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07/04/2016 A Teoria e a Tipologia de Classe Neomarxista de Erik Olin Wright http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S001152581998000200004 1/22 Services on Demand Article Article in xml format Article references How to cite this article Curriculum ScienTI Automatic translation Send this article by email Indicators Cited by SciELO Access statistics Related links Share More More Permalink Dados Online version ISSN 16784588 Dados vol. 41 n. 2 Rio de Janeiro 1998 http://dx.doi.org/10.1590/S001152581998000200004 A Teoria e a Tipologia de Classe Neomarxista de Erik Olin Wright * José Alcides Figueiredo Santos Na sociologia brasileira não existe uma tradição de estudos voltados para a construção de "mapas de classe". Essa lacuna analítica e empírica se torna ainda mais explícita caso se leve em conta o refinamento teórico, a dimensão comparativa internacional e a sofisticação técnica que as tipologias de classe assumiram em outros países, particularmente da década de 80 em diante 1 . Dedicandose à explicação de padrões sociais manifestos no plano individual, as tipologias de classe de Erik Olin Wright e de John Goldthorpe representam os esquemas de classe, aplicáveis à pesquisa empírica e à análise multivariável, mais consagrados na sociologia contemporânea (Crompton, 1994; Edgell, 1995; Breen e Rottman, 1995). Desenvolvese neste artigo um quadro abrangente da teoria e da tipologia de classe neomarxista de Erik O. Wright, enumerando certas ponderações e contrapontos críticos que recaem sobre suas formulações teóricas e estratégias de abordagem da realidade empírica questões muito específicas sobre problemas e soluções operacionais não serão aprofundadas aqui. Considerase de grande relevância o conhecimento e o debate desse empreendimento renovador dentro da tradição marxista, que tem servido, inclusive, de ponto de agregação de um esforço coletivo de pesquisa de âmbito internacional 2 . Erik O. Wright vem empreendendo um esforço contínuo para desenvolver um esquema de classes capaz de mapear as variações nas estruturas de classe das sociedades capitalistas. A formação do pensamento do autor deuse em contraponto às insuficiências do pensamento marxista contemporâneo para interpretar, notadamente, a emergência de posições referidas como de "classe média" dentro da estrutura de classes. A biografia do conceitochave de "localizações contraditórias de classe" vinculouse, igualmente, ao esforço empreendido de construção de uma tipologia de classe aplicável à pesquisa empírica (Wright, 1985:1963). A POLÊMICA SOBRE A "CLASSE MÉDIA" E O PRIMEIRO MAPA DE CLASSES DE

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Dados vol. 41 n. 2 Rio de Janeiro 1998

http://dx.doi.org/10.1590/S0011­52581998000200004

A Teoria e a Tipologia de Classe Neomarxista de ErikOlin Wright*

José Alcides Figueiredo Santos

Na sociologia brasileira não existe uma tradição de estudosvoltados para a construção de "mapas de classe". Essa lacunaanalítica e empírica se torna ainda mais explícita caso se leveem conta o refinamento teórico, a dimensão comparativainternacional e a sofisticação técnica que as tipologias declasse assumiram em outros países, particularmente dadécada de 80 em diante1. Dedicando­se à explicação depadrões sociais manifestos no plano individual, as tipologiasde classe de Erik Olin Wright e de John Goldthorperepresentam os esquemas de classe, aplicáveis à pesquisaempírica e à análise multivariável, mais consagrados nasociologia contemporânea (Crompton, 1994; Edgell, 1995; Breen e Rottman, 1995).Desenvolve­se neste artigo um quadro abrangente da teoria e da tipologia de classeneomarxista de Erik O. Wright, enumerando certas ponderações e contrapontos críticos querecaem sobre suas formulações teóricas e estratégias de abordagem da realidade empírica questões muito específicas sobre problemas e soluções operacionais não serão aprofundadasaqui. Considera­se de grande relevância o conhecimento e o debate desse empreendimentorenovador dentro da tradição marxista, que tem servido, inclusive, de ponto de agregação deum esforço coletivo de pesquisa de âmbito internacional2.

Erik O. Wright vem empreendendo um esforço contínuo para desenvolver um esquema declasses capaz de mapear as variações nas estruturas de classe das sociedades capitalistas. Aformação do pensamento do autor deu­se em contraponto às insuficiências do pensamentomarxista contemporâneo para interpretar, notadamente, a emergência de posições referidascomo de "classe média" dentro da estrutura de classes. A biografia do conceito­chave de"localizações contraditórias de classe" vinculou­se, igualmente, ao esforço empreendido deconstrução de uma tipologia de classe aplicável à pesquisa empírica (Wright, 1985:19­63).

A POLÊMICA SOBRE A "CLASSE MÉDIA" E O PRIMEIRO MAPA DE CLASSES DE

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WRIGHT

Quatro estratégias analíticas gerais foram desenvolvidas no âmbito do marxismo até o fim dadécada de 70, enfocando a problemática das situações de "classe média" na estrutura declasses. Uma primeira estratégia colocava quase todas essas posições na classe trabalhadora;a segunda alternativa optava por agrupar várias categorias de assalariados não­proletáriossob a denominação de nova pequena burguesia; outra opção fixava os segmentos deassalariados situados fora da classe trabalhadora em uma nova classe denominada "classeprofissional e gerencial"; a quarta estratégia interpretava essas posições não polares comorepresentativas de "localizações contraditórias dentro das relações de classe" (Wright,1980a). Wright fez a defesa de uma versão estrutural desta última, procedendo a umaanálise de três dimensões inter­relacionadas da dominação e subordinação dentro daprodução, envolvendo o capital monetário, considerado em termos do fluxo de investimentosdentro da produção e da direção do processo de acumulação no seu conjunto; o capital físico,ou seja, os meios de produção efetivos dentro do processo de produção; e o trabalho,envolvendo as atividades transformativas dos produtores diretos dentro da produção. Arelação de classe fundamental entre trabalho e capital foi pensada como polarizada eantagônica ao longo dessas três dimensões. A não­correspondência entre as três dimensõesgera, justamente, as "localizações contraditórias dentro das relações de classe": gerentes esupervisores ocupam localização contraditória entre a classe trabalhadora e a classecapitalista; pequenos empregadores entre a pequena burguesia e a classe capitalistapropriamente dita; e empregados semi­autônomos entre a pequena burguesia e a classetrabalhadora. Trata­se de localizações contraditórias porque elas compartilham,simultaneamente, características relacionais de duas classes distintas (Wright, 1980a:328­333; Wright, 1981:57­81). Utilizando esse esquema teórico, Wright encabeçou a primeirainvestigação sistemática da estrutura de classes norte­americana baseada em dados colhidosde uma perspectiva explicitamente marxista (Wright et alii, 1982).

As concepções utilizadas no primeiro mapa de classes de Wright, que valorizavam as noçõesde controle e exploração dentro das relações sociais de produção, foram posteriormentereformuladas. Em uma inflexão autocrítica, sob a inspiração da obra de Roemer, Wrightcolocou as relações de exploração, em vez das de dominação, no cerne do seu novo mapa declasses (Crompton, 1994:69­72).

A OBRA DE JOHN ROEMER

Roemer considera que a teoria econômica marxista pregressa fracassou em estabelecer comprecisão as causas da exploração no capitalismo3. Ele contesta a definição da exploração emtermos de expropriação do trabalho excedente e a colocação do processo de trabalho nocentro da análise da exploração e das classes. A exploração do trabalho nem causa nemexplica os lucros e a rentabilidade do capitalismo. A teoria da exploração do trabalho éconsiderada incorreta, pois a força de trabalho não é a única mercadoria capaz de produzirmais valor do que incorpora. Roemer contrapõe a essa idéia o teorema da exploraçãogeneralizada da mercadoria4 (Roemer, 1989a:35­41; 1989b:118­119).

O conceito de exploração surge no enfoque de Roemer" puramente definido em termos derelações de propriedade" (Roemer, 1989a:9). Seu objetivo é formular uma teoria que sejaoperativa inclusive na ausência de propriedade privada dos meios de produção. Almeja­se aconstrução de uma metateoria da exploração aplicável a qualquer modo de produção. Ela émelhor caracterizada em termos da propriedade de recursos produtivos e a sua condiçãonecessária e suficiente é a distribuição desigual desses fatores. A propriedade diferencial dosmeios de produção é destacada como a causa principal da exploração capitalista. Uma pessoaou grupo são explorados se não têm acesso a uma participação justa (eqüitativa) nos ativos

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produtivos alienáveis da sociedade. A teoria da exploração é também uma teoria da justiçabaseada na igualdade de recursos (Roemer, 1989a:104, 113 e 123).

