que envolve a alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, com vistas à transformação em insumos ou novos produtos, observadas as condições e os padrões estabelecidos pelos órgãos competentes do Sisnama e, se couber, do SNVS e do Suasa;

XV - rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada;

XVI - resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível;

XVII - responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos: conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos, nos termos desta Lei;

XVIII - reutilização: processo de aproveitamento dos resíduos sólidos sem sua transformação biológica, física ou físico-química, observadas as condições e os padrões estabelecidos pelos órgãos competentes do Sisnama e, se couber, do SNVS e do Suasa;

XIX - serviço público de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos: conjunto de atividades previstas no art. 7º da Lei nº 11.445, de 2007.

TÍTULO II

DA POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 4o A Política Nacional de Resíduos Sólidos reúne o conjunto de princípios, objetivos, instrumentos, diretrizes, metas e ações adotados pelo Governo Federal, isoladamente ou em regime de cooperação com Estados, Distrito Federal, Municípios ou particulares, com vistas à gestão integrada e ao gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos.

Art. 5o A Política Nacional de Resíduos Sólidos integra a Política Nacional do Meio Ambiente e articula-se com a Política Nacional de Educação Ambiental, regulada pela Lei no 9.795, de 27 de abril de 1999, com a Política Federal de Saneamento Básico, regulada pela Lei nº 11.445, de 2007, e com a Lei no 11.107, de 6 de abril de 2005.

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CAPÍTULO II

DOS PRINCÍPIOS E OBJETIVOS

Art. 6o São princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos:

I - a prevenção e a precaução;

II - o poluidor-pagador e o protetor-recebedor;

III - a visão sistêmica, na gestão dos resíduos sólidos, que considere as variáveis ambiental, social, cultural, econômica, tecnológica e de saúde pública;

IV - o desenvolvimento sustentável;

V - a ecoeficiência, mediante a compatibilização entre o fornecimento, a preços competitivos, de bens e serviços qualificados que satisfaçam as necessidades humanas e tragam qualidade de vida e a redução do impacto ambiental e do consumo de recursos naturais a um nível, no mínimo, equivalente à capacidade de sustentação estimada do planeta;

VI - a cooperação entre as diferentes esferas do poder público, o setor empresarial e demais segmentos da sociedade;

VII - a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;

VIII - o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania;

IX - o respeito às diversidades locais e regionais;

X - o direito da sociedade à informação e ao controle social;

XI - a razoabilidade e a proporcionalidade.

Art. 7o São objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos:

I - proteção da saúde pública e da qualidade ambiental;

II - não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, bem como disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos;

III - estímulo à adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo de bens e serviços;

IV - adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas como forma de minimizar impactos ambientais;

V - redução do volume e da periculosidade dos resíduos perigosos;

VI - incentivo à indústria da reciclagem, tendo em vista fomentar o uso de matérias-primas e insumos derivados de materiais recicláveis e reciclados;

VII - gestão integrada de resíduos sólidos;

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VIII - articulação entre as diferentes esferas do poder público, e destas com o setor empresarial, com vistas à cooperação técnica e financeira para a gestão integrada de resíduos sólidos;

IX - capacitação técnica continuada na área de resíduos sólidos;

X - regularidade, continuidade, funcionalidade e universalização da prestação dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, com adoção de mecanismos gerenciais e econômicos que assegurem a recuperação dos custos dos serviços prestados, como forma de garantir sua sustentabilidade operacional e financeira, observada a Lei nº 11.445, de 2007;

XI - prioridade, nas aquisições e contratações governamentais, para:

a) produtos reciclados e recicláveis;

b) bens, serviços e obras que considerem critérios compatíveis com padrões de consumo social e ambientalmente sustentáveis;

XII - integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas ações que envolvam a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;

XIII - estímulo à implementação da avaliação do ciclo de vida do produto;

XIV - incentivo ao desenvolvimento de sistemas de gestão ambiental e empresarial voltados para a melhoria dos processos produtivos e ao reaproveitamento dos resíduos sólidos, incluídos a recuperação e o aproveitamento energético;

XV - estímulo à rotulagem ambiental e ao consumo sustentável.

CAPÍTULO III

DOS INSTRUMENTOS

Art. 8o São instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos, entre outros:

I - os planos de resíduos sólidos;

II - os inventários e o sistema declaratório anual de resíduos sólidos;

III - a coleta seletiva, os sistemas de logística reversa e outras ferramentas relacionadas à implementação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;

IV - o incentivo à criação e ao desenvolvimento de cooperativas ou de outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis;

V - o monitoramento e a fiscalização ambiental, sanitária e agropecuária;

VI - a cooperação técnica e financeira entre os setores público e privado para o desenvolvimento de pesquisas de novos produtos, métodos, processos e tecnologias de gestão, reciclagem, reutilização, tratamento de resíduos e disposição final ambientalmente adequada de rejeitos;

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VII - a pesquisa científica e tecnológica;

VIII - a educação ambiental;

IX - os incentivos fiscais, financeiros e creditícios;

X - o Fundo Nacional do Meio Ambiente e o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico;

XI - o Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (Sinir);

XII - o Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (Sinisa);

XIII - os conselhos de meio ambiente e, no que couber, os de saúde;

XIV - os órgãos colegiados municipais destinados ao controle social dos serviços de resíduos sólidos urbanos;

XV - o Cadastro Nacional de Operadores de Resíduos Perigosos;

XVI - os acordos setoriais;

XVII - no que couber, os instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente, entre eles: a) os padrões de qualidade ambiental;

b) o Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais;

c) o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental;

d) a avaliação de impactos ambientais;

e) o Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente (Sinima);

f) o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras;

XVIII - os termos de compromisso e os termos de ajustamento de conduta; XIX - o incentivo à adoção de consórcios ou de outras formas de cooperação entre os entes federados, com vistas à elevação das escalas de aproveitamento e à redução dos custos envolvidos.

TÍTULO III

DAS DIRETRIZES APLICÁVEIS AOS RESÍDUOS SÓLIDOS

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 9o Na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, deve ser observada a seguinte ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.

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§ 1o Poderão ser utilizadas tecnologias visando à recuperação energética dos resíduos sólidos urbanos, desde que tenha sido comprovada sua viabilidade técnica e ambiental e com a implantação de programa de monitoramento de emissão de gases tóxicos aprovado pelo órgão ambiental.

§ 2o A Política Nacional de Resíduos Sólidos e as Políticas de Resíduos Sólidos dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios serão compatíveis com o disposto no caput e no § 1o deste artigo e com as demais diretrizes estabelecidas nesta Lei.

Art. 10. Incumbe ao Distrito Federal e aos Municípios a gestão integrada dos resíduos sólidos gerados nos respectivos territórios, sem prejuízo das competências de controle e fiscalização dos órgãos federais e estaduais do Sisnama, do SNVS e do Suasa, bem como da responsabilidade do gerador pelo gerenciamento de resíduos, consoante o estabelecido nesta Lei.

Art. 11. Observadas as diretrizes e demais determinações estabelecidas nesta Lei e em seu regulamento, incumbe aos Estados:

I - promover a integração da organização, do planejamento e da execução das funções públicas de interesse comum relacionadas à gestão dos resíduos sólidos nas regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, nos termos da lei complementar estadual prevista no § 3º do art. 25 da Constituição Federal;

II - controlar e fiscalizar as atividades dos geradores sujeitas a licenciamento ambiental pelo órgão estadual do Sisnama.

Parágrafo único. A atuação do Estado na forma do caput deve apoiar e priorizar as iniciativas do Município de soluções consorciadas ou compartilhadas entre 2 (dois) ou mais Municípios.

Art. 12. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão e manterão, de forma conjunta, o Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (Sinir), articulado com o Sinisa e o Sinima.

Parágrafo único. Incumbe aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios fornecer ao órgão federal responsável pela coordenação do Sinir todas as informações necessárias sobre os resíduos sob sua esfera de competência, na forma e na periodicidade estabelecidas em regulamento.

Art. 13. Para os efeitos desta Lei, os resíduos sólidos têm a seguinte classificação:

I - quanto à origem:

a) resíduos domiciliares: os originários de atividades domésticas em residências urbanas;

b) resíduos de limpeza urbana: os originários da varrição, limpeza de logradouros e vias públicas e outros serviços de limpeza urbana;

c) resíduos sólidos urbanos: os englobados nas alíneas “a” e “b”;

d) resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços: os gerados nessas atividades, excetuados os referidos nas alíneas “b”, “e”, “g”, “h” e “j”;

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e) resíduos dos serviços públicos de saneamento básico: os gerados nessas atividades, excetuados os referidos na alínea “c”;

f) resíduos industriais: os gerados nos processos produtivos e instalações industriais;

g) resíduos de serviços de saúde: os gerados nos serviços de saúde, conforme definido em regulamento ou em normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama e do SNVS;

h) resíduos da construção civil: os gerados nas construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, incluídos os resultantes da preparação e escavação de terrenos para obras civis;

i) resíduos agrossilvopastoris: os gerados nas atividades agropecuárias e silviculturais, incluídos os relacionados a insumos utilizados nessas atividades;

j) resíduos de serviços de transportes: os originários de portos, aeroportos, terminais alfandegários, rodoviários e ferroviários e passagens de fronteira;

k) resíduos de mineração: os gerados na atividade de pesquisa, extração ou beneficiamento de minérios;

II - quanto à periculosidade:

a) resíduos perigosos: aqueles que, em razão de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade, apresentam significativo risco à saúde pública ou à qualidade ambiental, de acordo com lei, regulamento ou norma técnica;

b) resíduos não perigosos: aqueles não enquadrados na alínea “a”.

Parágrafo único. Respeitado o disposto no art. 20, os resíduos referidos na alínea “d” do inciso I do caput, se caracterizados como não perigosos, podem, em razão de sua natureza, composição ou volume, ser equiparados aos resíduos domiciliares pelo poder público municipal.

CAPÍTULO II

DOS PLANOS DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Seção I

Disposições Gerais

Art. 14. São planos de resíduos sólidos:

I - o Plano Nacional de Resíduos Sólidos;

II - os planos estaduais de resíduos sólidos;

III - os planos microrregionais de resíduos sólidos e os planos de resíduos sólidos de regiões metropolitanas ou aglomerações urbanas;

IV - os planos intermunicipais de resíduos sólidos;

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V - os planos municipais de gestão integrada de resíduos sólidos;

VI - os planos de gerenciamento de resíduos sólidos.

Parágrafo único. É assegurada ampla publicidade ao conteúdo dos planos de resíduos sólidos, bem como controle social em sua formulação, implementação e operacionalização, observado o disposto na Lei no 10.650, de 16 de abril de 2003, e no art. 47 da Lei nº 11.445, de 2007.

Seção II

Do Plano Nacional de Resíduos Sólidos

Art. 15. A União elaborará, sob a coordenação do Ministério do Meio Ambiente, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, com vigência por prazo indeterminado e horizonte de 20 (vinte) anos, a ser atualizado a cada 4 (quatro) anos, tendo como conteúdo mínimo:

I - diagnóstico da situação atual dos resíduos sólidos;

II - proposição de cenários, incluindo tendências internacionais e macroeconômicas;

III - metas de redução, reutilização, reciclagem, entre outras, com vistas a reduzir a quantidade de resíduos e rejeitos encaminhados para disposição final ambientalmente adequada;

IV - metas para o aproveitamento energético dos gases gerados nas unidades de disposição final de resíduos sólidos;

V - metas para a eliminação e recuperação de lixões, associadas à inclusão social e à emancipação econômica de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis;

VI - programas, projetos e ações para o atendimento das metas previstas;

VII - normas e condicionantes técnicas para o acesso a recursos da União, para a obtenção de seu aval ou para o acesso a recursos administrados, direta ou indiretamente, por entidade federal, quando destinados a ações e programas de interesse dos resíduos sólidos;

VIII - medidas para incentivar e viabilizar a gestão regionalizada dos resíduos sólidos;

IX - diretrizes para o planejamento e demais atividades de gestão de resíduos sólidos das regiões integradas de desenvolvimento instituídas por lei complementar, bem como para as áreas de especial interesse turístico;

X - normas e diretrizes para a disposição final de rejeitos e, quando couber, de resíduos;

XI - meios a serem utilizados para o controle e a fiscalização, no âmbito nacional, de sua implementação e operacionalização, assegurado o controle social.

Parágrafo único. O Plano Nacional de Resíduos Sólidos será elaborado mediante processo de mobilização e participação social, incluindo a realização de audiências e consultas públicas.

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Seção III

Dos Planos Estaduais de Resíduos Sólidos

Art. 16. A elaboração de plano estadual de resíduos sólidos, nos termos previstos por esta Lei, é condição para os Estados terem acesso a recursos da União, ou por ela controlados, destinados a empreendimentos e serviços relacionados à gestão de resíduos sólidos, ou para serem beneficiados por incentivos ou financiamentos de entidades federais de crédito ou fomento para tal finalidade. (Vigência)

§ 1o Serão priorizados no acesso aos recursos da União referidos no caput os Estados que instituírem microrregiões, consoante o § 3o do art. 25 da Constituição Federal, para integrar a organização, o planejamento e a execução das ações a cargo de Municípios limítrofes na gestão dos resíduos sólidos.

§ 2o Serão estabelecidas em regulamento normas complementares sobre o acesso aos recursos da União na forma deste artigo.

§ 3o Respeitada a responsabilidade dos geradores nos termos desta Lei, as microrregiões instituídas conforme previsto no § 1o abrangem atividades de coleta seletiva, recuperação e reciclagem, tratamento e destinação final dos resíduos sólidos urbanos, a gestão de resíduos de construção civil, de serviços de transporte, de serviços de saúde, agrossilvopastoris ou outros resíduos, de acordo com as peculiaridades microrregionais.

Art. 17. O plano estadual de resíduos sólidos será elaborado para vigência por prazo indeterminado, abrangendo todo o território do Estado, com horizonte de atuação de 20 (vinte) anos e revisões a cada 4 (quatro) anos, e tendo como conteúdo mínimo:

I - diagnóstico, incluída a identificação dos principais fluxos de resíduos no Estado e seus impactos socioeconômicos e ambientais;

II - proposição de cenários;

III - metas de redução, reutilização, reciclagem, entre outras, com vistas a reduzir a quantidade de resíduos e rejeitos encaminhados para disposição final ambientalmente adequada;

IV - metas para o aproveitamento energético dos gases gerados nas unidades de disposição final de resíduos sólidos;

V - metas para a eliminação e recuperação de lixões, associadas à inclusão social e à emancipação econômica de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis;

VI - programas, projetos e ações para o atendimento das metas previstas;

VII - normas e condicionantes técnicas para o acesso a recursos do Estado, para a obtenção de seu aval ou para o acesso de recursos administrados, direta ou indiretamente, por entidade estadual, quando destinados às ações e programas de interesse dos resíduos sólidos;

VIII - medidas para incentivar e viabilizar a gestão consorciada ou compartilhada dos resíduos sólidos;

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IX - diretrizes para o planejamento e demais atividades de gestão de resíduos sólidos de regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões;

X - normas e diretrizes para a disposição final de rejeitos e, quando couber, de resíduos, respeitadas as disposições estabelecidas em âmbito nacional;

XI - previsão, em conformidade com os demais instrumentos de planejamento territorial, especialmente o zoneamento ecológico-econômico e o zoneamento costeiro, de:

a) zonas favoráveis para a localização de unidades de tratamento de resíduos sólidos ou de disposição final de rejeitos;

b) áreas degradadas em razão de disposição inadequada de resíduos sólidos ou rejeitos a serem objeto de recuperação ambiental;

XII - meios a serem utilizados para o controle e a fiscalização, no âmbito estadual, de sua implementação e operacionalização, assegurado o controle social.

§ 1o Além do plano estadual de resíduos sólidos, os Estados poderão elaborar planos microrregionais de resíduos sólidos, bem como planos específicos direcionados às regiões metropolitanas ou às aglomerações urbanas.

§ 2o A elaboração e a implementação pelos Estados de planos microrregionais de resíduos sólidos, ou de planos de regiões metropolitanas ou aglomerações urbanas, em consonância com o previsto no § 1o, dar-se-ão obrigatoriamente com a participação dos Municípios envolvidos e não excluem nem substituem qualquer das prerrogativas a cargo dos Municípios previstas por esta Lei.

§ 3o Respeitada a responsabilidade dos geradores nos termos desta Lei, o plano microrregional de resíduos sólidos deve atender ao previsto para o plano estadual e estabelecer soluções integradas para a coleta seletiva, a recuperação e a reciclagem, o tratamento e a destinação final dos resíduos sólidos urbanos e, consideradas as peculiaridades microrregionais, outros tipos de resíduos.

Seção IV

Dos Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos

Art. 18. A elaboração de plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos, nos termos previstos por esta Lei, é condição para o Distrito Federal e os Municípios terem acesso a recursos da União, ou por ela controlados, destinados a empreendimentos e serviços relacionados à limpeza urbana e ao manejo de resíduos sólidos, ou para serem beneficiados por incentivos ou financiamentos de entidades federais de crédito ou fomento para tal finalidade. (Vigência)

§ 1o Serão priorizados no acesso aos recursos da União referidos no caput os Municípios que:

I - optarem por soluções consorciadas intermunicipais para a gestão dos resíduos sólidos, incluída a elaboração e implementação de plano intermunicipal, ou que se inserirem de forma voluntária nos planos microrregionais de resíduos sólidos referidos no § 1o do art. 16;

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II - implantarem a coleta seletiva com a participação de cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas físicas de baixa renda.

§ 2o Serão estabelecidas em regulamento normas complementares sobre o acesso aos recursos da União na forma deste artigo.