Roemer introduz adicionalmente o enfoque da "teoria dos jogos" para comparar diferentessistemas de exploração. Sugere que um grupo deva ser visto como explorado caso tenha"alguma opção condicionalmente factível de acordo com a qual seus membros estariammelhor" (Roemer, 1989b:121) recorre­se a um "jogo de retirada" para definir a exploração.Seus diferentes tipos são definidos através das regras de retirada que fariam com que osmembros de uma coalizão de atores estivessem melhor como resultado da sua retirada daeconomia. A regra que especifica a exploração feudal é o afastamento vantajoso do jogo comseus ativos pessoais de capacidade de trabalho; a exploração capitalista com a sua parte percapita de ativos físicos; e a exploração socialista com a sua porção de ativos inalienáveis dequalificação (Wright et alii, 1989:10­12). Para o autor a introdução da noção de "retiradacondicional" realçaria os "imperativos éticos" da teoria marxista (Przeworski, 1989:265).

Roemer procura demonstrar dois teoremas básicos5. O teorema da Correspondência entreRiqueza e Classe vai relacionar a posição de classe de um produtor com a sua riqueza aordenação das pessoas em classes identifica­se com a sua ordenação em termos demagnitudes de dotações de riqueza. Entretanto, "a relação entre riqueza e classe que osricos contratam trabalho e os pobres vendem­no nem sempre se cumpre" (Roemer,1989a:73). O segundo teorema, da Correspondência entre Exploração e Classe, aparece,então, como fundamental para relacionar as dimensões de exploração e classe. Eleestabelece que é um explorador o membro de uma classe que aluga trabalho e é umexplorado o integrante de uma classe que vende trabalho. Este teorema proporciona osmicrofundamentos analíticos" para a afirmação de que os capitalistas (os que contratamtrabalho) exploram os proletários (os que vendem trabalho)" (idem:78­79).

Amparado em seu esquema analítico, Roemer estabelece uma taxionomia histórica daexploração: a exploração feudal surge da distribuição desigual dos direitos de propriedadesobre o trabalho dos outros; a exploração capitalista vincula­se à distribuição desigual dosativos de propriedade produtiva alienável; enquanto o socialismo, ainda que anule as formaspretéritas de exploração, convive com uma forma de exploração calcada na distribuição dasdotações pessoais inalienáveis as habilidades (idem:104­107).

Ao colocar o conceito de exploração no centro da análise de classe, Wright acolherá a idéia deRoemer de que a exploração material é determinada pelas desigualdades na distribuição dosativos produtivos. As classes aparecem como posições derivadas das relações de exploração.Entretanto, diferenciando­se de Roemer, Wright pensa em termos de transferências detrabalho excedente que são explicadas pelas desigualdades de ativos (Wright et alii,1989:199). Além disso, a formulação inicial de Roemer incorporava à análise apenas os ativosfísicos (alienáveis) e os ativos de qualificação (inalienáveis). Wright considera,adicionalmente, os ativos de força de trabalho e os ativos organizacionais. No capitalismo,regra geral, cada um possui uma unidade do ativo força de trabalho, o que não ocorre noescravismo e no feudalismo. O ativo organizacional decorre do fato de a organização umativo freqüentemente controlado através de uma hierarquia de autoridade ser um recursoprodutivo específico.

O CONCEITO DE CLASSE

Na tradição marxista, o conceito de classe apresenta certas propriedades essenciais. Trata­sede um conceito relacional, pois as classes são sempre definidas no âmbito das relaçõessociais, em particular nas relações das classes entre si; e também são antagonísticas, já quegeram intrinsecamente interesses opostos. As relações de exploração, ou seja, o vínculo

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causal entre o bem­estar de uma classe e a privação de outra, dão um caráter "objetivo" aesse antagonismo. A base fundamental da exploração, por sua vez, encontra­se nas relaçõessociais de produção. O conceito de classe deve abarcar apenas a exploração enraizada nasrelações de produção e não todas as relações sociais possíveis nas quais ocorre exploração. Aexploração baseada na produção deve ser considerada uma categoria distinta da nãoprodutiva, por causa do tipo específico de interdependência que se cria entre explorado eexplorador. Outros mecanismos são essencialmente redistributivos do excedente criadodentro de determinadas relações de propriedade (Wright, 1985:97­98).

Classes dizem respeito a localizações estáveis e estruturalmente determinadas na esfera dasrelações sociais de produção; definem­se em termos de relações de propriedade, ou seja, dosativos produtivos controlados, e formam categorias de atores sociais caracterizados pelasrelações de propriedade que geram exploração. De modo geral, pode­se especificar uma sériede tipos de relações de classe levando­se em conta os recursos produtivos que fornecem abase para a exploração. Classes definem­se em termos de um mapa estrutural de interessesmateriais comuns baseados na exploração. Devido aos tipos específicos de ativos quecontrolam, as pessoas de uma determinada classe "enfrentam objetivamente as mesmasamplas estruturas de escolhas e tarefas estratégicas quando procuram melhorar seu bem­estar econômico" (Wright et alii, 1989:282). Interesses de classe comuns significacompartilhar das mesmas estratégias otimizadoras materiais (Wright, 1985:91).

Wright vem reconsiderando mais recentemente o papel da dominação na constituição dasrelações de classe. No seu livro Classes, em que desenvolveu o conceito de classe baseado naconexão ativo­exploração, nem por isso deixou de sustentar a idéia de que "dominação semapropriação e apropriação sem dominação não constituem relações de classe" (idem:300).Segundo ele, classe é um conceito intrinsecamente político, já que requer relações dedominação. Direitos de propriedade devem implicar dominação sobre a atividade dostrabalhadores diretamente dentro da própria organização social da produção. Dominação semapropriação e apropriação sem dominação são estruturas não reprodutivas das relaçõessociais de produção. As relações de classe são a unidade das relações de apropriação edominação (Wright, 1994:52­68).

Na visão de Wright, classe não representa a causa" mais importante" de qualquer fenômenosocial. Em uma demonstração disto, vale citar que estudos comparativos internacionais sobreas diferenças de gênero em termos de autoridade no local de trabalho e de divisão dotrabalho no lar levaram o autor a reconhecer a tese feminista de que as relações de gênerosão bastante autônomas das relações de classe (Wright, 1997:541­545).

A NOÇÃO DE EXPLORAÇÃO

Em contraponto a Roemer, Wright estabelece uma distinção entre opressão econômica eexploração. Na opressão econômica, o bem­estar da classe opressora decorre apenas daprivação material do oprimido e, ligado a isso, da sua capacidade de proteger seus própriosdireitos de propriedade. No caso da exploração, o bem­estar material e o poder econômico doexplorador dependem causalmente da sua capacidade de apropriar­se dos frutos do trabalhodo explorado, o que equivale a uma transferência de excedente de uma classe para outra6. Oexplorador depende, desse modo, não meramente da privação do explorado, mas ele temtambém interesse na atividade produtiva e no esforço do explorado. Essa combinaçãopeculiar de antagonismo de interesses e interdependência dá à exploração o seu caráterdistintivo (Wright, 1985:74­75; 1994:40). A exploração define um conjunto de mecanismosque ajuda a explicar tanto a distribuição do bem­estar econômico quanto a distribuição dopoder econômico.

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O nexo ativo/exploração depende em cada caso da capacidade de o controlador do ativoprivar os outros do acesso a este. As bases materiais da exploração são as desigualdades nadistribuição dos ativos produtivos, ou o que é usualmente referido como relações depropriedade. As desigualdades de ativos são suficientes para dar conta das transferências detrabalho excedente. As formas variáveis de desigualdade de ativos especificam diferentessistemas de exploração. Nesse sentido, a exploração radica no controle ou propriedade deelementos das forças produtivas, isto é, de vários tipos de fatores (inputs) usados naprodução (Wright, 1985:96). Ativos produtivos são fatores ou recursos produtivos geradoresde renda (Wright et alii, 1989:nota 12). A exploração, conceito gerador de interesses, definea relação social dentro da qual um grupo se beneficia materialmente a expensas de outro. Aexploração é explicativa não apenas porque redunda em desigualdades, mas também porcausa dos modos através dos quais intenta mapear interdependências de interessesantagônicos.

Wright aponta as vantagens do conceito de classe centrado na exploração. A abordagem doproblema dos interesses objetivos de classe fica mais clara, pois essa noção adquire umconteúdo mais materialista e histórico ao vincular­se à propriedade efetiva de elementos dasforças produtivas, cujo desenvolvimento imprime aos sistemas de classe a sua trajetóriahistórica. As diferenças qualitativas entre os tipos de estruturas de classe ficam melhordemarcadas. As classes médias são caracterizadas pelos mesmos critérios de base quedefinem as classes fundamentais (idem:163­164). A exploração, por fim, representa um dosmecanismos centrais por meio dos quais a estrutura de classes explica o conflito de classes.

Ainda que as diversas dimensões da desigualdade social não possam ser reduzidas àdesigualdade de classe, a premissa subjacente à análise marxista é a de que as relações declasse jogam um papel decisivo na moldagem das outras formas de desigualdade. De modoespecífico, as relações de classe organizam a estrutura da desigualdade de renda no sentidode que as posições de classe moldam os modos como outras causas influenciam a renda.Uma investigação empírica do autor sobre a realidade norte­americana demonstra que, notocante às diferenças raciais no processo de determinação da renda, as relações de classenão podem ser excluídas da análise, sob pena de ocorrerem graves distorções nos resultados(Wright, 1978). Da mesma forma, a posição de classe afeta o modo e a extensão em que ascaracterísticas de background, como a educação, são transformadas em renda (Wright ePerrone, 1977).