Art. 19. O plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos tem o seguinte conteúdo mínimo:

I - diagnóstico da situação dos resíduos sólidos gerados no respectivo território, contendo a origem, o volume, a caracterização dos resíduos e as formas de destinação e disposição final adotadas;

II - identificação de áreas favoráveis para disposição final ambientalmente adequada de rejeitos, observado o plano diretor de que trata o § 1o do art. 182 da Constituição Federal e o zoneamento ambiental, se houver;

III - identificação das possibilidades de implantação de soluções consorciadas ou compartilhadas com outros Municípios, considerando, nos critérios de economia de escala, a proximidade dos locais estabelecidos e as formas de prevenção dos riscos ambientais;

IV - identificação dos resíduos sólidos e dos geradores sujeitos a plano de gerenciamento específico nos termos do art. 20 ou a sistema de logística reversa na forma do art. 33, observadas as disposições desta Lei e de seu regulamento, bem como as normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama e do SNVS;

V - procedimentos operacionais e especificações mínimas a serem adotados nos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, incluída a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos e observada a Lei nº 11.445, de 2007;

VI - indicadores de desempenho operacional e ambiental dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos;

VII - regras para o transporte e outras etapas do gerenciamento de resíduos sólidos de que trata o art. 20, observadas as normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama e do SNVS e demais disposições pertinentes da legislação federal e estadual;

VIII - definição das responsabilidades quanto à sua implementação e operacionalização, incluídas as etapas do plano de gerenciamento de resíduos sólidos a que se refere o art. 20 a cargo do poder público;

IX - programas e ações de capacitação técnica voltados para sua implementação e operacionalização;

X - programas e ações de educação ambiental que promovam a não geração, a redução, a reutilização e a reciclagem de resíduos sólidos;

XI - programas e ações para a participação dos grupos interessados, em especial das cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas físicas de baixa renda, se houver;

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XII - mecanismos para a criação de fontes de negócios, emprego e renda, mediante a valorização dos resíduos sólidos;

XIII - sistema de cálculo dos custos da prestação dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, bem como a forma de cobrança desses serviços, observada a Lei nº 11.445, de 2007;

XIV - metas de redução, reutilização, coleta seletiva e reciclagem, entre outras, com vistas a reduzir a quantidade de rejeitos encaminhados para disposição final ambientalmente adequada;

XV - descrição das formas e dos limites da participação do poder público local na coleta seletiva e na logística reversa, respeitado o disposto no art. 33, e de outras ações relativas à responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;

XVI - meios a serem utilizados para o controle e a fiscalização, no âmbito local, da implementação e operacionalização dos planos de gerenciamento de resíduos sólidos de que trata o art. 20 e dos sistemas de logística reversa previstos no art. 33;

XVII - ações preventivas e corretivas a serem praticadas, incluindo programa de monitoramento;

XVIII - identificação dos passivos ambientais relacionados aos resíduos sólidos, incluindo áreas contaminadas, e respectivas medidas saneadoras;

XIX - periodicidade de sua revisão, observado prioritariamente o período de vigência do plano plurianual municipal.

§ 1o O plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos pode estar inserido no plano de saneamento básico previsto no art. 19 da Lei nº 11.445, de 2007, respeitado o conteúdo mínimo previsto nos incisos do caput e observado o disposto no § 2o, todos deste artigo.

§ 2o Para Municípios com menos de 20.000 (vinte mil) habitantes, o plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos terá conteúdo simplificado, na forma do regulamento.

§ 3o O disposto no § 2o não se aplica a Municípios:

I - integrantes de áreas de especial interesse turístico;

II - inseridos na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de âmbito regional ou nacional;

III - cujo território abranja, total ou parcialmente, Unidades de Conservação.

§ 4o A existência de plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos não exime o Município ou o Distrito Federal do licenciamento ambiental de aterros sanitários e de outras infraestruturas e instalações operacionais integrantes do serviço público de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos pelo órgão competente do Sisnama.

§ 5o Na definição de responsabilidades na forma do inciso VIII do caput deste artigo, é vedado atribuir ao serviço público de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos a

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realização de etapas do gerenciamento dos resíduos a que se refere o art. 20 em desacordo com a respectiva licença ambiental ou com normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama e, se couber, do SNVS.

§ 6o Além do disposto nos incisos I a XIX do caput deste artigo, o plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos contemplará ações específicas a serem desenvolvidas no âmbito dos órgãos da administração pública, com vistas à utilização racional dos recursos ambientais, ao combate a todas as formas de desperdício e à minimização da geração de resíduos sólidos.

§ 7o O conteúdo do plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos será disponibilizado para o Sinir, na forma do regulamento.

§ 8o A inexistência do plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos não pode ser utilizada para impedir a instalação ou a operação de empreendimentos ou atividades devidamente licenciados pelos órgãos competentes.

§ 9o Nos termos do regulamento, o Município que optar por soluções consorciadas intermunicipais para a gestão dos resíduos sólidos, assegurado que o plano intermunicipal preencha os requisitos estabelecidos nos incisos I a XIX do caput deste artigo, pode ser dispensado da elaboração de plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos.

Seção V

Do Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos

Art. 20. Estão sujeitos à elaboração de plano de gerenciamento de resíduos sólidos:

I - os geradores de resíduos sólidos previstos nas alíneas “e”, “f”, “g” e “k” do inciso I do art. 13;

II - os estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços que:

a) gerem resíduos perigosos;

b) gerem resíduos que, mesmo caracterizados como não perigosos, por sua natureza, composição ou volume, não sejam equiparados aos resíduos domiciliares pelo poder público municipal;

III - as empresas de construção civil, nos termos do regulamento ou de normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama;

IV - os responsáveis pelos terminais e outras instalações referidas na alínea “j” do inciso I do art. 13 e, nos termos do regulamento ou de normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama e, se couber, do SNVS, as empresas de transporte;

V - os responsáveis por atividades agrossilvopastoris, se exigido pelo órgão competente do Sisnama, do SNVS ou do Suasa.

Parágrafo único. Observado o disposto no Capítulo IV deste Título, serão estabelecidas por regulamento exigências específicas relativas ao plano de gerenciamento de resíduos perigosos.

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Art. 21. O plano de gerenciamento de resíduos sólidos tem o seguinte conteúdo mínimo:

I - descrição do empreendimento ou atividade;

II - diagnóstico dos resíduos sólidos gerados ou administrados, contendo a origem, o volume e a caracterização dos resíduos, incluindo os passivos ambientais a eles relacionados;

III - observadas as normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama, do SNVS e do Suasa e, se houver, o plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos:

a) explicitação dos responsáveis por cada etapa do gerenciamento de resíduos sólidos;

b) definição dos procedimentos operacionais relativos às etapas do gerenciamento de resíduos sólidos sob responsabilidade do gerador;

IV - identificação das soluções consorciadas ou compartilhadas com outros geradores;

V - ações preventivas e corretivas a serem executadas em situações de gerenciamento incorreto ou acidentes;

VI - metas e procedimentos relacionados à minimização da geração de resíduos sólidos e, observadas as normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama, do SNVS e do Suasa, à reutilização e reciclagem;

VII - se couber, ações relativas à responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, na forma do art. 31;

VIII - medidas saneadoras dos passivos ambientais relacionados aos resíduos sólidos;

IX - periodicidade de sua revisão, observado, se couber, o prazo de vigência da respectiva licença de operação a cargo dos órgãos do Sisnama.

§ 1o O plano de gerenciamento de resíduos sólidos atenderá ao disposto no plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos do respectivo Município, sem prejuízo das normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama, do SNVS e do Suasa.

§ 2o A inexistência do plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos não obsta a elaboração, a implementação ou a operacionalização do plano de gerenciamento de resíduos sólidos.

§ 3o Serão estabelecidos em regulamento:

I - normas sobre a exigibilidade e o conteúdo do plano de gerenciamento de resíduos sólidos relativo à atuação de cooperativas ou de outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis;

II - critérios e procedimentos simplificados para apresentação dos planos de gerenciamento de resíduos sólidos para microempresas e empresas de pequeno porte, assim consideradas as definidas nos incisos I e II do art. 3o da Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006, desde que as atividades por elas desenvolvidas não gerem resíduos perigosos.

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Art. 22. Para a elaboração, implementação, operacionalização e monitoramento de todas as etapas do plano de gerenciamento de resíduos sólidos, nelas incluído o controle da disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, será designado responsável técnico devidamente habilitado.

Art. 23. Os responsáveis por plano de gerenciamento de resíduos sólidos manterão atualizadas e disponíveis ao órgão municipal competente, ao órgão licenciador do Sisnama e a outras autoridades, informações completas sobre a implementação e a operacionalização do plano sob sua responsabilidade.

§ 1o Para a consecução do disposto no caput, sem prejuízo de outras exigências cabíveis por parte das autoridades, será implementado sistema declaratório com periodicidade, no mínimo, anual, na forma do regulamento.

§ 2o As informações referidas no caput serão repassadas pelos órgãos públicos ao Sinir, na forma do regulamento.

Art. 24. O plano de gerenciamento de resíduos sólidos é parte integrante do processo de licenciamento ambiental do empreendimento ou atividade pelo órgão competente do Sisnama.

§ 1o Nos empreendimentos e atividades não sujeitos a licenciamento ambiental, a aprovação do plano de gerenciamento de resíduos sólidos cabe à autoridade municipal competente.

§ 2o No processo de licenciamento ambiental referido no § 1o a cargo de órgão federal ou estadual do Sisnama, será assegurada oitiva do órgão municipal competente, em especial quanto à disposição final ambientalmente adequada de rejeitos.

CAPÍTULO III

DAS RESPONSABILIDADES DOS GERADORES E DO PODER PÚBLICO

Seção I

Disposições Gerais

Art. 25. O poder público, o setor empresarial e a coletividade são responsáveis pela efetividade das ações voltadas para assegurar a observância da Política Nacional de Resíduos Sólidos e das diretrizes e demais determinações estabelecidas nesta Lei e em seu regulamento.

Art. 26. O titular dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos é responsável pela organização e prestação direta ou indireta desses serviços, observados o respectivo plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos, a Lei nº 11.445, de 2007, e as disposições desta Lei e seu regulamento.

Art. 27. As pessoas físicas ou jurídicas referidas no art. 20 são responsáveis pela implementação e operacionalização integral do plano de gerenciamento de resíduos sólidos aprovado pelo órgão competente na forma do art. 24.

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§ 1o A contratação de serviços de coleta, armazenamento, transporte, transbordo, tratamento ou destinação final de resíduos sólidos, ou de disposição final de rejeitos, não isenta as pessoas físicas ou jurídicas referidas no art. 20 da responsabilidade por danos que vierem a ser provocados pelo gerenciamento inadequado dos respectivos resíduos ou rejeitos.

§ 2o Nos casos abrangidos pelo art. 20, as etapas sob responsabilidade do gerador que forem realizadas pelo poder público serão devidamente remuneradas pelas pessoas físicas ou jurídicas responsáveis, observado o disposto no § 5o do art. 19.

Art. 28. O gerador de resíduos sólidos domiciliares tem cessada sua responsabilidade pelos resíduos com a disponibilização adequada para a coleta ou, nos casos abrangidos pelo art. 33, com a devolução.

Art. 29. Cabe ao poder público atuar, subsidiariamente, com vistas a minimizar ou cessar o dano, logo que tome conhecimento de evento lesivo ao meio ambiente ou à saúde pública relacionado ao gerenciamento de resíduos sólidos.

Parágrafo único. Os responsáveis pelo dano ressarcirão integralmente o poder público pelos gastos decorrentes das ações empreendidas na forma do caput.

Seção II

Da Responsabilidade Compartilhada

Art. 30. É instituída a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, a ser implementada de forma individualizada e encadeada, abrangendo os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, os consumidores e os titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, consoante as atribuições e procedimentos previstos nesta Seção.

Parágrafo único. A responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos tem por objetivo:

I - compatibilizar interesses entre os agentes econômicos e sociais e os processos de gestão empresarial e mercadológica com os de gestão ambiental, desenvolvendo estratégias sustentáveis;

II - promover o aproveitamento de resíduos sólidos, direcionando-os para a sua cadeia produtiva ou para outras cadeias produtivas;

III - reduzir a geração de resíduos sólidos, o desperdício de materiais, a poluição e os danos ambientais;

IV - incentivar a utilização de insumos de menor agressividade ao meio ambiente e de maior sustentabilidade;

V - estimular o desenvolvimento de mercado, a produção e o consumo de produtos derivados de materiais reciclados e recicláveis;

VI - propiciar que as atividades produtivas alcancem eficiência e sustentabilidade;

VII - incentivar as boas práticas de responsabilidade socioambiental.

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Art. 31. Sem prejuízo das obrigações estabelecidas no plano de gerenciamento de resíduos sólidos e com vistas a fortalecer a responsabilidade compartilhada e seus objetivos, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes têm responsabilidade que abrange:

I - investimento no desenvolvimento, na fabricação e na colocação no mercado de produtos:

a) que sejam aptos, após o uso pelo consumidor, à reutilização, à reciclagem ou a outra forma de destinação ambientalmente adequada;

b) cuja fabricação e uso gerem a menor quantidade de resíduos sólidos possível;

II - divulgação de informações relativas às formas de evitar, reciclar e eliminar os resíduos sólidos associados a seus respectivos produtos;

III - recolhimento dos produtos e dos resíduos remanescentes após o uso, assim como sua subsequente destinação final ambientalmente adequada, no caso de produtos objeto de sistema de logística reversa na forma do art. 33;

IV - compromisso de, quando firmados acordos ou termos de compromisso com o Município, participar das ações previstas no plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos, no caso de produtos ainda não inclusos no sistema de logística reversa.

Art. 32. As embalagens devem ser fabricadas com materiais que propiciem a reutilização ou a reciclagem.

§ 1o Cabe aos respectivos responsáveis assegurar que as embalagens sejam:

I - restritas em volume e peso às dimensões requeridas à proteção do conteúdo e à comercialização do produto;

II - projetadas de forma a serem reutilizadas de maneira tecnicamente viável e compatível com as exigências aplicáveis ao produto que contêm;

III - recicladas, se a reutilização não for possível.

§ 2o O regulamento disporá sobre os casos em que, por razões de ordem técnica ou econômica, não seja viável a aplicação do disposto no caput.

§ 3o É responsável pelo atendimento do disposto neste artigo todo aquele que:

I - manufatura embalagens ou fornece materiais para a fabricação de embalagens;

II - coloca em circulação embalagens, materiais para a fabricação de embalagens ou produtos embalados, em qualquer fase da cadeia de comércio.

Art. 33. São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de:

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I - agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos cuja embalagem, após o uso, constitua resíduo perigoso, observadas as regras de gerenciamento de resíduos perigosos previstas em lei ou regulamento, em normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama, do SNVS e do Suasa, ou em normas técnicas;

II - pilhas e baterias;

III - pneus;

IV - óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens;

V - lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista;

VI - produtos eletroeletrônicos e seus componentes.

§ 1o Na forma do disposto em regulamento ou em acordos setoriais e termos de compromisso firmados entre o poder público e o setor empresarial, os sistemas previstos no caput serão estendidos a produtos comercializados em embalagens plásticas, metálicas ou de vidro, e aos demais produtos e embalagens, considerando, prioritariamente, o grau e a extensão do impacto à saúde pública e ao meio ambiente dos resíduos gerados.

§ 2o A definição dos produtos e embalagens a que se refere o § 1o considerará a viabilidade técnica e econômica da logística reversa, bem como o grau e a extensão do impacto à saúde pública e ao meio ambiente dos resíduos gerados.

§ 3o Sem prejuízo de exigências específicas fixadas em lei ou regulamento, em normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama e do SNVS, ou em acordos setoriais e termos de compromisso firmados entre o poder público e o setor empresarial, cabe aos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes dos produtos a que se referem os incisos II, III, V e VI ou dos produtos e embalagens a que se referem os incisos I e IV do caput e o § 1o tomar todas as medidas necessárias para assegurar a implementação e operacionalização do sistema de logística reversa sob seu encargo, consoante o estabelecido neste artigo, podendo, entre outras medidas:

I - implantar procedimentos de compra de produtos ou embalagens usados;

II - disponibilizar postos de entrega de resíduos reutilizáveis e recicláveis;

III - atuar em parceria com cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis, nos casos de que trata o § 1o.

§ 4o Os consumidores deverão efetuar a devolução após o uso, aos comerciantes ou distribuidores, dos produtos e das embalagens a que se referem os incisos I a VI do caput, e de outros produtos ou embalagens objeto de logística reversa, na forma do § 1o.

§ 5o Os comerciantes e distribuidores deverão efetuar a devolução aos fabricantes ou aos importadores dos produtos e embalagens reunidos ou devolvidos na forma dos §§ 3o e 4o.

§ 6o Os fabricantes e os importadores darão destinação ambientalmente adequada aos produtos e às embalagens reunidos ou devolvidos, sendo o rejeito encaminhado para a disposição final ambientalmente adequada, na forma estabelecida pelo órgão competente do Sisnama e, se houver, pelo plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos.

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§ 7o Se o titular do serviço público de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, por acordo setorial ou termo de compromisso firmado com o setor empresarial, encarregar-se de atividades de responsabilidade dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes nos sistemas de logística reversa dos produtos e embalagens a que se refere este artigo, as ações do poder público serão devidamente remuneradas, na forma previamente acordada entre as partes.

§ 8o Com exceção dos consumidores, todos os participantes dos sistemas de logística reversa manterão atualizadas e disponíveis ao órgão municipal competente e a outras autoridades informações completas sobre a realização das ações sob sua responsabilidade.

Art. 34. Os acordos setoriais ou termos de compromisso referidos no inciso IV do caput do art. 31 e no § 1o do art. 33 podem ter abrangência nacional, regional, estadual ou municipal.

§ 1o Os acordos setoriais e termos de compromisso firmados em âmbito nacional têm prevalência sobre os firmados em âmbito regional ou estadual, e estes sobre os firmados em âmbito municipal.

§ 2o Na aplicação de regras concorrentes consoante o § 1o, os acordos firmados com menor abrangência geográfica podem ampliar, mas não abrandar, as medidas de proteção ambiental constantes nos acordos setoriais e termos de compromisso firmados com maior abrangência geográfica.

Art. 35. Sempre que estabelecido sistema de coleta seletiva pelo plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos e na aplicação do art. 33, os consumidores são obrigados a:

I - acondicionar adequadamente e de forma diferenciada os resíduos sólidos gerados;

II - disponibilizar adequadamente os resíduos sólidos reutilizáveis e recicláveis para coleta ou devolução.

Parágrafo único. O poder público municipal pode instituir incentivos econômicos aos consumidores que participam do sistema de coleta seletiva referido no caput, na forma de lei municipal.

Art. 36. No âmbito da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, cabe ao titular dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, observado, se houver, o plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos:

I - adotar procedimentos para reaproveitar os resíduos sólidos reutilizáveis e recicláveis oriundos dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos;

II - estabelecer sistema de coleta seletiva;

III - articular com os agentes econômicos e sociais medidas para viabilizar o retorno ao ciclo produtivo dos resíduos sólidos reutilizáveis e recicláveis oriundos dos serviços de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos;

IV - realizar as atividades definidas por acordo setorial ou termo de compromisso na forma do § 7o do art. 33, mediante a devida remuneração pelo setor empresarial;

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V - implantar sistema de compostagem para resíduos sólidos orgânicos e articular com os agentes econômicos e sociais formas de utilização do composto produzido;

VI - dar disposição final ambientalmente adequada aos resíduos e rejeitos oriundos dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos.

§ 1o Para o cumprimento do disposto nos incisos I a IV do caput, o titular dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos priorizará a organização e o funcionamento de cooperativas ou de outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas físicas de baixa renda, bem como sua contratação.

§ 2o A contratação prevista no § 1o é dispensável de licitação, nos termos do inciso XXVII do art. 24 da Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993.

CAPÍTULO IV

DOS RESÍDUOS PERIGOSOS

Art. 37. A instalação e o funcionamento de empreendimento ou atividade que gere ou opere com resíduos perigosos somente podem ser autorizados ou licenciados pelas autoridades competentes se o responsável comprovar, no mínimo, capacidade técnica e econômica, além de condições para prover os cuidados necessários ao gerenciamento desses resíduos.

Art. 38. As pessoas jurídicas que operam com resíduos perigosos, em qualquer fase do seu gerenciamento, são obrigadas a se cadastrar no Cadastro Nacional de Operadores de Resíduos Perigosos.

§ 1o O cadastro previsto no caput será coordenado pelo órgão federal competente do Sisnama e implantado de forma conjunta pelas autoridades federais, estaduais e municipais.

§ 2o Para o cadastramento, as pessoas jurídicas referidas no caput necessitam contar com responsável técnico pelo gerenciamento dos resíduos perigosos, de seu próprio quadro de funcionários ou contratado, devidamente habilitado, cujos dados serão mantidos atualizados no cadastro.

§ 3o O cadastro a que se refere o caput é parte integrante do Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais e do Sistema de Informações previsto no art. 12.

Art. 39. As pessoas jurídicas referidas no art. 38 são obrigadas a elaborar plano de gerenciamento de resíduos perigosos e submetê-lo ao órgão competente do Sisnama e, se couber, do SNVS, observado o conteúdo mínimo estabelecido no art. 21 e demais exigências previstas em regulamento ou em normas técnicas.

§ 1o O plano de gerenciamento de resíduos perigosos a que se refere o caput poderá estar inserido no plano de gerenciamento de resíduos a que se refere o art. 20.

§ 2o Cabe às pessoas jurídicas referidas no art. 38:

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I - manter registro atualizado e facilmente acessível de todos os procedimentos relacionados à implementação e à operacionalização do plano previsto no caput;

II - informar anualmente ao órgão competente do Sisnama e, se couber, do SNVS, sobre a quantidade, a natureza e a destinação temporária ou final dos resíduos sob sua responsabilidade;

III - adotar medidas destinadas a reduzir o volume e a periculosidade dos resíduos sob sua responsabilidade, bem como a aperfeiçoar seu gerenciamento;

IV - informar imediatamente aos órgãos competentes sobre a ocorrência de acidentes ou outros sinistros relacionados aos resíduos perigosos.

§ 3o Sempre que solicitado pelos órgãos competentes do Sisnama e do SNVS, será assegurado acesso para inspeção das instalações e dos procedimentos relacionados à implementação e à operacionalização do plano de gerenciamento de resíduos perigosos.

§ 4o No caso de controle a cargo de órgão federal ou estadual do Sisnama e do SNVS, as informações sobre o conteúdo, a implementação e a operacionalização do plano previsto no caput serão repassadas ao poder público municipal, na forma do regulamento.

Art. 40. No licenciamento ambiental de empreendimentos ou atividades que operem com resíduos perigosos, o órgão licenciador do Sisnama pode exigir a contratação de seguro de responsabilidade civil por danos causados ao meio ambiente ou à saúde pública, observadas as regras sobre cobertura e os limites máximos de contratação fixados em regulamento.

Parágrafo único. O disposto no caput considerará o porte da empresa, conforme regulamento.

Art. 41. Sem prejuízo das iniciativas de outras esferas governamentais, o Governo Federal deve estruturar e manter instrumentos e atividades voltados para promover a descontaminação de áreas órfãs.

Parágrafo único. Se, após descontaminação de sítio órfão realizada com recursos do Governo Federal ou de outro ente da Federação, forem identificados os responsáveis pela contaminação, estes ressarcirão integralmente o valor empregado ao poder público.

CAPÍTULO V

DOS INSTRUMENTOS ECONÔMICOS

Art. 42. O poder público poderá instituir medidas indutoras e linhas de financiamento para atender, prioritariamente, às iniciativas de:

I - prevenção e redução da geração de resíduos sólidos no processo produtivo;

II - desenvolvimento de produtos com menores impactos à saúde humana e à qualidade ambiental em seu ciclo de vida;

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III - implantação de infraestrutura física e aquisição de equipamentos para cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas físicas de baixa renda;

IV - desenvolvimento de projetos de gestão dos resíduos sólidos de caráter intermunicipal ou, nos termos do inciso I do caput do art. 11, regional;

V - estruturação de sistemas de coleta seletiva e de logística reversa;

VI - descontaminação de áreas contaminadas, incluindo as áreas órfãs;

VII - desenvolvimento de pesquisas voltadas para tecnologias limpas aplicáveis aos resíduos sólidos;

VIII - desenvolvimento de sistemas de gestão ambiental e empresarial voltados para a melhoria dos processos produtivos e ao reaproveitamento dos resíduos.

Art. 43. No fomento ou na concessão de incentivos creditícios destinados a atender diretrizes desta Lei, as instituições oficiais de crédito podem estabelecer critérios diferenciados de acesso dos beneficiários aos créditos do Sistema Financeiro Nacional para investimentos produtivos.

Art. 44. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no âmbito de suas competências, poderão instituir normas com o objetivo de conceder incentivos fiscais, financeiros ou creditícios, respeitadas as limitações da Lei Complementar no 101, de 4 de maio de 2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal), a:

I - indústrias e entidades dedicadas à reutilização, ao tratamento e à reciclagem de resíduos sólidos produzidos no território nacional;

II - projetos relacionados à responsabilidade pelo ciclo de vida dos produtos, prioritariamente em parceria com cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas físicas de baixa renda;

III - empresas dedicadas à limpeza urbana e a atividades a ela relacionadas.

Art. 45. Os consórcios públicos constituídos, nos termos da Lei no 11.107, de 2005, com o objetivo de viabilizar a descentralização e a prestação de serviços públicos que envolvam resíduos sólidos, têm prioridade na obtenção dos incentivos instituídos pelo Governo Federal.

Art. 46. O atendimento ao disposto neste Capítulo será efetivado em consonância com a Lei Complementar nº 101, de 2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal), bem como com as diretrizes e objetivos do respectivo plano plurianual, as metas e as prioridades fixadas pelas leis de diretrizes orçamentárias e no limite das disponibilidades propiciadas pelas leis orçamentárias anuais.

CAPÍTULO VI

DAS PROIBIÇÕES

Art. 47. São proibidas as seguintes formas de destinação ou disposição final de resíduos sólidos ou rejeitos:

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I - lançamento em praias, no mar ou em quaisquer corpos hídricos;

II - lançamento in natura a céu aberto, excetuados os resíduos de mineração;

III - queima a céu aberto ou em recipientes, instalações e equipamentos não licenciados para essa finalidade;

IV - outras formas vedadas pelo poder público.

§ 1o Quando decretada emergência sanitária, a queima de resíduos a céu aberto pode ser realizada, desde que autorizada e acompanhada pelos órgãos competentes do Sisnama, do SNVS e, quando couber, do Suasa.

§ 2o Assegurada a devida impermeabilização, as bacias de decantação de resíduos ou rejeitos industriais ou de mineração, devidamente licenciadas pelo órgão competente do Sisnama, não são consideradas corpos hídricos para efeitos do disposto no inciso I do caput.

Art. 48. São proibidas, nas áreas de disposição final de resíduos ou rejeitos, as seguintes atividades:

I - utilização dos rejeitos dispostos como alimentação;

II - catação, observado o disposto no inciso V do art. 17;

III - criação de animais domésticos;

IV - fixação de habitações temporárias ou permanentes;

V - outras atividades vedadas pelo poder público.

Art. 49. É proibida a importação de resíduos sólidos perigosos e rejeitos, bem como de resíduos sólidos cujas características causem dano ao meio ambiente, à saúde pública e animal e à sanidade vegetal, ainda que para tratamento, reforma, reúso, reutilização ou recuperação.

TÍTULO IV

DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS E FINAIS

Art. 50. A inexistência do regulamento previsto no § 3o do art. 21 não obsta a atuação, nos termos desta Lei, das cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis.

Art. 51. Sem prejuízo da obrigação de, independentemente da existência de culpa, reparar os danos causados, a ação ou omissão das pessoas físicas ou jurídicas que importe inobservância aos preceitos desta Lei ou de seu regulamento sujeita os infratores às sanções previstas em lei, em especial às fixadas na Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que “dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências”, e em seu regulamento.

Art. 52. A observância do disposto no caput do art. 23 e no § 2o do art. 39 desta Lei é considerada obrigação de relevante interesse ambiental para efeitos do art. 68 da Lei nº 9.605,

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de 1998, sem prejuízo da aplicação de outras sanções cabíveis nas esferas penal e administrativa.

Art. 53. O § 1o do art. 56 da Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 56. .................................................................................

§ 1o Nas mesmas penas incorre quem:

I - abandona os produtos ou substâncias referidos no caput ou os utiliza em desacordo com as normas ambientais ou de segurança;

II - manipula, acondiciona, armazena, coleta, transporta, reutiliza, recicla ou dá destinação final a resíduos perigosos de forma diversa da estabelecida em lei ou regulamento.

.............................................................................................” (NR)

Art. 54. A disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, observado o disposto no § 1o do art. 9o, deverá ser implantada em até 4 (quatro) anos após a data de publicação desta Lei.

Art. 55. O disposto nos arts. 16 e 18 entra em vigor 2 (dois) anos após a data de publicação desta Lei.

Art. 56. A logística reversa relativa aos produtos de que tratam os incisos V e VI do caput do art. 33 será implementada progressivamente segundo cronograma estabelecido em regulamento.

Art. 57. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 2 de agosto de 2010; 189o da Independência e 122o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Rafael Thomaz Favetti Guido Mantega José Gomes Temporão Miguel Jorge Izabella Mônica Vieira Teixeira João Reis Santana Filho Marcio Fortes de Almeida Alexandre Rocha Santos Padilha

Este texto não substitui o publicado no DOU de 3.8.2010

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MINISTÉRIO DO AMBIENTE E DO ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

Decreto-Lei n.º 178/2006

de 5 de Setembro

1 - O regime jurídico de gestão de resíduos foi pela primeira vez aprovado em Portugal por meio do Decreto-Lei n.º 488/85, de 25 de Novembro. A evolução rápida do direito comunitário - com a alteração da Directiva n.º 75/442/CEE, do Conselho, de 15 de Julho, pela Directiva n.º 91/156/CEE, do Conselho, de 18 de Março, e a aprovação da Directiva n.º 91/689/CEE, do Conselho, de 12 de Dezembro - determinaria a revogação daquele diploma pelo Decreto-Lei n.º 310/95, de 20 de Novembro, e, mais tarde, a revogação deste pelo Decreto-Lei n.º 239/97, de 9 de Setembro, actualmente em vigor. Vários factores concorrem para a necessidade de aprovar um novo regime jurídico para a gestão de resíduos que substitua este último regime de 1997. Desde logo, avulta a de transpor para o ordenamento jurídico interno a Directiva n.º 2006/12/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 5 de Abril, codificadora da dispersa regulamentação comunitária sobre resíduos. Essa codificação, por seu turno, reflecte a evolução do direito e da ciência que nesta área atingiu, no quadro europeu, a estabilidade suficiente para consagrar agora no ordenamento jurídico nacional um conjunto de princípios rectores da maior importância em matéria de gestão de resíduos. É o que se verifica relativamente à noção da auto-suficiência, ao princípio da prevenção, à prevalência da valorização dos resíduos sobre a sua eliminação e, no âmbito daquela, ao estabelecimento de uma preferência tendencial pela reutilização sobre a reciclagem, e de uma preferência tendencial da reciclagem sobre a recuperação energética. A necessidade de minimizar a produção de resíduos e de assegurar a sua gestão sustentável transformou-se, entretanto, numa questão de cidadania. Existe uma consciência cada vez mais clara de que a responsabilidade pela gestão dos resíduos deve ser partilhada pelo todo da colectividade: do produtor de um bem ao cidadão consumidor, do produtor do resíduo ao detentor, dos operadores de gestão às autoridades administrativas reguladoras. No que diz respeito aos custos inerentes à gestão de resíduos, a afirmação crescente do princípio do «poluidor-pagador» tem vindo a determinar a responsabilização prioritária dos produtores de bens de consumo, dos produtores de resíduos ou dos detentores. No campo da valorização energética, o Decreto-Lei n.º 85/2005, de 28 de Abril, que regula a incineração e co-incineração de resíduos perigosos e não perigosos, havia já feito eco da importância dada à recuperação energética dos resíduos ao determinar a aplicação dos mesmos valores limite às emissões geradas por estas operações independentemente do tipo de resíduos em causa, uma vez que a distinção entre resíduos perigosos e resíduos não perigosos se baseia essencialmente nas propriedades que possuem antes da sua valorização energética e não nas diferenças de emissões que estão associadas a essa valorização. O panorama do sector dos resíduos sofreu ainda outras transformações desde a aprovação do Decreto-Lei n.º 239/97, de 9 de Setembro. Por um lado, aceitava-se então que a actuação do Estado se cingisse à fórmula tradicional do «comando e controlo», concretizada na elaboração pública de planos e na sujeição das operações de gestão de resíduos a um procedimento de autorização prévia. Contudo, uma análise dos impactes produzidos por esse modelo de relação de autoridade estabelecido entre administração e administrado, empregue sem amparo de outros instrumentos de diferente natureza, veio revelar que o mesmo foi até hoje insuficiente - dir-se-á, ineficiente e ineficaz à luz dos custos por si gerados - para assegurar a concretização dos princípios e objectivos então vigentes na matéria. Esse modelo regulatório carece de flexibilidade para acompanhar uma inovação tecnológica imparável e uma incontornável diminuição da capacidade de carga do meio ambiente para acolher os resíduos gerados pela sociedade.

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Por outro lado, os compromissos internacionais e comunitários assumidos pelo Estado Português vieram elevar a exigência dos objectivos ambientais a atingir, como bem ilustra a necessidade comunitária de restringir drasticamente e num curto espaço de tempo o volume de resíduos depositados em aterro. Não resta, por isso, outra alternativa que não seja a de alargar o leque de instrumentos técnicos, jurídicos e económicos a empregar na composição de uma política pública para os resíduos de forma a que os mesmos não constituam perigo ou causem prejuízo para a saúde humana ou para o ambiente. 2 - No domínio da regulação, presta-se especial atenção ao planeamento da gestão de resíduos, uma tarefa indeclinável para o Estado enquanto responsável que é pela política nacional de resíduos. O Decreto-Lei n.º 239/97, de 9 de Setembro, determinava a elaboração de cinco planos de gestão de resíduos, um nacional e quatro sectoriais para cada uma das categorias de resíduos: urbanos, hospitalares, industriais e agrícolas. Não obstante estarem actualmente em vigor três planos sectoriais - para os resíduos urbanos [Plano Estratégico de Resíduos Sólidos Urbanos (PERSU)], para os resíduos industriais [Plano Estratégico de Resíduos Industriais (PESGRI)] e para os resíduos hospitalares [Plano Estratégico dos Resíduos Hospitalares (PERH)] -, cujas orientações e linhas estratégicas de decisão têm norteado a gestão de resíduos no território nacional ao longo dos últimos anos, a experiência acumulada com a sua aplicação ao nível local demonstra a necessidade de serem criados instrumentos municipais de gestão de resíduos que permitam concretizar estas orientações a um nível mais restrito. Mais ainda, ficou patente, ao longo destes anos, a necessidade de conceber um procedimento pormenorizado de elaboração e de revisão dos planos existentes que permita o acompanhamento permanente do sector. Ainda no domínio da regulação, e sendo a gestão de resíduos uma actividade já condicionada, pretende-se agora reformar o mecanismo da autorização prévia de molde a aproximá-lo dos modelos em vigor nos ordenamentos jurídicos dos demais parceiros comunitários. Assim, as operações de gestão de resíduos ficam sujeitas a um procedimento administrativo célere de controlo prévio, que se conclui com a emissão de uma licença, e, sobretudo, a procedimentos administrativos que asseguram uma efectiva monitorização da actividade desenvolvida após esse licenciamento. Inovadora é a introdução de mecanismos de constante adaptação das licenças às inovações tecnológicas que sempre surgem com rapidez neste sector e de mecanismos de resposta a efeitos negativos para o ambiente que não tenham sido previstos na fase de licenciamento, bem como a introdução de procedimentos que visam acompanhar as vicissitudes da actividade de gestão de resíduos, como sejam as da transmissão, alteração e renovação das licenças. O regime que ora se institui também não perde de vista a necessidade ponderosa de simplificar as relações administrativas que o Estado estabelece com o particular. Desde logo, o prazo previsto para o procedimento geral de licenciamento previsto neste decreto-lei é 20 dias mais breve do que o do anterior procedimento de autorização prévia constante do Decreto-Lei n.º 239/97, de 9 de Setembro; e é igualmente prevista a aplicação de um regime de licenciamento simplificado que permite a emissão de uma licença num prazo máximo de 20 dias. Prevê-se ainda a possibilidade de dispensa de licenciamento para determinadas operações quando sejam definidas normas específicas para o exercício das mesmas, ficando neste caso sujeitas a uma comunicação prévia. Ainda no âmbito dos procedimentos criados pelo presente decreto-lei, adopta-se o recurso aos meios informáticos como método de agilização da tramitação procedimental e desloca-se a obrigação de obter informação detida por autoridades públicas para a esfera da entidade licenciadora. E de modo a evitar uma oneração desnecessária do particular com o esforço de se sujeitar a procedimentos administrativos diferentes com vista a exercer uma mesma actividade, o licenciamento ora criado articula-se numa relação de complementaridade e alternatividade com os regimes de licenciamento ambiental e de licenciamento industrial já em vigor. Assim, as operações de