A sociedade capitalista atual contém, além da exploração capitalista, formas não capitalistasde exploração, estruturalmente subordinadas ao capitalismo, que fornecem as basesmateriais para formas secundárias de relações de classe. A noção de múltiplas exploraçõespermite pensar a existência de localizações contraditórias de classe, dentro das relações deexploração, que podem ser simultaneamente exploradoras e exploradas em dimensõesdiferentes (Wright et alii, 1989:24 e 306). Por outro lado, há localizações de classe que nãosão nem exploradoras nem exploradas, isto é, gente que tem precisamente o nível per capitado ativo pertinente (Wright, 1985:86).

Em seu livro Classes, Wright considerou a existência de ativos organizacionais, já que aorganização entendida como" as condições de cooperação coordenada entre produtores emuma complexa divisão do trabalho" representa um recurso produtivo específico, além de umativo controlado dentro de uma hierarquia de autoridade (idem:79). A divisão técnica detrabalho entre produtores é, por si mesma, uma fonte de produtividade. O modo como oprocesso produtivo é organizado é um recurso produtivo em seus próprios termos. A noçãode ativos organizacionais tem uma relação próxima com o problema de autoridade ehierarquia. Autoridade, contudo, não é o próprio ativo, ele é a organização, ou seja, a tomadade decisão coordenadora sobre uma complexa divisão técnica do trabalho. Não resta dúvida,no entanto, que a organização é um ativo que é controlado através de uma hierarquia de

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autoridade. O mecanismo gerador da exploração organizacional corresponde ao poder que osgerentes têm dentro da produção em virtude das suas responsabilidades organizacionaisassociadas à autonomia e ao poder real na organização social da produção. Esse controleeconômico efetivo sobre o uso dos ativos organizacionais garante­lhes a percepção de"rendas de lealdade" (Wright et alii, 1989:200­201).

Na corporação moderna, na prática, o exercício efetivo de controle sobre os ativosorganizacionais sobre a coordenação e integração da divisão do trabalho está nas mãos dosgerentes. Em termos do nexo exploração/classe, esse controle constitui a base para umaestrutura particular de relações de classe entre gerentes e trabalhadores (Wright, 1985:80 e94). Entretanto, em um ensaio publicado na obra coletiva The Debate on Classes (Wright etalii, 1989), o autor inicia uma reaproximação, nesse ponto, a idéias subjacentes ao seuprimeiro mapa de classes. Nos últimos tempos, inclina­se a tratar explicitamente aautoridade como uma dimensão das relações de classe entre os empregados. Gerentes esupervisores exercem um poder delegado da classe capitalista na medida em que se engajamem práticas de dominação dentro da produção. Essa posição estratégica, particularmente dosgerentes, na organização da produção enseja a exigência de uma porção do excedente socialsob a forma de rendimentos relativamente elevados. Entretanto, a posição dos gerentes nãodecorre apenas das relações de dominação, mas também da ocupação de uma localizaçãoprivilegiada de apropriação (privileged appropriation location) dentro das relações deexploração. A solução parece nova e não apenas um retorno a idéias presentes no primeiromapa de classes, sugerindo que os gerentes estariam em uma espécie de posição deconfluência das relações de dominação e exploração (Wright, 1997:20­23).

A propriedade de qualificações escassas forma uma outra conexão ativo/exploração.Qualificação e perícia designam um ativo incorporado na força de trabalho que aumenta o seupoder nos mercados e processos de trabalho. Essa força de trabalho "incrementada" é muitasvezes atestada sob a forma de credenciais, mas em algumas circunstâncias qualificação eperícia podem funcionar sem essa certificação (idem:23). A exploração baseada em ativos dequalificação pressupõe a restrição da sua oferta, permitindo a transformação da escassezrelativa em rendas elevadas que suplantam o custo de produção da força de trabalhoqualificada (Wright et alii, 1989:21). Os talentos naturais representam um segundomecanismo por meio do qual o preço da força de trabalho qualificada pode exceder seu custode produção. Os diferenciais de capacidade permitem que as pessoas talentosas se apropriemde uma renda extra ao adquirirem habilidades, com menor esforço e custo. Talentos ecredenciais podem ser simplesmente tratados como um tipo específico de mecanismo paracriar a escassez estável de uma determinada qualificação e apropriação exploradora. A ênfaseem credenciais deve­se ao seu status relativamente claro de "direito de propriedade".Entretanto, uma credencial formal torna­se a base para uma relação de exploração apenasquando está combinada com um emprego que a requer (Wright, 1985:152). A exploração,baseada na propriedade de ativos de qualificação, mostra­se comumente mediada por trocasmercantis e mercados de trabalho internos. Wright pondera que não é certo que qualificaçõese credenciais sejam realmente a base para uma relação típica de classe em que as classesse definem nas relações entre si , dado o tipo de relação difusa de dependência existenteentre especialistas e não­especialistas (idem:85 e 95).

A ESTRUTURA DE CLASSES

A estrutura de classes refere­se à estrutura de relações sociais que define um conjunto deposições ocupadas por indivíduos ou famílias e que determina seus interesses de classe. Elacorresponde a uma estrutura de" lugares vazios" gerados pelas relações sociais de produção,que existe independentemente de pessoas específicas que ocupam posições determinadas.Trata­se, então, de "um conjunto de posições de classe que existem independentemente das

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pessoas que o ocupam, mas que, todavia, determina os interesses de classe dos seusocupantes" (Mayer, 1994:132). Pesquisa empírica confirma que a estrutura de classes deveser pensada como "totalidade" que não é redutível à "soma das suas partes" (dimensõesprimárias de propriedade, habilidade e autoridade), pois há efeitos distintos do conjuntoenquanto tal (Western e Wright, 1994:624­625). No que diz respeito à estrutura de classes,pode­se falar de posições vazias, população excedente absoluta e ocupantes de posições declasse (Wright, 1985:10). As estruturas de classes concretas são vistas como consistindo dediferentes combinações das relações de classe definidas dentro dos conceitos abstratos daestrutura de classes e designam mecanismos reais, ou seja, processos geradores de efeitos(Wright et alii, 1989:278).

Classes não podem ser definidas como agrupamentos (clusters) de ocupações, já que os doisfenômenos possuem diferentes dimensões na teoria marxista. Enquanto ocupaçõesrepresentam posições definidas no âmbito das relações técnicas de produção, classescaracterizam­se pela sua localização dentro das relações sociais de produção. As firmascapitalistas são os sítios privilegiados das relações sociais de produção, mas as formações declasse incorporam e transcendem o espaço da firma. Considerando, conjuntamente, asdimensões estruturais e processuais, as classes perpassam as organizações ao incorporaremo "interno" e o" externo" (Wright, 1980b:177­178 e 190­191).

Em geral, os tratamentos marxistas da estrutura de classes enfatizam um (ou mais de um)de três tipos de efeitos: interesses materiais, experiências de vida e capacidades para açãocoletiva. Wright considera que os conceitos concretos da estrutura de classes podem sermelhor construídos em torno da noção de exploração e interesses materiais. Este seria oúnico modo coerente, no entendimento do autor, de gerar sistematicamente conceitosconcretos de estrutura de classes derivados do conceito abstrato de modo de produção(Wright et alii, 1989:278­299). A estrutura de classes corresponde a um tipo particular derede complexa de relações sociais que determina o acesso aos recursos produtivos básicos emolda os interesses materiais. Pode ser representada, adequadamente, como uma matrizmultidimensional de localizações determinadas pela distribuição dos ativos geradores deexploração (idem:59). Essa estrutura de relações sociais gera uma matriz de interessesbaseada na exploração. A sociedade capitalista contemporânea assistiu ao desenvolvimentode múltiplas explorações, isto é, diferentes formas de combinação de distintos mecanismosde exploração.

Apesar de elaborar um esquema de classes de inclinação mais "estruturalista", Wrightreconhece os problemas inerentes a uma visão estritamente posicional da estrutura declasses e declara sua preferência por uma abordagem de trajetória. As visões posicionais deestrutura de classes giram em torno de caracterizações essencialmente estáticas dalocalização das pessoas nas relações de classe. A localização de classe é um determinantebásico da matriz de possibilidades objetivas enfrentadas pelos indivíduos, seja no horizontedas alternativas reais que as pessoas consideram ao tomar decisões sobre o que fazer ecomo fazer, seja no âmbito da trajetória global das possibilidades encaradas durante o ciclode vida (Wright, 1985:144). O caráter de uma determinada posição deve ser visto em termosprobabilísticos. As propriedades relacionais de uma posição de classe determinam asconseqüências de classe apenas como tendências. O mesmo ocorre com a localizaçãorelacional dos ocupantes no decorrer do tempo. Uma explicação plena da estrutura de classestem que incluir algum tipo de reconhecimento dessas trajetórias probabilísticas. O próprioconceito de interesse, central na interpretação de Wright, implica um horizonte ou dimensãotemporal da parte dos atores que partilham esses interesses (idem:185­186).