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gestão de resíduos sujeitas aos regimes do licenciamento ambiental ou industrial não ficam sujeitas à emissão de qualquer outra licença adicional, sendo o cumprimento do presente decreto-lei assegurado no âmbito desses procedimentos. O novo regime introduz, portanto, um acréscimo de eficiência e de eficácia na prossecução dos seus objectivos, sem prejuízo da imperativa defesa do interesse público em causa. 3 - O diploma que agora se aprova não se limita, porém, à introdução de aperfeiçoamentos ao regime legal até agora em vigor. Bem pelo contrário, pretende-se com ele introduzir instrumentos novos no ordenamento jurídico português, desde logo aqueles que se prendem com uma melhor gestão da informação em matéria de gestão dos resíduos, hoje em dia imprescindível não apenas para que a Administração realize cabalmente as suas funções como para operadores económicos e grande público. A necessidade de garantir a recolha de toda a informação relevante sobre o «ciclo de vida» dos resíduos havia determinado a obrigatoriedade de realização de um registo de um conjunto de dados relativos à sua produção e gestão já no âmbito do Decreto-Lei n.º 239/97, de 9 de Setembro. O ónus de recolha desses elementos recaía, porém, ainda que em moldes distintos, sobre produtores e operadores de gestão de resíduos, de onde resultou o agravamento dos encargos burocráticos dos particulares e a ineficácia do sistema de registo. Mais ainda, o próprio sistema de registo a implementar divergia consoante o tipo de resíduos em causa, tornando a informação disponível incoerente, por um lado, insuficiente, por outro. Actualmente, a evolução dos meios tecnológicos permite e impõe o recurso a mecanismos de registo de informação mais evoluídos. A Internet, ao potenciar a recolha e o tratamento fáceis, rápidos e seguros de dados de proveniência distinta, tem vindo a ganhar importância crescente no processamento de informação sobre resíduos. Neste contexto, foi assumida como prioritária a reestruturação do Sistema de Gestão de Informação sobre Resíduos (SGIR), tendo sido posto em execução um conjunto de mecanismos que procuram optimizar os recursos afectos ao processamento da informação estatística neste sector. É neste enquadramento que surge, com o novo regime ora aprovado, o Sistema Integrado de Registo Electrónico de Resíduos (SIRER), um projecto ambicioso, faseado no tempo, que visa disponibilizar, por via electrónica, um mecanismo uniforme de registo e acesso a dados sobre todos os tipos de resíduos, substituindo os anteriores sistemas e mapas de registo. Para o efeito, a obrigatoriedade de efectuar o registo permanece a cargo de produtores, operadores de gestão de resíduos e entidades responsáveis pelos sistemas de gestão, mas o sistema agora instituído permite a interacção entre a Autoridade Nacional dos Resíduos e as entidades registadas, de forma a garantir maior facilidade no registo, no tratamento dos dados e na optimização dos procedimentos de carregamento e validação da informação, bem como a disponibilização ao público de informação actualizada sobre o sector. No domínio da gestão da informação em matéria de resíduos, é inovação deste diploma a criação da Comissão de Acompanhamento de Gestão dos Resíduos (CAGER), à qual cabe acompanhar as condições e evolução do mercado de resíduos, as operações e sistemas de gestão de resíduos e desempenhar um papel activo, tanto no incentivo ao aproveitamento dos resíduos enquanto matérias-primas secundárias, quanto na adopção das novas e melhores tecnologias disponíveis para a sua gestão. Ao concentrar na CAGER as estruturas de observação já existentes e alargando as suas funções, reforçam-se as políticas públicas de gestão de resíduos, pois estas exigem o conhecimento real e quotidiano do sector, e reforça-se também a participação dos interessados na concepção dessas políticas, ganhando a decisão pública legitimação por via procedimental. A par disto, prevê-se ainda que o desempenho ambiental das actividades desenvolvidas nos centros integrados de recuperação, valorização e eliminação de resíduos sólidos perigosos (CIRVER) e nas instalações de incineração e co-incineração seja objecto de acompanhamento público através da criação de uma comissão local de acompanhamento, matéria de especial sensibilidade para o grande público.

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4 - O novo regime económico e financeiro da gestão dos resíduos constitui uma componente essencial do presente decreto-lei. Em matéria tributária, os propósitos subjacentes ao regime económico e financeiro da gestão dos resíduos são o de sistematizar os materiais normativos já em vigor e o de criar novos instrumentos que ajudem ao cumprimento dos objectivos ambientais a que o País se propõe. A produção legislativa no domínio dos resíduos, muito intensa nos últimos anos, tem sido acompanhada pela criação de taxas variadas, por regra associadas a procedimentos de licenciamento, taxas que, partilhando embora características comuns, mostram alguma dispersão e assistematicidade. O primeiro propósito do regime ora aprovado nesta matéria reside, portanto, em simplificar, condensar e racionalizar as diferentes taxas em vigor, tornando o seu conhecimento e aplicação mais fáceis por parte da Administração e dos particulares. Cria-se por isso uma categoria residual de taxas gerais de licenciamento e, a par desta, disciplinam-se de forma autónoma e completa as taxas de licenciamento de operações ou operadores sujeitos a enquadramento específico próprio, como ocorre com os aterros, os sistemas de gestão de fluxos específicos de resíduos, os CIRVER e as instalações de incineração e co-incineração, bem como com os movimentos transfronteiriços de resíduos. A consulta do presente decreto-lei bastará, assim, para que se tome conhecimento preciso e global das taxas que integram os respectivos procedimentos de licenciamento e das regras comuns a que estão sujeitas, reduzindo-se ao mínimo indispensável a consulta de diplomas complementares. Todavia, por razões que se prendem com as exigências do direito comunitário e com as exigências da sociedade portuguesa em matéria ambiental, o regime económico e financeiro da gestão dos resíduos não poderia contentar-se, em matéria tributária, com a sistematização dos instrumentos já existentes. O cumprimento dos objectivos a que o País se obrigou, no quadro comunitário ou por iniciativa própria, justifica que o segundo propósito deste diploma em matéria tributária esteja na instituição de novos instrumentos tributários que sirvam à orientação do comportamento de operadores económicos e consumidores finais, no sentido da redução da produção de resíduos e do seu tratamento mais eficiente. Com a taxa de gestão de resíduos agora criada, uma taxa de natureza periódica incidente, com montante diferenciado, sobre resíduos depositados em aterro ou geridos por entidades gestoras de sistemas de fluxos específicos de resíduos, de CIRVER ou de instalações de incineração ou co-incineração, pretende-se trazer para o ordenamento nacional um instrumento tributário de que se têm servido com sucesso outros países que nos são próximos, mobilizando os tributos públicos na promoção de uma gestão eficiente dos resíduos que passe pela interiorização por produtores e consumidores dos custos ambientais que lhes estão associados. Os instrumentos tributários que se sistematizam e instituem por meio do regime económico e financeiro que integra o presente diploma servem, assim, à concretização do disposto na alínea h) do n.º 2 do artigo 66.º da Constituição da República Portuguesa - que incumbe o Estado de compatibilizar no quadro da sua política fiscal o desenvolvimento com a protecção do ambiente e qualidade de vida - e na alínea r) do n.º 1 do artigo 27.º da Lei de Bases do Ambiente, que, precisamente, identifica a taxa como instrumento da política do ambiente. Os mesmos instrumentos servem ainda à concretização das recomendações mais urgentes das políticas comunitárias na matéria e dos textos jurídicos que as acompanham e à concretização desse princípio elementar de igualdade tributária que reside em fazer com que cada cidadão contribua na medida do custo ambiental que gere ao todo da comunidade, de acordo com uma regra de equivalência. Para além dos instrumentos tributários, o regime económico e financeiro dos resíduos contempla um instrumento de índole voluntária, materializado no mercado dos resíduos, o qual tem vindo a denotar um assinalável crescimento, envolvendo um cada vez maior número de operadores, especializando-se em fileiras cada vez mais numerosas. Trata-se de um sector importante da nossa economia que importa estimular, não só por razões de fomento mas,

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sobretudo, por razões de natureza ambiental: um dos instrumentos fulcrais para garantir que os resíduos são efectiva e adequadamente valorizados e reintroduzidos no sistema económico sob a forma material é a aceitabilidade, pelo mercado, dos produtos que integram componentes reutilizáveis ou materiais reciclados, pelo que o mesmo deve estar munido de instrumentos que facilitem a troca de resíduos e que incentivem a sua procura com vista à sua utilização como recurso. Há, pois, que proporcionar um enquadramento jurídico seguro ao mercado de resíduos e estabelecer os mecanismos institucionais que possam facilitar o encontro da oferta com a procura. O presente diploma consagra, por isso, o princípio da liberdade de comércio dos resíduos, condicionando embora essa liberdade, como é indispensável, às regras que visam acautelar a protecção do ambiente e da saúde pública. É ponto assente na estruturação deste diploma o de que o mercado não contraria, antes ajuda, a concretização de uma alocação eficiente dos resíduos gerados em sociedade, razão pela qual merece estímulo e amparo seguro. Um dos instrumentos que mais podem contribuir para o desenvolvimento do mercado dos resíduos consiste na introdução de um mercado organizado de resíduos que possa permitir o encontro da procura e da oferta destes produtos com rapidez, segurança e eficácia. O presente diploma fixa assim os seus princípios rectores, permitindo a sua institucionalização e desenvolvimento a breve prazo. O nosso país acompanhará, nesta matéria, a experiência de outros países que nos são próximos e que têm feito das bolsas de resíduos instrumentos fundamentais na dinamização da sua economia e na prossecução das suas políticas ambientais. Foram ouvidos os órgãos de governo próprio das Regiões Autónomas, a Associação Nacional dos Municípios Portugueses, a Comissão Nacional de Protecção de Dados e as organizações não governamentais do ambiente. Assim: Nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo 198.º da Constituição, o Governo decreta o seguinte:

TÍTULO I

Disposições e princípios gerais

CAPÍTULO I

Disposições gerais

Artigo 1.º

Objecto

O presente decreto-lei estabelece o regime geral da gestão de resíduos, transpondo para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 2006/12/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 5 de Abril, e a Directiva n.º 91/689/CEE, do Conselho, de 12 de Dezembro.

Artigo 2.º

Âmbito de aplicação

1 - O presente decreto-lei aplica-se às operações de gestão de resíduos, compreendendo toda e qualquer operação de recolha, transporte, armazenagem, triagem, tratamento, valorização e eliminação de resíduos, bem como às operações de descontaminação de solos e à monitorização dos locais de deposição após o encerramento das respectivas instalações. 2 - Excluem-se do âmbito de aplicação do presente decreto-lei: a) Os efluentes gasosos emitidos para a atmosfera; b) As águas residuais, com excepção dos resíduos em estado líquido; c) A biomassa florestal e a biomassa agrícola;

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d) Os resíduos a seguir identificados, quando sujeitos a legislação especial: i) Resíduos radioactivos; ii) Resíduos resultantes da prospecção, extracção, tratamento e armazenagem de recursos minerais, bem como da exploração de pedreiras; iii) Cadáveres de animais, ou suas partes, e resíduos agrícolas que sejam chorume e conteúdo do aparelho digestivo ou outras substâncias naturais não perigosas aproveitadas nas explorações agrícolas; iv) Explosivos abatidos à carga ou em fim de vida.

Artigo 3.º

Definições

Para os efeitos do disposto no presente decreto-lei, entende-se por: a) «Abandono» a renúncia ao controlo de resíduo sem qualquer beneficiário determinado, impedindo a sua gestão; b) «Armazenagem» a deposição temporária e controlada, por prazo determinado, de resíduos antes do seu tratamento, valorização ou eliminação; c) «Biomassa» os produtos que consistem, na totalidade ou em parte, numa matéria vegetal proveniente da agricultura ou da silvicultura, que pode ser utilizada como combustível para efeitos de recuperação do seu teor energético, bem como os resíduos a seguir enumerados quando utilizados como combustível: i) Resíduos vegetais provenientes da agricultura e da silvicultura que não constituam biomassa florestal ou agrícola; ii) Resíduos vegetais provenientes da indústria de transformação de produtos alimentares, se o calor gerado for recuperado; iii) Resíduos vegetais fibrosos provenientes da produção de pasta virgem e de papel se forem co-incinerados no local de produção e o calor gerado for recuperado; iv) Resíduos de cortiça; v) Resíduos de madeira, com excepção daqueles que possam conter compostos orgânicos halogenados ou metais pesados resultantes de tratamento com conservantes ou revestimento, incluindo, em especial, resíduos de madeira provenientes de obras de construção e demolição. d) «Biomassa agrícola» a matéria vegetal proveniente da actividade agrícola, nomeadamente de podas de formações arbóreo-arbustivas, bem como material similar proveniente da manutenção de jardins; e) «Biomassa florestal» a matéria vegetal proveniente da silvicultura e dos desperdícios de actividade florestal, incluindo apenas o material resultante das operações de condução, nomeadamente de desbaste e de desrama, de gestão de combustíveis e da exploração dos povoamentos florestais, como os ramos, bicadas, cepos, folhas, raízes e cascas; f) «Centro de recepção de resíduos» a instalação onde se procede à armazenagem ou triagem de resíduos inseridos quer em sistemas integrados de gestão de fluxos de resíduos quer em sistemas de gestão de resíduos urbanos; g) «Descarga» a operação de deposição de resíduos; h) «Descontaminação de solos» o procedimento de confinamento, tratamento in situ ou ex situ conducente à remoção e ou à redução de agentes poluentes nos solos, bem como à diminuição dos efeitos por estes causados; i) «Detentor» a pessoa singular ou colectiva que tenha resíduos, pelo menos, na sua simples detenção, nos termos da legislação civil; j) «Eliminação» a operação que visa dar um destino final adequado aos resíduos nos termos previstos na legislação em vigor, nomeadamente: i) Deposição sobre o solo ou no seu interior, por exemplo em aterro sanitário;

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ii) Tratamento no solo, por exemplo biodegradação de efluentes líquidos ou de lamas de depuração nos solos; iii) Injecção em profundidade, por exemplo injecção de resíduos por bombagem em poços, cúpulas salinas ou depósitos naturais; iv) Lagunagem, por exemplo descarga de resíduos líquidos ou de lamas de depuração em poços, lagos naturais ou artificiais; v) Depósitos subterrâneos especialmente concebidos, por exemplo deposição em alinhamentos de células que são seladas e isoladas umas das outras e do ambiente; vi) Descarga em massas de águas, com excepção dos mares e dos oceanos; vii) Descarga para os mares e ou oceanos, incluindo inserção nos fundos marinhos; viii) Tratamento biológico não especificado em qualquer outra parte do presente decreto-lei que produz compostos ou misturas finais que são rejeitados por meio de qualquer das operações enumeradas de i) a xii); ix) Tratamento físico-químico não especificado em qualquer outra parte do presente decreto-lei que produz compostos ou misturas finais rejeitados por meio de qualquer das operações enumeradas de i) a xii), por exemplo evaporação, secagem ou calcinação; x) Incineração em terra; xi) Incineração no mar; xii) Armazenagem permanente, por exemplo armazenagem de contentores numa mina; xiii) Mistura anterior à execução de uma das operações enumeradas de i) a xii); xiv) Reembalagem anterior a uma das operações enumeradas de i) a xiii); xv) Armazenagem enquanto se aguarda a execução de uma das operações enumeradas de i) a xiv), com exclusão do armazenamento temporário, antes da recolha, no local onde esta é efectuada; l) «Fileira de resíduos» o tipo de material constituinte dos resíduos, nomeadamente fileira dos vidros, fileira dos plásticos, fileira dos metais, fileira da matéria orgânica ou fileira do papel e cartão; m) «Fluxo de resíduos» o tipo de produto componente de uma categoria de resíduos transversal a todas as origens, nomeadamente embalagens, electrodomésticos, pilhas, acumuladores, pneus ou solventes; n) «Instalação» a unidade fixa ou móvel em que se desenvolvem operações de gestão de resíduos; o) «Passivo ambiental» a situação de degradação ambiental resultante do lançamento de contaminantes ao longo do tempo e ou de forma não controlada, nomeadamente nos casos em que não seja possível identificar o respectivo agente poluidor; p) «Plano» o estudo integrado dos elementos que regulam as acções de intervenção no âmbito da gestão de resíduos, identificando os objectivos a alcançar, as actividades a realizar, as competências e atribuições dos agentes envolvidos e os meios necessários à concretização das acções previstas; q) «Prevenção» as medidas destinadas a reduzir a quantidade e o carácter perigoso para o ambiente ou a saúde dos resíduos e materiais ou substâncias neles contidas; r) «Produtor» qualquer pessoa, singular ou colectiva, agindo em nome próprio ou prestando serviço a terceiro cuja actividade produza resíduos ou que efectue operações de pré-tratamento, de mistura ou outras que alterem a natureza ou a composição de resíduos; s) «Reciclagem» o reprocessamento de resíduos com vista à recuperação e ou regeneração das suas matérias constituintes em novos produtos a afectar ao fim original ou a fim distinto; t) «Recolha» a operação de apanha, selectiva ou indiferenciada, de triagem e ou mistura de resíduos com vista ao seu transporte;