Em período mais recente, Wright tem problematizado a sua noção de localização de classe. Osentido de ocupar uma localização de classe, no fundo, restringe­se a empregos (jobs) e temuma conotação estática. É preciso conectar a dimensão da estrutura de classes (empregos) a

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microconceitos que captem o modo de os indivíduos viverem. Wright desenvolveu as noçõesde localizações de classe mediatas e temporais (Wright et alii, 1989:323­331). A primeiraprocura captar as demais relações sociais, além do emprego, que ligam os indivíduos àestrutura de classes. Relações com outros membros da família e relações com o Estado criamvínculos indiretos entre o indivíduo e os recursos produtivos. As relações de gêneroperpassam a família e formam a base para a definição da localização de classe mediata, oque permite, inclusive, dissolver o dualismo classe/gênero (Wright, 1989a:41 e 62). Areferência a localizações de classe temporais reflete o fato de determinados empregosestarem associados a trajetórias de carreira que alteram o vínculo de classe através dotempo. A localização de classe de profissionais, especialistas e outras categorias portadorasde qualificações credencializadas, envolve um movimento no interior das hierarquiasgerenciais, a capacidade de capitalizar renda e opções viáveis de auto­emprego secundárioou de tempo integral. Em um plano concreto de análise, a estrutura de classes envolve atotalidade das relações de classe diretas, mediatas e temporais.

TIPOLOGIA DE CLASSE

Wright elabora uma tipologia básica de classe na sociedade capitalista em função daapropriação diferenciada de ativos em meios de produção, ativos de qualificação e relaçãocom o exercício de dominação dentro da produção (caracterizados antes como ativosorganizacionais). A parte crítica da tipologia de localizações de classe encontra­se nasdiferenciações entre os não­proprietários dos meios de produção, ou seja, nas divisõesinternas entre assalariados, atribuídas à operação dos mecanismos de exploração nãocapitalistas e de dominação dentro da produção, estruturalmente subordinados à exploraçãobaseada nos ativos de meios de produção (Wright, 1989b:8 e 191­192). A distribuiçãoempírica das pessoas dentro das células da tipologia de classe depende dos padrões dedistribuição e interdependência dos ativos de exploração e de exercício de dominação dentroda produção. Os conceitos marxistas tradicionais de estrutura de classes são muito abstratose "macros" para abordar vários problemas empíricos e, inversamente, não dão conta danecessidade de ligar níveis concreto e micro de análise aos macroconceitos mais abstratos.

Wright faz opção por uma estratégia de análise mais refinada da estrutura de classes e umexame nuançado dos efeitos da localização de classe na consciência e ação individuais. Aproliferação de localizações de classe na tipologia deve­se ao fato de o conceito de"localização de classe" ser de nível micro. Os indivíduos (e às vezes as famílias) ocupam aslocalizações. Ocupar uma localização significa ser afetado por um conjunto de mecanismosque determina as possibilidades e os limites encarados ao fazer escolhas e agir no mundo. Aslocalizações de classe estão sempre estruturalmente interconectadas às relações de classe.Possibilidades e limites dependem, crucialmente, das propriedades emergentes da estruturasocial como um todo que mediatizam os microprocessos. A noção de estrutura de classesdesigna a organização de conjunto de relações e localizações de classe (Wright, 1997:374­379 e 401­405). Wright destaca que o esquema de classe básico subjacente às suasinvestigações corresponde a um modelo que diferencia seis localizações nas relações declasse, o que não deve ser confundido com um modelo de seis classes (idem:23­25). As trêsdimensões da tipologia básica podem ser "tricotomizadas", por opções metodológicas,diferenciando­se as posições dominante, contraditória e subordinada, o que dá lugar a dozelocalizações de classe: três de possuidores de ativos de capital e nove de empregados(Wright et alii, 1989:34 e 306). Apresentam­se na Figura 1 a tipologia de classe básica e naFigura 2 a tipologia desenvolvida (Wright, 1997:24­25; 1985:88).

Figura 1

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Tipologia Básica de Classe na Sociedade Capitalista

Proprietário Empregados

Contratatrabalho

Capitalista Gerentesespecialistas

Gerentesnão­

especialistas

Exerceautoridade

Relaçãocom

autoridade

Nãocontratatrabalho

Pequenaburguesia

Especialistas Trabalhadores Nãoexerce

autoridade

Possuiqualificaçõesescassas

Não­especialista

Relação com qualificações escassas

Figura 2 Tipologia de Classe na Sociedade Capitalista

Ativos em Meio de Produção

Proprietáriosdos meios deprodução

Não­proprietários (trabalhadores assalariados)

Possuemsuficientecapital paraempregartrabalhadorese nãotrabalhar

1 Burguesia

4 Gerentes

especialistas

7 Gerentesqualificados

10 Gerentes nãoqualificados

+

Possuemsuficientecapital paraempregartrabalhadores,mas precisamtrabalhar

2 Pequenos

empregadores

5 Supervisoresespecialistas

8 Supervisoresqualificados

11 Supervisores

nãoqualificados

>0

Possuemsuficientecapital paratrabalhar parasi mesmos

3 Pequenaburguesia

6 Não­

gerentesespecialistas

9 Trabalhadoresqualificados

12 Trabalhadores

nãoqualificados

­

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mas não paraempregartrabalhadores

+ >0 ­

Relação com qualificações escassas

Entre os proprietários distinguem­se os capitalistas propriamente ditos, os pequenosempregadores, que empregam poucos empregados, e a pequena burguesia, composta pelaspessoas auto­empregadas sem empregados. As localizações de" classe média" são pensadascomo localizações contraditórias e localizações privilegiadas de apropriação entre osempregados, e abrangem, na tipologia desenvolvida, todos os tipos de gerentes eespecialistas mais os supervisores qualificados. A noção de qualificação (skill), presente nacategoria intermediária de trabalhador qualificado (skilled), vincula­se à idéia mais geral deforça de trabalho potencializada (enhanced) ou complexa. A classe trabalhadora "pura"consiste de empregados que, tendo posição subordinada nas dimensões de autoridade e dequalificação, são cumulativamente não­gerentes e não qualificados. Wright fala de uma classetrabalhadora "ampliada", abarcando os trabalhadores não qualificados, os trabalhadoresqualificados e os supervisores não qualificados (Wright, 1997:23­24 e 447). Os objetivosespecíficos da investigação podem demandar a introdução de certas modificaçõesapropriadas. Wright adota em diversos estudos uma tipologia restrita devido às limitações dadimensão da amostra, à natureza dos dados disponíveis e ao contexto analítico7.

Wright desenvolve uma estratégia sofisticada, particularmente para mensurar a dimensão deautoridade, denominada, antes, de ativos de controle organizacional. Os entrevistados sãoquestionados minuciosamente sobre o seu envolvimento em tomadas de decisões, autoridadesobre os subordinados em termos de serviço e punições, e posição na hierarquia formal daempresa (Wright, 1985:303­313). Os gerentes correspondem a "posições que estãodiretamente envolvidas em tomar decisões de política (policy decisions) no local de trabalho eque possuem autoridade efetiva sobre o subordinado". Já os supervisores representam"posições que possuem autoridade efetiva sobre subordinados, mas não estão envolvidas emtomadas de decisão na organização" (idem:151).

A alternativa de "tricotomizar" a mensuração das dimensões de diferenciação de classemerece uma consideração específica. Tal estratégia dá origem às nove posições de classediferenciadas dentro do segmento de não­proprietários. Wright esclarece que o objetivoperseguido por essa solução foi o de construir uma tipologia em que as posições assimétricas(p. ex., gerente e trabalhador) fossem inequívocas. Na verdade, criou uma variáveltricotômica para capturar e representar uma dicotomia teórica. A idéia foi concentrar nascategorias intermediárias e ambíguas os problemas e deficiências de mensuração. Assimfazendo, ao confrontar as posições assimétricas teria certeza de estar comparando gruposrelativamente bem mensurados (Wright, 1993:34).

Wright reconhece que os atuais mapas descritivos de classes produzidos por estudiosos dastradições marxista e weberiana, podem não ser tão divergentes em termos práticos para aanálise da sociedade capitalista. Ambas as tradições consideram a relação capital/trabalhocomo definidora do eixo principal das relações de classe no capitalismo. Da mesma forma,destacam a importância das categorias sociais de profissionais, gerentes e executivos,funcionários burocráticos, empregados altamente qualificados, que não se encaixampropriamente nas relações de classe polarizadas entre capitalistas e trabalhadores (Wright,

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propriamente nas relações de classe polarizadas entre capitalistas e trabalhadores (Wright,1994:92). Como as categorias empíricas de análise são muitas vezes subdeterminadas pelomodelo teórico de referência, em termos de conjunto prático de categorias operacionais amatriz de estrutura de classes de Wright não difere dramaticamente da tipologia deGoldthorpe (Wright, 1997:36).