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u) «Resíduo» qualquer substância ou objecto de que o detentor se desfaz ou tem a intenção ou a obrigação de se desfazer, nomeadamente os identificados na Lista Europeia de Resíduos ou ainda: i) Resíduos de produção ou de consumo não especificados nos termos das subalíneas seguintes; ii) Produtos que não obedeçam às normas aplicáveis; iii) Produtos fora de validade; iv) Matérias acidentalmente derramadas, perdidas ou que sofreram qualquer outro acidente, incluindo quaisquer matérias ou equipamentos contaminados na sequência do incidente em causa; v) Matérias contaminadas ou sujas na sequência de actividades deliberadas, tais como, entre outros, resíduos de operações de limpeza, materiais de embalagem ou recipientes; vi) Elementos inutilizáveis, tais como baterias e catalisadores esgotados; vii) Substâncias que se tornaram impróprias para utilização, tais como ácidos contaminados, solventes contaminados ou sais de têmpora esgotados; viii) Resíduos de processos industriais, tais como escórias ou resíduos de destilação; ix) Resíduos de processos antipoluição, tais como lamas de lavagem de gás, poeiras de filtros de ar ou filtros usados; x) Resíduos de maquinagem ou acabamento, tais como aparas de torneamento e fresagem; xi) Resíduos de extracção e preparação de matérias-primas, tais como resíduos de exploração mineira ou petrolífera; xii) Matérias contaminadas, tais como óleos contaminados com bifenil policlorado; xiii) Qualquer matéria, substância ou produto cuja utilização seja legalmente proibida; xiv) Produtos que não tenham ou tenham deixado de ter utilidade para o detentor, tais como materiais agrícolas, domésticos, de escritório, de lojas ou de oficinas; xv) Matérias, substâncias ou produtos contaminados provenientes de actividades de recuperação de terrenos; xvi) Qualquer substância, matéria ou produto não abrangido pelas subalíneas anteriores; v) «Resíduo agrícola» o resíduo proveniente de exploração agrícola e ou pecuária ou similar; x) «Resíduo de construção e demolição» o resíduo proveniente de obras de construção, reconstrução, ampliação, alteração, conservação e demolição e da derrocada de edificações; z) «Resíduo hospitalar» o resíduo resultante de actividades médicas desenvolvidas em unidades de prestação de cuidados de saúde, em actividades de prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação e investigação, relacionada com seres humanos ou animais, em farmácias, em actividades médico-legais, de ensino e em quaisquer outras que envolvam procedimentos invasivos, tais como acupunctura, piercings e tatuagens; aa) «Resíduo industrial» o resíduo gerado em processos produtivos industriais, bem como o que resulte das actividades de produção e distribuição de electricidade, gás e água; bb) «Resíduo inerte» o resíduo que não sofre transformações físicas, químicas ou biológicas importantes e, em consequência, não pode ser solúvel nem inflamável, nem ter qualquer outro tipo de reacção física ou química, e não pode ser biodegradável, nem afectar negativamente outras substâncias com as quais entre em contacto de forma susceptível de aumentar a poluição do ambiente ou prejudicar a saúde humana, e cujos lixiviabilidade total, conteúdo poluente e ecotoxicidade do lixiviado são insignificantes e, em especial, não põem em perigo a qualidade das águas superficiais e ou subterrâneas; cc) «Resíduo perigoso» o resíduo que apresente, pelo menos, uma característica de perigosidade para a saúde ou para o ambiente, nomeadamente os identificados como tal na Lista Europeia de Resíduos; dd) «Resíduo urbano» o resíduo proveniente de habitações bem como outro resíduo que, pela sua natureza ou composição, seja semelhante ao resíduo proveniente de habitações;

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ee) «Reutilização» a reintrodução, sem alterações significativas, de substâncias, objectos ou produtos nos circuitos de produção ou de consumo de forma a evitar a produção de resíduos; ff) «Tratamento» o processo manual, mecânico, físico, químico ou biológico que altere as características de resíduos de forma a reduzir o seu volume ou perigosidade bem como a facilitar a sua movimentação, valorização ou eliminação após as operações de recolha; gg) «Triagem» o acto de separação de resíduos mediante processos manuais ou mecânicos, sem alteração das suas características, com vista à sua valorização ou a outras operações de gestão; hh) «Valorização» a operação de reaproveitamento de resíduos prevista na legislação em vigor, nomeadamente: i) Utilização principal como combustível ou outros meios de produção de energia; ii) Recuperação ou regeneração de solventes; iii) Reciclagem ou recuperação de compostos orgânicos que não são utilizados como solventes, incluindo as operações de compostagem e outras transformações biológicas; iv) Reciclagem ou recuperação de metais e de ligas; v) Reciclagem ou recuperação de outras matérias inorgânicas; vi) Regeneração de ácidos ou de bases; vii) Recuperação de produtos utilizados na luta contra a poluição; viii) Recuperação de componentes de catalisadores; ix) Refinação de óleos e outras reutilizações de óleos; x) Tratamento no solo em benefício da agricultura ou para melhorar o ambiente; xi) Utilização de resíduos obtidos em virtude das operações enumeradas de i) a x); xii) Troca de resíduos com vista a submetê-los a uma das operações enumeradas de i) a xi); xiii) Acumulação de resíduos destinados a uma das operações enumeradas de i) a xii), com exclusão do armazenamento temporário, antes da recolha, no local onde esta é efectuada.

CAPÍTULO II Princípios gerais da gestão de resíduos

Artigo 4.º Princípio da auto-suficiência

1 - As operações de gestão de resíduos devem decorrer preferencialmente em território nacional, reduzindo ao mínimo possível os movimentos transfronteiriços de resíduos. 2 - A Autoridade Nacional dos Resíduos pode interditar a movimentação de resíduos destinada a eliminação noutro Estado, pertencente ou não ao espaço comunitário, com fundamento na existência em território nacional de instalações de gestão adequadas para o efeito.

Artigo 5.º

Princípio da responsabilidade pela gestão

1 - A gestão do resíduo constitui parte integrante do seu ciclo de vida, sendo da responsabilidade do respectivo produtor. 2 - Exceptuam-se do disposto no número anterior os resíduos urbanos cuja produção diária não exceda 1100 l por produtor, caso em que a respectiva gestão é assegurada pelos municípios. 3 - Em caso de impossibilidade de determinação do produtor do resíduo, a responsabilidade pela respectiva gestão recai sobre o seu detentor. 4 - Quando os resíduos tenham proveniência externa, a sua gestão cabe ao responsável pela sua introdução em território nacional, salvo nos casos expressamente definidos na legislação referente à transferência de resíduos. 5 - A responsabilidade das entidades referidas nos números anteriores extingue-se pela transmissão dos resíduos a operador licenciado de gestão de resíduos ou pela sua

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transferência, nos termos da lei, para as entidades responsáveis por sistemas de gestão de fluxos de resíduos.

Artigo 6.º

Princípios da prevenção e redução

Constitui objectivo prioritário da política de gestão de resíduos evitar e reduzir a sua produção bem como o seu carácter nocivo, devendo a gestão de resíduos evitar também ou, pelo menos, reduzir o risco para a saúde humana e para o ambiente causado pelos resíduos sem utilizar processos ou métodos susceptíveis de gerar efeitos adversos sobre o ambiente, nomeadamente através da criação de perigos para a água, o ar, o solo, a fauna e a flora, perturbações sonoras ou odoríficas ou de danos em quaisquer locais de interesse e na paisagem.

Artigo 7.º Princípio da hierarquia das operações de gestão de resíduos

1 - A gestão de resíduos deve assegurar que à utilização de um bem sucede uma nova utilização ou que, não sendo viável a sua reutilização, se procede à sua reciclagem ou ainda a outras formas de valorização. 2 - A eliminação definitiva de resíduos, nomeadamente a sua deposição em aterro, constitui a última opção de gestão, justificando-se apenas quando seja técnica ou financeiramente inviável a prevenção, a reutilização, a reciclagem ou outras formas de valorização. 3 - Os produtores de resíduos devem proceder à separação dos resíduos na origem de forma a promover a sua valorização por fluxos e fileiras. 4 - Deve ser privilegiado o recurso às melhores tecnologias disponíveis com custos economicamente sustentáveis que permitam o prolongamento do ciclo de vida dos materiais através da sua reutilização, em conformidade com as estratégias complementares adoptadas noutros domínios.

Artigo 8.º

Princípio da responsabilidade do cidadão

Os cidadãos contribuem para a prossecução dos princípios e objectivos referidos nos artigos anteriores, adoptando comportamentos de carácter preventivo em matéria de produção de resíduos, bem como práticas que facilitem a respectiva reutilização e valorização.

Artigo 9.º

Princípio da regulação da gestão de resíduos

1 - A gestão de resíduos é realizada de acordo com os princípios gerais fixados nos termos do presente decreto-lei e demais legislação aplicável e em respeito dos critérios qualitativos e quantitativos fixados nos instrumentos regulamentares e de planeamento. 2 - É proibida a realização de operações de armazenagem, tratamento, valorização e eliminação de resíduos não licenciadas nos termos do presente decreto-lei. 3 - São igualmente proibidos o abandono de resíduos, a incineração de resíduos no mar e a sua injecção no solo, bem como a descarga de resíduos em locais não licenciados para realização de operações de gestão de resíduos.

Artigo 10.º

Princípio da equivalência

O regime económico e financeiro das actividades de gestão de resíduos visa a compensação tendencial dos custos sociais e ambientais que o produtor gera à comunidade ou dos benefícios que a comunidade lhe faculta, de acordo com um princípio geral de equivalência.

TÍTULO II

Regulação da gestão de resíduos

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CAPÍTULO I

Planeamento da gestão de resíduos

Artigo 11.º

Autoridade Nacional dos Resíduos

Compete ao organismo com atribuições na área dos resíduos tutelado pelo ministério responsável pela área do ambiente, enquanto Autoridade Nacional dos Resíduos, doravante designada ANR, assegurar e acompanhar a implementação de uma estratégia nacional para os resíduos, mediante o exercício de competências próprias de licenciamento, da emissão de normas técnicas aplicáveis às operações de gestão de resíduos, do desempenho de tarefas de acompanhamento das actividades de gestão de resíduos, de uniformização dos procedimentos de licenciamento e dos assuntos internacionais e comunitários no domínio dos resíduos.

Artigo 12.º

Autoridades regionais dos resíduos

Incumbe aos serviços desconcentrados do ministério responsável pela área do ambiente, enquanto autoridades regionais dos resíduos, doravante designadas ARR, assegurar o exercício das competências relativas à gestão de resíduos numa relação de proximidade com os operadores.

Artigo 13.º

Planos de gestão de resíduos

As orientações fundamentais da política de gestão de resíduos constam do plano nacional de gestão de resíduos, dos planos específicos de gestão de resíduos e dos planos multimunicipais, intermunicipais e municipais de acção.

Artigo 14.º

Plano nacional de gestão de resíduos

1 - O plano nacional de gestão de resíduos estabelece as orientações estratégicas de âmbito nacional da política de gestão de resíduos e as regras orientadoras da disciplina a definir pelos planos específicos de gestão de resíduos no sentido de garantir a concretização dos princípios referidos no título I, bem como a constituição de uma rede integrada e adequada de instalações de valorização e eliminação de todo o tipo de resíduos, tendo em conta as melhores tecnologias disponíveis com custos economicamente sustentáveis. 2 - O plano nacional de gestão de resíduos tem um prazo máximo de vigência de sete anos e é aprovado por resolução do Conselho de Ministros, sob proposta do membro do Governo responsável pela área do ambiente e após audição da Associação Nacional de Municípios Portugueses.

Artigo 15.º

Planos específicos de gestão de resíduos

1 - Os planos específicos de gestão de resíduos concretizam o plano nacional de gestão de resíduos em cada área específica de actividade geradora de resíduos, nomeadamente industrial, urbana, agrícola e hospitalar, estabelecendo as respectivas prioridades a observar, metas a atingir e acções a implementar e as regras orientadoras da disciplina a definir pelos planos multimunicipais, intermunicipais e municipais de acção. 2 - Os planos específicos de gestão de resíduos são aprovados por portaria conjunta dos membros do Governo responsáveis pela área do ambiente e pela área geradora do respectivo

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tipo de resíduos, sendo previamente ouvida a Associação Nacional de Municípios Portugueses no caso do plano específico de gestão de resíduos urbanos.

Artigo 16.º

Planos multimunicipais, intermunicipais e municipais de acção

1 - Os planos multimunicipais, intermunicipais e municipais de acção definem a estratégia de gestão de resíduos urbanos e as acções a desenvolver pela entidade responsável pela respectiva elaboração quanto à gestão deste tipo de resíduos, em articulação com o plano nacional de gestão de resíduos e o plano específico de gestão de resíduos urbanos. 2 - Os planos multimunicipais e intermunicipais são elaborados pelas entidades gestoras dos respectivos sistemas de gestão, ouvida a ARR competente. 3 - A elaboração dos planos municipais de acção pelos municípios é facultativa, adoptando-se o procedimento de aprovação previsto para os regulamentos municipais. Artigo 17.º Conteúdo dos planos de gestão de resíduos Os planos de gestão de resíduos dispõem, nomeadamente, sobre: a) Tipo, origem e quantidade dos resíduos a gerir; b) Normas técnicas gerais aplicáveis às operações de gestão de resíduos; c) Locais ou instalações apropriadas para a valorização ou eliminação; d) Especificações técnicas e disposições especiais relativas a resíduos específicos; e) Objectivos quantitativos e qualitativos a atingir, em conformidade com os objectivos definidos pela legislação nacional ou comunitária aplicável.

Artigo 18.º

Reavaliação e alteração dos planos de gestão de resíduos

Os planos específicos de gestão de resíduos, os planos multimunicipais, os planos intermunicipais e os planos municipais de gestão de resíduos urbanos são reavaliados no prazo de seis meses a contar da aprovação do plano nacional de resíduos e, se necessário, alterados no prazo de dois anos a contar da mesma data.

Artigo 19.º

Relatório

1 - A ANR elabora e remete ao ministro responsável pela área do ambiente um relatório anual sobre os resultados obtidos na prevenção, recolha, tratamento, valorização e eliminação de resíduos decorrentes da aplicação dos planos de gestão de resíduos. 2 - As informações contidas no relatório a que refere o número anterior são disponibilizadas ao público até ao dia 30 de Abril do ano seguinte a que respeite o relatório.

CAPÍTULO II

Normas técnicas das operações de gestão de resíduos

Artigo 20.º

Sujeição das operações de gestão de resíduos a normas técnicas

1 - As operações de gestão de resíduos realizam-se de acordo com as normas técnicas relativas à eliminação ou redução do perigo para a saúde humana e para o ambiente causado pelos resíduos. 2 - As normas técnicas das operações de gestão de resíduos relativas, nomeadamente, a pneus, óleos, embalagens, embalagens de fitofármacos, equipamentos eléctricos e electrónicos, pilhas, veículos em fim de vida, resíduos de construção e demolição, lamas de depuração e, de um modo geral, a resíduos industriais ou resíduos urbanos, bem como das operações de

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descontaminação dos solos, de deposição em aterro, de movimentação transfronteiriça e de incineração e co-incineração de resíduos, constam da legislação e regulamentação respectivamente aplicáveis. 3 - As operações de gestão de resíduos são realizadas sob a direcção de um responsável técnico, o qual deve deter as habilitações profissionais adequadas para o efeito.

Artigo 21.º

Normas técnicas sobre transporte de resíduos

1 - As normas técnicas sobre o transporte de resíduos em território nacional e os modelos das respectivas guias de acompanhamento são aprovadas por portaria conjunta dos membros do Governo responsáveis pelas áreas da administração interna, do ambiente, dos transportes e da saúde. 2 - A portaria a que se refere o número anterior não é aplicável ao transporte de biomassa.

Artigo 22.º

Centros integrados de recuperação, valorização e eliminação de resíduos perigosos

1 - As operações de gestão de resíduos efectuadas nos centros integrados de recuperação, valorização e eliminação de resíduos perigosos, adiante designados por CIRVER, são realizadas de acordo com as normas técnicas constantes do respectivo regulamento de funcionamento, aprovado por portaria dos membros do Governo responsáveis pelas áreas do ambiente, da economia e da saúde. 2 - Os CIRVER devem realizar operações de preparação de combustíveis alternativos a partir de resíduos perigosos para posterior valorização energética em instalações de incineração ou co-incineração, podendo ainda essas operações de tratamento, desde que exclusivamente físicas, ser realizadas noutras instalações devidamente licenciadas para o efeito nos termos do presente decreto-lei.

CAPÍTULO III

Licenciamento das operações de gestão de resíduos

SECÇÃO I

Disposições gerais

Artigo 23.º

Sujeição e licenciamento

1 - As operações de armazenagem, triagem, tratamento, valorização e eliminação de resíduos estão sujeitas a licenciamento nos termos do presente capítulo. 2 - O disposto no presente capítulo aplica-se, com as necessárias adaptações, às operações de descontaminação dos solos e de valorização agrícola de resíduos, sem prejuízo do disposto em legislação especial. 3 - O disposto no presente capítulo é ainda aplicável, com as necessárias adaptações, às operações de gestão de resíduos que se desenvolvam em instalações móveis, definindo o acto de licenciamento os tipos de locais em que o seu desenvolvimento é permitido, de acordo com o tipo de resíduos e de operações de gestão em causa. 4 - Não estão sujeitas a licenciamento nos termos do presente capítulo as operações de recolha e de transporte de resíduos, bem como a de armazenagem de resíduos que seja efectuada no próprio local de produção por período não superior a um ano e, ainda, as de valorização energética de biomassa.

Artigo 24.º

Entidades licenciadoras

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Sem prejuízo do disposto nos artigos 41.º a 44.º do presente decreto-lei, o licenciamento das operações de gestão de resíduos compete: a) À ANR, no caso de operações efectuadas em instalações referidas no anexo I do Decreto-Lei n.º 69/2000, de 3 de Maio, na redacção que lhe foi dada pelos Decretos-Leis n.ºs 74/2001, de 26 de Fevereiro, e 69/2003, de 10 de Abril, pela Lei n.º 12/2004, de 30 de Março, e pelo Decreto-Lei n.º 197/2005 197/2005 , de 8 de Novembro; b) Às ARR, nos restantes casos de operações de gestão de resíduos, bem como nos casos de operações de descontaminação dos solos.

Artigo 25.º

Dispensa de licenciamento e comunicação prévia

1 - As operações de eliminação de resíduos não perigosos, quando efectuadas pelo seu produtor e no próprio local de produção, bem como as operações de valorização de resíduos não perigosos, estão dispensadas de licenciamento sempre que dos planos específicos de gestão de resíduos ou de portaria conjunta aprovada pelos membros do Governo responsáveis pela área do ambiente e pela área geradora do respectivo tipo de resíduos resulte a adopção de normas específicas para cada tipo de operação e a fixação dos tipos e das quantidades de resíduos a eliminar ou valorizar. 2 - As operações referidas no número anterior devem ser realizadas sem pôr em perigo a saúde humana e sem utilizar processos ou métodos susceptíveis de gerar efeitos adversos sobre o ambiente, nomeadamente através da criação de perigos para a água, o ar, o solo, a fauna e a flora, perturbações sonoras ou odoríficas ou de danos em quaisquer locais de interesse e na paisagem, estando ainda sujeitas à obrigação de comunicação prévia à ARR competente. 3 - A comunicação prévia deve ser instruída com a identificação do interessado, a localização geográfica e a descrição das operações em causa e do tipo e quantidade de resíduos envolvidos, bem como das medidas ambientais e de saúde pública a implementar, aplicando-se o disposto no artigo 26.º do presente decreto-lei, podendo as operações iniciar-se decorrido o prazo de 10 dias após a sua entrega. 4 - No prazo de 10 dias após a recepção da comunicação prévia, a ARR indefere liminarmente o pedido quando verifique que não estão reunidos os requisitos da comunicação prévia previstos nos n.ºs 1 e 2 do presente artigo. 5 - A ARR informa a ANR do início das operações de gestão de resíduos objecto de comunicação prévia. 6 - Às operações de gestão de resíduos sujeitas a comunicação prévia aplica-se, com as devidas adaptações, o disposto nos artigos 34.º a 40.º do presente decreto-lei. 7 - Sob solicitação de entidades judiciais, policiais ou de outras entidades públicas com competência específica na matéria, pode ser ainda excepcionalmente dispensada de licenciamento, por despacho do dirigente máximo da ANR e com fundamento em razões de ordem ou saúde públicas, a realização de operações de gestão de resíduos não perigosos com vista à sua eliminação. 8 - A decisão a que se refere o número anterior fixa os termos e as condições de realização das operações em causa.

Artigo 26.º

Apresentação de requerimentos

1 - Os requerimentos podem ser apresentados pelo interessado em suporte de papel ou, em alternativa, em suporte informático e por meios electrónicos. 2 - Os requerimentos são acompanhados de declaração que ateste a autenticidade das informações prestadas, elaborada e assinada pelo interessado ou por seu legal representante

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quando se trate de pessoa colectiva, sendo a assinatura substituída, no caso de requerimento apresentado em suporte informático e por meio electrónico, pelos meios de certificação electrónica disponíveis. 3 - Quando o interessado apresentar o requerimento inicial em suporte informático e por meio electrónico, as subsequentes comunicações entre a entidade licenciadora e o interessado no âmbito do respectivo procedimento são realizadas por meios electrónicos.

SECÇÃO II

Procedimento

Artigo 27.º

Pedido de licenciamento

1 - O pedido de licenciamento é apresentado junto da entidade licenciadora, instruído com os seguintes elementos: a) Documento do qual constem: i) A identificação do requerente e o seu número de identificação fiscal; ii) Descrição da operação que pretende realizar e da sua localização geográfica, com os elementos definidos em portaria aprovada pelo membro do Governo responsável pela área do ambiente; b) Outros elementos tidos pelo requerente como relevantes para a apreciação do pedido. 2 - No prazo de 10 dias, a entidade licenciadora verifica se o pedido se encontra instruído com a totalidade dos elementos exigidos, podendo solicitar, por uma única vez, a prestação de informações ou elementos complementares, bem como o seu aditamento ou reformulação. 3 - A entidade licenciadora pode igualmente convocar o requerente para a realização de uma conferência instrutória na qual são abordados todos os aspectos considerados necessários para a boa decisão do pedido e eventualmente solicitados elementos instrutórios adicionais. 4 - No caso de o requerente não juntar os elementos solicitados pela entidade licenciadora nos termos dos números anteriores no prazo de 60 dias a contar da notificação de pedido de elementos ou de os juntar de forma deficiente ou insuficiente, o pedido é liminarmente indeferido.

Artigo 28.º

Consultas

1 - No prazo de 10 dias a contar da recepção do pedido ou da recepção dos elementos adicionais referidos nos n.ºs 2 a 4 do artigo anterior, a autoridade licenciadora promove a consulta das entidades que devam pronunciar-se no âmbito do procedimento de licenciamento, nomeadamente do organismo regional com responsabilidade pela gestão da água, relativamente à afectação dos recursos hídricos, e do serviço regional desconcentrado responsável pela área do ordenamento do território, quanto à compatibilidade da localização prevista com os instrumentos de gestão territorial respectivamente aplicáveis, quando esteja em causa a construção de uma nova instalação ou a ampliação de área de uma instalação já construída. 2 - Pode ser ainda promovida, quando solicitado pelo requerente, a consulta da Direcção-Geral da Saúde e do Instituto para a Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho. 3 - No termo do prazo fixado no n.º 1 para a autoridade licenciadora promover as consultas às entidades que devam pronunciar-se no âmbito do procedimento, pode o requerente solicitar a passagem de certidão da promoção das consultas devidas, devendo esta ser emitida no prazo de 10 dias.

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4 - Se a certidão referida no número anterior for negativa ou não for emitida no respectivo prazo, o interessado pode promover directamente as respectivas consultas ou pedir ao tribunal que promova as consultas ou que condene a autoridade licenciadora a promovê-las. 5 - A não emissão de parecer no prazo de 15 dias contados a partir da data de promoção das consultas previstas nos números anteriores equivale à emissão de parecer favorável. 6 - Quando os meios disponíveis o permitam e a entidade licenciadora o determine, os pareceres previstos no presente artigo podem ser emitidos em conferência de serviços, a qual pode decorrer por via electrónica. 7 - Os pareceres referidos no número anterior são reduzidos a escrito em acta da conferência assinada por todos os presentes ou documentados através de outro meio que ateste a posição assumida pelo representante da entidade consultada.

Artigo 29.º

Comunicação

1 - A entidade licenciadora comunica ao requerente, no prazo de 30 dias após o termo do prazo referido no n.º 1 do artigo anterior, se o respectivo projecto: a) Está conforme aos princípios referidos no título I do presente decreto-lei e aos planos de gestão de resíduos aplicáveis; e b) Cumpre as normas técnicas a que se referem os artigos 20.º a 22.º 2 - Com a comunicação referida no número anterior, a entidade licenciadora informa o requerente das condições impostas por si e pelas demais entidades consultadas. 3 - A comunicação é válida por um período de dois anos, sendo o seu prazo de validade prorrogável a pedido do requerente, com fundamento em motivo que não lhe seja imputável. 4 - Sem prejuízo da possibilidade de exercício dos meios de garantia jurisdicional ao dispor do requerente para reagir à omissão administrativa, a falta da comunicação pela entidade licenciadora no prazo referido no n.º 1 do presente artigo concede ao requerente a faculdade de notificar para o efeito aquela entidade, a qual tem o prazo de oito dias contados da recepção da notificação para se pronunciar, equivalendo a falta de pronúncia à emissão de comunicação favorável ao projecto. 5 - São nulos os actos que autorizem ou licenciem a realização de qualquer projecto relativo a operações de gestão de resíduos sem que tenha sido previamente emitida a comunicação favorável a que se refere o n.º 1 do presente artigo ou verificada a produção do deferimento tácito nos termos previstos no número anterior.

Artigo 30.º

Vistoria

1 - O requerente solicita a realização de uma vistoria com uma antecedência mínima de 40 dias da data prevista para o início da realização da operação de gestão de resíduos. 2 - Quando tiverem sido impostas condições nos termos do n.º 2 do artigo anterior, o pedido de vistoria é acompanhado de elementos comprovativos do respectivo cumprimento. 3 - A vistoria é efectuada pela entidade licenciadora, acompanhada pelas entidades que tenham emitido parecer, não constituindo a ausência destas fundamento para a sua não realização. 4 - A vistoria efectua-se no prazo de 20 dias a contar da data de apresentação da solicitação, sendo o requerente notificado para o efeito pela entidade licenciadora com uma antecedência mínima de 10 dias. 5 - Da vistoria é lavrado um auto, assinado pelos intervenientes, do qual consta a informação sobre: a) A conformidade ou desconformidade da instalação e ou equipamento com o projecto que tenha merecido uma apreciação favorável nos termos do artigo 29.º;

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b) O cumprimento das condições previamente estabelecidas. 6 - A não realização da vistoria no prazo de 20 dias após a recepção do pedido equivale à verificação da conformidade da instalação ou equipamento com o projecto inicialmente apresentado.

Artigo 31.º

Decisão final

1 - A decisão final é proferida no prazo de 10 dias a contar da data da realização da vistoria ou do decurso do prazo referido no n.º 6 do artigo anterior. 2 - O licenciamento de operações de gestão de resíduos depende do cumprimento dos seguintes requisitos: a) Verificação da conformidade da instalação e ou equipamento com o projecto que tenha merecido uma apreciação favorável nos termos do artigo 29.º; b) Conformidade da operação de gestão com os princípios referidos no título I do presente decreto-lei e com os planos de gestão de resíduos aplicáveis; e c) Cumprimento pela operação a realizar das normas técnicas a que se referem os artigos 20.º a 22.º 3 - A decisão final estabelece os termos e as condições de que depende a realização da operação de gestão de resíduos licenciada. 4 - Quando a entidade licenciadora seja uma ARR, esta remete uma cópia da licença à ANR no prazo de cinco dias a contar da data da sua emissão. 5 - Sem prejuízo da possibilidade de exercício dos meios de garantia jurisdicional ao dispor do requerente para reagir à omissão administrativa, a falta de decisão pela entidade licenciadora no prazo referido no n.º 1 do presente artigo concede ao requerente a faculdade de notificar para o efeito aquela entidade, a qual tem o prazo de oito dias contados da recepção da notificação para se pronunciar, equivalendo a falta de pronúncia à emissão de decisão favorável ao projecto.

Artigo 32.º

Licenciamento simplificado

1 - Carecem de licença emitida em procedimento simplificado, analisado e decidido no prazo de 20 dias pela entidade licenciadora, as operações de: a) Gestão de resíduos relativas a situações pontuais, dotadas de carácter não permanente ou em que os resíduos não resultem da normal actividade produtiva; b) Armazenagem de resíduos, quando efectuadas no próprio local de produção, no respeito pelas especificações técnicas aplicáveis e por período superior a um ano; c) Armazenagem de resíduos, quando efectuadas em local análogo ao local de produção, pertencente à mesma entidade, no respeito pelas especificações técnicas aplicáveis e por período não superior a um ano; d) Armazenagem e triagem de resíduos em instalações que constituam centros de recepção integrados em sistemas de gestão de fluxos específicos; e) Armazenagem, triagem e tratamento mecânico de resíduos não perigosos; f) Valorização de resíduos realizadas em instalações experimentais ou a título experimental destinadas a fins de investigação, desenvolvimento e ensaio de medidas de aperfeiçoamento dos processos de gestão de resíduos; g) Valorização não energética de resíduos não perigosos, quando efectuadas no próprio local de produção; h) Valorização interna não energética de óleos usados; i) Valorização de resíduos inertes, de betão e de betuminosos; j) Valorização de resíduos tendo em vista a recuperação de metais preciosos;

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l) Recuperação de solventes quando efectuada no próprio local de produção; m) Co-incineração de resíduos combustíveis não perigosos resultantes do tratamento mecânico de resíduos. 2 - O pedido de licenciamento simplificado é instruído com uma memória descritiva das operações em causa e do tipo e quantidade de resíduos envolvidos, bem como das medidas ambientais e de saúde pública a implementar. 3 - No prazo de 10 dias, a entidade licenciadora verifica se o pedido se encontra instruído com a totalidade dos elementos exigidos, podendo solicitar, por uma única vez, a prestação de informações ou elementos complementares, bem como o seu aditamento ou reformulação, suspendendo-se o prazo referido no n.º 1 do presente artigo. 4 - A entidade licenciadora pode igualmente convocar o requerente para a realização de uma conferência instrutória na qual são abordados todos os aspectos considerados necessários para a boa decisão do pedido e eventualmente solicitados elementos instrutórios adicionais. 5 - No caso de o requerente não juntar os elementos solicitados pela entidade licenciadora nos termos dos números anteriores no prazo de 30 dias a contar da notificação de pedido de elementos ou de os juntar de forma deficiente ou insuficiente, o pedido é liminarmente indeferido. 6 - O licenciamento de operações de gestão de resíduos nos termos do presente artigo depende do cumprimento dos seguintes requisitos: a) Conformidade do pedido com os princípios referidos no título I do presente decreto-lei e com os planos de gestão de resíduos aplicáveis; e b) Observância das normas técnicas a que se referem os artigos 20.º a 22.º 7 - Em caso de deferimento, a licença fixa o seu prazo de validade bem como as condições em que deve ser realizada a operação. 8 - Quando a entidade licenciadora seja uma ARR, esta remete uma cópia da licença à ANR no prazo de cinco dias a contar da data da sua emissão. 9 - Sem prejuízo da possibilidade de exercício dos meios de garantia jurisdicional ao dispor do requerente para reagir à omissão administrativa, a falta de decisão da entidade licenciadora no prazo referido no n.º 1 do presente artigo concede ao requerente a faculdade de notificar para o efeito aquela entidade, a qual tem o prazo de oito dias contados da recepção da notificação para se pronunciar, equivalendo a falta de pronúncia à emissão de decisão favorável.

Artigo 33.º

Alvará

1 - Com o proferimento da decisão final é emitido e enviado ao operador o respectivo alvará de licença, do qual constam, nomeadamente: a) A identificação do titular da licença; b) O tipo de operação de gestão de resíduos para o qual o operador está licenciado, nomeadamente as normas técnicas aplicáveis e o método de tratamento utilizável; c) O tipo e a quantidade máxima de resíduos objecto da operação de gestão de resíduos; d) As condições a que fica submetida a operação de gestão de resíduos, incluindo as precauções a tomar em matéria de segurança; e) A identificação do(s) responsável(eis) técnico(s) pela operação de gestão de resíduos; f) A identificação das instalações e ou equipamentos licenciados, incluindo os requisitos técnicos relevantes; g) O prazo de validade da licença. 2 - O modelo de alvará de licença para a realização de operações de gestão de resíduos é aprovado por portaria do membro do Governo responsável pela área do ambiente.

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SECÇÃO III

Vicissitudes da licença e controlo da operação licenciada

Artigo 34.º

Adaptabilidade da licença

1 - O operador de gestão de resíduos assegura a adopção das medidas preventivas adequadas ao combate à poluição, mediante a utilização das melhores técnicas disponíveis. 2 - A entidade licenciadora pode impor ao operador de gestão de resíduos, mediante decisão fundamentada, a adopção das medidas que considere adequadas para minimizar ou compensar efeitos negativos não previstos para o ambiente ou para a saúde pública ocorridos durante as operações de gestão de resíduos.

Artigo 35.º

Validade e renovação

1 - A licença é válida pelo período nela fixado, que não pode ser superior a cinco anos, excepto nos casos a que se referem as alíneas a), c) e d) do n.º 1 do artigo 32.º, em que a licença é válida pelo período de tempo a que respeita a realização da operação de gestão de resíduos em causa. 2 - O pedido de renovação da licença é apresentado pelo operador de gestão de resíduos no prazo de 120 dias antes do termo do prazo de validade da licença em vigor, instruído com documento do qual conste a menção de que a operação será realizada de forma integralmente conforme com a anteriormente licenciada e nos termos da legislação e regulamentação aplicáveis. 3 - Quando a renovação da licença respeite a uma operação de gestão de resíduos em que se pretenda realizar uma alteração relativamente ao tipo, quantidade e origem do resíduo, bem como aos métodos e equipamentos utilizados na operação, o pedido de renovação é instruído com os elementos relevantes referidos no artigo 27.º 4 - Nos casos a que se refere o número anterior, é realizada uma vistoria pela entidade licenciadora, nos termos do artigo 30.º do presente decreto-lei. 5 - A entidade licenciadora pode determinar ao requerente a apresentação de um novo pedido de licenciamento, nos termos do artigo 27.º, quando verificar que da introdução de todas as alterações requeridas resultará a realização de uma operação substancialmente diferente da originalmente licenciada. 6 - A decisão final é proferida no prazo de 30 dias a contar da data de apresentação do pedido de renovação ou, nos casos referidos no número anterior, da data da realização da vistoria. 7 - Os termos da renovação da licença são averbados no alvará original.

Artigo 36.º

Alteração da operação licenciada

1 - Carecem de renovação de licença, nos termos do disposto no artigo anterior, as alterações de operações de gestão de resíduos em que: a) Seja modificado o tipo de operação realizada; b) Seja modificado o tipo de resíduo gerido; c) O aumento da área ocupada pela instalação exceda em mais de 20% a área ocupada à data de emissão da licença; ou ainda d) Se verifique um aumento superior a 20% da quantidade de resíduos geridos. 2 - O requerente fica dispensado de apresentar com o pedido de renovação os documentos que hajam instruído o anterior pedido de licenciamento e que se mantenham válidos.

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3 - A entidade licenciadora pode determinar ao requerente a apresentação de um novo pedido de licenciamento, nos termos do artigo 27.º, quando verificar que da introdução de todas as alterações requeridas resultará o exercício de uma operação substancialmente diferente da originalmente licenciada. 4 - Os termos da alteração da licença são averbados no alvará original.

Artigo 37.º

Transmissão da licença

1 - A licença de operação de gestão de resíduos pode ser transmitida desde que o transmissário realize a operação de gestão de resíduos nos termos definidos no procedimento de licenciamento. 2 - A transmissão da licença é solicitada mediante apresentação à entidade licenciadora de requerimento conjunto instruído de documento elaborado pelo transmissário do qual constem: a) A declaração de que a operação será realizada nos termos licenciados e de acordo com a legislação e regulamentação aplicáveis; b) A identificação do responsável técnico da operação licenciada e das respectivas habilitações profissionais. 3 - A entidade licenciadora decide o pedido de transmissão no prazo de 15 dias, equivalendo a falta de decisão a deferimento tácito. 4 - A transmissão da licença é averbada no respectivo alvará.

Artigo 38.º

Suspensão e revogação da licença

1 - Sem prejuízo do disposto no capítulo I do título V do presente decreto-lei, a entidade licenciadora pode suspender ou revogar a licença por si emitida. 2 - A licença pode ser suspensa nos seguintes casos: a) Verificação de um risco significativo de produção de efeitos negativos ou prejudiciais para a saúde pública ou para o ambiente em resultado de actividades relacionadas com a operação de gestão de resíduos objecto de licenciamento; b) Necessidade de suspensão da operação para assegurar o cumprimento das medidas impostas nos termos do n.º 2 do artigo 34.º 3 - A suspensão da licença mantém-se até deixarem de se verificar os factos que a determinaram. 4 - A licença é total ou parcialmente revogável quando: a) For inviável a minimização ou compensação de significativos efeitos negativos não previstos para o ambiente ou para a saúde pública que ocorram durante as operações de gestão de resíduos; b) Se verificar o incumprimento reiterado dos termos da respectiva licença ou das medidas impostas nos termos do n.º 2 do artigo 34.º; c) Não for assegurada a constante adopção de medidas preventivas adequadas ao combate à poluição mediante a utilização das melhores técnicas disponíveis, daí resultando a produção de efeitos negativos para o ambiente que sejam evitáveis; d) O operador realizar operações proibidas, nos termos do n.º 3 do artigo 9.º

Artigo 39.º

Falta de início e suspensão de actividade

1 - A licença caduca caso não seja iniciada a operação de gestão de resíduos no prazo de um ano a contar da data da sua emissão, devendo nesse caso ser solicitada a sua renovação nos termos do artigo 35.º

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2 - A licença caduca igualmente com a suspensão das operações de gestão de resíduos por um período de tempo superior a um ano, aplicando-se o disposto no artigo seguinte, excepto quando o operador demonstre perante a entidade licenciadora que lhe é impossível retomar a operação de gestão de resíduos por motivo que não lhe seja imputável. 3 - O início da suspensão do exercício da actividade é comunicado pelo operador à entidade licenciadora no prazo de cinco dias a contar dessa mesma data.