GÊNERO, FAMÍLIA E CLASSE: A QUESTÃO DA UNIDADE DE ANÁLISE

A escolha da unidade de análise indivíduo ou família suscita questões fundamentaisconcernentes ao entendimento dos mecanismos através dos quais a variável classe éexplicativa. A composição de classe da família torna­se um problema saliente na medida emque o poder explicativo de classe vincula­se aos modos como posições de classe moldaminteresses materiais. Em uma visão centrada restritamente no emprego, dado que osempregos são ocupados pelos indivíduos, o problema da composição da família torna­serelativamente secundário. Wright acredita que o crescimento das famílias de composição declasse heterogênea no capitalismo contemporâneo exige um tratamento pelos esquemasanalíticos. De modo particular, considera como aspecto crítico do fenômeno das famíliasinterclasses, a maior probabilidade de as mulheres da classe trabalhadora em comparaçãoaos homens terem esposos em localizações exploradoras. As relações sociais dentro dafamília, ao viabilizarem acesso a recursos materiais controlados pela unidade familiar, comimplicações em termos de bem­estar material, constituem uma fonte crucial de "relações declasse mediatas". Os vínculos de gênero entre maridos e esposas representam as bases reaiscondicionantes das suas respectivas localizações mediatas. Concebe­se que as pessoas sevinculam à estrutura de classes não apenas através da sua posição individual dentro dadivisão do trabalho. Certo tipo de combinação ponderada de localizações diretas e mediatasdefiniria os "interesses de classe" de conjunto do indivíduo. Pode­se pensar na existência decombinações contraditórias de localizações diretas e mediatas. A localização de maridos eesposas deveria ser tratada como uma função da localização de classe direta e mediata deambos. A problemática do papel da mulher na estrutura de classes diz respeito à identificaçãodos processos causais que moldam a saliência relativa das relações diretas e mediatas nadeterminação dos seus interesses de classe. A noção de relações de classe mediatasrepresenta um passo adiante para dissolver o dualismo classe/gênero. Os vínculos de gênerono âmbito da família são constitutivos das relações de classe mediatas. A noção permiteconceituar as articulações entre classe e gênero sem tratar as duas dimensões comoestruturas inteiramente separadas ou dissolver a própria distinção (Wright, 1989a; 1997:249­280).

A CONSCIÊNCIA DE CLASSE

Consciência de classe corresponde àqueles aspectos da consciência que possuem umconteúdo distintivo de classe que conforma as escolhas intencionais. As formas deconsciência pertinentes à classe envolvem os processos subjetivos por meio dos quais osindivíduos passam a entender a determinação social das suas capacidades e opções (Wright,1997:382­386; 1985:29). O modelo causal de formação da consciência advogado por Wrightapóia­se em duas premissas.

Premissa 1: "Os interesses materiais enraizados nas relações de exploração e, por isso,vinculados à estrutura de classes, são reais, [de modo que] o vínculo entre classe econsciência [...] baseia­se nas propriedades objetivas da própria estrutura de classes".

Premissa 2: "A experiência de classe que molda a consciência está sempre organizadasocialmente, [de forma que se deve analisar] a construção social das categorias ideológicasem função das quais as pessoas interpretam seu mundo" (Wright, 1985:251­252).

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As localizações de classe estruturam objetivamente os interesses dos atores. Postula­se queas pessoas sejam suficientemente racionais para tomar consciência desses interesses.

O estudo da "consciência" abarca notadamente aqueles elementos da subjetividade dapessoa que são discursivamente acessíveis ao indivíduo. As crenças, idéias, observações,informações, teorias, preferências, mesmo não estando explicitamente na mente da pessoa,podem ser acessíveis à sua consciência. A consciência de classe compõe­se do conteúdo detrês dimensões da subjetividade implicadas nas escolhas intencionais: percepção dealternativas, teorias de conseqüências e preferências. O conceito pretende denotarpropriedades subjetivas que dão à atividade de escolha consciente um conteúdo de classe8.

Em trabalho posterior, Wright vai considerar que as compreensões subjetivas de identidades einteresses possuem diferentes estruturas temporais. A identidade estaria mais enraizada nopassado biográfico, enquanto o interesse consciente na antecipação do próprio futuro. Ospadrões de mobilidade social prediriam melhor as identidades de classe, ao passo que aslocalizações de classe seriam melhores preditoras dos interesses conscientes. A organizaçãocoletiva de classe dentro da produção e os contextos organizacionais prevalecentes nasempresas capitalistas, por sua vez, podem influenciar significativamente a direção e aextensão em que experiências e interesses de classe são transformados em identidades ecrenças (Wright, 1997:492­516 e 536­40).

MODELO DE ESTRUTURA, FORMAÇÃO E LUTA DE CLASSES

A dimensão da estrutura revela­se conceitualmente essencial para clarificar a lógica deconjunto da análise de classes. Afinal, a estrutura de classes é o determinante central dopoder social e constitui o mecanismo básico de distribuição de acesso aos recursos nasociedade e, portanto, de distribuição de capacidades de agir (Wright, 1985:28 e 32).

A formação de classes refere­se à constituição de coletividades organizadas dentro daestrutura de classes sobre a base de interesses moldados por esta. Tais coletividades podemser organizadas, desorganizadas e reorganizadas (:10). As relações sociais dentro de cadaclasse determinam sua capacidade de perseguir seus interesses (Wright, 1994:52­53). Aformação expressa e mede "a coerência combinada (corporate) de uma classe e suacapacidade organizacional de funcionar como um participante ativo na sociedade" (Mayer,1994:133).

As práticas são concebidas como "atividades humanas vistas em termos de seus efeitostransformativos no mundo" (Wright, 1994:54). As práticas de classe são atividades em queos membros do agrupamento se engajam com a finalidade de realizar ao menos alguns doseus interesses de classe. Nesse sentido, a atividade é intencional e o objetivo é a realizaçãode interesses baseados em classe. A subjetividade mediatiza os modos como as condiçõesobjetivas das localizações são traduzidas nas escolhas efetivas das ações de classe. Amediação subjetiva das escolhas o processo efetivo de escolher é igualmente uma parteessencial do processo. Formações coletivas, não­indivíduos atomizados, são os veículoscaracterísticos das lutas de classes, ou seja, das formas organizadas de práticas de classeantagonísticas (Wright, 1997:381­382; 1985:145).

O modelo analítico (que não pretende ser uma teoria geral) articula as dimensões deestrutura, formação e luta de classes. A estrutura de classes impõe limites à formação, ouseja, à organização coletiva das forças de classe, assim como às suas lutas. Três são osmecanismos básicos de imposição de limites: a moldagem dos interesses materiais dosindivíduos, os padrões de identidades emergentes das experiências de classe vividas e adeterminação dos recursos materiais disponíveis. Já a formação de classe seleciona as lutas

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possíveis, que, por fim, retroagem e transformam tanto a estrutura quanto a formação declasse. As práticas de classe, em certa medida, transformam as estruturas que as limitam(Wright, 1997:394­400).

Wright defende a idéia da relativa indeterminação do relacionamento entre estrutura eformação de classe, do seu caráter complexo e contingente. A estrutura estabelece os limitesde variação possível da formação, consciência e luta de classes e impõe obstáculos eoportunidades às tentativas de quaisquer atores políticos de organizar pessoas em formaçõescoletivas. Porém, dentro desses limites, uma variedade de fatores políticos e históricosmoldam os padrões presentes que emergem. Os interesses baseados na exploração,radicados na estrutura de classes, constituem as bases materiais para uma variedade deformações potenciais. A estrutura de classes pode definir o terreno dos interesses materiaisem torno dos quais experiências de formação de classes ocorrem ou as probabilidadessubjacentes de diferentes tipos de formação, mas os resultados dependem de uma série defatores que são estruturalmente contingentes em relação à própria estrutura de classes.Formação de classe é o processo por meio do qual as condições individuais sãoorganizacionalmente fundidas, com a finalidade de gerar uma capacidade coletiva de agir.Nesse terreno, deve­se considerar as dinâmicas organizacionais por meio das quais ascondições individuais para agir, como determinadas pela localização de classe, se tornammobilizadas em formas coletivas de práticas de classe. O processo de formação coletiva édecisivamente moldado por uma variedade de mecanismos institucionais que são"relativamente autônomos" e que determinam os modos como as estruturas se traduzem ematores coletivos com ideologias e estratégias específicas (Wright, 1985:14, 28­29 e 123­124).