Artigo 40.º

Cessação da actividade

1 - A cessação de actividade da operação de gestão de resíduos licenciada depende da aceitação por parte da entidade licenciadora de um pedido de renúncia da respectiva licença. 2 - O pedido de renúncia é apresentado junto da entidade licenciadora instruído com a documentação que o operador entenda relevante para evidenciar que a cessação de actividade não produzirá qualquer passivo ambiental, podendo a entidade licenciadora no prazo de 30 dias solicitar ao operador a informação que entenda relevante para a decisão a produzir. 3 - A entidade licenciadora decide o pedido de renúncia no prazo de 60 dias, podendo nesse prazo realizar as vistorias que entenda necessárias. 4 - A entidade licenciadora aceita o pedido de renúncia quando verificar que o local onde a operação de gestão de resíduos tem lugar não apresenta qualquer passivo ambiental. 5 - A entidade licenciadora pode sujeitar a aceitação do pedido de renúncia ao cumprimento de condições, nomeadamente determinando ao operador a adopção de mecanismos de minimização e correcção de efeitos negativos para o ambiente.

SECÇÃO IV

Outros regimes de licenciamento

Artigo 41.º

Licença ambiental

As operações de gestão de resíduos a que se aplique o regime da licença ambiental são licenciadas nos termos dessa legislação.

Artigo 42.º

Licenciamento industrial

1 - O licenciamento de uma operação de gestão de resíduos que careça igualmente de licenciamento industrial é substituído por um parecer vinculativo emitido no âmbito deste procedimento pela entidade a quem caiba licenciar a operação nos termos do artigo 24.º, excepto quando à operação seja aplicável o regime da licença ambiental, caso em que o cumprimento do disposto no presente decreto-lei é assegurado nos termos desse regime. 2 - Nos casos a que se refere o número anterior, a entidade coordenadora do procedimento de licenciamento envia a documentação exigível nos termos dos artigos 27.º e 32.º do presente decreto-lei à entidade competente para emitir parecer, determinada nos termos do artigo 24.º 3 - A entidade competente emite parecer vinculativo prévio à licença de instalação no prazo de 30 dias.

Artigo 43.º

Regimes especiais de licenciamento

A instalação e a exploração de CIRVER e as operações de valorização agrícola de lamas de depuração, de gestão de resíduos hospitalares, de gestão de resíduos gerados em navios, de incineração e co-incineração de resíduos e de deposição de resíduos em aterro encontram-se sujeitas a licenciamento nos termos da legislação e regulamentação respectivamente

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aplicáveis, aplicando-se o disposto no presente capítulo em tudo o que não estiver nela previsto.

Artigo 44.º

Sistemas de gestão de fluxos específicos de resíduos

As entidades gestoras de sistemas de gestão de fluxos específicos de resíduos são licenciadas nos termos da legislação aplicável ao respectivo fluxo, aplicando-se ainda o disposto no presente capítulo a tudo o que não tiver nela previsto.

TÍTULO III

Registo de informação e acompanhamento da gestão de resíduos CAPÍTULO I

Sistema Integrado de Registo Electrónico de Resíduos

Artigo 45.º

Registo electrónico

1 - É criado o Sistema Integrado de Registo Electrónico de Resíduos, adiante designado por SIRER, que agrega toda a informação relativa aos resíduos produzidos e importados para o território nacional e a entidades que operam no sector dos resíduos. 2 - A informação recolhida no SIRER está sujeita ao regime de acesso aos documentos administrativos, sem prejuízo da sujeição ao regime de protecção de dados pessoais, quando aplicável.

Artigo 46.º

Funcionamento do SIRER

1 - A gestão do SIRER é assegurada pela ANR e engloba todos os actos praticados com o objectivo de garantir o seu normal e seguro funcionamento, nomeadamente: a) O recurso a práticas que garantam a confidencialidade e integridade da informação constante do sistema informático; b) O recurso a práticas que garantam a adequada gestão e conservação dos dados lançados no sistema informático; c) A adopção de medidas impeditivas do acesso ao sistema por quem não possua autorização e habilitação adequadas; d) A promoção de medidas de protecção contra práticas de pirataria informática; e) A concessão de actos autorizativos nos casos legalmente previstos; f) A emissão de ordens, instruções, recomendações e advertências necessárias à manutenção do bom funcionamento do sistema informático. 2 - O regulamento de funcionamento do SIRER consta de portaria aprovada pelo membro do Governo responsável pela área do ambiente.

Artigo 47.º

Confidencialidade

1 - Os titulares dos órgãos que exerçam competências relativamente ao SIRER, bem como o pessoal a eles afecto, independentemente da natureza jurídica do respectivo vínculo, estão obrigados a guardar sigilo sobre os dados de que tenham conhecimento por virtude do exercício das respectivas funções. 2 - A violação do dever de sigilo constitui infracção grave para efeitos de responsabilidade disciplinar, sem prejuízo da responsabilidade civil e penal que ao caso couber. 3 - A ANR faculta às entidades competentes para assegurar o cumprimento do disposto no presente decreto-lei o livre acesso aos dados inseridos no SIRER.

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Artigo 48.º

Obrigatoriedade do registo

Estão sujeitos a registo no SIRER: a) Os produtores: i) De resíduos não urbanos que no acto da sua produção empreguem pelo menos 10 trabalhadores; ii) De resíduos urbanos cuja produção diária exceda 1100 l; iii) De resíduos perigosos com origem na actividade agrícola e florestal, nos termos definidos em portaria conjunta dos membros do Governo responsáveis pela área do ambiente e da agricultura; iv) De outros resíduos perigosos; b) Os operadores de gestão de resíduos; c) As entidades responsáveis pelos sistemas de gestão de resíduos; d) Os operadores que actuem no mercado de resíduos; e) Os operadores e as operações de gestão de resíduos hospitalares.

Artigo 49.º

Informação objecto de registo

1 - O SIRER agrega, nomeadamente, a seguinte informação prestada pelas entidades sujeitas a registo: a) Origens discriminadas dos resíduos; b) Quantidade, classificação e destino discriminados dos resíduos; c) Identificação das operações efectuadas; d) Informação relativa ao acompanhamento efectuado, contendo os dados recolhidos através de meios técnicos adequados. 2 - O procedimento de inscrição e o procedimento de acesso ao SIRER, o conteúdo da informação prestada e a periodicidade de actualização do registo constam do regulamento de funcionamento do SIRER.

CAPÍTULO II

Acompanhamento da gestão de resíduos

Artigo 50.º

Comissão de Acompanhamento da Gestão de Resíduos

1 - É criada a Comissão de Acompanhamento da Gestão de Resíduos, adiante designada por CAGER, que constitui uma entidade de consulta técnica funcionando na dependência da ANR e a quem compete, nomeadamente: a) Preparar decisões ou dar parecer, quando solicitada, sobre todas as questões relacionadas com a gestão de resíduos; b) Acompanhar a execução e a revisão dos planos de gestão de resíduos; c) Acompanhar os aspectos técnicos, económicos e sociais ligados ao mercado de resíduos em Portugal, especialmente no que concerne aos fluxos de resíduos e materiais abrangidos por sociedades gestoras e aos resíduos que sejam transaccionados em bolsa de resíduos; d) Acompanhar o funcionamento do mercado de resíduos e auxiliar a ANR a disponibilizar informação relevante nesse âmbito potenciando as trocas de resíduos entre indústrias com vista à sua valorização; e) Auxiliar a ANR na disponibilização de informação técnica fiável relacionada com produtos fabricados com materiais reciclados através de uma base de dados online.

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2 - Podem ser constituídos, no âmbito da CAGER, grupos de trabalho e comissões de acompanhamento de gestão em função dos tipos de resíduos e das operações de gestão de resíduos. 3 - A CAGER integra elementos de reconhecido mérito técnico da ANR, das ARR e de outros organismos públicos com responsabilidade nas áreas do ambiente, da economia e da saúde pública, bem como de universidades, de organizações não governamentais do ambiente, de entidades operadoras de gestão de resíduos e, ainda, de outras entidades que desempenhem um papel de relevo no sector. 4 - A participação na CAGER não é remunerada. 5 - A composição e o funcionamento da CAGER são definidos em regulamento interno, aprovado por portaria do membro do Governo responsável pela área do ambiente.

Artigo 51.º

Comissões de acompanhamento local

1 - O desempenho ambiental das actividades desenvolvidas nos CIRVER e nas instalações de incineração e co-incineração pode ser objecto de acompanhamento público através da criação, por despacho do membro do Governo responsável pela área do ambiente, de uma comissão de acompanhamento local, nomeadamente quando tal for solicitado pelo município cuja circunscrição concelhia seja abrangida pela operação. 2 - São ouvidos quanto à constituição da comissão de acompanhamento local o operador do CIRVER ou da instalação de incineração ou co-incineração e a ANR. 3 - As comissões de acompanhamento local são compostas pelos elementos indicados no despacho a que se refere o n.º 1 do presente artigo, bem como por representantes dos municípios cuja circunscrição concelhia seja abrangida pela operação e dos municípios limítrofes, quando sejam afectados pelos efeitos das actividades desenvolvidas nos CIRVER.

TÍTULO IV

Regime económico e financeiro da gestão de resíduos

CAPÍTULO I

Taxas

Artigo 52.º

Taxas gerais de licenciamento

1 - Sem prejuízo do disposto nos artigos seguintes, o licenciamento e a autorização de operações e de operadores de gestão de resíduos que seja da competência da ANR ou das ARR estão sujeitos ao pagamento de taxas destinadas a custear os encargos administrativos que lhe são inerentes. 2 - São devidas taxas pelos seguintes actos: a) Emissão de licenças ou autorizações - (euro) 2000; b) Emissão de licenças mediante procedimento simplificado - (euro) 1500; c) Auto de vistoria - (euro) 1000; d) Averbamento resultante da alteração das condições da licença ou autorização - (euro) 500.

Artigo 53.º

Taxas de licenciamento de aterros

1 - O licenciamento de aterros destinados a resíduos que seja da competência da ANR ou das ARR está sujeito ao pagamento de taxas destinadas a custear os encargos administrativos que lhe são inerentes. 2 - São devidas taxas pelos seguintes actos:

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a) Licenciamento da exploração - (euro) 20000; b) Auto de vistoria - (euro) 1000; c) Averbamento resultante da alteração das condições da licença - (euro) 1000.

Artigo 54.º

Taxas de licenciamento de sistemas de gestão de fluxos específicos de resíduos

1 - O licenciamento dos sistemas de gestão de fluxos específicos de resíduos, individuais ou colectivos, está sujeito ao pagamento de taxas destinadas a custear os encargos administrativos que lhe são inerentes. 2 - São devidas taxas pelos seguintes actos: a) Licenciamento de entidades gestoras de sistemas integrados de gestão de resíduos - (euro) 25000; b) Licenciamento de entidades gestoras de registo - (euro) 20000; c) Licenciamento, autorização ou aprovação de sistemas individuais de gestão de resíduos - (euro) 10000; d) Autorização de funcionamento de centros de recepção de veículos em fim de vida - (euro) 5000; e) Autorização prévia ou específica de operações de tratamento de veículos em fim de vida ou de óleos usados - (euro) 1000; f) Registo de operadores de transporte - (euro) 1000; g) Auto de vistoria - (euro) 1000; h) Averbamento resultante da alteração das condições da licença ou autorização - (euro) 1000. 3 - A receita das taxas de licenciamento previstas no número anterior, quando relativas aos fluxos dos óleos usados e dos veículos em fim de vida, é repartida da seguinte forma: a) ANR - 70%; b) Demais entidades intervenientes no processo nos termos da legislação aplicável - rateio em partes iguais do remanescente.

Artigo 55.º

Taxas de licenciamento de CIRVER

1 - O licenciamento dos centros integrados de recuperação, valorização e eliminação de resíduos perigosos está sujeito ao pagamento de taxas destinadas a custear os encargos administrativos que lhe são inerentes. 2 - São devidas taxas pelos seguintes actos: a) Fase de pré-qualificação - (euro) 3750; b) Fase de apreciação e selecção de projectos - (euro) 5000; c) Licenciamento de instalação, licenciamento de exploração ou autorização provisória de funcionamento - (euro) 25000; d) Auto de vistoria - (euro) 2500; e) Averbamento resultante da alteração das condições da licença - (euro) 1000.

Artigo 56.º

Taxas de licenciamento de instalações de incineração e co-incineração

1 - O licenciamento das instalações de incineração e co-incineração de resíduos abrangidas pelo regime do Decreto-Lei n.º 85/2005, de 28 de Abril, está sujeito ao pagamento de taxas destinadas a custear os encargos administrativos que lhe são inerentes. 2 - São devidas taxas pelos seguintes actos: a) Emissão de licenças de instalação e de exploração - (euro) 25000; b) Auto de vistoria - (euro) 2500; c) Averbamento resultante da alteração das condições da licença - (euro) 1000.

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3 - A receita das taxas de licenciamento previstas no número anterior é repartida da seguinte forma: a) Autoridade competente nos termos do Decreto-Lei n.º 85/2005, de 28 de Abril - 50%; b) ANR - 40%; c) ARR que assegure a consulta pública - 10%.

Artigo 57.º

Taxas de registo

1 - Os produtores e operadores sujeitos a registo no SIRER estão obrigados ao pagamento de uma taxa anual de registo destinada a custear a sua gestão. 2 - A taxa anual de registo é fixada em (euro) 25, sendo a sua liquidação e pagamento disciplinados pelo regulamento de funcionamento do SIRER.

Artigo 58.º

Taxa de gestão de resíduos

1 - As entidades gestoras de sistemas de gestão de fluxos específicos de resíduos, individuais ou colectivos, de CIRVER, de instalações de incineração e co-incineração de resíduos e de aterros sujeitos a licenciamento da ANR ou das ARR estão obrigadas ao pagamento de uma taxa de gestão de resíduos visando compensar os custos administrativos de acompanhamento das respectivas actividades e estimular o cumprimento dos objectivos nacionais em matéria de gestão de resíduos. 2 - A taxa de gestão de resíduos possui periodicidade anual e incide sobre a quantidade de resíduos geridos pelas entidades referidas no número anterior, revestindo os seguintes valores: a) (euro) 1 por tonelada de resíduos geridos pelos CIRVER e instalações de incineração e co-incineração; b) (euro) 2 por tonelada de resíduos urbanos depositados em aterro; c) (euro) 2 por tonelada de resíduos resultantes dos produtos introduzidos em mercado cuja gestão esteja a cargo de sistemas de fluxos específicos de resíduos, individuais ou colectivos, e que através destes sistemas não sejam encaminhados para reutilização, reciclagem ou valorização; d) (euro) 5 por tonelada de resíduos inertes e resíduos industriais não perigosos depositados em aterro. 3 - A taxa de gestão de resíduos possui o valor mínimo de (euro) 5000 por entidade devedora. 4 - A taxa de gestão de resíduos deve ser repercutida nas tarifas e prestações financeiras cobradas pelas entidades devedoras de modo a garantir o cumprimento do disposto no artigo 7.º do presente decreto-lei. 5 - A liquidação e o pagamento da taxa de gestão de resíduos são disciplinados por portaria do ministro responsável pela área do ambiente.

Artigo 59.º

Taxas relativas ao movimento transfronteiriço de resíduos

1 - A apreciação dos processos de notificação relativos ao movimento transfronteiriço de resíduos, realizada nos termos do Decreto-Lei n.º 296/95, de 17 de Novembro, está sujeita ao pagamento de taxa destinada a custear os encargos administrativos que lhe são inerentes. 2 - As taxas de apreciação são fixadas em portaria do ministro responsável pela área do ambiente.

Artigo 60.º

Regras comuns

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1 - O valor das taxas previstas no presente capítulo considera-se automaticamente actualizado todos os anos por aplicação do índice de preços no consumidor publicado pelo Instituto Nacional de Estatística, arredondando-se o resultado para a casa decimal superior, devendo a ANR proceder à divulgação regular dos valores em vigor para cada ano. 2 - O pagamento das taxas de licenciamento previstas no presente capítulo é prévio à prática dos actos, devendo ser rejeitado liminarmente o requerimento de qualquer entidade pública ou privada ao qual não se junte o comprovativo de pagamento. 3 - Exceptuam-se do disposto no número anterior os casos de requerimentos de vistoria, nos quais a junção do comprovativo de pagamento deve ocorrer no prazo de 10 dias após a emissão da respectiva guia de pagamento por parte da entidade licenciadora. 4 - As taxas de licenciamento e de autorização previstas no presente capítulo não contemplam isenções subjectivas nem objectivas e são devidas por inteiro sempre que se produza a transmissão, renovação ou prorrogação de licenças, não havendo então lugar à liquidação de taxa por averbamento. 5 - Sem prejuízo das regras de afectação constantes dos artigos 54.º e 56.º do presente decreto-lei, a receita gerada pelas taxas disciplinadas no presente capítulo constitui receita própria e exclusiva da ANR ou das ARR, consoante aquela que se revele competente na matéria.

CAPÍTULO II

Mercado de resíduos

Artigo 61.º

Liberdade de comércio

Sem prejuízo das normas destinadas a assegurar a protecção do ambiente e da saúde pública, nomeadamente das que respeitam aos resíduos perigosos, os resíduos constituem bens de comercialização livre, devendo o mercado dos resíduos ser organizado, promovido e regulamentado de modo a estimular o encontro da oferta e procura destes bens, assim como a sua reutilização, reciclagem e valorização.

Artigo 62.º

Mercado organizado de resíduos

1 - O mercado dos resíduos deverá integrar um mercado organizado que centralize num só espaço ou sistema de negociação as transacções de tipos diversos de resíduos, garantindo a sua alocação racional, eliminando custos de transacção, estimulando o seu reaproveitamento e reciclagem, diminuindo a procura de matérias-primas primárias e contribuindo para a modernização tecnológica dos respectivos produtores. 2 - O regime de constituição, gestão e funcionamento de mercados organizados de resíduos ou de instrumentos financeiros a prazo sobre resíduos bem como as regras aplicáveis às transacções neles realizadas e aos respectivos operadores constam de legislação complementar, sem prejuízo das disposições da legislação financeira que sejam aplicáveis aos mercados em que se realizem operações a prazo.