Estudo comparativo sobre a questão da permeabilidade diferenciada das fronteiras de classeà mobilidade intergeracional entre homens nos Estados Unidos, Canadá, Noruega e Suéciamostra a interferência dos fatores político­institucionais na reprodução das classes. Emergeda pesquisa um claro padrão de variação entre as nações estudadas. A fronteira depropriedade é menos permeável nas sociedades em que as relações econômicas capitalistassão menos constrangidas pela intervenção estatal. Os recursos materiais vinculados àsrelações de propriedade capitalistas demonstram constituir uma barreira mais significativa àmobilidade nos EUA e Canadá, que os recursos culturais vinculados à perícia. Nos dois paísesescandinavos, especialmente na Suécia, as fronteiras de propriedade e perícia não diferemsignificativamente em seu grau de permeabilidade. A pesquisa sugere que quanto maispuramente capitalista é uma estrutura econômica, menos permeável será a fronteira depropriedade à mobilidade intergeracional. Os resultados são, em certa medida, consistentescom a visão de que os Estados de Bem­Estar social­democratas podem influenciar a operaçãodos mecanismos de classe capitalistas, no sentido de uma maior igualdade (Western eWright, 1994)9.

Os "lugares vazios" da estrutura de produção social compreendem, simultaneamente,relações de classe e relações ocupacionais. As posições de classe e ocupacionais interagemde várias formas no processo de formação coletiva de classe. As posições ocupacionaisformam bases potenciais para divisões dentro da classe trabalhadora, assim como podemreforçar outras fontes de divisões intraclasses, como raça e etnia, e concorrem com classecomo bases de organização dos seus ocupantes em atores coletivos, ao ensejarem osurgimento de organizações coletivas de grupos ocupacionais. Entretanto, sob determinadascircunstâncias, grupos ocupacionais podem servir de veículo de formação de classe. Asconexões entre classe e ocupação, assim como outros aspectos da estrutura social, produzemefeitos diferenciadores nas formas de luta e formação de classe (Wright, 1980b).

CLASSE E POLÍTICA

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Em sua análise de como a classe molda a política, Wright recorre à tipologia tripartite de"níveis de poder" elaborada por Alford e Friedland. Existe o poder situacional que se refere àsrelações de poder de comando direto e obediência entre atores. A estrutura de classesdistribui recursos úteis nas lutas políticas e, por isso, afeta as interações dos atores políticos.O poder institucional refere­se às características de diferentes cenários institucionais quemoldam a agenda de tomada de decisão de maneira a servir aos interesses de gruposparticulares. Determinadas propriedades institucionais do Estado incorporam um caráterespecífico de classe, a exemplo dos mecanismos negativos de filtragem. O poder sistêmicorefere­se ao poder de concretizar interesses dada a estrutura global do sistema social. Opadrão de organização social relações de propriedade, orientação do sistema de produção eoperações dos mercados reforça os interesses dos capitalistas independentemente demaquinações políticas.

Os efeitos de classe na política estão sujeitos a variações. O poder situacional relativo decoletividades organizadas contendoras pode experimentar situações de "equilíbrio de forças".O poder incorporado nas propriedades institucionais do Estado manifesta diferençashistóricas. Possibilidades de variação afetam, igualmente, o caráter de classe do podersistêmico dentro das sociedades. Neste ponto, cabe citar os estudos de Esping­Andersenacerca da existência de diferenças nas formas de Estado de Bem­Estar (ver, p. ex., Esping­Andersen, 1990).

A relevância relativa dos diferentes fatores causais, assim como a sua articulação, devem serconsideradas. Classe não representa a causa" mais importante" de qualquer fenômenopolítico. Processos associados a fatores sistêmicos gerais implicam um papel explicativo maisimportante de classe, mas objetos mais concretos e sutis tendem a ser relativamente maiscontingentes em relação a esse fator. A importância causal explicativa de classe guardarelação com os aspectos mais diretamente implicados na reprodução da estrutura de classese com os interesses fundamentais das classes dominantes (Wright, 1994:88­106).

CRÍTICAS À TIPOLOGIA DE ERIK OLIN WRIGHT

Levy e Joye advertem que o esquema de classes de Wright se articula em torno da idéia demúltiplas explorações, em que mecanismos baseados no controle de ativos organizacionais ede qualificação se associam, ainda que subordinadamente, à exploração propriamentecapitalista. A importância atribuída à existência de hierarquias múltiplas de estratificação,segundo certas interpretações, faz com que o critério da propriedade dos meios de produçãopasse a ser de relevância parcial. Aponta­se um sério problema prático dessa abordagem: anecessidade de definir pontos de descontinuidade ou corte nas variáveis qualificação ouposição hierárquica, que não são intrinsecamente dicotômicas ou tricotômicas (Levy e Joye,1994:315 e 318).

Sörensen considera que a abordagem de Wright em termos de ativos de qualificação e ativosorganizacionais não seria adequada como uma teoria estrutural ou posicional de classe.Habilidades inatas, ainda que possam gerar uma renda diferencial, são atributos de pessoas enão de posições. De modo semelhante, habilidades adquiridas (skills) podem gerar "sobre­rendas", na medida em que as oportunidades de treinamento são fixas e a oferta limitada; noentanto, independente disso, não são propriedades de posições10. Já a posição de"autoridade" na hierarquia organizacional não pode ser considerada uma medida de valor doativo, ou seja, da eficácia produtiva de um arranjo organizacional. Nessa situação, só oargumento de incentivo explicaria os altos salários dos detentores de autoridade. Certosautores apelam para a noção de sistemas de incentivos ou falam de sistemas de promoçãoem mercados de trabalho internos. Nenhuma das duas soluções, no entanto, atende à idéiade vantagens posicionais (Sörensen, 1994).

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Edgell critica Wright por introduzir fortes elementos de graduação na tipologia de classe. Nainterpretação do autor, não fica claro se a posse de ativos de qualificação ou credenciaisconduz à exploração dos não­especialistas pelos especialistas ou, na verdade, apenas avariações de rendimentos. A diferenciação interna dos não proprietários, que dá origem anove localizações de classe na tipologia, é realizada distinguindo­se graus de controle dosativos organizacionais e de qualificação ou credenciais. Nesse sentido, a tipologia de classenão seria puramente marxista, nos termos defendidos pelo próprio Wright, pois contém tantoelementos relacionais quanto de graduação (Edgell, 1995:22­26)11.

A construção teórica do mapa de classes apóia­se na suposição, não muito plausívelempiricamente, de que os diferentes mecanismos de exploração têm efeitos estritamenteaditivos, os quais são tidos como mutuamente independentes. Consciente desse problema,Wright lembra que caso se considere que as formas de exploração se reforçam mutuamente,"a relação entre o mapa de localizações de classe definido com base nos ativos e interessesde classe objetivos torna­se muito mais problemática" (Wright, 1985:96). Na avaliação críticade Mayer, a pressuposição de independência (não reforço mútuo) entre tipos de exploração,adotada por Wright por motivos de simplicidade, alimenta a impressão de a tipologia declasse representar uma classificação­cruzada artificial (mecanical cross­classification),impressão que é reforçada pela atribuição de três níveis a cada modo de exploração (Mayer,1994:137).

Relatam­se problemas vinculados à aplicação do esquema de classes de Wright. A definiçãooperacional de Wright de burguesia seria derivada de uma concepção de propriedade familiar.Nesse sentido, a noção de Goldthorpe de "classe de serviço", ainda que conceitualmente maisheterogênea, pois agrega empregadores e empregados, estaria mais próxima da realidade dopoder corporativo na economia capitalista contemporânea. A dificuldade na mensuração dosativos de qualificação daria lugar a soluções arbitrárias de decisões de codificação, de modoque pessoas desempenhando tarefas radicalmente diferentes aparecem na mesma categoriade "especialistas" ou "empregados não qualificados". Como a qualificação e períciapressupõem a sua vinculação com empregos, recorre­se a estes na sua operacionalização.Wright seria prisioneiro da codificação ocupacional, mais que o próprio Goldthorpe, criticadopor trabalhar explicitamente com categorias ocupacionais. A operacionalização deste ativoimplica lançar mão de agregados ocupacionais (derivados da codificação oficial deocupações), junto com a escolaridade e, para algumas situações, uma medida de autonomiade emprego. A localização de classe de trabalhadores qualificados faria uma miscelânea decritérios: alguns seriam incluídos tendo em vista as qualificações formais e outros com basesomente na denominação ocupacional.

A aplicação prática dos critérios para definir a posição de classe na dimensão de autoridadenão seria rigorosa. As regras e instruções (os algoritmos) de classificação de classe deWright, na prática, conteriam critérios muito fracos para distinguir gerentes e supervisores deoutros empregados. O indivíduo entrevistado é considerado gerente na medida em queparticipe de qualquer um dos oitos itens arrolados de tomadas de decisão, inclusive apenasformulação de parecer ou conselho (device). A categoria de gerentes inclui pessoas que nãoocupam posições de gerente na hierarquia formal da empresa, mas são gerentes peloscritérios de Wright. A elaboração de critérios minuciosos, aplicados porém de forma frouxa,afetaria igualmente a constituição da categoria de supervisores, que abrange indivíduos quesão supervisores puramente nominais na organização formal da empresa, mas que a própriapesquisa constatou não possuírem autoridade sobre tarefas e em matéria de punições sobresubordinados. Critica­se também o artificialismo de denominar supervisores àqueles queestão envolvidos na supervisão limitada de um único subordinado. Seriam assinaladasdiferentes localizações de classe a indivíduos partilhando ocupações e situações similares deemprego, por causa de alegadas diferenças em termos de autonomia e participação emtomadas de decisão. As medidas de controle organizacional não levam em conta o contexto

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desse controle. A aplicação frouxa dos critérios de mensuração de posição hierárquica leva ainflar as categorias de gerentes e supervisores12. Marshall e outros demonstram grandeceticismo acerca da real homogeneidade de determinadas localizações contraditórias deWright. Distorções acumuladas produzem grande número de proletários que não seriamrealmente proletários, mesmo nos termos de Wright. A aplicação do seu esquema sugere quea estrutura de classes da Inglaterra estaria em um estado avançado de proletarização, o queé contestado pelos autores. Os resultados empíricos derivados da aplicação do esquema deWright, particularmente em relação à Inglaterra, colocariam sérias dúvidas sobre a utilidadeda sua abordagem (Marshall et alii, 1993:38, 59­60, 93­94 e 265).

Breen e Rottman consideram que um esquema de doze localizações de classe é maisplausível em termos do que Weber descreve como" classes econômicas", ou seja, um arranjode situações econômico­sociais típico, em lugar de classes sociais propriamente, isto é,agrupamentos de situações de classe demograficamente definidos. Tais localizações de classedão a impressão de representarem contextos fracos para processos de estruturação decoletividades sociais reais. No plano operacional, segundo os autores, o esquema requerdetalhes empíricos consideráveis acerca das condições de emprego para mensurar o grau deposse de um ativo particular, tomando­se, inclusive, a distinção tripla que é feita para cadaativo no que se refere a posições de classe dominante, contraditória e subordinada (Breen eRottman, 1995:65 e 69).

Savage et alii criticam o modelo analítico quantitativo dos "esquemas de classe" que trata asposições de classe como" variáveis independentes" utilizadas para inferir resultados apuradosno plano das "variáveis dependentes", em que se busca mensurar o impacto dos fatoresdeterminantes em termos de manifestações sociais padronizadas na esfera do indivíduo(desempenho educacional, atitudes, padrões de voto etc.). Essa abordagem seria incapaz dedemonstrar os vínculos determinantes causais precisos entre classe social e outrosfenômenos sociais. Os autores consideram, igualmente, as implicações negativas de seconceber a estrutura de classes como um conjunto de lugares vazios definidos em termos deposições econômicas, a que se agrega a investigação dos processos que vinculam as pessoasa lugares particulares. O fato de determinados lugares serem condicionados pelo gênero doseu ocupante, como alerta a crítica feminista, demonstra que os lugares de classe não podemser especificados independentemente das pessoas que os ocupam. Savage et alii defendemum enfoque realista que concebe as classes como entidades com determinados poderescausais, revelados através dos seus efeitos. Estes dependem de uma variedade de condiçõescontextuais contingentes e se manifestam notadamente nas situações históricas decisivas. Osautores privilegiam o estudo do modo como as classes sociais se constituem em coletividadessociais e, então, como podem influenciar os processos de mudança histórica. A estrutura dasposições de classe não pode ser simplesmente considerada como dada; os processos queestruturam essas posições têm que ser objeto de investigação. O estudo de como as classesse formam como coletividades sociais pode implicar a investigação de como os própriosprocessos de formação de classe afetam a organização, desorganização e reorganização dasposições de classe (Savage et alii, 1995:219­229).

As classes sociais são vistas em primeiro lugar, e sobretudo, como coletividades sociaisestáveis formadas por pessoas com níveis semelhantes de renda e remuneração, estilos devida, cultura e orientação política. A análise de classe deve lidar prioritariamente com aquestão da formação de classe e não tanto com esquemas classificatórios. As classes sociaisestão radicadas em processos de exploração. Diferentes tipos de exploração dão origem adistintos poderes causais de entidades sociais específicas. Entretanto, não basta analisar aspropriedades causais de formas determinadas de exploração. O vínculo entre tipos derelações exploradoras e a formação de coletividades sociais particulares implica o exame dascondições contingentes que viabilizam ou potencializam o exercício das propriedades causais(idem:1­18).

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Crompton caracteriza os mapas de classe de Wright e de Goldthorpe, construídos a partir delevantamentos de dados apoiados centralmente na ocupação, como um enfoque de"agregados de empregos" à análise de classe. Essas tentativas são defeituosas já que não épossível empiricamente estudar as" classes" isoladas de outros fatores que estruturam adivisão do trabalho como um todo. Crompton analisa o uso problemático da variávelocupação como medida de classe. Posições ocupacionais não incorporam as diferentesdimensões da desigualdade nem capturam adequadamente a realidade das relações declasse. Além disso, classe tem sido pensada teoricamente como algo mais que simplesagregados ocupacionais. Agregados de emprego não representam "entidades reais cominteresses identificáveis e capacidades de agir" (Crompton, 1994:114).

O uso da estrutura de emprego, adverte Crompton, não permite chegar a uma medida "nãocontaminada" de classe social, pois outros fatores entram na própria estruturação dasrelações de emprego. Revela­se extremamente difícil separar o "econômico" do "social" ou"cultural" na análise de classes. As estruturas de emprego, não há como desconsiderar, sãoinevitavelmente condicionadas pelo gênero (Crompton e Sanderson, 1990:7 e 19). Cabe àposição dentro da divisão social do trabalho, em lugar das características individuais, o papeldeterminante da posição de classe. Entretanto, na medida em que as posições são, de fato,condicionadas por gênero no sentido, por exemplo, de ocupações "masculinas" ou"femininas" pode­se dizer, então, que o gênero "sobredetermina" a posição (Crompton eMann, 1994:4). A estrutura de classes (empregos) é sobremaneira atravessada pelo fatorgênero, de modo que é difícil desenredar os efeitos de" classe" e "gênero"13. A divisão dotrabalho por gênero é uma realidade da vida social, proeminente tanto na esfera públicaquanto na privada. A persistência da segregação ocupacional divide a estrutura ocupacionalem ocupações "femininas" e "masculinas". O status e as recompensas de certas ocupaçõessão determinadas historicamente pelo fato de serem ocupações "femininas". O "patriarcado",a dominação da mulher pelo homem, tem sido um sistema de moldagem da estrutura deemprego similar à classe, sendo que a mulher sofre uma dupla desvantagem, decorrentetanto do seu sexo quanto do seu emprego (Crompton, 1994:94 e 100­101). A segregaçãoocupacional de gênero está sendo reproduzida pelas práticas recorrentes, que são o produtode convenções passadas a respeito das relações "apropriadas" entre os sexos, dascaracterísticas particulares das economias nacionais etc., assim como estão sendotransformadas por práticas divergentes (Crompton e Sanderson, 1990:43). Com justa razão,os esquemas de classe baseados em emprego caem sob severo julgamento crítico, comoocorreu no debate em torno da "questão da mulher", devido à própria extensão dasmudanças nas instituições de emprego e relacionadas ao emprego (Crompton, 1996:59).

Relações sociais subjacentes à condição de classe, assim como vínculos entre estrutura,consciência e ação, não podem ser adequadamente apreendidos por abordagens que"descansam, em última análise, sobre a agregação de atributos individuais" (Crompton,1994:116). Entretanto, apesar dos problemas, que não podem ser obscurecidos, medidasbaseadas em empregos conservam a sua utilidade enquanto indicadores de desigualdades declasse e de "chances de vida". Afinal, o trabalho permanece como "o mais significativodeterminante do destino de vida da maioria dos indivíduos e famílias nas sociedadesindustriais avançadas" (idem:120). Crompton admite que o enfoque de "agregados deempregos" deve continuar a merecer a atenção da sociologia, dada a demonstração dapersistência de padrões de desigualdade social e variações "atitudinais" associadas aempregos (Crompton, 1996:65).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Wright defende a existência de uma conexão entre propriedade de ativos produtivos,

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exploração, dominação na produção e diferenciação de classes. Caberia problematizar apossibilidade de geração plena de relações de classe na base da propriedade de ativos dequalificação. Wright não trata os especialistas, por esse e outros motivos, como uma classeenquanto tal. Prefere falar, no presente, que os especialistas ocupam uma localizaçãoprivilegiada de apropriação nas relações de exploração decorrentes da sua posiçãoestratégica na organização da produção (como controladores de conhecimento) e da sualocalização estratégica na organização dos mercados de trabalho (como controladores de umaforma escassa de força de trabalho) (Wright, 1997:22). As relações de dominação naprodução (autoridade) foram reintroduzidas no esquema de classes. Nessa novareinterpretação o papel da autoridade aparece vinculado à idéia de posição privilegiada deapropriação nas relações de exploração. Essa reelaboração teórica da localização dosgerentes, que enfatiza o engajamento em práticas de dominação na produção e a posiçãoestratégica na organização da produção, não há como negar, implica minimizar o estatuto de"ativo produtivo" do controle organizacional. Caracterizar a posição dos especialistas (etambém dos gerentes), em termos de localização privilegiada de apropriação nas relações deexploração, representa, pelo menos, uma atenuação teórica da concepção plena de múltiplasexplorações. Wright considera que os seus últimos estudos, tomados em conjunto, apesardas anomalias registradas, confirmariam a fecundidade do conceito de localizaçõescontraditórias de classe. Entretanto, reconhece que a noção de localizações contraditóriasperdeu o nível abrangente original de coerência teórica (idem:528). Esse reconhecimentoimplica também, em termos teóricos, um enfraquecimento da idéia de localizaçõescontraditórias, no sentido de combinações assimétricas ou mutuamente neutralizadoras dediferentes formas de exploração. Wright retém a noção de localizações contraditórias nosentido de essas posições de classe média se ligarem de modos privilegiados aos processosde exploração e dominação. Os interesses de classe incorporados nos empregos de gerentese especialistas combinam os interesses opostos de capital e trabalho (idem:20­23 e 523).

Cabe considerar, igualmente, os limites de uma abordagem à análise de classes que, emcerta medida, se mostra "centrada em empregos". Importantes situações ou processos quenão se manifestam adequadamente em termos da estrutura de emprego escapam à análise.Wright reconhece essa limitação metodológica da abordagem quantitativa das tipologias declasse. Os levantamentos de dados por amostragem (sample surveys) dificultam seriamentea exploração analítica dos extremos dentro da estrutura de classes: os grandes proprietáriosde capital e os segmentos mais marginalizados da população (Wright, 1997:xxx­xxxi).

As questões que recaem sob o crivo crítico, várias das quais apontadas e enfrentadas pelopróprio Wright, não devem obscurecer os méritos da sua obra. A análise de classe podeprivilegiar analiticamente, como defende Wright, a concepção de plano micro de localizaçõesde classe dentro de relações de classe macroestruturais. A noção de localização de classetraduz uma visão de condicionamentos operantes sobre os agentes ao fazerem escolhas eagirem no mundo. Seu esquema teórico revela­se capaz de expressar e orientar a abordagemdo papel de posições intermediárias de classe na complexificação da estrutura social dasociedade capitalista contemporânea. Além disso, desenvolve uma noção de classetrabalhadora analiticamente mais sensível ao amplo reordenamento do universo da produçãoe do trabalho que se processa na atualidade. Em termos de tradição marxista, a reelaboraçãodo conceito de classe preserva as noções de apropriação de ativos produtivos e deexploração, o que, no entanto, não impede Wright de incorporar o papel da dominação dentroda produção na geração de diferenciações nas localizações de classe. Além de desenvolverum agudo senso crítico e autocrítico, o autor constrói um instrumental analítico dirigido àpesquisa empírica sistemática, que realimenta o seu pensamento e chega mesmo a contribuirpara que a sua obra se projete em reelaborações. Em um contexto de crise de paradigmas, ateoria e a tipologia de classes neomarxista de Wright inscrevem­se em uma obra aberta e emprogresso.

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(Recebido para publicação em outubro de 1997)

NOTAS:

1. Pode­se citar, como exceção à regra, a iniciativa do economista Paul Singer (1981).

2. Trata­se de "The Comparative Project on Class Structure and Class Consciousness: An Overview", elaborado edinamizado por Erik O. Wright. Até o presente foram realizadas pesquisas vinculadas ao projeto nos EUA,Suécia, Grã­Bretanha, Canadá, Noruega, Austrália, Dinamarca, Japão, Nova Zelândia, Alemanha Ocidental,Rússia, Coréia do Sul, Espanha, Taiwan e Portugal. Ver Wright (1989b; 1997).

3. Conjugando a teoria marxista com a metodologia da economia neoclássica, o economista John Roemer baseiaas suas refutações e proposições teóricas em um processo eminentemente hipotético­dedutivo, recorrendo ademonstrações lógico­matemáticas dos modelos e teoremas formulados.

4. A teoria marxista clássica considera que a taxa de lucro é positiva se, e apenas se, os trabalhadores sãoexplorados. Roemer procura demonstrar que, partindo­se da necessidade ou suficiência da exploração dotrabalho para os lucros, não se pode derivar o fato de que a exploração do trabalho cause ou explique os lucros.Segundo o teorema da exploração generalizada da mercadoria, em uma economia capaz de produzir excedenteou lucros positivos, qualquer bem possui a propriedade de gerar mais valor do que incorpora e de servir devalor numerário.

5. Roemer fala de teoremas pois comprova ou estabelece formulações através de demonstrações lógico­matemáticas.6. Wright fala de apropriação dos frutos do trabalho, referindo­se apenas à apropriação de um "excedente" queo trabalho produz. A noção não pressupõe que o valor dos produtos é determinado exclusivamente pelo esforçode trabalho, nem que a métrica adequada do excedente é o tempo de trabalho (Wright, 1997:nota 11).7. Em um estudo sobre a permeabilidade das fronteiras de classe à mobilidade social, por exemplo, adota­seuma tipologia de sete categorias: empregadores, pequena burguesia, gerentes e supervisores especialistas,gerentes e supervisores não­especialistas, profissionais, empregados qualificados e trabalhadores. Asdenominações de categorias ligadas à dimensão de qualificação foram mudadas, pois nas análises depermeabilidade das fronteiras de classe essa dimensão foi definida de modo mais restrito (Wright, 1997:152­155 e 169­202). No projeto de investigação sobre estrutura de posições de classe no Brasil, implementado pormim, deve­se recorrer a uma tipologia semelhante. As diferenças prendem­se à inclusão de uma categoria de"empregados domésticos" e à diferenciação dos empregadores, permitida pela PNAD, no número deempregados ocupados.8. Wright reconhece que as noções de consciência e consciência de classe empregadas em seu trabalhoescudam­se na teoria da "escolha racional" ou "ação estratégica" (Wright, 1985:244­252 e nota 280). Pode­seobservar que essa análise da consciência de classe sofre das insuficiências próprias ao enfoque em que sebaseia. Encontra­se em Elster (1994) um retrato dos limites da teoria da escolha racional.9. Deve­se esclarecer que as diferenças constatadas nos países nórdicos representam antes a variação de umtema que padrões completamente diferentes. A permeabilidade das fronteiras de classe seja à mobilidade, aocasamento, às relações de amizade é moldada mais pelas propriedades da própria estrutura de classes quepelos processos culturais e políticos (Wright, 1997:233).10. Wright fala explicitamente que qualificação e perícia designam um ativo incorporado (embodied) à força detrabalho, que aumenta o seu poder nos mercados e nos processos de trabalho (Wright, 1997:23). Cabeobservar, no entanto, que os ativos de qualificação dizem respeito a habilidades associadas a posições nadivisão do trabalho, já que, inclusive, habilidades dissociadas de posições não teriam eficácia como fatoresgeradores de exploração e renda. Além disso, ativos de qualificação possuem uma dimensão relacional expressam e implicam relações sociais , pois dependem dos ativos dos outros e de todos, não sendo, dessemodo, atributos apenas de pessoas.11. Deve­se ponderar, relembrando a estratégia metodológica de Wright, já exposta neste artigo, que seconstruíram variáveis "de graduação" tricotômicas objetivando capturar e representar dicotomias teóricas. Ascategorias intermediárias ou ambíguas supervisores e qualificados concentram as deficiências de mensuração.Com esse procedimento, ao confrontarem­se gerentes e trabalhadores ou especialistas e trabalhadores contraposições de interesse teórico maior ter­se­ia certeza de estar comparando grupos relativamente bemmensurados.12. Wright alega que Marshall e outros não diferenciam os problemas de mérito relativo das escolhasoperacionais dos problemas de conceitos subjacentes. A noção de autoridade gerencial, presente na sua obra,assemelha­se ao tratamento de Goldthorpe, que é defendido pelos autores. Wright, porém, adotoudeliberadamente critérios operacionais "generosos" para definir as localizações gerenciais em função de seu

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objetivo analítico de criar uma categoria "pura" de classe trabalhadora (Wright, 1997:87).13. A noção de relações de classe mediatas, desenvolvida por Wright, permitiria conceber as relações entreclasse e gênero sem tratar as duas dimensões como estruturas inteiramente separadas ou dissolver a própriadistinção. Ver o tópico sobre "gênero, família e classe" neste artigo.

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que cette tipologie de classe correspond à une démarche nouvelle, ouverte, gagnant duterrain dans la tradition marxiste, et qui mérite d être connue, débattue et assimilée à larecherche empirique en sociologique au Brésil.Mots­clé: analyse de classe; classes sociales; théorie néomarxiste; marxisme contemporain

* Este artigo reflete o quadro teórico que serve de referência a um projeto de investigação empírica queobjetiva construir um mapa de posições de classe, analisar os efeitos posicionais sobre a desigualdade social eos processos de reestruturação dessas posições de classe no Brasil, recorrendo à base de microdados daPesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Trata­se do projeto de tese de doutorado em sociologia,em curso no IUPERJ, sob a orientação do prof. Nelson do Valle Silva.

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