Artigo 63.º

Organização do mercado de resíduos

1 - O mercado organizado de resíduos deve funcionar em condições que garantam o acesso igualitário ao mercado, a transparência, universalidade e rigor da informação que nele circula e a segurança nas transacções realizadas, bem como o respeito das normas destinadas à protecção do ambiente e da saúde pública.

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2 - Na criação do mercado organizado de resíduos deve estimular-se a participação dos sectores económicos que os produzem.

Artigo 64.º

Regime financeiro

O regime financeiro do mercado organizado de resíduos deve visar a cobertura dos custos de gestão do respectivo sistema sem que por seu efeito se introduzam distorções no mercado ou os custos de transacção se tornem superiores aos custos de regulação.

Artigo 65.º

Regime contra-ordenacional

O regular funcionamento do mercado de resíduos é assegurado pela criação de um regime contra-ordenacional relativo ao incumprimento dos princípios, proibições e condições relativos ao seu funcionamento.

TÍTULO V

Regime contra-ordenacional e disposições finais e transitórias

CAPÍTULO I

Fiscalização e contra-ordenações

Artigo 66.º

Fiscalização

A fiscalização do cumprimento do presente diploma compete às ARR, à Inspecção-Geral do Ambiente e do Ordenamento do Território, aos municípios e às autoridades policiais.

Artigo 67.º

Contra-ordenações

1 - Constitui contra-ordenação, punível com coima de (euro) 1500 a (euro) 3740, no caso de pessoas singulares, e de (euro) 7500 a (euro) 44890, no caso de pessoas colectivas: a) O incumprimento do dever de assegurar a gestão de resíduos, a quem, nos termos do previsto no artigo 5.º, caiba essa responsabilidade; b) O exercício não licenciado das operações de gestão de resíduos a que se refere o artigo 23.º; c) O exercício de operações de gestão de resíduos abrangidas pela dispensa de licenciamento sem cumprimento da obrigação de comunicação prévia prevista no artigo 25.º; d) O incumprimento pelo operador de gestão de resíduos das medidas impostas pela entidade licenciadora nos termos do n.º 2 do artigo 34.º; e) A realização de operações de gestão de resíduos com base em licença suspensa pela entidade licenciadora nos termos do artigo 38.º; f) A cessação de actividade da operação de gestão de resíduos licenciada sem a aceitação por parte da entidade licenciadora de um pedido de renúncia da respectiva licença, nos termos previstos no artigo 40.º 2 - Constitui contra-ordenação, punível com coima de (euro) 250 a (euro) 2500, no caso de pessoas singulares, e de (euro) 2500 a (euro) 30000, no caso de pessoas colectivas: a) A não separação, na origem, dos resíduos produzidos, de forma a promover preferencialmente a sua valorização, em violação do disposto no n.º 3 do artigo 7.º; b) A realização de operações de gestão de resíduos em desconformidade com os termos e condições constantes da respectiva licença ou com as normas e requisitos de exercício

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previstos nos n.ºs 1 e 2 do artigo 25.º para as operações abrangidas pela dispensa de licenciamento sujeitas a comunicação prévia; c) A realização de operações de gestão de resíduos sem a direcção de um responsável técnico; d) A realização de operações de gestão de resíduos com base em licença transmitida sem observância do procedimento de transmissão de licenças previsto no artigo 37.º; e) O incumprimento da obrigação de registo no SIRER, em violação do disposto no artigo 48.º 3 - A tentativa e a negligência são puníveis, sendo nesse caso reduzidos para metade os limites mínimos e máximos das coimas referidos no presente artigo.

Artigo 68.º

Sanções acessórias

1 - Às contra-ordenações previstas no artigo anterior podem, em simultâneo com a coima e nos termos da lei geral, ser aplicadas as seguintes sanções acessórias: a) Perda a favor do Estado dos objectos pertencentes ao agente e utilizados na prática da infracção; b) Interdição do exercício de actividades de operação de gestão de resíduos que dependam de título público ou de autorização ou homologação de autoridade pública; c) Privação do direito a subsídio ou benefício outorgado por entidades ou serviços públicos; d) Privação do direito de participar em concursos públicos que tenham por objecto a empreitada ou a concessão de obras públicas, o fornecimento de bens e serviços, a concessão de serviços públicos e a atribuição de licenças ou alvarás; e) Encerramento de instalação ou estabelecimento sujeito a autorização ou licença de autoridade administrativa; f) Suspensão de autorizações, licenças e alvarás. 2 - As sanções referidas nas alíneas b) a f) do número anterior têm a duração máxima de dois anos contados a partir da data da respectiva decisão condenatória definitiva.

Artigo 69.º

Reposição da situação anterior

1 - Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, o infractor está obrigado a remover as causas da infracção e a reconstituir a situação anterior à prática da mesma. 2 - Sempre que o dever de reposição da situação anterior não seja voluntariamente cumprido, as entidades competentes para a fiscalização actuam directamente por conta do infractor, sendo as despesas cobradas coercivamente através do processo previsto para as execuções fiscais.

Artigo 70.º

Instrução de processos e aplicação de sanções

1 - Compete às entidades fiscalizadoras, exceptuadas as autoridades policiais, instruir os processos relativos às contra-ordenações referidas nos artigos anteriores e decidir da aplicação da coima e sanções acessórias. 2 - Quando a entidade autuante não tenha competência para instruir o processo, o mesmo é instruído e decidido pela Inspecção-Geral do Ambiente e do Ordenamento do Território.

Artigo 71.º

Produto das coimas

O produto das coimas previstas no presente diploma é afectado da seguinte forma: a) 60% para o Estado; b) 30% para a entidade que instrui o processo e aplica a coima;

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c) 10% para a entidade autuante. Artigo 72.º

Medidas cautelares

1 - Os membros do Governo responsáveis pelas áreas do ambiente e da saúde podem, por despacho e em caso de emergência ou perigo grave para a saúde pública ou para o ambiente, adoptar medidas cautelares adequadas, nomeadamente a suspensão de qualquer operação de gestão de resíduos. 2 - As medidas cautelares caducam se não for tomada uma decisão definitiva sobre a situação jurídica em causa no prazo de seis meses, prorrogável uma única vez por igual período.

CAPÍTULO II

Disposições finais e transitórias

Artigo 73.º

Regimes especiais

O lançamento e a imersão de resíduos em águas regem-se pelo disposto em legislação especial e pelas normas internacionais em vigor.

Artigo 74.º

Comissões de acompanhamento

As comissões de acompanhamento relativas à gestão de resíduos constituídas ao abrigo da legislação em vigor e em funcionamento à data da entrada em vigor do presente decreto-lei são integradas na CAGER, nos termos do n.º 3 do artigo 50.º

Artigo 75.º

Planos de gestão de resíduos

O primeiro plano nacional de gestão de resíduos é aprovado no prazo de dois anos a contar da entrada em vigor do presente decreto-lei, devendo os planos municipais de acção ser aprovados no prazo de um ano a contar daquela data, aplicando-se a todos, daí em diante, o disposto no artigo 18.º do presente decreto-lei.

Artigo 76.º

Regime transitório

1 - O disposto nos artigos 23.º a 44.º do presente decreto-lei aplica-se apenas aos procedimentos iniciados após a sua entrada em vigor. 2 - A requerimento do interessado, pode a entidade licenciadora aplicar as disposições referidas no número anterior ao respectivo procedimento em curso. 3 - O disposto nos artigos 12.º, 20.º e 31.º do Decreto-Lei n.º 194/2000 194/2000, de 21 de Agosto, 65.º do Decreto-Lei n.º 3/2004, de 3 de Janeiro, e 5.º, 6.º, 7.º, 9.º e 17.º do Decreto-Lei n.º 85/2005, de 28 de Abril, na redacção que lhes é conferida, respectivamente, pelos artigos 77.º, 78.º e 79.º do presente decreto-lei, é aplicável aos procedimentos pendentes à data da entrada em vigor do presente decreto-lei. 4 - As taxas de licenciamento previstas no presente decreto-lei aplicam-se apenas aos procedimentos de licenciamento que tenham início depois de 1 de Janeiro de 2007. 5 - A taxa de gestão de resíduos prevista no artigo 58.º do presente decreto-lei aplica-se a partir de 1 de Janeiro de 2007. 6 - O valor das taxas previstas nas alíneas b) e d) do n.º 2 do artigo 58.º é agravado anualmente em (euro) 0,50 entre 2008 e 2011, inclusive, e a partir daí actualizado nos termos do artigo 60.º

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7 - O registo das entidades a que se refere a subalínea i) da alínea a) do artigo 48.º é realizado de forma progressiva, nos termos a definir na portaria a que se refere o n.º 2 do artigo 46.º 8 - Sem prejuízo do disposto no número seguinte, os depósitos de sucata existentes à data da entrada em vigor do presente decreto-lei que não disponham de licença emitida ao abrigo do Decreto-Lei n.º 268/98, de 28 de Agosto, dispõem de um prazo de 90 dias para apresentar o pedido de licenciamento a que se refere o artigo 27.º 9 - As certidões provisórias emitidas ao abrigo do despacho n.º 24571/2002 24571/2002 (2.ª série), de 18 de Novembro, mantêm-se válidas durante o prazo nelas fixado. 10 - Até à entrada em vigor das portarias regulamentares previstas no presente decreto-lei, mantêm-se em vigor as Portarias n.ºs 335/97, de 16 de Maio, e 792/98, de 22 de Setembro, e demais actos complementares.

Artigo 77.º

Alteração ao Decreto-Lei n.º 194/2000 194/2000, de 21 de Agosto

Os artigos 12.º, 20.º e 31.º do Decreto-Lei n.º 194/2000 194/2000, de 21 de Agosto, com as alterações introduzidas pelos Decretos-Leis n.ºs 152/2002 152/2002, de 23 de Maio, 69/2003, de 10 de Abril, 233/2004, de 14 de Dezembro, na redacção dada a este diploma pelo Decreto-Lei n.º 243-A/2004, de 31 de Dezembro, e 130/2005 130/2005, de 16 de Agosto, passam a ter a seguinte redacção: 8.1 «Artigo 12.º

[...] 1 - No caso de uma instalação sujeita, nos termos da legislação aplicável, a avaliação de impacte ambiental (AIA), o procedimento para atribuição da licença ambiental previsto no presente diploma só pode iniciar-se após a emissão de declaração de impacte ambiental (DIA) favorável ou condicionalmente favorável ou de decisão de dispensa do procedimento de AIA. 2 - ... a) O conteúdo e condições eventualmente prescritas na DIA ou na decisão de dispensa do procedimento de AIA; b) ... 8.2 Artigo 20.º

[...] 1 - (Anterior corpo do artigo 20.º) 2 - A Autoridade Nacional dos Resíduos participa no procedimento de avaliação técnica nos casos em que a licença ambiental respeite a instalações onde se exerçam operações de gestão de resíduos referidas no n.º 5 do anexo I do Decreto-Lei n.º 69/2000, de 3 de Maio, na redacção que lhe foi dada pelos Decretos-Leis n.ºs 74/2001, de 26 de Fevereiro, e 69/2003, de 10 de Abril, pela Lei n.º 12/2004, de 30 de Março, e pelo Decreto-Lei n.º 197/2005 197/2005, de 8 de Novembro. 8.3 Artigo 31.º

[...] 1 - As operações de gestão de resíduos identificadas no n.º 5 do anexo I e abrangidas pelo regime previsto no Decreto-Lei n.º 178/2006, de 5 de Setembro, são licenciadas nos termos do presente decreto-lei, ficando a eficácia da licença ambiental dependente da realização da vistoria nos termos do artigo 30.º do Decreto-Lei n.º 178/2006, de 5 de Setembro, ou do decurso do prazo previsto no n.º 6 do mesmo artigo, em momento subsequente ao proferimento da decisão final. 2 - (Anterior n.º 3.)»

Artigo 78.º

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Alteração ao Decreto-Lei n.º 3/2004, de 3 de Janeiro

O artigo 65.º do Decreto-Lei n.º 3/2004, de 3 de Janeiro, passa a ter a seguinte redacção: 8.4 «Artigo 65.º

[...] 1 - ... 2 - ... 3 - ... 4 - ... 5 - ... 6 - ... 7 - ... 8 - ... 9 - ... 10 - Quando seja emitida uma declaração de impacte ambiental desfavorável, a entidade licenciada pode submeter a avaliação um novo estudo de impacte ambiental, introduzindo alterações ao projecto que, pela sua natureza, não devessem ser apreciadas nos termos do artigo 52.º do presente decreto-lei. 11 - (Anterior n.º 10.) 12 - (Anterior n.º 11.) 13 - (Anterior n.º 12.) 14 - (Anterior n.º 13.) 15 - (Anterior n.º 14.)»

Artigo 79.º

Alteração ao Decreto-Lei n.º 85/2005, de 28 de Abril Os artigos 5.º, 6.º, 7.º, 9.º e 17.º do Decreto-Lei n.º 85/2005, de 28 de Abril, passam a ter a seguinte redacção: 8.5 «Artigo 5.º

[...] 1 - Todas as instalações de incineração e de co-incineração de resíduos carecem de uma licença de instalação e de uma licença de exploração, a conceder pela autoridade competente no respeito pelo presente decreto-lei, com excepção das instalações de co-incineração de resíduos combustíveis não perigosos resultantes do tratamento mecânico de resíduos, as quais ficam sujeitos ao respectivo regime de licenciamento estabelecido no Decreto-Lei n.º 178/2006, de 5 de Setembro. 2 - No caso de instalações de incineração ou co-incineração de resíduos abrangidas pelo Decreto-Lei n.º 69/2000, de 3 de Maio, e ou pelo Decreto-Lei n.º 194/2000 194/2000 , de 21 de Agosto, a licença de instalação referida no número anterior só pode ser atribuída no caso de declaração de impacte ambiental (DIA) favorável ou favorável condicionada ou, ainda, de dispensa do procedimento de avaliação de impacte ambiental e ou depois de concedida licença ambiental à instalação. 3 - ... 4 - ... 8.6 Artigo 6.º

[...] 1 - ... 2 - No caso de instalações de incineração e co-incineração de resíduos sujeitas ao regime jurídico da avaliação de impacte ambiental, nos termos do Decreto-Lei n.º 69/2000, de 3 de Maio, o pedido de licença é sempre acompanhado de cópia da correspondente DIA favorável

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ou favorável condicionada ou da decisão de dispensa do procedimento de avaliação de impacte ambiental, sob pena de indeferimento liminar. 3 - ... 4 - ... 5 - ... 8.7 Artigo 7.º

[...] ... 1) ... 2) ... a) O referido na alínea a) do n.º 1 do artigo 27.º do Decreto-Lei n.º 178/2006, de 5 de Setembro; b) [Anterior alínea d).] c) [Anterior alínea e).] 3) ... 4) ... 5) ... 8.8 Artigo 9.º

[...] 1 - ... 2 - No âmbito do procedimento de apreciação técnica, a autoridade competente requer a outras entidades e organismos da Administração os pareceres e ou as licenças específicos que estes devam emitir no cumprimento das atribuições que lhes estão conferidas, nomeadamente aqueles a que se refere o n.º 1 do artigo 28.º do Decreto-Lei n.º 178/2006, de 5 de Setembro, a licença de descarga de efluentes, se aplicável, bem como aqueles que entenda necessários para a adequada instrução do processo, os quais devem ser-lhe enviados no prazo de 30 dias úteis contados da data da solicitação. 3 - ... 4 - ... 5 - ... 6 - ... 7 - ... 8 - ... 9 - ... 10 - ... 8.9 Artigo 17.º

[...] 1 - ... 2 - ... 3 - ... 4 - ... 5 - Nos casos previstos no número anterior, o operador fica dispensado de apresentar os elementos que já tenham sido apresentados no âmbito dos procedimentos de licenciamento aplicáveis e se mantenham válidos.»

Artigo 80.º Norma revogatória

1 - São revogados:

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a) O Decreto-Lei n.º 239/97, de 9 de Setembro; b) O artigo 16.º do Decreto-Lei n.º 366-A/97, de 20 de Dezembro, na redacção que lhe foi dada pelo Decreto-Lei n.º 92/2006, de 25 de Maio; c) O Decreto-Lei n.º 268/98, de 28 de Agosto; d) O artigo 13.º do Decreto-Lei n.º 111/2001 111/2001, de 6 de Abril; e) O artigo 49.º do Decreto-Lei n.º 152/2002 152/2002, de 23 de Maio; f) O n.º 3 do artigo 15.º, o n.º 1 do artigo 16.º, o artigo 20.º, o n.º 4 do artigo 22.º, a alínea g) do n.º 1 do artigo 25.º e o artigo 29.º do Decreto-Lei n.º 153/2003 153/2003, de 11 de Julho; g) O n.º 1 do artigo 18.º e o artigo 28.º do Decreto-Lei n.º 196/2003 196/2003, de 23 de Agosto; h) O artigo 95.º do Decreto-Lei n.º 3/2004, de 3 de Janeiro; i) Os n.ºs 5 e 6 do artigo 20.º do Decreto-Lei n.º 230/2004 230/2004, de 10 de Dezembro; j) O artigo 38.º do Decreto-Lei n.º 85/2005, de 28 de Abril; l) A Portaria n.º 961/98, de 10 de Novembro; m) A Portaria n.º 611/2005, de 27 de Julho; n) A Portaria n.º 612/2005, de 27 de Julho; o) A Portaria n.º 613/2005, de 27 de Julho; p) O despacho n.º 24571/2002 24571/2002 (2.ª série), de 18 de Novembro. 2 - As remissões legais e regulamentares para os diplomas identificados no número anterior consideram-se feitas para o presente decreto-lei e para a legislação e regulamentação complementar nele previstas.

Artigo 81.º Regiões Autónomas

O presente decreto-lei aplica-se às Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira com as adaptações determinadas pelo interesse específico, cabendo a sua execução administrativa aos órgãos e serviços das respectivas administrações regionais, sem prejuízo da gestão a nível nacional. Visto e aprovado em Conselho de Ministros de 22 de Junho de 2006. - José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa - Eduardo Arménio do Nascimento Cabrita - João Titterington Gomes Cravinho - Fernando Teixeira dos Santos - Alberto Bernardes Costa - Francisco Carlos da Graça Nunes Correia - António José de Castro Guerra - Luís Medeiros Vieira - Francisco Ventura Ramos. Promulgado em 28 de Agosto de 2006. Publique-se. O Presidente da República, ANÍBAL CAVACO SILVA. Referendado em 30 de Agosto de 2006. O Primeiro-Ministro, José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa.